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EDITORIAL

DESTAQUES

O FIM DE UMA ERA FRANCISCO UCHA

MAS MINHA AMIZADE com Maurício Azêdo não começou há tão pouco tempo. Foi em 1976 que o conheci. Ele havia chegado ao Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, juntamente com uma equipe de craques da imprensa, com a missão de renovar o diário que se encontrava decadente. Junto com ele, chegaram Aziz Ahmed, Antônio Calegari, Carlos Jurandir, entre outros. E eu, que tinha sido contratado havia poucos meses, depois de um período de estágio, fui contemplado com a maior das sortes: trabalhar (e aprender) com esses grandes nomes da imprensa. Eu era um dos diagramadores. Com Calegari, aprendi o refinamento e a precisão dessa profissão. Com Maurício, aprendi a editar e a ficar encantado na presença de um bom texto. Foi um privilégio ter mestres como eles. E eu ainda nem havia terminado a faculdade. Não importava: quem tinha companheiros desse naipe não precisava de tantos professores. Aprendia, sobretudo, na Redação. 2

JORNAL DA ABI 394 • OUTUBRO DE 2013

MUITO TEMPO DEPOIS soube que no ano em que nos conhecemos, Maurício Azêdo havia sido preso no Doi-Codi e barbaramente torturado pelos monstros que hoje se escondem atrás de uma questionável Lei da Anistia. Afinal, torturadores podem ser anistiados? Há coisas que só acontecem no Brasil! Mas, como ele mesmo dizia, fora salvo pelo então Presidente da ABI, Prudente de Moraes, neto, que não mediu esforços para livrá-lo das garras de seus algozes. Certa vez ouvi Maurício confidenciar que devia sua vida à ABI – fato que ajuda a entender sua opção por se dedicar por inteiro à Casa dos Jornalistas. Mesmo com tantas decepções, continuou sua luta para renovar a instituição. Sempre foi avesso ao culto da personalidade. Não admitia se promover usando a publicação que editava. Por isso, tive que manter segredo total quando a equipe do Jornal da ABI decidiu publicar matéria sobre ele na edição especial comemorativa do centenário da ABI. Afinal, seria injusto falar de todos os principais Presidentes e não falar daquele que organizou a grandiosa festa dos 100 anos. Maurício só tomou conhecimento daquela reportagem, publicada no número 336, de setembro de 2009, depois de o jornal impresso. E a primeira coisa que fez ao ler o próprio perfil foi... fazer a revisão! PAULO SILVA/TRIBUNA DA IMPRENSA

COMO ESCREVER NESTE espaço, ocupado com maestria nos últimos anos pelo imenso talento de um dos textos mais elaborados da imprensa brasileira? Como descrever a solidão da perda de um companheiro de trabalho absolutamente apaixonado pelo ofício de reportar notícias? É verdade: fizemos uma boa dupla desde que comecei a produzir o Jornal da ABI, em abril de 2005, na edição de número 299. Foram mais de oito anos trabalhando incessantemente, muitas das vezes – nas semanas de fechamento – entrando pela madrugada. Era assim mesmo: Maurício não reclamava, simplesmente porque esta publicação era a sua paixão. É a minha também. Acho que, por isso, a química funcionou tão bem. Não havia discussão, o trabalho sempre fluía perfeitamente. Em todos esses anos, ele nunca fez qualquer tipo de imposição de suas idéias, desmentindo todos aqueles que o classificavam como turrão. Não, ele era doce, de fino trato. Sempre houve um respeito profissional mútuo. E isso refletiu na qualidade do jornal, elogiada por grandes nomes de nossa imprensa.

ESTE NÚMERO DO Jornal da ABI ainda teve a sua participação. Pautas como a da Biblioteca da ABI (publicada na página 10) e da campanha O Petróleo é Nosso (página 12) foram, como de costume, entusiasticamente sugeridas por ele. No Caderno Especial em sua homenagem republicamos o desenho de Rogério Soud na capa e um artigo de seu grande amigo, Sérgio Cabral, na última página. Foi um prazer trabalhar ao seu lado por todos esses anos – e profundamente triste fazer esta edição. Perdi um mestre, um amigo, um companheiro de ofício. A solidão, que se fez tão presente neste fechamento, é claro, não estava na pauta. E ela determina não só o início de um novo e doloroso esquema de produção. Marca, em definitivo, o fim de uma era.

D.QUIXOTE, UMA RARIDADE NA BIBLIOTECA DA ABI, PÁGINA 10

03 DEPOIMENTO - O calvário de Álvaro ○

08 P RÊMIO - A bandeira do bom jornalismo ○

09 HOMENAGEM - A Memória e o Silêncio por Rodolfo Konder ○

10 R ARIDADES - Um tesouro nem tão escondido assim ○

12 CAMPANHA - O petróleo como combustível nacional ○

17 O PINIÃO - Ley de Medios, um exemplo a seguir ○

18 H ISTÓRIA - A Carta da Liberdade, 25 anos depois ○

20 DEPOIMENTO - “Meus filhos foram criados por meus inimigos” ○

22 R EFORMA - Impasse lusitano ○

24 I NTERNET - Abril abre espaço para o digital ○

25 L ANÇAMENTO - Revirando o velho baú de Pessoa ○

26 C ENTENÁRIO - Os sabores de Moraes ○

28 P ERFIL - Mário? Que Mário? ○

29 MANIFESTAÇÕES - Black Blocs: simples modismo ou real ameaça? ○

SEÇÕES 140L IB ERDADE DE I M P REN SA Conferência aponta entraves ao jornalismo investigativo ○

15 Jornalistas agredidos, coberturas ameaçadas ○

16 D IREITOS H UMANOS Páginas de um luta comovente, que novamente fazem história ○

V IDAS 30 Canini, O desenhista do Brasil nos quadrinhos ○

31 Norma Bengell A estrela salta das telas para as páginas ○

CACTUS KID, SÁTIRA CRIADA POR CANINI. PÁGINA 30


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