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REVISTA DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DA UNIVERSIDADE DA MADEIRA

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A ABRIR DIOGO CRÓ

Foi há quase 60 anos que os estudantes se revoltaram contra o Regime Salazarista devido à precariedade que o ensino vivia. Este protesto realizado no dia 24 de Março de 1962 resultou numa série de contestações e de guerras entre estudantes e governo. Estes protestos são recordados como a Crise Académica de 1962. Anos mais tarde, em 1987, o dia 24 de Março foi consagrado, pelo governo, como o Dia Nacional do Estudante. Um dos objectivos do governo com a comemoração deste dia era a democratização e o desenvolvimento do ensino. Porém o acesso ao Ensino Superior continua vedado a muitos dos jovens portugueses e os cortes no ensino e na investigação são, de ano para ano, cada vez maiores. Esta é uma situação que afecta todos os estudantes diariamente, por isso é necessário fazer algo para a qualidade do ensino não continuar a decair. Somos nós, estudantes, que temos que nos fazer ouvir, participando mais nos órgãos da nossa academia. Temos que ter uma opinião crítica. É necessário lutarmos por um ensino de qualidade e acessível a todos. Um ensino em que todos possam usufruir independentemente da situação social ou económica. A má qualidade do ensino prejudica todo o seu país acabando por ter um preço demasiado caro que não devemos pagar. Temos que melhorar as condições de ensino porque um país sem ensino e sem educação nunca poderá ter um futuro.

FICHA TÉCNICA EDIÇÃO: Março/Abril de 2015 · PROPRIEDADE: Associação Académica da UMa · EDITORA: Imprensa Académica · DIRECTORA: Andreia Nascimento · EDITOR: Rúben Castro · REVISÃO: Carlos Diogo Pereira · DESIGN GRÁFICO: Pedro Pessoa · CAPA: Detalhe de espada, Câmara Municipal do Funchal · CONTRACAPA: Texto de Cristina Pinheiro · PUBLICIDADE: Departamento de Comunicação da AAUMa · DISTRIBUIÇÃO: Gratuita · VERSÃO ON-LINE: www.aauma.pt · TIRAGEM: 1.000 exemplares · EXECUÇÃO GRÁFICA: Graficamares, Lda. · DEPÓSITO LEGAL: 321302/10 · ISSN: 2183-492X O CONTEÚDO DESTA PUBLICAÇÃO NÃO PODE SER REPRODUZIDO NO TODO, OU EM PARTE, SEM AUTORIZAÇÃO ESCRITA DA AAUMa. AS OPINIÕES EXPRESSAS NA REVISTA SÃO AS DOS AUTORES E NÃO NECESSARIAMENTE AS DA AAUMa. A REVISTA ET AL. É ESCRITA COM A ANTIGA ORTOGRAFIA, SALVO OS ARTIGOS ASSINALADOS.

MECENAS OFICIAIS

MECENAS

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Memorandum Gonçalo M. Tavares e os Clássicos em Os velhos também querem viver. Em Sarajevo ou numa polis grega, o mito de Alceste é sempre desconcertante. A reflexão sobre a morte, em forma de sacrífico estóico, torna-se também uma meditação sobre o valor da vida. Na verdade, revisitar um mito clássico é mergulhar na nossa memória colectiva. JOAQUIM PINHEIRO

O legado da Antiguidade Clássica tem-se exprimido, ao longo de muitos séculos, por meio de várias realizações humanas. Constituindo-se como elemento identitário, a mitologia é, sem dúvida, um dos melhores exemplos dessa pervivência. Continuamos a ouvir expressões como “bonito como Adónis”, “veloz como Aquiles”, “forte como Héracles”, “esperto como Ulisses”, “bela como Helena”, “canta como as Musas e toca como Orfeu”… Podemos, ainda, conduzir um “Clio”, aproveitar o programa passageiro frequente “Ícaro”, nadar no centro “Neptuno”, passear o cão “Argos”, comprar uma peça “Pandora”, beber uma água da marca “Fonte de Castália” no café “Apolo”, para de seguida ir ao estúdio de arquitectura “Dédalo”. Não faltam, de facto, exemplos. O nosso propósito, neste breve texto, porém, é o de nos concentrarmos no exercício intertextual de um autor da nossa litera-

tura: Gonçalo M. Tavares (GMT). Uma das marcas temáticas da escrita de GMT, talvez o autor da nova geração de escritores da literatura portuguesa mais lido e premiado, é a do diálogo com a cultura clássica, sobretudo nas obras Histórias falsas, Uma viagem à Índia e, mais recentemente, Os velhos também querem viver. É precisamente sobre esta última que vos escrevemos. Inspirando-se na tragédia Alceste de Eurípides, GMT propõe-nos em forma de peça teatral – já levada à cena pela Companhia Cão Danado, com encenação de Cristina Carvalhal – a conhecida e dramática história da mulher (Alceste) que dá a vida pelo marido (Admeto). Sim, trata-se de uma história de amor que nos catapulta para, nas palavras de Frederico Lourenço, o “trágico no superlativo”, como sucede, por exemplo, na história


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Medea (about to murder her children) by Eugène Ferdinand Victor Delacroix (1862).

de Hécuba, a mãe que assiste à morte da filha (Políxena) sem nada poder fazer e que encontra a boiar na praia o cadáver do filho mais novo, Polidoro, mas que depois se vinga, obviamente, no superlativo: não só arranca, com as suas próprias mãos, os olhos a quem lhe matara Polidoro, como, se isso não bastasse, ainda lhe mata os filhos. Muito chocante ou horrendo? Então é melhor nem falarmos das mães filicidas, Medeia e Procne! O trágico grego é, de facto, muitas vezes essa torrente irresistível que deixa o leitor/espectador

desconcertado com a dimensão (des)humana. Apesar de usar a estrutura Prólogo>sequência de 4 cenas>Epílogo, integrando também a participação tão clássica do Coro, a verdade é que o texto literário de GMT não atinge a dimensão lírica do drama trágico grego, sobretudo ao nível do ritmo métrico. Deixando de parte estes e outros pormenores técnicos, directamente relacionados com o género literário, interessa-nos aqui, sobretudo, abordar a temática da obra. O título, Os velhos também querem viver, pode levar o leitor a pensar


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Teatro de Epidauro

que se trata de uma reflexão gerontológica, numa altura em que tanto se fala e escreve sobre o envelhecimento da população europeia. Nada disso. GMT recupera um dos paradigmas do amor conjugal da mitologia clássica, a relação de Admeto e Alceste, para reflectir sobre temas universais, como o amor (conjugal, paternal, filial), a vida, a morte, a guerra ou o sacrifício. A história não decorre numa polis grega, mas em Sarajevo, umas das cidades mais massacradas pela Guerra dos Balcãs. Como milhares de homens, Admeto é atingido por um sniper. Prestes a morrer, Apolo permite-lhe viver, se em troca alguém morrer por ele (“A Morte tem de levar alguém, já se sabe”, p. 19). Em aflição, pergunta se alguém em Sarajevo quer morrer por ele, “mas ninguém aceitou, nem amigos, nem pai, nem mãe.” (p. 16). Só Al-

ceste se sacrifica pelo marido. Esta aceitação gera uma dialéctica entre a morte moderna e a antiga, notando-se, parece-nos, na reflexão de GMT algumas marcas do pensamento filosófico de Séneca. Antes de transitar para lá da vida, a serva conta que Alceste pediu aos deuses que cuidassem das suas duas crianças e que fosse dado um casamento e glória para o filho e um casamento e honra para a filha. Além disso, suplicou que não morressem cedo e que não fossem felizes antes do tempo, se possível na terra pátria. GMT aproveita este momento, de nítida tensão dramática, para interromper a narração e, como num estásimo (uma das partes da tragédia grega), falar da realidade tão presente, nos nossos tempos, dos filhos que têm de sair de casa e do seu país. Mas Alceste tem também palavras para Admeto, seu marido:


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recorda-lhe que nem o pai, nem a mãe, aceitaram morrer por ele, mesmo sendo filho único (“Mesmo velhos, preferiram viver”, p. 29). Com essa opção, impediram, segundo Alceste, que os filhos crescessem com a mãe. Em troca do seu sacrifício, exige que Admeto jure nunca mais dar uma segunda mãe aos filhos. E, num ápice, morre. Este é, de facto, o momento, o clímax desta obra, bastante antecipado em relação ao que costuma ser normal no género. Não cabe neste espaço explorar outros elementos interessantes que ocorrem até ao final da obra: Admeto irado com o pai, Feres, por não ter dado a vida por ele; Feres a justificar ao filho que um velho também tem direito a viver e que já lhe tinha dado a vida, coisa que o filho jamais lhe poderia restituir; a intervenção de Hércules (grafia usada por GMT, embora, neste contexto helé-

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nico, ‘Héracles’ fosse mais correcto), qual deus ex machina, que resgata Alceste dos infernos para a fazer regressar à vida. O mito de Alceste, como se percebe, torna-se perturbante a vários níveis. Sendo Admeto um mortal, como permitiu, para adiar a morte certa, o sacrifício da sua mulher e, assim, deixar duas crianças sem a mãe? Como tem coragem Alceste para abandonar os filhos em prol do marido? É a vida de um jovem mais valiosa do que a de um velho? São estas e outras as encruzilhadas dos mitos clássicos. Imitados, renovados ou transformados nas várias áreas do saber e da produção cultural, os mitos conduzem-nos pelo fascinante e enigmático sentido da natureza humana.


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UMa retrospectiva do meu percurso na UMa JOÃO BERNARDO SILVA

O meu trajecto no Ensino Superior iniciou-se em Setembro de 2012, quando entrei para em Línguas e Relações Empresariais. Passados quase dois anos e meio, estou a um semestre de concluir o curso e vejo-me na obrigação de admitir que a iminência do fim deste ciclo de estudos desperta em mim um misto de sentimentos. Não é sem certa nostalgia que recordo os primeiros dias de Praxe e me apercebo de que algumas das relações então estabelecidas desvanecerão dentro de alguns meses. Outras, naturalmente, perdurarão. Sentirei falta de algumas coisas como sejam o ocasional jogo de cartas ou as conversas no Skype, iniciadas para a realização de trabalhos de grupo, mas que inevitavelmente acabavam por degenerar em momentos de vulgar coscuvilhice, entre outros. Ainda assim, é com grande satisfação pessoal que revejo o meu percurso académico. Creio ser seguro dizer de que aproveitei ao máximo o meu tempo na UMa. Participei em formações e assisti a conferências e palestras de professores visitantes, nacionais e internacionais, sempre que oportuno. O meu interesse e a minha curiosidade levaram-me a desenvolver boas relações com os meus professores. Enfim, fiz por maximizar a minha aprendizagem tanto quanto possível. Acho, até, que foi exactamente pela minha atitude face à vida académica que consegui no Verão passado, ainda sem curso feito, um trabalho como guia nas históricas adegas Blandy’s Wine Lodge. Lá, pude comprovar em primeira mão o verdadeiro valor do Ensino Superior que é, não a preparação

para tarefas específicas e obtenção de informações muito particulares, mas sim o desenvolvimento de capacidades de organização, de gestão e de raciocínio que permitam uma maior adaptabilidade às inconstantes exigências de um mercado de trabalho em mudança constante, como o é o dos nossos dias. Entretanto, as competências que desenvolvi quer na universidade, quer nas adegas têm-me sido úteis como voluntário da Associação Académica no projecto de visitas guiadas ao Colégio dos Jesuítas. Aliás, a minha colaboração com a AAUMa apesar de relativamente recente e comedida, tem sido motivo de grande prazer e é com gosto que colaboro com um grupo de estudantes tão proactivo. Resta-me enfrentar um último semestre na UMa enquanto me preparo para o mestrado em Linguística Aplicada que farei na Universidade de Nottingham onde a minha candidatura já foi aceite. Para a escolha desta segunda formação contribuíram imenso as oportunidades que tive na UMa de contactar com investigadores na área que me inspiraram a querer estudar mais para poder também, de futuro, dar o meu contributo. Estou ansioso por poder desenvolver e aplicar o que aprendi na UMa e será com grande orgulho que levarei o seu nome no meu currículo onde quer que vá. É certo que em Maio faz-se o corte, mas o que se corta são fitas e não laços, esses não se deixam romper facilmente e posso afirmar com confiança que levarei comigo os laços que estabeleci na Universidade da Madeira para a vida.


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Fazendo crescer o seu capital (psicológico) “ este crescimento apenas resulta se estiver disposto a investir em SI, na relação com os outros, de modo a ser capaz de enfrentar os desafios do dia a dia, delinear caminhos alternativos e persistir para alcançar os seus objetivos”. SERVIÇO DE CONSULTA PSICOLÓGICA DA UNIVERSIDADE DA MADEIRA Imagine um Banco em que deposita o seu capital e o vê crescer lentamente com os juros. Investe uma parte em ações e fá-lo crescer o dobro! Apesar da contingente atual, este Banco é ainda possível existir. Porém, ele representa precisamente VOCÊ! E os investimentos que faz, são as suas próprias AÇÕES, que trazem RETORNO garantido e aumentam o seu CAPITAL humano, social e psicológico. No entanto, este crescimento apenas resulta se estiver disposto a investir em SI, na relação com os outros, de modo a ser capaz de enfrentar os desafios do dia a dia, delinear caminhos alternativos e persistir para alcançar os seus objetivos. Atreve-se a fazer este investimento? Implicações: Refletir. Conhecer. Fazer. Custo: Abertura e tempo São diferentes as formas que pode usar para Investir em Si. O autoconhecimento é uma destas formas, e uma das mais difíceis, por ser um processo que nunca acaba. Por isso mesmo, lançamos-lhe um desafio: faça a sua análise SWOT. Escreva quais são as suas

forças (Strengths), características que constituem uma mais-valia em si; as fraquezas (Weaknesses), características que devem ser trabalhadas no futuro; as oportunidades (Opportunities) para desenvolver as suas forças, e as Ameaças (Threats), ou seja, cenários em que as suas fraquezas poderão causar embargo. Depois de conhecer estes aspetos, passe ao seguinte passo do investimento: aposte no desenvolvimento destas habilidades e talentos. Note que estes facilitam o sucesso a realizar determinada tarefa. No entanto, se não os fizer crescer, acabarão por não lhe trazer rentabilidade. É, pois, necessário colocá-los em prática e desenvolvê-los. Considerando o processo difícil que é o autoconhecimento, pode ser útil recorrer à ajuda de um psicólogo (acompanhamento individual ou em grupo). O psicólogo pode ser considerado como um treinador, que facilita o processo de reflexão e desenvolvimento de competências, que o pode treinar na resolução de problemas, mas em que será Você quem terá a bola na mão e a lançará, que se fará ao jogo da vida, com garra e determinação! Para melhor o ajudar, o psicólogo poderá usar testes psicológicos e/ou outros exercícios como ferramentas. De modo a continuar a incrementar o seu capital, participe em diferentes atividades no contexto académico e fora deste, que o ponham em relação


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e o façam ver até onde é capaz de ir. Pode também investir continuamente na promoção e aumento da sua autoconsciência através da escrita de pensamentos e sentimentos e/ou de leituras que incitem à reflexão. Nesse sentido, convidamo-lo a ler e a subscrever a nossa newsletter, na qual abordamos diferentes temáticas (ex.: ser autêntico, gerir a raiva...). Não se esqueça: O seu crescimento é contínuo, mas para que tal aconteça, necessita estar aberto

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e disposto a investir! Caso contrário, estagnará e os lucros não crescerão... Por isso, invista em si! Faça crescer o seu capital e a sua vantagem competitiva, factor diferenciador na transição para o mundo de trabalho.

TEXTO ESCRITO AO ABRIGO DO ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990.


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VERA DUARTE

O sushi, como hoje o conhecemos, tem mais de 200 anos e assume-se como uma das iguarias mais in que se pode degustar. O sushi é originário do Japão e a sua criação está ligada a uma técnica de conservação do peixe em arroz avinagrado. Se, actualmente, a junção do arroz e do peixe fazem as delícias de muitos, outrora o arroz era colocado de lado. Hanaya Yohei criou o sushi que mais nos é familiar, não fermentado, composto por arroz e peixe da actual Baía de Tóquio, que era vendido em barracas. Desde essa altura, esta comida japonesa possuía baixas taxas de gordura e altas taxas de proteína, de vitaminas, de minerais e de ómega 3. Embora este seja, ainda, um factor primordial no sushi dos nossos dias, a verdade é que a criatividade tem invadido e modificado esta iguaria.

Maionese, fruta, queijo e outros ingredientes têm sido adicionados ao tradicional. A moda veio, mesmo, para ficar. Tanto, que por esse País fora, multiplicam-se os restaurantes japoneses de japoneses, de chineses, ou os restaurantes de portugueses que abraçaram esta veia da cozinha. A maioria dos supermercados vende, simultaneamente, todos os utensílios e ingredientes necessários para desenrascar um bom sushi em casa. São aos milhares, os homens e mulheres deste país e deste mundo, que são chefes japoneses nas suas cozinhas. E depois, as redes sociais… Porque não há almoço ou jantar de sushi, em casa ou fora dela, em que não se tirem meia dúzia de fotos que vão diretamente para o Facebook ou para o Instagram. As cores, a textura, o conceito afecto, fazem as delí-


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Sushi nosso de cada dia A moda veio, mesmo, para ficar. Tanto, que por esse País fora, multiplicam-se os restaurantes japoneses de japoneses, de chineses, ou os restaurantes de portugueses que abraçaram esta veia da cozinha.

cias de quem come e vê! No meio desta febre, são parcos os que se lembram que o sushi, por ser maioritariamente constituído por peixe cru, pode trazer alguns riscos, como a probabilidade de conter elevados níveis de mercúrio, parasitas, bactérias ou algum veneno característico de alguns peixes. Mas acredita-se, e muitos comprovam, que a cozinha japonesa está muito mais refinada e cuidada, estando, portanto, males destes bem longe dos nossos pratos. Na Madeira, ainda há pouco tempo, abriu mais um restaurante japonês. E a variedade já começa a ser significativa: restaurantes de sushi de japoneses e chineses, restaurantes de sushi de madeirenses e entregas de sushi em casa confeccionadas por outros madeirenses. E, claro, como não poderia deixar de ser, muitas famílias de onde brota

um ou outro sushiman mais aguerrido. Consta até que o segundo melhor sushi fora do Japão está em Portugal, mais precisamente em território continental, em Almada! Pelas críticas, este pode ser um daqueles restaurantes mais dispendiosos, onde o sushi se apelida de alta qualidade e no qual, antes de mais, são os olhos e o nariz que comem! Mas não há que se apoquentar. Com uma pesquisa rápida, a Internet mostra-nos centenas de hipóteses disponíveis onde se poderá provar um bom peixe cru com algas, wasabi e soja. Primeiro estranha-se, depois entranha-se. E fica-se fã! Porque com a variedade que há, é (quase) impossível não aderir à moda.


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Escalas como instrumentos de medida Os principais métodos de recolha de dados são as observações, as entrevistas, os questionários, as escalas, a técnica de Delphi, as videogravações, as check-lists, as descrições, etc. ANTÓNIO V. BENTO

Instrumentos de medida ou técnicas de recolha de dados são os meios técnicos que se utilizam para registar as observações ou facilitar o tratamento experimental (Sousa, 2005). O investigador dispõe de uma grande variedade de métodos de recolha de dados. São de considerar alguns fatores na escolha de um instrumento de medida, em particular o nível de investigação e a acessibilidade dos instrumentos. Os principais métodos de recolha de dados são as observações, as entrevistas, os questionários, as escalas, a técnica de Delphi, as videogravações, as check-lists, as descrições, etc. As escalas são instrumentos de medida mais precisos que os questionários. De acordo com Fortin (2009) As escalas de medida são formas de autoavaliação que são constituídas por vários enunciados ou itens, lógica e empiricamente ligados entre si e que são destinados a medir um conceito ou uma característica do indivíduo (p. 388). Ao contrário dos questionários e das entrevistas, que servem para recolher uma informação factual, a escala de medida emprega-se sobretudo para avaliar variáveis psicossociais. A escala indica o grau segundo o qual os indivíduos manifestam uma dada característica. Serve, por exemplo, para determinar entre os participantes num estu-

do, os que apresentam tal atitude, tal motivação ou tal traço de personalidade. A escala de medida pode ser constituída por uma série de etapas ou comportar graus ou gradações. Os scores da escala permitem comparações entre os indivíduos em relação à característica medida. Uma escala comporta os seguintes elementos: a) Um enunciado pivô em relação a atitudes ou o fenómeno a avaliar (por exemplo, o estilo de liderança predominante); b) Uma série de algarismos que indicam graus na escala: «1, 2 … 5»; c) Categorias ou ancoragens que definem os graus ou escalões (por exemplo «1 = totalmente de acordo; 5 = totalmente em desacordo». As principais escalas utilizadas na investigação são a escala de Likert, a escala de diferenciação semântica e a escala visual analógica. A escala de Likert (método desenvolvido por Rensis Likert no início dos anos 30) é a mais usada para avaliar atitudes. Comporta uma série de enunciados que exprimem um ponto de vista sobre um tema. Os participantes indicam o seu grau de acordo ou de desacordo numa escala de intensidade com os diferentes enunciados. Por exemplo, “concordo bastante”, “concordo”, “indeciso”, “discordo”, “discordo bastante”, ou “nunca”, “quase nunca”, “indeciso”, “quase sempre”, ou “sempre”.


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1 Exemplo de desenho de escala de Liquert

A escala de Likert, para Fortin (1999) citado por Vilelas (2009), consiste na apresentação de uma série de proposições, devendo o inquirido, em relação a cada uma delas, indicar uma de cinco posições: concordo totalmente, concordo, sem opinião, discordo, discordo totalmente. De seguida, às respostas são adicionados scores individuais na escala. Atribui-se o score mais elevado +2 às respostas concordo totalmente, enquanto o score -2 será atribuído à resposta discordo totalmente.

TEXTO ESCRITO AO ABRIGO DO ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990.

Referências e sugestões de leitura Fortin, M. (2009). Fundamentos e etapas do processo de investigação. Loures: Lusodidacta (pp. 388-394). Freixo, M. (2010). Metodologia científica: Fundamentos, métodos e técnicas (2ª ed.). Lisboa: Instituto Piaget (pp. 205-213). Hill, M. & Hill, A. (2002). Investigação por questionário. Lisboa: Edições Sílabo (pp. 105-117). Sousa, A. (2005). Investigação em educação. Lisboa: Livros Horizonte (pp. 181-198). Vilelas, J. (2009). Investigação: O processo de construção do conhecimento. Lisboa: Edições Sílabo.


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DE MOCHILA ÀS COSTAS

Calhau da Lapa CRISTINA TEIXEIRA

O Calhau da Lapa localiza-se na freguesia de Campanário, concelho da Ribeira Brava. Este local é de fácil acesso, quer por uma vereda que se inicia junto à escola desta localidade, quer por mar, visto que o Calhau da Lapa dispõe de um cais. Este lugar dispõe de um restaurante e de algumas casas turísticas para alugar. Quanto às actividades de lazer destacam-se a praia e outras actividades relacionadas com o mar. Lá pode praticar-se o canyoning, já que a ribeira que desagua na praia está equipada para esta prática. No fim, os praticantes encontrarão uma imponente cascata de 100 metros, visível da vereda, que rasga a encosta rochosa. No que toca à praia, esta é constituída por calhau de grandes dimensões, pelo que o acesso ao mar é feito pelo cais. A especialidade do restaurante é dourada assada, pescada ao largo da costa e as refeições têm de ser reservadas com antecedência. Quanto à escolha do lugar para passar férias, é um local que tem para oferecer silêncio e tranquilidade, fugindo assim do barulho da cidade. Como ponto de interesse, existem pequenas furnas escavadas na rocha, certamente para o armazenamento de equipamento de pesca. Este lugar foi escolhido para passar umas miniférias no Verão, pois a prática do desporto radical é um dos meus interesses e também por ser um lugar resguardado. Quanto à comida, por apreciar e gostar muito de peixe digo ser um lugar em que se come muito bem. Aconselho vivamente este local para passar, quem sabe, um fim-de-semana.


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Tese das Angústias A depressão afecta pessoas de todas as idades, desde a infância à terceira idade, sendo mais predominante na idade adulta.

ESTER CALDEIRA

A vida académica de um estudante universitário é muito mais complexa do que aparenta. Por um lado temos a vida boémia própria desta nova fase à qual está inerente uma adaptação a um novo ambiente social, por outro temos as frequências, os exames, as aulas, a elaboração dos projectos, a comunicação com os docentes, entre outros afazeres de quem quer um curso superior. Para os alunos que se encontram em Mestrado, encontra-se sobretudo a pressão do estágio ou investigação e da elaboração do relatório, da tese ou dissertação. Após terminarem a licenciatura, é cada vez maior o número de estudantes universitários que procuram aumentar os seus conhecimentos, concorrendo a Mestrado. Estará esta procura de sabedoria a influenciar negativamente a saúde dos estudantes? Em Portugal, o Mestrado corresponde ao segundo ciclo de estudos superiores conforme o disposto pelo Processo de Bolonha, conferindo um diploma final ao estudante. Este tem por norma a duração regulamentada de dois anos, sendo o primeiro dedicado a unidades curriculares simples e o segundo à investigação ou prática profissional coroada com a elaboração da tese ou da dissertação submetida a um júri, perante o qual é defendida pelo candidato ao título de Mestre.

A elaboração desta tese tende a sobrecarregar os estudantes de Mestrado pelo facto de conjugarem a parte escrita com a prática, além da burocracia inerente. A motivação para escrever a tese torna-se pouca e os alunos ficam alarmados com a quantidade de trabalho e com os prazos que têm de cumprir, sendo sujeitos a situações de stress, que podem conduzir a comportamentos depressivos. Para a Organização Mundial de Saúde a depressão é responsável por 11,8% das doenças a nível global, afectando pessoas de todas as idades, desde a infância à terceira idade, sendo mais predominante na idade adulta. De modo a diminuir o risco de depressão os estudantes devem saber reconhecer os seus principais sintomas: perturbação do apetite e do sono, fadiga e perda de energia, sentimentos de inutilidade, de culpa e de incapacidade, falta de concentração e preocupação com a morte, desinteresse e tristeza. Ao estarem cientes que podem estar em risco de sofrer de depressão devem procurar a ajuda do médico de família ou de um terapeuta profissional de modo a tentarem resolver os problemas que desencadearam o estado de depressão. Todos nós estamos sujeitos a enfrentar situações mais complicadas, mas o importante é saber superá-las com positivismo, esforço e trabalho.


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Para tal devem ter-se em atenção os factores de risco e saber reduzi-los essencialmente através da aquisição hábitos saudáveis: repousar o número suficiente de horas, ter uma alimentação o mais saudável possível e principalmente saber controlar os níveis de stress. Ao evitar-se os factores de risco podemos diminuir o risco de depressão e de outras doenças, aumentando a nossa qualidade de vida e conseguindo, desta forma, estudar sem colocar em risco a nossa saúde. Bons estudos e boa sorte!

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EM PORTUGUÊS ESCORREITO HELENA REBELO

A LÍNGUA MATERNA A 21 de Fevereiro, celebrou-se o dia da Língua Materna. A data recorda uns universitários de Língua Bengali mortos por defenderem a língua materna, no Paquistão, onde o Urdu era língua única.

A política linguística portuguesa é, aparentemente, a da defesa da língua nacional. Contudo, privilegia-se a língua franca em detrimento da língua materna. Mantendo-se esta propensão, nas próximas décadas, a Língua Inglesa (aportuguesada) poderá ocupar o lugar da língua materna. Ser poliglota é uma vantagem para os indivíduos que passam a “ver o mundo” sob diversos planos. Portanto, o problema não está em aprender Inglês, mas no facto de sobrevalorizar uma língua, desvalorizando as restantes. Há ideias estereotipadas. Repete-se, sem se comprovar, que o Inglês é fácil e que o Português é uma língua difícil. Não há nada de mais erróneo. Nenhuma língua será fácil ou difícil porque todas necessitam de aprendizagem. Estudar a gramática inglesa comprova-o. Ser linguisticamente competente diverge de conhecer as bases de um idioma. Logo, um cidadão tem de dominar a sua língua materna e de conhecer línguas estrangeiras, para o caso de necessitar delas. Todavia, o grau de conhecimento de uma e das outras será diferente. Quanto melhor conhecer a sua, mais capaz será de defender os seus direitos. Para que isso aconteça com os falantes de qualquer nacionalidade é indispensável o estudo da língua materna e muitos sentem dificuldades nessa aprendizagem. É o caso para quem hesita na escrita de “feminino” ou “misto”.


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7% 13% 87%

93%

· Feminino: 87% · Femenino: 13%

1.

· Misto: 93% · Mixto: 7%

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Não se pode confundir o artigo .................... “a” com a preposição homófona e homógrafa.

No restaurante, vamos pedir um ....................... de peixe.

Preencher o espaço com a forma certa: feminino / femenino.

Preencher o espaço com a forma certa: mixto / misto.

Solução: Não se pode confundir o artigo feminino “a” com a preposição homófona e homógrafa.

Solução: No restaurante, vamos pedir um misto de peixe.

Explicação: Quanto ao género, a gramática portuguesa distingue os elementos femininos dos masculinos. Alguns são fáceis de classificar, mas outros exigirão estudo, como sucede com “a aluvião”, que é do género feminino, embora haja quem use o masculino. O termo “feminino” tem origem latina em “femininus,a,um”. Possui quatro vogais e existe uma tendência para hesitar na segunda, talvez devido à pronúncia. Em vez de <i>, como no étimo, há quem opte por <e>. Se não se chamar a atenção de quem erra, a falha nunca será corrigida porque “quem não sabe é como quem não vê”.

Explicação: Hesitar entre “s” ou “x” em vocábulos como “misto” é frequente. Aliás, na etimologia latina, havia as duas possibilidades com “mixtus ou mistus,a,um”, sendo provenientes do particípio passado do verbo “misceo,es,scui,xtum ou stum,scere”. Na História da Língua Portuguesa, houve fases em que se escreveu com “x”. A norma optou por “s”. Se a hesitação subsiste, pense-se que a sequência <-ixt-> não é caracteristicamente portuguesa. Quando se aprende, fica-se a saber.


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CURIOSIDADES RUI MARTINS No início do século XX existiam alguns hospitais em que os bebés eram abandonados pelos pais logo após o nascimento. Na cidade de Paris, em 1911, uma instituição médica, que acabaria transformada em orfanato, fez algo inédito: uma lotaria de bebés! Algo como um bingo em que os bebés rejeitados eram oferecidos nalgum tipo de jogo para pessoas, que desejavam ser pais de verdade. Os mais de 1 000 euros de propina máxima cobrados no último ano lectivo pelas universidades portuguesas colocam o país entre as mais caras da Europa para se estudar no Ensino Superior. Pior está o Reino Unido onde os estudantes pagam 3375 libras anuais (cerca de 4200 euros), ou a França onde podemos estudar por 177 euros mensais. Gratuitamente só na Dinamarca, na Grécia, na Áustria, entre outros países. Em Singapura é proibido vender pastilhas elásticas em bares e supermercados. A lei é válida até mesmo para turistas que levem os doces na bagagem. Deitar uma pastilha elástica na via pública, por exemplo, resulta em multa de cerca de 2 615 euros. No dia 2 de Fevereiro de 2015 cerca de 60 mil croatas acordaram com as suas dívidas anuladas, no valor total de cerca de 280 milhões de euros. A medida foi aprovada, no dia 29 de Janeiro de 2015, pelo Governo, que decidiu anular as dívidas de alguns cidadãos. Os perdoados foram os croatas mais pobres, ou seja, aqueles que auferem prestações sociais ou cujo rendimento mensal per capita do agregado familiar não ultrapassa os 165 euros.


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#2 · FUCK YOU ABILITY

Até quando vamos desperdiçar? “continuaremos a perpetuar um sistema eficaz em esconder o falhanço dos profissionais despreparados para ensinar”

LUÍS EDUARDO NICOLAU

Ao longo da vida levantam-nos cartazes com a indicação “tenha modos”. Reclamar e elogiar são extremos distantes e, por vezes, inatingíveis. Não somos incentivados a construir um sistema de auto-avaliação e a ganhar ferramentas que possam servir para criticarmos com segurança e conhecimento. A crítica carrega uma carga negativa, destruidora e mordaz e a reivindicação é encarada como uma característica incómoda. Por entendermos que as Universidades são locais privilegiados, ainda acreditamos que têm uma responsabilidade acrescida na disseminação dos valores da liberdade, a todos os níveis. Mas essa crença, não passa disso e a culpa deve ser partilhada por todos nós. Desperdiçamos, sistematicamente, a oportunidade de sermos livres. Ignoramos os problemas, mesmo que eles nos afectem. A avaliação que os estudantes fazem das suas unidades curriculares é um exemplo clássico de um caso onde, sistematicamente, deitamos no lixo a nossa liberdade. O princípio da confidencialidade no preenchimento dos inquéritos, que não poderia existir numa sociedade onde as críticas deveriam servir para melhorar o trabalho e não para esconder a vingança ou a falta de coragem, acaba por servir de escudo para o castigo de uma nota miserável. Até costumamos premiar a mediocridade com a nossa indiferença no preenchimento dos inquéritos. Afinal, perder tempo com inquéritos que não servem para nada? E, assim, promulgamos o diploma que assegura a manutenção de um sistema cómodo, onde não existem grandes agitações. Afinal, ele até dá boas notas. Apesar de tudo, dá-me jeito que ele falte às aulas. Os testes são fáceis, é uma cadeira que fazemos bem. No final, podemos preencher os inquéritos sem nunca ter visto o alvo da nossa avaliação.


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Não sabemos avaliar a dedicação e o empenho dos professores que se importam com o ensino e acreditam que estão a desempenhar um papel decisivo na vida dos futuros profissionais. Acreditamos que só devemos ter voz para registar o que está errado, sem salutar o que existe de bom e incentivar a sua continuidade. Acabamos por deixar morrer os que lutam contra a maré. Enquanto não exigirmos qualidade, que também não é o sinónimo de um massacre nas notas, com chumbos a rondar os 99%, para indicar que o docente é exigente, competente e atroz, continua-

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remos pouco exigentes e carregaremos esse fardo pela vida. Os inquéritos não servem para o seu propósito, não deveriam ser iguais para todos os ciclos de estudos, cursos e unidades curriculares. Enquanto o processo de avaliação não sofrer uma alteração profunda, que exija que o avaliador pense, pondere e entenda o que está a fazer, continuaremos a perpetuar um sistema eficaz em esconder o falhanço dos profissionais despreparados para ensinar e seguiremos o caminho para punir e vingar os nossos desgostos.


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Pela Zona Velha 1

Associação Académica realiza, no segundo Sábado de cada mês, visitas gratuitas a pontos históricos da cidade e abertas a todos os interessados. 2

CARLOS DIOGO PEREIRA

Chamada Zona Velha do Funchal, a baixa da freguesia de Santa Maria Maior foi o primeiro aglomerado urbano da cidade. Esta é separada do resto da cidade pela Ribeira de Santa Maria, posteriormente de João Gomes em memória desse trovador madeirense dono de terras de sesmarias nas margens desse curso de água. Eixo estruturante da primitiva urbe, a Rua de Santa Maria liga a Igreja de São Tiago Menor (conhecida como do Socorro) ao Largo do Poço (onde se encontrava a Igreja de Santa Maria do Calhau). A ela chamou Mateus Fernandes III Rua dos Caixeiros, pelas oficinas de carpintaria que fabricavam as caixas-de-açúcar para exportação dos derivados do Açúcar, e chamou ainda o Brigadeiro Oudinot Rua do Socorro, em virtude dessa evocação à Virgem que disputava a tutela da Igreja da

Câmara do Funchal com São Tiago Menor. A Sul, estende-se o Campo Almirante Reis, dedicado a um líder militar republicano (que se suicidou na véspera da Implantação da República) e que acolheu a muralha, o Forte de São Pedro e a Praça Académica, entre outros. Foi palco de competições desportivas entre tripulações de navios estrangeiros e nativos daquela zona da Cidade. Nas casas das classes abastadas seguras dos lucros do açúcar, do vinho e de outras riquezas que por cá passavam, cruzando o Atlântico, as arrecadações dão, hoje, lugar às lojas, aos restaurantes e aos bares da Zona Velha. Encontram-se ainda alguns pontos de culto religioso, que encerram em si histórias desejosas de serem contadas. À Rua da Boa Viagem, a Capela de Nossa Senhora do Monte da Oliveira


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1 Detalhe da Fortaleza de Santiago. 2 Banca do Mercado dos Lavradores. 3 Mercado do Peixe no Mercado dos Lavradores. 4 Capela do Corpo Santo.

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fundada sob a invulgar evocação Virgem da Redenção e das Merces do Carmo. Quase ocultado por uma esplanada, o Passo Processional da Rua de Santa Maria relembra as grandiosas cerimónias da Paixão, com procissões que cruzavam a Cidade de lés-a-lés. Mais à frente temos uma capela dedicada a São Pedro Gonçalves, chamado São Telmo ou Corpo Santo. Corpo Santo é o nome dado à visão gloriosa deste patrono dos navegantes, que surgia de corpo inteiro numa labareda bem no topo dos mastros dos navios, protegendo-os das tormentas. A este fenómeno chamamos, por tal, fogo-de-Santelmo. Um pouco por todo o lado, podem-se apreciar elementos arquitectónicos de interesse na construção insular de tempos idos. No rés-do-chão, o arejamento das casas é feito por pequenas janelas

chamas óculos, com formas diversas, ao Largo do Corpo Santo e sobre o Ribeiro da Nora há fornos salientes que se debruçam para o exterior e, sobre as nossas cabeças, os telhados apresentam beirais simples, duplos ou triplos, com remates em concha, em pomba, em pináculo ou em cabeça de crianças, inspirando a protecção e fertilidade dos habitantes dos imóveis. O Arquitecto Rui Campos Matos, um dos responsáveis pela obra de reabilitação do Colégio dos Jesuítas do Funchal para Reitoria da UMa, aceitou o convite para mostrar de uma forma diferente a Zona Velha. Se quiser participar, inscreva-se nos balcões da AAUMa, no Campus da Penteada, no Colégio dos Jesuítas ou no Armazém do Mercado, ou através da Internet.


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ACTIVIDADES

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1, 4, 7 Sarau Académico de Fevereiro de 2015, no Colégio dos Jesuítas do Funchal.

2, 3 Pátio dos Estudantes, produção da AAUMa na RTP-M.


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5, 6, Novo espaço da AAUMa, History Tellers, no Armazém do Mercado.

8, 9, 10, Exposição História do Funchal, na antiga Capela de Santa Maria de Belém (Colégio dos Jesuítas do Funchal).


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11, 12, 13, 14, Visita ‘Um mês, um tema’ no Convento de Santa Clara, em Janeiro de 2015.

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15, 16, 17, 18, Visita ‘Um mês, um tema’ na Sé do Funchal, em Fevereiro de 2015.


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Through the stomach to the Polish heart. KATARZYNA SKRZYPCZYK

One phrase: It would be a banality to say that cuisine reflects our culture but a closer historical and cultural insight into the „polish culinary universe” can say a lot about the country What does Polish cuisine mean abroad on the other end of Europe in Portugal? Probably not so much, as it’s neither so exquisite as French cuisine nor so widespread as Italian but, without any doubt, it has some unique landmarks. For example, the absolute crème de la crème of Polish cuisine are “pierogi” (dumplings) which can be described as bigger Italian tortellini in half-moon shape with innumerous types of fillings varying from strawberries to potatoes. It would be a banality to say that cuisine reflects our culture but a closer historical and cultural insight into the „polish culinary universe” can say a lot about the country. National cuisine is created by many elements, among others it’s influenced by geographical and historical factors. Polish climate, without any doubt, had a key importance for eating habits. As winters in Poland used to be harsh, ingredients which could be stored for several months like pea, broad bean, cabbage, or turnip played a great role. Consequently, they used to prepare, for example, “kapusta kiszona”(sour cabbage), which is a result of a controlled fermentation process. That ingredient is a base of one of the most famous national dish - “bigos” which is a stew made of sour cabbage, different types of meat and mushrooms. Polish cuisine influenced by many cultures shows the complexity of turbulent Polish history. For example, Bona Sforza, Italian wife of Polish

king Sigismund I the Old, had changed image of Polish cuisine in XVI century by bringing more vegetables. In effect, today in Polish supermarkets you can find a bundle of carrots, leeks and celery, known as “włoszczyzna” (italian stuff). Poles are stereotypically seen as the fervent catholic. Today it’s maybe not so strong but historically it also reflects culinary culture. Traditionally, during Lent period in Poland, people weren’t eating meat, so very popular became herring in oil and żurek soup, which is a naturally fermented liquid mixture of water, spices and rye flour. Now these two fasten meals are often present in polish menus. One of the most common stereotypes describes Poles as drinking alcohol a lot. Nowadays, some can argue about that, however, no one would deny that it’s an essential element of our culture which goes back to the tradition of ostentatious feasts of Polish nobility in XVII century. Vodka is considered to be a flag Polish beverage as Poland is the fatherland of this alcohol (of course a Russian wouldn’t say so). Traditionally, it’s made of fermented grains or potatoes, however, there are many variations as, for example, Żubrówka. This kind of alcohol is flavored with bison grass, which grows only in Poland. Ultimately, the best way to get to know polish culinary world is by tasting it. Popular proverb modified in the title (“the way to the man’s heart goes through his stomach”) shows that the key to the polish culture definitely goes through its cuisine as it’s full of surprises and remarkable flavors.


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1, 2, 3 Making of Pierogi 4 Oscypek 5 Faworki 6, 7 Kapusta Kiszona 8 Żurek

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REDESCOBRIR A MADEIRA

O regresso às origens do convento de São Bernardino de Câmara de Lobos O antigo convento de São Bernardino de Câmara de Lobos foi objeto de uma ampla campanha de obras nos dois últimos anos, voltando assim às origens e a ser novamente ocupado por franciscanos. RUI CARITA

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O primeiro convento franciscano fora do Funchal teve por titular São Bernardino de Sena e foi fundado em Câmara de Lobos, por volta de 1459 a 1460, em lugar ermo e solitário. O convento teve uma humilde origem, mas tornou-se depois célebre e afamado por ter ali vivido e falecido frei Pedro da Guarda (1435-1505), a que o povo chamou, e chama, o Santo Servo de Deus. Crescendo o número de religiosos, também cresceu o conjunto de edifícios, sucessivamente ampliado e reconstruído. A capela-mor da igreja foi fundada por Rui Mendes de Vasconcelos (c. 1460-c. 1520), neto de

Zarco, e sua mulher Isabel Correia, filha dos doadores do terreno. A capela teria sido reconstruída por 1533 e a lápide em causa, transferida para o adro da igreja, onde se encontra. Data de cerca de 1633 a construção de três pequenas capelas na cerca, levantadas em homenagem a frei Pedro da Guarda e por esses anos igualmente fizeram-se obras nos claustros e na casa do capítulo. Voltaram a ocorrer obras em 1735, que ficaram registadas na cruz do frontispício da igreja, após o que foram dotados os claustros de azulejos dos meados do século XVIII. As receitas do convento provinham essencial-


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mente de foros e de missas, sermões na colegiada de Câmara de Lobos, tal como da venda de túnicas, hábitos de saial e de burel para mortalhas, aspeto que igualmente era praticado nos restantes conventos franciscanos masculinos da ilha. O convento vivia ainda dos peditórios periódicos e da venda dos produtos agrícolas das suas propriedades. O convento voltou a ter obras após o terramoto de 1748, que afetou bastante toda esta área e, então quase uma nova reconstrução, após a terrível aluvião de 9 de outubro de 1803. Os estragos foram imensos, registando-se então que a ribeira da Saraiva ou ribeiro dos Frades levara “a cerca, claustros, cozinha, refeitório e adega” do convento, de que só ficara a igreja e a casa dos romeiros. O convento foi extinto em 1834, na reforma eclesiástica empreendida pelo governo liberal, sendo o edifício vendido em hasta pública, em 1872. Em 1898, os proprietários venderam-no ao bispo do Funchal, no que foi mais uma doação do que uma venda. As ruinas do velho convento vieram a ser recuperadas por iniciativa da madre Mary Jane Wilson (1840-1916) e depois, do pároco de Câmara de Lobos, padre João Joaquim de Carvalho (1865-1942), entre 1924 e 1928. A igreja seria de novo benzida em 1926 e o conjunto voltou a ter obras para a instalação da nova paróquia de Santa Cecília, a partir de 1960, decorrendo em 2014 novas obras de reabilitação, segundo projeto de 2006 dos arquitetos Victor Mestre e Sofia Aleixo, que fizeram o acompanhamento da obra para voltar a ser ocupado por franciscanos.

TEXTO ESCRITO AO ABRIGO DO ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990.

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1 Maquete do convento. 2 Igreja do convento de São Bernardino. 3 Cruz de remate da igreja do convento de São Bernardino, c. 1735.


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E e d e t n Po “O p reço da

RICARDO RAMOS

A ponte de esparguete foi uma ideia para parte de um trabalho prático dos alunos de Engenharia Civil para a cadeira de Resistência dos Materiais I e que consistiu na montagem de uma ponte constituída por esparguete e cola térmica a uni-lo. O principal objectivo era construir uma ponte de esparguete com a máxima resistência possível (carga máxima suportada antes do colapso), de acordo com a quantidade de esparguete utilizado. A avaliação consistia na estética e na resistência da ponte, onde a resistência possuía um maior peso na avaliação. A primeira fase para a elaboração da ponte de esparguete era definir uma estrutura plana longitudinal 2D, apresentando os cálculos em conformidade com o que foi leccionado nas aulas de modo a obter-se a estrutura com maior resistência possível. A segunda fase era ligar a estrutura final estudada a barras transversais, de modo a formarem uma estrutura 3D, ou seja, o produto final. No entanto, para que a realização da ponte fosse bem-sucedida, havia um regulamento onde constavam algumas directivas a serem respeitadas: a carência de comprimento e/ou o excesso de esparguete na ponte não eram per mitidos. Para que não houvesse um desacatamento às regras, a ponte tinha que ter no mínimo 60 cm de comprimento e não era permitido usarem-se mais do que 500 gramas de esparguete. Segundo os alunos, a montagem foi um processo demorado, visto que o esparguete é um material frágil, daí ser essencial

p erfeição


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s p a r g u et e

o é a prática consta

nte.”

um cuidado na preparação. O esparguete e a cola térmica foram materiais fornecidos pelo professor, de modo a facilitar o trabalho dos alunos. Ao longo da montagem, foi prestada alguma atenção nas zonas mais fracas de modo a reforçar com mais esparguete. No entanto, com base nos cálculos iniciais, essa informação já estava disponibilizada, pois ao mesmo tempo que os alunos estudavam a ponte com melhor resistência, apercebiam-se dos sítios em que a estrutura poderia apresentar sinais de debilidade. Como a resistência tinha maior peso, muitos alunos focaram-se principalmente nesse parâmetro. E alguns alunos optaram pela estrutura em curva, pois consideraram como a mais resistente. A resistência da ponte foi testada colocando-se pesos de modo a exercer força sobre a mesma. Para obter o resultado da resistência da ponte, no final foi realizada uma equação. Uma das pontes, com 250 gramas, aguentou 7500 gramas de carga, ou seja, aguentou cerca de 30 vezes mais o seu peso. Esta obra foi a que teve uma maior resistência face às outras pontes, pois foi uma das pontes mais leves (no mínimo 100 gramas mais leve do que as restantes) conseguindo, no entanto, suportar o maior peso. Concluindo, a realização da ponte foi um trabalho bem-sucedido, com o empenho e dedicação por parte dos alunos de Engenharia Civil, tanto pela obtenção dos bons resultados como pelo gosto de tiveram em realizar este projecto.


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Cigarro eletrónico TERESA DIAS Paralelamente aos cigarros convencionais emergiram no mercado mundial novos produtos de tabaco/nicotina, incluindo cachimbos de água, outros produtos de substituição de nicotina (sistemas transdérmicos, gomas e pastilhas), e mais recentemente os cigarros electrónicos. O cigarro eletrónico tem sido alvo de muita atenção e de divergência de opiniões em relação à existência ou não de potenciais riscos para a saúde dos utilizadores, e pela insuficiência de estudos que comprovem a sua segurança. Diversas entidades de saúde têm vindo a adotar uma posição sobre este produto, mas a questão revela-se muito complexa… Enquanto alguns especialistas acolhem estes dispositivos como um caminho para reduzir o tabagismo, outros consideram que podem prejudicar os esforços que têm sido realizados para desnormalizar o uso de tabaco. (OMS, 2014) O cigarro electrónico (e-cigar ou e-cigarette) foi inventado na China em 2003, e depressa se tornou conhecido. Alguns destes produtos são publicitados como um auxílio para deixar de fumar e uma alternativa mais saudável ao cigarro convencional, por ter menos substâncias e não haver combustão. Consiste num dispositivo mecânico-eletrónico desenvolvido com o objetivo de mimetizar um cigarro tradicional e o ato de fumar, que pode ser usado em ambientes fechados e espaços públicos, por não libertar fumo. É um aparelho que não arde ou usa folhas de tabaco, mas que vaporiza uma solução que o utilizador inala. Com frequência tem a forma de um cilindro metálico, pode ser descartável ou recarregável, e possui uma bateria, um cartucho (contém o líqui-

do, com ou sem nicotina) e um atomizador (contém uma resistência que aquece o líquido e o vaporiza). Os principais constituintes da solução são o polipropileno glicol, glicerina e aromatizantes (frutas, especiarias, etc.). As soluções e emissões destes dispositivos contêm outros químicos, alguns dos quais considerados tóxicos. O Infarmed (2011) e a OMS (2014) não recomendam a utilização destes produtos, por não ser possível assegurar a sua qualidade, segurança e eficácia e pela necessidade de regulamentação. Em Portugal, não existe regulamentação – legislação específica para o consumo e venda destes produtos. Esta situação poderá vir a ser alterada, uma vez que em julho de 2014, a Comissão Europeia aprovou a Diretiva n.º 2014/40/EU, que substitui a Diretiva n.º 2001/37/CE sobre produtos de tabaco, e que prevê o aumento das advertências de saúde nas embalagens, a proibição de certos aromas bem como a regulamentação dos cigarros eletrónicos. Esta Diretiva estabelece normas de qualidade e de segurança para os cigarros electrónicos e obriga os fabricantes a notificar novos produtos do tabaco antes da sua introdução no mercado da União Europeia (EU). Cada membro Europeu dispõe de dois anos para decidir como legislar nesta matéria.

Instituto de Administração da Saúde e Assuntos Sociais, IP-RAM Unidade Operacional de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Dependências

TEXTO ESCRITO AO ABRIGO DO ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990.


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ALUMNI ARMANDA MAIA

Turistas e os próprios habitantes apelidam carinhosamente a Ilha da Madeira como cantinho do céu ou o paraíso. Eu fui uma felizarda e tive a oportunidade de, em 4 anos de vida académica, conhecer e admirar esta bela ilha e as suas gentes. O meu nome é Armanda Maia e sou natural da cidade do Porto, bem do outro lado do mar. Em 2008, ingressei na Universidade da Madeira, no curso de Enfermagem, e, acreditem, a minha vida nunca mais foi a mesma. Sim, parece um exagero, mas na realidade para mim significou isso mesmo. O crescimento pessoal e profissional que senti ao longo desse percurso na Universidade da Madeira, abriram-me horizontes e fizeram-me perceber que confinar-nos ao nosso pequeno espaço, à nossa casa, à nossa vizinhança, nem sempre é a opção mais rentável por mais segurança que isso nos dê. Por vezes, sairmos do conforto e conhecermos outras culturas, outras pessoas, outras formas de ensino, enriquece-nos de tal maneira que nos faz querer não ficar por ali. Pelo menos, a mim fez! Tive, ao longo desses 4 anos, o que eu considero um bom ensino ao nível de Enfermagem. Tive também a oportunidade de participar de várias formas na vida académica e nas atividades desenvolvidas pela Academia, fui entrando não só na vida académica como na vida de muitos daqueles que me acompanharam. E daí trago comigo muitos amigos para a vida! Lembro-me também de não saber bem porquê. Hoje sei-o bem. Aprendi que as posições geográficas não fazem as instituições académicas. Aprendi que as pessoas que estão nessas instituições fazem certamente a diferença para o seu bom nome. Hoje, enquanto escrevo, encontro-me em


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Lembro-me de ser frequente perguntarem-me porquê é que uma rapariga do continente tinha ido para a ilha estudar, quando normalmente, o percurso era feito no sentido contrário!

Frankfurt e é com nostalgia que escrevo este texto. Sou mais um daqueles que, por muita vontade própria e uma considerável quantidade de obrigação, se viram forçados a emigrar para conseguirem alguma realização pessoal e profissional. Toda a experiência da Universidade da Madeira me é útil aqui, não só nas coisas banais do dia a dia (como por exemplo, lidar com a saudade), mas também a nível da formação académica. Olhando o passando, considero que foi uma excelente opção o ingresso na Universidade da Madeira e que vol-

taria a repetir… O mais engraçado, e voltando às questões geográficas, é que os alemães muitas vezes conhecem muito melhor a Ilha da Madeira do que a cidade do Porto... é só curioso! Um obrigada a todos aqueles que me fizeram crescer durante este percurso, e àqueles que eventualmente só leram este texto até ao fim e nada tiveram haver… Madeira, espero reencontrar-te em breve!


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10 Anos a Construir o Futuro CENTRO DE QUÍMICA DA MADEIRA

Criado há 10 anos, o CQM nasceu da firme vontade de um punhado de investigadores que aceitaram o desafio de criar, na Universidade da Madeira e para a Região, um centro de investigação de qualidade internacional na área da Química e Bioquímica. Desde a sua criação, o CQM é auditado regularmente por painéis de avaliação, os seus relatórios de actividades são públicos e os resultados mensuráveis através de critérios internacionalmente aceites. Os seus órgãos de governo emanam da vontade dos investigadores que constituem o Centro, sendo o seu Coordenador eleito por voto secreto dos seus membros seniores e os resultados de domínio público. Para além disso, o Centro rege-se por códigos de ética apertados, cumprindo as regras de contratação pública e as leis em vigor. O financiamento do CQM é obtido através de concursos altamente competitivos, provenientes, fundamentalmente, da FCT e de fundos europeus. Não temos lobbys, nem amigos no poder, somos o que somos apenas, e só, graças ao nosso trabalho, independentemente das equipas reitorais, das direcções da FCT ou dos governos. Graças ao trabalho efetuado nas vertentes de investigação, desenvolvimento, inovação, formação de recursos humanos, apoio e serviços às empresas, bem como na divulgação da Ciência, o CQM é, hoje, uma referência para a Região e para o País. Tendo por base a experiência e o conhecimento do pequeno grupo de investigadores doutorados que estiveram na sua génese, o CQM cedo definiu, como estratégia de desenvolvimento, uma forte

ligação às necessidades científicas e de formação para a região, sempre procurando nas parcerias e na internacionalização, a janela para o reconhecimento e para a complementaridade do trabalho produzido.

Missão e Conquistas Assentando em dois grupos de investigação interdisciplinares, Produtos Naturais e Materiais, o CQM é o elemento central da promoção e dinamização da investigação, desenvolvimento e inovação em Química e Bioquímica, na Região Autónoma da Madeira, desenvolvendo a sua actividade nas áreas da: Química Analítica, Química Alimentar, Saúde, Materiais, Modelação Molecular, Nanoquímica e Fitoquímica. A sua missão rege-se pelo interesse no desenvolvimento da formação avançada, na parceria com instituições nacionais e internacionais e na oferta de serviços à comunidade. A tarefa é exigente, mas o crescimento e a afirmação nacional e internacional do CQM são incontestáveis e impossíveis de serem ignorados. Como resultado da consolidação dos dois grupos de investigação, o CQM aumentou a sua notoriedade científica internacional. Nos 10 anos de atividade do CQM foram publicados 228 artigos com fator de impacto, num total de 345 publicações que incluem capítulos de livros, teses e outras publicações. Em 2014, estima-se que as publicações do CQM com fator de impacto representem cerca de 24% do total de artigos publicados pela Universidade da Madeira.


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O impacto na Região Autónoma da Madeira Acima de tudo, ao obtermos, na última avaliação internacional da FCT, 22,5 valores num máximo de 25, o CQM e os seus investigadores demonstraram que é possível concretizar o sonho iniciado em 2004. Por esta razão, com estratégia, determinação, e com a dose necessária de inconformismo e irreverência, apaixonados pelo trabalho e lutando por um sonho, assim continuaremos. Sempre livres, sempre prontos! Porque o que é bom para nós, é bom para a UMa e é bom para a Madeira.

O futuro A celebrar 10 anos de existência e passada a fase da criação, o CQM enfrenta agora o seu maior desafio, crescer e sustentar-se. Acreditamos que o futuro está focado no forte compromisso social que temos através da investigação e dos programas educacionais. A nossa vontade ergue-se na direção de uma qualidade cada vez mais irrepreensível, e motiva-nos os desafios que nos esperam. É

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importante aumentar a massa crítica do Centro com um maior número de investigadores seniores, e continuar o programa de internacionalização com colaborações que possam exponenciar o nosso impacto, contornando as adversidades que existam. No domínio educacional, estamos motivados para garantir um ambiente inovador, preparando os estudantes para se tornarem investigadores e empreendedores de excelência, proporcionando-lhes as melhores condições para poderem vingar no mundo empresarial e académico. Ao nível da investigação, o objetivo do nosso plano estratégico para os próximos seis anos assenta no desenvolvimento de novas abordagens analíticas para a aplicação no ramo alimentar e no controlo de qualidade, identificação precoce de biomarcadores característicos de diferentes doenças, identificação de novos compostos moleculares com potencial atividade biológica, desenvolvimento de novos nanomateriais e sensores para aplicações biomédicas, com especial relevo para as doenças emergentes (malária e dengue). Existimos para servir a comunidade, investigando, desenvolvendo a Região e o País, formando e criando emprego para o mundo e, por isso mesmo, o nosso conhecimento é para todos e está ao serviço de todos.


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Parasitas Externos e Internos em Animais de Companhia SPAD-FUNCHAL

As infestações por parasitas são, contrariamente ao que muitas pessoas pensam, muito comuns em cães e gatos e em particular nos cachorros e gatinhos. A prevenção é a melhor solução para o animal e seus donos, uma vez que muitos parasitas podem dar origem a muitas patologias e até mesmo levar à morte. Algumas destas patologias são designadas de zoonoses, isto é, podem ser transmitidas aos humanos. Cães e gatos podem ser infestados com diferentes tipos de parasitas, mas essencialmente existem dois tipos de vermes: vermes de corpo redondo (nemátodes), conhecidos como “lombrigas” e vermes de corpo achatado (céstodes), conhecidos como ténias. Ascarídeos são os nemátodes mais comuns em gatos. Uma infestação massiva provoca no animal um aumento do abdómen, diarreias, vómitos e atraso de crescimento e pode inclusive conduzir à morte do animal por obstrução intestinal. Além das medidas normais de higiene das pessoas e do meio ambiente deverá proceder ao tratamento (desparasitação interna) regular dos animais de forma preventiva (3 em 3 meses). Os cachorros e os gatinhos devem iniciar a desparasitação interna aos 15 dias de idade. Os parasitas externos são aqueles que vivem na pele ou no pêlo do seu cão ou gato. Estes não só podem causar irritação mas também algumas doenças, não só para o animal como também para as pessoas que com ele convivem. Para a prevenção existe no mercado uma panóplia de produtos desde os mais comuns “pipetas” e coleiras, até comprimidos palatáveis com duração de 3 meses de prevenção.


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Toponímia do Funchal: Largo do Chafariz

NELSON VERÍSSIMO O largo do Chafariz, nas imediações da Sé do Funchal, é ladeado pelas ruas do Aljube e dos Ferreiros. Ali confluem também a rua do Estanco Velho e o beco de São Sebastião. Foi anteriormente conhecido por largo de São Sebastião e largo do Comércio. O nome primitivo provém da capela de São Sebastião, ali edificada no século XV. Refira-se que, em 1523, São Sebastião e São Roque foram eleitos segundos protetores do Funchal contra a peste, tendo o Senado da Câmara e o Cabido a obrigação de celebrar as respetivas festas com solenidade. Assim, a 20 de janeiro de cada ano, o Cabido, acompanhado da edilidade e do povo, dirigia-se em procissão à capela do Santo Mártir e aqui se cantava missa com sermão. Por ordem do governador D. José Manuel da Câmara, a capela de São Sebastião foi demolida em janeiro de 1803, conjuntamente com duas casas contíguas, para dar lugar à construção de um mercado. Esta atitude suscitou o protesto do prelado funchalense e a indignação popular. Em 1821, na sequência da aclamação no Fun-

chal da Revolução Liberal, verificou-se a tentativa de reedificação da antiga capela, com prejuízo das barracas do mercado. Mas o pardieiro, então levantado, veio a ser arrasado por determinação da Câmara, de 1826, tendo o município construído, de seguida, o chafariz que lhe deu a denominação atual, com reutilização de peças do fontanário do Jardim Pequeno. De início, o mercado que, neste largo se realizava, era, essencialmente, destinado aos produtos hortícolas. No Natal, a animação era grande e vendia-se a verdura para ornamentar as lapinhas e as casas. Alberto Artur Sarmento (1878-1953), deixou-nos, em Das Artes e da História da Madeira, singular testemunho do Largo do Chafariz na véspera da Festa, dos seus tempos de estudante: “O largo de S. Sebastião era calçado aos retângulos contornados a pedrinhas brancas, com números ao centro, parecendo o pano duma mesa de roleta. Explorava então a Senhora Câmbra (Municipal) por esse tempo, uma renda assessória, pelo Natal, para venda ao ar livre: lá estavam galinhas e frangos de pés atados, estendidos num tabuleiro,


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de paliçada, abrindo o bico com sede e lá mesmo o chafariz a brotar água contínua pelas beiçudas carrancas; acocoradas velhas vendiam ovos; arcas continham pano de linho da terra; enormes chapéus-de-sol, de cobertura azul, ensombravam verduras borrifadas, para não emurchecer; vilões, com barretes de orelhas, ofereciam à venda bordões, réstias de alhos, cabos de cebolas, rosários de pimentas, da terra, bicudas. Ó couves, ó nabos! maunças de agriões, violetas e junquilhos aos raminhos odorantes… Alinhados renques de bota chã, feita de pele de cabra, com ourelo vermelho, era esta acertada na

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escadaria do largo […]” (II: 9, 1951, p. 2) Nos anos vinte do século passado, no largo do Chafariz vendia-se apenas calçado característico da ilha, fabricado principalmente em Câmara de Lobos. Alguns postais ilustram esse tempo de “mercado das botas” de um largo que hoje se apresenta como simples zona pedonal.

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JARDINISMO,

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anos na cadeira do poder


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“Sonhou com um futuro próspero e sustentável para a terra que o viu nascer. Esse sonho realizou-se, mas trouxe consigo consequências danosas para a economia da Região e para a vida da população.”

MIGUEL ANDRADE Alberto João Jardim foi e continua a ser uma das personalidades mais marcantes da Madeira. Durante os 40 anos do Jardinismo, foram muitas as polémicas que rodearam o Presidente do Governo Regional que agora cessa funções e que foi o grande responsável pelo desenvolvimento do Arquipélago. Jardim licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. Concluído o seu estágio profissional e iniciou a sua carreira na Função Pública como Director do Centro de Formação Profissional da Madeira. Esteve ligado ao jornalismo fora da Madeira, inclusive nas comunidades portuguesas internacionais. Na política, foi co-fundador do PSD-Madeira, Vice-Presidente do Partido Popular Europeu e, claro, Presidente do Governo Regional da Madeira desde 1978. Após o 25 de abril, foi um dos grandes defensores da autonomia política do Arquipélago, com direito a eleger órgão legislativo e executivo próprios. Já na chefia do Governo Regional, impulsionou uma grande reforma na região, apostando, sobretudo, na construção de novas infraestruturas e melhoramento das antigas por todo o terri-

tório. Sonhou com um futuro próspero e sustentável para a terra que o viu nascer. Esse sonho realizou-se, mas trouxe consigo consequências danosas para a economia da Região e para a vida da população. Independentemente da importância atribuída à sua obra, o retorno conseguido pesado no investimento feito levou a um estado periclitante das contas públicas da Madeira, com obras inacabadas ou degradadas por falta de verbas para a sua manutenção. Com o tempo surge uma imagem pública algo desgastada de líder populista e gastador de opiniões controversas, ditas de forma por vezes grosseira. Com um eleitorado de exigências diferentes das do passado, estas características que lhe valeram grande popularidade no passado, mais que prejudicam a sua imagem actual, que beneficiam. À semelhança do seu próprio comportamento, Alberto João Jardim incita, ainda hoje, paixões antagónicas, mesmo dentro do partido que liderou durante décadas. É discutível o valor da sua obra, mas indiscutível é, e sempre será, a sua marca na Madeira.


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NUTRIÇÃO

Nutrição e Memória BRUNO SOUSA

A nutrição desempenha um papel importante na função cerebral, sendo o fornecedor por excelência da energia ao cérebro, a glicose. Por tal, longos períodos de jejum diminuem a atividade cerebral. Assim, os hidratos de carbono complexos (pão, massa, batata, etc.) são absorvidos lentamente, fornecendo a energia de forma regular, importantes para uma boa função mental, o que não acontece com os simples (produtos açucarados) que são absorvidos rapidamente, sem fornecer a energia de forma constante ao cérebro. Contudo, outros nutrientes são também essenciais. O ómega 3, presente por exemplo no peixe e nas nozes, é conhecido por melhorar a memória em adultos jovens e saudáveis. O aminoácido triptofano, encontrado no leite, carnes magras e nozes, tem uma marcante atuação na performance cerebral. As vitaminas do complexo B, por participarem na regulação das sinapses entre os neurónios, são igualmente fundamentais. Sabemos, ainda, que a colina participa na construção da membrana de novas células cerebrais e na reparação daquelas já lesadas. A acetilcolina é um neurotransmissor fundamental para as funções de memorização. Uns bons fornecedores destes nutrientes são as sementes, os grãos e a gema de ovo. Minerais como ferro, selénio, zinco e fósforo participam em inúmeras trocas elétricas e mantêm o cérebro ativo. Podemos encontrá-los em todas as sementes e grãos, iogurtes, em raízes e em vegetais de folha verde escura. Por fim, salientar que, a cafeína é um grande estimulante do sistema nervoso central. Tem efeitos positivos, como o aumento da disposição física e diminuição do sono, mas em excesso, pode causar danos na memória.

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“março… mês da Floresta” O Solo e a Floresta

“…um centímetro de solo pode levar milhares de anos para ser formado e este mesmo centímetro pode ser destruído em somente alguns minutos por uma degradação devido ao uso incorreto”.

DIREÇÃO REGIONAL DE FLORESTAS E CONSERVAÇÃO DA NATUREZA

A Direção Regional das Florestas e Conservação da Natureza tem no programa de atividades de sensibilização ambiental, uma campanha designada “Meses temáticos”, pretendendo desta forma promover, divulgar e sensibilizar para alguns temas e datas comemorativas relacionados com a Floresta de um modo generalizado e especificamente elementos/fatores que constituem ou influenciam este ecossistema ou ainda as profissões que se relacionam com a utilização multifuncional da Floresta. Neste âmbito, o mês de março é por excelência o mês da celebração da Floresta pois existem diversas datas comemorativas que destacam a im-

portância do ecossistema Florestal a nível internacional, nacional, regional e local. Destacam-se 8 de março o Dia do Corpo de Polícia Florestal da RAM (que, em 2015 comemora 102 anos de proteção na Madeira); 21 de março, o Dia Internacional das Florestas; e 22 de março, o Dia Mundial da Água. Ao longo deste mês na RAM, com a dinamização de diversas atividades, de uma forma coordenada e articulada pretende-se dar relevância à Floresta, transmitindo à população em geral que é necessário um trabalho contínuo em prol da causa florestal, da proteção, da preservação e da conservação de todos os elementos que constituem uma Floresta desde o litoral até ao maciço montanhoso. Ao longo dos anos, a DRFCN tem emitido, no âmbito das comemorações do Dia Internacional das Florestas, uma publicação em formato de car-


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taz destacando as diversas espécies indígenas e endémicas divulgando, assim, as espécies da Floresta Natural da Madeira, ou relacionando-as com os Anos Internacionais (como o da Biodiversidade em 2010, o das Florestas em 2011 e em 2015 o Ano Internacional dos Solos). Assim, em 2015, será destacado o Solo, elemento da Floresta com um papel essencial para a existência de vida, em todo o Planeta Terra. A ONU declarou 2015 como o ano para celebrar a importância do solo como um componente sensível dos ecossistemas, a RAM junta-se a esta celebração realçando a importância para a preservação deste recurso que contribui para a qualidade de vida. O Solo é um recurso natural finito e não renovável numa escala humana e ano após ano verifica-se a degradação dos recursos do solo. A de-

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gradação dos solos tem um impacto negativo em muitas das suas funções como na produção de alimentos e na prestação de serviços ecossistemicos como entre outros a desflorestação - resultando assim solos pobres e com uma alta vulnerabilidade à degradação. Impõe-se a pergunta: O que fazer para travar esta degradação dos solos? Tal como em outras situações é necessário primeiramente conhecer o Solo, a constituição, as propriedades, a estrutura, a diversidade, a origem, os fatores que influenciam a sua formação - um desafio para os próximos anos.

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Regime Jurídico das Garantias de Bens de Consumo SERVIÇO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Com vista a contribuir para o reforço dos direitos dos consumidores, foram estabelecidas regras que disciplinam o regime das garantias dos bens de consumo -Decreto-lei n.º 67/2003, de 8 de Abril. Este regime é aplicável aos contratos celebrados entre profissionais e consumidores (consumidor é “todo aquele a quem sejam fornecidos bens, prestados serviços ou transmitidos quaisquer direitos, destinados a uso não profissional, por pessoa que exerça com carácter profissional uma actividade económica que vise a obtenção de benefícios”. Não se aplica às relações entre profissionais ou entre particulares. O vendedor deve entregar ao consumidor bens conformes com o contrato de compra e venda. Os bens não são conformes, por exemplo, quando: · Não são adequados ao uso específico para o qual o consumidor os destine e do qual tenha informado o vendedor quando celebrou o contrato e que o mesmo tenha aceitado (ex.: telemóvel adquirido para ter acesso a MMS não permite o acesso a esse serviço); · Não apresentam as qualidades e o desempenho habituais nos bens do mesmo tipo e que o consumidor pode razoavelmente esperar, atendendo à natureza do bem e, eventualmente, às declarações públicas feitas pelo vendedor, pelo produtor ou pelo seu representante, nomeadamente na publicidade ou na rotulagem. (ex.: bateria do computador tem uma duração muito inferior à publicitada).

Equipara-se à falta de conformidade a resultante de má instalação do bem de consumo, quando a instalação fizer parte do contrato de compra e venda e tiver sido efectuada pelo vendedor, ou sob sua responsabilidade, ou quando o produto, que se prevê que seja instalado pelo consumidor, for instalado pelo próprio e a má instalação se dever a incorrecções existentes nas instruções de montagem. O consumidor não pode reclamar quando: · conhecer a falta de conformidade; · não puder razoavelmente ignorar o defeito ou vício; · decorrer dos materiais fornecidos pelo consumidor; · o defeito resultar de mau uso. Direitos do Consumidor · Direito à reparação ou substituição – medidas realizadas dentro de um prazo razoável (no caso de bens móveis, tem o prazo máximo de 30 dias) e sem grave inconveniente para o consumidor. · Direito à redução adequada do preço ou resolução do contrato. O Consumidor pode optar por qualquer um deles, salvo se tal for impossível ou constituir abuso do direito. Prazos de Garantia · Bem móvel: 2 anos. Se for bem usado, a garantia pode ser reduzida para um ano por acordo entre as partes. · Bem imóvel: 5 anos Havendo substituição do bem, o bem sucedâneo goza de nova garantia.


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CONSELHOS · Conserve as facturas, os recibos e as garantias durante o respectivo período. · Se se verificar alguma infracção a este diploma, deve denuncia-la à Inspecção Regional das Actividades Económicas.

· Em caso de conflito de consumo ou de pretender obter mais informações, recorra ao Gabinete de Atendimento do Serviço de Defesa do Consumidor (Loja do Cidadão, Balcão n.º 14).


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Dia Nacional do Estudante CARLOS DIOGO PEREIRA “Melhor Ensino, Menos Polícias. Menos espingardas, quartéis, repressão.” Isto exigiam os estudantes universitários no princípio de Março de 1962. Meses antes Santos Júnior, Ministro do Interior, havia ameaçado as AE’s com a PIDE em caso de insurreição. Entre 3 e 4 de Fevereiro, na Associação de Económicas de Lisboa criou-se o Secretariado Nacional para representar os universitários portugueses e marcou-se o I Encontro Nacional, em Coimbra. A 28 de Fevereiro o Via Latina anunciou o programa do Encontro, entre 9 e 11 de Março, mas o movimento foi proibido, a 2 de Março, por notificação da Direcção da Académica de Coimbra pelo Comando da PSP. A Direcção chegou a pedir uma audiência a Lopes de Almeida, Ministro da Educação, seguindo para Lisboa para juntar-se à Reuniões-Inter-Associações, face à gravidade da situação. O Ministro recusou a audiência e a reunião foi tensa e cheia de ameaças. A 9 de Março, Lisboa e Coimbra viram a polícia a barrar autocarros cheios de estudantes que se deslocavam ao I Encontro Nacional. A contenda foi particularmente forte em Coimbra e a Crise teve início, com as autoridades a encerrarem a sede da Académica de Coimbra. Nos meses seguintes, vários estudantes foram expulsos das universidades e outros tantos acabarem encarcerados. Que estudante hoje faria este tipo de sacrifício por um bem maior? Algo se perdeu com o tempo…


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Pelos corredores da cidadania… No âmbito do Simpósio PROMOVER A CIDADANIA PARA UMA CULTURA PROATIVA NA SAÚDE, promovido pelo Centro de Competências de Tecnologias da Saúde da UMa surge o artigo

JOÃO ESTANQUEIRO

O conceito de cidadão, apesar de ter sido inscrito na matriz da cultura ocidental há mais de 15 séculos, por ação dos atenienses e como marca de exclusão (minoria com direitos), apenas passou para os textos constitucionais liberais a partir da Declaração do Direitos do Homem e do Cidadão de França, em 1789. Apesar do cidadão ter ficado consagrado na lei como o porta-estandarte ativo da soberania das nações, em substituição do súbdito passivo e servil, quanto caminho ainda houve que percorrer, quantas barreiras tiveram de ser transpostas para que a cidadania passasse do papel para o pêlo da nossa existência! Em 1948 a Assembleia-geral das Nações Unidas ao aprovar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que afirma: – “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”-, consagrou, formalmente, o conceito fundamental de cidadania inclusiva, ou seja, o conceito de uma cidadania universal, da cidadania enquanto per-

tença à humanidade. Alarga-se o conceito de pertença a uma comunidade, para a multiplicidade de pertenças – toda a humanidade, (Martins: 2000). Falta vivenciar, falta a substância, o que remanesce em retórica… E veio o 25 de Abril de 1974 e com ele a Liberdade e a Democracia. E a democracia precisa de cidadãos ativos, informados e responsáveis para assumirem o seu papel na comunidade, o de contribuírem para o processo político. Perante a diversidade e complexidade das sociedades do nosso tempo a experiência de vida não chega para formar o cidadão. É preciso uma educação integral, inclusiva e ao longo da vida Preparar as novas gerações para uma intervenção mais ativa e responsável na sociedade civil, implica ajudá-las a viver uma cidadania no espaço escolar, tarefa que não pode dispensar uma estratégia global de educação para a cidadania. Aceder aos princípios de organização política da sociedade, constitui também um conteúdo


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inseparável da literacia política. Esta cultura só ganhará sen¬tido se for impregnada por uma pedagogia do senti¬mento de identidade e pertença comunitária, sedimentada em práticas pedagógicas que propiciem o debate, o confronto de ideias, a participação ativa dos alunos no ato de aprender, tão necessárias para o desenvolvimento da autonomia da criança e do jovem. Como sublinha Pedro d’Orey da Cunha (1994), “uma participação mais activa na comunidade deve afastar os mais jovens do conformismo do papel aniquilador da mudança, bem como da atitude cínica de perpétuo observador da realidade”. Tal como nos campos da saúde em que a vontade do paciente é decisiva para a sua recuperação ou no campo da economia em que o adulto é ator do ato produtivo, não é concebível que o aluno, a quem se destina o ato educativo, seja um mero objeto passivo dos conteúdos, práticas da aprendizagem e vida na escola. São necessárias, como nos diz Estêvão (2004), “formas mais densas e subs-

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tantivas de justiça organizacional e de participação que reconheça o actor educativo como cidadão pleno da escola e autor com direitos.” Cunha, P. (1994), “A Formação moral no ensino público (evolução de uma ideia)”, in Brotéria, n.º 138, págs. 59-80. Martins, G. (2000), “Cidadania, Educação e Defesa” in Nação e Defesa, n.º 93, 2.ª série, Instituto de Defesa Nacional, pp. 15-24. Rowe, D. (1993), “Citizenship education in secondary education”, in Relatório do 60.º seminário do Conselho da Europa para professores, Strasbourg: Council for Cultural Cooperation. Estêvão C. (2004). Educação, Justiça e Democracia. São Paulo: Cortez Editora.


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PENSAR

A UMa sem SPAM! A Universidade conseguiu implementar um sistema de correio electrónico eficaz, moderno e adequado às necessidades da comunidade. Nem tudo está perdido e a reitoria já pode riscar essa tarefa da sua lista, juntando a outras que têm sido feitas. Mas a lista continua, como é normal. O portal da Universidade continua desadequado (já reparou na barra de rolagem inferior que ruma para o infinito e mais além?) e o sistema de correio electrónico precisa de uma melhor gestão no envio de mensagens institucionais. Agora temos um Ferrari que corre o risco de não sair da garagem para funcionar. Afinal, pode não ser culpa da Elizete Pereira, injustamente classificada como spamer, as mensagens que entopem a nossa caixa e que retiram qualquer interesse na leitura dos conteúdos que importam.


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é abreviatura da expressão latina et alii (“e outros”). Os alii são com frequência aqueles que não se nomeiam, que não se identificam, que não deixam memória da sua vida. Os outros são aqueles que não aparecem, que se remetem a um silêncio social e cultural que oblitera a sua identidade. Et al. será certamente um indicador do que a academia tem de mais precioso: a busca do conhecimento, da compreensão, da mudança, busca que resulta inevitavelmente em inclusão e tolerância.


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