Seção
Quem é ?
SO Norberto
Juramento SAR É meu dever, como membro do Serviço de Busca e Salvamento, socorrer feridos e salvar vidas. Estarei pronto, em qualquer ocasião, para cumprir com este dever, colocando-o acima de meu bemestar e interesses pessoais, e o cumprirei! Para que outros possam viver! Somente aqueles que um dia necessitaram de ajuda e solidariedade, e tiveram a oportunidade de contar com os préstimos do Serviço de Busca e Salvamento da FAB, podem avaliar corretamente a sua importância, e é com esse espírito abnegado de solidariedade que o nosso entrevistado, o Suboficial Francisco de Assis Norberto, pratica sua lida cotidiana, em um trabalho muitas vezes anônimo, porém, não por isso menos importante. Para Norberto, “buscar é saber, socorrer é prazer, salvar é dever. ... Para que outros possam viver!” Nosso entrevistado nasceu no dia 23 de novembro de 1952, em Parnamirim (RN). Seu pai trabalhava na Base Aérea de Natal, lotado na Prefeitura da Aeronáutica como pintor. De família humilde, teve uma infância com dificuldades, já que o pai tinha que manter a mãe e mais cinco filhos. “Agradecíamos a Deus quando meu pai conseguia fazer um trabalho extra de pintura para militares que chegavam transferidos para residir nas vilas militares. Nesta época eu e outro irmão auxiliávamos o nosso pai”. Casado há 30 anos com Azinete Alves Norberto, com quem tem dois filhos: Maria de Fátima (casada com um controlador de tráfego aéreo) e Marcos Felipe – Norberto valoriza sua família pelo apoio e compreensão no cumprimento da sua missão profissional, principalmente naqueles momentos quando não pode estar presente. “Freqüentemente o dever me chama e posso afirmar que minha esposa e meus filhos são parte integrante da ‘família SAR’, compartilhando os momentos de ansiedade durante as buscas e de júbilo a cada sucesso obtido”. Ingressou na carreira militar em 18 de janeiro de 1971, para servir no então Centro de Formação de Pilotos Militares (CFPM), em decorrência do grande incentivo que teve dos pais e da convivência com os militares que residiam em Natal. Após os seis meses básicos de formação militar foi designado para trabalhar na Seção de Contra Incêndio, como soldado bombeiro. No mesmo ano foi promovido à primeira classe e, em seguida, passou no curso para Cabo. Foi promovido em agosto de 1972, e passou a ser chefe da equipe de bombeiro, gerenciando as ações na cena do acidente. Durante três anos, o aprendizado e a experiência serviram para que o espírito da salvaguarda da vida humana se firmasse cada vez mais no coração de Norberto. “Buscar e Salvar são ações inerentes ao ser humano e, por conseguinte, acompanham-no desde o seu surgimento na terra. Instintivamente, elas se verificam até mesmo entre os irracionais, resultante de impulso natural e inconsciente. Já entre os homens, tais ações são motivadas, principalmente, pelo próprio espírito de solidariedade, manifestado em situação de perigo de vida”- filosofa nosso entrevistado. Em 1974, foi para a Escola de Especialista de Aeronáutica (EEAR), e após dois anos de curso, formou-se como Controlador de Tráfego Aéreo. Foi transferido para a Torre de Controle Eduardo Gomes (TWR-EG) e Controle de Aproximação de Manaus (APP-MN). Mas foi por pouco tempo, o destino ainda lhe reservava outra surpresa: foi convidado a integrar outro grupo de elite: Busca e Salvamento do Salvaero Manaus (RCMN). Logo em seguida, fez o curso de Auxiliar de Coordenação SAR, complementado com o de Sobrevivência no Mar e Selva pelo PÁRA-SAR, no Centro de Atualização Técnica (hoje ICEA).
12
Durante os anos que trabalhou no RCC-MN, inúmeras foram as missões, tendo em vista a peculiaridade da região (selva, clima, poucos aeródromos, deficiência de comunicações com as cidades). Porém, uma missão marcou sua vida, pela presença de espírito de uma sobrevivente e a forma como conduziu os demais na cena do acidente. Norberto conta que “no dia 10 de janeiro de 1979, o então Salvaero de Campo Grande foi acionado para coordenar as buscas do PT-BFS PA-32 (Sêneca), que decolou de Porto Velho para Vilhena, com quatro pessoas a bordo, com destino final para Barretos (SP). Fui indicado para compor a equipe do RCC-CG em Porto Velho, onde seria ativado um Subcentro de Coordenação de Salvamento. A aeronave foi localizada dia 21, às 1350 UTC e o resgate realizado no dia seguinte. Após avaliação médica, foram transportados para Porto Velho. Todos sobreviveram. Iracema, de 67 anos, uma das sobreviventes, informou que estava indo para Barretos comemorar seu aniversario no dia 14 de janeiro, com toda sua família. Mas não deixou de comemorar. Seus dois filhos eram o piloto e o co-piloto da aeronave. Todos eles e mais um passageiro, em plena selva, comemoram seu aniversário comendo broto de bambu. O mais difícil foi que, após o terceiro dia, seus filhos estavam entrando em desespero, querendo abandonar o local em busca de socorro. Mas Iracema não deixou. Começou a ensiná-los a fazer tricô e crochê, a fim de mantê-los com a mente ocupada. Orientou-os a recolher água em um igarapé e racionou os biscoitos que levava, dividindo com brotos de bambu, até a chegada do resgate”. Norberto diz que o espírito de liderança, o equilíbrio e a aula de sobrevivência demonstrados por Iracema ficaram em sua mente. Ele guarda, até hoje, um galho de broto de bambu que recebeu daquela senhora como lembrança. No início de 1981, foi transferido para o antigo SRPV-RF, no Salvaero Recife, onde trabalhou como Controlador do RCC-RF/Adjunto. Treze anos depois, a extinta DEPV mandou uma mensagem rádio pedindo sua transferência para participar da implantação do Salvaero Curitiba, onde permaneceu até janeiro de 2000, quando voltou para Recife. As constantes mudanças, segundo ele, serviram de aprendizado para ele e sua família. Conhecimento de novas culturas e adaptação à região Sul – mesmo com sofrimento devido ao frio – foram muito edificantes. Norberto sente-se orgulhoso de ser um instrutor do ICEA. “Meu primeiro convite como instrutor no Instituto de Proteção ao Vôo – IPV (ICEA) foi em novembro de 1993, para participar da parte prática do curso SAR 001 – Coordenação SAR, que é dado para oficiais que irão desempenhar a função de Coordenador de Missão SAR. Daí em diante tenho participado como Coordenador/Instrutor dos cursos SAR 001 e SAR 002 – Auxiliar de Coordenação SAR que é dado para graduados, bem como na área do CINDACTA III o curso SAR 005 – Básico de Busca e Salvamento, dado para militares das Forças Armadas, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Infraero, Polícia Rodoviária Federal, Aviação Aeropolicial, Defesa Civil, Ibama e outras entidades que possam servir como elo do Sistema Sar Aeronáutico – SISSAR”. Com o conhecimento e a experiência adquirida nestes 30 anos no SAR,