Revista da Metrópole do mes de outubro

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notas da Metrópole

Crise. Que Crise?

Número errado

Quem achava que em tempos de crise financeira os milionários frustrados pensariam duas vezes em desembolsar uns “trocados” para satisfazer seus desejos de consumo, se enganou. Mais de 20 mil barões de todas as partes do mundo apareceram na 16ª edição da Millionaire Fair, feira internacional para pessoas muito ricas realizada este mês em Munique, na Alemanha. Os últimos modelos de Ferrari, casas de caviar, cadeias de hotel, galerias de arte, tudo à disposição dos cheios-da-grana em plena crise.

A aposentada Cinara Salles Mioso, 53, fez sua campanha para vereadora de Pejuçara (RS) com o número errado. O erro só foi descoberto no dia da votação, quando potenciais eleitores se depararam com a informação “candidato inexistente”, ao digitarem o número 13.162. Confusos, muitos invalidaram seus votos. Os que tiveram mais paciência e procuraram na lista descobriram que Cínara fora registrada na Justiça Eleitoral sob o número 13.612. A petista lamentou a falha e disse não saber em que momento sua campanha errou.

Cidade

A injusta partilha da gorjeta Bares e restaurantes lucram em cima da generosidade dos clientes Lara Thomazini

De crianças estabanadas derrubando líquidos na mesa a clientes que pedem seus pratos escolhendo até a quantidade de grãos de arroz que devem vir, o trabalho de garçom já traz em seu próprio conceito motivos suficientes para ser difícil e desgastante. O pensamento de que no final de cada dia o sorriso congelado no rosto e a vista cansada de contar os grãos do risoto seriam recompensados com uma digna gorjeta já seria, ao menos, alento para as costas cansadas de passar toda a noite em pé. O Sindicato dos Funcionários de Bares e Restaurantes (Sinthoresp) publicou, no começo do mês de outubro, o resultado de uma pesquisa feita em São Paulo que apontava que cerca de 70% dos estabelecimentos não repassavam a taxa de 10% paga, em cima do valor da conta, pelos clientes aos garçons. Em Salvador, apesar de não haver nenhum estudo recente sobre o assunto, as coisas não são muito diferentes. É comum bares e restaurantes embolsarem parte da gorjeta e ainda utilizarem o fato do cliente ter pagado o extra ou não como forma de controlar o trabalho do atendente. As formas que os bares e restaurantes encontram para ficar com parte da gorjeta paga aos garçons são criativas. O Kitemaki, uma temakeria na Pituba, por exemplo, conta a casa como sendo um 20

atendente na hora de dividir os valores arrecadados entre os funcionários. Ou seja, se seis pessoas trabalharam naquele dia, o total será dividido por sete e a temakeria vai embolsar um sétimo do total. No Ferreiro Café, no Salvador Shopping, do total de 10% arrecadados, apenas cerca de 7,5% ficam realmente para os funcio-


Três dos dez maiores Comemorando dois anos de Brasil, a versão tupiniquim da revista Rolling Stone resolveu fazer mais uma de suas famosas listas para eleger os melhores e piores do mundo da música. Dessa vez, a publicação traz os “100 maiores artistas brasileiros”. Destaque para a participação dos baianos na lista, que ocupam três das dez primeiras posições. O pai da Bossa Nova, João Gilberto, além de Caetano Veloso e Gilberto Gil, são os nossos principais representantes.

Proibido namorar Antes de passar o bastão para seu vice, Capitão Azevedo (DEM), que venceu as eleições deste ano, o atual prefeito de Itabuna, Fernando Gomes (DEM), resolveu tomar uma atitude pouco popular, após a re-inauguração da Praça Octávio Mangabeira. Desde que foi reaberta, após uma reforma, Gomes ordenou aos guardas que tomam conta do local que proíbam casais de namorados de ficarem aos beijos. Parafraseando o próprio Octávio Mangabeira, “pense num absurdo: em Itabuna tem precedente”.

nários. “Os outros 2,5% são usados para cobrir perda de material da casa”, conta um garçom que trabalha no local e não quis se identificar. Ainda no Salvador Shopping, no Farid, restaurante de comida árabe, os garçons até recebem parte da gorjeta, mas não sabem quanto do total é descontado. Um dos atendentes do local, que preferiu não ver seu nome publicado, diz que no final do mês o restaurante apenas repassa um valor para cada garçom, sem mais detalhes. O caso mais gritante descoberto pela reportagem da Revista Metrópole é o do Amanda Bar e Restaurante, em Pituaçu, que paga aos garçons, como salário, apenas a gorjeta oferecida pelos clientes e ainda assim com descontos: desconto para limpeza do local, desconto por pedido digitado errado, desconto por pratos ou copos quebrados. Um dos funcionários do local, que não quis

As formas que os bares e restaurantes encontram para ficar com parte da gorjeta são criativas se identificar, conta ainda que começou a trabalhar no Amanda como diarista nos finais de semana, mas que atualmente trabalha seis dias por semana. “Algumas vezes saio daqui de madrugada e tenho que voltar às 9h. Venho de ônibus e nem transporte eles dão. Isso é muito comum nessas casas do ramo”, diz. E complementa: “Eles colocam os 10% na conta, mas é melhor que o cliente me dê

Bandidos bem vestidos I

Bandidos bem vestidos II

Dois assaltantes armados invadiram uma igreja evangélica em Brasília (DF) e levaram diversos pertences dos fiéis, pouco antes do final do culto, no domingo (12), dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. A ação ocorreu numa filial da Igreja Presbiteriana Independente. Mais de 50 pessoas entregaram dinheiro e jóias a homens bem trajados, sem oferecer resistência (o que não é nenhuma novidade). A ação durou pouco mais de 20 minutos.

Quatro homens bem trajados assaltaram o edifício comercial Power House, no bairro do Rio Vermelho, na quinta-feira (8). Enquanto um deles esperava no carro, os outros três saquearam quatro salas do prédio, levando notebooks, celulares e outros objetos de valor. Uma das vítimas do assalto, que chegou a passar mal no momento da ação dos meliantes, foi acudida por um deles. Ela recebeu um copo com água do bandido, para que se acalmasse. Os assaltantes fugiram, mas não deixaram uma impressão tão má.

a gorjeta por fora, que assim eu posso ficar com o dinheiro todo”. O presidente da sede baiana da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Luiz Henrique do Amaral, diz que o órgão quer que o pagamento dos 10% seja regularizado, mas que não há nenhum tipo de indicação por parte da associação sobre como os bares e restaurantes devem agir. “Como não há nenhum tipo de regulamentação, não há nenhum processo relacionado a isso”. Engana-se. O artigo 457 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) determina em seu parágrafo terceiro que considera-se gorjeta “não só a importância espontaneamente dada pelo cliente ao empregado, como também aquela que for cobrada pela empresa ao cliente, como adicional nas contas a qualquer título, e destinada à distribuição aos empregados”. O advogado Fabrício Vila, especializado em Direito do Trabalho, diz que não apenas os 10% pagos na conta devem ser repassados aos funcionários, como a média de valores extras deve fazer parte do cálculo para o décimo terceiro salário, pago no fim do ano. “Mesmo o pagamento informal, a gorjeta, deve ser entendido como parte do salário do garçom”, explica. Há ainda um projeto de lei tramitando no Congresso Nacional, da Senadora Patrícia Saboya (PDT-CE), que adiciona seis parágrafos ao artigo 457 e prevê a regulamentação total da gorjeta. O parágrafo quarto, de autoria da senadora, já prevê: “as gorjetas cobradas, no valor de até dez por cento da conta, serão distribuídas entre os empregados, proporcionalmente ao tempo individual de trabalho do garçom no mês, e os valores serão pagos junto com a remuneração do mês seguinte”.

Os 10%, uma das poucas armas que o cliente tem para garantir ser bem atendido – o que ainda é incomum em Salvador – acabam virando nova fonte de lucro para os bares e restaurantes. Não basta vender um refrigerante que custou em média 80 centavos por R$ 2,50, embutir no valor dos produtos vendidos os custos do estabelecimento. Alguns bares e restaurantes ainda colocam 10% a mais no valor das contas, que estão cada dia mais altas, disfarçados de gorjeta e utilizam-se disto para controlar o trabalho de seus funcionários, que sorriem, limpam e atendem sem qualquer incentivo para atender bem o cliente. Da próxima vez que você for sair para comer fora, pergunte como é distribuído o extra que você paga e, caso ache necessário, dê a gorjeta diretamente ao garçom. •

Revista Metrópole -outubro de 2008

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