Diálogos da Paisagem - Ana Durães - Curadoria Monica Xexeo

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ana durães Diálogos da Paisagem

CURADORIA MONICA XEXEO

ana durães Diálogos da Paisagem

CURADORIA MONICA XEXEO

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A Prefeitura de Petrópolis tem a honra de apoiar a exposição “Diálogos da Paisagem”, da artista Ana Durães (e curadoria de Mônica Xexéu), que escolheu a belíssima região do Vale das Videiras, em Petrópolis, como território de criação, trazendo a emoção da paisagem iluminada pelo afeto.

A Prefeitura reforça o compromisso com o desenvolvimento das artes visuais e da cultura da cidade, e com a valorização dos nossos espaços culturais, entre elas a Casa de Petrópolis Instituto de Cultura, belíssima construção do século XIX, que emoldura a experiência artística e inspira seus visitantes.

Defender e valorizar nosso patrimônio histórico e cultural não somente fortalece nossa diversidade cultural, mas também enriquece a identidade coletiva petropolitana e fortalece os laços comunitários, ampliando o acesso cultural para todos os nossos cidadãos. Aos moradores e turistas, desejamos uma excelente vivência!

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Ana Durães – A Alma Impressa na Natureza

Celebrando quatro décadas de uma carreira, entre pinturas e gravuras inéditas, a exposição “Diálogos da Paisagem” da artista Ana Durães na emblemática Casa de Petrópolis é uma oportunidade singular para mergulhar na visão desta talentosa criadora.

A mostra nos convida a observar sua capacidade única de capturar a ‘essência’ e a ‘alma’ da paisagem. Toda essa riqueza da flora, expressa numa paleta de cores variada, revela sua maestria técnica, suas investigações de botânica e sua preocupação com a preservação da natureza.

Os trabalhos apresentados foram concebidos nos últimos três anos no ateliê da artista no Vale das Videiras, cidade serrana fluminense, situada em um contexto inspirador, marcado pelo jardim projetado pelo botânico e paisagista francês Auguste François Marie Glaziou, para a residência do empresário José Tavares Guerra (1861-1907). Ao caminhar pela exposição, as obras oferecem aos espectadores mais do que uma experiência estética; são um convite a um “sopro de beleza”, onde cada pincelada e cada traço refletem uma narrativa cheia de significados que permite vislumbrar a profunda conexão que a artista mantém com a paisagem do local.

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A Casa de Petrópolis como cenário para a exposição se torna mais do que um simples espaço expositivo; é uma extensão da concepção visual da artista. A arquitetura e os detalhes encantadores do icônico casarão do século XIX proporcionam um pano de fundo que dialoga com as paisagens nas telas, numa completa harmonia entre a arte, a natureza e o espaço histórico.

A curadoria meticulosa de Monica Xexéo é evidente ao guiar os visitantes por uma jornada envolvendo o ambiente ao seu redor. As obras estão dispostas proporcionando uma imersão cuidadosa, que destaca não apenas o talento de Durães, mas também sua evolução artística ao longo do tempo e sua sensibilidade particular na representação da paisagem.

Por fim, saudamos a iniciativa da Galeria Patrícia Costa que, por meio desta exposição, celebra a arte de Ana Durães e convida o público a refletir sobre a relação contemporânea com a natureza. Os “Diálogos da Paisagem” ressoam como uma voz poética, instigando observadores a contemplarem a beleza que muitas vezes passa despercebida em meio à correria da vida moderna. São obras que conectam perceptos, afectos e experiências.

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Encontros e Narrativas da Paisagem

A obra de Ana Durães é um dos mais belos exemplos da pintura de paisagem, gênero exercitado ao longo da história da arte por inúmeros artistas. Com sólida e erudita formação, retrata em muitos dos seus trabalhos, em linguagem visual própria, as suas investigações de botânica e sua preocupação com a preservação da natureza. Natural de Diamantina, Minas Gerais, iniciou a sua formação artística na tradicional Escola Guignard, em Belo Horizonte, criada em 1943 e, hoje, vinculada a Universidade do Estado de Minas Gerais. Na década de 1980, mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro, onde cursou a Escola de Belas Artes, na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Diálogos da Paisagem, reúne trabalhos desenvolvidos nos últimos três anos, em seu ateliê no Vale das Videiras, cidade serrana fluminense, inspirados no jardim projetado pelo botânico e paisagista francês Auguste François Marie Glaziou (Lannion, França,1828-Bordeaux, França, 1906), para a residência do empresário José Tavares Guerra (1861-1907), bisavô de Luiz Aquila, em Petrópolis. Atualmente, a centenária morada abriga a Casa de Petrópolis – Instituto de Cultura, instituição reconhecida por seus inovadores projetos de inclusão, difusão e acessibilidade da arte contemporânea brasileira.

Ana Durães lembra “quando o Aquila me convidou para realizar uma exposição na Casa de Petrópolis, senti um contentamento e uma honra imensa.

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“Só não existe o que não pode ser imaginado”

— Murilo Mendes1

Logo na minha primeira visita pensei: vou trazer o jardim de Glaziou pra dentro da casa. [...] paisagista da Corte de D. Pedro II, projetou aquela monumentalidade [...].Tomei pra mim esta tarefa, de me inspirar não só no meu jardim, mas, nos jardins desenhados por Glaziou”. E, afirma “A minha paisagem imaginária deve muito a Petrópolis. Esta exposição significa para mim, uma maneira de agradecer a cidade que transformou o meu olhar”.

Luiz Aquila em recente depoimento destaca

“Conheço Ana Durães há muito tempo. [...] é uma artista com grande sabedoria, aproxima elementos aparentemente não reconciliáveis como a figura [...], o ser humano no meio da pintura abstrata, [...] a própria natureza toma um sentido especial com Ana Durães.”

A contribuição de Auguste Glaziou ao Brasil foi extraordinária para o embelezamento de espaços públicos e privados na segunda metade do século XIX. Na cidade do Rio de Janeiro desenvolveu e remodelou os projetos paisagísticos do Passeio Público, do Campo de Santana e da Quinta da Boa Vista, em São Cristovão com traçados sinuosos e a utilização de plantas nativas e exóticas brasileiras, transformando a paisagem da então capital do Império. Glaziou, como outros viajantes estrangeiros que aqui estiveram nos oitocentos, realizou expedições aos estados de Minas Gerais, Goiás,

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“A minha paisagem imaginária deve muito a Petrópolis. Esta exposição significa para mim, uma maneira de agradecer a cidade que transformou o meu olhar”.

— Ana Durães Espírito Santo e ao Planalto Central do Brasil atual Distrito Federal, coletando e inventariando espécies nativas da flora brasileira.

O arquiteto e urbanista Luiz Philippe Torelly, destaca uma carta de autoria de Glaziou ao Dr. Cruls, em que o botânico enaltece as riquezas do planalto central e a criação do Lago Paranoá: “A todas essas riquezas oferecidas ao homem laborioso, nesse centro de planalto, juntam-se mais os recursos e a vantagem que lhe proporcionarão ainda águas piscosas.

Entre os dois grandes chapadões conhecidos na localidade pelos nomes de Gama e Paranoá, existe uma imensa planície sujeita a ser coberta pelas águas da estação chuvosa [...].”

O professor e crítico de arte Carlos Terra, ressalta a importância de Glaziou “O paisagista foi o responsável por desenvolver diversos projetos na Corte, como as reformas do Passeio Público, da Quinta da Boa Vista e do Campo de Santana. O trabalho de Glaziou, no entanto, não se resumiu apenas aos espaços públicos.

Famoso por seu trabalho, [...] foi convidado a realizar seu trabalho em casa de grandes personalidades, como o Barão de Nova Friburgo e o Barão de Mauá, no Rio de Janeiro, e de Tavares Guerra, em Petrópolis.

E, continua “Sem dúvida, Glaziou, além das grandes

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realizações no campo do paisagismo, também nos legou inestimável colaboração em áreas afins. Foi incansável coletor de plantas em nosso território classificando-as conforme sua espécie. [...] impôs sua marca em vários espaços, inovando num contexto de padrões anteriormente estabelecidos.

Em Diálogos da Paisagem, Ana Durães explora a pintura em todas as suas formas, texturas e nuances, incluindo ao seu repertório paisagístico imaginário folhas, galhos, flores e elementos arquitetônicos coletados ao longo de sua pesquisa. Com paleta de cores naturais, realiza seus trabalhos em camadas diversas, utilizando pigmentos e ferramentas tradicionais, aliadas a processos experimentais, a partir de cuidadosa investigação. Suas obras irradiam sensibilidade e emoção e captam os encontros visuais com leituras infinitas.

Monica F. Braunschweiger Xexéo Museóloga e Historiadora e Crítica de Arte

1 Murilo Mendes (Juiz de Fora, MG, 1901 – Lisboa, Portugal, 1975).

2 Luiz Phillipe Torelly, O Sonho de Glaziou, in Brazileiros. Com, outubro de 2020.

3 Carlos Terra. O Jardim no Brasil no Século XIX - Glaziou Revisitado, UFRJ, EBA, 1993.

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“Sentada à Beira do Tempo”, 2020

Acrílica sobre a tela | 100 X 80 CM

Sem Título, 2020

Acrílica sobre a tela | 141 X 122 CM (pág. direita)

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“Na Paleta há Flores” 2021/2023 Acrílica sobre a tela | 50 X 30 CM 22
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“Na Paleta há Flores” 2021/2023 Acrílica sobre a tela | 50 X 30 CM
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“HERBÁRIO GLAZIOU”, 2022

Acrílica sobre tela | 200 X 80 CM (pág. esquerda)

“SAPUCAIA”, 2023

Acrílica sobre a tela | 120 X 120 CM

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Sem Título, 2023 Fine Art - impressão em papel bambu e hemp Hahnemuhle | 150 X 80 CM

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Sem Título, 2023

Fine Art - impressão em papel bambu e hemp Hahnemuhle | 150 X 80 CM

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GLAZIOU”, 2023 Acrílica sobre a tela| 200 x 200 cm
“D’APRÈS

Ana Durães

Diamantina, Minas Gerais 1962

A artista que hoje vive há muitos anos no Rio de Janeiro, já demonstrava seu interesse pelas artes visuais desde os 10 anos. Ana Durães estudou na Escola Guignard de Belo Horizonte em 1981, antes de se mudar para o Rio para cursar a Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro entre 1982 e 1987, onde se graduou.

Desde então, participou de muitas exposições, coletivas e individuais, destacando-se em espaços como Palácio das Artes de Belo Horizonte, Museu de Belas Artes do Rio, Museu Histórico Nacional, Museu de Arte Moderna de Salvador, MASP São Paulo, Escola de Artes Visuais/ RJ, Museu da República/RJ, Brazilian American Cultural Institute em Washington e Kunstlerhaus na Áustria, além de cidades como Berlim, Paris e Nova York. Entre 2004 e 2011, exerceu gestão pública como diretora do Centro Cultural Municipal Laurinda Santos Lobo, Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica e Gerente de Artes Visuais da Secretaria Municipal das Culturas da Prefeitura do Rio de Janeiro.

Além de ser uma personalidade presente no contexto político das artes visuais, Ana Durães zela por sua conexão com a natureza. O resultado desse relacionamento são obras que utilizam das marcações da tinta para a criação de uma nova perspectiva sobre o ambiente, a perspectiva de Ana.

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Auguste François Marie Glaziou

Diretor de Parques e Jardins da Casa Imperial (1869-1889)

(* 30/08/1828 – † 30/03/1906)

Nascido em Lannion, na Bretanha francesa, filho de um horticultor, Glaziou iniciou-se desde cedo no estudo das plantas. Chegou a estudar com grandes botânicos da época no Museu Nacional de História Natural, em Paris, e mudou-se para Bordeaux. Glaziou observava e anotava ideias que tinha para alguns projetos paisagísticos propostos.

Em 1858 vem com sua família para o Brasil em busca de novas oportunidades. O francês acabou conhecendo Francisco José Fialho, homem próximo do Imperador Pedro II que delegou a parte paisagística a Glaziou, e sua contribuição para o parque, reinaugurado em 1867, foi reconhecida pelo Imperador, que o elevou ao cargo de Diretor de Parques de Jardins.

Glaziou desenvolveu-se como botânico indo a campo e identificando espécies nativas do Brasil com potencial de uso no paisagismo. Atribui-se a ele a introdução ao cultivo de várias espécies brasileiras (o oitizeiro, por exemplo, que a partir de então passou a embelezar diversas ruas e praças da cidade), bem como a introdução de espécies exóticas, que obtinha por meio de intercâmbio com os jardins botânicos de Kew, na Inglaterra, e Paris. Além do jardim, Glaziou solicitou ao Imperador um espaço junto à Quinta para a manutenção de um horto, para o cultivo de milhares de mudas para uso no parque e demais projetos públicos, como a própria Quinta da Boa Vista e o Passeio.

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Ana Durães - Diálogos da Paisagem

REALIZAÇÃO

Casa de Petrópolis - Instituto de Cultura

Galeria Patrícia Costa

Prefeitura Municipal de Petrópolis

Instituto Municipal de Cultura de Petrópolis

COORDENAÇÃO EXECUTIVA

Patrícia Costa & Selmo Marino

APOIO CULTURAL

Escola de Belas Artes| UFRJ

ARTISTA

Ana Durães

CURADORIA

Monica Xexéo

ASSESSORIA DE IMPRENSA

Aline Rickly | Liga Conteúdo

Bia Sampaio | Briefcom Comunicação

EDUCATIVO 7 ERROS

Dayana Guimarães

Luiza Dideco

Maria Estrella

MONTAGEM

Francisco Nascimento

Renato Gomes

COORDENAÇÃO EDITORIAL

Abstrata

Natalia Azevedo

DESIGN

LQ+

Luiza Quentel

FOTOGRAFIAS

Evaldo Macedo

AGRADECIMENTOS

Carlos Terra

Diana Iliescu

Gregório Pontes

Lilia Monteiro

Luiz Aquila

Madalena Grimaldi

Maiza Rocha Miranda

Márcia Prates

Pedro Xexéo

Vania Castro Lopes

Escola de Belas Artes/UFRJ

Fundação Biblioteca Nacional Instituto Municipal de Cultura de Petrópolis

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Ana Durães [livro eletrônico] : diálogos da paisagem / curadoria Monica Xexeo. -- 1. ed. -Petrópolis, RJ : Ed. dos Autores, 2024.

PDF

Vários colaboradores. ISBN 978-65-982601-1-8

1. Artes plásticas - Exposições - Catálogos I. Xexeo, Monica.

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24-196279 CDD-730
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© Casa de Petropolis Casa de Petropolis Av. Ipiranga, 716 25610-150 Centro, Petrópolis - RJ culturacasadepetropolis.com.br

realização apoio apoio cultural

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