Revista Soul #3 - Junho de 2017

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COMPORTAMENTO

PRECONCEITO

INOCENTE A infância é a fase da descoberta. Como as crianças costumam lidar com o diferente. O papel de ensino a igualdade é dos pais? Ou da escola? TEXTO: CAROLINE RODRIGUES E PEDRO MAIA

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a hora do recreio, Lucas, 9, conta seus sonhos para os colegas. “Quando eu crescer quero ser um grande jogador de futebol, viajar pelo mundo e disputar grandes campeonatos!”. Na cadeira ao lado, uma de suas colegas observa e de repente começa a cantar: “Nego do cabelo duro que não gosta de pentear (...)”. Lucas não gostou nada do que ouviu e também respondeu com música: “Morena do dente amarelo que não gosta de escovar”. Em outra escola, Amanda*, 10, está chateada porque a sua colega Bia* sentou-se ao seu lado. “Sai de perto de mim, você é preta, suja”. A professora não acredita no que ouve e reclama: - Amanda*, não fale assim com sua colega! Andreza responde chorando: - Mas pró, ela vai me sujar, olha a cor dela! Lucas e Amanda estudam em escolas diferentes, mas a história dos dois está unida por um mesmo ponto, o preconceito. No entanto, a criança não nasce preconceituosa, torna-se. É o que afirma Telma Dutra, psicopedagoga da Associação Brasileira de 8

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Psicopedagogia. “A maldade não está nas pessoas desde que vêm ao mundo, mas nas ações das mesmas construídas através de influências do meio social em que ela está inserida”. Ainda de acordo com a psicopedagoga, a criança faz suas considerações a partir do que vê, presencia e ouve. “Se colocarmos em uma mesma sala de aula uma criança autista juntamente com um grupo de outras crianças cegas, onde somente a criança autista pode enxergar, e dissermos a esta criança que ela é melhor do que todos os outros porque ele pode ver, há grandes possibilidades de ele expressar atitudes preconceituosas diante dos colegas. Isto porque alguém o influenciou a pensar que ele está numa condição superior ao outros”, esclarece. A psicóloga e professora Izaura Furtado conta ainda que tudo o que a criança observa, da parte de adulto, é significativo para ela. As atribuições de apelidos, modos de se referir a determinadas culturas, raças e pessoas de classes sociais diversas podem ser fácil e rapidamente absorvidos. “Uma criança por imitação ou por mo-

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delagem do comportamento de um adulto racista, por exemplo, poderá sempre associar a raça no qual o adulto tem aversão àquilo que ele faz associações”. A psicóloga explica ainda que não basta falar, os pais precisam dar o exemplo. Além dos pais, a escola também tem um papel extremamente importante no que deve ser feito para monitorar tais situações, destaca a psicopedagoga Telma Dutra. Ela explica que este processo se dá tanto dentro como fora da sala de aula, no acolhimento que os professores e funcionários devem dar a alunos portadores de deficiência, em dificuldades de aprendizado, de exclusão, entre outros casos, de forma a promover a ressocialização dos mesmos. “O objetivo é promover uma inclusão entre todas as crianças, tratando todas de maneira igualitária, e mostrando através de ensinos, dinâmicas e afins que somos diferentes em características, cor, raça, classe social, mas temos direitos igualitários e devemos tratar uns aos outros com respeito”, completa.


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