2006__306_março

Page 21

Jornal da ABI VIDAS AGÊNCIA GLOBO

JOSÉ CARLOS REGO

fazia feroz oposição e lhe impôs neste caso uma derrota política de grande repercussão. José Carlos Rego era membro do Conselho Deliberativo da ABI e do Conselho Superior de Música Popular do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro e integrou em caráter permanente o júri do concurso Estandarte de Ouro do jornal O Globo desde a sua instituição, em 1972. Seu nome não foi citado entre os 13 jurados do Estandarte do Carnaval 2006 (O Globo, Caderno Especial Carnaval 2006, página 21, 1 de março de 2006) presumivelmente por ausência motivada pelo problema de saúde que o levou à internação. José Carlos deixou viúva, dois filhos e uma neta. (Maurício Azêdo)

“Ele sabia que estava chegando a sua hora”

Um amante da cultura popular Membro do Conselho Deliberativo da ABI, ele se destacou como estudioso da cultura popular do Rio e especialmente das escolas de samba

A

migos e companheiros do jornalista José Carlos Rego participaram em 5 de março da cerimônia de seu sepultamento no cemitério Jardim da Saudade, na Zona Oeste do Rio. Entre os presentes à cerimônia estavam os jornalistas Adail, Lênin Novaes, Maurício Azêdo, Presidente da ABI, Oriovaldo Rangel, Sílvio Paixão, exPresidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, e Zilmar Basílio, o compositor Dalmo Castelo e a escritora e pesquisadora de música popular Marília Trindade Barbosa. José Carlos faleceu na véspera de acidente vascular cerebral que o acometeu na Quarta-Feira de Cinzas, o qual provocou logo a sua morte cerebral. Fluminense de Miracema, 70 anos, José Carlos Rego começou sua carreira em 1957 no diário Imprensa Popular, órgão do Partido Comunista Brasileiro-PCB, e nesse mesmo ano se transferiu para a Última Hora, onde se destacou como repórter de Geral e de cober-

22

tura da cidade e da vida cultural do Rio, especialmente da música popular e das escolas de samba. Em 1994, lançou o livro A dança do samba, em que discorre sobre as formas coreográficas desse gênero musical com fina capacidade de descrição e análise. A obra é considerada um clássico do tema. Torcedor do Vasco da Gama, José Carlos era também apaixonado pela escola de samba Império Serrano, sobre a qual fez pesquisas de caráter antropológico que não chegou a expor em livro, como a de que a agremiação se formou e cresceu em torno das relações de casamento e parentesco sangüíneo e afim entre as famílias Santos e Oliveira, envolvendo mais de 250 integrantes de ambas. Seu amor à Império Serrano não impediu que, sobretudo a partir dos anos 60, divulgasse as demais escolas de samba, contribuindo para que estas se projetassem e alcançassem o fastígio que agora exibem. Um dos seus parceiros nessa obra foi o jornalista Waldinar Ranulfo, também repórter de Última Hora e já

falecido, que se celebrizou na cobertura das escolas de samba com o pseudônimo Meu Sinhô. Como repórter, um dos trabalhos mais rumorosos de José Carlos Rego foi a reportagem que fez no começo dos anos 60 com o jovem delinqüente Manguito, matador do também jovem Odylo Costa Neto, filho do escritor Odylo Costa Filho, jornalista responsável pelo começo da famosa reforma do Jornal do Brasil nos anos 50 e membro da Academia Brasileira de Letras. O então Governador Carlos Lacerda lançou toda a Polícia no encalço do matador do rapaz, transformando sua prisão numa questão de honra. José Carlos localizou Manguito e o levou para a Redação da Última Hora, que deu manchete com o assunto, estampou gigantesca foto do matador e declarou que ele estava à disposição do Governador, ao qual seria entregue com a condição de que não sofresse violências e fosse colocado sob a proteção da Justiça. O episódio deixou Lacerda furioso: Última Hora lhe

Numeroso grupo de associados da ABI assistiu em 10 de março à missa de sétimo dia em intenção da alma de José Carlos, oficiada na Igreja de Santa Luzia, onde a ABI realiza tradicionalmente seus atos religiosos. Entre os presentes encontravam-se os jornalistas Antônio Carlos de Carvalho; Antônio Nery; Araquém Moura Roulien; Jesus Soares Antunes, Presidente do Conselho Fiscal da ABI; João Duque Estrada Meyer; José Rezende; Maurício Azêdo, Presidente da ABI; Maurílio Cândido Ferreira; e Zilmar Borges Basílio. Após a missa, a jornalista Zilmar Borges Basílio distribuiu cópias do texto do perfil de José Carlos Rego feito por seu filho, Rodrigo Ernesto de Andrade Rego, que o lera durante a vigília que precedeu ao seu sepultamento. O texto elaborado por seu filho Rodrigo Ernesto, intitulado originalmente Missão Cumprida, tem o seguinte teor: “No dia 3 de junho de 1935 nascia na cidade de Miracema um homem de muita ambição. Com muita coragem, inteligência e força de vontade, veio para a cidade grande, onde buscou, trilhou e conseguiu o seu espaço. Posicionou-se como jornalista e passo a passo conseguiu ser reconhecido no seu ambiente de trabalho. Desde então, neste jornalista passou a rolar uma paixão que o acompanhou em toda a sua vida: o samba. Passou a se dedicar a conhecer a música e estudála profundamente. Durante estes anos, fez muitas amizades e conquistou a admiração e o reconhecimento dentro do mundo do samba. Compôs, criou, participou de um grupo de compositores e por final eternizou na for-

Março de 2006


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.