Fichamento - Simulacros e simulação - BAUDRILLARD, 1991

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1. Indicação bibliográfica Baudrillard, Jean – Simulacros e Simulação. Portugal, Relógio d’Água, 1991. A precessão dos simulacros - páginas 7 a 57. 2.

Tópicos principais

A simulação não é mais a simulação de um território ou de um ser como referência – é a geração pelos moldes de um real sem origem ou realidade: o hiper-real. O imaginário da representação que resulta e, ao mesmo tempo, se afunda no projeto louco dos cartógrafos, de uma coextensividade ideal do mapa e do território, desaparece na simulação. O real é produzido a partir de células miniaturizadas, de matrizes e de memórias, de modelos de comando – e pode ser reproduzido um número indefinido de vezes a partir daí. Não tem de ser racional – é apenas operacional. Não é mais o real, pois não se encontra mais envolto em nenhum imaginário. É um hiper-real, produto de síntese irradiando modelos combinatórios em um hiperespaço sem atmosfera. É a substituição na realidade dos signos do real, ou seja, é uma operação de dissuasão de todo o processo real por seu duplo operatório, máquina sinalética metaestável, programática, impecável, que oferece todos os signos do real e lhes curto-circuita todas as peripécias. O real nunca mais terá a oportunidade de se reproduzir – tal é a função vital do modelo num sistema de morte. Hiper-real, doravante ao abrigo do imaginário, não deixando lugar senão à recorrência orbital dos modelos e à geração simulada das diferenças. Dissimular é fingir não ter o que se tem – refere-se a uma presença. Simular é fingir ter o que não se tem – refere-se a uma ausência. Fingir, ou dissimular, deixa intacto o princípio da realidade: a diferença continua a ser clara, está apenas disfarçada; a simulação põe em causa a diferença do verdadeiro e do falso, do real e do imaginário. Alguém que simula uma doença está ou não doente, se reproduz “verdadeiros” sintomas? “Se ele imita tão bem um louco é porque o é”. E não deixa de ter razão: neste sentido todos os loucos simulam, e essa distinção é a pior das subversões. A psicologia militar hesita em fazer a distinção do falso e do verdadeiro, do sintoma “produzido” e do sintoma autêntico. Para o exército, um bom simulador é equivalente a um homossexual, a um cardíaco ou a um “louco” verdadeiros. A questão da simulação prende-se a religião e ao simulacro da divindade: “eu proibi a existência nos templos de qualquer simulacro porque a divindade que anima natureza não pode ser representada”. Os iconoclastas, acusados de desprezar e negar as imagens, eram os que lhes davam o seu justo valor, ao contrário dos iconólatras, que viam nelas apenas reflexos e se contentavam em venerar Deus em filigrana. É precisamente porque estes apresentavam essa onipotência dos simulacros, essa faculdade que têm de apagar Deus da consciência dos homens e essa verdade que deixam entrever, destruidora, aniquiladora, de que no fundo Deus nunca existiu; que nunca existiu nada senão o simulacro e mesmo que o próprio Deus nunca foi senão o seu próprio simulacro – daí vinha a sua raiva em destruir as imagens. Assim, a questão terá sempre sido o poder assassino das imagens, assassinas do real, assassinas do seu próprio modelo, como os ícones de Bizâncio o podiam ser da identidade divina. A este poder assassino opõe-se o das representações como poder dialético, mediação visível e inteligível do real. Toda fé e a boa fé ocidental se empenharam nessa aposta da representação: que um signo possa remeter para a profundidade do sentido, que um signo possa trocar-se por sentido e que alguma coisa sirva de caução a esta troca – Deus, certamente. Mas e se o próprio Deus pode ser simulado, isto é, reduzir-se aos signos que o provam? Então, todo o sistema perde a força da gravidade, ele próprio não é mais que um gigantesco simulacro – não irreal, mas simulacro – não podendo mais ser trocado por real. Assim é a simulação, naquilo em que se opõe à representação. Essa parte do princípio de equivalência do signo e do real (mesmo que esta equivalência seja utópica, é um axioma


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Fichamento - Simulacros e simulação - BAUDRILLARD, 1991 by Adriana Brumer Lourencini - Issuu