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Movimento de diversificação das gráficas no mercado norte-americano

80% das gráficas nos Estados Unidos estão trabalhando ou considerando trabalhar em outros segmentos de mercado

Adaptação do autor a partir do estudo Diversification Patterns in Print: opportunity in adjacent markets, da NapcoResearch, 2021 (https://piworld.tradepub.com/free/w_hp496/) para formar uma indústria gráfica mais harmoniosa e, diria eu, mais abrangente. Outra, em nível micro, dizem eles: “Vê-se várias gráficas adotando novas soluções para diversificar seu portfólio de aplicações de forma a servir uma variedade maior de necessidades para seus clientes”.

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Estamos falando, claro, do mercado norte-americano, onde cada nicho de mercado é mais amplo que os mesmos nichos nos mercados brasileiro ou latino-americano. No nosso país, uma gráfica média ou pequena, de forma geral, sempre procurou fazer de tudo um pouco, ainda que muitas tenham uma especialização em determinado segmento ou produto.

Ainda assim, é interessante ver esse processo de convergência porque aqui também é real, embora nunca o tenhamos medido claramente em nossa região.

Vamos, então, a essa pesquisa.

Um primeiro levantamento da NapcoMedia dessa chamada convergência foi feito no começo de 2018 com o título de Convergence in the Printing Industry: understand growth opportunities and competition (convergência na indústria gráfica: oportunidades de crescimento e competição, em tradução livre). Nesse estudo foram pesquisadas empresas gráficas dos segmentos comercial, embalagens, grande formato, vestuário, industrial e as chamadas gráficas próprias tradução minha para o in-plant , gráficas que estão dentro de uma empresa ou grupos de empresas, um importante mercado lá nos Estados Unidos. Como já foi entre nós a produção própria de livrões e revistas, por exemplo.

A maioria dos respondentes já indicava que buscar expansão dos negócios em outros segmentos de mercado era uma oportunidade, tanto que 33% já o faziam, enquanto outros 39% estavam pesquisando ativamente. E que essa expansão cresceria nos anos seguintes, incluindo fusões e aquisições para acelerar esse processo.

Com a pandemia, esse processo de diversificação se ampliou. A NapcoMedia então fez uma nova pesquisa, nos mesmos moldes da primeira, no fim de 2021, com o título de Diversification Patterns in Print: opportunities in adjacente markets (Padrão de diversificação na impressão; oportunidades em mercados adjacentes, em tradução livre).

Sob o impacto das mudanças globais, mudanças do consumidor e mudança do comportamento dos compradores de produtos gráficos, entender esse processo ajuda a entender como a indústria está mudando e como as empresas estão se adaptando a essas mudanças.

Nada menos do que 80% das empresas entrevistadas estavam considerando ou fazendo a diversificação em pelo menos um segmento; 66% deles estavam considerando dois ou mais segmentos, enquanto outros 51% pensavam ou já atuavam em três ou mais segmentos.

Preparei o quadro acima baseado na pesquisa, para se ter uma melhor ideia desse movimento. Nele não estão retratadas todas a opções, mas as que considerei mais relevantes. Exclui as gráficas de empresas por não terem aqui a mesma relevância que lá, ou não termos estatísticas apropriados sobre isso.

Para melhor compreensão, vamos entender o que a pesquisa considera como gráfica comercial, para estarmos na mesma sintonia. É um amplo segmento que inclui a impressão de revistas, catálogos, material promocional, formulários, impressos transacionais e outros. Ou seja, inclui boa parte do promocional e editorial, além do que consideramos comercial por aqui.

O segmento que nos Estados Unidos se chama de graphics, se define como gráficas focadas em impressoras inkjet de grandes formatos, impressão digital e até silk screen. São as de comunicação visual, sinalização, envelopamentos e outras aplicações. Abrange também o mercado de OOH (out of home).

Impressão industrial de vestuário, inclui a produção de material têxtil, roupas, tecidos para decoração, calçados e outros.

Impressão industrial é a impressão utilizada dentro do processo de produção de diferentes indústrias como móveis, tecidos, eletrônicos, cerâmicas e outros. Interessante ver isso aqui, até porque no Brasil algumas das empresas desses mercados começam a terceirizar sua produção buscando impressores para atendê-los. É um dos mercados com maior potencial de crescimento.

No quadro, na coluna da esquerda, estão as gráficas no seu segmento primário de atuação e, nas linhas, a indicação dos outros segmentos onde essas gráficas estão se estabelecendo ou pesquisando para se estabelecer. A soma das bolinhas é mais que 100% pelo que já dissemos, porque há empresas se estabelecendo ou querendo se estabelecer em mais de um segmento.

Como se vê, os mercados de embalagem rótulos, cartuchos, flexíveis e ondulado são os mais procurados, o que parece lógico, vindo de gráficas que não são desse segmento. O interessante é ver também as gráficas de embalagem buscando oportunidade em outros segmentos da mesma área, assim como em mercados como os de graphics, os de vestuário e o industrial. Há uma intensa movimentação e a constatação de que 80% das empresas entrevistadas estão fazendo esse movimento.

A conclusão da pesquisa faz uma apologia ao conceito de convergência ao afirmar que “a convergência continuará a ocorrer nos segmentos de impressão até que haja uma indistinção das linhas entre os diferentes tipos de fornecedores gráficos”. Foi esse conceito, aliás, que fez a Printing United Alliance crescer, ao mostrar que o mercado convergia para uma coisa única, genérica.

A argumentação da pesquisa é a de que, atualmente, o comprador de serviços gráficos pode achar mais conveniente ter fornecedores que atendam suas várias necessidades. Que a contração na indústria gráfica e a busca pelo crescimento dos negócios da gráfica vai continuar a direcionar essa expansão em segmentos adicionais e, por consequência, a convergência. E que a tecnologia continua a evoluir e, mais do que nunca, tornar mais fácil para os impressores criar novos negócios.

Embora concorde do ponto de vista macro, tenho algumas dúvidas sobre essa conclusão. Entender a busca da diversificação pelas empresas, como a pesquisa mostra, me parece interessante do ponto de vista estratégico e, por isso, me pareceu importante trazer isso à tona. Pode servir de parâmetro e indicar caminhos. Mas, por outro lado, a especialização é a que traz o melhor desempenho, o melhor custo/benefício a melhor produtividade.

Já conheci gráficas pelo mundo com amplas plantas de produção atendendo a diferentes segmentos de mercado, mas vi que as melhores plantas eram aquelas especializadas no seu cliente/mercado alvo. Não tenho dúvidas que a flexibilização de atendimento e de produção é um dos caminhos de sucesso. Mas também não tenho dúvidas que tanto uma coisa como outra devem servir para atender seu cliente/ mercado-alvo bem definidos.

Nesse aspecto, fica a questão: quem é afinal seu cliente? Qual deve ser sua diversificação e sua especialização quando atendemos a esse cliente/mercado?

A identificação do cliente ou de quais dores do cliente atendemos, pode definir e mesmo desenvolver todo um mercado.

Em um artigo no ano passado nesta revista, citei, entre outras, duas empresas que desenvolveram mercados identificando cliente e/ou suas dores. Uma delas foi a Criativando (www.criativando.com.br), que descobriu e focou no seu cliente-alvo arquitetos e decoradores , formou uma plataforma de atendimento e uma franquia incrível de papéis de parede. E hoje avança com a Criativando Home Design, que se propõe a criar soluções luxuosas e personalizadas em decoração incluindo móveis, quadros, tapetes e complementos.

A outra é a Meta Brasil (www.metabrasil.com. br), que em sua linha editorial apostou na solução das grandes dores das editoras: estoque e distribuição através do seu site UmLivro (https://loja.umlivro.com.br), que atende a consumidores, livrarias, os marketplaces de livros, como Amazon e Magalu, e, claro, as editoras.

Enfim, a diversificação é uma alternativa adequada e importante, especialmente em momento de rápida transformação como a que estamos passando. As gráficas estão buscando alternativas e esse movimento leva ao que se chama de convergência de mercado no sentido de um amplo atendimento da indústria de impressão ao mercado.

Dentro disso, a identificação de clientes/mercados-alvo e o desenvolvimento de soluções e especializações é também um caminho seguro para avançar. Afinal, o cliente é seu mercado, como costumamos dizer.

E então? Por onde vão você e sua empresa? Já definiu, ou está buscando alternativas?

Hamilton Terni Costa hterni@anconsulting.com.br

www.anconsulting.com.br www.ciglat.com

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