A triste sina de josé

Page 1


ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.


INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


JOSENIR AMORIM ALVES DE LACERDA

A TRISTE SINA DE JOSÉ

CRATO 1996



Peço atenção ao leitor E ao bom Deus inspiração Para narrar com fervor Porém sem afetação A estória de Lilia Que ouvi contar um dia E guardei sem pretenção Estando ela guardada Nos corredores da mente Vejo que a hora é chegada De tocá-la para frente Solicitei o papel Do meu amigo cordel Pra divulgar amplamente Ouvi dizer que a Lilia Era bela e graciosa Numa fazenda vivia Cheirava como uma rosa No local era atração E os moços da região Sonhavam com sua prosa


Havia na redondeza Alguém de nome José Não tinha grande beleza Mas era rapaz de fé Pacato e trabalhador Sincero e respeitador O ideal da mulher José quando viu Lilia Sentiu uma forte atração Confessou com arrelia Sua firme decisão De um dia se casar Com Lilia se juntar Numa feliz união Quem soube da decisão Aconselhou ao rapaz: Lilia é uma perdição De ser esposa é incapaz Procure uma moça quieta Que nem Ciça e Anacleta Ou as filhas de João Brás


Mas José apaixonado Não quis aconselhamento Vivia impressionado Pensando no casamento Trazia a moça na vista E a idéia da conquista Crescia no pensamento José começou a andar Por aquela freguesia Já estava a frequentar A morada de Lilia Como a não querer nada A idéia da laçada Na mente ele conduzia Ele tentava agradar E todo custo a donzela Era um tal de ofertar Presente e flores a ela Aos poucos ia avançando O sonho realizando Caindo nas graças dela


Mas para o pobre rapaz Era grande a concorrência Cada um dos mais sagaz Usava sua influência Tentando ganhar a luta Colocando na disputa A força da competência E assim o tempo passava Carregando essa pendenga José se impacientava Entre a calma, fé e zanga A moça livre e matreira Levava a brincadeira Sem querer usar a canga Grande festa aconteceu Naquela localidade Lá José compareceu Mas queria na verdade Era conquistar Lilia Usando charme e magia Caprichou na vaidade


Mas chegando no local A moça não avistou Ficou triste, passou mal O coração tremulou A festa perdeu o brilho Ficou sem prumo, sem trilho Ali quase que chorou. E era um tal de formar par Lá no meio do salão O sanfoneiro a tocar Na maior animação Mas José ficou sozinho Encolhido num cantinho Na maior desilusão O salão bem decorado Na mais perfeita harmonia Todo ele iluminado Só estava a faltar Lilia A festa perdeu a graça A tristeza feito traça Dentro do peito rola.


Porém num dado momento Acabou-se a nostalgia Ouviu-se um agitamento Aumentou mais a folia Como uma estrela cadente Surgiu ali de repente A esperada Lilia Acabando aquela ausência Outra luta ia travar Contra grande concorrência Para com a moça dançar Quando ele se aproximava Outro na frente chegava Fazia dela seu par E num rasgo de esperança O moço se resolveu Num intervalo da dança De coragem se valeu Chegou perto da menina E disse com voz ladina: − O resto do baile é meu


A garota admirada Aprovou a ousadia Deixou-se ser enlaçada Caíram os dois na folia Dançaram o resto da noite O fole roncou de açoite Até o raiar do dia A partir daquele instante O romance tomou jeito Ele dedicado amante Nela não via defeito E a festa do casamento Foi grande acontecimento Evento de grande efeito Mas o cabra era cismado E na cartilha do seguro Era quase diplomado Não atirava no escuro Era chegado a clareza Primava pela nobreza Cuidava bem do futuro


Com ares de bacharel Fez a mulher lhe jurar Ser sempre honesta e fiel Para ninguém mais olhar Só para ela viver Ser seu grande bem querer Só a ele venerar O compromisso selado José voltou a dizer: − Quando um dia eu for finado Uma sina vou padecer Se eu sofrer uma traição Vou rodar sem direção No mundo que eu for viver O casamento seguia Em felicidade plena José contente sorria A vida tornou-se amena Esqueceu pesar de dor Pensando só no amor Da sua bela morena


Como tudo é passageiro Até a felicidade O destino sorrateiro Preparou uma maldade O rapaz adoeceu Um mal o acometeu Causando debilidade Aos poucos foi definhando Fraco, triste, sem ação Lilia dele tratando Com grande dedicação Mas ele não reagia Cada vez mais se abatia Sem demonstrar reação Apesar de bem cuidado O pior aconteceu Após penar um bocado O pobre rapaz morreu Deixou a viúva só Tristonha de fazer dó Sem o companheiro seu


Algum tempo foi passado E a viúva Lilia Teve o seu dia chegado Pois ela também partia Envolta num branco véu Foi recomendada ao céu Num clima de nostalgia No céu a mulher chegando Deparou com o porteiro A ele foi indagando Do marido o paradeiro Dizendo: − Cadê José Um homem de grande fé Que chegou aqui primeiro? São Pedro disse: − José Aqui tem mais de milhão Para achar o que você quer Quero mais informação Se eu chamar assim sem plano Vou levar mais de um ano E não chego a conclusão


Ela disse: − Meu marido Tem uma coisa engraçada Cada vez que e traído Ele dá uma rodada São Pedro se animou Um anjo ele ali chamou E disse com voz pausada: − Caro anjo Samuel Vamos entrar em ação Vá fazer o seu papel Cumprindo a sua missão Realize esta faceta Traga aqui Zé Carrapeta O famoso Zé Pião!

FIM



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.