Manual de História do Brasil

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UNIDADE III – SEGUNDA REPÚBLICA

Vargas oscilou entre uma e outra alternativa, não apenas na tentativa de contar com o apoio de ambos os lados, mas também porque as próprias contradições de seu governo o impediam de adotar uma das opções que se apresentavam. De um lado, uma política radicalmente nacionalista não poderia ser implementada sem o rompimento com os Estados Unidos, país sob cuja área de influência se encontrava o Brasil. “De outro lado, Getúlio não poderia abandonar aquele que tinha sido uma das tônicas essenciais de sua campanha eleitoral, ou seja, o combate aos grupos monopolísticos externos e a defesa da integridade das riquezas brasileiras. (...) Ao identificar Estado e povo, como sugeriam vários de seus discursos pré e pos-eleitoral, Vargas dinamizava, enquanto elemento fundamental de seu comportamento político, o interesse nacional e devia se dispor a defendê-lo não apenas retoricamente, mas com atos, sob pena de perder credibilidade política e ver desmoronar-se o trabalho pacientemente urdido desde sua derrubada em 1945”16. No entanto, Vargas esbarrava na dificuldade em conciliar forças opostas e contraditórias. A UDN fazia uma oposição acirrada ao seu governo, acusando-o de envolvimento em vários casos de corrupção. Os militares exasperavam-se com a crescente onda de greves. Getúlio havia recorrido às massas urbanas para se eleger, aprofundando assim seus compromissos com os setores populares, o que incomodava os grupos conservadores. Pressionado à direita, Vargas procurou no apoio sindical e dos trabalhadores a base de sustentação de que necessitava, aprofundando ainda mais a distância dos grupos conservadores. De outro lado, Getúlio enfrentava dificuldades com os trabalhadores, já que adotara uma política desenvolvimentista extremamente inflacionária, gerando um significativo aumento no custo de vida. Tentando contornar esse problema, Vargas concedeu um aumento de 100% no salário-mínimo, que “seria a gota d’água para os oposicionistas de todos os matizes: udenistas, militares, industriais, banqueiros. Ativaram-se as conspirações nos quartéis. Lacerda, das páginas da Tribuna da Imprensa, invectivava Vargas. Os empresários tentaram lutar contra o novo salário-mínimo nos tribunais, sendo derrotados. As acusações de corrupção dos auxiliares de Getúlio sucediam-se por meio da imprensa”17. O golpe de misericórdia ocorreu em 5 de agosto de 1954, quando Carlos Lacerda sofreu um atentado em que morreu um militar que cuidava de sua segurança, o major Rubens Vaz. Vargas foi acusado de ser o mandante do 16 ALMEIDA Jr., Antonio Mendes de. Do declínio do Estado Novo ao suicídio de Getúlio Vargas. op.

cit., p. 249. 17 Ibidem p. 254.

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