Contato, Fevereiro de 2024: Amor

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MUDE SUA VIDA. MUDE O MUNDO.

O AMOR AMA O DESAGRADÁVEL Reflexões de uma professora

Mostremos compaxão

Derrubando as barreiras

A mulher junto ao poço

Jesus e a samaritana

O amor muda os corações Tudo é possível


Volume 25, Número 2

C O N TATO P E S S OA L O poder do amor mútuo “Existe alguma crença da qual você tenha se libertado?” A pergunta foi feita a uma artista famosa, em uma entrevista publicada em um jornal de grande circulação. Em resposta, a entrevistada explicou que fora criada como ateia e que se considerava agnóstica, mas que testemunhar a dinâmica do amor e da união entre os cristãos a provocava a questionar sua incredulidade. Ela percebeu algo transcendente no amor e, com sua fala, produziu uma imagem vívida do que Jesus disse aos Seus seguidores: “Nisto conhecerão todos que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (João 13:35). Um dos meios mais poderosos e singulares que temos para revelar Deus aos outros é pelo nosso exemplo de amor, bondade e genuíno interesse pelos outros. Quando os cristãos manifestam por ações o amor e o desvelo de Deus, muitos pensam: “Talvez esse Deus sobre o qual falam exista mesmo e esse Jesus que adoram seja real”. Os artigos escritos por Lucas e por Irena ressaltam como o amor de Deus é poderoso e como as ações por ele motivadas podem derreter até os corações mais duros.1 Neste mundo marcado por divisões, conflitos políticos e pela erosão da confiança no próximo, os cristãos que, em vez de se limitarem a criticar os outros, ajudarem quem precisa, confortarem os solitários, forem amáveis, compassivos e respeitosos uns com os outros despontarão como testemunhos poderosos para os demais. Cristo enfatizou esse amor que devemos cultivar entre nós, ao dizer: “O Meu mandamento é este: ‘Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei’” (João 15:12). Podemos expressar o amor de Deus por nossas ações. Ao amarmos uns aos outros, permitimos que Jesus fale e brilhe por meio de nós. Foi o que Iris e seus colegas fizeram com Willie. Não perca essa emocionante história em “Um Pequeno Ato de Bondade.”2 Celebremos o amor e a amizade! Busquemos oportunidades para amar sermos bons com nossos cônjuges, outros familiares, amigos, conhecidos, imigrantes e desconhecidos.

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Gabriel e Sally García Equipe Editorial da Contato

referências às Escrituras na Contato foram extraídas da “Bíblia Sagrada”–Tradução de João Ferreira de Almeida–Edição

1. Ver páginas 7–9

Contemporânea, Copyright © 1990, por

2. Ver páginas 12–13

Editora Vida.

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DEMONSTRANDO

O AMOR DE DEUS NO DIA A DIA Por Marie Knight

Semanalmente, distribuímos roupas e alimentos para as instituições de caridade de nossa cidade e, por um tempo,

também flores — centenas de buquês todas as semanas. Drenávamos a água dos baldes onde as flores ficavam antes de as colocarmos no veículo, mas, mesmo assim o carpete do carro ficava molhado durante o transporte. Além disso, quando o volume de alimentos era grande, ficava difícil acomodar as flores. Por essas inconveniências, volta e meia eu reclamava: “Não dá para comer flores! Murcham e não duram mais do que alguns dias! Não é uma necessidade!” Com o tempo, as doações de flores diminuíram e se tornaram esporádicas. Recentemente, contudo, durante a entrega de alimentos em uma das instituições com as quais trabalhamos, esperava alguém para me ajudar a descarregar quando notei uma senhora alegre e divertida. Pela maneira como interagia com as pessoas ali, era óbvio que era assídua naquela organização. Parecia muito à vontade e conhecia todos eles pelo nome.

Então puxou conversa comigo e expressou sua gratidão pela ajuda que recebia da organização, já que sua pensão não cobria todas as suas contas. Então, com um olhar saudoso, confidenciou: “Você sabia que costumavam dar flores para todos?! Um buquê para cada pessoa. Oh, eram lindas!” Então alguém a chamou e eu fiquei ali, sentindome culpada. A mulher não sabia que éramos nós quem trazia as flores nem estava reclamando que a entrega dos buquês havia parado. Entretanto, aquela conversa me mostrou que, às vezes, as coisas pequenas, aparentemente desnecessárias e supérfluas, também fazem a diferença. Enquanto eu reclamava, o Senhor usava as flores para mostrar àquela mulher e a muitos outros que Ele não é apenas um provedor, mas que tem carinho por eles! Desde então, parei de reclamar quando nos oferecem doações de flores e até peço por elas! Lembro do olhar saudoso daquela mulher e oro para que ela receba o seu buquê. Marie Knight é missionária voluntária em tempo integral nos Estados Unidos. ■ 3


A MULHER JUNTO AO POÇO Muitos que conhecem o termo “bom samaritano” não sabem sobre os naturais de Samaria

nem sobre a inimizade histórica que existia entre eles e os judeus. Em 720 a.C., Salmaneser, imperador da Assíria, invadiu o Norte de Israel e levou cativa grande parte da população das dez tribos que ocupavam a região, que passou a ser conhecida como Samaria e para onde o monarca assírio levou grande número de estrangeiros, vindos de terras longínquas. (Veja 2 Reis 17:22–34.) Muitos dos descendentes de judeus que não foram levados cativos se casaram com os novos habitantes e assimilaram elementos das várias culturas que ali se 4

estabeleceram. Os samaritanos mantiveram o culto ao Deus dos judeus, mas não consideravam Jerusalém a cidade santa nem adoravam no templo em Jerusalém. Para eles, o Monte de Gerizim, em Samaria, era o lugar mais sagrado, onde deviam adorar a Deus e sobre ele construíram um templo. Todavia, por terem costumes e adoração religiosa diferentes, eram evitados pelos judeus. A aversão era tanta que, em suas viagens entre a Judeia e a Galileia, os judeus preferiam cruzar o Rio Jordão e dar uma grande volta para evitar o contato com os samaritanos, mesmo quando passar pela Samaria lhes seria mais rápido. Por isso, os discípulos de Jesus ficaram surpresos quando, a caminho de Sua terra natal, Ele decidiu tomar o caminho


mais curto, pela terra dos samaritanos, ignorando as convenções da época. No percurso, depois de muitos quilômetros a pé em terreno acidentado e pedregoso, chegaram ao Poço de Jacó, construído pelo patriarca e seus filhos, havia quase dois mil anos. Cansados e sedentos, Jesus e Seus seguidores se reuniram ao redor do famoso poço para saciar a sede, mas não tinham cântaro para retirar a água que ficava a mais de 30 metros de profundidade. Como tampouco tinham comida, os discípulos decidiram comprar alimentos em Sicar, cidade que ficava a um quilômetro de onde estavam. Exausto, Jesus não os acompanhou, mas permaneceu sentado junto ao poço para descansar (João 4:5–6). Não demorou, chegou ali uma mulher carregando um jarro vazio. Ao se aproximar, olhou com desconfiança e surpresa para Jesus, até então um estranho para ela. Só pode ser judeu — pensou e, esperando não ser incomodada, preparou-se para tirar água do poço. — Você me daria um pouco de água para beber? — perguntou Jesus. Surpresa, a mulher olhou para Ele e O questionou: — Como é que Você, um judeu, pede a mim, mulher samaritana, para lhe dar água? (Ver João 4:7–9.)

— Se você conhecesse o dom de Deus e Quem está pedindo, você Me pediria e Eu lhe daria água viva! — respondeu Jesus. — O senhor não tem com que tirar a água e o poço é fundo. Onde vai arranjar essa tal “água viva”? E, talvez com a intenção de colocar aquele estranho no seu devido lugar, acrescentou: — Por acaso é maior do que o nosso pai Jacó que nos deu este poço, do qual beberam ele próprio, seus filhos e seu gado? (Ver João 4:10–12.) — Qualquer que beber desta água tornará a ter sede, mas aquele que beber da água que Eu der, nunca mais terá sede, porque a água que Eu lhe der se tornará nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna! — respondeu Jesus. Sem dúvida, aquela era uma afirmação extraordinária! Não muito certa se O havia entendido, a mulher disse: — Senhor, dê-me essa água para que eu nunca mais tenha sede e nem precise voltar aqui para tirar água do poço (João 4:13–15). Entretanto, para a surpresa da mulher, Jesus disse: — Antes, vá chamar o seu marido; depois, volte aqui. — Não tenho marido. — Você tem razão quando diz que não tem marido. A verdade é que você já teve cinco maridos e o homem com quem você vive agora não é seu marido. O que você acabou de dizer é bem verdade (João 4:16–18.) Impressionada, a mulher se perguntava como aquele estranho sabia detalhes da sua vida particular... a menos que fosse um profeta?! Então, ocorreu-lhe que talvez ali estivesse alguém capaz de resolver a questão mais controversa da época! — Senhor, vejo que é profeta. Então, depois de uma rápida pausa, apontou para o templo sobre o Monte Gerizim e disse: — Nossos pais adoraram neste monte, mas vocês, judeus, ensinam que Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. Jesus então respondeu: — Mulher, acredite no que lhe digo: A hora vem em que ninguém adorará o Pai neste monte nem em Jerusalém. A hora chegará (na verdade, já chegou) em 5


que os verdadeiros adoradores cultuarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim O adorem! Deus é um Espírito e é necessário que Seus adoradores O adorem em espírito e em verdade! (Ver João 4:19–24.) Quem dera pudéssemos simplesmente adorar a Deus nos nossos corações onde quer que estivéssemos! — pensou, impressionada com a explicação de Jesus. Então decidiu ir além e abordou o assunto do tão esperado Messias. — Sei que o Messias, quando vier, esclarecerá tudo. Então, olhando nos seus olhos, Jesus disse: — Eu sou Ele. Eu que falo com você” (João 4:25–26). Espantada, a mulher fitou Jesus pensando: Será que Ele é realmente o Messias, o Cristo? Então, o diálogo foi subitamente interrompido pelo som dos discípulos de Jesus que regressaram da cidade e se admiraram por encontrá-lO conversando com uma mulher. A samaritana deixou seu cântaro, voltou correndo para a cidade e, ao chegar ao mercado, chamou animadamente os que ali estavam: “Venham ver um homem que me disse tudo o que já fiz! Será que é o Cristo?!” (João 4:28–29). 6

Sua convicção e entusiasmo levaram muitos a crer em seu relato e que o homem do qual ela falava era o tão esperado Messias. Não demorou, os discípulos de Jesus avistaram a mulher acompanhada de uma grande multidão correndo em sua direção. Os samaritanos convidaram Jesus a ficar com Seus discípulos na cidade para lhes ensinar e, quando Jesus aceitou, regozijaram-se e os acompanharam de volta para Sicar. Então, por dois dias, Jesus ensinou naquela cidade, muitos que ouviram Suas lindas Palavras passaram a crer e, maravilhados, disseram à mulher: — Já não é pelo que você nos disse que acreditamos. Nós mesmos O ouvimos e sabemos que esse homem é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo! (João 4:39–42). No Seu último dia em Sicar, enquanto os ilustres visitantes se preparavam para continuar a jornada para a Galileia, uma multidão veio se despedir deles. A samaritana Lhe disse adeus com um sorriso de alegria, pois passou a compreender plenamente o significado das palavras que ouvira junto ao poço, pois uma fonte de água viva passara a jorrar em sua alma. Esse belo relato encontrado no Evangelho segundo João nos dá um exemplo de como Jesus rompia com as tradições da época para alcançar as almas perdidas e os solitários com o amor e a verdade de Deus. Além de ignorar as diferenças culturais, étnicas e religiosas que separavam os samaritanos dos judeus, também olhou além dos pecados da mulher junto ao poço e enxergou uma alma que anelava sinceramente pelo amor de Deus. Isso mostra que o amor e a salvação de Deus em Jesus são para todos. “Deus amou o mundo [e cada pessoa] de tal maneira que deu Seu Filho, para que todo aquele que nEle crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). A história também destaca uma das promessas mais belas na Bíblia: Deus oferece a dádiva da salvação eterna a todo aquele que aceita Jesus e crê que Ele morreu cruz para termos perdão. Extraído de um artigo publicado no livro Tesouros, pela Família Internacional em 1987. ■


MOSTREMOS COMPAIXÃO

Por Lucas Hernández

Meu amigo e eu criticávamos a garçonete.

Concluímos que ela não merecia uma gorjeta. Afinal, ela não só não demonstrara nenhuma alegria, mas parecia mesmo incomodada por nos atender. Terminada a refeição que, a nosso ver, poderia ter sido mais agradável se a atitude da mulher fosse outra, meu amigo se levantou para atender a uma ligação telefônica. Enquanto o esperava, ofereci à “garçonete antipática” uma reprodução de uma imagem de Jesus que eu desenhara recentemente. Sempre tenho comigo várias dessas cópias impressas para dar para as pessoas com quem interajo: garçons, atendentes de lojas, etc. “O que é isso?” —perguntou. “É uma mensagem especial para o seu coração” — respondi. Imediatamente, de pé ao meu lado, a mulher começou a ler o curto texto. Uma lágrima escorreu em sua face. Surpreso, antes mesmo que ela terminasse a leitura, disse-lhe algumas palavras e ela se sentou à minha frente. Foi então que conheci uma pessoa maravilhosa, mas que, minutos antes, eu julgara de forma tão equivocada. Contou-me sobre as provações e dificuldades pelas quais estava passando. Expliquei-lhe que Jesus poderia ajudá-la a lidar com tudo aquilo, a encontrar as soluções para seus problemas e me ofereci para orar com ela para recebê-lO. Sem hesitação, fez uma fervorosa oração comigo para aceitar Jesus em seu coração. Ao nos despedirmos, ofereci-lhe uma boa gorjeta, mas não aceitou: “De jeito nenhum. Você me deu vida hoje! Por favor, não se esqueça de mim!”

Como sou de outra cidade, passei suas informações de contato para um amiga que mora nas redondezas e lhe pedi que procurasse ajudá-la no que lhe fosse possível. Foi uma experiência marcante que me ensinou a importância de não fazer julgamentos precipitados sobre os outros, pois como diz a citação, “Seja sempre gentil. Cada pessoa que você encontra está travando uma batalha sobre a qual você não sabe nada.” Lucas Hernández mora na Espanha. Há mais de 45 anos é voluntário e missionário, com atuação em vários países e organizações. ■

Jesus ama você . Morreu na cruz para que, por meio do Seu sacrifício, você possa ter vida eterna. Se você O invocar, Ele virá para você e nunca o deixará. Para receber Jesus, faça esta simples oração: “Querido Jesus, por favor, perdoe-me pelos meus pecados. Acredito que Você morreu por mim. Convido-O para entrar no meu coração e na minha vida. Por favor, encha-me com Seu amor e com o Espírito Santo. Ajude-me a amá-lO, amar os outros e a viver segundo as verdades na Bíblia. Amém.”

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O AMOR MUDA OS CORAÇÕES Por Irena Žabičková

O amor pode demolir os muros mais fortes; ser uma ponte sobre os mais amplos vales e

derreter os corações mais frios. Testemunhar o poder do amor na vida de uma amiga próxima foi para mim um enorme privilégio, uma grande lição e incrivelmente animador. Segue o que aconteceu: Depois de graduar-se, Barbara começou a trabalhar em um navio de cruzeiro, onde conheceu o homem com quem se casou. Mudou-se para o país natal do seu esposo e, em pouco tempo, aprendeu um idioma que até então desconhecia e se adaptou à cultura do novo lugar — obstáculos bem menos desafiadores que a relação com a família de seu marido. Por algum motivo, logo de início, seus novos parentes sequer tentaram esconder o fato de não gostarem dela. Não apenas se recusaram a ajudá-la nos primeiros anos de adaptação à nova situação, mas eram grosseiros e desagradáveis com ela. Moravam perto o suficiente para se verem com frequência, mas a ignoravam a ponto de sequer a cumprimentarem. 8

Parecia que só reconheciam a existência da Barbara quando falavam dela pelas costas. Os períodos mais difíceis eram quando o marido viajava a trabalho. Longe de seus familiares, sem amigos ou conhecidos e em um país estrangeiro, ela se sentia isolada e hostilizada. Foi em um desses períodos que a conhecemos e, às lágrimas, contou-nos sobre sua situação. Tornamonos amigos e sempre a animávamos a não pagar na mesma moeda, mas perseverar ao demonstrar amor, a ser generosa, simpática e a insistir em pequenos atos de bondade, mesmo quando fosse difícil e eles a ignorassem. Foi o que ela fez. Excelente confeiteira, assava bolos para os aniversários deles e outras ocasiões especiais. Fazia atividades especiais para o sobrinho pequeno e se mostrava prestativa de todas as formas que podia. Nada disso provocou nenhuma mudança visível ou manifestação de gratidão. Barbara sabia que só o amor poderia mudar aquela situação, mas depois de dois anos de boas ações não retribuídas, começou a desanimar, mas sua crença em


Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor é de Deus. Quem ama é nascido de Deus e conhece a Deus. E dEle temos este mandamento, que quem ama a Deus, ame também a seu irmão. — 1 João 4:7, 21 O Meu mandamento é este: Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a própria vida pelos seus amigos. Vós sois Meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando. — João 15:12–14

Deus e no amor a ajudou a não desistir, mesmo nas horas mais difíceis. Com o tempo, os muitos amigos que conquistara com sua personalidade amorosa e gentil mitigavam sua solidão durante a ausência do marido. Aprender o idioma e os costumes locais também contribuiu para facilitar a sua vida. Somente o relacionamento com a família do marido continuava uma questão não resolvida. Um dia, porém, ela nos ligou toda feliz. Uma conquista! A cunhada literalmente a cumprimentara! Foi um “oi” casual e quase inaudível, mas, para Bárbara, foi a melhor coisa que lhe acontecera em muito tempo, um raio de esperança, o primeiro sinal de luz no fim do túnel. Aquela saudação foi o início de várias e rápidas mudanças, pois, em poucos meses, passou a ser aceita carinhosamente no convívio com os parentes de seu esposo, como parte da família! Foi uma jornada longa e difícil. Muitas vezes minha amiga teve vontade de desistir, pois parecia não haver esperança nem sentido em continuar tentando. Entretanto, escolheu não dar ouvidos aos sentimentos negativos, mas a seguir em frente, lembrando que só o amor de Deus

poderia mudar aquela situação aparentemente impossível e sensibilizar aqueles corações. Foram mais de três anos de persistência até os primeiros resultados visíveis, mas Deus a ajudou a continuar terna e amorosa. Às vezes, quando me vejo em uma situação difícil, preterida, excluída e minhas tentativas de demonstrar bondade são ignoradas ou ridicularizadas, meu ego me diz que estou fazendo papel de boba e me humilhando. Contudo, a Palavra de Deus claramente ensina que devemos amar não apenas os amigos, mas também nossos inimigos, aqueles que não gostam de nós e até nos perseguem (Mateus 5:43–44). Os ensinamentos de Jesus e a história de Bárbara são para mim fontes de ânimo e me ajudam a continuar mostrando amor, certa de que, cedo ou tarde, o amor abre um caminho, supera os obstáculos e muda até os corações mais difíceis. “Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha” (1 Coríntios 13:7–8 ACF). Irena Žabičková é voluntária em tempo integral na organização Per un mondo migliore, com atividades na Croácia e na Itália. ■ 9


LOVINGKINDNESS Por Phillip Lynch

Quando comecei a ler a Bíblia, a palavra “lovingkindness” capturou minha atenção1. O termo provocava em mim um sentimento de acolhimento sempre quando a encontrava em trechos como estes: “Desposar-te-ei comigo para sempre; Eu te desposarei comigo em justiça, em juízo, em benignidade [lovingkindness] e em misericórdias” (Oséias 2:19 ACF). “Há muito que o Senhor nos apareceu, dizendo: Com amor eterno te amei; com benignidade [lovingkindness] te atraí” (Jeremias 31:3 ACF). “[Deus] Que redime a tua vida da perdição; que te coroa de benignidade [lovingkindness] e de misericórdia” (Salmo 103:4 ACF) Conceda-me o Senhor o seu fiel amor [lovingkindness] de dia; de noite esteja comigo a sua canção. É a minha oração ao Deus que me dá vida (Salmo 42:8). A expressão original em hebraico translitera-se chase e em versões mais recentes está traduzida como amor, amor fiel e bondade. Não gosto tanto. Lovingkindness parece traduzir o que Deus significa para mim. A palavra foi cunhada por Myles Coversale para expressar chase, quando compilou na íntegra a primeira Bíblia em inglês moderno. Até então, as traduções em grego e latim usaram termos que mais se aproximam de misericórdia. A misericórdia é algo maravilhoso e certamente todos

podemos concordar que Deus é misericordioso, mas Coverdale parece ter percebido um significado mais profundo, matizado e é por isso que hoje temos esta maravilhosa palavra em inglês: lovingkindness. Obviamente, outros estudiosos e tradutores concordaram com esse entendimento, pois mantiveram o termo em outras traduções da Bíblia, como a de Tyndale e a tradicional King James Version. Sem dúvida, Deus tem um amor maravilhoso por nós. O amor é Sua essência, como João deixou claro ao escrever que “Deus é amor” (1 João 4:8). Vários livros escritos centenas e até milhares de anos antes das Cartas de João nos trazem essa mensagem. Seus autores conheciam profundamente a Deus e sabiam que Ele cuidava deles com bondade, ternura e amor. Muitos pensam em Deus principalmente como o executor das punições descritas no Antigo Testamento ou como um Deus distante, indiferente ao sofrimento da humanidade. É um entendimento equivocado que não considera quase a totalidade das formas como Deus Se relaciona com a humanidade. Ele sempre nos amou. O amor é da Sua natureza. É impossível Deus não amar, pois não pode contrariar Sua própria natureza. Nunca poupa lovingkindness e sou-Lhe muito grato por isso!

1. Do inglês, significa, literalmente, “bondade amorosa”.

Phillip Lynch é um romancista e comentarista de questões espirituais e escatológicas. Mora no Canadá. ■

Corresponde à palavra “benignidade” em várias traduções da Bíblia. 10


OS CANDELABROS DO BISPO Por Amy Joy Mizrany

Dentre as muitas, poderosas e memoráveis histórias que Victor Hugo tece em “Les Misérables” minha favorita é a protagonizada pelo ex-presidiário Jean Valjean e pelo bispo de uma pequena cidade francesa. Rejeitado por praticamente todos na região quando buscava um lugar para ficar, Jean aparece na casa do bispo. Depois de lhe contar todos os seus erros e crimes, pergunta: “Eu ia dormir na rua, mas alguém me disse para vir aqui. O senhor me deixaria entrar?” Movido por compaixão, o religioso convida o andarilho para jantar, chama-o de “senhor” e pede à sua governanta preparar uma cama para o hóspede. Surpreso, Jean pergunta por que o bispo fazia aquilo: “Sou um homem de Deus” — respondeu, explicando que aquela casa não lhe pertencia, mas a Cristo. Durante refeição Jean nota os talheres e dois belos candelabros de prata, as únicas coisas de valor na casa. Ao término do jantar, o bispo leva Jean até seu quarto e lhe deseja boa noite. Antes do amanhecer, enquanto o bispo dormia tranquilamente, Jean se levanta e, determinado a roubar a prataria, se prepara para forçar a porta do armário, mas a encontra destrancada. Então, rapidamente coloca os valores em sua bolsa e foge. Depois que o sol nasceu, enquanto a governanta angustiada relatava ao bispo o sumiço da prata, ouvese uma batida à porta. Era Jean Valjean, trazido por policiais, que, quando explicavam haverem encontrado o ladrão com os talheres de prata, foram interrompidos pelo bispo que disse sorrindo: “Ah, Jean, que bom que

voltou! Por que não levou também os candelabros que lhe dei?” Depois que os policiais partiram surpresos, o bispo entrega os castiçais para Jean, exorta-o a se tornar um homem honesto e lhe diz para ir em paz. Então o ladrão arrependido se tornou conhecido por sua bondade, generosidade e salvou muitas vidas com sua coragem e integridade. A compaixão do bispo foi para ele o ponto de virada, que lhe deu esperança e um senso de valor. A parte mais poderosa da história é a simplicidade com que o religioso demonstra o amor de Deus, sem hesitar nem esperar nada em troca. É uma bela representação de 1 Pedro 4:8 (ACF): “Tende, antes de tudo, ardente amor uns para com os outros, porque o amor cobre uma multidão de pecados.” Amy Joy Mizrany é natural da África do Sul, onde é missionária em tempo integral com a organização Helping Hand e membro da Família Internacional. Em seu tempo livre, ela toca violino. ■ 11


UM PEQUENO ATO DE BONDADE Por Iris Richard

Depois de receber a triste notícia do falecimento do nosso amigo Willie, fiquei pen-

sando sobre os momentos em que conseguimos ajudá-lo, lembrei das suas muitas dificuldades e refleti na importância de estender a mão quando a oportunidade surge. Ninguém sabe o que vai acontecer no futuro, pelo que, de tempos em tempos, devemos ajustar as prioridades e foco na vida, para recalibrar nosso entendimento do que tem valor duradouro e sermos orientados por propósitos que produzam em nós senso de realização e felicidade. É o que ressalta uma citação de Marla Gibbs que li recentemente: “Aprendi que a verdadeira felicidade vem de dar. Ajudar os outros ao longo do caminho me permite 12

avaliar quem sou. Acredito que todos buscamos o amor. Não encontrei ninguém que o amor não tenha tornado uma pessoa melhor.” Como tantas pessoas pobres no Quênia, a história de Willie foi marcada por dificuldades e sofrimentos. Começou numa manhã, quando, a caminho do trabalho foi atropelado por um carro em alta velocidade. O motorista fugiu, deixando Willie gravemente ferido à beira da estrada. Um estranho, um “bom samaritano”, o levou às pressas para o hospital, onde tiveram que amputar sua perna acima do joelho. Devido ao acidente e à longa e dolorosa recuperação, ele perdeu o emprego e ficou sem renda. Sem opções,


PARA PENSAR

mudou-se para um barraco em uma favela. As condições de sua moradia e das ruas daquele lugar não lhe permitiam usar uma cadeira de rodas e até mesmo usar muletas era difícil. A única pessoa que de alguma forma o ajudava era sua irmã, mas ela tinha poucos recursos para oferecer. Nós o conhecemos e soubemos de sua necessidade quando distribuíamos alimentos para pessoas carentes. Era um programa de assistência que contava com uma lista de beneficiários tão extensa, que seria compreensível se decidíssemos não incluir o rapaz. Escolhemos ajudá-lo. Fomos até o pequeno e escuro casebre em que ele vivia e ouvimos sua história. Sentimos que Deus nos levara a uma alma desesperada. O trágico acidente o havia mergulhado em profunda desesperança e depressão. Nossa visita e a promessa de cestas básicas regulares o animaram e trouxeram um sorriso àquele rosto marcado pela dor. Com lágrimas nos olhos, Willie disse que Deus havia respondido suas preces ao nos enviar para trazer luz e esperança à sua escuridão. Ficamos contentes por termos seguido o impulso de ir além, fazendo assim uma profunda diferença na vida dessa pessoa. Agora que nosso amigo partiu desta vida, fico feliz por termos conseguido aliviar um pouco seu fardo ao longo dos anos. Vale a pena ouvir a voz suave e mansa de Deus, a consciência que Ele nos deu e que frequentemente fala a nossos corações, indicando a direção que devemos seguir. Somos Seus filhos e queremos amar uns aos outros (Mateus 22:39), mas, muitas vezes, deixamos passar oportunidades de aliviar a dor de alguém. Isso pode acontecer porque não estamos cientes das necessidades dos outros, ou porque nos falta empatia, a chave que abre a porta e libera nossa gentileza e compaixão. Todos precisamos de estímulo de vez em quando para continuar usando o dom da compaixão e fazer a nossa parte para encorajar e ajudar os outros. Iris Richard é conselheira no Quênia, onde tem sido ativa em trabalhos comunitários e voluntários desde 1995. ■

A

bondade nunca é em vão

A bondade é um clarão de luz que pode transformar o momento sombrio de alguém. Não é possível medir a importância do seu desvelo pelos outros. Faça a diferença na vida de alguém hoje. — Amy Leigh Mercree A melhor parte da vida de uma pessoa boa é composta dos pequenos atos de bondade e amor feitos no anonimato e que, muitas vezes, não são lembrados pelos demais. — William Wordsworth Um cristão revela verdadeira humildade ao mostrar a ternura de Cristo, ao estar sempre pronto para ajudar os outros, ao proferir palavras bondosas e realizar atos altruístas, que elevam e enobrecem a mensagem mais sagrada que veio ao nosso mundo. — Ellen G. White Seja aquele que nutre e constrói. Tenha um coração compreensivo, perdoe e busque o melhor nas pessoas. Torne as pessoas melhores do que quando as encontrou. — Marvin J. Ashton Quero desafiar você a procurar situações para fazer algo inesperado e assim demonstrar seu interesse pelos outros. Quando pensar em algo, não hesite em fazer e tornar o dia dessa pessoa melhor. ... Essas boas ações inesperadas demonstram interesse genuíno, ajuda a pessoa a entender que, quem ela é e o que faz é importante. — Todd Smith Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros. —Filipenses 2:4 13


O AMOR AMA ODÁVEL DESAGRA Por Sa lly G

a rcía

Toda sala de aula tem aquele aluno que dá mais trabalho que os outros. É difícil de

lidar, mal-humorado, desobediente e destoa do resto da turma. Uma criança assim pode ser um dilema para os professores. Devemos assumir que ela enfrenta desafios dos quais não estamos cientes e, por isso, a tratamos com misericórdia e graça? É melhor deixá-la se virar com suas dificuldades, provações ou infelicidades, ou devemos procurar vê-la como um diamante a ser lapidado? Muitas vezes, um ato de bondade pode ser o ponto de virada na vida de alguém. É preciso saber priorizar e escolher como interagir com cada aluno. Corrigir cada errinho vai transformar a sua vida, a vida da criança e do resto da turma em um inferno. É nessas horas que vale lembrar que o amor cobre uma multidão de falhas. (Veja 1 Pedro 4:8.) Encontramos uma parábola nos Evangelhos sobre um credor que reduziu pela metade a enorme dívida de um homem. Entendeu que forçá-lo a pagar tudo poderia desanimar o inadimplente a ponto de ele não pagar nada, mas que aquela redução poderia incentivá-lo a quitar pelo menos parte do que devia. (Veja Lucas 16:1–13.) 14

Faz-me pensar nos alunos que abandonam os estudos porque desanimam, achando que nunca conseguirão fazer tudo o que se espera deles. Como professora, faço uma lista mental do essencial que devo esperar de cada estudante. No topo da lista está o respeito mútuo, que abre a porta para um diálogo maduro. Respeitar também é uma forma de amor e aceitação que nos faz vicejar! Não devo me preocupar com trabalhos malfeitos, canetas perdidas e livros que o aluno se esqueceu de levar. Pelo contrário, devo me ater ao essencial do currículo e ajudar o aluno a superar obstáculos, para que se sinta confiante e descubra o doce sabor da conquista em pelo menos alguns aspectos. Aparentemente, os demais alunos percebem minhas táticas e com sutileza se mostram solidários. Ninguém nunca me acusou de parcialidade ou de ser um pouco mais tolerante com “aquele aluno” ou de lhe dar um pouco mais de atenção. Todos devemos estender a mão a alguém na nossa família ou de nosso círculo de conhecidos, que está ficando para trás. A vida não é uma disputa para ver quem termina em primeiro lugar, mas uma jornada na qual devemos nos ajudar mutuamente para que todos nós alcancemos nossos objetivos. Sally García é educadora, escritora, tradutora, missionária e mentora. Vive no Chile com seu marido, Gabriel, e está afiliada à Família Internacional. ■


O CÍRCULO COMPLETO DO AMOR Por Marie Alvero

Se eu pudesse me sentar com a Marie de vinte e três anos, recém-casada, aprendendo a ser

mãe, teria muito a lhe dizer! Na juventude, eu cultivava a ilusão de que meu relacionamento com meu marido deveria ser um “viveram felizes para sempre” e qualquer desvio disso significava o início da ruína conjugal. Por isso, concluí que o casamento era uma relação muito complicada, intrincada e que mais cedo ou mais tarde deixaríamos de nos amar. Eu era ansiosa e insegura. Eu diria a essa minha versão jovem que o amor é uma escolha diária e, como um músculo, fica mais forte com o uso. É preciso amar quando é difícil e quando é fácil; amar porque Deus quer que você ame seu cônjuge como Jesus o ama. Isso é transformador e, ainda que lentamente, nos torna capazes de um amor muito mais profundo e duradouro do que jamais imaginamos. Amar é como dar banho em bebês e pagar contas; discutir e se reconciliar; trocar carinhos e beijos de boa noite, alternando tarefas entre nós, trabalhando juntos dia após dia e construindo uma história. Amar é como perdoar e amadurecer, ou seja, demora. É aprender os ritmos do seu parceiro e descobrir quais partes da música devem dançar juntos e em que trechos é melhor cada um dançar sozinho. Assim, sem você perceber, vão-se décadas, o amor que você achou que não ia durar está mais forte do que nunca

e o medo não mais existe. Então, você entende que, desde que ambos insistam em fazer a escolha de amar todos os dias, esse amor nunca morrerá. Aprende que não é possível fazer essa escolha pela outra pessoa, mas precisa confiar que ela também continuará escolhendo amar. Entender isso inevitavelmente nos aproxima de Jesus. Vemos que Ele é o único que pode guardar nossos corações e, por isso, em vez de orar para que seu parceiro continue amando você, peça a Deus que seu amado continue amando Jesus e esteja disposto a segui-lO aonde quer que Ele guie. E é o que você deve pedir também por si mesma, pois enquanto ambos continuarem amando Jesus acima de tudo, de uma forma ou de outra, tudo ficará bem. Lembro quando pensei pela primeira vez em me casar com meu marido. Enquanto orava a esse respeito, Deus colocou em meu coração o versículo Salmo 73:25–26 (ACF): “A quem tenho eu no céu senão a Ti? E na terra não há quem eu deseje além de Ti. A minha carne e o meu coração desfalecem, mas Deus é a fortaleza do meu coração, e a minha porção para sempre”. Desde o início, há muitos anos, Deus me dizia que era dEle que meu coração mais precisava. Marie Alvero foi missionária na África e no México. Atualmente, vive com o marido e os filhos no Texas, EUA. ■ 15


Com amor, Jesus

ATOS DE BONDADE INVISÍVEIS Ao chegarem ao Meu reino celestial, muitos se surpreenderão ao verem a grande importância das boas ações invisíveis, do tempo dedicado para amar e cuidar dos outros. Amar o próximo como a si mesmo é o segundo maior mandamento de todos (Marcos 12:28–31). Quem é o seu próximo, senão a pessoa que está perto de você ou que cruza seu caminho a cada dia? Você encontrará muitas pessoas necessitadas no dia a dia, para as quais deve levar esperança e mostrar que se importa com elas, tornando-se assim uma manifestação do Meu amor. Tudo que fizer a um dos pequeninos, a Mim o fará (Mateus 25:40). Muitas vezes, Meu amor pode ser mais bem demonstrado por meio de outra pessoa. Cada dia surgirão oportunidades para você estender a mão com gentileza a alguém em necessidade, ouvir sobre as provações de alguém e interceder por quem precisa de consolo. Conforme ora para que o Meu amor flua através de você no seu dia, vivenciará a beleza e a alegria de refleti-lo aos outros. Aprenda a ver além das aparências. Procure ver o coração da pessoa. Permita que Meu amor se derrame através de você para os outros.


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