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NOSCE TE IPSUM

Reza a lenda que no templo de Apolo, na Grécia Antiga, havia a inscrição g nothi seauton (γνῶθι σεαυτόν), que em latim seria Nosce te Ipsum e que no português significa “conhece a ti mesmo”. Existem várias controvérsias sobre a autoria dessa frase, mas, considerando o legado da cultura grega à civilização ocidental, a discussão da autoria não é algo relevante.

Conhecer a nós mesmos é sim uma necessidade. Sobretudo pelos momentos complexos que estamos atravessando, desde uma pandemia paralisante, seguida por conflitos bélicos, processos inflacionários, crise de emigração e tantos outros que deixam a perspectiva de presente e futuro ainda mais desafiadora.

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Em períodos de tanta incerteza, a filosofia adquire importância ainda maior, uma vez que sua principal função é provocar a reflexão. Isso vai ao encontro do pensamento de um dos seus principais expoentes, Sócrates. O filósofo ateniense dizia que através do conhecimento do “eu” conseguimos encontrar as justificativas para nossas ações no presente e, com isso, a possibilidade de definirmos o nosso futuro.

Aqui entram em cena as três perguntas existenciais que estão enormemente relacionadas ao Nosce te Ipsum: quem sou eu, onde eu estou e para onde eu vou? Quando nos propomos a verdadeiramente respondê-las, inexoravelmente chegaremos a algumas reflexões e, às vezes, a respostas de grande benefício para as nossas vidas. O mais interessante sobre este assunto é que essas mesmas indagações podem ser aplicadas às empresas. Por exemplo: que tipo de organização nós somos, em que mercado atuamos e para onde vai esse mercado? São questionamentos que hoje, dada a enorme quantidade de mudanças e variáveis, precisam ser feitos constantemente.

Proponho, então, o exercício de buscar respostas para tais questões.

Que tipo de organização é a nossa? Essa resposta tem de ser dada pela diretoria da própria empresa, que periodicamente deve revisar o seu propósito, considerando suas virtudes e defeitos, dentro de mercados com demandas mutantes.

Em qual mercado atuamos? Temos de conhecer profundamente o comportamento do segmento onde estamos inseridos, como ele se comporta e com que rapidez responde às grandes mudanças de hábito de consumo. Essa é uma análise fundamental para toda e qualquer organização, principalmente diante da velocidade das mudanças de humor do consumidor.

Curiosamente, a resposta para a terceira indagação, sobre os rumos do mercado, não é complexa. É clara e objetiva. A dificuldade está em reunir os elementos necessários para que se enxergue o cenário de forma panorâmica.

Vamos lá! Tudo se inicia com uma explicação geopolítica.

O conflito pela liderança mundial entre os Estados Unidos e a China estabeleceu-se num novo patamar, não mais político e sim industrial. Não estamos numa guerra na frente bélica, ou numa guerra fria. Estamos abertamente numa guerra industrial, na qual a crise sanitária da Covid-19 e a consequente ruptura das cadeias de distribuição provocaram a reflexão de diversos países sobre a falência de um sistema com elos produtivos localizados em diferentes partes do mundo. O fato de a China concentrar a manufatura de máscaras, respiradores e outros elementos médicos, tão necessários numa situação de crise sanitária mundial, fez soar os alarmes. Os Estados Unidos querem agora recuperar o terreno perdido, por isso estão investindo numa ambiciosa reforma industrial da ordem de 2 trilhões de dólares. O assunto é sério, transformando-se em tema de segurança nacional. E a Europa vai pelo mesmo caminho.

O que acontece então com o Brasil? Bom, os números indicam que na década de 1980 a indústria de transformação tinha participação de 35,9% do PIB, índice que caiu para 12,9% em

2022. No cenário atual, está claro que o Brasil tem obrigatoriamente de sair dessa condição e realizar uma drástica reforma industrial. Isso não só olhando para o mercado interno, mas também para liderança regional. Diante dos investimentos e projetos dos grandes blocos mundiais, ficará cada vez mais complexo emplacar os produtos brasileiros lá fora.

Por outra parte, o Brasil está numa posição privilegiada no tema ambiental: 46% de nossa matriz energética está fundamentada em fontes renováveis, número quatro vezes maior do que a média dos países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Em maio, a Confederação Nacional da Indústria, CNI, divulgou, em conjunto com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Fiesp, o “Plano de Retomada da Indústria”. Ele considera quatro missões: descarbonização, transformação digital, saúde e segurança sanitária e a defesa e seguridade nacional, agora chamado de neoindustrialização. E qual é o ponto de partida? A reforma tributária, que está atualmente em análise no Congresso. Acordos e negociações para o benefício do País dependem da vontade e responsabilidade institucional e política de todos os envolvidos. Tomara que isso aconteça.

Essas duas realidades, a geopolítica e o ambiente interno, falam por si mesmas e de forma explícita a que todas as organizações industriais e prestadoras de serviço deverão se adaptar, queiram elas ou não. Não há como fugir da digitalização, da integração e da descarbonização, utilizando para isso os pilares da indústria 4.0, a Inteligência Artificial e outras ferramentas já disponíveis. Esse é o futuro, a resposta objetiva à questão colocada anteriormente e para lá os mercados estão direcionados.

Voltando aos gregos. Eles procuravam responder as perguntas existenciais e muitas outras baseados no conhecimento e informação do dia a dia, para depois, racionalizando essas mesmas experiências, encontrar suas respostas. Por tudo isso fica muito claro que informação é um dos ativos mais importantes das organizações.

Há quase 20 anos nós da Afeigraf estamos junto aos nossos associados e ao mercado, entregando não só produtos, insumos e serviços, como também, desde 2018, informação qualificada e objetiva sobre a indústria gráfica via o Boletim Econômico Afeigraf, que já está perto de cumprir seu quinto ano de publicação e distribuição gratuita. Nosso objetivo é justamente contribuir para que as organizações consigam encontrar respostas para o Nosce te Ipsum.

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