Revista ZacatraZ nº 219

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Editorial Revista “ZACATRAZ”

Editorial

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Estava eu a ler um livro na página com o título “ 1 de Janeiro de 2020 “, e senti-me com uma alma alegre e feliz.

Tudo estava a correr bem.

O PIB de Portugal estava a crescer. Tínhamos antecipado o objectivo de ter um excedente orçamental. O desemprego tinha continuado a baixar. O turismo a aumentar e já representava 20% do PIB. As verbas para o SNS tinham sido substancialmente incrementadas, etc , etc.

No nosso Colégio Militar também estávamos com um saldo positivo. O número de alunos aumentava. As alunas internas já se encontravam com uma lista de espera. Os investimentos em novas infra-estruturas estavam a ser concretizados e o projecto educativo estava a ser bem implementado.

Na Associação também tínhamos uma boa fotografia. Obras de “ lavar a cara “ ao exterior dos edifícios do PM 34 (Quartel da Formação) finalizadas. Reorganização dos espaços da sede da Associação concretizados, nomeadamente a criação de uma sala de convívio para os sócios. Um balanço e uma conta de resultados do ano de 2019 superiores ao correspondente orçamento e um ligeiro aumento de quotas cobradas. Virei a página, 3 meses depois!

O título agora era ”1 de Abril de 2020 “, mas ……. O que li de seguida não eram mentiras.

Tudo tinha mudado repentina e surpreendentemente. Encontrávamo-nos perante uma pandemia, global e mundial, com consequências imprevisíveis.

Em Portugal o PIB podia ir decrescer entre 8% a 10%. A nossa dívida podia chegar a 135% do PIB. As empresas entraram muitas em lay off. O desemprego iria aumentar de forma assustadora. O comércio estava práticamente todo fechado.

O Estado de Emergência tinha sido decretado. As pessoas estavam todas confinadas em suas casas. A luta pela saúde pública tornou-se no primordial objectivo de todos nós. Os profissionais de saúde e de segurança estavam esgotados.

O Colégio fechou e não se sabe, nem quando, nem em que condições poderá abrir.

A Associação, bem como todas as actividades do PM 34, também fecharam com a inevitável perda de receitas. Temos a responsabilidade social de manter as melhores condições sanitárias dentro do PM 34, devido ao Lar da AAAIO.

Lembrei-me do nosso Código de Honra. Li-o e reli-o!

Recordei-me de tudo aquilo que o Colégio me deu: disciplina, rigor, pontua-

lidade, sentido de responsabilidade, respeito pela hierarquia, camaradagem e solidariedade.

É agora que devemos — e temos — de aplicar o nosso lema “UM POR TODOS, TODOS POR UM“ e a nossa divisa “SERVIR“. Mas desta vez não é só para a nossa comunidade, é para com todos os que residem em Portugal, sejam portugueses ou não.

De repente e para meu espanto, reparei que todas as letras estavam escritas em maiúsculas e o espaço entre as linhas tinha duplicado. Questionei-me se, as letras maiúsculas, não seriam para termos a redobrada atenção para a nossa missão e se o intervalo entre as linhas não seria para pormos fim a tudo isto o mais rápidamente possível .

Vamos virar a página !

Vamos olhar para o futuro com esperança e determinação para ajudar a reerguer a nossa Pátria, que dá pelo nome de Portugal.

HERÓIS DO MAR, NOBRE POVO... PELA PÁTRIA LUTAR, CONTRA OS CANHÕES MARCHAR, MARCHAR!

Com um forte ZACATRAZ POR PORTUGAL.

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Ficha Técnica

CORPOS SOCIAIS DA ASSOCIAÇÃO PARA O TRIÉNIO 2019-2021

ASSEMBLEIA GERAL

Presidente Martiniano Nunes Gonçalves (9/1958)

Vice-Presidente João Paulo de Castro e Silva Bessa (200/1957)

1º Secretário António Luis Henriques de Faria Fernandes (454/1970)

2º Secretário Afonso Castelo dos Reis Lopez Scarpa (222/2000)

DIRECÇÃO

Presidente Filipe Soares Franco (62/1963)

Vice-Presidente José Francisco Machado Norton Brandão (400/1961)

Secretário Pedro Arantes Lopes de Mendonça (222/1958)

Tesoureiro Pedro Pinho Veloso (429/1986)

1º Vogal José Mário Fidalgo dos Santos (253/1951) (falecido em funções)

2º Vogal Manuel Agostinho de Castro Freire de Menezes (423/1955)

3º Vogal Marco António Martinho da Silva (456/1983)

4º Vogal João Luis de Mascarenhas e Silva Schoerder Coimbra (54/1984)

5º Vogal Luis Manuel Marques Cóias (190/1990)

1º Vogal Suplente Tiago Simões Baleizão (200/1987)

2º Vogal Suplente Eduardo de Melo Corvacho (343/2002)

3º Vogal Suplente Alikhan Navaz Nadat Ali Sultanali (306/2005)

CONSELHO FISCAL

Presidente António Santos Serra (95/1959)

1º Vogal Eugénio de Campos Ferreira Fernandes (180/1980)

2º Vogal Rui Manuel Gomes Correia dos Santos (225/1981)

1º Vogal Suplente Diogo Rodrigues da Cruz (504/1986)

2º Vogal Suplente Bruno Miguel Fernandes Pires (27/1995)

Ficha Técnica

PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL

Fundada em 1965 Nº 219 Abril/Junho - 2020

FUNDADOR Carlos Vieira da Rocha (189/1929)

DIRECTOR Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950) nunomira.vaz@aaacm.pt

CHEFE DE REDACÇÃO

Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957) luisfbarbosa@aaacm.pt

REDACÇÃO Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva (53/1961)

CAPA A Associação no 217º Aniversário do Colégio Militar ©Foto Leonel Tomaz

ENTIDADE PROPRIETÁRIA E EDITOR Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar

MORADA DO PROPRIETÁRIO e SEDE DA REDACÇÃO Quartel da Formação - Largo da Luz 1600-498 Lisboa Tel. 217 122 306/8 Fax. 217 122 307

TIRAGEM - 1350 exemplares DEPÓSITO LEGAL Nº 79856/94

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DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS SÓCIOS DA AAACM

Isenta de registo na Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), ao abrigo do nº 1 da alínea a), do Artigo 12º do Decreto Regulamentar nº 8/99, de 9 de Junho.

Os artigos publicados são da responsabilidade dos seus autores. Esta publicação não segue o novo acordo ortográfico.

4 NA AAACM PODE ADQUIRIR 25€ 15€ 25€ 20€ 25€ -15€ -15€ -7,50€ 35€ 14,50€ 8€ 3€ 6€ 15€ 20€ 8€ 35€ 21€ 40€ 15€ 30€ NOVO

RECTIFICAÇÃO

Detectámos um lapso no nº 218 da nossa revista. No artigo «1º Torneio Tagrugby», da autoria de João Paulo Bessa (200/1957). Onde se lê «Este 1º Torneio, muito bem organizado por uma equi pa coordenada pelos Professores Nuno Leitão e Bruno Fradinho....», deve ler-se «Este 1º Torneio, muito bem organizado

uma equipa coordenada pelos

Nuno Leitão e Nuno Fradinho....». Ao

Nuno Fradinho apresentamos as nossas desculpas pelo lapso cometido.

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04 217º Aniversário do Colégio Militar 12 A AAACM e a COVID-19 15 Os Fuzileiros e a sua História 19 O Colégio Militar a Norte do Douro 32 Almoços e Jantares do 3 de Março 34 “O Feitiço da Barretina” 47 A Inteligência e a sua Quantificação 52 A Natação no Colégio Militar há 70 anos 53 Histórias do César Canuto 56 A Viagem do Allegro 60 Foi há 100 Anos - Tratado de Trianon 62 A Pandemia do COVID 19 e a Guerra Nuclear dois Cavaleiros do Apocalipse 64 Guarda de Honra à Bandeira e ao Altar 65 Hóquei em Patins 67 Sócios Honorários da Associação 70 Cama ao Poço ! 71 Antigos Alunos nas Artes e nas Letras 73 Curso de 1987/1995 Romagem dos 25 Anos de Saída 74 Os que nos deixaram Sumário 38 O Funeral da Rainha D. Amélia e o Colégio Militar 40 Embaixada Carioca 29 Para sempre serei Menina da Luz
por
Professores
Professor

217º Aniversário do Colégio Militar

CERIMÓNIAS DO 217º ANIVERSÁRIO DO COLÉGIO MILITAR (7 e 8 Março 2020)

Tendo em consideração a situação de saúde pública criada pela epidemia de Corona Vírus, o Estado Maior do Exército decidiu que as cerimónias previstas para os dias 7 e 8 de Março de 2020 fossem alteradas do seguinte modo:

– no dia 7 as cerimónias realizaram-se na parada Marechal Teixeira Rebelo. Não foram abertas ao público, foram reservadas apenas a convidados;

– no dia 8 apenas teve lugar o desfile do Batalhão Colegial na Avenida da Liberdade, ficando por realizar a Missa em S. Domingos e o jantar dos AA no Colégio. Assinale-se desde já que a ausência dos familiares e a escassa presença de

Antigos Alunos nas cerimónias de dia 7 não desmotivaram os Alunos, tendo todas as cerimónias decorrido com elevado grau de dignidade. O mesmo aconteceu no dia 8 na Avenida da Liberdade, onde a presença de muitos familiares e Antigos Alunos serviu de incentivo ao empenho e à garra evidenciados por todos os Alunos num desfile acompanhado pelos tradicionais gritos de Zacatraz.

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Nuno António Bravo Mira Vaz
277/1950
7 de Março. Feitoria. Escolta apeada pronta a avançar. 7 de Março. Feitoria. Bandeira hasteada. Formatura em continência. © Fotografias de Leonel Tomaz 217º Aniversário do Colégio Militar

217º Aniversário do Colégio Militar

Cerimónias no Sábado, 7 de Março

Uma Primavera precoce presenteou Lisboa com dois dias magníficos para as comemorações do 217.º Aniversário do nosso Colégio.

Foi neste cenário luminoso que, às 08H00 duma manhã ensolarada mas algo fresca, se iniciaram na Feitoria, primeira «Casa» do Colégio Militar, as referidas

cerimónias. Como é tradição, a Bandeira Nacional foi hasteada pelo aluno Comandante do Batalhão e pelo aluno «Batalhãozinho», na presença do Director do Colégio e do Presidente da nossa Associação. Seguiu-se o acender da “Chama” – um gesto simbólico que remete para a origem do Colégio na Feitoria e que foi protagonizado em conjunto pelo Comandante do Batalhão, pelo «Batalhãozinho» e pelo Presidente da AAACM, Filipe Soares Franco (62/1963).

Seguidamente a “Chama” foi entregue ao “Batalhãozinho” para ser por ele transportada, numa lanterna envidraçada, até o antigo Hospital de Nossa Senhora dos Prazeres, na Luz, local onde veio a ser criado e onde está actualmente instalado o Colégio Militar. Com esta transferência pretende-se recriar a primeira mudança de localização, das várias que ocorreram durante a vida do nosso Colégio.

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7 de Março. Feitoria. Ao som da marcha de continência. 7 de Março. Feitoria. Chama colegial acesa. de Março. O nosso Guião. de Março. O Presidente da Direção da AAACM dirige- ao Batalhão Colegial. 7 de Março. O General Chefe do Estado Maior do Exército (CEME) passa revista à Guarda de Honra.

217º Aniversário do Colégio Militar

Cerimónias na Parada Marechal Teixeira Rebelo

Pelas 10H00, o Batalhão Colegial, na máxima força, estava pronto para iniciar novo ciclo de cerimónias. A formatura estava disposta de frente para o antigo refeitório, ocupando os alunos do 1.º Ciclo posições em redor da Parada Marechal Teixeira Rebelo. De frente para a

As cerimónias iniciaram-se, debaixo de um sol radioso, com a apresentação das quatro Companhias e da Escolta a cavalo ao Comandante de Batalhão. Seguidamente, já sob as ordens deste, o Batalhão prestou honras militares ao Director do Colégio, coronel de Artilharia António Emidío da Silva Salgueiro (461/1972), após o que, com a formatura em sentido, os alunos cantaram o Hino do Colégio. Em seguida tomou a palavra o Presidente

alguém – supostamente um camarada – o leve ao colo nas alturas difíceis que todos temos nas nossa vidas. Terminou a sua intervenção com palavras de especial incentivo aos novos «Ratas» e um apelo aos graduados, para que o desfile de Domingo decorresse com o brilho tradicional. Por fim pediu ao Comandante de Batalhão que dedicasse a Portugal o seu próximo Zacatraz. Seguiu-se a distribuição de prémios aos alunos. O Prémio «Instrução Militar» – des-

formatura, em zona ocupada por representantes da AAACM, encontrava-se o Guião da AAACM, à guarda do respectivo Porta-Guião, a Ana Pinto (534/2014), a qual merece uma referência especial pela forma muito compenetrada como desempenhou a sua função.

da AAACM, Filipe Soares Franco (62/1963), o qual, falando de improviso, destacou a importância da camaradagem como símbolo e suporte da vida tanto no Colégio como fora dele, recorrendo a uma alegoria relativa às pegadas que pela vida fora cada um deixa na areia da praia, a menos que

tinado ao aluno com melhor média a Instrução Militar e que tenha comportamento igual ou superior a Bom ao longo do ensino secundário – foi entregue à Aluna n.º 620, Joana Domingues. Os prémios relativos às actividades físicas – destinados aos alunos que, em especial nos dois últimos anos do

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7 de Março. O 1º ciclo a absorver o Espírito Colegial. 7 de Março. O Batalhão na Parada Teixeira Rebelo. 7 de Março. O Estandarte Nacional integrado na formatura. 7 de Março. Desfile da Guarda de Honra diante do CEME.

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curso, tenham obtido as melhores classificações em Educação Física, Esgrima e Equitação foram atribuídos aos seguintes alunos: o Prémio «Educação Física» ao n.º 36, Filipe Sousa; o Prémio «Esgrima» ao n.º 777, Pedro Lebreiro; e o Prémio «Equitação» ao n.º 412, Vicente Durão. Passou-se depois à condecoração de militares e civis em serviço no Colégio. Foram condecorados com a «Medalha de Mérito Militar, 2ª Classe», o major de Cavalaria

Jorge Rodrigues dos Santos e o major de Administração Militar Vânia Dalila da Silva Santos; foram condecorados com a «Medalha de Mérito Militar, 3ª Classe», o capitão de Cavalaria Ivo Miguel Montemor Caseiro e o sargento-mor de Cavalaria Carlos Manuel Nabais Gonçalves; foram condecorados com a «Medalha de Mérito Militar, 4ª Classe», o sargento-ajudante de Cavalaria Humberto Joaquim Calado Diniz Lopes e o sargento-ajudante do Serviço

Geral do Exército Luís Pedro Rolim Ribeiro. Finalmente foi condecorado com a «Medalha D. Afonso Henriques, 4ª Classe», o Professor Nuno Maria Moreira Gomes Marques (230/1966), o qual foi efusivamente ovacionado pela assistência. A cerimónia matinal foi encerrada pelo acender da «Chama» colegial. Perante o Batalhão na posição de sentido, o «Batalhãozinho», acompanhado pelo Director do Colégio e pelo Comandante do Bata-

lhão, serviu-se da «Chama» transportada desde a Feitoria para acender a «Chama» colegial na base do Monumento ao Marechal Teixeira Rebelo, na Parada com o seu

nome. Imediatamente a seguir, realizou-se a Cerimónia de Inauguração do Monumento da Barretina de Bronze, oferecida pelo Exmo. Senhor Presidente do Conselho Mu-

nicipal da Beira, da República de Moçambique, Engenheiro Daviz Mbepo Simango. A encerrar a primeira parte das cerimónias, e após prestação de honras militares ao

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7 de Março. Batalhão em continência ao General CEME. 7 de Março. O General CEME no uso da palavra. 8 de Março. Escolta a Cavalo no Parque Eduardo VII. 7 de Março. Aspecto parcial da formatura. 7 de Março. O Director no uso da palavra.

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8 de Março. Vista parcial do Batalhão.

seu Director, todo o Batalhão, em cumprimento do pedido feito pelo Presidente da AAACM e com a assistência a acompanhar emocionada, proferiu um vibrante Zacatraz por Portugal. Pelas 11h30 o Batalhão voltou a formar na Parada Marechal Teixeira Rebelo para prestar honras militares da praxe ao general José Nunes da Fonseca, Chefe de Estado-Maior do Exército. Em seguida, e após incorporação do Estandarte Nacional na formatura, realizou-se, sob orientação do capelão do Colégio, alferes Jorge Manuel Couto Gonçalves, uma sentida homenagem aos Antigos Alunos mortos pela Pátria, durante a qual a banda do Exército tocou as partituras da praxe, finalizadas pela emotiva e vibrante Marcha de Alvorada.

Falou em seguida o Director do Colégio. A certa altura da sua alocução lembrou que «Vivemos um período de exponencial desenvolvimento tecnológico, com novos desafios e exigentes dinâmicas socioprofissionais, numa sociedade que, embora valorize a formação de base, diferencia pelas competências individuais, pela capacidade de liderar e assumir responsabilidades, de executar de forma eficaz, competitiva e produtiva. É, por isso, determinante, valori-

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zar o passado potenciando os seus aspetos distintivos e assegurar todas as condições para um modelo de ensino de qualidade inequívoca, garantindo a formação integral e diferenciada dos nossos Alunos, sob tutela do Exército. Nesse sentido, esta Escola continua a renovar-se a cada dia que

passa. Fizemo-lo, e continuaremos a procurar fazê-lo, na beneficiação das infraestruturas: novas coberturas no edifício do Corpo de Alunos e em breve no Claustro; novas salas de aula no Pavilhão Morais Sarmento e agora no 1ºciclo; um novo gimnodesportivo e, em preparação, um projeto para a recuperação do atual ginásio, já com seis décadas; mas também na busca de novas dinâmicas escolares: a implementação de novas tecnologias e o reforço do seu ensino; o aprofundamento do ensino da Língua Inglesa; a promoção de projetos ERASMUS+ para discentes e docentes, abrindo o Mundo aos nossos jovens alunos e as portas para o conhecimento e partilha das mais atuais e inovadoras práticas de ensino aos nossos professores; sem esquecermos

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de Março. Apresentação da Escolta ao Comandante de Batalhão. de Março. Em continência ao Estandarte Nacional. de Março. Vista geral do Batalhão.

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o nosso legado, abrindo as portas à sociedade, à comunidade em geral, permitindo-nos dar a conhecer o rico Património Cultural, material e imaterial, que detemos e que nos obrigamos a preservar. Este é o Colégio Militar de hoje, Escola de disciplina e respeito mútuo, em que, preservando o modelo que assenta nos Princípios, nos Valores e na Ética da matriz militar que nos caracteriza, procuramos consolidar uma nova realidade que gradualmente

cooperação e parceria institucional, social e académica, preparando os nossos Alunos para o desafiante mundo em que vivemos. Estimados Oficiais, Professores, Sargentos, Praças e Funcionários Civis do Colégio Militar, Grato e reconhecido por todo o labor por vós desenvolvido, tenho consciência da complexidade e exigência da nossa Missão. Vivemos um novo período de afirmação do nosso Colégio. Servir nesta Casa deve constituir um Orgulho (…).»

para um mercado de trabalho cada vez mais incerto, volátil e complexo. Estas circunstâncias trazem novos desafios para a Educação, na medida em que cada um de vós deverá estar adequadamente preparado para lidar eficazmente com esta realidade.

É nesse sentido que importa que saibam usufruir das excelentes condições que o Colégio vos proporciona, que aprendam estudando e convivendo de forma salutar, colaborante e amiga, que se dediquem

avança para um efetivo discente na ordem dos 800 alunos, em paridade de género, com 25% de alunos no 1º ciclo; e perspetivamos um futuro na linha da frente das melhores práticas de ensino-aprendizagem, num espaço escolar único e singular, aberto ao exterior, dinamizando ações de

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Mais à frente dirigiu-se expressamente aos seus alunos, chamando-lhes a atenção para a evidência de que “(…) O contexto global de competitividade e a transformação decorrente do ritmo acelerado dos progressos tecnológicos são apenas dois fatores, entre outros, que contribuem de forma importante

em busca dos melhores desempenhos e resultados académicos, e que preparem bem a aplicação prática das competências essenciais e transversais adquiridas nesta Escola pois todas serão decisivas, no vosso percurso de vida. Ao comemorarmos mais um aniversário colegial, revivemos

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8 de Março. Início do Desfile. Alma e Orgulho. 8 de Março. O Batalhão descendo a Avenida.Garbo, Determinação e Rigor. de Março. Retribuição da continência. 8 de Março. Em continência ao CEME.

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momentos sempre únicos entre estas paredes e também na Avenida da Liberdade, no tradicional desfile de amanhã (…).”

Finalmente, dirigindo-se a toda a comunidade colegial, lembrou que “(...) Para todos Nós, Antigos e atuais Alunos, estas cerimónias são testemunho e fonte de recordações, de vivências de partilha e amizade, de solidariedade e camaradagem. Um Por Todos, Todos Por Um, contribuímos para o sucesso do Colégio, com o

jovens muito bem preparados, que mais tarde vieram a dar valioso contributo à sociedade portuguesa, praticamente em todas as suas áreas de atividade, pública ou privada. Se a herança desta escola é inequivocamente ilustre, no presente importa preservá-la, e mesmo potenciá-la.

O Colégio Militar é naturalmente um ator importante, no quadro das abrangentes responsabilidades que competem ao Exército. Mais do que suscitar vocações milita-

ministrar apenas conhecimentos ou rotinas de aprendizagem. Os alunos são moldados com valores éticos, morais e institucionais, que lhes conferem temperamento coletivo, espírito solidário, caráter firme e vontade de bem fazer. Por isso todos – alunos e ex-alunos – respeitam o simbolismo de se identificarem através da barretina, invariavelmente ostentada nas respetivas lapelas, com merecido orgulho. Todavia, não será possível subsistir apenas com orgulho na

aprumo, o garbo e o orgulho de ser «Menino da Luz» e, para quem já é finalista, ficará a nostalgia e a saudade de momentos para sempre inesquecíveis (…).”

Em seguida, o general José Nunes da Fonseca, Chefe de Estado-Maior do Exército, tomou a palavra para afirmar: “(…) É reconhecido o prestígio adquirido pelo Colégio Militar, como ímpar estabelecimento de ensino no nosso País. Esta escola tem-se distinguido pelo seu projeto educativo integral e transversal, aliando desenvolvimento intelectual, físico, moral e cívico, no quadro de um crescimento educacional assente nas virtudes de matriz militar. Os seus 217 anos de existência atestam, por si mesmos, a qualidade e o espírito de bem servir que sempre nortearam a obra produzida. Do Colégio saíram

res, esta escola tem sobretudo de continuar a apostar na formação de jovens responsáveis e suficientemente bem estruturados, que se tornem exemplares cidadãos e referências na sociedade. É público que o Colégio tem vindo a atravessar, desde 2014, mudanças significativas. Alargamento da oferta educativa ao 1º ciclo, ensino misto e coabitação dos regimes de internato e externato ocorreram em curtos espaços de tempo. Exigiram flexibilidade, abertura de espírito, conciliação de vontades e determinação. Mas valeu a pena. Porque se incrementou a atratividade, prevaleceu a adaptabilidade e se introduziu modernidade. O caminho educativo desta escola engloba atualmente os três ciclos do ensino básico e o ensino secundário. Sabemos, porém, que o Colégio não se conforma a

sociedade acelerada e competitiva à qual pertencemos. Sob pena de decairmos progressivamente, a ponto de ser questionada a nossa razão de ser. Por este motivo, o projeto educativo do Colégio Militar deve focar-se, ainda mais, na estabilidade e empenhamento do corpo docente, na melhoria da qualidade do ensino ministrado e na obtenção de resultados escolares efetivamente proporcionais aos pergaminhos que se apregoam. Sobretudo se aferidos em contextos alargados, com estabelecimentos de ensino congéneres. É certo que a subida de classificações não deve ser um fim, por si só. Contudo, a realidade demonstra que as escolas de sucesso são intrinsecamente identificadas pelas posições cimeiras que atingem, ditadas pelos excelentes resultados obtidos pelos seus

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8 de Março. A 4ª Companhia. Os veteranos. 8 de Março. Monumento ao mortos da Grande Guerra. 8 de Março. A nova realidade do Colégio.

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alunos. Este é um dos decisivos desafios que o Colégio tem de encarar. Essencialmente para que os jovens que por aqui passam venham a ser felizes, porque se tornaram úteis à Pátria e foram capazes de atingir todos os sucessos a que se propuseram. Para todos os efeitos, o Colégio Militar e a Direção de Educação podem contar com acrescido apoio do Comando do Exército. Quer, fundamentalmente, na definição de objetivos aceitáveis e ade-

deverão ser vossa inspiração e guia. Nomeadamente para que o vosso empenho e esforço académico sejam efetivamente determinantes para os êxitos futuros. Que amanhã, ao desfilarem na Avenida da Liberdade, carreguem genuinamente convosco o garbo e o orgulho de pertencerem a uma escola de exceção.

Mas transportem também, sempre convosco, a esperança, a humildade, a perseverança e o espírito solidário, que distinguem

de Pombal e o amplo relvado do Parque Eduardo VII. Na orla Norte da Praça já se encontravam muitos familiares e Antigos Alunos que não escondiam o seu entusiasmo.

Cerca das 09H45 procedeu-se à integração do Estandarte Nacional na formatura, após o que foi cantado por todos os presentes o Hino Nacional.

O desfile iniciou-se como previsto pelas 10H00. Atrás da Banda do Exército, rom-

quados à realidade dos estabelecimentos militares de ensino. Quer quanto a investimentos em infraestruturas. Quer no que respeita a incentivos para abertura e ligação a outras realidades, nomeadamente o incremento da frequência do Colégio por alunos de países de língua portuguesa, com os inerentes ganhos estratégicos. Alunos do Colégio Militar, Sois vós a razão da existência desta escola. Que hoje, bem como no futuro, tenham sempre presente a divisa “Um por Todos, Todos por Um”. É uma curta e aparentemente simples frase, que, no entanto, sintetiza a camaradagem e solidariedade caldeadas em vivência prolongada no Batalhão Colegial. Mas que define, também, um modo de “estar na vida”. Ilustres antigos alunos, que por aqui passaram em mais de dois séculos,

os verdadeiros Cidadãos de corpo inteiro. Cumpram, com dedicação, o vosso projeto colegial. Porque assim também prestigiarão o Exército e Portugal!”

A cerimónia terminou com o desfile do Batalhão na Largo da Luz, desta vez, por razões ponderosas, com uma assistência mais reduzida do que é habitual. Ainda assim, ouviram-se alguns gritos de Zacatraz enquanto as Companhias, marchando com o reconhecido garbo, prestavam continência ao general José Nunes da Fonseca, Chefe de Estado-Maior do Exército.

Cerimónias de Domingo, 8 de Março 2020

Pelas 09H30 teve início a concentração no espaço liso entre a Praça do Marquês

peu a marcha a 1.ª Companhia com os seus «Ratas», soldadinhos minúsculos mas tão sérios e empertigados como uma Unidade de veteranos no rescaldo de uma vitória. Tão compenetrados que não desviavam o olhar para mães e outros familiares que os acompanhavam Avenida abaixo. E depois, num crescendo de rigor militar, as restantes Companhias desceram a Avenida da Liberdade acompanhadas pelos gritos de Zacatraz.

O encerro esteve a cargo da Escolta a Cavalo, que desfilou frente à Tribuna de Honra com os animais bem dominados a galope curto, prestando continência junto ao Monumento aos Mortos da Grande Guerra ao general José Nunes da Fonseca, Chefe do Estado-Maior do Exército, que presidiu às cerimónias.

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8 de Março. A cena habitual na chegada aos Restauradores. 8 de Março. Concluído o desfile, repouso para cavaleiros e cavalos.

A AAACM e a COVID-19

A AAACM e a COVID-19

A solidariedade entre os Antigos Alunos, se sempre tem que pautar o nosso comportamento, terá, naturalmente, que ser objecto de maior atenção em períodos de crise social.

Tal aconteceu na crise que se iniciou em 2008 com efeitos sobre o emprego, situações familiares, etc., a que os Antigos Alinos não estiveram imunes, tendo a Associação acorrido a situações de apoio material e psicológico.

Neste sentido, e antecipando situações que se previam idênticas no âmbito da COVID-19, foram tomadas, pela Direcção, algumas medidas e iniciativas de seguida descritas, admitindo-se o seu agravamento com o desenrolar da consequente crise económica.

O resumo do conteúdo das decisões da Direcção e outras iniciativas (algumas) de Antigos Alunos no período em que vigorou o Estado de Emergência é o seguinte:

11/3/2020

Medidas de Prevenção COVID 19 Comunicado

a) Suspensas todas as visitas de curso a partir do dia de hoje

b) Suspensa a actividade da Sala de Armas

c) Informação de provável suspensão de toda a actividade do Colégio

d) Sede da Associação encerrada; apenas os Orgãos Sociais poderão requisitar a sua utilização

e) Decisões sobre Reuniões do Conselho Supremo, Assembleia Geral e Conselho de Delegados a ser tomadas nos próximos dias

12/3/2020

Assembleia Geral Comunicado

Convocada a 24 de Fevereiro para 26 de Março é cancelada e sujeita a nova convocação

19/3/2020

A AAACM e a COVID 19 Comunicado

a) A AAACM está disponível para ser o canal privilegiado de toda a ajuda que possa advir de e para a comunidade dos Antigos Alunos, bem como para a sociedade e comunidade local e nacional

b) Informa-se sobre as formas como os Antigos Alunos podem contribuir e o mecanismo para a elas recorrer

19/3/2020

Produção de Máscaras e outro Material Comunicado

a) AAACM informa que o empresário Marco Galinha, pai do “Queque” 599/2010, vai utilizar as suas instalações industriais e

pessoal para fabricar máscaras cirurgicas por forma a contribuir com este material para todos os Hospitais e Serviços de Saúde envolvidos no combate à Pandemia COVID-19 (envolvimento do Alykhan Sultanali, 306/2005).

b) Refere a necessidade de encontrar fornecedores das matérias-primas necessárias ao fabrico destas máscaras (idealmente, as máscaras são livres de látex e isentas de fibras de vidro):

- tecido não-tecido (polipropileno) resistente - elásticos

- clipe metálico moldável (para ajuste nasal) e pede apoio:

- Se estás relacionado com a indústria de fornecimento de algum destes materiais, ou;

- Se conheceres alguém que esteja, ou;

- Se tens tu próprio facilidade em adaptar uma unidade de produção à produção de máscaras, ou;

- Se tens algum conhecimento que possa apoiar nesta iniciativa (produção), ou;

- Se tens conhecimento de alternativas a estes materiais no fabrico de máscaras

ENTRA EM CONTACTO CONNOSCO

20/3/2020

Crise do COVID-19: Apoios da AAACM Comunicado

a) Afirma-se que a situação é de excepção e que é previsível que ocorram necessidades pessoais de diversa ordem que possam afectar a nossa comunidade de Antigos Alunos;

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A AAACM e a COVID-19

b) De igual modo, pode o actual contexto social e de saúde pública gerar necessidades financeiras extraordinárias que não possamos individualmente satisfazer;

c) É criado um Gabinete de Crise constituído pelos Presidentes dos Órgãos da Associação (Direcção, Assembleia Geral, Conselho Fiscal, Conselho Supremo, Conselho de Delegados de Curso) que, com o apoio dos colabores habituais da AAACM tem como finalidade gerir a satisfação das necessidades extraordinárias que surjam aos Antigos Alunos;

d) É feito um apelo aos Antigos Alunos das diversas áreas profissionais em que possam surgir carências (médicos, advogados, gestores de empresas, distribuição farmacêutica...) que, na medida das suas possibilidades, se ofereçam para colaborar numa “Bolsa de Apoiantes” para apoio aos Antigos Alunos em estado de necessidade;

e) Apela-se a todos — individualmente e no quadro do Conselho de Delegados de Curso — que se mantenham atentos às necessidades de camaradas nossos que por qualquer razão (timidez, vergonha, ...) se sintam retraídos em apresentar-nos o seu caso pessoal;

f) É criado o endereço de email (caixa de correio) – apoioaa@aaacm.pt que será acessível apenas pelo Gabinete de Crise, para:

— estabelecimento do primeiro contacto pelos Antigos Alunos necessitados que deverão, para o efeito, indicar o seu contacto telefónico directo, e descrever sucintamente a situação em que se encontram e o tipo de apoio necessitado;

— manifestação de disponibilidade de Antigos Alunosque se ofereçam para colaborar no apoio aos nossos camaradas necessitados, indicando a sua disponibilidade e áreas de competências

g) É garantida a privacidade dos casos que venham a ser apresentados, em coerência com o procedimento existente para os casos objecto de intervenção da Comissão de Solidariedade

h) Vários Antigos Alunos de áreas diferentes oferecem-se para colaborar; aparecem algumas solicitações de apoio que são reencaminhadas.

28/3/2020

Antigos Alunos e a COVID-19 Projecto 3D Mask Portugal (link https://3dmask-portugal.eu/)

Luis Rodrigues (379/73) informa sobre a sua participação como promotor de uma iniciativa para a produção de viseiras protectoras a entregar a título gratuito a unidades de saúde e solicita o envolvimento da Associação que apoia e promove a sua difusão.

16/4/2020

Antigos Alunos e a COVID-19 6 Antigos Alunos colaboram e entregam a 15 instituições do Algarve as primeiras viseiras

Madalena Pereira (602/2014) e Carlos Estanislau (376/1964) têm conhecimento de que Pedro Martins (32/2011) e

José Pedro Saramago (262/2011) dois estudantes de Engenharia se encontram ligados à Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico (AEIST) na produção de viseiras, a título gracioso, numa unidade da Marinha Grande.

Carlos Estanislau assume a coordenação do projecto de produção de 1200 viseiras, contacta para o efeito Pedro Quaresma (213/1965) Cirurgião no Hospital de Portimão, médico da “linha da frente”, assumindo, ambos, com Rui Cunha Jóia (658/1969), o custo do fornecimento dos acetatos necessários. O transporte é assegurado pelo Hospital Particular do Algarve.

Quatro dias após o arranque da iniciativa, são satisfeitas as primeiras necessidades de todos os Profissionais da “linha da frente” das seguintes 15 instituições: Hospital de Portimão, Hospital de Faro, 4 unidades do Hospital Particular do Algarve, Centro de Saúde de Portimão, Centro de Apoio a Idosos Raminha e S. Gonçalo e Catraia para Crianças, Lar da Santa Casa da Misericórdia de Alvor, Lar da Santa Casa da Misericórdia de Portimão, Lar de S. José da Mexilhoeira Grande, Lar de Idosos da Esperança, Cruz Vermelha de Portimão, Bombeiros e INEM de Portimão.

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28/4/2020

Antigos Alunos e a COVID-19 Luís Rodrigues (379/73) descreve e actualiza a situação do Projecto 3D Mask Portugal

O projecto é constituído por voluntários que possuem em suas casas impressoras 3D, uma máquina que usa um filamento de plástico para fabrico de peças, para produzirem viseiras de protecção facial para os médicos e enfermeiros que estão na linha da frente deste combate corpo-a-corpo de vida e de morte com o COVID19.

O arranque deste projecto ocorreu no passado dia 19 de Março criado por um pequeno grupo de 6 voluntários, no qual eu sou o responsável pela gestão de stocks, compras e angariação de donativos. A nossa proposta foi de produzir lotes de viseiras de protecção facial para entregar em diversos hospitais considerados pelo SNS como sendo de referência para os doentes COVID19, em Lisboa.

neste momento), que em suas casas e de forma abnegada e altruísta produzem nas suas impressoras 3D parte das peças constituintes dessas viseiras. Este grupo está espalhado por todo o nosso País, como se pode ver no mapa anexo, sendo a maior concentração em Lisboa. Temos depois outro grupo de mais de 5.000 voluntários que não tendo capa -

Neste momento, já entregámos 18.400 viseiras em 378 unidades de saúde. A AAACM teve um contributo muito grande neste projeto, pois ao divulgá-lo na sua Newsletter suscitou uma onda de solidariedade no nosso corpo de Antigos Alunos que me foram contactando para saberem como podiam colaborar connosco.

A nossa actuação está agora a expandir-se para outras áreas, como as forças de segurança, notários, farmácias, centros de saúde e outros. As viseras são fabricadas por um grupo sempre crescente de voluntários (448

cidade de fabrico em casa das peças necessárias à produção das viseiras, se dedicam a fazer a recolha das peças já produzidas, montagem e entrega das viseiras nos hospitais e outros destinatários.

Também conseguimos apoiar alguns camaradas e familiares que estão na linha da frente a dar assistência médica a quem dela precisa.

A Direcção da Associação.

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A AAACM e a COVID-19

Os Fuzileiros e a sua História

Os Fuzileiros e a sua História

Do século XVII aos nossos dias

Durante o século XVII, com origem na Itália e na Alemanha, surgiu a ideia de dividir o Exército em unidades de menores dimensões às quais foram atribuídos efectivos de 3.000 homens. A estas Unidades chamaram na época, Regimentos.

Com a adopção desta estrutura, constituíram-se em Espanha naquele mesmo século, unidades de Infantaria denominadas de Terço pois possuíam efectivos de 1.000 homens, ou seja a terça parte dos que constituíam o citado Regimento.

Filipe III, por morte de seu Pai, inicia o seu reinado em 31 de Março de 1621. Logo em Abril seguinte se constitui o Terço da Armada da Coroa de Portugal . (Fig.1)

Na verdade nos Annaes de Portugal respeitantes ao período de 1621 a 1622, existentes na Biblioteca Públi -

ca de Évora, ao se falar em acontecimentos ocorridos em Portugal após 31 de Março de 1621, encontra-se a referência a um Despacho do Rei que nos diz o seguinte: “Tornou a dar Oficio de General do Mar a Dom António de Ataíde e ordenou que para a sua Armada le alevantasse hum Ter -

ço de Portugueses pagos de Inverno e de Verão e por Mestre de Campo delles a Dom Francisco de Almeida”.

Ficamos então a saber que Dom António de Ataíde, uma vez confirmado por Filipe III no cargo de Capitão General da Armada, foi o responsável pela criação do Terço da Armada da Coroa de Portugal, sendo esta a primeira organização militar com carácter permanente em Portugal.

As funções iniciais do Terço da Armada eram o combate em situações de abordagem e o uso de armas portáteis sempre que a proximidade do inimigo o permitia.

A segurança dos navios foi-lhe também atribuída.

Eram verdadeiramente soldados de Infantaria e por isso a sua técnica adaptava-se a todas as circunstâncias de combate terrestre, embora a sua acção inicial fosse a bordo dos navios e na projecção do Poder Naval em terra.

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José António de Oliveira Rocha e Abreu Capitão de Mar-e-Guerra Figura 1. Companhia do Terço da Armada

Os Fuzileiros e a sua História

Tinha assim terminado o período em que se levantavam levas de combatentes, apenas quando havia necessidade de fazer face a qualquer conflito.

O Recrutamento era um flagelo para as populações, especialmente as rurais.

Muitos eram os inconvenientes do Recrutamento pontual de homens para o Exército e para a Marinha, feito naquelas condições: a falta de experiência, a dificuldade de adaptação ao mar e a deserção constante de quem tinha sido obrigado a combater sem praticamente nenhuma preparação nem vontade. O Terço da Armada da Coroa de Portugal passou a designar-se Terço da Armada

pregue na maior parte dos recontros e Batalhas travados e citamos por exemplo, a Batalha do Montijo (Montijo na Província de Badajoz) em 1644, Arronches em 1653, Linhas de Elvas em 1659, Ameixial 1663, Castelo Rodrigo 1664, e Montes Claros em 1665, sendo esta última a derradeira grande batalha antes da assinatura do Tratado de Lisboa em Dezembro de 1668. Como se sabe D. Pedro, o futuro D. Pedro II, assume em 1663 a regência do Reino por incapacidade do seu irmão D. Afonso VI, e o Terço da Armada do Mar Oceano passa a ser conhecido popularmente por Regimento do Príncipe pois D. Pedro escolhe parte desta Força para sua guarda pessoal. (Fig.3)

que estes Regimentos já não tinham 3.000 efectivos como os constituídos em Espanha 100 anos antes.

No reinado de D. Maria I é criada então a célebre Brigada Real de Marinha a qual passou a incluir três Divisões: Fuzileiros , Artilheiros e Lastradores.

Em 29 de Novembro de 1807, face à entrada em Portugal das forças Napoleónicas, a família Real sai para o Brasil e com ela embarca a Brigada Real de Marinha. (Fig.4)

(faço notar que esta Brigada Real de Marinha vai dar origem ao Corpo de Fuzileiros Navais do Brasil)

do Mar Oceano a partir da Restauração ou seja, após o 1º de Dezembro de 1640. Esta Força, na continuidade da antecessora foi utilizada em numerosos conflitos pois, desde a sua constituição, foi considerada uma força de Elite. (Fig.2)

Sabemos que durante os 28 anos da Guerra da Restauração o Terço foi em-

No início do Seculo XVIII, no reinado de D. João V, transforma-se esta Força em dois Regimentos, o 1º e o 2º Regimentos da Armada a que se junta depois um 3º — o Regimento de Artilharia de Marinha. É certo

Em 1821 dá-se o regresso da família Real do Brasil.

Parte da Brigada Real regressa também acompanhada de uma pequena parcela da sua Banda de Música. Os

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Figura 2. Soldado do Terço da Armada do Mar Oceano 1664 Figura 3. Praça do Regimento do Príncipe 1721 Figura 4. Praça da Brigada Real de Marinha

alojamentos que lhes são destinados são os do seu antigo quartel à Boa Vista que se encontra em muito más condições.

Mudaram-na para instalações em Xabregas e depois para Vale de Pereiro. Continuou mal. Depois foi ocupar umas velhas instalações em Alcântara que tinham sido ocupadas pela Cavalaria do Exército. As instalações continuaram más até que o povo de Lisboa exigiu que a Brigada, pela qual tinha grande apreço, tivesse instalações condignas. É assim que a Rainha manda convocar um dos melhores Arquitectos do Reino José da Costa Sequeira e se inicia a construção do Quartel de Marinheiros em Alcântara que ainda hoje lá está e em sólidas condições.

Entre os elementos da Brigada Real destaca-se pela especificidade da sua missão uma curiosa figura do que terá sido o Atirador Especial das Vergas (Fig.5)), um verdadeiro operacional que usava três tipos de armas:

Um sabre de abordagem, uma pistola e um bacamarte. Como a sua designação indica, este homem posicionava-se e podia correr descalço sobre as vergas do navio dirigindo-se para o bordo por onde se aproximava o navio inimigo, usando assim o tiro do seu bacamarte, visando preferencialmente os oficiais do navio adversário.

Como se pode ver, a figura parece-se com a de um pirata, pois usa um lenço que lhe cobre um cabelo comprido preso em “rabo-de-cavalo”.

Cabelo inevitavelmente muito gorduroso que, pela eventual falta de higiene, lhe poderia produzir grandes nódoas no uniforme. Por isso mesmo é que passou a fazer parte do uniforme das Praças de Marinha aquele colarinho de Alcaixa, que ainda hoje se usa, pois, funcionando como um babete, sempre era mais fácil de ser substituído para ser lavado, do que o blusão no seu todo.

Vemos também que na orelha direita usava uma argola de ouro. Neste caso e nesta época podemos dizer que seria um símbolo de veterania pois só era autorizado a usá-lo quem possuísse 4 anos de serviço em navios da Guarda Costeira ou então tivesse completado duas viagens de ida e volta ao Brasil.

A Brigada Real de Marinha em 1837 é extinta e em sua substituição é criada uma nova força denominada Batalhão Naval cujos uniformes, vistosos e coloridos são desenhados pelo Rei D. Fernando II.

Em 1851 no entanto o Duque de Saldanha, então 1º Ministro, propõe à Rainha a extinção deste Batalhão Naval invocando razões de natureza económica e operacional.

Forma-se então uma nova organização o Corpo de Marinheiros Militares o qual passa a ser conhecido apenas por Corpo de Marinheiros, após a implantação da República.

No consulado de Sidónio Pais mais uma reorganização acontece, passando o Corpo

Os Fuzileiros e a sua História

de Marinheiros a designar-se por Corpo de Equipagem da Armada, designação que perdura até 1924 ano em que é criada por Decreto de 2 de Setembro a Brigada de Guarda Naval.

A esta Brigada ficam atribuídas as funções de serviço de polícia, guarda de edifícios, serviço de Ordenanças, forças de Infantaria de Desembarque, escola de músicos e Banda da Armada.

Na constituição desta Brigada, com a dimensão aproximada de um Batalhão, já houve critérios de selecção bastante exigentes em termos de estatura e robustez dos seus militares. É utilizado pela segunda vez o termo de Fuzileiro. ( a primeira vez foi aquando da constituição da Brigada Real de Marinha).

O termo Fuzileiro passa então a designar uma Especialidade, uma Classe.

A Brigada teve no entanto o mesmo destino das Organizações anteriores e foi extinta em 30 de Junho de 1926. Tinha tido uma existência de apenas 22 meses.

Recorda-se que em 28 de Maio, um mês antes, tinha acontecido a Revolução que mais tarde vem a conduzir ao Estado Novo. Julgo que a extinção da Brigada se ficou a dever mais a razões de ordem política do que a quaisquer outras.

Portugal fica então sem Fuzileiros até 1960.

Nesta altura, por iniciativa do então Comodoro Roboredo e Silva, são mandados para Inglaterra quatro militares da Marinha. Um Oficial da Classe de Marinha e três Praças da Classe de Monitores. Fazem o Curso de Comandos dos Royal Marines e regressam a Portugal, iniciando então a formação de Fuzileiros e abrindo-se a nova Classe a elementos voluntários de outras Classes da Marinha.

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Figura 5. Brigada Real- Atirador Especial das Vergas

Em 3 de Junho de 1961 instala-se oficialmente em Vale de Zebro a Escola de Fuzileiros, utilizando uma área que pertencia à Marinha, onde tinham existido os fornos para o fabrico do Biscoito e onde, depois destes tinha sido constituída a Escola de Torpedos e Electricidade e a Escola de Mecânicos. A área tinha boas condições para o treino e acima de tudo tinha uma zona de lodo, o mais viscoso das redondezas, segundo a afirmação do saudoso Comandante Maxfredo Ventura da Costa Campos, oficial encarregado de iniciar as actividades e o treino militar. Ainda em 1961, no final do ano parte para Angola o primeiro Destacamento de Fuzileiros Especiais.

São formados e constituídos em Vale de Zebro dois tipos de Unidades:

os Destacamentos de Fuzileiros Especiais e as Companhias de Fuzileiros Navais . Os Destacamentos com cerca de 75 homens destinados a operações ofensivas e as Companhias com 140 elementos destinadas à guarda de Instalações e Aquartelamentos, podendo eventualmente participar também, quando necessário, em operações ofensivas.

Durante os 13 anos de Guerra no Ultramar passaram pelas Províncias Ultramarinas de Angola, Guiné e Moçambique, onde o conflito acontecia, mais de 12.500 Homens.

Após o golpe militar de 25 de Abril, os Fuzileiros foram regressando dos 3 teatros operacionais e não tardou em Organizar-se o Corpo de Fuzileiros ao qual passou a competir a gestão de todas as Unidades, organizadas agora em moldes diferentes e, segundo dizem, adaptados a novas exigências e enquadramento do País no figurino NATO. Na actualidade os Fuzileiros têm sido utilizados em diversas missões Internacionais, tendo servido na Bósnia Herzegovina, em Timor Leste, no Afeganistão, na Lituânia, no Mali e na República Centro Africana. (Fig.6)

Em todos os navios da Armada que têm colaborado no combate à pirataria, quer no Oceano Indico, quer no Golfo da Guiné, existem embarcadas equipas de Fuzileiros.

Na Cooperação no âmbito da Defesa tem estado destacados em Timor e nos PALOP, elementos da Classe de Fuzileiros que têm prestado a sua colaboração na Formação de Fuzileiros nesses mesmos Países.

Em muitas outras situações Portugal tem empregado Unidades de Fuzileiros cujos efectivos são adaptados e ajustados às necessidades da Missão. (Fig.7)

No próximo ano comemorar-se-ão os 400 anos da constituição do Terço da Armada da Coroa de Portugal, verdadeiramente o mais longínquo antepassado do Corpo de Fuzileiros de Portugal.

AGRADECIMENTO

A ZacatraZ agradece ao Senhor Comandante Rocha e Abreu a autorização para a publicação do seu valioso artigo «Os Fuzileiros», aqui reproduzido. Este artigo é um útil complemento ao artigo «Os Caçadores», publicado no número 118 da Zacatraz, em que se apresentou a génese dos Comandos e dos Caçadores Pára-quedistas. Ficámos assim a conhecer a génese dos três corpos de tropas especiais das nossas Forças Armadas, verificando-se que os Fuzileiros são aqueles que primam pela antiguidade das tropas que estiveram na sua origem.

O Chefe de Redação.

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Figura 6. Desembarque Figura 7. Actividade Operacional
Os Fuzileiros e a sua História

Colégio Militar a Norte do Douro

O Colégio Militar a Norte do Douro

Ao ler o título deste artigo o leitor deve ter pensado: “Bom! O que é que este foi agora descobrir para além daquilo que em tempos fez constar dos dois enormes calhamaços da «História do Colégio Militar»?” E tem razão!

Na verdade não descobri nada porque a maioria dos antigos “Meninos

da Luz” conhece muito bem que o Colégio teve berço na Feitoria (Oeiras), vindo depois, em 1814, para o que havia sido o Hospital Real de Nossa Senhora dos Prazeres, no sítio da Luz.

Em 1835, por razões da então insuficiente capacidade das instalações da Luz, o Real Colégio Militar foi reinstalar-se no extinto Convento de Rilhafoles (Lisboa) onde permane -

ceu até 1848, quando o marechal Saldanha ordenou que o Colégio fosse de imediato transferido para o convento de Mafra pois precisava de Rilhafoles para nele instalar doentes mentais.

Acontece porém que Mafra não possuía as condições necessárias pelo que os pais dos alunos requereram ao Governo o regresso do

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Localizações do CM, ao longo do tempo. O

O Colégio Militar a Norte do Douro

Colégio à Luz (Lisboa), o que só veio a acontecer no começo de 1858.

Mas ainda não seria de vez porque o marechal Saldanha, mais uma vez impensadamente, resolveu decretar a integração do “Asilo dos Filhos dos Soldados” , que se situava em Mafra, no Real Colégio Militar, pelo que este regressou em 1870 aos malefícios da ausência de condições de Mafra. Todavia o bom senso acabou por prevalecer e, três anos mais tarde, em 1873, o Colégio voltou à Luz, desta vez definitivamente.

Confirma-se portanto que o Colégio Militar nunca teve instalações a Norte do paralelo de Mafra.

Nunca teve, mas faltou pouco!

UM COLÉGIO MILITAR NO PORTO

O empenhamento militar português na 1.ª Guerra Mundial provocou um significativo aumento de alunos, com um máximo de admissões em 1916. Não admira por isso que o governo da República tivesse publicado em 22 de Junho de 1918, uma portaria em que era nomeada uma comissão encarregada de elaborar o projecto de instalação de um Colégio Militar no Porto. Compunham a comissão os coronéis Luís Augusto Leitão e José Justino Teixeira Botelho, ambos professores do Colégio, o coronel médico Joaquim Pinto Valente, o major de administração Manuel Eduardo Martins e o major de infantaria Luís do Nascimento Dias, os quais terminaram os seus trabalhos um ano depois. Num artigo publicado em 1918 na Revista Militar sob o

título «O desdobramento do Colégio Militar» , o general Morais Sarmento (ex-aluno e ex-director do Colégio) escreveu o seguinte:

«Referiram os jornais diários que, por ocasião da recente viagem do Exmo. Presidente da República e Ministro da Guerra ao Norte do país, lhe foi entregue na cidade do Porto, pelo Sr. General Comandante da 3.ª Divisão do Exército, uma mensagem de saudação, na qual se consignou o pensamento de que a vitória política alcançada por S. Ex.ª ‘’que libertou a Pátria e dignificou o exército, ficasse vinculada por um monumento, que perpetuasse o feito, o qual seria a criação, naquela cidade, dum Colégio Militar à semelhança do que existe na capital’’.

Desenvolvendo as razões que justificavam tal pensamento, a mensagem referia que o actual Colégio Militar, tendo capacidade apenas para 300 alunos, aloja actualmente perto de 450, donde resulta uma aglomeração, que há-de fatalmente – ‘’produzir os mais detestáveis e perniciosos efeitos sob o duplo ponto de vista da higiene e da moral, reflectindo-se tais circunstâncias na educação do aluno, pervertendo-o’’.

Além de que, da centralização do Colégio em Lisboa resultava, outro inconveniente digno de ser ponderado: obrigar os pais dos alunos residentes fora da capital, a uma despesa com que muitas vezes não podem, em transportes e outros gastos que lhes são inerentes. Desdobrado o Colégio Militar, com a criação de outro instituto análogo na cidade do Porto, ficariam em igualdade de circunstâncias os alunos do Sul e do Norte do país, além de se dotar também a herói -

ca e nobre cidade com mais um estabelecimento de ensino, cujas vantagens são evidentes, o qual será digno dela e das suas nobres e honrosíssimas tradições.

E, realizado esse desdobramento, poderiam ser, desde logo, transferidos para aquela cidade os alunos que se encontrassem em excesso no Colégio de Lisboa, devendo ser preferidos, para este efeito, aqueles cujas famílias residam no Norte.

A mensagem terminava com a afirmação de traduzir ela o pensamento da respectiva oficialidade, cujo alto representante a subscreveu, e de que essa ideia, convertida em realidade, constituiria o monumento em que, para todo o sempre, resplandeceria, no brilho e na glória que lhe competem, o nome do actual Chefe do Estado, pelo muito que fez em prol da nação.»

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General Morais Sarmento

O Colégio Militar a Norte do Douro

Morais Sarmento afirmava que o desdobramento do Colégio Militar se impunha, não só pelas razões aduzidas na mensagem mas também por outras que apresentava, adiantando também que: «Não é nova a ideia da instalação de um segundo Colégio Militar no norte do país. Bem recentemente soubemos que, em tempo, a havia acalentado um dos seus actuais professores, que é honra, não só do professorado secundário, mas do exército a que pertence, pelos seus distintos dotes de educador. Referimo-nos ao nosso prezado amigo o Sr. Coronel João de Sousa Tavares, que teve urdido, nesse sentido, um projecto de lei para apresentar na Câmara dos Deputados, de que era membro, ainda no tempo do regime deposto, projecto que se subordinava ao pensamento de causar um encargo mínimo para o Tesouro Publico pela fixação de pensões a este fim adequadas.»

A excessiva colagem da proposta à figura de Sidónio Pais, assassinado em Lisboa no fim desse ano, talvez tenha sido também responsável pela morte simultânea e prematura de um eventual Colégio Militar a erguer no Porto.

Eis pois uma primeira razão para o título deste meu artigo. Mas passemos a outras.

ANTIGOS ALUNOS NORTENHOS

Gorada a hipótese de um Colégio Militar no Porto, os filhos dos militares colocados em unidades do Norte e aí nascidos continuaram por isso a seguir para Lisboa onde aprenderam a ser homens e cidadãos, tendo muitos deles realizado feitos notá -

veis, chegando a ser agraciados com a Ordem da Torre e Espada, e que importa aqui recordar.

Era agraciado com os graus de cavaleiro e de oficial da Ordem da Torre e Espada.

DA COSTA LEAL

Nasceu no Porto a 20 de Outubro de 1825, e estudou no Colégio Militar, onde foi admitido como aluno em 1835, sendo-lhe atribuído o n.º 165.

Oficial de Infantaria, combateu como alferes na Revolução da “Patuleia”, tendo-se distinguido na renhida batalha de Torres Vedras.

Como capitão desempenhou em Angola, durante cinco anos, o cargo de governador de Moçâmedes, território que ele pacificou e fez prosperar em todos os domínios. Aí regressaria em 1862, então tenente-coronel, tendo construído a muito admirada estrada para aquela localidade através da Serra da Chela.

Voltou de novo a África como governador-geral de Moçambique, cargo em cujo desempenho veio a falecer.

LUAZES MONTEIRO LEITE E SANTOS

Nasceu no Porto a 25 de Fevereiro de 1883, tendo entrado como aluno no Colégio Militar em 1894, sendo-lhe atribuído o n.º 109.

Oficial de Cavalaria, tomou parte nas campanhas do Sul de Angola do começo do século XX e, quando regressou, foi professor de Geografia e História no Colégio Militar.

Era agraciado com o grau de cavaleiro da Ordem da Torre e Espada.

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Fernando da Costa Leal (165/1835). Benjamim Luazes Monteiro Leite e Santos (109/1894). FERNANDO BENJAMIM

CARLOS DE BARROS SOARES BRANCO

Nasceu no Porto em 20 de Junho de 1886 e estudou no Colégio Militar, onde foi admitido em 1896 com o n.º 192.

No começo de 1917, sendo então capitão de Engenharia, marchou para França fazendo parte do Corpo Expedicionário Português, onde desempenhou o cargo de chefe do Serviço Telegráfico até 24 de Outubro de 1918, serviço este que, no entendimento do comandante do Corpo, foi o ”serviço que melhor correu na frente de combate”.

Regressado a Portugal, foi inspector do Serviço de Pontoneiros, sendo em acumulação professor e depois lente da Escola Militar, e instrutor da Escola Central de Oficiais.

Em 1922/23 foi inspector de Câmbios do Ministério das Finanças e, no ano seguinte, vogal do Conselho do Tesouro. Pouco depois do “28 de Maio” ingressou no Banco de Por -

tugal onde veio a ser vice-governador e, cumulativamente, professor do curso de Estado-Maior e dos cursos de Engenharia na Escola do Exército.

Promovido a oficial general foi professor do Curso de Altos Comandos no Instituto de Altos Estudos Militares, acumulando com o cargo de Inspector das Tropas de Transmissões.

Era agraciado com o grau de oficial da Ordem da Torre e Espada.

sicionar-se no sector de Neuve Chapelle e que, a 12 de Junho, suportou durante seis horas um bombardeamento alemão de enorme intensidade, tendo os tubos das nossas bocas-de-fogo ficado ao rubro e o pessoal das suas guarnições exausto.

Em Março de 1918 a 3.ª Bateria aguentou com grande estoicismo um novo violento bombardeamento durante quatro horas graças à acção do agora tenente Barros Rodrigues. No ataque alemão de “9 de Abril” desabou sobre as unidades da frente, mas a 3.ª Bateria bateu de imediato a primeira linha alemã até se lhe esgotarem as granadas. Barros Rodrigues ordenou então que, antes de abandonarem a posição, se incapacitassem as bocas-de-fogo. Só depois o pessoal retirou através do campo de batalha, sendo a 3.ª a última bateria a deixar a sua posição.

Foi então promovido por distinção a capitão, agraciado com o grau de oficial da Ordem da Torre e Espada e condecorado com a Cruz de Guerra de 2.ª classe.

JOSÉ FILIPE DE BARROS RODRIGUES

Nasceu em Vila Real a 31 de Agosto de 1890, tendo estudado no Colégio Militar, onde foi admitido como aluno em 1900, sendo-lhe atribuído o n.º 6.

Ainda alferes, embarcou para França em Março de 1917, fazendo parte da 3.ª Bateria do 1.º Grupo, que foi po -

Durante a 2.ª Guerra Mundial, chefiou a missão militar portuguesa que se deslocou a Londres para tratar da defesa do Continente e das Ilhas Adjacentes em caso de uma invasão alemã e do fornecimento de material para três divisões.

Promovido a general em 1943, foi dois anos depois nomeado Chefe do Estado-Maior do Exército, cargo que exerceu por cerca de dez anos durante os quais Portugal entrou para a NATO, passou a existir o Campo de Instrução de Santa Margarida e foi levantada a “Divisão Nun’Álvares”.

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Carlos de Barros Soares Branco (192/1896). José Filipe de Barros Rodrigues (6/1900). O Colégio Militar a Norte do Douro

ANTÓNIO GERMANO GUEDES RIBEIRO DE CARVALHO

Nasceu em Chaves a 30 de Outubro de 1889, e foi aluno do Colégio Militar, onde foi admitido em 1900 com o n.º 130. Durante a 1.ª Guerra Mundial, sendo tenente de Infantaria partiu para França integrado no Corpo Expedicionário Português. Ali, pela sua valentia em combate nas primeiras linhas, foi promovido por distinção a capitão. No ano seguinte comandou um audacioso “raid” às linhas alemãs em que foram feitos vários prisioneiros. E tal feito trouxe-lhe nova promoção por distinção, e também a escolha para comandar a Companhia de Infantaria que, em Paris, a 14 de Julho de 1919, representou Portugal no “Desfile da Vitória” sob o Arco do Triunfo.

Em 1919 comandou um pequeno contingente das forças republicanas que, em Parada de Cunhos, se opuseram durante nove horas e meia às forças monárquicas vindas da Régua tendo Ribeiro de Carvalho sido ferido. Serviu depois em Moçambique, onde comandou a Guarda Republicana de Louren-

O Colégio Militar a Norte do Douro

ço Marques, regressando em 1923, ano em que, já tenente-coronel, foi ministro da Guerra até Fevereiro de 1924.

Após o “28 de Maio” de 1926 recusou um convite do general Gomes da Costa para fazer parte do novo governo, protagonizando sim actividade política contra o novo regime, tendo-se envolvido em todos os movimentos e golpes de estado. Preso em 1930, evadiu-se da prisão em Abril do ano seguinte e exilou-se em Espanha, sendo então considerado desertor e abatido ao efectivo do Exército.

Voltou a ser preso em 1933 e em 1939 sendo condenado com pena suspensa e mais tarde, em 1960, reintegrado no Exército.

Era agraciado com os graus de cavaleiro e de oficial com palma da Ordem da Torre e Espada e condecorado com a medalha de Valor Militar e com a Cruz de Guerra de 1.ª classe.

Durante a 1.ª Grande Guerra integrou com o posto de alferes as forças expedicionárias ao Sul de Angola, tendo participado nos combates que então se desenrolaram das regiões do Cuamato e Cuanhama. Regressou à Metrópole em Março de 1916 e seguiu para França em meados do ano seguinte passando a fazer parte das tropas que, nas trincheiras da Flandres, combateram em Fauquissart e Neuve Chapelle, no conhecido como o “Sector da Morte” onde, a 9 de Abril, se travou a Batalha de La Lys, tendo então patenteado grande valentia e heroísmo, sendo como tal escolhido para Porta-Bandeira Nacional do destacamento representante das tropas portuguesas no “Desfile da Vitória” realizado em Paris, nos Campos Elísios, a 14 de Julho de 1919. Era agraciado com os graus de cavaleiro e de comendador da Ordem da Torre e Espada e condecorado com a medalha de prata de Valor Militar com palma e com 3 Cruzes de Guerra.

HENRIQUE AUGUSTO PERESTRELO DA SILVA

Nasceu em Braga a 2 de Dezembro de 1891 e estudou no Colégio Militar, onde foi admitido como aluno em 1902, sendo-lhe atribuído o n.º 2.

CARLOS SANCHES DE CASTRO DA COSTA MACEDO

Nasceu em Viana do Castelo a 10 de Julho de 1905, tendo estudado no Colégio Militar, onde foi admitido como aluno em 1916, sendo-lhe atribuído o n.º 394.

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António Germano Guedes Ribeiro de Carvalho (130/1900). Henrique Augusto Prestrelo da Silva (2/1902). Carlos Sanches de Castro da Costa Macedo (394/1926).

Colégio Militar a Norte do Douro

Piloto-aviador e especialista em acrobacia aérea, atingiu o posto de general, foi Chefe do Estado-Maior da Força Aérea tendo posteriormente ocupado o cargo de Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa. Era agraciado com o grau de oficial da Ordem da Torre Espada.

Como tenente-coronel integrou todas as delegações portuguesas às reuniões da NATO em Paris e, em 1958, é nomeado Subsecretário de Estado do Exército.

Promovido a coronel em 1960, foi no ano seguinte exonerado de Subsecretário por se ter envolvido numa intentona militar que visava a destituição de Salazar da Presidência do Conselho. Não obstante, veio a frequentar em 1964 o Curso de Altos Comandos que concluiu com a classificação de “Muito Apto” .

Durante a guerra do Ultramar foi, como general, Comandante da Região Militar de Moçambique e Comandante-Chefe das Forças Armadas de Angola e, em 1972, ocupou o cargo de Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, no desempenho do qual entrou em confronto com o então ministro da Defesa e em que se recusou tomar parte numa manifestação de oficiais generais em apoio à política de Marcelo Caetano. Foi por isso exonerado do cargo.

FRANCISCO DA COSTA GOMES

Nasceu em Chaves, a 30 de Junho de 1914, tendo ingressado no Colégio Militar em 1924, como aluno com o n.º 254.

Oficial da Cavalaria do Esquadrão a Cavalo da GNR do Porto, em 1944 licenciou-se com distinção em Ciências Matemáticas na Universidade do Porto, concluindo no ano seguinte o Curso do Estado-Maior.

Terminada a 2.ª Guerra Mundial, serviu no quartel-general do Supremo Comando Aliado do Atlântico, em Norfolk (EUA), depois no Secretariado Geral da Defesa Nacional, de seguida no Comando Militar de Macau como chefe do Estado-Maior.

Quando do golpe militar de 25 de Abril de 1974 fez parte da Junta de Salvação Nacional e reocupou o cargo de Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas.

As múltiplas convulsões e agitações políticas e militares que se seguiram guindaram-no ao lugar de Chefe de Estado até ser eleito um seu sucessor. Foi sob a sua presidência que foi promulgada, em 2 de Abril de 1976, a nova Constituição Política e foram realizadas as primeiras eleições legislativas após a revolução.

A seguir à presidência passou então a integrar o Conselho Mundial da Paz, de que veio a ser presidente em 1977.

Era agraciado com o grau de comendador da Ordem da Torre e Espada.

A ORIGEM NORTENHA DO COLÉGIO MILITAR

Não será presunção dizer-se que a génese do Colégio teve lugar a uns cinco quilómetros a sudoeste de Vila Real, numa pequena aldeia denominada Silhão.

E porquê? Porque foi numa casa humilde desse pequeno povoado que nasceu a 17 de Dezembro de 1750 uma criança invulgar, à qual puseram o nome de António Teixeira Rebelo, que viria a ser um notável oficial do Exército e que, decorridos cinquenta anos, assumiria a 13 de Fevereiro de 1802 o comando do Regimento de Artilharia da Corte.

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Francisco da Costa Gomes (254/1924). Casa de Teixeira Rebelo Teixeira Rebelo O

O Colégio Militar a Norte do Douro

Seria no desempenho desse cargo que, nas instalações da Feitoria (anexas ao seu Regimento), decidiu criar um estabelecimento de ensino ao qual pôs o nome de «Colégio da Feitoria» ou «Colégio de Educação do Regimento de Artilharia da Corte», e que viria a ser o berço ao actual Colégio Militar.

A casa onde nasceu o Marechal Teixeira Rebelo, infelizmente, já não existe, mas, para que a sua memória permaneça, foi erguido na sede da Freguesia da Cumieira (a qual integra a aldeia de Silhão) um monumento inaugurado na manhã de 17 de Março de 2003 (ano do Bicentenário) numa cerimónia que teve a presença do Director do Colégio, do Presidente da Câmara de Santa Marta de Penaguião, do Presidente da Junta de Freguesia da Cumieira, de familiares do homenageado, de um representante da AAACM, de Antigos Alunos e de uma deputação dos nesse ano “Meninos da Luz.

mento oportuno para que as comemorações do 191.° aniversário do Colégio Militar se realizassem não só em Lisboa, como sempre acontecera até então, mas também no Porto, onde decorreriam o desfile do Batalhão de Alunos e da Escolta a Cavalo e também a missa por intenção dos Antigos Alunos, militares, professores e funcionários já falecidos.

As cerimónias em Lisboa tiveram lugar no dia 5 de Março, nas instalações do Colégio Militar e, uma semana depois,

no sábado dia 12, no Porto, precedidas de uma homenagem ao Infante D. Henrique com a deposição de flores na estátua existente na praça que tem o seu nome.

O desfile portuense teve início junto do Quartel-General, na Praça da República, desceu a Avenida dos Aliados e a Praça da Liberdade, e terminou junto à Sé Catedral, onde decorreu a missa que tradicionalmente é celebrada após o desfile. Por se tratar de um acontecimento inédito na Cidade Invicta, e não estando a

O COLÉGIO MILITAR PELAS RUAS DO PORTO

Era 12 de Março de 1994 quando, pela primeira vez, o Batalhão de Alunos do Colégio Militar desfilou em território nacional fora de Lisboa.

Nesse ano decorriam no Porto as comemorações do 6.° Centenário do Nascimento do insigne portuense que foi o Infante D. Henrique. Pareceu por isso aos Antigos Alunos nortenhos que era chegado o mo-

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Monumento a Teixeira Rebelo. Desfile na Avenida dos Aliados no Porto. (12 de Março de 1994)

O Colégio Militar a Norte do Douro

população portuense familiarizada com o Colégio Militar, com a sua história, com os seus valores, com a sua missão, nem com os seus jovens alunos armados e envergando uniforme, foi necessário divulgar através do “Jornal de Notícias”, a oportunidade única que era oferecida aos cidadãos portuenses de assistir na sua cidade ao desfile do Batalhão de Alunos.

Na véspera, ao cair da tarde, o Presidente da Camara Municipal do Porto ofereceu na “Sala D. Maria do edifício dos Paços do Concelho” uma recepção em honra do Colégio Militar ali representado pelo seu Director.Durante a cerimónia o Presidente da Câmara ofereceria ao Colégio uma sal-

va em estanho com o brasão de armas da cidade e com a seguinte gravação: «Ao Colégio Militar pelos 191 anos, homenagem da Câmara Municipal do Porto».

No dia seguinte ao findar da manhã teve inicio o desfile. E o povo da cidade quedou-se sem saber o que mais admirar: se o porte daqueles pequeninos soldados, se o entusiasmo, os gritos de incentivo e as correrias do Antigos Alunos. Mas aderiu espontaneamente à festa dos «Meninos da Luz» não regateando calorosas ovações, aqui e além

acompanhadas de expressões de admiração e de apreço pelo garbo evidenciado pelo Batalhão apeado e pela desenvoltura dos jovens cavaleiros da Escolta.

Para a História, tudo o que então se passou veio a ficar registado num livro editado com o título “O Colégio Militar no Porto”.

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CM no Porto - 1994 Notícia do “Jornal de Notícias”. Câmara Municipal do Porto. Câmara Municipal do Porto.

O Colégio Militar a Norte do Douro

O COLÉGIO MILITAR EM AFIFE

Afife é uma pequena localidade situada à beira mar, cerca de uns dez quilómetros a Norte da Viana do Castelo, que é detentora de uma paisagem que nos atrai pela sua calma e pelo modo natural como se interligam a altitude da montanha, a planura da chã, a movimentação do mar, a beleza da sua praia dividida aqui e além pela penedia e o casario disperso da sua gente.

Numa das suas moradias existe um museu militar. Nem mais nem menos! E é num edifício anexo a essa moradia que se encontra patente uma vasta colecção de espécimes histórico-militares

que não cessa de crescer. E qual é a génese de tal museu?

O Dr. António de Freitas Gomes é um transmontano de origem, nascido no findar de 1950 que, ainda muito novo,

veio com a família residir para o Porto, cidade que hoje considera como a sua. Formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra, tendo desde 1977 escritório de advogado a escassas passadas do Hospital Militar do Porto.

Consultor jurídico e advogado de inúmeras empresas industriais e comerciais, fez parte da Missão a Bruxelas para negociação da adesão de Portugal à CEE, foi membro de tribunais arbitrais em Itália e na França e fez em Cambridge o Curso de Direito Internacional Humanitário.

Quando chegou a altura de cumprir o Serviço Militar Obrigatório tentou fazê-lo no Exército – que era mais do seu agrado – mas acabou por ser alistado e a ter instrução na Base Escola de Tropas Paraquedistas, em Tancos, tendo depois prestado serviço como oficial na Força Aérea e, mais tarde, na Polícia Judiciária Militar no Porto. Entre 1992 e 2006 presidiu no Porto à Direcção da Cruz Vermelha Portuguesa,

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Capa do Livro. Freitas Gomes

O Colégio Militar a Norte do Douro

tendo melhorado e modernizado a capacidade de intervenção em situações de acidente ou catástrofe, bem como o apoio aos doentes e idosos, aos sem abrigo, aos desempregados e aos imigrantes em situação de carência.

Como homem e cidadão a sua postura e conduta pautam-se por valores e procedimentos que são próprios daqueles por quem tem especial respeito: os militares.

E talvez isso o tenha motivado a criar nos anexos da sua casa em Afife uma biblioteca militar e um amplo museu militar cujo acervo possui milhares de espécimes nacionais e estrangeiros.

Conhecedor do Colégio, que já visitou por mais que uma vez, entre os diversos manequins que ali existem trajando uniformes dos três ramos das Forças Armadas, existe também um pequeno jovem envergando o uniforme de aluno do Colégio Militar.

Mas também numa das várias vitrinas do museu pode também ser apreciada uma miniatura do guião Colegial posicionado lado a lado com o Estandarte Nacional.

O Dr. Freitas Gomes é uma pessoa crítica e exigente para consigo próprio e também para com os outros, que pauta a sua forma de estar e proceder por valores que são ensinados no Colégio Militar, designadamente o Dever, a Dignidade, a Honra, a Camaradagem e o Patriotismo.

Em 2019, quando do aniversário do Colégio, o Dr. Freitas Gomes foi o convidado especial da Delegação do Porto da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar para partilhar com os Antigos Alunos o seu jantar evocativo do “3 de Março”.

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Para Sempre Serei Menina da Luz

Para sempre serei Menina da Luz

Tinha 11 anos, quando os meus pais me deram várias hipóteses de escolas para escolher. Por acaso, decidi que queria ir para o Colégio Militar.

Sem saber absolutamente nada da realidade e da vivência desse grande Colégio, rapidamente fiquei a perceber que era muito mais do que uma simples escola…

Entendi que tinha ganhado uma nova Casa!

Entrei em 2014, como aluna externa, ao mesmo tempo que muitas outras alunas, vindas, pela primeira vez, do Instituto de Odivelas, outra Casa que, infelizmente, não tive a oportunidade de conhecer, porque a fecharam. A adaptação não foi das mais fáceis, tanto para nós, como para esta Instituição bicentenária que, mais uma vez, mostrou estar à altura de ultrapassar situações difíceis, levando-nos, naturalmente, a ultrapassar as dificuldades de uma transição estrutural abrupta. Logo aí percebi… que eu é que me tinha de me adaptar ao Colégio. Então, decidi que era por

ele e pelos meus novos camaradas que iria lutar, esforçar-me e, acima de tudo, amar.

Como sempre fui muito tímida e envergonhada, tive medo de não conseguir fazer amigos. Contudo, graças a esta Nobre Casa e às pessoas que aqui trabalham, verifiquei que ganharia, não só amigos, mas irmãos para a vida, tanto os mais novos como os mais velhos, e que poderia sempre contar com eles, e eles comigo.

Concluí que vir para o Colégio foi a melhor decisão que poderia ter tomado.

Entreguei-me, de alma e coração, a esta Casa que fez de mim uma pessoa muito melhor, com valores notáveis que nenhum outro Colégio me conseguiria transmitir e me tornaram na Menina da Luz que sou hoje.

Aprendi que devia lutar por aquilo em que acreditava, esforçar-me, dar tudo por uma causa justa e nunca desistir! Ser honesta, ser humilde, ser verdadeira e ser leal.

Nem sempre fui uma Menina da Luz perfeita: fiz disparates e cometi alguns erros!

Dediquei-me aos estudos, para ter resultados que fossem bons, para mim e para o Colégio; dei o meu melhor em representações externas e nas cerimónias. Caí muitas vezes, deparei com obstáculos, mas levantei-me e ultrapassei-os, com os valores que esta Instituição me ensinou e com a ajuda dos meus camaradas irmãos.

No entanto, só no 10º ano (6º ano colegial) é que consegui entrar para o internato e, aí sim, comecei a perceber o verdadeiro espírito do Colégio, a Casa que Alunos e Antigos Alunos – a nossa comunidade – tanto amam. Participar nas tradições, criar laços com os Graduados e com os “nossos putos” é algo que não se consegue explicar por palavras ou argumentos, mas que apenas se sente cá dentro e que só se percebe vivendo…

Ao meu Curso… só posso agradecer os anos fantásticos que me proporcionaram. Nem sempre foi fácil… Sofremos, suámos, gritámos, gozámos, chorámos, mas também nos protegemos mutuamente, ajudámo-nos, ultrapassámos

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Para Sempre Serei Menina da Luz

juntos todas as barreiras, e descobrimos o que é o amor, no sentido mais belo da palavra.

Afinal o que é ser irmão e camarada?!

Confesso que tenho saudades de todos esses momentos, bons e maus… sinto saudades vossas, de cada gargalhada, cada sorriso, ... sei que estaremos sempre juntos… estarão sempre no meu coração.

Estarei sempre aqui para o que precisarem e sei que também estarão para mim!

O tempo passa a voar!... Após 6 anos, chega ao fim o meu percurso colegial, mas sei que o meu tempo como Menina da Luz ainda mal começou…

Ao longo desses anos, todos sonhamos ser um dia Graduados; imaginando-nos em todas as graduações possíveis e em como cuidaremos e transmitiremos os valores colegiais aos “nossos putos”, como seus irmãos mais velhos. É verdade que não somos pais deles, nem temos essa autoridade! Porém, à noite, quando estamos com eles sozinhos, é a nós que eles recorrem e não há nada mais gratificante que poder ajudá-los.

Infelizmente, nos dias de hoje, nem todos os do curso podem ser Graduados, mas a verdade é que ser Graduado não é um direito, mas uma conquista pessoal e uma grande responsabilidade. Ter uma graduação no ombro de nada serve, se não nos comportarmos como um Graduado deve agir, sempre com bons exemplos. E, o facto de atualmente haver Alunos não Graduados - os chamados “furras” (furriéis) - nada muda, pois eles têm a capacidade de ser “Graduados”. Aí é que se vê que, mesmo nas adversidades, são Meninos ou Meninas da Luz capazes de ir mais além, dando tudo no dia a dia.

Lembro-me de, no estágio de Graduados, quando estávamos no auditório, o Sr. Diretor, o “Dito”, o Anti-

gos Alunos 461, Sr. Coronel António Emídio da Silva Salgueiro - o Único que ficou à chuva com o Batalhão Colegial formado e não se molhou - dizer: “ Para Porta Estandarte Nacional, a aluna nº 620 Joana Domingues”. Naquele momento a minha alma caiu-me aos pés! Apercebi-me de que era a

única graduação em que nunca me tinha imaginado. Fiquei nervosa, tive medo de não conseguir honrar tal função… Na minha mente, as perguntas eram imensas, pensando se estaria à altura, pois era uma responsabilidade muito grande! Até pensei em desistir… Algumas vozes duvidaram das minhas capacidades, incrédulos

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Joana Sofia Alves Domingues (620/2014). Primeira Aluna Porta Estandarte Nacional do Colégio Militar.

Para Sempre Serei Menina da Luz

por ser algo completamente novo: uma rapariga a levar o Estandarte Nacional?

No entanto, outras vozes de irmãos e irmãs, Alunos e Antigos Alunos, camaradas, diziam-me que era capaz e que nunca tinham duvidado do meu valor. Aceitei a nomeação, pois, no momento em que fiquei em choque, senti também uma enorme HONRA inexplicável, um ORGULHO imenso de pertencer a esta Nossa Casa.

Concluí que, acima de tudo, tinha a oportunidade de agradecer ao Colégio tudo o que fez por mim, e de “carregar nos meus ombros a minha Amada Pátria” com Honra, Orgulho e Amor.

Foi com a maior honra que fui a primeira Mulher Porta Estandarte do Colégio Militar!

Há sempre coisas que não se conseguem explicar, só se vivem… só o vivido é compreendido…

Um dos maiores marcos deste percurso foi, sem dúvida, o privilégio de descer a Avenida da Liberdade com o Nosso Estandarte Nacional.

Com todo o meu empenho e o apoio dos meus camaradas, fui capaz de vencer os meus receios, com toda a dignidade que a situação impõe.

Aproveitei todos os dias, todos os minutos, nunca pensando que era só mais um, mas sim que era menos um, pois a minha vida colegial estava a chegar ao fim!

Infelizmente para mim e para o meu Curso, este foi um ano especialmente complicado, devido às várias mudanças a que assistimos, tanto no quotidiano, como nas tradições que fazem parte do Colégio, como a mocada, que não pudemos realizar como era tradicional. Tenho a certeza de que falo não só por mim, mas por todo o Curso, pois todos

sentimos uma enorme mágoa e tristeza, por o nosso percurso ter acabado de forma tão repentina, devido a esta pandemia que atualmente vivemos, e que nos roubou os últimos momentos como Alunos, o trabalho e as tradições que não pudemos celebrar…

Mais uma vez fomos forçados a adaptar-nos a uma nova realidade.

Ao longo do nosso percurso colegial, nós – o Curso 2012 – fomos muitas vezes confrontados com mudanças repentinas, mas também foram elas que nos ajudaram a crescer e nos tornaram mais fortes! Mas estamos tristes por acabar assim, ... no Colégio aprendemos a conviver com a frustração e a adaptar-nos e, por isso, continuaremos a ser capazes de ultrapassar os obstáculos e a fazer tudo pelo Nosso Querido Colégio, no decorrer das nossas vidas, com a nossa Barretina ao peito, como Meninos e Meninas da Luz, que somos e seremos sempre “Um por Todos Todos por Um”

Aos meus “putos”… apesar de termos sido “separados” pela Covid-19, espero que vos tenha conseguido passar os valores que o Colégio e os meus camaradas me ensinaram: a camaradagem, a entreajuda, a igualdade, o espírito de sacrifício e a união. Quero que saibam (e sei que sim) que podem contar comigo para tudo, mesmo não estando presencialmente ao vosso lado. Espero que, apesar do pouco tempo e de não ser vossa Graduada direta, vos tenha conseguido transmitir um pouco da imensidão que é o Colégio e o que é ser Menino e Menina da Luz; e que, aos vossos olhos, tenha merecido ser Graduada, pois isso enche-me de orgulho, esperança e sentimento de missão cumprida. Mas não se preocupem, porque vamos voltar a ver-nos…sempre. Chegarei ao fim com todos os que me acompanharam, todos juntos, unidos,

porque assim somos mais fortes, Sempre! Desistir desta Casa nunca poderia ser uma opção, pois só os que têm a oportunidade de por aqui passar, sabem que todo o esforço, todo o suor e todas as dores e lágrimas valem sempre a pena, porque “tudo vale a pena, quando alma não é pequena”! Espero, do fundo do meu coração, que o Colégio perdure, na certeza de que assim será por muitos mais séculos, com a missão de proporcionar estes valores e esta vivência a muitas outras gerações.

Afinal a menina que não sabia o que a esperava nesta maravilhosa Casa, acredita, agora, que se tornou uma Menina da Luz… com um orgulho inexplicável por ter ficado a pertencer a esta Comunidade Colegial formada na essência desta instituição única que faz a diferença em Portugal. Mas, além de orgulhosa, ficarei, para todo o sempre, grata (não é possível explicar o quão obrigada fico!), por ter passado a fazer parte – repito – desta enorme Comunidade plena de valores e por tudo o que, até hoje já vivi, e viverei como Antiga Aluna.

E sei que ainda posso e espero dar muito a este Nosso Colégio. Todos podemos!

É uma experiência, uma história que levarei para sempre, no meu coração de Menina da Luz!

Sim! Para Sempre, serei Menina da Luz!

Obrigada Curso 2012 Obrigada Antigos Alunos Obrigada Comunidade Colegial Obrigada Colégio Militar Zacatraz!

Bem-hajas, 620, Joana Domingues, por esta bela declaração de amor ao Colégio.

A Direcção da Zacatraz.

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Almoços e Jantares do 3 de Março

Almoços e Jantares do 3 de Março

BRUXELAS. BÉLGICA.

Aprimeira notícia de reuniões de Antigos Alunos comemorativas do 3 de Março chegou-nos da Bélgica. Na noite de 3 de Março, aí se reuniram seis Antigos Alunos, no restaurante «L`Anchois Vert», para recordarem os seus tempos de colegiais, em jornada gastronómica de agradável convívio. Para a posteridade, registam-se as identidades dos participantes:

André Salgado Paula Santos (192/1995), João Francisco Ramalho Ortigão Delgado (531/1969), Filipe Rodrigo de Oliveira de Ataíde Rodrigues Dias (473/1987), David Miguel Alves de Brito Antunes (315/1990), Pedro Rui Bastos Teixeira Chaves (277/1966) e Paulo Sérgio da Silva Antunes (405/1982).

Já lá vão os tempos de reuniões em Bruxelas de mais de vinte Antigos Alunos, sob o «comando do Bill», que durante cerca de 20 anos dirigiu a malta colegial residente naquelas paragens.

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Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957 Esquerda para a direita: André Paula Santos (192/1995), João Ortigão Delgado (531/1969), Rodrigo Ataíde Dias (473/1985), David Antunes (315/1990), Pedro Chaves (277/1966) e Paulo Antunes (405/1982).

Almoços e Jantares do 3 de Março

S. MIGUEL-AÇORES

Este ano chegaram até nós muito poucas notícias de celebrações do 3 de Março por esse Mundo fora, razão pela qual as que chegaram têm mais valor. Daqueles que nunca falham são os Antigos Alunos residentes nos Açores. Já foram mais, bastante mais, mas os que lá se mantêm, não deixam cair o testemunho. Apresentamos a foto dos Antigos Alunos que se reuniram este ano. A sua identificação, da esquerda para a direita na foto, é a seguinte: Ricardo Jorge Bugalho dos Santos (292/1992), Hugo Ricardo Martins Farinha (278/1992), Marco António Nunes Guerreiro Inácio (403/1984), José Manuel Moreira Rato Rosa (530/1973), Carlos Miguel Ribeiro Ferreira Barbosa (16/1961), Carlos Manuel Pacheco Teixeira da Silva (34/1956) e António da Câmara Homem de Noronha (72/1959).

PORTO

Como manda a tradição, o Chefe da Delegação da nossa Associação no Norte do País, o incansável Bruno Pinto Basto Soares Franco (281/1970), mandou tocar a reunir as hostes colegiais de além Douro, para mais uma celebração do 3 de Março. O pessoal, atento, disciplinado e respeitador, respondeu «Pronto» e lá se reuniu em bom número, em mais um jantar no ambiente acolhedor do Oporto Cricket and Lawn Tennis Club, que qualquer dia ainda se passa a designar pela «Luz do Norte». As hostes Sulistas, ou seja, os «Mouros», corresponderam ao amável convite dos nortenhos, para estarem também presentes e fizeram-se representar ao mais alto nível da nossa Associação, por intermédio do Presidente da Direcção, Filipe Soares Franco (62/1963), do Presidente da Mesa da Assembleia Geral, Martiniano Nunes Gonçalves (9/1958) e de António José de Sousa Valles e Saraiva de Reffóios (529/1963), membro do Conselho Supremo. Tal como já vem sendo hábito, o Bruno Soares Franco convidou também para o evento

um representante de relevo da sociedade portuense. O convidado deste ano foi uma personalidade civil, António Rios Amorim, CEO e Presidente do Grupo Amorim. Reuniu-se assim um grupo de 43 comensais. Para além dos anteriormente citados, estiveram presentes os seguintes Antigos Alunos: António Rui Prazeres de Castilho (147/1948), José Resende dos Santos (23/1949), José Alberto da Costa Matos (96/1950), José Manuel Simões Ramos de Campos (319/1950), Jorge Manuel Morais Silva Duarte (153/1951), Francisco Xavier de Barros Cardoso de Menezes (6/1956), António Manuel Adão da Fonseca (286/1957), António Norton de Matos Carmo Pereira (522/1959), Armando Nuno Saraiva Valente Perfeito Canelhas (591/1959), António Carlos Cyrne Pacheco Lobato Faria (373/1960), Albino Manuel Pereira de Sousa Botelho (342/1961), José João Ponce Centeno Castanho (562/1961), José António Marques Salgado Lameiras (281/1963), José Manuel Duarte Presa Fernandes (403/1963), Manuel Maria de Castro e Le-

mos (423/1963), Rogério de Mesquita Pinto Ribeiro (283/1964), Rui Manuel Albuquerque Soares (615/1966), José Manuel Pinto dos Reis (100/1967), Carlos José Ramos Moreira dos Santos (175/1968), Herlander José Resende Marques (260/1969), José Manuel Trindade Coelho de Sousa Teles (335/1969), José Manuel Sanches Roma Moreira Lobo (572/1969), António Jaime Tavares Coutinho Lanhoso (176/1971), Vasco Manuel Felgueiras Ferreira (340/1971), Paulo Manuel Santos Lestro Henriques (200/1973), José Eduardo da Costa Silva Pereira (391/1974), Augusto José Ferreira de Matos (688/1974), Alfredo Andresen Guimarães (518/1978), Jorge Gustavo Pereira Rocha (25/1979), Pedro de Paula Santos Alves Monteiro (111/1979), António Carlos Pires Martins (85/1982), Luis Miguel da Silva Esteves (453/1983), Nelson José Cordeiro Cajão (496/1984), Amândio Emanuel Lopes Ribeiro (368/1993), Francisco José Castro Martins (409/1993), Luis Filipe Pinto Leite (384/1994) e Francisco Príncipe Vaz de Almada (235/2010).

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Esquerda para a direita: Ricardo dos Santos (292 / 1992), Hugo Farinha (278/1992), Marco Inácio (403/ 1984), Joao Rosa (530/ 1973), Carlos Barbosa (16/ 1961), Carlos Silva (34/1956), António Noronha (72/1959).

“O Feitiço da Barretina”

“O Feitiço da Barretina”

Regressado de África, comecei a trabalhar numa empresa de construção e obras públicas, uma das mais importantes que havia no nosso mercado. Fui fazendo a “tarimba” habitual, ganhando experiência, progredindo um pouco, ganhando confiança, a minha e a dos responsáveis da Empresa. Ao fim de alguns anos (aqui há uns quarente e tal, anos 70) foi-me confiada uma obra cercada de mil recomendações “AP, tens que ter muito cuidado!”, “AP, não te podes distrair”; ”AP, é uma obra delicadíssima”; ”AP, se alguma coisa corre mal é um sarilho” (“principalmente para ti...)” não disseram mas devem ter pensado).

Um obra muito delicada, disseram. E era. Não sei se se recordam mas, nesse tempo a passagem da Praça do Comércio, junto ao Torreão Nascente, era muito estreita. Creio que só tinha uma faixa de rodagem em cada sentido, os passeios não eram largos, havia bastante movimento de carros que atravessavam a praça e de peões que se dirigiam das paragens de autocarros ali existentes para

a estação Sul e Sueste, dos barcos que iam para o Barreiro e, (talvez, não tenho a certeza) para o Seixal. Resultado: engarrafamentos, um ou outro atropelamento, uma chatice, era preciso deitar a mão àquilo. Como? Pois, promovendo um alargamento da estrada. Mas como, se ali acabava o Aterro, se havia os paredões antigos, etc.? Resolveu-se que a solução seria fazer uma “ponte”, apoiada em estacas metálicas cravadas nos terrenos submersos e construindo uma laje apoiada nelas em prolongamento do pavimento da estrada. Não se dirá que era uma obra muito difícil; mas necessitava de certos cuidados e a sua localização tornava-a extremamente visível, mais a mais que, durante as obras, a circulação de carros e pessoas provavelmente seria prejudicada.... “AP, tem que ser o menos possível”, claro ! Daí a delicadeza da obra e as recomendações que toda a gente me fez.

Ora, aconteceu que aquela obra foi a mais espantosa demonstração daquele princípio filosófico, não me lembra o

nome, que diz que se numa tarefa com plicada alguma coisa pode correr mal, corre mal com certeza. E a demons tração foi tal que até todas aquelas coisas que toda a gente sabia que iam correr bem.... correram mal. Aliás, nem se pode bem dizer que correram mal; bem, também não; de facto não correu nada; nem sequer andou devagar, quan to mais correr, ficou tudo, tudo parado em pouco tempo. A máquina que havia de cravar as estacas, uma grande esca vadora de rastos partiu a lança, já não sei onde; o martelo de cravação que vinha de fora ficou retido na alfândega por falta dum papel fundamental; as es tacas de aço que vinham da Alemanha ficaram, por qualquer motivo inultra passável, emperradas numa fronteira qualquer. Resultado, tínhamos ataca do a obra com toda a energia, abrimos valas indispensáveis para o desvio de canalizações e cablagens, vedámos pas seios, chateámos toda a gente e..... pa rámos sem conseguir fazer nada de útil, sem cravar uma estaca, acho que nem mesmo iríamos conseguir cravar um

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prego numa tábua! E, ainda por cima, tínhamos cortado um cabo de telecomunicações que estava mal localizado, que ninguém sabia onde estava, mas que a nossa rectroescavadora “achou que tinha que encontrar”!! Logo ali!! Falaremos disso mais à frente.

O meu interlocutor na Câmara Municipal de Lisboa era o Engenheiro. Uma pessoa competente, conhecedora e impecável. Era assessorado pela Engenheira Jovem, ainda com pouca prática mas muito interessada e cheia de vontade

já tinha vindo no jornal. Um desastre. Um dia o Engenheiro ligou-me. “Alves Paula, preciso falar consigo”; “Pois sim, passo aí amanhã, pela parte da tarde, está bem?”; “Agora !!”.

“Oh diabo, a falar-me assim há bronca, o que será que se passa, bem cá vou eu,...agora....depressa”. E lá fui. O Engenheiro com cara de caso; a Engenheira Jovem com cara de aflição. Disse-me o Engenheiro: “O Sr. Director está zangadíssimo com a obra, está disposto a tudo, quer uma reunião urgente, pal-

“O Feitiço da Barretina”

Administração da Empresa”; (mau Micas, caldo entornado, pensei), ”Bem, eu vou falar com ele, para se combinar o dia e a hora e o local que convenha aos dois senhores”; “quarta feira, 15 horas, aqui.”. (ponto final!)

Quem era o Sr. Director? Não vale a pena estar a compará-lo com o Terror dos Sete Mares, com Ivã o Terrível, Átila o Huno, ou outros “meninos de coro” que aprendemos na escola; não eram comparáveis. O Sr. Director era mil vezes pior.

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ANTIGO ALUNO USA A BARRETINA (Tem “Feitiço”)
©Foto Sérgio Garcia
(326/1985)

“O Feitiço da Barretina”

rio, respeitável e respeitado por toda a gente, havia quem dissesse que era um dos principais responsáveis por as palavras “empreiteiro” e “vigarista” terem deixado de ser quase sinónimos !!

Eu ficara preocupado; aquela reunião tinha toda a probabilidade de fazer o massacre dos Távoras parecer uma história de embalar criancinhas. O que se iria passar?

Lá fui falar com o Engº HL. Estava a par dos problemas, sabia da situação, acompanhava os meus receios. Escutou-me, acalmou-me, percebeu e fez-me perceber que não havia nenhuma vantagem em tentar evitar a reunião, “entre mortos e feridos...”, tanto mais que as coisas estavam a começar a compor-se, em breve os trabalhos iam poder começar (se Deus quisesse, o que, às vezes, não me parecia muito provável!).

E “quarta feira, às 15horas”, estávamos “ali”. Também ia o Administrador que tinha, na Empresa, o pelouro das obras. Podia ser necessário! Fomos recebidos pelo Engenheiro e pela Engenheira Jovem, que tinha ainda mais preocupação evidente; compreende-se, ia assistir, pela primeira vez, a um Auto de Fé. “Como será? Gritarão muito?” parecia que se interrogava. E chegou o Sr. Director. Cumprimentou afavelmente, quase simpático, o Engº HL; de forma polida mas desinteressada, o Administrador; e de passagem, estendeu-me displicente dois dedos que mal me deixou aflorar! Sentámo-nos na mesa de reuniões. Dum lado da mesa, nós três; do outro lado, eles cinco (estavam lá mais duas pessoas que eu, a princípio, não percebi o que estavam lá a fazer mas, depois, entendi: estavam só a fazer número! Assim começávamos a perder por 5 a 3!). Olhou, sempre afável para o Engº HL, amavelmente mas firme anunciou ”temos que tratar disto”, sempre pouco

interessado mirou o Administrador e, depois, sério, sisudo, fixou os olhos em mim. Era evidente: eu era o facínora da fita, a causa de toda aquela desgraça. E se o homem tinha fama de ser o Terror dos Sete Mares, (e parecia) eu senti-me um náufrago, roto, numa jangada perdida no meio do oceano, cercado de tubarões brancos e de nuvens negras.

Fixou os olhos em mim, depois deixou os olhos descaírem um pouco até à lapela do meu casaco, tornou a fixar-me, de novo a lapela, abriu a boca, toda a gente viu que ia falar, as respirações abrandaram e o Monstro, fixando-me, atirou ao mesmo tempo que avançava um pouco o queixo da direcção do meu casaco: ”quando é que entraste?” Olhei para o casaco dele, não vi lá nada, mas percebi. Só eu é que percebi o que lá devia estar. Não olhei, não desviei o olhar mas senti espanto à minha volta, perante a pergunta (quando é que entraste? Toda a gente sabia que eu tinha entrado cinco minutos antes, toda a gente vira, que pergunta... e a tratar-me por tu, nunca me tinha visto...). Percebi, pareceu-me que as nuvens tinham ficado menos negras e respondi: ”quarenta e oito”, sorriu um pouco desdenhoso e atirou “trinta e dois”; (quarenta e oito quê? trinta e dois quê? Isto é um jogo de apostas, um loto?). (Aleluia, eu agora via, aquilo não eram nuvens negras, era terra, com certeza, estava a caminho da salvação). “Ainda se comia planca?” (planca? O que é isso? Comia-se aonde?) “Sim claro, e submarinos” (cada vez mais espanto); ”Palpita-me que foste p´ró coco, não?” (o coco? Qual coco? Onde é o coco?), “não, não, tudo certo, fui até ao fim” (até ao fim, ao fim de quê, ao fim do mar onde está o mostrengo?) . (Pronto, claro que não eram nuvens, era terra de certeza, e grande, não era uma ilha, era um continente, havia areal, seria uma praia, estamos quase lá!).

Mudou de tema, tornou-se sério “temos que tratar disto” repetiu, agora virado para mim. E, perante o espanto geral atirou, duro, severo “que merda é aquela que vocês estão a fazer no Terreiro do Paço?”

(que é isto? O Sr. Director, sempre correcto, duro mas correcto, a falar desta maneira? À frente de visitas?)

Mas eu pensei de outra maneira. Com aquela frase senti que estava salvo. Já não era só ver terra ou adivinhar areal, já via a praia, já via toldos e banhistas; até já via a senhora com uma grande caixa de lata a vender bolas de Berlim. Só faltava ter cuidado a passar a rebentação, e ..... estaria na praia!

Não desperdicei a oportunidade. Cuidadosamente falei com toda a franqueza; falei da lança da escavadora que se partiu inesperadamente; falei do martelo de cravação, retido na alfândega por falta dum papel; falei das estaca de aço emperradas numa fronteira qualquer. E não deixei de falar de uma ou duas coisas que nós fizéramos menos bem ou não fizéramos de todo. Falei com toda a franqueza. Ouviu, ouviu e perguntou: ”E agora?”; “agora está quase: a lança da escavadora está refeita, vamos montar a máquina; o papel do martelo já apareceu, depois de amanhã está cá; as estaca de aço já vêm a caminho, chegam 3ª feira; e já fizemos o que não fizéramos”. Ouviu, ouviu e perguntou: ”Quando é que a obra está pronta?”

Eu tinha uma perspectiva de seis meses, mas tive um fugidio lampejo de inteligência e disse: “Daqui a sete meses, mais semana, menos semana”

“SETE MESES?” berrou; “Seis meses, nem mais um dia”; “vamos fazer os possíveis”; “nem te atrevas!...”

A reunião parecia acabada. O Engº HL disfarçava a surpresa que tudo aquilo

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lhe provocara; convocado, de urgência para uma reunião quarta feira, 15 horas, aqui.”. (ponto final!) e nem abrira a boca; a Engenheira Jovem fazia um esforço notável para ver se acordava daquele estranho sonho/pesadelo; o Engenheiro tinha um ar de alívio considerável; as pessoas pareciam incrédulas mas conformadas. Já tudo se começava a preparar para se levantar, quando:

“Espera aí, e o que foi aquela merda do cabo eléctrico?”; “pois, foi numa sexta feira, o cabo estava mal localizado, a indicação era de que estava noutro local; começámos a escavar a dois metros de distância.... estava mas era aí... cortámo-lo !!”; “ e ninguém se magoou? não houve choques?” ; “nãããõoo, não era um cabo de electricidade, era só um cabo telefónico que ligava directamente o Estado Maior do Exército, ali em Santa Apolónia, com o Ministério da Defesa”, esclareci pacatamente. Esbugalhou os olhos: “DO EXÉRCITO? AO MINISTÉRIO DA DEFESA? E AGORA?”; “já está tudo arranjado”; “tudo arranjado como?”; “o encarregado da obra tem um primo, que tem um amigo que é dos piquetes da companhia dos telefones; ele e mais dois colegas foram lá e entre sábado e domingo arranjaram tudo; a meio da tarde de domingo estava tudo reparado”; “ e,... e.... e o Exército o que é que disse?”; “ nada, eu acho que o Exército não chegou a dar por nada!”; “o Exército não deu por nada???!!!”; não resisti: “não, era fim de semana, não havia guerra!”

Deu um gargalhada. A reunião acabara. Sorridente, simpático, acompanhou-nos até ao elevador. Para o Engº HL: ”Sr. Engenheiro, ouviu o que ficou resolvido; seis meses, senão eu mato e esfolo... e faço e aconteço... e frito e cozido....” enfim, prometeu-nos para daí a seis meses tudo o que esperáramos para essa mesma tarde. “Sim, sim”, respondeu lacónica e prudentemente o Engº HL, achando

que a coisa correra bem mas não desperdiçando a possibilidade de, ao fim e ao cabo, sempre dizer alguma coisa; e para o Engenheiro “se eles não cumprirem avise-me”, “sim, sim, Sr. Director”; e para mim “se te atrasas lixo-te”, “não, não” contrapus.

As portas do elevador começaram a fechar-se, ainda vislumbrei o ar espantado da Engenheira Jovem com cara de quem tinha acabado de assistir a uma feitiçaria qualquer (e, de certa forma, tinha) e enquanto o elevador arrancava, ainda ouvimos uma gargalhada que se afastava pelo corredor “hehehe, era fim de semana, não havia guerra, hehehe!”

Chegámos à rua. Estávamos ao fundo da Rua da Palma, quase no Martim Moniz, o Engº HL tinha levado carro, o condutor esperava a umas dezenas de metros, fez-lhe sinal, “AP, nós vamos para o escritório, quer vir?”;” não, obrigado, Sr Engenheiro, fico por aqui, ainda vou passar na obra.”

Dirigiu-se para o carro que, entretanto, parara nas linhas do eléctrico a uns 15 ou 20 metros. Quando estava a chegar ao carro parou, teve uma pose meditativa como quem recorda qualquer coisa que não batia muito certo, virou-se para trás e fez um gesto, chamando-me. Aproximei-me “diga Sr. Engenheiro”; “ oh AP, diga-me cá uma coisa: o que é que se passou lá em cima?”.

O eléctrico aproximava-se, já se ouvia a campainha, só respondi “oh Sr. Engenheiro, é uma história longa e antiga”; “como, uma história longa e antiga? Não começou há três meses na Praça do Comércio?”

O eléctrico já campainhava furiosamente; não havia tempo para mais conversa; se calhar apetecia-me responder: “não, não começou há três meses na Praça do

Feitiço da Barretina”

Comércio, começou em 1803 ao pé da Praia da Torre”. Mas não cheguei a dizer, ainda bem, coitado do senhor, ainda ia ficar mais baralhado, só disse “eu depois explico, com mais tempo”.

Olhou para mim, não parecia satisfeito com a resposta mas não disse mais palavra, virou-se e seguiu para o carro. Mas aquele ligeiro abanar da cabeça, aquele vago encolher de ombros eram eloquentes, diziam bem o que lhe ia na alma: “Tá tudo doido!”

E, pela parte que me tocava, acho que quem naquela altura ali passasse iria concordar com ele, ao verem-me ao fundo da Rua da Palma, quase no Martim Moniz, no meio do passeio, a rir-me sozinho!

Notas finais para esclarecer quem não teve a sorte de andar no Colégio Militar:

• na minha lapela estava a Barretina, nosso emblema, que não estava, mas devia, na dele;

• planca: carne guisada com batatas que, em geral, a malta não gramava;

• submarinos: pastéis de bacalhau com arroz que, em geral, a malta gramava;

• “ir pr´ó coco”: dizia-se de quem, reprovando duas vezes, tinha que sair do Colégio;

• 1803, Praia da Torre: o CM foi fundado em 1803, numas instalações anexas ao Forte de S. Julião, ao pé da Praia da Torre, Oeiras.

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“O

O Funeral da Rainha D. Amélia e o Colégio Militar

ARaínha D. Amélia, última rainha de Portugal, faleceu a 25 de Outubro de 1951, na sua residência em Les Chesnay, Versailles, França, aos 86 anos. Ao sentir-se morrer disse às pessoas que a acompanhavam: “Quero bem a todos os portugueses, mesmo aqueles que me fizeram mal” e ainda: “Levem-me para Portugal, adormeço em França, mas é em Portugal que quero dormir para sempre”. Além de ser a última rainha de Portugal era membro da Casa Real de França, por ser filha do Conde de Paris.

As cerimónias fúnebres que decorreram em França, em Versailles e Brest, foram prestadas pelo Estado e pelas autoridades eclesiásticas locais, com guarda de honra militar, até ao embarque do féretro para Portugal em Brest a bordo do aviso “Bartolomeu de Dias” da Marinha Portuguesa. Durante a Segunda Guerra Mundial foi-

-lhe oferecido asilo político em Portugal, ao que ela declinou, permanecendo na sua residência, mas com imunidade diplomática de Portugal. Assim permaneceu na França ocupada pelo exército alemão até 1945. Nesse ano e no final da guerra visitou Portugal. Visitou o Panteão da Quarta Dinastia dos reis de Portugal, onde se encontram sepultados o seu marido, D. Carlos I que era Comandante de Batalhão Honorário do Colégio Militar e os dois filhos, D.Manuel II, último rei de Portugal de 1908 a 1910, e o Príncipe D.Luís Filipe (também ele Comandante de Batalhão Honorário do Colégio Militar). Visitou D. Manuel Cerejeira, Cardeal Patriarca de Lisboa, à época, teve muitos encontros com diversas personalidades portuguesas, visitou uma obra de solidariedade social que fundara e ainda se deslocou a Fátima. Em todo o lado onde se deslocou recebeu as maiores provas de respeito, acolhimento e carinho, incluindo manifestações populares.

O Colégio Militar participou nas grandiosas cerimónias fúnebres da Rainha D. Amélia, fazendo guarda de honra à passagem do cortejo com o féretro, dos dois lados da Avenida Ribeira da Naus, junto ao Tejo, no Terreiro do Paço, hoje conhecido por Praça do Comércio, como a fotografia anexa mostra. Nela se observam os “Meninos da Luz” em “funeral-arma”, tal como acontecera no funeral do Presidente Carmona em 1951, posição do manejo de armas aprendida na Instrução Militar e só empregue em cerimónias como estas. Na internet encontram-se filmes da época que relatam em detalhe, pela voz do conhecido profissional de rádio Pedro Moutinho, sendo relevante a manifestação popular.

Com a prestimosa colaboração dos dois comandantes de batalhão, de (1951/52), Eduardo Maria Rato Martins Zúquete, (20 /1945), e de (1952/53), Ricardo Manuel Simões Bayão Horta, (25/1946), fez-se a reconstituição da equipe de graduados que

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Pedro O Funeral da Rainha D. Amélia e o Colégio Militar

O Funeral da Rainha D. Amélia e o Colégio Militar

Batalhão formado em alas, em posição de “funeral-arma”. (Fotografia da autoria do Diário de Notícias). participaram na cerimónia, integrando o batalhão constituído pela 2ª, 3ª e 4ª companhias, dado que a 1ª ainda só tinha só um mês de Colégio e se previra a “dureza” do cerimonial. Assim o enquadramento do batalhão foi o seguinte:

COMANDO

COMANDANTE DE BATALHÃO: Eduardo Maria Rato Martins Zúquete, (20/1945)

AJUDANTE DE COMANDANTE DE BATALHÃO: Joaquim Fernando Lopes Gomes Marques, (248/1944)

PORTA – BANDEIRA: João de Barahona Núncio, (175/1945)

PORTA – GUIÃO: José Taveira de Oliveira Martins, (187/1945)

2ª COMPANHIA

COMANDANTE DE COMPANHIA Rui Mamede Monteiro Pereira, (163/1945)

TENENTE COMANDANTE DE PELOTÃO: Jorge Manuel Cid de Juzarte Lopes Jonet, (99/1945)

ALFERES COMANDANTE DE PELOTÃO: Manuel Robalo dos Santos, (137/1945)

ALFERES COMANDANTE DE PELOTÃO: Luís Manuel dos Santos de Paula, (241/1945)

3ª COMPANHIA

COMANDANTE DE COMPANHIA: João de Almeida Bruno, (230/1945)

TENENTE COMANDANTE DE PELOTÃO: Joaquim Manuel Rodrigues Lopes, (176/1945)

ALFERES COMANDANTE DE PELOTÃO: Sérgio Augusto Vicente Ribeiro Zilhão, (245/1944)

ALFERES COMANDANTE DE PELOTÃO: Luís Fernando Almada de Oliveira, (125/1945)

4ª COMPANHIA

COMANDANTE DE COMPANHIA Orlando José Sequeira da Silva, (226/1944)

TENENTE COMANDANTE DE PELOTÃO: João Luís da Costa Estorninho, (207/1944)

ALFERES COMANDANTE DE PELOTÃO: Engrácio Lopes Carvalheira, (130/1945)

ALFERES COMANDANTE DE PELOTÃO: José António Cartaxo Salazar Leite, (123/1944)

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Embaixada Carioca

Este ano o 3 de Março, teve os festejos reduzidos ao mínimo dos mínimos, pois a pandemia do Corona Virus, que já então nos batia à porta, aconselhava que se evitassem ao máximo os grandes ajuntamentos de pessoas e os contactos próximos. No Colégio, as cerimónias foram breves e à porta fechada. O tradicional desfile na Avenida realizou-se, mas não houve missa na Igreja de S. Domingos.

Dado estar convalescente de uma intervenção cirúrgica a que fui submetido dias antes, não pude participar nas cerimónias, mas fui informado acerca das mesmas e fiquei satisfeito por saber que as coisas tinham corrido bem. Houve uma foto das cerimónias que me satisfez em particular. Foi a foto de uma Antiga Aluna na função de Porta-Guião da nossa Associação. Gostei tanto dela que a propuz para capa deste número da revista, o que foi aceite pelas Direcções da Associação e da Zacatraz. Se as Antigas Alunas tiverem a mesma vontade de se integrar na Associação, como têm tido de se integrar no Colégio, isso será muito bom para elas

e para a nossa Associação, que assim receberá sangue novo, bem como uma visão diferente do mundo.

Ao pensar no 3 de Março, o meu pensamento voou para os meus tempos do Colégio e para um 3 de Março bem diferente do habitual, ocorrido há precisamente 60 anos. Foi o 3 de Março de 1960, quando o Colégio recebeu uma «EMBAIXADA CARIOCA», que pôs tudo em alvoroço durante quase 3 semanas.

Foi tudo obra do Director do Colégio da altura, o Brigadeiro Raúl Cordeiro Pereira de Castro (365/1916), um homem cheio de ideias para o Colégio, que gostava de sobressair e que se movimentava muito bem nas altas esferas militares e politicas. Tinha sido Comissário Nacional da Mocidade Portuguesa antes de vir para o Colégio, o que lhe abria muitas portas.

O Brigadeiro Pereira de Castro, logo no primeiro ano em que esteve a dirigir o Colégio (1958/1959), conseguiu uma coisa absolutamente extraordinária para a época, levou o 7º ano em via-

gem de fim de curso à India Portuguesa, onde visitaram Goa, Damão e Diu, fazendo a viagem nos aviões dos Transportes Aéreos da Índia Portuguesa (TAIP). Fizeram escala no Líbano e em Roma e até foram recebidos pelo Papa. Melhor não era possível.

Nas férias grandes seguintes, em Setembro de 1959, Pereira de Castro levou o curso que tinha passado para o 7º ano a visitar o Colégio Militar do Rio de Janeiro. Recentemente, no nº 216 da ZacatraZ, o Pedro Miguel Roldão de Barros (218/1953), no artigo intitulado «O Colégio Militar no Brasil em 1959», descreveu o que foi essa viagem memorável, em que o seu curso abriu os olhos para o Mundo. Durante essa viagem, o nosso Director convidou uma delegação do Colégio Militar do Rio de Janeiro a visitar o nosso Colégio, convite esse que foi imediatamente aceite.

Aceite o convite, foi com toda a naturalidade que chegou ao nosso Aeroporto da Portela, às 17H00, do dia 19 de Fevereiro de 1960, a bordo de um avião da «Panair» do Brasil, uma deputação

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Embaixada Carioca

do Colégio Militar do Rio de Janeiro, liderada pelo seu Director, General Maggessi, acompanhado por 4 Oficiais e 30 alunos. Para nossa surpresa, agradável surpresa diga-se, fazia também parte da comitiva um grupo de alunas da Fundação Osório, também do Rio de Janeiro, que seria na época o equivalente ao nosso Instituto de Odivelas. Foi aliás em Odivelas que elas foram aboletar. Não é que nós no Colégio não tivéssemos vontade de as receber, mas naquela época uma «generosidade» dessas não seria muito bem vista. Outros tempos.

Para toda aquela luzida delegação do Brasil estava preparada uma recepção do mais alto nível, sendo o ponto alto da sua estadia em Portugal, a participação dos alunos «cariocas» nos festejos do 3 de Março, em que iriam marchar integrados no Batalhão Colegial. Para que tenham uma ideia do que foi a recepção aos nossos irmãos de além-mar, indico de seguida, dia a dia, o que foi o programa das festas.

O General Magessi foi recebido nos Claustros, onde lhe foram prestadas honras militares, por dois pelotões, um de cada um dos Colégios Militares, de grande uniforme e armados de espingarda. Ao lado de cada pelotão, postavam-se as respectivas bandeiras nacionais e os respectivos guiões.

Concluída esta cerimónia, os Porta-Bandeiras com as suas respectivas guardas de honra dirigiram-se à Sala de Honra do Colégio, onde ficaram guardadas as Bandeiras dos dois países e os respectivos símbolos colegiais. Seguidamente, na Sala da Biblioteca, reuniram-se todos os professores e oficiais do Colégio, a fim de serem apresentados ao General Comandante do Colégio

Militar do Rio de Janeiro e de lhes darem as boas vindas a Portugal.

À tarde, a delegação brasileira visitou o Museu Militar e apresentou cumprimentos ao Ministro do Exército e ao Chefe do Estado-Maior do Exército, seguindo-se uma visita à cidade. À noite realizou-se o baile dos finalistas. Não foi mau como primeiro dia.

Carioca

DIA 21 DE FEVEREIRO.

Neste dia, que foi o primeiro domingo da delegação brasileira entre nós, foi celebrada uma missa solene no Mosteiro dos Jerónimos, no decurso da qual foi prestada homenagem a Luis de Camões. Os alunos do Colégio Militar do Rio de Janeiro colocaram uma placa de bronze na base do túmulo de Camões.

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DIA 20 DE FEVEREIRO. Saída do edifício do Hospital de Nossa Senhora dos Prazeres. 3 de Março de 1960. Primeira participação da Escolta a Cavalo no desfile anual do Batalhão Colegial. Embaixada

Embaixada Carioca

Seguiu-se um almoço de confraternização na messe do Instituto do Altos Estudos Militares, após o que se visitaram a Torre de Belém, o Estádio Nacional, Estoril, Cascais e Guincho, onde foi oferecida, pela Câmara e Junta de Turismo locais, uma merenda a todo o grupo.

DIA 22 DE FEVEREIRO.

A manhã começou com uma reunião preparatória do Colóquio sobre o Infante D. Henrique, que se iria realizar nos dias subsequentes, seguindo-se uma visita aos Paços do Concelho, para aí cumprimentar o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Brigadeiro França Borges, que recebeu a delegação brasileira com enorme amabilidade.

De tarde continuou a visita à cidade, que terminou no castelo de S. Jorge, onde a Câmara Municipal tinha preparada uma merenda para toda a delegação.

DIA 23 DE FEVEREIRO

A delegação do Colégio Militar do Rio de Janeiro, acompanhada pelo nosso Director e por alguns oficiais e alunos do nosso Colégio, foi visitar Mafra.

Em Mafra, visitaram a Tapada, onde puderam assistir a difíceis e arriscados exercícios de comandos. Seguiu-se uma visita ao Centro Militar de Educação Física, Equitação e Desportos, onde puderam assistir a uma demonstração equestre. Dirigiram-se de seguida à vizinha Escola Prática de Infantaria, onde os aguardavam o General Director da Arma de Infantaria, o Comandante da Escola e restante oficialidade. Foram recebidos por uma guarda de honra, com banda de música e fanfarra. O General Maggessi foi convidado a passar revista à guarda de honra, cujo desfile presenciou de seguida.

No interior da Escola Prática foi prestada homenagem aos mortos da Infantaria na 1ª Guerra Mundial e um coro de cerca de 100 praças cantou os hinos do Brasil e de Portugal, seguidos do hino da Infantaria. O almoço teve lugar no Refeitório dos Frades.

De tarde, visitou-se o convento de Mafra, regressando-se ao Colégio por Ericeira e

Sintra. À noite, a delegação foi assistir ao «Jumping» Internacional de Lisboa, que na altura tinha lugar no grande pavilhão da Feira das Indústrias, na Junqueira.

DIA 24 DE FEVEREIRO.

De manhã, a delegação do Colégio Militar do Rio de Janeiro foi visitar o Instituto de Odivelas, regressando de

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Início do desfile conjunto dos dois Colégios Militares. Em continência ao Monumento aos Mortos da Grande Guerra.

seguida ao Colégio. Na formatura que antecedeu o almoço, deu-se a integração dos alunos brasileiros no Batalhão Colegial. Foram içadas as bandeiras de Portugal e do Brasil no mastro de honra da parada, ao som da marcha da continência, tocada pela charanga colegial, após o que o Batalhão, com os alunos brasileiros incorporados, desfilou perante os Directores dos dois Colégios. À tarde, realizou-se uma visita ao Secretariado Nacional da Informação (SNI), onde foi exibido o filme «Rapsódia Portuguesa». À noite, a convite do SNI, realizou-se um jantar no restaurante «Folclore», seguido de uma exibição de danças regionais.

A estes dias em Lisboa, seguiram-se cinco dias de viagem pelo Centro e Norte do País.

DIA 25 DE FEVEREIRO.

Visita a Santarém, com homenagem a Pedro Alvares Cabral, seguida de almoço na Escola Prática de Cavalaria. Após o almoço, partida para Leiria, com visitas a Tomar e Fátima. O jantar e a pernoita efectuaram-se no Regimento de Infantaria 7, em Leiria.

DIA 26 DE FEVEREIRO.

Visitas ao Castelo de Leiria, ao Mosteiro da Batalha, ao campo da batalha de Aljubarrota, seguindo-se um almoço no Convento de Alcobaça, oferecido pela Câmara Municipal.

Após o almoço, partida para o Porto, com passagem por Nazaré, Marinha Grande, Figueira da Foz e Aveiro. O jantar e a pernoita efectuaram-se no Regimento de Infantaria 6, no Porto.

DIA 27 DE FEVEREIRO.

No Porto a recepção foi de arromba. Logo pela manhã, a delegação dos dois

Colégios dirigiu-se ao Quartel-General da 1ª Região Militar, para saudar o respectivo General Comandante. No largo fronteiro ao edifício, foram recebidos por uma guarda de honra constituída por um esquadrão do Regimento de Cavalaria 6, com fanfarra, guião e banda de música. No salão nobre do Quartel-General, foram recebidos pelo General Comandante da Região, acompanhado por todos os Comandantes das Unidades da guarnição, pelo Presidente do Tribunal Militar Territorial e por numerosos oficiais. Terminada a cerimónia no Quartel- General, seguiu a delegação para o Governo Civil e para os Paços do Conselho, também a apresentar cumprimentos. Terminados os cumprimentos protocolares, começaram as visitas, iniciadas pela visita aos armazéns da Real Companhia Vinícola, em Gaia, ao que se seguiu o almoço, na serra do Pilar, no Regimento de Artilharia 2.

Depois do almoço, seguiu-se uma cerimónia na praça do Infante D. Henrique, em que foi colocada uma coroa de flores na base da estátua do Infante. Seguiu-se a visita ao Palácio da Bolsa e ao Gabinete de História da cidade, onde se encontrava o General Chefe do Estado-Maior do Exército, para depois se fazer uma visita de grande significado, à Igreja da Lapa, onde se encontra depositado o coração de D. Pedro IV de Portugal, Pedro I do Brasil.

O jantar e a pernoita foram no Regimento de Infantaria 6, no Porto.

DIA 28 DE FEVEREIRO.

De manhã, deu-se a partida para Guimarães. Chegada a delegação a Guimarães, foi apresentar cumprimentos aos Paços do Conselho, seguindo-se a missa na capela de S. Miguel e a visita ao Palácio Ducal. De Guimarães seguiu-se para Braga, onde houve uma recepção e almoço no

Bom Jesus do Monte. Visitou-se depois a Sé, onde foi prestada uma homenagem à memória do Infante D. Henrique, depondo-se uma coroa de flores junto do seu túmulo.

Após a visita a Braga, partiu-se em direcção ao Sul, indo-se pernoitar no hotel do Luso.

DIA 29 DE FEVEREIRO.

A manhã foi passada no Buçaco. Visitou-se o local onde se encontra o obelisco comemorativo da batalha do Buçaco, ocorrida durante a 3ª invasão francesa, o Museu Militar e a capela de Nª Sª da Vitória.

Do Buçaco partiu-se para Coimbra, onde se começou por visitar o Quartel-General da 2ª Região Militar, para aí cumprimentar o seu General Comandante. A delegação foi recebida por uma guarda de honra, composta por uma força de Infantaria 12, com bandeira, fanfarra e banda de música. Concluída a cerimónia militar, seguiu-se a visita à Universidade, à Sé Velha e à Igreja de Santa Cruz, onde foi prestada homenagem a D. Afonso Henriques, junto do seu túmulo. Seguiu-se o almoço no Regimento de Infantaria 12, após o que se visitaram o túmulo da Rainha Santa, no Convento de Santa Clara e depois Conimbriga, já a caminho de Lisboa.

DIAS 1 E 2 DE MARÇO

Foram dias dedicados aos preparativos para os festejos do 3 de Março e ao Colóquio sobre o Infante D. Henrique.

DIA 3 DE MARÇO.

Foi o grande dia. Foi o dia em que os alunos do Colégio Militar do Rio de Janeiro se mostraram à cidade de Lisboa, integrados na formatura do Batalhão Colegial.

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Embaixada Carioca

Embaixada Carioca

Tudo começou manhã cedo, nos Claustros, onde os Directores dos dois Colégios Militares passaram revista ao Batalhão, incorporando o pelotão do Colégio Militar do Rio de Janeiro, a bandeira do Brasil e o estandarte do Colégio Militar do Brasil (o equivalente ao nosso guião). Concluída a revista, foi feita uma alocução sobre o significado da cerimónia, pelo Capitão Professor Júlio Martins, com a elevação que era timbre deste grande professor. Seguiu-se o desfile perante o Busto do Fundador do Colégio Militar, Marechal Teixeira Rebelo, saindo-se dos Claustros, marchando, pelo átrio principal e prestando-se continência ao Busto, como «religiosamente» se pratica, desde o dia 3 de Março de 1903.

Da Luz deslocou-se todo o Batalhão, alunos brasileiros incluídos, para o Parque Eduardo VII, onde se iniciou o tradicional desfile ao longo da Avenida da Liberdade, até ao Largo de S. Domingos, com continência perante o Monumento aos Mortos da Grande Guerra.

O desfile foi espectacular. A abrir o desfile vinha o conjunto das duas bandeiras e dos dois guiões, com uma escolta de alunos dos dois Colégios. Neste memorável desfile foi Porta-Bandeira de Portugal, João Carlos de Oliveira Moreira Freire (246/1953) e Porta-guião do nosso Colégio, João Cândido Ventura Furtado de Antas (387/1953). Este foi também o desfile em que pela primeira vez participou a Escolta a Cavalo do Colégio Militar, o que foi um acontecimento com grande impacto. A Escolta a Cavalo foi comandada por Pedro Augusto Lynce de Faria (21/1954) e levava como Porta-Guião Manuel Lourenço Castelo Branco Gomes Pereira (353/1956).

Foi a primeira vez que a Escolta a Cavalo se apresentou fora do Colégio, à população de Lisboa.

Seguiu-se a tradicional missa nas ruínas da Igreja de S. Domingos, por alma do Fundador, Directores, Professores, Oficiais e Alunos falecidos. A missa foi abrilhantada pelos cânticos do Orfeão Colegial completo,

cânticos esses que naquele espaço religioso criam uma atmosfera muito especial.

Após a missa, deu-se a segunda parte do desfile, que naquele tempo ia do Largo do Rossio até ao Terreiro do Paço, onde o Batalhão embarcava nos autocarros que o trariam de volta ao Colégio. O ponto alto desta

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Aspecto do desfile por diante do Teatro D.Maria II. Outro aspecto do desfile no mesmo local.

segunda parte do desfile dava-se logo no seu início, quando o Batalhão passava, marchando com todo o garbo e atenção, em continência aos Antigos Alunos, que se postavam em frente do Teatro Nacional D. Maria II, no Rossio, onde se ergue a estátua de D. Pedro IV de Portugal, que foi também o primeiro Imperador do Brasil. Se os Antigos Alunos aí postados correspondiam normalmente com grande entusiasmo à saudação do Batalhão, naquele dia transcenderam-se. As gargantas ficaram roucas e os nossos hóspedes «cariocas» verdadeiramente impressionados.

À tarde, a delegação brasileira foi ao Palácio de Belém, apresentar cumprimentos ao Presidente da República,

Almirante Américo Tomáz, que na sala de jantar do palácio ofereceu uma merenda aos visitantes.

DIA 4 DE MARÇO.

Neste dia, aniversário do nascimento do Infante D. Henrique, data escolhida para o início das comemorações nacionais de homenagem ao mesmo, deu-se início ao Colóquio Henriquino, inaugurando-se, em simultâneo, uma exposição evocativa da sua figura.

À noite teve lugar um Serão Cultural, no Teatro Monumental, repleto com a delegação brasileira, com os alunos do Colégio Militar, as alunas do Instituto de Odivelas e os alunos

dos Pupilos do Exército. Todos estrategicamente separados, como a moral e os bons costumes da época impunham. Colégio Militar na plateia, Instituto de Odivelas no 1º balcão e Pupilos do Exército no 2º balcão. A última parte do Sarau esteve a cargo do Orfeão do Batalhão Colegial, dirigida pelo saudoso Maestro Jaime da Silva, que embora de pequena estatura, se agigantava à frente daquele Orfeão. Para aqueles que viveram esses tempos, relembro aqui o que foi o reportório apresentado, ou melhor, cantado:

Proposição de «Os Lusiadas» _ Barqueiros do Volga_ Coro dos Soldados (da Ópera Fausto)_ Hino Nacional de Portugal_ Hino Nacional do Brasil.

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O bloco de Bandeiras e Guiões dos dois Colégios Militares. Embaixada
Carioca

DIA 5 DE

MARÇO.

De manhã teve lugar mais uma sessão do Colóquio Henriquino. A seguir ao almoço deu-se a partida para o Sul, em romagem a Sagres.

À noite, em Sagres, foram içadas as duas Bandeiras Nacionais, na presença do Chefe e Subchefe do Estado-Maior do Exército, e deu-se início a uma velada de armas, que se prolongou pela noite toda.

DIA 6 DE MARÇO.

O dia iniciou-se com uma missa, que pôs termo à velada de armas, após o que se empreendeu a jornada de regresso a Lisboa, por S. Brás de Alportel, com escala em Beja.

Em S. Brás de Alportel fez-se uma paragem para almoço. Em Beja, visitou-se o castelo e houve uma grande recepção nos Paços do Concelho locais, estando o largo fronteiro repleto de pessoas, que quiseram ver a delegação brasileira. A noite foi passada no Regimento de Infantaria 3, nesta cidade.

DIA 7 DE MARÇO.

De Beja seguiu a delegação para Évora, onde foi recebida pelo General Comandante da 4ª Região Militar. Seguiram-se sessões de cumprimentos nos Paços do Concelho e no Palácio Arquiepiscopal e uma visita à cidade, para observar os seus monumentos. Após o almoço no Quartel-General, regressou a delegação a Lisboa, onde ao fim da tarde se realizou uma recepção em sua honra, na Embaixada do Brasil.

DIA 8 DE MARÇO.

Este dia foi marcado por três acontecimentos de grande significado: con -

decoração da Bandeira do Colégio Militar do Rio de Janeiro, sessão solene de encerramento do Colóquio Henriquino e recepção da delegação brasileira pelo Presidente do Conselho, Prof. Dr. Oliveira Salazar.

Em cerimónia realizada nos Claustros, a Bandeira do Colégio Militar do Brasil foi condecorada, pelo Ministro do Exército, com a Comenda da Ordem Militar de Aviz.

Seguiu-se uma sessão solene, de apresentação das conclusões do Colóquio Henriquino. As conclusões foram lidas, alternadamente, por um aluno de cada um dos Colégios Militares. Pelo nosso Colégio as conclusões foram lidas por Francisco Manuel da Cunha Bruno Soares (50/1954), que seria Comandante de Batalhão no ano lectivo seguinte. O êxito que constituiu o Colóquio realizado, ficou-se a dever ao Capitão Professor Silva Mota, seu organizador, outro professor de grande gabarito que o Colégio tinha na altura no seu corpo docente.

Ao fim da tarde a delegação brasileira foi recebida no Palácio de S. Bento, por Salazar, que conversou informalmente com os alunos e lhes desejou um bom regresso ao seu país.

À noite, o General Magessi ofereceu em Montes Claros, um jantar de despedida ao Ministro do Exército e à Direcção e Oficiais do nosso Colégio.

DIA 9 DE MARÇO.

«A despedida foi uma verdadeira apoteose» é assim que a mesma é classificada no nº 110 da revista «O Colégio Militar» , onde é feito o relato circunstanciado da estadia da delegação brasileira entre nós.

Por aquilo que ficou atrás relatado, temos de reconhecer que seria quase impossível ultrapassar a forma como a delegação do Colégio Militar do Rio de Janeiro foi recebida entre nós. Se houve alguma falha, foi por excesso, pois os alunos brasileiros não tiveram um minuto de descanso.

O relato feito no nº 110 da revista «O Colégio Militar» termina do seguinte modo «Bela jornada de confraternização, prenúncio certo de muitas outras» . Não houve outras jornadas com a dimensão desta. Passado um ano, iniciou-se a Guerra do Ultramar e as prioridades passaram a ser diferentes.

Os que viveram aqueles dias, de verdadeiro desassossego no Colégio, como foi o meu caso, recordam-nos hoje com nostalgia. Belos tempos!

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Embaixada Carioca

A Inteligência e a sua Quantificação

A Inteligência e a sua Quantificação

AInteligência tem sido definida ao longo da história de muitas formas diferentes. Eis algumas das muitas definições que se podem encontrar, das mais elaboradas às mais genéricas. (Compete ao leitor escolher – ou compor – aquela de que gosta mais).

• A inteligência é uma capacidade mental que – entre outras coisas – inclui a habilidade para raciocinar, planear, resolver problemas, pensar ao nível do abstracto, compreender ideias complexas, aprender com rapidez e através da experiência. É mais do que aprender, lendo livros ou fazendo testes. Reflecte uma capacidade mais global e profunda de compreender o ambiente em que vivemos, fazendo com que tudo tenha sentido e decidindo o que fazer em cada contexto.

• A inteligência é um processo cognitivo que dá aos seres humanos a capacidade de aprender, construir conceitos, compreender e raciocinar, nomeadamente reconhecer modelos, compreender ideias, planear, resolver problemas e

usar a linguagem para comunicar. Permite aos seres humanos realizar experiências e pensar.

• A inteligência é a capacidade para a lógica, abstração, memorização, compreensão, autoconhecimento, comunicação, aprendizagem, controle emocional, planeamento e resolução de problemas.

• A inteligência é a capacidade para perceber e/ou deduzir a informação, retendo-a como conhecimento para ser aplicado, tendo em consideração o ambiente e o contexto em causa.

• A inteligência é a capacidade para pensar, raciocinar e compreender em vez de fazer coisas automaticamente ou por instinto.

• A inteligência é a capacidade global cognitiva para resolver problemas.

• É a inteligência de cada um que lhe permite decidir o que fazer quando não sabe o que fazer.

E há ainda a considerar definições que saem da ‘normalidade’ utilizada pelos autores das definições anteriores como por exemplo:

• Sócrates (o Filósofo Grego) – Eu sei que sou inteligente porque sei que não sei nada.

• Einstein – O verdadeiro sinal da inteligência não é o conhecimento mas a imaginação.

Analisemos algumas das questões mais comuns relacionadas com a inteligência:

• Há valores numéricos para medir /quantificar a inteligência da cada um?

• É a nossa geração mais inteligente que a geração anterior?

• É a nossa inteligência herdada dos nossos antepassados?

• Poderemos aumentar a nossa inteligência?

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A Inteligência e a sua Quantificação

• Varia a nossa inteligência com a idade? Podemos evitar o seu declínio?

1. Há valores numéricos para medir/quantificar a inteligência da cada um?

A inteligência fluida produz a capacidade de pensar e actuar rapidamente e utiliza a memória de curto prazo. Tem sido descrita como o tipo de inteligência que uma pessoa usa ‘quando não sabe antecipadamente o que deve fazer’ . A inteligência cristalizada provém da aprendizagem e das influências culturais e reflete-se nos testes de conhecimento, de cultura geral, no uso da linguagem e num conjunto de capacidades adquiridas previamente.

são diferentes consoante o género, a classe social ou a etnia do examinando.

Básicamente, é uma avaliação (dada em termos numéricos) da capacidade que uma pessoa demonstra ter, para pensar e raciocinar.

Desde ‘sempre’ que os psicologistas dizem que a inteligência pode ser quantificada através da realização de testes específicos (testes de ‘IQ=Intelligence Quocient’ ). O valor numérico é obtido multiplicando por 100 a relação/quociente do valor obtido através dos testes para a ‘idade mental’ duma pessoa com a ‘média’ dos que têm a mesma ‘idade real’. Quanto mais distante de 100 estiver o valor obtido, mais a inteligência (global) da pessoa se afasta da média da população. O ‘IQ’ é pois uma avaliação numérica do que os psicologistas chamam a ‘soma’ das inteligências fluida e cristalizada. Em resumo e de uma maneira simples, os testes de ‘IQ’ medem a capacidade que cada um tem para raciocinar e resolver problemas.

A teoria de ‘ Catell-Horn ’ das inteligências fluida e cristalizada diz que a inteligência global (ou simplesmente, inteligência) é na realidade o resultado de um conjunto de algumas dezenas de capacidades diferentes (umas fazendo parte da ‘inteligência fluida’ , outras da ‘inteligência cristalizada’ ), actuando juntas e de maneiras diversas em cada pessoa, produzindo assim inteligências diferentes.

Há vários tipos de testes de ‘IQ’ mas a maior parte deles medem as capacidades visuais, matemáticas e de linguagem, assim como a memória de cada pessoa e a sua velocidade de processamento da informação. Após um conjunto de testes escolhidos, os resultados são combinados e produzem um valor numérico: o ‘IQ’ individual.

Os testes de inteligência não medem, por exemplo, a curiosidade, a creatividade ou a aptidão emocional, e muito menos, o caracter ou outras diferenças fundamentais entre as pessoas (nem são supostos fazê-lo) e não

Os resultados obtidos através dos anos permitem dizer que o ‘IQ’ das pessoas seguem, em conjunto, uma distribuição normal (uma curva de Gauss). Dentro da curva de Gauss que se apresenta, encontram-se indicadas as percentagens da população global que tem um ‘IQ’ nesse intervalo numérico.

34,1% com ‘IQ’ entre 85-100 e entre 100-115; 13,6% com ‘IQ’ entre 70-85 e entre 115-130; 2,1 a 2,3% com ‘IQ’ entre 55-70 e entre 130-145; 0,1% com ‘IQ’ acima de 145 (um em cada 1.000 humanos tem um ‘IQ’ de ‘génio’).

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A Inteligência e a sua Quantificação

NOTA:

Um problema (que devia ser) preocupante para a nossa civilização é como resolver a situação daqueles com ‘IQ’ menores. As Forças Armadas dos Estados Unidos (a instituição pioneira deste tipo de testes) determinaram – baseadas na enorme experiência adquirida –que não podem incluir nas suas fileiras indivíduos com ‘IQ’ inferiores a 83. Estamos a falar de mais de 10% do total! São milhões de indivíduos! Não só o problema não está a ser equacionado pela sociedade e governos (o que é lamentável) como não se resolve facilmente como outros problemas, ‘atirando dinheiro sobre ele’...

que os resultados foram aumentando ‘de geração em geração’. Em termos concretos – para dar um exemplo –um jovem actual com 10 ou 15 anos (situado na média) obtém um resultado mais alto para o mesmo conjunto de testes, que o que um jovem nas mesmas condições, obteve em 1954.

Isto não significa que a geração actual tenha ‘maiores cérebros’ que os antepassados; significa simplesmente que, à medida que as gerações se vão sucedendo, a capacidade para pensar logicamente, para resolver problemas e para usar a nossa inteligência em situações hipotéticas, vai melhorando (e este aumento tem sido constante e linear).

Este facto é conhecido como o efeito Flynn (James Flynn é um académico neo-zelandês, nascido em 1934 em Washington, USA, e residente na Nova Zelândia desde 1963, investigador na área da inteligência e sua evolução).

se vive. Estudos científicos mostram que o volume de ‘matéria cinzenta’ é fortemente influenciado pelos genes herdados e são reflectidos na ‘performance’ cognitiva de cada um.

Em resumo, os genes herdados determinam a qualidade da nossa inteligência, a capacidade para integrar e processar a informação e é o nível da nossa inteligência que determina a nossa capacidade para lidar com alterações no ambiente em que vivemos.

É universalmente aceite que a raça e a cultura têm a sua participação e influenciam a nossa inteligência, mas ainda não há qualquer conclusão final sobre a variação da inteligência consoante a raça.

O ambiente em que vivemos tem a sua influência na nossa inteligência (como já foi dito) mas na realidade, a sua influência possível é fundamentalmente negativa (não havendo qualquer evidência que indique que ele pode melhorar a nossa inteligência duma maneira visível).

É também aceite que é muito mais fácil acontecer uma degradação do ‘tecido mental’ (o que até pode acontecer num período de tempo relativamente curto) que acontecer a creação de novo ‘tecido mental’ (o que requere longos períodos, exigidos para poder acontecer uma ‘selecção evolucionária’ , em adição à disponibilidade de fontes de energia exterior).

Desde o início da década de 1950 –quando os testes começaram a ter padrões – os investigadores verificaram

Podemos, dentro de certos limites. ‘O que não vos mata, torna-vos mais inteligentes’.

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2. É a nossa geração mais inteligente que a geração anterior?
3. É a nossa inteligência herdada dos nossos antepassados?
É geralmente aceite que a inteligência é herdada mas que também está relacionada com o ambiente em que
4. Poderemos aumentar a nossa inteligência?

A Inteligência e a sua Quantificação

NOTA:

As conclusões resumidas que vou citar são retiradas de comunicações científicas e palestras de Andrea Kuszewski (nomeadamente na Universidade de Harvard – 2010). Ela é reconhecida internacionalmente como ‘ Terapeuta Ambiental’ e Consultora de crianças com o ‘Asperger’s Syndrome’ (o nível menos agressivo de autismo). Exemplo concreto: Tendo trabalhado durante 3 anos com uma criança com um ‘IQ’ de 80 (cobrindo as áreas de comunicação, leitura, matemática, adaptação social, capacidade para jogos e actividades de divertimento) o seu ‘IQ’ passou a ser de 100.

Recordando:

a inteligência(global) é pois a ‘soma/interacção’ das capacidades que fazem parte da inteligência fluida com as que fazem parte da inteligência cristalizada. Uma melhoria da capacidade de memorizar (que faz parte da inteligência cristalizada) é de grande importância para

o resultado final, pois é de certa maneira vital para aumentar a inteligência fluida (onde se encontra a capacidade para aprender informações novas, retê-las e usá-las como uma base para resolver problemas ou aprender a desempenhar novas tarefas).

As conclusões fundamentais são as seguintes: (1)

A inteligência fluida pode ser treinada, (2) Quando mais se treina, maior é o benefício, (3) Qualquer um pode aumentar a sua capacidade cognitiva.

Há cinco princípios a respeitar para ser possível um treino efectivo e eficaz do cérebro: (1) Procure coisas novas, (2) Desafie-se a si próprio, (3) Pense com criatividade, (4) Faça coisas da maneira mais difícil e (5) Relacione-se mais.

Eis um exemplo interessante para o ponto (4) : Em vez de usar o ‘GPS’ no seu automóvel, desligue-o. Isso obriga-o a um esforço mental muito maior ( ‘ginástica mental’ ).

Não vamos abordar aqui o recurso a produtos químicos (‘pílulas para a inteligência’) .

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Supostamente estas ‘pílulas’ aumentam o metabolismo e a circulação sanguínea cerebral, e como tal, aumentam a energia e a agilidade mental, reduzem a depressão e melhoram a memória e a capacidade de aprendizagem. (Diremos que as eventualmente menos perigosas são a cafeína e a glucose).

‘O que não vos mata, torna-vos mais inteligentes’? Mas atenção: pode mesmo matar-vos.

5. Varia a nossa inteligência com a idade? Podemos evitar o seu declínio?

A resposta à 1ª pergunta (Varia a nossa inteligência com a idade?) é simples: Varia . E nada melhor que um gráfico para visualizar essa variação. Atinge-se o pico pelos 2225 anos de idade e ‘a partir daí é sempre a descer’ (muito mais lentamente nas capacidades que fazem parte da inteligência cristalizada).

A resposta à 2ª pergunta (Podemos evitar o seu declínio?) também é simples: Não . Os neuro-cientistas descobriram que partes do nosso cérebro trabalham melhor ou pior consoante a nossa idade e que – no todo – a nossa capacidade cognitiva reduz-se com a idade (mas a rapidez e a grandeza dessa redução depende da saúde de cada um e da sua atitude mental ).

A Inteligência e a sua Quantificação

Variações de inteligência com a idade.

Conclusão desta ‘digressão’ pela inteligência e sua quantificação

Se quiserem fazer um teste de ‘IQ’ (grátis), sugiro como hipótese, uma visita a http://www.free-iqtest.net. Mas evidentemente, há inúmeras alternativas. Se não ficarem satisfeitos com o resultado, não se esqueçam de que há indivíduos muito inteligentes (ou mesmo, ‘génios’) que são uns seres humanos deploráveis.

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A Natação no Colégio Militar há 70 anos

A Natação no Colégio Militar há 70 anos

Neste tempo em que estamos confinados às 4 paredes, resolvo contar, sobre os tempos do meu percurso colegial, como nos refrescávamos e deliciávamos com os banhos nos dias quentes dos cinco estudos (época de preparação para os exames finais dos 3º, 5º e 7º anos).

O local mais utilizado era uma lagoa, com cerca de 10 metros de diâmetro, que existia aproximadamente no local onde foi construído o anterior estádio do Benfica. Esta lagoa, era resultante da extracção de barro durante décadas para a industria de tijolo nos arredores de Lisboa. A emigração para este local, que confinava a sul das instalações do CM, era relativamente fácil, visto que o muro era acessível. A natação não era livre de perigos, pois o barro fazia escorregar a malta para o centro da lagoa, na qual não havia pé. No entanto havia sempre nadadores de serviço, para puxar os incautos que também realizaram patinagem.

O outro local aprazível situava-se próximo do muro que delimitava o jardim da Enferma, onde está instalado o atual avião na parada. Este local era uma “verdadeira piscina”, pois tratava-se de um tanque de 8m x 4m, com cerca de 1,5m de profundidade. A água era límpida elevada por um moinho de vento, com uma estrutura metálica semelhante à que existia frequentemente no velho oeste americano. Este local pertencia a uma vacaria de uma quinta que se estendia do palácio Mesquitela até para lá da atual 2ª circular. Mais tarde soube que a quinta era arrendada pelo pai do Pinto Ferreira. O filho foi o meu mestre de ginástica na Escola do Exército, onde não era muito popular. Este oficial já no posto de Major foi Comandante do Corpo de Alunos no ano letivo 1964/1965, apreciado como um dos melhores oficiais nessas funções, tendo tomado decisões muito equilibradas.

Este local não era livre de perigos, pois o empregado da vacaria, quando se aper-

cebia da algazarra da rapaziada, telefonava para o CM. Além disso havia uma dificuldade acrescida, o muro era alto e só com ajuda é que se podia transpor.

A inauguração da piscina exterior e ginásio no dia 28 de Maio de 1949, foi feita com pompa e circunstância. Dias antes da inauguração, começou a ser cheia. A malta do meu 7º ano ansiava pelo banho e de termos a honra de sermos os primeiros a estreá-la. Assim na véspera, após o jantar, hora em que já não havia vigilância para impedir o banho antes do tempo, a malta finalmente inaugurou a magnifica piscina de 25m, coisa rara nesse tempo em Lisboa.

A partir dessa data foi o finalizar da vida colegial com muitos mergulhos e brincadeiras molhadas.

E assim desta forma ficam relatados os belos prazeres que água nos proporcionou em tempos cálidos dos finais dos anos letivos.

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Histórias do César Canuto

Histórias do César Canuto

Nota Inicial:

O César Canuto aqui recordado com saudade, foi o 272/1973, César Afonso Sanches Cruz Canuto, por alcunha, o “Chinês”, falecido em 13/12/2018, conforme noticiado na Zacatraz nº 217.

A TABELA DO CHINÊS

No Colégio havia professores sádicos como o Semita ou o Bastos. Mas havia também ótimos exemplos, como o grande Dario. Em Ciências da Natureza e Biologia tivemos a sorte de apanhar dois belíssimos stôres.

O primeiro era ga-ga-gago e chamava-se Pa-Pa-Pato. Mas não era nada bravo e adorava que os alunos participassem na aula. Por isso, ou talvez por ser gago, deixava sistematicamente as frases a meio.... para nós as terminarmos em coro. Ora nós, mamíferos insubordinados como éramos, um dia resolvemos nunca completar as frases. E o desgraçado do Pa-Pa-Pato passou uma aula inteira a ter que parar... e depois com-com-completar ele a frase.

O segundo tinha por alcunha Flica. Apesar da reduzida estatura, era um Professor com P grande, que nos ensinou muito. E uma das matérias que mais nos apaixonou foram as Leis de

Mendel, que explicam como os cromossomas se interligam para gerar cromos tão diferentes como nós.

Acontece que há uma outra lei, a de Murphy, que diz que tudo o que pode correr mal, corre mesmo. Neste caso a nossa turma, que em matemática não apreciava nada o X e o Y, viu aqui uma oportunidade para reinterpretar as Leis de Mendel e dar largas ao disparate e à criatividade. E foi assim que num certo dia, antes de uma aula, resolvemos fazer uma tabela completa no quadro com todas as permutações possíveis entre raças. Claro que, como não podia deixar de ser, 90% das permutações eram com o nosso amigo César: chinês com índio, chinês com negro, chinês com tudo e mais alguma coisa.

Depois de terminarmos, sentámo-nos com ar malandro a ver como o Flica reagia quando chegasse. E não é que, como professor inteligente, ele adorou a nossa tabela? Não havendo telemóveis na altura para fotografar o quadro, pediu ao chefe de turma para

a copiar para um caderno e guardou-a. Imagino que a terá mostrado a todos os amigos e ainda devem ter rido muito. E ainda bem, porque assim o nosso amigo chinês ficou para sempre um ícone da Biologia, lado a lado com Mendel e Darwin.

O CHINÊS, O TARZAN E O SANDOKAN (História 2)

Algures no ano jurássico de 1977/78 AT (Antes dos Telemóveis) alguns dos nativos do Colégio usavam o seu pouco tempo livre para ler. E digo pouco porque os nossos dias eram assim:

7h: Acordar, vestir, fazer cama, lavar cara

7h15: Bater calcanhares até ao refeitório 7h30: Engolir pão com manteiga 8h-13h : Aulas, aulas, aulas... 13h15: Bater calcanhares até ao refeitório 13h30: Engolir Amarelo 14h30-17h: Aulas, aulas, aulas...

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João Miguel Moura dos Santos da Costa Taveira 325 /1974 Nuno Eduardo Moura dos Santos da Costa Taveira 486/1974

17h-18h: Correr para as atividades 18h-20h: Estudo obrigatório 20h15: Bater calcanhares até ao refeitório 20h30: Engolir Arroz à Generalíssima 21h-22h30: Matrecos, ping-pong, futebol, damas, xadrez, ver Gabriela, ler. 22h30: Deitar

Como se vê, apesar deste conta-relógio, lá íamos lendo qualquer coisinha e alguém teve a ideia de começarmos a partilhar livros. Daí a termos um armário-biblioteca em cada sala de aulas foi um saltinho.

Um dia, estávamos nós prestes a entrar para mais uma aula entediante do Bastos, stôr de matemática e inventor do lançamento de apagador aos alunos, quando alguém teve um ideia brilhante: meter o chinês no armário e fechar a porta à chave! E ali ficou ele, aninhado entre o Tarzan e o Sandokan, com o nariz colado ao vidro.

Quando o Bastos entrou, como era da praxe levantámo-nos todos. Estávamos nós em sentido e a tentar não nos desmanchar a rir, quando o chinês bate no vidro para chamar a atenção. O Bastos vira-se para ele e, com ar incrédulo, pergunta:

- Sr. Canuto, o que é que está a fazer aí?

Perante a gargalhada geral, o Sr. Canuto lá saiu do armário (salvo seja) e a aula continuou. Mas, nos dias que se seguiram, ainda conseguiu colaborar noutra partida épica que deixou o Bastos passado dos catetos: ligámos um fio ao giz e, quando ele queria escrever as suas equações no quadro, o chinês, qual Harry Potter em Hogwarts, puxava o fio e o giz andava pelo ar, como se tivesse vida própria.

O CHINÊS E O EMPLASTRO ORIGINAL (História 3)

Nos dias que correm, a velha expressão “uma imagem vale mil palavras” perdeu sentido, porque qualquer pessoa tem milhares de fotos no telemóvel e cada uma delas vale apenas um post ou um emoji.

Mas na era pré-selfie e pré-instagram, as fotos eram tiradas com muito cuidado, porque revelá-las custava muito dinheirinho, como aliás se via pelo cognome que tinha o fotógrafo oficial do Colégio: chulógrafo.

Vem esta lenga-lenga a propósito de um episódio que se passou com o nosso amigo chinês na Feitoria.

A Feitoria era, para nós, um resort de férias espetacular. Além de usufruir da magnífica paisagem, podíamos estar com os nossos amigos sem formaturas, sem fardas e sem as regras normais do Colégio.

Ali podíamos jogar tudo e mais alguma coisa, ver cinema com um antigo projetor de bobines, ir à praia e dar largas ao nosso lado de teenagers inconscientes. Entre as atividades mais apreciadas contava-se a pesca de peixe-burro, a observação de miúdas e também a observação de pássaros. Neste caso, os pássaros eram os pombinhos que se tentavam esconder numa gruta da praia, certamente para desenvolver o seu conhecimento de anatomia. Assim que os víamos a chegar começávamos logo a mandar bocas, assobiar e distribuir todo o tipo de piropos, dos mais espirituosos aos mais alarves.

Mas se esta observação se passava ao lusco-fusco, durante o dia o normal

era vestirmos os nossos calções pretos tipo-tanga do Colégio e ir para a praia ver as miúdas passar.

Um dia, não havendo nada a registar na frente feminina, reparámos que uma mãe emigrante tentava desesperadamente tirar uma foto aos seus dois filhos pequeninos.

- Jean François senta-te ici! Martine, reste quiete!

Sentava-os junto à água, recuava para tirar e foto... e um deles lá se mexia e estragava tudo!

O chinês, prestável como sempre, resolveu “ajudar” à festa. Assim, de cada vez que a senhora dizia “olha o oiseau!” , ele passava à frente dos miúdos, estragando a foto. Isto repetiu-se 3 ou 4 vezes até que senhora desistiu.

Calcule-se a despesa que foi revelar as fotos e ter o nosso chinês em 5 ou 6 delas.

Mas a verdade é que podemos dizer que o chinês foi o Emplastro Original, depois imitado por tantos outros copycats que tentam ficar na fotografia.

FEITORIA (História 4)

O César Canuto passou para o meu ano depois de chumbar e, embora nunca tenha sido da minha turma, em pouco tempo ficou um dos meus mais chegados amigos porque ambos éramos dados à asneirada e ambos estávamos na equipa de futebol de 11 do CM ele como defesa central, alto e espadaúdo como era, e eu com defesa direito, mesmo sendo o tosco que sempre fui.

Outro factor de aproximação eram as férias passadas na feitoria do CM.

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Histórias do César Canuto

Histórias do César Canuto

Embora eu morasse em Oeiras, todos os anos ia 1 ou 2 turnos para a Feitoria (neste tempo isso significava entre 20 e 40 dias) e encontrava lá sempre o César e outros amigos como o Joca, os Santana Pereira, Zé Tó e Luís, o Bebecas, o Tesinho, etc. Naquele tempo a Feitoria era uma festa e uma fonte de amizade e de aprendizagem infinita tanto no que concerne à malandragem como à camaradagem. Também fazíamos desporto à brava todos os fins de tarde havendo campeonatos de tudo e mais alguma coisa (ex. xadrez, mini golfe, ping-pong, futebol, andebol, voleibol, basquetebol, etc) com um envolvimento tremendo de toda a gente e de todas as faixas etárias incluindo os oficiais e o pessoal da copa e respectivas famílias. A organização era fantástica e havia medalhas e taças para os que ganhavam. Foi também aqui que o César e todos nós aprimorámos a arte da conquista feminina na praia da Torre e de Carcavelos, no meio das várias mudas de pele por que passávamos em cada época (na altura não havia cremes protectores). Lembro-me bem dos shows de ginástica que dávamos na praia para impressionar as meninas, e que shows eram uma vez que nós éramos ginastas magníficos. Quando não estávamos a mostrar-nos na areia estávamos a molhar as garinas à entrada da água ou a mandar piropos mais ou menos aporcalhados a ver se pegava. Na tarefa de abordar as meninas sem as espantar éramos ajudados pelo Carlos e outros civis da nossa idade que connosco conviviam na feitoria uma vez que, como é evidente, eles tinham muito mais preparação do que nós no assunto.

A noite era bem vivida naqueles tempos passados na Feitoria sobretudo porque podíamos sair mais ou

menos à vontade para onde quiséssemos. Havia uma sala de jogos bem recheada de flippers e outras coisas electrónicas no Motel Estoril (depois Inatel de Oeiras e sem sala de jogos) que frequentávamos quando havia dinheiro para jogar. Íamos ao Torremar na praia da Torre, ao Narciso (hoje fechado à espera de restauro), à Pérgula (hoje o McDonalds), à Fateixa (hoje pizzaria Capriciosa) e outros cafés das redondezas até nos cansarmos, e depois voltávamos para a o ambiente seguro e conhecido da Feitoria onde havia sempre mais alguma coisa para fazer antes de dormir, tipo cartadas ou concertos musicais improvisados em que as malas faziam de bateria para o Tesinho.

Depois, como acontece a tantos de nós, saímos do CM casámos e separámo-nos por longos anos, algo que é normal porque é preciso estarmos longe uns dos outros para descobrir

a falta que os amigos de verdade nos fazem. Voltámos a encontrar-nos quando um belo dia o César me procurou no Instituto em que trabalho porque a filha tinha-se candidatado ao Curso de Ciências Farmacêuticas que coordenava. A partir daí nunca mais nos largámos e ainda conseguimos juntar a nós outros amigos do CM que tínhamos perdido de vista. Antes e depois do CM passámos juntos por tudo o que uma vida oferece, pelo bom e pelo menos bom, sempre com a certeza de que seríamos amigos até à morte que o apanhou demasiado cedo. Descansa em paz meu irmão.

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Feitoria antigamente. Local de férias de eleição de muitos Alunos.

A Viagem do Allegro

A volta ao Mundo do Veleiro onde também navegou a Barretina

Allegro

A volta ao Mundo do Veleiro onde também navegou a Barretina

(Galápagos - Marquesas)

Esta é a “perna” mais longa que estava prevista para o Allegro no programa de toda a volta ao mundo - cerca de 3.000 milhas, com a duração de vinte e sete dias.

É uma viagem capaz de pôr à prova qualquer tripulação, e por isso mesmo, pode ser considerada uma grande e dura aventura sob todos os aspetos, principalmen-

te físico e psíquico. Não é fácil para qualquer velejador aguentar tantos dias de mar, confinados apenas a uma dúzia de metros quadrados, em que as condições de vida são, muitas vezes, adversas.

Devido à sua extensão, o dia a dia a bordo das viagens oceânicas, nem sempre é um passeio divertido e maravilhoso, pois é possível ocorrerem todos os cenários.

Isto deve estar na mente de quem se atreve e propõe fazer uma viagem desta envergadura, para que não surjam surpresas desagradáveis e inesperadas, muitas vezes motoras de episódios de pânico ou quaisquer outras alterações de comportamento emocional.

Não estou de forma alguma a dramatizar ou a empolar a situação, mas sim-

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António Rui Prazeres de Castilho 147/1948 Foto nº1 Do arquipélago de Galápagos ao arquipélago das Marquesas.

A Viagem do Allegro

A volta ao Mundo do Veleiro onde também navegou a Barretina

plesmente a focar cenários reais, que ocorrem, por vezes, em ambientes e instantes como este. Escrevia Robert de La Croix « ….no mar tudo é possível, mesmo o inimaginável», não obstante o inimaginável estar quase no infinito e o imaginável à distância de um olhar!!! Depois de oito dias e vinte e duas horas, “levantamos ferro” do arquipélago de Galápagos, ao meio dia, 3 de março de 2015, (não pude ir ao desfile!), para a arquipélago das Marquesas, na Polinésia Francesa. Com o rumo da agulha 2 4 0 e muitas milhas pela proa, são as

hora!!!). Estas condições mantiveram-se até ao fim da tarde do terceiro dia, altura que cruzámos com um forte sckall (tempestade tropical), que nos obrigou a vestir os “fatos de tempo” Nestas latitudes a chuva cai com violência e com grande frequência. Nestes primeiros dias, as noites foram de lua cheia, mas com céu inicialmente nublado, tornando-se gradualmente muito limpo. Deslumbrante a imagem de um veleiro a navegar com mar chão, no meio de um oceano imenso, só limitado pela linha negra e oval do ho-

ta de «Homem do leme», sinto-me, no meio desta apaixonante e quase irreal envolvência, «O Rei Dos Mares». Felizes aqueles que, como nós, tripulantes do Allegro, tiveram a sorte e também, a coragem de planejar e realizar esta viagem, desfrutando igualmente destes maravilhosos e únicos momentos.

As avarias são sempre os grandes problemas destas viagens, principalmente, quando as reparações são complicadas e impossíveis de resolver com os poucos recursos do barco, nomeadamente material de substituição e mão de obra.

Apesar do Luís ter feito os possíveis e os impossíveis para repor a situação, recorrendo às peças de substituição existentes e à sua intuição cirúrgica de mecânico e eletricista, o bendito do gerador, que já nos tinha pregado, anteriormente, uma partida resolveu avariar novamente. Um gerador de recurso do tipo Honda é normalmente uma boa solução. Infelizmente o “Allegro” não tinha este equipamento e foi necessário tomar decisões equilibradas de forma a ser produzida unicamente energia para o essencial. Com uma “perna” de aproximadamente 3000 milhas e com a falta de vento, era preciso gerir com muita prudência esta situação, pois sem vento e sem gasóleo um veleiro não anda! Prudência era o que não faltava ao Comandante, por isso, step by step, foram tomadas as medidas adequadas para levar o Allegro a bom porto.

primeiras ilhas que se encontram — a primeira terra firme. Será um verdadeiro banho de ilhas, por esse Pacífico fora, até chegarmos à Austrália, lá para os fins de julho!!!

Largámos com o pano todo, a um largo folgado, com vento de alheta fraco a muito fraco, tendo de ligar, por vezes ao motor para manter uma velocidade mínima de 4 nós (menos de oito km/

rizonte. É um quadro fascinante, uma visão real e encantadora da natureza — um momento mágico! A luz da lua torna-se mais clara e intensa quando em todas as direções é refletida pela pequena ondulação do mar e pelo branco das velas. Tudo fica brilhante, luminoso, deliciosamente gigantesco, e nós, melhor diria, eu, porque estava de “quarto”, na minha pequenez infini-

Entretanto, as condições do mar e do vento não eram as melhores. Os squalls que com certa frequência cruzavam o nosso caminho transformavam a vida calma, num verdadeiro inferno. Francamente, não chegava a compreender se eram eles que cruzávam o nosso caminho se eramos nós que cruzávamos os caminhos deles! Possivelmente verificáram-se os dois casos. O vento, a vaga e a chuva que se levantavam em segundos

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Foto nº2 Ilha de Thuata (ilhas Marquesas)

A Viagem do Allegro A volta ao Mundo do Veleiro onde também navegou a Barretina

eram assustadores e requeria de todos nós uma atenção redobrada para governar o Allegro nas melhores condições. Por fora, tudo ficava molhado, lavado, mas impregnado de salitre, inclusive a tripulação; por dentro, a percentagem humidade era de tal ordem que o chão e tudo o resto se tornava escorregadio e ao mesmo tempo pegajoso. Eram trinta a quarenta e cinco minutos, no máximo, que durava esta borrasca. Depois, a chuva e o vento acalmavam, mas o mar, como sabem, ficava agitado por muito mais tempo! Outra situação muito desagradável, com vento fraco e simultaneamente mar forte, com vaga não muito alta, 2/3 metros, mas de “alheta”, (vaga que encontra o casco barco, do meio para a popa), o Allegro parecia dançar o twist! Apesar de ser uma embarcação pesada, de construção robusta, rodava a popa, de bombordo para estibordo e com inclinações acentuadas, na ordem dos 25º. Eu chamo-lhe parafuso, de tal forma que, por vezes, o piloto automático não conseguia governa-lo. O descansar e o dormir são coisas fundamentais e básicas da vida, para que se mantenha, dentro dos limites aceitáveis e desejáveis, uma recomendável saúde física e mental. Nas condições que descrevemos é difícil pegar um sono continuo, tranquilo e repousante. Somos constantemente abanados e sacudidos em todos os sentidos! O meu camarote fica situado a bombordo, tem duas camas, no sistema de beliche e uma casa de banho comum ao camarote de estibordo. Escolhi a cama debaixo, primeiro por estar mais perto do chão e em caso de tombo os estragos e o barulho serem menores; depois, porque é mais estreita que a outra, por estar localizada ainda na zona oval do casco. A vantagem de ser estreita não é óbvia, mas é funcional. Nas condições de mar, descritas, a única maneira de dormir é de cúbito dorsal, como dizem os clínicos, vulgo, de costas, de forma que as pessoas não rolem na cama. Com esta teoria, cama estreita

tem grandes vantagens - eu que o diga!

Melhor o diz o Luís Adão, que tendo o seu camarote à popa, com todos os requintes, incluindo uma cama King Size, no blogue do Allegro, escrevia a certa altura:

«…….As tentativas para se dormir dentro do barco significavam rolar na cama aos sacões, de um lado para o outro, sem posição estável. Tentar dormir cá fora, era igual a ficar todo molhado. Enfim, muito desconfortável……...»

A par destes infortúnios, próprios de uma viagem tão longa como esta, ainda não falei numa área muito sensível que é a cozinha. Ela continuou a merecer, não estrelas Michelin, mas estrelas Allegro!!! A cozinha nunca fechou, mesmo nas condições mais adversas, e, à falta de um, tínhamos dois cozinheiros, que confecionavam pratos apetitosos. Só para fazer crescer água na boca, lembro-me de um delicioso bacalhau no forno e um frango de fricassé feito pela Manuela, que estava um espanto; de uns bifes com molho de mostarda e natas, e de um risotto de cogumelos, desta vez preparados por mim, que tiveram nota positiva. Ao jantar, as sopas suculentas e saborosas contribuíam para repor os níveis da tripulação.

Para localizarmos a viagem, estamos no dia 22 de Março, com dezoito dias a navegar e ainda nos faltam 999 milhas para chegar às Marquesas! Este é o quinto dia sem vento. São dias maravilhosos, de sol reluzente, “com mar de azeite” e de um silêncio que se ouve, que paira no ar!!! Mas é um silêncio aterrorizador, dadas as circunstâncias e a invariabilidade das condições meteorológicas. Penso que a maioria das pessoas estão preparadas mentalmente para enfrentar, dentro de certos limites, tempestades — mas estarão preparadas para situações de calmarias? Neste momento, coloco firmemente as minhas dúvidas. Para muitos,

as calmarias são autênticas tempestades dentro de NÓS.

Via rádio, chegou a notícia que o Maquena, do Luc e da Sara, um Catamaran de 72 pés, tinha chegado no dia 20 de Março, depois de dezasseis dias de viagem. As condições de mar e vento estavam perfeitas para este tipo de barco e não foram apanhados pela calmaria, além de se tratar de um 72 pés….É um “senhor barco”

Para progredirmos e ajudar um pouco as velas, assim como carregar as baterias, o motor era ligado diariamente entre três e cinco horas - situação já de contenção. Mais um veleiro anunciou a sua entrada, o Ammel do Jean e da Cristiane, depois de dezassete dias de viagem. Com a mareação de “alheta” e “popa”, o Jean enverga as duas velas de proa, uma para bombordo e outra para estibordo, bem fixas pelos respetivos “paus de spi” e “escotas”, e lá vai o Ammel, como diz o povo – «na alheta». Só assim se pode percorrer esta distância em tão pouco tempo.

Dia 27 de Março, faz hoje, precisamente, seis meses que partimos de Lagos, faltando ainda mais quinze, para atracar em Portimão!

Finalmente, parece que o vento chegou. Deus queira que seja para ficar. Depois de doze dias de calmaria, o vento está a soprar a 12/14/20 nós, com um ângulo de 120/150º. O mar, por vezes, ficava agitado. Facilitei, e uma tigela de gaspacho foi parar ao chão. Uma grande sujidade espalhada pelo barco, para além da perda de uma boa sopa.

Tivemos uma avaria no sistema de transmissão da roda para o leme. O Luís, ao inspecionar a anomalia, descobriu uma porca no chão, conseguiu recuperá-la e colocá-la no seu lugar, repondo assim a situação. Já chegavam panes para esta perna. Pelos nossos cálculos chegaríamos a 02 de Abril, quase por engano! O vento tardou

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A Viagem do Allegro

A volta ao Mundo do Veleiro onde também navegou a Barretina

a entrar, guardou-se para os últimos dias e agora soprava a 18/20/25 nós, o que nos obrigou a “rizar” as velas para melhor governar o Allegro. Até que enfim, já não era sem tempo, começámos a ver o recorte das primeiras ilhas do Arquipélago das Marquesas, Motane e Fatuhiva.

Finalmente pelas 03.30 da madrugada, do dia 1 de abril, com um luar reluzente que iluminava toda a baía de Hana Moe Noa, depois de 28 dias e 15.30 horas de viagem, lançámos ferro no Arquipélago das Marquesas, na Ilha de Thuata.

Batemos todos os nossos recordes de permanência no mar. A nível pessoal, terminámos bem esta aventura, uma autêntica maratona de mar, que pôs à prova todas as nossas capacidades físicas e psíquicas; o mesmo não digo em relação ao material, que acusou bastante fadiga. Resta-nos a esperança de encontrar em Tahiti, por ser uma das ilhas mais importantes desta zona do Pacifico, oficinas e técnicos capazes de nos reparar o equipamento que trazemos avariado. Caso contrário, só na Austrália, mas é muito

longe, e só está prevista a chegada para fins de Julho!!!! «Vira para lá a sua bôôca», como diz o brasileiro.

Quanto ao aprovisionamento de víveres, pese embora as dificuldades e contratempos causados pelas avarias do equipamento de frio, tudo correu na normalidade, pois as compras foram feitas com uma folga superior à das outras «pernas», pensando numa eventual e não menos remota viagem de trinta e cinco dias!

Quando chegámos, já os outros veleiros se encontravam fundeados nesta baía, mas como era muito cedo, não deram por nós — dormiam tranquilamente na paz e na serenidade deste local. À medida que o dia clareava, o Sol lançava os primeiros raios de luz, as tripulações começavam a acordar e, quando davam pela nossa presença, saudavam-nos, ruidosamente, com as suas sirenes. A amabilidade das pessoas dos outros barcos não teve descrição, principalmente a Sarah e o Luc do Maquena. Como julgavam que nos faltava comida, trouxeram-nos tudo que nos poderia

fazer falta. Incrível o espírito de entre ajuda que se gerou no seio destas tripulações. No blogue do Allegro a Manuela escrevia à chegada:

«Publicada por Manuela Adão à(s) 13:58 ………Ninguém acordou em nenhum dos barcos e, ajudados pelo luar, fundeámos sem problemas em cerca de 10 m, e deitámos-nos a descansar, que bem precisávamos.

Acordámos de manhã, com a voz do Rui lá fora a falar francês com alguém, e pensámos que estaria a comprar fruta a algum indígena. Quando chegámos lá fora, é que percebemos: tinha sido a Sarah do Makena que tinha vindo no dinghy trazer-nos fruta, legumes, leite, pão, manteiga, ovos, tudo aquilo que achou que estaríamos há mais tempo a precisar. Foi uma surpresa fantástica! Pouco depois, o Casper do Aretha trouxe também uma toranja e uma papaia grandes, e… um jerrycan com gasóleo! Finalmente, apareceram o Jean e a Christiane do A Plus 2, com os habituais chocolates, que já se transformaram numa brincadeira entre nós! A recepção não podia ter sido mais calorosa e amiga! Ficámos encantados!

E, para terminar em grande, fomos convidados para tomar o pequeno almoço a bordo do Makena, um catamaran de 65 pés, onde foram chegando as tripulações do Aretha (os pais, os 3 filhos — 9, 8 e 3 anos, e uma amiga), do A Plus 2 (Jean e Christiane) e do Exody (Peter, Marian e um amigo). Assim, pudemos conviver com todos enquanto bebíamos cappuccinos e comíamos fruta e crepes feitos pela Sarah, que estavam uma delícia! O Luc veio-nos buscar e trazer ao barco».

Assim terminou a descrição de mais uma “perna” — a mais longa de todas.

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Foto nº3 Baía de Hana Moe Noa, Ilha de Thuata (Ilhas Marquesas)

Foi há 100 Anos Tratado de Trianon

Tratado de Trianon Foi há 100 Anos

OArmistício de Pádua de 3 de Novembro de 1918, que formalizava o termo da I Guerra Mundial, determinou que o Império Austro-Húngaro teria de proceder ao desarmamento das suas forças militares. Dez dias mais tarde, a Convenção Militar de Belgrado estabeleceu linhas de demarcação entre os exércitos húngaro, sérvio e romeno e, ao fazê-lo, colocou porções significativas de território húngaro sob controlo estrangeiro. A Hungria declarou formalmente a independência no dia 16 de Novembro como República Democrática da Hungria mas, porque se encontrava desprovida de forças militares conforme determinado no Armistício, nada pôde fazer para impedir os sucessivos avanços das forças estrangeiras, alguns dos quais bem para lá dos limites estabelecidos.

O Governo húngaro, muito fragilizado, demitiu-se em Março de 1919, sendo substituído por uma coligação de socialistas e comunistas que proclamou a República Soviética da Hungria. Este Governo alcançou alguns pequenos êxitos na luta contra os exércitos invasores mas as suas forças acabaram derrotadas em Agosto, sendo então instalado um Governo de sociais-democratas. Em Dezembro desse ano, a Hungria foi convidada a fazer-se representar em Versalhes, onde fora assinado o Tratado com o mesmo nome e onde decorriam negociações entre vencedores e vencidos na I Guerra Mundial.

As condições apresentadas pelos Aliados em 16 de Janeiro de 1920, sem consulta prévia a qualquer representante dos interesses húngaros, foram consideradas

inaceitáveis pela delegação húngara, que se esforçou repetidamente por alterar o texto proposto. A principal pretensão húngara consistia na realização de plebiscitos nas regiões a ceder aos países vizinhos, para se averiguar se as populações desejavam de facto separar-se da Hungria. Os Aliados, porém, não aceitaram rever o texto que haviam aprovado.

O documento que formaliza as alterações de fronteiras resultantes do desmembramento do Império Austro-Húngaro, foi finalmente assinado no Palácio Grande Trianon, de Versalhes, em 4 de Junho de 1920 pelos representantes dos Aliados (Estados Unidos da América, França, Itália, Reino Unido e Japão) e da Hungria.

Nos termos do Tratado de Trianon, a Hungria perdeu cerca de

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277/1950
Nuno António Bravo Mira Vaz

dois terços do território e um terço da população, num ajustamento territorial do qual os principais beneficiários foram a Roménia, a Checoslováquia e o Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos. Além disso, a Hungría comprometeu-se a pagar indemnizações de guerra, ficou proibida de fabricar artilharia pesada,

tanques e aviões, tanto de uso civil como militar, e os efectivos do seu Exército não podiam exceder 35.000.

Os principais territórios cedidos pelo Reino da Hungria foram:

– Parte da Transilvânia, que passou para a Roménia

Foi há 100 Anos Tratado de Trianon

– A Croácia-Eslavónia, Voivodina e Bosnia e Herzegovina, que se uniram no recém-estabelecido Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos

– A Eslováquia

– A cidade de Fiume, único porto em território húngaro.

The Dismemberment of Hungary by the Treaty of Trianon

- 4 June 1920

Yogoslavia

Czechoslovakia

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Legenda
Austria Romania

A Pandemia do COVID 19 e a Guerra Nuclear, dois Cavaleiros do Apocalipse

Quando for ultrapassada esta pandemia provocada pelo Coronavirus, a população mundial, tendo passado por grandes sacrifícios devido ao confinamento forçado, à perda prematura de entes queridos e ao desemprego, poderá ficar mais sensibilizada para poder avaliar melhor os efeitos, também planetários das explosões que uma guerra nuclear provocaria, muitíssimo mais gravosos do que os originados pelo misterioso vírus.

Um conflito nuclear pode ser deliberadamente desencadeado por um Estado que possua ogivas nucleares adaptáveis a mísseis capazes de as lançar sobre outro, por sua própria iniciativa ou para se antecipar a um ataque com esse tipo de armas que julgue iminente, nomeadamente a partir de submarinos. Neste

último caso, note-se o aumento da probabilidade de ocorrer uma avaliação da ameaça deficiente, facilitada pela ação de “Hackers” profissionais e pela disseminação criteriosa de notícias falsas, as tão propaladas “Fake news” . Um ataque nuclear poderá também ocorrer devido a uma inusitada sucessão de falhas de segurança ou por uma sofisticada ação deliberada de ciberguerra.

Actualmente um número crescente de países, nem todos seguindo regimes políticos democráticos, possuem arsenais nucleares e meios de lançamento ou estão em vias de alcançar essa capacidade, também desejada por algumas tenebrosas organizações terroristas.

Por outro lado, a previsível queda do Produto Interno Bruto mundial, o incremento que se observa na

falta de diálogo no plano internacional, devido ao estrangulamento financeiro e consequente perda de influência da Organização das Nações Unidas, ao auto-isolamento a que alguns Estados autocraticamente se remetem e a ambição hegemónica da superpotência asiática, geram um caldo de cultura propício a um aumento da conflitualidade no nosso planeta azul.

Enquanto o coronavírus, invisível a olho nu, surfa a gigantesca onda da globalização, galgando sem cerimónia fronteiras geográficas numa disseminação pandémica, os governos, embora com atraso, foram tomando cada um por si, medidas de proteção das suas populações, isolando-se, tentando proteger os seus cidadãos e adaptar os sistemas de saúde, procurando simultaneamente catalisar a descoberta de tratamento e vacina.

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A Pandemia do COVID 19 e a Guerra Nuclear dois Cavaleiros do Apocalipse

A Pandemia do COVID 19 e a Guerra Nuclear dois Cavaleiros do Apocalipse

Ora as explosões nucleares, para além das devastadoras destruições provocadas entre os contendores, geram nuvens de poeiras radioactivas, o “Fall out” , que transportadas nas asas de Eolo aproveitando as diferenças de pressão entre as massas de ar atmosféricas, percorrerão o planeta, dizimando seres humanos e animais, incluindo os nascituros, contaminando insidiosamente, durante muitos anos, as águas, os solos, o manto vegetal e os alimentos.

As bombas atómicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, no Japão, em Agosto de 1945 pelo Bombardeiro B-29 Enola Gay dos EUA no fim da II Grande Guerra Mundial e os desastres ocorridos nas centrais nucleares de Chernobyl, na União Soviética (hoje território da Ucrânia), em Abril de 1986 e em Fukushima, no país do sol nascente, em Março de 2011, ambos atingindo o nível 7 na Escala Internacional dos Eventos Nucleares, dão-nos uma pálida ideia dos efeitos medonhos da contaminação radioactiva.

Um conflito nuclear não afectaria apenas os Estados beligerantes mas outrossim muitos outros, que não disporiam de tempo suficiente para construir abrigos subterrâneos para as suas populações, nem para dispor de equipamentos de proteção individual suficientes para minimizar o contágio radioactivo galopante. Uma vez saído da garrafa, o Génio do Mal não é susceptível de ser recapturado.

Todos estes efeitos apocalípticos seriam naturalmente acrescidos

aos do aquecimento global causados pelas alterações climáticas em curso, para as quais a humanidade parece estar já sensibilizada, a avaliar pelo acolhimento recentemente proporcionado à jovem Gretta Thunberg por altas entidades e organizações a nível mundial, promovendo a aplicação do Tratado de Paris no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, aprovado em 12 de Dezembro de 2015.

Reflectindo a política internacional os interesses dos Estados, constata-se a total incapacidade dos governantes e de uma ONU esvaziada de poder, em conseguir suster a corrida ao armamento atómico, face aos gigantescos interesses envolvidos e à crescente tendência para o auto-isolamento por parte de importantes potências marítimas na Europa e na América. Neste cenário, desponta no horizonte o perfil ameaçador do segundo cavaleiro do apocalipse, o espectro de um conflito nuclear, quando a humanidade mal se refez da nefasta ação pandémica do primeiro.

Neste enquadramento de loucura mansa, as pessoas, sensibilizadas pela última pandemia, terão de pressionar fortemente os seus governos, nomeadamente nos Estados democráticos detentores da arma nuclear, para que promovam a realização de um Convénio Internacional para elaboração de um Tratado para total abolição das armas nucleares. O Secretário-Geral da ONU, um distinto português, respeitado tribuno, poderia talvez dirigir-se directamente às populações, utilizando

as possibilidades de comunicação ímpares hoje existentes, obtendo apoios de outras personalidades de relevo na intelligentsia mundial, explicando e exortando as pessoas para exigirem ação. A adolescente activista ambiental sueca apontou o caminho para o combate às alterações climáticas mas também urge evitar uma guerra nuclear.

O poder da Palavra continua a ser determinante e não pode ser desprezado. Antes que seja tarde.

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Altar

Guarda de Honra à Bandeira e ao Altar

Noutros tempos a vida no Colégio era mais dura. O regime de internato com poucas hipóteses de saída era o que mais pesava sobre os alunos e o fim de semana era o momento mais ansiado. Havia saídas gerais e saídas por notas, sendo as saídas gerais de quinze em quinze dias. Felizmente este regime, no meu tempo, foi sendo esquecido e o normal passou a ser a saída geral. A saída desde sábado à tarde até domingo à noite tinha de ser bem aproveitada. Contudo havia uma fatalidade que, de vez em quando e de surpresa, impendia sobre nós. Era quando, a meio da semana, na leitura da ordem era anunciada a lista dos escalados para fazer a guarda de honra à bandeira no domingo seguinte. Ficava a saída estragada.

A guarda de honra ao içar da bandeira era feita às oito da manhã e o arriar era ao pôr do sol, em hora determinada pelo nosso

general. Havia também que fazer guarda de honra ao altar durante a missa na capela, onde havia, em geral, mais alunos na guarda de honra do que na assistência. Assim, quando nos caía em sorte ser escalados, tínhamos que dormir no Colégio ou vir quase madrugada para o efeito, voltar a sair e, ao fim do dia, novamente no Colégio. Era um fim de semana estragado. Procurávamos por todos os meios uma alternativa, uma troca com outro ou, a muito custo, convencer algum dos camaradas que, não tendo família em Lisboa ou estando punidos, ficavam no Colégio.

A muito custo, poderiam aceder a substituir-nos. Consta que, por vezes, algum dinheiro trocava de mãos.

À hora determinada formava na rua, em frente ao portão principal e sobre as linhas dos eléctricos, a guarda de honra, o oficial de dia e o corneteiro. Com o trânsito in -

terrompido, ao minuto exacto eram feitos os toques, prestadas as honras militares e içada a bandeira, enquanto eventuais transeuntes se perfilavam. À tarde tudo se repetia.

Este ritual ia rodando pelas companhias e, como o efectivo da guarda de honra era pequeno, poucas vezes éramos atingidos por este contratempo. Na verdade, com tão pouco contacto com a família e o mundo exterior, qualquer saída era um bálsamo. E por reconhecerem que era importante contactar a família, havia a obrigatoriedade de escrever para casa todas as semanas, creio que à quinta-feira. Bastava um bilhete postal, custava cinquenta centavos e vendia-se nas secretarias das companhias. Nesse tempo os correios funcionavam bem e qualquer carta era entregue no destinatário no dia seguinte ao seu envio. Enfim, coisas difíceis de imaginar hoje.

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Guarda de Honra à Bandeira, na década de 30. O Cabo “20” içando a Bandeira. Guarda de Honra à Bandeira e ao

Hóquei em Patins

Hóquei em Patins

Entre 1950 e 1957, e sobretudo nos últimos anos, disputaram-se numerosas «ringalhadas» no «ringue» de patinagem que existia no Colégio ao lado do picadeiro. A assistência a essas disputas, cujas regras se aproximavam daquilo que o futuro veio a designar por «futsal» , eram sempre numerosas e barulhentas, especialmente quando se defrontavam equipas representativas de turma ou de ano. A maioria das vezes, porém, as equipas eram constituídas, para além do dono da bola, que tinha lugar cativo, pelos primeiros a chegar ao local. Recordo uma peculiaridade que distinguia a «ringalhada» do actual «futsal» : os ressaltos da bola na cercadura de madeira, com pouco mais de um palmo de altura, eram legítimos; de modo que uma das jogadas mais aplaudidas consistia exactamente em chutar obliquamente a bola contra a madeira, rodear o adversário que se aproximava perigosamente, e recolher a bola mais à frente.

O ringue era igualmente cenário de renhidos jogos de «hóquei em patins» , uma modalidade desportiva na qual Portugal acumulava títulos de campeão europeu e mundial e que por isso era muito popular entre os portugueses. Em 1951, foi o Batalhão em peso ao Pavilhão dos Desportos, apoiar a equipa de hóquei da AAACM num jogo contra a equipe da CUF, que derrotou por 5

a 2, sagrando-se campeã da 2ª Divisão Nacional. No Colégio havia sempre muitos interessados na modalidade, cuja prática era uma das mais desejadas pelos alunos, a seguir ao futebol de onze.

Se bem nos lembramos, os equipamentos nos nossos primeiros anos eram muito deficientes: os patins tinham rodas metálicas que a qualquer momento podiam abrir-se deixando cair esferas por todo o lado, os sticks estavam muito gastos, ninguém jogava com joelheiras e as bolas, feitas de madeira muito rija, há anos que haviam perdido a esfericidade. Só lá para meados dos anos 1950 é que começaram a ser usadas caneleiras e luvas de protecção.

As equipas dos três últimos anos1 disputavam um campeonato interno cujos jogos eram acompanhados por ruidosas manifestações das diferentes claques, registando-se mesmo incontáveis contendas verbais e físicas. Menos frequentes, mas não menos contundentes, eram as desinteligências no interior do ringue. Recordamo-nos de uma cena entre muitas: a equipa do 6.º ano2, na qual o Nuno Mira Vaz (277/1950) e o António Duarte Silva (59/1950) eram avançados, marcou um golo à equipa do 7.º ano, em condições consideradas faltosas por esta equipa. Estes jogos dispunham de árbitro, mas essa particularidade não evitava que a legalidade dos lances duvidosos fosse frequentemente

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O “ringue” de patinagem ao lado do picadeiro, ambos sacrificados para dar lugar ao “Colégio Novo”.

Hóquei em Patins

decidida por consenso entre os contendores – coisa raramente alcançável, como seria de prever. Estavam os jogadores de ambas as equipas a discutir o assunto quando o guarda-redes do 7.º ano, o Arcelino Mirandela da Costa (244/1949)3, inconformado com a desfeita, saiu da baliza com o stick ao alto, obviamente para dar com ele no tipo do 6.º ano que estivesse mais a jeito. Tanto quanto nos lembramos, fugimos todos a tempo. Qual das equipas terá ganho o jogo é para nós um mistério. Mas o António Duarte Silva está seguro de que foi a nossa, porque tem a certeza de não ter pago um maço de tabaco Aviz ao Zeca Correia Branco (232/1948)

– uma aposta que os dois mantiveram enquanto houve jogos entre as equipas do 6.º e do 7.º anos.

1 A modalidade começava a ser praticada mais cedo. No caso do nosso curso, terá começado em 1952,

(301/1946).

2 Após consulta ao Zé Machado Dray (217/1950) e ao António Duarte Silva (59/1950), admitimos como muito provável que tenham integrado as várias equipas do nosso curso, além dos já citados, o António Serpa Soares (189/1949), o Luís Filipe Leal da Costa (222/1950) e o Rodrigo Prelada de Freitas /297/1951). O Zé Dray foi durante algum tempo guarda-redes porque, segundo confessa, não sabia patinar para trás.

3 Nas décadas de 1970 e 1980 desempenhou importantes funções na área dos desportos, entre as quais as de Director-Geral dos Desportos.

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António Fernandes Duarte Silva 59/1950 José Francisco Pereira Machado Dray 217/1950 Nuno António Bravo Mira Vaz 277/1950 O 277/1950, pronto para mais uma partida, sem luvas, nem cotoveleiras, nem joalheiras, nem caneleiras. Assim se formava gente rija. sendo treinador da equipa o José Alberto Lopes Carvalheira

Sócios Honorários da Associação

Sócios Honorários da Associação

Do Artigo 5.º dos Estatutos em vigor (2015), relativo à admissão de Sócios Honorários da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar consta o seguinte:

SÓCIOS HONORÁRIOS

1. Podem ser sócios honorários, todas as pessoas, singulares ou colectivas, que tenham prestado serviços ou qualquer contribuição considerada relevante para os fins da Associação ou do Colégio Militar.

2.Podem ainda ser sócios honorários, os antigos e actuais servidores do Colégio Militar que a este tenham prestado bons e dedicados serviços, consensualmente reconhecidos, por tempo não inferior a 20 anos.

3. A atribuição da qualidade de sócio honorário depende de deliberação da Assembleia Geral Anual, tomada sobre proposta fundamentada da Direcção ou, ainda, sobre proposta fundamentada assinada por, pelo menos, cinquenta sócios efectivos, ambas instruídas com parecer do Conselho Supremo.” Mereceram, desde 1985 esta distinção nas seguintes Assembleias Gerais,

quarenta e sete pessoas singulares e uma colectiva, em manifestação de agradecimento pelo seu contributo para o Colégio:

ASSEMBLEIA GERAL DE 21/03/1985

• Sarg. Valentim Jorge, Enfermeiro, 5/4/1930 - 4/8/1942; 16/8/1944 - 21/2/1976

• Dr. Cristóvão de Sousa Lima, Professor, 30/04/1941 - 30/09/1977

• Dr. João Navarro Brasão, Professor 19/11/1941 - 01/05/1981

• Dr. Júlio de Jesus Martins, Professor, 08/01/1944 - 06/03/1979

• Maestro Jaime da Silva, Professor, 30/08/1947 - 10/11/1968

• Sr. Alberto Gomes de Araújo, Fâmulo, 08/03/1928 - 08/12/1975

• Sr. Cândido Gomes Alves (Moca), Fâmulo, 17/01/1943 - 25/04/1983

ASSEMBLEIA GERAL DE 24/03/1986

• Sr. José Ramalho Farias, Barbeiro, 10/01/1944 - 30/06/1983

• Dr. Norberto Pina Lopes, Professor 01/08/1944 - 29/10/1980

• Prof. Carlos Dario Fernandes, Professor, 14/10/1963 - 01/11/1995

• Sr. Germano Bernardo Correia, Fâmulo, 17/10/1949 - 01/09/1987

ASSEMBLEIA GERAL DE 30/03/1988

• Sr. Manuel Mendes de Sousa, Fiel Principal, 2/06/1948 - 23/03/1984

• Cap./Eng. Mário Saraiva, Professor, 5/11/1954 - 3/09/1975

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Martiniano Nunes Gonçalves 9/1958

Sócios Honorários da Associação

• Dr. João da Cruz Pinto, Professor, 1/10/1954-1983

• Sr. Joaquim Francisco Ramos, Fâmulo, 1/01/1946 - 23/03/1984

ASSEMBLEIA GERAL DE 30/03/1995

• Cor. Júlio Beirão de Brito, Professor 29/2/1944 - 5/10/1960; 5/11/1966 - 3/5/1978

• Cor. José Farinha dos Santos Tavares, Professor, 3/6/1961 - 1/5/1963; 3/10/1965 - 15/3/1967; 29/12/1972 - 1/4/1990

• Dr. Fernando Venâncio Peixoto da Fonseca, Professor 11/11/1945 - 31/03/1984

• Dr. Miguel Pinto de Menezes, Professor, 7/11/1949 - 31/07/1984

• Dr. José Neves Henriques, Professor, 15/10/1954 - 30/10/1969; 1/7/1974 - 21/6/1986

• Dr. António Dias Miguel, Professor 25/10/1949 - 30/09/1972

• Dr. António Monteiro Romão, Professor, 1/10/1965 - 30/09/1994

• Dr. Manuel Carlos Dias, Professor, 14/10/1963-20/08/1995

• Revº Padre António Valdomiro Lusitano Leal, Professor, 1/10/1977- 22/07/1995

• Escultor José João Carneiro de Brito, Professor, 6/01/1969 - 10/05/2004

• Dr. Mário Garcia do Carmo, Professor, 1/10/1974 - 6/07/2004

ASSEMBLEIA

GERAL DE 29/03/1996

• Sr. Manuel António da Cunha, Auxiliar de Serviços, 25/02/1947-1/03/1986

• Cor. António Varela Romeiras Júnior, Comte de Companhia e Instrutor de Equitação, 24/02/1949 - 30/6/1955; 7/11/1955-1/2/1957; 30/9/1962-17/7/1963

• Ten.-Gen.- António Máximo Calisto e Silva, Director do Colégio Militar, 19/10/1988 - 31/07/1992

• Sr. José Marques Miranda Fâmulo, 7/10/1948 - 26/02/1987

• Sr. Reinaldo Ferreira Mota Oficial Administrativo Principal, 14/02/1949 - 31/05/1996

ASSEMBLEIA GERAL DE 31/03/1997

• Revº Padre, José Maria Braula Reis, Capelão, 24/10/1950 - 24/4/1956; 6/10/1958 - 13/05/1961

• Cap. Joaquim Nunes, Comte de Companhia e Ajud. do Comte do Corpo Alunos

ASSEMBLEIA GERAL DE 31/03/1998

• Cor. José da Câmara Vaz Serra, Arquitecto, 1989 - 2005

• Revº Padre Miguel da Silva Carneiro, Capelão, 9/10/1969-19/07/1997

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Padre Capelão Braula Reis Fâmulo Candido Gomes Alves (Moca) Fâmulo José Marques Miranda Barbeiro José Ramalho Farias

• Sr. Leonel José da Silva Tomaz, Encarregado de Instrução/Audiovisuais, 3/01/1977 -31/08/2011

• Cor. José Galaôr Ribeiro, Presidente da Assoc. A. Alunos dos Colégios Militares do Brasil

• Sarg. Ajud. Manuel do Rosário Coelho, Responsável viaturas do Colégio

ASSEMBLEIA GERAL DE 29/03/2000

• Jornal “Correio da Manhã” Imprensa Diária

ASSEMBLEIA GERAL DE 27/03/2002

• Ten.-Gen. Samuel Matias do Amaral, Comandante da Instrução do Exército, 1998-2001

• Sr. José Maria Pereira, Funcionário do Bar de Oficiais

ASSEMBLEIA GERAL DE 29/03/2004

• Sr. Manuel Marcelino Nunes, Técnico Bibliotecário, 13/02/1960 - 1/08/2002

ASSEMBLEIA GERAL DE 12/10/2012

• Sarg.-Chefe, Diamantino Candeias Arrifes, Monitor de Equitação, 10/08/1983 - 2/03/2002

ASSEMBLEIA GERAL DE 23/03/2018

• Professor Adriano José Alves Moreira, Amigo do Colégio Militar

• Ten.-Gen. João Nuno Jorge Vaz Antunes, Chefe Casa Militar do

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(326/1985) ANTIGO ALUNO USA A BARRETINA (Tem “Feitiço”)
©Foto Sérgio Garcia
Sócios Honorários da Associação

Cama ao Poço!

Todos sabemos o que é, e o que isso significava na Camarata, aquele que foi um espaço de vida nosso e de mais ninguém.

Hoje, a Camarata é muito maior, estamos espalhados pelo País e pelo Mundo, mas, em certo sentido as camas continuam perto umas das outras, mesmo que disso não tenhamos, muitas vezes, consciência.

Vem isto a propósito de uma ideia do Francisco Araújo (591/2005), nestes tempos de reclusão forçada pela pandemia que nos envolve, infelizmente nada parecidos com a reclusão da Camarata, onde a vida, depois das 10 da noite, ocorria, quase sempre, com muita agitação.

Propôs o Francisco Araújo à Direcção da Associação, numa evidente manifestação das ligações que nos unem, da proximidade entre gerações colegiais e da nossa capacidade de nos ajustarmos às actuais tecnologias de comunicação, a realização de entrevistas curtas, realizadas entre Antigos Alunos, com alguma nostalgia do “quem somos e por onde andamos” que teve presença na nossa Revista (hoje ZacatraZ) ao longo de muitos anos, mas agora, em vídeo difundível pelos meios electrónicos de comunicação da Associação.

A proposta foi, com entusiasmo, prontamente aceite pela Direcção. Procuramos, deste modo, inicialmente ao ritmo de duas entrevistas por semana, dar a conhecer no Site, no facebook, e noutras plataformas digitais, principalmente notícias de Antigos Alunos com histórias de vida e acontecimentos menos vulgares, ou que se encontram espalhados pelo Mundo, esperando que, a partilha que cada um possa fazer, alcance o maior número de Antigos Alunos e pessoas possível.

A primeira entrevista “foi para o ar” no dia 11 de Abril, sendo entrevistador o Francisco Araújo e entrevistado o Presidente da Direcção da Associação, o Filipe Soares Franco (62/63).

À data da publicação da Zacatraz em que esta notícia é inserida, terão já sido difundidas 21 entrevistas.

Aqui fica o apelo a todos os que tiverem veia entrevistadora para contactarem um dos elementos da equipa que pôs de pé o projecto:

Filipe Soares Franco (62/1963), Martiniano Gonçalves (9/1958), Nelson Lourenço (377/1982), Pedro Veloso (429/1986), Tiago Baleizão (200/1987), André Pardal (353/1992), Ricardo Galvão (347/1997), Manuel Felgueiras (498/2006) e Francisco Araújo (591/2007).

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Cama ao Poço

Antigos Alunos nas Artes e nas Letras

Antigos Alunos nas Artes e nas Letras

RECENSÃO DE LIVROS:

História da Escola Prática de Cavalaria. Memória (1890-2013)

VV.AA., (coord. major-general José Ribeiro Braga), Escola Prática de Cavalaria. Memória (18902013) , Porto, Fronteira do Caos, editores, 2018

O livro, em edição cuidada e profusamente ilustrada, conta com a colaboração de nove oficiais da Arma que acompanham a Escola Prática de Cavalaria (EPC) nas suas quatro localizações: Vila Viçosa, Torres Novas, Santarém e Abrantes.

A primeira parte do livro inclui capítulos dedicados à simbologia, à heráldica e às numerosas condecorações e distinções, um Prefácio de um dos comandantes da EPC, o major-general Tiago de Almeida e Vasconcelos e, por fim, um texto de enquadramento teó -

rico sobre o comando da Unidade doutro antigo comandante, o general António Martins Barrento (AA 40/1948).

A parte dedicada às quatro localizações abre com o período durante o qual a EPC teve sede em Vila Viçosa (1890-1902). Conta com uma revisão dos antecedentes, da autoria do coronel António Marcos de Andrade, bem como com uma curiosíssima colecção de fotografias da época, com a galeria dos comandantes e com uma mensagem do presidente da Câmara de Vila Viçosa.

Segue-se o capítulo dedicado ao longo período de permanência em Torres Novas (1902-1957), a cargo do coronel Paulo Jorge Lopes da Silva (62/1977). O autor

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Antigos Alunos nas Artes e nas Letras

começa por nos dar conta das dificuldades que tiveram de ser vencidas nos últimos anos da Monarquia – um período particularmente perturbado da vida nacional –, durante os quais, tal como nos primeiros anos após a instauração da República em 1910, a EPC funcionou basicamente como escola de equitação, tendo perdido a função até aí exercida de formar os oficiais da Arma. A participação de forças da EPC na Grande Guerra contribuiu para ampliar as dificuldades por que passavam todos os sectores da sociedade portuguesa e naturalmente as suas Forças Armadas. Na sequência da revolta militar de 1926, a EPC foi profundamente remodelada, passando a funcionar como principal centro de estudos e retomando as anteriores funções de instrução técnica, táctica e equestre, na dependência da Direcção da Arma de Cavalaria. Nos primeiros anos da década de 1940, as Subunidades a cavalo começaram a ser substituídas por Subunidades motorizadas de diversa tipologia, sendo de destacar a aquisição dos primeiros carros de combate do Exército português. Este período é complementado por uma bem-humorada crónica do major-general António Pereira Coutinho acerca das principais peripécias do seu Tirocínio para oficial, por uma Mensagem do presidente da Câmara de Torres Novas e por uma impressionante Memória Fotográfica e Documental, onde sobressaem as fotografias relacionadas com a famosa descida das Ferrarias.

O major-general António Pereira Coutinho é o responsável pelo capítulo seguinte, intitulado «O meu testemunho» , no qual relata os vinte anos em que esteve ligado à EPC, de início em Torres Novas e depois em Santarém.

Segue-se o capítulo dedicado à estadia em Santarém (1957-2006), da autoria do coronel Francisco Amado Rodrigues. No período inicial, as funções principais da EPC consistiam na instrução dos quadros da Arma, encaminhando-os no sentido da motorização e da mecanização. Iniciadas as acções militares no Ultramar português em 1961, a EPC passou a proporcionar instrução de contra-guerrilha aos quadros da Arma, tendo além disso mobilizado e instruído o Esquadrão de Cavalaria n.º 122, o qual sofreu sete mortos e duas dezenas de feridos em combate no decurso duma comissão de serviço em Angola. A história resumida da actividade operacional deste Esquadrão comandado pelo capitão Ricardo Ferreira Durão (17/1938) é-nos contada pelo coronel José de Ataíde Banazol (631/1968).

A EPC desempenhou papel relevante tanto no golpe militar de 25 de Abril de 1974 – que aqui nos é contado de forma resumida pelo coronel Joaquim Correia Bernardo –, como na reposição da normalidade democrática em 25 de Novembro de 1975 – com relato explicativo a cargo do coronel António Garcia Correia –, acontecimentos nos quais se notabilizou o então capitão da EPC Salgueiro Maia. Posteriormente a EPC foi alvo de sucessivas reformas que acompanharam a chegada de novos materiais, com destaque para os carros de combate M48A5 em 1977, as viaturas blindadas de reconhecimento Ferret em 1979, as viaturas blindadas de transporte de pessoal M113 na década de 1980, em 1991 as viaturas blindadas de reconhecimento M11 Panhard para substituir as Ferret e em 1995 os carros de combate M60A3 para substituir os M48A5 . A última grande reformulação ocorreu

em 2004, para se adaptar ao termo do serviço militar obrigatório. O capítulo é acompanhado por uma Memória Fotográfica e Documental, pela Galeria dos comandantes e por uma Mensagem do presidente da Câmara de Santarém.

Em 2006, a EPC foi transferida para Abrantes, onde permaneceu até 30 de Setembro de 2013. Nesse período, segundo nos dá conta o coronel Paulo Pereira Zagalo, a Escola ministrou instrução de diversa natureza aos quadros da Arma, além de cursos de formação a oficiais, sargentos e praças. No domínio dos novos materiais, assinala-se a chegada ao Exército, em 2008, dos novos carros de combate Leopard 2 A6, de origem alemã, cuja instrução, ao contrário do que era tradicional, não coube à EPC. Foram também adquiridas nesse período (2012) as viaturas blindadas de transporte de pessoal Pandur II 8x8, cujos condutores foram instruídos na Escola. O capítulo conta com a habitual Memória Fotográfica e Documental, a Galeria dos comandantes e uma Mensagem do presidente da Câmara de Abrantes. No Posfácio, o major-general José Ribeiro Braga, para além de agradecer a todos os militares e civis que colaboraram na elaboração do livro, põe em destaque a forma como ao longo de cento e vinte e três anos a EPC funcionou como uma escola de modernidade doutrinária, enquanto transmitia aos militares ali colocados os valores, as normas e os códigos característicos da Arma de Cavalaria.

Livros como este são instrumentos indispensáveis da memória histórica. Sem eles, o passado corre sério risco de se desvanecer até não mais ser lembrado.

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Curso de 1987/1995 Romagem dos 25 Anos de Saída

Curso de 1987/1995

Romagem de 25 Anos de Saída 21 de Fevereiro de 2020

Decorridos 25 anos sobre a sua saída do Colégio, o curso de saída em 1995, reuniu-se de novo no Colégio, para mais uma vez matar saudades da Casa que os educou. Estiveram presentes os seguintes Antigos Alunos:

Ricardo Alberto de Sousa Ribeiro Rebordão de Brito (8/1987), José João Direito de Morais Guerreiro (10/1987), Alberto João Gomes Xavier de Brito (25/1987), João Carlos Benevenuto Falcão Correia Gonçalves (32/1987), Tiago Manuel da Gama Barros (49/1987), Ricardo Dinis Fonseca dos Santos Almeida (76/1987), Miguel Alexandre Trindade de Miranda da Conceição Santos (83/1987), Sérgio Paulo Macedo Alves (108/1987), Diogo de Brito Calado (115/1987), Jorge Alexandre Cruz Albano da Silva (121/1987), Nuno

Manuel dos Santos Justino (143/1987), Pedro Ferreira do Amaral Ribeiro Laia (156/1987), Rodrigo Filipe dos Reis e Rosa Rodrigues (162/1987), Pedro Magalhães Adão (164/1987), Hugo dos Santos Paes (169/1987), Tomé Barros Caldeira (181/1987), Hugo Filipe Cordeiro Morais Carneiro (183/1987), Tiago Simões Baleizão (200/1987), Pedro Queiroz Antão (202/1987), Nelson Manuel Cabral dos Santos (219/1986), Rui Gonçalo Pires Pintado (245/1987), Hugo Bastos Pereira Damião Dias (246/1987), João Pedro Teixeira Vaqueiro (260/1986), Luís Manuel Nunes de Matos (324/1987), Nuno José da Fonseca Pires (336/1986), Carlos Jorge Rodrigues Valdrez (354/1987), Pedro Alexandre Fernandes da Ponte (386/1987), Jorge Miguel Gomes Gonçalves (387/1987), João António da Sil-

va Lopes Bordalo Matias (395/1987), Hugo Manuel Marques Resende (439/1986), Mauro Filipe Romeiras Dias (467/1986), David Miguel Bramão Pais de Abrantes (477/1986).

Convidados:

Escultor: José João Brito Professor: Mário Carmo Professor: José Manuel Matos

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©Foto Leonel Tomaz Curso de 1987/1995 - 25 Anos de Saída - 21 de Fevereiro de 2020

Os que nos deixaram

Carlos Frederico Dias Antunes

(212/1939)

Depois, ele terminou o curso colegial e, não tendo sido próximos na idade, perdi-o de vista durante uns dez anos.

O212/39, Carlos Frederico Dias Antunes, o “Bugalho”, alcunha que lhe veio dos “gerais” de “Menino da Luz” faleceu a 23 de Março passado com 92 anos de idade. Faria os 93 em 27 de Outubro, pois nascera na cidade de Huambo (Angola) no ano de 1927.

Era filho de Fernando Dias Antunes e Sarah Maduro e descendia de uma linhagem de oficiais do Exército e antigos alunos do Colégio Militar. Teve sete irmãos e irmãs o mais novo dos quais, o ex-221/48, Luis Manuel Dias Antunes já falecera há alguns anos, em consequência de sequelas de ferimentos sofridos em Angola num rebentamento de mina. As três irmãs foram “Meninas de Odivelas”

Entrou para o CM em 1939, para o 2º ano, tendo terminado o curso em 1946. Em 24 de Outubro de 1954 casou em

Goa com Carmen Paisley com quem teve quatro filhos: Luís Filipe Dias Antunes (234/64); Fernando Carlos Dias Antunes (212/65); Álvaro Francisco Dias Antunes (que não estudou no Colégio) e Jorge Miguel Paisley Dias Antunes (224/76). Do Carlos Frederico, enquanto aluno do Colégio Militar, poucas lembranças conservo, dadas as nossas difereças de idade; andaria ele pelo 4º ano quando, em 1944 eu entrei para o CM; curiosamente também para o 2º ano. Apenas guardo umas imagens mais tardias, já ele finalista e guarda-redes da equipa de futebol do Colégio, em desafio com a equipa do Liceu Pedro Nunes, no campo deste. Recordo-o a fazer defesas fantásticas e manter inviolada a baliza colegial, proeza de vulto, já que o “Pedro Nunes”, na época, tinha uma equipa de respeito. Mas o Carlos Frederico, embora não muito alto, possuía uma agilidade verdadeiramente felina.

Em novembro de 1955, fui individualmente mobilizado para a Índia (Goa-Mapuçá) com destino ao Esquadrão de Cavalaria nº 2. A viagem, pelo Mediterrâneo, a bordo do “Quanza”, decorreu calma e terminou no porto de Mormugão, cerca de vinte dias depois. Aí tive a grata surpresa ter à minha espera o Carlos Frederico que, logo que recolhidas as bagagens pessoais, me conduziu para o jeep que no cais nos aguardava. Pelo caminho para a cidade de Mapuçá, foi-me iniciando sobre o tipo de unidade que iria encontrar, sua missão e nomes dos oficiais com quem iria conviver durante dois anos (pelo menos), sempre em tom alegre e familiar, como se nos tivessemos separado na véspera.

O comandante do esquadrão era o capitão Joaquim Ribeiro Simões ex-aluno nº 291/34. Coadjuvavam-no o Tenente Nelson Guedes Valente, oficial do quadro permanente e dois tenentes milicianos: Rocha Pinto e Dias Antunes. Eu, alferes “maçarico” (22 “verdes anos”) fecharia o grupo de comandantes de pelotão. Rocha Pinto e Dias Antunes, já casados, viviam em casas arrendadas perto do aquartelamento e nós, os solteiros, numa terceira casa, um pouco mais distante. Coabitava connosco um capitão capelão - padre Félix.

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Coronel do Exército Nasceu a 24 de Outubro de 1927 Faleceu a 26 de Março de 2020 Os que nos deixaram

que nos deixaram

O meu entrosamento nesta nova família foi muito facilitado pelos casais. Ambos já com filhos, cujas esposas, em particular o casal Dias Antunes, tudo fizeram para que me sentisse menos isolado, convidando-me, frequentemente para tomar refeições em suas casas. O Carlos Frederico e a Carmen – sua esposa – em especial, estragavam-me com mimos e conselhos de compras de artigos para o lar (eu, apesar de quase juvenil já assumira o compromisso de noivo). Com esse amicíssimo casal, aprendi a apreciar os caris, pulaus, chacutis, bajis, achares e até doces como a famosa bebinca de Goa.

O Carlos Frederico e a Carmen faziam questão de me iniciar nos sabores e aromas das especiarias indianas e apresentavam-me na sociedade local que, no círculo “brâmane”, fosse “indu” ou “cristão”, comportava gente com estatuto cultural inesperado – médicos, juristas, músicos ou arquitectos...

Nos actos de seviço o Carlos Frederico, positivamente, adoptou-me como poucos tratam os irmãos de sangue mais novos, ajudando-me nas dificuldades que a minha menor idade e inexperiência revelavam. Ele próprio era um oficial altamente exigente consigo mesmo e, por reflexo, com os subordinados. Mas nunca esquecia o sentido pedagógico quando tinha que admoestar.

Tinha duas paixões na vida: a Verdade e a Justiça – a par com a sua adorável companheira da vida, com quem comungava um permanente estado de paixão. Mas essa forma extremada de viver a vida conjugal fazia-o também em todos os actos da Vida. Odiava a injustiça e, quando se deparava com tais situações, fosse quem fosse o ofendido, tudo fazia, removia céus e terra, fosse rico ou pobre, novo ou velho, homem ou mulher, para forçar a reparação da ofensa, como se fosse ele a sofrê-la. Isso foi-ilhe criando, ao longo da vida – como eu viria a constatar – alguns anticorpos junto de personalidades com a coluna vertical mais “flexível”...

Terminadas as comissões em Goa – a dele e a minha – novo período de afastamento se nos impôs. Nesse interlúdio, o Carlos Frederico viveu muitas vidas. Ingressou no Quadro do Serviço de Material do Exército, foi promovido a capitão, serviu na PSP, no Instituto dos Pupilos do Exército, no Colégio Militar e no Ministério da Defesa Nacional. Uma vez passado à Reserva e não conseguindo estar parado, aproveitou a oportunidade de, numa fábrica no Seixal, de cortiça, moldes e plásticos, onde sua esposa Carmen já trabalhava há anos, aceitar o convite para colaborar na mesma, até atingir a idade legal da reforma.

Uns largos anos depois, voiltámos a contactar de perto e diariamente. Tivera lugar o 25 de Abril e o Carlos Frederico estava colocado, como docente, no Colégio Militar, então dirigido pelo coronel de Engenharia – mais tarde general – Perry da Câmara (143/39). Eu estava “em pausa 25/4” e “pendurado” em casa. O velho Amigo achou que era um desperdício e lembrou ao Director a conveniência do meu reaproveitamento, como professor polivalente, na Casa em que

os três fôramos formados. A sugestão foi acolhida e eu haveria de ali servir, com muito gosto e reconhecimento durante cerca de 16 anos. Devo à memória do meu velho Amigo a sua fraterna intervenção nesse momento difícil da minha vida.

Enquanto o Carlos Frederico se manteve no CM, pude confirmar a competência, dedicação e empenho que pôs em todas as missões para que foi nomeado, tratando cada um dos alunos com o carinho, mas também, com a firmeza quando se impunha, como se seus filhos fossem. Grangeou respeito entre os professores – agora quase todos civis – e conquistou numerosas amizades entre o pessoal auxiliar, dado o seu trato alegre e afável.

Em 11 de junho de 1993 acontece-lhe o maior choque que iria modificar-lhe radicalmente a sua vida: A esposa amada, sua Luz e Farol da sua existência morre subitamente de forma dramática.

Entre numerosos amigos e muitos ex-alunos, minha mulher e eu fomos ao funeral. A urna pemaneceu aberta enquanto durou a missa de corpo presente. Carmen vestida com o Sari azul-celeste com que havia casado, quarenta anos antes, parecia apenas dormir um sono sereno. Um verdadeiro anjo que partira sem se despedir...

Da sua falta, o Carlos Frederico nunca mais iria recuperar , mas com uma vontade férrea e a Fé que ambos comungavam, empenhou-se em viver com dignidade, assumindo as tarefas domésticas, escrevendo memórias, fruindo as amizades que grangeara ao longo da vida e disponibilizando-se inteiramente para os filhos e netos.

Agora,chegou a hora de, noutra dimensão, ir reencontar a companheira e único amor da sua vida. Que Deus os guarde para a Eternidade

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João Martins Ribeiro Mateus (169/44) Goa.Mapuçá-Casal Dias Antunes em sua casa Os

Alfredo Alberto de Seabra Estrela Esteves

(382/1953)

ATÉ SEMPRE “PIPÓ”, 382/1953

Alfredo Alberto de Seabra Estrela Esteves, nasceu a 17 de Fevereiro de 1943 em Coimbra, filho de Manuel Inocêncio Estrela Esteves, médico, e Maria Emília Ferreira de Seabra Estrela Esteves.

O “Pipó”, nome porque ficou conhecido entre nós, entrou para o Colégio Militar em Outubro de 1953, tendo-lhe sido atribuído o número 382, e completou ali o curso em 1960. Desde cedo mostrou ser um jovem com personalidade vincada mas muito afável. Extrovertido, amigo do seu amigo o Estrela Esteves foi daqueles que embora afastado de nós geograficamente nunca o podemos esquecer.

Ligava-lhe frequentemente para o convidar para os nossos almoços mensais mas os seus afazeres profissionais e, se calhar, alguma inércia nunca lhe permitiram vir até à capital.

A última vez que estivemos com o “Pipó” foi em 11 de Novembro de 2013 quando comemorámos os 60 anos de

entrada para o Colégio. Foi bom ter estado com ele naquele dia especial e ouvir mais algumas das suas infindáveis histórias. Saído do Colégio ingressou no curso de Medicina na Universidade de Coimbra, licenciando-se em 1970. De 1972 a 1975, esteve em Angola já como médico e alferes miliciano, regressando a Portugal apenas após o 25 de Abril. Regressado de África, dedicou-se à obtenção da sua especialidade médica em Pediatria e foi um membro activo da equipa inicial do Hospital Pediátrico de Coimbra. Também no pós 25 de Abril e no esforço das campanhas de vacinação e alfabetização, deu consultas e participou em várias campanhas na periferia, nomeadamente no concelho de Penela.

Já em Aveiro, abriu a sua clínica privada, Alfredo Esteves, Lda. em 1980 e desenvolveu uma actividade profissional bem sucedida tendo vindo a ser o pediatra de várias gerações de Aveirenses. Na sua prática e exercício da medicina, manifestavam-se a sua atitude pedagógica para com os pacientes e as suas famílias, uma visão solidária dos cuidados de saúde e uma forte aposta na medicina preventiva e social. Como médico no Hospital Distrital de Aveiro e pediatra residente do quadro, foi uma força opositora ao desinvestimento sistemático e eliminação de serviços. Durante um breve período de dois anos

nos anos 90, foi Director Clínico do Hospital Distrital de Aveiro. Foi membro do quadro de médicos profissionais da CliRia em Aveiro, clínica privada à qual se juntou ao início da sua abertura. Trabalhou nesta clínica privada até se reformar.

Cessou a actividade profissional no final do ano de 2019 devido a doença prolongada e faleceu a 8 de Abril de 2020 em plena crise pandémica.

Deixa dois filhos, o engenheiro Gustavo Estrela Esteves e a professora universitária e investigadora Maria Emília Estrela Esteves Barbosa e os seus descendentes.

Quando for possível, uma cerimónia-tributo da sua vida será devidamente anunciada, possibilitando a todos que não puderam comparecer ao seu funeral a possibilidade de prestar-lhe uma sentida homenagem e de compartilhar com a sua família e amigos histórias e experiências vividas em conjunto.

Descansa em paz “Pipó”, não serás esquecido pelo curso de 1953/1960 do Colégio Militar.

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Gustavo Estrela Esteves Bernardo Diniz de Ayala (171/53) Os
que nos deixaram

Os que nos deixaram

Francisco José Ferreira de Bastos Moreira (185/1955)

Foi com grande pesar, que o curso de entrada de 1955 recebeu a notícia do falecimento do 185, o Francisco Bastos Moreira, um excelente camarada. O pesar ainda foi maior, por não nos ter sido possível estar com ele, pela derradeira vez, no seu funeral. A situação de recolhimento obrigatório que o País atravessou, não o permitiu. Mas não deixámos de estar com ele em espírito.

O sentimento de que fomos possuídos ao saber do falecimento do Francisco foi de pesar, mas misturado com um certo alívio, por sabermos terminado o grande sofrimento por que ele passou ao longo dos últimos anos da sua vida.

Quando ingressei no Colégio, para o 3º ano do curso, lá fui encontrar o Francisco, sempre «de braço dado» com o seu irmão gémeo Pedro, o 186. Apesar de gémeos, distinguiam-se bem, até pelo feitio, o Francisco era o mais extrovertido. Lá fizemos o curso juntos e tivemos até um certo despique nos últimos anos de curso, em que os manos resolveram especializar-se nas corridas de fundo e meio fundo, matéria em que confesso que não os conseguia acompanhar.

Terminado o Colégio, o Pedro foi para a Escola Naval e eu e o Francisco optámos pela Academia Militar, onde a nossa amizade se foi reforçando. No final do 1º ano geral, optámos ambos por Engenharia. No final do 2º ano, ele optou pela Arma de Transmissões do Exército, em que fez uma notável carreira, e eu pela Engenharia para a Força Aérea. Da Academia seguimos juntos para o Instituto Superior Técnico, para concluirmos os nossos cursos. Nesse tempo, o Francisco toma a grande decisão da sua vida e casa-se com a menina dos seus olhos, a Isabel, menina de Odivelas, filha do nosso último professor de Matemática no Colégio e Antigo Aluno do Colégio, Manuel Roseiro de Miranda Boavida (371/1923). A Isabel, tal como o pai, era toda dada às Matemáticas, também ela se licenciou em Matemática e também ela foi professora de Matemática. Convidado para a boda, lá os acompanhei nesse dia de grande alegria, de que bem me recordo.

Depois, tal como aconteceu à maioria do pessoal da nossa geração, a vida separou-nos. O Francisco foi mobilizado para Moçambique, eu fui para Angola.

Regressados ao rectângulo europeu, deu-se, tempos mais tarde, a coincidência de nos reencontrarmos, durante vários anos, em Lagos, durante as férias. O Francisco e a Isabel já tinham então dois rapazes crescidos.

A primeira reunião do nosso curso do Colégio, na situação de Antigos Alunos, ocorreu na comemoração dos 25 anos de saída do Colégio. Reuniu-se uma mini-comissão organizadora do evento. Quem a dinamizou e fez a maioria do trabalho foi o Francisco. Foi a ele basicamente que ficámos a dever esse grande reencontro. A partir daí, tivemos mais comemorações, sempre com o Francisco na liderança. Mais tarde, quando já todos estávamos reformados e nos começámos a reunir com maior frequência no restaurante do Largo da Luz, lá estava sempre o Francisco. Um dia deixou de aparecer e soubemos que o organismo o estava a atraiçoar e que tinha perdido a autonomia. Nessa altura entrou a Isabel em acção, com um amor e dedicação sem limites, que a todos impressionou. Nos sucessivos desfiles do 3 de Março e até em reuniões da Velha Guarda no Colégio, lá estava ela, empurrando o Francisco na sua cadeira de rodas e pondo-o na primeira fila da assistência, para que ele pudesse ver o Batalhão desfilar. Apesar de o Francisco já ter muita dificuldade em comunicar, via-se que ele ficava satisfeito com o que via, dando sinais de reconhecer os seus companheiros de curso. No meio daquela penosíssima situação, era consolador ver que ele ainda conseguia ter uns interregnos de felicidade. Ainda estávamos juntos, ainda estávamos em comunhão.

O Francisco seguiu as pegadas de seu pai, também ele oficial engenheiro da Arma de Transmissões. Fez uma notável carreira militar, tendo ascendido ao generalato. Apenas dois do nosso curso do Colégio o conseguiram.

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Da carreira militar do Francisco destaco duas situações, que foram do seu particular agrado. A primeira, foi a sua nomeação para Professor do Colégio Militar, a casa de onde em espírito nunca saiu. A segunda, foi a sua nomeação, já como Major-General, para Director do Instituto dos Pupilos do Exército. Sem nunca esmorecer o seu entusiasmo pelas coisas do Colégio, sempre com a nossa barretina na lapela, dedicou-se à sua missão nos Pupilos, com a mesma determinação que teria se tivesse ido desempenhar idênticas funções no Colégio.

Durante a sua carreira militar recebeu variados louvores e as seguintes condecorações: duas medalhas de prata de Serviços Distintos, medalha de Mérito Militar, medalha de D. Afonso Henriques, medalha de ouro de Comportamento Exemplar, medalha de prata de Comportamento Exemplar e medalha comemorativa das campanhas das Forças Armadas – Moçambique.

Teve dois filhos Alunos do Colégio Militar, Ricardo Jorge Boavida de Bastos Moreira (149/1981) e Daniel Jorge Boavida de Bastos Moreira (391/1982). Aos dois e à Isabel, sua mãe, as nossas condolências.

Francisco. Estamos seguros de que agora estás em Paz. Até sempre.

Luis Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957)

João José Ferreira Rodrigues Cancela

(370/1958)

Contra-Almirante da Armada Nasceu a 25 de Março de 1948 Faleceu a 30 de Abril de 2020

Aluno 370/1958 Contra-almirante João José Ferreira Rodrigues Cancela, nasceu em Lisboa em 25 de março de 1948, na freguesia de São Cristóvão e São Lourenço, atual freguesia de Santa Maria Maior.

Antes de entrar no Colégio Militar, viveu em Luanda, na então Província Ultramarina de Angola, com os seus pais, Edite Marques Ferreira Rodrigues Cancela e Tomaz da Cunha Rodrigues Cancela, Oficial da Marinha da classe de Administração Naval. Tendo ingressado na Escola Naval, classe de Marinha, a 10 de outubro de 1967, foi promovido a Aspirante a Oficial em outubro de 1970, pertencendo ao curso D. Manuel I.

Promovido a Guarda-marinha em outubro de 1972, iniciou a sua primeira comissão de embarque como Chefe do Serviço de Navegação da fragata Almirante Magalhães Corrêa, tendo integrado em 1973 a Standing Naval Force Atlantic (STANAVFORLANT) da North Atlantic Treaty Organization (NATO). Foi imediato do patrulha Brava, comandante da lancha de fiscalização Bicuda e, após ter-se especializado em Eletrotecnia, em Vila Franca de Xira, no Grupo N.º 1 de Escolas da Armada, foi Chefe do Serviço de

Eletrotecnia da fragata Almirante Gago Coutinho, tendo em 1976 integrado novamente a STANAVFORLANT. Como oficial subalterno serviu ainda na Escola de Eletrotecnia e foi imediato da corveta Oliveira e Carmo.

Frequentou o Curso Geral Naval de Guerra do Instituto Superior Naval de Guerra e, já como oficial superior, esteve colocado na Repartição de Sargentos e Praças da Direção do Serviço de Pessoal. Posteriormente desempenhou funções na Divisão de Logística do Estado-Maior da Armada, onde esteve ligado ao projeto de construção e receção das fragatas da classe Vasco da Gama, até ser nomeado, em 1990, representante nacional no NATO Seasparrow Missile Consortium, em Washington, D.C., Estados Unidos. Em 1993 foi colocado na Divisão de Planeamento Estratégico Militar do Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA), onde prestou serviço até ser nomeado, em novembro de 1996, comandante do reabastecedor de esquadra Bérrio. Durante o seu comando o navio realizou o Operational Sea Training, no Reino Unido, participou em diversos exercícios nacionais e internacionais e em 1998 participou na Operação Crocodilo, levada a cabo na República da Guiné-Bissau, na evacuação de cidadãos portugueses e de países amigos. Entregou o comando em junho de 1999 e, após uma breve passagem na Divisão de Logística do Comando Naval, foi nomeado em dezembro desse ano comandante da Esquadrilha de Escoltas Oceânicos, onde,

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OAntigo
Os que nos deixaram

Os que nos deixaram

cumulativamente, foi comandante do Grupo Tarefa Português durante o ano de 2001. Entre setembro de 2002 e julho de 2003 foi Chefe do Estado-Maior do Comando Naval, tendo então sido nomeado para a frequência do Naval Command Course, no Naval War College, Newport, Rhode Island, Estado Unidos.

Foi nomeado em julho de 2004 Comandante da Flotilha e, cumulativamente, 2.º Comandante Naval, tendo sido promovido ao posto de Contra-almirante em setembro desse ano. Em dezembro de 2005 é nomeado Chefe da Divisão de Operações do EMGFA e em março de 2007, já na reserva, é nomeado para o seu último cargo como presidente do Grupo de Projeto para abate e transferência das fragatas Comandante João Belo e Comandante Sacadura Cabral para a marinha da República Oriental do Uruguai, facto ocorrido em abril de 2008, terminando assim uma longa carreira de mais de 40 anos ao serviço da Marinha Portuguesa. Da sua folha de serviços constam vários louvores e condecorações, mas aquilo que é recordado por quem com ele trabalhou, conviveu ou simplesmente se cruzou, foi a permanente boa disposição, humor e genuína generosidade. Às qualidades profissionais de grande capacidade de trabalho e total disponibilidade para o serviço, publicamente reconhecidas, acresce o seu forte espírito marinheiro, espírito de cooperação e jovialidade. Desde cedo começou a aperfeiçoar-me no aeromodelismo e no modelismo naval, passatempo que nunca deixou e ao qual mais tarde juntou o seu preferido, a pesca. Passava longas horas na Praia de Pedrógão, entre a areia e o mar, a fitar o horizonte, à espera que um robalo mordesse o anzol.

Fica um filho, oficial de Marinha, uma filha e três netos, e uma enorme saudade a todos que, mesmo não sendo da sua família biológica, o recordam com carinho.

João de Oliveira Baptista Geraldes Freire

(82/1977)

fim trágico, difícil, sofrido... Mas era a “frente” onde o João queria estar. Era onde mais podia ajudar e foi onde entregou o melhor de si. Por todos nós. No IPO de Lisboa.

OJoão era o meu irmão. Gémeo. Mas muito diferentes. Juntos desde o início, entrámos para o Colégio com o entusiasmo de quem embarca numa grande aventura. Eu era o magrinho, mais calado, mais distraído. Ele era o “fofo” (a alcunha que lhe calhou e custou a aceitar), mais afável, mais curioso.

A Educação Física foi a nossa “pedra no sapato”. Estivemos na mesma turma até ao 5º ano (agora 9º), quando as nossas escolhas para o futuro nos “separaram”. O João queria ser médico; eu não sabia bem o que queria ser, mas seria mais na área da física ou da engenharia.

O João era muito atento e devorava livros desde muito cedo. Sabia imenso, era verdadeiramente enciclopédico. E portanto sabia que queria ajudar as pessoas o mais que pudesse. Cedo escolheu a Medicina, como o caminho para seguir o seu objetivo e entregou-se de alma e coração. A seguir escolheu a Oncologia. Foi uma surpresa: uma especialidade em que a maioria dos pacientes tem um

O João já não está connosco. O João foi o nosso Porta-Guião. E sempre será.

O João Freire não era apenas o João que se sentava ao meu lado na sala de aula. O João usava a mesma Barretina que eu na lapela do casaco, e quem privou connosco percebia perfeitamente que alguma coisa “estranha” nos unia. Era isto! Formou nos mesmos Claustros que eu formei desde os 10 anos de idade e fiz praticamente todo o Programa de Alta Direção de Instituições de Saúde, na AESE, ao lado dele.

Recordo-me bem do primeiro dia: Cheguei, tal como um “rata” , sem conhecer ninguém, vemos uma barretina e pomo-nos à conversa. Interessante que fui nomeado por todos os pares como Presidente do Curso, eleito por maioria absoluta, lembrando-me bem qual foi a primeira pessoa a parabenizar-me: o João.

Ambos com uma diferença de idades notória, e uma experiência de vida pessoal e profissional também diferentes.

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Director Clinico do Instituto Português de Oncologia de Lisboa Nasceu a 2 de Setembro de 1967 Faleceu a 24 de Março de 2020

O João fica na minha memória pela notável inteligência e por me ter demonstrado que em certos casos práticos os mesmos eram possíveis de se resolver de maneiras diferentes. Aprendi com o João, da mesma maneira que o João aprendeu também comigo. Tal e qual como no Colégio, entre Ratas e Graduados.

No entretanto, ainda me recordo que quando foi o seu aniversário, decidi escrever-lhe um pequeno postal e enviar para sua casa. Ligou-me 2 dias depois, completamente agradecido pelo gesto que mencionou já ser raro nos dias de hoje. Desejei-lhe um Ramalho depois por telefone! Sinceramente, pareceu-me que fiz o dia dele naquele momento de conversa.

À sua família, o meu pesar e as minhas condolências, assim como de todo o Curso do PADIS 33.

Fiquei muito triste com a partida deste nosso camarada, que muito fez pelo nosso País - sendo certo que a fazer o que nos ensinaram desde pequenos -: A Servir Portugal!

o “Fofo” , como era conhecido entre nós, desenvolveu uma personalidade tranquila, ponderada, correta e inspiradora de confiança. Era à ajuda do “Fofo” que acorriam os “aflitos” que não tinham tido tempo para fazer os trabalhos; era o “Fofo” que contribuía com artigos para o Jornal do Colégio; era o “Fofo ” que fazia a função de Tesoureiro do curso.

No último ano do curso o João foi Porta-Guião e Diretor do Jornal do Colégio, e dedicou-se de forma ativa aos seus compromissos, apesar de precisar de notas muito elevadas para seguir o seu sonho de entrar em Medicina.

O João Freire entrou para o Colégio em 1977, e ficou com o número 82, que tinha sido o número do seu pai. Com ele entrou também o seu irmão gémeo, o Pedro (47) e, apesar de não serem mais parecidos entre si do que quaisquer outros irmãos, o facto constituía sempre um fator de curiosidade, tanto mais que na altura os gémeos eram um fenómeno raro.

Apesar de tudo, o João primava pela discrição. Sempre focado nos estudos e em tentar suplantar o menor à vontade que tinha nas atividades físicas,

Para além de um exemplo como Aluno e como Profissional, o João foi um exemplo como Antigo Aluno. Apesar de uma vida estudantil e profissional exigente, o João arranjou sempre tempo para se envolver nas atividades relacionadas com o Colégio. Foi membro da Direção da AAACM em 1989-1990 e 1993-1995, e era uma presença regular no “3 de Março” nos jantares de Curso e no Jantar da AAACM. Para além do gosto que ti nha em rever os camaradas, sentia a importância de mostrar em cada mo mento o seu apoio ao Colégio e aos Alunos, o mesmo apoio que gostava de sentir quando era Aluno. “Fofo”, vamos sentir muito a falta da tua boa disposição, do teu humor, da atenção com que nos ouvias, e das pa lavras de otimismo que nos transmi tias. Descansa em Paz.

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Emanuel António Lucas Fernandes Bragança (354/1995) Pedro Miguel Correia Vaga Chagas
Os que nos deixaram
©Foto Leonel Tomaz

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