Abismo Humano 13

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Equipa Editorial André Consciência - João Diogo - Leirum - Soraya Moon Assinatura abismohumano@gmail.com Domínios Label: abismohumano.bandcamp.com Fórum: s13.invisionfree.com/AbismoHumano Rádio Abismo Humano: radioabismohumano.blogspot.com

index

Editorial........................................................... 4 Manifesto......................................................... 5 Labirintos Prosaicos.................................... 6 Conto cruel do terror quotidiano........................... 6 Dormência a cavalo no mediterrâneo norte...... 7 Apogeus espirituais....................................... 8 Em perspectiva............................................................. 8 Flauta de Pã...................................................... 9 Hermenêutica................................................................ 9 Articulação da Morte................................................ 10 Luiza Nilo Nunes......................................................... 11 Daniela Sophia............................................................ 12 Hugo Moreira.............................................................. 14 Náusea........................................................................... 16 Regina Duarte............................................................. 17 Ruínas Circulares........................................ 18 Entrevista Soraya Moon........................................... 18 Entrevista José Amadís Paiva.................................20 Captações Imaginárias.............................. 22 Rui Freitas......................................................................22 Nuno Consciência & Noémia Rebelo................... 24 Júlio Oliveira.................................................................28 Alexandra Santos.......................................................29 Navras NegativeOne.................................................30 Soraya Moon................................................................ 31 Araútos Sonoros......................................... 32 Alma Púrpura............................................................... 32 Cotard Delusion.......................................................... 32 Code : Red Core..........................................................34 Advent Mechanism.................................................... 35

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Editorial 4

A

Associação de Artes “Abismo Humano” dedica-se ao aproveitamento da tendência artística presente nas novas camadas jovens e a integrar, junto da arte, os valores locais, bem como ao entretenimento, educação e cultura de forma a ocupar os espaços livres na disposição dos seus associados. Para tal a associação compromete-se a contactar vários artistas, tanto na área da pintura, da literatura, escultura, fotografia, cinematográfica, ilustração, música e artesanato, de forma a expor as suas obras tanto num jornal de lançamento trimestral, consagrado aos sócios, como na organização de eventos, como tertúlias, exposições, festas temáticas, concertos e teatros. A associação das artes compromete-se igualmente a apoiar o artista seu colaborador, com a montagem de, por exemplo, bancas comerciais e com a divulgação do trabalho a ser falado, inclusive lançamentos, visando assim proteger a arte do antro de pobreza ingrata e esquecimento que tantas vezes espera as mentes criativas após o seu labor. Os eventos, que são abertos ao público, servem inclusive o propósito de angariar novos sócios, sendo que é privilégio do sócio, mediante o pagamento da sua quota, receber o jornal da associação, intitulado de “Abismo Humano”. Este jornal possui o objectivo de divulgar as noticias do meio artístico bem como promover os muitos tipos de arte, dando atenção à qualidade, mais do que à fama, de forma a casar a qualidade com a fama, ao contrario do que, muitas vezes, se pode encontrar na literatura de supermercado. Afiliada às várias zonas comerciais de cariz artís­tico, será autora de promoção às mesmas, deixando um espaço também para a história, segundo as suas nuances artísticas, u­ nindo a vaga jovem ao conhecimento e à experiência passada.


2. O Abismo Humano toma o compromisso de mostrar o que têm tendência a permanecer oculto por via da exclusão social, e a elevar o abominável ao estado de beleza, sempre na condição solene e contemplativa que caracteriza o trabalho da inteligência límpida e descomprometida. 3. O Abismo Humano dedica-se a explorar as entranhas da humanidade, e é essencialmente humanista, ainda que esgravatando o divino, e divino é o nome do abismo no humano. 4. O Abismo Humano é um espaço para os artistas dos vários campos se darem a conhecer, e entre estes, preferimos as almas incompreendidas nos meios sociais de maior celebridade. 5. O Abismo Humano é um empreendimento e uma actividade da Associação de Artes, e por isso tomou o compromisso matrimonial para com as gémeas Ars e Sophia, duas amantes igualmente sôfregas (impávidas), insaciáveis (de tudo saciadas) e incondicionais (solo fértil à condição). 6. O Abismo Humano compromete-se a estudar o intercâmbio da vida e da morte, da alegria e da tristeza, do amor partilhado e da desolação impossível, das quais o Abismo Humano é rebento. 7. Como membro contra-cultura, o Abismo Humano dedica-se à destruição da ignorância que cresce escondida, no seio das subculturas, cobrindo-as à sombra do conformismo e da futilidade. 8. Retratamos a tremura na mão do amor, a noite ardente, e a dança dos que já foram ao piano do foi para sempre.

MANIFESTO

1. O Abismo Humano compromete-se a apresentar a sapiência, o senso artístico, e o cariz cultural e civilizacional presente no gótico contemporâneo tanto como nas suas raízes passadas.

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† Labirintos Prosaicos † Conto cruel do terror quotidiano

É uma rua comprida e muito inclinada. Todos os dias a atravesso. Os carros têm de a descer devagar, de tão inclinada que é. Naquele dia, esta semana, eu ia atravessar quando olhei para cima e vinha um carro a descer, ainda ao longe, mas mais depressa do que é costume, pelo que preferi esperar que passasse. A rua é longa, ainda demorou uns segundos, e fiquei no passeio à espera. Olhei para baixo. Estavam dois pombos a uns metros, a depenicar no passeio. Um pombo e uma pomba. Sei por causa da coloração das penas. E o carro a descer, em longos, longos segundos. Tempo para tudo. O pombo, parvo do pombo, começa a andar para o meio da rua sei lá porquê, como se fosse Deus quem lhe tivesse dito: olha, vais fazer um teste, avança. A pomba ficou no passeio, a depenicar. Eu fiquei a ver. Tempo para tudo. A besta do carro também viu o pombo. Não podia não ver o pombo. E continuou por ali abaixo, como se nada fosse. Nem sequer abrandou. Não vinha nenhum

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carro atrás, nem nenhum carro à frente. Nenhuma razão para não abrandar. A besta estava com pressa. Não tive tempo de atravessar e obrigar a besta a parar, porque já ia abaixo do lugar onde eu estava. A besta passou por cima do pombo, puft!, um monte de carne e penas, o que vivia já não vive, matou e andou, e nem sequer abrandou. Nem sequer viu como eu fiquei a olhar, petrificada de raiva, não apenas raiva, mas Ira, a pensar que um de nós não é humano. Ou eu não sou humana ou a besta não é humana. Não podemos ser ambos humanos. É impossível. Olhei para a pomba. Tinha ficado petrificada também, olhando, de olhos estupefactos, o cadáver. Naquele momento pareceu-me ver na pomba um momento de lucidez que sobrevém aos animais de maneira diferente do que acontece às pessoas, pois não é verbalizável, mas se fosse seria assim: o meu companheiro desfeito no asfalto! Estava atrasada mas não me consegui mexer. Demorei a recompor-me do que

tinha visto. Porque eu não sou da mesma espécie da besta no carro, que nem abrandou. Eu petrifiquei. Não sei quanto tempo, petrifiquei. Os meus olhos na pomba, a uns metros, aterrorizada. Só quando eu saí do meu transe, e me mexi, e dei um passo, ela abriu as asas e levantou voo. Sei lá se naquele momento consciente de que o companheiro não ia atrás dela. Possivelmente não consciente, o que é uma bênção dos seres irracionais. Quando regressei, à noite, já não sobrava nada da carne e das penas. Havia só uma mancha amarela. Ninguém diria o que aquilo tinha sido. As bestas que passaram a seguir também não se importaram de ficar com cadáver nos pneus. Passaram, sem abrandar, e continuaram em frente, todas sujas de morte.


† Labirintos Prosaicos † Dormência a cavalo no Mediterrâneo Norte

O mar dourado lambendo areias vermelhas, estaria eu talvez com a cabeça em marte e os pés apontados para o leve frio da çgua sob um violino nu. Paisagens é o nome dado ao conjunto de coisas que estão para lç do olhar, estéticas ou em movimento, tudo o que as mãos querem tocar e converter em música eterna... mas nada permanece, verdadeiramente, por onde passamos jamais voltaremos a passar e a memória, essa é turva e engana-nos com sombras, esconde o que julgamos ter. Esfrego o corpo como se tivesse sarna para que a pele se irrite, coço-me como os loucos à procura de um pouco de calor no meio destas sombras, no meio destas cores adversas que só eu consigo alucinar, aqui de lébios tremidos à espera de uma ocasião para voltar a dizer o que sinto, vezes sem conta, para lé de um papel ou de um gesto de mimo, à espera, gentilmente, de um barulho de reló-

gio que me faça lembrar que sou destemido e posso gritar. O mar, ali, sussurando elevadamente os segredos dos planetas que visito ao sonhar, as viagens que sublimam a minha prisão feita de universos paralelos; o mar hipnotizando-me como um guia para que eu dê passos que sejam em frente, para a frente, de frente - mergulhar. Nasci, sei que vim ao mundo em sangue e choro, o primeiro acto de terceiros foi dar-me a conhecer a dor. Tive um nome, sei que o tive porque me chamavam muitas vezes, tantas quantas necessérias para fixar o virar de cabeça automético quando ouvia, mesmo quando não era para mim o chamamento mas para outro com o mesmo nome que eu. Porque tivera eu um nome se era comum? Porque o tivera se diziam que era o único assim?

Uma boca em desuso, só serve para beber e comer o sustento de cada dia, o corpo como um meio de transporte leva-me daqui para ali sem um destino traçado. Creio que se houvesse um destino era ortogonal para que os trajectos fossem grades desenhadas, as curvas só fazem sentido se quem o escrevesse tivesse aos seus lábios levado o mais puro tinto. Se houvesse um destino não haveriam grandes homens para grandes coisas, qualquer homem serve para fazer seja o que for, escravos de uma submissão indiscutível a uma voz que mais ninguém ouve. Poderia até descrever outros sentidos e orgãos num grande lista, quem faz listas é mais importante, mas sou anónimo e canso-me de escrever quando penso que a conclusão já está tirada mesmo que o texto pareça a meio. Resta-me dizer que procuro descobrir se vivo ou se vivi...

alfa lucian 7


† Apogeus Espirituais† Em perspectiva Navras NegativeOne

Navras não vê separação entre a vida e a arte, mas sim a vida como a expressão da sua arte. Criativo nato desde muito novo, rapidamente se viu atraído pela música. Foi em 2002 que decidiu juntar-se com amigos e formarem o seu primeiro projecto “Inside Out”. O projecto não durou muito tempo e em 2004 formou-se a banda “Needva” com quem deu variadíssimos concertos. Alguns anos mais tarde Navras, sedento de músicas que espelhassem o que ele ansiava expressar, forma o seu projecto a solo “Advent Mechanism”, em que a sua arte, filosofias e emoções pudessem ser livremente expressas e sentidas. Navras é um visionário e ambiciona que Advent Mechanism seja uma experiência e não se limite a um espectáculo musical, mas sim uma abordagem artística de universos paralelos, que de certeza todos perspectivarão de forma diferente. Estando num lugar solitário em constante desafio com ele mesmo, é contra o estado consciente humano, que diz ser um estado sufocante, escravizado pela moral, pela consciência. Acredita que a humanidade é destrutiva e quanto mais evoluímos mais perdemos o contacto com a nossa essência, com a Mãe. Defende que o propósito do ser humano é portanto transcender-se a ele próprio, o qual na sua visão só será possível se enfrentarmos aquilo que nos define como humanos. Quanto ao mundo exterior que nos rodeia acredita ser uma projecção dos nossos medos e que nada é real. É contra a linguagem que, segundo ele, afasta as pessoas umas das outras. Trouxe o que pior há no ser humano e graças a ela aprendemos a manipular e a mentir. O estado mental que melhor beneficia o planeta é o estado animal e este será para sempre sagrado. Quanto a ele próprio enquanto artista diz não haver separação entre o criador e a criação em si, que o artista cria porque sabe que é o seu único propósito, que não há nada que substitua a sensação de criar, que quem cria é arte em cada piscar de olhos, em cada respiração.

Navras NegativeOne “You lose sight of the Stars, if you’re looking for the Sky”

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† Flauta de Pã † Hermeneuta As casas da terra dos mortos são de branco e verde sujos vestidas, com o abismo ao fundo. Cautela, ó viajante que encostas o ouvido às lápides. Quem ergueu este barro cru, este palimpsesto de chão? A árvore alta. As cidades tumulares depois da chuva. Pregos de cobre, pedacos de azulejo com restos de azul. A planície, fria, sem fim na luz. Tudo foi escrito No gelo. Que mão invisível move as túlipas? Que algia tremente Do ar agita as copas? O sapo no âmbar. O cão réptil. Gabriel, fêmea celeste. Enegrecem, o espelho químico, os cadinhos de pele. Pelo cálice. A vida também é a morte. Não queiras regressar cego a casa.

Sombra, © Sandra Costa, 2013

jesus carlos Poeta, e Português.

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† Flauta de Pã † Articulação da morte (I) Não pouses sobre a morte este silêncio de cardíacos peixes e de gélidos pomares não pouses sobre os olhos o assopro das estrelas lapidadas alvorece um último dia fresco no dobrar das rigorosas pálpebras condenadas pelo luto dos dourados equinócios alvorece um último dia plúmbeo sobre a luz dos débeis dedos outonais sobre os árduos girassóis e o amarelo naufragado da indelével infância pois onde a terra desliza no crepúsculo dos fetos verdes as raízes tenebrosas estalam as sementes crivam no ardor do coração transfigurado e palidamente amanhecem os jardins de tumulário cobre na memória do homem que se despede e no delírio sanguíneo da sua cálida cabeça – como uma narcose de flores vibráteis que as narinas inalam pelo lado esquerdo da ossatura como uma porta que encerra a canção dos pastores e o vento desequilibrado das antigas searas Não pouses sobre a morte a palavra ou os espinhos da voz escuta apenas como as solitárias sombras se estreitam pálidas sobre os círculos da carne como penetram fundamente as foices como os búzios cantam o desterro das tuas manhãs Escuta os tiros em teu sangue de girassóis os pássaros calcinados de água os noitibós ausentes e os poços amparados na pedra esboroada das esfinges o tétrico crocitar dos etéreos corvos – a voz inalterada das folhas Escuta as pétalas de uma morte anunciada em tuas mãos abertas Mas não pouses os frutos tristes sobre o rigor da podridão não ofereças a boca ou o calar dos dentes às raízes frias, aos caules dolorosos deixa que o pátio se enalteça pleno em suas trevas flanqueadas deixa que se abram os pórticos ardidos e que as plantas purifiquem a transfusão dos cardos e os líquenes pneumáticos das orquídeas negras

Luiza Nilo Nunes Nasceu em 1989, do outro lado do oceano. Vive em Portugal. Escreve poesia e ficção. Compartilha alguns dos seus escritos em www.facebook.com/luizaeapalavra. Os poemas que aqui apresenta integram a obra inédita “O tétrico clamor das feras”.

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Escuta a noite que caminha para cima dos estelares arbustos Teus ossos beijam a matéria rumorosa da sombra onde os nervos orvalham e lentamente despem Escuta as artérias sulcadas pelo pó explosivo dos teus últimos sonhos e que a morte seja dócil como uma rosa que se embala


† Flauta de Pã † Articulação da morte (II) Não esperes desta noite o caule breve de silêncio não esperes sobre a luz o seu sintoma de declínio há uma palpitação de pássaros junto à idade das manhãs há uma transição de vozes no sangramento dos lábios Quando as mãos já não brilharem em seus princípios monstruosos não esperes não escutes os peixes tensos revisitados de morte não assopres o orvalho sobre a pedra vagarosa

Poética (II) Há um caule de silêncio a arquejar a noite Um caule doloroso que escrevo com os dedos calcinados pelos sintomas da luz Um caule e uma árvore fendida pela dolorosa oxidação dos outonos

Diurno Pela coluna Um tétrico latejar de aves O pasto a esmorecer pela memória das inclinações mais negras Um veio a derramar a luz pela água enturvada do silêncio Cabelos Que limpam a arcana constelação do sangue E um arquear de ossos nos estiletes da noite Como seguir por onde a terra desce? Como farejar o hálito de uma manhã prometida sobre o sono A máscara alicerçada pelo fósforo dos espelhos Escalar a rosa pelas escadas dos espinhos - degraus onde o músculo cega onde respira vibrátil uma álea de pregos Como Pôr o sol a circular nas têmporas As gotas de orvalho na ascensão dos punhos

A voz – é uma rosa maculada sobre as escamas glaciares da mudez autêntica Na boca que ejacula a voz transmuta a indelével eternidade dos metais insones a voz circula a névoa sobre os muros de tétrica água e eu escuto as folhas fendidas na cardíaca brutalidade das metamorfoses e eu escuto com os tímpanos sangrados: a penetração lutuosa das palavras algidamente puras a mórfica ardência da violeta no lábio e o pesadelo a esticar a árvore quando um raio a purifica nos seus tranquilos ossos mudos quando a insónia das sílabas palidamente a penetram – à cabeça que flutua em seus cabelos transformados, em suas acácias tumularmente plácidas a cabeça que carrega a potência vasta a cabeça que contém o som das foices e a musicada proliferação das rosas plúmbeas a cabeça que dissipa a melancólica vibração de saturno a pálida e feérica carne que enaltece no músculo todo o número de ouro Ó como os veios rigorosamente abrem os campos para o início nuclear da noite extrema Como a palavra explode Como o veludo matinal dos pássaros escorre o ópio e o veneno nas ardósias Desta boca corroída pelo pó e pelo zumbido das pútridas moscas de setembro – a palavra chega mágica em suas plantas e dentes firmes em seus frutos sanguineamente humildes em seu rumor de coração fossilizado

Como caminhar Diurnamente

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† Flauta de Pã † Definitivamente Na improbabilidade de nos reduzirmos a silêncios e nos desfazermos em cinzas cristalizadas, garanto o poder da palavra amor escrito na linha de um comboio que nunca partiu mas que por aqui já passou. Possuo todas as mágoas das janelas cortantes perto das ruas por onde passaste quando partiste (ainda leio a tua carta de despedida, selada a gritos de desespero) e bebo as lágrimas de um corvo porque o vinho já não é suficiente. Ainda tenho uma fatia de nada algures na nossa mesa de cabeceira, enrolada em memórias que irão desaparecer: guarda o crisântemo que te ofereci e não voltes a escrever-me em breve.

Eras Sobre as águas de um rio, os coágulos da eternidade dissolveram-se cintilantes como os teus olhos perdidos nos arbustos de uma floresta. Rejuvenesci como pétalas morrediças, pintando um planalto com as cores de espíritos viajantes por quem não morri.

Daniela Sophia A expressão das palavras, escondida nas cinzas das memórias queimadas, nunca será suficiente para deixar transparecer todos os pensamentos de uma alma insone...

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Na era dos liláses, na época das laranjas, no tempo dos sorrisos... e eu estou velha como os tempos!...


† Flauta de Pã † Dezembro Já não chove em Dezembro: fujo constantemente do frio sem amar o que perdi enquanto podia ficar. Já não chove em Dezembro: a montanha espera por mim triste, como um dia de Inverno em que parti antes de amanhecer. Deixei cair uma moeda no silêncio: não cheguei a tempo de pagar o café que te prometi no último dia de Novembro... Perdoa-me se te deixei à espera, mas já nem o teu olhar me prendia aqui depois de os meus olhos se enevoarem... Mas peço que guardes essa moeda minha e não esperes o meu regresso: já não chove em Dezembro.

Eu Comigo Entranho-me na noite como uma nuvem negra é uma nódoa no céu (ainda bem que hoje não acendi a luz pois assim a noite é mais bela ainda). Dos meus segredos eu não falo, mas evoco memórias deles e invoco os todos os seus nomes quando sobre eles choro... - Desculpe, tem lume? Converso comigo mesma e procuro as coisas onde sei que não estão. Ora! Que mais pode ferir a minha reflexão, se não a ausência do silêncio? Fechei a porta do mundo e adormeci aconchegada na noite.

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† Flauta de Pã † The Bird of Joy Enwreath’d ‘twixt mantles wrought of iron mist, Thrice dost bejewelled turrets pierce wintry Sky; Heav’nly repose where Seraphs cavort nigh, O’er bruised amber peaks Sun and Earth ne’er tryst. Clad in lace and gold brocade She stood, whilst I sank midst feral throes, seeking Her eye; Seething wings scorn’d me, jagged teeth glisten’d wry, Sulphur breath choked me in words dared not wist: “Night and Day I follow’d thee thro’ the dim, My threshold thou cross’d into this Abyss, E’er twilit and crepuscular and grim. A song of Joy sired thee weeping hymn, Perch’d psalm’d cruelly, a sov’reign submiss, Lest fore Daemons cast this realm into glim.”

The Bird of Sorrow Etch’d amidst flesh entwined and wounds profound, From veins ajar ebbs wine sweet’r than disdain; Thus, may’st sapphic sylphs exchange kiss profane, Neath thousand brazen stars’ glow high abound. Brooding She sat, shrouded silence around, Plague swarms whilst laughter becometh arcane; Kind eyes gazed into me, Her voice ordains, Midst the soft strum of strings doth hers resound: “Day and Night I follow’d thee thro’ the bright, To th’ethereal spheres thou ascend monarch, Ne’er-writhing lustre of celestial light.

Hugo Moreira

A song of Sorrow harpies’ talons smite, For when the dusks art long, and days grow dark, Enjoin’ll thou Chaos and Eternal Night.”

“O Progeny of heav’n, empyreal Thrones, With reason hath deep silence and demur Seiz’d us, though undismay’d. Long is the way And hard, that out of hell leads up to light;” – John Milton, Paradise Lost, Book II, Lines 430-433 The Birds of Joy and Sorrow, poema escrito entre os dias 24 de Maio e 22 de Junho de 2013 (c) 2013 Princeps Angelus Mors

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† Flauta de Pã † A Ave do Júbilo Envoltos em mantos de névoa férrea forjados, Três torreões por jóias adornados impalam o Céu invernal; Divina esta moradia em qual se fornicam os Serafins, E sobre cumes de âmbar pisados jamais se cortejam o Sol e Terra. Vestida de rendas e brocado de oiro Ela erguia-se, enquanto Eu cedia por entre agonias ferozes, procurando apenas Seu olhar; Asas agitaram-se escarnecendo-me, e dentes cintilaram oblíquos, Sufocava-me Seu bafo sulfuroso em palavras que não ousava adivinhar: “Noite e Dia segui-vos por entre as sombras, Minha soleira cruzastes para este Abismo, Eternamente submerso em trevas, crepuscular e severo. Um cantar de Júbilo fez-vos hino de lânguidas lágrimas, Empoleirado em salmos cruéis, um soberano submisso, Não fossem Demónios consumar este reino ao brilho.”

A Ave do Pesar Gravado por entre carnes entrelaçadas e chagas profundas, De veias semicerradas verte um vinho mais doce que o desdém; Assim, possam sílfides sáficas trocar beijo profano, Sob o brilhar acobreado de um milhar de estrelas que do alto abundam. Tristonha sentava-Se, amortalhado o silêncio volvia, Pragas alastram-se e o riso é em arcano tornado; Olhos bondosos em mim fixaram-se, Sua voz ordena, Ressoando por entre o suave dedilhar de cordas: “Dia e Noite segui-vos por entre o claro, Às esferas etéreas ascendei vós monarca, Entre o lustre perpétuo da celeste luz. Um cantar de Pesar lúgubres garras de harpias soam, Pois quando é o longo o anoitecer, e em escuros os dias tornados, Juntareis-vos-ás ao Caos e à Eterna Noite.”

“Príncipes do Ceo, diz, Thronos do Empyreo,se ficamos em silencio, naó he porque o medo possa abalar-nos. O que nos espanta, naó he o perigo, he a dificuldade. A estrada, que daqui vai ter á luz he dilatada, talvez impraticavel,” John Milton, Paraíso Perdido, Livro II, Página 69 Tradução portuguesa pelo Padre José Amaro da Silva: 1789. MILTON, J. Paraíso perdido; Paraíso restaurado (notas M. Racine e observações de M. Addison); anot. de M. Adisson sobre o Paraíso Perdido. Lisboa: Typ. Rollandiana. (Reedição 1830.) (Originais: [?] RACINE, J. [1639-99]. Comentários históricos e mitológicos; ADISSON, J. [1672-719]. Comentários ao Paradise Lost publicados no The spectator; MILTON, J. [1608-74]. Paradise Regain’d [1671]).

Birds of Joy and Sorrow Sirin and Alkonost (Russian: Сирин и Алконост. Птицы радости и печали.), dated 1896, oil on canvas, 164 × 297 cm, painting by Viktor M. Vasnetsov (1848-1926), currently located at the State Tretyakov Gallery, Moscow, Russia.

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† Flauta de Pã † Náusea Todo o ser por ser enjoa, Uma alma incapaz, De sonhos, feitos, gritos Mas a náusea, sim, audaz. Expande-te náusea, destrói Por caminhos ou buracos, Sê livre como a morte, Só te peço, seres intactos. Esta náusea que flui e cresce Tal como o tempo, que passou e passa De perdas se alimenta, De lamentos se desgasta. Perdoem-me seres ou almas Pela náusea em vós imposta, Perdoem-me pessoas ou sombras Pela alma sem resposta. Corrói náusea e castiga, Torna a alma nauseabunda, Afasta os seres da intriga, Quiçá tempo, alma defunta.

Regina Duarte Regina Duarte é uma jovem escritora residente no Porto que tem por objectivo retratar os espaços entre a razão e a emoção.

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† Flauta de Pã † Flores e Café É um quarto aborrecido De paredes brancas e Poemas emolurados na parede, Escritos para mim, Há mil anos atrás. Caixinhas vermelhas de arrumação, Cassetes, livros, cd’s desarrumados, Paletes de maquilhagem e toalhitas, E um espelho, Para meter as lentes de contacto. Um guarda-vestidos enfiado na parede, Cheio de tralha e Uma boneca de porcelana partida Com amor do Tio, que a achou Parecida comigo por usar óculos Oferecida em 1997. Três Budas, que me fazem Sentir bem só pelo facto de os ter. Cadernos para poemas, Mas que também têm matéria Do 1ºano de Filosofia, E algumas citações Que fazem bem ao ego, e Outras, mal ao coração. Apontei-as para o caso De me esquecer. Um telemóvel melhor que o computador, Migalhas no teclado E uma cadeira em que Lhe falta uma rodinha. É frio no Inverno, E abafado no Verão. O fumo ja começa a entranhar-se Pelas paredes, mas Vá lá que a persiana já funciona.

Deus me livre Que Deus me livre da rotina E que me livre da estagnação Que me livre da morfina E da Santa Poluição. Que Deus me livre das mini-saias Dos meninos e respectivos, Que me livre dos três... E que me livre dos Sete! Que Deus me livre do vazio Do cimento e das sirenes, Que me livre do vadio E de todos os outros encenes Que Deus me livre da Terra, Que me livre da liberdade Que me livre da guerra E que me livre da felicidade Que Deus me livre da entrega Que me livre do coração Que me livre da estratégia E me livre da acusação. Que Deus me livre de Histórias Que me livre de alguém, Mas que não me livre de esquecer, Que Deus nao livra ninguém!

- É desconfortável A boneca não fui eu quem a partiu, A maquihagem também é da minha mãe, Um dos três Budas não é uma estatueta, O meu tio já morreu, Mas os poemas são todos meus. Vivo de flores e café, É descofortável, Mas está tudo bem.

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† Ruínas Circulares † Desde cedo Moon sempre se fascinou pelo mistério e a intensidade de tudo o que via a sua volta, de todas as suas emoções e o que sentia no seu corpo. Recordações de outros tempos desejavam brotar sem ela ter qualquer controle. Começou a sua busca na dança jazz aos 10 anos e aos 13 anos em Street dance. Insatisfeita e com uma necessidade intensa de explorar a forma de expressão que a completasse, aos 14 anos entrou em aulas de música e guitarra clássica, em que se seguiu aulas de canto clássico e baixo eléctrico. Esteve em diversas bandas e projectos pessoais nos quais se destacam os Celtic Dance, Needva e actualmente em Advent Mechanism. O seu caminho passou também pelo Chapitô no curso “Ofícios do Espectáculo” não o completando mas tendo sido muito importante na sua busca. Em 2006 entra em aulas de dança oriental com a qual se apaixonou profundamente e em 2007 conhece Iris Lican com quem tem aulas regulares desde então tendo frequentado o 1º ano do curso “O Corpo Oriental: Dança Oriental Formação Profissional” com Mariana Lemos e Baltazar Molina. Teve workshops com Sharon Kihara, Joana Saahirah, e Cris Aysel. Actualmente dança com as Ignis Fatuus Luna, é fundadora das Akathisia, projecto feito especialmente para Advent Mechanism, e faz parte do projecto Gothic & Metal-Fusion. Para melhor conhecer o seu corpo e o seu mundo tirou o curso profissional de massagem ayurvédica e de Vyayam Yoga e ainda teve aulas à parte de Yoga, Karaté e Kung Fu Shaolin no qual pretende prosseguir os seus estudos mais tarde. Moon dedica todo o seu tempo na criação da sua própria expressão e forma de dançar, e no mergulhar da sua energia como ser vivo. Abismo Humano: Como é que te sentiste no teu primeiro espectáculo? Soraya Moon: [pensativa] O primeiro de todos? AH: Sim. SM: Era muito nova, devia ter uns 10 ou 11 anos e senti-me muito nervosa. Lembro-me de estar no backstage antes de entrar em palco mais uma amiga minha a batermos com uma garrafa de água nas paredes. [risos] AH: O que te levou a fazer esse espectáculo? SM: Eu andava nas aulas de dança jazz e era o espectáculo de fim de ano. AH: Porque te inscreveste na dança entre tantas actividades? SM: Porque queria ser bailarina, queria aprender a dançar. Eu tinha um grupo de dança com as minhas amigas da escola e tinhamos combinado ir para as aulas para fazer melhores coreografias.

SORAYA MOON

Entrevista 18

AH: Sim. SM: A Mary Nemain fazia parte desse grupo já. AH: Em quem te inspiraste? SM: Estás-me a querer tramar. [risos] Sempre me inspirei muito através do movimento e sempre que via dança em filmes, programas ou artistas ficava extremamente apaixonada. A mesma coisa com as artes marciais que sempre me ressoaram como uma dança, e desde sempre me apaixonaram imenso também.


† Ruínas Circulares † AH: Quando decidiste que a dança era a tua vocação e uma carreira a seguir com seriedade? SM: Nessa altura já tinha decidido mas entretanto deixei-me levar por outras inspirações. Quando voltei a dançar aos 20 anos senti como que um regresso a casa. Não sinto que tenha sido eu a escolher a dança mas sim a dança a escolher-me a mim, como veículo de algo mais. O contacto com o que não vemos.

AH: Prato predileto? SM: Comida indiana AH: Tens algum ídolo? SM: [pensativa] A Anaïs Nin conta?

AH: Alguma vez pensaste em desistir? SM: Desistir da dança nunca, desistir de dançar em público sim

AH: O que mais admiras na Anaïs Nin e o que mais admiras numa pessoa em geral? SM: Na escritora, a sua introspecção e fidelidade para com os seus sentimentos. Em geral admiro a inteligência, independência, gentileza e criatividade de qualquer pessoa.

AH: Porquê? SM: Porque são muitas as energias que nos tocam quando dançamos em público e isso pode sempre fragilizar-nos de algum modo. Lidar com as expectativas de pessoas que querem ser simplesmente entretidas também não é fácil. AH: Qual a maior dificuldade que já encontraste na profissao? SM: O confronto com as minhas limitações. [silêncio] Querer expandir–‑me mentalmente até ao corpo e o meu corpo não conseguir acompanhar. AH: Um sonho a realizar? SM: Fazer uma tour pelo mundo dando espectáculos. AH: Qual é o teu livro favorito? SM: As Brumas de Avalon. Gosto porque o sinto visceral de alguma maneira, porque se conecta com a força criadora da vida. AH: Música favorita? SM: Dead Can Dance, vá.

AH: Porque não? SM: Então pronto, Anaïs Nin.

AH: Sim. Quais achas que são as tuas maiores qualidades? SM: A minha facilidade em conectar-me com as pessoas. Dizer isto soa mal ó André. [risos] AH: E há algum defeito de que nos queiras alertar? SM: A minha exigência. AH: O que gostas de fazer nas tuas horas de lazer? SM: Fotografar, ir ao cinema, filosofar, viajar. AH: Conta-nos sobre um momento especial. SM: Quando andei pela primeira vez de avião a sensação de levantar voo foi orgásmica, sentir que voava e passar para lá das nuvens. AH: E por fim, alguma mensagem que gostasses de deixar àqueles que admiram o teu trabalho? SM: Vejam a vida como um acto de criação e tornem-na mágica,

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† Ruínas Circulares † A paixão de José Paiva pela música já vem desde muito cedo. Tendo explorado diversos instrumentos e géneros musicais foi na guitarra portuguesa que a sua alma quis pertencer. Procura no fado tradicional a raíz da linguagem musical que lhe sirva de base para novos caminhos, dando corpo a um imaginário mais nocturno e introspectivo, ligado à natureza, onde vive a saudade como fonte de inspiração. Abismo Humano: Quando e que sentiste o chamamento para a guitarra portuguesa? José Amadís Paiva: Foi um daqueles encontros, eu tinha por volta de 17 anos na altura, ja tocava guitarra e estava mais ligado ao rock/metal. Epa e houve uma manhã qualquer em que decidi à ultima que não me apetecia muito ir à aula de métodos quantitativos às 8h da manhã e em vez disso fui passear pela baixa, naquela de tomar um pequeno almoço ao pé do rio, comprar um jornal etc.. Ainda nao eram 8h sequer, eu estava a percorrer a rua Augusta e foi um daqueles momentos que tu imaginarias num filme piroso *risos* a rua estava coberta por um nevoeiro denso, e eu comecei a ouvir uma guitarra portuguesa à distância, era um senhor ja de idade que costumava tocar ali na rua, ao que vim a perceber depois e que na verdade não tocava assim tão bem, mas naquele momento ele tocou qualquer coisa tão limpinha e tão profundamente intensa! Acho que era uma variação qualquer sobre o fado menor. Bom, aquele som nunca mais me saiu da cabeça e esse foi na verdade o primeiro chamamento, chamemos-lhe assim. AH: O que te apaixonou? JAP: Eu podia tentar esboçar uma resposta racional mas a verdade é que não faço mesmo ideia *risos*. Na verdade foi curioso eu ter-me interessado pela guitarra portuguesa quando, na verdade, eu sou mais atraído por instrumentos em tessituras bem mais graves como violoncelo, guitarras barítonas etc. mas com a guitarra portuguesa por algum mecanismo que ainda não compreendi muito bem atraiu-me irremediavelmente. AH: Em que projectos participas actualmente? JAP: Principalmente com RosaNegra de momento.

José Amadís Paiva

Entrevista 20

AH: Como artista, o que te inspira e impulsiona a criar? JAP: O termo artista para te falar verdade, causa-me alguns conflitos mas à parte de questões filosóficas eu posso dizer-te que basicamente tudo! Qualquer coisa pode eventualmente servir como fonte de inspiração à parte das diferentes fases e encruzilhadas que todos vamos tendo pela frente, é claro que há correntes internas, digamos assim, ideais que me acompanham há mais tempo, dos quais bebo e que me influenciam de uma forma mais directa que têm sobretudo a ver com a minha forma de entender o mundo. Mas acima de tudo é a minha relação pessoal com um instrumento, e com o som em si mesmo. AH: Qual a performance que mais te tocou e porquê? JAP: Sabes que falarmos sobre nós mesmos é sempre complicado, porque regra geral todos temos sempre uma fasquia muito mais elevada para nós do que para os outros, e além disso tu deparas-


† Ruínas Circulares †

-te com tantas influências externas, o som de palco que não está muito bom, ou a guitarra que não está a soar como tu gostas, porque as guitarras também têm os seus moods como as pessoas. Houve sim momentos mais felizes que outros, mas até hoje as grandes epifanias foram sempre sem a presença de testemunhas. AH: Perspectivas e sonhos futuros? JAP: Eu acredito que a humanidade está numa encruzilhada crítica e decisiva, e além disso está à vista de qualquer um que estamos a viver um tempo profundamente complexo em que é extremamente complicado construir perspectivas. Falando de sonhos posso dizer-te que nunca encarei tudo isto propriamente como um sonho, porque na verdade é algo bem mais ligado ao corpo e aos sentidos, é uma fatalidade digamos assim, é uma relação, é um impulso, é uma coisa que nós somos e à qual não se pode fugir mesmo que se queira. Portanto em termos profissionais será apenas uma questão de aguardar e ver os véus que os deuses decidem levantar. No entanto sim, é garantido que eu estarei aqui, a estudar, a compor e a procurar.

AH: Uma mensagem para quem queira tocar guitarra portuguesa? JAP: Com os instrumentos, tal como acontece com as pessoas, a coisa funciona muito por química (detesto esta expressão mas por agora passa), aquela faísca que te faz gostar e sentires identificação. Com os instrumentos é exactamente igual, portanto sentir isso é um indício seguro que aquele instrumento será um bom veículo para nos expressarmos. Se tiveres esse primeiro condimento essencial, eu penso que é importante ir buscar à linguagem própria do instrumento nos contextos em que ele foi criado. É claro que depois podemos sempre romper com a tradição e criar um caminho novo, mas para começar é muito importante ouvir os guitarristas de fado, dos contemporâneos aos mais antigos, ouvir carlos paredes e o reportório instrumental porque é neste “corpus” que reside a linguagem que caracteriza realmente a guitarra portuguesa, e caso contrário seria apenas mais um instrumento de cordas não muito diferente de um bandolim. Além disso, é um instrumento muito caprichoso e que requer uma vontade de fogo, mas que recompensa a teimosia e o amor que lhe soubermos imprimir.

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† Captações Imaginárias † rui freitas Mãe és tu que nos dás esta vida, és tu que providencias o nosso alimento, a nossa substância perdura acolhida no teu peito. Sem ti seríamos nada, ou nos teríamos de adaptar, tudo seria diferente, o mundo não seria este mundo, os sorrisos não seriam os mesmos, a água não seria o mar, a rocha não seria montanha, os céus seriam pálidos talvez.

https://www.facebook.com/pages/RF-Creative/

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† Captações Imaginárias †

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† Captações Imaginárias † Nuno Consciência & Noémia Rebelo Desde há muitos anos que sentíamos o chamamento da gaita de foles solitária que no cimo do monte encanta as gentes, os lochs e os montes. Depois desse longo namoro com as terras altas da Escócia, eis que nos decidimos a arriscar verificar se a realidade correspondia ao sonho. A Escócia recebeu-nos de Cidra na mão, sorrisos e paisagens etéreas. Histórias e magia em cada canto com cenários de uma imponência aconchegante. As tradições bem vivas no coração dos escoceses e muita vontade de receber bem quem os visita. A neblina, as nuvens e o Sol fazem parte do dia a dia deste país e tornam cada paisagem ainda mais hipnotizante. Os dias passados em absoluto espanto, quer por Edimburgo, quer mais a norte nas Highlands convidam a lá voltar no futuro. “Scotland my mountain hame, High may your proud standards gloriously wave, Land of my high endeavour, Land of the shining river, Land of my heart for ever, Scotland the brave.) High in the misty Highlands, Out by the purple islands, Brave are the hearts that beat beneath Scottish skies. Wild are the winds to meet you, Staunch are the friends that greet you, Kind as the love that shines from fair maidens’ eyes.”

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† Captações Imaginárias † JúliOliveira Natural de Parada Todeia, freguesia do concelho de Paredes. Trabalha no sector Metalúrgico, nos seus tempos livres, gosta de fotografar, sendo ainda um pequeno fotógrafo amador. “A foto é a soma de dois olhares, o olhar do próprio fotógrafo e de quem o admira.’’

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Alexandra Santos “A alegoria chega quando descrever a realidade já não nos serve. Os escritores e artistas trabalham nas trevas e, como cegos, tacteiam na escuridão.” José de Sousa Saramago

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† Captações Imaginárias † Navras NegativeOne Trabalhos de Navras NegativeOne de 2013. Compositor de música electrónica, DJ e fundador do projecto Advent Mechanism.

Nun in the Mirror by Navras

Sem-título by Navras

The Maid by Navras 30


† Captações Imaginárias † Soraya Moon

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† Arautos Sonoros † Alma Púrpura Alma Púrpura lançou o seu novo álbum de colaboração no mês de Outubro, desta com Sid Suicide, mentor de projectos como Suicide Echoes e Cotard Delusion. Este trabalho é uma etapa final da trilogia Post-Mortem iniciada em Setembro de 2008 e que conta com uma sonoridade neoclássica que determina bem o seu estilo e com a adição de ambientes medievais. almapurpura.bandcamp.com/album/post-mortem-3

Cotard Delusion A Abismo Humano orgulha-se de apresentar o primeiro álbum de Cotard Delusion, o aguardado projecto a solo de Sid Suicide. Cotard Delusion é um projecto que vagueia entre os caminhos do neofolk, industrial e dark-ambient. Na sua essência é um projecto experimental, bebe das mais variadas influencias. Se nos faz lembrar dos templos e seus rituais, pode também trazer-nos à mente campos de batalhas. Se nos transporta para tempos antigos, revela-nos também elementos do presente que nos rodeia. Convido-vos a escutar, apreciar e quem sabe mesmo a gostar... Cotard Delusion is a project that wanders between the paths of neofolk, industrial and dark-ambient. At its essence is an experimental project that drinks from the most varied influences. If it reminds us of the temples and their rituals, can also brings to mind the battlefields. If it carries us to ancient times, it also reveals elements of the present. I invite you to listen, enjoy and maybe even like it ... abismohumano.bandcamp.com/album/i

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† Arautos Sonoros † Code Red : Core “Denial” é o primeiro lançamento de 2013 pelo projectos Code : Red Core, com a participação na voz do convidado “David Ian” de “Cortex Defect”, e contendo três novos temas em mix feitos por Cortex Defect, REIZ e “RetConStructed” (com a masterização de Jan L. of X-Fusion Music Production). Tracklist: 01 - Denial (Feat. David Ian) 02 - Archangel (Feat. David Ian) 03 - May Day 04 - Denial (Cortex Defect Remix) 05 - Denial (RetConStructed by Guy Valdes) 06 - Denial (Remix By REIZ) abismohumano.bandcamp.com/album/denial

Code: Red Core II “Quando não tiveres em que te apoiar, e te perderes na estrada de um reino proibido, fecha os olhos e sonha, na fantasia jamais terás o real, o teu corpo pode-se degradar, mas o teu coração permanecerá para sempre em eterna alegria.” - Ycarus Red Core. “Pontes e Precipícios” traz à tona o início de uma nova fase ao projeto Code: Red Core, não representa uma mudança mas sim o início de uma liberdade na maneira de se expressar, caminhando para um lado mais pessoal. Com a participação especial dos vocalistas da banda Underless. abismohumano.bandcamp.com/album/pontes-e-precip-cios-feat-underless

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† Arautos Sonoros † Advent Mechanism - Umbra “Look into the Abyss to be Godless. Dive into Nothingness to be Free. Contemplate to be One. Emerge to be Whole.“ Download com acesso a um E.P. bonus contendo : The Umbra Sisters: Rasas Penumbra The Umbra Sisters: Umbra Navras The Umbra Sisters: Brahma’s Anteumbra - mais a artwork tanto do álbum como do E.P., composta de várias ilustrações feitas à mão por Navras NegativeOne. Podem também adquirir o álbum + E.P. com capa em origami por 9,99 euros, enviando o vosso pedido para: trust._.no1@hotmail.com sorayamoon@hotmail.com abismohumano.bandcamp.com/album/umbra

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© 2013


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