A CASA em revista Edição 11

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A CASA FOTO ARTE



A CASA EM REVISTA - ed.11


Capa SertĂŁoMar Tadeu Figueiredo


Editorial

A CASA em revista é uma publicação virtual de artes visuais com ênfase na fotografia contemporânea. Nasce dentro

do isolamento social necessário para evitar o coronavírus.

Inicialmente voltada para artistas que participam de projetos, encontros ou cursos A CASA, busca dar visibilidade em

tempos de pandemia para a emergente produção destes artistas, também servir de portfólio e ajudar a colocar novos

nomes e trabalhos em circulação dentro do sistema de arte. Além de ensaios fotográficos e trabalhos relacionados à

imagem, cada edição terá uma entrevista com um artista convidado, que apresentará também um ensaio, projeto ou

produção de sua autoria, escolhido e selecionado por ele mesmo.

AC Júnior em nossas páginas. Artista do povo, seu trabalho

retrata seu amor a cultura popular e ao meio ambiente. Nas nossas páginas um trabalho novo, diferente (suas

cores enebriantes - pesquisem o livro Baixo Estácio - não estão presentes). Um olhar para a Mata Atlântica com preocupação e alarde. Venham conhecer esse querido artista respeitado por todos. Mas cuidado...ele é vascaino.


Tráfico Consciente Alan Lima

Durante o pico de surto da COVID-19 nas favelas cariocas , registrei um pouco do dia de alguns traficantes e também de evangélicos que faziam blitiz em comunidades e Cracolândias .









A Torre da Derrota Caique Cunha

A Torre da Derrota é um desdobramento da série Palíndromos.







Porto Santo Claudia Mauad

Arquivo de família História não contada de meu pai Tão bem guardada e classificada por ele Essa história mora dentro de mim Ressaca nas minhas entranhas Na minha pele Fado doído Lugar do avô e da avó que eu não conheci tão bem Lugar de baleias encalhadas na praia com seus filhotes De pescadores e marinheiros A praia... Ela sempre a me chamar! Herança de sol, de sal e de mar dentro de mim.











Claustro Fernanda Lima Nem sempre esse estranhamento que se tem ao fazer e (re) ver essas imagens tem uma causa externa, mas necessรกria e indubitavelmente interna.











A Parede Entre Nós Mariana Guardani

“A parede entre nós” nasce de uma reflexão sobre a presença do corpo feminino atuante em canteiro de obras. Este lugar, que me é familiar e onde sempre fui protagonista, recentemente passou a impor sua presença opressora sobre meu domínio. Percebi-me inventada por aqueles homens. Intimidei-me em seus olhares. A maneira que encontrei para lidar com a circunstância foi a camuflagem – uma mimetização nas paredes da obra. Mas, contidas essas manifestações que estabeleceram uma relação mais imediata de causa e efeito, as fotos vieram em um tempo mais apurado. Com a câmera, revi primeiro o ambiente. Sujo. Barulhento. Agressivo. Árido. Hostil. Depois, o corpo. Vulnerável. Exposto. Desautorizado. Calado. Em um tempo e dividindo o mesmo espaço, os corpos estão em conflito, mas também em unidade. Estão presos no mesmo espaço. É nesse lugar que os registros imagéticos, em proximidade com as texturas, com os detalhes, pretendem criar uma sensação de sufocamento que atravessa um desejo velado. A parede aparece como uma representação segura da separação. Uma barreira que não é apenas física, mas psicológica e que pode manter os corpos separados.











Refúgios

Paulo Mittelman Quando eu era criança, passava muitas vezes minhas férias longas, dentro do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (PARNASO). Nas minhas memórias lá vivi grandes aventuras e enfrentei muitos perigos. Na real, nunca consegui ficar em nenhum dos abrigos para aqueles que escalavam e enfrentavam os desafios. O máximo que eu conseguia era tentar imaginar o que se passava dentro desses abrigos... Me lembro que uma vez um casal resolveu passar a lua de mel num desses abrigos. E não me deixaram ir com eles. A moça era bem bonitinha e acho que gostou de mim. Mas não adiantou e fiquei com muita vergonha. Nos caminhos e percursos muito longos e que podem envolver riscos, reflexões e decisões para o viajante, existem abrigos ou refúgios para isso. Em tempos estranhos como os que vivemos, muitas vezes temos que encontrar esses abrigos e acolhimentos dentro de nós mesmos. Quando um monstro bem monstro vem me assustar e não tenho como escapar, às vezes chego de frente até quase encostar e fazer alguma arte. Ou pelo menos tentar.











SertãoMar Tadeu Figueiredo Desde antes existiu o que hoje não mais se ver por este motivo necessário uma representação, e não uma idealização do real ou de uma verdade imaginada que transborda tudo, e assim, tudo volta a o que já foi!? Longe de versos e rimas, o clima transforma em muitas em muitas verdades, se é verdade o que vemos... Toda poética em volta de múltiplas construções para realidade em tempos idos cerca de milhões de anos, onde fósseis de origem marítima de aproximadamente 110 milhões de anos, o que prova a existência de um Mar no Sertão.











Sebastian Tania Bonin Adotei uma jaca, levei-a para casa e acompanhei sua vida. Propus algo como um documentário que registra detalhes dia após dia. Detalhes intangíveis a um olhar limitado ou disperso, peculiar ao sentido raso humano comum. O mesmo sentido fugaz, que num tempo mais adiante elegeria a matéria como estragada, também é confrontado através das capturas . Contraposições que apontam para rumos de renovação e continuísmo, caracterizado pelas novas vidas surgindo. Aqui, um mundo despercebido é celebrado e, por analogia, aplicável a tudo no mundo. Busco essências. Sustento um retorno ao elementar. Sugiro saídas para os entraves das demandas sociais atualmente impostas. Um retorno às origens, às coisas universalmente inerentes ao humano ou, indo além, à vida. A arte é talvez a mais eficaz maneira de conhecermos a realidade para além das limitações a nós conferidas ao nascermos, oferecendo-se como canal para sabermos do mundo. Tudo importa, todas as vidas importam!












Artista Convidado

AC Júnior Silêncio


Entrevista A Casa: Obrigado por colocar seu novo trabalho nas páginas da nossa revista. Então vou começar a te perguntar de trás pra frente, você sempre se preocupou com meio ambiente e esse trabalho recente foi feito durante esse período de isolamento. Pode falar um pouco sobre ele? AC Júnior: Esse novo ensaio “Silêncio” reflete o período desse ano com o isolamento. Escolhi uma paleta de tom escuro para elucidar uma escuridão que assola a humanidade como um todo com a pandemia mas também a escuridão do atual governo perante ao meio ambiente. A Mata Atlântica por ser um bioma costeiro já sofreu muita devastação do homem sendo primordial preservar o que ainda resta para não cairmos na escuridão total. A Casa: Por estar sempre defendendo e trazendo para reflexão com suas Fotos, assuntos sobre o meio ambiente, vc se considerada um ativista ambiental? E quais dificuldades para fazer circular esse material mais crítico sem que ele fique preso e tenha visibilidade somente nas


elites socioculturais? AC Júnior: A questão ambiental na minha trajetória vem da Eco 92 quando estagiava na Fundição Progresso no núcleo de Vídeo e logo depois a partir de 1993 fiquei 3 anos como fotógrafo da Editora 3 Mundo que tinha duas publicações : Cadernos do 3 mundo e Ecologia e Desenvolvimento. Paralelamente meu interesse por quilombos e festas populares me levam para locais do Brasil em que a questão socioambiental era muito presente. Esse tema do meio ambiente também foi presente em trabalhos corporativos para empresas que me proporcionaram conhecer por exemplo a Amazônia durante 4 anos. Acho que a chave de circular esse material para um público mais amplo é o retorno para a comunidade para ela própria se auto conhecer e usar as imagens para seus objetivos. Só com o retorno e parceria com o fotografado você quebra essa circulação elitizada. A Casa: outro assunto recorrente em sua produção estão as festas populares e o samba. Como surgiu essa sua ligação e interesse por esses temas? AC Júnior: Cresci numa família umbandista que gostava de samba e o racismo nunca foi cultivado , dessa forma meu interesse pela cultura e origens da formação do povo brasileiro sempre foram questões em que me debruçava para compreender melhor essa geleia geral que é o Brasil


A Casa: Como foi produzir um livro de fotografia num país com tão pouco estímulos? Quais as dificuldades enfrentadas com o livro Baixo Estácio? AC Júnior: O projeto do Baixo Estácio só foi possível com essa nova ferramenta de financiamento coletivo ,aliado a evolução tecnológica de impressão em baixa tiragem que possibilita um custo não tão caro mas possível de ser executado A Casa: E a fotografia, como surgiu em sua vida? Pode nos falar suas referências e inspirações? AC Júnior: Meu pai sempre fotografava em cromo e depois fazia as projeções na parede de casa ,meu interesse pela luz vem de criança brincando até com vela.No início dos anos 80 meu pai comprou pra mim um livro :’Fotografia sem Misterios “. Desse momento em diante a fotografia sempre esteve presente na minha vida.Final dos anos 80 eu estava inscrito no mailing do Infoto(instituto Nacional de Fotografia) da Funarte,lá eu via exposições de fotógrafos brasileiros e recebia os comunicados impressos do Infoto.Nessa época eu já fotografava e tinha um laboratório colorido em casa o que sempre me sensibilizou sobre a questão da cor na fotografia,então minhas referências eram o Walter


Firmo , Luis Braga e principalmente o Miguel Rio Branco.O Miguel Chikaoka e o Claudio Feijó foram experiências fundamentais também na minha formação. A Casa: Como é viver de fotografia autoral no Brasil? O que fazer para sobreviver nesse ambiente pagando as contas? AC Júnior: Desde o advento do digital na fotografia houve uma popularização e liberdade espetacular mas ao mesmo tempo houve uma mudança sem precedentes na forma comercial da fotografia. Acho que a dificuldade de sobreviver qualquer arte autoral no Brasil e muito grande e difícil.Sem a pandemia já estava complicado de pagar as contas agora então é mais complicado.Com certeza a saída vai ser entender e usar essa rede mundial conectada para conseguir algo novo e rentável. A Casa: Você foi um dos fundadores do Foto in Cena, qual a importância do ensino, dos cursos na formação de um fotógrafo? AC Júnior: Eu, Debora 70, Andre Vilaron, Patricia Govea, Simone Rodrigues e Dalton Valério criamos A escola de fotografia Foto In


Cena.O Projeto era inspirado na FotoAtiva ,escola que o Miguel Chikaoka criou em Belem,e pretendia ser um espaço de reflexão e troca de experiências e formação técnica e conceitual da fotografia. O ensino da fotografia é fundamental para qualquer ser humano,penso que a fotografia deveria fazer parte do ensino fundamental para as pessoas terem uma educação visual e possam desta forma interpretarem e criticarem esse mundo de imagens em que vivemos. Para uma pessoa que quer ser fotografo então e primordial !!!



















Artistas

Alan Lima Caique Cunha Claudia Mauad Fernanda Lima Mariana Guardani Paulo Mittelman Tadeu Figueiredo

Artista

Convidado

Tania Bonin

AC JĂşnior


Conselho Editorial Greice Rosa Marcio Menasce Marco Antonio Portela

Projeto Grรกfico Bruno Almeida


acasafotoarte.com


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