APOIAR 100 Limites, 2019

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APOIAR 100 LIMITES PROJECTO DE VOLUNTARIADO INTERNACIONAL

Diรกrio de Missรฃo


14 de Agosto de 2019 - Dia 1 Não sei em que medida é que digo isto por ter sido o nosso primeiro dia mas foi absolutamente especial. Hoje acordámos e a seguir ao pequeno almoço foi altura para deitar as mãos à obra e carregarmos mais de 800 mochilas Esperança. Num período em que mal conhecíamos as crianças da Fundação foram elas as primeiras a darem-se e a oferecerem-se para ajudar. As 800 mochilas nem pareceram assim tanto. Foi no final dessa primeira tarefa que os conhecemos. Não faltou coragem de nenhum dos lados e o primeiro contacto não podia ter sido melhor já que foi perfeito. Jogámos, brincámos, falámos, dançámos e a única dúvida que ficou foi quem se teria divertido mais, nós ou as crianças. Feitas as apresentações foi hora de irmos almoçar! O Luís fez-nos um maravilhoso arroz de feijão e quando acabámos de almoçar fomos recebidos pela equipa quase completa da LVIDA que se apresentou e nos levou aos cantos e recantos da Fundação. As crianças seguiram-nos e o que era suposto ser um trilho simples tornou-se mais importante que a própria visita à fundação. A nossa viagem pela fundação foi inacreditável! Quando voltámos aproveitámos para queimar os últimos cartuxos do dia com as crianças, uns jogos, outras danças, perfeito. Uma jogatana de futebol com os moçambicanos da nossa idade e está feito, uma grande primeira impressão, um bom dia e um país ainda melhor.

Tomás Chagas


15 de Agosto de 2019 - Dia 2 Hoje foi dia de acordar cedo Mas isso não nos meteu medo As seis e meia já estávamos de pé E mais tarde com o Tio Sebastião Começamos a carregar mochilas com Fé Foi o homem do camião Que nos levou até aos bairros Ouvimos falar de régulos e secretários Mas a população é que estava em peso Eles não eram poucos nem vários Mas sim, mulheres e homens indefesos Que estavam esfomeados Queriam apenas uma mochila E por isso formaram uma fila Quando chegamos ao bairro de nhamaynga Já estava tudo a suar Portanto com o nariz em pinga Começamos a trabalhar Percebemos que este já era diferente Pois havia uma grade entre eles e nós Todos gritavam para ficar a frente Pois percebiam que não estavam sós Havia centenas de pessoas que esperavam E por uma mochila gritavam Mais logo, já na hora de almoçar

Voltamos, pois estava tudo a esfomear Depois de uma bela sopa, era altura De trabalhar e ou descansar Por isso após muita brincadeira Mete-mo-nos no chapa para guiar Não até à beira Mas sim até ao dondo Conhecemos, descansamos e Txillamos Foi uma maravilha Até que andamos mais uma milha Para o Senhor Mota conhecer Uma cerveja beber E umas batatas comer. Foi tudo perfeito, Por isso voltamos para o nosso leito No chapa com o Primo Eugénio a cantar Desde a menina da ribeira do Sado Ao wimoweh do Rei Leão Já só faltava um fado Para completar este serão. Hoje a reportagem foi em poema Para este mês que mais parece uma vida Pois nós temos um lema: É MARGARRIIDA António Varela Cid


16 de Agosto de 2019 - Dia 3 Hoje falo de cada voluntário, porque foi hoje que acordei mais cansada mas muito mais tranquila... Já sei onde estou e com quem estou! Ao longo do dia estivemos presentes no momento que as mães mais ansiavam.... “ o dia do presente”. Hoje, ao representarmos as familias portuguesas na entrega das babyboxs ás mães do MAYI, os voluntários puseram a render os seus dons com tanta alegria! O Miguel é a base e segurança do grupo; O Lucena “faz sem ter que dizer que fez” mostrando humildade; O Condado tem sempre o “sim” presente, mostra-se sempre disponível; O Pedro não perde tempo a ajudar, até acorda mais cedo; O Cid, transbordando alegria, toma atenção a cada miudo, deixando sempre a sua marca; O Chagas vê bondade e beleza em cada situação, de uma maneira tão simples; O Zé, com a sua determinação, sabe como proteger o grupo; O Melo encontra sempre maneira de tranquilizar as pessoas à sua volta; A Binha transmite sempre uma alegria contagiante a todos os que a rodeiam; A Vaz Guedes transmite uma paz naquilo que dá ao outro, sendo sensivel a cada criança que passa por ela; A Sophie, com a sua criatividade, está sempre de portas abertas para aprender e ensinar tudo o que sabe; A Mar, com a experiencia que já teve em Moçambique, transmite de uma maneira simples sempre esperança aos mais pequenos; A Margarida sensibiliza-se com a dor do outro, passando sempre aos miúdos como é bom ser se otimista; O Gonçalo, com a sua paciência e calma, nao hesita em estar presente em cada momento.


Como é que é possivel, com este grupo, de não se perguntar: “Porque é que demorámos tanto tempo a vir conhecer o sitio onde tudo é simples?”. Em vez de “o que nos leva a um pais de terceiro mundo, onde tudo é diferente?”

Teresinha Cunha


19 de Agosto de 2019 - Dia 6 Ouvi dizer que existe um paraíso na terra! E é verdade! Existe um paraíso na terra, é este mesmo onde nós estamos! Sorte a nossa, 15 amigos aterrámos há 6 dias num paraiso chamado Moçambique! Um verdadeiro paraÍso, sabiam?? Vou-vos contar! Paraíso que tem um cheiro igual ao cheiro da alegria, paraiso qe tem uma cor igual à cor da esperança, paraíso que tem um barulho igual ao barulho da simplicidade!! Que paraíso este!! Já passados alguns dias aqui, cá estamos nós na segunda semana! Depois de um belo fim de semana, onde deu para descansar e ganhar forças para a semana que aí vinha! No sábado lá fomos nós, os 15 dentro de um chapa, com o Teles a guiar, até à Beira com o primeiro destino de almoçar um belo caranguejo, com direito a uma ida ao bar da Solange beber um café, uma cerveja e descansar um bocadinho!! Domingo acordámos cedo para conseguirmos ir à missa às 9h30, saímos da fundação todos a pé e fomos até à igreja do Dondo, pelas ruas moçambicanas lá fomos nós até esta missa incrível onde fomos espetacularmente bem recebidos! Acabamos o nosso domingo com uma bela tarde de descanso! Hoje é segunda feira e começamos o nosso dia as 7h30 da manhã com uma viagem espetacular de chapa até Nhampuepue, um bairro no meio do nada, de pobreza absoluta e de alegria absoluta também, lá fomos nós a ouvir musica, tudo a cantar e a dançar mas não nos escapava o espreitar pelas janelas do chapa e comentar tudo o que se passava à nossa volta, ver tudo o que o ciclone destruiu, imaginar como foram esses dias de desespero, o passar entre a comunidade moçambicana, que é muito pouca naquele bairro, onde a maior parte transporta troncos grandes de árvores nas suas bicicletas, a cada pessoa a quem dizíamos “Bom dia!” o sorriso era maior! As crianças saltavam de alegria com os braços no ar! Mas saltavam mesmo! Lindo de se ver e ainda melhor e mais espectacular de se sentir, sentir o que sentimos no nosso coração!!


Chegamos a Nhampuepue e pusemos as mãos à obra! Aqui estamos a ajudar a comunidade a fazer a reconstrução do bairro, construção de casas mais fortes qe com o ciclone Idai caíram todas.. Mas todas mesmo.. o que vimos à nossa volta são casas feitas de matope com canas de bambu que as famílias conseguiram construir depois do ciclone porque tinham de se abrigar e proteger a sua família, lindo de morrer ver esta açãoreação deles, ver a força que este povo tem em se levantar e reagir!! Mas muitas delas nem matope teem, tem uma simples palhota a fazer sombra.. Impressionante olhar a nossa volta e ver a influência que o ciclone teve não só nas casas mas também Neles, nas crianças, nas mãmãs, nos pais de família.. nas pessoas q ficaram sozinhas porque perderam a família toda... Entre crianças e mais crianças que seguiam cada passo q dávamos a cantar, lá estávamos nós e os trabalhadores moçambicanos de um lado para o outro a fazer o nosso trabalho! Com intervalos para beber água e comer uma bolacha, enquanto construíamos tijolos e os transportávamos, fazíamos “saibru” como eles dizem aqui, que é a terra que se usa para juntar ao cimento, e construíamos mais uma casa deste projeto da APOIAR, lá se passou a nossa manhã neste sítio espetacular! De volta ao Dondo, à fundação, numa viagem de chapa que parecia mais um dormitório, todos encostados uns aos outros! Até o Luis, que é o cozinheiro da fundação, q nos foi ajudar, adormeceu! Almoçámos e passámos mais uma tarde invejável neste paraíso com as crianças daqui! Entre jogos de futebol, ataques de cócegas, fazer pulseiras com as folhas de palmeira, desenhos e garagalhadas, nesta tarde consegui ver a grande alegria no cansaço!! Senti e consegui ver o valor que eles nos dão, a alegria com que eles ficam só de estarmos ali ao lado deles. Quando hoje recebo uma carta na minha mão a dizer “Bom dia Fundação! Muito obrigada por ajudar o meu filho Itor”, ficamos de coração ainda mais cheio!! É a isto que chamo um verdadeiro paraíso! Um ganda sonho de vida, por isso vamos continuar a dizer Eh Margarida!!! Binha Bastos


20 de Agosto de 2019 - Dia 7 Hoje madrugámos, ás 7 da manhã já estávamos todos acordados de pequeno almoço tomado, prontos para mais um dia de trabalho. Embarcámos num chapa, 15 pessoas a chocalhar uns contra os outros durante 40 min, numa autêntica montanha russa. O caminho é incrível, por onde andamos vemos de tudo-homens e miúdos de bicicleta a carregar troncos de madeira e embrulhos de carvão, mulheres a tratar da casa com os filhos às costas, miúdos a correr e a brincar, ninguém diria que ainda são 7:30 da manhã. Ao longo da estrada todos os olhares estranham este chapa cheio de «mosungos» de coletes amarelos. Retribuimos com um adeus que de imediato lhes muda a expressão e lhes abre os sorrisos de orelha a orelha -nada melhor para começar o dia! Chegámos ao bairro e por entre as ruas de nhampuepue vêem-se juntar à carrinha miúdos que surgem de todos os lados a rir e a acenar sem parar, com os olhos a brilhar, fixos em tudo o que fazemos. Pomos mãos a obra e abraçamos o que temos para fazer.Uns vão tirar « saibru » de dentro do buraco, outros vão fazer «duches» e outros vão levantar paredes. Mas a melhor parte é estarmos a trabalhar com a comunidade, é espetacular a atitude que eles têm diante do que aconteceu, não baixam os braços e arregaçam as mangas, têm uma paciência inesgotável para nos explicar tudo o que sabem. Acabámos o trabalho e voltámos para o chapa para mais uma viagem atribulada. À carrinha vem-se juntar mais uma vez um grupo a correr sem parar, sem querer largar. Quanta vida e quanta alegria! Ao chegar à fundação somos recebidos por um monte de crianças, saltam para os nossos colos, pedem abraços e beijinhos e nós, a cair para o lado de cansaço, parece que renascemos. E por entre jogos, descanso e convívios chega a noite. E acabámos mais um dia com o coração cheio e com a sensação de missão cumprida podendo gritar: Hey Margarida! Margarida


21 de Agosto de 2019 - Dia 8 As fotografias chocam, a realidade transforma! Somos 15, os voluntários transformados. 15 jovens que abdicaram da segurança do silêncio e do conforto da rotina para fazer mudar o mundo! Hoje, mais uma vez, respirámos o que Moçambique nos tem para dar. Reconstruindo e ensinando, aprendemos a viver. Testemunhos de vida tocam cada um de nós. Amizades são criadas e conhecimentos adquiridos. O significado de Vida e da palavra viver, é traduzido por cada homem e criança que nos passam pelas mãos. Aqui são felizes. A necessidade de querer viver e não sobreviver, reflete se nas obras por cada um erguidas. É na reconstrução que encontramos e, acho que falo por todos, um modo de amar. Neste dia, pintámos, construímos, e suámos, também nós fomos felizes. Por mais cansados que possamos estar, a força e alegria que brota da cara de cada um, faz transparecer um ar jovem e disponível a todos os que nos rodeiam. Digo-vos, que dia espetacular, não há melhor forma de o acabar do que com “ Eh Margarida “.

Miguel da Cunha


22 de Agosto de 2019 - Dia 9 Numa manhã que de rotina tem pouco, após matabichar ( tomar o pequeno almoço dito num dialeto local) embarcamos no chapa a caminho da obra. Apesar da estrada esburacada e dos lugares apertados,o caminho faz-se bem com grande alegria por parte de nós os vuntários. Ainda que seja demorada dá nos tempo para prepararmos e organizar-monos para o dia que temos pela frente, sem nunca faltar uma música de fundo. Chegados a Nhampuepue, cada grupo assume o seu posto, uns pintam, outros constroem e ainda há um grupo que recolhe materia prima para os tijolos serem feitos. Hoje foi o meu dia de construir, tal como ontem, juntamente com o voluntário Chagas e o mestre Meque, que é um local da Beira. Ontem Enquanto construímos íamos aprendendo mais sobre a vida de Meque, descobrimos que tinha uma mulher e dois filhos tendo abdicado do seu sonho de concluir os estudos, para conseguir sustentar a sua família. Os rendimentos não são muitos mas sim quase suficientes, isto porque Meque acabou por nos dizer que não toma o pequeno almoço e que apenas vai para casa ter com os familiares aos fins de semana porque “não há condições”. Hoje após algumas horas de trabalho vejo Meque a falar com uma menina dos bolos, que eu assumi como sua conhecida, e ofereceu um bolo a nós e a mais 5 crianças e não é que eu sou apanhado completamente desprevenido quando descubro que ele não só não a conhecia como ainda teve que pagar a conta. Foi com este ato que eu me apercebi da grande generosidade e hospitalidade deste povo que está sempre alegre apesar de todas as razões que têm para não estarem. No caminho para casa reflito, atento à paisagem, aos cheiros e a pensar no ato de Meque e chego à conclusão que é nesta terra que me sinto em casa e é aqui que um dia serei feliz. E é com esta alegria que me junto ao resto do grupo e dizemos “Eh Margarriida”. Gonçalo Monjardino


23 de Agosto de 2019 - Dia 10 É incrível a alegria deste povo, hoje no caminho para nhampuepue decidi fazer figura de criança e pus me a janela do chapa a dizer olá a todas as pessoas por quem passávamos, e foi inacreditável a reação de cada um dos moçambicanos, cada um deles me olhou de uma forma espetacular com um sorriso na cara, sorrisos que me deixaram espantado, que mesmo depois de um desastre a menos de 5 meses continuam com um sorriso para dar a quem lhes diga um simples olá, sorrisos totalmente genuínos! Depois de uma semana entre a população de nhampuepue, é espetacular o à vontade que já se instalou entre nós voluntários e os moçambicanos, as crianças a correr de um lado para o outro atrás de um simples musungo, que ao olharmos nos dão uma força maior para trabalharmos e nos deixam de coração cheio. A alegria com que eles nos veem a trabalhar explica o que este povo realmente precisa do nosso apoio e do nosso carinho! Já há duas semanas neste paraíso, que cada vez mais podemos de chamar casa, duas semanas de trabalho e diversão, duas semanas de 15 voluntários a viver juntos num mês cheio de vida e alegria, onde nos vamos conhecendo e afeiçoando, não deixando de parte as turras entre todos mas que no final do dia nos podemos juntar todos e gritar Eh Margarida!!

Salvador Condado


24 e 25 de Agosto de 2019 - Dias 11 e 12 Calhou me a mim a sorte de relatar uma experiência completamente diferente dos dias anteriores. Depois de vermos com os nossos olhos como os moçambicanos reagiram de forma espetacular as calamidades que lhes aconteceram (uma lição de vida) passamos um fim de semana na Gorongosa onde é difícil descrever tudo o que vimos. A viagem até lá dava para escrever um livro de ação: desde o desconforto do chapa, aos quilómetros que andávamos em sentido contrário para fugir ao trânsito dos camiões. Finalmente chegámos e a seguir a um mergulho na piscina fomos para o primeiro Safari. Foi aí que nos enfiamos todos num Jeep enorme de 15 lugares e começamos logo por ver vários antílopes e javalis. Passados uns minutos conseguimos nos aproximar de um elefante que ainda começou a marchar para cima de nós! Foi uma tarde espetacular onde ainda vimos leões e tivemos direito a um por do sol inacreditável no meio da savana (com perigo de sermos atacados por leões). Na manhã seguinte, lá estávamos nós outra vez, agora a ver um elefante a derrubar uma árvore. Antes de irmos embora ainda tomamos um café com vista para um lago cheio de crocodilos e hipopótamos. A experiência que temos tido neste país é incrível, ensina-nos a dar valor ao conforto das coisas mais simples: ter uma cama para dormir, água corrente, a piscina e tudo mais. A conclusão destes dias diferentes talvez seja simples: depois duma experiência humana dos dias anteriores que nos faz sentir pequenos e humildes, o fim de semana na gorongosa lembrou nos a nossa pequenez face à riqueza da criação. Sempre a aprender, estes 15 meninos da cidade vão sair daqui diferentes, para melhor. Agora estamos prontos para mais uma semana de trabalho nas obras e para dizer: eh Margarida!

Salvador Lucena


26 de Agosto de 2019 - Dia 13 No caminho para Nhampuepue, uma estrada de areia de vários quilómetros o transporte rei não é o carro, é a bicicleta. Desengana-te, isto não tem nada que ver com Amesterdão, em boa das verdades em cima das bicicletas não viajam pessoas, viajam troncos. Os troncos não pedalam, são os habitantes que os transportam, 200 quilos de madeira, mais de 15 quilómetros à mão, durante 3 dias com acampamentos ao relento nos entretantos. Para ganhar 30€. Quando chegas a Nhampwepwe nada te faz crer que chegaste à civilização, a única coisa que tem em comum com uma são as pessoas. Na paisagem observas muito mas vês muito pouco. As casas são feitas de matope, uma mistura entre barro e água, cobertas com folhas de palmeira e finalizadas com canas de toda a espécie. Custa, custa muito ver isto. Em Nhampuepue, falta àgua, faltam estradas, falta pão, falta saúde, falta verde, não falta luz porque a essa nem vê-la, falta educação, falta o mais básico saneamento, falta muita coisa, diria que a única coisa que tenho a certeza que não falta é a boa disposição. O sítio onde o negro da pele se mistura com o laranja da terra. O cenário confunde-se porque o pó pousou em cima da aldeia e ela foi engolida. Não é um cenário fácil. Pode haver espaço no estômago, mas não há espaço para a maldade. Isto é Nhampuepue.

Tomás Chgas


27 de Agosto de 2019 - Dia 14 Há sítios e pessoas que nunca sequer imaginamos, nem mesmo em sonhos. Viemos para cá com o intuito de mudar algo, bloco a bloco, conversa a consolo. Hoje, contudo, em vez de nos darem tintas e cimento, deram-nos ferramentas para uma utopia possível, um exemplo. Não trabalhamos diretamente com a comunidade mas obtivemos mecanismos para empodera-la e erguê-la de acordo com esta terra. Após mais uma viagem na via que eventualmente dá a Nhampwepwe, atrás da nossa mulher em ação - a Mércia - onde o ar é denso em carvão, a terra é árida e a nossa posição de certo modo assimétrica aquela pobreza, demos de caras com uma selva autêntica - um oásis na calamidade, uma catapulta da inércia que perpetua a miséria - Mozambite. O mais resumidamente possível, é um projeto de um auto-entitulado “gentleman farmer” - o Allan - ou como eu gosto de chamar; um “green warrior”. Em 1994, este titã do ambiente começou um projeto de reflorestamento e agricultura sustentável/orgânica que visa contrariar um dos problemas mais prementes do nosso tempo - a desertificação - no caso de Moçambique devido à prática de “slash and burn” que desprovem o solo de nutrientes essenciais à subsistência. Para além de integrar a comunidade local neste projeto, o Alan também introduziu técnicas de aproveitamento de bens materiais autóctones - nomeadamente madeira - tendo ensinado técnicas de marcenaria, carpintaria e construção à população como modo de sustento (é de sublinhar que não mandam uma árvore abaixo há mais de 6 anos). Na parte da tarde, após mais um mimo de almoço feito pela mamã Olinda, a Teresinha e a Binha converteram-nos de novo em modo “sardinha” no chapa e levaram o grupo rumo à Mafarinha - um bairro pobre situado atrás da fábrica da Mozalite - onde demos de caras com a bolha da nossa própria vivência. Entre lixo e latrinas, matope e galinhas, acenos calorosos aquela nossa presença alienígena,


pulsamos pelas veias da Mafarinha. Eventualmente chegamos a casa de um dos funcionários da fundação - o Luis Bonito - que nos mostrou a casa onde vivia. Foi um momento importante no sentido em que como é a vida “celular” de um moçambicano com o qual convivíamos todos os dias. A melhor maneira que tenho para descrever o contraste do panorama deste dia é que fomos transportados de uma visão telescópica para uma ótica microscópica de Moçambique.

Sophie Booth


28 de Agosto de 2019 - Dia 15 Apesar de cansados, já depois de quase 2 semanas de trabalho a construir cada uma destas 18 casas, que em breve irão abrigar varias famílias moçambicanas, seguimos para mais um dia de trabalho no bairro de Nhampuepe. Um dia de trabalho como todos os outros que já tivemos mas que, de certo modo, me surpreendeu. Não só pela simpatia das pessoas com quem trabalhámos esta semana, mas pela alegria que nos mostram quando chegamos e pomos as mãos à obra! Entre várias piadas, brincadeiras e conversas que temos durante a manhã (que conciliamos com um bocadinho de trabalho claro) dou por mim a trabalhar com um senhor ao lado! Sim, um verdadeiro senhor! É que quando lhe pergunto o nome diz me que se chama Ernesto e quando lhe pergunto a idade diz que ainda é jovem - tem 63 anos... Fiquei, por isso, atrapalhado logo de início sem saber se lhe devia tirar a enxada da mão (e proibi-lo de trabalhar) ou de lhe dizer que não precisava de ajuda e que ele podia ir para casa descansar. De resto, uma coisa que teria mesmo feito, não fosse ele cavar com uma vontade e com uma intensidade tal que correspondiam mesmo à de um jovem de 20 anos!! Uma lição porque ele fez o trabalho que estava destinado para um dia inteiro em poucas horas, sem pausas nem interrupções, e ainda nos foi contando toda a sua vida. Falou de como, apesar da sua casa feita apenas de paus, terra e água ter ficado destruída pelo ciclone, ele ali estava pronto a meter mãos à obra para a ajudar a sua comunidade. No final despediu-se de nós com um sorriso na cara agradecendo-nos tanto pela nossa ajuda! Este é um dos vários exemplos de histórias de muitas das pessoas que se têm cruzado connosco e que apesar de todas as dificuldades que passavam diariamente e que se agravaram com o ciclone não desistiram e continuaram a lutar pela suas vidas e pela das suas famílias esforçando-se sempre ao máximo para lhes dar o que nós, em nossas casas, tantas vezes tomamos por garantido! Pedro Menéres


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