Jornalistas em Rede - Entrevistas

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ENTREVISTAS Título: Jornalistas em Rede - Entrevistas Capa: Adelaide Jordão Textos: Entrevistas realizadas pelos alunos do 11º F Coordenação: Adelaide Jordão (Professora de Português e PB) Ano letivo: 2021-2022 Escola Secundária Camilo Castelo Branco Vila Real Junho 2022

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INTRODUÇÃO

Documento RBE- páginas 1 | 2

De seguida, realizaram trabalho de investigação e um breve brainstorming, a partir dos quais fizeram o levantamento de pessoas e temas que poderiam interessar à Comunidade Educativa. Uma vez selecionada a pessoa a entrevistar e o tema a abordar, e depois de um primeiro contacto com as pessoas envolvidas nas entrevistas, para confirmação da disponibilidade e dos direitos de imagem, os alunos elaboraram breves sinopses sobre o perfil do(a) entrevistado(a) e as questões a colocar (estas sinopses viriam a constituir a base do guião final da entrevista). Finalmente, partiram para a entrevista, sempre com a noção de que o guião é algo de flexível e, como tal, passível de ser ajustado no decorrer da própria entrevista.

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“A Rede de Bibliotecas Escolares (RBE) tem promovido projetos de inovação e excelência em diferentes áreas, que evidenciam uma intervenção mais qualificada na melhoria das aprendizagens, das múltiplas literacias, na cidadania e no envolvimento da comunidade educativa.” Aceita o desafio: da tua biblioteca ao público é um desses projetos, lançado no ano letivo 2021.2022, em parceria com PÚBLICO, através do projeto de Educação para os Media — PÚBLICO na Escola. Os alunos do 11º F da Escola Secundária Camilo Castelo Branco, de Vila Real, aceitaram o repto que lhes foi colocado pela professora de Português - PRODUZIR UMA ENTREVISTA - e, em trabalho de pares, meteram mãos à obra, que o melhor é dizer, mãos à escrita. Produzir uma entrevista foi um trabalho moroso e paciente. Primeiro, os alunos recordaram as regras de elaboração da entrevista, bem como aspetos fundamentais da cidadania digital, mormente no âmbito dos direitos online (direitos e responsabilidades, privacidade e segurança) e da presença digital (reputação e identidade online, proteção de dados e privacidade).


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“O trabalho de melhoramento de texto e os diferentes ritmos de trabalho de cada grupo de trabalho, entre outros fatores, não permitiram que todas as entrevistas fossem dadas como concluídas dentro do prazo do concurso, mas das submetidas, uma foi a vencedora! Como se é referido no site da RBE, “No mundo do vinho e das vinhas, Marta Gonçalves e Rita Abreu entrevistaram ‘uma figura do Douro’. E venceram.” Neste ebook, damos a conhecer todas as entrevistas que foram apresentadas e dadas como concluídas pelos alunos, independentemente de terem sido submetidas a concurso, ou não. Lembramos que através do concurso “Jornalistas em Rede” se pretende estimular nos jovens a produção escrita de dois géneros jornalísticos – a reportagem e a entrevista –, no quadro das atividades promovidas por bibliotecas escolares, por jornais escolares, por clubes ou por outros contextos de ensino/ aprendizagem. De acordo com o Regulamento, são objetivos do Concurso: Promover o conhecimento e o debate da atualidade Fomentar as literacias da informação e dos media Estimular a leitura de jornais por parte dos jovens Desenvolver a expressão escrita de diferentes tipologias textuais Estimular o uso correto e criativo da língua portuguesa

Boas leituras! Adelaide Jordão

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Exames Nacionais - Entrevista com Diretora da Escola Dra. Helena Correia

Dra. Helena Correia, Diretora da Escola Camilo Castelo Branco Foto: Adelaide Jordão

“A educação é fundamental para preparar as pessoas e desenvolver as melhores competências possíveis para que, no futuro, possam desempenhar um papel na sociedade. O futuro de um país está na educação dos seus jovens.”

Entrevistámos a Dra. Helena Correia, Diretora da nossa escola, a fim de conhecermos a sua opinião acerca de questões relacionadas com os Exames Nacionais uma vez que acreditamos ser um tema que constitui um fator de preocupação para os alunos.

P- Outro fator psicológico que nos afeta é a noção do tempo de que dispomos para responder às questões do exame. Não raras vezes nos deparamos com esta questão: teremos tempo? Na perspetiva da Sr.ª Diretora, serão os exames o meio mais justo de avaliar este percurso académico numa espécie de “maratona” em corrida contra o tempo? Serão os exames, tendo em conta o reduzido tempo em que decorrem, o meio mais justo de avaliar um percurso académico de vários anos? R - A avaliação interna faz essa avaliação ao longo do percurso académico. A avaliação externa teve, até aos anos anteriores à pandemia, influência na classificação final a algumas disciplinas, mas é uma questão que serve para todo o universo de alunos do sistema português. Os exames têm também a função de servir como elemento para acesso ao ensino supe Jornalistas em rede

rior. É um momento. Não é fácil, mas é o mesmo para todos e tem a sua importância. Sabemos que o grau de exigência varia nas várias escolas do país, não descurando o facto dos alunos das escolas privadas terem condições privilegiadas ao longo do seu percurso. A escola pública acolhe todos. Tem de haver algum elemento que seja igual para todos. Ao Ministério da Educação interessa como forma de perceber o estado em que se encontra o ensino/aprendizagem, valha o que valer. P- Sim. Nós entendemos o seu ponto de vista e não discordamos em absoluto. Contudo, surgenos outra questão que nos parece absolutamente pertinente. Como Diretora, qual é a leitura que pode fazer do resultado dos exames? Abrange todo o sistema escolar, isto é, alunos e professores? R- Aquando da saída dos resultados dos exames nacionais, estes são minuciosamente analisados, quer por mim quer pelos professores da escola. Fazemos a análise em sede de conselho pedagógico e nos diferentes departamentos e grupos disciplinares. Percebam que ao longo de anos os professores investem e tentam fazer o melhor trabalho e que as classificações dos exames têm de refletir isso mesmo. Quando tal não acontece ficamos tristes. Questionamo-nos. Tentamos ver o que correu menos bem. Delineamos estratégias. Portanto, não é só o sucesso dos alunos, mas dos professores, do seu trabalho, do trabalho da escola. Temos que agir como um todo e vós, alunos, tendes também que fazer a vossa parte, isto é, empenhar-se e trabalhar. Os resultados aparecem, se assim for. P- Dado que o exame se reduz a um momento e dá acesso à faculdade não será redutor de todas as aprendizagens adquiridas ao longo de vários anos letivos? R- Não é fácil! Redutor? Será, se considerarmos que os conteúdos lecionados ao longo de 2 ou 3 anos são alvo de avaliação em exame, exame esse que Entrevistas

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P- Realizar ou não os exames nacionais é algo que inquieta sempre os alunos. Como pensa que se pode minorar esta angústia? R- Os exames nacionais são uma realidade e, face à importância que têm para acesso ao ensino superior, causam naturalmente alguma ansiedade. Assim sendo, a melhor forma de minorar a ansiedade, ou mesmo a angústia que os alunos possam sentir, será, a meu ver, o investimento e preparação que estes façam a montante. Tal significa que o trabalho, o estudo tem de ser contínuo, professores e alunos têm de fazer um trabalho conjunto para que as aprendizagens se façam da forma mais profícua possível. Os alunos têm, logicamente, de estudar e estudar, pois aprender passa pelo esforço do aluno na sua aprendizagem, aprender é um ato individual e que requer âncoras e construção contínua. Por outro lado, não é de descurar a questão psicológica e a forma como cada um reage a situações de stress. Nesse campo, a prática de exercício físico contribui largamente para o bemestar, sendo este fundamental, bem como o equilíbrio entre momentos de trabalho e de lazer.

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condiciona a classificação final bem como o acesso ao ensino superior. Mas, como disse anteriormente, não há fórmulas perfeitas, tem de haver uma forma de uniformizar todos os estudantes, sendo que já existem várias variantes. É um momento de grande importância e meramente escrito, o que é um contrassenso, pois os alunos são muito mais e têm mais competências que não apenas a escrita. Ao longo de vários anos trabalhou-se para desenvolver no aluno várias competências.

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A educação é fundamental para preparar as pessoas, desenvolver as melhores competências possíveis para que, no futuro, possam desempenhar um papel na sociedade. O futuro de um país está na educação dos seus jovens.

"Aquando da saída dos resultados dos exames nacionais, estes são minuciosamente analisados, quer por mim quer pelos professores da escola. Fazemos a análise em sede de conselho pedagógico e nos diferentes departamentos e grupos disciplinares. Ao longo dos anos os professores investem e tentam fazer o melhor trabalho e as classificações dos exames têm de refletir isso mesmo. Quando tal não acontece, ficamos tristes. Questionamo-nos. Tentamos ver o que correu menos bem. Delineamos estratégias. Portanto, não é só o sucesso dos alunos, mas dos professores, do seu trabalho, do trabalho da escola."

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As atitudes, comportamentos, comunicação e oralidade não são avaliados em exame, exceto as orais nas línguas estrangeiras. Nesse sentido é redutor, mas tem de haver alguma forma. É o exame.

P- Compreendemos que tenha de haver uma uniformização na avaliação de competências, e talvez seja, sim, a forma menos injusta. No entanto, as notas dos exames decidirem o nosso percurso académico futuro e, portanto, a nossa vida, não é um peso excessivo para o aluno? R- É verdade que sim, mas tem de haver uma forma. As regras são essas, logo os alunos, e as suas famílias devem conhecê-las e decidir de que forma querem trabalhar. Nada se faz de um momento para o outro pelo que cada aluno tem (deve fazê-lo) de decidir se quer ou não empenhar-se em aprender e desenvolver as suas competências. Sempre existiram formas de avaliação no ensino, sempre existiram exames e condições para acesso ao ensino superior.

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Entrevista realizada por : Alexandre Coutinho e João Soares

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No mundo do vinho e das vinhas - Entrevista com o vitivinicultor José Lacerda “O campo é garantia de brincadeira e até os trabalhos serviam para nos divertirmos, mas é isso que cria raízes, as memórias que temos são determinantes nas escolhas que fazemos”

José Lacerda. Foto: Marta Gonçalves

Rita – Como começou a sua relação com a vinha e o vinho? José Lacerda – Bom, com a vossa idade, ainda não tinha nenhum tipo de relação com o vinho. A vida na quinta da Estrada era intercalada com a vida escolar em Vila Real, os pais optaram por alugar lá casa e deixar-nos ao cuidado da tia Piá. A quinta era o espaço da brincadeira, da família, que era numerosa, e nas férias muitos primos ficavam lá. Era uma diversão sem limites. O campo é garantia de brincadeira e até os trabalhos serviam para nos divertirmos, mas é isso que cria raízes, as memórias que temos são determinantes nas escolhas que fazemos. Fiz a primária e fui para a Camilo, mas depois as minhas irmãs foram para a Faculdade, no Porto, e eu fui para o Liceu D. Manuel II, que é o atual Rodrigues de Freitas. Marta – Nada faria prever que voltasse para o Douro… José Lacerda – Curiosamente, eu sempre adorei o Porto, pelos amigos, pela família numerosa que, sendo do Douro, vivia lá. No entanto estar com o meu pai, ajudá-lo, viajar com ele para as feiras agrícolas, para França ou Espanha e aqui em Portugal, era extraordinário. E depois, as vindimas eram uma festa, era o culminar de um ano de trabalho que daria a possibilidade de continuar com a mesma determinação. Na verdade, era uma festa para todos, pois os trabalhadores eram recompensados, e havia alegria, visitas da família e dos amigos. Todos se empenhavam nas vindimas e eu, o que aprendi, devoo ao meu pai, que era um homem empreendedor e cheio de visão. Era fácil trabalhar com o pai, porque pedia sempre a minha colaboração, ensinava, eu ouvia, via e fazia. Mesmo que não fosse igual, os seus Jornalistas em rede

conselhos permitiam chegar ao que se pretendia. Foi fácil aprender e foi ainda mais fácil ficar apaixonado pela terra. A vivência na Quinta fez com que este espaço fosse mais importante do que o Porto. Penso que nós somos as memórias que vivemos e estas suplantaram os sonhos que tive de me dedicar à gestão numa cidade grande. De alguma forma, também tenho de gerir as propriedades agrícolas. Rita – Houve mudanças? José Lacerda – Sim. O mercado não se compadece. De imediato comecei a fazer formação na área da vitivinicultura, porque é conhecendo o que se faz e como se faz que podemos inovar. Estudar, ler, viajar, visitar adegas, fazer parcerias e envolver-me em projetos como estar no início da Lavradores de Feitoria foi muito importante e enriquecedor. E nunca parei de estudar, conversar, ler, ver…só assim nos podemos manter a par do que existe.

Quinta da Estrada Foto: Rita Abreu

O que produzo é bom, mas tenho de ter a humildade de reconhecer que outros produtos são igualmente bons ou melhores. Então, não posso parar de saber o que há e experimentar, aqui e no estrangeiro. Entrevistas

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José Agostinho Fernandes Lacerda é uma figura do Douro. Nasceu no Lugar da Estrada, Poiares, Régua, e estudou em Vila Real, na nossa escola [Escola Secundária Camilo Castelo Branco, Vila Real]. Administrador e acionista da Lavradores de Feitoria, a sua atividade está atualmente associada à produção de vinhos de mesa, à enologia e à administração das quintas que fazem parte do património familiar.


Marta – Tradição conjuga-se com inovação. Na sua opinião, quais foram as inovações mais significativas introduzidas por si na produção vinícola? José Lacerda – A grande inovação foi a produção de castas por talhões.

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Rita – Qual dos seus vinhos apelidaria de bestseller? José Lacerda – O melhor vinho é o que bebemos com os nossos amigos… pode ser Douro, Alentejo ou Bordéus….

Rita – Que tipo de casta predomina na Quinta da Estrada? Há uma razão específica para essa escolha? José Lacerda – O tipo de casta predominante é a Touriga Franca, pois é a casta que domina na Região Demarcada do Douro. Segue-se a Tinta Roriz, a Tinta Amarela e, por fim o Tinto Cão e a Tinta Francisca sendo estas últimas usadas para apimentar os lotes. Não produzo vinhos monocasta, porque é muito difícil assegurar ano após ano uma boa qualidade. Além disso, a tradição no Douro é de vinhos de blend, ou seja, vinhos de lote. Marta – Então não produz só vinho do Porto? José Lacerda – Nós estávamos muito ligados ao vinho do Porto, vinho generoso de qualidade, mas depois da morte do pai e as complicações do mercado, enveredei pela produção própria de vinhos DOC, menos exploradas na década de 90. Criei a marca Tia Piá, em homenagem à nossa tia que sempre nos acompanhou com todo o carinho e a marca Quinta da Estrada pelo facto da casa de família estar nessa quinta.

2 Rita – Projetos para o futuro? José Lacerda – É curioso… já estive ligado à exportação, mas agora só me interessa investir no mercado nacional. Vou continuar com estas duas marcas (tinto e branco): Tia Piá, em homenagem à tia que sempre nos acompanhou enquanto estudámos em Vila Real e no Porto, pois o pai administrava as quintas, e o Quinta da Estrada como marca da quinta onde está a casa desde 1820. Estou a pensar.

Rita – Em relação à produção vinícola da quinta, qual é o vinho que mais se produz e que características apresenta? José Lacerda – O vinho que mais se produz é o Reserva Tinto. Trata-se de um vinho de cor granada, com aromas complexos, muita estrutura e potencial e final de boca muito longo.

"O melhor vinho é o que bebemos com os nossos amigos… pode ser Douro, Alentejo ou Bordéus…." Marta – E quanto ao mercado de exportação, quais são os países para onde exporta? José Lacerda – Em matéria de exportação, a Suíça tem sido um bom mercado, mas também vamos conseguindo exportar para o Brasil.

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Entrevista realizada por : Marta Gonçalves e Rita Abreu

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Natureza e plantas - Entrevista com a horticultora Maria José Teixeira

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D. Maria José Teixeira

Como fomos desafiados a ser entrevistadores por um dia, decidimos ir a um local rodeado de natureza e de bela paisagem “O Vieiro dos Poetas”, localizado na quinta dos poetas, Flores. É um negócio próprio que tem como proprietários Maria José Teixeira e Luís José Teixeira. Decidimos entrevistar uma pessoa que nos é próxima, a mãe do José, que se disponibilizou para nos responder a algumas perguntas sobre o seu trabalho, com uma enorme simpatia.

Diana: Qual é o seu trabalho e como é ter um negócio próprio? Maria José: É bom e é mau. Ter um negócio próprio faz-me dedicar a maior parte do meu tempo ao negócio, no meu caso é um viveiro de plantas. Comecei por produzir só plantas florestais que eram vendidas na época sazonal de outubro, mas que, mediante o tempo que fizesse, podia sempre ir de outubro a abril. Se o tempo deixasse, ainda se vendia qualquer coisa em maio. No resto dos seis meses, tínhamos de fazer um bocadinho como a formiga que era amealhar para nos podermos sustentar até à nova época florestal que era outra vez em outubro ou novembro. Depois começamos a diversificar um bocadinho a nossa área, passamos a ter plantas ornamentais, fruteiras, hortícolas, videiras. E como as videiras e as hortícolas também são de produção sazonal, começamos a fazer jardinagem para complementar a nossa parte de Verão. Agora fazemos jardinagem o ano todo, produzimos as nossas plantas florestais e fazemos engorda de plantas de jardim. Jornalistas em rede

Zé: Como é estar dependente do clima para poder exercer o seu trabalho? Maria José: O clima é um bocadinho ingrato, porque se chove muito e já tivermos as sementeiras feitas corremos o risco de elas não germinarem, se estiver muito calor, temos que começar a fazer regas mais cedo, como aconteceu este ano. Este ano praticamente tivemos que regar o viveiro coisa que no inverno não era necessário. Como não houve praticamente inverno, tivemos que regar e agora estamos a braços com o problema de não ter chovido. A mina que nos dá água para podermos regar o viveiro secou e não temos autorização para tirar água do rio para podermos regar as nossas plantas. Embora o homem seja o principal culpado disto, espero que a situação melhore para podermos levar isto a bom porto. Diana: Sempre teve a ambição de seguir algo nesta vertente quando era jovem? Maria José: Sim, o meu pai já tinha um viveiro, fazia projetos e eu sempre desde muito pequena gostei de Entrevistas


o acompanhar, de ir para o monte, ajudar a plantar pinheiros, aprender a semear. Sempre gostei da natureza e não me vejo a estar fechada dentro de quatro paredes o dia todo. Para mim, isso seria uma doença e quando tenho que ir para o escritório fazer orçamentos, fazer pagamentos, fazer lançamentos da contabilidade (embora tenha contabilista, sou eu que faço esse trabalho), não gosto muito, mas alguém tem de o fazer e tenho de ser eu, para poder gerir bem o meu negócio.

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Diana: Muito obrigada por ter disponibilizado um pouco do seu tempo para nos atender e nos ter dado a conhecer um pouco mais o que é trabalhar num viveiro e como é ter um negócio próprio.

Zé: De algum modo, ter um negócio em família afeta as relações interpessoais? Maria José: Não, no nosso caso não. Eu e o meu marido trabalhamos juntos e temos dias que só nos cruzamos ao jantar e temos sempre assunto para conversar, sempre, não há uma refeição em que estejamos calados. O meu marido faz a jardinagem eu tenho a parte das entregas, gerir a empresa, atender os clientes e no final do dia temos sempre conversa, ou na hora em que nos encontramos, por isso temos sempre que saber gerir as relações, mas no nosso caso até a data corre tudo às mil maravilhas. Diana: Certamente há alguma tarefa que goste mais de fazer no seu trabalho, se sim, o quê? Maria José: Como já tinha referido, prefiro andar na rua, semear, organizar, atender clientes. Gosto mais de lidar com a natureza e com as plantas do que propriamente estar fechada dentro de quatro paredes a tratar de papéis e a atender telefone. Zé: O que mudaria no seu trabalho para torná-lo melhor? Maria José: Gostaria de arranjar pessoas qualificadas. Infelizmente, as pessoas que trabalham aqui no viveiro que são qualificadas não querem, só querem trabalho de gabinete. Isto não é só um trabalho de gabinete, tem muito trabalho de campo, tem muito conhecimento científico que é aprendido nas universidades, mas eles não sabem na prática como aplicar os conhecimentos que têm, e neste preciso momento é muito difícil arranjar pessoas qualificadas para trabalhar. A agricultura está em crise e nós não temos outra alternativa senão tentar arranjar maquinaria que esteja à altura para podermos dinamizar a nossa área. Se conseguir, vou por tudo o mais mecanizável possível, visto não haver mão de obra qualificada para podermos evoluir.

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Fonte: Jornal À procura

"O clima é um bocadinho ingrato, porque se chove muito e já tivermos as sementeiras feitas corremos o risco de elas não germinarem, se estiver muito calor, temos que começar a fazer regas mais cedo, como aconteceu este ano. Este ano praticamente tivemos que regar o viveiro coisa que no inverno não era necessário. Como não houve praticamente inverno, tivemos que regar e agora estamos a braços com o problema de não ter chovido."

Entrevista realizada por : Diana Cunha e José Teixeira

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Informática - Entrevista com o engenheiro de software Pedro Miguel Costa

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A equipa Velocidi

Para a nossa entrevista, escolhemos um jovem engenheiro informático, Pedro Miguel Sousa da Costa. Pedro nasceu em Vila Real, estudou na Escola Secundária São Pedro e na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Terminada a licenciatura, passou a trabalhar na empresa Velocidi, sediada no Porto, de que falaremos no decorrer da entrevista.

P - Quais são as áreas de atuação privilegiadas da engenharia informática? R - Na minha opinião, as limitações/alternativas que outrora impediam a adoção de soluções baseadas na digitalização e aplicação de técnicas criadas no âmbito de engenharia informática têm vindo gradualmente a desaparecer, de uma forma mais acentuada, recentemente, devido à COVID-19. Assim, não seria completamente errado afirmar que hoje em dia a engenharia informática tem uma importância muito elevada em todas as áreas. Menciono as mais conhecidas e as que usamos mais frequentemente: o hardware e software dos nossos dispositivos (computadores, telemóveis, etc.), as redes sociais — que têm sempre que resolver problemas não triviais em grande escala para suportarem tantos utilizadores —, toda a indústria de jogos, realidade virtual e aumentada, e inteligência artificial. P- De que modo é que a engenharia informática está presente no nosso dia-a-dia? R- Como já referi, a engenharia informática e as suas aplicações e produtos estão tão enraizadas no nosso dia-a-dia, hábitos e dependências que é bastante difícil, para não dizer impossível, passarmos um único Jornalistas em rede

dia sem interagir com ela (direta ou indiretamente). Desde as chamadas de vídeo com amigos noutro país até aos pagamentos por contactless, do streaming de vídeos de forma instantânea aos computadores de bordo extremamente complexos e rápidos que coordenam todas as partes dos automóveis, a engenharia informática instalou-se em praticamente todos os aspetos da nossa vida. P - Qual é a filosofia e método de trabalho da empresa onde trabalha? R - Na minha empresa, todo o trabalho é feito com o objetivo de oferecermos o melhor produto aos nossos clientes. Para isto, o nosso método de trabalho divide-se em 3 fases: 1) descoberta de novas funcionalidades e melhoramentos importantes do nosso produto; 2) ordenação das tarefas pela sua importância e urgência; 3) atribuição das tarefas aos membros da equipa. Segue-se uma abordagem ágil que permite acomodar alterações inesperadas ao desenvolvimento. P - Qual é o seu papel nesta empresa? R – Sou Engenheiro de Software e contribuo para o desenvolvimento do produto em qualquer aspeto Entrevistas

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Pedro Miguel Costa


relacionado com engenharia informática. P - Quais são os principais desafios e oportunidades que esta empresa lhe coloca? R - Relativamente aos desafios, os principais são manter a qualidade do nosso produto enquanto aumentamos a sua complexidade para o acomodar novas funcionalidades. Em relação às oportunidades, a minha empresa permite-me trabalhar num ambiente muito confortável e familiar, sem me colocar uma grande pressão e conferindo-me liberdade para a gestão do meu próprio tempo de trabalho.

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P- De que forma os serviços de marketing digital prestados pela Velocidi constituem uma maisvalia para as marcas com que trabalham? R - A Velocidi permite às marcas com quem trabalha conhecer melhor os seus clientes que fazem compras através das suas lojas online e construir uma estratégia de marketing mais eficiente, com estratégias feitas sob medida para cada característica dos seus clientes.

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Desde as chamadas de vídeo com amigos noutro país até aos pagamentos por contactless, do streaming de vídeos de forma instantânea aos computadores de bordo extremamente complexos e rápidos que coordenam todas as partes dos automóveis, a engenharia informática instalou-se em praticamente todos os aspetos da nossa vida. Entrevista realizada por : Daniel Pereira e João Costa

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Psicologia e Orientação - Entrevista com o Psicólogo da Escola Luís Mesquita

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P - Qual considera ser a sua função num ambiente escolar como o nosso? R - A função de um psicólogo escolar está definida pela DGE: “os Serviços de Psicologia e Orientação em Contexto Escolar constituem-se como um recurso da escola que concorre para a concretização dos desafios da Estratégia 2020, no que respeita à melhoria do sucesso educativo, à redução do abandono escolar precoce, à atratividade do ensino profissional e à melhoria do ajustamento entre as competências dos jovens e as necessidades do mercado de trabalho. Atuam de forma integrada e em estreita articulação com a comunidade educativa, corpo docente e não docente, pais e encarregados de educação, outros agentes educativos do meio envolvente. Desenvolvem a sua atividade nos domínios do apoio psicopedagógico a alunos e professores, do desenvolvimento do sistema de relações da comunidade escolar e da orientação ao longo da vida.” P - Parecem-nos tarefas muito abrangentes, intermináveis, para não falar da complexidade que será gerir tantos itens em tantas áreas e com tantos intervenientes. Acha que tem os meios necessários para poder trabalhar, nomeadamente tempo para atender cada aluno Jornalistas em rede

individualmente, disponibilidade para promover fóruns elucidativos sobre temas da atualidade (bullying, insucesso escolar, discriminação)? R - Esta escola tem dois psicólogos com trinta e cinco horas semanais para um total de quase 1000 alunos. Se é suficiente? Tentamos que seja. Até à data de hoje, nenhum aluno referenciado ou que tenha procurado estes serviços ficou sem o devido atendimento. P - Acreditamos que nenhum aluno terá ficado sem atendimento. Contudo ficamos com alguma dúvida se será com a qualidade que o Senhor Doutor desejaria. Isto é, nunca teve a sensação de “amargo de boca”, por exemplo, como quando há suicídios na escola? R -Deixe-me apenas fazer um reparo a esta questão. Esta escola teve um caso efetivo de suicídio. Estes serviços tentam estar atentos a um conjunto de suspeitas e sinais que se possam enquadrar num quadro semelhante (ou noutro). Esses sinais podem ser observados ou alertados por um amigo ou membro da comunidade escolar. Quando se tem suspeitas de algo ou se observam alguns destes sinais a LEI é clara - encaminhar para especialidade médica. Uma vez encaminhado, o SPO deixa de legalmente poder intervir. Este foi, tem sido e será sempre o procedimento. Entrevistas

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Nesta entrevista procuramos saber um pouco mais sobre o Serviço de Psicologia e Orientação (SPO). Por essa razão, fomos falar com um dos psicólogos da nossa escola.


P – Que setor da comunidade estudantil o procura mais: os adolescentes ou os mais novos? R - Está definido pela Sra. Diretora que os novos alunos da escola têm que estar todos sob o olhar destes serviços. Os alunos da escola procuram o SPO independentemente da idade.

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14 P-Para terminar, e visto que o nosso e o seu sucesso dependem também da interação com pais e professores, como considera ser a sua interação com eles, isto é, se é proveitosa ou nula? R - O SPO considera fundamental e imperioso o contacto frequente entre estes serviços, os docentes e os pais e encarregados de educação. E sim, tem sido uma interação muito proveitosa.

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Esta escola tem dois psicólogos com trinta e cinco horas semanais para um total de quase 1000 alunos. Se é suficiente? Tentamos que seja. Até à data de hoje, nenhum aluno referenciado ou que tenha procurado estes serviços ficou sem o devido atendimento.

Entrevista realizada por : João Pinheiro e Gonçalo Areias

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Conciliar a vida profissional e pessoal - Entrevista com o cirurgião Pedro Pinheiro

“A vida e a morte fazem parte da natureza humana. Claro que é mais fácil lidar com a alegria de um nascimento do que com a tristeza de uma partida. Acho que o contexto, a intensidade dos momentos e a proximidade com que nos relacionamos com as pessoas em questão, é que podem condicionar o nosso modo de enfrentar cada uma.”

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Lara Sobral - Sabemos que o seu horário semanal ronda as 60 horas, como é que as distribui? R - O meu horário de base tem 40 horas semanais, como está previsto na lei. No entanto, a carreira médica hospitalar prevê que, por imperiosa necessidade de serviço e a título excecional, as direções de serviço possam exigir a realização de mais um período de até 12 horas. A carência (ou talvez a má distribuição pelo mapa nacional) de médicos para assegurar todas as atividades que sustentam a base de trabalho hospitalar levam a que, aquele carácter excecional, neste momento seja praticamente a norma. Assim, o meu tempo semanal no hospital divide-se entre um período de consulta externa de Cirurgia geral (que é a minha especialidade), o bloco operatório, a assistência clínica aos doentes internados e prestação de serviço de urgência. Para além destas atividades, ainda dou apoio semanal na equipa da Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER), faço um período de consultas em regime particular e assumo 1 ou 2 períodos de 24 horas mensais no Serviço de Helicópteros de Emergência Médica (SHEM). Ainda no âmbito da minha atividade, e porque a idade nos traz algumas responsabilidades e conhecimento, neste momento exerço funções de direção de um serviço (bloco operatório) e na direção clínica do hospital, como adjunto para a Jornalistas em rede

área cirúrgica. Estas funções são de caráter mais administrativo, mas têm de ser exercidas por médicos, de preferência já com algum tempo de carreira e conhecimento da vida hospitalar e da instituição. Ruina Fan - Como concilia o seu horário de trabalho com a vida conjugal e paternal? R - Esta é uma das perguntas mais difíceis de responder. A vida conjugal é sempre assumida a dois. Quando casei, já trabalhava e este ritmo era o habitual, ou talvez ainda maior. A minha mulher, fruto de também ela ser profissional de saúde, conhece bem a realidade da minha atividade e sempre me apoiou. Não foi com surpresa que encarou as noites e os fins de semana passados sem o marido em casa. No que à paternidade diz respeito, a lógica de raciocínio muda ligeiramente: a opção de ser pai foi do casal e não dos filhos, naturalmente, pelo que assumir uma paternidade responsável traz algumas obrigações; entre estas, destaco o compromisso que assumi de reduzir algumas horas da minha atividade desde o nascimento do meu primeiro filho. Neste momento, com três filhos, procuro estar presente o mais que posso, desenvolver mais intensamente os compromissos profissionais nas horas em que eles estão na escola ou noutras atividades, organizar o calendário de férias e trocas de fins-de-semana em função de momentos da vida familiar e evito, embora nem sempre consiga, trazer trabalho para casa Entrevistas

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Muitas vezes, afirmamos que não temos tempo para nada, que passamos a vida a correr, enfim, que estamos exaustos. Ora, para relativizarmos tudo isto, nada melhor do que ouvirmos o testemunho de alguém que consegue ser ótimo profissional, dedicado à família, atento a três filhos menores, com amigos e uma vida social que o tornam um exemplo para todos nós. Pensamos que depois desta entrevista, facilmente podemos concluir que gerir o tempo e avida é, afinal, uma questão de gestão do tempo, amor ao que se faz e capacidade para manter o sentido de equilíbrio. O nosso entrevistado é o cirurgião Pedro Pinheiro, que trabalha no Hospital São Pedro e no Hospital privado da Trofa e faz emergência médica.


(“TPC”); se acontecer, procuro fazê-lo quando já estão a dormir. Lara Sobral - Alguma vez se arrependeu desta profissão? R - Não, nunca me arrependi!

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Ruina Fan - Está relacionado com emergência médica. Certamente teve um caso que tenha sido marcante. Qual foi? R - Na emergência médica temos diversos casos que por este ou aquele motivo nos deixam memórias. Guardo hoje a alegria de ter ajudado a nascer alguns bebés, e ainda me lembro do primeiro, em Resende, com todos os pormenores. Também guardo com tristeza o falecimento de um recém-nascido, com 3 semanas; é um momento dramático! Conservo de igual modo na memória uma emergência que tive com um dos meus filhos: não foi fácil de esquecer!

Lara Sobral - Que conselhos daria a quem quer seguir medicina? R - Na medicina, como em todas as profissões, a dedicação e empenho são fundamentais. Não será possível encontrar uma atividade que nos agrade em todos os momentos (também faço algumas coisas para as quais não tenho grande motivação), mas a essência da profissão está na capacidade que temos de olhar para cada pessoa como um ser único, com um problema, e que um gesto, ou decisão, da nossa parte, pode transformar uma vida! Só por isso já valeu a pena! Ruina Fan - Muito obrigada pela sua disponibilidade em responder às nossas perguntas e por ter colaborado na realização desta entrevista

Lara Sobral - Lidar com a vida e a morte relativiza este problema? R - A vida e a morte fazem parte da natureza humana. Claro que é mais fácil lidar com a alegria de um nascimento do que com a tristeza de uma partida. Acho que o contexto, a intensidade dos momentos, e a proximidade com que nos relacionamos com as pessoas em questão, é que podem condicionar o nosso modo de enfrentar cada um. Apesar disto, procuro sempre que as minhas decisões técnicas sejam de acordo com o estado da arte, à luz do que a ética e as boas práticas ditam, e não se deixem condicionar pelo meu estado de espírito ou pela minha relação pessoal com o doente. Ruina Fan- Já alguma vez ponderou desistir desta carreira? R - Não. Mas já pensei ajustar a vida profissional que levo de modo a baixar um pouco o ritmo.

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Entrevista realizada por : Lara Sobral e Ruina Fan

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Na hora de deixar o ninho - Entrevista com a estudante Inês Ribeiro “Grande parte das pessoas que conheço falam da universidade como um mundo muito assustador, porém penso que me consegui habituar a este novo ambiente. Inicialmente, penso que todos acabamos por achar a universidade um pouco aterradora, mas tudo passa e quando nos habituamos passa a ser um mundo muito atrativo."

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Inês Ribeiro, estudante de Engenharia Biomédica, em Lisboa

Rodrigo e José: De que modo a mudança para Lisboa afetou a sua relação com a família, os colegas e os professores? Inês: Houve um distanciamento com os meus colegas e professores do que propriamente com a minha família. Continuo a estabelecer contacto e a falar com alguns colegas e amigos, com outros já não falo assim como com os professores. Em relação à família e amigos mais próximos, sempre que posso ir a Vila Real faço questão de passar algum tempo com eles, mantendo assim a nossa relação.

estava a viver uma nova etapa da minha vida que me ia abrir muitas portas no futuro. Rodrigo e José: É feliz como estudante universitária? Inês: Sou, gosto do meu curso, os meus colegas e professores são excelentes e sinto-me realizada por ter a oportunidade de frequentar um curso que me agrada e que me pode trazer muitas oportunidades de vir a trabalhar naquilo de que gosto.

Rodrigo e José: Foi difícil orientar-se em Lisboa? Inês: Nos primeiros tempos, uma das maiores dificuldades foi a deslocação na cidade, uma vez que ainda não a conhecia muito bem e não estava habituada a “viver” numa cidade como Lisboa. Sendo assim, o meu principal meio de transporte foram os transportes públicos.

Rodrigo e José: Como se sentiu dentro da universidade nos primeiros tempos? Inês: Impactada pela mudança de realidade a que fui exposta. Senti-me fora da minha zona de conforto, longe da minha família e amigos, estando desmotivada por estas razões nos primeiros tempos. No entanto contei com todo o apoio deles, o que me ajudou muito a sentir-me bem no curso em que estava.

Rodrigo e José: Sentiu-se insegura, ou foi tudo fascinante? Inês: Por estar longe da minha família e amigos e não conhecer praticamente ninguém, senti-me triste, insegura e receosa. Para além disto, o curso em si é muito trabalhoso. Porém nunca me esqueci que -

Rodrigo e José: Achou a Universidade um mundo muito atrativo ou aterrador? Inês: Grande parte das pessoas que conheço falam da universidade como um mundo muito assustador, porém penso que me consegui habituar a este novo

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A entrada na universidade é muitas vezes um choque para os estudantes do ensino secundário, uma vez que estes são obrigados a enfrentar um mundo totalmente novo e desconhecido, sendo este ainda mais aterrador quando têm de abandonar a sua residência para entrar no curso desejado. A entrevista que se segue aborda os desafios e a conceção de uma egressa da Universidade Nova de Lisboa, a estudante Inês Ribeiro, que passou por este momento há pouco tempo. Inês Ribeiro é uma jovem de 20 anos, de Vila Real, mas que atualmente se encontra a viver em Lisboa devido à entrada na universidade. Inês entrou no curso de Engenharia Biomédica com média de 18,1. Jovem estudiosa, simpática e divertida viu-se obrigada a mudar de uma cidade pequena e acolhedora para a capital do país.


ambiente. Inicialmente, penso que todos acabamos por achar a universidade um pouco aterradora, mas tudo passa e quando nos habituamos passa a ser um mundo muito atrativo.

Rodrigo e José: Inês, agradecemos a sua disponibilidade em dar-nos esta entrevista. A partilha da sua experiência como estudante universitária deslocada da sua área de residência habitual vai certamente ajudar muitos jovens. Felicidades para o seu curso!

Inês Ribeiro, estudante universitária

"Todos sabem que para se ser um estudante

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universitário bem-sucedido é preciso estudar bastante (sendo mais importante a qualidade do estudo do que a quantidade) e ser organizado." Rodrigo e José: Que conselhos dá aos estudantes que vão frequentar a Universidade pela primeira vez, para que a sua vida universitária seja bemsucedida? Inês: Todos sabem que para se ser um estudante universitário bem-sucedido é preciso estudar bastante (sendo mais importante a qualidade do estudo do que a quantidade) e ser organizado. Também considero ser muito importante cuidar da saúde mental e não se deixar afetar muito por toda a pressão a que estarão expostos. Por fim, dormir bem e saber conciliar a rotina do estudo com os momentos com a família e amigos, de modo a que haja tempo para tudo e todos.

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Entrevista realizada por : José Pimenta e Rodrigo Ribeiro

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Colocação de professores - Entrevista com a professora Sara Rocha

A professora Sara Rocha com os entrevistadores Dina Lima e Rodrigo Silva

“Grande parte das pessoas que conheço falam da universidade como um mundo muito assustador, porém penso que me consegui habituar a este novo ambiente. Inicialmente, penso que todos acabamos por achar a universidade um pouco aterradora, mas tudo passa e quando nos habituamos passa a ser um mundo muito atrativo."

P - Dra. Sara, quais são as principais dificuldades que sente toda a vez que é colocada numa escola diferente? R - Bom, eu acho que cada vez que somos colocados numa escola, temos sempre duas preocupações. Por um lado, é a que tem a ver com o contexto escolar, ou seja, a escola onde fomos colocados. Conhecer as instalações, os colegas, os funcionários… porque o primeiro contacto que temos numa escola quando somos colocados é a secretaria, não é? E damos logo de caras com funcionários que não conhecemos e como é um processo que é sempre diferente todos os anos, é voltar ao ponto zero. Conhecer pessoas novas, conhecer a direção, os colegas, as instalações e acima de tudo, porque nós trabalhamos sempre em equipa numa escola, é bom “conhecermos pelo menos algumas pessoas pelo nome”, até para criar uma relação de maior proximidade e, obviamente, conhecer os alunos que são parte fundamental neste processo todo. Por outro lado, eu acho que depois temos ainda uma dificuldade ou pelo menos uma característica da nossa colocação que é conhecer o local onde a escola está situada, para saber, por exemplo, onde é que estão os serviços mais próximos da escola, porque ao sermos colocados num local fora da nossa Jornalistas em rede

zona de residência, há que pensar onde é que nós vamos viver, onde é que vamos dormir, se há casas ou apartamentos para alugar, se podemos alugar algum quarto numa casa partilhada por outros professores, onde fica o supermercado, a farmácia ou o centro comercial mais próximos, enfim, coisas básicas do dia a dia. Então, à priori, acho que são estes os dois contextos a que temos de estar atentos: o contexto escolar e o contexto do local onde se situa a a escola. P - O que pensa sobre a morosidade do processo de colocação dos professores no Quadro de Zona Pedagógica (QZP) e no Quadro de Agrupamento /Escola Não Agrupada (QA/QE)? R - De facto, a colocação de professores é um processo moroso, demasiadamente moroso, e acho que é uma das razões pelas quais há tanta falta de professores neste momento em Portugal. Se for um professor que já esteja num quadro de escola ou no quadro de zona pedagógica o processo é um bocadinho diferente, é mais facilitado, porque já faz parte dos quadros. O processo divide-se em dois momentos. A primeira parte do processo de colocação começa em abril. Nessa altura, introduzimos os nossos dados pessoais Entrevistas

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Enquanto alunos, sempre estivemos próximos e atentos aos problemas da colocação dos nossos professores. Ao longo dos anos, fomos percebendo a ansiedade a cada final de ano letivo e as dificuldades em garantir trabalho, mais ou menos longe da área de residência, com horário mais ou menos completo, a cada início de ano letivo. Quando perguntamos ao/à nosso/a professor/a preferido/a se no ano seguinte vai continuar a dar-nos aulas, obtemos quase sempre a mesma resposta: "Não sei, só sei em meados de agosto". Posto isto, decidimos aprofundar a questão, entrevistando a Professora Sara Rocha, que conhece por experiência própria as dificuldades sentidas pelos docentes no processo de colocação de professores. Leciona Inglês e Espanhol há 11 anos, já trabalhou com alunos de todos os níveis de ensino, de várias faixas etárias, e ainda não conseguiu integrar um quadro de escola na sua área de residência. A sua experiência de docência inclui também a passagem, durante um ano, pela “Internatinal House H Pamplona”.

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e profissionais uma plataforma ou, como de ano para ano são os dados como sempre os mesmos, limitamonos a validá-los. A segunda fase, a da manifestação de preferências, é na segunda quinzena de julho. Essa, sim, é uma “dor de cabeça”. Nessa altura, colocamos todos os códigos das escola, do concelho e de “QZP” (quadro de zona pedagógica) nos quais queremos ser colocados, por ordem de preferência. Como devem imaginar, é um processo muito demorado, inserimos centenas de códigos e é um “tiro no escuro“, porque nada nos garante que nós de facto vamos ser colocados na primeira ou na segunda preferência.

"Acho que devia ser aplicado na colocação de

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professores o critério da preferência regional, resolvia tantos problemas. Há várias pessoas a

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concorrer para o mesmo concelho, mas teriam prioridade as pessoas cuja a residência fizesse parte desse concelho." P - Já foi colocada em alguma escola para a qual não tenha concorrido? R - Não, isso é impossível. Nós só somos colocados numa zona para a qual tenhamos concorrido, nem que seja em último lugar. Quando falamos de um quadro de zona pedagógica (QZP), este pode englobar vários distritos, várias escolas nesse distrito, ou seja, o “QZP” é o mais abrangente de todos, então aí é mesmo um “tiro no escuro”. Se nós colocarmos os códigos de escolas sabemos que estamos a concorrer especificamente para aquela escola, se colocarmos códigos de conselho significa que queremos ser colocados em todas as escolas do concelho e se colocarmos os códigos de “QZP” significa que queremos ser colocados em qualquer escola dos vários distritos daquele “QZP”. Portanto já me aconteceu ser colocada num dos últimos que coloquei que foi Mafra e fui lá parar. Depois, pensei, não devia ter concorrido para Mafra, mas uma pessoa na dúvida concorre. Acho que devia ser aplicado na colocação de professores o critério da preferência regional, resolvia tantos problemas. Há várias pessoas a concorrer para o mesmo concelho, mas teriam prioridade as pessoas cuja a residência fizesse parte desse concelho. Esta solução permitira resolver também o problema da falta de professores em algumas zonas do país, nos grandes “QZP´s” - o sete que é Lisboa, o oito e o nove que são o Alentejo e o dez que é o Algarve. Atualmente, se um professor contratado com menos tempo de serviço quer ter uma oportunidade de ficar colocado tem que ir para longe de casa, preferencialmente para sul de Lisboa, porque a zona norte está praticamente preenchida com os colegas contratados que são mais velhos, têm muito tempo de serviço e nos passam à frente. Jornalistas em rede

Acho que se houvesse a preferência regional, isso resolvia muitos problemas, porque um dos grandes problemas da colocação de professores hoje em dia é o facto de termos que abandonar a nossa a zona de residência, a nossa casa, a nossa família, o nosso “habitat natural”, para irmos para fora, o que nos vai obrigar obviamente a gastar gasóleo e portagens, eventualmente a pagar uma segunda renda, e a viver longe da família, o que em termos de saúde mental é muito mau... Temos que ser muito fortes porque senão… é muito mau, muito mau. P - Na sua opinião, como se poderia agilizar todo esse processo e minorar os custos que os professores têm com a deslocação para fora da sua área de residência ou com o arrendamento de uma segunda casa de habitação? R - Vou-me repetir, mas essa questão da preferência regional acho que resolvia muitos problemas. Resolvia o facto de nós não temos que alugar segunda casa, de não temos que gastar tanto dinheiro em deslocações… Portanto, isso seria um ponto muito importante. Uma segunda solução seria, por exemplo, a existência de ajudas de custo, como acontece muitas vezes com os juízes e com os médicos, ou a criação de residências ou alojamentos locais para professores, que nos ajudassem a diminuir os custos da deslocação da nossa área de residência e, em muitos casos do pagamento de uma segunda habitação.

No meio disto tudo, há uma bebé, uma família que se separa e todo um contexto sentimental e de saúde mental que é afetado. Como ambos gostamos muito daquilo que fazemos, mas somos os dois professores contratados, andamos os dois de casa às costas. Vou falar-lhes de um caso concreto, o meu. O meu marido é professor como eu, mas de educação física. Para conseguir um lugar no concurso de professores, começou de “baixo para cima”. Esteve no Algarve dois anos e este ano esteve em Mafra e em Benavente. No meio disto tudo, há uma bebé, uma família que se separa e todo um contexto sentimental e de saúde mental que é afetado. Como ambos gostamos muito daquilo que fazemos, mas somos os dois professores contratados, andamos os dois de casa às costas. No no caso da educação física, que é um grupo de recrutamento que está completamente lotado, as dificuldades de colocação são ainda maiores. É caso para dizer: “por favor, não formem mais professores de educação física nos próximos 4/5 anos”, porque ou isto dá a volta ou não sei como é que vai ser. Ele teve de ir para longe, com tudo o que isso implica, e provavelmente ainda vai continuar neste situação mais alguns anos. Continua na pagina seguinte) Entrevistas

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Colocação de professores - Entrevista com a professora Sara Rocha

"Adoro o que eu faço, sinto que nasci para isto. Ao longo da minha vida - dos vários anos em que estudei, quando era aluna na Camilo, quando fui para a Faculdade de Letras do Porto e quando saí da Universidade - percebi que era este o meu caminho."

P - Lecionou em Espanha, na escola “Internatinal House Pamplona”. Que semelhanças/ diferenças encontrou em relação ao sistema de ensino português, em particular no processo de colocação de professores? R - Bom, o sistema de ensino espanhol tem partes muito parecidas, mas tem características que são muito diferentes, para melhor, acho eu. Por exemplo, os alunos têm teatro desde muito pequenos. Mas vou falar de uma questão específica, que eu acho que é muito boa no sistema educativo espanhol que é a preocupação com a aprendizagem do inglês. Os espanhóis têm a noção de que são muito “duros de ouvido” para as línguas estrangeiras, mas têm consciência que o inglês vai abrir muitas portas aos seus filhos e que, chegando à universidade, vão precisar de dominar bem essa língua. Assim, os alunos têm inglês desde os três anos e, para além do inglês curricular, têm o inglês de Cambridge, que lhes permite realizar exames e obter um certificado reconhecido em todo o mundo. Era aí que eu entrava: dava aulas de inglês Cambridge a esses meninos. O que é engraçado é que no segundo semestre todas as aulas eram dadas em inglês, ou seja, os alunos têm ciências em inglês, matemática em inglês, educação física em inglês, história em inglês… precisamente para a desenvolver a língua inglesa. Isso fazia com que muitos dos meus colegas fossem também meus alunos, porque não tinham nível de inglês para poder dar a sua disciplina nessa língua. Outro aspeto que achei interessante no sistema de ensino espanhol, foi a existência do Gap Year para os alunos do Ensino Secundário. Tal como acontece nos Estados Unidos e em Inglaterra, depois de conclu Jornalistas em rede

irem o Secundário, podem esperar um ano antes de entrar numa universidade e perceber melhor o que querem fazer, que área é que querem seguir, sem ter aquela pressão de decidir logo, porque em setembro têm de esta a frequentar uma universidade. Em relação à colocação de professores, não tenho grande conhecimento sobre o processo. Sei que depende também do Ministério da Educação, que também passa por um concurso e que tem a ver com o tempo de serviço, mas especificamente não sei mais nada. P - Se surgisse a oportunidade, voltaria a lecionar em Espanha? R - A verdade é que um filho muda muita coisa, muita coisa… Eu aprendi muito em Espanha no ano em que lá trabalhei, estudei em Espanha, mas estudar e trabalhar implicam contextos diferentes. Aprendi muito enquanto professora e cresci muito enquanto pessoa, mas foi um ano muito difícil para mim. Portanto voltar… voltava, mas só se fosse com a família atrás de mim.

Aprendi muito enquanto professora e cresci muito enquanto pessoa [em Espanha], mas foi um ano muito difícil para mim. Portanto voltar… voltava, mas só se fosse com a família atrás de mim. P - Apesar dos obstáculos que enfrenta na sua profissão, mormente as enormes dificuldades em integrar os quadros, de zona e de escola, o que a faz continuar? R - O que me faz continuar é muito simples. Adoro o que eu faço, sinto que nasci para isto. Ao longo da Entrevistas

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minha vida - dos vários anos em que estudei, quando era aluna na Camilo, quando fui para a Faculdade de Letras do Porto e quando saí da Universidade percebi que era este o meu caminho. Eu gosto muito do que faço, é minha paixão! A relação que se tem com os alunos é a outra razão que me faz continuar e gostar cada vez mais da minha profissão. Primeiro a paixão que tenho pelo que faço e depois os alunos. Ver a evolução dos alunos. Aprender muito com os alunos. No fundo, passamos mais tempo com eles do que com a nossa própria família, passamos mais tempo na escola do que em casa. E nunca nos podemos esquecer que os alunos são pessoas, que estamos a falar para pessoas.

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O reconhecimento do nosso trabalho por parte dos alunos (e dos nossos pares) é muito importante. Qualquer pessoa gosta de ter um bocadinho de reconhecimento na sua área, na sua profissão. Voltando à vossa pergunta, e sintetizando, o que me faz continuar são a paixão pelo que faço e o privilégio de trabalhar com alunos e poder constatar (e faze parte) (d)a sua evolução (como aprendentes e como seres humanos).

Chegar a fim do ano letivo e perceber a evolução nos alunos quer ao nível de língua, que é o meu caso, porque é a minha disciplina, quer ao nível do crescimento pessoal, vê-los mais autónomos, mais libertos (alguns alunos, mais fechados no início, "soltam-se"), vê-los mais adultos, mais seguros de si mesmos, tudo isto é muito gratificante para um professor.

Eu acho que um professor tem que ter essa essa sensibilidade de perceber que há ali seres humanos, que há ali filhos de mães e pais e que também têm dias menos bons (porque nós temos dias menos bons) e que são parte fundamental disto tudo. Chegar a fim do ano letivo e perceber a evolução nos alunos quer ao nível de língua, que é o meu caso, porque é a minha disciplina, quer ao nível do crescimento pessoal, vê-los mais autónomos, mais libertos (alguns alunos, mais fechados no início, "soltam-se"), vê-los mais adultos, mais seguros de si mesmos, tudo isto é muito gratificante para um professor. Claro que nem todos os alunos gostam de nós enquanto pessoa, mas também não precisam de gostar enquanto pessoa, precisam é de, quando voltarem a encontrar-me na rua, alguns anos mais tarde, olharem para mim e lembrarem-se da disciplina, lembrem-se do espanhol. Às vezes ficam “Ah, lembro-me daquela aula, lembro-me da outra aula...”. Acontece-me, muitas vezes, encontrar na rua exalunos que já estão na Faculdade, que já trabalham, que me reconhecem e cumprimentam, o que é muito bom. Mas dizerem que se lembram do espanhol ou do inglês com carinho e constatar que vêm, felizes, ter comigo a informar “Oh professora, depois acabei por ir para Espanha..", ou a evocar, de forma cúmplice, situações de aula, momentos vividos na escola, deixa-me muito, muito contente.

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