A CASA FOTO ARTE
A CASA EM REVISTA - ed.5
Capa Redundante Aparecida Silva
Editorial
A CASA em revista é uma publicação virtual de artes visuais com ênfase na fotografia contemporânea. Nasce dentro
do isolamento social necessário para evitar o coronavírus.
Inicialmente voltada para artistas que participam de projetos, encontros ou cursos A CASA, busca dar visibilidade em
tempos de pandemia para a emergente produção destes artistas, também servir de portfólio e ajudar a colocar novos
nomes e trabalhos em circulação dentro do sistema de arte. Além de ensaios fotográficos e trabalhos relacionados à
imagem, cada edição terá uma entrevista com um artista convidado, que apresentará também um ensaio, projeto ou
produção de sua autoria, escolhido e selecionado por ele mesmo.
Recebemos nessa quinta edição um artista mineiro,
singular, profícuo, com uma produção sensível, íntima e ao mesmo tempo universal. Esgarçando o suporte fotográfico ao limite, mesclando técnicas históricas e contemporâneas,
temos um artista pleno. Vindo de Diamantina para o mundo, agora aterrisa nas nossas páginas - Eustáquio Neves.
Epiderme da Alma Ana Avelar
Já dizia Zélia Duncan que alma é como uma cápsula que flutua pela superfície lisa. Divergindo um pouco, vejo uma superfície sombria, rugosa e aterrorizante.
Redundante Aparecida Silva
Os ciclos comeรงam e giram em torno de um eixo, independentemente do local onde as imagens foram executadas, o movimento circular demonstra que existe uma necessidade de ida e volta ao mesmo ponto. A cidade redundante. Gira em torno de um eixo. Circular, circular, circular...Repetir, repetir, repetir...
Gênesis Cadu Keller
Inspirado na arte de Anthony MacCall criei séries onde a interseção do homem e a luz traduzem o momento caótico pelo qual estamos passando. Como ele as esculturas de luz projetadas são os elementos utilizados. Sendo o Universo infinito, onde o tempo não é medida, quantas vezes foi criado e recriado? Quando imperam as trevas e o caos é preciso transformar, mudar! Se faz então a necessidade de uma nova Criação! Através da Luz o Universo é refeito!
O Vento Passa, O Tempo Fica Clara Carsalade
O vento passa, mas nem sempre leva. O tempo fica, insiste em não seguir. A paisagem confunde. O vazio é morada das lembranças. E o silêncio fala.
Anonimato Inanimado Hiroko Yamashita
Anonimato Inanimado é um trabalho em construção, que pretende buscar o reflexo da emoção humana nas formas inanimadas..
Aluga-se Nanda Cruz
Crise. A palavra mais vista, falada e ouvida dos últimos tempos. Em jornais, revistas, TV, rádio, internet, a crise é a palavra de ordem. Crise moral, ética, econômica, política, social. Nas ruas por onde ando, cada vez mais encontro lojas fechadas como resultado dessa situação. Projetos que são abandonados e substituídos pela vitrine vazia, as portas cerradas, o letreiro arrancado e o cartaz de “Aluga-se” enterrando a morte de mais um sonho. O que virá a preencher esses espaços vazios ? Em que memória esses lugares permanecerão? Post Scriptum - Agora, 3 anos depois, (Aluga-se foi realizado em 2017) estamos certos de que a grande recessão virá. Mais lugares vão fechar. A crise que vivíamos, agora é a crise pela vida, pela corrida contra a morte. Esses lugares que já estavam vazios por dentro, agora tornamse cenários de um grande vazio nas ruas.
[Im]permanência Newton Bastos
Todos os registros paisagísticos expressam impermanências. Entenda-se por registros paisagísticos qualquer representação de existência, seja de um “objeto”, de um “eu”, de um “outro”, de uma “experiência” . Tudo é transitório, nada é fixo. As alterações mais marcantes nas paisagens se dão em ritmos de tempo diferenciados, algumas se modificam em pouco tempo; outras, em muito. Porém, tudo passa por transformações contínuas. O traço característico da existência terrestre é a [im]permanência .
Pequeno Cemitério Ricardo Schmidt
Ao pensar o conceito de “vida” sem estar atrelado a questões de espécies, é possível constatar que ela existe e deixa de existir ao nosso redor de diversas maneiras e em diferentes escalas. A partir disso, surge uma série de fotografias que são vestígios físicos de que há ou houve vida e de que há ou houve morte, do literal ao abstrato. Quando Roland Barthes liga a fotografia à palavra Spectrum, o faz, por sua associação com o “espetáculo”, acrescido “dessa coisa terrível que há em toda fotografia: o retorno do morto”, afinal, todo momento fotografado já deixou de existir, sendo assim uma faceta de morte. O que se pretende é que a invisibilidade das “pequenas mortes” ocupem um outro lugar na percepção cotidiana. É o nascimento de um novo juízo. É a vida surgindo da morte. O retorno da vida ao morto.
Artista Convidado
Eustรกquio Neves
Entrevista A CASA: Eustáquio obrigado por estar presente aqui em nossas páginas. Você iniciou sua carreira depois de um concurso fotográfico se não estou enganado. Pode contar um pouco como foi esse início de carreira? EUSTÁQUIO NEVES: A minha introdução na fotografia foi a cinco ou quatro anos antes desse primeiro concurso de fotografia que eu participei. Me iniciei na fotografia morando em Goiás, mais precisamente no povoado de Niquelandia, norte de Goiás onde eu trabalhava como químico industrial na Níquel Tocantins do grupo Votorantim. Foi aí que comprei a minha primeira câmera, a segunda até a quarta, rsrsrs. Comecei a fotografar para ocupar meu tempo ocioso já que naquele lugar não tinha muita coisa do meu interesse para fazer. O concurso sim deu um start na minha carreira como autor na minha fotografia, isso foi pelo ano de 1991 em Belo Horizonte, inscrevi 03 fotos e ganhei o primeiro lugar na categoria p&b e menção honrosa nas outras duas fotos que segundo os organizadores só não me deram o 1° , 2° e o 3° lugar porque o regulamento não permitia.
A CASA: Os artistas estrategicamente costumam migrar para os grandes centros culturais na busca de visibilidade. Como foi e como é articular uma carreira do interior de Minas Gerais? EUSTÁQUIO NEVES: Já morei um tempo em SP por outras circunstancias e que por acaso foi boa para minha carreira. Mas desde o começo da minha carreiras eu sempre lidei com as tecnologias de comunicação, Bip, Fax, 386, celular de 125 k de memória, notebook de 5GB, mas eu costumo dizer que quando eu preciso do eixo Rio/ SP, entorto ele até a mim. A CASA: Temos poucos grandes nomes de artistas negros na arte contemporânea brasileira com o devido e merecido reconhecimento e destaque, você é um deles. Como foi furar essa bolha e se manter com visibilidade num pais predominantemente negro mas com oportunidades de sucesso para os artistas predominantemente brancos? EUSTÁQUIO NEVES: Eu desde sempre entendi os meus direitos e me impus, já disse não pra um monte de gente, já briguei com muita gente dita importante, outros verdadeiramente importantes mesmo, alguns até hoje amigos meus. É preciso ter talento mas é bom ter atitute também e sobre tudo não fazer concessões.
A CASA: Seus trabalhos estão num campo que costumamos designar de fotografia expandida. Como foi sair do mero registro fotográfico e adentrar nesse universo de múltiplas possibilidades de construção e finalização das imagens, por que essa estética é tão marcante em sua produção? EUSTÁQUIO NEVES: Muitos fotógrafos fazem esse registro fotográfico com muita maestria, eu a partir do momento que passei a dominar as técnicas fotográficas, passei também a desobedecê-las. Ou seja, foda-se as normas, rsrsrs. Mas esse rompimento também, claro, foi pela necessidade de me expressar e trazer as minha inquietações em imagens que pediam mais do que mero registro como vc disse.
A CASA: Tenho a informação, me corrija se estiver errado, que você não tem contrato com nenhuma galeria. Com essa liberdade e autonomia como você consegue construir uma relação com o mercado de artes? EUSTÁQUIO NEVES: Não tenho, já tive. As pessoas que se interessam pelo meu trabalho sempre deram um jeito de chegar até a mim. No
começo isso não foi muito fácil mas com o tempo essa relação foi melhorando gradativamente. A CASA: Sei que você tem uma proximidade com a musica, ela te ajuda ou influencia na hora de construir suas obras? Quais os nomes que são verdadeiras inspirações seja no início de sua carreira, seja agora? EUSTÁQUIO NEVES: Hoje a música para mim é escape pra quando eu acho que o meu trabalho tá ficando rotineiro. Sou bastante eclético, estudava clássico e só ouvia rock e lá pela faixa dos 19, 20 anos troquei toda minha coleção de rock por MPB. Entre muitos que eu gosto muito na musica brasileira, eu destaco o Itamar Assumpção, A poesia do Dylan me inspiram bastante, uma banda hoje, creio que extinta, Living Colour já me embalou muito, Rage Against the Machine, Nina Simone, Leonard Cohen etc… A CASA: Você tem uma ateliê que recebe artistas para residências artísticas. Pode explicar pra gente como funciona, quem pode se inscrever, se existem pacotes de preços variados e tempos variados, fala um pouco desse projeto.
EUSTÁQUIO NEVES: A residencia é um periodo para reflexão, discussão, o exercício e a busca da compreensão do processo criativo individual e ou coletivo. Acontece em um periodo de no mínimo uma semana a um mês, o residente vem com um projeto em processo ou uma ideia a ser desenvolvida. Durante o period da residencia tem o acompanhamento por mime m todas as etapas. Recebo no máximo duas pessoas por vez, salvo aqueles que venham acompanhados de outra pessoa que também vai fazer a residencia e pode divider o mesmo quarto. O ateliê tem uma estrutura com 2 quartos, cozinha, lab.p&b, espaço de convivência, biblioteca, videoteca, rede WIFI, uma mata ao lado e fica situado na periferia de Diamantina, a mais ou menos 5 minutos de carro da rodoviária local. A hospedagem e alimentação já estão incluídas nos valores a seguir: 1 semana R$2.400,00 2 semanas R$4.000,00 3 semanas R$5.600,00 4 semanas R$6.500,00 A ocupação começa a partir da segunda quinzena do mês de fevereiro
e as vagas não são muitas, portanto para assegura-la o interessado começa a pagar parcelas mensais com antecedencia.
A CASA: Se pudesse dar algum conselho para um jovem artista que deseja adentrar no mundo das artes visuais qual ou quais seriam? EUSTÁQUIO NEVES: Primeiro acreditar muito no que quer e acreditar também que não há atalhos, seja para qualquer seguimento das artes. Quando falo em acreditar, estou falando da minha própria experiência, no começo tive bons motivos para desistir mas acreditava muito no que eu queria. Ler bons livros, ver bons filmes, saber ouvir etc…
Artistas
Ana Avelar Aparecida Silva Cadu Keller Clara Carsalade Hiroko Yamashita Nanda Cruz Newton Bastos
Artista
Convidado
Ricardo Schmidt
Eustรกquio Neves
Conselho Editorial Greice Rosa Marcio Menasce Marco Antonio Portela
Projeto Grรกfico Bruno Almeida
acasafotoarte.com