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O Aluno do Colégio Militar na Sociedade

Semin Rio Subordinado Ao Tema

O perfil do Aluno à saída do Colégio Militar, que teve lugar no passado dia 4 de Junho.

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Exmo. Sr. Almirante CEMGFA, Exmo. Sr. Coronel Director do Colégio Militar, Exmo. Sr. Presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do Colégio Militar, Exmas. Entidades e Convidados, Caros membros da Família Colegial,

Antes de mais, permitam-me duas notas prévias:

Em primeiro lugar, em nome da AAACM gostaria de agradecer o convite que nos foi endereçado pela APEEACM para estar presente neste seminário: o nosso muito obrigado.

Em segundo lugar, sublinhar que as ideias que vou partilhar hoje, vinculam-me só a mim, como não podia deixar de ser.

Isto é tanto mais relevante quanto tenho que deixar algumas declarações de interesses: − é que para além de Antigo Aluno do Co- légio Militar (CM), com um apreço e um sentimento de dívida para com esta casa, incalculáveis; sou pai de um actual aluno do Colégio Militar, o que significa, se outra razão não houvesse, que sou parte interessadíssima no tema.

Dito isto, vou procurar ser breve na partilha de algumas ideias, com a esperança que possam deixar algumas pistas para a discussão que se seguirá.

A educação de uma criança e de um jovem tem duas componentes fundamentais. A formação escolar e a formação humana.

E estas duas dimensões, tão igualmente fundamentais na formação de um Homem e de uma Mulher, estão bem respaldadas no atual Regulamento Interno (RI) do CM:

Neste âmbito o RI do CM é muito claro e muito atual:

O Colégio Militar desenvolve o seu Projeto Educativo (PE) de acordo com os princípios orientadores (pilares do Conhecimento) definidos no relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI:

− Aprender a Ser, o que pressupõe o desenvolvimento da autonomia, do discernimento e da responsabilidade pessoal;

− Aprender a Conhecer, o que também significa aprender a aprender, exercitando a atenção e a concentração, a memória e o pensamento;

− Aprender a Viver em Comunidade, o que implica compreender e respeitar o outro, as diferenças e reconhecer as interdependências sociais.

Vou começar por abordar a formação escolar.

A formação escolar é a primeira função de uma escola: garantir que as crianças aprendem e o sucesso escolar é o primeiro indicador deste aspecto.

E se por um lado é relevantíssimo apoiar e reforçar o crescimento do conhecimento, também é importante desenvolver o gosto por aprender. A componente escolar, não só deve ter como objectivo transmi-

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tir conhecimento, mas também transmitir estrutura e capacidade para obter mais conhecimento.

É fundamental ensinar a aprender.

O sucesso escolar é condição necessária à formação de excelência. No entanto, não é condição suficiente.

É que o conhecimento é quase conjuntural dada a enorme evolução tecnológica e científica da sociedade actual, por oposição à componente humana cuja natureza é estruturante: e é este o pendor da educação no Colégio.

Para obtermos sucesso na completa formação de um homem de valor, é imperativo que ele receba também, uma qualificada formação humana.

A razão pela qual tantos de nós, ao longo das nossas vidas pessoais e profissionais, depois de sairmos do Colégio validamos positivamente os nossos interlocutores pela simples presença da barretina na lapela, é porque acreditamos que ter andado no Colégio Militar é potenciador de um conjunto de qualidades.

Para começar a Honestidade, a Autonomia, a Pontualidade, o Empenho e o Rigor.

Por outro lado, o Respeito. O respeito pela ordem, pela organização e pela hierarquia. Mas não um respeito acrítico. Pelo contrário, o respeito associado a uma convicção de que tudo pode ser questionado, depende de “onde”, “como” e “quando”.

E finalmente a Responsabilidade e o Brio. São estas duas qualidades que fazem com que qualquer que seja a tarefa entregue, sabemos que não vai ficar esquecida, mas também sabemos que vai ser levada a cabo com uma dedicação que permitirá que o resultado seja o melhor possível. Aceitando que o perfil que tracei, grosso modo, corresponde à visão que temos do Antigo Aluno do Colégio Militar, a pergunta mais relevante é de onde vêm estas qualidades? Não tenho grandes dúvidas que há dois factores fundamentais:

- A EDUCAÇÃO DE BASE MILITAR;

- UMA VIVÊNCIA CONJUNTA MUITO INTENSA E MUITO PARTILHADA;

A educação de base militar tem como um dos vértices a disciplina, da qual resulta:

- A AUTONOMIA - A PONTUALIDADE, - O ESFORÇO

- E O RESPEITO PELAS HIERARQUIAS.

Andrew McGabe, antigo director do FBI, dizia há pouco tempo sobre a sua organização e a formação que lá obteve. Passo a citar:

“A sua natureza é para-militar. O seu sucesso depende de regras e de uma hierarquia clara.

São conceitos simples mas que nos permitem perceber qual a nossa posição.

A pontualidade não é opcional.

Se tens 20 minutos entre uma aula de educação física e o próximo compromisso e se no entretanto tens que fazer 500 metros, tomar banho, mudar de roupa, fardar-te e estar formado, tu fazes isso acontecer.

A frase é: fazes isso acontecer.” (fim de citação)

Estas palavras que citei estão tão presentes na experiência de um Aluno do Colégio Militar que me arrepio ao lê-las.

Mas há mais dois vértices fundamentais na educação de base militar.

O segundo, uma actividade física intensa, cujo principal desiderato não é a formação de atletas, mas potenciar uma sã actividade intelectual.

E em terceiro, um uniforme, que como o nome indica, nos torna iguais aos olhos uns dos outros.

Curiosamente, há um factor que normalmente passa despercebido quando falamos da farda. A farda dá um maior sentimento de pertença a um grupo. Mas a pertença a um grupo não nos rouba a individualidade.

Pelo contrário, obriga-nos a reforçá-la e a compreendê-la. Mas impele-nos a fazê-lo sem ser à custa dos outros; sem ser à custa do grupo. Obriga-nos a conquistar a nossa posição pela nossa valorização e não pela desvalorização do outro.

Daqui resulta o segundo factor de que vos falei: uma vivência conjunta muito intensa. Não há como fugir do tema. O regime de internato tutelado pelo Código de Honra é o principal potenciador desta vivência.

É esta vivência em conjunto que permite um amadurecimento da camaradagem, através da sua prática reiterada;

O debate dentro do grupo reforça a confiança pessoal, resultando numa maior autonomia de cada um;

O efeito de camarata potencia a aprendizagem do valor da partilha;

Mas esta partilha faz-se em constante competição com os restantes camaradas: uma competição positiva, sem deslealdade, mas com bravura e orgulho.

Concluindo, provavelmente dir-me-ão: mas o objectivo era que eu falasse do aluno do Colégio na Sociedade.

O objectivo do tema não seria falar sobre o perfil do Antigo Aluno?

Se grande parte foi uma explicação do que a educação que o Colégio proporciona terá sido cumprido o repto que me foi lançado?

Provavelmente, deveria ter falado dos 5 Presidentes da República que passaram pelo Colégio Militar e como esse facto é ímpar em estabelecimentos de ensino em Portugal. Ou de como, em diferentes momentos da vida do país, o Colégio formou personalidades na área das artes, das ciências, das letras, da economia, da vida civil e militar.

Acontece que ao pensar no perfil do Antigo Aluno não consigo dissociar o resultado dos valores que enquanto jovens foram aprendidos, experienciados e vividos no Colégio; e que enquanto adultos nos acompanharam ao longo da vida.

Definir um antigo aluno é enumerar estes princípios:

• HONESTIDADE

• AUTONOMIA

• EMPENHO

• RIGOR

• RESPEITO

• RESPONSABILIDADE

E BRIO

Os valores que revemos ao longo dos tempos nos Alunos do Colégio Militar são obra de uma forte formação escolar e humana. É importante não esquecer quais as bases que sustentaram esse sucesso.

Ninguém tem dúvidas que os tempos mudam e que, a essas mudanças na sociedade têm que corresponder alterações também na vivência do Colégio Militar.

Mas mudar por mudar não é uma virtude. Sejamos criteriosos na definição dessa mudança.

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