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EMPREENDER é um estado de espírito

moda agora é falar em empreendedorismo. Já há até um “Canal do Empreendedor”. Ao longo de minha existência conheci algumas iniciativas de empreendedores natos, seres humanos que querem ser seu próprio patrão. Para esse fim, concebem uma idéia, iniciam um empreendimento e começam a dar forma ao sonho.

Conceber, realizar, fazer, executar . . . São expressões que no mundo do antigamente não se vinculavam ao que hoje se insere no campo da inovação e tecnologia. Menos teoria e mais prática era a regra, com foco no desenvolvimento de competências e habilidades ao ato de empreender.

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Sempre me perguntei o que levou Francisco Vieira de Siqueira, em 1896, na Zona da Mata de Minas Gerais, a dar início ao seu negócio de tipografia. Ele tinha dentro de si algumas características essenciais, certamente, como: vontade de empreender (estado de espírito), criatividade (capacidade de gerar idéias e viabilizá-las), persistência (obstinação), perseverança, visão de futuro e coragem para assumir riscos. Em 1896 importou uma impressora offset a pedal (hoje peça de museu) e deu início ao sonho.

Eram outros os tempos, em que o Estado NÃO atrapalhava. Havia ambientes legais, tributários, trabalhistas, estimuladores. As autoridades municipais acompanhavam o crescimento na expectativa da geração de emprego e renda e novos negócios, numa corrente virtuosa.

O gráfico de 1896 no interior das Minas Gerais dialogava, oficialmente, só com as autoridades municipais. Hoje, ele seria obrigado a cumprir obrigações principais e acessórias com autoridades do Governo Federal, dos Estados e dos Municípios. Se dentre seus impressos ele produzir BULAS, por exemplo, o risco aumenta, e a mão do Estado se alarga.

Já que falei em BULAS, permitam-me um parêntese: há quem compare a BULA a um cardápio de restaurante (como se medicamento fosse um filé com fritas), e quer sujeitar o cidadão brasileiro a modismos tecnológicos, pondo fim à BULA IMPRESSA, substituindo-a por uma bula digital, movimento que os países mais avançados do mundo rejeitam. Quem produz, vende, prescreve e ingere um medicamento sabe que a bula impressa é um DOCUMENTO

Darei um salto em direção a um recente risco, a reforma tributária. A indústria gráfica demorou anos para pôr fim ao célebre conflito tributário ISS versus ICMS. A “reforma” quer pôr fim ao ISS. Como isso afetará a indústria gráfica? Lembremo-nos, também, que em 2021 o ministro da Economia propôs fundir PIS e Cofins dando forma a uma nova contribuição, com alíquota de 12%, incidente sobre tudo que a indústria gráfica produz, até livros. Pois não é que a reforma em debate, a que extingue o ISS, também propõe a fusão de PIS e Cofins dando vida a uma contribuição federal, nos moldes da proposta fracassada?

Sobre bulas: há riscos não desprezíveis de a indústria gráfica perder mercado para o lobby farmacêutico, ainda que seja só na redução do “tamanho” da bula, ainda que impressa.

Sobre tributos: sem o ISS, que se fundirá ao ICMS, é risco certo a elevação da carga tributária da indústria gráfica.

De tédio o empresário gráfico empreendedor por excelência não morre. Mas pode ser vitimado pelas afiadas garras do Estado.

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