
2 minute read
socializando o conhecimento
Compreendendo diferença conceitual entre liquidez e solvência
Liquidez e solvência são duas terminologias que, às vezes, são utilizadas, inadivertidamente, como se sinônimas fossem. Na verdade, estas duas terminologias não são sinônimas, elas são semanticamente distintas. Enquanto liquidez, tradicionalmente, é conhecida pela relação entre um grupo de contas do ativo, passível de conversão em moeda, eum grupo de contas do passivo, com exigibilidade definida, solvência sinaliza a existência de ativos financeiros, em moeda, capazes de honrar os compromissos financeiros nas datas de maturidade decada obrigação.
Entre os índices de liquidez contemplados na literatura, o índice liquidez corrente (ILC) é utilizado como um preditor de capacidade de pagar. No entanto, o que o ILC sinaliza é somente, e tão somente, uma capacidade nominal de ativos passiveis de conversão em moeda que, supostamente, seriam suficienteshonrar as obrigações, como se as datas de conversão e de exigibilidade fossem comuns. Mas isto é somente uma suposição, pois o ILC é um indicador limitado, constante, com somente duas dimensões. Para que este índice seja um preditor de solvência, necessário é que a ele se adicione uma terceira dimensão, um preditor de tempo.
Estudos recentes na literatura, como o produzido De França e Sandoval (2019), apontam para a necessidade de combinar o ILC com o ciclo financeiro,
como preditor de tempo. O resultado desta combinação são dois outros indicadores: um que mede a eficiência financeira, denominado coeficiente de eficiência financeira (CEF), e outro que mede a sustentabilidade da liquidez, denominado coeficiente de sustentabilidade da liquidez (CSL). Esta combinação ajusta o quantum do ILC ao descompasso natural existente entre à data de conversão do ativo em moeda e a data de desembolso de cumprimento de cada obrigação. O CSL definido como CSL (a,p,f), em que“a” que são os ativos correntes ou circulantes conversíveis em moeda, “p” são as obrigações correntes do passivo circulante, e “f” é a quantidade de dias do ciclo financeiro, é um indicador que corrige ajusta essa limitação do ILC.
Diante do momento complexo que se encontra o planeta, com a economia global agonizando, o foco deve ser o da solvência e não o da liquidez. O foco deve ser o da solvência porque os balanços das empresas, referentes ao exercício social de 2019, podem exibir confortável liquidez sinalizada pelo ILC, mas decorridos apenas três meses, a liquidez que se apresentava como confortável, pode não se converter em capacidade efetiva de pagamento, como condição de solvência. Ocorrendo esta situação, há liquidez, mas não há solvência, isto porque o ativo passível de conversão em moeda não se converteria, mas a obrigação de pagar continuaria com data de maturidade definida.
Concluindo, é relevante rever a literatura para emprestar ao ILC somente o que ele é, um sinalizador de capacidade nominal de pagamento e, não, umpreditor de solvência, e acreditar um indicador com mais uma dimensão, como o CSL, para traduzir uma sinalização de capacidade efetiva de pagamento.
Referência
De França, José Antonio e Sandoval, WilfredoSosa. (2019). Necessary and Sufficient Conditions for Liquidity Management.InternationalJournalofEconomicsandFinance; Vol. 11, No. 5; 2019.
Professor José Antonio de França é Contador e Economista, Doutor em Ciências Contábeis e Doutor em Economia. Professor do Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais da Universidade de Brasília - UnB.