Revista Missão Salvatoriana - Julho/ Agosto/Setembro de 2019

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“Ser uma ‘Igreja de portas abertas’, valorizando e estando no meio da juventude, tornando nossas pastorais receptivas e incentivadoras de uma juventude que crê, pois no ato de crer, aí está a proposta de Deus”.

Num primeiro aspecto devemos tomar consciência de que os jovens necessitam de figuras de referência, próximas, credíveis, coerentes e honestas, que exprimam sintonia e encorajamento. Nestas três linhas acima, nos parece até magnífico e simples realizar. Porém, me questiono se podemos e temos condições de sermos referência para a juventude, se não saímos do velho ciclo vicioso que escutamos inúmeras vezes em palestras, homilias, encontros de catequese e momentos de interação com a juventude. Onde se enfatiza a delinquência, o comportamento de risco e a drogadição, ou seja, o pecado nos nossos jovens. Deste modo, é preferível apresentar as fragilidades, subestimando as potencialidades. Porque de fato, temos dificuldade em entender as exigências dos mais jovens. Assim os jovens acabam nutrindo desconfiança, indiferença, indignação à política, às instituições de ensino e à própria Igreja. No último senso realizado pelo IBGE em 2010, acerca do que mais interessa aos jovens, 74% responderam: educação, trabalho e oportunidades de lazer. E o que menos interessa: segurança, violência e drogas. Fica evidente que os mais de 51,3 milhões de jovens em nosso país estão atentos e preocupados com seu protagonismo, que compreende simplesmente o ciclo da vida (trabalho, casamento, saída da casa dos pais, estabilidade). Lembro que 30,6% são pobres (até meio salário mínimo) e 70,9% são brancos.

O segundo aspecto, são os problemas associados devido ao prolongamento da juventude, (ex: saída tardia da casa dos pais) onde em todos os âmbitos saímos da marca da autoridade à marca da liberdade. Com isso, os jovens têm dificuldades nas suas escolhas, “onde escolho isso hoje, amanhã veremos”. Portanto são escolhas e opções sempre reversíveis e isso implica diretamente no discernimento vocacional. Num último aspecto, o Papa Francisco nos alerta, que devido a esta falta de sensibilidade e referencial aos jovens, eles estão aprendendo a viver sem o Deus apresentado no Evangelho e sem a Igreja, sendo uma juventude hiperconectada no mundo virtual com efeitos muito reais. Retomo o que o filosofo moderno Bauman escreve: “vivemos numa cultura que comercializa todos os aspectos da vida, assim ela torna o jovem uma lata de lixo da indústria de consumo”. Como povo de Deus, não podemos desconsiderar essa realidade, é preciso repensar nosso olhar à juventude. Ser uma “Igreja de portas abertas”, valorizando e estando no meio da juventude, tornando nossas pastorais receptivas e incentivadoras de uma juventude que crê, pois no ato de crer, aí está a proposta de Deus. Ele próprio vem habitar em nós, pois fazemos parte de Sua criação, não somente como seres criados, mas como filhos e filhas Seus. Sejamos sinal de salvação e esperança!

Pe. Rafael de Araújo, sds

P R O V Í N C I A S A LVAT O R I A N A B R A S I L E I R A

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