O pinto pelado

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ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.


INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


JOテグ FERREIRA DE LIMA

O PINTO PELADO



Minha galinha pedrez do Brejo da Bananeira pôs numa sexta-feira vinte ovos de uma vez no dia vinte do mês deitei ela com cuidado se eles não têm gourado me davam um bom paládio só tinha um ovo sadio nasceu um pinto pelado Quando o pinto nasceu comeu um litro de milho e beliscou um novilho o couro do pé desceu! Um galo se atreveu exemplá-lo nesta hora o pelado disse: - Agora no bico vou enfrentá-lo deu um beliscão no galo arrancou-lhe a crista fora


Eu fui criar este pinto com gosto e satisfação, que um pinto valentão é a diversão do recinto ele fez um labirinto quase assombra o pessoal de Pernambuco a Natal aonde ele foi criado deixou o nome gravado na bestória universal

Com vinte dias de idade cantou a primeira vez com força estupidez que estremeceu a cidade! os galos do arrebalde ouviram o canto dele disseram: - Quem é aquele que dá tantos estalos? mais de duzentos galos vieram brigar com ele


O pinto não fez questão pela ordem do costume a poeira fez cardume no meio da revolução voava pena e canhão a luta fedia a pus chegaram quatro perus ainda morreram três morreu galo desta vez que faltou os urubus

Ficou o pinto pelado por campeão da ribeira, no Brejo da Bananeira por todos admirado tinha o buço curvado formato de uma troquez o pinto pelado fez eu ganhar muito dinheiro levei-o ao Rio de Janeiro por mais de uma vez


Para verem o pelado veio padre e sacristão veio doutor, veio capitão veio juiz e advogado veio gente de outro Estado com galo de boa raça veio um de Papacaça que nunca temeu a nada morreu com um peitada coitado, serviu de graça Veio um homem do Crato com nove galos cruéis aposta de conto de réis nós fizemos contrato aproximou-se o ato então casamos o dinheiro eu disse: - Meu cavalheiro solte os galos do seu lar e também mandei soltar meu pelado no terreiro


Nove galos desta vez enfrentaram o pelado eu achei engraçado o que o pelado fez pegou o galo pedrez por nome de Maçarico abanou, fez tico-tico como quem pisa em brasa e bem debaixo da asa puxou o figo no bico

Vinha um galo amarelo foi o que mais brigou correu: não aguentou meia hora no duelo deixou o galo banguelo faltando o bico de baixo o papo ficou um faixo arrancou-lhe a crista fora cantava dizendo: - Agora pelado é pinto macho


Ganhei um conto de réis deste homem do Crato por fora deste contrato eu ganhei mais de dez o povo neste revés ficou impressionado aonde eu tinha arranjado um pinto tão valentão? causava admiração o tamanho do pelado

Este meu pinto pelado só tinha um esporão na asa tinha um ferrão também furava de lado tinha o corpo acinzentado quase da cor de castanho todo dinheiro já ganho com ele tinha gastado com um ano o pelado estava deste tamanho


Lá no Belém do Pará tinha um galo valentão eu atravessei o sertão me dirigi até lá na casa de seu Tatá um grande negociante eu disse, sou viajante da Paraíba do Norte trago um pinto muito forte que na bulha se garante Ele disse: - Meu cavalheiro tenho um galo brigador aposto com o senhor havendo muito dinheiro casando muito ligeiro dez contos de réis à vista veio outro capitalista deu sete contos por três eu disse triste, talvez pelado velho resista


Fui ver o pinto pelado trazendo ele na frente passando no meio da gente deixando o povo abismado no lugar premeditado seu Tatá levou o dele e disse: - O galo é aquele quase dar-lhe um passamento gritou de fora um sargento: - Segure a aposta com ele

Este galo do Pará ainda estava orelhudo o povo perdia tudo no galo do seu Tatá levei o pinto pra lá foi uma admiração perante a população os galos abriram luta pelado na força bruta tirava o fogo no chão


Pelado de gênio cru fez outra morte mais feia fincou o esporão na sarneia que saiu no mucumbu o galo fazia bubu voava pena e canhão foi medonha a confusão pois era um duelo feio rasgou o galo no meio enguliu-lhe o coração Voltou o pinto pelado da Paraíba do Norte só foi quem teve a sorte no nosso Brasil amado era um pinto agigantado maior do que uma ema um poeta fez um tema que neste verso recito sois o galo mais bonito da serra da Borborema


Este meu pinto comia na hora do domicílio nove litros de milho fora a água que bebia quando foi um belo dia a mulher não se lembrou que o alimento faltou vai o pinto se revolta deu um beliscão na porta que a fechadura voou

O pinto me fez um medo eu disse a meu cunhado: - Eu vou matar o pelado pela véspera de São João mandei comprar o arroz quem mata ele somos nós dois é uma vingança louca se a carne dele for pouca eu comprarei mais depois


Chamei a população matei o pinto pelado mandei fazer o guisado na hora da refeição veio doutor, veio capitão, veio juiz, veio promotor, veio também um senador, veio poeta pra glosar, veio a banda militar, veio até o governador.

Matei o pinto pelado fiz do bico uma gamela, fiz do osso da titela uma mesa de condado da cabeça do malvado também fiz um barricão fiz do osso do colchão um pilão para pilar fiz um búzio de apitar do chifre do esporão


Vendi a banha no Pará em Pernambuco e Bahia me chegava todo dia pedido do Paraná, Rio Grande e Ceará, São Paulo e Rio de Janeiro vendi banha no estrangeiro num país civilizado... na banha deste pelado fiz dez contos em dinheiro Na festa deste pelado até o vinho correu ficou um pote de doce que o copeiro escondeu quem comprar um folheto come do doce mais eu.

FIM



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