O descobrimento que não foi

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ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.


INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


ABRAテグ BATISTA

O DESCOBRIMENTO QUE Nテグ FOI

1998



Vi uma bola quadrada no açougue da Babilônia tomei banho de Colônia bem no centro de Portugal senti-me com doce do sal porque vi certo caduco apontando de trabuco no meio do Senegal. Nunca ouvi coisa igual a história do Brasil que me dizem ser de anil mas é preta tal açafrão quem diz isso é Abraão nascido no Juazeiro por conter o escudeiro da própria contradição.

Quando conheci Salomão no centro duma barraca tocando numa matraca entre Davi e Absalão contando com a confusão um português me falou: anote aqui, me passou quatorze folhas de latão.


O Brasil, meu caro irmão dizem: Portugal achou mas ele o arrebatou vomitando enganação matou índio que nem ladrão dizendo que fora Jesus com uma mão mostrava a cruz com a outra dava o facão. É de cortar o coração essa história do Brasil que faz beber num cantil água régia com pimenta mete o páu, e inventa só para nos engabelar diz que tudo nos vem do mar até o molho da venta. Tudo mais se acrescenta: “quem descobriu o Brasil” não passou de um ardil que foi pro trouxa enganar para cá trouxeram por mar treze navios guerreiros vestindo trajes vaqueiros e brindes pra massacrar.


Cabral, que tinha um pomar num tratado caprichoso assinou com o tinhoso da Europa para Bahia a Inglaterra, também queria maior pedaço desse chão a Espanha de alçapão embarcou como paria.

A Holanda também corria no setor de Pernambuco um índio, como maluco botou tudo para correr e num certo amanhecer chifrou uma tia francesa quebrando a trempe da mesa dizendo: foi sem querer. Quando veio uma mulher que a sáia sacodia com tal bafo ela ia matando toda Nação não ficou um capelão que não vendesse a terra no escrever desse sertão.


O ouro de toda o chão das Américas ao Himaláia foi coberto com a sáia dos príncipes da sáia preta aí foi que vi mutreta no México, Andes, Bahia correr o sangue fazia o tribunal do capeta.

São Nicolau, de corveta tramava com a sua guerra enquanto o matudo berra a águia come no sótão deu a ordem o capetão - quem descobriu o Brasil?! Já é o ano dois mil e só eu toca na da razão.

Tudo foi de enganação da Europa e Portugal bem feita, muito legal a mentira que espalhou todo índio se enganou; inda querem comemorar! O que nos vem além do mar foi Roma que enviou.


Foi Getúlio quem derrubou cem mil casas de farinha no meio de uma festinha criou nova revolução aí convocaram Lampião mas os pestes o enganaram depois, na gruta, o mataram nosso guerreiro do Sertão. Deram tudo para o cão ouro, prata, fava, café para o grande ponta-pé convocaram Napoleão nisso veio a escravidão do Brasil pro estrangeiro então subiu o Juazeiro atirando com seu canhão.

O mungunzá do capelão temperado com um bode tinha um galo no pagode das águas do São Francisco então veio corisco do Brasil pra européia na grande prosopopéia que aqui eu me arrisco.


Ajoelhei no menisco da lua que me clareia tomando banho de areia perguntei pra Portugal: quem jpa se viu coisa igual ao “descobrimento do Brasil”?! Já é tempo, ó coisa vil pra transmudar o festival. O Papa disse: é legal falar verdade agora portanto não vá embora antes do ano dois mil! “O descobrimento” foi ardil dos reinos da européia no sabor da saborréia de um primeiro abril. Coloque em cima do til o carimbo do fedegoso e veja eu o tinhoso é do reino de Portugal... Pro Brasil só rogo e mal trazendo todo ladrão degredado e capelão ou mentiroso de aval.


Bem no centro da capital ele armou uma arapuca enfiando na cumbuca todo ouro que robou nas paredes colocou a ata do juramento que dom Pedro, num jumento com cangaço se agachou. Porém quase não mudou se mudou, veja agora do fumo se tem a tora que no feofó enfiou; mas, me diga quem inventou essa tal comemoração que se vê na televisão contando o dia que faltou?! Só mulher que apanhou e abraço o marido! Isso é bem descabido é se ter pouca vergonha fraco assim é ser pamonha merece meso é cacete mamolengo sem topete gigolô da irmã Tonha.


Da cobra tiro peçonha pra fazer chá de malícia do Brasil para Galícia no carrego de meu senhor: “quem descobriu o Brasil?... É mentira, foi um ardil desse Portugal gosador. A carta que o trovador fez pro reino de Portugal foi que botou o mingal da íntima dominação os índios, como Nação foram mortos tal macacos destruindo até os cacos! Ó Europa sem coração!! Do Canadá, que é nação até a Terra do Fogo toda Europa, de logo fez de tudo, domínio seu dizendo que era ateu o índio que habitava nas Américas, maltratava o Portugal farizeu.


Todo ouro é só meu! Dom Quixote assim dizia mas Shakespeare queria a América só pra sí... Apareceu um bem-te-vi gritando : quem des-co-briu?! Ora essas quem já se viu comer arroz sem piqui? Pulou pra fora um sagui dançando maracatu indagando pro urubu - quem o Brasil descobriu?! Ora irmão, você não viu que tudo é maracutáia? Vá lavar a sua sáia que se sujou no chibiu... Zapata também caiu Sandino, ora! Foi nessa Bolivar nessa remessa com a América sucumbiu o Brasil, só não faliu porque tem Serra Pelada e toda a Pátria amada noutras mentiras se viu.


E o Brasil, quem descobriu?! Vão comemorar agora... Valei-me Nossa Senhora do descobrimento que não foi! Zé Lourenço guarda o boi com essa comemoração comentam na televisão tantas mentiras que dói. Com mentiras não se constroi é fazer coisas do além eu só escuto dizer: amém para tanta cavilação eu me assino, Abraão daqui para Jerusalém para prevalecer o bem desmascaro a enganação.

Quem descobriu minha Nação de Tiradentes a Negreiros dos beatos a cangaceiros e do Padre Cícero Romão?! Chamem-me aqui Salomão para vir de padiola tocando numa viola pra fazer chover no Sertão!

FIM



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