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O HeróiPequeno de Chaves
by AAACM
No número 187, de Abril/Junho de 2012, desta nossa revista, foi publicado um artigo meu, intitulado «Aluno 23/1905, Silva Pereira, Defensor de Chaves». Nesse artigo dei a conhecer o facto excepcional de Silva Pereira ter recebido, como Aluno do Colégio, em 30/10/1912, por determinação do Ministro da Guerra, um louvor, em Ordem de Serviço colegial, devido à «dedicação, coragem e valentia de que deu provas no combate de 8 de Julho, em Chaves». Como tive oportunidade de indicar nesse artigo, o combate de 8 Julho de 1912, em Chaves, resultou do ataque nesse dia feito a esta vila por uma importante coluna de forças monárquicas, comandada pelo Capitão Henrique Paiva Couceiro. Recordo aqui o artigo referido, porque ao consultar o nº 141, de 3 de Março de 1983, da revista O Colégio Militar, deparei-me com um artigo intitulado «O Herói de Chaves: Evocação». Pensei de imediato que se trataria da história de Silva Pereira (23/1905), mas fiquei surpreendido quando constatei que se tratava de outro herói, bem mais novo do que ele, praticamente uma criança, que se veio a tornar Aluno do Colégio Militar, em consequência dos actos de heroísmo por si praticados. O referido artigo da revista O Colégio Mili- tar tem a seguinte introdução: «O ex-aluno 56/1933 – Sousa Dias trouxe até nós mais um dos muitos factos dispersos que vão fazendo a pequena grande história do Colégio Militar. Hoje vamos evocar a vida do ex-aluno 177/1912, LUIZ FERREIRA PINTO - «O HERÓI DE CHAVES», exemplo de coragem e determinação, para que a sua memória não seja olvidada». Segue-se o texto do artigo referido, que é do seguinte teor: «Há muito tempo que tivera conhecimento, por intermédio do meu Tio Capitão Augusto César Antunes de Sousa Dias, de muitas informações coevas, que forneceu relativas aos primórdios da República: – quer à sua implantação em Chaves, a 8 de Outubro de 1910, quer à segunda incursão de Paiva Couceiro, a 8 de Julho de 1912. Vim a saber que uma criança de 12 anos se havia notabilizado durante os combates de 6, 7 e 8 de Julho que se travaram junto à povoação de Vila Verde da Raia, levando víveres, água e munições aos combatentes que defendiam a fronteira contra a 2ª invasão monárquica. Nunca tinha conseguido a sua identificação. Conhecia essa criança de uma fotografia publicada na Ilustração Portuguesa com os defensores civis junto ao Flávia Hotel e no Guia - «Álbum de Chaves e o seu Concelho» onde se vê junto de António Granjo e os mesmos defensores de Chaves.
Iniciada a minha actividade «eurística», depois de mais de um ano de tentativas, consegui, finalmente, apanhar-lhe o rasto. Como sabia o nome de sua mãe, Ifigénia Rosa do Carmo Ferreira Pinto Terreiro, que fora professora primária de Vila Verde da Raia, encarreguei o nosso velho amigo e camarada do Colégio Militar Alberto Rodrigues da Costa de pedir ao seu cunhado e também nosso bom amigo, António Lopes, de Chaves, de se deslocar a Vila Verde da Raia no sentido de obter as informações desejadas. Após muito indagar na povoação, conseguiu obter informações sobre o seu único descendente – Luiz Figueiredo Ferreira Pinto, residente em Lisboa. Assim, por intermédio deste, em Lisboa, descobri, finalmente, o nome completo da criança que se havia destacado no combate de 6, 7 e 8 de Julho de 1912, Luiz Ferreira Pinto Terreiro, natural de Vrea de Bornes, concelho de Vila Pouca de Aguiar, distrito de Vila Real. Segundo seu filho, quando os seus avós tomaram conhecimento que seu pai tinha cooperado com a Guarda Fiscal na defesa da fronteira, expulsaram-no de casa, pois, como monárquicos ferrenhos, consideraram uma desonra o comportamento do filho. Deu-lhe abrigo, em Chaves, o futuro General Augusto César Ribeiro de Carvalho que acabava de derrotar Paiva Couceiro. Aí ficaria até à sua entrada para o Colégio Militar, o que se efectuaria em Outubro de 1912. Os seus pais, Manuel Gonçalves Pinto Terreiro e D. Ifigénia Rosa do Carmo Pinto Terreiro, deserdaram-no e abandonaram-no para sempre. Receberam, mais tarde, em sua casa seu neto, maldizendo para sempre até à hora da morte a acção de seu pai. Luiz Ferreira Pinto Terreiro encontrava-se ainda no Colégio Militar quando seu pai faleceu. A mãe sobreviveu alguns anos, tendo morrido depois do casamento do filho e quando já este era oficial.
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Após ter entrado no Colégio Militar, muitas vezes deslocou-se a Chaves em férias, ficando em casa do seu Protector. Foi sempre apoiado pelo velho General e António Granjo.
Luiz Ferreira Pinto Terreiro e seus descendentes, como retaliação da atitude dos seus avós, deixaram de usar o nome de Terreiro. O Governo da República sabedor da situação de uma família rica abandonar o seu filho, invocou uma razão que não era verdadeira, «falta de recursos dos Pais para custear a sua educação no Colégio Militar», responsabilizando-se assim o Estado em todas as suas despesas no Colégio Militar e na Escola de Guerra, e em virtude da nota do Conselho Tutelar e Pedagógico do Exército de Terra e Mar, da 4ª Repartição da 1ª D. G. da Secretaria da Guerra nº 2273 é
O Pequeno Herói de Chaves
No Colégio Militar, fora um Aluno de suficiente aplicação literária e um excepcional aluno em aptidão física, no que se distinguiu nos últimos anos pelo que foi medalhado. Sabemos que enquanto frequentou o Colégio Militar foi um aluno de grande comunicabilidade, relacionando-se com todos os seus camaradas, sempre bem disposto, com uma grande alegria de viver e bem humorado com ditos que ficaram famosos. A sua compleição física fazia-o destacar entre todos os alunos, contudo nunca abusou da sua força, mantendo sempre relações harmoniosas com toda a gente.
Ingressou no Regimento de Cavalaria 6, em Chaves, como voluntário, julga-se como 2º Sargento cadete. Na sua vida militar destacou-se nas práticas desportivas. Teve o 2º prémio no Raid hípico em 1925, o primeiro prémio no percurso de corta-mato, realizado em 1926, em Estremoz; primeiro prémio no concurso hípico Regimental de 1927; primeiro prémio no percurso de corta-mato de 1928