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É difícil esperar um mercado saudável num país que perdeu

4,6 milhões de leitores

Aentrevistada desta edição é diretora geral na VR Editora. Ela assumiu no início do ano a presidência da Câmara Brasileira do Livro, CBL, com uma pauta voltada à disseminação de uma cultura de paz e de respeito ao contraditório e da adoção de uma nova visão de trabalho que contemple as dificuldades de todos os agentes envolvidos no mercado livreiro. Atendendo à Revista Abigraf, Sevani Matos fala dos resultados recentes do setor e das iniciativas que estão sendo adotadas pela CBL.

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No dia 18 de maio a CBL e o Snel divulgaram o resultado da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro referente a 2022 [ver notícia na página 6]. Algum número a surpreendeu?

As pesquisas Produção e Vendas e Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro oferecem uma visão da indústria durante o período analisado e permitem acompanhar as mudanças ocorridas no setor. A série histórica dessas pesquisas revela a queda do mercado editorial nos últimos 17 anos, refletindo também a diminuição da base de leitores no Brasil, conforme indicado pela pesquisa Retratos da Leitura, lançada em 2020. É extremamente difícil esperar um mercado saudável e próspero em um país que perdeu cerca de 4,6 milhões de leitores. Podemos observar que esse resultado é fruto da falta de políticas públicas e de ações para a promoção da formação de leitores no País. Iniciativas de incentivo à leitura são essenciais tanto para fortalecer o mercado quanto para o crescimento do nosso país.

O peso dos canais digitais já vinha se delineando, mas era de se esperar que eles ultrapassassem as livrarias físicas no balanço final?

Nós temos acompanhado o crescimento dos canais digitais ano após ano e reconhecemos sua importância para o mercado, especialmente considerando que o número de livrarias físicas é inferior ao desejado para um país com a dimensão e diversidade cultural do Brasil. Como resultado, muitos leitores acabam recorrendo aos canais digitais devido a essa dificuldade. No entanto, é sempre relevante ressaltar a importância das livrarias físicas. Trata-se de espaços de convivência, descoberta, exploração e aprendizado, que incentivam o hábito da leitura e fortalecem o acesso à cultura.

As feiras de livros oferecem oportunidades para despertar o interesse e incentivar a leitura, de modo que após esses eventos os leitores se sintam motivados a procurar mais livros e visitar livrarias. São momentos importantes para promover o hábito de leitura, expandir os horizontes literários e estimular o contato direto entre leitores e escritores.

O MERCADO SÓ TEM A GANHAR COM A PARCERIA COM INFLUENCIADORES DIGITAIS QUE DIVULGAM LIVROS E ESTIMULAM A LEITURA. EM MUITOS CASOS, AS RECOMENDAÇÕES DELES

FAZEM COM QUE OBRAS EDITADAS HÁ MAIS TEMPO SEJAM RESGATADAS E VOLTEM ÀS LISTAS DOS MAIS VENDIDOS.

No lançamento da 65ª edição do Prêmio Jabuti a CBL manifestou a intenção em se aproximar dos booktokers. Qual a influência do TikTok e do Instagram na formação de novos leitores? Acreditamos fortemente que o mercado só tem a ganhar com a parceria com esses influenciadores digitais que divulgam livros e estimulam a leitura. Eles têm condições de apresentar livros, autores, editoras e livrarias para um público jovem e em uma linguagem muito apropriada para eles. Em muitos casos, as recomendações desses influenciadores fazem com que obras editadas há mais tempo sejam resgatadas e voltem às listas dos mais vendidos. Portanto, vemos que essa influência é muito benéfica para a expansão da leitura em geral.

A Bienal de 2022 foi excelente e a pesquisa mostrou isso. Mas quando o evento aconteceu havia todo um clima de euforia com o fim da pandemia. Podemos acreditar que as feiras continuarão a figurar entre os cinco primeiros canais no faturamento das editoras?

Sem dúvida, é uma tendência promissora. Estamos acompanhando não apenas a Bienal do Livro de São Paulo, mas também todas as outras feiras de livros, e estamos testemunhando o sucesso tanto em termos de público como de vendas. Esse resultado é o reconhecimento do esforço em apresentar a produção literária nesses ambientes e aproximar o público das obras e dos autores.

Uma novidade do Jabuti deste ano é a viagem à Feira do Livro de Frankfurt como parte do prêmio ao autor do Livro do Ano. Há alguma outra novidade sob o guarda-chuva do projeto Brazilian Publishers visando a internacionalização da literatura brasileira?

A ideia é não apenas premiar o vencedor do Livro do Ano com um prêmio em dinheiro, mas também proporcionar a oportunidade de participar da maior feira internacional de negócios do livro, a Feira do Livro de Frankfurt. O objetivo dessa iniciativa é inserir o autor no contexto dos negócios internacionais e divulgá-lo para o mundo. Essas ações demonstram o compromisso da CBL em promover a literatura brasileira além das fronteiras do País, ampliando o alcance e a visibilidade dos autores nacionais no mercado internacional.

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