Perdão e Paixão - Jessica

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Querida leitora, As heroínas desta edição de Jessica lutam para se livrar de figuras paternas opressoras. Em Perdão & paixão, a família de Siena perdeu toda sua fortuna, e agora ela precisa trabalhar com garçonete para se sustentar. Essa é a oportunidade perfeita para Andreas fazer Siena pagar pela humilhação que sofreu anos atrás. Dizem que a vingança é um prato para ser servido frio, mas Andreas acha que ele deve ser servido na cama! Boa leitura! Equipe Editorial Harlequin Books


Abby Green Annie West

PLANOS DO CORAÇÃO Tradução Joana de Souza Eugênio Barros

2013


Abby Green

PERDテグ & PAIXテグ

Traduテァテ」o Joana de Souza


PRÓLOGO

SIENA DEPIERO segurou a

mão de sua irmã mais velha firmemente enquanto deixavam seu palazzo. Mesmo que ela tivesse 12 anos, e Serena 14, elas ainda, instintivamente, procuravam uma à outra em busca de apoio. Seu pai estava com um humor ainda mais volátil do que o habitual naquele dia. O carro deles esperava no meiofio, e um motorista uniformizado segurava a porta aberta. Siena sabia que os guarda-costas estavam nas proximidades. Apenas a metros de distância do carro, um jovem alto com cabelo escuro pareceu surgir do nada, parando o pai delas. Ele gesticulava e o chamavam de Papà. Siena e Serena haviam parado também, com guardas corpulentos de pé entre elas e a cena. Siena desviou dos guarda-costas. Ela conseguiu ver instantaneamente a semelhança daquele jovem com seu pai. Ele tinha o mesmo formato de rosto e olhos. Mas como? De repente, o jovem caiu esparramado no chão, olhando para cima em choque, com sangue escorrendo do nariz. O pai delas havia batido nele. Siena apertou a mão de Serena, chocada com a violência súbita. O pai delas se virou e gesticulou irritadamente para que o seguissem. O caminho era tão estreito que tiveram que passar por cima das pernas do jovem. Siena estava assustada demais para olhar pra ele... Era tão selvagem e feroz. Elas foram colocadas na parte de trás do carro, e Siena ouviu seu pai dar instruções para seus homens. Apenas naquele momento ela ouviu o jovem rugir. – Sou Rocco, seu filho, desgraçado! Quando o pai entrou no carro e eles partiram, Siena não conseguiu evitar olhar para trás. Viu os homens de seu pai arrastando o jovem para longe. Serena estava olhando friamente para frente, mas a mão dela agarrou a de Siena.


O pai delas pegou Siena pela orelha dolorosamente e virou sua cabeça para frente, forçando-a a olhar para ele. – O que acha que está fazendo? – Nada, Papà. Sua boca era uma linha fina de raiva. – Ótimo, porque sabe o que acontece quando você me irrita. O aperto de Serena na mão de Siena era tão forte que ela quase gritou. Rapidamente Siena disse: – Sim, Papà. Após um longo momento de tensão, o pai a soltou e olhou para frente novamente. Siena sabia muito bem o que acontecia quando ela o irritava. Ele puniria Serena. Nunca era ela. Sempre a irmã. Porque isso o divertia. Siena não olhou para a irmã, mas elas se mantiveram juntas pelo resto da viagem.


CAPÍTULO UM

ANDREAS XENAKIS não gostou da força do sentimento de triunfo que surgiu dentro dele. Significava que aquele momento tinha mais importância para ele do que queria admitir. Afinal, ali estava a mulher que o havia acusado de estupro apenas por diversão, para proteger sua imagem imaculada aos olhos do pai. Ela havia lhe rendido um espancamento, a perda de seu emprego, o banimento de cada hotel da Europa e um recomeço no outro lado do mundo. Ela ainda era demais. Andreas imaginou que ela não poderia ser tão impressionante quanto era quando ele a havia visto, há cinco anos. Mas era. Era uma mulher, não uma adolescente. O cabelo era loiro quase branco, e estava puxado para cima em um coque alto. A boca estava comprimida. Ela era uma purosangue no meio de seres inferiores. Ele podia ver como as mulheres perto dela instintivamente a rechaçavam, como se sentindo a competição. Seus olhos seguiram a curva da bochecha e do queixo dela. A linha aristocrática de seu nariz mais do que insinuava a herança de sangue azul de sua ascendência italiana, diluída apenas em parte por sua mãe meio inglesa, que havia sido relacionada à realeza. Sua pele ainda era pálida e suave. A barriga de Andreas se apertou ao lembrar o quão suave havia sido sob seus dedos. Ele apertou os punhos, lembrando-se de como ela lhe incentivara com súplicas sensuais em seu ouvido: “Por favor... Eu quero que você me toque, Andreas.” Apenas para, no instante seguinte, acusá-lo de atacá-la... Então ela se virou para ele, e sua raiva latente foi eclipsada pelo impacto daqueles enormes olhos azuis. A boca era pecaminosamente exuberante e rosa. Apenas esperando para ser beijada... Andreas teve que reprimir o intenso desejo, e ele a odiava por ter aquele efeito sobre ele. Ainda. Para sempre,


zombou uma voz em sua cabeça. Não. Andreas rejeitou ferozmente. Não para sempre. Só até que eles terminassem o que ela havia começado quando abalara sua vida de forma tão cruel. Porque estava curiosa e entediada. Porque tinha o poder. Porque ele não havia sido nada. Andreas se encheu de determinação. Ele estava longe de ser nada e, graças a uma reviravolta cruel das circunstâncias, Siena DePiero fora reduzida a menos do que ele jamais fora, deixando-a exposta e vulnerável... A ele. Ela saiu de vista e Andreas sentiu algo indefinível. Não gostou do fato de estar desconfortavelmente ciente dos olhares desejosos dos outros homens para ela. Ela teve a ousadia de jogar com ele outra vez. Andreas a desejava. Apenas isso. SIENA DEPIERO deslizava por entre a multidão com uma bandeja pesada, tentando não derrubar o conteúdo sobre os pés de alguém, quando um peito largo a impediu de avançar. Ela olhou para cima e hesitou diante da imagem de um homem muito alto, de ombros largos. Um smoking e uma gravata-borboleta branca o identificavam como alguém diferente dela. Quando a boca de Siena se abriu para se desculpar, seu olhar atingiu o rosto dele e seu coração parou. Ele não era um estranho. Andreas Xenakis. Ali. O reconhecimento foi instantâneo. Era como se poucos minutos houvessem se passado desde que ela o havia visto pela última vez. Ele parecia maior, mais sombrio, mais magro. Ela pôde ler instantaneamente a luz inconfundível do ódio frio em seus olhos e suas entranhas se contraíram dolorosamente. De todas as pessoas para encontrar nesta situação... Ninguém ficaria mais satisfeito do que Andreas Xenakis. E ela poderia culpá-lo? – Ora, vejam só. – Sua voz era dolorosamente familiar, imediatamente torcendo seu interior em um nó de tensão. – Que bom ver você aqui. Siena podia senti-lo avaliando seu uniforme de garçonete. O


efeito que tinha sobre ela era tão devastador quanto havia sido cinco anos antes. Era como se ela houvesse sido conectada a uma tomada elétrica e a corrente estivesse correndo por seu sangue. Sobrancelhas escuras emolduravam seus incríveis olhos azuis. Maçãs do rosto altas chamavam a atenção para uma mandíbula forte. E sua boca – aquela bela boca sensual – era ao mesmo tempo sexy e zombeteira. Ele levantou uma sobrancelha, claramente esperando por uma resposta. Lutando para manter alguma compostura, quando se sentia como um pequeno barco em um mar revolto, Siena conseguiu encontrar sua voz e disse friamente: – Sr. Xenakis. Como é bom vê-lo novamente. Sua sobrancelha arqueada se elevou mais e ele soltou uma risada breve. Seu sotaque não era mais tão pesado. – Consegue soar como se estivesse me cumprimentando em seu jantar, não servindo bebidas para pessoas que você um dia não se dignaria a olhar nos olhos. Siena recuou minuciosamente. Ela não precisava ser vidente para reconhecer que o homem que estava à sua frente agora era uma criatura muito mais dura e cruel do que o homem que ela conhecera em Paris. A ascensão meteórica de Xenakis para se tornar um dos hoteleiros mais importantes do mundo aos 30 anos havia sido bem documentada pela imprensa. – Estou lisonjeado por você se lembrar de mim – disse ele. – Afinal, nos encontramos apenas uma vez... Por mais memorável que haja sido aquele encontro. Ele estava zombando dela. Siena quis apontar pedantemente que haviam sido duas vezes. Afinal, ela o havia visto novamente na manhã depois daquela noite catastrófica. – Sim. – Ela olhou para longe por um minuto, desconfortável sob seu olhar. – Claro que me lembro de você. De repente, foi demais. A bandeja começou a oscilar de forma alarmante nas mãos de Siena quando toda a magnitude de vê-lo novamente a atingiu. Só então eles foram interrompidos pelo chefe de Siena, que sorria


servilmente para Andreas. – Sr. Xenakis, está tudo bem por aqui? Se a minha equipe foi de alguma forma negligente... – Não. – Sua voz era fria, exalando poder, confiança e um carisma sexual. Sentindo-se um pouco tonta, Siena percebeu a voz de Xenakis sendo direcionada novamente para seu chefe. – Está tudo bem. Conheço a senhorita... Siena o cortou urgentemente antes que Xenakis pudesse dizer seu odiado nome. – Sr. Xenakis, como eu disse, foi bom vê-lo novamente. Se você me der licença, no entanto, eu realmente deveria voltar ao trabalho. Siena pegou a bandeja pesada novamente e, sem olhar para Andreas Xenakis ou seu chefe, fugiu com as pernas trêmulas. Andreas seguiu-a com o olhar, excessivamente irritado com este pequeno homem rotundo por interrompe- lós. – Eu sinto muito por isso, sr. Xenakis – disse o homem em tom bajulador. – Nossa equipe tem instruções expressas para não conversar com qualquer um dos convidados, mas a srta. Mancini é nova... – Eu falei com ela, na verdade. – Então ele percebeu alguma coisa e olhou para o homem. – Você disse que seu nome é Mancini? – Sim – disse seu chefe distraidamente, e então ele sorriu ainda mais. – Claro que sua aparência é um bônus... Ela poderia ser modelo, em minha opinião. Eu não sei o que ela está fazendo sendo garçonete. Nunca me pediram tanto o telefone de uma garçonete. Andreas desistiu de informar ao homem que ela estava trabalhando como garçonete porque era persona non grata na alta sociedade europeia. Ele deixou de lado o fato de sua mudança de nome e sentiu algo como raiva dentro dele. – Presumo que você não tenha lhe dado seu número, certo? – Bem, eu... Bem, claro que não, sr. Xenakis. Eu não sei que tipo de serviço você acha que eu estou oferecendo aqui, mas posso lhe assegurar... – Não se preocupe – cortou-o Andreas. – Eu vou me assegurar


depois que verificar sua empresa completamente. Com isso, ele se virou e caminhou na direção que havia visto Siena ir. Tinha algo muito mais urgente para focar sua atenção agora: ter certeza de que Siena DePiero não desaparecesse. ALGUMAS HORAS mais tarde, Siena estava andando rapidamente pelas ruas iluminadas pelo luar perto de Mayfair. Ela se amaldiçoou por deixar Andreas afetá-la assim. Sim, eles tinham uma história. Ela estremeceu. Não era uma história bonita. Ela não queria ser lembrada do olhar ardente de raiva e traição em seu rosto quando ela estava ao lado do pai, há cinco anos, segurando o vestido sobre o peito e concordara com a voz trêmula: – Sim, ele me atacou, Papà. Eu não pude impedi-lo... Andreas a havia cortado com raiva, seu sotaque grego evidente: – Isso é uma grande mentira. Ela estava me implorando... Seu pai levantou uma mão imperiosa e cortou Andreas. Virou-se para Siena e ela olhou para ele, com medo de seu poder de infligir punição se escolhesse acreditar em Andreas. Ele disse calmamente: Ele está mentindo, não é? Você nunca deixaria um homem como este tocar em você, não é? Porque você sabe que é infinitamente melhor do que ele. Lutando para esconder sua repulsa e ódio, Siena havia dado a única resposta possível. – Sim, ele está mentindo. Eu nunca permitiria que alguém como ele me tocasse. Pensar no passado intragável fez Siena se sentir trêmula e tonta. Ela não queria contemplar o fato desconfortável de que ele ainda tinha um efeito tão profundo sobre ela. Ficou surpresa que ele a houvesse reconhecido. Ela sabia como era fácil ver apenas a mão que lhe servia, não a pessoa. Siena se lembrou do pai espumando de raiva quando, uma vez, ela se abaixara para ajudar um garçom que havia derrubado uma bandeja em uma festa. Ele a arrastara para o escritório e lhe passara um sermão. Siena viu o ponto de ônibus a distância e deu um suspiro de alívio. No dia seguinte ela teria se esquecido das más lembranças e do


encontro com Andreas Xenakis. Ela nunca esquecera o que havia feito para aquele homem, acusandoo falsamente. Com mais frequência do que queria admitir, lembravase daquela noite e como, com apenas um olhar e um toque, ele a fizera perder qualquer senso de racionalidade e sanidade. Em algum nível, quando ela lera sobre seu sucesso nos jornais, ficara aliviada. Vê-lo florescer muito melhor do que ela jamais havia esperado amenizava uma pequena parte da culpa que sentia. Siena afastou seus pensamentos incendiários. A familiar ansiedade persistente tomou o seu lugar. Perguntou-se se os dois empregos que tinha seriam suficientes para ajudar sua irmã. Mas ela sabia que nada menos que um milagre poderia fazer isso. Siena havia acabado de chegar sob o abrigo do ponto de ônibus, quando percebeu um elegante carro esportivo prateado parando ao lado de onde ela estava. Mesmo antes de a janela baixar, o pulso de Siena se acelerou. Andreas Xenakis olhou para fora e Siena se afastou instintivamente. Sua presença era a prova de que ele não estava disposto a deixá-la tão facilmente. Ele queria torturá-la e tirar o máximo proveito de suas novas circunstâncias. Em um segundo ele pulou para fora do carro e estava segurando levemente seu cotovelo. – Por favor. – Ele sorriu educadamente, como se parar para pegar mulheres em um ponto de ônibus de smoking fosse totalmente normal para ele. – Deixe-me lhe dar uma carona. Siena estava tão tensa que sentia como se pudesse se partir em duas. Muito consciente de seu casaco fino na brisa da primavera e do cansaço que fazia seus ossos doerem, ela recusou. – Estou bem, obrigada. O ônibus chegará em breve. Andreas sacudiu a cabeça. Ele estava com a mesma expressão incrédula. – Seus colegas sabem que você poderia provavelmente conversar com cada convidado estrangeiro naquele salão em sua própria língua? Ferida por aquele elogio sarcástico e sua avaliação banal, porém precisa, de sua situação, Siena puxou o braço. Ela agiu instintivamente, querendo dizer algo para ferir o orgulho dele e


afasta- lo. – Eu disse que estou bem, obrigada. Tenho certeza de que você tem coisas melhores para fazer do que me seguir como um cachorrinho apaixonado. Os olhos dele brilharam perigosamente e Siena odiou a si mesma por aquelas palavras. Elas lhe recordavam do veneno que havia caído de seus lábios naquela noite em Paris. Era o tipo de coisa que Andreas esperaria que ela dissesse. Mas não estava tendo o efeito desejado. Ela deveria ter percebido que ele não era como os outros homens... Lembrou-se da maneira como ele enfrentara seu pai com tal orgulho inato. Uma das poucas pessoas que não havia se acuado. Ele simplesmente parecia ainda mais perigoso naquele momento, e agarrou seu braço novamente. – Vamos, signorina DePiero. O ônibus está chegando e eu estou bloqueando a pista. Siena olhou para além de Andreas e viu o ônibus parando. O soar grave da buzina a fez vacilar. Ela podia ver os outros esperando no ponto de ônibus atirando-lhes olhares de reprovação, porque sua volta para casa estava sendo impedida. – Não me teste, Siena. Eu vou deixar o carro ali, se for preciso. Outro soar da buzina veio acompanhado por alguém dizendo com irritação: – Apenas aceite a carona, está bem? Queremos ir para casa. Por um segundo Siena se sentiu absolutamente isolada. Em seguida, Andreas a levou para o carro. Ele deslizou suavemente no banco ao lado do dela. – Ponha o cinto – instruiu ele secamente antes de acrescentar com acidez: – Ou você está acostumada a que façam até isso para você? Suas palavras atravessaram a névoa, nublando seu cérebro, e ela se atrapalhou para prender o cinto. Ela revidou com uma voz aguda: – Não seja ridículo. Andreas partiu com o carro. Há meses Siena não entrava em um ambiente tão luxuoso. – Pare o carro e deixe-me ir, por favor. Entrei apenas para impedir


uma confusão. – Passei seis meses procurando por você, Siena. Não vou deixar você ir tão facilmente. Seis meses atrás, seu pai havia desaparecido, deixando toda a sua fortuna em frangalhos e deixando Siena e Serena entre as cinzas e a vergonha que chegaram com a ausência covarde dele. Siena olhou para Andreas com horror e algo muito mais ambíguo em sua barriga. Essa noite não havia sido uma terrível coincidência? – Você estava procurando por mim? – perguntou trêmula. Sua boca se apertou e ele confirmou. – Desde a notícia do desaparecimento de seu pai e do colapso de sua fortuna. Ela se segurou com força, querendo tremer com o pensamento de sua determinação para encontrá-la novamente. Para castigá-la? Por que mais? Suavemente, letalmente, ele disse: – Nós temos negócios inacabados, você não concorda? A garganta de Siena se apertou em pânico. Ela não estava pronta para um acerto de contas com aquele homem. – Não, eu não concordo. Agora, por que você não para o carro e me deixa sair? Andreas ignorou sua súplica. – Seu endereço, Siena... Ou nós vamos passar a noite dirigindo por Londres. Siena apertou a mandíbula novamente. Ela viu como sua mão descansava no volante. Apesar de toda a sua indiferença, de repente ela teve a impressão de que ele era muito mais intratável do que seu pai havia sido. Ele certamente provara que era implacável quando se tratava de negócios. Siena, em mais de uma ocasião, fora ao escritório de seu pai para acompanhar o progresso de Andreas on- line. Havia lido sobre ele fechar hotéis em dificuldades, recusar-se a comentar sobre os rumores de que não se importava em desempregar centenas apenas para aumentar seu portfólio crescente. Nas mesmas pesquisas, havia visto centenas de notícias dedicadas à sua vida amorosa, que parecia ser agitada e povoada apenas com as mulheres mais


bonitas do mundo. Siena não gostava de admitir como ela havia percebido que eram todas morenas ou ruivas. Evidentemente loiras não eram mais seu tipo. Suspeitando que ele de fato dirigisse a noite toda se ela não lhe dissesse, Siena finalmente informou seu endereço. – Vê? Não foi tão difícil. Houve silêncio por alguns minutos, engrossando a tensão, e então ele disse: – Então, de onde você tirou Mancini? Siena olhou para ele. – Como você sabe? – Depois, ela se lembrou e respirou trêmula. – Então? – perguntou ele como se tivesse todo o tempo do mundo. – Era o nome de solteira de minha avó materna. Eu não queria correr o risco de alguém me reconhecer. – Eu posso imaginar por que não – respondeu ele secamente. A raiva com sua indiferença e com a facilidade com que ele havia acabado de humilhá-la fez Siena estourar. – Você realmente não devia ter me seguido. – Sou apenas um amigo preocupado querendo ver como você está. – Siena bufou sarcasticamente, mas seu coração martelava. – Amigo? Duvido que você se coloque nessa categoria em relação a mim. Andreas Xenakis lançou a ela um olhar que a fez recuar em seu assento. Foi tão... tão carnal e censurador. – Você está certa – resmungou ele baixinho. – Estávamos mais perto de amantes. E amigos não alegam estupro quando lhes convêm para livrar seu lado. – Siena empalideceu. – Eu nunca usei essa palavra. A mandíbula de Andreas se apertou. – Você me acusou de atacá-la quando ambos sabemos que apenas alguns segundos antes de seu pai chegar você estava me implorando para... – Pare! – gritou Siena, com a respiração ofegante. Ela se lembrava muito bem de como se sentira ao ter Andreas Xenakis pressionando-a para baixo no sofá, desejando que ele colocasse as mãos sobre ela toda. E quando ele pusera a mão entre suas pernas, ela


as separara... Tacitamente dizendo-lhe de seu intenso desejo. – Por quê? Você não consegue lidar com a verdade? Achei que você fosse mais forte, DePiero. Você se esquece de que mostrou seu lado verdadeiro naquela noite? Siena virou a cabeça e olhou friamente para fora da janela. A verdade era que ela não tinha nenhuma desculpa para seu comportamento naquela noite. E l a havia implorado que Andreas fizesse amor com ela. Ela o havia beijado ardentemente. Quando ele puxara seu vestido para baixo para expor seu seio, ela suspirara de prazer. O carro parou no sinal naquele momento e o desejo de escapar foi súbito e instintivo. Siena tentou abrir a porta, mas o braço de Andreas a conteve com uma força incrível. Longos dedos envolveram seu braço delgado e os músculos do braço dele contra sua barriga macia eram uma restrição muito mais eficaz do que uma porta trancada. Sua pele tornou-se sensível. Seus seios ficaram pesados e firmes, os mamilos endureceram contra o sutiã. O carro acelerou novamente e Siena empurrou o braço dele com toda a força. Ele parou em frente a um prédio elegante em uma rua tranquila. Então saiu do carro e abriu a porta para ela, estendendo uma mão. Siena recuou e olhou para ele. – Aqui não é onde moro. – Estou ciente disso. É onde eu moro e, como estávamos de passagem, pensei que poderíamos parar para conversar sobre os velhos tempos enquanto tomamos um café. Siena conteve uma risada de escárnio e cruzou os braços, olhando para frente com uma expressão pétrea. – Eu não vou sair do carro, Xenakis. Leve-me para casa. Andreas parecia estar se divertindo. – Primeiro, eu não poderia fazê-la entrar e agora eu não consigo tirá-la dele. Dizem que as mulheres são instáveis... Andreas se curvou e soltou o cinto de segurança. Seu rosto estava muito perto dela e Siena podia sentir seu cabelo desenrolar. Ela estava respirando com dificuldade. Uma voz veio de trás de Andreas. – Sr. Xenakis? Você quer que estacione o carro? Sem tirar os olhos de Siena, Andreas respondeu: – Sim, por favor, Tom. Vou levar a srta. DePiero para casa em breve, então o mantenha perto. – Sim, senhor.


Siena lutou por alguns segundos contra a força e determinação superiores de Andreas. Ela viu o garoto esperando atrás dele. – Certo. Um café. Andreas se levantou e desta vez Siena não tinha escolha a não ser colocar a mão na dele e deixá-lo ajudá-la a sair do veículo rebaixado. Para seu desgosto, ele manteve o aperto em sua mão quando jogou as chaves para o menino e levou-a para dentro do prédio, onde um porteiro abriu a porta prontamente. Uma vez no silêncio do elevador, Siena tentou puxar a mão, mas Andreas a levantou para inspecioná-la. Abriu-lhe a palma da mão e seu toque fez surgir um tipo de letargia perigosa em seu corpo, mas ela fez uma careta quando seguiu seu olhar. Sua palma ostentava uma pele irritada e calos. Prova de sua nova vida de trabalho. Ele a virou e Siena estremeceu ainda mais ao vê-lo inspecionar suas unhas roídas – o ressurgimento de um mau hábito que ela teve por um curto tempo na adolescência, que havia sido superado rapidamente quando seu pai havia infligido um castigo adequado em Serena. Suas mãos estavam muito longe do que costumavam ser. Exercendo mais esforço e sabendo que ela havia acabado de ser curada de seu hábito de roer as unhas mais uma vez, ela finalmente se soltou das mãos de Andreas e disse obstinadamente: – Não me toque. – Como elas ficaram assim servindo mesas? – Eu não sou apenas garçonete. Estou trabalhando como faxineira em um hotel durante o dia também. Andreas levantou seu queixo e inspecionou seu rosto. A vulnerabilidade foi florescendo dentro dela e, por um segundo, Siena pensou que poderia explodir em lágrimas. Para combater a vontade de chorar – e a facilidade com que esse homem parecia ser capaz de mexer com ela –, disse irritadamente: – Sentindo pena da pobre menina rica, Andreas? Naquele momento, a campainha do elevador soou e as portas se abriram silenciosamente. Siena e Andreas estavam engajados em um tipo de combate silencioso. Os olhos de Andreas ficaram sombrios, e suas profundezas azuis se tornaram distintamente geladas enquanto ele retirava os dedos de seu rosto e sorria. – Nem por um segundo, Siena DePiero. Siena não conseguiu acreditar na dor que suas palavras lhe causaram e ficou quase feliz quando ele se virou. Com a mão em seu cotovelo, ele a levou para fora do elevador.


A porta única indicava que Andreas não tinha vizinhos para perturbálo, e Siena pensou que devia ser a cobertura do prédio. As portas do elevador se fecharam atrás deles e, em seguida, Andreas abriu a porta e ficou de lado para permitir que Siena o precedesse em seu apartamento. Apenas a sua garantia para o manobrista de que ele a levaria para casa logo lhe deu confiança para ir em frente. Ela se virou para ele quando ele fechou a porta. – Não me chame de DePiero. Me nome é Mancini agora. Depois de um longo segundo, Andreas inclinou a cabeça e disse com uma voz arrastada, com uma pitada de humor negro: – Eu vou chamá-la do que quiser... Sufocando um som de irritação, Siena se afastou e virou-se novamente, de frente para a sala de estar. Seus olhos se arregalaram. Ela cresceu no luxo, mas o nível discreto de pura elegância no apartamento de Andreas tirou seu fôlego. Ela estava acostumada a ver palácios carregados de antiguidades e pinturas pesadas, tudo banhado a ouro, tapetes velhos e mofados... Mas lá era limpo e elegante. Siena estava olhando em volta com curiosidade descarada quando viu Andreas de pé observando-a com as mãos nos bolsos. A grande magnificência do homem em seu smoking a chocou novamente e ela corou, envolvendo os braços em torno de si mesma em um gesto inconsciente de defesa. Andreas sacudiu a cabeça e sorriu ironicamente antes de caminhar em direção a um aparador que continha várias garrafas de bebida. – Você realmente sabe como ativá-lo, não é? Siena ficou tensa. – Ativar o quê? Ele se virou, uma garrafa de alguma coisa na mão, os olhos brilhando na luz suave. – Deve ser automático, após anos desempenhando o papel de inocente herdeira virginal... Quando Siena ficou teimosamente em silêncio, porque ele não tinha ideia do quão próximo à verdade estava, Andreas esclareceu: – Esse ar de vulnerabilidade. Odiando-se por ser tão transparente e odiando-o por julgá-la mal mesmo sabendo que ela não poderia culpá-lo por seu julgamento, Siena controlou sua expressão. Então, cuidadosamente, descruzou os braços e encolheu um ombro de forma negligente. – O que posso dizer? Você me entende perfeitamente, sr. Xenakis.


Ele derramou um líquido escuro em dois copos e se aproximou, oferecendo um. – Eu sei que lhe ofereci café, mas prove isso. É um excelente vinho do porto. E você não tinha problema com o meu nome quando nos conhecemos. Sr. Xenakis é tão... formal. Por favor, me chame de Andreas. Siena pegou o copo que ele ofereceu, de repente feliz por ter algo para agarrar... Qualquer coisa para afastar a memória de como ela havia usado seu nome antes: – Andreas, por favor, me beije... Ele gesticulou para o sofá confortável e as cadeiras dispostas ao redor de uma mesa de centro. – Por favor, sente-se, Siena. Sinta-se confortável. Siena ficou dividida entre exigir que ele a levasse para casa e enrolarse na cadeira mais próxima e dormir por uma semana. Perturbada por como se sentia fraca de repente, sentou-se na cadeira mais próxima. Andreas se sentou no sofá à sua esquerda, suas longas pernas esticadas e perturbadoramente perto de seus pés. Ele sorriu perigosamente. – Ainda com medo de pegar alguma doença social de mim, Siena? CAPÍTULO DOIS – NÃO SEJA bobo – respondeu Siena rapidamente, humilhada quando pensou no que havia acontecido, nas inverdades vis proferidas para proteger sua irmã. Quando pensou no quão inocentemente ela o quisera naquela noite em Paris e em como tudo havia dado tão terrivelmente errado, sentiu náusea. – Diga-me, por que você deixou a Itália? Ela odiava a humilhação que sentia quando pensava nas acusações odiosas que haviam sido feitas a seu pai depois que seu negócio havia implodido, revelando que ele havia feito malabarismos enormes com dívidas por anos e que tudo o que possuíam, incluindo seu precioso palazzo em Florença, seria detido pelos bancos. – Como você pode imaginar, o preço da minha cabeça e da minha irmã caiu drasticamente quando se tornou evidente que tínhamos perdido nossa fortuna. Tenho certeza de que eu não preciso dizer que


nos tornamos persona non grata do dia para a noite. Os olhos de Andreas se estreitaram. – Não. Seria mentira não admitir que eu sabia que seu pai vinha solicitando prostitutas durante anos e sobre as evidências de seu envolvimento com drogas e corrupção política. A vergonha que Siena sentia quase a estrangulou. Seu pai havia solicitado prostitutas enquanto casado com sua mãe. Ele tivera um filho com uma dessas mulheres. Ela pensou que odiava seu pai antes... Mas o odiara ainda mais quando ele desaparecera para evitar as inúmeras acusações contra ele. Siena nunca quis vê-lo novamente. Andreas deve ter visto algo em sua expressão e disse calmamente: – Os pecados de seu pai não são os seus pecados. Siena foi pega de surpresa por essa afirmação. – Talvez não, mas as pessoas não querem acreditar nisso. – Teve problemas com a imprensa italiana? Siena pensou nos dias intermináveis de manchetes como: Exherdeiras. Quem vai casar com as pobres meninas ricas agora? E: Serena DePiero pega em flagrante poucos dias depois do desaparecimento do pai! Aquele foi o momento em que Siena soube que tinha que tirar ela e Serena da Itália. Sua irmã estava perigosamente fora de controle e ela mal estava mantendo a sanidade depois que tudo o que conheciam havia sido tirado delas. Siena não esperava nenhuma trégua da imprensa... Ela sabia como gostavam de pisar nos outrora nobres e intocáveis da sociedade. – Pode-se dizer que tivemos alguns problemas. Andreas ficou surpreso com a falta de emoção na voz de Siena. Ele poderia muito bem imaginar a atenção que a imprensa dera a duas princesas loiras e de olhos azuis reduzidas a nada. Mais uma vez, ele se maravilhou com sua beleza natural. Ela não usava maquiagem, mas sua pele brilhava como uma pérola. Neste mundo de artifícios e excessos, ela era realmente uma joia rara. O desejo veio ardente e imediato, tencionando seu corpo. Um acesso de raiva atravessou Andreas quando percebeu que inconscientemente havia evitado mulheres loiras nos últimos cinco anos, dizendo a si mesmo que ela havia arruinado seu gosto por loiras. Mas não. Ele só não queria nenhuma loira, exceto ela. As mulheres geralmente não provocavam nele tal reação carnal imediata, não importava o quão desejáveis ou bonitas. Mas ela havia provocado desde o primeiro momento... Andreas olhou para ela agora com determinação renovada e levantou


a taça. – Ao que o futuro possa trazer. Siena tinha uma suspeita muito assustadora de que o futuro que Andreas visualizava tinha algo a ver com ela. Ignorou seu brinde e virou a taça, depositando-a em seguida em cima da mesa. O álcool desceu ardente por sua garganta. Andreas pareceu se divertir. – Um vinho do porto 1977 deveria ser saboreado de uma forma um pouco mais delicada do que isso. Ele também esvaziou a própria taça. Siena empalideceu. Podia imaginar o quanto havia custado. Seu pai era especialista em vinhos finos e ela acabou aprendendo alguma coisa. Pensar em seu pai a fez pensar em sua irmã, o que a fez se levantar bruscamente, apenas vagamente consciente da vista deslumbrante de Londres do outro lado das enormes janelas. – Eu preciso ir para casa. Trabalho cedo amanhã. Andreas também se levantou, deixando seus músculos evidentes, apesar do corte sóbrio de seu terno. Ela sentiu uma pontada de eletricidade no ar e houve uma longa pausa antes que ele dissesse inocentemente: – Tudo bem. Ele foi até um telefone discreto sobre o aparador. – Estou descendo. Por favor, tragam meu carro. Obrigado. Para desgosto total de Siena, seu enorme sentimento não foi de alívio. Ela estava um pouco confusa. Esperava algo... mais. Algo como uma briga? E ainda assim ele estava satisfeito em deixá-la ir tão facilmente. Siena sentiu um gosto amargo. Talvez ele só quisesse se divertir vendo a herdeira desgraçada de perto e já estivesse entediado. Então, por que ela se sentia tão desolada? ANDREAS ENTROU no elevador atrás de Siena e apertou o botão. Ele podia estar lhe dando a ilusão de deixá-la ir, mas essa não era sua intenção. Vê-la novamente apenas havia solidificado seu desejo de têla em sua cama. Finalmente. Esse desdém dela não teria lugar na relação que eles teriam. Ela não estava em posição de discutir ou resistir a ele. Seu carro estava esperando na calçada e um segurança deu as chaves a Andreas, que abriu a porta do passageiro para Siena. Siena permaneceu de pé próxima à porta aberta e olhou para Andreas sem encontrar seus olhos. Ela ainda estava tremendo pela forma como


a mão dele descansara levemente na parte inferior de suas costas no elevador. E também com a velocidade com que ele agora parecia querer se livrar dela. – Se você puder me apontar a direção da estação mais próxima, eu vou para casa sozinha. A voz de Andreas foi como aço: – São quase 23h30. De maneira alguma você tomará o metrô sozinha. Siena viu como ele parecia severo. Ela sentiu um arrepio... Reconhecimento do quão grande e largo ele parecia contra o céu noturno. E ainda assim ela não estava com medo dele. Não como havia tido de seu pai. De alguma forma ela sabia instintivamente que Andreas nunca iria atacá-la assim. Violência contra mulheres nascia da fraqueza e medo. Andreas não era assim. Sabendo que se ela saísse agora ele iria simplesmente segui-la novamente, Siena cedeu e deslizou para dentro do carro. Quando Andreas entrou ao lado dela, a luxuosa atmosfera do veículo passou de relaxante para elétrica. Enquanto se afastavam do meio-fio, Andreas perguntou: – Sua irmã veio para Londres com você? Instantaneamente Siena ficou tensa. Ela respondeu com cuidado: – Não... Ela foi para... Para o sul da França para ficar com os amigos dela. Andreas olhou para Siena, que estava olhando friamente para frente. Ele teve que admitir um respeito relutante e surpreendente que Siena estivesse fazendo o tipo de trabalho que havia sido feito para ela a vida toda. Talvez, agora que seu pai não estava ali, Siena não visse necessidade de ser responsável pelo precioso nome da família e estivesse feliz em se desligar de sua infame irmã, que havia ficado conhecida como uma garota festeira. Na verdade, Andreas não se importava com Serena. A irmã com quem se preocupava estava sentada ao seu lado, suas pernas parecendo extremamente longas quando ela tentara afastá-las dele. Ele se permitiu um pequeno sorriso predatório ao pensar em um momento em que estariam envolvidas em torno de seus quadris quando ele finalmente exorcizasse esse demônio de seu sangue para sempre. Não havia pensado sobre o fato de que ele havia estado ativamente procurando por ela durante seis meses. Na verdade, ele estava pensando nela desde Paris. No entanto, apenas há seis meses, quando


finalmente tivera tempo depois de se estabelecer, ele havia começado a se concentrar em uma meta muito pessoal. Siena DePiero sempre estivera na mira... Para alívio de Siena, Andreas parecia ter acabado de questioná-la, e eles dirigiram em silêncio pelas ruas desertas de Londres. A chuva começou a cair suavemente no para-brisa. Pela primeira vez desde que deixara a Itália, Siena sentiu uma pontada de saudade, e isso a surpreendeu. Ela deixou a Itália querendo nunca mais voltar. Passara muitas noites olhando para fora de sua janela sonhando com uma vida sem restrições, dor, tensão e a pressão insuportável para agir de determinada maneira. Ela sonhava com uma vida cheia de amor e carinho. A única afeição que conhecia havia vindo de sua irmã... Sua mãe havia morrido quando ambas eram pequenas. Siena tinha apenas uma vaga memória de uma mulher loira perfumada que costumava entrar em seu quarto à noite. Ela percebeu que já estavam perto e guiou Andreas pelo labirinto de ruas menores que levavam à sua casa. Ele estacionou e olhou incrédulo para o solitário e sombrio bloco de apartamentos no meio de um terreno baldio. – Você está vivendo aqui? – É perto do metrô e do ônibus – disse Siena defensivamente. Andreas balançou a cabeça em descrença. Ele soltou o cinto de segurança e saiu. Siena notou que ele havia retirado um guarda-chuva de algum lugar e estava segurando-o agora, enquanto abria a porta para ela. Ela saiu do carro e o vento soprou em volta dela, desfazendo completamente seu coque. Sentindo-se nervosa, ela disse: – Olha, obrigada pela carona... Ela tentou contornar Andreas e ir para os apartamentos, mas parou quando ele a acompanhou. – Aonde você pensa que vai? Ele estava sombrio. – Vou levar você até seu apartamento. Você não vai entrar lá sozinha. Um novo sentimento de orgulho fez Siena se empertigar. – Vivo aqui sozinha há meses e estou bem. Posso assegurá-lo de que... Andreas não estava escutando. Ele agarrou seu cotovelo e guiou-a pelo chão coberto de lixo. Siena sentiu o sangue ferver. Isso era exatamente o que seu pai costumava fazer. Uma vez dentro da porta principal, que pendia em dobradiças


quebradas e sob as implacáveis luzes fluorescentes, Siena soltou: – Já está bom. Andreas, porém, estava dobrando o guarda-chuva, e, em seguida, avistou um jovem taciturno escondido em um canto. Ele chamou o menino e entregou-lhe uma nota dobrada e o guarda-chuva. – Fique de olho no carro para mim – disse. O menino olhou para o dinheiro e ficou branco; em seguida, olhou para Andreas e acenou com a cabeça vigorosamente. Ele pegou o guarda-chuva antes de correr para ficar de guarda. Siena não gostou de como o pequeno gesto de Andreas, de dar a ela o guarda- chuva, foi capaz de amaciá-la por dentro. Grosseiramente ela disse: – Vai estar depenado quando você voltar. – “Ó, vós, homens de pouca fé” – murmurou Andreas apertando o botão do elevador. Siena observou enquanto ele ficava impaciente quando o elevador não se materializou de imediato e recuou para apontar para as escadas de concreto manchado. – É um clichê, eu sei, mas o elevador não está funcionando e eu moro no décimo quarto andar. A luz da determinação brilhava nos olhos de Andreas quando ele disse: – Mostre o caminho. Siena estava bufando pelo décimo andar e muito consciente de Andreas bem atrás dela. Quando finalmente chegou à porta de seu apartamento, virou-se para encará-lo. Sentia-se quente e o cabelo na parte de trás de seu pescoço estava úmido de suor. Seu coração estava acelerado. – Obrigada. Chegamos. Andreas mal tinha um fio de cabelo fora do lugar e não dava sinais de cansaço ao subir 14 lances de escadas – embora, ao longo do caminho, ele houvesse afrouxado sua gravata e o botão de cima de sua camisa estivesse aberto, revelando a parte superior do peito moreno. A barriga de Siena se apertou. Lembrava-se de desabotoar sua camisa impacientemente naquela noite em Paris, arrancando-lhe a gravata... Andreas estava olhando ao redor do corredor vazio. Alguém estava gritando alguma coisa em um apartamento próximo e, em seguida, algo bateu contra uma porta, fazendo Siena recuar. Andreas praguejou e pegou as chaves dos dedos dormentes de Siena. – Vamos levá-la para dentro.


Ele estava fazendo aquilo novamente. Assumindo o comando, praticamente empurrando-a através da porta para um espaço vazio e miserável coberto com carpete manchado. Siena tinha feito o seu melhor para se livrar das manchas, mas com pouco sucesso. Ela só esperava que elas não fossem o que ela pensava que eram... Siena acendeu seu pequeno abajur e se arrependeu assim que o fez isso, porque ele lançava um brilho rosado e quente muito sedutor. Sentindo-se profundamente ameaçada, ela estendeu a mão para as chaves. – Você me viu entrar em segurança... Agora, por favor, vá embora. Parecendo extremamente à vontade, Andreas apenas fechou a porta atrás dele. – Isso deve ser difícil para você... – disse baixinho. Siena ficou imóvel e sua mão caiu para o seu lado. Ele não tinha ideia...de como havia sido fácil para ela. Deixar para trás as armadilhas contaminadas de sufocante riqueza e excesso havia sido um alívio. Mas ninguém jamais entenderia. Ela estendeu a mão novamente para pedir as chaves. – Eu tenho que acordar cedo para o trabalho. Sentindo-se desesperada, ela disse: – Por favor. – Mas e se você não tivesse que se levantar cedo? Siena piscou para Andreas, sem compreendê-lo. Ela balançou a cabeça. – O que você quer dizer? Começo a trabalhar às 6h30. Levo uma hora para chegar lá... O rosto de Andreas era tão cruamente belo sob a luz fraca que ela podia sentir- se hipnotizada. Ele falava agora em um tom sedoso: – O que eu quero dizer é que você tem uma escolha, Siena... Eu gostaria de lhe oferecer uma alternativa. Demorou um segundo... Mas depois suas palavras se encaixaram com o olhar explícito em seus olhos. Depois que ela chegara à Inglaterra, outros homens haviam feito praticamente a mesma proposta... Vergonha e algo muito mais ardente rolaram através de sua barriga, fazendo aumentar sua auto aversão. – Se você está sugerindo o que acho que está sugerindo, então claramente você se recusa a acreditar que eu quero que você me deixe em paz. Andreas deu um passo para frente e Siena sentiu uma pontada de


pânico, recuando um passo para trás. Sentia-se incrivelmente vulnerável. Todos os ambientes familiares de sua antiga vida já não existiam. Ele estendeu a mão e arrastou um dedo pela bochecha dela, descendo por sua mandíbula, até onde seu coração batia freneticamente sob a pele no pescoço. – Mesmo agora, você finge aversão, mas o seu corpo denuncia seu desejo. O que aconteceu em Paris... Você estava tão envolvida quanto eu... Ardente e ansiosa como nunca vi. E ainda assim você não hesitou em transferir a culpa para mim para se manter pura aos olhos de seu pai. Meu Deus, que horror seria a herdeira intocável se deitar com um mero empregado do hotel. Siena afastou a mão dele com um tapa e deu um passo atrás, odiando estar ofegante. – Saia daqui agora, Xenakis. Remoer o passado é inútil. A raiva que Andreas vinha guardando transbordou em sua voz. – Você não consegue se desculpar de forma alguma, não é? Mesmo agora que você não tem um centavo ou uma reputação a defender. Siena sentiu vergonha... E culpa. Inutilmente, ela disse: – Eu... sinto... muito. – Poupe o falso pedido de desculpas – zombou Andreas. Seu rosto repentinamente exibiu certa repugnância e ele se virou de costas para Siena. Ela se lembrava de vê-lo na manhã seguinte, chocada com seu olho roxo e mandíbula inchada. Evidência do trabalho sujo dos homens de seu pai. Ela tentara se desculpar depois, mas, diante da ira, muito justificada, dele, calou-se. Um forte desejo de assegurar-lhe que estava verdadeiramente arrependida a fez impulsivamente tocar na manga de sua camisa. Ela abaixou a mão apressadamente quando ele olhou para ela desconfiado. Siena engoliu em seco sob seu olhar quase negro e disse a verdade: – Eu nunca quis... mentir sobre o que aconteceu. Ou que você perdesse seu emprego. Andreas sorriu friamente. – Não, talvez não. Você teria se divertido comigo e seguido seu caminho. Você se esquece de que eu sei exatamente como meninas como vocês são: gananciosas, entediadas e vorazes. Mas não contava que Papà encontrasse você em flagrante, e você se assegurou de que ele não suspeitasse de que sua preciosa filha tivesse esses desejos tão


básicos. Era muito mais fácil acusar um pobre grego empregado do hotel. Siena empalideceu. Era exatamente o que ela havia feito. Mas não para sobrevivência dela, mas para de sua irmã. Isso era algo que ela nunca poderia se imaginar explicando para aquele homem vingativo. Especialmente quando Serena ainda estava tão vulnerável. E não quando Siena ainda estava se recuperando do efeito que tinha sobre ela. Andreas cortou o ar com a mão e disse secamente: – Você está certa, no entanto. Remoer o passado é inútil. Aqueles olhos azul-escuros se concentraram em Siena com um brilho renovado. – Você está realmente me dizendo que é tão orgulhosa que gosta de viver assim? Não sente falta de dormir até o almoço e não ter nada para se preocupar, além de qual vestido você usaria à noite? – Ele continuou implacavelmente: – Você realmente espera que eu acredite que não teria tudo de volta se pudesse? Que você não aproveitaria uma oportunidade para andar entre seus pares novamente? Siena se sentiu mal. A ideia de permitir que aquele homem se aproximasse mais, onde pudesse descobrir a vulnerabilidade escondida dentro dela, a fez suar frio. Ele pensou que ela saberia lidar com ele, mas ela não tinha a menor ideia. Ela empurrou de lado o fato de que seu pedido de desculpas havia sido tão fútil como ela havia acreditado que seria e sacudiu a cabeça da forma mais arrogante que pôde. – Eu preferiria limpar seus banheiros em vez de fazer o que você está sugerindo. Talvez você pense que, porque estou desesperada, vou aceitar me tornar sua amante. É isso, Xenakis? Andreas sorriu. – Pensei que havia lhe dito para me chamar de Andreas... E, sim, acho que você vai concordar porque sente falta de sua vida de luxos. Mas, mais do que isso, porque, apesar de tudo, você me quer... Siena ficou gelada. Ela o queria, mas ele não tinha ideia de quem ela realmente era, ou por que tivera que traí-lo tão terrivelmente. Ele não tinha ideia do cálido coração batendo dentro dela que tinha esperanças muito frágeis e sonhos de uma vida longe do que ela conhecia. Ele só via uma herdeira mimada e uma forma de humilhála. Em sua voz mais cortante, Siena disse: – Ao contrário do seu ponto de vista inflado sobre seus próprios níveis


de atração, eu não quero você. Eu posso muito bem estar em uma situação desesperadora, sr. Xenakis, mas ainda tenho meu orgulho e não iria me tornar sua amante para sua diversão doente nem se você fosse o último homem na Terra. Andreas olhou para a mulher que estava a poucos metros de distância dele e quis bater palmas. Suas roupas estavam amassadas e manchadas, seu cabelo estava caído em volta do rosto, mas ela poderia ser uma rainha repreendendo um servo. E ele a queria com uma fome que beirava a palavra que ela usara para si: desespero. Ele resmungou: – Eu não tenho o hábito de fazer propostas a mulheres que não me querem , Siena. Ela se afastou e reiterou com um pouco de desespero: – Eu não quero você. – Mentirosa. Ela viu o perigo nos olhos de Andreas. Ele avançou sobre ela e ela se afastou, o pânico espremendo suas cordas vocais, impedindo-a de dizer qualquer coisa. Pânico pela forma terrível e traiçoeira com que o corpo dela já estava ficando quente, formigando de ansiedade. Se ele a beijasse... – Mais uma vez você é orgulhosa demais para admitir que me quer, Siena DePiero, e eu vou provar o quanto você me quer agora. Era insultante a facilidade com que Andreas era capaz de agarrá-la em seus braços. De algum lugar lá no fundo Siena retirou a força de que precisava. – Ah, não faça isso. Siena protestou: – Mas eu não ia... – Não? Ele não acreditava nela. Siena nunca batera em ninguém na vida e sentiu-se mal ao pensar que ele acreditasse que ela fosse capaz de tamanha violência. – Eu não ia bater em você... – sussurrou, olhando diretamente em seus profundos olhos azuis. A expressão de Andreas era severa. – E você nunca vai ter a chance. A ameaça veio em uma voz muito sensual. Ele a manteve perto com um braço em torno de sua cintura e soltou seu pulso para segurar seu queixo com surpreendente delicadeza. E então, antes que ela pudesse fazer outro movimento, Andreas inclinou a cabeça e sua boca se fechou sobre a dela.


O choque manteve Siena impotente contra o ataque sensual. Sua boca se moveu sobre a dela com uma confiança que era inebriante, provocando uma resposta imediata em Siena. Ele fora o único homem que a havia Beijado assim. Calor se reuniu em seu ventre e se espalhou lentamente, incinerando tudo em seu caminho. Seus seios se apertaram e ficaram pesados, doloridos. Os braços dele ao seu redor eram como uma jaula de aço, mas uma que ela estava pateticamente relutante a escapar. Siena estava se afogando no cheiro masculino almiscarado, vagamente consciente da mão de Andreas descendo por seu queixo, acariciando-a, e de seus dedos desfazendo a gravata, abrindo os botões superiores de sua camisa. A língua dele brincava com seus lábios, fazendo-a chegar mais perto, para permitir-lhe acesso. Sem o conhecimento de Siena, suas mãos agora estavam espalmadas sobre o peito de Andreas. Ela estava na ponta dos pés, como se quisesse se aproximar dele. A mão de Andreas segurou a parte de trás de sua cabeça, com os dedos entrelaçados em longas mechas loiras. A outra mão agarrou seu quadril, apertando a carne, fazendo Siena se movimentar contra ele. Foi somente quando ela sentiu o ar tocar a carne exposta de seu pescoço que recuou. Ela olhou para cima, completamente atordoada. Lentamente a consciência veio sobre ela como um vento frio, fazendo toda aquela sensualidade inebriante murchar. Um toque e ela havia se tornado escrava de seus sentidos. Incapaz de raciocinar. Siena usou as mãos para empurrá-lo para trás violentamente, quase caindo. Um milhão de coisas borbulhavam em sua cabeça, mas o pior de tudo era que ela havia se humilhado espetacularmente. Siena estremeceu quando se lembrou de seu tom arrogante. – Eu não quero você. E o que ela havia acabado de fazer? Provar-se uma mentirosa novamente. Ela agarrou sua camisa aberta e não conseguiu olhar Andreas nos olhos. – Eu gostaria que você saísse agora. CAPÍTULO TRÊS


ANDREASOLHOU par a

Siena, segurando sua blusa aberta, parecendo quase em estado de choque, pálido como o luar lá fora. Sentia o peito apertado. Essa reação não era algo que ele esperava. E então ele percebeu: fingir era natural para aquela mulher. Estava em seu sangue, o que fazia o sangue dele ferver. Ter sido enganado mais uma vez, nem que por um segundo... Sua voz foi áspera: – Não há ninguém aqui para você me culpar, Siena. Você tem que assumir a responsabilidade por suas ações. Ele começou a avançar e de repente ela olhou para cima. Andreas parou, seu corpo ainda pulsando com o calor. Algo endureceu dentro dele. E pensar que por um segundo ele havia visto algum tipo de... Vulnerabilidade? Ridículo. Ele se forçou a ser civilizado. – Você ainda me quer, Siena, e pode negar o quanto quiser, mas é uma mentira. Eu não vou sair daqui sem você esta noite. Você vai pagar pelo que fez: na minha cama. Siena abriu a boca e a fechou novamente, em choque. Ele parecia absolutamente determinado, como se estivesse preparado para carregá-la dali. A mente de Siena escorregou para longe daquele cenário perturbador para pensar em sua outra afirmação. Como ela poderia negar que o queria depois daquela pequena demonstração de total falta de controle? Porém, sua suposição tranquila de que ela simplesmente iria com ele a assustou. Assim como seu pai sempre havia esperado que ela fizesse o que ele mandava. Ela havia provado a liberdade pela primeira vez quando que seu pai havia desaparecido, e a aterrorizava pensar em alguém ditando cada movimento seu novamente. Siena soltou sua blusa e ergueu o queixo. – Você realmente acha que vou sair daqui com você? Como você é arrogante. Os olhos de Andreas se escureceram ameaçadoramente. – Eu paguei um alto preço por sua necessidade petulante de se salvar com seu pai naquela noite, Siena. Fui demitido e colocado na lista negra de cada hotel na Europa da noite para o dia, carreguei o rumor muito desagradável de ter abusado de uma mulher. Minha carreira foi arruinada. Eu tive que ir para a América para recomeçar. Siena não podia suportar sentir essa vergonha novamente e rebateu: – Então... O quê? Eu pago agora me tornando sua amante? Andreas sorriu.


– Isso e muito mais, Siena DePiero Você me paga admitindo para si mesma e para mim o quanto me quer. Ela olhou para aquele homem sob a luz fraca de seu apartamento. Ele estava de pé com as pernas firmemente plantadas. O peito se mostrava largo e poderoso. Andreas esteve procurando você por seis meses. Ele não iria simplesmente embora... Aquele pensamento enviou um fluxo de pânico misturado com algo muito mais humilhante através do sangue de Siena. As paredes do pequeno apartamento pareciam confiná-los cada vez mais. Ela emitiu uma risada breve para esconder sua ansiedade. – Então... O quê? Você vai me trancar em sua cobertura como um brinquedo para o seu prazer? Os olhos de Andreas brilharam sob a luz fraca e ele sorriu. – Não posso negar que a ideia tem o seu apelo, mas, não, eu não tenho nenhum problema de ser visto com você em público. Eu não tenho problema com a opinião pública, ao contrário de algumas pessoas. Andreas estava olhando para ela com frieza, claramente esperando que ela dissesse alguma coisa. – E depois? – perguntou ela, sentindo- se um pouco histérica por estar nesta situação, discutindo isso com Andreas Xenakis. – Você simplesmente me joga novamente aqui quando estiver satisfeito? A boca de Andreas endureceu. – Eu cuido das minhas... amantes. – Ele deu de ombros negligentemente. – Elas geralmente são autossuficientes, mas com o seu leque de competências linguísticas não duvido que com um pouco de ajuda você poderia encontrar um emprego decente... Certamente algo melhor do que o trabalho servil. Siena riu. A histeria estava tomando conta dela. Controlando-se com esforço, olhou para Andreas. – É realmente muito irônico, não é? Você está me oferecendo encontrar um emprego... A voz rascante de Siena estava escondendo uma de suas vulnerabilidades mais profundas: o fato de que ela não tinha nenhuma qualificação além de sua educação primorosa. Sim, ela falava várias línguas fluentemente. Sim, ela sabia como organizar um jantar para 50 pessoas ou mais. Sim, ela sabia como arranjar flores e como se comportar na frente da realeza e diplomatas, como conduzir uma conversa que fosse desde política internacional a história da arte... Mas quando se tratava do mundo


real, vida real, não sabia de nada. Não tinha competências ou qualificações. Ela havia sido destinada a uma vida de políticas sociais. E Andreas sabia disso. Ela rezou para que ele não a tocasse novamente e moveu-se ao redor dele com as pernas bambas para abrir a porta da frente. Não havia mais sons perturbadores vindo de seus vizinhos. Olhou de volta para a sala aliviada, ao ver que Andreas a havia seguido. Mas o alívio durou pouco, quando ele suavemente, mas com firmeza, fechou a porta novamente. – Estou lhe oferecendo uma oportunidade, Siena, uma chance de se recuperar e construir uma vida para si. Siena cruzou os braços e obrigou-se a olhar para ele. Sua boca se contorceu e ela falou de seus medos: – Nós dois sabemos que não é uma oferta, Andreas. Você não passou seis meses me procurando para simplesmente ir embora. Ele sorriu novamente e concordou. – Não, não passei. Realmente não será uma tarefa árdua, Siena... Asseguro-lhe que você vai gostar. Você faria por nada. – Enquanto seu interesse durar? Seu rosto tornou-se imediatamente mais austero e Siena soube que havia atingido um ponto sensível. Isso a deixou intrigada. – Isso é tudo que estou oferecendo, Siena. Uma quantidade finita de tempo como minha amante até que nós dois estejamos prontos para seguir em frente. Eu não tenho nenhum desejo de algo mais permanente, certamente não com você. – Olha, Xenakis ... – Não! Ele parecia feroz e magnífico na escuridão. Então chegou mais perto e o coração dela bateu dolorosamente. – Olhe você. Isso só vai acabar de uma maneira: com você concordando em vir comigo agora. Se quiser mais uma demonstração de como você é suscetível a mim, fico feliz em fornecê-la aqui e agora, mas... – Ele se interrompeu e olhou ao redor da sala claramente enojado, então de volta para Siena. – Eu, pessoalmente, prefiro fazer amor com você pela primeira vez em um ambiente... mais luxuoso. O pensamento de que ele poderia possuí-la ali se ele quisesse fez Siena se afastar mais. Ela sentia como se um laço estivesse apertando seu pescoço. Andreas observou Siena se afastando e reprimiu o desejo quase


animalesco que tinha de colocá-la sobre os ombros e levá-la para fora daquele patético lugar fedorento. Seu sangue estava fervendo com luxúria e determinação. Tão logo sua boca tocou a dela, soube com uma certeza visceral que não a deixaria para trás naquele lugar. Ele não gostava de admitir que uma parte sua não conseguia suportar pensar nela naquele ambiente. Tentando conter a impaciência que sentia, Andreas apontou: – Você não tem ninguém a quem recorrer, Siena. Se está esperando por um cavaleiro de sangue azul aparecer em um cavalo branco e perdoar os pecados do seu pai, isso não vai acontecer. Não se esqueça... Eu conheço os seus pecados. Siena se virou para encarar Andreas novamente, apertando os braços ainda mais em torno de si. Suas palavras a haviam afetado muito mais fundo do que ela queria que ele visse. Ele estava certo. Ela não tinha ninguém a quem recorrer. Ela e Serena tinham um meio-irmão mais velho, mas não tinha dúvidas de que, após o tratamento que ele recebera de seu pai, sem mencionar a forma como Siena e sua irmã o haviam ignorado tão descaradamente quando o haviam visto na rua no dia em que ele enfrentara seu pai, ele não iria gostar que ela entrasse em contato do nada. Ele havia se tornado um financista bilionário contra todas as probabilidades e devia desprezá-la, assim como devia desprezar o seu pai por humilhá-lo como um cão na rua. Sua irmã não estava em posição de ajudá-la e nunca realmente havia estado, apesar de ser dois anos mais velha. E isso trouxe de volta para Siena a percepção de que ela poderia não ter ninguém a quem recorrer, mas Serena esperava recorrer a Siena quando precisasse. E ela precisava agora. Como ela poderia ter se esquecido de Serena? O ritmo frenético de seus batimentos zombou dela. A razão estava diante dela. Siena sentiu a disposição deixando seu corpo cansado. A sensação de inevitabilidade caiu sobre ela. Não havia sido por acaso que Andreas a havia encontrado naquela noite. Ele procurara por ela. E não iria descansar agora que sabia onde ela estava. Ela não tinha nenhum outro lugar para ir. Nenhum lugar para se esconder. Nenhum recurso. Como se ele sentisse a direção que os pensamentos dela estavam tomando, os olhos de Andreas piscaram triunfantemente na escuridão. De repente, como se houvesse sido injetado com uma dose de adrenalina, seu cérebro ficou claro. Pensar em sua irmã focou seus pensamentos. Se ela ia sair daquele apartamento com aquele homem, tinha que ter certeza de que a única pessoa que precisava dela fosse se beneficiar.


A ideia de contar a Andreas sobre sua irmã, apelar para sua humanidade, era um anátema. Naquela noite, Andreas havia provado o quão longe estava disposto a ir para ter sua vingança. Se ela lhe contasse sobre Serena, ele poderia muito bem usá-la contra Siena, como seu pai. Siena estremeceu só de pensar. De jeito nenhum ela poderia deixar isso acontecer novamente. Ela sabia, porém, que o plano audacioso se formando em sua cabeça iria garantir o ódio de Andreas. O SANGUE de Andreas zumbia de ansiedade enquanto ele observava Siena, com queixo ainda erguido desafiadoramente, apesar de ambos saberem que ela estava prestes a ceder. Ela seria dele. Sua boca se apertou. Isso apenas provava que ele estava certo: Siena queria sair de suas circunstâncias difíceis e voltar para o mundo que ela conhecia tão bem. Tudo o que ele queria era saciar esse desejo queimando dentro dele. Testemunhar Siena DePiero engolir seu orgulho e sua negação de sua atração mútua seria uma deliciosa vingança e o mínimo que ele merecia depois de sofrer tão intensamente em suas mãos. – Bem, Siena, o que vai ser? Siena odiou o tom presunçoso de arrogância na voz de Andreas. Ela não podia acreditar que estava cogitando o que estava prestes a fazer, mas garantiu a si mesma que poderia fazer isso. Tinha que fazer. De certa forma, deveria ser fácil... Ela simplesmente voltaria a fingir ser quem sempre havia fingido ser: uma herdeira privilegiada com nada mais em mente do que o vestido que usaria no próximo evento de caridade. Ninguém, exceto Serena, havia conhecido seu profundo ódio desse mundo vazio onde as pessoas rotineiramente apunhalavam umas as outras pelas costas para subir de status; onde as emoções estavam tão calcificadas que nenhuma reação era genuína. Antes que pudesse perder a coragem, Siena deixou escapar: – Eu irei com você... Agora, se você quiser. – Ela viu o lento sorriso triunfante de Andreas curvando sua boca e disse rapidamente, antes que ele pensasse que estava prestes a ter tudo o que queria. – Mas tenho condições para isso... Se vamos embarcar em... – Faltaram-lhe palavras. Ela simplesmente não conseguia articular o que ele queria e esperava. Ele arqueou uma sobrancelha. – Neste caso? Tornarmo-nos amantes? Companheiros?


Siena corou. A palavra companheiros, embora ele houvesse dito sarcasticamente, bateu em algum lugar profundo e secreto. Eles nunca seriam companheiros. Sentindo-se agitada, postou-se atrás de sua cadeira bamba, como se ela pudesse lhe prestar apoio, e assentiu. – Sim. Eu tenho condições. Andreas cruzou os braços sobre o peito. Ele parecia quase se divertir. Só queria uma coisa dela e ela só estava explorando o desejo dele. Sem rodeios, ela declarou: – Eu quero dinheiro. Enquanto Andreas registrava as palavras de Siena, algo sombrio se solidificou dentro dele. Ele deveria ter esperado por isso. Uma mulher como Siena DePiero nunca sairia de graça Ela esperaria que ele pagasse caro pelo privilégio de se deitar com ela. Com desgosto evidente, ele disse friamente: – Eu nunca paguei por uma mulher na vida e não vou começar agora. Siena ficou pálida e Andreas teve que conter o desejo de zombá-la. Como elapodia parecer tão vulnerável enquanto exigia pagamento para ser sua amante? As bochechas de Siena coraram e bizarramente ele se sentiu reconfortado. Podia vê-la lutando com o que ela queria dizer. – Esses são os meus termos. Eu quero uma quantia em dinheiro ou então eu não vou a lugar nenhum... E se você chegar perto de mim eu vou gritar. Andreas sorriu. – Como seus vizinhos? Eu não vi ninguém correr para ajudá-los. Siena corou mais. Isso fez com que Andreas falasse: – De quanto dinheiro estamos falando? Ele viu Siena engolir em seco e lamber os lábios, chamando a atenção de Andreas. Dane-se, ele a queria... Possivelmente até mesmo por um preço. Siena sentiu-se mal. Mas ela estava longe demais para parar agora. Viu o desgosto gravado nas linhas de seu belo rosto. Ele iria desprezá-la por isso, mas se ele pudesse desprezá-la e ainda desejá-la estava tudo bem. Ela deu seu preço. A quantidade exata de dinheiro que seria necessário para assegurar os cuidados de Serena por um ano. Se ela ia fazer isso, então faria valer a pena. Um ano de terapia e reabilitação seria suficiente para garantir a recuperação de Serena. Andreas assobiou com a quantia e Siena viu seus olhos tornarem-se ainda mais frios. Ele se aproximou novamente e ela lutou para não se afastar,


com os olhos colados nos dele. De uma forma estranha, agora que havia dito, sentiu um peso sair de seus ombros. – Você se valoriza muito. Siena queimou de vergonha, mas disse desafiadoramente: – Qual o problema? Andreas caminhou ao redor dela, varrendo-a com o olhar. Siena podia sentir seus olhos vagando sobre seu corpo. Ele disse por trás dela: – Por esse dinheiro acho que seria justo provar a mercadoria novamente antes de tomar uma decisão, não é? Afinal de contas, são apenas negócios. Siena virou-se indignada enquanto o calor impregnava cada partícula de sua pele, mas a palavra ficou alojada em sua garganta. Ela seria o pior tipo de hipócrita se fosse repreendê-lo. Antes que ela pudesse detê-lo, ele pôs uma mão em seu pescoço e puxou-a para si. Ele disse com desgosto: – Não pago por sexo. Nunca paguei e nunca pagarei. É hediondo, repugnante e desmoralizante. Especialmente quando você quer tanto quanto eu... Em seguida, sua boca estava sobre a dela e ele estava destruindo qualquer senso de realidade... Novamente. Suas mãos estavam sobre o peito de Andreas e ele a puxou mais perto, enrolando o braço em volta dela, arqueando-a para ele, onde ela podia sentir a evidência crescente de sua ereção contra sua barriga. Sua boca estava forçando que a dela se abrisse e, quando isso aconteceu, ela não teve a menor chance. Sua língua encontrou e se enroscou com a dela, acariciando-a, exigindo uma resposta. Siena gemeu no fundo de sua garganta. Andreas a estava possuindo com maestria sensual e, longe de estar aborrecida, ela descobriu que seus braços coçavam para se enrolar no pescoço de Andreas, e sua língua estava dançando tão ardentemente quanto a dele. A mão dele deixou a cintura dela e viajou ao longo de suas costelas. Siena estava ciente de uma pontada de ansiedade em seu sangue conforme seus seios pareciam inchar em resposta, mamilos enrijecendo dolorosamente, esperando por seu toque. Mas Andreas não tocou seu seio como ela desejava. Ele parou e puxou sua cabeça para trás. Ela abriu os olhos com esforço, para ver os dele, inflamados, queimando-a viva, condenando-a por sua audácia e negação


obstinada de sua atração. Sua respiração vinha em rajadas rápidas e um milhão de coisas estavam rodando em seu cérebro, todas incitando-a a se afastar... Rápido. Mas ela não conseguia se mexer. – Por mais que eu odeie admitir isso, acho que talvez você valha esta quantia astronômica de dinheiro que pede – disse ele com desgosto. Ele se afastou, deixando Siena desamparada e vacilante. Então passou a mão pelo cabelo e olhou para ela. – Você aprendeu bem, DePiero... Nas camas dos inúmeros amantes que você possa haver entretido. Foram eles quem lhe ensinaram esta inebriante mistura de inocência e sensualidade ingênua, concebidas para inflamar um homem? Siena olhou para Andreas, surpresa com suas palavras. Ele não tinha ideia. Não sabia que suas respostas eram reais. E ela prometeu, então, que ele nunca saberia... Não importava o que ela tivesse que fazer. Ela lutou para encontrar alguma compostura e disse o mais cinicamente que pôde: – O que você esperava? A herdeira virgem arruinada? Estamos no século XXI... Certamente você sabe que virgens são tão míticas quanto o cavaleiro em um cavalo branco que você acaba de mencionar. Andreas se afastou dela, tensão emanando de seu corpo em ondas. Naquele momento, ele a odiou e odiou a si mesmo, porque sabia que não tinha forças para simplesmente ir embora e deixá-la ali. Para mostrar-lhe nada além de desprezo. Se o fizesse, sabia que ela iria atormentá-lo em sonhos para sempre. Ele passara cinco anos assombrado por ela. E tinha que tê-la, tinha que ter este encerramento de uma vez por todas. E desprezou-se por sua fraqueza. Ele olhou para Siena e, para seu desgosto, todos os seus pensamentos anteriores foram desfeitos em pedacinhos. Seu cabelo estava desgrenhado pelas mãos dele, suas bochechas, rosadas e os lábios, cheios, rosados por causa dos beijos. Seu peito ainda subia e descia com a respiração irregular e aqueles olhos azuis brilhavam desafiadoramente. Siena estava lentamente recuperando o controle de si mesma. As palavras dele soavam em sua cabeça: – Não pago por sexo. Nunca paguei e nunca pagarei. É hediondo, repugnante e desmoralizante. O pior era que ela concordava com cada palavra que ele dissera e teve que admitir que o respeitava. Ela finalmente arrastou seu olhar e andou até a porta, prestes a abri-la,


porque ele certamente iria embora para sempre. Mais uma vez Siena não gostou da sensação de vazio que o pensamento trouxe. Antes que ela pudesse abrir a porta, Andreas disse ameaçadoramente: – O que você pensa que está fazendo? Siena olhou para ele, a respiração presa na garganta por um momento. – Mas você disse que não pagaria... O rosto de Andreas era como pedra, e seus olhos estavam escuros. – Sim, eu disse. Siena se esforçou para entender. – Então, o que foi? Andreas cruzou os braços. – Há outros meios de pagamento que não são tão... óbvios. Algo bastante revelador saltou no estômago de Siena com o pensamento de que ele não estava de partida. – O que você quer dizer? – Presentes... – Ele sorriu cinicamente. – Afinal de contas, quantas mulheres e homens têm se beneficiado da generosidade de seus amantes? Você pode fazer o que quiser com eles quando o nosso relacionamento acabar. Se isso significar convertê-los no dinheiro que você tanto deseja, então se sinta livre para fazê-lo. Desconfiada e sentindo-se extremamente ingênua, porque nunca tinha estado nesta situação antes, ela disse: – Presentes... Que tipo de presentes? – Do tipo caro. Joias. Como as que você estava usando naquela noite. Siena se lembrou dos inestimáveis brincos e colar de diamante que seu pai lhe havia presenteado na noite daquele baile de debutante exclusivo em Paris. Eles pertenceram a sua mãe, mas haviam sido apreendidos pelas autoridades, juntamente com tudo o mais que ela possuía. Siena sentiu quase uma sensação de alívio que ele não fosse apenas lhe entregar uma quantia em dinheiro. Receber joias tornava o que ela havia pedido um pouco mais palatável. – Tudo bem – disse ela com a voz trêmula, mal acreditando que estava concordando com isso. – Vou aceitar presentes como pagamento. Andreas sorriu. – Claro que vai. Siena se vislumbrou saindo dali com ele e um pânico renovado a fez perguntar, um pouco tardiamente: – O que... o que você espera de mim? O sorriso de Andreas


desapareceu. De repente, ele parecia severo, ameaçador. – Considerando o preço que você coloca em si mesma... Vou esperar que você seja uma amante muito disposta, carinhosa e inventiva. Sou um homem muito sexual, Siena, e me orgulho de satisfazer minhas amantes, por isso espero o mesmo em troca. Especialmente de você. Siena lutou para segurar uma risada histérica. Amante inventiva? Ele teria sorte se ela conseguisse não demonstrar sua inocência. Poderia até ser o suficiente para desestimulá-lo completamente. Por mais tentada que estivesse de deixar escapar esta verdade íntima, ela pensou em sua irmã e apertou a boca. Não havia volta. Tinha apenas que aceitar as consequências das ações que ela pusera em marcha cinco anos antes. Não querendo pensar em como sua afirmação de que ele era “ um homem muito sexual” a havia impactado profundamente, Siena perguntou bastante trêmula: – Por quanto tempo você vai me querer? Andreas se aproximou de Siena e tocou-lhe o queixo com o dedo, fazendoa tremer. Seus olhos viajaram para cima e para baixo de seu corpo com intenções sombrias e depois voltaram para os dela. Com despreocupação quase insultante, ele disse: – Eu acho que uma semana deve ser o bastante para satisfazer meu desejo de vingança por você. Siena odiou que aquilo parecesse um insulto, quando deveria parecer um indulto. Qualquer um poderia lidar com qualquer coisa por uma semana. Mesmo isso. – Uma semana, então. Siena se assegurou de que sete dias eram um pontinho no oceano de sua vida. Ela poderia fazer isso. Andreas sorriu. – Eu já estou ansioso pela próxima semana, quando o passado realmente vai estar no passado. Para sempre. A sensação de vulnerabilidade de Siena aumentou. – O sentimento é mútuo, acredite. Depois de um momento tenso, Andreas baixou a mão, deu um passo para trás e disse: – Embale suas coisas, Siena, e não deixe nada para trás. – Mas eu vou voltar para cá... A boca de Andreas se afinou conforme ele avaliava o mobiliário escasso


com um olhar de desdém. – Você não vai voltar para cá. Nunca. Siena abriu a boca para protestar e depois parou. É claro que ele pensava que não voltaria para lá, já que iria transformar seus presentes em dinheiro. Andreas não sabia que em uma semana estaria tão pobre quanto agora, e ela não queria que seu cérebro afiado descobrisse isso. Fracamente, ela assegurou a si mesma de que se preocuparia com isso quando chegasse a hora, e entrou no pequeno quarto e pegou sua mala. Apenas algumas horas antes, ela não tinha nada mais em sua mente além de como passar a noite sem tombar de exaustão e a pequena preocupação constante de como seria capaz de cuidar de Serena, porque elas não tinham dinheiro suficiente para continuar pagando por seus cuidados psiquiátricos. Mas agora sua vida havia sido virada de cabeça para baixo e havia um benfeitor inesperado para Serena. A próxima semana se esticava à frente como um termo de servidão penal. Mas, traiçoeiramente, Siena sentiu um arrepio de ansiedade através dela. Será que Andreas esperava que ela dormisse com ele essa noite? O pensamento fez seu coração saltar e sua boca ficar seca. Ela não estava pronta. A ideia de toda aquela intensa masculinidade focada nela era esmagadora, quando ela era tão inexperiente. Siena estava entorpecida quando começou a recolher suas roupas. Uma enorme sombra escureceu a porta do quarto e Andreas apareceu, claramente impaciente. – Na verdade, você pode deixar tudo aqui. A menos que haja algo de valor sentimental. Eu vou lhe comprar um novo guarda-roupa. Siena apenas olhou para Andreas. Ela viu um homem bonito, ansioso para sair daquele buraco e levá-la com ele para que pudesse moldá-la no que ele queria. Ele era tão seguro de si... Siena não tinha dúvidas de que a maioria das mulheres na vida de Andreas ficava feliz em cumprir suas exigências, e teve que anular a pontada de algo sombrio ao pensar naquelas mulheres. O desânimo tomou conta dela. Não era ciúme. Não podia ser ciúme. Ela odiava aquele homem pelo que ele estava fazendo e pelo que ele havia se tornado. O desprezo de si mesma por haver permitido que isso acontecesse com ela e por saber que não tinha escolha, porque essa era sua única esperança de ajudar Serena, fez Siena endireitar a espinha. Laconicamente, ela disse: – Dê-me cinco minutos. CAPÍTULO QUATRO


– O QUE vai acontecer com o meu apartamento? Siena estava tentando não notar as grandes mãos de Andreas no volante de seu carro, a maneira como ele lidava com ele com tanta confiança. É claro que o carro não estava depenado quando eles voltaram. O garoto o havia vigiado como um falcão e havia olhado para Andreas como se ele fosse um deus. Siena não sabia dirigir. Seu pai não considerava necessário. Por que ela precisaria saber dirigir se seria levada por um motorista a todo lugar? Soando decidido, Andreas respondeu: – Vou mandar minha assistente conversar com o proprietário. Ela também pode informar aos seus empregadores que você não vai voltar. De certa forma, era carma. Ela o havia feito perder o emprego e agora ele a estava fazendo perder o dela. Só isso. Perguntou-se o que Andreas teria feito se soubesse que ela não se importava com sua fortuna. Mas estava esquecendo que aquele homem não se importava. Assim como o jovem de cinco anos antes. Ele apenas a queria porque havia sido um estratagema para seduzir uma das debutantes intocáveis; sua suposta virtude havia sido mais valorizada e protegida do que uma relíquia inestimável em um museu. Naquela noite, Siena conseguira escapar de seu pai e tentara encontrar Andreas para explicar por que havia mentido, odiando-se pela terrível falsidade. Ela explorara uma área reservada apenas para funcionários e havia parado abruptamente do lado de fora de uma porta semiaberta, quando ouvira a voz familiar dizendo com veemência: – Se eu soubesse como era venenosa, nunca teria tocado nela. Uma voz havia apontado friamente: – Agora está feito, Xenakis. Você não deveria ter tocado de jeito algum. Realmente acha que teria uma chance com alguém como ela? Ela vai se casar em alguns anos com um desses engomadinhos do salão ou com algum velho da realeza italiana. Andreas disse amargamente: – Eu só a beijei porque ela estava olhando para mim como se eu fosse sua última ceia. – Não seja tolo, Xenakis! Ela seduziu você porque, como qualquer outra daquelas pirralhas mimadas, estava entediada. Acredita mesmo que ela já não tenha tido uma série de amantes? Essas meninas não são inocentes como parecem.


Siena mal respirava. – Eu só a beijei porque ela estava olhando para mim como se eu fosse sua última ceia. Na manhã seguinte, Siena havia acordado cedo e se sentido sufocada em seu quarto opulento. Vestira-se com jeans e uma camiseta solta e fugira furtivamente pelo lobby ao amanhecer. Ansiava por ar e espaço... Tempo para pensar sobre o que havia acontecido. O que ouvira estava reverberando em sua cabeça, e ela batera de cara em uma parede de pedra. Na luz fria do dia, com uma jaqueta de couro preta e calça jeans, ele parecia sombrio e ameaçador. Mas ela havia sido atraída por seu olho roxo e mandíbula inchada. O reconhecimento assustado se transformara em raiva borbulhante. – Não fique tão chocada, querida. Você não reconhece o trabalho dos homens do seu pai? Você não sabe que eles fizeram isso para vingar a sua honra? Siena se sentiu enjoada. – Eu... – começara, mas Andreas a cortara com um golpe de sua mão através do ar. – Não quero ouvir. Por mais que odeie você agora, eu me odeio mais por ser estúpido o suficiente para ser pego. Você sabia que perdi meu emprego? Vou ter sorte se conseguir trabalhar limpando banheiros em um camping depois disso... Ele a varreu com um olhar sarcástico. – Adoraria dizer que o que nós compartilhamos valeu a pena, mas a única coisa que teria feito remotamente valer a pena seria se você parasse de bancar a inocente e me deixasse coloca- lá contra a parede daquele provador como eu queria. Então talvez seu pai não nos houvesse pegado no ato. Ele agarrou o queixo dela com os dedos, segurando-a firme o suficiente para machucar, e disse: – Como dizem os franceses, au revoir, Siena DePiero. Porque algum dia nossos caminhos se cruzarão novamente. Pode ter certeza disso. Ele a soltou, olhou para ela e soltou um palavrão. Com isso, colocou seu capacete, passou a perna sobre a moto e a deixou ali de pé, olhando para ele como se houvesse sido transformada em pedra. – Chegamos. Siena viu que eles estavam estacionando do lado de fora do apartamento de Andreas. Sentiu um frio congelante na barriga. O mesmo jovem que havia estacionado o carro antes apareceu para abrir a


porta. Siena ficou aliviada, não querendo tocar Andreas. Ele esperou enquanto ela saía do carro com sua mala. Ela não conseguiu impedi-lo de colocar a mão em suas costas enquanto a guiava até o prédio. Raiva inútil queimou dentro dela por ser tão vulnerável àquele homem... ANDREAS ESTAVA muito consciente das feições pálidas e bem elaboradas de Siena enquanto estavam no elevador. Quando ela perguntou quanto tempo iria durar, Andreas havia estado a ponto de dizer um mês. Porém, ele nunca havia passado mais de uma semana com uma amante, descobrindo que invariavelmente precisava de espaço ou ficava entediado. Mas, uma voz interior sarcástica apontou, isso já era diferente, porque ele a estava trazendo de volta para seu apartamento, sem sequer pensar nisso. Ele nunca vivera com uma amante antes. Instintivamente, sempre evitava esse tipo de intimidade. Isso o fazia se sentir claustrofóbico. Andreas amaldiçoouse e perguntou-se por que ele não havia automaticamente decidido colocar Siena em uma suíte de hotel, em vez de trazê- la para sua casa. Ele odiava que ela já estivesse fazendo com que ele questionasse suas motivações e impulsos. Isso o fazia se lembrar de memórias trágicas e sombrias e sentimentos de sufocamento. Antes de Andreas deixar sua cidade natal aos 17 anos, ele tinha um melhor amigo que planejava partir com ele. Eles iriam ser alguém na vida... Fazer a diferença. Mas, naquele último verão, seu amigo se apaixonara por uma garota local e tornara-se escravo de suas emoções, dizendo a Andreas que não queria mais viajar ou fazer nada especial. Ele só queria se estabelecer. Andreas havia sido incapaz de fazê-lo mudar de ideia e vira seu amigo inteligente e ambicioso jogar fora seus sonhos. Quando seu amigo havia encontrado sua namorada na cama com outro, ele ficara tão perturbado que se matara. Andreas havia sido profundamente afetado por essa violência terrível. Por como alguém poderia se perder tão completamente e investir tanto em outra pessoa. Por amor. Quando esse amor não havia sido correspondido. O próprio pai de Andreas havia conseguido uma bolsa de estudos em uma universidade em Atenas, o primeiro de sua família a fazêlo. Mas, antes que ele pudesse ir, havia conhecido e se apaixonado pela mãe de Andreas. Ela engravidara e seu pai decidira ficar e se casar, desistindo da chance de estudar Medicina. Andreas sempre estivera ciente da oportunidade perdida por seu pai. E, depois de testemunhar a tragédia terrível de seu amigo, ele


havia ficado mais determinado do que nunca a partir. Havia jurado nunca se deixar desviar por sentimentos. E ele não o fizera... Até Paris, quando se perdera por um momento com uma sedutora loira. Ela havia sido um alerta necessário. Um lembrete do que era importante. Não se deixar desviar. Andreas se assegurou de que dessa vez as coisas seriam diferentes. Siena DePiero estava ali e isso era tudo que ele precisava saber. Tê-la longe dele não era uma opção. Ele havia esperado por aquele momento por muito tempo... Desde aquela noite, quando sentira uma raiva impotente e um sentimento de traição que nunca queria sentir novamente. – ESTE É o seu quarto. Silenciosamente, ela entrou, aliviada por ter seu próprio quarto. Era deslumbrante. A cama king-size dominava o quarto e Siena conseguiu ver um vislumbre de um banheiro e uma entrada para outra sala. – É... lindo – disse ela secamente, sabendo que “lindo” era insuficiente em face da opulência. Mas ele iria encontrá-la mais cedo ou mais tarde, lembrou-lhe uma voz interior. – Vou mandar um estilista e uma esteticista virem amanhã, para ajudá-la no que você precisar. Para deixá-la bonita para ele. Siena sentiu-se tonta de repente e cambaleou levemente. Imediatamente Andreas ficou ereto, alerta. – O que foi? Você está com fome? Siena venceu as ondas de fraqueza, determinada a não demonstrar a Andreas qualquer vulnerabilidade. Ela balançou a cabeça. – Não. Não é nada. Estou apenas cansada. Eu gostaria de ir para a cama agora. Andreas apenas olhou para ela por um longo momento e, em seguida, como se estivesse decidindo alguma coisa, recuou e disse: – Certamente, Siena. Você é minha convidada agora. Sirvase do que quiser. Ele se afastou e, pouco antes de chegar à porta do quarto, disse em voz baixa: – Você deve dormir enquanto pode, Siena. Você vai precisar. Siena lutou contra uma nova onda de tontura e observou enquanto ele saía do quarto, fechando a porta atrás de si. Um cansaço repentino quase a derrubou. Sua cabeça doía depois de tudo o que tinha


acontecido. Ela não aguentava mais. Tirou o que precisava da mala e se vestiu para dormir. Ela não conseguiu bloquear a forma como seu corpo fraco se regozijou ao afundar em lençóis caros e, grato, escorregou no que pareceu um coma. ANDREAS SABIA que estava em um sonho, mas não conseguiu se livrar dele. Ele estava novamente naquele salão em Paris. Podia sentir a ambição aumentando dentro de si de possuir tal lugar um dia. Seria um feito notável para um menino de uma pequena cidade nos arredores de Atenas. E então, como uma câmera dando zoom, tudo o que ele podia ver era o rosto dela. Puro e belo. Arrogante e frio. Perfeito. O ouro branco de seu cabelo estava arrumado em um coque complicado. Joias cintilavam em seu pescoço e orelhas. Seu perfil era tão real quanto o de qualquer rainha. A única coisa que estragava a imagem era o vermelho de uma mancha de vinho que estava florescendo de seu peito e ao longo de seu decote. O sonho se desvaneceu e mudou. Agora eles estavam naquela boutique, cercados por manequins em belos vestidos e joias brilhantes por trás de vitrines. Ela estava rindo, infantil e inocentemente, enormes olhos azuis brilhando com malícia quando ela apontou para um dos manequins e disse imperiosamente: – Eu quero aquele! Andreas curvou-se em uma paródia de um servo e ela riu ainda mais, observando enquanto ele ia até a vitrine para brigar com o manequim e tirar o vestido. Ela estava em acessos de risos, agora, ao vê-lo lutar para tirar o vestido deslumbrante do manequim antes de finalmente entregá-lo a ela com um gesto de triunfo. Ela fez uma reverência e disse: – Obrigada, gentil senhor. E então ela desapareceu no provador. Havia uma sensação efervescente em seu sangue. E então ela estava ali, na frente dele novamente, e Andreas tinha os olhos tão azuis que doía olhar para eles. E, em seguida, a dor tornouse intensa e ele olhou para baixo, estupidamente, e viu uma faca saindo de sua barriga e sangue por toda parte. Ele olhou para cima e ela estava sorrindo cruelmente. – Não, eu não pedi para você me tocar. Eu nunca deixaria alguém como você me tocar.


Seu amigo que havia morrido, Spiro, estava atrás de Siena, rindo dele. – Você pensou que poderia ficar imune? E, em seguida, Andreas estava caindo e caindo e caindo... Andreas acordou com um sobressalto, úmido de suor, o coração batendo forte. Ele olhou para baixo e colocou uma mão em sua barriga, prevendo uma faca e sangue. Mas é claro que não havia nenhuma. Fora um sonho. Um pesadelo. Ele havia tido esse sonho por meses após deixar a França, mas não o tinha há muito tempo. Lembrou-se. Siena. Ele entrou na sala escura e se serviu de uísque, bebendo-o de uma vez só. Lentamente, sentiu-se retomar a concentração, mas foi incapaz de dissipar a memória daquela noite. Andreas era o gerente de plantão, supervisionando o baile de debutantes anual, certificando-se de que corresse sem problemas. Observava todas aquelas belas moças mimadas com um olhar suspeito, depois de ouvir todo tipo de histórias sobre suas atitudes devassas. Ainda assim, ele mal acreditava nelas. Todas pareciam tão inocentes. E ninguém mais do que a mais bela de todas: Siena DePiero. Ele percebeu que ela estava sempre um pouco afastada das outras, como se não fizesse parte do seu clube. E a maneira como seu pai a mantinha perto em todos os momentos. Ele havia interpretado seu distanciamento como arrogância. E então ele viu o momento em que seu parceiro de jantar acidentalmente derramou vinho tinto sobre todo o seu vestido branco. Andreas, tentando minimizar os danos, ofereceuse para levá-la à boutique para escolher um vestido novo. Seu pai ficou claramente relutante em deixá-la sair de sua supervisão, mas não teve escolha. Ele não deixaria sua filha ser apresentada no baile em um vestido manchado. E assim Andreas se viu acompanhando Siena à boutique e ficou muito surpreso quando ela confidenciou com voz rouca: – Por favor, desculpe a grosseria de meu pai. Ele odeia qualquer tipo de atenção negativa. Andreas ficou surpreso por essa polidez, quando esperava que ela o ignorasse. Ela parecia nervosa e corada sob sua supervisão. Para seu total constrangimento, percebeu que seu corpo estava reagindo a ela... Àquela mulher muito jovem, embora ele soubesse que ela não era tão jovem. Seu décimo oitavo aniversário era no dia seguinte e seu pai já havia organizado uma festa matinal com algumas das outras debutantes para comemorar.


Ele disse alguma coisa para deixá-la à vontade e ela sorriu. Então quase tropeçou em seus pés. No momento em que chegaram à boutique, seu corpo estava incendiado de desejo. Siena estava tagarela, embora hesitante e encantadora. Na loja vazia, a tensão sexual entre eles havia aumentado, forte o suficiente para fazer Andreas cambalear. Ele havia tido algumas amantes naquela época e achava que conhecia as mulheres. Mas nunca havia se sentido assim antes. Sua sensualidade ingênua e aparente timidez haviam estado em total desacordo com sua beleza fria e arrogante. Com a reputação de todas asdebutantes. Ela fez uma careta depois de alguns minutos e olhou ao redor da loja, antes de olhar para um vestido em um manequim na vitrine. Era espalhafatoso, mas não muito distante do que ela usava. – Isso é o que meu pai vai aprovar. Ela parecia tão resignada e decepcionada que Andreas havia inexplicavelmente desejado vê-la sorrir novamente. Ele bateu, tirando o manequim do vestido. E ele a fez rir. Então, ela desapareceu no provador e todos os músculos do corpo de Andreas se tencionaram enquanto pensava nela nua, fantasiando sobre puxar a cortina, arriar as calças, envolvendo as pernas dela ao redor dos quadris e possuí-la contra a parede... E então ela surgiu e seu sangue deixou seu cérebro completamente. Ela se virou e exibiu as costas nuas, perguntando com um olhar tímido por cima do ombro: – Pode fechar para mim? Até hoje Andreas não sabia como havia conseguido não puxar o vestido para baixo e retirá-lo completamente. Ela se virou e um pouco de seu cabelo havia se soltado. Ele estendeu a mão e colocou a mecha dourada atrás da orelha dela e ela deixou escapar: – Qual é seu nome? – Andreas Xenakis. Ela repetiu o nome dele e soou incrivelmente sexy com seu leve sotaque italiano. – Andreas. E então tudo que Andreas conseguia se lembrar era de calor e desejo. Sua boca estava sobre a dela e ela estava agarrada a ele, gemendo baixinho, suspirando, sua língua fazendo uma incursão tímida contra a dele, deixando- o tão excitado...


A mente de Andreas voltou ao presente. Ele estava segurando o copo com tanta força que teve que relaxar por medo de quebrá-lo. Ele nunca esquecera o jeito que ela havia mudado em um instante naquela noite, de uma mulher que se contorcia debaixo dele, pedindolhe para tocá-la e beijá-la, para uma que o empurrava como se seu toque a queimasse. A forma como ela se empertigara, segurando o vestido contra si, olhando-o acusadoramente. Só então ele percebera que havia outra pessoa na sala. O pai dela. Olhando para ele com aqueles olhos frios. O sonho e a memória fizeram Andreas estremecer. Porque o lembravam de como ele havia sido enganado naquela noite. Como, apesar de seus instintos, ele se deixara acreditar que Siena era aquela menina risonha, tímida, ingenuamente sexy. E, pior de tudo, como ela o fizera querer acreditar que aquela menina existia. Ele deveria ter previsto. Assim que começara a trabalhar em Atenas, sua aparência atraíra certo tipo de mulher sexualmente madura e confiante. Invariavelmente ricas. Elas ofereciam- lhe dinheiro e riam de sua recusa orgulhosa de obter ajuda através de suas camas. Uma havia zombado dele. – Ah, Andreas, um dia essa arrogância vai lhe trazer problemas. Você vai se apaixonar por uma bela garota que fingirá não ser tão fria e dura como o resto de nós. Em toda sua honestidade, Andreas não acreditava que alguém tão jovem quanto Siena pudesse ser tão malicioso e calculista. Mas ele a observara se transformar. Mais fria do que qualquer outra mulher que ele havia conhecido. Um surto de pânico em seu estômago impulsionou Andreas para fora da sala de estar. Ele foi até a porta do quarto de Siena e abriu-a silenciosamente. Quando viu a forma em cima da cama, seu coração desacelerou. O alívio zombou de todas as garantias de que ele estava no controle, mas ele o afastou. Por um segundo, pensou estar sonhando. Que ela não estava realmente ali. Que ele ainda estava procurando por ela. Ele se encontrava em pé ao lado da cama e olhando para baixo. Ela estava de costas, cabelo espalhado em volta da cabeça, respirando suavemente, vestida apenas com uma camiseta. Seus seios eram elevações firmes que fizeram o sangue correr para a virilha de Andreas novamente. O triunfo era inebriante. Ela estava ali. Ela seria sua. Andreas sabia que, se o negócio de seu pai não houvesse implodido


como havia feito, ele ainda estaria igualmente determinado a entrar em contato com ela, mas teria sido muito mais difícil. Na penumbra, ele pôde ver sombras escuras sob os olhos e franziu o cenho. Ela parecia cansada e ele sentiu o peito contrair. Só então ela se moveu um pouco, deixando-o tenso. Ela roncou baixinho. Andreas sorriu com o som incompatível com alguém tão perfeito. Então ele se lembrou de como ela havia pedido dinheiro, e o sorriso desapareceu. Ele tinha que se lembrar de quem ela era, como ela o havia feito pensar que era algo que não era. Ele já tinha aprendido a lição e não estava disposto a repetir o erro. NA NOITE seguinte, Siena estava parada na janela da sala principal do apartamento de Andreas. Ela virou as costas para a vista escura de Londres e suspirou. Não podia estar mais distante do apartamento decadente no qual havia vivido. Mas, por mais que ela o odiasse, em algum nível ela o adorava, porque havia simbolizado sua liberdade. E agora, mais uma vez, ela estava encarcerada em uma prisão dourada. Andreas já havia ido trabalhar quando ela acordara, e ficara aliviada por não ter que lidar com ele quando ainda atordoada com a forma como as coisas aconteceram rapidamente. Ele deixara um bilhete curto, informando-lhe que era o dia de folga de sua governanta, mas que ela deveria ficar à vontade para fazer o que quisesse e que um estilista e uma esteticista chegariam mais tarde naquela manhã. Algumas horas mais tarde, duas mulheres haviam chegado, e em poucas horas Siena havia sido encerada, lustrada e polida. Ela agora tinha um closet cheio de roupas, que iam de casuais até alta-costura. Sem falar de cosméticos, acessórios e lingeries tão delicadas e sensuais que a fizeram corar. E sapatos... Uma parede inteira de sapatos. Andreas havia ligado um pouco antes e informado que deveria haver um pouco de carne na geladeira. Ele a instruíra a colocá-la no forno para que eles pudessem comer quando ele voltasse para o apartamento. Siena havia acabado de passar meia hora tentando descobrir qual aparelho de aço de aparência futurística era o forno, sem sucesso. Ela voltou para a cozinha para tentar novamente e ficou constrangida com sua patética falha ao não conseguir descobrir. Antes que pudesse explorar mais, ela ouviu a porta do apartamento abrir e fechar e pisadas fortes. Ela ficou tensa e sabia que Andreas devia estar na porta, olhando para ela. Virou-se lentamente e lutou


para esconder sua reação ao vê-lo em carne e osso novamente, vestido com um terno escuro. Siena atacou para disfarçar seu desconforto. Ergueu o queixo e cruzou os braços. – Eu não coloquei a carne no forno porque me recuso a ser sua empregada. – Tudo bem, então. Espero que você tenha almoçado decentemente hoje. Porque eu me recuso a bancar o chef de cozinha só porque você não consegue pegar algo da geladeira e colocá-lo no forno. Naquele momento Siena sentiu um fluxo absurdo de auto piedade. Ela estava morrendo de fome, porque só havia comido um sanduíche antes, mas fechou a boca, porque sabia que estava agindo abominavelmente. Tentando desesperadamente não olhar para o pedaço suculento de carne que ele estava tirando da geladeira, Siena disse arrogantemente: – Eu não estou com fome. Na verdade, estou muito cansada. Foi um longo dia. Estou indo para o meu quarto, se não tiver objeções. – Ah, eu não me oponho. Eu acho que você poderia ser forçada a me ver comer depois de seu comportamento mimado e rabugento, mas a expressão em seu rosto poderia me deixar sem fome. Ele continuou friamente. – Acontece que tenho algum trabalho para continuar aqui esta noite... Então se sinta livre para se entreter. Você não tem que se limitar ao seu quarto como uma espécie de mártir, Siena. Ela se virou e saiu, não gostando da maneira como Andreas estava preparando seu jantar com tanta destreza. Ela estava prestes a ir para o quarto, quando se encontrou procurando a área de estar mais informal que Andreas havia mostrado a ela na noite anterior. Obrigou-se a relaxar em frente à TV, mesmo que quisesse fugir para o quarto e evitar mais contato com Andreas. POUCO TEMPO depois, Andreas desistiu de qualquer tentativa de trabalhar. Era impossível, quando sabia que Siena estava nas proximidades. Ele balançou a cabeça novamente para seu comportamento mimado. Era como se uma parte teimosa dele ainda estivesse se agarrando à falsa imagem da menina doce de Paris, antes que ela se transformasse na herdeira mimada. Levantou-se e pôs o prato na máquina de lavar louça na cozinha, observando que nada mais havia sido tocado. Sua boca formou uma linha fina com mais essa prova da teimosia de Siena. Ela era orgulhosa


demais para seu próprio bem. Ele caminhou de volta e parou quando ouviu o leve som da televisão. Seguiu o som e encontrou Siena enrolada no sofá, dormindo. Andreas desligou a TV. Siena se mexeu, mas não acordou. Ele estivera tentando esquecer como se sentira ao vê-la em sua cozinha quando voltara para casa, mais cedo. Vestida com calça jeans desgastadas suavemente e uma camiseta. Cabelo preso em um rabo de cavalo. Pés descalços. Ele não tinha certeza do que esperava, mas não era aquilo. Disse a si mesmo que ela estava obviamente fazendo uma pequena objeção, recusando-se a se esforçar para ele. Ele sabia que Siena havia recebido a esteticista e, inevitavelmente, sua mente vagou para as partes de seu corpo que estariam lisas e macias. Ele não tinha notado qualquer diferença, mas lembrou-se cinicamente de que era difícil melhorar a perfeição. E, mesmo como estava, dormindo em um sofá com jeans e camiseta, ela era perfeita. E, de repente, ela estava acordada, olhando para ele com aqueles olhos azuis enormes. Por um momento algo estalou entre eles, vivo e poderoso. E então ele viu Siena registrar onde estava e com quem; o jeito como ela ficou tensa e seus olhos se tornaram cautelosos. Ele se endireitou. Siena se sentou, mais do que desconcertada por encontrar Andreas observando-a tão friamente enquanto ela dormia. – Que horas são? Ele lançou um olhar para o relógio. – Mais de meia-noite. Siena se levantou e só então percebeu o quão perto estava de Andreas e como ele era alto quando ela estava com os pés descalços. – Eu deveria ir para a cama. – Sim – observou ele. – Você parece estar extremamente cansada. Devem ter sido todos aqueles mimos e escolha de vestidos de hoje. Siena estava prestes a protestar contra a injustiça de seu ataque e informá-lo do quão duro ela estava trabalhando, mas as palavras morreram em sua garganta. Ele estava muito perto, de repente, olhando para ela e lembrando-lhe de outro momento em que eles estavam muito próximos e ela suspirava. – Andreas... Ela recuou de repente, mas esqueceu- se do sofá atrás dela, e sentiu-se cair para trás. Com os reflexos de uma pantera, Andreas estendeu a mão e lhe rodeou a cintura com as mãos, puxando- a contra ele. O ar sumiu dos pulmões de Siena. Suas mãos estavam no peito dele e


ele estava quente ao toque, mesmo através de sua camisa. – O que... – Sua boca ficou seca com o pensamento de que ele poderia beijá- la. – O que você está fazendo? – O que eu estou fazendo, Siena, é... – Ele parou e o momento se estendeu entre eles. Siena julgou ouvir seus corações batendo em uníssono. Nesse momento, ela o queria com um desejo feroz. Estava hipnotizada por sua boca. Queria que ele a beijasse. E esse conhecimento queimava dentro dela... – Deixar você ir para a cama. CAPÍTULO CINCO ANDREAS HAVIA afastado Siena antes que ela percebesse o que ele estava fazendo e imediatamente sentiu-se tola. Então ela corou e ele levantou uma sobrancelha. – Isso é realmente uma habilidade... Ser capaz de corar à vontade. Mas você esquece que é um desperdício comigo, Siena. Não tem que fingir comigo. O rubor revelador de Siena aumentou... De raiva agora. – Bom saber. Não vou desperdiçar minha energia, então. Ela se virou para sair, mas Andreas segurou sua mão. Eletricidade subiu por seu braço. Ela olhou com cautela. – Na verdade, eu tenho algo para você. Venha comigo. Curiosa, Siena seguiu Andreas até seu escritório. Ele havia ido até um quadro no canto e o tirado da parede, revelando um cofre. Digitou a combinação e tirou uma longa caixa de veludo. Então foi até ela e abriu a caixa, de modo que Siena podia ver que era uma pulseira de diamantes incrivelmente simples ainda que, obviamente, muito cara. Ela se sentiu um pouco enjoada. Andreas a estava tirando da caixa e estendendo a mão para o pulso dela para colocá-la. Ele disse friamente: – Você já esteve aqui por uma noite. Não vejo por que não possa recompensá-la. Sentindo-se muito irritadiça e não gostando da forma como a platina fria e as pedras ficavam contra seu pulso pálido, piscando de forma brilhante, Siena disse asperamente: – Você não precisa me recompensar como se eu fosse uma


criança, Andreas. Ele largou o pulso e olhou para ela, seus olhos escurecendo. – Sei que você não é uma criança, Siena. Estou recompensando você porque você me pediu. Amanhã à noite vamos a um evento de caridade na cidade... Hoje será a última noite em que você dormirá sozinha. A apreensão e o medo foram imediatos. O pensamento de ser vista e reconhecida... Mas Siena não deixaria Andreas ver o quanto isso a aterrorizava... Siena recuou. – Mal posso esperar. Ela quase chegou à porta, quando Andreas chamou o seu nome novamente. Ela respirou fundo e se virou. – Marquei com um dos principais joalheiros de Londres para vir ao apartamento amanhã de manhã. – Sua mandíbula se apertou. – Você pode escolher as joias que quiser. Siena não disse nada. De repente, ela parecia nitidamente pálida e se virou, caminhando rapidamente para fora da sala. Andreas a assistiu ir e teve que relaxar suas mãos, porque estava com os punhos cerrados. Ele teve que respirar fundo e se perguntou por que não seguia seus instintos básicos e a possuía naquele momento. No sofá ou ali, em seu escritório. Ou seguindo-a até o quarto dela. Ela estava ali. Ela era dele. Ela o estava fazendo pagar. Mas Andreas não faria isso. Porque Siena o fazia se sentir um pouco selvagem e fora de controle. Ele podia não querer ser parte do mundo acolhedor de sua família, mas respeitava suas escolhas. Uma pequena voz zombou dele, lembrando-lhe de que às vezes, quando ele voltava, sentia uma pontada quando via a interação entre suas irmãs e seus maridos e filhos. Ele não deixaria Siena trazer de volta essas memórias ou reduzi-lo a tal baixeza. Ela já havia feito isso uma vez, antes que ele percebesse o que estava acontecendo, e havia arruinado seu mundo. Mas ela não tinha mais esse poder sobre ele e nunca teria. DE VOLTA ao seu quarto, Siena lutou para retirar o bracelete de diamantes. Quando finalmente conseguiu, ela o abaixou com uma espécie de horror fascinado. Ele havia lhe dado um bracelete de diamantes... Simples assim. No dia seguinte lhe daria muito mais. E amanhã à noite...


Siena afundou na ponta da cama e cruzou os braços sobre a barriga. Ela queria odiar Andreas por isso. Mas não tinha um real motivo para odiá- lo. Ela estremeceu quando pensou no jovem espancado subindo em sua moto para ir embora naquela manhã e no homem que ele havia se tornado agora. Siena sabia muito bem que, se Andreas não houvesse parado de beijála na noite anterior, em seu apartamento, ele a teria possuído bem ali, percebido que ela era terrivelmente inexperiente, e, provavelmente, ido embora sem olhar para trás, depois de satisfazer sua curiosidade e desejo de vingança. PARA ALÍVIO de Siena, quando ela acordou não havia nenhum sinal de Andreas inicialmente, mas sua pele se arrepiou com uma consciência sobrenatural que lhe dizia que ele estava em algum lugar no apartamento. Ela imaginou que ele poderia estar em seu escritório e fez questão de evitar chegar perto dele. Ainda mais aliviada, notou que havia uma série de coisas de café da manhã na cozinha, mas não gostou do solavanco em sua barriga quando pensou que ele havia feito isso para ela. Serviu-se de um pouco de café, que ainda estava quente, e levou um croissant e algumas conservas até a mesa e sentou-se. – Que bom que você se juntou à terra dos vivos. Eu estava começando a pensar que poderia precisar de um balde de água fria para acordar. Siena olhou para cima e quase engasgou com o croissant. Ela não havia sequer ouvido ele se aproximar, e vê-lo vestido com jeans e uma camisa polo escura moldada ao seu impressionante peito estava enviando ondas de excitação através de cada veia de seu corpo. Ela engoliu com dificuldade, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa Andreas estava olhando para o relógio e dizendo com aspereza: – Bem, são 10h, acredito que isso seja relativamente cedo para você, certo? Siena lutou contra uma onda de dor ao pensar no quanto vinha trabalhando nos últimos meses. Ela manteve isso escondido e disse a Andreas docemente: – Bem, eu odiaria decepcioná-lo. Amanhã posso transformar em meio-dia, se você quiser. Ele se aproximou, após pegar um pouco mais de café. – Gostaria muito que estivéssemos na cama juntos até uma da


tarde. Foi necessário um esforço monumental para não reagir à sua afirmação provocativa. Ele era tão audacioso. Andreas se sentou à mesa, pernas esticadas próximas à Siena. Ela lutou contra o desejo de mover suas próprias pernas. – Não consigo imaginar você negligenciando seus negócios a esse nível. Ela desviou o olhar daquele corpo provocante e se concentrou em comer o croissant. – Não se preocupe – comentou Andreas secamente. – Meus negócios estão indo muito bem. Siena retrucou. – À custa de todas aquelas pobres pessoas que estão perdendo seus empregos apenas por causa de sua ambição insaciável. Os olhos de Andreas se estreitaram e Siena se amaldiçoou. Agora, ela havia exposto que seguia seu progresso. – Então, você lê os jornais? Eu pensei que não acreditaria em tudo que lê. E desde quando você se preocupa com os pobres? Havia gelo em sua voz, mas também algo mais ambíguo que soava como orgulho ferido, e ela se sentiu momentaneamente confusa. As histórias não eram verdadeiras? Andreas se levantou e foi até a pia, onde lavou seu copo: um pequeno gesto doméstico que surpreendeu Siena. Ele se virou e disse: – O joalheiro estará aqui em breve. Ele saiu antes que Siena pudesse responder e ela observou suas costas largas e corpo alto desaparecer, irradiando tensão. E se sentiu mal. Como se devesse pedir desculpas! Siena levou suas coisas para a pia, onde as lavou superficialmente e pensou grosseiramente que pelo menos sabia o que eram as torneiras. Quando estava se virando para sair, uma senhora idosa entrou, sorrindo brilhantemente. – Bom dia, querida! Você deve ser a srta. DePiero. Eu sou a sra. Bright, a governanta. Siena sorriu sem jeito e disse: – Por favor, me chame de Siena... Siena era uma pessoa naturalmente tímida e avançou um pouco vacilante. A mulher mais velha a encontrou no meio do caminho e segurou sua mão em um caloroso aperto, dando um sorriso largo. Siena gostou dela imediatamente e sorriu de volta.


Siena sabiamente aproveitou a oportunidade para perguntar à sra. Bright sobre a cozinha, e gostou da mulher, ainda mais quando ela revirou os olhos e disse em um sotaque escocês: – Eu pensei que precisaria de uma licenciatura em engenharia aeroespacial para descobrir como isso tudo funciona, mas na verdade é muito simples quando você aprende. Quando Siena explicou sobre a noite anterior, sra. Bright disse conspirativamente: – Não se preocupe, querida. Eu também não consegui descobrir qual era o forno. Andreas voltou para a porta, escutando por um momento, e depois disse abruptamente: – O joalheiro está aqui, Siena. As duas mulheres se viraram e ele pôde ver o rubor subindo pelo pescoço de Siena. Lembrou-se da noite anterior, quando ele a encontrara desafiadora na cozinha, recusando-se a colocar a carne no forno. Ela agradeceu à governanta e caminhou até ele. Andreas pegou o braço dela quando ela estava prestes a passar e disse, em voz baixa: – Você não sabia onde era o forno. Por que não me contou? Ele viu a garganta de Siena se movendo, viu o rubor se acentuar e se sentiu curiosamente desequilibrado. Eventualmente, ela respondeu, evitando o olhar dele: – Pensei que você fosse achar engraçado. Andreas não achou minimamente engraçado. – Você poderia ter me dito, Siena. Eu não sou um ogro. MAIS TARDE naquela noite Siena estava esperando por Andreas. Um cofre especial fora instalado no escritório dele apenas para uso dela. Ela ainda se sentia nervosa. Andreas insistiu que, para apreciar plenamente se as joias haviam ou não ficado adequadas, Siena deveria vestir um longo vestido preto. – Não seja tão ridículo. Eu sei perfeitamente o que me cai bem. – Considerando que eu estou pagando pelo privilégio de sua companhia esta semana, eu gostaria de vê-la experimentar as joias em trajes mais adequados do que jeans e camiseta. – Você só está fazendo isso para me humilhar. – Coloque o vestido, Siena, e prenda o cabelo. Ou eu vou fazer isso por você. Vou lhe dar cinco minutos.


Rangendo os dentes, Siena guardou a calça e a camiseta em sua pequena mala e colocou o vestido. Era simples, como apenas os melhores vestidos de grife poderiam ser, e muito benfeito. A parte de cima se agarrava aos seus seios, fazendo com que parecessem mais cheios, e era cortada de forma a aumentar seu decote. Siena se sentiu nua. Seu pai nunca teria permitido que ela vestisse algo tão revelador... Tão sensual. Ela prendeu o cabelo em um rabo de cavalo e voltou para a sala com os pés descalços. Ignorando os dois joalheiros de pé, Siena apenas percebeu os olhos azul-escuros que viajaram por seu corpo com um olhar tão incendiário que ela quase tropeçou. Andreas a havia tomado pela mão e a colocado ao lado dele em um pequeno sofá de dois lugares. Seu braço se posicionou em torno dela, seus dedos roçando a pele nua de seu ombro, desenhando pequenos círculos, fazendo sua respiração acelerar. Ela tentou se afastar, apenas para que ele apertasse a mão em sua cintura, puxando-a ainda mais firmemente contra ele. Sua grande mão se enrolou possessivamente ao redor dela, os dedos roçando sua barriga. As joias em si eram borrões brilhantes de ouro, diamantes, pérolas, safiras e esmeraldas. Andreas as havia escolhido e colocado no pulso de Siena, antes de adicioná-las a uma pilha crescente. Quando ele colocava colares em volta de seu pescoço, suas mãos acariciavam suavemente seus ombros nus, os dedos tocando levemente sua clavícula. O rosto de Siena havia se inflamado. Parecia um toque muito íntimo. Ela tentou se manter o mais rígida possível, horrorizada com o quanto ser submetida àqueles toques relativamente banais a estava afetando. Perdendo a conta da pilha crescente de joias, Siena quase gritou quando Andreas havia colocado um simples colar de platina e diamantes e uma pulseira que combinava com ele e disse: – Use este vestido e estas joias hoje à noite. Ela segurou uma resposta instintiva, lembrando-se de que ele a havia comprado. Portanto, poderia tê-la da maneira que quisesse. Quando Andreas finalmente se declarou satisfeito, os outros homens haviam começado a recolher as joias restantes. Mas Siena havia visto algo com o canto do olho. Um lampejo de algo delicado e dourado. Antes que pudesse se conter, ela estendeu a mão para tocar o colar, escondido nas dobras de veludo. Quando ela o levantou, tornou-se claro que não possuía o mesmo


brilho deslumbrante das outras pedras preciosas, mas era fino: uma simples corrente de ouro com um detalhe de uma gaiola de ouro. A pequena porta estava aberta e mais acima na corrente havia um pássaro voando, suspenso. A barriga de Siena se apertou. Algo no pássaro voando para fora de sua gaiola ressoou profundamente dentro dela. O joalheiro limpou a garganta, inquieto. – Esta peça não deveria ser parte da amostra que trouxemos hoje. Foi incluída por acidente. É de um joalheiro grego... – Angel Parnassus – disse Siena, meio distraída. Ela conhecia os famosos desenhos delicadamente trabalhados do renomado joalheiro e sempre os admirara. – Sim... – Vamos levar este também. Siena ouviu Andreas dizer bruscamente. Ela começou a protestar, odiando que Andreas houvesse testemunhado sua distração e vulnerabilidade momentâneas. – É uma fração do preço dos brincos que você vai usar hoje à noite. Fique com ele se você gostou tanto, Siena. Siena não queria nada para si, mas não teve chance de falar. Andreas já estava de pé, apertando as mãos dos dois homens, levando-os para fora, deixando-a com o colar na mão. Ela ouviu um barulho e ficou tensa, sua atenção de volta ao presente. Andreas havia chegado um pouco antes, batendo em sua porta para verificar se ela já estava quase pronta. Siena estava usando o vestido preto, como decretado por Andreas. Mas, em relação às joias, teve um momento de rebelião. Em vez do colar de diamantes e pulseira que ele queria, ela escolheu um arrojado colar de diamantes e safiras, com um bracelete que combinasse. De alguma forma, a impetuosidade do colar parecia uma espécie de armadura. Mas, então, Siena ouviu passos atrás dela e qualquer ilusão de armadura voou pela janela. QUANDO SIENA se virou para encarar Andreas, ele sentiu como se alguém houvesse acabado de lhe dar um soco na barriga. Por um segundo, não conseguiu respirar. Havia sonhado com ela tantas vezes assim... Como ele se lembrava dela... Belíssima, elegantemente distante. Seus olhos se estreitaram em seu colar e um fluxo de algo quente passou por ele.


– Você me desafiou. O queixo de Siena se elevou. – Você pode ter praticamente me comprado por uma semana, mas isso não significa que eu não possa exercer algum livre-arbítrio. Andreas inclinou a cabeça e sufocou o calor dentro dele. – De fato. Esse colar é igualmente... Lindo. Ele teve que admitir que ele realçava seu aspecto bastante discreto, com apenas a quantidade certa de élan. Andreas reprimiu as vagas dúvidas que havia tido durante todo o dia, desde que ouvira a conversa entre ela e a sra.Bright na cozinha, quando ele soubera que Siena havia preferido parecer uma criança mimada em vez de revelar que não sabia onde era o forno. E depois sua reação às joias não tinha sido a ganância e alegria absoluta que ele esperava ver. Siena mal olhara para o impressionante conjunto de joias e a única coisa que havia lhe chamado a atenção fora um simples pingente de ouro. Elegante, sim, mas não do mesmo nível das outras joias. Andreas retirou esses pensamentos perturbadores de sua cabeça. Ela não havia mostrado muito interesse na joalharia porque converteria tudo em dinheiro dentro de dias. Como ele poderia esquecer isso? Mais importante ainda, naquela noite toda aquela beleza intocável seria desfeita. Ela já não pareceria tão pura. Estaria tão nua e saciada quanto ele pretendia estar e marcada pela sua paixão. Ele estendeu a mão. – Venha. Está na hora. ALGUMAS HORAS mais tarde, depois de um suntuoso jantar, Siena estava em pé ao lado de Andreas e sua pele parecia estar em chamas. Desde que ele havia tomado a mão dela no apartamento, não parara de tocá-la – mesmo que fosse apenas uma mão na parte baixa das costas para guiá-la para dentro do luxuoso Grand Wolfe Hotel, onde o banquete de caridade ocorreria. Para alguém que geralmente evitava contato físico, Siena ficou consternada com o quanto seu corpo parecia gravitar em torno do toque de Andreas. – Bebida? Ela olhou para Andreas e viu que ele segurava uma taça de champanhe. Siena balançou a cabeça. Depois de algumas taças de vinho no jantar, ela já estava zonza o suficiente. Andreas apenas deu de ombros e colocou a taça de volta na bandeja de um garçom que


passava. – Desconfortável? Siena olhou para Andreas novamente. Por um segundo, ela pensou que ele estava falando sobre seu vestido ou sapatos, mas depois viu o brilho nos olhos dele e pensou: canalha. Ela controlou sua expressão. – Estou perfeitamente à vontade, obrigada, considerando o nível de interesse do público em ver quem é sua nova amante e a descoberta de que ela é uma DePiero. Siena sabia que Andreas tinha que estar ciente da maneira como as pessoas estavam encarando e apontando a noite toda. A forma como ficavam em silêncio quando ela se aproximava, apenas para provocar uma onda de sussurros enquanto passavam. – Não me diga que isso está realmente afetando você? A debutante que tão friamente extirpou um erro momentâneo de sua vida? Siena se manteve rígida. Ela não sabia o quanto a afetaria estar em público novamente, exposta ao julgamento das pessoas, mas poderia culpá-las? Sua voz era fria: – Por que eu iria lhe negar o seu momento de retribuição pública? Sem dúvida, isso é muito divertido para você. Talvez você devesse considerar me levar a Roma para conseguir o efeito completo da censura das pessoas. Afinal de contas, aqui em Londres eu sou relativamente desconhecida. Os olhos de Andreas brilharam e ele, sem esforço, colocou o braço em volta dela e puxou-a com força contra ele, fazendo Siena suspirar baixinho. Seu corpo era tão esguio e forte. Como uma parede de músculos de aço. Ela ficou quente por dentro. – Acho que é hora de dançarmos. Antes que ela pudesse se lembrar sobre o que estavam falando, Andreas estava puxando Siena até a pista de dança, onde outros casais já estavam dançando na luz baixa. Uma banda de jazz estava tocando, mas Siena sequer registrou a música enquanto Andreas a tomou nos braços. Siena tentou se livrar do abraço dele, mas era impossível. Seus escuros olhos azuis brilhavam contra os dela e ela respirava seu perfume masculino. Sentir o corpo dele endurecer ainda mais contra ela a estava deixando completamente indefesa. Como ela poderia ficar imune? Aquela era sua punição, sua vingança, bem ali naquela pista de dança. Ia muito além do que o que ela sentira naquela noite em Paris,


quando esse mesmo homem a havia excitado com apenas um olhar e um sorriso sexy. Na época ela era jovem demais para ser capaz de lidar com tudo o que ele havia despertado dentro dela. Naquele momento, Andreas parou e Siena percebeu que a música também havia parado. O ar crepitava entre eles e Siena sabia, com um sentimento fatalista em sua barriga, que era aquele o momento. Com os olhos fixos nos dela, Andreas disse com voz rouca: – É hora de ir. Mantendo a mão na dela, Andreas rapidamente caminhou para fora da pista de dança. Siena sentiu como se não pudesse respirar. Sua pele se arrepiou e ficou quente. Sua barriga estava apertada. De alguma forma, magicamente, alguém apareceu para entregar a Siena seu xale e ela o pegou com as duas mãos, pateticamente grata que Andreas não a estivesse tocando por apenas um segundo. Mas, então, sua mão estava na dele de novo e ele a estava levando para o ar fresco da primavera. Seu carro já estava esperando na calçada. Quando entravam, ele partiu, deixando o hotel reluzente para trás. Andreas disse secamente para o motorista: – Tom, um pouco de privacidade, por favor. Instantaneamente Siena viu o deslizar silencioso da divisão preta, separando- os do motorista. Ela olhou para Andreas e seus olhos brilhavam sob a luz fraca. Ele parecia feroz, selvagem, e o coração de Siena batia freneticamente em seu peito. – Venha aqui – instruiu ele roucamente. CAPÍTULO SEIS

SIENA FICOU em pânico. Ela não estava pronta para aquilo. – Não. Andreas arqueou uma sobrancelha. Sua voz era enganosamente suave: – Não? Siena balançou a cabeça e, em seguida, as palavras foram saindo: – Olha, você não pode simplesmente esperar que eu vá... Mas suas palavras foram interrompidas quando Andreas a tomou pela cintura. Ele a deslizou através do assento até que suas coxas estivessem se tocando. Suas mãos pareciam enormes em torno dela e


seus olhos se encaravam. O ar em torno deles estava pesado, espesso com algo que Siena não entendia. Mas, quando Andreas ergueu as mãos, roçando nas curvas de seus seios, e inclinou sua boca até a dela, Siena entendeu o que era. Era desejo e, de repente, ela se sentiu viva. Ele engrossava o sangue dela, forçando-o através de suas veias e artérias, acumulando-se em sua pélvis, entre as pernas. Suas mãos se elevaram quase em um gesto de autodefesa, mas agora Siena se encontrava colocando-as no peito de Andreas para equilibrar-se quando ele a puxou para frente. Ela não conseguia se concentrar, não conseguia pensar em nada além do deslizar quente de sua boca contra a dela, e sua boca se abriu por vontade própria. Suas línguas se tocaram e as mãos de Siena se enrolaram, buscando algo para segurar quando ela sentiu como se estivesse caindo. Uma das mãos de Andreas foi para as costas dela e a puxou para ele, fazendo- a se arquear contra ele. Ela estava vagamente consciente de que sua outra mão estava desfazendo seu coque. O beijo ficou mais ardente. A língua de Andreas se aprofundou. Sua mão estava enrolada no cabelo dela. Siena não conseguia ouvir nada através do rugido do sangue em sua cabeça e orelhas. Quando a boca de Andreas se separou da dela, ela ouviu um gemido baixo e apenas segundos depois percebeu que estava vindo dela. Ele estava espalhando beijos quentes em seu queixo e puxando sua cabeça para trás para pressionar a boca contra o seu pescoço e até onde ela podia sentir seu coração bater contra a língua dele. Siena teve a sensação de que seu vestido parecia mais solto antes de perceber que Andreas havia puxado o zíper para baixo na parte de trás. Ele levantou a cabeça e se recostou por um momento. Ela tentou forçar um pouco de ar em seus pulmões, mas eles se contraíram novamente quando ela o sentiu puxar para baixo o corpete de seu vestido para revelar um seio nu. Eles estavam em um casulo. Ela só tinha consciência de si mesma como um ser feminino muito primitivo e de Andreas como sua contraparte masculina. Ela viu a cabeça de Andreas mergulhar para baixo, sentiu a respiração quente sobre um mamilo quase dolorosamente apertado antes de sua boca se fechar em torno dele. Siena afundou contra o banco, todos os ossos de seu corpo derretendo na intensa sensação que parecia se ligar diretamente onde um pulso latejava entre suas pernas. Como se estivesse lendo sua mente, Andreas moveu a mão sob o


vestido, subindo por suas pernas, separando-as. Ela foi incapaz de resistir quando ele habilmente puxou para baixo o corpete de seu vestido completamente e mostrou o outro seio. Seus quadris estavam bamboleantes e uma de suas mãos estava no cabelo de Andreas, com os dedos enrolados em fios de seda, enquanto ela o segurava contra o peito. Sua outra mão estava fechada e um desejo de proporções gigantescas estava crescendo entre suas coxas. Os longos dedos de Andreas haviam encontrado sua calcinha e a puxavam para baixo. Siena não conseguia pensar, querendo que Andreas aliviasse a tensão intensa dentro dela. Seus quadris se levantaram e ele deslizou a renda preta por suas pernas e a retirou completamente. E então a boca de Andreas deixou seu peito e ele se endireitou. Demorou um segundo para Siena registrar que ele estava olhando para ela. Seus seios estavam à mostra e latejando um pouco, molhados e ondulando com sua respiração ofegante. Seu vestido estava quase em sua cintura e suas pernas estavam separadas. Ela viu sua calcinha de renda balançando nos dedos dele e então ele a colocou no bolso de sua jaqueta. A língua de Siena parecia espessa. – O que você está fazendo? Só então ela percebeu o quão intocado Andreas parecia em seu paletó e gravata, com apenas o cabelo fora do lugar. Tarde demais, ela ajeitou seu vestido com as mãos dormentes. – Apenas garantindo que não haja atrasos, uma vez que estejamos lá dentro. Lá dentro. Só então Siena percebeu que eles estavam do lado de fora do prédio e o jovem manobrista estava se aproximando da porta do carro. Ela sentiu Andreas empurrá-la para frente um pouco e fechar seu zíper. Então ele lhe entregou o xale e a porta foi aberta. Quando saiu para o ar frio, ela estava incandescente com raiva... Não só de Andreas, mas de si mesma por ser tão fraca. Quando eles entraram no elevador, Siena foi para um canto e resolutamente olhou para frente. – Como você se atreve? Andreas parecia tão calmo e sereno que Siena ficou completamente perdida. – Como me atrevo a quê, Siena? Beijá-la? – Sua boca se torceu. –


Como eu poderia não ter beijado você? Não sabe que eu tenho uma atração fatal por sua indiferença única? Siena poderia ter gargalhado. Ela nunca se sentira menos indiferente. Naquele momento ela odiava Andreas com uma paixão que a assustava por sua intensidade. E não conseguiu conter as palavras: – Eu odeio você. – Cuidado, Siena – zombou. – O amor é apenas o outro lado do ódio e nós não queremos você se apaixonando por mim agora, não é? Siena balbuciou. – Apaixonar-me por você? Eu não conseguiria pensar em nada menos provável. Suas palavras caíram em um buraco dentro dela e ecoaram dolorosamente. Siena ergueu o queixo, determinada a sair daquele tema preocupante e retomar algum controle. – Eu não vou ser ritualmente humilhada por você sempre e onde você quiser. Andreas se aproximou e retirou a calcinha do bolso, exibindo-a. – Se um não quer, dois não brigam, Siena, e você estava comigo a cada segundo lá. Para ser honesto, eu não esperava que você fosse uma mulher de banco de trás de carro. Siena levantou a mão para pegar sua roupa de baixo, mas Andreas a puxou de volta para fora de seu alcance e, depois, colocou o material rendado de volta no bolso. Sem perceber que ele havia se movido, ela encontrou-se com as costas contra a porta do apartamento, o pulso erguido na mão de Andreas, acima de sua cabeça. Ele estava se pressionando contra ela e ela podia se sentir responder a ele novamente. A insanidade do que havia acontecido voltou em cores sinistras. – Deixe-me ir – disse Siena, assustada por estar tão vulnerável. Ele balançou a cabeça e seus olhos brilharam como joias escuras. – Nunca. Você é minha agora, Siena, até que eu diga o contrário. E então ele baixou a cabeça e sua boca encontrou a dela. Quando ela tentou virar a cabeça para o lado, ele levou a mão livre para a cabeça dela e a segurou ali, cativa, enquanto a beijava e desconstruía sua fraca resistência com a língua. Siena estava tão cheia de emoções turbulentas e sensações que foi quase um alívio ceder ao momento. Ali, com Andreas a beijando


assim, ela não conseguia pensar. E não queria. Quando ele finalmente soltou a mão dela, ela encontrou-se não o afastando, mas agarrando seus ombros, antes de descobrir que sua mão estava furtivamente debaixo do paletó dele, retirando-o. Suas línguas eram um emaranhado de luxúria aquecida e, quando Andreas tirou as mãos para que pudesse livrar-se de seu paletó, Siena encontrou sua gravata, desfazendo-a para que pudesse abrir o primeiro botão da camisa dele. Ela disse a si mesma que desejava vê-lo tão perdido quanto ela, mas na verdade só tinha uma crescente necessidade de vê-lo nu. Siena sentiu seu zíper sendo puxado para baixo novamente e foi quase um alívio ter os seios libertados. A boca e a língua de Andreas eram uma lembrança potente. Ela queria senti-lo novamente. Suas mãos seguraram a cabeça dele, guiando-o para baixo... Apenas alguns minutos depois de ela jurar que o odiava, a boca de Andreas estava em seu seio. Siena sentia-se febril. Suas pernas estavam fracas. Mas ela não conseguia se mexer. Andreas havia se endireitado e estava abrindo sua camisa, e os olhos de Siena ficaram enormes e redondos enquanto ela absorvia a magnificência de sua pele morena. Nem um grama de gordura. Puro músculo. Mamilos castanhos lisos a atraíram a inclinar-se para frente e tocá-los com a língua, explorando seu sabor salgado. Andreas gemeu baixinho e deslizou a mão em seu cabelo. Sua boca estava aberta, ela estava um pouco ofegante e seus olhos estavam arregalados e sonolentos, com pupilas dilatadas. Com uma mão impaciente ele tirou o cinto e abriu o zíper, puxando para baixo suas calças e sua cueca junto. Tinha que possuir Siena naquele momento. Ele estava ciente de que estava prestes a possuíla exatamente como havia fantasiado cinco anos antes, de pé, como uma espécie de animal feroz. Mas não se importava. Tudo o que ele podia ver era aquele cabelo loiro caindo sobre os ombros nus, seus seios redondos, corados e úmidos de seu toque e sua boca. Tudo o que podia pensar era nos mamilos dela contra sua língua e no modo como ela gemia quando ele a tocava. Ele estava nu e os olhos de Siena cresceram mais quando ela olhou para o corpo dele, fazendo-o pulsar com a necessidade de estar dentro dela, penetrando o núcleo apertado de seu corpo em busca de sua libertação. Finalmente.


Xingando baixinho, tendo um lampejo de clareza no último momento, Andreas se abaixou e tirou a proteção de seu paletó, colocando-a ao longo de seu comprimento. O cheiro da excitação de Siena o atingiu como uma tonelada de tijolos e, incapaz de se conter, ele caiu de joelhos diante dela, puxando o vestido para baixo até que caísse aos pés dela. Agora, ela usava apenas sapatos e Andreas os removeu, ouvindo sua súplica hesitante. – Andreas... Ele a ignorou. Sua necessidade era forte demais para resistir. Ela era mais do que ele jamais poderia ter imaginado em suas fantasias. Pernas longas e delgadas, completamente pálidas. Andreas se ajoelhou e separou suas coxas. Ele podia sentir sua resistência, mas disse guturalmente: – Deixe-me provar você. Depois de um segundo, sua resistência vacilou e Andreas tomou sua boca e língua, procurando e encontrando sua essência, deleitando-se com seu doce cheiro e sabor almiscarado. A mão dela estava em seu cabelo, segurando com força o suficiente para machucar, mas aquilo apenas o incendiou ainda mais. Ele podia sentir sua ereção forçar seu confinamento entre as pernas dele e sabia que não podia esperar. Haveria mais tempo para saboreá-la mais tarde. Mas agora ele tinha que possuí-la. Ele tinha que se enterrar tão fundo dentro dela que ele iria esquecer o próprio nome. Andreas se pôs de pé e passou os braços em volta dela, sentindo-a se arquear contra ele, apertando os seios contra seu peito. – Enrole suas pernas em volta da minha cintura – instruiu ele. Siena colocou os braços ao redor de seu pescoço e, em seguida, suas pernas estavam em volta de sua cintura. Andreas levantou-a e encostou as costas dela contra a porta. Segurando-a com um braço, ele estendeu a mão entre eles e passou o dedo ao longo de sua fenda. Ela estava tão molhada. Ele abriu as pernas e se posicionou, tomando-se em sua mão e guiando a cabeça de sua ereção àquela carne úmida. Andreas se obrigou a refrear o desejo de penetrar tão fundo que encontraria a liberação instantânea. Ele era melhor do que aquilo. Ele não iria deixá-la fazer isso com ele. Ele a beijou, empurrou para cima e para o abraço molhado de seu corpo.


Ele sentiu o suspiro de boca aberta de surpresa dela, antes de registrar que sentia um impedimento para o seu movimento. Suor eclodiu em sua testa. Ele se afastou e olhou para Siena, cada nervo e músculo protestando contra esta interrupção. – O quê... ? Siena estava pálida e a luz inconfundível de choque brilhava em seus olhos. Despida do prazer nebuloso que ele havia visto há pouco. Ele flexionou suas nádegas e a viu estremecer quando se moveu um pouco mais fundo. Os braços dela se apertaram ao redor de seu pescoço. Andreas sentiu um arrepio frio. Não poderia ser possível... A informação simplesmente não batia... Ele falou em voz alta: – Você não pode ser... Siena estava mordendo o lábio agora e Andreas viu o brilho de umidade nos olhos. Era como se um caminhão de 2 toneladas houvesse caído em seu peito. Ele começou a se retirar, mas viu uma luz de determinação aparecer em seus olhos gloriosos. Ela apertou as pernas ao redor de sua cintura. – Não. Não pare. – Eu vou machucar você... Se nos movimentarmos... – Não. – As pernas de Siena se apertaram ainda mais. – Vamos fazer isso. Aqui. Agora. Do jeito que você disse que queria há cinco anos... O cérebro de Andreas parecia que ia explodir. Ele estava entre o céu e o inferno. Havia algo tão... determinado nela. O fato de que ela ainda era virgem era demais para processar agora. Andreas cedeu. – Tente relaxar os músculos... Vai ser mais fácil... Ele pôde vê-la se concentrar e sentiu seu corpo lhe permitindo ir mais fundo. Ele quase gemeu em voz alta com a sensação intensa. Ela era tão apertada em torno dele, quase dolorosamente apertada. Movendo-a ligeiramente, ele abaixou a cabeça e puxou um mamilo tenso em sua boca, rolando-o, sugando-o de volta à vida. Pôde sentir o que aquilo fazia a Siena quando seu corpo relaxou ainda mais e, com um movimento exploratório, Andreas penetrou um pouco mais. Ela suspirou, mas ele pôde sentir que não era um sopro de dor. Quando ele levantou a cabeça para olhá-la novamente, ela não estava mais pálida. Estava corada, mordendo o lábio novamente. Lentamente, retirou-se


do corpo dela e, em seguida, empurrou de volta, indo ainda mais fundo desta vez. Seus quadris se contorceram contra ele. Ela estava respirando pesadamente, quase contra sua vontade. – Eu me sinto tão completa... – Eu sei... Permita-me... Confie em mim... Vai aliviar. Seu mundo estava reduzido àquele momento, àquela mulher, ao deslizar inexorável de seu corpo entrando e saindo dela. Sua passagem foi se tornando mais fácil e mais doce a cada segundo. A cabeça de Siena caiu para trás contra a porta e ele viu seus olhos se fechando. Andreas colocou a mão no queixo dela e puxou-o para baixo. – Olhe para mim... Siena. Ela abriu os olhos e eles estavam fervendo. Com um sentimento de triunfo, Andreas sentiu as ondulações de seu corpo em torno do dele conforme o início de seu orgasmo se aproximava. Ele manteve a sua própria necessidade desesperada de libertação à margem e empurrou mais e mais, vendo como os olhos dela se arregalavam. Seus lábios estavam cheios. Seus seios estavam corados, os mamilos como grãos apertados. Quando ela gozou, foi espetacular. Seus olhos cresceram ainda mais. Ela parou de respirar. Seu corpo inteiro ficou tenso como a corda de um arco e então ele viu o momento em que ela gozou e sentiu seu corpo se apertar com tanta força em torno dele em ondas de espasmos que ele pôde apenas permitir sua própria libertação. Andreas não conseguiu fazer nada além de fechar os olhos e enterrar a cabeça em seu peito. Suas respirações ofegantes soavam ásperas no silêncio do apartamento. Seu corpo pulsava dentro dela. Ele sentiu o aperto no pescoço ficar folgado como se ela não conseguisse mais se segurar. Eventualmente, Andreas encontrou um pouco de força e se endireitou. Siena estava evitando seus olhos agora e estremeceu um pouco quando ele se soltou e a ajudou a ficar de pé. Suas roupas estavam espalhadas ao redor deles caoticamente, mas ela ainda usava o colar e a pulseira. Andreas teve uma súbita necessidade visceral de tirar as joias de Siena. Era um lembrete de que não eram bem- vindas. Ele abriu o fecho do colar, deixando-o cair em sua mão, e depois a pulseira. EVITANDO OLHAR para Andreas, Siena se abaixou para pegar seu vestido, segurando-o contra ela como um escudo. Ressoando em sua cabeça com uma clareza cristalina estava o fato de que ela havia acabado de perder a


virgindade com aquele homem, em pé, contra a porta de seu apartamento. Ela se lembrava do momento em que pensara que ele estava prestes a se afastar, talvez para levá-la para o quarto. Ele estava com um olhar que havia ameaçado destruir algo dentro dela. E, em seguida, viera a memória daquele dia em Paris, quando Andreas havia admitido que queria jogá-la contra a parede do provador. Siena havia lutado contra o impulso de tornar isso mais fácil... De ser levada para um ambiente mais propício para fazer amor pela primeira vez. Porque não se tratava de romance. Ela não queria pensar na emoção profundamente perturbadora que havia surgido no momento em que ele juntara seus corpos. Isso a fazia se sentir fraca e frágil. – Theos, Siena... – disparou Andreas. – Você era virgem. Por que você não me disse? Ela olhou para Andreas e empalideceu quando viu o olhar em seu rosto, aliviada ao ver que ele havia posto a calça. Desesperada para convencê-lo de que não significava nada, para que ela pudesse considerar o que de fato significava sozinha, ela deu de ombros. – Não é grande coisa. Eu era virgem e agora não sou mais. A boca de Andreas se torceu. – Então seu pai realmente ia oferecê- la a algum velho nobre como um tipo de sacrifício virginal? O peito de Siena se apertou. Era exatamente o que ele havia planejado. – Sim – sussurrou. – Algo do tipo. Andreas xingou e Siena tentou evitar olhar para seu peito nu. – Você deveria ter me dito, Siena... – disse ele rispidamente. – Se eu houvesse suspeitado que você era inocente, eu teria ido mais devagar... Sido mais gentil. – Eu estou bem – murmurou Siena pegando os sapatos, ainda evitando olhar para Andreas. O ar em torno deles cheirava a algo desconhecido, mas inebriante. Sexo. Siena estava muito confusa para sequer reconhecer que, depois da dor inicial, aquilo havia transcendido qualquer coisa que ela poderia ter imaginado. Ela viu os pés descalços de Andreas entrarem em sua linha de visão e engoliu em seco. Sentiu o impulso de atacar primeiro e disse: – Não fique tão chocado só porque eu era virgem, Andreas. Ele estava com raiva, seus olhos brilhavam.


– Se eu soubesse, nunca teria feito isso assim... – Por quê? – provocou ela. – Era exatamente como você queria... Eu não queria lhe negar a oportunidade de cumprir a sua fantasia. Siena ouviu as palavras, mas não tinha certeza sobre de onde saíra a coragem para dizê-las. Ela viu o rosto de Andreas ficar inexpressivo, fechado. Ele puxou a mão e deu um passo para trás, fazendo Siena sentir-se desolada. – Você devia tomar um banho. Deve estar dolorida. Siena ficou muito mais intimidada por esse espécime frio do que pela raiva que Andreas havia acabado de exibir. A ideia de que ele poderia ter se importado o suficiente sobre sua inocência para tornar a experiência mais agradável era... Antes que ela pudesse dizer qualquer outra coisa que pudesse traí-la, fugiu. Andreas assistiu Siena se retirar e xingou em silêncio. Ele esperava que, depois de fazer amor com ela, finalmente se sentiria saciado e em paz. Era risível. Ele nunca se sentira tão pouco saciado ou em paz. Ele a queria de novo... Agora. Queria provar aquela boca exuberante, fazer seus olhos se arregalarem de desejo novamente. Queria vê-la atingir o clímax e sentir seu corpo se apertar ao redor do dele com aqueles espasmos de orgasmo. Andreas passou a mão pelo cabelo, impaciente e, em seguida, se abaixou para pegar o resto de suas próprias roupas. Sob o chuveiro quente, alguns minutos mais tarde, ele xingou novamente. Certamente não tinha a intenção de maltratar Siena no banco de trás de seu carro, mas quando eles estacionaram do lado de fora de seu apartamento e ele percebeu o que estava fazendo, tinha a calcinha dela na mão, pronto para possuí-la bem ali. Em alguma área distante de seu cérebro, ele havia conseguido encontrar algo para murmurar para fazê-la acreditar que ele tinha a intenção de retirar sua roupa de baixo para que pudessem continuar em um lugar reservado. Fora do carro, no entanto, ela só faltava cuspir nele... E ele poderia culpá-la? Ele nunca havia sido tão desenfreado com uma mulher. Deveria ter se lembrado daquela noite em Paris. Lembrado de como ela era capaz de fazê-lo perder todo o senso de civilidade. Mas quando eles dançaram naquele hotel... Andreas havia ficado tentado a arrastá-la para o lobby, pedir uma suíte e levá-la lá para cima. Fora uma proeza que ele houvesse sido incapaz de resistir a tocá-la no banco de trás do carro... Ela estava se derretendo para ele como em suas fantasias mais quentes. Andreas desligou o chuveiro com um movimento brusco. Siena era virgem. Olhou-se no espelho e viu o quão ferozmente seus olhos brilhavam. Era a única coisa que ele não esperava em um milhão de anos. Muito de sua amargura sobre o que havia acontecido em Paris era causado pela crença de


que Siena o havia seduzido porque estava entediada... Mas ela era virgem. E que virgem ficava excitada com um gerente de hotel? A ironia era que Siena havia sido verdadeira. E como, diabos, ela havia continuado virgem até agora? Andreas queria quebrar alguma coisa com o punho. Ele ouviu um leve ruído de fora do banheiro e enrolou uma toalha na cintura antes de sair. Siena estava parada no centro do quarto, em um robe atoalhado volumoso, cabelo úmido, e seu corpo reagiu instantaneamente. As recentes revelações indesejadas fizeram Andreas dizer secamente: – Sim? Ele viu como Siena ficou tensa e isso só o fez querer rosnar mais... Mas não para ela. Para si. – Eu só quero que você saiba que não significou nada... O fato de você ser meu... primeiro. E você tem razão, eu deveria ter dito. Mas eu pensei... Andreas a viu vacilar e morder o lábio por um segundo. Ela parecia quase incrivelmente vulnerável. Em seguida, continuou: – Eu pensei que você não fosse perceber, eu não sabia que seria tão... Óbvio. Siena queria que o chão a engolisse e olhou para baixo. Por um longo momento, nada aconteceu, e, em seguida, Andreas admitiu: – Poderia não ter sido óbvio para alguns homens... Mas eu sabia. Siena corou e enfiou o dedo do pé no tapete de luxo. – Sim, bem, eu só queria lhe assegurar que isso não muda nada. Siena olhou para cima com cautela, consciente do peito nu de Andreas e de suas poderosas pernas longas. Ela percebeu seu erro em ir até ali. – Aonde você pensa que vai? Siena engoliu em seco. – Para o meu quarto. Para a cama. Andreas sorriu maleficamente. – Há uma cama perfeitamente boa aqui. Siena empalideceu. Sensível como o seu corpo estava se revelando, ela honestamente não acreditava que poderia ter uma repetição tão cedo. Ela ardeu quando se abaixou na banheira e estava toda dolorida. Lendo sua mente, Andreas disse: – Não se preocupe, acho que é cedo demais, mas há outras formas d atingir o mesmo resultado.


Ele tomou Siena pela mão e levou-a sem resistência para a cama. Sentou-se e puxou-a entre suas pernas. Sua toalha se separou e, quando Siena olhou para baixo, pôde ver o corpo dele se agitando e endurecendo. Andreas abriu o roupão dela. Siena se sentiu absurdamente tímida e tentou impedi-lo, mas ele era muito forte. E então ela estava nua. O olhar de Andreas estava fixo em seus seios e Siena podia senti-los crescer, as pontas se endurecendo, formigando. Ela queria gemer. Como podia ser tão afetada apenas pelo olhar dele? Com as mãos presas ao redor da cintura dela, Andreas a trouxe ainda mais perto e lambeu e chupou seus seios até que Siena quisesse gritar. Da primeira vez, havia sido tudo tão rápido que ela não havia tido a chance de respirar, se afogando em sensações antes que pudesse realmente registrá-las. Agora, Andreas estava conduzindo uma lenta tortura sensual. Com um movimento suave, ele a pegou, justamente quando suas pernas ameaçaram desabar, e a deitou na cama. Então jogou a toalha de lado e ficou nu. – Eu pensei que você houvesse dito... Ele colocou um dedo na boca e disse: – Shh, eu disse. Siena sentiu algo assustador eclodir no peito, porque naquele momento ela percebeu que confiava em Andreas. Ele não iria machucá-la ou pressioná-la além de seu limite. No momento em que sua mão chegou entre as pernas dela e buscou onde ela estava quente e úmida, os quadris de Siena estavam se movendo impacientemente. Ela queria Andreas novamente. Mas ele não faria isso. Quase gritando de frustração, ela o sentiu descendo por seu corpo e substituindo a mão pela boca. Ele havia lhe tocado assim antes, mas parecia muito mais íntimo. Siena estava ciente do quão devassa ela devia parecer... Pernas separadas esticadas, mãos segurando a cabeça de Andreas, respiração acelerada, coração batendo dolorosamente. Andreas encontrou seu clitóris sensibilizado e acariciou-o com a língua, enquanto enfiava dois dedos em seu corpo apertado. Aquilo era o que Siena queria e precisava. Suas costas se arquearam e seus quadris praticamente se levantaram da cama enquanto ela se tornava um ser primitivo, focada exclusivamente na boca e nos dedos de Andreas enquanto eles faziam aquela tensão em seu interior se aglomerar tanto que ela gritou quando ele finalmente a levou ao limite. Siena pareceu flutuar por um longo tempo em uma névoa de êxtase letárgico antes de abrir os olhos e perceber que Andreas a estava colocando em sua própria cama e puxando as cobertas sobre ela. Ele a carregou até lá depois de


saciá-la. Siena rapidamente fechou os olhos novamente, não querendo ver a expressão no rosto dele e não gostando do quão ambíguos seus sentimentos estavam sobre ele colocá-la de volta em sua própria cama. Eventualmente, ela ouviu seus passos e o som de sua porta se fechando. Seus olhos se abriram de novo, não vendo nada na escuridão. Seu corpo inteiro formigava e zumbia com prazer... E Andreas não havia buscado seu próprio prazer. Ela não tinha nenhuma referência para esse tipo de relacionamento, mas não esperava que Andreas fosse um amante altruísta. Sua cabeça estava confusa. Ela, de alguma forma, havia esperado ingenuamente que um relacionamento físico com Andreas pudesse ser superado. Mas sentia como se houvesse sido virada do avesso e reconfigurada e, terrivelmente, não tinha certeza se ainda sabia quem ela era. CAPÍTULO SETE NO DIA seguinte, Siena seguia de carro para um aeroporto privado. Havia encontrado a sra. Bright na cozinha pela manhã e ela havia lhe mostrado um bilhete deixado por Andreas. Ficaraaliviada por não ter que encará-lo novamente tão cedo. Tenho uma reunião em Paris amanhã. Vamos passar a noite lá e iremos à ópera esta noite. Esteja pronta às 15h. Andreas Siena viu que se aproximavam do aeroporto e sentiu-se nervosa com a ideia de encarar Andreas novamente depois que ele havia explorado seu corpo tão intimamente. Adentraram e Siena avistou um pequeno jatinho e um carro esportivo prateado nas proximidades. Andreas estava tirando uma pequena mala e um terno. Sua barriga se apertou. O carro parou e Siena viu Andreas se empertigar. Ele parecia intenso, sério, e seu nervosismo aumentou. Andreas observou Siena sair do carro. Ela estava vestindo um vestido de cor champanhe, preso em sua cintura com um cinto dourado, e seu cabelo caía sobre os ombros. Suas pernas estavam nuas, sandálias douradas estilo gladiador nos pés. Ela estava ali e era dele. Mas ele não conseguia aproveitar aquela sensação de triunfo. Era mais uma necessidade inquieta. Como se nunca fosse se cansar


dela. Estava se sentindo muito nervoso. Andreas queria rasgar aquele vestido e possuí-la ali mesmo, contra o carro. Como você a possuiu contra a porta do seu apartamento ontem à noite? Lembrou-se envergonhado da insanidade daquela cópula. Da inocência dela. Andreas xingou. Aquela mulher o havia deixado inútil durante todo o dia. Antes que ele pudesse pensar sobre os efeitos preocupantes de ter Siena em sua vida e em sua cama, Andreas avançou e pegou a mala de Siena. E, então, incapaz de se conter ao sentir o cheiro dela, ele a puxou para perto e deu-lhe um beijo rápido. Afastou-se e, sem dizer uma palavra, pegou a mão dela e levou-a para dentro do avião. APÓS DESEMBARCAREM em Paris, Siena estava se sentindo ainda mais no limite. Estava completamente despreparada para aquele beijo. Andreas parecia não haver sido afetado e realizava uma longa discussão de negócios em espanhol através de seu laptop. Siena entendia espanhol e havia ficado surpresa ao ouvi-lo discutir o destino dos trabalhadores de um pequeno hotel que havia acabado de adquirir no México. – Essa área já é desafiadora o bastante. Não quero aquelas pessoas lutando para encontrar um novo emprego, quando vou precisar de sua experiência quando o novo hotel abrir. Quero que você lhes ofereça ou os ajude a encontrar um emprego alternativo até que o trabalho no novo hotel esteja acabado. Ele claramente não havia gostado do que a outra pessoa havia dito e respondeu secamente: – Bem, é por isso que você trabalha para mim, Lucas, e não o contrário. Andreas a viu olhando para ele quando terminou a conversa e levantou uma sobrancelha. Ela corou e disse: – Sou a primeira a admitir que não sei muito sobre negócios, mas certamente isso não é exatamente bom para os negócios. Andreas se acomodou em sua cadeira com um pequeno sorriso. – Você concorda com meu gerente de campo? E por que não? Você está certa. Não é bom para os negócios. Mas o fato é que esta pequena cidade do México é o lugar de onde meu benfeitor e mentor veio. Quando me mudei para Nova Iorque, trabalhei em um hotel para Ruben Carro. Ele gostava de mim, viu que eu tinha potencial e, essencialmente, me preparou para assumir seu posto. Ele não tinha família ou herdeiros e tinha um tumor cerebral inoperável. Acho que sentiu uma afinidade comigo, chegando da Europa, sem


um tostão. Ele havia vindo do México como um trabalhador pobre. Seus pais foram mortos tentando atravessar a fronteira. Quando ele morreu, deixou tudo para mim, com a condição de que eu continuasse o seu nome e que fizesse algo para ajudar a melhorar sua cidade natal. Deixou uma parte substancial de sua fortuna para ser usada com esse fim. Comprar este hotel é apenas o primeiro passo. Há ainda planos para desenvolver a infraestrutura e oportunidades de emprego. Siena se sentiu um pouco trêmula. Ela havia ouvido falar do bilionário hoteleiro Carro. – É um projeto muito ambicioso. Andreas sorriu. – Eu sou um homem muito ambicioso. – É por isso que sua rede de hotéis é conhecida como Xenakis-Carro? Um olhar inconfundível de orgulho cruzou o rosto de Andreas. – Tenho orgulho de ser associado com o nome dele. Ele era um bom homem e me ofereceu a oportunidade de uma vida. Continuar seu legado é o mínimo que posso fazer. Andreas havia se afastado e, em seguida, voltado para o trabalho. Claramente as notícias sobre sua ética de negócios estavam erradas, e ainda assim Andreas não havia se importado o suficiente para se defender quando ela o insultara. O foco de Siena voltou para o presente quando as linhas familiares do Champs-Elysées se desenrolaram diante deles. O crepúsculo estava caindo sobre a cidade e Siena se sentiu tensa. Ela sempre amara Paris. Até aquela noite. Desde então, voltar à cidade trazia lembranças dolorosas. E nunca mais do que naquele momento, quando ela dividia o carro com o homem que estava no centro dessas memórias. Ele estava olhando pela janela e parecia distante. Será que estava lembrando também? Odiando-a ainda mais? Siena estremeceu. Eles estavam chegando à frente da enorme fachada de um hotel e Siena só percebeu onde estavam quando estacionaram. – Isso é algum tipo de piada de mau gosto? A boca de Andreas se apertou. – Não, Siena. Nós viemos para cá simplesmente porque é impraticável ir para outro hotel, quando eu sou dono deste. Siena ficou chocada ao olhar novamente para a impressionante fachada do mundialmente famoso hotel, onde o baile de debutantes ainda era realizado todo ano. – Venha.


Ela deu a mão a Andreas e saiu do carro. Eles adentraram o hotel com muitas reverências da equipe. Siena ficou surpresa ao ver que o hotel havia passado por uma bela reforma e parecia mais leve, mais jovem, mas ainda transbordava elegância e riqueza. Andreas falou brevemente com alguém que parecia ser o gerente e então voltou a caminhar, sem sequer olhar para Siena. Sua mão ainda estava na dela. Um elevador separado dos outros estava esperando com as portas abertas. Eles entraram e um atendente os cumprimentou educadamente antes de pressionar o único botão. Depois do que pareceram eras, o elevador parou e as portas se abriram. Andreas disse merci ao assistente e eles entraram no que só poderia ser descrito como um palácio de ouro, com hectares de tapete macio, tapetes orientais e portas e janelas francesas que iam do chão ao teto. Lá fora, a Place de la Concorde estava espetacularmente iluminada. Siena percebeu que Andreas havia finalmente soltado sua mão e estava caminhando para a sala principal, deixando o paletó cair em uma cadeira próxima. Ele estava de costas para ela, com as mãos nos quadris, e ela comentou com ironia: – Então, você comprou o hotel onde havia trabalhado porque este é o lugar onde você sempre teve a fantasia de dormir com a debutante que fez você ser demitido... É isso? Lentamente, Andreas se virou e Siena se preparou. Ele desfez a gravata, abriu os botões da camisa e apenas olhou para ela com uma intensidade incendiária, antes de dizer em voz baixa: – Você é muito presunçosa se acha que fiz tudo isso só para um dia levá-la para a cama sete andares acima de onde você me provocou porque era uma socialitezinha mimada que ficou entediada entre o jantar e a sobremesa. Siena corou. Ela sabia que o que havia dito era extremamente injusto, mas se Andreas se aproximasse demais ela poderia se despedaçar completamente. O conhecimento de que ele não compreendia a verdade daquela noite a atingiu. Ele cruzou o espaço entre eles e a respiração de Siena ficou presa em sua garganta. Seus olhos se estreitaram sobre ela. Instintivamente, Siena recuou. – Ah, não. Temos algum tempo antes da ópera e eu sei exatamente como gastá-lo. Andreas inclinou a cabeça e pôs sua boca quente sobre a dela. Seu corpo


borbulhou e ferveu. O sangue correu para cada ponto de seu corpo, inchandoo, tornando-o apertado e sensível. Siena colocou os braços ao redor do pescoço de Andreas e todo o seu corpo se esforçou para chegar mais perto dele. Ela gemeu quando ele se afastou para trilhar beijos ao longo de seu pescoço. A provocação de Siena sobre seus motivos para comprar o hotel haviam se alojado dentro de Andreas. Mas, quando ele teve que levantar a cabeça e Siena olhou para ele, não pôde escapar... Ele havia alegado o contrário, mas tinha que admitir que quando soubera que o hotel estava à venda, tivera que comprá-lo... Com uma visceralidade que ia além de meros negócios. Mas quando ele voltara lá como proprietário, não achara tão satisfatório quanto pensara que seria. Parecia , de alguma forma, vazio. Andreas tentou afastar os pensamentos indesejáveis de sua cabeça. Viu os lábios ligeiramente inchados de Siena, suas bochechas coradas, sentiu seus seios contra o peito. Algo chamou sua atenção e ele olhou para baixo e viu que a única peça de joalheria que ela usava era o colar com a gaiola de ouro. Por algum motivo, isso o deixou inexplicavelmente nervoso. Como se houvesse alguma mensagem oculta. Ele tocou o colar com um dedo. – Espero que você tenha trazido algo mais substancial do que isso para vestir? Siena corou. – Claro. Sua voz rouca deixou Andreas descontrolado. Com um suave movimento, ele tomou Siena nos braços e caminhou até o quarto. Ela deu um pequeno grito e seus braços se apertaram ao redor dele. – Desta vez alcançaremos o quarto – disse ele sombrio. SIENA ACORDOU algumas horas mais tarde, sentindo dedos correndo por suas costas nuas. Ela franziu a testa e balbuciou incoerentemente, semiconsciente das dores de prazer e sensações em seu corpo. – Vamos... Não temos muito tempo. Siena abriu os olhos quando ouviu aquela voz profunda. Andreas estava sentado na beira da cama envolto em uma pequena toalha, com o cabelo úmido. Ele se levantou, deixando a toalha cair, e caminhou até o guarda-roupa. Siena desviou os olhos. Ela ainda se sentia chocada pelo que havia acontecido. A maneira como Andreas a havia desnudado, deitado na cama e começado a


explorar seu corpo inteiro, deixando-a ofegante. Quando ele finalmente subira entre suas pernas, ela lutara para não explodir. Ela amaldiçoou sua inocência relativa, não gostando da ideia de outras amantes, mais proficientes, levando-o ao limite. Afinal, ele não havia especificado que esperava que ela fosse uma amante inventiva? Só que, quando ele a tocava, ela só conseguia sentir. Percebendo que ainda estava ali, nua e devaneando, sentou-se e aproveitou que Andreas havia entrado no banheiro para vestir-se novamente. Percebeu que um ou dois botões estavam faltando e corou quando pensou nas grandes mãos de Andreas arrancando-os com um puxão. Sentiu um pequeno brilho de prazer. Talvez ele não estivesse tão indiferente. Andreas reapareceu e Siena evitou encará-lo, fugindo para o banheiro. Ela descansou as costas contra a porta por um momento, fechando os olhos e respirando seu perfume provocante, tentando se convencer de que poderia sair ilesa. ANDREAS OUVIU o chuveiro ligado e imaginou a água correndo pelo corpo de Siena. A excitação foi imediata, e ele xingou. Fechou os olhos, mas tudo o que viu foi Siena deitada de bruços momentos antes, nua. Aquele rosto deslumbrante parecia de alguma forma muito inocente e jovem em repouso. Fazer amor com ela daquela vez não havia tido nada da loucura da noite anterior, mas um tipo diferente de insanidade. Penetrar seu corpo havia sido perturbador, como se ele estivesse tocando uma parte de si mesmo que estava enterrada. Ele esperava que, depois de fazer amor com ela, sentir-se-ia triunfante. Afinal, era exatamente o que ele havia planejado. Siena, nua e perdida em sua cama. Ela havia chorado. Implorado que ele a deixasse ir, que parasse de torturá-la. E ele não gostara de como as lágrimas lhe haviam afetado, fazendo com que ele se sentisse culpado. Na verdade, ele não esperava que o sexo fosse tão bom com Siena. Ele esperava que ela fosse fria, distante. Porém ela havia sido estonteante. Ele ouviu o chuveiro se fechar e de repente sentiu um surto incomum de pânico. Ele não podia garantir que, se ela saísse do banheiro agora, seria capaz de não possuí-la novamente e ignorasse a ópera. Apenas uma mulher o havia encantado tanto a ponto de desviá-lo de seus planos. E o fato de que ele a havia convidado de volta para sua vida era apenas uma de suas fraquezas.


O MEDO de deixar seu pai esperando havia feito Siena desenvolver a habilidade de se arrumar em tempo recorde, então ela não se surpreendeu quando viu o olhar de choque de Andreas quando voltou, pouco tempo depois. Andreas estava incrível em um smoking preto. Seu cabelo brilhava, ainda ligeiramente úmido, e seus olhos pareciam joias escuras. Ele lançou um olhar para o relógio. – Devemos ir, ou vamos perder a primeira metade. – Que ópera é? Andreas estava abrindo a porta principal e olhou para ela. – É La Bohème. Siena não conseguiu conter a alegria. – Essa é a minha ópera favorita. – A minha também. Talvez tenhamos algo em comum, afinal. A onda de alegria morreu. Sem dúvida, Andreas estava se referindo à disparidade de suas criações. Ela não sabia muito sobre a vida dele, mas sabia que havia sido relativamente humilde. – Você vem de uma família grande? – perguntou Siena, curiosa, quando estavam no carro. Andreas olhou para ela, mas seu rosto estava na sombra. Ela podia senti-lo tenso com a pergunta e quis saber o porquê. Eventualmente, ele respondeu: – Tenho cinco irmãs mais novas e meus pais. Siena sentiu a curiosidade aumentar. – Não sabia que você vinha de uma família tão grande. Vocês são próximos? Mais relutância. Evidentemente ele não queria falar. Siena confidenciou nervosamente: – Éramos só Serena e eu. Sempre me perguntei como seria... – Ela parou de falar, porque estava prestes a dizer: tenho um irmão mais velho. Mas ela realmente tinha um irmão mais velho. Andreas, aproveitando a oportunidade para desviar a atenção, perguntou: – Como seria o quê? – Apenas... Como teria sido ter outros irmãos. Andreas arqueou uma sobrancelha. – Mais irmãs para seu pai exibir como princesinhas? – Antes que Siena pudesse reagir, Andreas disse: – Minha família não está em discussão. Nós viemos de mundos diferentes, Siena, isso é tudo que precisa saber.


Foi como um tapa na cara. Siena se sentou nas sombras e olhou para fora da janela. Aquele pequeno vislumbre da vida de Andreas a havia intrigado, mas ela odiou estar imaginando como teria sido crescer em uma família grande; como ser o único filho homem pode ter impactado Andreas, alimentado sua ambição. Ela não se importava, disse a si mesma implacavelmente, enquanto estacionavam em frente à ópera. Havia uma longa fila de pessoas muito bem vestidas. Andreas deu a volta e lhe estendeu a mão imperiosamente. Siena desejou ser capaz de desafiá-lo, mas pensou em sua única família: Serena, em uma unidade psiquiátrica, na Inglaterra, dependendo dela. TRÊS NOITES depois Siena estava em Londres, no apartamento de Andreas, esperando que ele saísse do quarto, onde havia ido se trocar. Desde aquela noite em Paris as coisas haviam esfriado consideravelmente entre eles. Andreas mal falara mais alguma coisa com ela naquela noite e, quando voltaram da ópera, ele lhe dissera que tinha que trabalhar e desaparecera em um escritório. Quando ela acordara na manhã seguinte, a cama ao lado dela estava intocada. Siena não gostara da sensação de insegurança que tomara conta dela enquanto esperava Andreas concluir suas reuniões naquela manhã para que pudessem voltar para Londres. No entanto, quando voltaram, Andreas a levara direto para a cama e fizera amor com ela com tanta intensidade que ela não havia sido capaz de mover um músculo. Siena não gostava de pensar em como ela havia ido voluntariamente aos seus braços ou na sensação de alívio que sentira. Será que ela era tão fraca e patética após uma vida de intimidação por parte de seu pai que havia se tornado grata por esse tratamento? Ela se agarrou ao fato de que em breve seria independente novamente. No dia seguinte, Andreas havia exibido o mesmo distanciamento emocional, confirmando que era assim que seria, a menos que estivessem na cama. Em ambas as noites eles haviam saído para eventos. Na segunda, foram a um enorme jantar beneficente para uma instituição que fornecia dinheiro para crianças feridas em países devastados pela guerra. Siena ficou com lágrimas nos olhos quando uma bela jovem afegã contou sua história. Ela havia sido baleada porque se manifestara sobre a educação quando adolescente e a instituição a havia transportado à América, onde ela fora tratada e operada. Agora, trabalhava na ONU. Foi só quando o chefe da caridade apresentou o padroeiro da caridade e o convidou para falar que Siena percebeu que era Andreas. Ela ficou atordoada


ouvindo-o falar apaixonadamente sobre não deixar as crianças naqueles conflitos sofrerem. Ela se sentiu absurdamente magoada que ele não houvesse lhe contado sobre seu envolvimento. Quando ele voltou para a mesa, Siena reprimiu a mágoa. – O que fez você querer se envolver em algo assim? Sua expressão severa lembrou Siena de que ela estava se desviando do caminho de ser uma simples amante e naquele momento ela quis se levantar e sair. Apenas a lembrança de Serena a manteve onde estava. Eventualmente, ele disse: – Uma criança no México foi pega no fogo cruzado entre gangues de traficantes. Ruben o levou para Nova Iorque para tratamento... Infelizmente a criança morreu. Eu tenho oito sobrinhos e... esta criança do México... Ela abriu meus olhos. Depois que ele morreu, eu soube que queria fazer mais... Siena percebeu que não poderia se agarrar a qualquer preconceito que tinha sobre o tipo de homem que Andreas era. Ele não era ganancioso ou amoral. – Você quer ter filhos? Andreas olhou para ela e sorriu ironicamente, fazendo Siena se arrepender imediatamente da pergunta imprudente. – Por que, Siena? Você está se oferecendo para ser a mãe dos meus filhos? Para que você possa criá-los para seguir seus passos e arruinar a vida dos homens? Talvez, se tivéssemos uma filha, poderíamos chamá-la de Estella, em homenagem àquela grande heroína de Dickens que seduziu e encantou o pobre Pip com sua beleza só para esmagá-lo como uma mosca... Ela ficou tão chocada com esse ataque que largou o guardanapo e se levantou, sussurrando: – Você não é Pip, Andreas, e você não se lembra corretamente. Estella era a vítima. Siena caminhou até o banheiro e se trancou lá dentro. Ela não havia sido capaz de conter as lágrimas. Estava atordoada com a forma como se sentia magoada, culpada e envergonhada com a imagem horrível que Andreas havia criado. Ele nunca poderia saber quão cruéis foram suas palavras. Seu mais profundo sonho era um dia fazer parte de uma família que ela nunca havia conhecido. Queria saber como seria amar e ser amada. Ter filhos e dar-lhes toda a segurança e afeto que ela nunca havia tido... Quando ela se sentiu recomposta o suficiente para voltar, Andreas estava esperando impacientemente e eles partiram. Ele olhou para ela nas sombras escuras da parte de trás de seu carro e Siena instintivamente recuou.


Ele disse asperamente: – Você diz que Estella era a vítima? De onde vejo, ela parece muito robusta. Ele estendeu a mão para ela e Siena havia resistido com toda sua força, odiando-o. Porém, habilmente, Andreas derrubou lentamente suas defesas até que o desejo ardeu mais do que qualquer outra coisa... Quando chegaram ao apartamento, ela havia esquecido sua mágoa e estava pensando apenas no prazer que Andreas poderia lhe dar, como uma viciada em uma substância ilegal. – Devemos ir ou vamos nos atrasar. A voz de Andreas fez Siena saltar. Ela havia estado absorta em memórias. Ela pegou o xale e a bolsa e pela primeira vez pôde apreciar a proteção de seu vestido preto de grife. O peso de um colar de diamantes no pescoço, os brincos nas orelhas e o bracelete em seu pulso iriam mantê-la firme. Ela não podia se dar ao luxo de se perder por um segundo. Ou deixá-lo provocá-la. Se Andreas tivesse alguma pista de sua vulnerabilidade, ele a aniquilaria. CAPÍTULO OITO ANDREAS OS estava levando para o evento em seu carro esporte. Isso ocupava suas mãos e sua mente, assim ele não corria o risco de agarrar Siena no banco de trás. Não iria se rebaixar novamente. Isso o fez pensar na outra noite e como ele ainda a tocara, mesmo após ela detonar uma pequena bomba interna com a pergunta sobre se ele queria ter filhos. Ele não queria se lembrar de como ficara quando a comparara a Estella de Grandes Esperanças. Havia funcionado, no entanto. Ficara satisfeito com a raiva em seus olhos. Era muito mais fácil lidar com isso do que com sua pergunta. Amantes já haviam lhe perguntado se ele queria filhos e em todos os casos Andreas havia mentalmente terminado o caso sem nenhum remorso. Siena perguntou e ele sentiu uma onda de possessividade. Algo perturbador, que não era uma rejeição imediata a algo que ele considerava inadmissível. Naquele momento ele se sentiu exposto e se lembrou de sua humilhação em Paris. Será que algo havia dito a Siena que não haveria problemas em fazer essa pergunta, porque uma semana não seria suficiente para ele? Porque, inevitavelmente, ele iria querer mais? Andreas havia se sentido como Pip. Correndo atrás de uma mulher inatingível. E então ele atacou. Precisava manter o distanciamento que havia provocado em Paris. Muita


coisa o havia deixado inquieto desde lá: a intuição de Siena sobre a compra do hotel, a fome por ela, que só parecia crescer, e o jeito como ela havia perguntado sobre sua família... fazendo-o se lembrar do que havia se esforçado tanto para evitar. Ele havia ido para o exterior sem nenhum aviso e sabia que havia confundido e aborrecido seus pais. Eles nunca entenderam sua fome de sucesso, como ele tinha um medo irracional de não conseguir sair daquela pequena cidade, especialmente depois da morte de Spiro. Andreas se lembrou de que aquilo não era um relacionamento. Com outras amantes ele era espirituoso e encantador. Com Siena eram negócios, saciar a febre em seu sangue, exorcizar os demônios. Ele bloqueou o fato de que não parecia estar mais perto de seu objetivo do que há alguns dias... ALGUMAS HORAS mais tarde, Siena viu um homem alto e bonito se aproximar de Andreas e os dois se cumprimentaram calorosamente. Siena ficou paralisada pelo amplo sorriso de Andreas. Algo raro e nunca dirigido a ela. Ele apresentou o estranho: – Este é Rafaele Falcone, das Indústrias Falcone. Ele recentemente se mudou para Londres para estender seu domínio da indústria automobilística. Siena estendeu a mão, sorrindo para o homem. Ele era lindo, com olhos verdes, e Siena desejou que tivesse algum efeito sobre ela, o que provaria que Andreas não dominava todos os seus sentidos. Mas, quando suas mãos se tocaram, não houve nada, apesar de Rafaele ter segurado a mão dela por um segundo além do que o necessário, com um sorriso que fez Siena querer se desculpar, porque, com ela, estava sendo desperdiçado. – Se as coisas ficarem chatas com Xenakis, telefone-me. Ele lhe estendeu um cartão, flertando escandalosamente, e Siena sorriu genuinamente com sua ousadia. Ela estava quase pegando o cartão por educação, mas Andreas o agarrou. O braço dele envolveu sua cintura e a puxou para o seu lado de uma maneira que a fez olhar para ele, confusa. Ele nunca a reivindicara assim em público antes. Rafaele Falcone elevou as mãos em um gesto zombeteiro de derrota e se afastou. – Conversaremos em breve, Xenakis, estou interessado em saber sobre esse negócio e eu tenho um carro novo sendo lançado no próximo mês, que acho que você vai gostar...


Ele olhou para Siena e ela corou, subitamente não gostando do jeito como ele estava demonstrando seu interesse, caso ela não estivesse com Andreas. Ela realmente não estava acostumada a aquele tipo de situação. Seu pai sempre havia sido tão protetor! Quando ele se virou e se afastou, Andreas soltou Siena e se virou para ela. Ele estava lívido e Siena recuou. – Nem pense nisso. – Pensar no quê? Andreas sacudiu a cabeça na direção de seu amigo. – Falcone está fora dos limites. Siena se encheu de raiva. – Como você se atreve? Quando terminarmos, posso fazer o que quiser, e pretendo mesmo. Se eu achar que isso inclui ter um caso com Rafaele Falcone, vou lhe telefonar. Por um segundo Andreas pareceu tão feroz que Siena sentiu medo. Ele parecia capaz de violência. – Você é minha, Siena – rosnou. – De mais ninguém. Ela rebateu: – Uma semana, Xenakis. Eu sou sua por uma semana. Foi você quem estipulou um prazo. E essa semana expira em dois dias... Se você está tão preocupado em me manter fora da cama de outros homens, isso vai lhe custar muito mais do que algumas bugigangas. – Então é assim que você está se sustentando após o desaparecimento de nosso pai? Eu não deveria estar surpreso. Demoraram longos segundos antes de Siena perceber que não fora Andreas que havia falado. Era outra voz. Ela olhou para a esquerda e sentiu o sangue sumir de seu rosto. Rocco DeMarco. Seu irmão. Siena mal ouviu Andreas reconhecê- lo sem rodeios: – DeMarco. Os olhos de seu irmão deixaram Siena momentaneamente e ele inclinou um pouco a cabeça. – Xenakis. Vejo que minha pequena irmã encontrou um benfeitor para mantê- la no estilo ao qual ela está acostumada. Sua semelhança com seu pai a surpreendeu novamente.


Fracamente, ela disse: – Você me reconhece. Aqueles olhos escuros voltaram para ela. Sua boca se curvou. – Segui a queda de nosso pai na imprensa com grande interesse. Você e sua irmã foram destaque, mas parece que você se virou bem. Sentindo-se fraca, Siena disse: – Isso... Não é o que parece. O nojo era evidente na expressão de Rocco, e Siena sentiu uma dor em seu coração. Ele era sua carne e sangue. – Você realmente acha que me esqueceria de você? Depois que você e Serena passaram por cima de mim como um pedaço de lixo na rua? Diga-me... Você ouviu falar de nosso pai? Siena balançou a cabeça, sentindo-se enjoada. Como poderia explicar para ele naquele momento que odiava o pai tanto quanto ele? Então uma mulher pequena e muito bonita de cabelo vermelho se juntou a Rocco, deslizando a mão em seu braço. A mudança de seu irmão foi instantânea quando ele olhou para ela, carinho e amor brilhando em seus olhos. Quando ele olhou para Siena, o gelo voltou, e ela estremeceu. – Esta é minha esposa, Gracie. Gracie, gostaria que conhecesse Siena. A mulher ficou tensa e uma expressão cautelosa inundou seus amáveis olhos castanhos. Claramente, ela compreendia o significado daquele encontro. Ela estendeu a mão, porém, e Siena se forçou a apertá-la. Só então percebeu a barriga da outra mulher e percebeu que já poderia ter um sobrinho. Rocco olhou para Andreas e disse com leveza enganosa: – Presumo que Siena não haja lhe contado sobre a nossa relação familiar. Ou sobre quando confrontei nosso pai e ele me jogou no chão como se eu fosse um cachorro na rua? – Rocco... Siena ouviu sua esposa reprová-lo, mas seu rosto permaneceu severo. Siena se justificou à outra mulher, instintivamente: – Eu tinha apenas 12 anos. As coisas não eram como pareciam. A compaixão nos olhos dela foi demais para Siena. Ela se soltou de Andreas e praticamente correu para fora do salão. A emoção florescendo dentro dela era demais. Ali estava a prova incontestável de que ela e Serena estavam sozinhas. Ela sabia muito bem que não poderia buscar a ajuda de seu irmão, mas ter a confirmação era outra coisa. Sempre abrigara uma fantasia secreta de um dia explicar a Rocco sobre suas vidas. Que não eram tão diferentes... Que tinham um inimigo comum: seu


pai. Sua garganta ardia enquanto ela tentava reprimir a emoção, esperando a presença de Andreas a qualquer momento. Ele não iria tolerar que ela partisse assim. Não quando ela tinha um dever a cumprir ao seu lado. Ela ouviu sua voz fria atrás dela. – Por que você não me contou que Rocco DeMarco era seu irmão? Siena não se virou, lutando para se recompor. – Não era relevante. Andreas bufou. – Não era relevante? Ele é um dos financistas mais poderosos do mundo. Siena se virou e olhou para Andreas. Sua expressão era exatamente o que ela temia: uma mistura de desgosto e confusão. Siena atacou para esconder suas emoções: – Como você pode ver, ele me odeia, e à minha irmã. Por que eu deveria me preocupar com o filho bastardo do meu pai, nascido de uma prostituta? As entranhas de Siena ficaram dilaceradas por suas palavras. Era o oposto do que ela acreditava. – Por que, de fato? Andreas a olhou de forma estranha. E então ele começou a andar para longe, em direção à entrada. Siena hesitou por um momento e foi atrás dele. Quando ficou claro que ele estava pedindo seu carro, ela perguntou um pouco sem fôlego: – Você não quer voltar para dentro? Andreas olhou para ela e disse secamente: – Rocco DeMarco e sua esposa são meus amigos. Eu não vou fazê-los sentir a necessidade de partir só porque você está comigo. Disse-lhes que iríamos embora. Uma dor aguda atingiu Siena quando o carro parou ao lado deles e o manobrista entregou as chaves para Andreas. Siena teve o pressentimento sombrio de que estava tudo acabado. E, depois de uma silenciosa viagem de volta para o apartamento, Andreas confirmou. – Eu vou mandar um segurança para levá-la aos joalheiros amanhã. Lá você vai conseguir o seu dinheiro. Siena ficou imóvel. Fracamente, pateticamente, ela disse: – Mas... Ainda faltam dois dias. Andreas lançou um olhar frio. – Cinco dias é o suficiente para mim. – Sua boca se retorceu. – Não se preocupe. Eu não vou descontar


qualquer pagamento. Ela estava entorpecida. Simples assim, ele estava se livrando dela... O que mais ela esperava? Em algum nível profundo e secreto, ela havia imaginado que Andreas pudesse não desprezá-la tão completamente... Mas quando eles haviam tido a chance de ir além disso? Ele rechaçou qualquer tentativa que ela havia feito de falar de coisas pessoais, ou mesmo coisas não pessoais, e ainda naquela noite ela conseguia se lembrar de um surto de esperança ao vê- lo tão possessivo quando outro homem flertara com ela. Mas isso havia sido puramente uma postura masculina. Ela odiou a si mesma por não se sentir aliviada e sentiu-se humilhada. Porque tinha que reconhecer que, apesar de dizer a si mesma que estava com Andreas apenas para ajudar sua irmã, ela sabia que era mentira. Ele sempre fora sua fantasia sombria. Ele só a queria por vingança, então ela tinha que tê-lo assim ou não tê-lo. Usar Serena havia sido um dispositivo para se enganar, pensando que estavade alguma forma no controle... Siena sentiu frio por dentro. A única coisa boa que poderia sair dessa situação era a ajuda que ela pudesse dar a sua irmã. Siena se obrigou a se mover, dizer alguma coisa. – Boa noite, então. Ela estava indo embora, quando o ouviu dizer: – É um adeus, Siena. Terei partido pela manhã. Siena se virou e uma onda de emoção a atingiu. – Sinto muito pelo que aconteceu , Andreas... Não era minha intenção... E, então, antes que pudesse dizer mais alguma coisa, ela fugiu. Andreas olhou para o espaço vazio e quis correr atrás dela, girá-la e exigir saber o que ela queria dizer com não era minha intenção. Ele queria colocalá nos ombros e levá-la para a cama mais uma vez. Mas não seria suficiente, percebeu. Nunca seria o suficiente. Seu corpo ardia de desejo. Mesmo depois da cena desagradável com seu irmão. Andreas não tinha ideia de sua conexão. Mas, conforme Rocco falava, ele sentiu a dor do homem e foi capaz de imaginar o cenário... As duas preciosas herdeiras passando por cima de seu irmão caído. Havia sentido sua raiva, facilmente esquecida no calor da paixão ou quando Siena olhava para ele com aqueles enormes olhos azuis. Ele também havia sofrido naquelas mãos.


Até ela lembrá-lo de que a semana estava chegando ao fim, ele havia esquecido. Ele havia esquecido, mas ela se lembrava, porque ela estava contando cada dia e avaliando o quanto tomaria dele. Ela o deixou com ciúmes. E foi quando ele finalmente percebeu o quanto estava em risco de se tornar um escravo do seu desejo por aquela mulher... Ele nunca deveria ter procurado por ela. Havia sido um enorme erro. No dia seguinte ela iria embora e ele iria seguir em frente. Um mês depois, em Londres Andreas entrou em seu apartamento, exausto. O silêncio indicava que ele estava sozinho. Ignorou a sensação de vazio e largou a mala. Ele entrou no salão principal e uma visão de Siena se virando para ele naquela última noite em seu vestido preto o acertou. Tão perfeita. Tão bela. Andreas xingou e rapidamente saiu novamente. Foi para a cozinha, mas isso só lhe lembrou do momento em que ele ouvira a sra. Bright explicando para Siena sobre o forno. Ou de Siena comendo um croissant. Dizendo a si mesmo que estava sendo ridículo, foi para o quarto e abriu a porta, preparando-se para o perfume dela. Estava fraco, mas era o suficiente para fazer o calor se aglomerar em sua pélvis. Ele amaldiçoou sua presença fantasmagórica. Estava prestes a sair, quando viu algo com o canto do olho e caminhou em direção ao closet. Parecia que cada peça de roupa que ele havia comprado para ela ainda estava lá, pendurada ou dobrada. As roupas valiam uma fortuna, se ela quisesse vendê-las, mas elas estavam ali. Andreas saiu para seu escritório. Já podia ver a porta do cofre aberta sem nenhuma joia. Ele não gostou da sua suspeita momentânea que talvez ela houvesse deixado as joias também. Por quê? Porque ela começara a sentir algo por você? Andreas afastou o pensamento, não gostando de como ele o fazia


suar frio. Sentou-se e pegou o telefone. Ele tinha que saber com certeza. – Sim, senhor Xenakis. Ela veio de manhã e devolveu todos os itens. Trocamos tudo por um preço muito justo. Estava prestes a desligar o telefone, quando o homem do outro lado disse: – Na verdade... Havia um item que ela queria manter. Ah... Deixe-me ver... Ele estava claramente olhando alguma lista e Andreas conteve sua impaciência. Realmente não queria ouvir sobre qual pulseira de esmeralda Siena havia... – Ah, sim. Aqui está. Ela queria manter o colar de gaiola de ouro de Angel Parnassus e foi muito insistente em pagar por isso com seu próprio dinheiro. Andreas agradeceu e desligou o telefone. Quando Siena havia escolhido aquele colar discreto, ele havia ficado nervoso, e não gostou de ser lembrado daquilo... Daquela sensação indescritível de que havia deixado passar alguma coisa. Xingando, Andreas se levantou e foi para seu quarto se trocar para um casamento em um de seus hotéis para o qual havia sido convidado. Seu breve interlúdio com Siena DePiero havia acabado e ele não se importava com o porquê de ela querer guardar alguma peça relativamente barata de ouro. Nem queria remoer o fato de que ela estava lá fora, em algum lugar da cidade, vivendo do seu dinheiro e, sem dúvida, seduzindo o próximo bilionário estúpido o suficiente para cair sob seu feitiço. Uma imagem vívida dela com Rafaele Falcone fez Andreas sentir como se houvesse levado um soco no estômago. Que ela vá para o inferno! SIENA SE afastou de outro grupo de convidados do casamento que mal olharam para ela enquanto se serviram de alguns acepipes que ela estava oferecendo em uma bandeja. Estava satisfeita com o anonimato. Cada centavo da venda das joias havia ido direto para cobrir as


despesas de Serena. Ela passou uma tarde emocional com sua irmã, assegurando- lhe que ela iria ficar bem e, naquele momento, Siena não tinha nenhum arrependimento sobre o que havia feito. Era quando ela se deitava na cama à noite, em um apartamento semelhante ao seu anterior, ou tomava o ônibus para trabalhar todos os dias, que sentia o remorso agudo por enganar Andreas. Ela nunca esqueceria o jeito como ele olhara para ela naquela última noite ou no reencontro doloroso com seu irmão. E ainda não havia contado sobre isso a Serena. Siena estava caminhando até outro grupo de convidados, quando um dos homens virou para falar com um homem ao seu lado. Ela parou a poucos metros de distância. Sua barriga afundou. Não podia ser. O universo não poderia ser tão cruel. Mas, aparentemente, o universo podia ser tão cruel. Andreas Xenakis olhou momentaneamente em sua direção e Siena viu o choque do reconhecimento cruzar suas feições. Ela imediatamente deu meia-volta e se afastou, afirmando-se um pouco histericamente de que ele não a havia reconhecido. Ele acharia que estava enganado, porque presumiria que ela estaria em um iate, tomando sol no Mediterrâneo, gastando o dinheiro que havia recebido. Mas ela sabia que seria bom demais para ser verdade. Uma mão pesada caiu sobre seu ombro e ela foi virada tão rápido que a bandeja voou para fora de suas mãos, caindo de cabeça para baixo sobre um tapete caríssimo. Siena imediatamente se livrou e se abaixou para pegar a bandeja e limitar os danos, aterrorizada que seu patrão pudesse ter visto. Andreas se abaixou também e Siena sibilou para ele, odiando o modo como seu coração estava ameaçando saltar do peito: – Por favor, me deixe em paz. Eu não posso me dar ao luxo de perder esse emprego. – E por que, quando apenas algumas semanas atrás você foi premiada com uma pequena fortuna? Ninguém poderia gastá-la tão rapidamente. Siena terminou de colocar o último dos canapés na bandeja e levantou-se novamente.


– Basta fingir que você não me viu. Por favor. Se eu tivesse alguma ideia de que você estaria aqui... – Sr. Xenakis, está tudo bem? – Não, não está tudo bem. – Andreas se virou para o chefe de Siena, que empalideceu. Siena ficou quente de vergonha. As pessoas estavam olhando para eles agora. Andreas pegou a bandeja das mãos de Siena e, antes que ela percebesse o que estava acontecendo, entregou ao seu chefe, tomando-lhe a mão. – Sinto muito, mas você vai ter que continuar sem ela. Ela está se demitindo. – Não, não estou! Como se atreve? Mas suas palavras se perderam quando Andreas praticamente a arrastou através da multidão de convidados. Ele parou de repente e ela o ouviu quase dizer aos noivos: – Desculpem-me... Aconteceu um problema. Desejo-lhes tudo de melhor. E então ele estava se movendo novamente. Quando eles estavam finalmente em um corredor relativamente vazio, Siena se soltou e parou. Ela tremia de adrenalina e choque. – Como se atreve a me fazer perder meu emprego? Andreas se virou para ela, os olhos brilhando. – Fazer você perder seu emprego? – Ele praticamente gritava. – Por que, diabos, você está trabalhando como garçonete novamente, quando você tinha uma pequena fortuna apenas um mês atrás? O que poderia dizer? Que gostava de trabalho pesado e de ficar de pé oito horas por dia? Ela só precisava que Andreas sumisse para que ela pudesse continuar a tentar esquecê-lo. – Não é da sua conta. Andreas cruzou os braços. Siena soube, com um lampejo de medo, que nunca o faria ceder. – Você me deve uma explicação, Siena. Siena balançou a cabeça em pânico. – Não, eu não devo nada a você.


– Ah, sim, você deve... Especialmente após este show. Ele pegou a mão dela novamente e começou a conduzi-la pelo corredor. Uma sensação de inevitabilidade atravessou Siena. Ela sabia que não podia resistir a Andreas quando ele estava assim. Para seu espanto, ela percebeu que eles estavam em um de seus hotéis, quando ele foi até a recepção e ela o ouviu pedir a chave da Suíte Presidencial. Em seguida, eles estavam no elevador. Ele ainda segurava a mão dela e Siena não gostou da maneira como o corpo dela já estava reagindo ao seu toque. Quando Andreas abriu a porta da opulenta suíte, ele a levou para dentro e só a soltou quando fechou a porta. Ela ouviu o som de Andreas se servindo de uma bebida e virou-se para encontrá-lo entregando-lhe um pequeno copo de licor. Segurouo em ambas as mãos, evitando seus olhos. – Sente-se, Siena, antes que você caia. Siena olhou em volta e viu uma cadeira posicionada em ângulo reto com o sofá. Ela se sentou e tomou um pequeno gole fortificante de sua bebida, sentindo o líquido cremoso deslizar por sua garganta. Andreas ficou de costas para ela na janela e Siena observou suas costas largas com cautela, com os olhos caindo para suas nádegas. Imediatamente teve um flashback de como sentia tê-lo entre as pernas, penetrando-a tão profundamente... Ele se virou abruptamente e ela corou. – Então, você tem alguma tendência masoquista de trabalho servil, após uma vida de luxos? Ou talvez você tenha tido uma crise de consciência e entregado todo o dinheiro para uma instituição de caridade? Eu quero saber o que você fez com o meu dinheiro, Siena. Afinal de contas, não foi uma quantia insignificante... Siena viu o olhar estreito focado nela e sentiu que seu comedimento era um verniz muito fino escondendo a raiva latente. Ela poderia tentar mentir novamente, inventar alguma desculpa. Mas devia àquele homem uma explicação. Muito mais do que uma explicação. Devia-lhe o seu dinheiro de volta. Com cuidado, ela largou a bebida. Sua mente estava girando com o que ela estava pensando. Será que ela poderia simplesmente... Contar a ele? Apelar à sua compaixão? Afinal, ela não a havia visto


em ação? Sabendo que sua irmã estava finalmente segura, ela tentou se confortar dizendo a si mesma que não tinha que divulgar tudo. Olhou para suas mãos no colo por um longo momento e, então, disse em voz baixa: – O dinheiro era para a minha irmã, não para mim. O silêncio se prolongou e ela olhou para cima para ver que Andreas estava realmente confuso. – Você disse que ela estava no sul da França com os amigos... Siena podia ver que ele havia entendido errado e estremeceu quando ele falou: – Ela precisava do dinheiro? Para financiar seu estilo de vida devasso? É por isso que você estava disposta a se prostituir? Suas palavras rudes fizeram Siena se levantar. Ela percebeu um pouco tardiamente que nunca teria conseguido se safar com uma explicação tão simples. Seu corpo inteiro estava tenso, tremendo. – Não. Não é isso. – Siena mordeu o lábio. – Serena nunca esteve no Sul da França. Ela está aqui. Na Inglaterra. El veio comigo quando partimos da Itália. Eu menti. A boca de Andreas se retorceu. – Eu sei de sua proficiência com mentiras, Siena. Diga-me algo que eu não sei. Siena estremeceu novamente, mas ela sabia que merecia. Incapaz de suportar estar sob o escrutínio de Andreas, ela se moveu bruscamente para a outra janela e cruzou os braços. – Minha irmã... é doente. Ela teve problemas mentais por anos. Eles provavelmente começaram não muito tempo depois que nossa mãe morreu. Eu tinha 3 anos e Serena tinha 5. Ela sempre foi uma criança difícil... Lembro-me de pirraça e de nosso pai trancando-a no quarto dela. Sua doença se manifestou com crises graves de depressão em sua adolescência, junto com períodos mais maníacos quando ela saía e enlouquecia. Ela ficou tão ruim que teve surtos psicóticos e alucinações. Tentou tirar a própria vida uma das vezes... Sem mencionar a dependência de álcool e drogas. Siena não ouviu nada de Andreas e estava com muito medo de olhar para ele, então continuou:


– Nosso pai estava enojado com essa fragilidade e se recusou a lidar com isso. Foi só depois de sua tentativa de suicídio que ela foi diagnosticada com transtorno bipolar grave. Nosso pai não permitia que ela tomasse a medicação por medo de vazar para a imprensa... Apesar de sua reputação de festeira, ela ainda era uma valiosa herdeira... Embora um pouco menos valiosa do que eu. Siena fechou os olhos brevemente e depois se virou para encarálo. Seu rosto ainda estava inexpressivo. – Vá em frente – disse ele friamente. – Quando nosso pai desapareceu, Serena passou por uma fase maníaca. Era impossível controlá-la. Fisicamente, ela é mais forte do que eu e suas bebedeiras estavam fora de controle. Tudo o que eu pude fazer foi esperar até a inevitável queda e, em seguida, convencê-la a vir para a Inglaterra. Ela sabia que precisava de ajuda. Ela queria ajuda. Eu encontrei uma boa clínica psiquiátrica e ela foi aceita. Eu tinha algum dinheiro sobrando da herança de nossa mãe, que não havia sido apreendido pelas autoridades e que pagou a nossa mudança e os primeiros meses de seu tratamento. É complicado, porque ela tem que ser tratada por seus vícios primeiro. Siena desviou o olhar, envergonhada pelo seu próprio erro de cálculo. – Eu pensei que, com o meu salário, poderia continuar a pagar seu tratamento, mas eu realmente não havia contabilizado o custo semanal. Quando eu encontrei você... de novo... Só havia dinheiro suficiente para algumas semanas. Ela está em uma fase delicada do tratamento. Se ela tivesse que sair agora porque não posso pagar, os médicos me avisaram que poderia ser catastrófico. Siena se preparou para a reação de Andreas, lembrando-se muito bem da visão arcaica de seu pai sobre a doença mental. Desesperada para tentar defender sua irmã, Siena olhou para trás com os olhos brilhando. – Ela não é apenas uma socialite vazia. É uma doença. Se você pudesse tê-la visto... A dor e a angústia... E não havia nada que eu pudesse fazer... Para desgosto de Siena, lágrimas surgiram e ela as reprimiu rapidamente.


– Ela é minha irmã e eu vou fazer de tudo para tentar ajudá-la. Ela é tudo que me resta no mundo. – E seu meio-irmão? – perguntou Andreas, em voz baixa. Seu coração apertou quando pensou em Rocco. – Eu sabia que nunca poderia ir até ele. Você viu a sua reação. Eu esperava isso. Eu me lembro do dia do qual ele falou. Eu não quis dizer o que eu disse sobre ele... depois. Eu estava com raiva e me senti vulnerável. O dia em que o vi confrontar nosso pai, se Serena e eu houvéssemos simplesmente olhado em sua direção, teríamos sido punidas impiedosamente. Você não tem ideia do que o nosso pai era capaz de fazer. – Por que você não me conta? Siena sentiu como se estivesse em uma espécie de estado de sonho. Andreas estava fazendo essas perguntas que lhe cortavam o coração, fazendo-a falar sobre coisas que ela nunca havia falado com ninguém. Nunca. Nem mesmo a Serena. Suas pernas de repente ficaram fracas e ela voltou para o sofá. – Ele era um sádico. Ele tinha prazer com a dor das outras pessoas. Mas especialmente Serena, porque ela sempre havia sido teimosa e difícil de controlar. Ela se tornou seu saco de pancadas. Siena respirou fundo e olhou para suas mãos pálidas. – Eu aprendi o que aconteceria se eu não me comportasse bem desde cedo. Uma vez, ele nos levou ao seu escritório e disse a Serena para estender a mão. Ele pegou uma vara de bambu de seu armário e a chicoteou até que ela estivesse sangrando. Então, ele me disse que, se eu me comportasse mal, era aquilo que iria acontecer: Serena seria punida. Siena se sentiu fria por dentro. – Serena não me culpava. Nunca. Era como se, apesar de sua própria confusão, ela soubesse que o que ele estava fazendo era tão prejudicial a mim quanto a ela. A voz de Andreas estava incrivelmente sombria: – Quantos anos você tinha quando isso aconteceu? – Cinco. Por longos segundos houve silêncio. Siena tentou ver algo nos olhos de Andreas. Sua mandíbula se contraiu e então ele disse:


– Quero que você me conte o que aconteceu em Paris naquela noite. Siena sabia que chegaria a isso. Ela devia a Andreas uma explicação. Não que isso pudesse mudar o passado ou absolvê-la de seus pecados. Ela lutou para permanecer impassível. – Naquela noite em Paris... Quando meu pai nos pegou... Entrei em pânico. Eu não tinha premeditado o que aconteceu. Fiquei impressionada com a força da atração entre nós. Eu havia observado você a noite toda. Eu nunca havia sentido nada assim antes... Siena olhou para suas mãos. – Eu sei que você pode não acreditar... Especialmente depois que eu tentei fazer você acreditar que eu era mais experiente do que era... – Ela estava com medo do que podia ver se olhasse para ele, então manteve o olhar baixo. – Quando meu pai apareceu, eu soube imediatamente o que eu havia feito... O quão ruim era. Serena estava passando por uma fase difícil. Ela estava em casa, em Florença, sendo supervisionada por um médico, mas só porque eu havia implorado para nosso pai não deixá-la sozinha... Eu estava com medo do que ele faria se achasse que o que havíamos feito havia sido... Mútuo. Andreas se sentou ao lado dela. Seus dedos estavam no queixo dela e ele a estava forçando a olhar para ele. Sua barriga saltou com o olhar em seus olhos. Era incendiário. – Você está me dizendo que você não tinha a intenção de me seduzir? Que não era apenas tédio? E só me acusou por medo do que seu pai faria? Siena engoliu em seco. Sua barriga se encheu de vergonha. – Sim. Eu era covarde. Eu escolhi proteger a minha própria irmã em vez de você... Mas eu não tinha ideia do quão longe meu pai iria. Andreas soltou seu queixo e se levantou. E então ele explodiu. – Theos, Siena. Você deliberadamente arruinou a minha vida só porque você estava com medo de enfrentar seu pai? Siena se levantou. Ela deveria ter esperado isso, mas ainda assim seu estômago se revirou.


– Sinto muito, Andreas... Sinto muito. Fui procurar por você naquela noite para tentar explicar... De repente, a voz de Siena sumiu. Tudo o que ela podia ver era os olhos de Andreas, queimando-a. Com um grito suave ela sentiu o mundo cair e só ouviu um leve xingamento antes de tudo ficar preto. CAPÍTULO NOVE

ANDREAS FICOU observando Siena adormecida na cama. Ele havia conseguido segurá-la antes que ela caísse no chão. Emoções se agitavam em seu interior. Uma pequena parte dele queria insistir que ela estava mentindo, mas ele havia visto a palidez em seu rosto. A maneira como seus olhos estavam para dentro, sem nem mesmo vê-lo. Ninguém poderia fingir isso. A magnitude do que isso significava, como isso mudava as coisas, era impossível de medir. Se fosse verdade. Andreas jogou o paletó em uma cadeira próxima, onde se sentou. Ele havia coberto Siena com um cobertor. Dali, ele podia ver sua silhueta perfeita e sentiu a pulsação inevitável do desejo. O problema era: poderia ele acreditar nela? A mente de Andreas voltou àquela noite cataclísmica e, ao pensar sobre isso sem a névoa de fúria, podia se lembrar que Siena estava fria, sim, mas havia algo mais em seus olhos. Terror? Seu pai havia agarrado o braço dela. Apertado demais. E havia dito as seguintes palavras: Você nunca iria beijar alguém como ele, não é? Andreas sentiu nojo. Ela tinha 18 anos. Inocente. Ingênua. Com medo do pai. E não por si, mas por sua irmã vulnerável. As perguntas se acumularam. Outra memória retornou. Ele havia sido chamado para o escritório de seu chefe após a surra e teve de explicar o que havia acontecido. Andreas tinha estado tão irritado com sua própria ingenuidade que tentara fazer parecer, pelo menos para si mesmo, como se


pudesse ter tido algum controle sobre a situação. Em um ponto, havia ouvido um barulho do lado de fora e ido até a porta, que estava entreaberta. Pensou que ele estava vendo coisas quando um flash de vestido de baile desapareceu em um canto. Havia sido Siena? Andreas franziu o cenho, tentando lembrar o que havia dito. – Eu nunca a teria tocado se soubesse que ela era tão venenosa... Ele riu. Como se tivesse alguma escolha! Andreas estava inquieto. Sem a fúria, sentiu-se desprotegido diante de todas essas revelações. E uma coisa era imutável: agora que Siena estava de volta em sua vida, ele não estava disposto a deixá-la partir novamente. QUANDO SIENA acordou, estava completamente desorientada. Ela não tinha ideia de onde estava. Estava em uma cama enorme e o que parecia ser um amanhecer enevoado vinha pela janela. Ela podia ver apenas o céu. Estava coberta com um cobertor macio e sua cabeça doía. Ela puxou o cobertor e viu que estava com uma camisa branca e uma saia preta. Tudo voltou. O casamento. Ele a trazendo até ali. Tudo. Ele havia ficado com raiva. E ela desmaiara. Lentamente, ela se levantou e tropeçou até o banheiro. Quando se viu no espelho, fez uma careta. Estava pálida, seu cabelo, bagunçado. Sentia-se pegajosa. Viu o chuveiro e desejou sentir-se limpa novamente, então se despiu e deixou a água cair. Após se lavar, saiu e se secou fora. Era hora de enfrentar Andreas. QUANDO SIENA surgiu na sala da suntuosa suíte, ela ainda não estava preparada para ver Andreas sentado em uma mesa, tomando café da manhã. Andreas baixou o jornal e se levantou. Ela se adiantou, com o coração batendo forte. – Desculpe-me. Eu não sei o que deu em mim... Obrigada por me deixar dormir. Andreas puxou uma cadeira e disse friamente: – Sente-se e coma algo.


O olhar de Andreas era intenso. Firmemente ele disse: – Sinto muito por gritar com você noite passada... Foi simplesmente... Muito para absorver. – Eu sei. Sinto muito. – Verifiquei o que você me contou sobre Serena. – Claro. Siena sentiu medo percorrer sua espinha junto com mágoa. Ele não havia confiado nela. – O que você vai fazer? – Nada. Sua irmã merece todo o cuidado depois de uma vida submetida àquele tipo de tratamento. Siena ficou atordoada. – Obrigada – disse ela. – Eu vou pagar de volta... o dinheiro. Andreas olhou para ela, incrédulo. – Com o salário que está ganhando? Você estaria pagando quando se aposentasse. – Vou arranjar outro emprego. Andreas estava sombrio. Serviu-lhe um pouco de café e empurrou um prato de pão em sua direção. – Você não precisa me pagar. Se você houvesse dito para que precisava do dinheiro, eu teria ajudado você. Agora foi Siena quem olhou para ele incrédula. – Perdoe-me se não acredito em você. Você me odeia. Você queria vingança. Se eu dissesse que minha irmã estava em uma clínica para curar seus vícios e problemas mentais, você teria zombado da minha cara. – Siena olhou para baixo. – Eu estava com medo que você pudesse tentar usá-la para se vingar de mim; afinal, foi isso que meu pai sempre fez. – Meu melhor amigo cometeu suicídio anos atrás. Eu não subestimo as doenças mentais. Eu poderia não estar inicialmente inclinado a ajudar, mas se você houvesse me explicado... – O quê? Explicado a tristeza de nossas vidas? O sádico assédio moral de nosso pai? Os olhos de Andreas se estreitaram. – Por que Serena não partiu quando pôde? – Por minha causa. E quando fiquei mais velha... Ela era


dependente demais do dinheiro do nosso pai para alimentar seus vícios. Quando ela poderia ter partido, ela não quis. – E, enquanto ela ficasse, você estava presa também? Siena assentiu. – Agora que eu sei... de tudo... Vou cuidar das contas de Serena. Você não tem que me pagar de volta. O coração de Siena deu uma guinada. – Preciso. Você não me deve qualquer coisa. Eu devo tanto a você. Se não fosse por mim, você nunca teria sido demitido ou teria que deixar a Europa. Para desespero de Siena, ela podia sentir as lágrimas brotando. – Você não sabe o quanto eu queria voltar no tempo, para desfazer o que aconteceu. – Isso é uma ilusão. Se voltássemos no tempo, nada poderia ter nos impedido de nos tocarmos. Era inevitável. O coração de Siena se acelerou. – O que você está dizendo? – Estou dizendo que a química entre nós era muito poderosa para ser ignorada. Na época e agora. – Agora? Andreas assentiu e se levantou. De repente ele estava muito perto, muito alto. Siena podia sentir o calor dele envolvê-la e uma onda de intenso desejo surgiu. – As coisas não estão acabadas entre nós, Siena. Andreas colocou a mão na nuca dela e a puxou. E então sua boca estava sobre a dela. Ela podia senti-lo endurecer contra sua barriga e gemeu. Siena levantou os braços e pôs as mãos no cabelo de Andreas, arqueando- se contra ele. O pensamento ressoou em sua cabeça. Ele sabia de tudo, mas ainda a queria. Ela acreditava que seu desejo havia morrido na noite em que ele a deixara ir. Sentiu-o erguê-la e cobrir rapidamente a distância de volta para o quarto. Ao deitá-la na cama, Andreas já estava abrindo os botões da camisa dela, e Siena fez o mesmo com a dele. Uma urgência que Siena nunca havia experimentado antes infundiu o ar em torno deles. Andreas abaixou o sutiã dela de modo


que seus seios se derramaram livremente. Ele abaixou o zíper da saia de Siena e a puxou por suas coxas. Era difícil respirar. Especialmente quando ele soltou o cinto e tirou a calça, levando junto a cueca. E então ele estava nu. E excitado. Andreas caiu ao lado dela, o nascer do sol do lado de fora fazendo seu corpo brilhar. Logo ambos estavam nus. Uma onda de algo assustadoramente tenro agarrou Siena. Ela levantou a mão e tocou o queixo de Andreas. Ele pegou a mão dela e a levou para baixo, enrolando os dedos em torno dele. Seus olhos se arregalaram quando ela sentiu sua força sólida. Sua mão se moveu para cima e para baixo em um ritmo instintivo, e Siena viu o rosto de Andreas corar. Seus seios estavam cheios e apertados, e a mão de Andreas desceu por seu corpo, separando suas pernas. Os dedos dele encontraram a evidência úmida de sua excitação. E, em seguida, ele enfiou os dedos dentro dela e o corpo de Siena se contraiu com prazer. A voz de Andreas era gutural, áspera. – Você está tão pronta para mim. Eu quero você agora. Senti sua falta. Senti sua falta. O coração de Siena parou por um longo segundo. Ela reprimiu a alegria momentânea que suas palavras haviam provocado. Ele estava falando no calor do momento, apenas isso. Ela sentiu Andreas retirar a mão dela e ouviu o barulho de plástico rasgando. E então ele estava de volta, a cabeça de sua ereção pressionando contra seu corpo, provocando-a. Siena abriu mais as pernas, mordeu o lábio e se arqueou. O prazer não era como qualquer coisa que ela havia experimentado. Era mais intenso que tudo. Andreas deslizou profundamente em seu corpo antes de recuar novamente e depois voltou para dentro. A cabeça de Siena caiu para trás e ela olhou para ele, seu peito tão cheio que ela só conseguiu suspirar quando ele deslizou tão fundo que pareceu tocar seu coração... E nesse momento ela soube que o amava. Ela o amava como nunca havia amado outro ser, nem mesmo sua irmã.


Mas ela não conseguiu assimilar totalmente. Andreas estava retirando sua capacidade de pensar. A dança intensa entre seus corpos era seu único foco. E então se tornou demais. Ela não podia aguentar. Enrolou as pernas em torno dos quadris de Andreas e seus peitos foram espremidos juntos. Siena gritou conforme a emoção subia: ela pensou que nunca sentiria aquilo novamente. Seu corpo se apertou em torno de Andreas, instigando-o até que seus corpos eram apenas um emaranhado suado de membros nos lençóis da cama. QUANDO SIENA acordou novamente, ela estava novamente desorientada, mas desta vez porque Andreas estava na cama com ela, olhando para ela. Ela corou e ele sorriu, seu coração palpitando. Tanta coisahavia acontecido em 24 horas. – Eu quero que você venha para casa comigo, Siena. Essas palavras causaram uma guinada no peito de Siena. – Casa? Para o seu apartamento? Andreas assentiu. – Eu não vou aceitar “não” como resposta. Você vem comigo, Siena. Ela olhou para ele por um longo momento. Ele tinha aquele olhar que ela reconheceu. Um pouco severo. Determinado. Sentindo-se claustrofóbica sob seu olhar, Siena desviou os olhos e viu o roupão de banho no pé da cama, onde ela havia jogado antes. Movendo-se antes que pudesse perder a coragem, sentou-se e estendeu a mão para ele, puxando-o em torno dela. Ela saiu da cama para ficar longe dele, tentando não pensar no quão desgrenhada se sentia. No quão deliciosamente saciada. – Andreas... Ele se deitou contra os travesseiros, os braços atrás da cabeça, e arqueou uma sobrancelha. – As coisas estão... diferentes agora. Devo-lhe uma enorme quantia em dinheiro. – Siena corou. – Não me senti confortável aceitando as joias, mas senti que cuidar de Serena era mais importante do que a minha consciência culpada. Mas agora não vou me sentir confortável a menos que você me deixe chegar a um acordo.


Eu não posso. Não é certo. Não com tudo o que aconteceu. Prefiro devolver seu dinheiro e tentar cuidar de Serena sozinha do que deixálo pagar. Andreas se sentou. – Isso não é uma opção. Não agora que eu sei de sua situação. Você vai me deixar pagar, Siena. – Mas você não consegue ver? Serei devedora para sempre. Não posso viver assim. Meu pai era um tirano... – Ela viu um olhar perigoso no rosto de Andreas, mas se apressou. – Não estou dizendo que você é igual... Mas eu não poderia suportar voltar a ter esse tipo de... obrigação. Andreas apoiou os braços sobre os joelhos, ainda parecendo intimidador, apesar de estar nu sob os lençóis. – Você não estava tão confusa quando partiu com uma fortuna em joias. O rosto de Siena ficou quente. – Eu não achei que veria você novamente. Só peguei porque pensei que estava fazendo a melhor escolha. Você ficou muito feliz em me deixar ir embora. E você teve uma recompensa. Seus olhos brilharam, mas ele disse suavemente: – É verdade. Afinal, ganhei sua preciosa inocência. Mas agora eu quero que você volte para mim. Volte para mim. Siena se sentiu fraca. Perguntas inundaram sua cabeça: por quanto tempo? Por quê? É apenas pelo sexo? Uma voz a respondeu: Claro que é apenas pelo sexo. – Eu... – Nós dois sabemos que posso deixar você deitada de costas gemendo de desejo em segundos... Não ache que não vou lhe provar que você não consegue simplesmente ir embora. Andreas não gostou da sensação de pânico que o invadiu quando os olhos dela se arregalaram. Ele não tinha nada para segurar Siena. Somente um completo canalha iria fazê-la devolver o dinheiro do tratamento de sua irmã. Tão baixo que ele quase não a ouviu, Siena disse: – Se eu voltar para você, quero que as coisas sejam diferentes. Andreas ficou imóvel, não gostando da forma como o seu sangue


subiu. – Eu quero encontrar um emprego... Um melhor, se eu puder... E começar a devolver o dinheiro. – Andreas abriu a boca, mas Siena ergueu a mão, impedindo-o. – Isso não é negociável. Eu tenho algumas habilidades... Eu posso digitar e arquivar. Eu costumava trabalhar como secretária para o meu pai quando a dele estava de folga e trabalhei algumas vezes em uma escola local. Espero que isso conte para alguma coisa. Siena continuou: – Além disso, não quero nunca mais ver outra peça de joalheria enquanto eu viver. – Mais alguma coisa? – Tão logo esta... Química... Seja o que for... Acabar, nós terminamos. Porque não vai durar para sempre, não é? Não pode... Havia um tom de desespero em sua voz que ressoou em Andreas e ele estendeu a mão. – Não acabou ainda... Venha cá, Siena. Ela ficou teimosamente distante. – Você concorda? Com o que eu disse? – Sim – rosnou Andreas. – Agora venha aqui. Seis semanas depois. – Boa noite, Siena. Vejo você na segunda-feira. Tenha um bom final de semana. Siena sorriu. – Boa noite, Lucy. Espero que sua garotinha melhore. A mulher partiu e a porta se fechou atrás dela. Siena olhou ao redor e se espreguiçou. Ela era a única restante na sessão de datilografia. Receberia seu primeiro salário na próxima semana e era quase embaraçoso o quão animada estava sobre isso. Às vezes, ela não conseguia entender como tinha sorte: Serena estava segura e recebendo o melhor tratamento, e ela estava cumprindo seu desejo de ser independente. Bem, tão independente quanto poderia ser, com um amante dominante que se ressentia com tudo que a afastava dele.


Ela se levantou e foi pegar o casaco. Olhou para fora da janela. Um surto de desejo aqueceu suas entranhas quando viu um familiar carro esportivo prateado e Andreas de pé ao lado dele com um telefone na orelha. Ela não o via há dois dias, pois ele havia estado em Nova Iorque a negócios. Siena estava trabalhando ali há quase um mês, mas ele insistia em pegá-la todos os dias ou mandar seu motorista fazê-lo. Ele resmungou na cama um dia de madrugada: – Quero que você venha comigo. Por que você insiste em trabalhar, quando não precisa? Siena revirou os olhos. Era um argumento familiar, mas ela não quis expor diretamente que, um dia, quando Andreas parasse de desejá-la, ela estaria sozinha novamente. Fora ele quem a havia pacientemente ajudado a montar um currículo que flagrantemente demonstrava que ela não tinha qualificações. Ele a puxara em seu colo e se sentara em seu escritório em frente ao computador. – De qualquer forma, isso não importa – dissera. – Você vai entrar no escritório e eles vão babar tanto que sequer vão perceber o que está em seu currículo... Era diferente daquela vez. Ele estava diferente. Não mais aberto, exatamente, mas ela estava vendo um lado dele que a fazia se apaixonar por ele um pouco mais a cada dia. Estava mais leve e a fazia rir. Quando ela chegou do lado de fora, sua respiração ficou presa na garganta com o olhar que ele lhe deu. Ela percebeu o interesse das mulheres que passavam e uma onda feroz de possessividade a agarrou. Uma reação primitiva de uma mulher com seu companheiro. Ele colocou o telefone no bolso e a agarrou, dando-lhe um beijo não indicado para o local público. Siena não se importou. Quando Andreas se afastou, ele riu e disse: – Sentiu minha falta? Siena corou. Ela era tão primitiva perto dele. Simulou um visual arejado e disse:


– Nem um pouco. Quanto tempo você ficou fora mesmo? Andreas fez uma careta. – Você vai pagar por isso. Mais tarde. Ele recuou e abriu a porta do carro, deixando Siena entrar. Quando ele entrou, ela se sentiu inexplicavelmente tímida. – Meu chefe me disse que posso ganhar uma promoção... Ir trabalhar com alguém como secretária pessoal dentro de um mês. Andreas olhou para ela e colocou uma mão em sua perna, debaixo da saia. – Posso oferecer-lhe uma promoção, se você quiser... Para minha cama. Siena revirou os olhos. – Eu já estou na sua cama. Você sabe que eu não vou desistir do meu trabalho... Andreas revirou os olhos e colocou a mão no volante. – Pelo menos eles não vão exigir sua atenção no final de semana. Você é minha pelas próximas 48 horas, DePiero. Siena percebeu, então, que eles não estavam indo em direção ao apartamento dele e perguntou: – Para onde vamos? Andreas olhou para ela e pareceu um pouco envergonhado. Instantaneamente os olhos de Siena se estreitaram. – Andreas Xenakis, o que você está aprontando? Ele suspirou. – Estamos indo para Atenas. – Como se ele pudesse vê-la começar a protestar, ele levantou a mão e disse: – Prometo que você vai estar de volta em sua mesa às 9h na segunda-feira. – Mas eu não tenho nada aqui comigo... Você tem que ir a algum evento? Andreas assentiu. – É um baile de caridade. Mandei minha secretária ir ao apartamento e pegar algumas roupas e seu passaporte. – Minha irmã mais nova acaba de ter outro bebê. Prometi aos meus pais que apareceríamos para o almoço no domingo, antes de voltarmos para casa. Siena reprimiu as vibrações em sua barriga quando ele disse “nós”.


– Ah... – disse com uma voz cuidadosamente neutra. – Parece ótimo. Ela evitou os olhos de Andreas. NA NOITE seguinte, no salão de baile do hotel onde estavam hospedados, Andreas olhou para Siena caminhando em meio à multidão enquanto ela voltava do banheiro. A dor que parecia ter estabelecido residência em seu estômago se intensificou. Ela estava usando o vestido preto que havia usado em sua primeira noite juntos, só que desta vez ela usava apenas o colar de gaiola. A maquiagem de Siena era sutil como sempre, mas ainda assim ela suplantava todas as mulheres na sala. Ela brilhava. Siena o viu no meio da multidão e sorriu. Andreas queria sorrir de volta – podia sentir o calor subindo dentro dele, algo mais profundo que mera luxúria e desejo –, mas algo o deteve. Ele viu o sorriso de Siena vacilar um pouco e desaparecer. Seus olhos caíram e Andreas sentiu inexplicavelmente como se estivesse perdendo algo. Alguém acenando chamou sua atenção e ele olhou para ver um rosto familiar com alívio. Quando ela chegou ao lado dele, no entanto, ele não conseguiu evitar colocar um braço ao redor dela, saboreando sua proximidade. Camuflando suas emoções turbulentas, ele disse: – Gostaria de conhecer a designer de seu colar? Ela é esposa de um amigo meu e eles estão do outro lado da sala. A mão de Siena voou para a corrente de ouro e ela olhou para cima, com os olhos brilhantes. – Sério? Angel Parnassus está aqui? Conforme Andreas conduzia Siena pela mão por entre a multidão, ele reprimiu a forma como a sua simples alegria fazia algo dentro dele se enfraquecer. As coisas podiam ter mudado, mas o essencial era o mesmo. Siena estava com ele só até que ele pudesse deixá-la ir... E esse dia chegaria. Em breve. Capitulo dez ANDREAS HAVIA arranjado um helicóptero para levá-los de Atenas


no domingo para uma pequena pista de pouso perto da cidade de seus pais. Siena não conseguia conter a apreensão e percebeu a tensão de Andreas. Curiosamente, Siena perguntou: – Com que frequência você vai para casa? – Não o suficiente para a minha mãe. Siena sorriu, mas Andreas não. Ela não conseguia entender sua relutância em voltar para casa. Se ela houvesse vindo de uma família como a dele, não achava que os teria deixado... Ela podia ver a cidade agora, colorida e empoleirada precariamente sobre uma colina acima deles. – É isso? – Sim – respondeu Andreas. Enquanto dirigiam, Siena olhou em volta com interesse. Parecia modestamente próspera, ruas largas e limpas, pessoas andando por tendas e lojas coloridas. Pareciam amigáveis e felizes. Dirigiram pelas ruas sinuosas, até que surgiram em uma praça pitoresca, com uma igreja medieval e árvores muito antigas. Andreas parou e Siena soltou o cinto de segurança. – Isso é lindo. – É possível enxergar Atenas, em um dia claro. – Posso imaginar. Andreas saiu e ela seguiu o exemplo, e de repente de uma esquina veio um bando de crianças gritando. Elas cercaram Andreas e o coração de Siena se apertou ao vê-lo levantar um pequeno com um enorme sorriso no rosto. Ela intuiu que ele poderia não gostar de voltar para casa, por qualquer motivo, mas amava sua família. Ele colocou a criança no chão e as outras crianças desapareceram tão rápido quanto haviam aparecido. Depois estendeu a mão para ela e sorriu ironicamente. – Alguns dos meus sobrinhos. Eles ouviram o helicóptero. Quando eles se aproximaram de uma casa modesta, ouviram gritos e risos vindo de dentro e o choro de um bebê. – Tudo bem? Ela sorriu e engoliu em seco.


– Tudo bem. – Mas não estava. Porque ela de repente percebeu que, se a família de Andreas era tão ideal quanto ela temia, ela ficaria com o coração partido. Mas era tarde demais para voltar atrás. Uma pequena mulher de cabelo grisalho havia saído e estava abaixando Andreas para beijá-lo nas bochechas. Quando ele se endireitou, ela tinha lágrimas nos olhos e dizia: – Meu filho... Meu filho... Em seguida, Andreas apresentou Siena em grego, que Siena só entendia um pouco. Sua mãe a olhou de cima a baixo e, em seguida, pegou-a pelos braços em um aperto surpreendentemente forte. Ela assentiu, como se Siena houvesse passado em algum teste, e a puxou para seu enorme seio macio, beijando-a sonoramente. Siena sentiu-se inexplicavelmente tímida e corou profusamente, não acostumada àquela quantidade de toques de uma estranha. A mãe de Andreas pegou sua mão e a levou para dentro da casa. Parecia haver uma quantidade imensa de pessoas e Siena tentou se lembrar de todos os nomes das irmãs de Andreas: Arachne, que tivera o novo bebê; Martha, Eleni, Phebe e Ianthe. Eram todas muito bonitas, com olhos brilhantes e grandes sorrisos. Andreas levou Siena para conhecer seu pai, que estava bastante inclinado com artrite, mas era fácil ver de onde a boa aparência de Andreas havia vindo. O homem era naturalmente orgulhoso, seu rosto marcado com as linhas fortes de seus antepassados. O almoço foi um tanto caótico, com crianças entrando e saindo e todos falando. Mas o amor e o carinho eram palpáveis. Andreas tinha um de seus sobrinhos em seu colo e o ventre de Siena se apertou quando viu o quão à vontade ele estava com as crianças. Quando Arachne, a sua irmã mais nova, se aproximou de Siena depois do almoço com o novo bebê, Siena congelou com pânico. Ser confrontada com aquilo despertava os seus desejos e medos mais profundos. Pois como ela poderia ser uma mãe, quando ela não tinha ideia de qual era a sensação de ter uma mãe? Mas Arachne não aceitou “não” como resposta e entregou o bebê para Siena, mostrando-lhe como segurá-lo. Andreas havia visto o olhar de horror de Siena quando Arachne se


aproximou dela com o bebê e se levantou, irritado com o pensamento de que ela estava rejeitando sua família, mas sua mãe o impediu. – Espere. Então Andreas viu o olhar de horror ser substituído por um de intensa admiração. Ele percebeu que não havia sido horror. Era pânico. Ele se lembrava de seu próprio pânico quando segurara um bebê pela primeira vez. Percebeu que Siena nunca havia segurado um bebê. Antes que ele pudesse impedir a si mesmo, estava caminhando para se sentar ao lado dela. Ela olhou para ele e sorriu timidamente. – Ela é tão perfeita e pequena. Tenho medo de machucá-la. – Você não vai – disse Andreas, através do aperto na garganta. Ver o bebê no peito de Siena, seu cabelo caindo sobre a bochecha, seu dedo apertado em uma pequena mão gordinha... Andreas temeu o inevitável surgimento da claustrofobia, mas ele não veio. Outra coisa veio em seu lugar, uma emoção que ele não conseguia entender e que não era a dor habitual por seu melhor amigo morto que ele geralmente sentia nesse lugar. Era algo novo. Muito mais frágil. Tenro. Perigoso. Quando o bebê choramingou, Siena ficou tensa. – O que eu fiz? Andreas usou isso como uma desculpa para desfazer aquela imagem perturbadora, pegando sua sobrinha e colocando-a no ombro, acariciando suas costas como um profissional. – Nada. Ela provavelmente está com fome de novo. Sua irmã veio e levou o bebê das mãos de Andreas, que observou Siena observando Arachne e o bebê com um olhar quase melancólico. Isso o impeliu a colocar-se de pé e pegá-la pela mão. – Devemos partir se não quisermos perder o voo. Então a mãe de Andreas apareceu falando rápido demais para Siena entender. – O que foi que ela disse? – Ela perguntou se eu ia ficar para a noite... Siena não podia deixar a agitação boba, mas, em seguida, Andreas a lembrou: – Você tem que voltar para o trabalho pela manhã. Trabalhar.


– Ah, sim... Os olhos de Andreas brilharam. – Você não vai querer faltar, não é? Siena olhou para ele e viu o desafio. Ele ficaria se ela cedesse sobre seu trabalho. – Não, não vou. A família de Andreas se despediu amigavelmente, com Andreas sofrendo com beijos e abraços de suas irmãs e sobrinhos. E então sua mãe abraçou Siena novamente. Ela olhou para Siena com amáveis olhos escuros e Siena sentiu como se ela pudesse ver seus desejos e dores mais profundos. Uma bola de emoção foi se espalhando dentro de Siena e, por um segundo, ela quis chorar e enterrar a cabeça no peito da mulher, para buscar uma espécie de conforto que ela só tinha sonhado existir. Mas, em seguida, Andreas estava lá e o momento se dissipou. E logo eles estavam de volta ao jipe e ao helicóptero e, quando chegaram ao avião, Siena sentiu como se estivesse sob controle novamente. – O que você achou? Siena se virou para Andreas. Ela havia estado evitando olhar para ele, porque ainda se sentia um pouco sensível com todo aquele amor e carinho... – Eu gostei muito deles. – Ainda assim... Não é realmente o seu lugar, não é? A natureza rústica de um recanto como aquele e uma grande família confusa? Siena não sentiu nada por um segundo, como se estivesse se protegendo, e então a mágoa floresceu. Parecia que nada havia realmente mudado, apesar das últimas semanas. Siena forçou uma risada afiada. – Como você mesmo disse, nós somos de mundos completamente diferentes. Andreas não gostava de reconhecer que ver Siena naquele ambiente não havia sido tão estranho como ele pensava que seria. Ela não era a mulher que ele acreditava que ela fosse. Nem um pouco. Andreas assegurou-se de que as emoções ambíguas que evocara


quando a vira segurar sua sobrinha bebê havia sido apenas uma resposta natural à sua compreensão de que um dia ele também teria que se estabelecer e produzir um herdeiro. Pela primeira vez essa ideia não enviou uma onda de rejeição através de seu corpo. Mas não seria com Siena DePiero Nunca. NA CAMA naquela noite, Siena e Andreas se juntaram de uma forma que Siena podia apenas lamentar. O calor entre eles era inevitável. Ela desejou poder ser mais forte, mas sentia-se como se o tempo estivesse se esgotando, e então ela agarrou Andreas entre suas pernas com um aperto feroz, incitando-o de modo que, quando a explosão veio, foi mais intensa do que nunca. Quando eles estavam deitados depois e ela estava meio adormecida, Siena abriu os olhos. O que ela havia dito anteriormente sobre a família de Andreas não era verdadeiro e ela estava cansada de mentir para ele. Ela se virou para olhar para o rosto de Andreas. Ele abriu os olhos sonolentos e o calor chiou entre eles novamente. Já. Siena o ignorou e colocou a mão sobre a de Andreas quando ele começou a explorar sua barriga. – Não... Eu queria dizer uma coisa para você... Ela respirou fundo. – Mais cedo, quando você disse que sua cidade e conhecer sua família provavelmente não era muito para mim, eu concordei com você... Bem, eu não deveria. Porque não é verdade. Eu sonhei toda a minha vida com uma família como a sua. Eu desejava saber coma seria crescer rodeada de amor e carinho... Siena não conseguia ler a expressão de Andreas na penumbra, mas ela poderia imaginar que não iria gostar. – Quando sua mãe me abraçou mais cedo... Ela realmente me abraçou. Eu nunca senti isso antes e foi incrível. Fico feliz por você ter me levado. Foi um privilégio conhecê-los. Houve um longo momento de silêncio e, em seguida, Andreas disse em voz firme: – Você deveria dormir. Você tem que acordar cedo.


QUANDO A respiração de Siena se estabilizou e ele sabia que ela estava dormindo, Andreas saiu da cama, vestiu um calção largo e deixou o quarto. Ele foi até a sala e passou um longo tempo olhando pela janela. Eventualmente, acabou reconhecendo que não poderia continuar lutando. Em seguida, entrou em seu escritório, abriu o cofre e tirou uma pequena caixa. Sentou-se, abriu-a e olhou para ela por um longo tempo. Pela primeira vez desde que havia encontrado Siena novamente a dor latente de necessidade e as emoções que ela causava dentro dele pareceram se dissipar. Puxou uma gaveta e colocou a caixa dentro. Era a mesma sensação que havia sentido quando colocara os olhos sobre Siena pela primeira vez após cinco anos, só que desta vez a decisão veio com muito medo, e não um sentimento de triunfo. Uma semana depois Era sexta-feira à noite e Siena estava saindo do trabalho. O motorista de Andreas estava esperando por ela do lado de fora do escritório e ela ficou na parte de trás do carro. Andreas havia ligado mais cedo dizendo que havia ficado preso em Paris, perguntando se ela iria encontrá-lo se ele providenciasse transporte. Siena havia dito que sim. Então, ela estava sendo levada para seu avião particular. Encheu-se de ansiedade. Não tinha certeza de como seria estar em Paris com Andreas de novo... Ele estava com um humor estranho durante toda a semana. Monossilábico e ainda olhando para ela intensamente. Uma noite ele a surpreendera perguntando-lhe abruptamente por que ela amava tanto o colar de gaiola. Ela respondera que para ela simbolizava a liberdade. Sentira-se uma boba. À noite, quando eles haviam feito amor, parecia haver alguma urgência. Siena se sentia ainda mais destroçada a cada vez. Na noite do dia anterior, ela ficara horrorizada ao perceber que havia sido levada às lágrimas e rapidamente se levantara para ir ao banheiro, com medo de Andreas notar... Siena sabia que não seria capaz de aguentar por muito mais tempo. Estar com Andreas a estava destroçando. Talvez Paris fosse o lugar


onde ela devesse acabar com isso de uma vez por todas, se ele não o fizesse. Quando ela chegou a Paris, seu coração estava pesado e o clima combinava com seu estado de espírito: cinza e tempestuoso. O hotel estava agitado e, com um solavanco, Siena percebeu que esse devia ser o fim de semana do baile de debutantes. Certamente, pensou freneticamente, Andreas não seria tão cruel... Mas, então, ele estava lá, caminhando em direção a ela, e tudo no mundo de Siena se resumia a ele. Ele a beijou, mas foi um beijo superficial, e com uma careta ele lançou um olhar para as jovens e suas comitivas de estilistas, cabeleireiros e maquiadores. – Eu havia esquecido que o baile era este fim de semana... Alívio inundou Siena e ela se sentiu um pouco fraca. – Eu fiz reserva para o jantar – disse Andreas. – Vamos partir em uma hora. Só tenho algumas coisas para terminar e depois vou encontrá-la no quarto. Quando Andreas chegou, estava em um terno preto elegante, com a camisa aberta, e ela usava um vestido dourado. Solicitamente, Andreas a pegou pelo braço e a levou até o carro. – O que está pensando? Ele se virou para olhar para ela e sorriu forçosamente. – Nada importante. Ele desviou o olhar novamente. O pressentimento de Siena aumentou. Eles foram levados a um novo restaurante no piso superior de uma famosa galeria de arte. A Torre Eiffel estava tão perto que Siena sentia como se pudesse tocá-la. Eles estavam terminando sua refeição, quando Siena percebeu que eles mal haviam conversado. Como se mal se conhecessem. A conta chegou e de repente Siena sentiu como se algo estivesse escorregando para fora de seu alcance. A sensação de pânico tomou conta dela, mas agora Andreas estava de pé e eles estavam saindo... Ela pegou a mão dele e pensou que, se ele não dissesse nada, ela também não diria. Depois de uma breve conversa com o gerente do hotel, Andreas virou-se para Siena. – Um dos convidados no baile teve um ataque cardíaco. Preciso


garantir que tudo corra bem. Siena colocou a mão em seu braço. – Se quiser, posso ir com você... – Não, vá para a cama. Vejo você pela manhã. Siena o observou partir. Sentiu uma sensação de inutilidade. Depois de se deitar, Siena tentou ficar acordada por muito tempo para ouvir Andreas voltar, mas o sono a ganhou. Quando acordou, estava grogue. – Siena... Preciso que você se levante... Eu separei algumas roupas para você. Siena se sentou e viu Andreas se empertigar. – Vou esperar por você lá fora. Ele estava vestido com jeans e um suéter leve. Ela viu uma pilha de roupas no pé da cama. Sentindo-se tonta e confusa, sem saber se estava sonhando, Siena se levantou e se vestiu rapidamente. Ela olhou para fora por um segundo e viu que estava perto de amanhecer. Onde Andreas havia estado a noite toda? Puxando o cabelo para trás em um nó, ela saiu do quarto. – Onde você estava? – Em nenhum lugar importante. Quero levá-la a um lugar... Ele veio e a tomou pela mão. Havia uma intensidade em sua expressão que Siena não conseguia decifrar, então ela apenas disse: – Certo. Quando eles estavam no elevador, Andreas olhou para frente e não disse nada. Siena tentou impedir sua mente de saltar para todos os tipos de cenários. Eles saíram do hotel, intensificando a sensação de déjà-vu de Siena, e, em seguida, ela viu a enorme moto brilhante. Siena piscou. Talvez ela estivesse sonhando. Andreas soltou sua mão e pegou um capacete. Quando ele a puxou para colocá-lo na sua cabeça, Siena soube que isso não era um sonho. Ele lhe mostrou onde colocar o pé e, com a mão em seu ombro para se equilibrar, Siena passou a perna por cima da moto, deslizando para o banco para trás. Ele se levantou e empurrou para baixo e a moto ganhou vida. Andreas


puxou um dos braços de Siena em torno de sua cintura, e depois o outro, mostrando-lhe onde segurá-lo. Seu coração martelava e ela sabia que estava definitivamente acordada quando eles partiram. Inacreditavelmente, era a primeira vez de Siena em uma moto, e ela instintivamente apertou os braços ao redor da cintura de Andreas. Era emocionante... O vento chicoteando por eles, sentir a moto mergulhar perigosamente quando Andreas fazia curvas... Quando pararam em um sinal vermelho, ele virou a cabeça e disse acima do ruído: – Tudo bem? – Sim! Siena sentia como se eles fossem as únicas pessoas no mundo. Apenas um punhado de carros passou por eles. Siena olhou para as lojas fechadas e bares que apenas algumas horas antes estavam repletos de pessoas. A Torre Eiffel apareceu a distância, cinza e estoica na luz da aurora. Eles abriam caminho pelas ruas e Siena notou que eles estavam começando a subir. E então ela viu a enorme forma branca da Sacré Coeur à distância, através de uma série de sinuosas ruas cada vez mais estreitas que se aproximavam cada vez mais, até Andreas parar a moto sob algumas árvores. Ele saiu e tirou o capacete, ainda com aquele olhar enigmático no rosto. Siena tirou o capacete e perguntou: – Por que estamos aqui? Andreas pegou o capacete e disse: – Ainda não. Mais alguns minutos. Chegando às portas principais, Siena se virou e viu toda Paris a sua frente. Ela havia visto essa vista antes, mas nunca assim, de madrugada, sem hordas de turistas e com uma névoa escura fazendo tudo parecer nebuloso e onírico. – Vamos sentar. Sentaram-se e ele murmurou alguma coisa que Siena não entendeu e, em seguida, disse: – Está muito frio. A pedra estava fria, mas Siena não a teria trocado por nada no mundo.


– Não, está tudo bem... Andreas, por que estamos aqui? Pela primeira vez, Siena notou que Andreas estava evitando seus olhos e então ela olhou mais de perto. Seu coração deu uma guinada. Ela quase poderia dizer que ele parecia nervoso... Ele pareceu respirar fundo e então se virou para olhar para ela. A expressão torturada em seu rosto quase a deixou sem fôlego. Então ele tomou suas mãos nas dele e ela. – Naquela manhã... Na manhã seguinte... Quando você saiu do hotel e eu subi na minha moto e parti... Vim para cá. Vim para este exato local e sentei-me nestes degraus e olhei para esta vista e amaldiçoei você. Andreas apertou as mãos dele, como que para tranquilizá-la, e então continuou. – Mas, principalmente, eu me amaldiçoei por ser tão estúpido... Veja, eu pensei que eu era o tolo, por ter sido seduzido por você. Eu pensei que você fosse como as outras debutantes. Experiente. Mimada e entediada. Siena tentou falar. – Andreas... Ele balançou a cabeça. – Não. Deixe-me falar. O coração de Siena saltou e ela balançou a cabeça. Andreas parecia incrivelmente jovem naquele momento. – No momento que a vi naquela sala, eu quis você. Quando surgiu a oportunidade de ficar a sós com você, eu me agarrei a ela. E você não era nada como eu esperava. Você foi doce e engraçada, tão sexy e inocente. Sua boca se retorceu. – E ainda estas foram exatamente as coisas que pensei que você havia fingido quando ficou ao lado de seu pai e me acusou. Quando os homens dele me levaram para fora, senti que merecia uma surra por ter sido tão enganado... Quando fui chamado ao escritório do meu chefe, ataquei você... Você recebeu todo o peso da minha dor. Veja, eu era arrogante o suficiente para acreditar que nenhuma mulher poderia me encantar. Eu havia jurado sair da minha pequena cidade e ser alguém. Eu não seria envolvido em uma domesticidade sufocante


como meu pai e desperdiçar a minha vida... E eu não ia me apaixonar por uma garota e descobrir que ela não me amava, como meu amigo Spiro fez. No entanto, quando coloquei os olhos em você, você me virou do avesso e eu sequer percebi. Siena não sabia se estava respirando. Os olhos dele ardiam como duas safiras escuras. – Depois do que aconteceu, eu culpei você. Mas você não saía dos meus pensamentos. Eu queria fazer parte do seu mundo. Provar que você me queria. Você ouviu aquela conversa com meu chefe, não é? Os olhos de Siena estavam presos nos de Andreas. Lentamente, ela balançou a cabeça, e sussurrou: – Eu fui à sua procura. Eu queria pedir desculpas, explicar. – Eu provavelmente não teria acreditado em você, assim como eu não lhe dei a oportunidade de falar na manhã seguinte. As mãos de Siena se apertaram nas dele. Sua voz era triste. – Você teve que deixar a Europa. Eu fiz isso com você. Andreas livrou uma mão e levantou-a para colocar um pouco de cabelo rebelde atrás da orelha de Siena. Ele sorriu. – Sim, e foi provavelmente a melhor coisa que poderia ter acontecido comigo. Fui para a América cheio de ambição, raiva e energia. Isso chamou a atenção de Ruben... Eu não acho que eu sequer sabia do meu próprio potencial até ir para o exterior. Siena disse ferozmente. – Você teria conseguido de qualquer jeito. A mão de Andreas segurou seu queixo. – Será que importaria se eu fosse apenas o gerente de algum hotel de beira de estrada? O coração de Siena parou por um segundo e depois voltou a galopar. Ela balançou a cabeça e disse honestamente: – Não, nem um pouco. Andreas segurou a mão dela novamente. Ele parecia triste. – Há algo que eu deveria ter dito a você muito antes... Quando você me perguntou se eu queria ter filhos... Siena se lembrava do que ele havia dito naquela noite e começou a


falar, não querendo ser lembrada, mas Andreas apertou a mão dela. – Não. O que eu disse foi imperdoável e cruel. Você tocou em uma ferida e eu ataquei. E eu sinto muito. Você não merecia isso. Qualquer criança teria sorte em tê-la como mãe, Siena. Siena sentiu as lágrimas brotarem e piscou rapidamente. Seu pedido de desculpas era profundo e ela não conseguia falar, então ela apenas balançou a cabeça em reconhecimento. Andreas soltou um suspiro e enfiou a mão no bolso de sua calça jeans para pegar alguma coisa. E então ele ficou de joelhos diante dela, com Paris banhada na luz do alvorecer atrás dele. Os olhos dela ficaram enormes quando ela viu que ele segurava uma pequena caixa de veludo preto. As mãos dele tremiam. Ele olhou para ela e admitiu: – Eu não posso acreditar que estou fazendo isso... Eu sempre associei isso com a morte da ambição e sucesso. Eu tinha horror a de alguma forma acabar de volta na minha cidade natal, não tendo nada. Pensei que meu pai havia sacrificado muito por não ter aproveitado sua bolsa de estudos da faculdade, engravidando minha mãe e se casando com ela, tendo um filho após o outro. – Mas seus pais... – disse Siena suavemente, ainda comovida com o pedido de desculpas, tentando não deixar seu coração saltar para fora do peito quando ela pensava naquela caixa. – Eles criaram algo maravilhoso. E se você não houvesse tido essa base segura, você poderia nunca ter acreditado que poderia escapar. Andreas sorriu ironicamente. – Eu sei... Agora. – Seu sorriso se desvaneceu um pouco. – Quando você admitiu como se sentiu sobre o encontro com a minha família... Minha mãe... Eu sabia que tinha que parar de lutar. Siena olhou da caixa para Andreas. Ele ainda estava de joelhos. – Andreas... Ele abriu a caixa e Siena olhou para baixo para ver um lindo anel vintage aninhado nas dobras de seda. Ele tinha um grande diamante redondo no centro e era cercado por pequenas safiras em ambos os lados. Era ornamentado, mas simples, e Siena acreditou ser muito


antigo. Andreas soou rouco. – Eu sei que você disse que nunca queria outra joia, mas esse foi o anel de noivado da minha avó. A minha mãe me deu para eu dar para a minha futura esposa quando eu tinha 18 anos e estava vindo para Atenas para trabalhar pela primeira vez. Eu me ressenti com a implicação de que eu teria que me casar. Eu o odiava e tudo o que ele simboliza e eu jurei que nevaria no inferno antes que eu o desse a alguém. Consequentemente, ele ficou na parte de trás de muitos cofres ao longo dos anos, até esta semana. Quando eu o tirei e mandei para limpeza. Porque eu finalmente encontrei a única pessoa para quem eu poderia pensar em dá-lo. Siena se sentiu um pouco anestesiada. Andreas ergueu o anel, fora da caixa, e pegou a mão dela. Ela podia senti-lo tremendo. – Siena DePiero... Você me daria a honra de se tornar minha esposa? Porque você está na minha cabeça, no meu coração e na minha alma, e tem estado há cinco anos, desde que eu vi você pela primeira vez. Primeiro você era um fascínio, então se tornou uma obsessão, e agora... Eu amo você. Então, por favor... Você quer casar comigo? Siena abriu a boca, mas tudo o que saiu foi um soluço. Seu coração parecia estar se partindo. As lágrimas nublaram sua visão. – Eu... – Ela não conseguia. Ela colocou a mão na boca, tentando conter o que sentia. Ela viu o olhar de Andreas... A dor súbita conforme ele perdia a cor. Ele pensou que ela estava dizendo não. Siena colocou as mãos trêmulas em torno do rosto de Andreas e olhou para ele, lutou para conter sua emoção apenas por um momento. – Sim... Andreas Xenakis... Eu quero me casar com você. – Ela deu um grande suspiro trêmulo. – Eu amo tanto você que eu não quero nunca mais viver sem você. Isso foi tudo o que ela conseguiu antes de colocar os braços ao redor de seu pescoço e soluços ruidosos surgirem. As mãos dele estavam em suas costas, acalmando-a até que os soluços passassem e ela pudesse recuar. Andreas estava sorrindo para ela como havia sorrido há muito tempo, sem sombras do passado entre eles. Apenas o amor.


Ele pegou sua mão e deslizou o anel em seu dedo. Encaixou-se perfeitamente e ela olhou para ele em choque, ainda um pouco incrédula. Ela o encarou. – Naquela manhã... Quando você saiu em sua moto... Eu queria ir com você. Andreas sorriu e passou o dedo pelo rosto dela. – Eu queria levar você comigo, mesmo enquanto amaldiçoava você. – Eu gostaria de ter ido – sussurrou Siena emotiva enquanto pensava nos anos perdidos. – Sua irmã – lembrou-a Andreas, com tristeza. Siena também sorriu , um pouco triste. – Sim... Minha irmã. Andreas voltou ao degrau ao lado dela e segurou o rosto dela entre as mãos. – Serena está sendo cuidada e vai ficar bem, eu prometo. O agora é para nós. Aqui é onde começamos... E seguimos em frente. Siena olhou para ele, seu sorriso cada vez maior, a alegria substituindo o sentimento de pesar. – Sim, meu amor. E, então, depois de beijá-la profundamente, ele a puxou entre as pernas, passou os braços ao redor dela e, juntos, eles assistiram a mais bela cidade do mundo emergir da luz do amanhecer para um novo dia.

EPÍLOGO

DOIS ANOS e meio depois, Siena estava sob a sombra de uma árvore, na esquina da praça perto da casa dos pais de Andreas. Era um dia de festa: longas mesas transbordavam de comida e bebida e a extensa família de Andreas se aglomerava ao redor, crianças correndo entre as pernas das pessoas, causando confusão e risadas. Flores nasciam de todos os lugares possíveis. Siena podia ver a cabeça loira brilhante de sua irmã Serena, em uma das mesas. Neste momento, a mãe de Andreas passou e se inclinou


para beijar sua cabeça carinhosamente. Quando Serena recebeu alta da clínica, eles a levaram para morar com os pais de Andreas. Receber o incondicional amor materno que a mãe de Andreas derramava sobre todos havia feito mais por Serena que qualquer quantidade de drogas e terapia. Eles haviam acabado de comprar um apartamento em Atenas para ela e ela estava começando um trabalho. Todos os dias ela ficava mais forte e melhor, cercada por pessoas que a amavam. Quando Serena ficou forte o bastante, Andreas organizou um encontro entre elas e seu irmão Rocco. Havia sido muito emocional. Rocco havia se arrependido de sua dureza em seu primeiro encontro com Siena. Mas agora elas tinham um irmão, uma sobrinha e um sobrinho, e Siena virou melhor amiga de Gracie, esposa de Rocco. A única razão pela qual eles não estavam ali hoje era porque o irmão de Gracie estava se casando em Londres. Os olhos de Siena não tiveram que procurar muito para encontrar o centro de seu universo. Seu marido e seu filho de um ano e meio, Spiro. Ela podia ver Andreas começando a olhar ao redor, procurando por ela. Ela reconhecia aquele olhar possessivo de impaciência tão bem e ele estremecia profundamente seu abdômen, onde ela abrigava o segredo de uma nova vida. Ela colocou a mão na barriga por um momento, apreciando o momento em que ela lhe contaria mais tarde e a cabeça de Andreas se virou quando ele a encontrou. Siena apenas sorriu e engoliu a emoção, caminhando em direção ao abraço amoroso de sua família.



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