Jornal da ADUFF - JULHO de 2017

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Julho/2017 • www.aduff.org.br

CENTENÁRIO DA REVOLUÇÃO RUSSA

Exposição celebra centenário da revolução que abalou o mundo Do “Domingo Sangrento” à derrubada do regime na Rússia: a mostra “Imagens e Revolução", na UFRJ, percorre os caminhos do processo em que, pela 1ª vez na história, a classe trabalhadora tomou e conservou o poder em um país Aline Pereira Da Redação da Aduff

“N

ós, trabalhadores e habitantes de São Petersburgo, nossas mulheres, nossos filhos e nossos parentes velhos e desamparados, vimos a vossa presença, majestade, buscar verdade, justiça e proteção. Fomos transformados em pedintes, somos oprimidos, estamos à beira da morte (...)”. Assim dizia parte da petição que os operários russos pretendiam entregar ao czar Nicolau Romanov, em janeiro de 1905, enquanto cruzavam pacificamente as ruas da cidade. Próximo ao Palácio de Inverno, foram violentamente massacrados pela Guarda Imperial, que exterminou cerca de mil pessoas durante o “Domingo Sangrento”. A representação desse momento emblemático para o processo, que teria seu ápice em 1917, é parte da mostra “Revolução e Imagens”, que segue até o dia 28 de julho, no Espaço “Memória, Arte e Sociedade Jessie Jane Vieira de Souza”, localizado no 2º andar do pré-

dio da Decania do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Praia Vermelha). Além da exposição, “Revolução e Imagens”– projeto de extensão universitária, celebrando os 45 anos do CFCH e o centenário da UFRJ – também promoveu seminário, exibição de filmes temáticos - como ‘Outubro’ e ‘Encouraçado Potemkin’ -, seguidos de debates. De acordo com Eduardo Serra, um dos palestrantes do evento, a experiência soviética mudou diversos paradigmas na sociedade do século 20. “Pela primeira vez na história, se criou um poder que derivava diretamente da organização dos trabalhadores – partidos políticos, conselhos (sovietes) –, resultando em um novo tipo de Estado, que privilegiou, na ação dos governantes no exercício do poder, as demandas da classe trabalhadora”, contou o professor da Escola Politécnica

Arte de Viktor N. Denisov (1920) –“Camarada Lenin varrendo o mundo da imundice”: o capitalismo representado pelas figuras da monarquia e da Igreja Ortodoxa, dos burgueses e dos empresários

Imagem em exposição na mostra sobre os 100 anos da Revolução Russa

e Pró-Reitor de Graduação da UFRJ, lembrando que o processo revolucionário tem diferentes fases. “Há períodos claramente marcados no tempo: a tomada de poder; o da invasão estrangeira; a reação com o Comunismo de Guerra; a retomada do desenvolvimento com a Nova Política Econômica; imensos avanços na área cultural, com novas formas de expressão estética; avanços em relação aos direitos das mulheres e das minorias; e ainda o endurecimento do regime, frente ao surgimento do nazifascimo na Europa”, disse. Essas fases estão contempladas ao longo de toda a exposição, que, nas palavras de Serra, proporciona reflexão para os embates do mundo contemporâneo. “Precisamos fazer um balanço positivo de 1917, pois já no início dos anos 50, URSS era um país desenvolvido, não havia analfabetismo. Havia pleno emprego, políticas sociais avançadas de universalidade de acesso à saúde e à educação. Não há solução

no capitalismo: o movimento é de concentração da renda, de geração de desigualdade e de precarização das condições de trabalho”, avaliou o docente.

Espaço de resistência “A ideia inicial era usar apenas os cartazes, mas avaliamos que era importante termos outras imagens do período que ajudassem a compreensão dos eventos e das condições que criaram um ambiente para o processo revolucionário”, explicou o curador geral da exposição, Carlos Serrano – docente de Ciência Política da UFRJ. “Queríamos mostrar o resultado da revolução, sua influência no

mundo, no Brasil e na própria universidade, quando [a posteriori] tivemos vários militantes da comunidade acadêmica que participaram de organizações revolucionárias, muitos foram torturados, mortos e perseguidos pela ditadura”, disse o professor.


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