Análise às dificuldades económicas | 2018

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Análise às

Dificuldades Económicas dos Estudantes da UMa 2018 Parte do programa

da Académica da Madeira



1. Introdução Sendo a Académica da Madeira a instituição representativa dos estudantes da Universidade da Madeira (UMa), a defesa dos seus interesses e necessidades é um dos objectivos da sua missão estatutária. A sua prossecução pauta-se, em parte, pelas iniciativas executadas ao abrigo do Universitas, o programa que congrega a oferta de acções de acolhimento, de acompanhamento e de inserção na vida activa dos futuros, actuais e antigos estudantes universitários, além de promover acções de integração dos novos estudantes do Ensino Superior, pela via da ciência e da cultura. Dentro do programa, assume especial relevo o papel da Secção de Apoio ao Estudante que, através do acompanhamento das políticas locais, regionais, nacionais e internacionais nos campos da educação, da juventude e do Ensino Superior, pretende garantir que os estudantes que representa têm asseguradas as melhores condições possíveis para o seu ingresso, permanência e conclusão do Ensino Superior. A monitorização da política de acção social é fulcral pois tem por objectivo garantir que as medidas em vigor vão ao encontro das necessidades dos estudantes e, acima de tudo, que não existam jovens a abandonar o seu processo de formação académica por obstáculos de cariz financeiro, não obstante a existência de outras razões, para o abandono e a desistência, que não têm qualquer relação com motivos económicos. Como tal, pese a importância da discussão concreta sobre as medidas, é igualmente importante a existência de trabalhos que forneçam dados estatísticos relevantes e que possam dar um maior enquadramento da situação económico-financeira dos estudantes do Ensino Superior em Portugal e na Região Autónoma da Madeira. Foi com esse objectivo que, em 2012, a Académica da Madeira implementou, pela primeira vez, um estudo que permitisse aferir e analisar as dificuldades financeiras experimentadas pelos alunos da UMa, através de um inquérito por questionário que, desde então, tem sido implementado com uma periodicidade anual. Os resultados obtidos em cada edição têm servido para melhor identificar as necessidades dos estudantes, que são a bússola que orienta a política de apoio social da Académica da Madeira. No seguimento dessa linha, tem sido dada continuidade aos programas de apoio social existentes, como a Bolsa de Alimentação, que tem financiado refeições diárias a dezenas de estudantes em cada semestre, e da Bolsa Escolar, que todos os semestres distribui centenas de artigos de material escolar aos seus beneficiários. A melhoria das condições de estudo que a Universidade da Ma-


deira oferece aos seus alunos tem sido, também, foco do esforço da Académica da Madeira, que tem contribuído com a oferta de bibliografia necessária para os vários cursos da UMa, através do LER, e na requalificação de infra-estruturas universitárias, através do programa de valorização do património da Universidade, o Mudámos a UMa ー Valorizar o Património. A implementação, em Setembro de 2017, de um novo sistema para a execução de cópias, de impressões e de digitalizações em regime de auto-serviço foi, também, um passo importante para um incremento de melhores condições para os estudantes, pois veio dar resposta a alguns problemas identificados no anterior sistema, como permitir a utilização dos equipamentos sem qualquer restrição ao nível de horários de funcionamento ou usufruir de um serviço de qualidade a preços manifestamente mais baixos do que os praticados anteriormente e externamente. Foi igualmente importante a extinção do sistema de documentos, através do qual os docentes entregavam todos os documentos necessários para as suas Unidades Curriculares, o que implicava que os alunos fossem obrigados a fotocopiar os mesmos para poderem ter acesso ao conteúdo. Este passo foi dado com o apoio da Reitoria, através da criação de um local virtual onde fossem alocados todos os documentos, previamente recebidos e digitalizados por colaboradores da Académica da Madeira, ordenados por curso, ciclo e ano. Esta melhoria permite, aos alunos, ter a opção de escolher se pretendem ou não imprimir os documentos que necessitam, o que significa uma poupança considerável. A intervenção regional e nacional tem, também, incidido sobre a problemática relacionada com os custos dos transportes públicos, com a contínua luta pela implementação, nas Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores, do passe sub23 a assumir claro destaque pois, como veremos adiante, o transporte é, à semelhança do ano anterior, a rubrica em que os estudantes têm maiores custos. A edição de 2018 do inquérito, cujos dados foram recolhidos na primeira quinzena do mês de Março, contou com quatorze perguntas, das quais oito inéditas, introduzidas com o objectivo de compreender melhor o impacto que outras rubricas, directamente relacionadas com a frequência de um curso universitário, têm no orçamento familiar do agregado dos estudantes da UMa. Neste inquérito, à semelhança dos anos anteriores, foi considerada uma amostra com base no número total de estudantes inscritos na UMa, a 31 de Dezembro de 2017. Foram considerados 308 inquéritos válidos, sendo a percentagem de alunos bolseiros (63%) superior à de não bolseiros (37%), uma distribuição que, pese o facto de ser mais assimétrica que em edições anteriores do inquérito, é representa-


tiva da realidade social da Academia madeirense, em que a percentagem de alunos beneficiários da acção social, através de uma bolsa de estudo, tem vindo a crescer (segundo os dados mais recentes, 43%1 dos alunos elegíveis2) um indicativo preocupante sobre a situação económico-financeira dos jovens desta universidade. Tendo em consideração o número total de alunos3 inscritos no presente ano lectivo (2791), a amostra recolhida permite resultados com um intervalo de confiança de 95%, com uma margem de erro associada de 5,27%.

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Segundo dados dos Serviços de Acção Social da Universidade da Madeira, de 27 de Abril de 2018. Segundo dados da Universidade da Madeira, de 8 de Fevereiro de 2018. 3 Segundo dados da Universidade da Madeira, de 31 de Dezembro de 2017. 2


2. Análise dos resultados Passamos à análise de todas as perguntas que compõem o inquérito realizado pela Académica da Madeira. O trabalho de campo, incluindo a definição do universo e o preenchimento dos inquéritos, decorreu entre os dias 28 de Fevereiro e 9 de Março de 2018, no Campus Universitário da Penteada. O universo alvo é composto pelos estudantes da Universidade da Madeira, sem qualquer critério de exclusão. A análise dos resultados decorreu entre os dias 1 e 29 Abril de 2018.


1) Caso sejas bolseiro, consideras o valor da tua bolsa suficiente?

Imagem n.º 1: Satisfação dos alunos bolseiros em relação ao valor da bolsa de estudo.

A primeira pergunta, destinada apenas aos alunos que são, no presente ano lectivo, beneficiários de uma Bolsa de Estudo, pretende aferir se o valor da mesma é suficiente para fazer face às despesas derivadas da frequência no Ensino Superior. Verificámos que, em oposição aos resultados obtidos na edição anterior do inquérito, mais de metade (52%) dos alunos bolseiros demonstrou descontentamento com o valor da bolsa, o que representa um aumento de cerca de 5%. Esta variação poderá ser explicada pela redução do valor médio da bolsa anual na Universidade da Madeira, em comparação com o ano transacto. Os dados mais recentes, de 16 de Março de 2018, apresentam um valor anual de 1993.73 € (inferior aos 2038.75 € registados a 17 de Março de 2017) sem complementos e de 2046.13 € (inferior aos 2089.35 € registados a 17 de Março de 2017) com complementos4. Tendo em conta que o valor dos custos directos e indirectos não sofreu alterações substanciais, a existência de uma redução do valor anual da bolsa poderá contribuir para este aumento do descontentamento entre os beneficiários.

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Segundo dados dos Serviços de Acção Social da Universidade da Madeira, de 27 de Abril de 2018.


2) És trabalhador-estudante?

Imagem n.º 2: Percentagem de trabalhadores-estudantes na amostra.

A segunda pergunta pretende aferir qual a dimensão da amostra que acumula a formação académica com a vida profissional. De acordo com o gráfico acima, verifica-se que 9 em cada 10 alunos encontra-se, exclusivamente, a frequentar o Ensino Superior, números que poderão ser explicados pela reduzida oferta formativa em horário pós-laboral. Outro factor que poderá justificar esta reduzida representação é a obrigatoriedade de presença imposta em várias Unidades Curriculares, sem existência de qualquer salvaguarda para elementos com estatuto de trabalhador-estudante, o que poderá fomentar o abandono.


3) Em que concelho habitas durante o período lectivo?

Concelho

Funchal

Santa Cruz

Câmara de Lobos

Ribeira Brava

Machico

Ponta do Sol

Calheta

Santana

%

47 %

17 %

16 %

8%

7%

2%

2%

1%

Imagem n.º 3: Distribuição geográfica da residência dos alunos inquiridos.

A imagem acima é representativa das dificuldades a nível de mobilidade, bem como dos custos inerentes, associados à frequência do Ensino Superior. Verifica-se que, dos alunos inquiridos, pelo menos 92% residem nos concelhos a sul da ilha, valor que poderá ascender aos 99% pois Machico abrange simultaneamente a costa sul e a costa norte.

Imagem n.º 4: Distribuição geográfica dos alunos inquiridos, dividida entre bolseiros e não bolseiros.

Em relação à distinção entre bolseiros e não-bolseiros: através do gráfico acima, verificámos que, enquanto existe um equilíbrio entre os alunos não bolseiros resi-


dentes dentro e fora do Funchal, a maioria dos alunos beneficiários de Acção Social reside fora do concelho do Funchal. Este dado é importante pois indica que os alunos que têm menos rendimentos são os que têm de efectuar deslocações maiores para frequentarem as suas aulas na Universidade da Madeira, o que poderá representar maiores gastos com o transporte, independentemente do meio escolhido, ou, alternadamente, com o alojamento, caso optem por se deslocar da sua residência habitual.


4) Durante o período lectivo habitas num local diferente da tua residência oficial?

Imagem n.º 5: Percentagem de alunos deslocados da sua residência oficial.

No seguimento da pergunta anterior, é pertinente aferir a quantidade de alunos que, com vista à frequência de um curso de Ensino Superior na Universidade na Madeira, opta por residir, durante o período lectivo, numa residência diferente da habitual. Verificámos que apenas uma minoria opta por esta solução, com 92% dos inquiridos a indicar que está na sua residência habitual durante o período lectivo, o que demonstra que a Universidade da Madeira tem grande dependência do ingresso dos jovens oriundos da sua própria Região, factor fundamental e que, em parte, pode ser tido como facilitador da integração na vida universitária e, consequentemente, redução da possibilidade de abandono por motivos de adaptação a uma nova realidade.


5) Caso residas fora da tua morada habitual, qual é o tipo de alojamento?

Imagem n.º 6: Tipos de residência escolhidos pelos alunos deslocados.

Tendo apenas em conta as respostas afirmativas à pergunta anterior, considerámos relevante averiguar quais são as opções preferenciais para os estudantes que optam por sair da sua residência habitual. Verificámos que o factor económico é o principal na escolha, com quase metade dos alunos deslocados optando por residir em casa de familiares ou amigos, o que poderá ser explicado pela ausência do pagamento mensal de renda, em oposição com as restantes opções. A segunda opção mais escolhida pelos inquiridos é “quarto/casa/apartamento alugado”, o que demonstra que a localização é, também, um critério na escolha dos estudantes. Por último, realce para a preferência de apenas ⅕ destes inquiridos para a Residência Universitária. A vida quotidiana numa Residência Universitária pode assumir atributos tanto facilitadores como impeditivos de um percurso de sucesso escolar. De realçar que a opção da Residência Universitária, de aumentar a quota de camas reservadas para os alunos internacionais, poderá contribuir para, a longo prazo, prejudicar a disponibilidade de alojamento para os alunos oriundos do arquipélago.


6) Que meio de transporte usas, maioritariamente, para te deslocares para a Universidade?

Imagem n.º 7: Meios de transporte preferencialmente utilizados pelos alunos inquiridos

As respostas fornecidas são muito semelhantes às registadas no ano anterior, com a viatura particular a ser o principal meio de transporte escolhido, repetindo os 63% registados em 2017. Já a percentagem de inquiridos que utiliza, preferencialmente, o transporte público, registou uma leve subida, de 31% em 2017 para 34% em 2018.

Imagem n.º 8: Utilização de transportes públicos, dividida entre alunos bolseiros e não bolseiros.

É, também, pertinente conhecer, dos alunos que indicaram utilizar, preferencialmente, o transporte público, qual é a distribuição entre os alunos bolseiros e os não bolseiros. O gráfico acima representa essa distribuição e, de acordo com o mesmo, vemos que 7 em 10 dos inquiridos que usa o transporte público são bolseiros.


De acordo com dados do Ministério de Educação e Ciência, a percentagem de alunos com idade igual ou inferior a 23 anos no 1.º Ciclo ronda os 70% (74% no Ensino Superior Público e 66% no Ensino Superior Privado)5. Estes dois dados, aliados aos recolhidos na pergunta 3, na qual se verificou que a maioria dos alunos bolseiros reside fora do Funchal, demonstram a importância da entrada em vigor do passe sub-23 na Região Autónoma e, simultâneamente, comprova a desigualdade existente no tratamento dos estudantes universitários das Regiões Autónomas, consequentes dos sucessivos atrasos na implementação do passe sub-23 na Madeira, apenas sanados em Maio de 2018.

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De acordo com dados de Infocursos.mec.pt.


7) Caso utilizes transporte público, qual é a modalidade?

Imagem n.º 9: Modalidades de transporte público preferencialmente utilizadas.

De forma semelhante ao ano anterior, constatámos que cerca de 90% dos alunos que indicaram utilizar transporte público opta pela modalidade de passe mensal. O passe urbano recolhe a preferência da maioria dos inquiridos, resultado expectável face à maior incidência de alunos a residir no concelho do Funchal, apresentada na pergunta 3.

Imagem n.º 10: Utilização de passe urbano e passe combinado, dividida por alunos bolseiros e não bolseiros.

O gráfico acima comprova os dados apresentados anteriormente, ou seja, que a utilização do passe urbano é maior nos alunos não bolseiros, verificando-se o oposto no passe combinado, em que existe uma maior percentagem de alunos bolseiros a utilizar, consequência da distribuição geográfica destes.


8) Durante este ano lectivo sentiste dificuldades económicas?

Imagem n.º 11: Inquiridos que sentiram dificuldades económicas no corrente ano lectivo.

As respostas fornecidas pelos inquiridos indicam uma redução da percentagem de alunos que afirma ter sentido dificuldades económicas durante o presente ano lectivo (de 54% em 2017 para 48% em 2018). O decréscimo foi geral, ou seja, o número de respostas afirmativas decresceu tanto nos alunos bolseiros (58% para 51%) como nos alunos não bolseiros (49% para 43%). Esta variação, sendo positiva, poderá ser explicada, em parte, pelo facto do número de inquiridos que são beneficiários de Acção Social directa ter um peso largamente superior nesta edição (constituem 63% dos inquiridos) em comparação com anos anteriores (53% em 2017, 52% em 2016 e 55% em 20156). A maior presença de alunos bolseiros na amostra poderá contaminar a situação real, pois vários factores faziam prever um aumento do número de alunos que sentiram dificuldades económicas: 1) O facto de terem sido atribuídas menos bolsas de estudo aos estudantes da Universidade da Madeira (1139 a 17 de Março de 2017 e 1067 a 16 de Março de 20187); 2) A contínua subida da percentagem de alunos que submete candidaturas a bolsa de estudo na Universidade da Madeira (50.3% dos alunos matriculados submeteram candidatura em 2016-2017, valor que subiu para os 51.6% em 2017-20188) 6

Edições anteriores do Inquérito sobre as Dificuldades Económicas dos Estudantes da UMa. Dados dos Serviços de Acção Social da UMa. 8 Dados dos Serviços de Acção Social da UMa e da Universidade da Madeira. 7


3) A redução verificada no valor médio da bolsa anual, apresentada na pergunta 1, que regista uma variação negativa de 45.02 € (sem complementos) e de 43.22 € (com complementos). Os dados nacionais demonstram uma tendência similar, com o número de candidaturas recebidas no presente ano lectivo (96.8369) a verificar novo aumento, de 2.4%, face aos números registados em 2016-2017 (94.53110) pela DGES. A implementação do processo de renovação automática da Bolsa de Estudo contribui para a diminuição de dificuldades experienciadas devido à celeridade que confere ao processo, permitindo aos beneficiários receber a resposta à sua candidatura e, consequentemente, as primeiras prestações da bolsa de estudo mais antecipadamente. Outro factor que poderá ter influenciado esta resposta é o facto de, actualmente, existir grande variedade de apoios, muitos deles acumuláveis, o que relega as dificuldades económicas para um plano secundário na vida dos alunos, que passam a debater-se, maioritariamente, com obstáculos de cariz académico, profissional, pessoal e/ou familiar. No entanto, a ausência de estudos aprofundados sobre esta matéria impedem-nos de garantir como certa esta conclusão.

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De acordo com dados da DGES, de 17 de Abril de 2018. Notícia do Observador de 17 de Julho de 2017.

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9) Caso tenhas sentido dificuldades, temeste abandonar?

Imagem n.º 12: Inquiridos que ponderaram abandonar o Ensino Superior devido a dificuldades económicas.

À semelhança dos anos anteriores, foram questionados os inquiridos que admitiram sentir dificuldades económicas no decorrer do ano lectivo para averiguar se essa situação os fez ponderar abandonar a frequência do Ensino Superior. Verifica-se que, pese o facto de serem beneficiários de Acção Escolar directa, são mais numerosos os alunos bolseiros que admitem terem colocado a hipótese de desistir por motivos de cariz financeiro.

Imagem n.º 13: Evolução da percentagem de inquiridos que ponderou abandonar o Ensino Superior devido a dificuldades económicas entre 2015 e 2018.

Analisando a evolução das respostas afirmativas a esta pergunta nos últimos anos, verifica-se que 2018 é o primeiro ano, desde 2015, em que a percentagem de alunos bolseiros, com esse receio, é superior à dos alunos não bolseiros. O gráfico


demonstra, também, que a percentagem dos alunos não bolseiros tem vindo a diminuir de forma constante, com a descida de 6% verificada em 2017 a ser seguida de nova descida, desta vez de 8%. Este decréscimo positivo poderá ser explicado pelo aumento do limiar de elegibilidade que entrou em vigor em Junho de 2015, que permitiu atribuir bolsa de estudo, nos anos seguintes, a alunos que anteriormente não tinham direito, mas cujos rendimentos do agregado familiar não eram suficientes para evitar dificuldades económicas.

Imagem n.º 14: Comparação entre as evoluções do valor médio da bolsa anual e da percentagem de alunos bolseiros que ponderou desistir por dificuldades económicas.

O gráfico acima compara a evolução da percentagem de alunos bolseiros que admite ter considerado a hipótese de desistir do Ensino Superior por motivos de cariz financeiro com a evolução do valor da bolsa anual (sem complementos) na Universidade da Madeira. Verifica-se que estas variáveis estão interligadas: as variações positivas do valor médio da bolsa anual, registadas entre 2013 e 2015, está associada a uma diminuição da percentagem de alunos bolseiros que ponderou desistir do Ensino Superior. De forma análoga, as variações negativas registadas desde 2015 traduziram-se num aumento da percentagem de alunos bolseiros que pondera desistir. Analisando apenas o gráfico, o ano de 2017 parece ser uma excepção à regra. No entanto, é importante ter em conta que no ano lectivo 2016-2017 fez-se sentir o impacto do aumento do limiar de elegibilidade implementado em Junho de 2015, com


o n.º de alunos a beneficiar de Acção Social directa a ultrapassar, pela primeira vez desde 2010, a barreira dos 70 mil beneficiários11. Isto significa que foram abrangidos alunos que, anteriormente, não usufruíram de Bolsa de Estudo, o que poderá explicar o facto da percentagem de bolseiros que ponderou abandonar o Ensino Superior por motivos de ordem financeira ter diminuído quando tudo apontava que fosse aumentar, ou seja, alunos que não desistiram anteriormente quando não eram contemplados com acção social e que neste ano, ao serem finalmente contemplados, não ponderaram desistir. Esta explicação é reforçada pelos dados de 2018 em que, com as alterações resultantes do aumento do limiar da elegibilidade já consolidadas, nova descida do valor médio da bolsa anual se reflectiu num aumento do número de bolseiros com receio de abandonar a sua formação académica. Estes dados demonstram, por um lado, que os agregados dos alunos bolseiros têm um certo grau de dependência da Acção Social directa e, por outro lado, o quão pertinente, além de justa, foi a implementação do passe sub-23 na Madeira pois, sendo certo que existem outros factores que influenciam estas respostas, a verdade é que uma redução de 45 € anuais ao valor da bolsa foi acompanhada de um aumento de 10% do número de alunos com sérias dificuldades.

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Segundo notícia do Público de 10 de Janeiro de 2017.


10) Quanto gastas, mensalmente, nas rúbricas de alojamento, de transporte, de alimentação e de material escolar?

Imagem n.º 15: Valor médio mensal gasto pelos inquiridos em alojamento.

As respostas a esta pergunta confirmam os dados retirados nas perguntas 4 e 5. O facto da maioria dos inquiridos residir na sua morada habitual e, dentro dos que se encontram deslocados, a hipótese preferencial ser casa de familiares/amigos, corrobora as respostas obtidas nesta pergunta, em que ¾ dos inquiridos, tanto bolseiros como não bolseiros, responderam “Não aplicável”, dando a entender que os gastos normalmente associados ao alojamento (rendas, luz, água, entre outros) são assumidos por terceiros.

Imagem n.º 16: Valor médio mensal gasto pelos inquiridos em alojamento.

A alimentação é a rúbrica em que existe maior equilíbrio nas respostas dos inquiridos. Constatámos que os alunos bolseiros, provavelmente por serem provenientes de agregados com menores condições financeiras, optam por gastar o mínimo pos-


sível nesta rúbrica, com quase metade (48%) a indicar que gasta menos de 50 € por mês com refeições. De destacar, também, a baixa percentagem (cerca de 12% do total de inquiridos) que assume gastar acima dos 100 € mensais em refeições.

Imagem n.º 17: Valor médio mensal gasto pelos inquiridos em material escolar.

De acordo com as respostas fornecidas pelos inquiridos, a rubrica de material escolar é a que menos encargos acarreta para os estudantes da Universidade da Madeira, com 7 em cada 10 inquiridos a assumir gastar menos de 50 € por mês com material escolar. A existência de cursos cujos requisitos, ao nível do material escolar, são diminutos, aliado ao facto de os maiores encargos com esta rubrica serem, por norma, realizados em dois períodos temporais específicos (início de cada semestre), poderão contribuir para as respostas recebidas.


Imagem n.º 18: Valor médio mensal gasto pelos inquiridos em transporte.

Analisando o gráfico acima, verifica-se que a percentagem de alunos que tem encargos com transporte inferiores a 50 € é reduzida, com apenas 29% dos alunos bolseiros neste intervalo. A percentagem é ligeiramente superior nos alunos não bolseiros (35%) mas sem alterar a tendência: a frequência do Ensino Superior acarreta custos com transporte superiores a 50 € mensais para a maioria dos alunos da Universidade da Madeira. Verifica-se, também, comparando os quatro gráficos desta pergunta, que o transporte é a rúbrica mais onerosa para os alunos da Universidade da Madeira, com 60% dos alunos bolseiros e 57% dos alunos não bolseiros a terem custos iguais ou superiores a 50€ mensais.


11) Onde é que almoças habitualmente?12

Imagem n.º 19: Locais preferenciais para usufruir o almoço por parte dos inquiridos.

De modo geral, as respostas recebidas nesta pergunta de escolha múltipla indicam que a maioria dos inquiridos opta por almoçar nas instalações da Universidade da Madeira. Analisando as respostas fornecidas pelos alunos bolseiros, verifica-se que as duas respostas menos escolhidas são as opções que implicam maiores encargos financeiros: deslocar-se a casa para almoçar (com os custos associados ao transporte) e almoçar em algum estabelecimento nos arredores da Universidade da Madeira (custo maior do que as opções disponibilizadas pelos Serviços de Acção Social da UMa). Já as respostas dos alunos não bolseiros pautam-se por um maior equilíbrio, com uma diferença de 15 pontos percentuais entre as opções com mais e menos respostas (em comparação com a margem de 29% entre as opções com mais e menos respostas dos alunos bolseiros). De realçar que a opção preferencial para a maioria é trazer o seu próprio almoço de casa: 35% do total dos inquiridos opta por utilizar os microondas, adquiridos pela Académica da Madeira ao abrigo dos seus programas de apoio social, disponíveis na Cantina Universitária para as suas refeições.

12

Esta pergunta permitia, aos alunos, a escolha de mais do que uma resposta.


12) Qual é o motivo para a tua escolha?13

Imagem n.º 20: Critérios para a escolha do local de almoço por parte dos inquiridos.

A última pergunta do inquérito, também de escolha múltipla, pretendeu saber o(s) factor(es) que pesam na decisão de escolher o local para almoçar. Naturalmente, o critério preferencial para os alunos beneficiários de acção social é o preço, comprovado pelas respostas fornecidas na pergunta anterior, em que as três opções mais indicadas são, por esta ordem, trazer o almoço de casa, almoçar no bar e almoçar na cantina. Já no caso dos alunos não bolseiros, apesar do preço também pesar na decisão (indicado por 43% dos alunos não bolseiros), a conveniência é o critério preferencial para a escolha do local para almoçar. Destaca-se também o facto de a qualidade da refeição ser um critério importante para apenas ⅕ dos inquiridos.

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Esta pergunta permitia, aos alunos, a escolha de mais do que uma resposta.


3. Empregabilidade dos diplomados do Ensino Superior Nos dias de hoje, muitas pessoas levantam dúvidas sobre a real valia do investimento de ingressar e concluir um curso de Ensino Superior, em relação aos benefícios futuros que daí advêm no mercado de trabalho. Vários estudos já foram feitos sobre as diferenças nos rendimentos de pessoas com e sem um curso de Ensino Superior. Antes destes estudos, no entanto, é fulcral saber se os diplomados estão a ser integrados no mercado de trabalho à medida que concluem a sua formação académica.

Imagem n.º 21: Evolução da taxa de empregabilidade dos diplomados do Ensino Superior que não se encontram nem em Educação nem em Formação.

O gráfico acima apresenta a evolução da percentagem de diplomados do Ensino Superior que não se encontram em formação nem em educação após a conclusão da sua formação académica. Analisando a evolução dos números, verificámos que, pela primeira vez desde 2010, os valores registados em Portugal são superiores à média da União Europeia14, com 3 em cada 4 portugueses titulares de qualquer tipo de Ensino Superior a encontrar-se empregado. Importa, também, assinalar que a variação positiva registada em 2017 (6.4%) foi mais do dobro da variação registada em 2016 (2.3%), o que indica uma tendência positiva para a integração de pessoal qualificado no mercado de trabalho.

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Segundo dados do Eurostat de 20 de Abril de 2018.


No entanto, antes de tirar conclusões, importa também analisar os dados opostos, ou seja, verificar se a evolução da taxa de desemprego dos diplomados do Ensino Superior acompanhou os sinais positivos registados ao nível do emprego.

Imagem n.º 21: Evolução da taxa de desemprego de titulares de qualquer tipo de Ensino Superior.

O gráfico acima demonstra que, pese a taxa dos desempregados em Portugal titulares de qualquer tipo de Ensino Superior ser maior do que a média da União Europeia (4.5%), os valores têm vindo a aproximar-se15. De facto, a diferença entre as médias (nacional e europeia) registada em 2017 (2%) é a mais baixa dos últimos 5 anos, sendo que, nos últimos 10 anos, apenas 2009 e 2010 (diferença de 1.6%) registaram diferenças menores que 2017. Os dados europeus demonstram, então, que, além das vantagens existentes ao nível de rendimentos para quem é titular de um curso de Ensino Superior, a situação actual, tanto a nível nacional como europeu, é favorável para a transição da educação para o mercado de trabalho. É, no entanto, crucial acompanhar os estudantes e prepará-los para esse momento, razão pela qual a Académica da Madeira implementou projectos como o Pelo Direito à Educação!, que tem como objectivo incentivar a frequência e a conclusão do Ensino Superior, contrariando os números, ainda pouco claros, do abandono escolar entre os jovens, ou o Investe em ti! Ganha vantagem competitiva no mercado de trabalho!, que, em colaboração com o Serviço de Psicologia da UMa, tem preparadas diversas actividades que, através de métodos não-formais e informais, irão promover uma melhor preparação dos estudantes da Universidade da Madeira para o ingresso no mercado laboral. 15

Dados do Eurostat de 20 de Abril de 2018.


Além de apostar nestas iniciativas, de forma a alertar para a importância de permanecer e concluir um curso de Ensino Superior, será importante, no futuro, implementar medidas que permitam aferir, com maior rigor, a empregabilidade dos cursos da Universidade da Madeira na sua área de estudo. O Observatório de Emprego da UMa elabora, anualmente, um relatório que visa, entre outras conclusões, calcular o indicador de empregabilidade dos cursos da Universidade da Madeira, tendo como bases o número de diplomados e o número de desempregados inscritos no Instituto de Emprego da RAM. Sendo pertinente, este indicador não é, no entanto, minucioso pois assume que os diplomados que não se encontram inscritos no Instituto de Emprego encontram-se a trabalhar, o que é uma falácia, pois estes podem ter optado por continuar a sua formação académica ou podem simplesmente não estar inscritos no Instituto de Emprego. Além disso, mesmo que se encontrem empregados, não há qualquer dado que sugira que se encontrem a trabalhar na sua área de estudo, o que torna impossível retirar qualquer conclusão sobre a qualidade dos cursos frequentados e, por consequência, sobre a sua empregabilidade, factor que, por ser considerado muito importante pelos candidatos ao Ensino Superior quando preparam as suas candidaturas, urge uma reformulação dos métodos e um redobrar de esforços em todas estas iniciativas.




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