


Na altura em que vos escrevo estas palavras, faltam poucos dias para os atuais Órgãos Sociais terminarem o seu mandato. E embora cerca de dois terços do mandato, tenha sido exercido debaixo da pandemia COVID 19, que nos atacou, e que praticamente deixou a Associação imobilizada, não queria deixar de agradecer a todos os que comigo colaboraram durante estes três anos.
Mas há um, que merece uma menção especial, o Martiniano Gonçalves, o 9/1958. Em finais de 2021, quando comuniquei ao Nano, que me iria recandidatar, porque não ia deixar o dossier PM 34 por acabar, ele pediu-me para não contar com ele. Pois o Nano deu, não muito, mas muitíssimo à Associação. Durante anos foi Diretor, Presidente da Direção, Presidente do Conselho Supremo e Presidente da Assembleia Geral. Nós, não temos de lhe estar gratos, só pelos cargos que exerceu, mas sim pelo seu inquestionável espírito de iniciativa, pela sua entrega aos projetos que promoveu, ou que lhe pediram para colaborar e pela forma como sempre "lutou" na defesa dos interesses da Associação e do Colégio.
Pode-se, gostar mais ou menos da sua personalidade, pode-se, ter uma opinião mais ou menos positiva pelo seu posicionamento, relativamente aos temas que estiveram "em cima da mesa" na Associação, mas todos sem exceção devemos-lhe um MUITO OBRIGADO.
Mas quando algo parte, outra nasce logo de seguida. Assim, ao longo deste ano de 2022, vamos celebrar o centésimo aniversário da primeira travessia aérea do Atlântico Sul, por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, concluída com o avião que foi batizado com o nome de "Santa Cruz". Durante as quatro edições da ZACATRAZ, vamos realizar quatro etapas, descrevendo as múltiplas peripécias da viagem.
Com um abraço e um forte Zacatraz
Presidente Martiniano Nunes Gonçalves (9/1958)
Vice-Presidente João Paulo de Castro e Silva Bessa (200/1957)
1º Secretário António Luis Henriques de Faria Fernandes (454/1970)
2º Secretário Afonso Castelo dos Reis Lopez Scarpa (222/2000)
Presidente Filipe Soares Franco (62/1963)
Vice-Presidente José Francisco Machado Norton Brandão (400/1961)
Secretário Pedro Arantes Lopes de Mendonça (222/1958)
Tesoureiro Pedro Pinho Veloso (429/1986)
1º Vogal José Mário Fidalgo dos Santos (253/1951) (falecido em funções)
2º Vogal Manuel Agostinho de Castro Freire de Menezes (423/1955)
3º Vogal Marco António Martinho da Silva (456/1983)
4º Vogal João Luis de Mascarenhas e Silva Schoerder Coimbra (54/1984)
5º Vogal Luis Manuel Marques Cóias (190/1990)
1º Vogal Suplente Tiago Simões Baleizão (200/1987)
2º Vogal Suplente Eduardo de Melo Corvacho (343/2002)
3º Vogal Suplente Alikhan Navaz Nadat Ali Sultanali (306/2005)
Presidente António Santos Serra (95/1959)
1º Vogal Eugénio de Campos Ferreira Fernandes (180/1980)
2º Vogal Rui Manuel Gomes Correia dos Santos (225/1981)
1º Vogal Suplente Diogo Rodrigues da Cruz (504/1986)
2º Vogal Suplente Bruno Miguel Fernandes Pires (27/1995)
PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL
Fundada em 1965 Nº 226 Janeiro/Março - 2022
FUNDADOR Carlos Vieira da Rocha (189/1929)
DIRECTOR
Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950) nunomira.vaz@aaacm.pt
CHEFE DE REDACÇÃO
Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957) luisfbarbosa@aaacm.pt
REDACÇÃO
Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva (53/1961)
CAPA
1ª Travessia Aérea do Atlântico Sul
ENTIDADE PROPRIETÁRIA E EDITOR Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar
MORADA DO PROPRIETÁRIO e SEDE DA REDACÇÃO
Quartel da Formação - Largo da Luz 1600-498 Lisboa Tel. 217 122 306/8 Fax. 217 122 307
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Isenta de registo na Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), ao abrigo do nº 1 da alínea a), do Artigo 12º do Decreto Regulamentar nº 8/99, de 9 de Junho.
Os artigos publicados são da responsabilidade dos seus autores. Esta publicação não segue o novo acordo ortográfico.
Não assistimos este ano à cerimónia de integração dos «ratas» no Batalhão Colegial, acompanhada da prestação do seu Compromisso de Honra. A pandemia, que tem condicionado as nossas vidas nos últimos tempos, não permitiu ainda a realização desta cerimónia sem restrições no que diz respeito à assistência à mesma.
Outra alteração que a pandemia impôs, foi a realização da cerimónia na Parada Marechal Teixeira Rebelo, em vez de ser nos Claustros, local de realização tradicional da mesma.
Não tendo assistido à cerimónia, a presente notícia foi elaborada com base em dados fornecidos pelo Gabinete de Apoio à Direcção do Colégio, nomeadamente o guião da cerimónia e as fotografias que ilustram a notícia.
Ao Tenente Coronel Mário Silva, chefe do mesmo Gabinete, apresentamos os nossos agradecimentos.
A cerimónia foi antecedida do descerramento da fotografia do novo Comandante de Batalhão, aluno n.º 72, Vasco Caetano, na Sala onde se encontram expostas as fotografias dos Comandantes de Batalhão mais recentes. Quando as fotos ganham pátina e antiguidade e se torna necessário espaço para as fotos dos novos comandantes, são as fotos mais antigas transferidas para a sala correspondente no Museu, passando os retratados à categoria de «peças de museu».
O Batalhão, com excepção dos novos alunos, formou na Parada.
Com a formatura pronta, o Coronel António Salgueiro, Director do Colégio,
acedeu à Parada, sendo-lhe prestada continência pela mesma formatura.
Acedeu de seguida à Parada a formatura dos novos alunos. Com a formatura dos novos alunos em posição, procedeu-se à apresentação aos mesmos do Guião do Colégio Militar. Esta apresentação foi feita, como é tradicional, pelo Comandante da 1.ª Companhia, este ano a aluna n.º 352, Maria Silva. A aluna Comandante procedeu então à descrição heráldica do Guião.
Concluída a descrição heráldica do Guião, a aluna Comandante da 1.ª Companhia retomou o seu lugar na formatura, ficando tudo pronto para a prestação do Compromisso de Honra.
Ao prestarem o seu Compromisso de Honra os novos alunos aceitam um conjunto de valores e princípios
intemporais, consubstanciados não só no Código de Honra do Aluno do Colégio Militar, mas também na Divisa do Colégio «Um por todos, todos por um».
Haverá quem opine que este compromisso é demasiado «pesado» para jovens de tão pouca idade. Compreendemos essa opinião, considerando que na sociedade actual muitos jovens são tratados pelos seus pais como crianças irresponsáveis até chegarem a adultos, sendo-lhes satisfeitos todos os caprichos e exigências. Mas no Colégio as coisas são diferentes. Quem entra no Colégio está destinado a amadurecer precocemente. Acabou-se o colo da mamã. Acabaram-se as criancices. No Colégio têm de ser jovens responsáveis pelos seus actos. É uma «receita» com mais de dois séculos de existência. Os frutos que deu ao longo do tempo, recomendam a sua continuação. Quando assim não for, por respeito ao seu Fundador e a todos aqueles que seguiram o seu trilho, o Colégio deve encerrar.
A leitura do Código de Honra aos novos alunos foi feita pelo Comandante do Corpo de Alunos, Tenente Coronel Pedro Magrinho. Para que o mante -
nhamos bem vivo nas nossas memórias, passamos a transcrevê-lo:
1) Amar e honrar a Pátria.
2) Dignificar a farda que enverga.
3) Cultivar a disciplina.
4) Dedicar à sua formação todo o seu esforço e inteligência.
5) Ser verdadeiro e leal assumindo sempre a responsabilidade dos seus actos.
6) Praticar a camaradagem sem denúncia nem cumplicidade.
7) Ser modesto no êxito, digno na adversidade e confiante face às dificuldades.
8) Ser generoso na prática do bem.
9) Repudiar a violência, a delapidação e o despotismo.
10) Ser sempre respeitador, afável e correcto.
Lido o Código de Honra, o Tenente Coronel Comandante do Corpo de Alunos, dirigindo-se aos novos alunos, questionou-os.
Assumis o compromisso de nortear o vosso comportamento de forma a cumprir e respeitar o Código de Honra do Colégio Militar?
A esta interpelação responderam os novos alunos, em uníssono….SIM!
Após este ponto alto da cerimónia, ficaram os novos alunos a integrar o Batalhão.
O Diretor do Colégio e o Presidente da AAACM.
Procedeu-se de seguida à entrega de diplomas de louvor, a sete professores, a três técnicos superiores, a um assistente técnico e a um assistente operacional, que se distinguiram no desempenho das suas funções ao serviço do Colégio.
Concluída a entrega dos diplomas, terminou a cerimónia com o desfile do Batalhão Colegial, integrando já os novos alunos, em continência perante o Exmo Director do Colégio.
A Redacção.
Após 2 anos de interregno, por motivo da pandemia, voltou a realizar-se nas instalações do Colégio Militar o tradicional Corta-Mato de Natal, assinalando assim a entrada em férias de Natal e servindo também para apurar os alunos que irão representar o Colégio nas provas de corta mato do Desporto Escolar.
Depois de um dia e uma noite anteriores cheios de chuva, temia-se que o mesmo pudesse vir hoje a acontecer, contudo S. Pedro fez jus à sua condição de ex-aluno e ofereceu-nos uma manhã cinzenta, mas de agradável temperatura e sem chuva.
Os alunos participaram de forma entusiástica ostentando ainda vestígios da noite das pinturas nas suas caras pintadas das mais diversas formas e cores.
Foram realizadas diversas corridas de acordo com os escalões etários e ainda uma corrida especial para os alunos do 1.º Ciclo.
Assim se passou uma manhã bem-disposta com enorme espírito de confraternização apenas faltando a participação dos ex-alunos, pais, professores, militares, que por força do estado pandémico em que vivemos não puderam participar e que mais
união e confraternização teriam dado a esta atividade.
(texto extraído do site do Colégio)
Para memória futura aqui ficam os vencedores:
Como se referiu anteriormente, no passado dia 21 de Dezembro de 2021, realizou-se no Colégio o Corta Mato de Natal. Devido à pandemia não pudemos estar presentes, para fazer uma pequena reportagem do mesmo e felicitar os vencedores dos vários escalões etários. Assim sendo, socorremo-nos das fotos e do texto disponíveis no «site» do Colégio, para vos pôr a par do acontecimento.
O corta-mato realizou-se na manhã seguinte à noite das pinturas. Muitos alunos e alunas decidiram correr com as pinturas com que os brindaram. Da observação das fotos, concluímos que as pinturas sofreram uma enorme evolução desde o nosso tempo de aluno (já lá vão 60 anos). No nosso tempo, as pinturas eram umas borradas de cores várias, que se tentavam fazer sem acordar os alvos das mesmas pinturas. Agora são verdadeiros trabalhos artísticos, feitos obviamente com os alvos acordados e bem acordados. Um dos objectivos das pinturas do antigamente, era obrigar os alunos menos dados a lavagens e banhos (havia alguns) a fazerem uma valente lavagem, antes de irem de férias, para se apresentarem em casa, aos seus pais, bem limpinhos e lavadinhos. Agora, que o pessoal já tem outros hábitos de higiene, aquele objectivo está ultrapassado, podendo os pintores dedicar-se às artes. São os tempos a evoluir.
As fotos do corta mato levaram-me também a observar que a prova deveria passar a designar-se por corta estrada, pois mato é coisa que já pouco se vê dentro do Colégio. No meu tempo, no Colégio, faziam-se também umas corridas, de selecção do pessoal que iria representar o
Colégio nas corridas de corta-mato organizadas pela Mocidade Portuguesa. Eu comparava essas corridas à popula r «Volta a Paramos» , que se realizava todos os anos, lá para os lados de Espinho. O «mestre» Luis Bilstein Sequeira ficava a olhar para mim de lado, a ver se eu andava ali a «gozar com a tropa» , pronto a dar-me um bofetão. Na realidade, eu procurava «gozar com a tropa» , mas fazia-o, guardando em relação a ele a necessária distância de segurança, não fosse eu ser atingido por alguma manifestação do seu desagrado.
Numa das corridas de selecção para os campeonatos da Mocidade, distraí-me e fiquei no pelotão da frente. Fui selecionado para os ditos campeonatos, que era o que desejava evitar, pois os mesmos realizavam-se sempre aos domingos de manhã, o que nos dava cabo de um fim de semana. O campeo -
nato realizou-se junto ao Estádio Nacional, nos terrenos do vale do Jamor, que na altura eram um baldio, com terreno acidentado coberto de erva alta e arbustos. Como tinha chovido abundantemente a semana inteira, o percurso alternava entre o lamaçal e o charco. Face a este condicionamento meteo -
rológico, decidi, juntamente com alguns camaradas, fazer o cross com sapatos de pregos, daqueles usados para as provas em pista de cinza, com o objectivo de evitar escorregadelas e quedas no lamaçal. Lá fomos à «Desportiva» , requisitar os ditos sapatos de pregos ao Chico das Bolas
O decorrer da prova mostrou-nos que a ideia dos sapatos de pregos não tinha sido brilhante. A meio da prova houve um que perdeu um sapato ao atravessar um «lago» . Era uma situação grave. Todos os que andaram na tropa sabem o drama que é, dar baixa de material extraviado. Felizmente não era material de guerra.
O pior estava guardado para o final da prova. O dito final corria-se numa extensa recta pavimentada a macadame (pedras). A corrida sobre o macadame foi um autêntico suplício. Como os pregos não se podiam cravar no macadame, subiam e cravavam-se nas plantas dos nossos pés. Fizemos uma figura triste aos saltos e aos ai, ai,ai. Escusado será dizer, que nunca mais me distraí e nunca mais corri um corta-mato. Serviu-me de emenda.
Foi há 100 Anos 1922. A Grande Viagem
Comemora-se, no presente ano de 2022, o centenário da 1.ª Travessia Aérea do Atlântico Sul, protagonizada por dois distintos oficiais da nossa Armada, Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Esta Grande Viagem constitui, ainda hoje, um dos episódios mais notáveis da História da Aviação.
Em 1922, quando a viagem se realizou, teve a mesma enorme impacto em Portugal e no Brasil. A nível internacional, não teve o impacto merecido. Nos anos 20, os feitos aeronáuticos eram seguidos entusiasticamente pelas opiniões públicas e eram considerados um símbolo do progresso das nações, pelo que havia uma tendência para não valorizar ou publicitar as conquistas da aviação de países terceiros ou de diferente afinidade cultural. Assim sendo, o feito dos nossos aeronautas foi celebrado entusiasticamente em Portugal e no Brasil, foi louvado nos países latinos, mas pouco valorizado pelos países anglo-saxónicos.
Passados 100 anos sobre aquela memorável viagem, o DEVER DE MEMÓRIA impõe-nos que sublinhemos de novo aquele extraordinário feito, dando-o a conhecer aos mais novos e avivando a memória aos mais antigos.
Iremos apresentar na ZacatraZ, ao longo do ano, quatro artigos relativos à Grande Viagem.
No primeiro artigo, publicado no presente número, apresentamos os antecedentes da viagem. Nos dois artigos seguintes, iremos narrar a viagem em si, que estava para ter a duração de uma semana e que acabou por durar dois meses e meio.
No segundo artigo, descreveremos a viagem, desde o seu início em Lisboa até à chegada aos Penedos de S. Pedro e S. Paulo, escala não programada à saída de Lisboa.
No terceiro artigo, descreveremos a parte final da viagem, que ia acabando em tragédia, desde os Penedos ao Rio de Janeiro. Finalmente, num quarto artigo, iremos descrever, sucintamente, as enormes repercussões que a viagem teve nas sociedades portuguesa e brasileira.
À guisa de introdução, apresentamos de seguida os currículos abreviados dos dois protagonistas da Grande Viagem.
de Lisboa. Adepto da educação física, era sócio do Clube Ginástico de Lisboa (S. Paulo) e depois do Real Ginásio Clube Português, sendo bom praticante de exercícios de argolas.
Em 1889, concluído o seu curso na Escola Naval, embarcou para Moçambique, onde serviu 3 anos. Em 1893, já como segundo-tenente, partiu para Angola e para o Brasil, na corveta «Mindelo». No Brasil a tripulação foi atacada pela febre amarela, seis oficiais foram contaminados, só dois sobreviveram, Gago Coutinho foi um deles.
Em 1896, já restabelecido da doença, embarcou no «Pero de Alenquer», como 1.º tenente e oficial encarregado da navegação. Nesse navio e no «Foz do Douro» fez mais de 30.000 milhas de navegação.
Carlos Viegas Gago Coutinho, nasceu a 17 de Fevereiro de 1869, no Bairro de Belém, em Lisboa. Seu pai era sargento de mar-e-guerra, tendo servido na Marinha até 1873, após o que foi trabalhar para Angola.
Ingressou na Escola Naval, a 26 de Outubro de 1886, depois de concluídos os preparatórios na Escola Politécnica
Em 1898, iniciou os seus trabalhos como geógrafo em Timor, na demarcação da fronteira luso-holandesa. Voltou anos mais tarde, em 1913, a realizar trabalhos de cartografia em Timor.
Em 1901, iniciou a delimitação da fronteira de Moçambique com os territórios da África Central Inglesa (Rodésias). Em 1904 e 1905 delimitou as fronteiras do distrito de Tete. Em 1910 procedeu á triangulação geodésica do território.
Em 1913 – 1914 demarcou a fronteira do Barotze, entre Angola e a Rodésia. Neste tra-
balho percorreu mais de 5.200 quilómetros, num terreno muito acidentado, através do mato, fazendo parte do caminho a pé.
A sua carreira de geógrafo terminou em S. Tomé e Príncipe, onde permaneceu de 1916 a 1918, atingindo o cume da ilha de S. Tomé, a 2.024 m de altitude, até aí nunca atingido. Determinou a localização do ponto de passagem do equador geodésico pelo ilhéu das Rolas, o qual, em sua homenagem, se passou a designar ilha Gago Coutinho. Aí foi erigido um padrão com o seu nome. Terminou, com os seus trabalhos em S. Tomé, uma carreira de 20 anos de geógrafo, à qual deu os melhores anos da sua vida.
Fez o seu baptismo de voo, pela mão de Sacadura Cabral, na Escola Aeronáutica Militar, em Vila Nova da Rainha. A partir daí, começou a estudar a possibilidade de adaptar os métodos de navegação marítima à navegação aérea, tendo desenvolvido uma adaptação do clássico sextante da marinha, à navegação aérea. Em conjunto com Sacadura Cabral desenvolveram ainda um outro aparelho de navegação aérea, designado por corrector de rumos, para se poder compensar a deriva dos aviões, devida à acção do vento. Em 1921, na 1.ª viagem aérea Lisboa-
-Funchal, testou os dois novos aparelhos de navegação com pleno êxito.
Em 1922, foi com o recurso a estes dois novos aparelhos, que fez a navegação, com rigor absoluto, da viagem transatlântica Lisboa – Rio de Janeiro. Tendo partido de Cabo Verde, ao fim de mais de 11 horas de voo sobre o Oceano, atingiu o Penedo de S. Pedro, onde o cruzador República esperava o hidroavião «Lusitânia».
Na sequência da 1.ª Travessia Aérea do Atlântico Sul, foi promovido, por distinção a contra-almirante e foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito e com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada.
A partir de 1925, depois da morte de Sacadura Cabral, passou a dedicar-se a estudos de investigação histórica naval.
Em 1939, terminou a sua carreira militar, no posto de Vice-Almirante, aposentando-se. Em 1958, por decisão da Assembleia Nacional, foi promovido a Almirante.
Faleceu a 18 de Fevereiro de 1959, no dia seguinte ao de completar 90 anos de idade. Por sua expressa vontade, foi enterrado em campa rasa, no cemitério da Ajuda.
A inscrição na laje da sua campa reza assim Gago Coutinho – Geógrafo – 1869-1959.
Segundo o Comandante Teixeira Marinho, Gago Coutinho afirmou, em fase adiantada da sua vida, «A função principal da minha vida, não foi a Marinha, nem a Aviação, mas sim a Geodesia e a Astronomia».
Artur de Sacadura Freire Cabral, nasceu a 23 de maio de 1881, na freguesia de S. Pedro, no Concelho de Celorico da Beira, no distrito da Guarda.
Assentou praça na Armada, em 10 de Novembro de 1897. Foi promovido a guarda-marinha, em 8 de Setembro de 1900.
Destacou para a Divisão Naval do Índico, em Moçambique, onde serviu em vários navios, de Fevereiro de 1901 a Dezembro de 1903. Foi louvado pelo «critério, valentia e muita disciplina com que repeliu a agressão ao escaler em que sondava nos canais de Angoche». Em Dezembro de 1903, regressou à Metrópole, por pouco tempo, pois em Junho de 1904 estava de novo em Moçambique, onde comandou sucessivamente as canhoneiras «Sabre», «Lacerda» e o vapor «General Silvério». Em Junho de 1906, passou a servir na Missão Geodésica da África Oriental, onde se manteve até Março de 1909. O chefe desta missão era Gago Coutinho, que ficou extraordinariamente bem impressionado com a qualidade do trabalho de Sacadura Cabral, com a sua capacidade de trabalho e com as suas qualidades pessoais.
Em Setembro de 1911, foi promovido a 1.º tenente. Em Junho de 1912, tomou posse do cargo de subdirector dos Serviços de Agrimensura de Angola. Em Angola, voltou a trabalhar, durante dois anos, com Gago Coutinho na missão do Barotze.
Voltou depois a Moçambique, onde procedeu ao reconhecimento astronómico do dis-
Foi há 100 Anos 1922. A Grande Viagem
trito de Quelimane. Terminou a sua carreira de geógrafo em 1914, com o traçado da fronteira Leste de Angola, ao longo do meridiano de 22 graus, numa extensão superior a 400 quilómetros.
Acerca desta fase da sua carreira, escreveu Gago Coutinho: «Nestas viagens viveu Sacadura alguns anos no mato, tendo em 1913 atravessado a África. Já nada, pois, mais complicado ou mais interessante lhe restava a fazer nos sertões coloniais».
Em Outubro de 1915, regressou de Angola e ingressou na aviação, mediante concurso aberto a oficiais do Exército e da Armada, para tirarem licenças de pilotos aviadores em escolas estrangeiras. Seguiu para França, para a Escola de Aviação Militar de Chartres, onde iniciou a instrução de voo, a 11 de Novembro. Foi brevetado, a 9 de março de 1916, com a classificação «trés bon pilote». Passou, então, para a Escola de Aviação Marítima de Saint Raphael, onde se especializou em hidroaviões.
De regresso a Portugal, ainda em 1916, foi nomeado instrutor da recém-criada Escola Aeronáutica Militar, de Vila Nova da Rainha.
Em 1917, esteve em missão em França, para adquirir os aviões que foram equipar a Esquadrilha Expedicionária a Moçambique. Em 1919, requereu autorização e apoio, para proceder à 1.ª travessia aérea do Atlântico Sul.
Em Maio de 1920, deslocou-se a Inglaterra, para recepcionar 2 hidroaviões de casco «Felixtowe» F-3. Em conjunto com o tenente Ferreira Rosado, voou com estes aviões de Calshot (Southampton) a Lisboa, com escalas em Brest e Ferrol, num voo com uma extensão total de 1.890 km.
Em conjunto com Gago Coutinho, desenvolveu um aparelho designado corrector de rumos, para corrigir a deriva dos aviões devida à acção dos ventos. Tendo, entretanto, Gago Coutinho modificado o sextante clássico da
navegação marítima, adaptando-o à navegação aérea, Sacadura Cabral obteve autorização para testar a eficácia destes dois novos aparelhos de navegação numa longa viagem sobre o mar, de Lisboa ao Funchal.
A viagem Lisboa-Funchal, foi efectuada, com pleno êxito, em 22 de Março de Março de 1921, com um dos dois aviões «Felixtowe» F-3, adquiridos no ano anterior em Inglaterra. A eficácia do novo método de navegação ficou comprovada, o que permitiu considerar a hipótese de voar até ao Brasil, fazendo escalas em Cabo Verde e na ilha Fernando Noronha. Sacadura Cabral foi então condecorado com o grau de oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.
De Outubro a Dezembro de 1921, Sacadura Cabral seguiu em Inglaterra o fabrico e os ensaios do avião «Fairey» F-400, destinado á 1.ª Travessia Aérea do Atlântico Sul.
No início de Março de 1922 obteve autorização final do Ministro da Marinha para a realização da viagem ao Brasil.
De 30 de Março de 1922, a 17 de Junho de 1922, realizou, em conjunto com Gago Coutinho a viagem aérea Lisboa - Rio de Janeiro, na qual, devido a acidentes de percurso, se perderam dois aviões. A viagem foi completada com o terceiro avião, o «Santa Cruz», actualmente exposto no Museu da Marinha em Lisboa.
Na sequência da viagem, Sacadura Cabral foi promovido por distinção a capitão-de-fragata e foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito e com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada.
Concluída com êxisto a viagem ao Brasil, Sacadura Cabral estabeleceu como objectivo a realização de uma viagem aérea de circum-navegação.
Com fundos resultantes de subscrições várias abertas no Brasil e em Portugal e com fundos
de ofertas feitas pessoalmente a Sacadura Cabral, foram encomendados à fábrica Fokker, na Holanda, cinco hidroaviões Fokker T III, destinados à viagem de circum-navegação.
Em junho de 1924, Sacadura Cabral foi à Holanda assistir ás provas de recepção dos primeiros desses hidroaviões, regressando a Portugal pilotando um deles.
Em Novembro de 1924, Sacadura Cabral voltou à Holanda, com o comandante Ferreira Rosado e o Tenente Santos Mota, para trazerem para Portugal os 3 restantes aviões. A 15 de Novembro de 1924, num dia com fraca visibilidade, Sacadura Cabral descolou da Holanda, na companhia do seu mecânico, o marinheiro Pinto Correia, com destino a Portugal, para nunca mais ser visto. Passados dias, foi encontrado no mar um flutuador do seu hidroavião. A 15 de Dezembro, um mês passado sobre a sua partida da Holanda, foi dado oficialmente como desaparecido.
Sobre Sacadura Cabral, escreveu Fernando Pessoa (revista Athena):
No frio mar do alheio Norte Morto, quedou, Servo da Sorte infiel que a sorte Deu e tirou
Brilha alto a chama que se apaga. A noite o encheu. De estranho mar que estranha plaga, Nosso, o acolheu?
Floriu, murchou na extrema haste; Jóia do ousar, Que teve por eterno engaste O céu e o mar.
No dealbar da aviação, no início do século XX, registou-se logo uma grande emulação entre os aviadores pioneiros das várias Nações, na ânsia de estabelecerem recordes de velocidade e de distâncias de voo.
Um dos primeiros feitos que obteve fama a nível internacional, foi o voo realizado por Luis Bleriot, em 25 de Junho de 1909, sobre o canal da Mancha, com partida de Calais, em França, e aterragem em Dovers, em Inglaterra. A duração do voo foi de 37 minutos. O avião tinha sido projectado e fabricado por Blériot. Era o Blériot XI.
Ainda antes da 1.ª Guerra Mundial, já o jornal inglês Daily Mail oferecia um prémio pecuniário avultado, ao primeiro piloto que fizesse a travessia aérea directa (sem escalas) do oceano Atlântico, o que só viria a ocorrer no post-guerra, no ano de 1919.
Concluída a guerra, em 11 de Novembro de 1918, tanto os ingleses como os norte-americanos queriam ser os primeiros a realizar a travessia aérea do Atlântico Norte.
A primeira travessia aérea do Atlântico foi efectuada por aviadores da Marinha norte americana. O percurso escolhido foi Terra Nova – Açores – Lisboa – Inglaterra (Plymouth).
A Marinha norte americana, com todo o seu poderio, preparou para esta viagem 4 grandes hidroaviões «Naval Curtiss» (NC-1 a NC-4), com uma tripulação de 6 homens cada. Três hidroaviões iniciavam a viagem, ficando o quarto de reserva. Dado a Marinha norte-americana não dispor, naquele tempo, de conhecimentos e meios de navegação aérea fiáveis para uma empresa desta dimensão, a rota a percorrer pelos aviões foi balizada por contratorpedeiros estacionados ao longo da mesma, distanciados de cerca de 50 milhas entre si, que assinalavam
as suas posições pelo fumo das suas máquinas e por potentes projectores luminosos. Foram posicionados 21 contratorpedeiros, entre a Terra Nova e os Açores, e mais 14 contratorpedeiros, entre os Açores e Lisboa. Nos portos de escala estavam também posicionados navios, que serviam de estação de apoio e reabastecimento dos hidroaviões. Foi um empreendimento que envolveu recursos de que só era possível dispor nos Estados Unidos da América. A viagem iniciou-se a 16 de Maio e foi concluída a 30 do mesmo mês, por um só hidroavião. A esquadrilha foi surpreendida por nevoeiro ao largo dos Açores. Sem conseguir avistar os navios de apoio, o NC-1 e o NC-3 amararam por precaução, para tentar obter a sua posição geográfica, mas o mar alteroso impediu de seguida a sua descolagem. O NC-1 teve a sorte de ser resgatado por um navio mercante grego, pouco antes de se afundar. O NC-3 conseguiu hidroplanar até Ponta Delgada, onde chegou bastante danificado, ao ponto de não
conseguir voltar a voar. O NC- 4 teve mais sorte e escalou a Horta, Ponta Delgada e Lisboa. Em Lisboa, o NC-4 ficou amarrado ao seu navio de apoio o USS Shawmut, onde Sacadura Cabral se encontrou com o seu comandante, o Capitão-tenente Read. A chegada a Lisboa, deu-se no dia 27 de Maio. A tripulação foi condecorada pelo governo português com o grau de comendador da Ordem Militar da Torre e Espada. A 30 de Maio, o NC-4 partiu para Inglaterra, onde chegou no mesmo dia, após uma viagem de cerca de 7 horas e de uma amaragem, não programada, na Figueira da Foz. O comandante Read não ganhou o prémio estabelecido pelo Daily Mail, não só por esta missão não estar a concorrer ao prémio, mas também, por ter feito escalas no decurso da sua travessia transatlântica, não cumprindo assim com os requisitos do concurso.
Dois dias depois da partida do comandante Read e do seu NC-4 da Terra Nova, foi a vez de os pilotos ingleses
Harry Hawker e Grieve tentarem a sua sorte. No dia 18 de maio de 1919, descolaram também da Terra Nova, num avião «Sopwith», com um motor Rolls Royce 350 HP, com destino à Irlanda. Voaram toda a noite, mas ao fim de 14H30 de voo foram obrigados a amarar, devido a má circulação de água na refrigeração do motor. Apesar disto foram recebidos pelos reis em Buckingham Palace, foram condecorados e ainda receberam um prémio de consolação do Daily Mail.
Um par de semanas mais tarde, de 15 para 16 de Junho, foi a vez de os aviadores ingleses capitão John Alcock e o Tenente Arthur Brown fazerem a travessia da Terra Nova para a Irlanda, sem escala, em 16 horas e 28 minutos, com um avião «Vickers-Vimy», bimotor Rolls Royce 350 HP. Estes pilotos não necessitaram de qualquer ajuda à navegação, para além de simples bússolas. A costa Oeste irlandesa tem qua-
se 600 quilómetros de extensão. Era só andar em frente. Mesmo com desvios devido aos ventos, seria difícil falhar aquela costa. Chegados à Irlanda não sabiam onde estavam, aterraram num terreno pantanoso, onde o avião capotou. Os pilotos saíram ilesos e foram agraciados pelo rei com o título de Sir.
As duas tripulações inglesas decidiram fazer as suas viagens de América para a Europa, dado ser este o sentido dos ventos predominantes à latitude a que os voos foram feitos.
Sacadura Cabral, o primeiro oficial piloto aviador da nossa Armada, era um homem de acção, sempre a pensar mais à frente, sempre com «altos voos» em mente. A tentativa dos pilotos americanos de fazer a travessia aérea do Atlântico Norte, fez nascer no seu espírito a ideia de empreender a viagem aérea Lisboa – Rio de Janeiro. No dia 26 de Maio de 1919, na véspera da chegada
do comandante Read, a Lisboa, e estando iminente a visita a Portugal do Presidente eleito do Brasil, Dr. Epitácio Pessoa, Sacadura Cabral apresentou um requerimento ao Ministro da Marinha, na altura o Dr. Vitor Macedo Pinto, em que afirmava:
«A realização da Travessia Aérea Lisboa-Rio de Janeiro por portugueses seria um acontecimento de resultados fecundos, porque poderia ser o início da navegação aérea comercial entre os dois países, a qual traria um maior estreitamento de relações que por todos os meios convém provocar.
Como oficial aviador a quem os progressos da Aviação e do País muito interessam, venho rogar a V.Ex.ª me conceda autorização para tentar realizar esta travessia e solicitar se digne obter me seja fornecido o auxílio necessário para este fim.»
Sacadura Cabral, ao antever, em 1919, a navegação aérea comercial entre Portugal e o Brasil, estava avançado de décadas em relação ao seu tempo. De facto, foi só em 1955, que a TAP efectuou uma primeira viagem experimental, com um avião Douglas DC-4 Skymaster, de Lisboa ao Rio de Janeiro. Nessa data, já Sacadura Cabral tinha falecido há mais de 30 anos, mas Gago Coutinho participou nesse voo, como convidado da TAP.
O requerimento anteriormente referido, apresentado por Sacadura Cabral, foi aceite pelo Ministro da Marinha e teve deferimento pelo Conselho de Ministros.
Em 1919, ainda não se tinham desenvolvido métodos de navegação aérea tão fiáveis como os de navegação marítima, pelo que Sacadura Cabral não considerava a hipótese de se fazer uma escala na ilha de Fernando de Noronha,
situada em pleno Atlântico, entre Cabo Verde e o Brasil. A extensão máxima da ilha é de apenas 10 km, pelo que não era ainda seguro encontrar esta ilha, ao fim de uma viagem de 1.260 milhas náuticas, com partida da ilha de Santiago, em Cabo Verde. Assim sendo, a alternativa na altura por si considerada, consistia em efectuar a travessia entre a ilha de Santiago e a costa do Brasil, ao que correspondia um percurso de 1.450 milhas náuticas. Sacadura Cabral estabeleceu então contactos com construtores de aviões ingleses, franceses e italianos e concluiu que nenhum deles forneceria um avião com este raio de acção. Perante as respostas obtidas, foi obrigado a esperar por uma situação mais favorável.
Em Maio de 1920, Sacadura Cabral em conjunto com o seu camarada piloto Ferreira Rosado e as respectivas tripulações,
foram a Inglaterra buscar dois hidroaviões bimotores, de fluctuadores, «Felixtowe» F-3, adquiridos pela Aeronáutica Naval, que trouxeram para Portugal, voando. O itinerário percorrido foi Southampton (Calshot) – Brest – Ferrol -Lisboa. Foi esta a primeira viagem de longo curso de Sacadura Cabral (1.890 Km). No relatório desta viagem, escreveu Sacadura Cabral «viagem esta que, se não constitui um facto extraordinário, também não pode ser considerada banal».
Os ensinamentos retirados da viagem Calshot-Lisboa, levaram Sacadura Cabral a reconsiderar uma possível escala na ilha de Fernando de Noronha. Esta revisão de atitude, era fortemente reforçada, pelos estudos entretanto feitos, por si próprio e por Gago Coutinho, relativos à navegação aérea. Tinham concebido e fabricado um aparelho, que designaram por corrector de rumos, que permitia determinar as alterações de rumo do avião, que deviam ser feitas para anular os desvios do mesmo resultantes da acção do vento.
Por outro lado, Gago Coutinho introduzira alterações no sextante, para o adaptar da navegação marítima à navegação aérea, aplicando-lhe um nível para a obtenção de horizonte artificial. Com estes dois aparelhos disponíveis, estaria desenvolvido um método de navegação aérea com um rigor análogo ao método de navegação marítima.
Estudado cuidadosamente o assunto, em conjunto com Gago Coutinho, Sacadura Cabral solicitou autorização para testar o novo método de navegação desenvolvido, por meio de uma viagem Lisboa-Madeira. A distância a vencer era de 520 milhas náuticas, cerca de 1.000 km.
Gago Coutinho, não sendo aviador, já tinha sido iniciado nas lides aeronáuticas por Sacadura Cabral, em 1917, quando este era o responsável pela instrução de
1919.
1919. Sacadura Cabral com membros da tripulação do NC-4.
pilotagem na Escola Aeronáutica Militar de Vila Nova da Rainha. Tinha feito uma sessão de voos em 23 de Fevereiro de 1917 e tinha apreciado bastante a experiência. Tinha então 48 anos.
Obtida a autorização para a viagem requerida, realizou-se a mesma, a 22 de Março de 1921, com pleno êxito. Tomaram parte na viagem Sacadura Cabral, como piloto, Gago Coutinho, como navegador, Ortins
Bettencourt, como segundo piloto e o chefe de mecânicos francês Roger Soubiran. Segundo Sacadura Cabral, os resultados alcançados excederam as suas expectativas.
Com base nos resultados desta viagem experimental, concluiu Sacadura Cabral, que seria possível fazer a viagem Lisboa-Rio de Janeiro com escala na ilha Fernando de Noronha. A viagem teria assim escalas nas Canárias, em Cabo Verde e em Fernando Noronha. A etapa mais longa seria, ilha de Santiago-ilha Fernando de Noronha, com 1.260 milhas náuticas, que à velocidade média de 70 milhas por hora, correspondia a 18 horas de voo. Este tempo de percurso era muito longo para um único piloto.
Estudadas as condições meteorológicas normalmente ocorrentes na zona da travessia, concluiu Sacadura Cabral que a época mais favorável para a viagem seria nos meses de Março e Abril. Nessa época do ano, no percurso ilha de Santiago-ilha Fernando de Noronha, podia-se contar em 3/4 da viagem com vento favorável e no quarto restante se podia esperar, além de algum tempo de calma, vento fraco de frente, que atrasaria um pouco a viagem.
A verba que tinha sido posta à disposição de Sacadura Cabral era reduzida. Só dava para adquirir um hidroavião monomotor, bilugar. Seria um hidroavião menor do que aquele com que voara até à Madeira e não tinha nada a ver com os grandes hidroaviões utilizados pelos americanos na sua travessia do Atlântico Norte. Sendo o avião um monomotor, o motor tinha de ser excelente e de toda a confiança. Sacadura Cabral optou por um motor «Rolls-Royce Eagle» 350HP, que era o motor do «Felixtowe» F-3, com que tinha feito as viagens Calshot-Lisboa e Lisboa-Madeira. Na viagem Terra Nova-Irlanda, efectuada pelos ingleses, com êxito, em 1919, também fora este o motor usado. No entanto, sendo o avião dos ingleses um bimotor,
1919.
dispunha de uma potência total de 700 HP. Pelo conhecimento que Sacadura Cabral tinha da indústria inglesa, concluiu que havia dois hidroaviões, que poderiam eventualmente servir, depois de adap-
tados. O hidroavião de casco «Vickers-Vicking» e o hidroavião de fluctuadores «Fairey III D». Ambos teriam de ser adaptados, para poderem levar maior quantidade de combustível do que a
normal, para poderem cobrir a distância da maior etapa, entre as ilhas de Santiago e de Fernando de Noronha. O maior peso do avião trazia consigo consequências negativas; maior dificuldade de descolagem, maior consumo de combustível para uma mesma velocidade, e a consequente redução do raio de acção. Era delicada a obtenção de um equilíbrio satisfatório entre estas variáveis.
Sendo a potência do motor escolhido 350HP e considerando que, com condições favoráveis de tempo, seria possível a descolagem com uma relação peso/potência do hidroavião de 20 a 20,5 libras por HP (valor obtido na viagem de 1919 pelos norte americanos), o peso total máximo do avião à descolagem deveria ser de 7.000 libras. Considerando que o consumo de gasolina previsto, com o avião à velocidade de cruzeiro de 70 milhas náuticas por hora, era de 18 galões por hora e considerando as 18 horas de voo previstas na etapa mais longa, o peso máximo de gasolina necessário seria de cerca de 330 galões (324 galões). Somando ao peso da gasolina, o peso dos tripulantes, do óleo, da água do radiador do motor, dos instrumentos e extras, chegava-se a um peso total de 3.170 libras, pelo que, para se alcançar o peso total de 7.000 libras calculado, o peso do avião em vazio não devia ir muito além de 3.830 libras.
Feitos estes cálculos, foram pedidas propostas às empresas «Vickers» e «Fairey», casas bem conceituadas pelo Ministério do Ar da Grã-Bretanha. Os principais requisitos estabelecidos foram os seguintes:
- Entrega até final de Novembro de 1921.
- Peso máximo em vazio 4.000 libras.
- Peso máximo à descolagem de 7.000 libras, com um vento não superior a 13 nós. (quanto maior o vento de frente, mais fácil a descolagem).
Não se estabeleceram requisitos quanto à velocidade de cruzeiro e ao consumo médio de combustível pretendidos, dado o risco de os mesmos não serem aceites pelos construtores. A expectativa era a de resolver esta questão em conjunto com o construtor, na fase de construção, interessando-o também no êxito do empreendimento, dada a publicidade que esse êxito representaria.
Da análise destes dados constata-se, que Sacadura Cabral era um homem afoito e confiante. As margens de segurança eram praticamente inexistentes.
O fornecimento do hidroavião pretendido foi adjudicado à casa Fairey, à qual foi também adjudicado o fornecimento de dois hidroaviôes «Fairey» do tipo corrente (standard), com os quais a Aeronáutica Naval pretendia experimentar o lançamento aéreo de torpedos.
Dado se prever um tempo de voo de 18 horas na etapa mais longa, decidiu Sa-
cadura Cabral optar por duplo comando para o avião, o que implicava a exclusão de Gago Coutinho da missão. Foi uma opção difícil, dado Gago Coutinho ser «um entusiasta da viagem, sendo o seu maior desejo tomar parte na mesma» (palavras do próprio Sacadura Cabral).
Quando chegou a altura, de fazer o acompanhamento da construção do avião em fábrica, Sacadura Cabral seguiu para Inglaterra, com o Ortins Bettencourt, que fora seu copiloto na viagem à Madeira e que se oferecera para mais esta viagem.
De Inglaterra escreveu Sacadura Cabral uma dúzia de cartas a Gago Coutinho, para o manter informado do que se ia passando com a construção do avião e também para troca de impressões, sobre uma série de assuntos relacionados com a viagem. Fruto do seu longo conhecimento mútuo e amizade, tinham estes dois homens total confiança um no outro e não prescindiam do conselho um do outro, discu-
tindo, ao pormenor, as questões técnicas que tinham de ser resolvidas. Nas cartas escritas por Sacadura Cabral, dirigia-se este a Gago Coutinho, nos seguintes termos «Meu caro Ex-Chefe». Referimos de seguida as informações, que consideramos de maior interesse, transmitidas por Sacadura Cabral nas suas cartas.
Informava que esperava que a data estabelecida para o fornecimento do hidroavião fosse cumprida e que a «Rolls» afirmava que o motor fornecido era de «primeiríssima». Quanto ao treino dos pilotos, indicava «Começámos há dias o treino. Vai indo regularmente. Imagino que já não faríamos lenha, apesar de só termos 2 horas de voo». Enviava, em anexo à carta, uma cópia do texto em francês, relativo ao corrector de rumo, que enviara para o Congresso Internacional de Navegação Aérea, a realizar em Paris, no mês de Novembro desse mesmo ano de 1921.
Dados técnicos, das 3 travessias aéreas do Atlântico.
Sacadura Cabral tinha tomado conhecimento, pelo Diário de Notícias, de dia 20 de Outubro, por si recebido em Inglaterra, da «Noite Sangrenta» ocorrida em Lisboa, em que foram assassinados António Granjo e Machado dos Santos. Comentava que a notícia tinha tido em Inglaterra um «efeito detestável e pouco faltou para nos chamarem um país de canibais». Segundo ele, tinha sido um episódio de uma «selvajaria requintada».
Quanto ao treino dos pilotos informava «já estamos a voar sós». Quanto ao seu corrector de rumos, dizia que era bem melhor do que o usado em Inglaterra. Voltava a fazer cálculos relativos a pesos do avião e combustível, tudo à justa, facto que ele próprio reconhecia, dizendo «já vê que estamos um tanto à escassa».
Informava que o hidroavião deveria estar pronto na data prevista (final de Novembro), seria então encaixotado e deveria estar em Lisboa no fim do ano. Mostrava-se muito preocupado com a instabilidade política em Portugal, sem saber se o Governo daria apoio à Aviação Marítima, fornecendo um navio de apoio para a viagem.
Tecia algumas considerações sobre iluminação a bordo do avião, dado se prever que a maior etapa teria uma duração de 18 horas, decorrendo parte dela durante a noite.
Esta carta cingia-se a assuntos técnicos. Sacadura Cabral comentava o que lhe tinha sido dado conhecer em Calshot, em reunião com «o homem da escola de navegação aérea». Falava de um sextante que vira e que iria procurar adquirir, de
uma régua de logaritmos para o cálculo do ponto, que achava muito prática, e terminava comentando bóias de fumo, de lançar ao mar para se estimar a deriva do avião pela acção do vento.
Após abordar alguns aspectos técnicos de pormenor, relacionados com o aparelho em construção e a viagem, Sacadura Cabral relatava a viagem acidentada que tivera, ao trazer para Calshot um hidroavião que tinha sido oferecido a Portugal e com o qual ele deveria depois voar para Lisboa. Devido a um erro dos mecânicos ingleses no sistema de abastecimento de gasolina ao motor, tinha tido de «amarar em pleno mar, em frente de Newhaven (55` daqui), pela 1 da tarde. Só às 10 da noite nos agarraram a 22`do ponto de descida e já quase em cima de terra», sendo no dia seguinte rebocado até Calshot.
Nesta carta destacam-se dois pontos. O primeiro ponto é relativo ao hidroavião em construção.
«O «aparelho transatlântico» é aqui esperado amanhã ou depois e deve estar montado no dia 30. Vamos ver o que darão as experiências. Avisá-lo-ei logo que haja alguns resultados interessantes a comunicar».
O segundo ponto é do máximo interesse. Sacadura Cabral comunica a Gago Coutinho, que está a pensar tê-lo como companheiro de viagem.
«Até agora não tenho assente como farei a viagem, mas por enquanto as probabilidades são para o convidar ao passeio porque……nos entendemos e temos vontade de fazer coisas, o que em geral não acontece á juventude de hoje.»
Sacadura Cabral estava assim a considerar a hipótese de ter de pilotar o hidroavião durante 18 horas. Em 1919, a travessia Terra Nova-Irlanda tinha tido uma duração de 16H30, mas com dois pilotos.
Comunica o seguinte: «O aparelho só hoje ficou pronto a voar, isto é, temos um atraso de pelo menos 6 dias. 1.ª falta ao contrato. A 2.ª falta é que o aparelho, vazio, pesa mais 140 libras do que está estipulado. Estou algo desconsolado com isto. Veremos o que ele dará nos ensaios de carga máxima e de velocidade e consumo médios.»
A carta inclui algumas considerações baseadas em informações obtidas no Ministério britânico, relativas ao regime de ventos.
Quanto ao aparelho, Sacadura Cabral informa sobre as alterações que estão a ser efectuadas, que não o deixam optimista. Termina escrevendo:
«Enfim, veremos o que sai de tudo isto, mas não estou a ver possibilidades de que o aparelho chegue a Lisboa antes de 15 de Janeiro.»
Dá conta das alterações e experiências a que o aparelho continua a ser sujeito e continua pouco optimista. Informa Gago Coutinho que não está disponível para aceitar o adiamento da viagem por um ano (hipótese admitida por Gago Coutinho) e mostra-se preocupado com a continuação da instabilidade política em Portugal, ao escrever:
«Vi hoje num jornal inglês que o Ministério português tinha caído na terça-feira passada. Tudo isto é uma questão de chance…..encontrar um ministro que esteja para aí virado.»
Entre Março de 1919 (pedido de licença para a viagem) e Março de 1922 (início da viagem), houve 16 Ministros da Marinha em Porugal. Tal como Sacadura Cabral afirmava, era tudo uma questão de chance.
Informa que foi feita uma experiência de descolagem com 3/4 de carga, que resultou. Em nova experiência com a carga máxima o aparelho não descolou. No próprio dia 25 de Dezembro, estava a ser montado um motor «novinho em folha» , para ser feita nova experiência no dia seguinte. Terminava escrevendo:
«Enfim, veremos o que sai de tudo isto, mas começo a ver muito problemática a ida ao Brasil.»
Informa que foram feitos ensaios de descolagem do aparelho com carga máxima, nos dias 26, 27, 29 e 31, todos sem sucesso. Indica que a semana seguinte será decisiva, pois há um vapor no dia 7, com chegada a Lisboa no dia 15, o que permitiria ter o aparelho montado no final de Janeiro, seguindo-se uns 20 dias para os últimos preparativos.
Esta carta tem uma particularidade assinalável. Começa da forma seguinte: «Meu caro Ex-Chefe e talvez futuro observador».
Quanto ao aparelho informava, que o mesmo tinha sido experimentado dia 4 e «resolveu-se a sair da água em 90 segundos com vento de 13 a 15 milhas, o que não é mau» Dia 5 o aparelho estava encaixotado e dia 6 estava em Londres, embarcado a bordo do «Hambron» , que seguia para Lisboa.
Terminava informando, que esperava chegar a Lisboa de 15 a 20 de Janeiro e que «antes do fim de Janeiro o «transatlântico» deve estar montado.»
O «Hambron» chegou a 11 de Janeiro, a Lisboa, onde desembarcou o hidroavião encaixotado. A montagem do aparelho começou no dia 16 de Janeiro, mas teve uma duração superior à esperada.
Sacadura Cabral só conseguiu chegar a Lisboa a 6 de Março , mês e meio depois do previsto, devido a uma série de peripécias ocorridas com o hidroavião que devia trazer para Lisboa, que acabou por se inutilizar pelo caminho.
Chegado a Lisboa, Sacadura Cabral apresentou-se de imediato ao Ministro da Marinha, Vitor Hugo de Azevedo Coutinho (oficial da Armada), que quis logo ser informado acerca da viagem ao Brasil. Sacadura Cabral informou que o hidroavião estava em Lisboa, mas que ainda tinha de ser submetido a voos de ensaio. Acrescentou que a viagem, a realizar-se, tinha de ser iniciada de modo a estar em Cabo Verde na lua de Abril, visto a etapa ilha de Santiago-ilha Fernando de Noronha ter de ser feita de noite.
O Ministro Azevedo Coutinho mostrou todo o empenho em que a via -
gem fosse por diante, afirmando que facultaria todos os meios de que poderia dispor.
Foram postos à disposição da missão três navios: o cruzador «República» , o aviso «5 de Outubro» e a canhoneira «Bengo» . O «República» seria o navio de apoio, embarcando o pessoal especializado na manutenção dos aviões , sob a direcção do 1.º Tenente engº Ernesto Costa e do mestre-geral de oficinas Roger Soubiran, bem como combustível e sobressalentes. O «República» seguiria directamente para Cabo Verde, enquanto que o «5 de Outubro» e a «Bengo» , iriam para Las Palmas, na Gran Canária.
O hidroavião foi sujeito a 3 voos de experiência . Afinaram-se detalhes, introduziram-se as modificações consideradas necessárias, tirou-se o duplo comando e, sob a supervisão de Gago Coutinho, que se confirmou então ir participar na viagem, instalou-se o necessário para facilitar o seu trabalho de navegador.
A 25 de Março, o «República», o «5 de Outubro» e a «Bengo» largaram de Lisboa, rumo aos seus destinos.
Como todos os preparativos para a viagem só ficariam concluídos a 29 de Março, a partida ficou decidida para o primeiro dia de bom tempo, a partir do dia 30.
A 29 de Março, à tarde, depois de ver que tudo estava em ordem, Sacadura Cabral voou até Cascais, onde fez uma observação geral do tempo. Estando o tempo excelente, quando chegou de volta à doca do Bom Sucesso, mandou colocar o hidroavião na zorra, que o iria lançar à água no dia seguinte.
No mesmo dia 29 de Março, em sessão na Assembleia da República, um deputado do Partido Reconstituinte louvou o arrojo dos aviadores, mas criticou o governo por autorizar os gastos inerentes à viagem, dizendo «pretendendo o governo realizar uma determinada politica financeira, precisa de ser muito severo nas economias» . Gerou-se a controvérsia no hemiciclo, dizendo no final o de -
putado Agatão Lança «Por fatalidade e destino deste País, nas suas horas grandes aparece sempre um velho do Restelo».
A viagem só se iniciou, devido à capacidade organizativa e à vontade férrea de Sacadura Cabral e ao apoio incondicional que recebeu do Ministro Azevedo Coutinho.
O presente artigo baseou-se no livro «Sacadura Cabral. Homem e Aviador», da autoria do Coronel Piloto-aviador Pinheiro Corrêa, e na «História da Força Aérea Portuguesa», da autoria do Coronel Piloto-aviador Edgar Costa Cardoso (272/1919).
O Autor agradece ao Sr. Comandante Baptista Cabral a sua revisão do texto.
Além das bandeiras de hastear ― usadas nas fortalezas e outras edificações militares ― o Exército de Portugal usou, desde a Idade Média, bandeiras "portáteis" , utilizadas em combate para identificação das unidades e dos seus comandantes. Até ao século XVI, essas bandeiras, eram a reprodução da Bandeira Real (ou Nacional). A partir do século XVII as bandeiras portáteis do Exército passam a ter um desenho diferente.
Na Guerra da Restauração, em combate, as unidades do Exército Português usaram bandeiras quadradas com a Cruz da Ordem de Cristo. Aparentemente a maioria dessas bandeiras tinham o campo da cor verde, cor da Casa de Bragança. Ao que parece também foram usadas bandeiras com o campo gironado de verde e branco. Também é possível que fossem usadas outras cores, distintas de unidade para unidade.
A partir do Reinado de D. Pedro II, ao que parece, foi estabelecida uma regulamentação mais específica em relação às bandeiras das unidades militares. Talvez seja a partir dessa altura que se tenha passado a dar o nome de Estandarte às bandeiras das unidades de Cavalaria. Nessa altura cada troço de cavalaria ou terço de infantaria passa a ter uma farda distintiva que o identifica em relação às outras unidades. Além disso passa também a ter um modelo específico de bandeira.
Em cada troço ou terço existe uma bandeira por companhia, aparentemente, todas de formato igual. O desenho padrão das bandeiras seria um esquartelado de oito peças verdes e brancas, com uma bordadura contra-esquartelada do mesmo. Os Regimentos da Armada Real usariam bandeiras esquarteladas de 12 peças verdes e brancas.Em 1797 as cores reais, mudaram de verde e branco, para vermelho escarlate e azul. Provavelmente as cores das Bandeiras Regimentais foram também mudadas. Não se sabe exatamente qual o desenho das novas bandeiras, mas é provável que se tenha mantido o esquartelado de oito peças, com a bordadura contra-esquartelada, já que este é também o desenho base das 1ªs Bandeiras Regimentais introduzidas em 1806. Talvez, nesta altura se tenha começado a colocar as Armas Reais e outros emblemas, sobre o campo das bandeiras.
Em 1806, dá-se uma grande reorganização do Exército Português, introduzindo-se um novo Plano de Uniformes. Nesse Plano de Uniformes, aparece claramente especificado, pela primeira vez, o desenho, cores e distribuição das bandeiras regimentais. Ficou estabelecido que cada unidade de infantaria teria duas bandeiras regimentais. A 1ª Bandeira seria
esquartelada de quatro peças de azul e quatro de vermelho escarlate, com uma bordadura contra-esquartelada e, sobre tudo, uma aspa de amarelo. Ao centro teria um círculo branco com as Armas Reais e, em cada um dos quatro cantões, o Monograma Real assente sobre um quadrado branco. A 2ª Bandeira teria o campo de uma só cor ― branco, azul ou amarelo, conforme o forro do uniforme do regimento, cuja cor indicava a divisão a que pertencia a unidade ― com as Armas Reais ao Centro e Monogramas Reais nos quatro cantões. Em ambas as bandeiras seriam colocados listeis brancos com os nomes das unidades. Nos regimentos de Cavalaria existiriam quatro estandartes ― um por esquadrão ― de desenho semelhante ao das 2ªs Bandeiras das unidades de infantaria, mas de dimensões menores. Cada esquadrão regimental tinha um estandarte de campo de cor diferente - branco, azul, amarelo ou vermelho. Além disso, cada bandeira ou estandarte, tinha um laço atado, cujas cores identificavam o regimento dentro de cada divisão.
Este modelo de bandeiras foi usado durante a Guerra Penininsular. Algumas unidades que mais se distinguiram, foram homenageadas com acrescentamentos às suas bandeiras. Um exemplo
foi o Regimento de Infantaria Nº 9, em cujas bandeiras foi colocado, à volta das Armas Reais, um listel com os dizeres: E julgareis qual é mais excelente, se ser do Mundo Rei, se de tal Gente.
Eventualmente, estas Bandeiras foram também usadas pelo Exército Miguelistas durante a Guerra Civil, já que as cores Nacionais desta facção continuaram a ser o Azul e o Vermelho. No entanto, em algumas gravuras representando tropas, estas aparecem levando bandeiras brancas com as Armas Reais, semelhantes à, então, Bandeira Nacional (de hastear).
Em 1830 o Governo Provisório constitucionalista, instalado na Ilha Terceira, introduziu uma nova Bandeira Nacional. A nova Bandeira era bipartida de azul e branco ― que já haviam sido adoptadas como cores nacionais constitucionalistas em 1820 ― com as Armas Nacionais ao centro. É esta bandeira que levam as tropas constitucionalistas durante a Guerra Civil. Com a vitória destes, em 1830 a Bandeira azul e branca prevalece perante a antiga bandeira branca ainda usada pelos Miguelistas. Ao contrário do que acontecia anteriormente, as bandeiras regi -
mentais do Regime Constitucional passaram a seguir de perto o modelo da Bandeira Nacional (de hastear), com algumas diferenças de pormenor. A partir de 1868, cada regimento, passou a ter uma única bandeira ― igual tanto para as unidades de infantaria como nas de cavalaria ― bipartida de azul e branco, com as Armas Nacionais ao centro, rodeadas de vergônteas verdes e com um Monograma Real em cada um dos quatro cantões. Normalmente, sob as Armas Nacionais era colocado um listel com o nome da unidade.
Este modelo de bandeira esteve em vigor, até ao fim da Monarquia em 1910.
Na sequência da implantação da república em 1910, foi estabelecida uma nova Bandeira Nacional. O Decreto nº 150 de 30 de Junho de 1911 definiu as características da Bandeira Nacional (de hastear) e também das bandeiras regimentais das unidades militares. Estas, tal como as bandeiras regimentais da Monarquia constitucional, seguiam de perto o modelo da Bandeira Nacional. Segundo o referido Decreto:
Nas bandeiras das diferentes unidades militares, que serão talhadas em seda, a esfera armilar, em ouro, será rodeada por duas vergonteas de loureiro, também em ouro, cujas hastes se cruzam na parte inferior da esfera, ligados por um laço branco, onde, como legenda imortal, se inscreverá o verso camoneano:
Esta é a ditosa pátria minha amada.
Altura d'esta bandeira - 1,20 m.
Comprimento - 1,30 m.
Diâmetro exterior da esfera - 0,40 m.
Distância entre o diâmetro da esfera e a orla superior da bandeira - 0,35 m.
Distância entre o diâmetro da esfera e a orla inferior da bandeira - 0,45 m.
Apesar do Decreto de 1911 ter estabelecido, com grande precisão, o padrão básico das bandeiras regi -
mentais, vários regulamentos posteriores, estabeleceram padrões diferentes para os diversos ramos das Forças Armadas. Esses regulamentos, que foram diversas vezes alterados, estabeleceram dimensões e desenhos variados.
A Direcção da ZacatraZ agradece ao senhor José J. X. Sobral a autorização concedida, para a publicação deste seu artigo, que consideramos de grande interesse para os nossos leitores.
Desconhece-se quem sugeriu a criação de um Dia Internacional da Mulher, mas sabe-se que a ideia germinou nos Estados Unidos e na Europa entre finais do século XIX e inícios do século XX, no contexto das lutas das mulheres por melhores condições de vida e trabalho. Com o passar dos anos, essas manifestações foram alastrando para diferentes regiões do mundo, mas aquilo que nascera como iniciativa de inspiração sindical, evoluiu no decurso das décadas de 1910 e 1920 para uma luta pela igualdade completa de direitos.
A primeira data inequivocamente ligada à celebração é 26 de Agosto de 1910, quando, no decurso da Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas,1 em Copenhaga, a alemã Clara Zetkin propôs que se instituísse uma celebração anual das lutas pelos direitos das mulheres trabalhadoras, sem contudo fixar uma data. Em 19 de Março do ano seguinte, na Alemanha, na Áustria,
na Dinamarca e na Suíça, realizaram-se comícios de idêntica natureza nos quais participaram mais de um milhão de pessoas, a imensa maioria mulheres.
Uma das primeiras grandes manifestações reivindicativas ocorreu em Nova York, em 28 de Fevereiro de 1909, quando cerca de 10.000 mulheres saíram às ruas para reivindicar melhores salários, redução da jornada de trabalho e direito ao voto. Outros acontecimentos de diferente natureza concorreram para a celebração que conhecemos hoje, mas o mais impressivo terá sido o incêndio – segundo algumas versões posto pelos proprietários – da fábrica Triangle Shirtwaist, em Nova York, em 25 de Março de 1911, no qual morreram 125 mulheres que ali trabalhavam com salários miseráveis. Dada a dimensão da tragédia, percebe-se a sua incorporação no imaginário colectivo da luta que as mulheres travavam em muitos países contra as restrições aos seus direitos.
Foi neste contexto que nasceu o movimento sufragista, liderado por mulheres que haviam estudado e que reivindicavam o direito feminino à educação, ao trabalho, ao divórcio e à participação política. O primeiro país a reconhecer o direito ao sufrágio feminino foi a Nova Zelândia no ano de 1893, seguindo-se a Finlândia em 1906 e a Inglaterra em 1918. Embora se registassem acções de protesto por parte das mulheres em diversos países, foi na Inglaterra, nos Estados Unidos e na Rússia, que elas atingiram expressão de maior relevo.
Em 1897, a inglesa Millicent Fawcett fundou a União Nacional pelo Sufrágio Feminino, mas foi a partir de 1903 que a luta se intensificou, com a adesão de mulheres trabalhadoras e representantes das classes mais baixas, culminando com a fundação da Women’s Social and Political Union (WSPU).
A partir de então, o movimento reivindicativo passou a englobar campanhas
publicitárias, greves e manifestações – algumas violentas –, que frequentemente acabavam na prisão, onde algumas detidas eram sujeitas a tratamento violento. Esse período lamentável terminou no final da I Guerra Mundial, no decurso da qual se tornou óbvia a necessidade da força de trabalho feminina – um factor decisivo para que o voto das mulheres e o direito de participação activa em cargos políticos fossem finalmente concedidos.
Em 23 de Fevereiro de 1917 (no calendário russo e 8 de Março no calendário gregoriano), em protesto contra a morte de mais de dois milhões de soldados russos na I Guerra Mundial, cerca de 90.000 trabalhadoras do sector têxtil de Petrogrado protagonizaram uma greve geral. No dia seguinte, o operariado da cidade juntou-se aos protestos com cartazes que pediam “igualdade, pão, paz e terra”. Nesse mesmo ano, após inúmeras e violentas manifestações, greves e revoltas, o czarismo caiu.
O National Woman's Party (NWP) foi fundado nos EUA em 1916 para reclamar o direito ao voto feminino. A líder mais proeminente do Partido foi Alice Paul e a sua iniciativa mais notável foi a vigília «Sentinelas Silenciosas», realizada entre 1917 e 1919 junto aos portões da Casa Branca. Depois de, em 1920, a 19.ª Emenda à Constituição dos Estados Unidos ter garantido às mulheres o direito ao voto, o NWP passou a defender outros direitos, mas apesar da multiplica-
ção e intensificação das manifestações, só em 1963 o Congresso aprovou, com o Equal Pay Act, a proibição de diferenças salariais com base no sexo.
A I República portuguesa não permitia o sufrágio feminino. Em 1911, apesar de toda a propaganda progressista, o direito de voto estava reservado aos “portugueses maiores de 21 anos que soubessem ler e escrever e aos chefes de família”, sem especificar o sexo dos eleitores. Sendo viúva e chefe de família, a médica Carolina Beatriz Ângelo,2 que vinha lutando pelo direito ao voto feminino numa cruzada em que contava apenas com o apoio das escassas dezenas de membros da recém-fundada Associação de Propaganda Feminista, utilizou a falta de clareza da lei para reclamar o direito a votar, e este foi-lhe concedido pelos tribunais. Os legisladores republicanos, para evitar que houvesse mais mulheres a votar, alteraram em 1913 a Lei Eleitoral, fazendo entrar nela a expressão “cidadãos portugueses do sexo masculino” Só em 1931 as mulheres conseguiram esse direito, mas ainda com limitações: era preciso que tivessem frequentado o ensino superior ou fossem chefes de família (viúvas, divorciadas ou judicialmente separadas de pessoas e bens). Em 1933 a Lei Eleitoral foi de novo alterada para conferir o direito de voto à “mulher solteira, maior ou emancipada, quando de reconhecida idoneidade moral, que viva inteiramente sobre si e tenha a seu cargo ascendentes, descendentes ou colaterais.” Em 1934 foi dada oportunidade às mulheres de se candidatarem, tendo três delas sido eleitas para a Assembleia Nacional. Em 1968 a Lei Eleitoral alargou o direito de voto a todos os cidadãos portugueses que soubessem ler e escrever. Só depois do 25 de Abril de 1974, com a lei n.º 621/74 de 15 de Novembro, é que o direito de voto se tornou universal em Portugal.
No domínio internacional, a ONU designou 1975 como Ano Internacional da Mulher e o dia 8 de Março foi adoptado como o Dia Internacional da Mulher, com a finalidade de lembrar as suas conquistas sociais, po-
1 Integrada no VIII Congresso da Internacional Socialista.
líticas e econômicas.3 Dois anos mais tarde, em 1977, a Assembleia Geral da ONU adoptou uma resolução que proclamava o Dia das Nações Unidas pelos Direitos das Mulheres e da Paz Internacional.
2 Carolina Beatriz Ângelo morreu no mesmo ano em que votou para a eleição dos deputados ao Parlamento, mas não ficou esquecida. O Hospital do SNS inaugurado em Loures em 2012 tem o seu nome.
3 No entanto, foi dada a liberdade a todos os países para escolherem o dia em que preferiam celebrar, de acordo com as suas tradições e a sua História.
No número 225, de Out/Dez de 2021, da revista ZacatraZ, saiu a notícia do falecimento do Júlio Augusto de Magalhães Faria (219/1954), o «Borba» , um excelente camarada. Foi furriel no curso anterior ao meu, tendo acabado no meu curso como uma estrela da 3.ª. A notícia referida era ilustrada por uma foto da selecção nacional de rugby, que disputou um jogo Portugal-Itália, em 1967, em que o «Borba» tomou parte. Na foto reconheciam-se mais quatro Antigos Alunos. Isto é, um terço do XV de Portugal era formado por Antigos Alunos do Colégio. Um facto notável.
Comentando aquele facto com o João Paulo Bessa (200/1957), que fornecera a foto, a resposta foi uma nova foto, tirada uns anos mais tarde, com um novo XV de Portugal, em que mais uma vez figuravam cinco Antigos Alunos, mas diferentes dos da foto anterior. Novo facto notável.
Como se isto não bastasse, chamou-me o João Paulo a atenção para um
artigo por si escrito, no número 218, de Jan/Mar de 2020, da revista ZacatraZ, intitulado «1.º Torneio TagRugby» , em que ele apresentou a listagem completa dos Antigos Alunos Internacionais de Rugby. Eram nada menos do que dezoito. A somar a tudo isto, indicava-se ainda naquele artigo, que desses dezoito internacionais, quatro foram depois treinadores-seleccionadores da selecção principal de Portugal. Haverá algum outro Colégio, por esse mundo fora, que possa apresentar um palmarés deste nível? Não creio que haja.
Porque é que a nossa comunidade de Antigos Alunos não tem conhecimento deste facto excepcional e não o valoriza devidamente? Quanto a nós a explicação é simples. O rugby só muito recentemente se tornou modalidade olímpica, foi nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro e apenas na variante de «Sevens». Fosse o rugby de quinze uma modalidade olímpica, todos nós conheceríamos tão bem estes nossos rugbystas como conhecemos os nos -
sos cavaleiros, esgrimistas e pentatlonistas olímpicos.
Vamos então recapitular a «matéria dada» e comecemos por recordar os nossos rugbystas internacionais.
Na página seguinte apresentamos a nossa "GALERIA DE NOTÁVEIS", ou seja, a galeria dos nossos internacionais de Rugby.
Uma primeira observação desta galeria indica-nos, que nove dos dezoito internacionais tiveram as suas primeiras internacionalizações num período curto, de apenas cinco anos, de 1965 a 1969. Alguém estranho ao Colégio, poderá pensar, que se tratou de uma «fornada» excepcional de atletas, que frequentou o Colégio quando o rugby aí teve um período de grande fulgor. Nada de mais errado. O rugby nunca foi uma modalidade praticada no Colégio. Para aquele facto excepcional há uma explicação conjuntural, relativa à evolução do rugby em Portugal, e há, obviamente, uma explicação relativa à formação desde sempre dada no Colégio aos seus alunos.
Comecemos pela segunda explicação, ou seja, à formação dada no Colégio. Em 1901, o Director de então, o insigne pedagogo José Estevão de Morais Sarmento, escreveu no regulamento do Colégio, que a educação no mesmo tinha o triplo objectivo de formar homens dotados de:
- carácter honrado e resoluto. - inteligência lúcida e esclarecida. - organismo forte e desembaraçado.
Este triplo objectivo manteve-se ao longo dos anos, embora seja descrito de forma cada vez mais arrevesada e consequentemente menos clara. Assim, os jovens Antigos Alunos da década de 60 do século passado, quando o rugby teve um forte incremento em Portugal, de que eles foram dos principais obreiros, tinham um «organismo forte e desembaraçado» , pois tinham tido no Colégio uma educação física de grande qualidade e de largo espectro, que lhes permitia adaptarem-se a qualquer nova modalidade desportiva com relativa facilidade. Por outro lado, eram homens de carácter, corajosos, que gostavam de novos desafios e de um desporto «de combate» , jogado com o maior «fair-play» , sem o que se tornaria numa selvajaria. No rugby, ao contrário de outros desportos colectivos, não há «fitas», com jogadores a simular terem sido agredidos, a rebolarem-se pelo chão, a fazer «queixinhas» aos árbitros. Como se costuma dizer, o rugby é um «desporto de rufiões, jogado por cavalheiros». A célebre equipa dos "Barbarians" (selecção das ilhas britânicas) adoptou como seu lema a célebre frase proferida, em 1894, pelo Reverendo W.J. Casey «O rugby é um jogo para pessoas bem-educadas de qualquer classe, mas nunca para maus desportistas, seja de que classe for». É esse um dos seus maiores atractivos. Todos se respeitam e todos se aplaudem mutuamente.
É um jogo duro?
É sim senhor. Mas é disso que a malta gosta. Quanto à conjuntura verificada no mundo do rugby nacional, na primeira metade da década de 60 do século passado, explica-se essa conjuntura, analisando a génese e a evolução do rugby em Portugal.
O rugby teve um começo difícil em Portugal. Não se impôs rapidamente como o futebol. Não era um desporto popular. Tal como o futebol tinha tido origem na Inglaterra, mas era uma modalidade desportiva bastante estranha, para não dizer bizarra.
A bola não era esférica, era oval, não rolava, dava saltos, com trajectórias imprevisíveis, e era difícil de agarrar. O objectivo era avançar para a frente, até tocar com a bola no chão, para lá da linha onde se levantava o H dos postes. No entanto, quando jogada à mão, a bola só podia ser jogada para trás. Só um lunático se lembraria de uma coisa destas. Quando se chutava aos postes, a oval devia passar por cima da trave e entre os postes, o que nem sempre era fácil de comprovar. As placagens era uma coisa gira, mas como naquele tempo a maioria dos campos não eram rel -
vados, cada placagem correspondia a umas boas «lixadelas» das partes do corpo não protegidas, incluindo a cara. Como o pessoal jogava à bruta, as lesões abundavam. Se a tudo isto, juntarmos um conjunto de regras herméticas, com um palavreado em francês, como «touche», «avant», mélée», «arriére» e outros, a maioria do pessoal torcia o nariz e preferia ir para o futebol, que era só correr e dar uns pontapés na bola.
Face a este quadro, a modalidade progrediu com lentidão. Naturalmente, os primeiros jogos internacionais foram com a Espanha. Começaram por se fazer jogos entre selecções das capitais, ano de 1934, a que se seguiram os das seleções nacionais nos anos de 1935 e 1936 que se indicam no Quadro 1.
A isto, seguiu-se a Guerra de Espanha (1936-1939) e depois a 2.ª Guerra Mundial (1939 – 1945). Como Portugal e Espanha eram neutros durante a 2.ª Guerra Mundial, ainda se realizou, a 23/3/1940, em Lisboa, um jogo entre as selecções das capitais, saindo vencedora a selecção de Madrid, por 9 a 3.
A selecção nacional só realizou o seu terceiro jogo em 1954 e de novo com a Espanha. O jogo foi em Madrid. Portugal perdeu por 23 a 0.
Em Setembro de 1957, iniciou-se uma nova era para o rugby nacional com a fundação da Federação Portuguesa de Rugby. Na época seguinte, começaram os campeonatos nacionais da 1.ª divisão, nos moldes em que se realizam ainda no dia de hoje.
No que se refere a campeões nacionais, a situação foi a seguinte: na época de 1958/59 foi o Belenenses, nas 3 épocas seguintes foi o Benfica, em 1962/63 volta a ser o Belenenses e até ao final da década de 60 o campeão crónico foi o Clube Desportivo Universitário de Lisboa (CDUL), onde pontificavam vários Antigos Alunos. Na década de 70, o Benfica, o CDUL e o Belenenses vão
repartindo os títulos entre si, até que, em 1977, pela primeira vez, o campeão nacional não foi um clube da capital, foi a Associação Académica de Coimbra. Foram assim os universitários que começaram a dominar, em força, o rugby nacional. Havia Antigos Alunos a jogar no CDUL, como se referiu, em Agronomia, no Técnico, em Direito e também no CDUP (do Porto).
Em resultado deste novo impulso sofrido pelo rugby a nível interno, reataram-se, em 1965, após um interregno de 11 anos, os jogos da selecção nacional e os Antigos Alunos, que brilhavam nos diferentes clubes universitários, lá estavam prontos para servirem a selecção. Os encontros internacionais reataram-se, como indicado no Quadro 2.
Na segunda metade da década de 60, passou-se algo, que despertou um
grande interesse pelo rugby em Portugal e que ajudou na sua evolução.
A RTP, que na altura tinha o exclusivo da televisão, começou a transmitir, aos sábados à tarde, os jogos do Torneio das 5 Nações , que na altura reunia as equipas da Inglaterra , da Escócia , do País de Gales , da Irlanda e da França. Era qualquer coisa de outro mundo. No Técnico, onde estávamos, havia pessoal a faltar às aulas (havia aulas ao sábado à tarde) para assistir aqueles jogos. Aí aprendemos a conhecer os míticos estádios onde se disputavam aqueles jogos (Twickenham, Murrayfield, Parc des Princes, Arms Park, Landsdowne), que se enchiam com dezenas de milhares de adeptos, como se fosse no futebol. Aí ouvíamos os adeptos a cantarem os hinos das suas nações com um fervor quase religioso ( ines -
quecível o Land of my Fathers, cantado pelos galeses). Aí ficámos a conhecer jogadores que ainda hoje se recordam, desde os poderosíssimos homens dos «packs» de avançados, aos três quartos que corriam como gazelas, até aos minúsculos médios de formação, que tiravam a oval do meio do espezinhar brutal das formações, para a entregarem «limpinha» nas mãos do médio de abertura. Aquilo até parecia simples. Nunca esquecemos um desses peso-pluma, o francês Guy Camberabero.
O máximo ocorria, muito esporadicamente, quando as equipas do hemisfério Sul, os All Blacks da Nova Zelândia, os Wallabies da Austrália e os Springbocks da África do Sul, faziam uma digressão pela Europa. Eram jogos do mais alto nível, em que todos se superavam. Dava gosto ver. Mas tudo aquilo nada tinha a ver com a nossa realidade, do amadorismo mais puro. Recordo-me que o primeiro jogo em que vi, ao vivo, rugbystas do hemisfério Sul, foi em Dezembro de 1970, num jogo no Estádio Nacional, com o campo coberto de nevoeiro e com um frio como agora já não existe. A selecção de Lisboa, designada na ocasião por XV de Portugal, defrontou a equipa da Universidade de Stellenbosch, da África do Sul. O resultado foram uns contundentes 64 a zero. Não é necessário indicar qual foi a equipa vencedora.
Naquele tempo de pioneirismo da nossa selecção nacional, o nosso calcanhar de Aquiles era sempre a estatura e o peso dos nossos avançados. O peso dos «packs» de avançados das selecções adversárias eram habitualmente 20 a 30% superior ao do nosso «pack» . Quando chegava a hora de empurrar numa formação ordenada ( mélée ), não era difícil
adivinhar para que lado o conjunto deslizava. Quanto à altura dos jogadores a diferença era também notória. Quando havia que saltar para agarrar a oval, em reposições de bola em jogo a partir das linhas laterais (touches) eram quase sempre os nossos adversários que subiam mais alto e que ficavam com a oval. Como os nossos atletas actuais já têm mais uns bons 10 centimetros, ou mais, do que o nosso pessoal dos anos 60, a diferença já não é tão grande.
Voltando aos feitos da nossa selecção. A selecção lá foi progredindo, tendo realizado o seu 28.º jogo, em 7/4/1974, em Hanover. Seguiu-se o confuso período revolucionário. A selecção fez um jogo oficial isolado em 1979, em Lisboa, contra a Suiça, e só voltou a jogar oficialmente, de forma regular, a partir de Fevereiro de 1981.
Entretanto, a Federação deve ter reparado que os internacionais Antigos Alunos tinham algum carisma e não brincavam em serviço, pelo que, em 1976, começou a confiar a selecção a Antigos Alunos, que na mesma tinham jogado. Era a LIDERANÇA aprendida no Colégio a dar os seus frutos. Deu-se então a seguinte situação, verdadeiramente notável. Foram selecionares- treinadores da selecção os seguintes Antigos Alunos: Pedro Lynce de Faria (27/1954), de 1976 a 1983, João Paulo Bessa (200/1957), de 1983 a 1986, Olegário Borges (354/1963), de 1986 a 1991, Vasco Lynce de Faria (21/1960) de 1991 a 1992, e novamente João Paulo Bessa (200/1957), de 1994 a 1999. Foi um total de 21 anos. FANTÁSTICO.
Foi pois, um conjunto notável de Antigos Alunos, que deu um contributo
determinante, primeiro como praticantes e depois como selecionadores-treinadores, para o arranque decisivo do rugby nacional, a partir da década de 60 do século passado. O seu exemplo e o seu labor deu frutos, tendo a selecção nacional atingido o seu fulgor máximo, ao classificar-se, em 2007, para a fase final do Campeonato do Mundo, disputado nesse ano em França. A equipa de Portugal, os "Lobos" , foi incluído no grupo da Escócia, da Nova Zelândia, da Itália e da Roménia. Era a única equipa amadora. Perdeu todos os jogos. Conseguiram um facto extraordinário, fizeram um ensaio contra os All Blacks , num jogo que estes venceram por 108 a 13. No final desse jogo, os All Blacks convidaram os Lobos para o seu balneário, para confraternizarem com aquela extraordinária equipa de amadores. Os Lobos foram recebidos em Portugal como heróis. O seu desempenho galvanizou muitos jovens e verificou-se um aumento do número de praticantes da modalidade.
Actualmente, Portugal ocupa o 20.º lugar no ranking internacional, o que é bastante bom. Poucos se lembrarão, no entanto do importante papel desempenhado pelos Antigos Alunos do Colégio Militar no arranque determinante da caminhada que conduziu a nossa selecção até esta posição. Assim sendo, nunca é demais lembrá-lo. É o nosso DEVER DE MEMÓRIA.
Perguntarão «Não haverá mais Antigos Alunos na selecção nacional de rugby?» . É muito difícil que tal venha a acontecer. Os tempos são outros. Se consultarem o site da Federação Portuguesa de Rugby, verão que mais de metade dos membros da actual selecção se encontra em
Fila de cima da esquerda para a direita:
1º Júlio Faria (219/1954)
Fila de baixo: 2º Luis Matos Chaves (195/1954) 4º Pedro Lynce de Faria (21/1954) 5º Carlos Pardal (100/1947) 6º Luís Lynce de Faria (27/1957).
França, a jogar no campeonato francês. Isto agora é para profissionais. Acabaram-se, há muito, os tempos do amadorismo puro e romântico, em que até se pagava para jogar, se necessário fosse.
Uma coisa é certa. Os Antigos Alunos internacionais de Rugby, têm todo o direito de ombrearem com os nossos atletas olímpicos, na Galeria dos Notáveis Colegiais. Para eles, um grande ZacatraZ.
Agradecimento:
Agradeço ao João Paulo Bessa (200/1957) as fotografias que ilustram este artigo e as sugestões que fez em relação ao mesmo.
Fila de cima:
1.º António Duque (12/1957) 2.º Nuno Lynce de Faria (490/1958)
Fila de baixo da esquerda para a direita: 2.º José Spínola (539/1963) 4.º João Paulo Bessa (200/57) 7.º Carlos Moita (392/1965)
Se em qualquer estabelecimento de ensino a boa qualidade do corpo docente é factor intangível para que dele saiam cidadãos bem sucedidos, este factor assume uma importância transcendente no caso do Colégio Militar, pois possui características únicas no país, quais sejam a vivência em internato, a educação baseada na respeito por inquestionáveis valores nacionais, humanos e sociais, a emulação da excelência, a apurada responsabilidade individual e colectiva, as exigências físicas intensas e intensivas, o culto da camaradagem, a exaltação do espírito de corpo, o uso de vestuário igual para todos, o enquadramento das actividades diárias, não escolares, pelos alunos mais velhos, a instrução militar adequada às idades, a participação em grandes actos solenes e em cerimónias nacionais, e a sublimação do amor à terra, às gentes e à história portuguesas.
É com este enredo que têm que contracenar todos quantos servem o Colégio como docentes e como educadores, e é para se pro-curar incessantemente o seu aperfeiçoamento que é importante o seu contributo.
Ao longo dos tempos, leccionaram no Colégio Militar centenas de pessoas academicamente muito habilitadas para o exercício da docência, mas nem todas conseguiram ser «professores» do Colégio Militar no sentido de serem reconhecidos como tal segundo o que deles espera a instituição e sob a precisão da lupa dos alunos.
É que no Colégio, para ser reconhecido como «professor» é necessário muito mais, como conhecer o passado, entender o Colégio como uma instituição diferente, viver o seu dia-a-dia, compreender muito bem os seus alunos, saber interpretar as sua atitudes, entender as suas dificuldades e sujeições, estar junto
deles nos seus êxitos e insucessos bem como nos momentos marcantes da sua trajectória como colegiais, participar nas inúmeras iniciativas em que o Colégio se envolve, compreender as suas tradições, ser dedicado e voluntarioso e afirmar-se pela sua capacidade científica e pedagógica, pelo rigor na exigência e pela justiça e equidade.
Por outras palavras, para se ser de facto «professor» do Colégio Militar é preciso enfrentar o difícil exercício da docência irmanado no mesmo lema colegial: «SERVIR».
Servir fiel e continuadamente, de modo a que os seus discípulos o vejam como um exemplo capaz de perdurar nas suas memórias e marcar definitivamente a sua formação.
Não é fácil! Porque, embora o Colégio disponha de excelentes condições didácticas, existe nele um supremo júri que sempre acaba por dar um veredicto.
Os juízes que o compõem deambulam há duzentos anos um pouco por cada canto, umas vezes concentrados nos seus deveres, outras aparentemente distantes, mas, todavia, sempre perscrutadores de precisão e críticos implacáveis. E diga-se que raramente falham: são os alunos!
São eles quem diz à História quais os que devem ficar em definitivo com o tal epíteto de «professores do Colégio Militar». Os que conseguem «sentença» favorável ficam a residir para sempre na lembrança dos ex-alunos, os quais sempre lhes manifestam a sua gratidão e amizade sinceras nos momentos do reencontro e exibem exuberantemente a satisfação de os ter consigo cada vez que os seus cursos se reúnem no Colégio em confraternização. E não raro se vê uma lágrima incontida humedecendo lentamente as rugas da face do velho mestre, como
que abanando a sua consciência para lhe dizer: «“Orgulha-te do teu trabalho e da tua dedicação! Terias melhor paga que o carinho que te oferecem?”»
Texto extraído da «HISTÓRIA DO COLÉGIO MILITAR» de José Alberto da Costa Matos (96/1950).
Foi-me pedido que submetesse –até ao final de Janeiro – um artigo candidato a ser incluído na nossa revista ‘ZacatraZ’ do 1º trimestre de 2022.
Acontece que neste momento não tenho nenhum tema que me desperte a curiosidade de ‘investigador’ (donde tem saído a maior parte dos meus artigos) nem tenho nada em ‘stock’.
Mas como sou ‘organizadinho’, tenho dossiers digitais anuais dos meus textos – para minha Memória Futura – e lembrei-me de ir à procura duma dúzia de textos que pudessem fazer parte dum arremedo de ‘retrospectiva’ de 2021. No entanto, tinham de obedecer a duas condições auto-impostas: não serem sobre ‘análise política’ (porque nunca escrevi nenhum artigo a favor deste governo e a ‘ZacatraZ’ não está direccionada para esse género de temas) nem serem específicamente sobre o Vírus Chinês (porque não me compete manter vivos o ‘Ómnicronzito’ e o marketing do medo).
Abri então o dossier digital de tudo o que tinha escrito em 2021 (na sua esmagadora maioria com uma ou ― no máximo ― 2 páginas de extensão) e fiquei espantado por serem mais de mil textos
(uma média de uns 3 textos por dia de calendário).
Depois de ‘deitar fora’ tudo o que não obedecia às duas condições referidas (e outros artigos que não se enquadravam de maneira nenhuma na ‘ZacatraZ’) fiquei com menos de 20 textos onde se incluem algumas historietas da vida real (risonhas e não só), comentários críticos a notícias divulgadas e reflexões várias.
Após contacto com a redacção da Zacatraz, foram escolhidos os títulos que se seguem:
- Size matters.
- O DAI do meu irmão João.
- Prioridade para quem vem a subir.
- A minha última "historieta" de 2021.
- As 5 leis fundamentais da estupidez humana.
‘Maldosos’ como alguns dos meus leitores são, já estão a antever um texto de conteúdo sexual! Desenganem-se.
É pura e simplesmente mais uma das minhas historietas da vida real. Aproveito para confidenciar que – cada vez que
escrevo uma ‘historieta da vida real’ –penso sempre que será a última (porque certamente já vos contei todas aquelas que merecem o tempo que eu gasto a escrevê-las...e vós, a lê-las).
Então vamos lá ao tempo da minha juventude...as décadas de 1960 e 1970 (à medida que a minha idade aumenta, assim também aumenta o limite da minha juventude, que actualmente já vai para aí nos meus 35 anos...eh eh eh).
Esta historieta é pois da ‘idade da pedra’ no que se refere à informática.
Era uma época em que muitas empresas em Portugal começavam a ter centros de computadores (e – calculem! – em que o único processo de colocar dados nos computadores era através de ‘cartões de 80 colunas’ que dedicadas funcionárias, perfuravam, ‘noite e dia’).
Essas empresas necessitavam de escolher – dentre os seus funcionários –aqueles que parecessem ter perfil para programadores e, a um nível menos exigente de qualificações académicas, os que pudessem adaptar-se a serem operadores no ‘computing centre’
Vamos chamar ao nosso herói, J.R. (não, não tem nada a ver com o célebre J.R.
Ewing da ‘soap opera’ DALLAS, que aliás, só começou em 1978).
J.R. tinha ‘o curso dos liceus’ e tinha entrado para uma posição vulgar na empresa, enquanto – pouco a pouco – ia tirando, ‘à noite’, a licenciatura em economia.
Quando surgiu a oportunidade de ser desviado para a ‘sexy’ area da informática, ele foi dos primeiros a mostrar-se disponível (a area era tão ‘sexy’, que todos os que trabalhavam no ‘computing centre’ usavam batas brancas, quais médicos especialistas...eh eh eh).
As suas qualificações vulgares não lhe deram possibilidade de ser reconhecido como candidato a programador mas acabou por ser aceite para operador na sala de computadores.
E porque é que foi aceite, perguntarão os leitores (porque há sempre uma razão)?. Ah, pois é. Por vezes, decisões que mexem em definitivo com a vida das pessoas, são tomadas devido a detalhes considerados sem importância.
Neste caso específico, J.R. teve a sua oportunidade na informática (como operador na sala de computadores) porque a sua mão era (e é) ENORME!
À falta de qualquer outra qualidade mais rebuscada, o facto de ter uma mão enorme (e é mesmo ENORME!) tinha como consequência que demorava menos tempo a colocar diariamente os milhares de cartões perfurados nos ‘cards readers’ que liam os dados desses cartões, para os discos ou bandas magnéticas do computador.
Com o tempo (e muita dedicação) J.R. licenciou-se em economia e foi progredindo na sua carreira profissional, que terminou como director geral de informática dessa empresa.
Os famosos cartões perfurados.
Tive uma relação profissional duradoura com J.R. (além de habitar num prédio pegado ao meu, nos Olivais Sul) e isso incluiu muitas ‘viagens de estudo’ ao estrangeiro, para ver outras empresas mais avançadas informáticamente. Não posso deixar de relembrar aqui, que – no ‘período épico’ pós 11 de Março de 1975 – acontecia uma constante sempre que saíamos para o estrangeiro, pelo aeroporto de Lisboa.
J.R. era sempre chamado à ‘PIDE’ desse tempo, para garantir que ele não era o J.R. de que essa organização andava à procura há uns anos...eh eh eh.
As coisas de que a gente se lembra!
Uma ‘historieta’ da vida real, contada pelo próprio (que autorizou a sua publicação)
De: João Gabriel Passarinho Franco Preto (ex-59 de 1960)
Tenho implantado um DAI (Disfibrilador Automático Implantable), desde Abril de 2019 e ontem funcionou pela primeira vez, sem ter sido activado cirurgicamente... (Não sei se é para alegrar-me, ou não!).
Cerca do meio dia, sentí um enjôo tremendo e em décimos de segundo, pensei que ia morrer. (É desta, veio-me à cabeça!). Perdi o conhecimento e ‘de imediato’ levei um choque diabólico no coração, que me despertou instantâneamente. Isto tudo em dois, três segundos!
Ao terceiro segundo já sabia que ainda não era desta ... por ter sentido o choque...(bastante violento, diga-se...)
Apesar de me sentir bem – fui, como está determinado nestes casos ― às urgências do meu Hospital, onde me analisaram de cima abaixo. Internaram-me e deixaram-me sair hoje de manhã, pois todas as análises e exames estavam perfeitos. Também analisaram o DAI e aí estava bem marcada a ‘arritmia maligna’ que apareceu, sabe-se lá porquê!
A casa foi roubada. Menos mal que a ‘polícia’ estava atenta e apanhou imediatamente os ladrões!
E concluíram ainda, para me animar: Se não soubéssemos que isso poderia acontecer, não lhe tínhamos implantado o aparelho! Como – conforme já referi – as análises estavam perfeitas (tudo dentro dos limites considerados aceitáveis), regressei a casa!
Em 2021 aconteceu de tudo
Claro que a boa notícia é que o DAI funciona às mil maravilhas; a má, é que tive uma dessas ‘arritmias malignas’ ― a segunda desde Abril de 2019 (a primeira foi a que motivou a implantação do DAI)!
Nessa altura, provocaram-me ― durante a cirurgia ― uma ‘arritmia’ com pequenos choques elétricos e o coração voltou a parar. Como estava monitorizado (ligado a essas ‘máquinas malditas’) regressei à vida em 5 ou 10 segundos e aqui estou!!!! Mas foi uma experiência um pouco desagradável...antes de "morrer"! Sente-se um enjôo tremendo, com asfixia pelo meio.
Puffffffffffffffffffff . Horrível!
Mas haja boa disposição!.
Abraços João
o meu irmão João – ‘my little brother’ –vive em Espanha, na zona do Escurial, há mais de 10 anos. E ele é um exemplo vivo de que VIVER pode ser PERIGOSÍSSIMO (mais para uns que para outros).
Uma curiosidade histórica (que é possivelmente o sinal de trânsito mais antigo do mundo).
Sabem onde fica em Lisboa o sinal de trânsito mais antigo da cidade?
Na Rua do Salvador, n.º 26, em Alfama. Junto segue uma foto, mas antes, leiam esta descrição:
O sinal de trânsito mais antigo de Lisboa.
É uma placa que data de 1686 e foi mandada afixar por D. Pedro II para orientar os coches que passavam por essa rua estreita.
Diz assim: "Ano de 1686 Sua Majestade ordena que os coches, seges e liteiras que vierem da Portaria do Salvador recuem para a mesma parte".
Ou seja, o coche que vinha de cima perdia a prioridade em relação ao coche que vinha de baixo.
Esta rua, foi muito importante há 4 séculos, quando ligava as portas do Castelo de São Jorge à Baixa, e é, hoje em dia, uma pequena travessa, infelizmente cheia de prédios arruinados (como tantas outras nas redondezas), entre a Rua das Escolas Gerais e a Rua de São Tomé. A meio da pequena subida há um edifício, fora do alinhamento dos restantes, que a estrangula.
No tempo de D. Pedro II este estreitamento era causa de muitas discórdias entre os carroceiros que subiam ou des-
Rua do Salvador. Bairro de Alfama, Lisboa. ciam a rua. Se dois se encontrassem a meio, nenhum cedia passagem, uma vez que era tarefa difícil fazer recuar os animais. Houve mesmo lutas e duelos, com feridos e mortos.
Para evitar tais discórdias, foi publicado então um édito real e afixada uma placa no local, estabelecendo a prioridade a respeitar em tal situação.
Para terminar 2021, aqui vai uma – mais uma – ‘historieta’ da vida real.
Evidentemente que não conseguem adivinhar o tema, que é ‘importantíssimo’. Lenços de assoar para homem.
Ah ah ah.
Não obstante sofrer desde há umas dezenas de anos a pressão da minha ‘cara metade’ para passar a usar lenços de papel (como todos os argumentos científicos, lógicos e ilógicos) tenho resistido
‘heróicamente’ porque ...não me dá jeito nenhum assoar-me a papel e ficar por vezes com o ‘ranho’ nos dedos! E revejo-me muito satisfeito no meu filho mais velho que é o outro resistente que conheço!
Como ninguém me compra lenços (ih ih ih) e eles começaram a ‘ir para o lixo’ (sinceramente acho que não tem sido um acto deliberado de ‘alguém’)...simplesmente o pano começou a abrir fendas e até eu me vi obrigado a atirar para o lixo uns 2 ou 3...confesso que com muita pena e quase a chorar (ih ih ih)!
Perante a gravidade da situação comecei a lançar uns comentários ‘aqui e ali’ so-
bre isso, esperando receber incluído nos ‘presentes de Natal’ (trocados cá em casa durante o jantar do dia 24 de Dezembro, uma/s dúzia/s de lenços de assoar...
Ainda em ‘choque’ vi-me obrigado a pesquizar ‘on-line’ quem me poderia solucionar esta necessidade urgente, quiçá mais dramática para mim, que o ‘Omnicronzito’ é para as farmacêuticas...
Depois de várias peripécias sem sucesso, o website da LA REDOUTE tinha uma ‘oferta’ quase invisível de lenços de assoar para homem (isto porque a
Em 2021 aconteceu de tudo
resposta à pesquiza que lancei sobre ‘lenços de assoar para homem’ foi: não existe esse artigo). E foi por acaso, ao andar ‘feito tonto’ a passear pelo ‘website’ , que me apareceram os lenços! ‘IT MADE MY DAY!.
Mas para evitar ter de pagar despesas de transporte tive que comprar uma peça de vestuário de modo a ultrapassar o limite mínimo de 30 Euros de compras!
E desde ontem que já ‘recuperei a alegria de me assoar’, que deixou de ser um pesadelo...(e o stress que me provocava de cada vez que tinha de me assoar!?!) eh eh eh!
Mas – sinceramente – nunca pensei que no Natal não me dessem lenços de assoar para homem!
No respect... no respect ... no respect... éh éh éh!
Termino, ‘filosóficamente’, com:
As 5 leis fundamentais da estupidez humana
Nota Inicial:
Estas 5 leis são um esforço construtivo para investigar, conhecer e possivelmente, neutralizar, uma das mais poderosas e obscuras forças que impedem o crescimento do bem-estar e da felicidade humana. (Não concordo totalmente com algumas delas, nomeadamente com a 5ª lei, mas... quem sou eu?...)
Autor: Carlo M. Cipolla (1922-2000), historiador de economia, professor na Universidade de Berkeley e na Escola Normal Superior de Pisa.
1ª - Sempre - e inevitavelmente - cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos em circulação.
2ª - A probabilidade de uma certa pessoa ser estúpida é independente de qualquer outra característica desta mesma pessoa.
3ª - Uma pessoa estúpida é uma pessoa que causa um dano a uma outra pessoa ou grupo de pessoas, sem, ao mesmo tempo, obter qualquer vantagem para si ou até mesmo sofrendo uma perda.
4ª - As pessoas não estúpidas subestimam sempre o potencial nocivo das pessoas estúpidas. Em particular, os não estúpidos esquecem constantemente que, em qualquer momento e lugar, e em qualquer circunstância, tratar e/ou associar-se a indivíduos estúpidos demonstra ser infalivelmente um custosíssimo erro.
5ª - A pessoa estúpida é o tipo de pessoa mais perigosa que existe.
Indicativo de um país em declínio:
Num país em declínio, a percentagem de indivíduos estúpidos mantém-se constante; todavia, nota-se, especialmente entre os indivíduos em posições de poder, uma alarmante proliferação de ‘políticos e não só’ com um alto índice de estupidez (não confundir com ignorância).
Em defesa própria (e as várias opiniões expressas ao longo deste artigo não têm obrigatóriamente que ser as da ‘ZacatraZ’ ) aqui deixo a minha ‘Declaração’ pessoal:
Não sigu a graphya du novo AcoRdo Ørtugráphyco. Neim a do antygo. Escrevu cômu mapetece. Y para ivitar prublemas com a nova sençura, conçidero k tudu u qescrevo é çátira ô paródia , i – com a idade k teño – já é cômo se fousse uma criansa. (Por iço tudu, axo questou izento de sençura).
Depois de dez dias e dezassete horas de viagem, com largada de Bora Bora, está prevista a chegada a Niue pelas cinco horas da tarde. Foram longas horas seguidas de grande tormenta – como foi descrito no Zacatraz anterior – com uma fadiga notória da nossa tripulação. Progressivamente tudo acalmou ao longo destes últimos dois dias e a meteorologia aponta para céu limpo. Realmente está um sol radioso, vento a rondar para
leste e a entrar pela popa. A manterem-se estas condições, conseguimos uma aproximação, ainda de dia a Niue, através de um canal cheio de curvas. Apesar do Luís Adão o ter sinalizado na cartografia com vários «waypoints» ― pontos do caminho – a rota a seguir, com luz, é muito mais segura, principalmente em «águas apertadas», pelo meio de corais !!! Aqui, como na maioria das ilhas do Pacífico, governar uma embarcação requer uma atenção sem limites.
Esta Ilha é uma das maiores Ilhas de coral do mundo. O seu recife é formado por três linhas em forma de anel que a envolvem quase na totalidade, restando apenas uma entrada, localizada na costa oeste.
Em Niue estivemos apenas dois dias, mas tivemos tempo para apreciar as suas belas paisagens e grutas junto ao mar. Registámos algumas fotos destes pontos maravilhosos:
Uma curiosidade nesta terra é que os cemitérios são nos quintais das próprias casas! Registámos este pormenor com uma foto muito pouco vulgar.
A 25 de Maio de 2015, partimos para Vava´u, no arquipélago de Tonga, prevendo navegar cerca de 226 milhas. O período da manhã foi destinado ao
to inverso, mas desta vez a pesarem + - 20 kg. Esta manobra foi feita três vezes ― as duas primeiras são vazadas para os tanques do barco e a terceira fica de reserva, viajando os «jerrycans» amarrados a bombordo e a estibordo do mastro. Pelas 18 horas e 30, lá conseguimos largar, com um dia de chuva e muito pouco vento por través.( Vento
nacional de Data ou Linha Internacional de Mudança de Data.
Segundo o Acordo entre vários países, em 1884, ficaram estabelecidas as seguintes normas horárias, para quem cruzasse esta linha:
1º Passando a linha de Poente para Nascente – diminui-se 1 dia, e aumenta-se 1 hora.
abastecimento de gasóleo, trabalho nada fácil nestas terras paradisíacas, onde ninguém liga aos problemas dos iates ― não deixam dinheiro, por isso… !!!
Tivemos que carregar à mão, seis «jerrycans», do Allegro para o «dinghy» (bote de apoio); do «dinghy» para terra e depois para a bomba. Atestados com cerca de 20 litros, voltaram pelo circui-
que entra no barco, com um ângulo de 90º, em relação à linha Proa – Popa).
No dia 27 de Maio, completámos oito meses que deixámos Portugal e, por coincidência, atravessávamos o meridiano 180º, correspondente ao fuso horário nº12, tendo como referência, como é do conhecimento geral, o meridiano de Greenwich. Esta linha imaginária (180º) é conhecida por Linha Inter-
2º Passando a linha de Nascente para Poente – aumenta-se 1 dia e diminui-se 1 hora.
No nosso caso, como navegávamos de Nascente para Poente, adiantámos um dia e diminuímos uma hora.
No dia 27 de Maio, quando o «GPS» sinalizava a passagem do Allegro pela linha imaginária de mudança de data,
infalivelmente acertámos os nossos relógios ― do dia 27 de Maio, passámos para o dia 28 e atrasámos uma hora. Na minha Agenda Particular de controlo, fiquei com um dia a menos de viagem, pois a contagem dos dias foi sempre sequencial. Cheguei a Portimão com um dia a menos de viagem e mais um dia de calendário. O mesmo acontecia
Para os amantes do cinema, mais propriamente para os “cinéfilos” dos anos 50, vou tentar avivar a sua memória, ao recordar o inesquecível filme, de 1956 - “Volta ao Mundo em 80 Dias”― comédia fabulosa, extraordinariamente bem interpretada pelo «gentleman» inglês, de aparência aristocrática, David Niven. Cavalheiro excêntrico, per-
Depois desta pequena alusão a uma película tão marcante, todos se devem lembrar da aposta que Phileas Fogg fez no seu Clube – “que faria a volta ao mundo em 80 dias” – aposta que ganhou, mesmo contra todas as opiniões iniciais dos seus amigos, tendo defendendo a sua posição, com o argumento citado anteriormente ― a passagem
noutros tempos, anteriores ao Acordo de 1884, aos navegadores que passavam muito tempo no mar e cruzavam o meridiano 180º ― a data do relógio de bordo nunca coincidia com os de terra, onde aportavam. Este desfasamento de datas sempre foi sentido pelos comandantes, desde os primórdios das viagens oceânicas. Por esta razão, depois de variadíssimos estudos e cálculos, foi levado a cabo o citado Acordo.
sonifica a figura de Phileas Fogg, contracenando com o não menos famoso e bizarro Cantinflas, de nome Manuel Moreno, encarnando a personagem cómica e divertida de Passepartout ― numa produção de Mike Todd. O produtor dificilmente poderia ter escolhido para estes dois papéis, personagens tão díspares, tão diferenciados no seu todo, como o fleumático David Niven e o estrambólico e singular Cantinflas.
!!!.
Não perdendo o fio à meada, ou seja, o rumo e velocidade do “Allegro” (COG e SOG), tivemos que ligar o motor para chegar de dia a Vava´u, no Reino de Tonga, pois o caminho é uma autêntica gincana entre dezenas de ilhas e ilhotas. Guiados pela cartografia, os «waypoints» marcados pelo Luís e, feliz-
mente, com boa visibilidade e «costa à vista», chegámos à povoação de Neiafu, pelas 15 horas, depois de 1 dia e 20 horas de mar.
Mal lançámos ferro, só houve tempo de fazer uma pequena e rápida «toilette» e já o Jean do A Plus 54 nos veio buscar em direção ao Mango, restaurante mes-
tínhamos um bom restaurante, excelente bar, sinal de «wifi» forte, para além de um cais para os veleiros e outro para os «dinghies»
Conseguimos pôr o nosso correio em dia e falar ao telefone via «Skype», com toda a família e amigos. Sem sombras de saudosismos ou de lamechas, por-
Tonga é um país da Polinésia, conhecido oficialmente por Reino de Tonga, uma monarquia constitucional hereditária, tendo como entidade máxima, S.M.R., o Senhor Tupou VI.
É formado por 177 ilhas, tendo por principal atração turística a pesca desportiva e o mergulho.
mo perto da água, onde decorria a festa de anos da Svanfridur, mulher do Christopher, do iate Hugur, de nacionalidade islandesa. Muito simpática, tinha mandado preparar bebidas, aperitivos e um bolo de anos para todos os tripulantes dos vários barcos da frota. Foi uma festa animada que terminou com um delicioso jantar de caril de peixe. Foi no Mango onde passámos bastante tempo da nossa estadia em Vava´u, pois
que para tal estava bem preparado ― mas longe… muito longe de Portugal, depois de oito meses de viagem é extremamente reconfortante ouvir, falar, escrever e ler “TUDO”, através das novas tecnologias de comunicação.
Finalmente, fomos descansar, pois ainda não tínhamos recuperado dos dias… e das noites, que passámos ao leme, durante a última tormenta.
Só no dia 29 fomos registar a nossa entrada em terras de S.M. Para tal tivemos que nos deslocar ao escritório da polícia, alfândega, assim como sair da boia onde o Allegro estava amarrado e levá-lo até um cais destinado às respetivas vistorias!!! Fomos muito mal recebidos por três funcionários que entraram no barco ― verificaram toda a documentação, pessoal e da embarcação, fazendo-nos preencher montes de
papelada, ao mesmo tempo que éramos «metralhados» com imensas perguntas. Por fim, disseram-nos que não podíamos ter vindo a terra sem que primeiramente tivéssemos concretizado o «checkin», cuja falta, incorreria no pagamento de uma multa!!! Ficámos os três estupefactos e de «boca aberta», como é natural.
O Luís foi sempre muito cuidadoso com estas burocracias, mas foi mal informado pelo Rally Control – criando uma situação muito desagradável. Até hoje SM, o Rei, não recebeu a multa, pois, mais tarde, tudo ficou resolvido à boa e velha maneira tradicional, entre o responsável da Alfândega e o diretor do Rally.
No sábado, dia 30 de Maio, fomos jantar ao barco do Jean e da Cristine, mas fui eu que fiz o jantar – uma tortilha espanhola, bem recheada de «bacon» e cogumelos. Os vinhos foram dados pelo dono da casa, ou seja, do barco, que é um especialista na matéria. A sobremesa foi preparada pelo próprio Jean, uma «moelleux au chocolat» que estava uma delícia – com direito à receita. Para terminar, ouvimos vários acordos em guitarra elétrica, executados pelo Jean. Uma noite bem passada com este casal de franceses que vivem em Lausanne, na Suiça.
Domingo, 31 de Maio, fui à celebração dominical das 10 horas, na igreja católica da terra. A maioria da população é cristã, a imaginar pela audiência, que enchia o templo por completo. A missa foi rezada com toda a solenidade que este ato reveste, acompanhada por um coro magnifico, a duas vozes. Nota-se que os crentes que se deslocam para ouvir a Santa Missa vestem os seus fatos domingueiros, muito típicos da região.
A povoação é pequena, com casas modestas de rés-do -chão. Ficámos admira-
dos, porque há dois Bancos, com caixas multibanco. A moeda é o «Dólar Tonga» com o valor cambial de: 2 dólares US = 1 dólar Tonga
A vida é relativamente cara, por exemplo: uma cerveja, que é a bebida mais barata, custa 5 tongas = 10 dólares US. Um simples jantar custa 60 tongas.
Nestas terras maravilhosas, de paisagens incrivelmente belas…. realmente é tudo e só paisagem!!! Por isso, para além dos passeios, mergulho e praia, nestas belas águas a 28/30º, há que inventar divertimentos para completar o resto do tempo ― dias e noites. A 2 de Junho, a WORLD ARC organizou uma festa no Mango, de distribuição dos vários prémios correspondentes a esta perna. O programa incluía os discursos da praxe por parte das autoridades locais, onde estava o representante do turismo de Neiafu e da organização da World ARC. Seguiu-se a entrega dos prémios «Reais» e depois os «Fun Prizes». Os ingleses gostam muito desta variante de «Prémios Divertidos»,e, com uma certa razão, pois, desta forma, contempla-se um leque mais alargado de concorrentes. O Allegro, desta vez, foi apanhado de surpresa, tendo direito a um prémio «fun»: fomos o barco cuja previsão do tempo total desta perna mais se aproximou da realidade!
Com a presença de quase todas as tripulações que navegavam nas nossas águas, gente do mar, aberta e divertida, transformámos um simples jantar numa noite de farra até às tantas da manhã. Os empregados, vestindo com trajes típicos, contribuíram para a animação da festa, alinhando com as tripulações e com um conjunto local, que apresentou danças do folclore de Tonga. Com temperaturas tropicais, o Mango estava enquadrado entre mar, luar, barcos e a montanha. Uma noite inesquecível!
O Luís e eu dedicámos a manhã do 6º dia em Vava´u à manutenção do barco, pois havia necessidade de reparar a escada de saída, situada na popa. Operação nada fácil, dada a posição incómoda de trabalho. Esta tarefa ficou pronta e foi largamente compensada ao fim do dia, com um «Happy Hour» e jantar no Aquarium Cafe. A refeição foi acompanhada por um grupo que dançava ao som de quatro músicos que tocavam viola e banjo. O pormenor exótico e mesmo bizarro que nos chamou à atenção foi que todo este conjunto atuava sentado e com um alguidar colocado à sua frente, contendo uma bebida, que eles continuamente bebericavam, com um certo prazer. Fomos informados que se tratava de «cava» ou «Kava», bebida feita com o rizoma de «cava-cava» ou «kava-kava», que é uma pimenta originária da Polinésia, com fins sedativos e relaxantes. É um arbusto que se desenvolve nesta zona e é usado na medicina tradicional. Não entendi o porquê, nem o efeito positivo que o «cava» exerce no rendimento destes artistas – atendo aos poderes medicinais apontados? Eles lá sabem. São polinésios…que bebam!
Termina aqui parte da descrição em VAVA´U.
Quando passamos a pertencer à respeitável irmandade da VELHA GUARDA e começamos a ter mais tempo para nos dedicarmos à família e às «nossas coisas» , temos por vezes algumas surpresas agradáveis. Foi o que aconteceu ao António Adão da Fonseca (286/1957), que ao pôr em ordem a sua papelada, que não deve ser pouca, ao fim de uma brilhante carreira de professor universitário de pontes e estruturas especiais, deu com uns recortes de jornais, amarelados pelo tempo, relativos a proezas futebolísticas das equipas do Colégio do seu tempo. Ficou todo feliz com aqueles «documentos históricos» e decidiu partilhá-los (como agora se diz) com a malta do seu curso. O João Paulo Bessa (200/1957) recebeu os ditos documentos, pensou que os mesmos poderiam ter interesse para publicação na ZacatraZ e decidiu enviar-nos os mesmos. A decisão foi mais do que acertada.
Os dois recortes de jornais que recebemos, são os reproduzidos no presente artigo.
O primeiro recorte de jornal apresenta-nos um artigo, com o seguinte título, em letras garrafais «O Colégio Militar ganhou o Torneio Internacional de Futebol». O título surpreendeu-nos. Sabíamos que o Colégio tinha um palmarés futebolístico notável, mas desconhecíamos que tivesse competido a nível internacional e, melhor ainda, que tivesse ganho um torneio internacional.
A leitura do jornal veio lançar um pouco de água na fervura. A internacionalização foi caseira. Tratou-se de um torneio realizado entre nós, em que tomaram parte as seguintes três escolas estrangeiras de Lisboa: St. Columbos School (americana), Liceu Charles Lepierre (francês) e Instituto Espanhol . Com esta concorrência, o torneio foi «canja» para a nossa equipa. Os americanos não tinham qualquer tradição futebolística, o liceu francês era mais conhecido pela beleza das suas meninas e ao Instituto Espanhol «enfiámos» uns esclarecedores 11 a zero, trauma de que ainda hoje devem andar a recuperar. O resultado final do torneio foi claro, três jogos, três vitórias e nove pontos. O pessoal deve ter saído de lá a cantar o tradicional:
É hora de embalar a trouxa Adeus ó Tia Maria Que a malta ganhava a taça Já toda a gente sabia
Sendo o final sublinhado com palmas e uns brados de Zacatraz.
O outro recorte de jornal, é que tratava de coisa mais séria. Noticiava que o Colégio tinha sido campeão distrital de futebol, da Mocidade Portuguesa, no escalão de «Vanguardistas B» Indicava que o nosso Colégio e o Colégio Manuel Bernardes tinham lutado «taco a taco» até ao fim do campeonato. Houve no final um primeiro jogo entre os dois colégios em que o Colégio Militar ganhou. O Manuel Bernardes protestou o jogo, o mesmo foi repetido e o nosso Colégio ganhou de novo, pelos mesmos dois a zero. E isto apesar de alinhar pelo Manuel Bernardes um homem, o Vilarinho, que viria a ser, muitos anos mais tarde, presidente do Sport Lisboa e Benfica.
Na foto a preto e branco, aqui reproduzida, que nos foi enviada pelo João Paulo Bessa, apresenta-se a equipa que venceu o Manuel Bernardes. A sua composição foi a seguinte. Da esquerda para a direita. Na fila de trás: Carlos Manuel Borges (120/1957), João Paulo Bessa (200/1957), Luis Medeiros Alves (46/1957), João Soeiro da Costa (196/1956), Vasco Lynce de Faria (21/1960) e João Silva Cordeiro (304/1957). Na fila da frente: Afonso Mendes de Araújo (31/1958), Nuno Lynce de Faria (490/1958), Duarte Costa Freitas (199/1957), António Botelho Sebastião (165/1957) e António França Dória (295/1958).
Passados dias, o João Paulo Bessa enviou-nos nova foto, agora a cores, com uma equipa muito semelhante à
anterior, apenas com duas alterações, o Luis Medeiros Alves (46/1957) foi substituído pelo Luis Cecílio Gonçalves (122/1957) e o Afonso Mendes de Araújo (31/1958) foi substituído pelo Arnaldo Reis Maya (242/1957). Esta equipa foi campeã de Lisboa, tendo vencido na final, por três a
zero, o «Pilão» (Pupilos do Exército), com o qual na altura o Colégio mantinha uma enorme rivalidade. Nesta foto de equipa, inclui-se também o treinador da mesma, o Capitão Luis Bilstein de Sequeira (5/1938), que se apresentava em uniforme n.º 1 e de bota alta, como bom oficial de Ca -
valaria. Não se apresentava de fato de treino, à maneira dos atletas de fim-de-semana. Dava lições, não só pelo seu aprumo, como pela sua rectidão. Sofria, como poucos, durante os jogos das suas equipas de futebol. Quando ganhava era pouco expansivo, para não ofender os vencidos. Era a liderança pelo exemplo.
Sugerimos a todos os da VELHA GUARDA que arrumem «as suas coisas» . As respectivas mulheres ficar-lhes-ão gratas e certamente surgirá muito mais papelada interessante para publicar.
A Redacção.
No n.º 223, de Abril/Junho de 2021, da ZacatraZ, prestámos a nossa homenagem ao Homem grande e Sacerdote exemplar, que foi o Padre Braula Reis, que serviu como Capelão Militar no Colégio, por duas vezes, a primeira de 1950 a 1956 e a segunda de 1959 a 1961. Aqueles que tiveram o privilégio de com ele conviver, não o esquecem. Era um Homem de Deus, mas de um tipo muito especial. Os testemunhos que foram apresentados no referido n.º 223 da ZacatraZ, ilustram-no bem.
O Braula, que era Sócio Honorário da nossa Associação, considerava que fazia parte do curso de entrada no Colégio em 1950. Foi esse o ano em que ele também entrou no Colégio. Acompanhou esse curso do primeiro ao sexto ano. Esse curso, como é natural, também o adoptou. Mas houve também Antigos Alunos de anos anteriores, que com ele muito conviveram. Em conjunto, constituíam o «núcleo duro» dos amigos, ou irmãos, do Braula Reis. Quando no final da sua vida sacerdotal, o Braula foi pároco da Igreja de S. Domingos, no Rossio, o pessoal desse «núcleo duro» ia almoçar mensalmente com ele, num restaurante das redondezas. Quando o Braula foi «reformado» pelas autoridades eclesiásticas, contra a sua vontade (sentia-se ainda jovem), quase aos noventa anos, retirou-se para Ançã, lá para os lados de Coimbra. O «núcleo duro»
não o esqueceu, nem o abandonou, passou a ir almoçar com ele a Ançã.
Ao preço a que está a gasolina, os almoços ficavam carotes, mas o prazer
daquele convívio tudo compensava. Apesar da homenagem prestada ao Braula pela ZacatraZ, o «núcleo duro» achou que o DEVER DE MEMÓRIA lhe
impunha uma outra homenagem. Não perdeu tempo e resolveu publicar um opúsculo, a que deu o título «Padre José Maria Braula Reis. Uma História de Vida», tal como se pode ver na capa do mesmo, que aqui reproduzimos.
A introdução deste opúsculo é da autoria de Luis Gonzaga de Castro Mendes de Almeida (285/1948), que foi Comandante de Batalhão no ano lectivo de 1954/1955. Dada a elevada qualidade desse texto, reproduzimo-lo de seguida:
a qual elogiava o nosso comportamento.
Para o registar e servir de modelo, a tentar seguir, pareceu-nos imperioso criar este opúsculo, que não conseguirá revelar o grande Homem, que foi o Padre Braula, mas é prova do grande respeito, que por Ele temos.
A grande preocupação era que a memória do nosso capelão, padre José Maria Braula Reis, resistisse à passagem inexorável do tempo cada vez mais frenético e mais preenchido, e ficasse registada para memória futura, num opúsculo que, por despretensioso, nem por isso deixaria de cumprir o desígnio pretendido:
«José Maria de Braula Reis, o Padre Braula, partiu para merecidamente gozar a presença de Deus.
Capelão, professor, conselheiro, amigo, foi uma figura ímpar, com quem um alargado número de alunos do Colégio Militar teve o privilégio de conviver. Primeiro dentro do Colégio, onde vivia connosco, sempre disponível, depois pela vida fora, como que mais um membro da nossa família. Estas caracteristicas estão bem patentes nos vários testemunhos inscritos adiante.
A figura bíblica, que bem se lhe adapta é a do Bom Pastor. Conhece e ama as suas ovelhas. Se uma se tresmalha, não descansa enquanto a não encontra, e traz de novo ao redil.
Tinha uma faceta de enorme bondade, que vale a pena recordar. Com uma prodigiosa memória, retinha os mais insignificantes episódios da vida de cada um. Sempre que o encontrávamos, de imediato buscava uma cena, com
Não podemos esquecer os agradecimentos devidos à AAACM, por toda a informação e auxílio prestados, e à Dr.ª Virgínia Santos Silva, por documentos facultados, de várias ocasiões de vida do Padre Braula, e sobretudo pelo enorme apoio, que prestou, particularmente na dolorosa parte final da Sua vida.»
O Opúsculo subdivide-se nas quatro partes seguintes:
01 - Padre José Maria de Braula Reis. Visão de José Alberto da Costa Matos (96/1950).
02 - Padre José Maria de Braula Reis. Um Outro Olhar. Sacerdote e Formador de Cristãos.
03 - Testemunhos de ex-alunos.
04 - Crónica das homenagens e convívios, histórias engraçadas e visitas de ex-alunos a Ançã sua última residência.
O trio que deitou mãos à obra e que promoveu a edição do opúsculo, decidiu que a coisa não ficava completa sem uma explicação final. Assim sendo, toca de explicar a coisa, o que fizeram com um pequeno texto que intitularam «O porquê de um trabalho», que reproduzimos de seguida.
- Perpetuar a passagem do padre Braula pelo Colégio Militar como capelão, e revelar a quem não o conheceu enquanto tal, a marca indelével que deixou naquela casa com mais de duzentos anos de existência e um riquíssimo historial de serviços prestados ao país num largo espectro de actividades, por gente que a frequentou.
Ser merecedor de tal homenagem e distinção em "casa" tão ilustre significa, desde logo, o singular valor do padre Braula como homem, como capelão e como educador de exceção.
Para levar esta carta a Garcia, nada melhor do que pedir a colaboração daqueles que o conheceram e que com ele privaram no Colégio, para que, através de testemunhos pessoais, partilhassem connosco, e com quem venha, o que foi para eles o Padre Braula Reis.
Para finalizar, duas notas e uma ressalva:
- O padre Braula que nós, seus contemporâneos, achamos ter estado no Colégio desde sempre, não passou lá mais do que 8 ou 9 anos, em dois períodos distintos,
- O Opúsculo agora publicado não está fechado e acolherá de braços abertos
outros testemunhos que se lhe queiram juntar, quiçá a justificar uma nova edição aumentada e melhorada.
- Dada a exiguidade da equipa encarregada deste projeto, ocorreram alguns lapsos de que nos penitenciamos. Referimos dois: a "des formatação" do poema do Roberto Durão, e a omissão de parte do texto do Garcia Leandro.
A ambos as nossas desculpas!
Luís Mendes de Almeida (285/1948) Pedro do Canto Lagido (330/1947) José Corrêa de Sampaio (367/1949)
Nos testemunhos de ex-alunos, inclui-se, entre outros, o testemunho de José Eduardo Garcia Leandro (94/1950). Tendo-se verificado que este testemunho estava truncado, faltando-lhe, no final, uma «pequena história familiar» , reproduzimos neste artigo esse testemunho na íntegra. Por mais cuidados que se tenham, estes lapsos acontecem, sobretudo a quem não está calejado nestas andanças editoriais, que é o caso do autodesignado «grupo coordenador» , que com grande boa vontade e em tão boa hora, deu à luz o opúsculo. Fica assim reparado o lapso ocorrido.
rá, eventualmente, nesta homenagem final a este grande Homem e educador de rapazes muitas participações, este meu texto será curto e sincopado.
Nunca nos ensinou nenhuma oração, ensinou-nos a ser Homens e bons cidadãos, apelou à responsabilidade individual e coletiva; foi uma lufada de ar fresco que no CM entrou, tendo de lidar com uma estrutura conservadora que progressivamente o foi aceitando. Falava muito connosco, estando sempre disponível. Criou a Conferência de S. Vicente de Paulo tendo cada turma uma família que visitava aos sábados à tarde; no nosso 4º ano (hoje 8º) deu-nos aulas de educação sexual, iniciativa rara na altura.
Criou uma ligação forte com quase todos com que lidou, foi muitas vezes o nosso defensor face a alguns disparates próprios da idade. Estes laços fortes ficaram para a vida, casou muitos de nós, batizou filhos e netos, casou filhos.
Aqui terminou o meu texto escrito para a ZACATRAZ nº 223 de Abril/Junho de 2021 logo a seguir à sua partida, mas ele merece muito mais.
Entrou em 1950 para Capelão do CM com 28 anos, ano em que o meu Curso (1950/57) entrou com 10 e a partir daí sempre disse que era do nosso Curso, o que foi uma ligação forte com quase todos. Como have -
Depois foi Capelão militar em Macau tendo regressado ao Colégio entre 1958 e 1960, Capitão Capelão em Angola (1961/63), a partir de 1969 em Moçambique, Chefe dos Capelães do Exército, Pároco da Igreja de S. Domingos entre 1987/2011, sem nunca ter perdido a ligação ao CM e aos seus Antigos Alunos, sendo convidado de honra de alguns dos nossos encontros. Mesmo já doente continuava a receber visitas e a falar muito.
Desapareceu fisicamente em 24 de março deste ano, mas pessoas como ele nunca morrem na nossa memória. Não foi um Capelão; foi o nosso Capelão!
Embora a sua entrada como Capelão do CM não tenha sido fácil, rapidamente se perceberam as suas boas intenções, inteligência e honestidade que o ligou profundamente a partir de 1952 a todos os cursos com quem lidou, tendo tido capacidade de relacionamento, autoridade moral, espaço intelectual e afetivo para com todos tentar proceder do mesmo modo. Nenhum Curso se pode considerar dono da sua consideração e amizade; conseguiu abarcar todos o que correspondeu a uma dedicação quase total. Nos anos cinquenta do século XX a Luz ainda era um pouco distante da grande Lisboa, era um bairro periférico e o transporte mais habitual era o carro elétrico que acabava em Carnide; assim ele alugou um quarto na Estrada da Luz e o seu acompanhamento com os alunos também acontecia à noite em que tinha longas conversas, principalmente com os Graduados. E era um conversador nato, quase inesgotável, tendo a capacidade de se adaptar aos diferentes grupos etários e personalidades em formação. Esse acompanhamento ia para além dos seus horários, de modo muito informal ajudou nessa relação que sempre construiu connosco. E o mesmo acontecia nos fins de semana nas competições desportivas em que tomávamos parte.
Sendo muito extrovertido e adaptando-se facilmente a qualquer tipo de tema, era muito culto, leu sempre muito até ao fim da vida, o que numa abordagem superficial não se percebia logo; mas o seu forte caráter também o deve ter tornado em alguém, por vezes, incómo-
do para a estrutura e procedimentos da Igreja, pelo que hierarquicamente poderia ter ido mais além. Passava facilmente por cima de alguns procedimentos burocráticos da Igreja, mas foi sempre um fiel apóstolo da mensagem de Cristo! Só conto uma pequena história familiar. A minha segunda filha, Rita, fez o batizado dos seus três filhos simultaneamente em 8 de maio de 2011, o Manuel com 9 anos, o Francisco com 6 e a Maria Inês com 2, tendo como padrinhos amigos do casal, alguns que não eram crismados, etc, e não encontrava um Padre para essa cerimónia. Telefonou-me e falei com ele que havia celebrado o meu
casamento, contei-lhe a história e as dificuldades que a minha filha estava a encontrar. E fiz a pergunta óbvia: Será que os pode batizar? “Claro que sim” foi a resposta imediata, comentando “isso são burocracias dos homens, Cristo nunca tal recusaria!"
Era ele já Pároco de S. Domingos e a cerimónia teve lugar na Capela anexa apenas com cerca de 40 pessoas e eu estava com algum receio que pudessem ocorrer alguns excessos de linguagem pelo seu conhecido à vontade. Ocorreu o contrário, fez uma homília magnífica sobre o significado do Batismo e uma
explicação detalhada sobre os paramentos com que estava vestido. Toda aquela assistência ficou deslumbrada!
E foi sempre o portador dessa mensagem verdadeiramente cristã que tanto influenciou os seus alunos na sua formação como adultos.
E, a não esquecer, usava na lapela a nossa Barretina, pois era Antigo Aluno Honorário do Colégio!
Recebemos do Carlos Ayala Botto (32/1951) a carta que de seguida reproduzimos, em que ele nos levanta uma dúvida muito pertinente, que também andou na nossa cabeça durante anos.
Em tempos idos, parece que as bandeiras eram usadas pelas tropas apeadas e os estandartes, que eram de menores dimensões, eram usados pelas tropas a cavalo.
Em tempos mais recentes, alguém me disse, que as bandeiras eram as usadas nos mastros, sendo içadas nos mesmos por meio das adriças, e que os estandartes eram os usados pelas tropas em desfiles e paradas.
O assunto é interessante e segundo nos indica o Carlos Ayala Botto, existe uma legislação recente sobre o assunto, que desconheço. Nem sabia da sua existência.
Entretanto, dá-se a coincidência de apresentarmos neste número da nossa revista um interessante artigo relativo à evolução das bandeiras das Unidades do nosso Exército, sendo nossa intenção apresentar, em futuro próximo, um artigo relativo às bandeiras usadas pelo Colégio, desde os tempos da Monarquia.
Quanto a nós, a matéria tem todo o interesse, pelo que convidamos os mais conhecedores do assunto,
a compartilharem connosco os seus conhecimentos.
A mensagem recebida fez-nos recordar o que se passava noutros tempos, por exemplo, em Luanda, na Avenida de acesso ao aeroporto, onde se encontrava um quartel de Infantaria.
À hora de arriar da bandeira, ao toque da corneta, todos os carros paravam na Avenida, toda a gente saia dos carros e assistia em sentido ao arriar da bandeira. Agora fazem-se lenços de cabeça e toalhas de praia com a bandeira nacional. Modernices!!!
Aproveitamos a oportunidade para darmos os parabéns ao (528/2010) João Ayala Botto pela sua recente graduação em Porta-Estandate.
"Desde miúdo que fui habituado a respeitar a Bandeira Nacional como símbolo da Pátria. Basta dizer-te que, morando em Campo de Ourique, a janela da nossa casa de jantar dava para a rua Ferreira Borges, mesmo em frente da Porta de Armas do Batalhão de Sapadores dos Caminhos de Ferro (creio que era este o nome da Unidade) mas da qual só se via a parte superior do mastro da
Bandeira. Como te deves lembrar a hora do içar e arrear da Bandeira era alterada conforme a hora do pôr do Sol e assim, no verão, o arrear da Bandeira coincidia com a nossa hora de jantar. Mal se ouviam os primeiros toques dos clarins, imediatamentetodos nós nos levantávamos da mesa e só no final da cerimónia (que já nem víamos) continuávamos a refeição.
Depois fui para o Colégio e aí é escusado dizer o que se passava, pois sabes perfeitamente o nosso culto pela Bandeira.
Isto vem tudo a propósito da agradável notícia que tive pelo meu irmão João Ayala Botto (254/48) de que o seu neto João Ayala Botto (528/2010) tinha sido nomeado Porta Estandarte Nacional. Ora segundo creio, pelo menos no nosso tempo de aluno, o Colégio tinha Bandeira e não Estandarte. Como é que isto é possível?
Tentei averiguar e cheguei à seguinte conclusão, que penso correcta:
Desde a Guerra da Restauração passou a haver , Bandeira Nacional para as Unidades apea -
das (como na Infantaria) e foi criado o Estandarte Nacional para as Unidades montadas ( Cavalaria). Praticamente as únicas diferenças eram,no Estandarte, a maior altura da haste e ser mais curto no comprimento. Mais tarde as Unidades de Artilharia e de Engenharia também passaram a usar o Estandarte.
Com a evolução dos tempos e apesar de não ter havido quaisquer alterações, a partir de 1969, todas as Unidades passaram a chamar às suas Bandeiras, Estandartes Nacionais. Terá sido nessa altura que o Colégio alterou o nome
e também passou a ter um Estandarte Nacional?
De qualquer forma surgiu em 2020 através da Portaria 312/2020 de 27/3, uma determinação do Ministro da Defesa, na qual é estabelecido o modelo do Estandarte Nacional igual para todas as Unidades das Forças Armadas. Esta norma deverá estar executada até 2030!
Isto é um resumo muito curto do que se tem passado e que eu creio estar correcto. No entanto pedia a quem estiver mais dentro do assunto que confirme e me esclareça o seguinte:
- Desde quando o Colégio alterou o termo Bandeira para Estandarte?
E o Estandarte actual já é o novo, de acordo com a Portaria referida (que descreve com todo o pormenor o novo modelo)?
Um grande abraço e Zacatraz": Carlos Domingos de Oliveira Ayala Botto (32/1951)
Arevista da Associação tem origens em tempos distantes.
Aconteceu concretamente em Junho de 1957, quando o antigo aluno n.º 121/1921, Gama Barata , teve a ideia de criar uma publicação periódica que funcionasse como “um meio de ligação” entre sucessivas gerações de ex-alunos do Colégio Militar, mas que também divulgasse a vida da AAACM e as actividades que a mesma fosse levando a cabo. Chamava-se “Boletim da AAACM”.
Mas, para desgosto do Gama Barata, aquele veio a ter curta duração pois a última edição do Boletim foi datada de Março de 1959.
Decorridos seis anos, em 1965, o antigo aluno n.º 189/1929, Vieira da Rocha , tomou nas suas mãos a tarefa de dar sequência ao “Boletim” bem como àquele que fora o seu objectivo fundamental.
O primeiro número dessa nova publicação foi editado em Outubro
desse ano sob o título «REVISTA da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar» , a qual se veio a manter até Abril de 2010, para então dar lugar à actual versão da revista da Associação ― a “ZACATRAZ” ― nascida com a sua edição n.º 179 de Abril/Junho de 2010, tendo como propósito tornar a revista “mais moderna, mais leve e com um grafismo mais apetecível e apelativo” permitindo ter “mais cor, fotografias maiores, e uma nova organização e sistematização dos conteúdos”.
Ao longo da sua caminhada, a revista da AAACM, nas suas 225 edições publicadas até ao final de 2021, contém 5.413 artigos, escritos ou não
por Antigos Alunos, que abordam os mais diversos temas, a maioria dos quais relacionados com o Colégio, com os seus Antigos Alunos ou com a Associação.
Actualmente, muitos desses artigos constituem um excepcional repositório de dados para a investigação histórica sobre o Colégio Militar, cujo mérito resulta do facto de os seus conteúdos não constarem de arquivos nem dos documentos oficiais, o que os torna num património de raro valor.
E tudo isto vem exactamente a propósito do n.º 225 da “ZACATRAZ” que me chegou às mãos em Janei -
ro de 2022. E, como sempre acontece, li-a logo de uma ponta à outra. Quando a tornei a folhear, para ver se nada me passara desapercebido, reparei que o Luís Barbosa (71/1957) era autor de 5 artigos, mas também de outros 4 assinados como “Redacção” , já que é ele o “Chefe da Redacção” da revista; por seu lado o “Director” , o Mira Vaz (277/1950) assinava outros 4 artigos.
Quanto aos “Antigos Alunos” , apenas 6 eram da sua autoria, ou seja, menos de 50%...!
Fiquei a pensar nesta realidade e resolvi pesquisar como é que tinha
sido em todo o ano de 2021. Constatei então que, no conjunto das quatro edições, o Luís Barbos a (71/1957) escrevera 31 textos/artigos, e o Mira Vaz (277/1950) outros 11. Por outras palavras, 50% da revista tivera que ser da sua conta. Não lhes bastava ter de prever atempadamente as várias edições, seleccionar os artigos recebidos, decidir sobre o conteúdo de cada revista, programar a sua impressão, fazer a revisão e accionar a distribuição... e ainda tinham de escrever metade!
Era para esta realidade que gostaria de chamar a atenção de todos os Antigos Alunos, independentemente da sua idade ou Curso.
a revista, não esquecendo que, como atrás ficou referido, “muitos desses artigos constituem um excepcional repositório de dados para a investigação histórica sobre o Colégio Militar”.
Já sei que, a esta hora, há muitos camaradas que estão a dizer que não têm jeito para escrever, ou desculpar-se com as exigências da sua profissão. Deitem essas “desculpas” para trás das costas e vá, colaborem.
O Colégio Militar e a Associação merecem isso de cada um de nós. Arregacemos as mangas e vamos em frente.
O Diretor e o Chefe da Redação agradecem a José Alberto da Cos -
Antigos Alunos nas Artes e nas Letras
Nuno António Bravo Mira Vaz 277/1950Dedicado pelo autor (AA 176/1952, comandante do Batalhão Colegial em 1958/1959)
“Ao Colégio Militar, vera escola de elite, e aos mestres que ali me educaram e procuraram dar uma formação tanto quanto possível enciclopédica” , o livro fornece ao leitor, ao longo de 932 páginas profusamente documentadas, argumentação destinada a desmentir diversas teorias que atribuem locais de nascimento fantasiosos ao conhecido navegador. Ocupa-se igualmente de desmontar a hipotética condição de espião a soldo de D. João II que, segundo alguns autores, teria sido a verdadeira tarefa de Colombo na corte dos Reis Católicos.
Luís Filipe Thomaz confessa que o impulso definitivo para escrever a obra lhe chegou pela comunicação
social, quando soube que fora criada na vila alentejana de Cuba um Centro Cristóvão Colón , aparentemente na sequência de um livro no qual Mascarenhas Barreto opinava ser Colombo natural da referida vila, na esteira de outros investigadores que, em diferentes épocas históricas, têm afirmado que Colombo nasceu em Portugal, em Espanha, em França, na Inglaterra e até na ilha de Chios, no mar Egeu.
Para além de repor aquilo que defende ser a verdade histórica, o autor revela ainda ser primo por afinidade do navegador, pois “(...) sua mulher Filipa Moniz era sobrinha de meu decapenta-avô, D. Pedro de Noronha, arcebispo de Lisboa, que viveu amantizado com a minha decapenta-avó, Branca Dias Perestre -
lo, irmã de Bartolomeu Perestrelo (c. 1384-1457), capitão-donatário da ilha de Porto Santo e sogro de Colombo (…)” . Não será porém este longínquo parentesco – garante o autor – que o tornará indulgente com Colombo, pois tem quarenta e sete anos de docência e cinquenta e seis de investigação no campo da História, que faz questão de honrar.
Sempre coadjuvado por abundante bibliografia, Luís Filipe Thomaz dá a conhecer as diversas teorias acerca das origens de Colombo –segundo ele um conjunto de efabulações agrupadas naquilo que designa por «Breve história do delírio colombino », para em seguida acompanhar com minúcia a vida do navegador desde o nascimento em Génova, passando por Por -
tugal continental e pela Madeira antes de viajar para Castela, onde finalmente prepara a viagem descobridora. Segue-se uma abordagem aos anos áureos de Colombo, que culminam no descobrimento das ilhas de Cuba e Espanhola (a moderna Haiti), na chegada a terra firme das Américas e na colonização das Antilhas sob o fero domínio do Vice-Rei.
Tendo atribuído a familiares seus muitos dos cargos de maior responsabilidade e prestígio na colonização, não tardaram a chegar aos Reis de Castela, justificadas com bons e maus motivos, queixas pelos agravos cometidos por esses familiares contra os interesses da Coroa. As denúncias não caíram em saco roto: em 1500 foi enviado à ilha Espanhola um juez pesquisidor, Frey Francisco Fernández de Bobadilla, o qual não só substituiu Colombo no cargo de Governador, como o enviou agrilhoado para Castela a fim de ser submetido a julgamento. Aqui, porém, recebeu um pedido de desculpas real e foi rapidamente reabilitado, de tal modo que em 1502 lhe foi confiada uma frota para nova viagem. Quando dois anos mais tarde regressou a Sanlúcar de Barrameda, vinha tão incapacitado devido à gota e ao começo da cegueira, que só um ano depois pôde deslocar-se a Valladolid para apresentar cumprimentos ao Rei. E foi nesta cidade que faleceu em 25 de Maio de 1505.
Está de parabéns Luís Filipe Thomaz por nos deixar esta obra erudita e monumental, muito bem apoiada por extensa e qualificada bibliografia.
B om e Bravo
R ebelde mas Realista
A ltruista
U mano com H de Honra e Humildade
L utador e Livre
A mante da Verdade
R indo do esplendor farsista
E rgueu à Vida um CANTO
I dealista
S ANTO!
Quase todos conhecem a Lei de Lavoisier. Mas muito poucos a conhecerão, por certo, vista por um poeta. Se em tudo, nesta vida, pode acontecer Poesia, porque não encarar também a Ciência (neste caso a Lei de Lavoisier) sob uma visão poética, deixando que as «musas» se encarreguem de embelezar o que, em si mesmo, é real, científico, concreto e, justamente por isso, belo e poético?... Sim, embora isto pareça estranho para alguns, a verdade é que a Poesia, no seu mais puro sentido, é o «cerne de tudo», o «real absoluto» pois, como dizia Novalis, «quanto mais poético mais verdadeiro» «O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo», também já dizia o nosso Fernando Pessoa.
Vejamos pois, como um jovem, em 1909, o então cadete-aluno da Escola de Guerra, Ricardo Malhou Durão, mais tarde coronel de Artilharia, num exame de frequência de Química do velho professor Aquiles Machado, descreveu a Lei de Lavoisier:
Ele nunca quis ser SANTO...Rejeitou tal título... Dizia-me: Isso dá uma grande trabalheira...Livra!!!
O sábio Lavoisier, o químico incansável, que à Química moderna deu um princípio norma, disse que, neste mundo enorme e material, «Nada se cria ou perde e tudo se transforma», que o peso de um composto, depois de estar formado por uma reacção de certos componentes, é exactamente igual à soma elementar dos pesos primitivos dos corpos reagentes.
Disse ainda mais o sábio a quem a Humanidade presta o mais merecido e o mais honroso culto: «Se um feto se transforma por fases sucessivas, se de recém-nascido vem a tornar-se adulto, não é porque se crie matéria alguma nele, mas sim porque este feto cresceu por adições… é porque, simplesmente, pela alimentação, o feto foi medrando por assimilações.»
O autor destes versos não foi, com grande pena sua, «Menino da Luz», mas tinha muito amor e admiração por esta Casa e nela quis educar os seus três filhos. Para terminar apetece-me dirigir uma simples mensagem a todos os jovens estudan-
tes, em especial àqueles que neste Colégio, rico de tradições, de renovação e de criatividade, se preparam para um futuro que todos, ansiosamente, desejamos melhorar.
Esta mensagem também vai em verso embora, digo-o com sincera humildade, sem a beleza e originalidade que transparecem na Poesia anterior, escrita por aquele de quem tive o privilégio de herdar um pouco da sua veia poética:
Jovem, depois de leres versos tão singulares, Só que queria lembrar, sem rasgos de sapiência, Que nesta vida tudo é importante: Artes. Letras, Desporto, Poesia, Ciência E até coisas que julgas tão elementares, Tão simples e vulgares. São essas, justamente, Que se unem, interligam num pulsar profundo, concreto e misterioso: «O coração do mundo.»
Romagem de 70 Anos de Saída 3 de Dezembro de 2021
©Foto Leonel TomazCom cerca de ano e meio de atraso, o curso de 1943/1950 voltou ao Colégio, para comemorar os seus 70 anos de saída. A comemoração devia ter ocorrido no ano passado, mas a maldita pandemia não o permitiu. Como se trata de um curso de gente determinada, não se deram por vencidos e ficaram à espera de uma PO (próxima oportunidade). A PO surgiu no início do passado mês de Dezembro. Eles estavam alerta e atacaram. Esta romagem já ninguém lhes tira. As próximas se verão. Este curso viveu um facto muito importante da história do Colégio, que foi a visita de todo o Batalhão Colegial a Madrid, a convite do Chefe de Estado Espanhol, o General Francisco Franco, em Junho de 1950. Este curso era nesse ano o curso de finalistas e teve a honra de comandar o Batalhão no memorável desfile efectua-
do ao longo do Paseo de la Castellana, em que o Batalhão foi entusiasticamente aplaudido pela população madrilena. Para abrilhantar a apresentação do Batalhão em grande uniforme, foram na altura introduzidas alterações no mesmo, que ainda hoje perduram. Na Barretina foi colocada uma coroa mural, por cima das letras CM. Foi introduzido o cinturão preto, com a fivela dourada e com a fixação para a bainha do sabre-baioneta. Como as fardas na altura não eram cobertas de medalhas como nos dias de hoje, havia que lhes dar algum brilho.
No que se segue, apresentamos, como é habitual, fotos da romagem e a lista dos «romeiros» . Apresentamos ainda o magnífico discurso feito pelo João Martins Ribeiro Mateus (169/1944) no dia da romagem, bem como uma
foto do memorável desfile em Madrid. Nessa foto vemos a 1.ª Companhia a desfilar, com os 3 pelotões em conjunto, como foi habitual durante muitos anos. Podem-se reconhecer na foto os seguintes graduados:
- Comandante de companhia Eugénio dos Santos Ferreira Fernandes (105/1943)
- Comandantes de pelotão (da esquerda para a direita).
- Jerónimo José Nunes Vieira Lopes (59/1943);
- José Vila de Freitas (94/1942);
- João Manuel Bilstein de Menezes Luis de Sequeira (70/1942).
Estiveram presentes na romagem: Pedro Júlio de Pezarat Correia (10/1943); António Sobreiro Pereira Gonçalves (43/1945); Jerónimo José Nunes Vieira Lopes (59/1943); Alberto Esteves Geraldes Freire (63/1943); João Manuel Bilstein de Menezes Luís de Sequeira (70/1942); José Júlio Azevedo Valarinho (73/1943); José Maria Barroso Branco Ló (90/1942); José Villa de Freitas (94/1942); Eugénio dos Santos Ferreira Fernandes (105/1942); Júlio Pimentel Fraústo Basso (116/1942); Rui Ernesto Freire Lobo da Costa (160/1942); Mário Arada de Almeida Pinheiro (164/1942); Joaquim Luís de Azevedo Alves Moreira (166/1943); João Martins Ribeiro Mateus (169/1944;
Convidados do Curso:
Nuno Vilares Cepeda (310/1941) António Madeira Peste Maj. General
Agradecemos, igualmente, todo o apoio que tivemos da AAACM na pessoa do seu Presidente.
Cumprida esta formalidade, é tradição serem pronunciadas algumas considerações que caracterizam o curso celebrante.
Os resistentes deste curso sentem-se como os tripulantes da Nau Catrineta, e por terem muito que contar, peço que me perdoem não poder cumprir os 5 minutos concedidos pelo protocolo.
Este curso viveu o seu percurso de vida colegial com episódios que poderiam ser comuns a qualquer outro curso. Contudo, é momento para recordar o que o torna especial:
Em 19 de Junho de 1950, todo o Batalhão Colegial composto por 327 alunos, Director, “Staff” colegial, alguns docentes e elementos auxiliares, embarcavam na estação do Rossio, em comboio especial, para, a convite do “generalíssimo” Franco, visitarem, desfilarem e participarem em várias cerimónias e exibições culturais nas cidades de Madrid e seus arredores (Teatro Nacional, Aranjuez, Museu do Prado. Vale dos Caídos, Escurial, etc) e Toledo (exibição desportiva no parque da Escola de Educação Física do Exército Espanhol, Alcacer, Armaria Nacional e Museu de El Greco).
Na ausência do nosso natural representante – o Comandate do Batalhão do curso de 1943-1950, que já não está entre nós ― entendeu o curso mandatar-me, como Ajudante do mesmo Batalhão para, em nome de todos, lhe apresentar cumprimentos e agradecer a oportunidade de, embora com o atraso de quase dois anos, podermos, comemorar os 70 anos de saída desta sua e nossa veneranda Casa.
No dia 6 de Outubro de 1943, formou neste claustro, pela primeira vez, um grupo de 33 “Ratas” (e mais 4 repetentes) cheios de interrogações, mas também com muitas esperanças. Durante os sete anos do nosso percurso colegial, fomos recebendo novos camaradas e perdendo outros. Quando chegámos ao fim da nossa caminhada, éramos – 35. Mas os 73 que transitaram pelo curso, ficaram para sempre associados ao curso inicial, vínculo que ainda hoje se mantém, apesar de comportar “Ratas” de 5 cursos de entrada: 1941 a 1945. A provar isso, refiro a produção, depois dos nossos 80 anos, de um livro de memórias do curso, de que oferecemos um exemplar á biblioteca do Colégio e outro à biblioteca da AAAAM. Acresce, ainda, que nos vimos juntando, há longos anos, duas vezes por mês, em calorosos e fraternos almoços.
Adiantemos outras marcas que julgamos diferenciarem este curso:
Primeira marca
Digressão de todo o Batalhão pelo estrangeiro - Episódio único na História colegial.
Esta digressão, em que fomos principescamente recebidos, durou toda uma semana, tendo o regresso a Portugal ocorrido no dia 29 do mesmo mês, não sem antes, termos participado numa missa na Igreja de S. Francisco ― O Grande, com a presença do CEM do Exército espanhol e de 6 generais no activo. A chegada à estação do Rossio verificou-se pelas 21h00 desse dia, com uma multidão de familiares e ex-alunos pejando o cais da estação e ovacionando-nos com vibrantes ZACATRAZ.
Segunda marca Escolha das carreiras profissionais.
25 dos finalistas deste curso e mais quatro “repescados” de outros cursos optaram pela Carreira das Armas e ingressaram na então chamada Escola do Exército. Quatro deles haveriam de atingir o Generalato e Almirantado, tendo este último vindo a ser Governador de Macau.
Naquela Escola, impusemo-nos desde início, não só nas actividades desportivas, mas também nas de formação militar.
Dada a bagagem que levávamos do Colégio e o tradicional espírito de liderança, fácil nos foi afirmarmo-nos e sermos
aceites e marcantes num corpo de alunos naturalmente indiferenciados.
Uma referência para os que não seguiram a carreira militar, mas que deixaram assinaláveis marcas nas suas prestações profissionais, nomeadamente nos campos da Medicina, Engenharia, Marinha Mercante, etc.
A Carreira e os conflitos no Ultramar
Depois, vieram as carreiras profissionais, os filhos, as famílias e a nossa separação.
Em 1955, começámos a nossa diáspora pelos territórios do Ultramar e a sofrer-
mos as primeiras baixas em Goa, nas guarnições de quadrícula, através de acções furtivas, provenientes da vizinha União Indiana. Aí começámos a sentir o amargo das perdas ou mutilações dos nossos companheiros de missão, maioritariamente provenientes de Moçambique, donde foi necessário, por mais próximo, desviar pessoal para reforço das unidades locais.
No dia 14 de Março de 1963, sofremos rude golpe com a notícia da morte, em acção de combate na Guiné, do nosso camarada de curso 96/1943, António Lopo Machado do Carmo, então capitão e comandante do Esquadrão de Cavalaria´nº 252. Tinha apenas 29 anos e foi o primeiro oficial do QP a tombar em combate, em to-
dos os teatros de operações dos conflitos em que fomos envolvidos. O Esquadrão 252 levava como adjunto, outro oficial do QP, o então tenente Luís Alberto Moura dos Santos (276/1946) que, a meio da comissão, foi promovido ao posto imediato. Como era prática então seguida, ao capitão mais antigo era dada por finda a comissão e o mais moderno assumiria o comando da unidade. O nosso saudoso 96/1943 requereu, então, que tal não fosse aplicado no seu caso, pois pretendia regressar juntamente com todos os seus homens, no termo previsto da comissão.
Esta doutrina haveria de ser replicada em numerosos casos semelhantes, mas nenhum, que se saiba, veria repetido o gesto
de fraternidade assumido pelo nosso camarada Carmo. O requerimento foi-lhe deferido, tendo o ex-adjunto ido assumir funções noutro local. Por casualidade, após a morte do capitão Carmo, foi o capitão Moura dos Santos feito regressar, assumindo, então, o comando do Esquadrão 252.
Os restos mortais do nosso camarada encontram-se sepultados em Coimbra, tendo sido contemplado, postumamente, com a Cruz de Guerra de 2ª classe. Contudo, o seu gesto de camaradagem e de espírito de corpo nunca terá sido salientado.
Verdadeiro Menino da Luz, repousa em paz, mas deixou-nos a todos uma imensa saudade que ainda hoje doi!...
No decurso dos conflitos do Ultramar, a nossa geração foi particularmente castigada, havendo alguns dos nossos que cumpriram 6 comissões ― 12 anos da melhor parte da sua vida, tempo irrecuperável, em que não viram o crescer de filhos e não puderam sepultar familiares, entretanto falecidos. Devemos, também, render irrecusável homenagem, às nossas companheiras de vida, que então tiveram de cumprir a dupla missão de Mães e de Pais, o que inspirou alguém a chamá-las de viúvas de maridos vivos.
Igualmente, não podemos olvidar os camaradas que não tendo seguido a carreira militar, cumpriram, como civis ou militares do Quadro de Complemento, missões relevantes em África, durante os anos de conflito.
Vários foram os elementos deste curso que tiveram a honra de, nos intervalos das comissões no Ultramar, ou depois destas, terem desempenhado, com muito orgulho e entrega, várias funções no Colégio.
(Direcção, Docentes, enquadramento dos alunos, Cmdt CAl, Cmdt Compª e Mestres de Esgrima e Equitação ou funções orgânicas colegiais).
Fomos 8 e somámos 37 anos de retribuição pelo tanto que aqui recebemos, enquanto colegiais.
Quinta marca Os filhos e os netos
Igualmente, o curso entregou a coeducação de alguns dos seus filhos e netos a esta Casa que tão bem nos acolhera. Foram 22 os que aqui entraram e nos fizeram reviver neles a experiência de vida que nós já havíamos feito 30 ou 60 anos antes, um ou outro com o mesmo número que haviam tido seus pais ou avós.
Sexta Marca No campo desportivo
Dois elementos do Curso honraram as cores nacionais em competicões internacionais e olímpicas, em duas modalidades: Hipismo – O ex-12/1942, Carlos Campos e Esgrima – o ex-67/1944, António Marquilhas.
Para terminar, peço que me acompanhem no nosso brado de exaltação a todos os que servem e serviram nesta casa:
- Pelos votos de que Deus continue a inspirar o actual Director do Colégio Militar e lhe reforce o espírito de abnegação, de bem-servir e Amor, com que tem dirigido esta Casa, em período de tão complexas transformações.
- Pela memória dos antigos professores civis e militares e, de uma forma geral, todos quantos por esta casa passaram, como formadores de Homens Íntegros;
- Pelos Antigos Alunos deste curso já falecidos, mas em especial pelo nosso
Comandate de Batalhão, o ex- 68/1943, Pedreira de Campos, coração puro, de uma fraternidade inigualável e de uma dignidade e extrema serenidade com que esperou pela sua última hora;
- Pelo líder natural que foi deste curso e cuja partida deixou um vazio irreparável, o ex- 67/1944, António Marquilhas;
- Pelo saudoso ex-96/1943, Machado do Carmo, verdadeiro símbolo da bondade natural, do militar e militante solidário e do patriota, qualidades hoje raras ou caídas em desuso;
- Pelos nossos camaradas que, por motivos de saúde, não puderam estar hoje connosco nesta celebração, especialmente pelo ex-86/1943, Mateus da Silva, há dias falecido.
- Pelo Colégio Militar e sua continuação, como Escola exemplar de formação de carácteres e patriotas, como sonhou o seu Fundador.
ZACATRAZ, ZACATRAz, ZACATRAZ...
João Mateus (169/1944)Passados 50 anos sobre a sua saída do Colégio, no longínquo ano de 1971, o curso de entrada de 1964 apresentou-se no Colégio, em mais uma romagem de saudade. Vieram em grande número. Os cursos, naqueles anos da guerra do Ultramar, eram em geral numerosos. Os militares que partiam em comissão para África, confiavam em geral a educação dos seus filhos ao Colégio. O Colégio, habituado há mais de século e meio a assumir essa responsabilidade, não desiludiu esses pais. Por isso os seus filhos, que se tornaram também «filhos do Colégio», ao mesmo voltaram, para matar saudades e se reverem nos actuais alunos. Estiveram presentes os seguintes Antigos Alunos: Adriano Fraxenet de Chúquere Gonçalves da Cunha (2/1964); Joaquim de Calça e Pina Duarte Silva (8/1964); Carlos Alberto de Brito Pina (16/1964); António João de Lacerda Andresen Guimarães (38/1964); José António Benito e Bismarck de Melo (51/1964);
Luís Filipe Moreira de Melo de Sampaio (59/1965); Rogério Paulo Salvado de Moura (67/1964); José Eduardo da Fonseca Cortez e Almeida (76/1963); António Carlos Jorge Cardoso Tavares (92/1964); Joaquim Armando da Costa Salazar Braga (95/1964); José António Cruz Martins (105/1964); Henrique Manuel Vilela da Silveira Borges (112/1964); José Alexandre de Gusmão Rueff Tavares (119/1964); Luís Filipe da Cruz Cordeiro (130/1964); José Manuel Trabulo Espinosa de Seixas (161/1974); José Manuel Ramos Henriques da Conceição (194/1964); Jorge Tenreiro Theriaga (199/1964); Manuel Eugénio Moreira de Carvalho Teles Grilo (222/1964); José Luís da Fontoura Canelhas (302/1964); José Pedro Ferreira Milheiriço Marques (311/1964); Carlos Alberto de Morais Neves Brás (320/1965); António Manuel Cruz de Sousa (328/1964); Carlos Manuel Dias Lima Costa (340/1963); Francisco António Henriques Esteves (363/1964); António
Jorge de Jesus Conceição Grego (405/1964); João Lúcio Nunes Lopes (435/1966); António Manuel Arruda Ribeiro Marques (437/1964); João Pedro Teixeira de Faria (449/1964); Luís Fernando Azevedo dos Santos Gonçalves (505/1964); António Manuel Carreira Mendes (532/1963); João Manuel Caçorino da Palma Baracho (545/1964); Miguel Maria Sanches de Miranda Mourão (550/1964); António Orlando da Mota Ferreira Lopes (620/1964); Júlio José Lavrador Lobo da Costa (627/1965).
Romagem de 50 Anos de Entrada 26 de Novembro de 2021
Mais um curso que volta ao Colégio para matar saudades. Estes entraram há 50 anos e, como é habitual, não conseguem perceber como é que já se passaram esses anos todos. Não tenham problemas, aguentem-se firmes nas pernas e qualquer dia estarão de volta, como o curso de 1943/1950, para comemorar 70 anos de saída. Ponham os olhos neles. A velha cúpula lá estará, para lá do alto vos sorrir, a dar as boas vindas. Miguel de Calça e Pina Duarte Silva (20/1970); Pedro de Campos Barradas de Lacerda Machado (41/1970); António Pedro Feio Ribeiro Mateus (57/1970); Luís Filipe Rendeiro Ramalho de Branco Amaral (60/1970); José Manuel Queimada da Silva Soares (82/1970); Pedro Alexandre de Figueiredo Fernandes Póvoa (140/1970); José Luís Benito e Bismark de Melo (144/1970); Vítor Manuel de Azevedo e Silva Pedroso (160/1970); Miguel Mesquita de Faro Viana
(163/1970); Cristóvão Dabell de Mesquita (164/1970); Manuel Joaquim Martins Carrinho (173/1970); Nuno Manuel de Carvalho Ferreira Guimarães (178/1970); Paulo Artur Ribeiro Baptista (203/1970); Adriano Abel de Andrade Coutinho Lanhoso (218/1970); Carlos Henrique da Luz de Brito Pimenta (220/1971); José Augusto Mourão Grincho (226/1970); Paulo Manuel Gomes da Silva Fernandes (245/1970); Rui Manuel Cabral e Silva (312/1970); Jorge Manuel Gomes Moreno de Matos Trindade (317/1970); Rui Manuel Leite de Noronha Costa e Ramos (350/1970); Rui Manuel Bártolo Ribeiro (362/1970); João Paulo Ferreira de Sousa Cruz (394/1970); Pedro Paulo do Canto Policarpo dos Santos (396/1970); Paulo César Alves Bacelar (403/1970); Pedro Manuel Alves Cardoso Lopes (418/1970); Luís Augusto Morais Rosa (430/1970); Rui Inácio Campos de Lima Almeida (459/1970; Fernando José Rodrigues Rolo Duarte (475/1969); Joaquim
Alberto Morais de Oliveira (509/1970); Nuno Manuel de Andrade Maia Gonçalves (544/1970); António José Afonso Pires Carocho (557/1970); José Mário Macário César Teixeira (559/1969); Nuno José Nunes dos Reis (635/1970); Nuno Maria Rocha e Melo de Castro (648/1970); Joaquim Filipe Veloso Ramos Santana (671/1970);
com armas e bagagens, da Luz para Gomes Freire, ingressando na Escola do Exército. Concluído o curso de Engenharia Militar em 1958 transitaria depois para a Arma de Transmissões quando esta foi criada por separação da Arma de Engenharia e que, assim, lhe valeu uma meteórica progressão na carreira.
OEduardo, nome próprio pelo qual era mais correntemente identificado, entrou para o Colégio em 1943. Recebeu o nº 86. Fez um curso normalíssimo, razoável aluno quer em teóricas quer práticas, nunca sendo um fora de série – nunca foi “medalhado” – mas também nunca chumbando, nem mesmo a uma disciplina. Completou o 7º ano em 1950 sem nunca ter experimentado a “ida à Feira da Luz” , como então os professores, com ar de gozo, diziam a quem “chumbava” apenas a uma disciplina e era sujeito a um exame no fim das férias grandes, quando no jardim frente ao Colégio decorria a tradicional Feira da Luz.
Miúdo fisicamente, mas vivaço e algo atrevido, foi talvez dos últi -
mos da geração 43/50 a amadurecer na passagem da meninice à adolescência, que era particularmente notório num curso que, a partir do 4º ano, foi “envelhecido” com o ingresso de 10 “chumbados” do curso anterior, dos quais 8, que já colecionavam dois “chumbos” , eram uns “velhões” junto dos mais novos como o Eduardo. Importa referir que a alcunha “Periquita” se lhe colou desde cedo, porque era assim que em geral o conheciam. Não há registo do porquê da alcunha, provavelmente pela sua irrequieta vivacidade.
Concluído o curso no Colégio (o nosso 7º ano foi o da célebre ida de todo o Batalhão Colegial a Madrid), juntamente com outros 26 dos 35 finalistas de 1950, rumou,
No início da década de 60, em comissão em Moçambique e ainda na Engenharia, comandou o Destacamento militar que construiu o aeródromo de Valadim, no Niassa, então o mais a norte do território. Em 1973/74, já tenente-coronel, comandou o Agrupamento de Transmissões da Guiné, que foi a base onde, com a sua cumplicidade, funcionou o núcleo conspirador que teria um papel decisivo na constituição do que viria a ser o MFA. No 25 de Abril foi ele que liderou o grupo do MFA que assumiu o poder na Guiné, ficando como Encarregado do Governo confirmado pela JSN, até à chegada, em 7 de maio, do brigadeiro graduado Carlos Fabião, seu camarada do curso entrado na Escola do Exército em 1950. Pelo seu empenhamento no 25 de Abril seria distinguido com o grau de Grande
Oficial da Ordem da Liberdade, em cerimónia pública poucos meses antes de falecer.
Regressado a Portugal prosseguiu a sua carreira militar, que culminaria com a promoção a tenente-general, vindo a ser, de todos os finalistas do CM de 1950 que seguiram a carreira militar, o que atingiu mais elevada graduação.
Depois da passagem à reserva e à reforma manteve atividade cívica e cultural empenhada, quer na EuroDefense – Portugal, quer na Casa do Algarve, de que foi presidente da Direção. Permanentemente ávido de maior e melhor conhecimento, dedicava ultimamente particular atenção às novas tecnologias e aos seus reflexos na área da defesa.
As graves doenças que o afetaram no final da sua vida, e a que foi resistindo corajosamente, impediram-no de concretizar alguns projetos de divulgação que ainda alimentava.
O curso de saída do Colégio em 1950, recorda com muita saudade o seu amigo e companheiro Eduardo. Ele que, ativo colaborador do nosso “Livro do Curso 1943-1950 – foi assim…” , não se cansava de enaltecer o invulgar espírito de coesão que nos carateriza.
Vais fazer-nos falta, Eduardo, ao nosso cada vez mais reduzido grupo de resistentes.
À Família, Luiza sua dedicada companheira, filha/os e neta/os, irmão, a nossa solidariedade muito sentida.
O Curso finalista de 1950
Conheci o Varela há muitos anos, antes de entrar para o CM.
Morreu o VARELA grande camarada e um comandante da 1ª Companhia fora de série, que tive a oportunidade de acompanhar como ajudante de batalhão sediado na 1ª Companhia. Honesto,vertical,amigo de todos,engenheiro militar condecorado com uma Cruz de Guerra, não sei se haverá mais algum. Sempre pronto a ajudar quem precisava, deixou uma ninhada de 5 filhos 2 rapazes, ambos ex-alunos, e três excelentes moças, aqui lhes deixo um abraço cheio de saudades do vosso Pai.
Boa cabeça e intransigente com faltas de honestidade, lealdade e camaradagem. Era um cidadão e militar com qualidades que hoje muito raramente encontramos na nossa sociedade. É com muita pena que te vimos partir CHICA. Paz a tua alma e que nos venhamos a encontrar novamente.
Quando eu entrei para a 1ª classe da Instrução Primária, o meu irmão Gastão entrou para o Colégio, com o número 220. Uma novidade na família, nunca ninguém da nossa gente andara no Colégio. Eram tudo novidades, no domingo seguinte fomos visitá-lo (nesse tempo, no Colégio só havia uma “saída geral” por mês, nos restantes domingos havia “Visita da Família”, com direito a lanche e ...... chá dançante !!) e conhecemos o novo amigo dele: o 219! Dormiam em camas anexas, ficavam em carteiras ao lado um do outro e, ainda por cima, o “doisdezanove” era nosso vizinho, morava numa casa a menos de duzentos metros de nós. Foi havendo convívio, conhecemos os Pais e a irmã, dávamo-nos bem.
Passados quatro anos entrei eu para o CM. Eles, no 5º ano, continuavam bons amigos. Dois anos depois eram graduados. O “doisvinte” era “tenente da segunda”, o “doisdezanove” era comandante da primeira. Mesmo sem estar na companhia dele, continuávamos a dar-nos bem.
O tempo passou; e com o tempo, o Varela foi para o Exército, para Engenharia, mais tarde eu fui para o Técnico e acabei por ir para a tropa, para Tancos onde me apareceu, como instrutor, o nosso capitão “doisdezanove”! No fim da recruta havia uns exercícios, requisitou-me para
ajudante, tínhamos que fazer muito barulho, explodir umas coisas feitas de propósito para irem pelos ares, rebentar uns cocktails molotov; mas os explosivos estavam fora de prazo, totalmente inertes e o “estupor” das garrafas dos cocktails eram duras que se fartavam e não se partiam: um silêncio assustador, um fiasco total !!!!!
Depois ainda o encontrei em Moçambique; continuávamos amigos, tudo normal.
E cada um na sua vida, estive depois bastante tempo sem o ver até que nos encontrámos num almoço da Feitoria, no ano passado. E foi um gosto, continuávamos amigos.
E agora soube que ele tinha partido. Tenho muita pena. Espero que esteja em paz e envio um abraço amigo aos filhos.
Odiretor-delegado da Fundação Casa de Mateus, Fernando de Sousa Botelho de Albuquerque, morreu na madrugada de 14 JAN 2022, aos 80 anos, anunciou aquela instituição.
Em comunicado publicado no seu ‘site’, a Fundação Casa de Mateus retratou Fernando de Albuquerque como um “homem do seu tempo” que acompanhou “sempre de perto a reconstrução do Portugal democrático” ao leme da instituição.
Fernando de Albuquerque nasceu em Lisboa, a 04 de dezembro de 1941, tendo dedicado “grande parte da sua vida ao desenvolvimento do legado” do pai, fundador daquela instituição com sede em Vila Real.
Para fechar o horrível ano de 2021, recebi, a 31 de Dezembro, ao fim da tarde, a horrível notícia do falecimento do Jorge Cabral, (278/1955), um grande amigo. Foi meu camarada de curso e de turma no Colégio, durante vários anos.
O Jorge era dos mais pequenos, senão o mais pequeno, da nossa turma, mas era aquilo a que se costuma chamar «uma figura» . Impunha-se pelo brilho da sua inteligência, por uma grande vivacidade, por uma alegria, um espírito de observação e um humor extraordinários. Não era um aluno de grandes notas, pois a sua mente vagueava muito acima daquilo que eram as matérias que faziam parte do currículo académico daquele tempo no Colégio. Era todo virado para as letras, gostava de poesia e já nessa altura dava os seus primeiros passos nessas áreas. Recordo-me de uma pequena «récita» , que a nossa turma (3.º A) deu no geral da velha 2.ª Companhia. O palco era uma das duas mesas de ping-pong aí existentes. O
número final da «récita» e ao mesmo tempo o seu momento mais alto, era a declamação feita pelo 278 do poema «O Mostrengo», de Fernando Pessoa. Quando chegou a sua vez, o Jorge saltou para cima da mesa e começou a declamar. À medida que o fazia parecia que ia ganhando estatura, agigantando-se no final, para dizer, empolgado:
Três vezes do leme as mãos ergeu Três vezes ao leme as reprendeu E disse no fim de tremer três vezes: «Aqui ao leme sou mais do que eu: Sou um povo que quer o mar que é teu E mais que o mostrengo, que me a alma teme E roda nas trevas do fim do mundo; Manda a vontade que me ata ao leme. De El-Rei D. João Segundo!»
Foi um êxito. Tinha nascido ali um declamador. Aquele momento valeu por toda a «récita»
O 278, entre muitos outros méritos que possuía, era um excelente imitador. A sua imitação do nosso professor de latim, o Miguel Pinto de Menezes, o famoso «Menau», era um espectáculo.
Quando estávamos no 4.º ano fomos, em simultâneo, delegados da Conferência de S. Vicente de Paulo. Ao sába -
do à tarde, depois das aulas, lá íamos a uma pequena mercearia de Carnide, comprar aquilo que os donativos da turma durante a semana permitiam. Metíamos tudo numa pasta e íamos entregá-lo a uma família muito pobre, que vivia numa pequena barraca nuns terrenos anexos a uma das azinhagas que então irradiavam de Carnide. O Jorge entregava os produtos que tínhamos levado e depois começava a conversar com a velha mãe de família, de cabelo todo branco, que descobrimos um dia, estupefactos, que apenas tinha 36 anos. A princípio, a senhora ficava desconfiada com as conversas do Jorge e chegou a interpela-lo, para perceber se não havia malícia no que ele dizia. Vencida a desconfiança inicial, foi conquistada pela sua simpatia e ouvia-o embevecida. No final, penso que aquelas conversas eram tão importantes para ela como os géneros que lhe levávamos. Para ela, era como ir ao teatro.
Como seria de esperar, o Jorge deu a sua colaboração à revista do Colégio, onde publicou alguns pequenos trabalhos.
O Jorge estava no 6.º ano, quando se deu a greve da fome de 1962. Foi uma das vítimas inocentes da mesma. Foi um dos seis alunos que foram arbitrariamente expulsos, nada tendo a ver com a origem da dita greve.
Como Deus escreve direito por linhas tortas, essa expulsão foi determinante, no bom sentido, para a vida do Jorge. Resolveu abandonar o estudo das «Ciências» , que era dado no Colégio,
e passou para «Letras» , tendo como objectivo o ingresso na Faculdade de Direito, o que conseguiu, sem problemas, dada a sua natural aptidão para essa área.
Interrompeu o seu curso de Direito, quando foi convocado para o serviço militar. Podia ter pedido adiamento para concluir o curso, mas resolveu não o fazer, pois um sargento no Distrito de Recrutamento opinou que sendo ele de Direito, bastaria fazer um requerimento para ir parar a uma secretaria em Luanda, tendo de seguida divagado, durante mais de uma hora, sobre os encantos das mulatas de Luanda «Mulheres assim não encontramos cá» . O Jorge, que não era dado a pedir o que quer que fosse, «esqueceu-se» de meter o requerimento recomendado. Resultado, nunca chegou a ver as mulatas de Luanda e acabou, com a especialidade de atirador de Artilharia, a comandar o Pelotão de Caçadores Nativos n.º 63, de 1969 a 1971, no Leste da Guiné, entre Fá Mandinga e Missirá, Sector L 1, Bambadinca. Não terá havido um outro «alfero» comandante de pelotão mais «fora do baralho» e mais pacífico do que ele. Começou por propalar aos 4 ventos, que «Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum» . Isto desorientou os fieis seguidores de Amílcar Cabral, que terão ficado a pensar «Que tipo é este que se permite tal ousadia?» . Não terá dado um tiro durante a sua comissão. Fez de tudo naquelas terras. Foi homem grande, pai, patrão, régulo, chefe de tabanca, conselheiro, psicólogo, poeta, feiticeiro, médico de especialidades várias, padre, sexólogo, advogado e «amigo do turra». Um dia, foi atrás de uns «camaradas do PAIGC» na bolanha, a chamá-los «Vocês não fujam, não tenham medo!!!.... Sou o Cabral!!!». A sua comissão na Guiné dava um livro. E deu. Ele escreveu-o. Publicou, em Outubro de 2020,
as suas «Estórias Cabralianas. Volume I». A recensão desse livro ímpar, feita pelo Nuno Mira Vaz (277/1950), que muito se divertiu, foi publicada na secção «Antigos Alunos nas Artes e nas Letras» , do n.º 222, da ZacatraZ. Leiam o livro, que vale a pena.
Estive no lançamento do livro do Jorge. Como seria de esperar, foi um lançamento «sui generis». Teve lugar, ao fim da tarde, numa mesa de uma esplanada do Jardim Constantino, em Lisboa, onde Jorge estava sentado, juntamente com o seu editor, autografando livros, para os que por ali iam passando. Enquanto lá estive, passou por lá uma antiga aluna sua, que, por aquilo que disse, deu logo para perceber como os seus alunos o estimavam e o admiravam, pelo seu saber e pela sua originalidade.
Fui ao velório, no dia primeiro de Janeiro, em que conheci o filho do Jorge. Não sendo o Jorge militar, fiquei admirado por ver a sua urna coberta com a bandeira nacional. Vim a saber, que assim era, por sua vontade expressa. Não me surpreendeu ter sido essa a sua vontade. Não era pelo facto de ser um «desalinhado» , que deixava de ser um patriota.
Não sei se será apropriado dizer que um funeral foi lindo. Mas esta é a palavra que me ocorre, para classificar o funeral do Jorge. Teve lugar na igreja do Lumiar, perto do Museu do Trajo. A igreja, que não é pequena, estava cheia e ninguém lá estava por obrigação. Compareceram, em peso, antigas alunas do Jorge, do curso de Assistentes Sociais, onde ele lecionou, durante muitos anos, cadeiras de Direito. Eram dezenas de senhoras, nas casas dos 30, 40 e 50 anos, todas com as suas capas negras de estudantes. Todas elas eram unanimes ao afirmarem que
o Jorge tinha sido o melhor professor que tinham tido no seu curso. Era um professor único, que as ensinava a sério, com rigor, com ética, mas sempre com bom humor e boa disposição. A cerimónia teve uma componente musical e uma componente religiosa, ao que se seguiu um discurso extraordinário de uma sua antiga aluna, que ele iniciou no ensino. A dado passo, a senhora leu um poema, escrito recentemente pelo Jorge, ao sentir que o seu fim se aproximava. Era este, o seu poema:
"Para morrer eu quero um Pôr do Sol E um perfume forte a algas e a Mar Um cheiro bom e honesto a pão mole E uma forma de ser e nunca estar Inventem de mim, que fui à Lua E que venci um milhão de gigantes Que fui o Herói da minha Rua E que antes de mim nunca existiu um antes Contem por mim muitas estórias De Homens, de Mulheres e de Crianças Transformem as Derrotas em Vitórias! E jurem que eu vivi cheio de esperanças..."
Depois da sua antiga aluna falou o seu filho, de forma comovida e comovente.
Terminada a cerimónia, as suas antigas alunas foram as primeiras a sair do templo e estenderam as suas capas no chão, para a urna passar sobre as mesmas, no seu percurso para o carro funerário. No início desse percurso, o pesado silêncio foi de súbito cortado por um cântico de homenagem, como que uma serenata, entoado pelas suas antigas alunas. A emoção que nos tomou, não podia ser maior.
O nosso curso do Colégio foi castigado com várias baixas ultimamente. Uma delas foi a do 416/1955, José Maria Correia de Barros, outro excelente ca -
marada, de quem o Jorge era grande amigo. A notícia do falecimento do 416 foi dada no número 223, de Abril/ Junho 2021, da ZacatraZ. Nesse número foi publicado um pequeno texto do Jorge dedicado ao José Maria, em que, a dado passo, dizia «Embora não seja Homem de lágrimas, chorei copiosamente ao saber da notícia» , para finalizar escrevendo «Até, sempre Companheiro, Amigo, Irmão.»
Agora, estarão juntos, lá em cima. Eu, cá em baixo,amigo de ambos, sinto-me triste e frustrado, por a vida me ter dado tão poucas oportunidades de com eles conviver, depois de sairmos do Colégio.
Luis Barbosa (71/1957)Post n.º 22852 do Blogue «Luís Graça e camaradas da Guiné», com cerca de 11.450.000 visualizações De Luís Graça, editor:
O nosso blogue deve-lhe muito. Foi um dos nossos históricos. Colaborador permanente, e sobretudo autor de uma série absolutamente "impagável" , as "estórias cabrialianas" (de que publicou em 2020, em livro, com o mesmo título, o 1.º volume, sonhando ainda lançar um 2.º, quando entretanto o seu editor também adoeceu de cancro...). Fiz questão de lhe escrever o prefácio, gesto que o sensibilizou.
Tem cerca de 230 referências no blogue. E eu não hesito em dizer, como já aqui disse, que ele foi uma das estrelas da nossa Tabanca Grande.
Escrevo "a quente" , quase em cima do joelho... Vou a caminho de Candoz, onde a Net nem sempre se apanha com qualidade e velocidade... Mas quero fazer-lhe, por estes dias, uma bonita homenagem de despedida no
blogue. Como acontece nestas ocasiões, quando se perde alguém que muito se ama ou se estima, queria dizer-lhe tantas coisas que nunca há tempo, em vida, para se dizer...
Confesso que estou desolado, perdi/ perdemos um bom amigo e camarada. Não creio que ele tivesse inimigos. Por onde passou deixou a "peugada" de um grande ser humano, um homem bom, um professor venerado e sobretudo amado. Ao seu filho, neto e irmão (que não conheço pessoalmente), aos seus amigos e amigas do peito, às suas "almas" , transmito a nossa dor e o nosso preito de homenagem.
Aos nossos leitores, e nomeadamente aos amigos e camaradas da Guiné, peço que nos mandem fotos e pequenos depoimentos sobre o Jorge Cabral, criador da figura do "alfero Cabral" . Com ele, morreu também o nosso "alfero" , o único, o inimitável, cujo voz ainda ecoa pelos matos do Cuor: "Não
fujam, não tenham medo... É o alfero Cabral... E Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum"...
De resto, ele nunca escondeu que tinha um "grãozinho de loucura" , coisa que fazia parte dos genes dos ilustres Cabrais, mas sempre modesto, definia-se como simples "escrivinhador" ... Pessoalmente, considerei-o como um dos melhores escritores do "teatro do absurdo da guerra" que nos calhou em sorte. Ninguém poderá falar do nosso quotidiano, nos quartéis do mato, na Guiné, de 1961 a 1974, sem evocar a figura do "alfero Cabral" .
Mais do que ninguém ele soube dar-nos (ou devolver-nos) o seu/nosso lado mais solar, alegre, romântico, maroto, brejeiro, provocador, irreverente, desconcertante, descomplexado, histriónico, humorístico, burlesco, picaresco, saudavelmente louco, da nossa geração, o lado próprio dos verdes anos (…)”.
Enfim, para o "alfero Cabral" a guerra não foi só "sangue, suor e lágrimas"... (Curiosamente, poucos sabem que ele tinha passado também pelo Colégio Militar, foi um dos "ratas" de 1955...).
Mestre do microconto, da "short story" , senhor de uma ironia fina, foi responsável por alguns dos melhores postes que aqui fomos publicando, entre 2006 e 2016. E, como eu já lembrei, é pena que os "periquitos" da Tabanca Grande, os que entraram mais recentemente, não o conhecessem. De facto, de há meia dúzia de anos a esta parte, tinham vindo a rarear as "estórias cabralianas" , série que chegou quase à centena de postes.
Saibamos honrar a sua memória e o seu talento... Ele iluminou a nossa "caserna" com o seu humor desconcertante... Vamos sentir a sua falta.
Luís Graça, em nome da nossa equipa de editores e colaboradores.
Poema de Jorge Cabral 1
"Vinte e seis ou Mil, conto pelos dedos Os anos que vivi, eu não sonhei Este tempo de angústia e de medos, Que soletro e nunca sei. Que Guerra é esta? Onde não estou! Que rio aquele? Não cheira a Tejo! Que combate? Combato, mas não sou. E quando olho o espelho, não me vejo! Aqui em Missirá, escravo e senhor Invento-me. E guarda – prisioneiro Bebo, fingindo em alegria, a Dor. Hoje faço anos… e continuo inteiro."
Missirá, 6 de Nov. 1970 (...)
1 Composto em Missirá, uma minúscula povoação da Guiné, onde ele comandou durante muitos meses o Pelotão de Caçadores Nativos n.º 63, entre 1969 e 1971.
fresquinho, apetecia mesmo ir para lá, não fora estarmos em guerra e o facto de estar cheio de engenhos explosivos. A qualquer momento, poderia passar de o local mais fresquinho, ao mais quente de toda a África, se fosse atacado…
A27 de Novembro de 2021, faleceu vítima do maléfico Covid-19, o Mário Roncon, (333/1955). Foi Comandante da 2ª Companhia no ano 1962/63, seguiu para a Academia Militar onde entrou para o curso de engenharia com as notas de 18, 19 e 20, nas provas de aferição. Foi Comandante da 1ª Companhia da Academia no 2º Ano e era o "Penico dos Penicos”. “Penico” é o nome que na gíria que se dá na Academia ao melhor aluno de cada curso. De todos os cursos era o melhor e assim foi recebendo os prémios pecuniários, pelas médias que tinha. Teria recebido a espada de Toledo se não tivesse entrado em conflito com um capitão. Orgulhoso, não aceitou que duvidassem da sua palavra, pediu para sair da Academia.
Foi mobilizado para Moçambique de 1970 a 72 onde exerceu as funções de “Director de Obra” na Direcção de Serviço de Infraestruturas da Força Aérea, de Abril de 1970 a Março de 1972 na engenharia da Força Aérea a norte de Nampula. – cidade capital do Norte de Moçambique. Construiu o Paiol da Base de Nova Freixo, que era o local mais
Implementou obras e melhorias na Base e fora desta, 300m fora da Base já era capim. Uma vez estava a construir uma ponte, mas veio uma daquelas enxurradas que arrastou o material a quilómetros de distância. A população meteu-se ao caminho e foi recuperar o material, pois aquela obra de arte iria poupar dezenas de quilómetros, nos seus percursos.
O meu pai tinha que ir inspeccionar a obra do Rádiofarol**, a quilómetros da Base, pelo caminho surgiam crianças com latas de tinta de 25 litros, a pedir boleia: Vai no rio? – perguntavam. Queriam ir buscar água ao rio, á boleia era muito melhor. Os pedidos de boleia multiplicavam-se. Logo optimizou a ajuda: “vou passar a trazer um “Jipão”, só levo dois rapazes e as latas todas, enquanto fizer a inspecção à obra vocês enchem as latas. No regresso vamos distribuindo as latas.” Sempre atento aos necessitados, A SERVIR, UM POR TODOS.
Por estas e por outras tantas, na Récita da Base, à semelhança do que se faz na
Récita do Colégio com os slides e músicas, fazia-se lá com nomes de filmes.
Ao slide da Base chamaram – Férias em Acapulco; Por tudo que implementou e construiu, devia ser a única Base aérea com uma piscina e campo de mini-golfe, por exemplo.
Ao slide do meu pai – Do Céu caiu uma Estrela;
Regressado à Metrópole foi acabar umas cadeiras do curso de engenharia Civil, pois a parte militar estava concluída na Academia. Dizia o Professor catedrático do Técnico para o assistente: - “Este já é nosso colega” , referindo-se ao meu pai.
Trabalhou na EDP antiga CRGE, EPAL antiga CAL – Sendo na EPAL o mais novo Director de Serviço aos 35 anos, prestou colaboração no Gabinete de Projectos de José Maria Duarte Júnior. No Ministério do Ambiente trabalhou com a Ministra Teresa Patrício Gouveia e a Ministra Eliza Ferreira.
Foi nomeado pelo Governo Regional dos Açores, para fazer parte da Comissão de Apreciação das Propostas do Concurso Público internacional para concessão rodoviária sem cobrança ao utilizador (SCUT) de S. Miguel.
Dirigiu a construção do Reservatório de Telheiras, Torre de tomada de água da albufeira de Castelo de Bode, entre outras…
Quando em 1976 colocaram uma bomba no Canal Tejo (transportava um caudal 400 000 m3/dia,2 500mm com uma extensão de 41,7 km), o que cortava o abastecimento de água à Grande Lisboa, a dias das eleições. Foi único que disse que seria possível
repor o canal em funcionamento em 48 horas, todos diziam no mínimo 1 semana. Fizeram logo um comentário: – “Oh, Roncon, está a ser optimista…"; A resposta foi simples e demolidora: –“Se eu não for optimista num cenário destes, nunca conseguirei”. Ficou a dirigir, a reposição do fornecimento de água. O Ministro das obras públicas, que como era de esperar nos primeiros anos pós 25 de Abril era um militar, depois de analisar os estragos disse: – “Oh Roncon, ouvi dizer que tinha sido o Roncon a pôr a Bomba”. Ao que o meu pai respondeu: – “Se fui eu, fui bem ensinado!”
O Presidente da Administração abria os olhos e fogachava para o meu pai. Mas o meu pai repetia, se fui eu, fui bem ensinado. Vendo o embaraço do Engº João Bau, presidente da Administração, disse o Ministro: – “Sabe, fui professor do Roncon”.
O Pai logo disparou uma resposta pronta: – “Pois foi, foi meu professor de Minas e Armadilhas!!”
Mandaram bombar, saía água por todos os buracos e fissuras, parecia um passador. Tendo meu pai dito: – “Todos lá para dentro, vamos aplicar Hidroliq*” – catalisador para acelerar a presa do betão. O pessoal perguntou: -“Qual é a dosagem?” – “Vai puro, não há tempo a perder”. Quando a água, começou a chegar à parte de cima do cano das botas: – “Vamos embora que não quero ninguém afogado” !! Isto é SERVIR, como o Lema do nosso Colégio, em tempos idos.
O candidato Mário Soares, convocou a Televisão Alemã e disse na reportagem: “É PARA VEREM A CAPACIDADE DA ENGENHARIA PORTUGUESA!!” Naquele dia o meu pai representou toda a engenharia Nacional.
Em Junho de 1981, foi nomeado Chefe de Projecto do Subsistema de Castelo de Bode uma obra que significou o fim da falta de água que era um hábito nesta década e melhorou a qualidade da água transportada. Passou a ser tida como das melhores das capitais Europeias. Foi considerada, como a maior obra de Hidráulica dentro das 100 melhores obras do século XX – O meu pai dizia cheio de orgulho, da equipa que fez Castelo de Bode. Em 9 engenheiros de EPAL, três eram exalunos do Colégio Militar!! Andrade Durão ex-227/55, Roncon Santos ex-333/55, Santos Ferreira ex-342/55. Para além de outros que surgiram integrando empresas de empreiteiros e subempreiteiros. Havia um relatório confidencial que dizia, que a empreitada estava com dois anos de atraso. Estudou o projecto muito em pormenor, desconhecendo a existência do dito relatório, disse: – “Colocarei água em Lisboa a 1 de Junho de 1987”. Perguntou o administrador: – “Como vai fazer isso”? Terá respondido: – "Não estará tudo concluído, podem faltar pinturas ou placas ajardinadas, mas será possível fornecer água, entrando o Subsistema em exploração. Conseguirei fazê-lo, com um chicote numa mão e rebuçados na outra” – respondendo à questão posta pelo Administrador.
Neste duro momento para a minha família, agradou-me especialmente as mensagens de camaradas meus a contar como o meu pai os tinha marcado, as várias caixas de bolas de ténis que ele arranjou para o Colégio, o projector de vídeo para um filme da Récita do 7º ano do meu curso 81/88, etc. No verão de 1988 tive o meu acidente de motorizada e fiquei 6 meses em coma. Nunca desistiu de mim e lutou de todas as formas. Dizia cheio de orgulho: – “O meu Curriculum és tu, foi a tua recuperação a minha coroa de Glória”!!
Isso mesmo… tive, um curso de entrada 81 e três cursos de saída 88, 90,
91. O último foi de vez. Os melhores 10 anos da minha vida!!
Nesta vida o que levamos são os valores. Esses valores vamos buscá-los à família, aos amigos e companheiros de trabalho. Além daqueles que nos enriquecem pelo ambiente de ensino e religião. Sou um privilegiado, porque tive-o sempre com nos três grupos. Foi a ouvir os feitos do meu avô na Guerra Civil de Espanha e as histórias do meu pai no Colégio Militar, Academia e em Moçambique, que me fizeram concorrer ao Colégio com muito orgulho!
Ainda foi convidado para ser Presidente da AAACM, o que recusou, por achar que deveria ser um General o presidente da Associação. Tendo sido assim Vice Presidente da Direcção da AAACM nos anos 1989 e 1990, ainda na Calçada Marquês de Abrantes.
Em 1992 entrou em regime de licença sem vencimento, tendo saído definitivamente no fim desse ano, devido a um convite para trabalhar num gabinete especializado de gás natural – Pipeline Engineering (gabinete Alemão), com vista a exercer funções “Liason Engineering” e elaborar o estudo do traçado do oleoduto de alta pressão, que inclui a linha principal de Setúbal a Braga, com os respectivos ramais totalizando 600 Km de traçado. Também elaborou o traçado do Gasoduto entre Córdova e Monte Redondo.
A partir de 1994 colaborou com a BECHTEL (empresa americana) no traçado, coordenação da topografia e expropriações do Oleoduto Sines/Aveiras de Cima, destinado à CLC.
Lembram-se das canetas cor de pinhão, com a barretina no topo? Foi ideia sua. - O Torneio de Golf, nos 200 anos do Colégio no Campo de Benamor, Algarve.
- Um saco de prémios, para todos os participantes, lá esteve o seu dedinho. Sempre a pensar no Colégio!!
Não vos conto quantas vezes fomos à Associação para dar parecer/opinião sobre questões técnicas nas novas instalações da AAACM no quartel da formação no Largo da Luz, sempre a SERVIR, UM POR TODOS.
As histórias dos copianços nos exames, dava um livro. Um dia conheci um engenheiro militar mais velho que me disse, Tens que ter muito orgulho no teu pai, nunca deixou de ajudar um camarada.
No Golfe, foi responsável pela solução de drenagem no Campo de Golf Lisbon Sport Club ― apesar de já a terem estragado. Também do Campo de golf do Jamor e Campo de Santo Estevão. O Golf era a sua paixão e não dizia não a um problema, um desafio ou a quem lhe pedisse ajuda.
Levei uma vida a escutar e a aprender, e se ele tinha histórias e feitos para contar.
Não posso deixar de referir os seus tantos ex-alunos comandados da segunda, a amizade que lhe tinham e como hoje são meus bons amigos.
«Algumas pessoas tornam a vida especial só por existirem.»
-Desconhecido
«Aquilo que deu sentido à vida, dará sentido à morte»…
Não cheguei a poder dar a força ao meu pai, como recebi quando estive em coma.
«O que importa na vida, não é o simples facto de termos vivido; é a importância que tivemos na vida dos outros»
Nelson MandelaSempre achei que tinha sobrevivido ao meu acidente, para o ajudar, de diversas formas, assim o fiz enquanto pude.
Muito afável, destacou-se pelo seu humanismo, generosidade e disponibilidade de UM PARA TODOS!!
Orgulho-me do meu pai, acho que o Colégio se pode orgulhar deste seu ex-aluno: ZACATRAZ, ao meu Pai!
Parafraseando os Trovante na letra da música 125 Azul:
Luís Ricardo Roncon Santos (226/1981)
*Hidroliq - Não tenho a certeza que se escrevia assim o nome, mas o objetivo era o mencionado, já não lho posso perguntar.
** radiofarol consiste num posto de rádio situado num ponto conveniente da costa, normalmente num farol luminoso, mas também, no caso de navegação aérea, em posição adequada à aproximação de um aeroporto. Este mecanismo emite numa dada frequência traços contínuos separados pelo indicativo de chamada da estação.
Desta forma, utilizando um radiogoniómetro de bordo, é possível determinar o seu azimute e assim obter uma linha de posição.
“Cada pessoa que passa na nossa vida, passa sozinha, porque cada pessoa é única e nenhuma substitui outra. Cada pessoa que passa na nossa vida, passa sozinha, e não nos deixa só, porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós.
É a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso.”
Omeu irmão Luis entrou para o Colégio em Outubro de 1962, tendo recebido o nº 320, o mesmo que o nosso Pai recebera em 1930. Entretanto, eu entrava para o 5º ano. Com ele entraram, entre muitos outros, o 64 Cancela de Abreu, 80 Luis Barbosa, 101 Manuel Campilho, 136 Cardoso Palhinha (filho do ex-aluno 356/1931), 250 Miguel Soares Franco, 262 Netto de Almeida, 314 Luis Xavier de Brito, 330 Vasco Lopes Alves ( filho do ex-aluno 439/1933), 430 Lopes Mateus (filho do ex-aluno 257/1936), 495 Gouveia da Costa, uma mão cheia de grandes cavaleiros e amigos.
Ele entrou confiante e sorridente pois já conhecia o Colégio por dentro, tantas as vezes que lá havia estado a assistir a cerimónias, festivais e provas desportivas. Estas ultimas eram as que mais o animavam, tanto mais quanto a partir de então passaria de espectador a praticante.
Cara alegre e bem disposto, como veio a ser toda a vida, chamaram-lhe “o sempre em festa” e o “cara de sábado” (especialmente por parte do 459/1934,
grande cavaleiro olimpico Jorge Matias), mas também “o Bom a matemática”, fruto de notas elevadas nessa disciplina. Ele sempre encarou a vida com optimismo.
Desde logo reconhecido como irmão do 70, levou uns calduços e não só, mas reagia com bom feitio. Como rata e dos mais baixos do pelotão carregava com a Mauser ao ombro com destreza e aprumo. Muito guloso como ele era, os fins de semana eram de desforra em todo o tipo de bolos e pudins, e, ao domingo à noite ao regressar ao Colégio levava, quase sempre, a sua dose de bolama para a semana.
O Benfica, sua grande paixão clubística, era ali ao lado e ele sabia que os alunos podiam entrar gratuitamente para a bancada central para ver os jogos. Essa facilidade estimulante fazia nascer permanentes vontades de dar o salto ao estádio e ver o Eusébio e os outros. O problema estava em conseguir o equilíbrio entre as autorizações do nosso Pai para passar ao outro lado da 2ª circular e os resultados escolares. Às vezes tinha desilusões.
Rápidamente se começou a evidenciar no futebol de 5, quer nos recreios durante o dia quer nos serões antes e depois do jantar. E depois no futebol de 11. Mas tudo quanto era desporto era com ele.
Em 1965, com grande pena dele e de nós, deixou o Colégio para se concentrar mais nos estudos, não fosse ele filho de um exigente e rigoroso professor do Técnico, instituto onde mais tarde se licenciaria em engenharia civil.
Adorava cavalos especialmente na disciplina de obstáculos e, com a sua memória prodigiosa, sabia todos os nomes de cavalos e cavaleiros, resultados de concursos hípicos e detalhes das organizações nomeadamente na época 1960 – 1970. Fixava facilmente datas de todos os aniversários associando-as a outros eventos, especialmente os desportivos.
Exerceu diversas actividades profissionais ligados à industria cerâmica, maquinaria de obras publicas e movimentação de terras, maquinas agrícolas, transportes de longo curso, Director Comercial da Pirelli Portugal, imobiliário, entre outras.
O 70, teu irmão, João Carlos de Morais Pinheiro da Silva (70/1958)
perior desempenho em cargos dirigentes, tanto na FEUP, como na Reitoria e na UPTEC ― Parque de Ciência e Tecnologia da U.Porto, que presidia desde 2020.
condolências à família, amigos e colegas do Prof. Doutor António Cardoso, a quem prestamos uma sentida homenagem.
Vice-Reitor com o pelouro do Património Edificado e Sustentabilidade faleceu aos 66 anos de idade.
A Universidade do Porto lamenta profundamente o falecimento do Vice-Reitor António Cardoso (19552022), que diligentemente serviu e muito honrou esta instituição com a sua generosidade, dedicação, experiência e saber.
Com o desaparecimento do Prof. Doutor António Cardoso, a Universidade do Porto perde um professor douto, dedicado e inspirador, um investigador reconhecido internacionalmente na área da Engenharia Civil e um gestor académico com visão, iniciativa e capacidade de realização.
Na última fase da sua vida, o Prof. Doutor António Cardoso distinguiu-se, justamente, pelo seu su -
Enquanto Vice-Reitor em dois reitorados (2006-2014 e 20182022), foi um dos principais responsáveis pela ampliação e requalificação do nosso campus universitário, pela modernização e expansão dos seus equipamentos e infraestruturas e pela recuperação do património edificado da Universidade levadas a cabo neste início de século. O Prof. Doutor António Cardoso deixou, de facto, uma obra notável, da qual beneficiam hoje e beneficiarão amanhã várias gerações de membros da nossa Comunidade Académica.
Como Reitor, tive o privilégio de trabalhar diariamente com o Prof. Doutor António Cardoso e dele guardo a melhor das memórias. Perdi um colega e amigo que muito estimo, admiro e reconheço. Creio, de resto, que todos os que com ele trabalharam e conviveram foram de alguma forma tocados pela sua afetuosidade, serenidade e inteligência.
Em nome da Universidade do Porto, resta-me apresentar as nossas
Deixo uma palavra especial de conforto aos membros da nossa Comunidade Académica que trabalharam e conheceram mais de perto o Prof. Doutor António Cardoso, em particular no seio da Reitoria, da FEUP e da UPTEC.
Desde a passada quarta-feira dia 19/JAN/2022 que muito custa a conformar-me pela prematura inusitada partida do exemplar António Cardoso (455/1965), nosso bom amigo com quem tive o enorme privilégio e prazer de ter partilhado da sua companhia sempre na mesma Turma até ao 7º ano, desde o 2º ano quando entrei no Colégio.
O António sempre, mas mesmo sempre, foi um óptimo aluno, mormente a Matemática, disciplina que, se bem me recordo, praticamente só tinha 20 valores. E no 3º Ciclo – antigos 6º e 7º anos do Liceu – instituiu-se a turma A como turma piloto de Matemática Moderna, coordenada pelo ilustre Matemático Professor Sebastião e Silva – em 1970 já pelo segundo ano, creio – disciplina essa da qual tínhamos aulas todos os dias da semana e até ao sábado.
E o Professor Dr. Varregoso que ministrava a nova disciplina, que os docentes então aprendiam a lecionar, por vezes até tremia sempre que o António o interrogava. Até me atrevo a dizer que logo aos 15 anos, no 6º ano, já o António por vezes ensinava o próprio Professor de Matemática. Mas não se fique a pensar que o Professor era mau, porque não, não era, o António é que era mesmo genial, adjetivo a que recorro não pela circunstância em que escrevo, mas por ser absolutamente VERDADE.
Mas já agora, a propósito conto uma “gracinha” – apesar do despropositado da oportunidade, mas que me desculpem, pois os formalismos não são a minha especialidade – a jeito da que em tempos também foi contado pelo por mim designado “nosso padrinho de curso” João Manuel Simões de Carvalho, 464 – "Golias" – então a propósito do que ele escreveu, aquando da também malograda partida do nosso bom amigo 478 – Manuel Marçalo, o Comandante da 1ª Companhia no nosso 7º ano, em 1971/1972:
O António, que me recorde, nunca, mas mesmo nunca, teve uma nota que no mínimo não fosse BOM, e ainda assim foram poucos, porque eram quase todas Muito Bom. E certa vez o irmão Abílio 456 –igualmente um excelente aluno, tão bom quanto o António, embora umas muito poucas décimas abaixo – numa prova de Físico-Química, do Fabuloso Professor Engº Mário Saraiva, o célebre Bisnau, teve Suficiente (++) e logo lhe vieram as lágrimas aos olhos quando recebeu a prova. Ao mesmo tempo que outro colega classificado com Suficiente (-) dava pulos de conten -
te, até porque nessa prova a razia tinha sido significativa, claro.
Mais tarde, pela vida profissional afora, íamo-nos contactando esporadicamente, embora sem nunca misturarmos trabalho com amizade nas duas únicas vezes em que profissionalmente convergimos. Não obstante, por vezes ia sabendo por onde ele andava e o que ia fazendo, até porque as nossas atividades profissionais se tocam, embora a dele mais no âmbito científico, ensino, gestão universitária e projecto, e a minha sobretudo prática no domínio das obras.
Faz-nos muita falta o António Cardoso, não apenas como bom amigo, mas sobretudo por ser INTELIGENTE; TRABALHADOR; EXCELENTE ENGENHEIRO E PROFESSOR; MUITO CULTO; HONESTO E BOM; e sei lá o que mais dizer, faltam-me as palavras ... porém há muitos mais quem as possa complementar, e muito melhor e mais substantivamente, corrigindo-as até, desde que seja para melhor, claro.
E termino manifestando, ainda que também por aqui se permitido me for, os meus sinceros votos para que tenham MUITA FORÇA, sobretudo TODOS os da extraordinária família do António, que praticamente só agora conheci, na 4ª e 5ª feira dias 19 e 20/JAN/2022, na Reitoria da Cidade Universitária do PORTO, na Igreja do Foco e no Cemitério do Monte-Murtosa, em especial a sua valorosa mulher Engª Beatriz Cardoso – Profª na Universidade de Aveiro – e a maravilhosa filha; o tão simpático e cordial irmão que apenas agora pessoalmente conheci, Prof. Eng. Nuno Cardoso, mulher Engª Paula Cardoso e filho João Nuno; a Drª Tina Cardoso
– a muito simpática mulher do Abílio Cardoso 456, que partiu ainda mais prematuramente em 1991, mas que jamais será esquecido; e finalmente o tão dedicado Professor Doutor Catedrático de Cardiologia na Faculdade de Medicina no Hospital de São João do PORTO José Carlos de Magalhães Silva Cardoso, também ele ex. aluno nº 604/1966, heroico irmão do António, que tudo fez para o salvar, embora infelizmente não tenha conseguido, sendo até por isso merecedor de uma ainda maior admiração, não fora a igualmente tão valente sofredora família, que muito quero e devo enaltecer, em memória dos para sempre nossos inesquecíveis exemplares bons amigos Abílio , e sobretudo do António que agora me leva a dedicar-lhes este texto, mas também em nome de todos nós, os do nosso Curso de Colégio Militar que não tiveram oportunidade, tempo, ou mesmo ânimo para algo aqui te escrever amigo António , e também por quase certa delegação do nosso insigne Comandante de Batalhão João Faro Viana 463/1965, ZACATRAZ
(433/1966)
Curso 1965/1972 * do 4ª Pelotão (** 483 José Manuel Pais Sampaio - Vidigueira) 2ª Companhia (=> 99 Jorge Restani Alves Moreira - da Barra - Aveiro)
P.S. também estive acompanhado por amigos do nosso curso 1965/72, o Rogério Ribeiro (283/1964) , em casa do qual no PORTO a minha mulher e eu dormimos, e pelo J oaquim Paleta Marreiros (413/1965) , que chegou ao cemitério vindo de Lagos, para onde regressou terminadas as exéquias.