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Luis Nuno Bravo Belo
by AAACM
(262/1967)
Juiz de Direito
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Nasceu a 9 de Março de 1957 Faleceu a 23 de Maio de 2019
Ninguém seria capaz de retratar melhor quem era o nosso grande amigo Manuel Nuno e tudo o que ele fez pelo Curso e pelo nosso Colégio.
Ultimamente (talvez 2 ou perto de 3 anos), e como ele me dizia por brincadeira, era o seu ‘’UBER’’, indo buscá-lo ao comboio, levando-o aos nossos convívios de Curso ou de Colégio, e trazendo-o de volta. Trazia sempre fotos do tempo colegial, e sempre diferentes, e conversávamos muito nesses trajetos. Mas era sobretudo o seu sorriso de satisfação quando eu chegava, do que vou ter mais saudades.
(303/1951) sora — a Senhora D. Maria Judith das Neves Rosa —, pelo que, ao fazer o exame da 4ª classe, numa Escola Primária do Fundão, ganhei dois prémios monetários: um por ter tido a melhor classificação de entre os alunos da freguesia do Alcaide (100$00) e outro por ter tido a melhor classificação de entre todos os alunos de todas as freguesias do concelho do Fundão (500$00).
Adeus, Estorninho! Nem sequer sabia que estavas doente e sempre julguei que eras ETERNO. No Colégio, nos almoços, nos encontros, nas reuniões, em tudo. Pertences ao Património da Humanidade, no que respeita a Ubiquidade, Generosidade e Simpatia. Grande Abraço, estejas onde estiveres.
Recebemos, com pesar, a notícia do falecimento deste nosso camarada. Apresentamos de seguida um pequeno extracto dum apontamento autobiográfico seu, em que nos descreve a sua meninice e a sua vivência no Colégio, do qual guardou as melhores recordações.
Paz à sua Alma.
Ainda em Aveiro, com 4 ou 5 anos de idade, ao ver, numa revista, uma fotografia de alunos dos Pupilos do Exército a desfilarem em parada, disse ao meu Pai que queria ir para a escola deles.
Autobiografia
Nasci, no dia 9 de Março de 1957, na cidade de Aveiro, onde os meus pais residiam temporariamente, desde que o meu Pai, oficial piloto aviador, fora colocado na Base Aérea de S. Jacinto, cerca de um ano antes.
Residi, nesta cidade, na Avenida Lourenço Peixinho, até 1963, altura em que o meu Pai foi mobilizado para a guerra do Ultramar. Ele partiu para Angola (Negaje) e eu, a minha Mãe e a Ana – a nossa criada –fomos viver para o Alcaide, freguesia do concelho do Fundão, na Beira Baixa, para junto da minha Avó materna.
Fui sempre falando nisso até terminar a Escola Primária. Por isso, no Verão de 1967, depois de fazer o exame da 4ª classe e o exame de admissão aos liceus, fiz também os exames (exames físicos e psicotécnicos), extremamente selectivos, de aptidão para ingresso no Colégio Militar.
Fiquei admitido nesses exames, feitos no Colégio Militar, e fui com a minha Mãe (o meu Pai continuava em Angola: fez duas comissões seguidas, no total de 5 anos) ao Casão Militar comprar as fardas e restante enxoval necessário.
(304/1953)
No Alcaide, fiz a Escola Primária, tendo tido a sorte de ter uma excelente Profes-
Tive uma desilusão quando verifiquei que a farda principal (que se usava quando se saía do Colégio) não era azul — como a que eu tinha visto, anos antes, na tal re-
Os que nos deixaram
vista (que era dos alunos dos Pupilos do Exército e não dos do Colégio Militar) — mas castanha.
No dia 7 de Outubro de 1967, com dez anos de idade, entrei no Colégio Militar e fiquei imediatamente apaixonado por este extraordinário estabelecimento de ensino (e, também, pela farda “cor de pinhão” ...).
Eu, que vinha de uma aldeia da Beira Baixa, senti-me no centro do mundo!
Havia que aproveitar a oportunidade para aprender tudo o que o Colégio tivesse para me ensinar. E o Colégio tinha muito para me dar: um ensino completo, que visava tanto uma formação cultural sólida (composta pelo conhecimento específico das disciplinas curriculares liceais normais bem como por conhecimentos de cultura geral) como uma boa formação física e militar.
O Colégio oferecia excelentes instalações para ministrar o ensino: laboratórios de línguas, um amplo ginásio, pistas de atletismo, campos de jogos, picadeiro, piscina, campo de aeromodelismo, etc... Tinha um corpo docente também excelente. Ensinava, para além das matérias respeitantes às disciplinas curriculares normais de nível liceal, canto coral, música, equitação, esgrima, instrução militar, artes marciais, etc.. Cada sala de leitura tinha uma pequena biblioteca: aos 12 anos, entre vários outros livros, já tinha lido o “Crime e Castigo” de Dostoiewski. Todas as semanas, nos deslocávamos ao ”Teatro Princípe Real D. Luís Filipe” da «Formação Militar», sita no
Largo da Luz, defronte do Colégio, para vermos cinema e teatro.
Ao Colégio Militar devo uma formação pautada por valores nobres: honra, lealdade, coragem, patriotismo, verdade, camaradagem, solidariedade...; o lema era «e pluribus unum» (Um por todos, todos por um!). Devo-lhe, também, as fundações da minha formação humana, intelectual e física.
Os anos do Colégio foram dos mais felizes da minha vida (no 2º ano, fui mesmo o melhor aluno desse ano), tendo recebido alguns prémios monetários e medalhas das mãos de Sua Excelência o Presidente da República.
Lembro-me de que no meu 2º ano do Colégio já tinha tomado a decisão de vir, mais tarde, a tirar o curso de Direito. Na disciplina de Português, tinha facilidade na interpretação e análise dos textos literários e, em geral, em discorrer com lógica. Nas relações com os outros, já era apaixonado pela Verdade e pela Justiça. Repugnava-me o “despotismo”, a prepotência e a arbitrariedade. O pai do meu camarada Ruiz era Advogado: um dia mais tarde, eu queria vir a ser também para, em Tribunal, defender os mais fracos.
Camaradas do meu curso, e da minha geração, são hoje notáveis personalidades em diversas áreas do saber (da medicina, da economia, do direito, da política, da música, do teatro, do cinema, etc.): estou a lembrar-me do Carlos Vasconcelos Cruz, do António Perry e do António Simões (economia/Gestão); do Fernando
Seara (Direito); do João Balula Cid e do Ran Kyao (música); do Fanha (Teatro e Poesia); do Luís Esparteiro (o Super-Pai da Televisão); do Luís Filipe Rocha (cinema); e tantos outros, quiçá ainda mais notáveis embora menos “mediáticos”.
Neste extraordinário Colégio estudei durante 5 anos, até 1972.