Revista ZacatraZ nº 194

Page 1



Editorial Revista “ZACATRAZ”

1

Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949) Director da Revista Zacatraz

Mário Falcão N

o ano 2000, no âmbito das comemorações dos 500 Anos da Descoberta do Brasil e com o intuito de fortalecer os laços de amizade e de camaradagem existentes entre os Colégios Militares de ambos os países, realizou-se uma visita aos Colégios Militares de Salvador e do Rio de Janeiro, em que participaram as Finalistas do Instituto de Odivelas e os Finalistas do Colégio. A visita era dirigida pelo general Comandante de Instrução e Doutrina do Exército que se fazia acompanhar das Direcções e de alguns Professores de ambos os estabelecimentos, integrando também uma delegação de Antigos Alunos encabeçada pelo então Presidente da Associação, José Eduardo Carvalho de Paiva Morão (256/1946), da qual eu fazia parte. Foi nessa ocasião que comecei a conhecer melhor o Mário Margarido e Silva Falcão (314/1936), nesse tempo já muito estimado e respeitado no seio da Comunidade Colegial. No aeroporto, antes da partida, o Mário veio ter comigo e “designou-me” para fazer a cobertura da jornada com vista à sua publicação na Revista da AAACM. Esta foi a minha primeira colaboração para a revista da Associação. Todavia, contrariamente ao meu entendimento, antecipadamente manifestado, de que a narração deveria ser publicada por inteiro numa só edição, o Mário decidiu fazê-la em dois números consecutivos da revista: o Nº 139 (Abr/Jun/2000) e o Nº 140 (Jul/Set/2000). Curiosamente, estas duas situações (primeiro a “designação” e depois a “decisão” de repartir a reportagem), foram por mim aceites sem relutância dado o modo afável e a elegância com que ele mas transmitiu. Estas foram as duas primeiras experiências de muitas que se iriam seguir ao longo de todo um

tempo de vivência com um Homem Bom, com quem tive o privilégio e o agrado de conviver e de quem recebi uma grande e fraterna amizade. Nesta sequência, em Dezembro de 2000, o Mário comunicou-me que tinha sido escolhido e de imediato nomeado “Chefe de Redacção”.

Sem direito a recusa, acrescentou sorrindo. Ainda tentei dizer-lhe que não seria o mais indicado mas a sua firmeza, aliada a uma forte bondade acrescida de grande delicadeza, não me permitiam negar a minha fraca colaboração a quem tudo deu desinteressadamente às causas em que sempre acreditou e sempre

serviu incondicionalmente: o Colégio Militar e a Associação dos seus Antigos Alunos. O Mário Falcão, excelente amigo e franco colaborador, foi sempre um grande defensor da causa colegial. Dedicado, preocupado, sereno e sempre modesto na forma como deu muito da sua vida ao Colégio que tanto amou e à Associação que tão bem serviu. Um Homem na verdadeira acepção da palavra e um grande Menino da Luz no modo como fez jus a essa sua condição. A contribuição e a participação do Mário na vida da Associação, não tem paralelo com quaisquer outras. Fez parte dos Corpos Sociais integrando a Direcção durante 31 anos, de 1979 a 2010 e, durante vinte anos, desde 1994, desempenhou funções nos Órgãos responsáveis pela revista, dos quais quinze como Director desta publicação. Cumulativamente era membro do Conselho Supremo. Não é fácil suceder ao Mário e ser-se capaz de alcançar fasquia tão elevada. Todavia, o exemplo que transmitiu e a grandeza das suas convicções colegiais são fortes incentivos para, em sua memória, tudo fazer com vista ao bom desempenho das funções em que fui investido após o seu falecimento. O Mário, lá onde quer que esteja, estou certo que continuará a olhar pelo seu Colégio e pela sua Associação, seguramente ajudando a que sejam vencidos os múltiplos desafios que lhes são postos e que farão com que estas duas Instituições centenárias sigam o seu rumo, sem vacilar perante a arbitrariedade de um poder efémero. O Mário não nos deixou. Apenas partiu para uma longa viagem sem regresso, mas estará sempre connosco. Zacatraz!


2

Ficha Técnica

CORPOS SOCIAIS DA ASSOCIAÇÃO PARA O TRIÉNIO 2011-2013

Ficha Técnica PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL Fundada em 1965 Nº 194 Janeiro/Março - 2014

DIRECÇÃO Presidente Vice-Presidente Secretário Tesoureiro 1º Vogal 2º Vogal 3º Vogal 4º Vogal 5º Vogal 1º Vogal Suplente 2º Vogal Suplente 3º Vogal Suplente

FUNDADOR Carlos Vieira da Rocha (189/1929)

António José Sousa Valles e Saraiva de Reffóios - 529/1963 José António Madeira de Ataíde Banazol - 631/1968 Pedro Miguel Correia Vala Chagas - 357/1977 Vítor Manuel Galvão Rocha Novais Gonçalves - 666/1971 Carlos Francisco da Silva do Rio Carvalho - 307/1971 Manuel Pedro da Costa Pereira Roriz - 519/1959 Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva - 53/1961 Luís Baptista Esteves Virtuoso - 72/1973 Francisco Maria Sarmento Cavaleiro de Ferreira - 58/1977 José Afonso Correia Lopes - 237/1976 Gustavo Lopes da Costa Pinto Basto - 227/2000 Gustavo André dos Santos Lima – 248/1994

DIRECTOR Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949) CHEFE DE REDACÇÃO Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957) REDACÇÃO Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950) Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva (53/1961) João Carlos Agostinho Alves (110/1996) CAPA Francisco Núncio (417/2007) Cerra-fila da Escolta no 3 de Março de 2013 © Foto Sérgio Garcia (326/1985) ENTIDADE PROPRIETÁRIA E EDITOR Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar

ASSEMBLEIA GERAL Presidente Vice-Presidente 1º Secretário 2º Secretário

Manuel Carlos Teixeira do Rio Carvalho - 124/1945 Duarte Manuel Silva da Costa Freitas - 199/1957 Frederico Eduardo Rosa Santos - 78/1957 João Miguel Jardim de Abreu Ferreira Pinto - 261/1980

MORADA DO PROPRIETÁRIO e SEDE DA REDACÇÃO Quartel da Formação - Largo da Luz 1600-498 Lisboa Tel. 217 122 306/8 Fax. 217 122 307 TIRAGEM - 1350 exemplares DEPÓSITO LEGAL Nº 79856/94 DESIGN E EXECUÇÃO GRÁFICA:

CONSELHO FISCAL Presidente 1º Vogal 2º Vogal 1º Vogal Suplente 2º Vogal Suplente

Tm. (+351) 933 738 866 Tel. (+351) 213 937 023 info@smash.pt www.smash.pt

José Manuel Spínola Barreto Brito - 539/1963 António Emídio da Silva Salgueiro - 461/1972 Eurico Jorge Henriques Paes - 306/1957 João Luís de Mascarenhas e Silva Schoerder Coimbra - 54/1984 João Sanches de Miranda Mourão - 552/1960

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS SÓCIOS DA AAACM NÚMERO AVULSO: 4,00 € ASSINATURA: 15,00 € Os artigos publicados são da responsabilidade dos seus autores. Esta publicação não segue o novo acordo ortográfico.

ARTIGOS À VENDA NA AAACM PUBLICAÇÕES

PREÇO: 12 €

PREÇO: 25 €

PREÇO: 12 €

PREÇO: 17 €

PREÇO: 12 €

PREÇO: 12 €

PREÇO: 12 €

Outras Publicações

NO VO

I Volume da História ao Colégio Militar

PREÇO: 30 €

PREÇO: 3 €

50 €

II Volume da História do Colégio Militar

50 €

III Volume da História do Colégio Militar

35 €

O Espírito do Colégio Militar

60 €

Os Jardins do Colégio Militar

35 €

PREÇO: 6 €

Qualquer dos produtos pode ser adquirido na Secretaria da AAACM, assim como polos, t-shirt, medalhas, etc...


Sumário

3

Dos Antigos Alunos

13 Antigos Alunos em Destaque 14 Galeria dos Presidentes da Associação

16 Ainda a propósito da Abertura do Ano Lectivo

18 Curso de 1946/1953 Curso de 1953/1960 Curso de 1963/1970 Curso de 1983/1991

04

Dos Antigos Alunos

Prémios Barretina

23 Monumento ao valor do Colégio Militar

25 Jantar de Natal no Porto Do Colégio

26 3 de Março 2014 32 Visita do The Duke of York’s Royal Military School

34

Colaboração

O Colégio Militar e o Mar

33 Outros tempos Colaboração

43 Há festa na Mouraria 46 Isentos de franquia do Colégio Militar

48 Eusébio e o Colégio Militar 50 Antigos Alunos nas Tropas Pára-quedistas

54 Hino dos Pára-quedistas Recordando

55

Os que nos deixaram

38

Colaboração

Homenagem a Ramalho Eanes


4

Dos Antigos Alunos Prémios Barretina 2013

Prémios

Barretina 2013 Palavras proferidas pelos agraciados na noite de 29 de Novembro de 2013, no Jantar Anual da Associação realizado no Pestana Palace Hotel. Professor Doutor Adriano José Alves Moreira “Prémio Barretina – Amigos do Colégio Militar”

E

stou bastante emocionado com esta distinção que me deram, comprometendo-me a não falar mais do que um quarto de hora; vou falar menos, mas acho que posso dar alguma explicação pela minha intervenção feita em defesa do Colégio Militar. Jornalistas questionaram-me estranhando isso por nunca ter sido aluno do Colégio Militar. Queria dizer-vos porque acho isto fundamental, é que os senhores estão metidos num combate que é muito mais severo do que aquilo que tornaram público. E porquê? Nós sabemos que o País está numa crise e eu na minha vida, tão comprida, nunca vi o país numa situação como está hoje, nem durante a Guerra Colonial. Há um problema que é fundamental: o País fez uma evolução, a meu ver depressiva, no sentido de, em primeiro lugar, começar a ser um País exógeno, quer dizer, sujeito a efeitos de decisões em que não toma parte, o que não quer dizer que não tenha, na sua parte interna, de tomar decisões; depois, rapidamente mostrou um Estado exíguo com uma relação negativa de recursos e objectivos: foi o que aconteceu; e, finalmente, a situação em que hoje aqui estamos e que eu tenho pena de ter que procurar algumas palavras para servirem de conselhos aos estudantes. O País está em regime de protectorado e há algumas coisas que me preocupam e, tal como vejo, sempre preocuparam as Forças Armadas e preocuparam o Colégio Militar: Nós já passámos por períodos até de submissão a soberania estrangeira e conseguimos ultrapassar isso, mas há uma coisa que é fundamental para poder ultrapassar as dificuldades: é a defesa da identidade nacional, porque sem identidade nacional defendida não há capacidade para enfrentar esses desafios que, neste momento, são tremendos. Aquilo que tenho em questão é que Portugal precisou sempre de apoios externos, nós nunca tivemos, no melhor tempo nesta Europa, mais do que os tais 92.000 Km2. Era o que tínhamos e, portanto, precisávamos de apoio externo para a expansão que fomos tendo em várias fases que não vale a pena lembrar — todos as conhecem. Quando nós aderimos à Europa foi nessa linha de precisar do apoio externo, pois na altura não parecia que houvesse outra alternativa. Mas há questões que são fundamentais: em primeiro lugar só se reage, se a identidade for defendida e nós sabemos que há Países que também aderiram à Europa e cuja identidade, neste momento, está posta em causa: a Espanha, a Bélgica, a In-


Dos Antigos Alunos Prémios Barretina 2013

glaterra estão a passar por um processo desses. Quer isto dizer que não é nenhum desafio sem importância e, portanto, Portugal tem que olhar para a sua História e reparar que foi sempre a defesa da identidade e da sociedade civil que se impôs para ultrapassar essas dificuldades e há elementos que são fundamentais: primeiro é preciso perceber que a democracia não é constituída apenas por pessoas individuais, as instituições fazem parte do tecido democrático — é preciso que essas instituições também sejam preservadas senão o tecido social não está fortalecido. Tenho reparado, sobretudo na área em que eu passei a maior parte da minha vida — que é no ensino — que foi difícil perceberem e continua a ser difícil perceber, que a investigação e o ensino são uma parcela do problema da soberania nacional. Talvez os senhores não tenham reparado que a última reforma do ensino do antigo regime, feita em 1973, entrou em vigor em 1974 quando já não havia o mesmo país e chegámos à situação em que estamos hoje: uma crise brutal no sistema de ensino e de investigação. E como o remédio que a Europa tem adoptado - que nos estão a impor! - é substituir o sistema de valores por uma coisa que eu chamo um “catecismo de mercado” — temos isso para tudo! — e isso está a invadir a parte da soberania que é a investigação e o ensino. Eu tomei parte, durante vários anos, no Conselho Nacional de Avaliação do Ensino Superior, explicando e defendendo, que era preciso racionalizar a rede nacional de investigação e de ensino para o País novo que nós somos, já sem quaisquer impérios — 92.000 km2 — ligados à Europa e, como sabem, aplicaram-nos “o Bolonha”. Foi uma alegria porque o mercado estava à espera que houvesse formaturas rápidas que faziam muita falta (!?!?!) e portanto o sistema era 3 + 2 único. Fartei-me de insistir, aliás, muito bem acompanhado pelos conselheiros, que a reforma não era apenas de ritmo, era preciso a melodia para o novo País que tínhamos para enfrentar um desafio que ia ser a Europa para começar e o Globalismo para continuar. Nunca conseguimos fazer isto! Pelo contrário, a evolução foi no sentido de aplicar o regime do contracto ao sistema e pôr o “catecismo do mercado” a presidir a toda esta organização. Alguns dos resultados foram o partir do nível superior para baixo — os senhores têm na memória, não vou lembrar os desastres que aconteceram por falta dessa desracionalização — e o esquecimento de um critério fundamental: que

a democracia não é constituída apenas por indivíduos, é por indivíduos e instituições. Quem não defende as instituições não defende o regime democrático do País e, por consequência, há um tema fundamental nesta questão do ensino e da investigação: as unidades de ensino e investigação que têm uma definição pedagógica, científica, ética, conceito estratégico, essas instituições têm que ser respeitadas! Eu fui interrogado pelos senhores todos, pelos jornalistas, que até ficaram irrequietos porque lhes parecia que eu fazia grande questão, a que as mulheres estivessem no ensino militar. Pude explicar-lhes, que a única vez que tive direito a oficial às ordens era uma alferes pára-quedista, o que realmente, para uma pessoa que reconhece o respeito pela presença das mulheres nas Forças Armadas, não era o exemplo mais apropriado. A resposta que eu dei foi esta que acabei de lhes dizer. Considero, volto a repetir, as Instituições que têm conselho estratégico, que têm identidade pedagógica, que têm História e Futuro e se vão adaptando às necessidades, têm que ser preservadas! Foi sempre a minha razão para defender o Colégio Militar! É exactamente a mesma que eu tenho para defender a Universidade de Coimbra! É exactamente a mesma que eu tenho para defender a Universidade de Lisboa! É com este critério, simplicíssimo, e quando me perguntaram publicamente — talvez alguns tenham lido porque eu ouvi algumas queixas e noticiários sobre estas coisas — a razão porque fazia isto, disse o seguinte: olhe, um dos defeitos da Europa em que estamos é que não tem conceito estratégico, vive na hesitação entre se há de ser uma união de Estados iguais ou deve ser supranacional, encontrando-se neste balanço, não tem conceito estratégico. Como não tem conceito estratégico, entrou de licença sabática e o resultado é que, neste momento nós vemos que as decisões são tomadas por centros que não conhecemos, alguns deles, e por outros que conhecemos, mas que não têm cobertura legal como é por exemplo o G20, que já me parece o G2 + 18 e não mais do que isso. Mas há uma coisa mais grave que me leva a ser ainda mais firme na defesa de instituições que tenham estas características em Portugal: é porque Portugal também não tem conceito estratégico! Nós temos, ainda foi publicado há poucos dias, dois conceitos estratégicos de Defesa Nacional, que foram juntos num volume só: não há nenhuma definição do que é que se trata de defender! E isso é fundamental. Vai ser difícil

5

para as Forças Armadas terem audiência para o conceito estratégico de segurança e defesa, se não souberem o que é que têm que fazer. Nós não temos conceito estratégico nacional desde 1974. Esta é a situação, e uma das razões, é que a Europa neste momento, também não tem conceito estratégico. Como tenho filhos e netos e tive avós, e sei que não se constroem casas em cima de água como também não há árvores sem raízes, entendo que é meu dever defender as raízes e defender que as casas não sejam construídas em cima de água. Foi por estas razões que conhecendo há muito tempo, como calculam, o Colégio Militar, até pelas funções que tenho exercido nesta área, aliás também os Pupilos do Exército que eu conheço suficientemente e Odivelas, acho que é o património da identidade nacional que está a ser posto em causa quando estas decisões são assumidas. E não aceito que o objectivo do País seja ter um orçamento equilibrado, mantendo uma maioria e dar conta a três empregados que vêm, de quando em vez, interrogar o Governo do meu País sobre como é que eles se comportam na gestão, chamando a isto — e vão diminuindo em modéstia naturalmente — primeiro, refundar o Estado, segundo, reformar o Estado, terceiro, diminuir um pouco as despesas do Estado. Não é essa a tarefa que nós podemos recomendar à nossa juventude: àquela que hoje foi aqui festejada pelos mais antigos. A tarefa terrível que nós lhe deixamos é a de inventar um futuro digno para o seu país, e para isso é preciso defender as Instituições entre as quais as que têm as características que eu referi e que eu encontro no Colégio Militar. Estou extremamente agradecido por este prémio, que vai direito a Bragança, vai direito ao Museu Biblioteca de Bragança e sabem porquê e principalmente — não é só por ser transmontano, nem toda a gente tem a honra de o ser — porque o castelo é o castelo do Regimento do Mouzinho e eu acho que nós andamos à procura de um Dom Sebastião para nos guiar, que é um mistério português que eu nunca percebi — termos escolhido para símbolo, o Rei que perdeu a Guerra. Eu prefiro o Bartolomeu Dias, que partiu três vezes para a Índia, morreu no caminho, mas não desistiu. Morreu tentando! E o Mouzinho, quando disse ao Rei: este País é obra de soldados. Muito obrigado pelo esforço que têm feito. Espero que o futuro seja grandioso ao Colégio Militar.


6

Dos Antigos Alunos Prémios Barretina 2013

Eduardo Lourenço de Faria Antigo Aluno 92/1934

“Prémio Barretina – Colégio Militar no Mundo”

C

ertamente que este é o prémio mais inesperado que eu jamais recebi porque não lhe encontro nenhum mérito especial que justifique um prémio deste género, que me comove, que me remete para a minha infância, para a minha pré-adolescência e para os anos em que fui aluno do Colégio Militar. Anos que vivi, por um lado como menino da província, separado dos pais e da família portanto, como foram quase 6 anos tirando as férias, com alguma perda desses laços profundos e da paisagem… mas que ao mesmo tempo contribuíram — mais talvez do que eu possa supor — para fazer de mim, pouco a pouco, não só um cidadão, não só alguém que recebeu uma educação que resistisse a algumas das tentações da vida, e sobretudo, também, para ter uma justificação para o seu próprio destino. Isso, vivi-o no Colégio Militar. Este nosso Colégio Militar, curiosamente, está hoje posto na praça pública da maneira mais insólita e da maneira mais incompreensível possível; na situação que o país atravessa, com tantos problemas, com o nosso sentido de presente aceitável e de futuro nevoento à volta de nós, é que o país se devia mobilizar em função de urgências verdadeiramente importantes e vitais para nós. Levantar a ideia da persistência da continuidade de um Colégio que tem dois séculos, que formou gerações, que formou em várias áreas, uma parte da elite portuguesa durante estes dois séculos, é uma coisa tão surrealista, tão incompreensível, que eu não tenho palavras sequer para a denunciar; nem sequer a força

para juntar todos aqueles que, conscientes do que está em jogo, a sobrevivência de uma instituição, não a única, mas uma das instituições que marcaram o nosso passado dos últimos dois séculos de uma maneira indelével, se veja posta em causa sem se saber, exactamente, os motivos em função de quê e substituída por o quê ou por que outra forma. Claro, que nada é imortal, tudo tem o seu tempo, tudo pode morrer, mas esta posta em causa do nosso Colégio, que não fez aparentemente nenhum mal particular, que não é acusado de ter um passado gravoso em nenhuma área, com tanta gente ilustre deste país que nele foi criada, num momento em que a Europa atravessa uma das primeiras grandes crises que se podem chamar verdadeiramente europeias — e já tivemos aqui [a presença] de alguém [o Prof. Adriano Moreira] que é uma das personalidades mais importantes do nosso país e um verdadeiro homem político responsável, [que afirmou] que, na defesa de um país, que é o nosso, em certas circunstancias, como é que é possível imaginar que [alguém], impunemente, porque está no poder, porque pensa que esse poder é um poder discricionário, não tenha que justificar as suas atitudes, nem tenha que ser julgado na praça pública, se comete essa espécie de atentado a qualquer coisa que efectivamente é importante, não por ser o Colégio Militar, que seria uma instituição com um estatuto privado, particular, mas porque é o símbolo de qualquer coisa que justificou o nascimento do Colégio Militar, a sua persistência e ainda a sua actualidade. Este país nasceu de um acto voluntário — como pensava Oliveira Martins — esse acto voluntário traduziu-se na capacidade de um pequeno povo, num certo momento da História, aqui no ocidente da Europa, ter pretendido ter uma autonomia, uma vontade própria, um território, um projecto. Esse projecto foi incarnado de maneiras diversas, sempre por uma força legitimada institucionalmente, como também pelos ritos sociais da época, pelos ritos guerreiros, mas sobretudo pela sua finalidade: conservar, defender o nos-

so território, essa pequena parte que se construiu lentamente, que não nos caiu do céu, que é filha de outros conquistadores. Essa pequena parte, que num certo momento da nossa História acidentada, mas menos que outras na Europa, precisou de constituir, formar um exército contra os exércitos que naquela altura estavam dominando já o território europeu no seu conjunto. O Colégio Militar foi então o viveiro de um mini-colégio e de um mini-exército, em que o exército verdadeiro assentaria as suas bases, tendo em conta uma aprendizagem particular e sobretudo uma identidade particular, e que estava ao serviço, radicalmente, deste país frágil que precisa realmente que o defendam porque se não o defenderem ele desaparece na voragem do confronto com os outros. Tanto que o Colégio Militar não é um elitismo de uma classe particular, até porque eu encontrei no Colégio Militar umas das maiores virtudes, nunca estive numa instituição mais organicamente igualitária que aquela que era vivida pela vida no Colégio Militar, no seu ensino, na sua solidariedade colectiva, uns com os outros, aquilo que ficou para sempre como sendo a nossa marca de identidade colegial: a camaradagem que é outro nome, na ordem militar, do que é a fraternidade na ordem geral da humanidade. E é esse Colégio, esse viveiro dessa aprendizagem da vida num certo vector, numa certa perspectiva, que é a perspectiva da defesa de um país, das sua tradições, da sua identidade, que (é) ameaçada… Nem quero crer nisso e por isso não tomei muito a sério essa espécie de provocação insólita que é feita a nós próprios, através de uma veleidade de ordem institucional — que espero seja apenas passageira. Desejo ao Colégio Militar que saiba defender-se, embora não o precise — o seu passado testemunha por ele! As pessoas que aqui estão saberão ser a muralha, não de aço como se dizia nos tempos revolucionários, mas a muralha do bom senso, a muralha da sensibilidade, da dignidade e a nossa memória enquanto instituição colectiva: é isso que eu desejo para o meu Colégio, a quem devo tudo e que não me deve nada e ainda por cima me dão um prémio… eu que nem sequer fui graduado!


Dos Antigos Alunos Prémios Barretina 2013

Álvaro Augusto da Fonseca Sabbo Antigo Aluno 133/1938 “Prémio Barretina – Desporto”

H

á dias o presidente da nossa Associação comunicou-me que neste jantar, eu seria um dos homenageados. Confesso que, com os meus quase 88 anos, muito me surpreendeu que ainda alguém se lembrasse dos meus tempos de cavaleiro. No entanto, porque o espírito colegial teima em desconhecer distâncias e tempo, aqui estou, emocionado e feliz, por me sentir membro desta comunidade bicentenária que, teimosamente, continua a afirmar e prosseguir a sua vocação - formar homens com H grande. O Colégio é um portal para uma vida de valores e de princípios. Ajuda a desenvolver um espírito competitivo que chamaria de qualidade. Ou seja, querer mais e melhor, mas... não vale tudo. Se a camaradagem e o amor à Pátria nos orientam no bom sentido, só o trabalho árduo e persistente nos permite atingir objectivos concretos. Cresci no Colégio com boas notas em teóricas e físicas. Assim, caros camaradas, consegui boas classificações no atletismo e, posteriormente já no Exército, noutras modalidades. Quanto aos cavalos, de facto a minha grande paixão, curiosamente, no Colégio, só fiz Volteio. Foi devido ao desembaraço que o Volteio confere que eu, filho e neto de oficiais de infantaria, mais tarde "sobrevivi" aos "despeneiranços" e fui parar a Cavalaria. Mafra como grande Escola de referência na Equitação deu-me formação, para chegar a

cavaleiro de alta competição. Em quatro anos passei de aluno do 1º ano do curso de equitação a cavaleiro internacional na equipa B e, três anos depois, já na equipa A, fui campeão de Portugal e disputei os meus primeiros Jogos Olímpicos. Aos muitos prémios, vitórias, alegrias e tristezas, junto milhares e milhares de horas a trabalhar os cavalos, sempre nos dois vectores fundamentais, - o ensino e a capacidade atlética. Relembro com saudade e profunda estima outros cavaleiros também antigos alunos, que já não estão entre nós, e dos quais recebi preciosos ensinamentos. Cito, entre outros, Correia Barrento, Pereira de Almeida, Duarte Silva, Ferreira da Cunha, Jorge Matias e ainda Pimenta da Gama que tão recentemente nos deixou. Com medo de apanhar um ramalho pelo tempo que demorei, termino: AGRADECENDO, DESEJANDO E FAZENDO VOTOS... - Agradecendo, à AAACM ter-se lembrado deste cavaleiro apeado. - Desejando, a todos os presentes um Santo Natal e um próspero Ano Novo. - E, devido ao constante aumento da esperança de vida, fazendo votos para que, dentro de alguns curtos anitos, convidem para vir aqui, não um jovem de 87 anos, mas um garoto de 100 ou de 110 anos.

7


8

Dos Antigos Alunos Prémios Barretina 2013

Luís Filipe da Silva Rocha Antigo Aluno 493/1958

“Prémio Barretina – Notoriedade”

A

gando fanaticamente, como alguém já lembrou, o caminho do nosso futuro, tal como os romanos salgaram o chão de Cartago para que nele nada crescesse? Sobre as causas desse desejo de morte e de destruição, não vale a pena interrogar-nos. Em primeiro lugar, porque quem nos governa foi eleito pelos cidadãos do nosso país. Em segundo lugar, porque depois de eleito e de modo nada original, quem nos governa rasgou publicamente as suas promessas de vida e de futuro, retirou publicamente a máscara e as vestes de representante da vontade popular, e mostrou publicamente, de forma indigna e indecorosa, ao que vinha, a mando de quem, e para quê. E em terceiro lugar, porque a "austera, apagada e vil tristeza" em que aprendemos há séculos a viver, nos leva uma vez mais a contemplar, humilhados e ofendidos, indignados mas resignados, como os nossos governantes destroem impunemente as nossa vidas e, com elas, o nosso país. A pergunta que vale pois a pena formular não é "Porquê?" Mas sim "Até quando"? Obrigado uma vez mais pela vossa camaradagem e pela distinção que entenderam conceder-me.

©Foto Tiago Fonseca 140/92 tiagofonseca.photographer@hotmail.com

gradeço a distinção que a Associação de Antigos Alunos do Colégio entendeu conceder-me, como antigo aluno e pela minha carreira de cineasta. Em tempos normais, eu resumiria o meu agradecimento a esta frase curta mas sincera e a algumas piadas de circunstância evocativa. Como vivemos, infelizmente, tempos difíceis e nada normais, não posso nem devo fazê-lo. Esta distinção ocorre num momento em que ouço dizer que querem matar o Colégio Militar, num

momento em que sei que estão a matar o cinema português e num momento em que todos sabemos que estão a matar e a querer matar outras importantes instituições e outras importantes actividades profissionais que sustentam e dignificam a nossa cultura e a nossa identidade nacional. E como as instituições e a actividade cultural são compostas por pessoas de carne, de ossos e de sangue, habitadas por memória, sonho e esperança, quem se pretende cinicamente atingir quando se quer matá-las são as concretas pessoas que as compõem, a sua vida, a sua memória, os seus sonhos e a sua esperança. Alguém de quem nos governa terá alguma consciência da indecência fria e insensível com que destrói as vidas decentes de milhares de pessoas, muitas delas até ao fim dos seus dias? Terá alguma consciência de que está a arrasar não apenas o nosso presente, mas sobretudo o futuro dos nossos filhos e dos nossos netos, sal-

ANTIGO ALUNO

USA A BARRETINA


9

Dos Antigos Alunos Prémios Barretina 2013

António Jorge Afonso Abreu Matos Antigo Aluno 244/1959 “Prémio Barretina – Desporto”

N

a cerimónia dos Prémios Barretina 2013, que tive a honra de receber, foi dada a oportunidade, a cada um dos premiados, de dirigir algumas palavras a todos os presentes no jantar. O pedido que me é endereçado pela Revista da AAACM para reproduzir a minha intervenção, dado que se compôs de um improviso e da leitura de um documento (sobre o qual avançava com alguns comentários), será, pois, tão aproximada quanto possível. É bom ver tantos antigos alunos presentes neste jantar! Mas, o que para mim é significativo é ver antigos alunos de todas as idades: novos e menos novos. Isso diz a força e o que significa o Colégio para quem, como eu, teve o privilégio de por cá passar. Eu não seria o que fui e o que sou hoje se não tivesse passado por esta casa. A disciplina, a verticalidade, a honestidade, a assunção dos erros e das falhas, eu sei lá, a tudo aquilo a que vulgarmente se chama de “valores”, eu prefiro chamar-lhe de “códigos”. E porquê? Porque esses tais valores não se ensinavam, nem se aprendiam: apreendiam-se. Eram códigos que faziam parte das nossas rotinas e era impensável que pudessem ser de outra maneira. Assim crescemos e assim fomos quando saímos. A distinção que hoje recebo é um enorme orgulho para mim. Mas, agora que estou aqui, vão ter que me ouvir, pois quero aproveitar a oportunidade para vos falar de… Atletismo. Espero não ser maçador…

Vou dar-vos, creio que em primeira mão, um conjunto de informações de que não fazem a mínima ideia. • Sabem quantos antigos alunos foram Recordistas de Portugal em Atletismo? Foram 11! • E que, nesta sala, se encontra um destes recordistas? Já vos direi quem é. • E que podemos acrescentar mais um que, não sendo antigo aluno, foi Director do Colégio? Pois bem, é essa homenagem e evocação que vos quero fazer. Seguiu-se a “chamada”, um a um, dos Recordistas de Portugal, alunos e antigos alunos do CM (como se mostra no quadro), não de forma exaustiva como se calculará (por exemplo, sem referência às marcas alcançadas), com os seguintes comentários adicionais: • Alexandre Correia Leal – que, não tendo sido aluno, foi Director do Colégio; • 291/1953, Jorge Soares – o “mosca” no Colégio;

• 440/1960, António Fonseca e Silva – do meu tempo no Colégio, em que ganhei, nos Campeonatos do Colégio, o salto em comprimento, o salto em altura, os 400 metros, as barreiras, … e perdi a prova de velocidade para o 440… pudera!, para o que viria a ser o Recordista de Portugal! (Nesta altura evoquei, de igual modo, um professor do Colégio --- o Prof. Mário Lemos --- que foi muito importante para esta minha paixão pelo Atletismo) • 278/1979, António Veiga – que “descobri” porque fui professor no Colégio e com ele continuei após ele ter saído do Colégio; • 75/1959, Lamy da Fontoura – (do meu curso) que foi o último a ser chamado, uma vez que era o “tal” que estava presente na sala e a quem pedi uma salva de palmas para ele e por todos os antigos alunos recordistas (tendo dado por fim a minha intervenção). NOTA: Acabei por não fazer referência a um dado importante que queria relevar: o facto do CM ser o Sócio Honorário nº 1 do Sporting Clube de Portugal. Alexandre Correia Leal, Director do Colégio Militar em 1951, foi detentor dos seguintes record nacionais: 100m (1912), 200m (1913), 400m (1913) e Comprimento (1913.)

ALUNOS E ANTIGOS ALUNOS RECORDISTAS DE PORTUGAL EM ATLETISMO Nome

Record Nacional

Representação

Duração

Luís Neves Ferreira (109/1900)

110m bar.-18.8 (1909)

CM

1909-1910

Alberto Faria de Morais (115/1902) Manuel Ferreira de Carvalho (252/1904) Fernando Costa Cabral (136/1906) José Gomes Pereira (177/1906) António Prestes Salgueiro (14/1901) Eduardo Maia Rebelo (137/1905) Jorge Soares (291/1953) António Fonseca e Silva (440/1960) Fernando Lamy Fontoura (75/1959) António Veiga (278/1979)

Altura – 1,60m (1909) Vara - 2,55m (1909) Vara - 2,85m (1910) Disco - 27,80m (1910) Altura - 1,60m (1910) Altura - 1,65m (1912) Dardo - 32,23m (1913) 110m bar - 17.8s (1913) 110m bar - 17.2s (1914) Disco - 36,37m (1919) 100 m - 10.6s (1961) 200 m - 21.8s (1961) 200 m - 21.7s (1962) 4x100m - 42.1s (1961) 4x100m - 41.7s (1963) 100 m - 10.5s (1969) 100 m - 10.4s (1971) 4x100m - 41.3s (1968) 4x100m - 41.2s (1973) Comp. - 7,72m (1991)

CM CM GCP CM CM CM CM Escola Naval Escola Naval SCP CDUL CDUL CDUL Selecção Nacional Selecção Nacional SLB SLB Selecção Nacional Selecção Lisboa SLB

1909-1910 1909-1910 1910-1911 1910-1912 1910-1911 1912-1913 1913-1915 1913-1928 1913-1928 1919-1924 1961-1963 1961-1963 1961-1963 1961-1964 1961-1964 1969-1975 1969-1975 1968-1973 1973-1977 1991-1996


10

Dos Antigos Alunos Prémios Barretina 2013

Carlos Alberto de Brito Pina Antigo Aluno 16/1964

“Prémio Barretina – Cidadania”

A

s minhas primeiras palavras são para dizer que me sinto muito sensibilizado pela atribuição deste Prémio. Mas também sei que este Prémio é essencialmente um prémio ao Colégio Militar que me ajudou a formar e ao Laboratório

Nacional de Engenharia Civil, instituição a que tenho honra de hoje presidir. Permitam-me que partilhe este prémio com aqueles com quem convivi durante sete anos no Colégio Militar. Foi com eles que passei os melhores anos da minha juventude, que recordo com saudade. Foi com eles que ri e chorei, foi com eles que me estendi nas varandas dos claustros para me aquecer nos intervalos das aulas, foi no meio deles que me escondi nas aulas de equitação, enfim, foi com eles que me fiz homem. Quero, em nome de todos, recordar aqui hoje o Ramiro Almeida Santos que um estúpido acidente de avião levou prematuramente de junto de nós. Estaria certamente aqui hoje a festejar

aos saltos este prémio e a contar mais uma nova anedota. Mas também acho que este prémio é o reconhecimento de uma instituição prestigiada em Portugal e no estrangeiro, na qual fiz toda a minha carreira profissional e da qual sou agora Presidente. Na sequência das palavras de há pouco do Professor Adriano Moreira, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil é uma instituição com história, com valores e penso que faz parte das instituições, a que ele se referia, que fazem este país e que é essencial preservar. Também acho que não é por acaso que um dos fundadores do LNEC, e aquele que mais contribuiu para o que é hoje o Laboratório, Manuel Rocha, foi antigo aluno do Colégio Militar. Permitam-me portanto que partilhe também este prémio com aqueles que, antigos alunos do Colégio Militar, trabalham comigo nessa instituição e que, muitos deles, estão aqui hoje. Mais uma vez o meu muito obrigado.

José Luís de Mendonça Mergulhão Antigo Aluno 191/1965

“Prémio Barretina – Amor ao Colégio”

S

enhores convidados, caros camaradas antigos alunos do Colégio Militar: quero agradecer, antes de tudo, o convite e o inesperado Prémio Barretina que me foi hoje entregue. Apenas me permito dizer, hoje e aqui, que todos nós sabemos a diferença entre o bem e o

mal. Esse sentido ético - os valores éticos que o Colégio Militar nos inculcou - são um elemento fundamental da nossa vida, a par daquilo que a identidade de Portugal, de uma Nação feita Estado com quase nove séculos de existência, nos dá o direito de afirmar. O jantar da Associação dos Antigos Alunos que hoje se realiza mais uma vez, não é, nem pode ser, uma mera recordação do passado: é principalmente, e deve-o ser, uma projecção do futuro! A cada um de vós, a cada um de nós, a cada um de vós mais novos do que eu - e sois bastantes - cabe simplesmente, e tanto, o sermos portugueses. Cabe o não termos vergonha de o ser. De termos orgulho de sermos portugue-

ses no mundo, como eu, que tenho 3 filhos e 2 deles estão no estrangeiro, mas que não deixam de falar todos os dias comigo e não deixam de saber notícias do seu, do deles, e do nosso Portugal. Há um trabalho muito grande pela frente na luta desenvolvida no âmbito da defesa do Colégio Militar e sobre a qual eu expresso, nas pessoas do Presidente da Assembleia Geral, do Presidente da Direcção, e do Conselho dos Veteranos as minhas homenagens e o meu agradecimento pela força anímica como conseguiram congregar um enorme número de pessoas normais, como eu sou, como vós sois. O curso de 65 ajudou-me a crescer, e por isso mesmo aos meus camaradas eu tenho que dar uma especial palavra. E a todos vós aqui presentes, queria principalmente dizer-vos que o Colégio está lá, está cá, e estará sempre. Obrigado.


Dos Antigos Alunos Prémios Barretina 2013

11

Rui Miguel Risques da Costa Ferreira Antigo Aluno 516/1976 “Prémio Barretina – Dedicação”

B

oa noite. Gostava de partilhar este prémio com todos os que estiveram e estão envolvidos neste projecto. Permitam-me referir os outros “culpados”: - As 350 “pessoas pequenas” que constituíram o Batalhão Colegial, no ano lectivo 2010/2011 (revelaram ser pessoas enormes), e os seus familiares; - O Martiniano Gonçalves (9/1958) e o António Reffóios (529/1963), que desde o primeiro momento acreditaram no potencial desta ideia; - O Pedro Virtuoso (616/1967), peça fundamental em tudo o que até agora se conseguiu enviar para Cabo Verde; - O Luís Virtuoso (72/1973), o Francisco do Valle (471/1969), o Tiago Baleizão (200/1987), o Alexandre Santos (514/1970), o Miguel Costa Santos (489/75); - O Leonel José da Silva Tomaz; - A minha mulher, Isabel, que tanto me apoiou e incentivou, e os meus irmãos TóMané (303/1977) e Pedro (304/1981); - A Dr.ª Sónia Carrilho e sua equipa, na Junta de Freguesia de S. Francisco Xavier, pelo inesgotável manancial de livros que disponibilizaram. Este momento é de enorme emotividade, sendo fácil ser atraiçoado pela memória. Peço, desde já, desculpa a todos os que não foram mencionados. Penso que é relevante explicar alguns “PORQUÊS?” - Porquê os livros? Verifiquei que, após cada ano lectivo, os

alunos deixavam um volume razoável de manuais escolares, que já não lhes serviam. Achei estranho, pois pouco tempo atrás, os meus livros, serviram para os meus dois irmãos. Não é, nem podia ser, uma crítica aos alunos. A verdade é que a cada ano, vem sendo moda política, adoptar novos e diferentes manuais, de diferentes editoras... Estes livros, podiam muito bem servir crianças desfavorecidas, em locais que eu sabia serem extremamente deficitários deste bem. - Porquê Cabo Verde? Simples, era para onde o Pedro Virtuoso nos conseguia transportar os livros. E porque rapidamente se percebeu ser um artigo raro e de incalculável valor, que em Cabo Verde era recebido de braços abertos. Numa análise muito breve, algumas das potencialidades do Projecto da Biblioteca Marechal Teixeira Rebello, em Cabo Verde: - Um factor de congregação da “Família Colegial” (Alunos, Familiares, Funcionários do CM, Antigos Alunos, Amigos); - Envolver o CM num projecto de cariz humanitário; - Divulgar e apoiar o ensino da língua portuguesa (patriótico); - Prestar uma homenagem ao fundador do CM, nesta altura difícil que se atravessa. Com versatilidade ainda para se poder desenvolver em outras áreas para além dos livros, como sejam os brinquedos, roupa, material informático, … voluntariado diverso no terreno (apoio médico, desportivo, educativo, etc.). Um exemplo, a área informática. O Fernando Couto (433/1972) disponibilizou-se, desde o primeiro instante, para iniciar uma actividade circum-escolar no CM, com alunos. Bastaria recolher computadores (disponibilizados pela “Família Colegial“) e seria possível alargar o ensino de hardware a alunos interessados, reabilitando-se alguns computadores com o intuito de se criar uma sala de infor-

mática junto da Biblioteca em Cabo Verde. Dos três minutos que me foram disponibilizados, penso que me resta ainda um. Gostava de contar duas rápidas curiosidades, para terminar: No espaço que as Forças Armadas de Cabo Verde disponibilizaram para se constituir a Biblioteca, existe um internato para miúdos órfãos que podem assim vir estudar na cidade da Praia. Parte dos manuais escolares, são distribuídos por eles. O restante, por escolas das redondezas, onde os alunos os partilham. A segunda, uma história sobre uma comunidade que rejeitou viver nos luxos da modernidade, mantendo um estilo de vida com padrões que remontam ao tempo em que foram trazidos como escravos para Cabo Verde. São designados de “RABELADOS”. Até aqui, evitaram o contacto com o resto da sociedade, vivendo muito à margem, segundo regras e padrões muito próprios. Em cubatas, sem água nem luz, … e sem frequentar a escola. Bom, quando lá estivemos, em Maio de 2011, conseguimos ser recebidos pelo chefe desta comunidade. Levámos umas caixas com livros infantis e brinquedos. Comprometeu-se a escolher dois rapazes para irem estudar na cidade, no ano seguinte. E cumpriu. No ano lectivo de 2011/2012, havia dois rapazes “rabelados” a estudar. E no seguinte, 2012/2013, mais cinco, se juntaram ao internato. Pensando em tudo o que ainda é possível fazer-se, garanto-vos que pouco ou nada foi realizado. Resta-me lembrar que, se alguém estiver interessado em fazer parte deste nosso projecto, se tiver facilidade com transporte de livros para a cidade da Praia, ilha de Santiago, ou se tiver outras ideias ou contributos, será muito bem-vindo. Deverá entrar em contacto com a AAACM, onde temos umas 10 ou 15 toneladas de livros para enviar. Muito obrigado pela vossa atenção e Votos sinceros de Boas Festas e de um ano Novo com muita saúde. ZACATRAZ!


12

Dos Antigos Alunos Prémios Barretina 2013

Joaquim Tobias Dai Antigo Aluno 125/1993 “Prémio Barretina – Lusofonia”

M

uito boa noite mais uma vez. Quero acreditar que este prémio é uma surpresa tão grande para mim quanto o é para muitos de vós aqui nesta sala. Estava de regresso de Washington, onde estive a convite do FMI para a Conferência Anual do Banco Mundial e conferência dos Governadores dos Bancos Centrais e Ministros das Finanças dos países membros, com a presença dos mais importantes financeiros do mundo, e ao chegar a Moçambique recebo uma chamada de Lisboa, em que me informam ter sido nomeado para o Prémio Barretina. Eu achava que isso só poderia acontecer daqui a mais de 30 anos. É, de facto, um trabalho bastante árduo que tenho vindo a desenvolver, mas acho que ele foi iniciado em 1993, mais precisamente a 8 de Outubro, quando cheguei a Portugal. Vinha do verão Moçambicano e apanhei pela primeira vez um frio de rachar quando cheguei ao Colégio Militar, junto dos meus camaradas. Foi aí que começou o meu grande esforço, ao desligar-me dos meus familiares aos 12 anos de idade e, durante 8 anos, estar num internato com a dureza que caracteriza o Colégio Militar. É por isso que falo tão bem do Colégio Militar, em cada esquina por onde vou, porque sem ele, sem este espírito de união que temos e, principalmente, sem o espírito de sacrifício, não conseguiria chegar onde cheguei.

Eu próprio tenho consciência de que muitas das funções e tarefas que desempenho, as faço quase precocemente porque não é muito normal, alguém de 33 anos, realizar tais missões. É um desafio que assumi e que pretendo continuar. Por isso, para quem achou que eu merecia este prémio, o meu muito obrigado. Muita força e cá estaremos nesta luta desigual, como explicava o nosso presidente, para conseguirmos pelo menos reverter esta decisão completamente displicente que foi tomada no que toca ao Colégio Militar, por quem não o conhece nem tão pouco conhece as raízes daquilo que é a sua vivência que faz de nós os verdadeiros líderes das sociedades onde estamos inseridos. Falava antes de mim o Professor Adriano Moreira, a quem tanto aprecio (afinal sou economista), sobre a componente do conceito estratégico. Estive ontem a dar uma aula de Mestrado em Estratégia e Internacionalização no ISG, e falava exactamente da componente Estratégia. Tive a oportunidade em Maputo, aquando da visita do actual ministro português da Economia, em que fui convidado para ser o Key Note Speaker de um almoço restrito, de lhe dizer que o que falta a Moçambique é uma Estratégia concertada de crescimento. Nós temos de saber exactamente o que queremos ser amanhã, daqui a 10 anos e daqui a 50 anos. E o mesmo se passa com Portugal. Se nós pensarmos que simples decisões e decretos irão melhorar a economia portuguesa sem um conceito de estratégia completamente fundamentado, estudado, definido e comprovado, estaremos a necessitar de os corrigir vezes e mais vezes. Vejo o mesmo no meu país e luto para que nós (Moçambique) tenhamos uma estratégia (tal como se passa com Portugal). Isto mesmo transmiti ao actual ministro da Economia, é preciso estratégia.

Por isso repisei o assunto do Colégio Militar propositadamente, “provocatoriamente” e tão insistentemente para que ficasse bem marcado, tendo resultado que a Revista Exame, portuguesa, na legenda da minha fotografia de meia página não começou por dizer que sou o Bastonário dos Economistas de Moçambique, mas sim que sou antigo aluno do Colégio Militar. Acho que foi simbólica a determinação com que repeti o porquê de alguém tão jovem estar a ser o key note speaker na sua viagem a Moçambique. Prende-se com a educação e liderança que nos é transmitida no Colégio Militar. Assim sendo, fica o meu muito obrigado aos meus camaradas do Colégio Militar, aos actuais alunos; muita força aos actuais graduados e à direcção da AAACM. Quando fomos graduados também enfrentámos problemas. Todos enfrentamos problemas na nossa vida. Os problemas são para serem ultrapassados; os problemas não existem para serem chorados. Muito obrigado e bem hajam todos.


Dos Antigos Alunos Antigos Alunos em Destaque

13

Antigos alunos

em Destaque

Basílio Adolfo Mendonça Horta da Franca (144/1953) Advogado, Politico

Eleito presidente da Organização das Cidades Património Mundial

O

presidente da Câmara de Sintra, Basílio Horta, foi eleito presidente da Organização das Cidades Património Mundial, organização que reúne os locais classificados pela Unesco. A sua eleição para presidente até 2015, decorreu durante o XII Congresso daquela Organização que teve lugar na Cidade do México a 23 de Novembro de 2013. Basílio Horta que não esteve presente, referiu que o facto de ter sido eleito presidente desta organização que engloba algumas das mais importantes cidades do mundo, significa uma grande projecção para Sintra e a possibilidade

de grandes contactos que permitirão a sua promoção especialmente no sector turístico. Fundada em 1993, a Organização das Cidades Património Mundial (OCPM) reúne as 254 cidades com locais inscritos na lista do Património Mundial da UNESCO. De dois em dois anos, realiza-se um congresso mundial onde se debatem ideias relacionadas com a gestão e a reabilitação das Cidades Património Mundial. Esta Organização conta como associados, de entre outros, o Centro de Património Mundial da UNESCO, o Conselho da Europa, o Getty Con-

servation Institute e o World Monuments Fund. As cidades portuguesas que fazem parte da Organização das Cidades do Património Mundial são: Angra do Heroísmo, Coimbra, Elvas, Évora, Guimarães, Porto e Sintra. A esta votação ganha por Basílio Horta concorreram autarcas de Bruxelas (Bélgica), Lyon (França), Puebla (México), Quebec (Canadá), Safranbolu (Turquia), Valparaíso (Chile) e Varsóvia (Polónia). O próximo Congresso realizar-se-á em 2015 na cidade espanhola de Córdoba.


14

Dos Antigos Alunos Galeria dos Presidentes da Associação

Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957

Galeria dos

Presidentes da Associação N

o nº 181, de Outubro/Dezembro de 2010, desta nossa Revista, publicou-se um pequeno artigo do Gonçalo Leal de Matos (371/1949), noticiando as celebrações do 107º aniversário da nossa Associação, ocorrido no dia 29/10/2010. Segundo aquele artigo, as celebrações terminaram da seguinte forma: «À tarde, na sede da Associação, foi inaugurada a GALERIA DOS PRESIDENTES, feliz iniciativa da actual Direcção, que perpetua a imagem daqueles que presidiram à AAACM ao longo dos tempos». O artigo era ilustrado por duas fotografias, em que era apresentada a dita GALERIA DOS PRESIDENTES. A observação das fotografias deu para constatar que estou mesmo a ficar velho, pois reconheci nas fotos nada menos do que os 12 mais recentes presidentes. Achei na altura que era pena não terem sido publicados os nomes dos presidentes retratados e propus-me suprir esta lacuna. O tempo entretanto foi passando e só agora o estou a fazer, de acordo com o velho principio de que « mais vale tarde do que nunca». Para conhecimento de todos, aqui ficam os nomes dos nossos Presidentes, bem como os períodos em que decorreram os seus mandatos:

General José Estevam de Moraes Sarmento (44/1854), primeiro Presidente da nossa Associação.


Dos Antigos Alunos Galeria dos Presidentes da Associação

Presidentes da Associação ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■

1903 a 1906 - José Estêvão de Morais Sarmento (44/1854) 1906 a 1910 - Gaudino Anselmo de Oliveira (22/1863) 1910 e 1926 - Eduardo Augusto de Almeida (61/1872) 1922 a 1926 - Alfredo Augusto de Oliveira Machado e Costa (236/1883) 1944 a 1946 - Luís António de Magalhães Correia (164/1883) 1946 a 1947 - Henrique Augusto da Rocha Ferreira (176/1896) 1947 a 1948 - Eduardo Augusto de Oliveira Pessoa (121/1893) 1948 a 1949 - Álvaro Eugénio Neves de Fontoura (116/1901) 1949 a 1951 - Mário Rafael da Cunha (51/1904) 1951 a 1952 - Francisco Luís Supico (224/1903) 1952 a 1953 - José Augusto Vieira da Fonseca (241/1909) 1953 a 1955 - Policarpo Galeão Roma (306/1908) 1955 a 1965 - Júlio Carlos Alves Dias Botelho Moniz (106/1911) 1965 a 1973 - Venâncio Augusto Deslandes (Externo de 1918) 1973 a 1975 - Carlos Ayala Vieira da Rocha (189/1929) 1975 a 1979 - Armando José Marques Girão (426/1917) 1979 a 1983 e de 1993 a 1999 - Rui Manuel Figueiredo de Barros (62/1936) 1983 a 1987 - Carlos Manuel da Costa Freitas (50/1933) 1987 a 1989 - Joaquim Miguel de Matos Fernandes Duarte Silva (8/1934) 1989 a1991 - José Maria Soares da Costa Álvares (279/1932) 1991 a 1993 - José Baptista Pereira (318/1947) 1999 a 2002 - José Eduardo Carvalho de Paiva Morão (256/1946) 2002 a 2005 - Manuel de Mendonça Tavares da Silva (116/1950) 2005 a 2008 - José Eduardo Martinho Garcia Leandro (94/1950) 2008 a 2011 - Martiniano Nunes Gonçalves (9/1958) 2011 a - António José Sousa Valles e Saraiva de Reffóios (529/1963)

À galeria inicial de 24 fotografias foi entretanto adicionada a fotografia do Presidente relativo ao período de 2008 a 2011 de seu nome Martiniano Nunes Gonçalves (9/1958). Da análise destes dados verifica-se a existência de alguns factos que me pareceram dignos de referência e que passo a expor: - O primeiro Presidente da nossa Associação, que foi fundada em 1903, no ano do 100º aniversário do Colégio, com a designação de «Associação Philantrópica dos Alumnos do Real Collégio Militar» foi o General José Estêvão de Moraes Sarmento (144/1854), que à data desempenhava as funções de Director do Colégio. - A transição da Monarquia para a República terá sido feita pelo segundo ou pelo terceiro Presidente da Direcção. - A galeria dos presidentes apresenta uma situação misteriosa relativa ao período entre 1926 (fim

15

da 1ª República) e 1944 ( já na parte final da 2ª guerra mundial). Observa-se que em 1926 Eduardo Augusto de Almeida (61/1872) toma pela segunda vez as rédeas da Direcção, mas não se sabe quando termina a sua função. Em1944 Luís Magalhães Correia (164/1883) inicia as suas funções como presidente. Para esclarecimento desta dúvida recorri ao livro «Para lá do Colégio Militar, Uma Associação Centenária», de autoria do Rui Figueiredo de Barros (62/1936) e do seu filho Gonçalo Figueiredo de Barros (440/1967), mas sem sucesso. Neste livro são apresentados dados relativos à Direcção inicial, sendo depois apresentadas as Direcções em funções a partir de 1946, ano em que a Associação tomou a sua actual designação. - A maior longevidade de mandatos seguidos (10 anos, de 1955 a 1965) pertence a Júlio Botelho Moniz (106/1911). É de notar que é durante o desempenho deste seu mandato, em 1961, que ele é afastado da cena politica por Salazar, parecendo porém que o longo braço do velho ditador não chegou a atingir a nossa Associação. - A longevidade dos mandatos (8 anos, de 1965 a 1973) de Venâncio Deslandes também é de assinalar, tendo este homem a particularidade de ter sido aluno externo, ingressado no Colégio em 1918. - O Carlos Vieira da Rocha (189/1929) foi Presidente da Direcção durante o período revolucionário de 1974/1975 tendo tido como Presidente da Assembleia Geral o então General António de Spínola (33/1920), sucessivamente Presidente da Junta de Salvação Nacional (em 25/4/1974), Presidente da República (até 28/9/1974) e exilado politico (a partir de 11/3/1975). Não acompanhei a vida da Associação na altura, mas presumo que terá sido bem atribulada. - É de assinalar ainda que o Rui Figueiredo de Barros (62/1936) foi também Presidente durante um longo período de 10 anos, subdividido em dois períodos, o primeiro de 4 anos (1979/1983) e o segundo, dez anos mais tarde, de 6 anos de duração (entre 1993 e 1999). Foi de facto um feito notável, que o capacitou a escrever a história da nossa Associação. A todos os Antigos Alunos anteriormente nomeados rendo a minha homenagem, pois ao seu esforço desinteressado e muitas vezes ignorado se deve a continuidade da nossa Associação ao longo dos últimos cento e dez anos. BEM HAJAM.


16

Dos Antigos Alunos Ainda a propósito da Abertura do Ano Lectivo

Ainda a propósito da Abertura do Ano Lectivo e do discurso do Aluno Comandante do Batalhão, Nuno Miguel Lopes Raposo (196/2006) N

uno Miguel Raposo abre o seu discurso com a afirmação “A minha alma é neste momento invadida por um misto de sentimentos contraditórios” para, logo a seguir, acentuar os termos da contradição: entre a alegria e o orgulho “por estar a comandar o Batalhão Colegial” e a tristeza e o receio “por saber que estes claustros estão frágeis...e podem sucumbir ao mais pequeno dos terramotos”. A contradição de sentimentos divide a sua alocução em duas partes. A primeira, de solidariedade para com o empenhamento e o combate que a AAACM desde há anos vem travando, para garantir ao Colégio um futuro condizente com a sua “história invejável”, nas palavras do Nuno Miguel. A segunda, de encorajamento aos actuais alunos , parafraseando um antigo presidente americano, e colocando-lhes a pergunta “o que podeis vós fazer pelo Colégio?”. Neste encorajamento, procura envolver todos à sua volta: “uns por cá estudarem, outros por cá terem estudado, uns por cá trabalharem, outros por terem confiado ao Colégio a educação dos seus filhos”, acentuando que “a responsabilidade de manter a chama viva e de construir o futuro desta casa recai sobre todos nós”. Partilho da lucidez do Nuno Miguel Raposo na sua análise de contrários, mas penso que o perfil de tarefas que temos pela frente difere, conforme se trata da comunidade educativa ou da comunidade de Antigos Alunos. À comunidade educativa: alunos, professores e pais, utilizando as suas próprias palavras, caberá “dar início a um outro colégio (eu diria que nos valores será o mesmo) cheio de novos problemas, cheio de novos desafios e, acima de tudo, cheio de novas oportunidades”. No actual Director do Colégio, Coronel Tirocinado Figueiredo Feliciano podemos também identificar este mesmo sentimento quando, ao discursar, se dirige ao Comandante da Instrução e Doutrina do Exército dizendo que “num mo-

mento em que diferentes variáveis passaram a caracterizar o Projecto Educativo do Colégio Militar, o apoio do Meu General será decisivo e motivador para que se possa encarar o futuro com tranquilidade e confiança, cientes e seguros da prioridade que o Meu General confere ao cumprimento da nobre missão que nos incumbe”. E quando, mais adiante, puxando a questão educativa, afirma “Educar não é somente uma questão de técnicas pedagógicas e de saberes cognitivos . É também encontrar o ético sobre o técnico, o primado da pessoa sobre as coisas , a superioridade da razão e do entendimento (...) o processo educativo é um dever que aponta para uma escala de valores”. E insiste ainda, depois, que “Estamos assim perante uma evidência que os fenómenos educativos são complexos e extremamente abrangentes”.

Parece-me descortinar nestes excertos das alocuções uma clara identificação nos propósitos. À comunidade educativa caberá assim, nas actuais circunstâncias, descobrir formas práticas e procurar, no dia a dia, garantir a continuidade do projecto educativo do Colégio, atentos os seus valores e acatando o lema, como relembrou o Comandante do Batalhão, repescando uma afirmação do Presidente da AAACM: “Neste Colégio, ninguém fica para trás”. Relativamente à comunidade de Antigos Alunos parece-me que o perfil de tarefas é ligeiramente diferente. Sem deixar de acompanhar o dia a dia colegial, apoiando e ajudando a comunidade educativa a descortinar novas formulações para problemáticas antigas, cabe-lhe uma visão prospectiva e de futuro pesando, das formulações práticas, tudo de novo que possa


Dos Antigos Alunos Ainda a propósito da Abertura do Ano Lectivo

rede de uma contabilidade acrítica que hoje nos governa e envolve. Não fomos nós, nem a AAACM, que escolheu o terreno, o tempo e o modo das reformas porque estávamos a lutar. Vimo-nos confrontados, para além desse caldo de cultura contabilista, com uma convicção de poder de um perfil autoritário e arrogante, temperado pela suave ignorância e que, recusando o dialogo e a ponderação, quer andar depressa porque a janela de oportunidade é estreita. Enraizar qualquer coisa rapidamente, nem que sejam nefastos os resultados. Isto não poderia ter dado noutra coisa, senão naquilo que veio a dar. A AAACM tem resistido, e ao Seu Presidente cabe o justíssimo voto de louvor que, por isso, o Conselho Supremo lhe atribuiu. Todos nós temos resistido com a nossa participação nas diferentes acções. Mas a relação de forças é o que é, em cada momento, e temos de ter isso em conta. Mas não podemos nem devemos deixar de estar atentos ao que se passa com o Colégio, abrandar a vigilância, e a denuncia e o confronto do poder com tudo o que na prática se verifique estar a voltar-se contra o Colégio. Pois todos nós sabemos também que aquilo que é fruto da vontade e da capacidade de decisão dos humanos pode sempre ser emen-

dado e alterado mais tarde, por força dessa mesma capacidade de decisão, se não corresponder aos valores que são prosseguidos. É essa também a natureza das coisas e teremos por isso de ser persistentes. No contexto da nossa luta a decisão que se configura mais problemática é a da anunciada extinção do Instituto de Odivelas. Essa é uma decisão cuja emenda e recuperação será mais difícil. Resumindo. O intuito deste texto é apenas o de propor uma reflexão sobre a diferenciação de perfis de acção entre as comunidades atrás referidas, no intuito de aliviar a carga que, como se depreende do discurso do aluno Comandante do Batalhão Colegial, possa estar a ser sentida por aqueles que hoje se empenham em construir, na prática e em circunstâncias muito complicadas, um futuro para o Colégio Militar. Na minha maneira de ver, para lá da solidariedade que decorre de idênticos propósitos em ambas as comunidades, há tarefas de perfil diferente.

Francisco Eduardo Moreira da Silva Alves 392/1954 silva.alves.1942@gmail.com

©Foto Tiago Fonseca 140/92 tiagofonseca.photographer@hotmail.com

ser integrado no “espírito” do Colégio e tudo o que, insidiosamente, o possa descaracterizar e, nesse sentido, pôr em causa esse mesmo “espírito”. Não é tarefa nada fácil. Ainda para mais, porque há que ter em conta o sentimento da sociedade, que vai evoluindo, e apresentar formulações que continuem a impor o Colégio como uma escolha de excepção. À comunidade de Antigos Alunos, comunidade atenta, vigilante e confrontadora, caberá portanto continuar a prosseguir o seu desiderato estratégico: garantir para o Colégio um futuro condizente com a tal “história invejável”. A AAACM cumpriu até aqui o que se poderia dela esperar. Numa altura, e já lá vai uma década, quando começou a ser perceptível que o Colégio se estava a degradar no seu desempenho, meteu mãos à obra e, estudando a fundo as questões e o perfil das problemáticas, apresentou propostas de solução. Nunca será demais relembrar todos aqueles que a essa nobre missão se dedicaram. Aconteceu porém (um saudoso camarada de curso e poeta, falecido na guerra, dizia que a história se alimentava de poréns ... como tinha razão!), aconteceu porém que fomos todos nós, Antigos Alunos e a nossa Associação, apanhados pelas voltas da história, tendo entretanto a vontade reformista ficado enleada na

17

ANTIGO ALUNO

USA A BARRETINA


18

Dos Antigos Alunos Curso de 1946/1953 - 60 anos de saída

CURSO DE 1946/1953 Romagem dos 60 anos de saída 22 de Novembro de 2013

Curso 1946/1953 – 60 Anos de Saída – 22 de Novembro de 2013 ©Fotos Leonel Tomaz

E

stiveram presentes nesta romagem de saudade o convidado Coronel José Vaz Serra (Sócio Honorário) e os Antigos Alunos Ricardo Manuel Simões Bayão Horta (25/1946), Carlos Manuel de Oliveira e Vasconcelos (44/1945), Carlos Gaspar Galvão de Melo e Motta (48/1945), João Geraldes Freire (82/1945), Carlos Afonso Alves Botelho (93/1946), José Manuel Vaz Barroco (104/1947), José Fernando Reis Machado Faria (117/1945), Armando Eduardo Mire Dores (118/1946), António José Brites Leitão Rito (120/1945), António Augusto Faria e Silva (194/1945), Eurico Fanha Neves da Costa (204/1946), José Manuel Abranches de Sousa (209/1945), Isaías Augusto Pinto Gomes Teixeira (235/1946), José Eduardo Carvalho de Paiva Morão (256/1946), Fausto José do Lago Domingues (257/1945), João António Rosa Júnior (263/1945), João Goulão de Melo (265/1945), José Luís Faria Câncio Martins (268/1946), Carlos Jaime Lameira Machado Faria (269/1945), José Manuel Ferreira Correia Leal (270/1946), José Manuel Pires Trabucho (271/1946), Raul Jorge Guerreiro Cifuentes (284/1946), Nuno Maria de Castro Mendes de Almeida (295/1946), José Alberto Lopes Carvalheira (301/1946), Ismael Mendonça Vieira (312/1947), José Fernando Oliveira Vilar Saraiva (320/1947), Diogo Baptista Coelho (343/1947).


Dos Antigos Alunos Curso de 1953/1960 - 60 anos de entrada

19

CURSO DE 1953/1960 Romagem dos 60 anos de entrada 15 de Novembro de 2013

Curso 1953/1960 – 60 Anos de Entrada – 15 de Novembro de 2013 ©Fotos Leonel Tomaz

N

a Biblioteca o Pedro Miguel Roldão de Barros (218/1953), proferiu as seguintes palavras: «Excelentíssimo Senhor Subdirector do Colégio Militar Na indisponibilidade do nosso Comandante de Batalhão - 268, Carlos Beja - fui eu incumbido de dar voz ao nosso curso - o que faço com enorme satisfação. Nessa capacidade quero agradecer a V. Ex.ª a hospitalidade e esta oportunidade para mais uma vez revivermos um pouco o que foi a nossa passagem pelo Colégio e de, colectivamente, dizermos - PRESENTE. Muito agradecia que transmitisse estes nossos agradecimentos ao Excelentíssimo Director. De igual modo gostaria de transmitir aos Oficiais e Docentes uma palavra de especial apreço por tudo o que fazeis no dia a dia pela valorização dos alunos e da Instituição. Caros Camaradas do curso de entrada de 1953.

Nós todos escolhemos certas datas como pretexto para destilar aspectos relevantes do nosso colectivo. É assim com os feriados (civis ou religiosos), é assim com os nossos aniversários (de nascimento, casamento, e assim por diante). Essas datas, definidas com maior ou menor arbítrio, servem como faróis que nos permitem pôr o enfoque e reter o que de bom, construtivo, e de valor caracteriza na realidade aquilo que somos, individual e colectivamente. Assim é, também com este nosso 60º aniversário de entrada no Colégio. Hoje comemoramos o muito que recebemos e alguma coisa que demos ao Colégio: os valores fundamentais que nos norteiam; o sentimento de solidariedade humana; a camaradagem e a união para a vida de todos os que fizeram e fazem parte da família colegial; a disciplina, e o sentido do dever. Se a nossa vida pudesse ser comparada a um jogo de LEGO, certamente que foi aqui

que cada um de nós veio buscar os blocos que têm vindo a servir de base ao edifício que cada um de nós tem vindo a construir. O que aqui recebemos foi de facto uma bússola para a vida. Homenageemos pois esta Instituição, mantendo-nos fiéis aos seus valores, e fazendo tudo o que estiver ao nosso alcance para que eles não se percam ou deteriorem, por falta de vontade, por falta de entendimento, ou por malícia. O nosso Colégio navega neste momento águas turbulentas. Governantes a quem dificilmente se reconhecem alguns dos valores que, aqui, aprendemos a respeitar, têm vindo a tomar decisões na ignorância autista, ou mesmo ao arrepio, de opiniões que deveriam ter sido ouvidas previamente. Os valores que caracterizam o nosso Colégio não podem ser traduzidos cada um numa etiqueta com um preço como artigos de supermercado - é ilegítimo e é obsceno. Penso que tal abordagem reflecte a falta de


20

Dos Antigos Alunos Curso de 1953/1960 - 60 anos de entrada

preparação dos que nos governam, a crise de liderança que poderia ter sido evitada se tais senhores tivessem tido a oportunidade de ter a educação que nós aqui tivemos a qual inclui aprender a seguir e obedecer, mas também aprender a ouvir para liderar. É aquilo que temos... infelizmente. No entanto, é a minha fortíssima opinião que o golpe não tem que ser fatal. O Colégio sempre teve momentos difíceis, e sempre soube ultrapassá-los. Critico convictamente as decisões que foram tomadas sem consulta e sem qualquer espírito democrático, mas não será por isso que o Colégio deixará de ser um referencial de excelência no panorama nacional da educação de jovens e da formação de líderes para o País. Não é impossível manter condições de excelência numa escola mista, nem num regime de semi-internato. Não tem que se abdicar dos valores que têm vindo a nortear o Colégio desde os seus primeiros dias. Tem é que se saber tirar proveito das oportunidades assim surgidas. Navegar à bolina poderá ser mais penoso do que com vento de popa, mas foi assim que chegámos ao Índico. E não resisto a citar o escritor e músico canadiano Leonard Cohen: “Em tudo existe uma racha, mas é assim que entra a luz.” 1 O Colégio tem que ser RE-INVENTADO, e isso exige o empenhamento profundo de todos nós: dos antigos alunos, apoiados na nossa Associação, através de uma acção que se pode caracterizar como “evangelização” que permita informar a sociedade das características que não podemos deixar perder - incluindo as acções necessárias junto aos media e outras instituições; dos actuais alunos, fazendo jus ao bom senso que o Colégio lhes tem vindo a instilar deste os anos de “ratas”, através sobretudo dos “graduados”, que será essencial não deixar desaparecer, e que nesta fase de transição têm um papel absolutamente crítico; dos dirigentes, que estão numa posição única enquanto executivos, para fazer a ligação aos agentes políticos tantas vezes alheados da realidade colegial - Direcção, Oficiais e Corpo Docente; e das famílias, que deverão colaborar activamente neste grande projecto educativo, conscientes de que aquilo que se está aqui a modelar ultrapassa os interesses individuais dos seus filhos. É indispensável distinguir o que é essencial daquilo que é acessório - e instrumentalizar no dia-a-dia do Colégio aquilo que tem vindo e continua a ser essencial: penso que

os Antigos Alunos terão uma palavra forte a dizer na definição daquilo que é essencial manter - porventura com uma intervenção direccionada da Associação; caberá aos actuais e futuros alunos e alunas garantir que esses princípios são interiorizados e plasmados na vivência colegial; os dirigentes, esses estão numa posição operacional privilegiada para garantir que não há desvios nem facilitismos. Não podemos é deixarmo-nos adormecer. Há que manter o rumo, e não esquecer que estamos TODOS de quarto. Se assim for, se conseguirmos aplicar nem que seja um pouco da paixão que todos temos pelo Colégio e pelo que o Colégio pode fazer pelos seus futuros alunos e alunas, pela sociedade, e pelo País, então poderemos com alguma confiança dar um ZACATRAZ PELO VIGOR DO NOSSO COLÉGIO DURANTE MAIS 210 ANOS 1

“There is a crack in everything. That is how the light gets in.”

Estiveram presentes nesta romagem de saudade os Antigos Alunos Francisco Décio de Freitas e Seixas (25/1953), Armando Pavia Cumbre (39/1953), Duarte Nuno de Ataíde Saraiva Marques Pinto Soares (44/1953), Armando da Silva Vicente Bernardo

(55/1953), Rodrigo Manuel Rosas Leitão (82/1953), António João Martins de Abreu (85/1953), Raul Manuel Tamagnini Mendes de Carvalho (87/1953), Manuel Maria de Menezes Pinto Machado (92/1953), José Manuel Braga Abecasis (93/1953), Carlos Manuel de Vasconcelos Carrasco (98/1953), Ruy Alberto Ferreira de Gouveia e Vieira (113/1952), José Aurélio Sequeira Falcão (117/1953), José Augusto Sarmento Falco Pereira (142/1952), Álvaro Fins Pereira de Lacerda Machado (143/1953), Luís Manuel Caldeira Pinto (168/1953), Ventura José Ortigão de Mello Sampayo (148/1955), Bernardo Manuel Diniz de Ayala (171/1953), José Manuel de Lencastre Leitão (183/1954), José Francisco Latino Tavares (197/1952), Pedro Miguel Roldão de Barros (218/1953), Alexandre Augusto Morais Guedes de Magalhães (224/1953), António Costa e Sousa (231/1953), Gastão de Oliveira Costa Jacquet (235/1953), João José de Oliveira Falcão (256/1953), António José Frias Vasques Osório (257/1953), João Nuno Bellegarde Bello da Conceição (270/1953), João Henrique de Bívar Melo e Sabbo (301/1953), António Manuel Neves Coelho (323/1953), José Manuel Fortes dos Santos Ferreira (342/1955), António José de Azeredo Lopes (350/1954), Ruy Fernando do Carmo Ribeiro (386/1954), Paulo Manuel de Mendonça Tavares da Silva (434/1955), José Luís Salgado Antunes Barroso (435/1955).


Dos Antigos Alunos Curso de 1963/1970 - 50 anos de entrada

21

CURSO DE 1963/1970 Romagem dos 50 anos de entrada 29 de Novembro de 2013

Curso 1963/1970 – 50 Anos de Entrada – 29 de Novembro de 2013 ©Fotos Leonel Tomaz

E

stiveram presentes nesta romagem de saudade os Antigos Alunos Francisco Honorato Duarte Silva Sepúlveda (1/1963), Francisco José Petrucci Guterres da Fonseca (13/1963), Pedro Gonçalo de Oliveira Cid Peixeiro (15/1963), João Paulo dos Prazeres Reis (18/1963), Luís Raimundo da Silva Geraldo Oliveira (23/1963), Jorge Fernando da Cruz Cordeiro (27/1963), Carlos Manuel Carrilho Roma Torres (35/1963), Filipe Soares Franco (62/1963), José Alberto Mateus da Cunha Cavadas (66/1963), Marcial António Estrela Rodrigues (81/1963), Carlos Alberto da Costa Pimenta Machado (83/1963), Víctor Manuel Lopes Centeno (87/1963), Francisco Rui Cunha Leal Molarinho Carmo (135/1963), José Manuel Lopes Piairo (140/1962), Pedro Almadanim do Vadre Santa Marta (144/1963), António José da Encarnação Alcobia dos Santos Nunes (147/1963), João António Feio Pereira (157/1963), José António Paulos de Almeida Nave (178/1962), Manuel José Leal da Costa Bastos (198/1963), Pedro Manuel Lencastre Teixeira da Mota (265/1963), Carlos Alberto Restani Graça Alves Moreira (280/1963), Jorge Alexandre Rodrigues Tavares (299/1963), José Manuel Pinheiro Serôdio Fernandes (338/1963), Ricardo Manuel de Oliveira de Sousa Dias (339/1963), Carlos Manuel Dias Lima Costa (340/1963), Miguel Ângelo Wang Tamagnini (353/1963), João Manuel Porto Silva Frade (362/1963), José Manuel Duarte Presa Fernandes (403/1963), Manuel Maria de Castro e Lemos (423/1963), Luís Fer-

nando Bernardes dos Reis (429/1962), José António Ribeiro Portêlo (431/1963), João Miguel de Castro Rosas Leitão (441/1963), Nuno Manuel Vaz Amigo de Figueiredo (465/1963), José Augusto Ramos Rocha (514/1964), Manuel António Esquível Ribeiro Fernandes (516/1963), Luís Alberto Oulman da Costa de Sousa de Macedo (Mesquitela) (517/1964), António José Sousa Vales Saraiva de Reffóios (529/1963), António Manuel Carreira Mendes (532/1963), José Manuel Spínola Barreto Brito (539/1963), José Manuel Cabanas Nunes Pantaleão (614/1963).


22

Dos Antigos Alunos Curso de 1983/1991 - 30 anos de entrada

CURSO DE 1983/1991 Romagem dos 30 anos de entrada 8 de Novembro de 2013

Curso 1983/1991 – 30 Anos de Entrada – 8 de Novembro de 2013 ©Fotos Leonel Tomaz

E

stiveram presentes nesta romagem de saudade os Antigos Alunos Rodrigo Maria de Abreu Seabra de Albuquerque (8/1983), Mário Jorge Fidalgo Balas de Matos (28/1983), Carlos Alexandre da Fonseca (141/1982), Paulo Jorge da Fonseca Martins de Almeida (150/1983), André Dias Alves Correia (154/1983), Nuno Miguel Matos Silva Pires Pombo (173/1983), Miguel Assis das Neves Carneiro de Góis (188/1983), José Miguel Varela Anastácio de Azevedo Barroso (189/1983), Luís Carlos da Silva Serafim (237/1983), Tiago Nuno Neto Jerónimo dos Reis Morais (241/1983), Luís Miguel Cabral de Sousa Aragão (271/1982), Gonçalo Malato Beliz Guerreiro Júdice (316/1983), Pedro Filipe Paulo Marinho Falcão (330/1983), Nuno Rodrigo Corrêa Mendes de Atayde Montez (384/1983), João Pedro Mendes Carreiro Gomes (390/1983), João Carlos Ferreira Rosa (412/1982), José Manuel Magrinho Dias (414/1983), Francisco José Costa Marcos do Nascimento (418/1982), Nuno Miguel Spencer Salomão de Abreu (423/1982), José Miguel Paes Godinho (434/1983), Vitor Ricardo Venâncio Cardoso (443/1983), Pedro Miguel Saraiva Pinheiro (447/1983), Duarte Nuno de Bastos e Silva Marques Moreira (457/1983), Paulo Tiago de Oliveira Rodrigues Alves Costa (465/1983), Luís Gabriel Barbosa Vicente Rodrigues (468/1983), Luís Miguel da Costa Soares (469/1983), Pedro Miguel Domingos Isidoro (471/1983), Alexandre Manuel de Moura Teixeira Vieira (482/1983).


Dos Antigos Alunos Monumento ao valor do Colégio Militar

23

Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957

Monumento ao valor

do Colégio Militar

N

o artigo “Jornada de Luto”, publicado no nº 193 Outubro/Dezembro de 2013 desta nossa revista, indiquei que um dos actos simbólicos escolhidos pelos Antigos Alunos para expressarem o seu pesar pela situação criada ao nosso Colégio pelo Ministro da Defesa, consistiu em cobrir de crepes o monumento dedicado ao valor do Colégio Militar, existente no Largo da Luz, mesmo defronte à entrada principal do Colégio. Indiquei ainda no mesmo artigo, que este monumento foi erigido por iniciativa e a expensas de Antigos Alunos, facto que alguns Antigos Alunos actuais, sobretudo os mais novos, poderiam eventualmente desconhecer.

Para suprir esta eventual lacuna de conhecimento, resolvi trazer às páginas da nossa revista extractos do texto relativo a este monumento apresentado pelo Costa Matos (96/1950) na sua obra «História do Colégio Militar», editada em 2003, por ocasião das comemorações do 2º centenário do Colégio. Segundo o que o próprio Costa Matos nos informa na sua obra, esse texto foi por sua vez baseado na obra de Jayme Duarte de Almeida (12/1920) «O Colégio Militar 1803-1953», publicada por ocasião das comemorações dos 150 anos de existência do Colégio. Indica-nos a obra referida que «a ideia de erigir um monumento nasceu em Junho de 1925,

ano em que se completavam cem anos sobre a morte do Marechal Teixeira Rebelo. Uma vez que já havia o seu busto no átrio de entrada principal, inaugurado quando das comemorações do 1º centenário da Fundação, o grupo de Antigos Alunos que serviam nessa altura no Colégio, e de quem partira a ideia, terá então optado por uma evocação à obra do Fundador. Esse grupo constitui-se como comissão promotora e desencadeou desde logo uma subscrição para a qual contribuíram alunos, antigos alunos e grande número de outras pessoas que ao Colégio, directa ou indirectamente, deviam algum beneficio ou viam com simpatia a sua existência. O principal impulsionador da comissão promotora da criação do monumento foi o então capitão Vieira da Fonseca (241/1909), que mais tarde, em 1942, foi o criador do primeiro guião do Colégio do tempo da República e que ainda mais tarde, entre 1947 e 1952, foi subdirector do Colégio.» Segundo nos informa a obra do Costa Matos «O projecto do monumento coube a um arquitecto e a um escultor, ambos antigos alunos, e a fundição dos elementos em bronze foi feita também sob a direcção de um antigo aluno engenheiro na Fábrica Militar de Braço de Prata». Dos três Antigos Alunos referidos só consegui apurar a identidade do arquitecto que foi o Paulo Henrique de Carvalho e Cunha (351/1920). Segundo a memória descritiva do monumento, o mesmo «é uma construção de linhas arquitectónicas simples e rígidas, e tem na sua


24

Dos Antigos Alunos Monumento ao valor do Colégio Militar

composição, como factor principal, as divisas da Ordem Militar da Torre e Espada, com cujo grau de Cavaleiro o Colégio foi condecorado em 1920. E assim, em três das suas faces estão representados, em outros tantos baixos relevos fundidos em bronze, de 2,10m de alto por 0,80m de largo, o Valor, a Lealdade e o Mérito, sendo a parte restante do monumento executada em pedra lioz de Pero Pinheiro, de cor branca. Na quarta face, a principal, fronteira ao edifício do Colégio e encimada pelo escudo nacional, estão esculpidas as legendas «Ao Colégio Militar 1802» e «Os antigos alunos 1932», entre as quais estão gravadas as palmas da Grã-Cruz da Ordem da Instrução, com que o Colégio foi condecorado em 1931. Por abaixo dessas faces e no ressalto dos braços de uma cruz, que serve de base ao monumento, estão inscritas correspondentemente aos baixos relevos de bronze, as palavras, Valor, Lealdade e Mérito, e esculpida, correspondentemente à face principal, a insígnia da Torre e Espada.» O monumento foi solenemente inaugurado na tarde do dia 3 de Março de 1932. Foi descerrado pelo Marechal Óscar Fragoso Carmona (24/1882), então Presidente da República, que creio ter ali vivido um momento de júbilo na sua qualidade de Antigo Aluno devotado ao Colégio. Na cerimónia solene ali vivida, o então capitão Vieira da Fonseca (241/1909), já anteriormente referido, proferiu um breve discurso alusivo ao acto, do qual transcrevo algumas passagens: «Numa hora feliz alguém lançou a ideia de se erigir um monumento ao Colégio Militar. E como semente lançada a terra fertilíssima, a ideia criou raízes, tomou vulto e frutificou. O entusiástico acolhimento dispensado, desde o inicio, à ideia do monumento é prova indelével de que ela estava no íntimo de todos os antigos alunos do Colégio Militar, razão porque não pode ser apontada como pertencendo a um só. O monumento é mais uma afirmação das possibilidades e qualidades intrínsecas dessa plêiade imensa constituída pelos antigos alunos do Colégio Militar, porquanto, desde a elaboração do projecto à sua realização, tudo foi executado e dirigido por antigos alunos.» Após ter afirmado o agradecimento da Comissão Executiva a quantas entidades haviam facilitado a materialização de tão feliz ideia , o orador terminou evocando o espírito colegial, perfeitamente traduzido nestas palavras: «Na actual época agitada e incerta, em que as mais sólidas instituições parecem sentir-se abaladas, somente aquelas que assentam no culto da tradição encontram nele um esteio forte e seguro. E como o valor das instituições como o Colégio Militar se avalia pela maior ou menor soma

de valores produzidos, o monumento constitui também uma homenagem dos antigos alunos àqueles dos seus condiscípulos que , até ao seu ultimo alento, pelo seu esforço e saber, deram maior grandeza, honra e glória a Portugal. Aos alunos do Colégio Militar, portanto, o monumento deve ser apontado, também, como um símbolo daquela forte e indestrutível camaradagem que, sem fazer distinção de idades e categorias, liga, através da vida, todos os antigos alunos do Colégio Militar». Ao longo da sua existência de mais de oitenta anos, o monumento ao valor do Colégio Militar tem sido local de peregrinação dos cursos de Antigos Alunos que demandam o Colégio, para aí comemorarem os aniversários da sua saída ou entrada. Aí se postam respeitosamente em sentido e depositam na base do monumento coroas de flores, testemunhos da sua gratidão ao Colégio pela educação que lhes foi proporcionada e, sobretudo, pelos valores que lhes transmitiu para por eles se orientarem para o resto das suas vidas. É esta a história singela deste nosso monumento, esquecido por alguns, que agora saltou para a ribalta devido a uma acção lastimável, atentatória do valor do Colégio Militar. Oxalá que os Antigos Alunos nunca mais venham a ter de tomar uma atitude tão penosa como

aquela que no passado mês de Outubro protagonizaram. Não posso acabar este artigo sem referir o facto, para mim chocante, de o monumento ao valor do Colégio Militar estar «enquadrado» por um quiosque de venda de jornais e por um marco dos correios. Dispensava-se bem este enquadramento «sui generis». Alguém que possa, que ponha cobro a esta infeliz e inestética situação. Nota final: O dia 3 de Março de 1932 foi um dia duplamente festivo. De tarde foi inaugurado o monumento ao valor do Colégio Militar, na manhã do mesmo dia foi descerrada na Feitoria, também pelo Presidente da República, uma placa, ainda hoje lá patente, com os seguintes dizeres: «Neste sitio da Feitoria foi fundado no ano de 1802 pelo coronel António Teixeira Rebelo, comandante do Regimento de Artilharia da Corte, aquartelado na vizinha torre de São Julião da Barra, o Colégio Militar, que tantas gerações tem educado no culto da Pátria e do Dever. Homenagem de um grupo de Antigos Alunos. 3 de Março de 1932.»


Dos Antigos Alunos Jantar de Natal no Porto

Jantar de Natal no Porto

M

ais de três dezenas de antigos alunos reuniram-se em jantar de Natal, na noite de 12 de Dezembro como habitualmente no restaurante da Messe de Oficiais do Porto. Uma vez mais tivemos connosco o actual Presidente da Direcção daz Associação e seu antecessor, respectivamente o António Saraiva de Reffóios (529/1963) e o Martiniano Gonçalves (9/1958), que sistematicamente, duas vezes por ano (Natal e “3 de Março”) se deslocam de Lisboa exclusivamente para estarem naqueles nossos convívios, regressando a suas casas após o jantar. Trazem-nos o abraço de camaradagem do “Largo da Luz” e actualizam informação sobre as actividades da Associação e a evolução da problemática Colegial. Assim aconteceu também nesta nossa reunião. Após o actual Delegado da Associação ter anunciado a aceitação como seu sucessor por parte do Bruno Pinto Basto Soares Franco (281/1970), o António Saraiva de Reffóios descreveu-nos as sucessivas e fortes tomadas de

25

Estiveram presentes: 529/1963 9/1958 261/1940 147/1948 23/1949 96/1950 319/1950 153/1951 314/1955 6/1956 342/1961 27/1963 35/1963 83/1963 281/1963 403/1963 423/1963 596/1963 329/1965 48/1967 100/1967 572/1969 403/1970 176/1971 340/1971 488/1971 200/1973 391/1974 641/1974 688/1974 146/1976 494/2003

posição e diligências da Direcção da Associação em prol da preservação das características únicas e fundamentais do Colégio Militar. O Martiniano Gonçalves chamou a nossa atenção para a importância de tanto quanto possível participarmos activamente nos actos eleitorais através do voto optando por qualquer uma das formas previstas para tal. Por último o José Alberto da Costa Matos (96/1950) na sua qualidade de Presidente do Conselho Supremo leu-nos o discurso que havia proferido aquando do jantar anual da Associação, realizado em 29 de Novembro de 2013 (entretanto já publicado na última revista “Zacatraz”). Após expressão de votos de Boas-Festas, o “rata” da reunião gritou bem sonante, acompanhado por todos, o nosso tradicional “ZACATRAZ”. O Delegado da AAACM no Porto José Manuel Simões Ramos de Campos 319/1950

António José Saraiva de Reffóios Martiniano Nunes Gonçalves Manuel José Martins Rodrigues António Rui Prazeres de Castilho José António Campos Resende Santos José Alberto da Costa Matos José Manuel Simões Ramos de Campos Jorge Manuel Morais Silva Duarte Rui Carlos Aires Ferreira Francisco Xavier de Menezes Albino Manuel Pereira de Sousa Botelho Jorge Fernando da Cruz Cordeiro Carlos Manuel Carrilho Roma Torres Carlos Alberto da Costa Pimenta Machado José António Marques Salgado Lameiras José Manuel Duarte Presa Fernandes Manuel Maria de Castro e Lemos Domingos Alcides Rocha de Magalhães António José Mesquita da Cruz Álvaro Manuel Cruz Cordeiro José Manuel da Silva Pinto dos Reis João Manuel Sanches Roma Moreira Lobo Paulo César Alves Bacelar António Jaime Tavares Coutinho Lanhoso Vasco Manuel Felgueiras Ferreira Guilherme Eduardo de Novais e Silva Paulo Manuel Santos Lestro Henriques José Eduardo da Costa Silva Pereira Jorge Manue Alves Caetano Augusto José Ferreira de Matos João José Sanches Cruz Canuto Daniel Úria Teixeira

Mensagem do Marechal Eu vos saúdo, amigos A alma irá ficar… Nem mudanças nem perigos Vos farão vacilar. Serei o “timoneiro” Num mar em desvario, Enfrentando altaneiro Mais este desafio. O destino é comum, Por vós hei-te velar. Vosso nome é só um: Colégio Militar! A fé vos faz crescer, Em vosso sangue corre. Não podemos morrer Pois Portugal não morre.

Roberto Ferreira Durão 15/1942


26

Do Colégio 3 de Março

211º Aniversário do Colégio Militar 3 de Março de 2014 O

s festejos do aniversário do Colégio tiveram lugar este ano no fim-de-semana de 8 e 9 de Março. No dia 6, antevéspera dos festejos, o ministro da Defesa Nacional, que persiste na sua sanha de descaracterizar e destruir o Colégio, fez saber, às 11 da noite, que iria visitar o Colégio no dia seguinte de manhã, acto este, no mínimo, de grande deselegância. A não ser num caso de urgência, ninguém avisa o anfitrião da sua visita sem a antecedência que o respeito e a boa educação recomendam. Em vez de presidir às cerimónias comemorativas do aniversário do Colégio, acto para o qual lhe falta a coragem, preferiu ir sorrateiramente ao Colégio de véspera, levando no seu séquito elementos da comunicação social, atempadamente prevenidos da visita, para no final do seu périplo pelo Colégio poder fazer aos media as declarações que mais lhe conviessem. Esta atitude deplorável do ministro, mais uma, teve no entanto o mérito de nos livrar da sua indesejável presença durante os festejos, que representam para nós Antigos Alunos o ponto mais alto da nossa ligação ao Colégio. A terminar a minha reportagem do 3 de Março de 2013, afirmei que foi um dos melhores 3 de Março a que tive oportunidade de assistir em toda a minha vida, pois o programa tinha sido mais rico do que o usual, com atribuição do nome do Prof. Dario Fernandes ao nosso ginásio e com o lançamento de mais um magnífico livro do Costa Matos (96/1950), o actual «cronista oficial» do Colégio. Naturalmente não seria razoável esperar, logo a seguir, um novo 3 de Março tão rico. Por outro lado este ano teríamos a novidade de termos meninas no Colégio, situação com a qual continuo a não concordar, não tendo porém nada contra as ditas meninas, que não têm qualquer culpa da infeliz situação que a todos foi criada pela teimosia e falta de bom senso e sensibilidade do ministro da tutela. Em suma, fui para este 3 de Março com expectativas baixas.

Dia 8 de Março (Sábado) De acordo com o novo modelo adoptado o ano passado, os festejos iniciaram-se na Feitoria com o acender da chama a transportar de seguida para o

Colégio. Esta pequena cerimónia, que em boa hora foi instituída e à qual não assisti, decorreu, segundo testemunho recebido, com a sobriedade adequada ao local, berço do Colégio Militar, onde o então Coronel Teixeira Rebelo deu inicio à materialização do seu sonho de dar uma educação integral aos filhos dos militares colocados na fortaleza de São Julião da Barra, ou que ali tinham as suas famílias e que se encontravam em comissão de serviço nas mais variadas e distantes paragens do Império Português de então, onde ainda se incluía o Brasil. É de facto impressionante a antiguidade do Colégio. Às 10H00 deu-se início às cerimónias no Colégio, com o Batalhão em formatura na designada Parada Nova, onde eu sempre vejo, em pensamento, o velho Pavilhão do Desenho, em má hora demolido, pois era um edifício com umas condições de iluminação únicas, que todos nós muito apreciávamos e onde passávamos bons momentos nas aulas que aí tínhamos. Enfim, saudosismos próprios da idade. Mas voltemos ao que interessa. Formado o Batalhão foi prestada continência ao Director do Colégio, com o Batalhão a apresentar armas e a Banda do Exército a executar a marcha da continência. Ao observar o Batalhão dei pela falta do Ajudante de Comandante de Batalhão, pois já sabia, desde a cerimónia de abertura solene do ano lectivo, que esta função tinha sido restabelecida. Fui informado que ele não estava ali presente por estar a representar o Colégio numa importante competição desportiva. Como esta foi a minha graduação, foi com desgosto que vi desaparecer há uns anos atrás esta figura, suprimida a pretexto da pequenez cada vez maior dos cursos finalistas. Não é que esta função tenha muito trabalho para fazer, no meu tempo não me cansei no seu desempenho, que me proporcionou uma vida santa e despreocupada, mas custava-me ver nas cerimónias o Comandante de Batalhão andando sozinho de um lado para o outro, sem ninguém ali à mão a quem ele pudesse recorrer, para transmitir alguma ordem. Em boa hora a função ressuscitou. Seguiu-se o hastear do Guião do Colégio, acompanhado pelo entoar do hino do Colégio, cantando

O Comandante do Batalhão, Nuno Miguel Lopes Raposo (196/2006) e o Batalhãozinho, Diogo Trindade Rodrigues Martins (279/2013), na Feitoria.

Guarda de Honra na Feitoria para hastear a Bandeira Nacional.


Do Colégio 3 de Março

27

por todo o Batalhão e pelos Antigos Alunos presentes. À frente do Batalhão e no seu comando, o Aluno nº 196/2006, de seu nome Nuno Miguel Lopes Raposo, o senhor que nas cerimónias de abertura do presente ano lectivo proferiu um corajoso discurso, que tão depressa não esqueceremos. De acordo com o programa estabelecido seguiu-se uma alocução aos Alunos pelo Presidente da nossa Associação, o António Reffóios (529/1963), acabado de ser eleito para um novo mandato, para o qual se disponibilizou nas condições muito difíceis que o Colégio e a Associação atravessam, revelando um sentido de dever e um espírito de missão, que não posso deixar de sublinhar, desejando-lhe um mandato menos duro do que aquele que acaba de completar. Atentem nas palavras que o nosso Presidente escolheu para proferir na presente situação, as quais foram, a meu ver, de grande oportunidade e espelham o alto conceito em que temos o senhor aluno Comandante de Batalhão. “Senhor Director do Colégio Militar, Coronel tirocinado José Feliciano Caros Colaboradores militares e civis do Colégio Militar Caros Pais, Encarregados de Educação e Familiares dos Alunos e Alunas do Colégio Militar Caros Alunos e Antigos Alunos do Colégio Militar Neste momento em que se iniciam as comemorações do 211º aniversário do nosso Colégio quero saudar, em nome de todos os AA do CM, a Comunidade Colegial aqui representada, com a emoção, o sentimento de pertença e a confiança de sempre. Permitam-me uma saudação especial aos Pais e familiares dos actuais Alunos e Alunas do CM, da Escola Primária e do Batalhão Colegial, em particular aos que nos acompanham pela 1ª vez nestas celebrações, pela decisão de confiarem a esta escola a educação dos seus filhos. Celebramos uma vida longa. Celebramos uma história ímpar. Celebramos um passado do qual legitimamente nos orgulhamos. Celebramos um presente que tem de estar á altura desse passado e construir o futuro. Celebramos os nossos. Celebramos Portugal. Ao fazê-lo, cumpre-nos honrar a memória de todos aqueles que constituem o que designamos de “Família Colegial” que ao longo de mais de dois séculos escreveram esta história única e que já não se encontram entre nós. São eles todos os AA e todos os Servidores Militares e Civis desta Casa, já desaparecidos. Ao fazê-lo cumpre-nos também prestar, com um sentimento de admiração e gratidão profundos, o tributo à figura maior deste legado que é o CM, o seu Fundador - o Marechal António Teixeira Rebello - cuja visão, humanismo, sentido de estado e determinação tornaram possível tão ambicioso quanto inovador projecto, numa época de grande incerteza como àquela que se vivia no ano de 1803, véspera das invasões napoleónicas.

Desfile do Batalhão sobre o comando do Aluno Nuno Raposo (196/2006).

Sem menosprezo pelos demais grupos e entidades já citados, que constituem a Comunidade Colegial, e do seu insubstituível papel na indispensável melhoria que ansiamos e exigimos se produza em termos gerais e do desempenho académico em particular, é aos Alunos, a razão de ser da existência desta casa, a quem quero dirigir-me nesta ocasião. Fá-lo-ei fiel ao compromisso da AAACM na sua missão de apoio ao CM e aos seus Alunos, sem reservas ou discriminações de qualquer natureza e independentemente dos condicionalismos resultantes das opções tomadas ou a tomar pela tutela política. Fá-lo-ei também ciente de que a estabilidade do funcionamento interno da estrutura do Colégio e dos seus Alunos é uma prioridade inquestionável. Fá-lo-ei dirigindo-me ao Aluno 196, Nuno Raposo, que na sua condição de CB representa o universo de todos os Alunos do CM. E fá-lo-ei respondendo ao discurso que o mesmo proferiu em 18 de Outubro passado na abertura solene do corrente ano lectivo, numa demonstração inequívoca dos valores de liberdade e de responsabilidade que, entre outros, conformam o modelo educativo desta casa há mais de dois séculos e uma emanação perfeita do espírito do CM. O eco das suas palavras ainda persiste. Elas foram uma afirmação de responsabilidade, liderança e de maturidade. Atrevo-me a dizer que nenhuma

outra escola prepara Alunos, tão jovens, capazes de uma tão eloquente demonstração de cidadania, que faz parecer natural um jovem Aluno questionar um ministro de forma firme, desassombrada e corajosa, mas também inteligente e correcta. É pois a ti 196, que neste 3 de Março me dirijo, respondendo a estas tuas palavras. Confidenciaste a inquietação que te vai na alma. Afirmaste, sem eufemismos, que o Colégio enfrenta um dos mais difíceis momentos da sua história e que o MDN destruiu com tinta, o que muitos construíram com sangue, pondo em risco a obra do Marechal. Compreendemos a tua inquietação, que também é nossa, e comungamos dos teus receios, que são os nossos. A reforma em curso, feita sem a ponderação e preparação que seriam exigíveis, é um sinal de desrespeito pelo Colégio que justifica essa inquietação e esses receios. Afirmaste, sem ambiguidades, que não podemos ficar agarrados ao passado, ao exortares toda a Comunidade Colegial para o esforço que é necessário na construção do futuro. Fizeste-o apelando em particular ao esforço dos Alunos, á dedicação dos Professores e ao acompanhamento dos Pais, centrado na melhoria indispensável do desempenho escolar. Concordamos com a oportunidade deste teu apelo, uma vez que o desempenho académico é condição essencial para o desejável reforço da imagem de qualidade do CM e o aumento da sua


28

Do Colégio 3 de Março

procura por parte da sociedade. Apelaste a todos os Alunos, em especial aos Alunos graduados, para o cumprimento do Código de Honra. Juntamos a nossa voz a este teu apelo, pois acreditamos que é o Código de Honra, a par dos valores que norteiam a Instituição Militar como a honradez, a disciplina, a camaradagem e o amor à Pátria, que constituem os elementos distintivos do modelo educativo do CM e a razão da sua longevidade. Disseste também que o Colégio que conhecíamos acabou e que começou um outro, diferente, cheio de problemas e desafios, mas também de oportunidades. Apelaste uma vez mais ao esforço conjunto e solidário de toda a Comunidade Colegial na construção do futuro, á luz dos valores idealizados pelo Fundador e que estão inscritos no Código de Honra. Partilhamos a tua visão e saudamos o teu pragmatismo. Partilhamos o sentido de descontinuidade das tuas palavras e o teu apelo. O desafio que temos pela frente é de construir uma ponte sólida sobre o abismo criado e unir o passado ao futuro. É sobre esse desafio que quero dizer-te: O despacho não extinguiu a camaradagem, nem sequer afectou os seus fundamentos. O despacho não extinguiu o valor da disciplina. O despacho não extinguiu o amor á Pátria. O despacho não extinguiu a nossa História. O despacho não extinguiu o contributo dos AA para o futuro do Colégio e de Portugal. Quero por fim dizer-te, a concluir: A nossa alma e as nossas convicções não se extinguem por despacho e, na verdade, a ponte necessária entre o passado e o futuro já existe. Acreditamos que se o nosso Colégio permanecer público e militar, essa ponte jamais será destruída. “Este reino é obra de soldados”, disse-o Joaquim Mouzinho de Albuquerque, um dos maiores soldados de Portugal. Ora, a história deste Colégio também é obra de muitos soldados que aqui estudaram e serviram e não se extingue por despacho. É nossa firme convicção que as Forças Armadas e o Exército em particular, entenderão a importância da transmissão dos seus valores através de uma escola como esta, e que assim preservem e promovam o essencial da sua matriz Militar e do seu modelo educativo, em prol da Instituição Militar e para bem de Portugal. Dito isto e se, tal como afirmaste, este período difícil do nosso Colégio também oferece oportunidades, a maior de todas elas é, sem qualquer dúvida ou hesitação, o verdadeiro reencontro do Colégio Militar com as Forças Armadas e o Exército em particular. Pela nossa parte tudo faremos para que assim aconteça. Este será o último 3 de Março para ti e para os teus camaradas finalistas. Serão dias que ficarão para sempre gravados na vossa memória e no vosso coração. Nós, Antigos Alunos fazemos votos para que desfrutem com alegria estes momentos,

Os convidados do Duke of York’s Royal Military College na escadaria da Enferma

e confiamos que as cerimónias decorrerão com o brilho de sempre. Termino, pedindo-te, na tua qualidade de CB e tal como vem sendo prática nos últimos anos, que o 1º Zacatraz destas comemorações seja por Portugal, a Pátria que o nosso Código de Honra nos ensina a amar e respeitar. Muito obrigado”. Seguiu-se o tradicional acender da chama no monumento ao Colégio, tendo-se utilizado para tal a chama vinda da Feitoria. A chama assim acesa é a chama que gostaríamos de continuar a ver reacendida por muitos e bons anos, sinal de continuidade da chama que nos foi transmitida nos anos da nossa permanência na Luz. As cerimónias na Parada Nova terminaram com o tradicional Zacatraz por Portugal e pelo Colégio, bradado pelo Comandante de Batalhão. A 4ª Companhia dirigiu-se em seguida para a Parada do Corpo de Alunos, para a recepção ao Comandante de Instrução do Exército, Tenente-General Frederico José Rovisco Pais, entidade que este ano presidiu às cerimónias do aniversário do Colégio e a quem a 4ª Companhia prestou as devidas honras militares regulamentares. As cerimónias tiveram depois a sua sequência nos Claustros, a nossa «Sala de Honra», cujas lajes foram marteladas e desgastadas pelas nossas passadas, por ocasião das incontáveis cerimónias que ali se desenrolaram ao longo dos anos. Nas abóbadas das arcadas dos Claustros ainda hoje ecoam as ordens dadas por todos aqueles que foram graduados e que tiveram à sua responsabilidade a formação dos Alunos seus comandados. Foi isto que levou, há muitos anos atrás, um dos mais prestigiados Directores que o Colégio teve, a dizer, referindo-se às pedras dos Claustros, «estas pedras têm feitiço». É justamente esse feitiço que não nos larga e que nos atrai à Luz, para continuarmos a

celebrar as efemérides mais importantes da vida do Colégio e das vidas dos nossos cursos. E é sobre aquelas pedras enfeitiçadas que nós fixamos as lápides evocativas das nossas romagens de saudade ao Colégio. Chegado aos Claustros esperava-me uma surpresa. Os alunos e alunas da Instrução Primária, acompanhados pelas suas professoras, estavam postados em frente ao Batalhão Colegial, para assistirem às cerimónias que se iriam seguir. Foi então que conheci a minha sucessora, a aluna nº71, Victória Barbedo, que frequenta a 1ªclasse. Tem boa pinta, falta-lhe um dente à frente, fenómeno próprio da idade, e deixou-me completamente rendido ao seu «charme», quando me falou sem qualquer acanhamento e me disse que não achava que eu fosse velho. O que é que um pobre sexagenário pode ouvir de mais agradável? Com o Batalhão completo, já integrando a 4ª Companhia vinda da Parada do Corpo de Alunos, procedeu-se à integração na formatura do Estandarte Nacional, carregado de condecorações, que atestam bem o alto apreço em que governantes nacionais e estrangeiros tiveram o Colégio, ao longo da sua existência de mais de dois séculos. A integração do Estandarte Nacional fez-se ao som da «Portuguesa», cantada por todos os presentes com o acompanhamento da banda do Exército. É um dos momentos altos da cerimónia, que apesar de muito repetido não deixa de nos emocionar. Seguiu-se no átrio de entrada do Colégio a tradicional cerimónia de homenagem aos Antigos Alunos do Colégio que deram as suas vidas ao serviço da Pátria. Foram muitos os que com o seu sacrifício honraram o Colégio onde se fizeram homens. Neste ano, em que se comemora um século do inicio da 1ª Guerra Mundial, a nossa gratidão e o nosso respeito vão, em particular, para aqueles que na mesma tombaram, tanto em França, como em Angola e em Moçambique. Nunca os esqueceremos.


Do Colégio 3 de Março

Concluída esta cerimónia prenhe de significado, foi a vez do Director do Colégio se dirigir a todos os presentes, tendo proferido o seguinte discurso: “Excelentíssimo Senhor Tenente-General Frederico José Rovisco Duarte, ilustre Comandante da Instrução e Doutrina do Exército, Meu General Comandante, O Colégio Militar agradece a presença de V.Ex.ª nesta cerimónia de profundo significado, que muito nos honra pela dimensão institucional que representa e materializada na perenidade da ligação do Colégio Militar ao Exército Português. Mas mais do que o significado institucional, entendemos a presença de V.Ex.ª como um estímulo e um sinal de reconhecimento pelo trabalho e dedicação permanente em prol da nossa nobre missão. −Excelentíssimos Senhores Oficiais Generais, −Excelentíssimo Senhor Doutor Fábio Martins de Sousa, Presidente da Junta de Freguesia de Carnide, −Excelentíssimo Senhor Major-General, Fernando Cóias Ferreira, Director de Educação, −Excelentíssimos Senhores antigos Directores e Subdirectores do Colégio Militar que saúdo na pessoa do Senhor Tenente-General Perry da Câmara aqui presente, −Excelentíssimos Senhores Directores do Instituto dos Pupilos do Exército e do Instituto de Odivelas a quem me dirijo de forma particular, pela missão igualmente cumprimos, −Excelentíssimos Senhores Presidentes das Associações de Antigos Alunos e de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do Colégio Militar, A presença de vossas excelências simboliza a importância do acompanhamento das actividades desta instituição por toda a comunidade colegial que muito prezamos. Nas pessoas de vossas excelências saúdo todos os Antigos Alunos, Pais e Encarregados de Educação, −Distintos Convidados, −Estimados Professores, Oficiais, Sargentos, Praças e Funcionários que servem no Colégio Militar, Caros Alunos e Alunas, TODOS, Alunos do Colégio Militar As minhas primeiras palavras são dirigidas aos 211 anos de História do Colégio Militar e ao seu Fundador. O Colégio Militar nasceu a 03 de Março de 1803, com a designação de Colégio da Educação Militar do Regimento de Artilharia da Corte, pelo sonho e obra do então Coronel António Teixeira Rebello, personalidade de indelével referência para todos os servidores do Colégio que, diariamente, o recordam como alguém que soube dar forma a um projecto de apoio ao ensino de crianças órfãs, carenciadas e filhos de militares destacados. O Fundador era um homem que tinha, [e passo a citar], “uma concepção humanista do mundo e não acreditava em dogmas que afastassem o homem do caminho da razão, na interpretação do saber, dos sentimentos, das pequenas e grandes coisas da vida” [fim de citação].

Foi a visão deste homem que, em 1803, num mundo em permanente convulsão, levou à fundação de um Colégio crente nos valores, [e volto a citar], “da solidariedade, da fraternidade, da justiça, da igualdade e da camaradagem” [fim de citação], valores que, tal como dantes, são um património que importa continuar a ter como referência na formação dos nossos alunos. Esta é a pureza dos ideais de uma obra que perdura ao longo de mais de dois séculos e que está no espírito e na génese do lema do Colégio Militar: “SERVIR”. Num acto simbólico, mas de profundo significado, acendemos hoje a chama no Memorial da Feitoria, em Oeiras, recordando o nascimento do Colégio que hoje comemoramos. Os seus pilares erguem-se nas fundações do tempo, no silêncio das placas presentes nas paredes destes majestosos claustros, mas sobretudo nas obras e feitos de todos aqueles que estudaram e cresceram neste Colégio e, mais tarde, vieram a ser obreiros da história do Portugal que hoje somos. Deixo, também, aqui uma palavra de homenagem e admiração aos que nos antecederam no anonimato do tempo, bem como aos actuais servidores do Colégio Militar, em especial num momento que todos seremos necessários para continuar a engrandecer o nosso Colégio. Ao longo da sua história, o Colégio Militar passou por diferentes fases e transformações, tendo, inclusive, sofrido as agruras de transferências das suas instalações, passando por Rilhafoles e por Mafra, alterando a sua designação inicial e, sobretudo, foi crescendo pela evolução dos seus formatos pedagógicos, decorrentes de diferentes reestruturações no seu sistema de ensino. Durante a sua existência, assistimos, no entanto, à constância e genética de um Colégio assente numa matriz formativa de natureza castrense, como estabelecimento militar de ensino inserido na orgânica do Exército Português, o que lhe confere um conjunto de responsabilidades institucionais e organizacionais próprias e diferenciadas. Com mais de dois séculos, o Colégio Militar é reconhecidamente considerado um Colégio adulto e consolidado no valor dos elevados serviços prestados à Pátria, à Nação Portuguesa e ao Mundo. Meu General, Distintos Convidados, Oficiais, Professores, Sargentos, Praças e Funcionários civis, Caros Alunos, Encontrado o legado que nos orienta, é o momento de olharmos para a actual realidade do Colégio Militar. Como é do conhecimento de todos, encontramo-nos numa fase de adaptação a novas reconfigurações funcionais e pedagógicas. Até ao ano lectivo passado, o Colégio Militar era frequentado exclusivamente por alunos masculinos e vivia num regime prioritariamente orientado para o internato. No presente ano lectivo, integrámos uma outra

29

realidade no nosso projecto educativo, decorrente da abertura do 1º Ciclo do Ensino Básico, da introdução do ensino misto pela admissão de alunos do género feminino, e pela opção do regime de frequência entre internato e externato para os alunos masculinos. O universo e o perfil de alunos a frequentar o Colégio Militar alargou-se. O desafio que hoje se coloca ao Colégio Militar é identificar o que evolui e o que permanece, procurando construir um renovado e crescente formato pedagógico que continue a preservar o desenvolvimento de um conjunto de princípios e valores à luz da identidade nacional e das virtudes militares, encontrando, no conjunto das novas variáveis, o potencial e os factores multiplicadores de um projecto educativo único, adaptado aos desígnios sempre presentes de uma verdadeira escola de formação integral. Nesta equação teremos de entender o meio e as envolventes, a comunidade e a sociedade de onde emanamos, para de uma forma permanente e continuada, adoptar uma atitude de reflexão e avaliação, mas também de acção e resposta, fazendo evoluir o projecto educativo do Colégio Militar para um efectivo valor acrescentado. Apesar dos seus 211 anos de História, somos hoje, uma instituição aprendente, não só pelo momento que atravessamos, mas também, porque todos os sistemas formativos devem gozar desta característica. Será no respeito pela diferença e na igualdade de “UM POR TODOS, TODOS POR UM”, e na assunção de um quadro de evolução assente num crescente pluralismo, que o Colégio está a percorrer o seu caminho, pelo desenvolvimento de um modelo formativo que continue a encontrar nos valores da união e da camaradagem de todos os seus alunos, um dos seus principais denominadores. Ao comemorar mais um aniversário, clamar aos valores do “humanismo, na solidariedade, na fraternidade, na justiça, na igualdade e na camaradagem, no caminho da razão, na interpretação do saber, dos sentimentos, das pequenas e grandes coisas” constitui o tributo possível ao seu Fundador mas, sobretudo, é o reconhecimento da genética do Colégio Militar, num momento em que a história se cruza com o futuro. Esta é a prova evidente da intemporalidade e vitalidade do Colégio e de todas as instituições com valor e valores. É este o nosso Colégio Militar. Comunidade Colegial, Caros Alunos Dirijo-me particularmente a vós. As maiores expectativas da comunidade colegial estão centradas em vós, sabendo que vos é pedido uma dedicação e um esforço acrescidos relativamente a alunos de outras escolas. Mas o Colégio Militar é muito mais do que uma Escola. O valor do Colégio Militar mede-se pelo valor dos comportamentos, das atitudes e dos resultados escolares dos seus alunos. Esta responsabilidade não recai,


30

Do Colégio 3 de Março

Dia 9 de Março (Domingo)

Os primeiros Alunos da Instrução Primária assistindo ao desfile no ponto de continência.

no entanto, exclusivamente em vós. Recai, igualmente, nos professores e formadores, nos vossos Pais e Encarregados de Educação e em toda a comunidade em geral. A mudança, a evolução e o sentido do futuro são sempre difíceis de gerir, mas a capacidade que o Colégio Militar tem em se adaptar a novas situações sempre foi seu apanágio e tenho a certeza que assim continuará a ser. A capacidade de reconhecer e aceitar os desafios e as oportunidades do actual momento do nosso Colégio são vitais para que nos consigamos posicionar perante o futuro, naquilo que é essencial para a qualidade da educação do nosso Colégio Militar. Alunos Colégio Militar, Amanhã será mais um grande dia. O vosso olhar, o vosso querer e a vossa vontade em crescer no Colégio Militar são a prova da nossa força. Ides mostrar à cidade de Lisboa, na Avenida da Liberdade, os ideais que vos movem e o orgulho que manifestais na farda que ostentais. Façam-no como sempre. O vosso garbo reflecte a imagem e o valor do Colégio Militar, instituição secular que sempre soube dignificar Portugal. Termino agradecendo a presença de todos os que se dignaram assistir a esta singela cerimónia, onde uma vez mais relevo as mães, pais e antigos alunos aqui presentes, pelo particular significado que transmitem a todas as cerimónias e actividades deste Colégio. Muito obrigado a todos e parabéns ao Colégio Militar por mais este seu aniversário. Tenho dito!” Seguiu-se a imposição das condecorações Medalha de Mérito Militar ao Cap Cav Mário Rocha Silva, Medalhas D. Afonso Henriques de 2ª classe

ao Prof. Rui Jorge Vieira Farinha e à Prof.ª Leopoldina Rosa Silva Xavier, de 3ª Classe ao Aj Cav Humberto Joaquim Calado Dinis Lopes, Medalha de Comportamento Exemplar Grau Cobre à Ten na Disponibilidade Ana Luísa Alves Cardoso, ao Ten na Disponibilidade Marco Filipe da Costa Ricardo, á Ten AdMil Margarida Ana Maçães Silva e ao Soldado na Disponibilidade Nuno Miguel Pinto Nunes, Medalha Afeganistão ao SAj Eng Mário Jorge Duarte Oliveira Maia, Medalha Kosovo à Soldada Cátia Lisete Soares Tavares, e a entrega dos Prémios “Educação Física” ao Aluno n.º 196, Nuno Raposo, “Esgrima” ao Aluno n.º 591, Francisco Araújo, “Equitação” ao Aluno n.º 269, Ricardo Lima, “Instrução Militar” aos Alunos n.º 135, Artur Nascimento, e ao Aluno n.º 196, Nuno Raposo. As cerimónias de sábado 8 de Março terminaram com o desfile do Batalhão Colegial, que saiu do Colégio, como manda a tradição, através do Átrio Principal, fazendo continência à esquerda ao busto do Marechal Teixeira Rebelo, seguindo rigorosamente o que foi determinado, há cento e onze anos, em Ordem de Serviço colegial, aquando da inauguração do busto, cerimónia em que esteve presente Sua Majestade El-Rei D. Carlos, que tendo sido, como príncipe, Comandante de Batalhão Honorário do Colégio, nunca deixou mais tarde, como rei, de dar testemunhos do seu alto apreço pelo Colégio. À saída do átrio do Colégio estavam postadas no jardim as entidades que presidiram à cerimónia, perante as quais o Batalhão desfilou com o garbo que é seu timbre. Chegado ao exterior do Colégio, onde foi saudado com repetidos gritos de Zacatraz dos Antigos Alunos ali presentes, voltou o Batalhão à direita, passando a desfilar ao longo da Estrada da Luz até reentrar no Colégio através do portão da Parada Nova.

Em contraste com o dia anterior, de um sol radioso, o domingo amanheceu farrusco, com o céu carregado de nuvens, mas sem chuva. Às nove da manhã, cumprindo o meu dever de Antigo Aluno, apresentei-me no Marquês de Pombal, pronto para mais uma descida da Avenida, acompanhando o nosso Batalhão. À ida para o Marquês ia curioso acerca do que aí me esperaria. Seria que conseguiríamos de novo uma presença maciça de Antigos Alunos, como a que tivemos no ano passado? Lá chegado constatei, que embora não atingindo o volume do ano passado, a assistência estava muito bem composta. Ali estávamos todos, para mostrarmos inequivocamente aos Alunos que NUNCA MARCHARÃO SÓZINHOS. Formado o Batalhão, postou-se à sua esquerda a Escolta, que como que por milagre continua a existir, apesar do pequeno número de montadas da fileira de que dispõe actualmente o Colégio. Vale-nos a Guarda Nacional Republicana, que continua a apoiar o Colégio nestas cerimónias, fornecendo-lhe as necessárias montadas. Bem-haja! Com o Batalhão completo procedeu-se à apresentação ao Comandante de Batalhão das quatro Companhias e da Escolta, cujos comandantes competiram entre si a ver quem gritava mais alto a informação de que a sua «tropa» estava pronta. Pronto estava também o «Batalhão de Antigos Alunos», liderado pelo último Comandante de Batalhão a sair do Colégio e tendo na primeira linha a Direcção da Associação dos Antigos Alunos e o seu próprio guião. Com tudo a postos e todos em silêncio, vibrou cristalino no ar o toque do Colégio, executado com mestria por um dos componentes da Banda do Exército. Foi o sinal para o inicio do canto do Hino do Colégio, que foi entoado em uníssono por Alunos e Antigos Alunos. Se o Zacatraz é o nosso grito de guerra, pode-se dizer que o Hino do Colégio é o nosso hino de guerra. Integrado o Estandarte Nacional, foi a vez de se entoar o Hino Nacional, com alguns dos mais velhos com a voz embargada pela emoção. Assim que terminou o Hino Nacional o «Batalhão dos Antigos Alunos» destroçou e começou a correria para o topo da Avenida da Liberdade, para ocupação das melhores posições para assistir ao desfile. Como de costume o desfile foi um espectáculo digno de se ver, com os «ratas» a esticarem as pernas o mais possível, para não se distanciarem muito da banda que os precedia tocando as suas marchas marciais e com os «velhões» a mostrarem que no Colégio se continua a saber o que é marchar de forma irrepreensível. É para isto que servem os graduados, para transmitirem de geração em geração o Espírito do Colégio e o orgulho da pertença ao mesmo, que nos acompanha ao longo da vida. A meio da Avenida houve a continência à direita, em frente ao Monumento aos Mortos da 1ª Guerra Mundial, na qual, como já se referiu, tombaram


Do Colégio 3 de Março

vários Antigos Alunos do Colégio. Para aqueles que não o saibam, posso informar que este belo monumento foi inaugurado em 22/11/1931, com uma imponente parada militar, na qual tomou parte o Batalhão Colegial completo, a 4 Companhias. Tivemos como novidade este ano os alunos e alunas da «Escola Primária» alinhados à frente do monumento, para assistir à passagem do Batalhão. É de pequenino que se torce o pepino. A passagem nos Restauradores também é sempre um ponto alto do desfile, com muitos Antigos Alunos e famílias aí concentrados, prontos a incentivarem o Batalhão. O monumento em geral é pequeno para dar lugar a todos que ao mesmo querem subir, para do alto terem uma melhor vista sobre o desfile. Apesar da minha provecta idade lá me consegui içar para cima do monumento, tendo depois constatado que o mais difícil não é subir mas sim descer. Precisei de ajuda para a descida. A humilhação não foi grande, porque todos estavam distraídos com a passagem da escolta e com um grupo que se entretinha a assustar o cavalo do cerra fila. Oxalá esta cena não venha um dia a acabar mal. Concluído o desfile, com os Antigos Alunos de gargantas roucas de tanto gritarem, lá nos encontrámos todos no Largo de São Domingos, onde, como é habitual, nos deparámos com o dilema «Vou à missa ou vou para a ginjinha?». Muitos dos mais velhos optaram pela missa, muitos dos mais novos optaram pela ginjinha e houve também não poucos (os mais polivalentes) que, na dúvida, optaram pela «dobradinha», marcando presença nos dois locais. Com esta criteriosa distribuição, todos ficaram satisfeitos. O templo encheu-se e o botequim, como é habitual, teve o seu pico anual de vendas numa só hora. Para aqueles que não estiveram presentes na igreja, aqui fica o texto da brilhante homilia proferida pelo Capelão Borges da Silva: No início da caminhada quaresmal os textos bíblicos convidam à reflexão, à profundidade, à mudança do que não está tão bem, à conversão. Partilho uma breve reflexão fundamentada nos textos bíblicos. 1. Deus criou o ser humano para a felicidade, para a plenitude, para a luz. Deu-nos forma (modelou-nos), concedeu-nos a Sua respiração (o Seu sopro de vida, o Seu Espírito, o Seu conteúdo), preparou um contexto harmonioso, agradável e bom (um espaço de crescimento e desenvolvimento saudável), ofereceu-nos a liberdade, indicou-nos a meta: a imortalidade, o infinito, a comunhão com a Fonte (a árvore da vida). Muito para além de linguagem científica ou histórica, o discurso teológico do Génesis diz-nos que Deus providencia todos os recursos, todas as ferramentas para que o ser humano desenvolva caminhos de felicidade. Para além dos recursos, dá-nos indicações para os processos, normas a seguir, alerta-nos para as consequências do apropriar-se da “árvore do conhecimento do bem e do mal”. Afirma, pois, a relevância de um código

de valores, de um código ético, que, caso não seja respeitado e cultivado pode originar a deturpação, o desvio, o resvalar dos intentos fundantes. Mas o ser humano, ontem como hoje, deixa-se tantas vezes deslumbrar, cede à tentação, julga que pode conquistar a plenitude prescindindo das origens, negligenciando as indicações. O esquecimento das valores nos processos, aumentam a probabilidade de se desembocar no egocentrismo e, daí, na arrogância de quem se convence que lhe compete decidir o que é bem ou o que é mal. As opções demasiado orgulhosas e auto-suficientes podem não só afastar do caminho da felicidade, como acarretar consequências imprevistas e nocivas. E, como refere o texto bíblico, paulatinamente, alguns humanos, começam a compreender que estão despidos, que até despiram outros, que as suas opções têm contribuído para deteriorar a harmonia. 2. Deus não desiste de nos querer felizes; Deus não desiste de investir para que melhoremos processos, para que construamos caminhos mais felizes que nos levem à meta da imortalidade. Deste modo Jesus nasceu como um de nós e, enquanto humano, também sentiu a mordedura das tentações. Contudo, diferente de nós, soube pôr acima de tudo a obediência ao projecto de Deus. As tentações são sempre propostas, estímulos, pulsões, reacções que nos podem levar a subverter a proposta original, ou mesmo a prescindir de Deus. Tudo ocorre no deserto, isto é na nossa existência terrena, lugar de prova e, também lugar do encontro/descoberta do rosto/força de Deus. a) Efectivamente Jesus podia ter escolhido o caminho da realização apenas material, do lucro, da satisfação, da focalização prioritária no dinheiro, na economia… mas “nem só de pão vive o homem”: a realização do ser humano, a sua felicidade não está apenas na matéria mas no desenvolvimento do espírito, do saber, da ciência… no cumprir a Palavra do Pai/Deus, isto é a Sua vontade. b) Efectivamente Jesus podia ter escolhido o caminho do êxito fácil, do aplauso, da aclamação, através de gestos espectaculares ou do ir ao encontro dos anseios ocasionais das multidões… mas “não tentarás o Senhor teu Deus”, isto é, não utilizarás os dons de Deus, que são de todos e para todos, para projectos pessoais de auto promoção; isto é não te aproveitarás dos dons e das oportunidades que Deus te concede para fazeres opções superficiais ou tentares vergar/quebrar a honestidade intelectual. c) Efectivamente Jesus podia ter escolhido um caminho de poder, de domínio, de prepotência. Ele dispunha de todos os recursos e de toda a força, mas… “adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto”, isto é, só Deus é absoluto, só Deus deve ser adorado e o que é de Deus e vem de Deus não deve ser usado para a tirania, para a prepotência, para a apropriação indevida e escravização de outros. A humildade não é só um acto de sabedoria, mas igualmente uma premissa da reflexão,

31

uma predisposição necessária e fundamental para novos conhecimentos e novos patamares de excelência. 3. Jesus jejuou quarenta dias e quarenta noites, sendo que quarenta corresponde aos anos da travessia do deserto rumo à liberdade e à Terra prometida, e é simbolicamente o tempo de uma geração, de uma vida. Jesus jejuou, portanto, a vida toda. E jejuar também faz parte dos processos necessários para rasgar caminhos de felicidade. Sem jejum de tantas solicitações superficiais (diria mesmo banais) torna-se difícil focar, trabalhar a alma, chegar ao âmago, à essência… Aquilo que herdamos daqueles que nos precederam, o património, a inteligência, o afecto, os recursos são dons de Deus não apenas para mim (egoisticamente), mas para o bem comum e, portanto, para todos os irmãos. O Jejum leva à alegria da partilha e ao espírito do SERVIR. Os dons são para fazer render, não para usurpar. 4. Que neste tempo da Quaresma, à luz de Cristo, dêmos vida ao Homem Novo, ao homem ético, ao homem de comunhão, ao homem que procura a realização/felicidade na harmonia de um povo. E se houve erro, pecado, desvio, más opções, infelicidades no passado, nada há a temer porque onde abundou o pecado, superabundou a graça: pela reflexão sobre a obediência de Jesus aos processos de Deus muitos se tornarão justos, muitos saberão construir a felicidade. Concluída a missa deu-se a debandada geral, com todos animados do sentimento de mais uma vez estar o dever cumprido. Á noite realizou-se no Colégio o tradicional jantar de confraternização, com o bulício e a animação habituais. A ementa foi a clássica: caldo verde, amarelo e arroz doce e vinho do Porto. O amarelo já conheceu melhores dias, bem-aventurados aqueles que o comeram ainda confeccionado nos vetustos fogões da cozinha do Colégio Velho. E as meninas integradas no Batalhão? Perguntarão os leitores que até aqui me acompanharam. As meninas portaram-se muito bem, compenetradas do seu papel, não querendo ficar atrás dos rapazes, o que não altera porém nada do que grande parte dos Antigos Alunos, na qual me incluo, pensa acerca da sua presença no Colégio. Gostaríamos mais de as ver num desfile das «Meninas de Odivelas». Para isso temos de colaborar ao máximo com as Antigas Alunas do Instituto de Odivelas na sua justa luta para que a centenária escola não seja vítima da sanha destruidora deste ministro, que em má hora nos caiu em sorte. Nada está definitivamente perdido. A luta continua. A esperança mantêm-se. E como dizia um conhecido filósofo da Grécia antiga, a esperança é o sonho de um homem acordado. Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957


32

Do Colégio Visita ao Colégio - The Duke of York’s Royal Military School

Visita ao Colégio

The Duke of York’s Royal Military School

N

as Comemorações do 3 de Março e por iniciativa da Direcção da Associação em conjugação de esforços com a Direcção do Colégio, tivemos a presença de uma delegação do Duke of York’s Royal Military School. Devido a impedimento inultrapassável, não esteve presente nas Comemorações do nosso 3 de Março, o Executive Principal and Commandant, Chris Russell, do Duke of York’s Royal Military School, que foi representado pelo Vice Principal Lt Col Steve Saunderson e pela Assistant Principal Mrs Allie Kehaya. A Duke of York’s Royal Military School é a única escola em regime de internato na região de Kentish, situada entre Dover e Canterbury, para crianças e adolescentes com idade compreendidas entre os 11 e 18 anos e que adoptou, para a sua vivência de 200 anos, o espírito militar com as suas valências de disciplina, confiança, espiritualidade, liderança e camaradagem, tendo o apoio do Ministério da Defesa. As paradas e cerimónias militares permanecem no coração desta Instituição e estão intrinsecamente a ela ligadas. Localiza-se numa propriedade com cerca de 60 hectares (600.000 metros quadrados) e a valia deste Colégio resulta da fusão dos valores

militares com a qualidade das melhores escolas de ensino similar. The Duke of York’s Royal Military School é uma Academia com tradições militares, aberta, até Setembro de 2010, para alunos filhos de militares que tenham servido pelo menos quatro anos em qualquer dos Ramos das Forças Armadas do Reino Unido. Com a reforma do ensino, a frequência foi estendida a alunos oriundos de pais civis. A Duke of York’s tem uma história rica de tradições, que incluem o cerimonial de paradas e uniformes, integrada num método de educação que contempla o sistema escolar publico inglês. Nos seus antigos alunos, designados por “Dukies”, encontram-se Generais, Músicos famosos, Desportistas conceituados, Cientistas de renome, Clérigos e uma longa lista de notáveis membros das Forças Armadas. Recentemente, após prolongadas diligências, a Rainha e o Lord Chanceler assinaram a Licença Real que permitiu integrar a Coroa nas Armas, Cresta e Divisa deste Estabelecimento de Ensino com características militares. No Sábado, os nossos Convidados assistiram à cerimónia do acender da Chama na Feito-

ria, ao hastear da Bandeira Colegial na Parada Nova e ao discurso do Presidente da Associação, á cerimónia nos Claustros e ao desfile do Batalhão, a que se seguiu um almoço na messe de oficiais e professores a convite do Director do CM, após o que se realizou um encontro com as Direcções do Colégio e da AAACM para troca de impressões relacionadas com os objectivos e os procedimentos dos dois estabelecimentos de ensino. Durante o resto da tarde decorreu, com manifesto agrado dos visitantes e dos que os acompanharam, uma visita às instalações tendo sido ponto alto as realizadas ao Museu Colegial e ao Museu de História Natural do CM. À noite, a convite de um grupo de AA, decorreu um jantar no Clube Militar Naval, em que estiveram presentes o Director, Subdirector e Comandante do Corpo de Alunos do CM. No Domingo, após o desfile na Avenida, que mereceu os maiores elogios dos nossos visitantes, e a Missa em São Domingos, igualmente a convite de um grupo de AA relacionados com a Associação, decorreu um almoço informal num restaurante da capital, após o que os nossos convidados regressaram a Inglaterra.


Do Colégio Outros tempos

Gonçalo Salema Leal de Matos 371/1949

Outros Tempos O

utros tempos e outras preocupações dos governantes e responsáveis pelas Instituições, procurando a sua melhoria para alcançar objectivos ao serviço da Pátria, e não como agora se verifica pela destruição de um património da Nação construído ao longo de mais de 210 anos, numa teimosa e impreparada reforma, com decisões precipitadas e sem atender aos mais elementares argumentos bem fundamentados que fariam com que, em vez de destruição, se alcançaria um notável progresso almejado por todos que verdadeiramente amam e respeitam o Colégio, e que tudo farão para que ele não seja destruído. Não deixaremos de lutar e pugnar para que a tremenda situação de destruição seja concretizada, levada a cabo por poder arbitrário, e não pelo poder da razão, que se recusa sistematicamente a ouvir quem com profundos conhecimentos bem estruturados sobre a matéria sempre esteve disponível para dar contributo positivo na reforma correcta do Colégio. O texto que a seguir se publica foi extraído da Revista Militar Nº 11 de Novembro de 1894, página 664 (tinha o Colégio 91 anos de existência) e chegou à ZacatraZ através do Joaquim Vito Corte Real Negrão (146/1948), a quem agradecemos a colaboração que nos prestou. O texto é transcrito ipsis verbis tal como foi publicado e com a ortografia desse tempo, sendo flagrante a diferença dos actuais propósitos com as preocupações daquela época.

“Real collegio militar. – S. ex.ª o sr. tenente-general barão de Monte Pedral, nomeado pelo governo de Sua Magestade para inspeccionar os estabelecimentos de instrucção militar dependentes do ministério da guerra, partiu no dia 26 de Outubro para Mafra, aonde começou logo a inspeccionar o collegio, ora alli existente. A instante necessidade de reformar aquele estabelecimento, para que seja verdadeiramente útil ao estado, e compense a despeza que com elle se faz, já dotando-o do conveniente pessoal, já organizando os estudos de um modo mais apropriado ao seu destino, e sôbre tudo, em ordem a que os alumnos sáiam d'aquelle collegio sãos, com uma educação esmerada, fallando correcta e expeditamente as lingoas franceza e ingleza sem falta da precisa instrucção na portuguesa; com sufficientes conhecimentos de historia e de geographia, e aptidão no desenho;. esta necessidade, dizemos, é de todos conhecida, e a reforma ardentemente desejada; e por isso, muito confiâmos em que o illustre general inspector, a proporá ao governo de Sua Magestade, de modo que preencha as bem fundadas esperanças, que todo o exercito tem em s. ex.ª, assim como nos vehementes desejos que sobre o mesmo objecto nutre s. ex.ª o ministro da guerra. É tempo de pôr termo à sucessiva decadência de tão útil e indispensável estabelecimento, destinado a ser um viveiro de magníficos officiaes para o exercito, como o são os institutos análogos nos outros paizes.“

33


34

Colaboração O Colégio Militar e o Mar

Luís Joel Alves de Azevedo Pascoal (145/1948) C/Almirante (R)

O Colégio Militar e o Mar Texto transcrito do Nº 976 da Revista do Mar por amável deferência do Editor/Director Henrique Alexandre da Fonseca (47/1956), V/Almirante (R), e do Autor do texto.

N

os tempos que correm, a generalidade dos portugueses, ao vir à baila o Colégio Militar, tende a considerá-lo uma instituição de ensino para rapazes, em regime de internato, tutelada pelo Exército, e de prestígio alicerçado ao longo de mais de duzentos anos. É também consensual julgar-se que o Colégio Militar tem por finalidade dar formação de base aos futuros oficiais do Exército e dos outros ramos das forças armadas. No entanto, convém esclarecer que o propósito principal do Colégio, desde a sua fundação, foi o de apoiar os militares na educação dos seus filhos, com particular relevância para o caso de órfãos de mortos em combate. Mais tarde, o critério de admissão alargou-se a filhos de civis, ditos porcionistas, sustentados por verbas pagas pelos respectivos familiares. Não é, todavia, correcto, dizer-se que o Colégio Militar se destinava exclusivamente a preparar futuros candidatos à carreira das armas. A excelência da educação nele ministrada tem proporcionado a sucessivas gerações de jovens e adolescentes, uma vez concluído o curso, o acesso a um vasto leque de opções profissionais. Acima de tudo, como expoentes de valentia e patriotismo, importa sublinhar que mais de 70 elementos dos três ramos das forças armadas, antigos alunos do Colégio Militar, desde a monarquia até agora, foram já agraciados com a mais alta e honrosa condecoração

nacional, a Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito. Deve igualmente realçar-se o facto de aí terem estudado, e aprendido a ser homens e cidadãos, os cinco Marechais que foram todos Presidentes da República (Gomes da Costa, Óscar Carmona, Craveiro Lopes, António de Spínola e Costa Gomes) e ainda mais um outro, distinguido a título póstumo (Humberto Delgado). Para além da vida militar, verifica-se que nos mais variados campos da cultura e da actividade humana se encontram figuras gradas da nossa História cujo denominador comum é o de terem sido alunos do Colégio Militar. Assim, na Área do Desporto, basta salientar que em 14 Jogos Olímpicos (desde o ano de 1924 até, alternadamente, o ano de 2004) se registou a participação global de 30 antigos alunos nas modalidades de esgrima, pentatlo moderno, tiro e hipismo. E basta apontar, a título meramente exemplificativo: na Área da Ciência, o Prof. Aniceto Ribeiro Monteiro, Doutor em Matemática pela Universidade de Paris, investigador e docente de grande prestígio em Portugal, Brasil e Argentina; na Área da Medicina, o Dr. Ernesto Galeão Roma, pioneiro da Diabetologia Social e o Prof. Fernando da Cruz Ferreira, professor catedrático de Patologia e Clínica Tropical, especialista notável e conselheiro da Organização Mundial de Saúde para doenças parasitárias; na Área da Engenharia, o Prof. Engº

Manuel Mendes da Rocha, investigador e docente de renome internacional, que tornou o Laboratório Nacional de Engenharia Civil num dos mais prestigiados centros científicos contemporâneos; na Área da Cultura, António Sérgio de Sousa Júnior, que foi oficial da Armada e se afirmou depois como o mais reputado ensaísta português, e Eduardo Lourenço de Faria, também notável ensaísta e pensador; na Área das Letras, o Dr. Júlio Dantas, médico, escritor, dramaturgo, diplomata e político; e, por fim, na Área das Artes, o Prof. Escultor Barata Feyo, galardoado com valiosos prémios, o Actor Raul de Carvalho Soares, com assinaláveis êxitos interpretativos no Teatro e Cinema, o Tenor Tomás Alcaide, um dos maiores artistas líricos da sua época, o compositor Raul Ferrão, autor da célebre canção “Coimbra”, e ainda Rão Kyao e Pedro Ayres de Magalhães, ambos conhecidos músicos e compositores contemporâneos. Não admira, pois, que, Portugal fora, nas cidades, vilas e aldeias do Continente e Ilhas Atlânticas (e outrora também no Ultramar) se possam ver placas toponímicas em mais de mil ruas, praças, largos e avenidas, relativas ao Colégio Militar, o seu fundador e antigos alunos. Os nomes e inscrições gravados em pedra traduzem bem o apreço e a vontade do povo português em perpetuar a memória dos seus feitos, sucessos e serviços prestados à causa pátria.


Colaboração O Colégio Militar e o Mar

Mas haverá ainda largos estratos de portugueses que pouco sabem acerca do que tem sido o relacionamento entre o Colégio Militar e o Mar nas suas vertentes mais amplas. Efectivamente, o Colégio nasceu em 1802 (a data de referência, por tradição, passou entretanto a ser 3 de Março de 1803), no quartel de um regimento de artilharia situado nas imediações da fortaleza de S. Julião da Barra e desde então se tem mantido na tutela do Exército. Assim sendo, é compreensível que no total de alunos que frequentaram o Colégio, até hoje, só pouco mais de 3 % optaram por servir Portugal como oficiais da Armada Real/Marinha de Guerra, bem como da Marinha Mercante.

II No que respeita à Armada, o primeiro antigo aluno do Colégio a entrar para os seus quadros permanentes foi o Capitão-de-Mar-e-Guerra Pedro Alexandrino da Cunha (1801-1850), marinheiro corajoso, profissional competente e patriota dedicado, que chegou a governador-geral de Angola após largos anos de comissão de embarque em serviço nesse território. Veio a falecer em Macau no exercício do cargo de governador. Incluindo este pioneiro, e até Setembro de 2013, abraçaram a carreira naval trezentos e trinta e três voluntários habilitados com o curso do Colégio Militar. A classe de oficiais de longe mais representada é a de Marinha, embora se tenham distribuído por quase todas as restantes. Há ainda a mencionar que, entre 1958 e 1990, se voluntariaram para prestar serviço na

Armada, agora nos quadros de complemento da Reserva Naval, mais cinquenta e seis antigos alunos do Colégio Militar. Dada a natureza deste artigo, num bosquejo rápido e sucinto, podemos apresentar, como exemplos ilustrativos, e dentre muitos, os nomes seguintes: - No campo das Ciências e Investigação do Mar, o Capitão-de-Fragata Mariano Ghira (18281877), engenheiro hidrógrafo. Lente da Escola Naval e Lente da Escola Politécnica. Serviu no Brasil e África Ocidental e foi o primeiro “Menino da Luz” da Armada a ser agraciado com a Torre e Espada; e o Vice-Almirante César Augusto de Campos Rodrigues (1836-1919), engenheiro hidrógrafo, que alcançou grande prestígio internacional como director do Observatório Astronómico de Lisboa durante quase três décadas; o Vice-Almirante Hugo de Carvalho de Lacerda Castelo Branco (18601944), engenheiro hidrógrafo. Lente da Escola Naval. Chefiou importantes levantamentos hidrográficos e portuários em África e Macau. Foi sócio da Academia das Ciências de Lisboa e da Sociedade de Geografia de Lisboa; e o Capitão-de-Mar-e-Guerra Abel Fontoura da Costa (1869-1940), sábio matemático, ilustre Lente da Escola Naval,

35

reitor do Liceu do Carmo e fundador do Liceu do Mindelo. Foi co-autor de tábuas náuticas de grande qualidade e autor de aprofundados estudos de Marinharia dos Descobrimentos; - Por Feitos Heróicos em Campanha, o Capitão-Tenente Álvaro Herculano da Cunha (1864-1915), combatente de África de valor excepcional, que se distinguiu nas campanhas de pacificação da Guiné entre 1891 e 1896, território de que foi depois governador. Condecorado com os graus de cavaleiro e oficial da Torre e Espada e com duas medalhas de ouro de Valor Militar; o Capitão-de-Mar-e-Guerra Filipe Trajano Vieira da Rocha (1870-1944), que se notabilizou pelas suas acções de comando em operações nos rios de Moçambique, em 1895. Foi também um dos pioneiros de trabalhos geodésicos e hidrográficos em África entre 1904 e 1926. Condecorado com o grau de comendador da Torre e Espada e com a medalha de ouro de Valor Militar; e o Vice-Almirante António Ladislau Parreira (1869-1941), militar e político, combatente das campanhas de pacificação da Guiné (1894) e Moçambique (1895). Participou activamente na preparação da Revolução de 5 de Outubro de 1910 e foi condecorado com o grau de comendador e dois graus de cavaleiro da Torre e Espada; - Na Área da Política e Administração Pública, vários foram os oficiais oriundos do Colégio Militar que exerceram cargos ministeriais ou de alta administração, quer no Continente, quer nas outras parcelas portuguesas. Por exemplo: o primeiro antigo aluno a ser ministro da Marinha (em 1920 e 1923), o Capitão-de-Mar-e-Guerra Joaquim Pedro Júdice Bicker (1866-1926), heróico combatente da Guiné, condecorado com a comenda da Torre e Espada e a medalha de ouro de Valor Militar; o Vice-Almirante Luiz António de Magalhães Corrêa (1873-1960), cavaleiro da Ordem da Torre e Espada, governador de Macau e depois ministro da Marinha (1928-1930). Foi ainda Administrador da Zona Internacional


36

Colaboração O Colégio Militar e o Mar

Vice-Almirante Campos Rodrigues

Comandante Fontoura da Costa

de Tânger no período 1945-1948; o Capitão-de-Mar-e-Guerra Vasco António Martins Rodrigues (1917-1983), oficial ilustre com larga experiência administrativa no Ultramar como governador do distrito de Lourenço Marques e, mais tarde, governador da Guiné; o Vice-Almirante Manuel Pereira Crespo (1911-1980), notável professor de Estratégia e Organização do Instituto Superior Naval de Guerra e elemento fulcral da grande reforma da Armada nos anos 1960’s e que veio a ser o último ministro da Marinha (19681974); e o Contra-Almirante Vasco Fernando Leote de Almeida e Costa (1932-2010). Militar e político. Comandou a esquadrilha de lanchas da Guiné, serviu no Comando Naval de Moçambique e exerceu o cargo de governador de Macau. Foi ainda membro do Conselho da Revolução (1975-1982); - Na Área do Comando Superior da Armada, três antigos alunos do Colégio Militar chegaram ao topo da hierarquia naval: o Vice-Almirante Joaquim Anselmo da Matta Oliveira (18741948), notável oficial de estado-maior, autor e publicista de temas de história e estratégia militar, que foi também governador de Macau e Major-General da Armada; o Vice-Almirante Fernando de Oliveira Pinto (1887-1961), combatente de África e da I Guerra Mundial, condecorado com a medalha de prata de Valor Militar e duas medalhas da Cruz de Guerra. Esteve muito ligado à Escola Naval ao longo da sua carreira, que culminou como Major-General da Armada; e o Almirante João José de Freitas Ribeiro Pacheco (1934- …), de carreira multifacetada. Comandou em combate um destacamento de fuzileiros especiais (DFE) na Guiné, foi comandante naval

dos Açores, director-geral do Instituto Hidrográfico e director do Instituto da Defesa Nacional. Condecorado com a medalha da Cruz de Guerra. Exerceu o cargo cimeiro de Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) entre 1994 e 1997. Muitos outros nomes poderiam ser enquadrados, com igual pertinência e justiça, nesta galeria de antigos alunos do Colégio Militar que se sentiram atraídos pelo fascínio do Mar ao serviço da Pátria. Razões óbvias de espaço disponível não o permitiram, sem que tal significasse qualquer predomínio do valor dos citados sobre os méritos profissionais dos aqui não incluídos. Uma anotação necessária: tratando-se de marinheiros, neste olhar que abarca um horizonte imenso de mais de dois séculos e sabido que a Armada é sobretudo a saga e o reflexo dos homens do mar que a corporizam, não será descabido referenciar, por último, o Capitão-de-Mar-e-Guerra António Alemão de Cisneiros e Faria (1879-1946). Combatente da I Guerra Mundial, notabilizou-se como comandante da canhoneira Beira em operações nas águas de Cabo Verde. Condecorado com a medalha da Cruz de Guerra e a medalha da Distinguished Service Order (DSO) britânica, concebeu e garantiu o acondicionamento e transporte a bordo do cruzador Carvalho Araújo, sob seu comando, do hidroavião Fairey 17 “Santa Cruz”, o que veio a permitir a Gago Coutinho e Sacadura Cabral, em 1922, a conclusão da histórica 1.ª Travessia Aérea do Atlântico Sul. Mas o grande prestígio que alcançou, e que perdura na Armada, deveu-se à sua acção como principal responsável pelos extensos trabalhos de conversão de uma presa de guerra alemã, a barca Rickmer Rickmers, no

Comandante Cisneiros de Faria

que passou a ser o ícone da Marinha Portuguesa, o navio-escola Sagres, e sobretudo ainda por ter sido o seu primeiro comandante, cargo em que durante múltiplas viagens de instrução se confirmou como um manobreiro exímio e grande inspirador para os vindouros.

III O Mar foi para Portugal a grande via de ligação às suas antigas províncias ultramarinas, e não só. Abstraindo do resto do mundo, mais de 90% da carga e 80% de pessoal foram transportados, a partir da metrópole, a bordo de navios de comércio. Daí a importância vital que tinha para o País a existência da nossa Marinha Mercante, a qual chegou a totalizar uma frota de 167 navios, no início da guerra do Ultramar. Ora, com base numa pesquisa não exaustiva, e por isso susceptível de ser naturalmente ampliada e corrigida, pode dizer-se que houve, até hoje, vinte e dois antigos alunos do Colégio Militar que vieram a prestar serviço na Marinha Mercante nacional. O primeiro nasceu em 1899 e chamou-se José de Magalhães Sousa e Silva, do quem apenas se sabe ter sido admitido para o 2º ano do Colégio Militar em 1910. Na década seguinte, José Guerra da Silva, que frequentou o Colégio de 1922 a 1930, e Francisco Simões de Sousa Namorado (1913-1998), saído do Colégio em 1931 – ambos constam ter servido na Marinha Mercante. Filho de um pioneiro da Aviação Naval que faleceu em campanha na I Guerra Mundial, José Horta e Costa de Azeredo e Vasconcelos (19171991) foi sargento-cadete em 1937, passou pela


Colaboração O Colégio Militar e o Mar

Escola Naval mas completou de seguida o curso de pilotagem da Escola Náutica. Como 2º piloto fez uma campanha de pesca do bacalhau, e mais tarde tornou-se imediato do paquete Uíge. Em 1952 era imediato do paquete Vera Cruz, navio de que nos anos 1960’s foi comandante, tendo-se depois reformado da Companhia Nacional de Navegação (CNN). Entrados para o Colégio na década de 19301940, nove antigos alunos enveredaram profissionalmente pela marinha de comércio: Jorge Ruivo de Vasconcelos e Sá (1920-1996) - comandou três navios de passageiros, Vera Cruz, Império e Infante D. Henrique, no último dos quais terminou a sua vida no mar. Realizou grande parte da sua actividade em viagens para o Brasil, tendo assim tido oportunidade de contactos com altas figuras políticas e intelectuais brasileiros. Entre outras distinções, recebeu a medalha naval de Vasco da Gama e duas medalhas comemorativas do Esforço da Marinha Mercante na Guerra 1939/45 e na Defesa do Ultramar; João do Carmo Medeiros de Almeida (1924-1995) – prestou serviço como oficial miliciano de cavalaria. Ingressou na Escola Náutica em 1943 e fez a carreira a bordo de diversos navios como oficial, imediato e comandante. Em 1974 foi admitido como professor na Escola Náutica Infante D. Henrique (ENIDH), onde serviu durante vinte anos até se reformar. Teve acção determinante no desenvolvimento da Escola que, assim integrada no sistema educativo nacional, passou a conferir aos seus diplomados, a partir de 1989, os graus de bacharel e de licenciado; Adriano da Silva Matos Correia (1923-2006) – durante a II Guerra Mundial participou nos comboios de

navios dos Estados Unidos para a Europa. Na Companhia Nacional de Navegação tornou-se em 1955 no mais jovem comandante da Marinha Mercante portuguesa. Termina a sua carreira no mar ao fim de trinta anos com o comando do paquete Moçambique, onde faz a sua última viagem, por coincidência também a do próprio navio. Foi condecorado com a medalha do Esforço de Guerra 1939/45 e a medalha naval de Vasco da Gama; Luís José Cantinho Machado Figueiras Andrade (1926-2009), perito marítimo internacional; José Alvarenga de Sousa Horta Correia Martins (1927-…); Vital Grandvaux Barbosa (1929-…); Pedro Jorge Brilha da Cunha (1927-1991); Jorge Dias da Costa Gomes (1928…) - comandante e também piloto da barra de Lisboa; e Fernando Manuel de Oliveira Carvalho (1928-2002), que durante largos anos fez parte da frota bacalhoeira portuguesa. Na década de 1940-1950 entraram como alunos do Colégio os seguintes futuros comandantes da Marinha Mercante: Francisco Jorge Cardinali Ribeiro (1930-2000); João Nuno Cid Larcher Ovídio (1930-…); José António Cordeiro Neto de Almeida (1930-1971); Jaime Reyes Leça da Veiga (1931-2010); João José Andrade Simões (19342007); José Fernando de Oliveira Vilar Saraiva (1935-…); e Abílio Matos e Noronha de Pais de Ramos (1937-…) – filho e irmão de antigos alunos, saiu do Colégio em 1953, e veio a comandar vários navios da SOPONATA e SONAP. É também licenciado em História. Por fim, nas décadas de 1950-1960 e 19601970, frequentaram o Colégio Militar os seguintes alunos: João Augusto Sarmento Falco Pereira (1942-…) e Pedro Baptista Esteves Virtu-

37

oso (1957-…), ambos filhos e irmãos de antigos alunos. O último exerce actualmente actividade profissional no Grupo E.T.E..

Por amabilidade do Presidente da Associação dos Pupilos do Exército foi-nos enviado o livro “Cursos Superiores nos Pupilos do Exército 1975 a 2008”, da autoria do antigo aluno do IPE António Ribeiro da Silva. Nele é feito um breve historial desde a fundação do IPE em 1911, referindo as características próprias da sua génese e abordando a problemática do ensino nele ministrado. Na parte final é apresentada a listagem dos 1466 diplomados com curso superior, ministrado no IPE entre os anos de 1975 a 2008. O livro encontra-se na AAACM onde poderá ser consultado.


38

Colaboração Homenagem a Ramalho Eanes

José Eduardo Martinho Garcia Leandro (94/1950) Tenente General (R)

Homenagem a

Ramalho Eanes Nota prévia da Redacção No auditório do Centro de Congressos da Associação Industrial Portuguesa teve lugar, no passado dia 25 de Novembro de 2013, um Testemunho Público a António Ramalho Eanes, General do Exército Português e antigo Presidente da República. Iniciativa de um conjunto de personalidades que deste modo entendeu homenagear uma figura ímpar de honestidade e de sentido de comportamento exemplar em todas as situações em que esteve envolvido e onde intervieram vários oradores focando as diferente facetas do homenageado, como político, como militar e como cidadão. O General António Ramalho Eanes, não sendo antigo aluno, pela sua formação e carácter, tem defendido o Colégio Militar pelo seu entendimento daquilo que ele representa e da valia que lhe é intrínseca. A intervenção respeitante a “Eanes, como militar” esteve a cargo do José Eduardo Martinho Garcia Leandro (94/1950), intervenção que se reproduz integralmente pelo valor das referencias nela feitas ao homenageado.

O

dia de hoje é uma data que os democratas convictos devem assinalar, por nela ter sido recolocado no trilho certo o caminho aberto no 25 de Abril e os respectivos objectivos e ideais. Não é sobre esse processo político-militar, os seus contornos e detalhes que vos venho falar. Sobre esse processo há muitos textos escritos por vários participantes, historiadores, investigadores e politólogos, com muitas divergências e discussões, podendo ser dito que quase tudo está levantado. Isso, agora, é já História ou é para historiadores. Mas pouco tem sido dito sobre como esta acção modificou a vida de alguns dos seus protagonistas, nomeadamente a daquele que veio a ser o primeiro Presidente da República eleito pós 1974, na sequência da Constituição da República Portuguesa de 1976, António dos Santos Ramalho Eanes. Ele foi o homem que, com a sua acção e a de todos os que, de Norte a Sul, se movimentaram por idênticos ideais, conseguiu as condições que

permitiam materializar os anseios que “Abril tinha aberto”. Decidiu a Comissão Organizadora deste evento que deveria ser eu a traçar o perfil de António Ramalho Eanes como Militar, com o que inicialmente não concordei. O facto de eu nunca ter tido uma ligação próxima com Ramalho Eanes e de só ter desenvolvido a nossa relação enquanto Governador de Macau com o então Presidente da República desde o verão de 1976 aconselhava, a meu ver, que não fosse eu a fazer esta comunicação; mas tudo o que eu considerava frágil para proceder a esta apresentação foi transformado num conjunto de pontos fortes para o efeito, já que me dava uma independência considerada invejável para esta difícil missão. E assim ficou. Entre os destinos pessoais que o “25 de Novembro” modificou, o caso mais marcante é a do nosso homenageado desta tarde. O que foi, o que é Ramalho Eanes como militar? Como militar, o que foi antes de ter sido

eleito Presidente da República e de, por inerência, ser também o CEMGFA? Que influência teve essa formação militar e comportamento pessoal na sua escolha como candidato às eleições presidenciais de 1976? Faltando-me o conhecimento pessoal próximo, procurei falar (e detectar elementos essenciais da sua personalidade) com aqueles que com ele conviveram ao longo dos anos (como Cadetes e camaradas na Escola do Exército, ao longo das Comissões de Serviço que cumpriu em Goa, em Macau e Moçambique, na Guiné e em Angola, como Oficial da Academia Militar durante vários anos, nas funções que desempenhou junto dos órgãos de comunicação social, nomeadamente na RTP, no seu envolvimento com o “Grupo dos Nove” durante o verão de 1975, como CEME depois do “25 de Novembro” até às eleições presidenciais de 1976, após as quais passou a desempenhar por inerência as funções de CEMGFA), adicionando então o meu testemunho pessoal, enquanto Governador de Macau com o Presi-


Colaboração Homenagem a Ramalho Eanes

39

dente da República de quem passei a depender directamente. Procurei também junto dos grandes teóricos do Homem Militar salientar as características psicológicas e comportamentais consideradas essenciais por esses especialistas de várias origens. Dessa ligação entre o pensamento dos grandes teóricos, como Samuel Huntington, Morris Janowitz, Norman Dixon, Samuel Finer, o General inglês Sir John Hackett, o General espanhol Manuel Diez Allegria e dos portugueses Maria Carrilho e Loureiro dos Santos, os testemunhos pessoais que pude registar e a minha própria experiência pessoal procurei detectar os traços essenciais de Ramalho Eanes como Militar, traços esses que marcaram todo o seu comportamento enquanto Cidadão e Estadista desde sempre. E neste enquadramento geral não posso deixar de citar Camões, quando no Canto X de “Os Lusíadas” escreveu: “De Formião, filósofo elegante, Vereis com Aníbal escarnecia, Quando das artes bélicas, diante Dele, com larga voz tratava e lia. A disciplina militar prestante, Não se aprende, Senhor, na fantasia, Sonhando, imaginando ou estudando, Senão vendo, tratando e pelejando” Camões resume de modo exemplar a ligação entre o pensamento e a acção quando conclui “a disciplina militar prestante” não se pode compreender “senão vendo, tratando e pelejando”, que tem aplicação directa no nosso homenageado de hoje; quer isto dizer a acção baseada previamente na observação e no conhecimento. Mas, com a devida humildade e considerando as distâncias óbvias ao grande vate, também eu escrevi no livro que publiquei em 2011 sobre os meus anos de Macau entre 1974 e 1979 o seguinte: “Ramalho Eanes teve de descobrir o caminho de uma presidência em regime democrático e recebeu uma herança bem pesada, pelo que não poderia ter feito mais e melhor, sendo ainda hoje uma referência deste regime, mais sólida à medida que o tempo passa. “.......................”. Sobre ele, mesmo admitindo alguns erros factuais e de julgamento, pode concluir-se que ninguém teria feito melhor naquelas circunstâncias. Com o passar dos anos, tem sido o exemplo do antidevorista num país controlado por devoristas.” De um modo resumido pode ser dito que fez um trabalho de Bandeirante trilhando caminhos desconhecidos na definição institucional e comportamental de um Presidente da República em Democracia, ao mesmo tempo que, no primeiro mandato, teve de desempenhar as mais altas funções da Chefia Militar.

É sobre este Homem e figura pública de referência, com todas as suas qualidades e limitações, que me irei concentrar.

Carreira Militar A sua carreira militar foi, como a de todos os jovens Oficiais daquela época marcada por sucessivas Comissões de Serviço no ex-Ultramar, intervaladas por permanências em Portugal de duração variável. Assim, entre 1958 /60 esteve no Estado da Índia, entre 1962 e 1964 comandou uma Companhia que esteve um ano em Macau (Coloane), sendo depois transferida para Moçambique; voltou a estar em Moçambique ente 1966 e 1968, depois esteve na Guiné entre 1969/71, estando em Angola (S. Salvador) quando teve lugar o 25 de Abril, regressando a Lisboa pouco depois. Esta situação em que viviam os quadros militares, principalmente do Exército, levou-o a contactar gente de muitas etnias, de todas as religiões e

costumes, desde a Guiné até Macau, passando por Angola, Moçambique e Índia. E não foi só o contacto com as populações, pois também comandou e dirigiu militares dessas diferentes regiões. Quem passou por este tipo de vida, sabe como se aprende com todas as populações, ganhando grande capacidade de compreensão perante os diferentes costumes, mas percebendo também que nas questões essenciais da vida humana os povos não são tão diferentes quanto se apregoa. O tipo de relacionamento com militares e populações locais dessa fase ultramarina é algo que nunca poderá ser compreendido por quem não o viveu com profundidade, dedicação e amor, processo que criava aprendizagem e compreensão nos dois sentidos e que deveria ter permitido preparar as sucessivas independências de um modo inteligente, programado, progressivo, sem roturas e sem traumas. Nos intervalos dessas Comissões de Serviço no Ultramar, serviu em várias funções na Academia Militar, o que lhe deu um contacto privilegiado


40

Colaboração Homenagem a Ramalho Eanes

com os jovens cadetes , bem como com o conjunto de Professores e Instrutores ali colocados. A sua primeira intervenção política ocorre no verão de 1973 quando assina com mais 400 oficiais um documento de repúdio enviado ao Congresso dos Combatentes do Ultramar, organizado pelo governo de Marcelo Caetano como manobra de uma demonstração pública de apoio e legitimação da sua política ultramarina. Em Julho de 1974 é colocado na Comissão ad hoc para os Meios de Comunicação Social , a partir de Setembro foi nomeado Director de Programas da RTP e, pouco depois, Presidente do seu Conselho de Administração onde ficou até Março de 1975 (tendo sido exonerado por “possível implicação nos acontecimentos político-militares do 11 de Março”), funções que lhe valeram grande prestígio e consideração por parte dos profissionais daquela televisão pública; estas actividades, para quem sempre vivera dentro da esfera militar, foram uma janela de abertura para que fosse sendo progressivamente conhecido pela generalidade da nossa população; pode ser dito que foram o primeiro passo para que se tornasse mais notado e viesse a deter maiores responsabilidades no futuro. Durante os acontecimentos do “11 de Março” decidiu manter a emissão normal da RTP com o intuito de evitar que as imagens dos incidentes, já resolvidos, pudessem vir a criar reacções imprevisíveis na população de Lisboa, o que foi uma decisão discutível, mas de grande bom senso. A degradação da situação agrava-se no verão de 1975 levando à criação do “Grupo dos Nove”, os ditos “moderados”, e à preparação do seu Documento sob orientação de Melo Antunes, grupo ao qual Ramalho Eanes adere desde a primeira hora. O ocorrido em “25 de Novembro” foi a resposta considerada adequada do “Grupo dos Nove” à paralisia do Estado e à degradação institucional das Forças Armadas, tendo Ramalho Eanes sido o Coordenador do Sector Operacional; os resultados conhecidos deste confronto levaram a que viesse a ser escolhido pelos seus camaradas para Chefe do Estado Maior do Exército e proposto ao Presidente da República e CEMGFA, General Costa Gomes, que deu a sua concordância. Mas, logo a seguir, foi um dos responsáveis por evitar que pudesse ter acontecido uma “caça às bruxas”, o que foi conseguido com sucesso e ajudou a pacificação nacional. Pouco tempo depois, com a preocupação de dignificar as Forças Armadas e voltar a dar-lhe uma missão institucional, foi promulgada a Lei nº 17/75 de 26 de Dezembro que aprova as Bases institucionais para a reorganização das Forças Armadas (FAs). Embora a terminologia utilizada ainda não pudesse fugir ao período revolucionário que se vivia, as amarras aos grandes prin-

cípios que devem reger o comportamento das FAs e dos seus quadros em democracia estão lá inseridas. Foi apenas um arranque, mas que, principalmente nas suas Bases IV, V, VI e VII, integra todos os princípios essenciais do seu funcionamento numa democracia pluralista. A sua preocupação maior, enquanto CEME, esteve relacionada com as questões disciplinares das FAs e de um arrumar diário de mentalidades e do sistema. Pelas suas características pessoais, prestígio acumulado e objectivos democráticos para o futuro de Portugal foi apontado pelos seus camaradas para ser candidato às eleições presidenciais de 1976, tendo recebido o apoio conjunto do PS, PPD e CDS; este tipo de escolha não foi incontroverso, criou problemas em alguns sectores militares e civis, mas foi eleito à primeira volta com uma maioria confortável de votos. Quando inicia as funções de Presidente, que acumula com as de CEMGFA, em 14 de Julho, detém formalmente um poder considerável, mas tem de prosseguir um difícil, por vezes doloroso e silencioso, trabalho, e convencer largas elites da população portuguesa, muito cépticas a seu respeito, mas hoje revisto o seu pensamento e acção pode ser dito que: - Com a sua eleição se institucionalizou a Democracia, se fez a reestruturação do Conselho da Revolução e se iniciou um longo e profícuo trabalho de reorganização das Forças Armadas; - Em termos de grandes objectivos nacionais e internacionais, creio que teve cinco preocupações que considero de salientar: -Reunir todos os portugueses em torno da sua História, dos seus valores e das suas referências, não esquecendo aqueles que tiveram de emigrar e viver no estrangeiro; para o efeito foi reinventado o “10 de Junho”, agora como ”Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades”, não conhecendo eu outro país que comemore o seu Dia Nacional com a figura do seu Poeta maior; - Focar o seu interesse internacional na NATO (participou logo em Maio de 1977 na Cimeira de Londres), tanto por razões políticas (onde se agregavam os Aliados históricos de Portugal e as democracias europeias, geográfica e culturalmente mais próximas), como militares , tendo em vista o apoio que deles poderíamos vir a receber em termos de organização, doutrina, modernização e equipamentos das FAs, permitindo ser feita uma transição tranquila para uma instituição militar moderna de uma democracia ocidental, depois de anos de formação para a contraguerrilha e dos meses conturbados da revolução, o que foi conseguido;

- Privilegiar a relação directa com Espanha, a fim de recuperar uma situação ainda não completamente estabilizada desde 1975 e proceder a uma cooperação conjunta entre os dois países ibéricos, ambos em período de reconstrução democrática depois do Estado Novo e da Ditadura franquista; - Recuperar rapidamente o bom relacionamento com os novos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, o que foi iniciado em Junho de 1978, com o apoio do Presidente Luís Cabral da Guiné Bissau, num diálogo directo com Agostinho Neto, Presidente de Angola, tendo então sido dado início a uma nova fase de entendimento e cooperação que ficou conhecida pelo “Espírito de Bissau” e que se consolidou progressivamente no futuro; - Tudo fazer para a libertação de Timor Leste da ocupação indonésia o que o levou, já depois de ter saído de Belém, a fazer uma viagem no navio “Lusitânia Expresso” em Março de 1992, acompanhado de outros idealistas com profundo sentido humano e de democracia, procurando atingir Díli e sensibilizar a comunidade internacional; foi impedido pela Marinha do ocupante, mas a semente desta lembrança nunca morreu até 1999. Foi reeleito à primeira volta em 1980, tendo em 1982 sido feita a primeira Revisão Constitucional, com duas consequências imediatas: - o Governo deixou de ser responsável perante o Presidente da República e a dissolução do Conselho da Revolução, tal como estava previsto. Em consequência foi criado o Conselho de Estado que iniciou funções em 30 de Outubro de 1982. Mas também na área militar tal teve consequências; embora desde 1977 tenha procurado evitar o peso excessivo e simbólico da concentração de funções com a nomeação de dois sucessivos Vice-CEMGFA (Loureiro dos Santos e Souto Cruz), com a sua reeleição em 1980 abandonou definitivamente as funções de CEMGFA, que passaram a ter como titular Melo Egídio. Em 1982, foi aprovada a Lei nº 29/82 de 11 de Dezembro, Lei da Defesa Nacional e das Forças Armadas (LDNFA), grande enquadrante de ordem jurídica e mental, que marcou o futuro de forma sólida e construtiva. Gostaria de terminar esta parte sobre a sua face militar com dois apontamentos: - Quando em 1979 regressei de Macau sentia-se que o País estava, num grande esforço conjunto e sem esquecer os seus enormes problemas estruturais e conjunturais, a caminho da normalização, com os militares tendo já regressado aos quartéis, existindo tranquilidade nas


Colaboração Homenagem a Ramalho Eanes

ruas e nos espíritos, mas também esperança e confiança no futuro; - Em 2000, Ramalho Eanes recusou a promoção a Marechal, o que sendo para si natural envolve um comportamento raro em Portugal e que foi quase ignorado.

OS GRANDES TRATADISTAS Como disse inicialmente, procurei o apoio de alguns grandes tratadistas sobre o Estado e o Homem Militar de modo a poder verificar se o comportamento pessoal e profissional de Ramalho Eanes se coaduna com as suas teorias. Para Morris Janowitz “a profissão militar é mais do que uma ocupação; é um completo estilo de vida” (....). e realça que “qualquer profissão que esteja continuamente preocupada com a ameaça do perigo requer um forte sentido de solidariedade para poder actuar eficazmente”. Sobre a honra militar diz que “o comportamento profissional dos militares tem profundas consequências políticas”, embora não tenham um envolvimento político. Só nos mais altos comandos existe uma maior preocupação com as finalidades políticas do sistema militar. “A Honra é a base do seu credo” e ela é “quer um meio, quer um fim”. A importância do Código de Honra mantém-se, mesmo adaptado ás alterações dos modernos exércitos. Depois de um longo raciocínio, Janowitz conclui: “Num período de alterações técnicas fantásticas, a liderança militar é confrontada com uma quase perpétua crise de organização. O analista social preocupa-se em perceber as consequências organizacionais destas alterações técnicas. Porém, pode ser assumido que nem a crescente automação da tecnologia militar, nem a alteração no modo de fazer a guerra , nem ainda o declínio da tradicional oposição militar à inovação, podem produzir uma completa transformação do sistema militar que o iguale às organizações civis. A estrutura da autoridade militar é a expressão de objectivos que são exclusivos dos militares, nomeadamente o combate e a preparação para o combate”. Ainda deste autor é importante a seguinte conclusão: “O combatente, independentemente do seu Ramo, quando envolvido na batalha, é dificilmente o modelo preconizado por Max Weber para o burocrata ideal seguindo rígidas regras e regulamentos. Em certos aspectos é a sua antítese. O combatente não é um rotinado, nem um auto contido. Contrariamente, a sua actuação é de completa improvisação, qualquer que seja o seu ramo ou arma – improvisação é a tónica do combatente individual e em grupo. O impacto da

batalha destrói homens, equipamentos e organização, que precisam constantemente de regressar a alguma forma de unidade através de improvisação no local. Na batalha, a planeada divisão de actividades desaparece com a ocorrência de contingências não previstas pela doutrina táctica.” Da análise de Janowitz é ainda de sublinhar a importância que dá aos militares nas relações internacionais. Diz o autor: “Pelo hábito, lei e necessidade política, o soldado profissional tem de ser apartidário nas questões de política interna”. Mas como a sua acção tem consequências nas relações internacionais, deve receber uma preparação especial para este fim. O que Janowitz teorizou em termos de preparação em relações internacionais para o período da “dissuasão”, mantém-se e aprofundou-se nesta época de muitos conflitos regionais e de “guerras assimétricas”. Pelo General Sir John Hackett tenho um especial apreço porque foi combatente (ferido três vezes em combate na II Grande Guerra), professor universitário, escritor e historiador. Os seus conceitos são baseados na experiência vivida pelo que ganham um particular valor e credibilidade; dos seus trabalhos considero de sublinhar as seguintes conclusões: - Realça a importância da liderança (conquistando o coração dos homens) pela capacidade, pelo exemplo, pela consistência, pela sinceridade e fundamentalmente pela preocupação com os outros, antes de consigo mesmo; - Considera a unidade militar como um grupo onde existe um fio condutor entre o chefe mais graduado e o soldado e onde este não pode ser tratado como um número, o que se reflecte no espírito de corpo; - Sublinha ser a profissão militar das poucas que, ao longo da carreira, proporciona aos seus elementos sucessivos cursos, que os preparam para novas funções, quer técnicas, quer de gestão, quer para assunção de novas responsabilidades;

41

- Constata que quanto maior o stress, maior a necessidade de se ser chefiado, tornando-se electrizante o exemplo de frieza e coragem; - Considera o chefe militar o único tipo de profissão onde tem de ser feita a “gestão do medo”, quer do próprio, quer de cada um e do grupo, para o levar a realizar missões onde o risco de vida está sempre presente e onde muitos gostariam de voltar para trás; - Mas sobre a questão moral do homem militar também se pronuncia, relembrando as palavras de Cristo na Bíblia, onde aquele é tratado com consideração e mesmo delicadeza, contrariamente às palavras duras de Cristo para os políticos, advogados, capitalistas, professores e religiosos. Da grande plêiade de autores existentes só vou citar mais um, Samuel Finer. Escreveu ele que dispõem as Forças Armadas de três impressionantes vantagens políticas sobre as organizações civis: “Marcada superioridade de organização, um altamente emocional status e o monopólio das armas; e que perante tudo isto o surpreendente é que obedeçam aos seus chefes políticos (e, acres-


42

Colaboração Homenagem a Ramalho Eanes

cento eu, é assim por opção, porque acreditam nas regras de funcionamento da democracia); que existem para combater e vencer guerras, independentemente de poderem apoiar o poder político noutras actividades; que os seus traços característicos continuam a ser o comando centralizado, a hierarquia, a disciplina, a intercomunicação, o espírito de corpo e um correspondente isolamento e auto-suficiência; que as virtudes militares quando identificadas com a Instituição adquirem uma auréola moral que tem um alto significado político”. Destas várias abordagens, há algumas conclusões nucleares que se podem tirar: 1- Sendo, como diz Janowitz, a profissão militar um estilo de vida completamente diferente, aquilo que a marca essencialmente são o espírito de missão, o código de honra e os seus mecanismos de decisão; 2- Subordinação completa e interiorizada ao poder político nas sociedades democráticas, mas desejando manter uma autonomia dos seus mecanismos de funcionamento, incluindo os de auto-regulação, separando inequivocamente o que pertence ao poder político daquilo que é responsabilidade das chefias militares; 3- Sistema em evolução permanente, quer no seu funcionamento interno, quer no alargamento das suas missões; Neste processo evolutivo e internacionalmente mais integrado, e na linha do pensamento de Janowitz e de John Hackett, acontece que nos últimos cinco anos do século passado e no século actual as nossas Forças Armadas (e também as Forças de Segurança) foram chamadas a desempenhar um conjunto muito elevado e diversificado de missões no estrangeiro, envolvendo efectivos muito consideráveis, no âmbito da ONU, NATO e UE, mas também na cooperação técnico-militar com os novos países africanos da lusofonia, o que tem sido considerado a face mais brilhante da nossa diplomacia nesses países irmãos. Como resultado deste envolvimento, os militares portugueses de todos os Ramos e escalões demonstraram uma qualidade profissional ao nível do melhor dos nossos aliados, uma capacidade de entendimento com as populações locais, normalmente, maior que a de forças de outros países envolvidos, e um enorme espírito de sacrifício e disponibilidade para resolverem todo o tipo de problemas que pudessem surgir. Factos estes que sempre foram transmitidos pelos Responsáveis políticos e pelos Comandos internacionais de quem dependeram, pelos gru-

pos locais em confronto e pelas populações que por si foram ajudadas. Assim, aconteceram, tal como Ramalho Eanes desejava, quer a subordinação natural ao Poder Político, quer a internacionalização e modernização (embora com dificuldades conhecidas) das nossas Forças Armadas.

O que tem este enquadramento geral e detalhes a ver com Ramalho Eanes? TUDO!

E tudo, porque o pensamento dos grandes tratadistas do Homem Militar e dos seus Chefes elencam todo um conjunto de características que fazem parte do código genético do Militar, com particular ênfase no Chefe Militar moderno, na guerra e em paz, independentemente do seu grau hierárquico, repetindo-se nos diferentes pensadores as qualidades que consideram indispensáveis; por outro lado, os testemunhos de pessoas que com ele trabalharam ou conviveram ao longo da vida, desde Cadete ao Palácio de Belém e até hoje, permitem coleccionar as suas qualidades e limitações podendo nós verificar como se enquadram ou não no quadro traçado pelos grandes teóricos do tema e vieram a influenciar a sua acção militar e política. E assim, o que encontramos nas duas faces do espelho? Ramalho Eanes é, como todos nós, o produto de um enquadramento familiar, social, de formação académica e experiência profissional fortemente marcado pela época vivida, pelo conflito ultramarino e sucessivas missões, que pouco tempo deixavam para a vida pessoal e familiar, pelas roturas e confrontos político-militares que vieram a ocorrer, pela geração nacional de que faz parte e pela sua tendência natural para assumir responsabilidades. É oportuno lembrar que a geração de militares que se viram envolvidos durante cerca de 13 anos no conflito ultramarino e depois tiveram de assumir a rotura político-militar e voltar a colocar o país nos carris desejados, assumindo responsabilidades nacionais que em muito os ultrapassavam, detiveram um autoridade política e moral que nenhuma geração, nem profissão tinham tido desde a I Grande Guerra. Mas essa autoridade moral e política foi posta completamente ao serviço da Nação como um todo e da nossa população, com o propósito sempre continuado de se atingir a Democracia plena dando o exemplo permanente com a sua subordinação conscientemente assumida e completa ao Poder Político democrático. Nada quiseram ou querem para si. E assim irá continuar, mas o que obriga a uma responsabilidade correspondente do Poder Político.

Ramalho Eanes é a face mais visível de todo este quadro; pelo seu, carácter, coragem moral e física, espírito de missão e do dever, pelo seu sentido de honra, responsabilidade e capacidade de decisão, pela sua inquietação intelectual, pela sua exigência com justiça, pela preocupação com os mais desprotegidos, pelo seu sentido de camaradagem, pela capacidade de sofrimento e contenção perante as traições, desilusões e as suas próprias falhas, pela sua dedicação à família e pelo tipo de vida sóbria que sempre levou, por nunca se ter esquecido das suas origens, camaradas e populações com quem lidou, mas acima de tudo pelo exemplo que dá e pela honestidade que pratica, e é por todos sentida e ainda por procurar evitar qualquer homenagem, tendo esta sido quase imposta. A adaptação à vida política não foi simples, nem para si, nem para os que consigo contactavam; foi uma aprendizagem difícil, feita de chofre, em funções ao mais alto nível do Estado e todos os dias com novas dificuldades e surpresas, mas tinha uma vontade e um rumo que conseguiu sempre prosseguir. Ora todo este conjunto de atributos são exactamente aqueles que os grandes Tratadistas consideram dever existir no homem militar de qualidade, independentemente da missão que desempenha. Ainda hoje, passados 27 anos de ter abandonado a Chefia do Estado e o Comando Supremo das Forças Armadas, o povo português sabe que este é o Homem que sempre viveu para servir Portugal e que ainda hoje o faz, embora de um modo mais discreto e menos visível. Termino, esperando que durante muitos anos possamos continuar a contar com o seu avisado conselho, prudência, sentido de Estado e de Cidadania. Muito obrigado, Meu General! Muito obrigado por uma vida sempre ao serviço de Portugal e pela importância que teve na consolidação da Democracia; qualquer Nação que se preza precisa de cidadãos como V. Ex.ª e deve ter o cuidado e a inteligência de os honrar, e esta Sociedade Civil que hoje o lembra compreendeu isso e quis assumi-lo de modo claro e frontal. Porque tem memória! Para que ninguém o possa esquecer! Muito obrigado pela vossa atenção! Lisboa, 25 de Novembro de 2013


Colaboração Há festa na Mouraria

43

Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957

Há festa na

Mouraria N

os meus tempos no Colégio, já lá vão mais de cinquenta anos (até faz impressão constatar como o tempo passou), era muito popular um fado musicado e cantado pelo «tio» Alfredo Marceneiro (um dos expoentes máximos do fado daquela época), cuja letra começava assim: Há festa na Mouraria, É dia de procissão Da Senhora da Saúde. Até a Rosa Maria, Da rua do Capelão, Parece que tem virtude. Este fado também era popular no Colégio e a procissão da Senhora da Saúde era-nos familiar, dado o Colégio participar sempre na mesma, com um pelotão de alunos, normalmente da 3ª Companhia, de farda de gala e de espingarda ao ombro, que seguia em passo lento de procissão integrado na mesma. No meu 4º ou 5º ano fui um dos nomeados para tomar parte na procissão, que teve lugar num quente domingo do mês de Maio, e onde pude sentir na carne como a tarefa era pesada. A procissão durou um tempo que me pareceu infinito (bem mais do que uma hora), a espingarda ao fim desse tempo parecia que pesava toneladas, outro tanto acontecendo com as pernas, que já mal conseguia arrastar. Recordo-me bem, que quando o graduado comandante do pelotão, terminada a procissão, deu ordem

Quadro do Mestre Real Bordalo da Igreja de Nossa Senhora da Saúde

para regressarmos, em marcha ordinária, à nossa camioneta, as pernas já quase que não me obedeciam. Quando no final me sentei na camioneta para voltarmos ao Colégio a sensação de alívio que tive, ainda hoje a sinto dentro de mim. A tarefa era de facto

bem pesada, e tanto assim era, que havia, de quando em vez, uns desmaios pelo caminho. Ainda aqui há uns tempos atrás, ao consultar umas Ordens de Serviço colegiais do meu tempo, «tropecei» num louvor dado a dois alunos do curso antecedente ao meu,


44

Colaboração Há festa na Mouraria

Alunos do Colégio que participaram numa Procissão da primeira década do Século XXI

porque tendo desmaiado no decurso da procissão, se voltaram a integrar na formatura logo que refeitos do desmaio. Era assim que a malta agia, «à Colégio». É ainda de mencionar que a malta procurava amenizar este acto de verdadeira «penitência», em que tínhamos de participar e em relação ao qual não éramos ouvidos nem achados, quer pensando na Virgem, cuja imagem seguíamos, quer procurando com o olhar, na assistência, as «Rosas Marias» que procuravam perdão para os pecados inerentes ao seu ofício. A opção entre os dois tipos de lenitivos era completamente livre, não havendo dados estatísticos fidedignos que nos permitam dizer, com segurança, qual dos dois era o mais usado. Na altura em que tomei parte na procissão, o ofício das «Rosas Marias» era perfeitamente legal, tendo sido ilegalizado, por Salazar, poucos anos mais tarde. A procissão da Senhora da Saúde inicia-se e termina na capela da Nossa Senhora da Saúde, situada à ilharga do bairro da Mouraria, na rua Martim Moniz. No local dessa capela foi construída em 1506 uma ermida dedicada ao culto de S. Sebastião, mártir romano do final do século III, proclamado patrono de Roma pelo Papa Gregório Magno (590-604). Em Portugal, S. Sebastião foi objecto de uma devoção muito viva, como advogado contra os males da peste, da fome e da guerra. A construção da ermida de S. Sebastião foi iniciativa dos artilheiros (na altura bombardeiros) da cidade de Lisboa. Em 1570, quando Lisboa se encontrava ameaçada por mais uma peste, realizou-se a primeira procissão da Senhora da Saúde. A procissão teve lugar no dia 20 de Abril. A

imagem da virgem encontrava-se então no oratório do Colégio dos Meninos Órfãos, tendo-se na altura formado a Irmandade de Nossa Senhora da Saúde. No início, o percurso da procissão era da Mouraria até ao Convento de S. Domingos, com regresso ao Colégio dos Meninos Órfãos. Em 1661, por desinteligências entre os administradores do Colégio dos Meninos Órfãos e a Irmandade da Nossa Senhora da Saúde, esta pensou em construir uma capela própria. No entanto, os artilheiros (bombardeiros), que possuíam a sua ermida votada a S. Sebastião na Mouraria, ofereceram então guarida à irmandade de Nossa Senhora da Saúde, que a aceitou, com a condição de a ermida passar a chamar-se de Nossa Senhora da Saúde e de a imagem ficar colocada no altar principal. As duas Irmandades fundiram-se numa única - a Associação da Senhora da Saúde e de S. Sebastião -aprovada pelo Papa Alexandre VII, tendo a imagem da Senhora da Saúde entrado definitivamente na sua casa na Mouraria, após procissão, no dia 20 de Abril de 1662, já lá vão 350 anos. A ermida de Nossa Senhora da Saúde teve, ao longo dos séculos , a protecção não só de reis, rainhas e príncipes, mas também de fidalgos, militares e beneméritos. D. Pedro V, em 1861, elevou a ermida á dignidade de Capela Real. A imagem da Virgem tem vestidos que lhe foram oferecidos por rainhas de Portugal. No tempo da Monarquia era a rainha que nas vésperas da procissão estava incumbida de vestir a imagem da Nossa Senhora da Saúde com uma veste própria para sair à rua, em procissão. No meu tempo no

Colégio era a Senhora D. Gertrudes Tomáz, mulher do então Presidente da República, Almirante Américo Tomáz, que acompanhada de algumas senhoras da melhor sociedade (como então se dizia), se encarregava de vestir a Santa. Ao longo de mais de três séculos a procissão deixou de se realizar apenas em dois períodos, no decurso século XX. Não se realizou durante 32 anos, de 1908 a 1940, e não se realizou por um período mais curto de 7 anos, de 1974 a 1981. Não terão sido alheias a estas interrupções o inicio da República, bem como o período confuso que se seguiu ao 25 de Abril de 1974. Actualmente a procissão da Senhora da Saúde realiza-se no primeiro Domingo do mês de Maio. Este ano, a procissão realizou-se no dia 5 de Maio, com acompanhamento de delegações do Colégio, do Instituto de Odivelas e dos Pupilos do Exército, bem como de uma delegação de cadetes da Academia Militar finalistas do curso de Artilharia, não fosse esta procissão também conhecida como a «procissão dos artilheiros». Vi uma fotografia da delegação de cadetes da Academia Militar em que eles seguiam escoltando a imagem de S. Sebastião, mas sem arma e de luvas na mão. A delegação do Colégio também se integra actualmente na procissão nos mesmos preparos. A tradição já não é o que era e a penitência passou a ser bem mais leve. Nos dias de hoje, a procissão integra, para além dos andores da Nossa Senhora da Saúde e de S. Sebastião, os andores de Santa Bárbara e de S. António (padroeiro de Lisboa).


Colaboração Há festa na Mouraria

45

A Imagem de Nossa Senhora da Saúde e a Igreja tal como se encontra actualmente.

Para aqueles que não a conhecem, aqui deixo a letra do fado imortalizado por Alfredo Marceneiro, de autoria do poeta António Amargo: Há festa na Mouraria, É dia da procissão Da Senhora da Saúde, Até a Rosa Maria, Da Rua do Capelão , Parece que tem virtude. Colchas ricas nas janelas, Pétalas soltas no chão; Almas crentes, povo rude. Anda a fé pelas vielas, É dia de procissão Da Senhora da Saúde. Como que petrificada, Em fervorosa oração É tal a sua atitude,

Que a rosa já desfolhada, Da Rua do Capelão, Parece que já tem virtude. Admito que a Rosa Maria imortalizada neste fado, esteja lá em cima, a acompanhar a Santa Maria Madalena. Falando de fado, da Mouraria e de procissões, não podemos deixar de recordar a diva do fado, a Amália Rodrigues, e a Mariza, uma que cantou e outra que agora canta, o belo fado «Ai Mouraria», que assim termina: Ai, Mouraria das procissões a passar, Da Severa em voz saudosa Da guitarra a soluçar.

do consternados todos os boémios da sua época) e não deixem de almoçar ou jantar no «Zé da Mouraria», restaurante popular onde se come magnificamente e onde somos todos tratados pela empregada por «queridos» e «queridas». Não se irão arrepender, cada dose dá bem para dois, é logo no inicio da rua, vindos do Martim Moniz, e tem á entrada umas meias portadas verdes, basculantes nos dois sentidos, às tabuinhas (como na casa da Mariquinhas), tipo «saloon» do Texas. Vão antes que apareça nos roteiros turísticos da cidade de Lisboa e que fique estragado pelos estranjas que nos visitam.

Como nota final, recomendo que vão passear até à vetusta Rua do Capelão, que está toda recuperada e que merece uma visita. Podem visitar a casa da Severa (morta prematuramente aos 26 anos de idade, deixan-

Restaurante Jardim da Luz premiado O Restaurante Jardim da Luz, que funciona nas instalações da AAACM e que é ponto de encontro de muitos Antigos Alunos do CM, foi premiado com “1 Garfo”, no Concurso Gastronómico “Lisboa à Prova 2010”. Foi com natural satisfação que os concessionários do restaurante receberam a distinção, tanto mais que Qualidade de Serviço, Atendimento, Refeições e Preço eram os principais aspectos valorizados. Recorde-se que no “Jardim da Luz” há um menu “Colégio Militar”, que quando usado permite à AAACM receber 1 Euro por cada menu servido.


46

Colaboração Isentos de franquia do Colégio Militar

António João Martins de Abreu 85/1953

Isentos de Franquia do Colégio Militar Introdução Sou filatelista, coleccionador não só de selos como de cartas e postais emitidos pelo correio com a franquia incluída, e também de cartas e postais utilizados pelas Forças Armadas com isenção de franquia de acordo com legislação específica. Estes tipo de documentos são designados entre os filatelistas por Inteiros Postais (IP); e os abrangidos por legislação que lhes confere isenção de franquia na sua utilização são, normalmente, designados abreviadamente por Isentos de Franquia (IF). Os ex-alunos mais antigos lembram-se, com certeza, dos postais que o Colégio enviava para as nossas casas com as notas de fim do período, notificações de baixa à enfermaria e de punições, etc. (Fig.1 e 2) bem como dos envelopes castanhos com as contas mensais. Quando iniciei a minha colecção de IP e de IF, contactei o especialista deste tipo de colecções, o Senhor Brigadeiro Cunha Lamas, que, tal como eu, era oriundo da Arma de Engenharia. Da reunião guardo uma memória muito agradável e proveitosa, bem como a recordação da oferta do seu livro com uma gentil dedicatória (Fig.3). Tivemos uma longa conversa sobre alguns dos inteiros por mim então adquiridos, respectivas emissões e principais variedades, bem como sobre os Isentos de Franquia do Colégio Militar, dado eu ser ex-aluno. E assim fui alertado para a correspondência do Colégio com os meus Pais,

Figuras 1 e 2 – Cartolina branca com impressão a preto

relativa às minhas informações periódicas, tais como as classificações de fim de período, o nível de aproveitamento e o comportamento geral. Essa chamada de atenção foi oportuna e ainda atempada pois pude conservar vários tipos de Isentos de Franquia utilizados pelo Colégio, com a inscrição de Isenção, impressa ou aplicada pelos carimbos de borracha, tal como referido pelo Brig. Cunha Lamas num capítulo específico de um outro livro que publicara, “Inteiros Postais de Portugal e Ilhas Adjacentes”. Já se passaram 42 anos após esse encontro! Nesse estudo são referidos dois modelos de carimbo de borracha que especificavam ser a correspondência Isenta nos termos do Decreto n.º 28713, de 26 de Maio de 1938. Há alguns anos atrás foi publicado, por A. Bordalo Sanches, um desenvolvido artigo sobre Isentos de Franquia (I.F.) de Portugal, na revista “A Filatelia Portuguesa”, que incluiu um “capítulo” (III-1.3.3) sobre os I.F. do Colégio Militar. Nesse estudo e no referente à isenção de franquia de que beneficiou o Colégio Militar, são apresentados e catalogados vários tipos e modelos de correspondência enviada a coberto da Portaria n.º 2078, de 25 de Novembro de 1919 (Fig. 4), e a coberto do Decreto n.º 28713, de 26 de Maio de 1938. A correspondência isenta de franquia enviada pelo Colégio aos meus Pais, sobre o “aluno n.º 85, António João Martins de Abreu” (eu próprio), estava abrangida pelo Decreto n.º 28.713! Essa correspondência incluiu I.F.’s. dum modelo tipo bilhete-carta

Figura 3 - Exemplar do livro com a dedicatória do Brigadeiro Cunha Lamas


Colaboração Isentos de franquia do Colégio Militar

Figura 4 – Envelope (12 x 97 mm) do Colégio Militar (Secretaria), isento de franquia ao abrigo da Portaria n.º 2078 de 25-Nov-1919, circulado a 18.11.22 (?).

(folha de cartolina que se dobra e fecha tipo envelope, podendo-se colar, ou não, as bordas como nos aerogramas) que não fora mencionado no estudo de A. Bordalo Sanches, atrás referido, mas foi utilizado, pelo menos, durante o período em que frequentei o Colégio Militar, isto é, de Outubro de 1953 a Julho de 1960. Apresento a seguir um breve estudo deste tipo de I.F. com base nos dez exemplares que possuo.

Figura 5 - Frente e verso de Isento de Franquia do Colégio Militar em cartolina fina branca, tipo bilhete carta, com a isenção confirmada por carimbo de borracha do modelo II, indicado no livro do Brigadeiro Cunha Lamas.

47

no interior e ao conjunto de algarismos indicativos do ano (só com as centenas ou com as dezenas, 4 ou 5 – Fig. 6 e 7). Nos exemplares que possuo é possível diferenciar cinco variedades com base no tipo tipográfico utilizado no dizer “Ex.mo Senhor”, conforme se pode observar na Fig. 8. Também é visível a utilização das duas variedades dos carimbos de borracha, nestas peças sempre associados á Secretaria do Colégio Militar. Alguns dos exemplares não apresentam marca de dia dos Correios, podendo ter sido entregues em mão, embora preparados para ser enviados por esse serviços.

Comentário Final

Desde o princípio do meu envolvimento com a Filatelia beneficiei de contactos pessoais muito enriquecedores tanto no apoio para a escolha do material e dos assuntos, como na informação para conhecer e coleccionar selos e tudo o que está ligado à filatelia. Procurando despertar o interesse de alguns dos alunos e ex-alunos sobre a colecção de documentos Isentos de Franquia que estiveram e estão ligados à tipo bilhete-carta nossa vida colegial e profissional, Figuras 6 e 7 - Os dois modelo da comunicação constante no interior dos I.F. tipo bilhete carta, No período de Outubro de 1954 pedagógico e vida escolar; estes I.F. têm também diferença na composição numérica do ano, um aqui partilho este estudo sobre até às centenas e o outro até às dezenas, no modelo apresentado o algarismo 4 referente aos algumas peças da minha colecção a Julho de 1960, a Secretaria do anos quarenta. de Inteiros Postais e de Isentos de Colégio Militar enviou, anualmenFranquia. Este estudo resulta da adaptação de um artigo com o mesmo te, aos meus Pais sobre o aluno n.º 85, dois tipos de informação/avatítulo publicado no n.º 439, de Março de 2013, da revista do Clube Filatéliação global anual, uma de carácter pedagógico e outra de avaliação lico de Portugal. do comportamento, em Isentos de Franquia (I.F.) do tipo bilhete-carta Aproveito para apelar àqueles que estão a arrumar a “papelada” da aberto (Fig. 5, 6, 7 e 8), em papel e em cartolina fina nas cores branca sua vida colegial e militar, no sentido de não deitarem fora estas “carou creme/amarelado. Isto além dos atrás referidos postais e envelopes. tas”, “postais”, “envelopes” bem como “aeroConforme definido na legislação aplicável, gramas” e “envelopes” da Guerra de Ultramar isto é, constante no Decreto n.º 28.713, de pois eu e muitos outros coleccionamos esses 26-05-1938, a correspondência endereçada documentos quer pelas diferenças de modea particulares “deverá circular normalmente los, quer pelas marcas postais militares e civis aberta”, o que se verificava com estes I.F. tipo que ostentam. bilhete-carta. Poderão entregar-me pessoalmente, combiA “aposição de um sêlo especial” era necesnando por telefone (962319459) ou por e-mail sário no caso de envio a particulares, de “cor(antabreu@yahoo.com). respondência reservada, em sobrescrito fechado”. Este selo é o conhecido “selo oficial”. Bibliografia Os I.F., tipo bilhete-carta, utilizados mantêm Livros – “Bilhetes-postais de Portugal e Ilhas Adjacentes”, pelo uma estrutura constante ao longo do período Brigadeiro José da Cunha Lamas, Edição dos Serviços Culturais (Out. 54 a Ago. 60), mas variam quanto ao tipo dos C.T.T., do ano de 1952. “INTEIROS POSTAIS DE PORTUGAL E ILHAS ADJACENTES”, pelo tipográfico utilizado no exterior e interior, ao Brigadeiro José da Cunha Lamas, Edição dos Serviços Culturais modelo de carimbo de borracha que garante o dos C.T.T., do ano de 1969. Figura 8 – Cinco tipos tipográficos utilizados em “Ex.mo Sedireito de isenção, ao tipo de papel empregue, nhor” no exterior dos I.F. tipo bilhete-carta. Também é visível Revista “A FILATELIA PORTUGUESA”, n.º 100 de Agosto de 2001. Revista do Clube Filatélico de Portugal, n.º 439 de Março 2013 às duas variedades de comunicação impressa que foram aplicados os dois tipos de carimbos de isenção.


48

Colaboração Eusébio e o Colégio Militar

Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957

Eusébio

e o Colégio Militar D

epois de tudo o que foi dito e escrito nos últimos tempos acerca do Eusébio, mal seria se nós não tivéssemos nada a contar acerca dele, estando o Colégio colocado paredes meias com o Estádio da Luz, a catedral do glorioso Sport Lisboa e Benfica, que ele tão brilhantemente representou na década de 60. Eusébio não foi aluno do Colégio e que eu saiba nunca o visitou, mas há um facto que é indiscutível, em 1961 o seu fulgurante início de carreira no Benfica fez furor no Colégio e os alunos de então, entre os quais eu me encontrava, foram testemunhas privilegiadas do seu meteórico percurso a caminho do estrelato. Eusébio chegou a Lisboa em Dezembro de 1960, estava eu no 6º ano do Colégio, e desapareceu de imediato da circulação. Sabe-se que no dia da sua chegada um dirigente de então do Benfica, o Domingos Claudino, o levou a almoçar ao restaurante Tia Matilde, de que ele se iria tornar um cliente assíduo até aos últimos dias da sua vida, levando-o daí directamente para o Algarve, onde ficou escondido e incógnito durante uns dias, até que a sua inscrição como atleta do Benfica ficasse completamente regularizada na Federação Portuguesa de Futebol. O Benfica, que temia que Eusébio fosse desencaminhado pelo Sporting, quis-se então precaver contra qualquer possível tentativa de «sabotagem» eventualmente empreendida pelo seu rival de sempre. Eusébio ficou assim uns quantos dias no Algarve, mais precisamente no Hotel da Meia-Praia (já desaparecido), situado junto a Lagos,

onde ficou registado como hóspede, sob o nome falso de Ruth. Até lhe alteraram o sexo, para o disfarce ser o mais completo possível. Aqui começou a ligação de Eusébio ao Colégio. O dono do hotel era um Antigo Aluno, com dois filhos também Antigos Alunos, um deles do meu curso do Colégio e o outro dois anos mais velho do que nós. O do meu curso era o José Manuel Furtado de Antas (35/1955) e o mais velho era o João (387/1953), que foi Porta–Guião do Colégio no seu ano de finalista. Como resultado da consulta do nosso «Quem é Quem», presumo que o pai deles era o João Cândido Furtado de Antas (387/1923), de quem o filho mais velho herdou não só o nome, mas também o número. Presumo que o pai Antas seria um grande benfiquista, para o clube confiar daquela maneira na sua discrição. Mas do que não tenho dúvidas é que ele era um Antigo Aluno de primeira escolha. Para além de ter posto os seus dois filhos no Colégio, teve sempre o Colégio na sua mente, como o testemunhou numa passagem de alunos do Colégio pelo seu hotel, no decurso de uma visita de estudo ao Algarve. O curso que passou no seu hotel foi o curso anterior ao meu. À chegada aos quartos encontraram um cartão de boas-vindas com uma quadra, que, se bem me lembro, era a seguinte: Se o tempo voltasse atrás Como a sonhar eu supus Queria voltar a ser menino Para ser Menino da Luz

Era uma daquelas quadras de que qualquer um de nós gostaria de ter sido autor. Mas voltemos ao nosso Eusébio. O seu primeiro feito que deu brado foi protagonizado num jogo particular do Benfica contra o Santos, do Pelé, que teve lugar em Paris, no Parque dos Príncipes. O Eusébio estava a suplente e o Benfica estava a levar uma «abada» de 5 a 0. O treinador, que era o Bella Gutman, terá pensado que já não havia mais nada a perder e resolveu fazer uma gracinha e mandar para a fogueira o Eusébio, nos seus tenros 18 anitos, dizendo-lhe, antes dele entrar, para ele não se importar com a responsabilidade e para jogar o seu futebol. E foi isso mesmo o que o Eusébio fez, marcou três golos de rajada e só não marcou o quarto, porque não o deixaram cobrar um penalty. Acho que o então capitão da equipe, o Águas, terá considerado que era demasiada responsabilidade para o miúdo. No dia seguinte, até os jornais franceses só falavam do Eusébio. Tinha nascido uma nova estrela, fazendo uma vítima, que foi o Santana, que saiu da equipa para lhe dar lugar. E se o Santana era um bom «interior», como então se dizia! Entrado na equipe principal, toda a gente queria ver o Eusébio jogar e nós no Colégio não éramos excepção. Éramos aliás uns privilegiados, pois bastava aparecermos fardados à porta do estádio, para termos ingresso imediato para o sector dos «borlistas». Até os sportinguistas lá iam, bem como os Antigos Alunos que nos dias de jogo nos apareciam no Colégio, a pedir um capote e um barrete emprestados


Colaboração Eusébio e o Colégio Militar

para também conseguirem entrar à borla. Lembro-me de um deles que ensaiou este número apesar de já usar barba e de já ter um ar a dar para o velhote. O porteiro ficou a olhar para ele e acabou por dizer hesitante: -Então e a barba? A resposta foi imediata: -Está a crescer. O porteiro embatucou e lá terá ficado a pensar que aquele aluno devia ser dos mais cabulões, já com uma mão cheia de anos perdidos. Eu por mim deliciei-me a ver as arrancadas imparáveis e os dribles fantásticos do Eusébio e ainda hoje me lembro de uma noite de uma quarta feira europeia, em que arranquei já atrasado para o estádio e resolvi ir a corta mato (nessa altura não havia 2ª circular). Como ia através dos campos às escuras e ia encadeado pelas luzes das torres de iluminação do estádio, não conseguia ver onde punha os pés, seguia aos tropeções e acabei por me estampar umas quantas vezes. O resultado foi ter ficado com as calças da farda todas enlameadas dos joelhos para baixo. O Benfica ganhou, o jogo encheu-me as medidas, mas ainda tive um bom bocado de trabalho no dia seguinte, a limpar com a escova a lama seca das calças. Lembro-me que aqueles foram uns tempos felizes para os benfiquistas colegiais, de entre os quais se destacava o nosso barbeiro, o Ramalho, que andava positivamente nas nuvens. Na sala da barbearia da 4ª Companhia, onde ele exercia a sua arte, os temas obrigatórios

das conversas eram o Benfica e o Eusébio. Foi um tempo difícil para os sportinguistas, que antes da vinda do Eusébio se vangloriavam de o Sporting ter tido o seu ídolo, o José Travassos, convocado para uma selecção europeia. Pois até ele, o «Zé da Europa», como ficou então conhecido, se rendia à classe do Eusébio. Recordo-me bem de o ver uma vez, no nosso sector dos «borlistas», no Estádio da Luz, a assistir a um dos jogos do Eusébio. O pessoal benfiquista ali presente, que o respeitava, até o aplaudiu. Foi bonito de se ver.

49

Estava eu no final do 7º ano, em Maio de 1962, viveu o Eusébio um dos pontos mais altos da sua carreira. Foi a célebre final da taça dos campeões europeus em Amesterdão, contra a equipe milionária do todo poderoso Real de Madrid, onde pontificavam os galácticos da época, liderados pelo lendário Alfredo Di Stefano. Essa fantástica equipa tinha ganho a dita taça dos campeões europeus nos cinco anos anteriores e era considerada praticamente imbatível. Pois foi batida pelo Benfica, por uns convincentes 5 a 3, com golos marcados pelo Eusébio e, se bem me lembro, também com um golo marcado pelo seu protector e conterrâneo, o inesquecível Mário Coluna, também ele uma velha glória do Benfica e da selecção nacional. Não vi essa final, não tínhamos televisões nas salas de leitura das companhias, mas seguimos a final pela rádio e acabámos no mais perfeito êxtase. Ninguém se tinha atrevido a pensar que aquela vitória fosse possível. Pelos vistos os únicos que se atreveram a sonhar e foram capazes de transformar aquele sonho em realidade, foram o Eusébio e os seus companheiros. Talvez o Real Madrid tenha subestimado o Benfica. Se assim foi, a imprevidência saiu-lhes cara. Quando em Outubro de 1962 ingressei na Academia Militar fiquei a saber que os cadetes se tinham quotizado no ano lectivo anterior e tinham oferecido a um funcionário da Academia equivalente aos nossos fâmulos, benfiquista dos quatro costados, um bilhete para a final de Amesterdão. Que pena não nos termos lembrado de fazer o mesmo ao nosso Ramalho. Teria sido talvez o dia mais feliz da sua vida. Uma das últimas vontades do Eusébio foi a de o seu féretro dar uma volta ao Estádio da Luz antes de seguir para o cemitério, vontade esta que foi respeitada pelo Benfica. Neste ponto o Eusébio não foi pioneiro. Antes dele, há anos atrás, já o féretro do actor Artur Semedo, um benfiquista indefectível, tinha dado uma volta ao primitivo Estádio da Luz. Pois o Artur Semedo era Antigo Aluno do Colégio. Foi o 319 de 1936. Deve estar agora lá em cima à conversa com o Eusébio, a recordarem os seus fantásticos golos.

Nota Final Em 1966, no Campeonato do Mundo de Futebol, Eusébio e os seus companheiros da Selecção fizeram uma proeza: pararam a Guerra no Ultramar. Mas isso é outra história ...


50

Colaboração Antigos Alunos nas Tropas Pára-quedistas

Antigos Alunos nas Tropas Pára-quedistas Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950)

Madalena e Nuno.

D

esde que integrou o Corpo Redactorial da ZacatraZ, Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950) apresentou e coordenou a divulgação da participação de Antigos Alunos nas Tropas Pára-quedistas. Esse trabalho foi realizado pelo conhecimento que o Nuno tem da vivência tida por esses Antigos Alunos Pára-quedistas e também pela colaboração que lhe foi prestada por muitos dos que serviram nessa Tropa de Elite. O Nuno Mira Vaz divulgou a passagem pelas Tropas Pára-quedistas dos Antigos Alunos que o precederam, alguns deles seus Comandantes, dos Antigos Alunos seus contemporâneos e dos Antigos Alunos que serviram sobre o seu comando nas diversas missões que lhe foram confiadas. Não tendo havido colaboração que permitisse continuar esta série de registos, será reproduzida no final deste artigo a lista actualizada dos Antigos Alunos que integraram as Tropas

Pára-quedistas, estando a ZacatraZ disponível para a publicação de relatos e textos que tenham cabimento no espírito que norteou esta série de divulgação. Tendo o Nuno Mira Vaz feito um grande esforço para conseguir produzir os textos que apresentou e subscreveu na ZacatraZ, sendo ele também um Antigo Aluno Pára-quedista, não faria sentido que na nossa revista não figurasse também um registo da sua vivência no seio daquele Corpo Militar. Foram solicitados depoimentos de Camaradas seus (Antigos Alunos ou não) para que sobre ele testemunhassem episódios dessa sua qualidade de Antigo Aluno Pára-quedista. Esses textos são publicados em seguida a este preâmbulo, que se aproveita para fazer um breve resenha da vida e do espírito do Nuno Mira Vaz. Após a Instrução Primária, o Nuno Mira Vaz ingressou no Colégio em 1950, tendo-lhe sido atribuído o número 277, concluindo o curso em 1957, ano em que foi finalista e “furriel”.

O Curso saído em 1957 foi um dos mais numerosos que passaram pelo Colégio, havendo nesse ano na 4ª Companhia um pelotão completo só de “furriéis”. No 5.º ano, teve de fazer uma escolha muito difícil. Ou ia para um curso de Ciências e continuava no Colégio, ou optava por Letras e tinha de sair. Apesar da sua queda para as letras e do evidente constrangimento com a Física e com a Matemática, decidiu que não conseguia viver sem os grandes amigos que entretanto fizera e ficou no Colégio. Assim sendo, a opção pela Academia Militar foi uma saída natural para a falta de uma vocação consistente. Passados todos estes anos, confessa que não se arrependeu. Em 1963, como alferes de Cavalaria, ingressou nas Tropas Pára-quedistas, onde foi encontrar quatro antigos alunos: o Alcínio Ribeiro (43/1930), o Rafael Durão (11/1941), o Joaquim Mensurado (252/1946) e o Lobo de Oliveira (385/1949). Eram os anos das Guerras de África, pelo que deambulou pelos três territórios onde ocorriam operações militares. A primeira colocação, como subalterno, foi no BCP 21 (Angola), para onde embarcou em Setembro de 1963. Ali encontrou dois antigos alunos: o Lobo de Oliveira, também alferes da 2.ª CCP, o que lhes permitiu partilhar algumas aventuras que já foram recordadas nesta revista, e o Alcínio Ribeiro, então tenente-coronel, como comandante do Batalhão. É nessa altura que se casa e nasce a sua primeira filha. Em 1966 marchou para o BCP 12, na Guiné, já capitão, para comandar a CCP 121. É aí que se cruza com o Eduardo Preto (76/1951), seu subalterno, um bom amigo e um grande combatente, que muito o apoiou nas suas funções. Considera que, do ponto de visto operacional, foi o período mais gratificante da sua vida. Dali regressou em 1968.


Colaboração Antigos Alunos nas Tropas Pára-quedistas

51

idêntico gosto pelo exercício físico, uma forte camaradagem forjada nas mais duras situações. “Um por todos e todos por um”, lema do Colégio, também o poderia ser das Tropas Pára-quedistas. Ao marchar para as missões mais perigosas, o militar pára-quedista leva consigo uma única certeza, a mesma que levaria qualquer “Menino da Luz”: a de que, por mais desesperada que seja a situação, jamais ficará sozinho no campo de batalha. Gonçalo Salema Leal de Matos 371/1949

N Diogo Sobral (24/1949) - falecido, Nuno Mira Vaz (277/1950), Alfredo Ghira (37/1949) - falecido, José Maria Sentieiro (294/1952), António Cavaleiro de Ferreira (332/1950), António Faia (71/1951) - falecido, Joaquim Picão Fernandes (247/1950) - falecido.

Em 1970 voltou à Guiné, e, curiosamente, ao comando da CCP 121. Nessa altura a situação operacional estava um pouco mais complicada e os pára-quedistas eram encaminhados com mais frequência para as desgastantes e pouco compensadoras missões de nomadização e patrulhamento e menos para as mais empolgantes missões de heliassalto. Regressou à Metrópole em 1972. Nesse ano, o “bichinho” da Sociologia atacou com força e matriculou-se no Instituto Superior de Economia e Sociologia de Évora (ISESE), com o objectivo de concluir pelo menos um ano lectivo. Tal não aconteceu porquanto, em Abril de 1973 e já major, embarcou para Moçambique para desempenhar funções ligadas à segurança terrestre das Unidades Aéreas do território, sendo colocado no Comando da 3.ª Região Aérea, em Nampula. Foi o ano em que apareceram os temíveis mísseis terra-ar Strella, que muito afectaram as operação dos meios aéreos. Foi também o ano do aparecimento do MFA, movimento ao qual aderiu convictamente. Pouco depois do 25 de Abril, pediu para ser colocado numa Unidade de Pára-quedistas e, em Junho, marchou para Nacala, onde desempenhou as funções de 2.º comandante do BCP 32 até Dezembro, mês em que regressou à Metrópole. Recorda que foram meses muito ingratos, salpicados de boatos e de incertezas, testemunhando a angústia de muita gente que dum dia para o outro se via obrigada a rumar ao desconhecido. Recorda com funda emoção o último arrear da Bandeira Nacional no quartel de Nacala: a parada debruada de casuarinas, os seus solda-

dos secos e aprumados e o som plangente do clarim. Enquanto a Bandeira descia no mastro, recordou-se de todos os camaradas mortos, dos que ficaram incapacitados, dos medos e da fome que todos passaram, tendo provado de uma vez por todas o sabor amargo dos sacrifícios feitos em África por uma geração de portugueses. Na Metrópole esperava-o o 11 de Março e os seus até hoje mal explicados desenvolvimentos, para o qual se viu arrastado pela circunstância de ser o 2.º comandante do Batalhão de Intervenção, na altura comandado pelo Joaquim Mensurado (252/1946). Em consequência, esteve detido no quartel e posteriormente afastado do serviço até meados de 1976. Depois de normalizado o funcionamento das instituições democráticas e o das Forças Armadas, desempenhou funções de comando nas diversas Unidades do Corpo de Tropas Paraquedistas até 1986, tendo sido 2º comandante do Corpo entre 1986 e 1989. Em 1989 rumou ao Instituto de Defesa Nacional, onde desempenhou funções de assessor até 2004. Em acumulação, começou em 1997 a leccionar a Cadeira de Sociologia Militar na Academia Militar. Em 2010, por ter completado setenta anos, deixou de dar aulas. Entretanto, concluiu em 1993 o Mestrado em Estratégia e em 2000 o Doutoramento em Relações Internacionais, ambos no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da U.T.L. Tal como alguns dos seus camaradas antigos alunos e pára-quedistas já manifestaram, entende as Tropas Pára-quedistas como um prolongamento natural do seu Colégio Militar: o mesmo sentido do dever e da honra militares,

os anos de 1974 e 75 intensifica-se em Portugal a luta pelo poder. Não são imunes as Unidades militares. Nas crises a pessoa humana mostra o seu melhor e muitas vezes não consegue esconder o seu “lado negro”. Outros, os ingénuos úteis ou os oportunistas vão pender para apoiar o “lado” que lhe parece ser do vencedor. Março de 1975 foi um marco para os pára-quedistas. Mas o então Major Mira Vaz era uma das referências da dignidade e honra no culto dos valores militares, um sólido esteio moral para os camaradas mais jovens e menos graduados. Homem de cultura, a sua palavra amiga e esclarecida e o respeito pela hierarquia são ainda hoje recordados por todos aqueles que com ele privaram naquela época conturbada. Mesmo por aqueles que soe dizer-se têm “orelhas moucas”. Norberto Crisante Sousa Bernardes Major-General Pára-quedista (R)

“Puto Mira“ foi assim, por razões óbvias, que em 1951, no C.M. me apresentaram o aluno do curso do meu irmão mais velho o “67“, entrado no ano anterior. O contacto no Colégio foi muito limitado, porque naquele tempo se um “rata” se arriscasse a ir até junto da 2ª Companhia, teria como consequência, no mínimo, medir a camarata a paus de fósforo. E por maior que fosse o atrevimento nunca me seria permitido usar semelhante tratamento. Na Base de Tancos estive em pleno contacto com ele durante toda a minha instrução básica. Em 1966, quando foi organizado um Batalhão para seguir para a Guiné, fui nomeado comandante de pelotão da sua companhia. Durante ano e meio fui por ele comandado, situação que marcou profundamente a minha vida profissional. A sua atitude, a forma calma, objectiva e honesta como exercia o comando, o seu compor-


52

Colaboração Antigos Alunos nas Tropas Pára-quedistas

tamento nas situações difíceis de combate era não só reconhecida pelos seus subalternos, que tinha por amigos, mas também pelos seus superiores, que o louvaram e condecoraram. Foi com muita satisfação e tranquilidade que, após o 25 de Abril de 1974, aquando da formação dos “Conselhos de Especialidade” o vi eleito, convicto de que os princípios que sempre nortearam a sua vida profissional seriam um contributo valioso na avaliação dos seus camaradas. Com o passar do tempo, as relações de trabalho e o convívio estreitaram a nossa amizade e, era com imenso prazer que muitas vezes o acompanhava no café, que vinha tomar à sua anterior Unidade, então por mim comandada. Era o Cor Mira Vaz o 2º comandante do Corpo de Tropas Pára-quedistas e lembro-me da nossa conversa no bar da nossa unidade, na véspera da escolha do novo comandante do Corpo, na qual era um dos elegíveis. Não foi o escolhido, eu preferia tê-lo tido novamente como comandante. Mais uma vez, o vi reagir de acordo com a sua elevada craveira pessoal e profissional. Longe de se deixar abater, virou a página (com profundo pesar, acredito) e dedicou-se ao estudo e à escrita. Fez um doutoramento, escreveu livros que testemunham momentos e histórias de vida nas Tropas Pára-quedistas e que constituem documentos relevantes para a História Militar. As Forças Armadas também ganharam um lente, já que integrou o Corpo Docente da Academia Militar, durante vários anos. Visitei-o algumas vezes, quando colocado no Instituto de Defesa Nacional. Acompanhei-o,

com muito prazer, em alguns almoços e verifiquei a alegria e a satisfação pelo trabalho que realizava. “Grande Mira” penso hoje, quando nos encontramos, já reformados e sinto-me muito orgulhoso e gratificado por ser considerado seu amigo. Eduardo Maria Passarinho Franco Preto 76/1951 – Coronel Pára-quedista (R)

D

ecorria o mês de Setembro, do ano de 1970, quando me apresentei no Batalhão de Caçadores Pára-quedistas nº. 12, na Guiné. Era um jovem tenente, pronto para cumprir a minha primeira comissão de serviço. O senhor Comandante da Unidade determinou que fosse colocado na Companhia de Caçadores Pára-quedistas nº 121 comandada pelo então senhor Capitão Nuno Bravo Mira Vaz. Vivia-se, na Companhia, um ambiente de grande rigor e disciplina cimentado por um forte espírito de corpo, como aliás é próprio de uma Força Especial. O intenso ritmo operacional, assim como o grau de dificuldade das missões, obrigava a uma dedicação e entrega totais. O Comandante da Companhia facilitava-nos a tarefa, orientando-nos e instigando-nos com o seu exemplo e com a sua presença constante em todas as situações. Estávamos em guerra, tínhamos um inimigo a combater e, quanto a isso, não havia dúvidas – “Instrução dura Combate fácil”. Mas, quem faz a guerra são homens, que não aqueles que as determinam… e os homens

respeitam-se… mesmo na guerra! Ora, isso aprendi eu, eu e todos os que estavam comigo, porque o Comandante da Companhia, Capitão Mira Vaz, nos ensinou que a honra, a dignidade e o respeito pelo outro não se perdem! Nem em guerra! Eram ensinamentos transmitidos, quase diariamente, em alocuções à Companhia, no interregno dos combates e, na prática, em operações. Em duros combates, em que a emoção nos fazia esquecer tudo… em que ficávamos sós… em que éramos só nós… intensamente nós! Mesmo quando tratávamos dos feridos, dos nossos e deles! Em tensas e intermináveis horas de inquietantes movimentações, por matas


Colaboração Antigos Alunos nas Tropas Pára-quedistas

insondáveis e traiçoeiras que, abruptamente, rompiam o silêncio desgastante e ensurdecedor para nos marcarem, profundamente, roubando-nos vidas, que também eram a nossa vida! A proximidade e a intensidade da vivência numa companhia de pára-quedistas exigiam, assim, um Comandante sempre presente, tanto nas operações mais rotineiras como nas operações tidas por mais difíceis e complexas. O Capitão Mira Vaz sempre gozou de “boa saúde” e do privilégio que a condição de comandante de companhia lhe facultava: fazer-se respeitar com autenticidade e pelo exemplo! Foi assim que o conheci e vi na guerra. Na paz não me surpreendeu, como, infelizmente, outros o fizeram. A tranquilidade de consciência e o já estar em paz consigo próprio não o obrigou a alterar códigos ou práticas de vida. A insensatez, quase colectiva, de um PREC que ajudou à triste realidade de hoje não será, com certeza, uma boa memória! Ser exigente consigo próprio e com os outros, não pactuar com a “chico-espertice”, são formas de conduta, ainda hoje, ou, talvez mais hoje, mal aceites nesta coisa em que Portugal foi transformado. A cultura florescente de uma venerada hipocrisia, a par de uma politizada incompetência e oportunismo aproximam-se, ruidosamente, daquilo que poderá ser o fim de mais uma etapa. Nada é permanente! Mantenho, contudo, a esperança de que, aqui, onde continuamos a acreditar que o Sol

nasce e põe-se todos os dias, ou num outro ponto qualquer do espaço sideral, a minha gratidão seja patente para com todos aqueles que quiseram, foram e são capazes de ser meus Amigos. Bem haja meu caro Coronel Mira Vaz! João António de Albuquerque Cardoso e Castro Tenente-Coronel Pára-quedista (R)

ANTIGOS ALUNOS NAS TROPAS PÁRA-QUEDISTAS 43/1930 11/1941 38/1944 252/1946 385/1949 277/1950 76/1951 220/1951 91/1955 555/1961 269/1964 496/1967 43/1968 261/1968 521/1968 289/1968 132/1969 171/1969 512/1969 566/1969

Alcínio Pereira da Fonseca Ribeiro (falecido) Rafael Ferreira Durão (falecido) Guilherme José de Gouveia Leite Ferraz Joaquim Manuel Trigo Mira Mensurado Luís Manuel da Fonseca Lobo de Oliveira Nuno António Bravo Mira Vaz Eduardo Maria Passarinho Franco Preto António Manuel Pinto Assoreira (falecido) Paulo Jorge da Costa Ventura da Cruz Fernando Martins Machado da Silveira Luís Augusto de Noronha Krug Nuno Rolando Fernandes Thomaz Ferreira António Vítor Reynaud da Fonseca Ribeiro Vítor Manuel Baptista Leitão António José de Rogado Serra José Manuel Adão de Castro Lousada João Francisco Braga Marquilhas Nuno Miguel de Azevedo Mafra Guerra Pedro Luís da Câmara Santa Bárbara Luís António de Lima Tinoco Tovim

646/1969 574/1970 648/1970 407/1971 329/1972 661/1972 487/1973 445/1973 579/1973 604/1973 3/1974 258/1974 404/1974 689/1974 92/1991

53

José António Nobre Pires Paulo Renato Faro Geada Nuno Maria Rocha e Melo de Castro José Alberto de Magalhães Moutinho Carlos Alberto Grincho Cardoso Perestrelo Daniel Henrique Andrade de Carvalho Jorge Manuel Gonçalves Damásio Luís Filipe Pinto Cavaleiro Filipe Luís Carvalho de Castro Frederico Manuel Assoreira Almendra Luís Filipe da Silva Passos Ramos Boanerges Fernando Lobato de Faria José Eduardo Cacela Pesquinha da Silva Rui Manuel Silva Ribeiro Pedro Hugo Ribeiro da Silva Pugsley Inocêncio


54

Colaboração Hino dos Pára-quedistas

Hino dos Pára-quedistas Letra do Hino dos Pára-quedistas Refrão: O que somos? AMIGOS! Que queremos? A ALVORADA! Que adoramos? OS PERIGOS! O que tememos? NADA! Estranha contradição a nossa vida encerra, Nossa sede de azul, matamo-la na terra... Só na terra tem fim nosso sonho de glória E vivemos assim a refazer a História. Descendo mais subimos, a glória se aproxima: Nossa ânsia de espaço na terra se sublima. Refrão: .................................. .................................. (repete)

L

eitor atento da nossa revista, o Roberto Ferreira Durão (15/1942), que além de coronel de cavalaria comando é um poeta de créditos firmados, fez-nos chegar o HINO DOS PÁRA-QUEDISTAS, com letra de sua autoria e música do conhecido maestro António Melo, com a indicação de que letra e música tinham sido por ele entregues, em 1963, ao seu irmão Rafael Ferreira Durão (11/1941) já falecido, na altura tenente-coronel pára-quedista. Surpreendido, pois em todo o meu tempo de pára-quedista sempre reconheci como HINO DOS PÁRA-QUEDISTAS uma letra e uma música bem diferentes, inquiri junto de vários camaradas mais antigos se acaso conheciam, ou se porventura tinham ouvido falar, deste HINO DOS PÁRA-QUEDISTAS. A resposta foi totalmente negativa. Há, porém, nesta história, um elemento muito curioso: o refrão do HINO escrito pelo Roberto Durão coincide na íntegra com aquilo a que, de há muitos anos para cá, os Pára-quedistas chamam o BRADO DO PÁRA-QUEDISTA.

O que somos? – Amigos! O que queremos? – Alvorada! O que amamos? – O perigo! O que tememos? – Nada! Conscientes de que estamos perante documentos importantes para o historial dos Pára-quedistas portugueses, e porque o tema se enquadra na rubrica Os antigos alunos e as Tropas Pára-quedistas, que temos vindo a publicar regularmente, decidimos divulgá-los agora, uma vez que a rubrica, por falta de elementos pertinentes, chegou provisoriamente ao fim.

Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950) Coronel Pára-quedista (R)

Somos anjos da terra, almas viris e francas, Abrindo para Deus nossas cúpulas brancas. Centuriões ou anjos? Nosso lema é Servir! Guerreiros vindos do céu nas asas do Porvir. Rimos no amor, na guerra, nada nos desespera Porque até mesmo a dor nos sabe a Primavera. Refrão: .................................. .................................. (repete - final)


55

Recordando Os que nos deixaram

Os que nos deixaram José Sequeira Marcelino (49/1927) Comandante de Linha Aérea Nasceu a 20 de Janeiro de 1916 - Faleceu a 20 de Outubro de 2012

F

aleceu com 96 anos. A sua vida, desde tenra idade, foi dominada por uma vontade indómita de vir a ser piloto de aviões. Quando aluno do Colégio Militar, para onde entrou em 1927 e saiu em 1934, não ia por vezes a casa nos fins de semana, para ir a pé da Luz até a Amadora para observar os aviões do Grupo de Esquadrilhas ali baseado. Foi aí que em 1931 recebeu o seu baptismo de voo dado por Plácido de Abreu (128/1915), ás da acrobacia aérea em Portugal. Plácido de Abreu em voos seguintes executou, com ele a bordo, as mais variadas figuras acrobáticas o que José Marcelino adorou, vincando mais uma vez o seu desejo de ser piloto. Saído do Colégio Militar, frequentou a Escola Portuguesa de Aviação Civil de Manuel Bramão, tendo obtido o "Brevet" com apenas 40 horas de instrução quando o corrente era serem necessárias cerca de 100 horas. Frequentou os preparatórios para Escola Militar com elevadas classificações na Faculdade de Ciências em Lisboa. Seleccionado para Cavalaria, foi surpreendido pela criação do curso

da Arma de Aeronáutica. Sendo Aspirante a Oficial, no 2° ano de Cavalaria, requereu a transferência para o novo curso que tinha sido aberto em 1937. Por imposição do Ministério da Guerra foi obrigado a frequentar, no período de férias, o 1º Curso de Pilotos Milicianos na base da Granja do Marquês como condição para passar ao curso de Aeronáutica. Terminado o curso da Escola Militar, é colocado na Base Aérea da Ota na esquadrilha de caça. Aí voou Gloster Gladiator, Curtiss P-36 Hawk, Bell P-39 Air Cobra e Hawker Hurricane. Posteriormente englobou a Esquadrilha de Hurricane, deslocada para a Portela de Sacavém com a missão de defesa da capital. Em sobreposição voa em Hawker Hudson, Douglas Dakota e Consolidated B-24 Liberator. A 30 de Abril de 1945 é designado, com mais 10 pilotos da Força Aérea e da Aviação Naval, para seguirem para Inglaterra afim de frequentarem em Whitchurch, na BOAC, British Overseas Airways Corporation, um curso de adaptação á carreira comercial. Este grupo que ficou conhecido pelos "11 de Inglaterra", viria a constituir, no futuro, a base da Aviação Comercial Portuguesa. José Marcelino juntamente com Benjamim de Almeida e Enrique Maya, começaram inicialmente a prestar serviço na CTA, Companhia de Transportes Aéreos, já como comandantes com aviões Dakota e D'Havilland Dragon Rapid. Terminada a operação desta companhia, José Marcelino, veio a integrar em 1947, a recentemente constituída TAP. Aí se manteve até á sua passagem á reforma por imposição do limite de idade. Voou na TAP em Douglas Dakota DC-3, Douglas DC-4, Lockeed Super Constelation e na idade do jacto em Sud-

-Aviacion Caravelle, Boeing 727, 707 e 747 (Jumbo). Na TAP ascendeu aos mais altos escalões da hierarquia, designadamente Piloto Chefe, Director Operações de Voo e Director do Controle Operacional. Em representação da TAP, foi Administrador da LAR (Linhas Aéreas Regionais) e Administrador da SATA nos Açores. Em 1963 foi designado para integrar o Grupo de Trabalho da Direcção da Aeronáutica Civil para a escolha e construção do Aeroporto de Santa Catarina (Madeira). Após a sua conclusão realizou os ensaios para certificação do Aeroporto sem quaisquer incidentes. Este Aeroporto manteve-se operacional até á sua remodelação, com a maior extensão de pista, permitindo a sua utilização pelos maiores e mais sofisticados aviões. Foi esta a vida profissional do Comandante Marcelino a quem, já na reforma, foi prestada uma significativa homenagem pela APLA- Associação Portuguesa de Pilotos de Linha Aérea que lhe atribuiu, pela primeira vez em Portugal, o Prémio Carlos Bleck. A sua vida, a sua alta competência técnica, as suas qualidades de chefia e o seu carácter impoluto, constituem um bom exemplo da formação que lhe foi dada no Colégio Militar. João Sequeira Marcelino 458/1934


56

Recordando Os que nos deixaram

José Augusto Henrique Monteiro Torres Pinto Soares (Ext 1/1930) Coronel de Infantaria (R) Nasceu a 8 de Janeiro de 1917 - Faleceu a 15 de Fevereiro de 2014

N

asceu em Lisboa a 8 de Janeiro de 1917, onde faleceu com 97 anos de idade. Concluída a Escola Primária, ingressou no Colégio Militar como Aluno externo por impossibilidade de vagas no internato. Esta sua grande vontade de ingresso no Colégio, significava a sua paixão pelo seu Tio Óscar Monteiro Torres (228/1900), herói nacional da guerra de 1914/1918. Terminado o Colégio, concorreu à Escola do Exército para o curso da Arma de Infantaria. Concluído o tirocínio, é promovido a Tenente, sendo a sua primeira missão o comando da Policia de Segurança Pública da Figueira da Foz, a que se seguiu uma longa comissão em Moçambique que durou 13 anos. Inicialmente foi destacado para Vila Machado onde, juntamente com sua Mulher, eram os únicos metropolitanos aí residentes. A sua missão consistiu na formação e comando de companhias indígenas. Face ao seu bom desempenho nesta missão, é convidado pelo General Governador Geral para seu ajudante de campo, funções que desempenhou durante alguns anos até ser nomeado Comandante da PSP da Cidade da Beira. Durante esse período dirigiu o Parque da Serra da Gorongosa, cumulativamente organizando e impulsionando o turismo local. Foi alvo de dedicatórias com significado altamente elogioso, proferidas por altas personalidades nacionais e estrangeiras, que reuniu em

dossier por si meticulosamente organizado. Promoveu e acompanhou a construção de raiz do Albergue do “Nhangau”, especialmente destinado a Africanos mais idosos. Em 1952, como Capitão, termina a sua comissão e regressa à Metrópole, onde frequenta e conclui o Curso de Promoção a Major, após o que é nomeado 2º Comandante do Batalhão de Caçadores 5 (BC5). Posteriormente veio a comandar esta Unidade Militar. Com a finalidade de conhecer toda a instrução e organização das companhias de caçadores especiais, fez um estágio na Legião Estrangeira em Argel, tendo em seguida formado no BC5 as primeiras Companhias de Caçadores. Em 1971 ficam prontas as duas primeiras Unidades que irão seguir para Angola. Oferece-se como voluntário para seguir com estas duas Unidades, tal não tendo sido aceite pelo Ministro da Defesa. Promovido a Coronel, é escolhido para o comando da Área Metropolitana de Lisboa, da Polícia de Segurança Pública. Mais tarde é designado para integrar a comissão para o estabelecimento da Escola Prática da Polícia, até à altura em que foi nomeado para o Comando do Sector Norte na guerra da Guiné. Terminada esta comissão e regressado a Lisboa, foi nomeado Adjunto do General Governador Militar de Lisboa e mais tarde convidado para o Curso de Promoção a General, que declina.

Sendo um grande impulsionador e promotor da existência de Mulheres-Polícias, regressa á Escola Prática da PSP donde vem a passar á reforma em Dezembro de 1974. De entre as várias condecorações nacionais e estrangeiras com que foi agraciado, destaca-se a Medalha de Ouro de Serviços Distintos em Campanha (palma) na Guiné. Como fotógrafo amador com prestígio nacional e estrangeiro, recebeu variados prémios e diplomas. Desempenhou ainda o cargo de Vice-presidente da Associação dos Amigos dos Castelos, tendo-se dedicado durante vários anos á Comissão de Solidariedade da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar. A todos os seus Familiares apresentamos as nossas sentidas condolências, muito especialmente com um abraço ao seu Filho e nosso Camarada Duarte Nuno de Ataíde Saraiva Marques Pinto Soares (44/1953). A Redacção da ZacatraZ


Recordando Os que nos deixaram

57

Joaquim Maria Facco Viana Barreto (6/1931) Coronel de Cavalaria Nasceu a 11 de Junho de 1920 - Faleceu a 6 de Janeiro de 2014

Joaquim (1º da direita) e os seus cinco Irmãos e Prima (1931/1933)

O

terceiro dos seis filhos do Tenente-Coronel Álvaro Salvação Barreto (professor do Colégio Militar) e de Maria do Sacramento Pereira Coutinho Facco Viana, Joaquim Maria Facco Viana Barreto nasceu a 11 de Junho de 1920, em Oeiras. Estudou no Colégio Militar entre 1930 e 1938 como aluno número 6. Os restantes irmãos também foram alunos do Colégio Militar. Entre 1939 e 1943 frequentou a Escola do Exército, onde terminou o curso de Cavalaria. Como oficial do Exército, iniciou a sua vida militar no Regimento de Cavalaria 7 (1943). Ao longo da sua vida militar prestou serviço em várias unidades, como a Academia Militar onde foi Instrutor de Esgrima e Luta (1946 a 1951) (1962 a 1965), prestou serviço no Regimento de Lanceiros 1 em Elvas como 2º Comandante (1968 e 1969) e posteriormente como Comandante (1971 a 1974). Cumpriu três comissões de serviço no Ultramar: Índia 1952 a 1955, Cabo Verde 1966 a 1968 e Angola 1969 a 1971. Casou com Aurolinda Maria Teixeira Barreto, teve 7 filhos, 17 netos e 3 bisnetos. Foram Alunos do Colégio Militar o seu filho João (2/1976) e os seus netos Francisco (390/1995), Vasco (2/2004) e Afonso (84/2007). Homem dotado de elevado sentido de honra e lealdade, prezou sempre e acima de tudo o cumprimento do seu juramento de fidelidade

à Pátria, pelo que, na sequência da revolução de 25 de Abril de 1974, e enquanto Comandante do Regimento de Lanceiros nº 1, foi afastado da carreira militar. Após a Missa na Basílica da Estrela que precedeu o funeral de Joaquim Viana Barreto, em 8 de Janeiro de 2014, o seu amigo Pedro Pestana de Vasconcelos proferiu as seguintes palavras: “Chamo-me Pedro Vasconcelos e sou homem da geração do Joaquim. Vejo aqui poucos da nossa geração. Os tempos mudaram mas queria dar aqui o meu testemunho, na esperança de ser útil aos mais novos. . Quando éramos solteiros, fiz parte do grupo do Joaquim, das irmãs, dos irmãos e mais uns tantos amigos. Alegres e bem dispostos, divertimo-nos muito e com eles vivi alguns dos tempos mais felizes da minha vida. Mas o Joaquim não era só isso. Escolheu a carreira das armas, não como uma profissão mas como uma devoção Quando foi aceite na Corporação Militar, jurou fidelidade à Bandeira. Quando casou, jurou fidelidade à Mulher e à Família. Quando chegou a hora da verdade, o Joaquim honrou o juramento que fez à Bandeira e à Pátria. Foi dos poucos!

Os outros seguiram os ventos e cortaram, por ali, a carreira militar do Joaquim. Hoje fazem-se muitos juramentos. Os funcionários públicos fazem juramento, os políticos fazem juramento, as testemunhas fazem juramento, os namorados trocam juras entre si e os maridos também juram fidelidade às mulheres. Mas são juramentos diferentes. Quando chega a hora da verdade, é fácil encontrar uma boa razão para não os honrar. O Joaquim foi um homem honrado. Um Homem Importante. Um Homem Grande. São estes homens que fazem as Pátrias. São Famílias como a sua que fazem os Povos. Há novecentos anos que Homens como o Joaquim mantêm viva a nossa Pátria e vivo o nosso Povo. São Homens como o Joaquim que suportam os erros das Governações e que fazem com que continuemos. Hoje os tempos são outros. O patriotismo parece ter-se transferido para o futebol. Só que daí não sai ninguém disposto a dar a vida pela Pátria. As governações atiram-nos com leis que degeneram e infertilizam as Famílias. Sem Patriotas não há Pátrias. Sem Famílias não há Povos. Sem Pátrias nem Povos, não há Humanidade. Por isso, o Joaquim e Homens como ele são importantes. Por isso o Joaquim foi um Homem Grande. Hoje estamos tristes porque o Joaquim nos deixou. Mas os homens da nossa Geração ficariam mais tristes e chorariam a sua morte se aqueles em cujas veias corre o seu sangue deixassem de lembrar a sua Memória e honrar o seu Exemplo. Que Deus o guarde na Paz da sua Eternidade e conforte todos aqueles a quem amou e todos aqueles que o amaram.”

Alexandre Salvação Barreto Filho


58

Recordando Os que nos deixaram

Horácio de Carvalho (33/1936) Reformado da Função Pública Nasceu a 6 de Junho de 1924 - Faleceu em Outubro de 2013

A

F

oi com profunda consternação que recebi um telefonema de Lisboa, informando o falecimento deste Antigo Aluno que apesar de não ser do meu curso era um Amigo na verdadeira acção da palavra. Havia três amigos quase do mesmo tempo, eu o Amadeu e ele. Nesta ordem de ideias fiquei somente só sem aqueles amigos que nos acompanharam nos diversos eventos que havia durante o ano. Mas para já falemos do Horácio, grande amigo e bom chefe de Família. Para ele a Família estava sempre em primeiro lugar. Sempre bem disposto, a sua falta vai-se ressentir durante largo tempo, mas a vida é isto e por isso temos de estar preparados para o pior. Grande parte da sua vida foi passada principalmente na Guiné onde arranjou um grupo de amigos que por certo não o esquecem. Amigo do seu Amigo a todos deixou um místico de saudade que perdurará até ao termo das nossas vidas. Não quero terminar sem deixar umas palavras de consolação àquela que foi a Sua Companheira durante os longos anos e extensivo também aos seus filhos.

nossa diferença de idades fez com que só muito recentemente tivesse um contacto mais próximo com o nosso Camarada Horácio de Carvalho. Tive oportunidade de apreciar a sua educação e afectividade, aliadas a uma grande sensibilidade no relacionamento com tudo o que respeitava ao Colégio, vivendo intensamente todas as datas e cerimónias marcantes da vida colegial. Recordo um episódio interessante e que define uma faceta do modo de estar de Horácio de Carvalho. Na ZacatraZ 188, foi reproduzido um artigo com o título “Um caso de possessão” da autoria da Jornalista Isabel Coutinho, do jornal Público, onde eram mencionados dois Antigos Alunos: António Lúcio de Sousa Dias (56/1933) e Eduardo Lourenço de Faria (92/1934), ambos camaradas de Curso de Horácio de Carvalho. Logo após a distribuição da Revista fui abordado pelo Horácio de Carvalho que pretendia encontrar-se comigo por questão relacionada com o artigo antes referido. Encontrámo-nos na Sede da Associação e Horácio de Carvalho referiu-me que tinha ficado emocionado com a divulgação feita no número anterior e queria oferecer-me o livro que tinha sido a origem da investigação da Jornalista Isabel Coutinho. Agradeci-lhe a amabilidade, aceitando o livro na condição dele ser entregue, após leitura, na Associação para inclusão na respectiva biblioteca. Assim aconteceu e aí se encontra a “Volta ao Mundo” de Lúcio de Sousa Dias (56/1933), em grande parte escrito por Eduardo Lourenço (92/1934). Na ZacatraZ 189 foi reproduzida a capa do livro, a dedicatória no exemplar nº 33 e o agradecimento aos seus Camaradas Horácio de Carvalho e Eduardo Lourenço. Aqui fica este registo em memória da faceta simples e bondosa de Horácio de Carvalho, apresentando aos seus Familiares as mais sentidas condolências.

Aníbal José Mendes Ginja Brandão dos Santos Viegas

Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949)

256/1934

Redacção da ZacatraZ


Recordando Os que nos deixaram

59

Mário Margarido e Silva Falcão (314/1936) Engenheiro Geógrafo Nasceu a 13 de Junho de 1924 - Faleceu a 1 de Fevereiro de 2014

U

m domingo triste, porque perdemos um amigo sincero, um irmão camarada. MÁRIO FALCÃO merece todo o reconhecimento da sociedade portuguesa e da comunidade dos Meninos da Luz. Profissionalmente, mostrou seu valor no continente e no ultramar, executando trabalhos de engenharia, de grande valia para o conhecimento cartográfico das terras lusitanas. Como Antigo Menino da Luz, o 314/1936 foi notável ao longo de muitos anos. Conheci o MÁRIO FALCÃO na AAACM, labutando todos os dias pelo engrandecimento da Instituição. Sempre acompanhado da sua máquina fotográfica, MÁRIO FALCÃO registrava todos os eventos ligados aos Meninos da Luz, fossem desportivos, culturais, sociais, de comemorações de turmas passadas, no âmbito do Colégio, da Associação e até além das fronteiras de Portugal. Escritor e devotado à cultura, MÁRIO FALCÃO, junto com Miranda Dias, Gonçalo Salema, Tito Lívio, Martiniano Gonçalves, Garcia Leandro, Rui Figueiredo, Perry da Câmara, Octávio Rodrigues, Marcolino, Rio Carvalho, Ayala Botto, Costa Estorninho, Humberto

Nogueira, e outros brilhantes companheiros prosseguiu a obra de Vieira da Rocha, mantendo importante e altaneira, a REVISTA DA AAACM, reconhecida a sua qualidade nos Colégios Militares do BRASIL. E, por estar sempre ligado às causas e ideais, do espírito dos Colégios Militares, merecidamente, foi o Engº MÁRIO FALCÃO condecorado pelo Exército Brasileiro com a Medalha do Pacificador, em homenagem ao Patrono da Força Terrestre do BRASIL, concedida em reconhecimento aos serviços prestados à cultura e amizade dos alunos e antigos alunos dos Templos de Saber. Onde estiver, amigo MÁRIO FALCÃO, que esteja em paz, junto aos companheiros que já partiram, sempre enaltecendo nosso querido COLÉGIO MILITAR, e sempre tendo a certeza de que seu tempo aqui passado, não foi vivido em vão. ZACATRAZ!

José Galaor Ribeiro Coronel Engenheiro do Exército Brasileiro (R) AA do CM do Rio de Janeiro AA Honorário da AAACM

A

notícia, infelizmente já esperada, do falecimento de um dos mais brilhantes “Meninos da Luz”, entre as centenas que conheci nos meus longos 75 anos de contacto com algumas das personalidades de eleição que nos honraram com o facto de a eles nos unirmos no usufruto da maravilha ímpar da Camaradagem Colegial. Tive a subida honra de o Mário ter sido meu graduado, um verdadeiro “irmão mais velho”, pela permanente amizade e respeito que, no mais justo e elevado grau, sempre me mereceu. O Destino deu-me ainda o privilégio, quando professor do Colégio Militar, de servir como seu colaborador directo e assíduo, com a inevitável e inerente consequência da minha amizade por ele se transformar, naturalmente, em autêntica Veneração. Exames médicos inadiáveis para estabelecerem a prioridade para dois actos cirúrgicos a que terei de me submeter, impossibilitam a minha presença em Abrantes, mas às 11h00 chorarei, na alma, a minha “Acção de Graças” pela alegria de o saber na divina companhia a que ganhou jus pela santidade da sua vida terrena. Carlos Frederico Dias Antunes 212/1939


60

O

Recordando Os que nos deixaram

Mário era um Homem bom que tudo deu á nossa AAACM. Que Deus o tenha em descanso e no lugar que tanto merece. José Eduardo Paiva Morão 256/1946

O

Mário deixa um vazio no universo dos antigos alunos, sem hipótese de preenchimento. Duarte Nuno Pinto Soares 44/1953

M

orreu um Homem bom de quem tive o privilégio de contar entre os meus amigos. Paz à sua alma. Que descanse em paz.

R

ecebi com muita tristeza esta notícia. Conheci o Mário em 1996 quando, pela primeira vez, integrei listas para a Direcção da AAACM. Fui amigo dele e sei que ele era meu amigo. Tantas vezes o levei a casa, depois das nossas reuniões na Calçada Marquês de Abrantes, tantas vezes conversámos nesses minutos de viagem que se foram repetindo ao longo de vários anos, até a AAACM passar para o Quartel da Formação. Foi um homem dedicado à AAACM como poucos. Prezo e sempre admirei a sua simplicidade e a forma modesta como por vezes “diminuía" a relevância dos seus actos em benefício do nosso Colégio, e da nossa Associação. Um enorme e sentido Zacatraz e que a AAACM saiba fazer prevalecer a sua memória.

Bernardo Diniz de Ayala 171/1953

Vasco Maria Santos Pinheiro 254/1982

João Cristóvão Moreira (329/1939) Oficial da Armada – Capitão-de-Fragata, Escritor e Cronista Tauromáquico Nasceu a 24 de Fevereiro de 1929 - Faleceu a 7 de Agosto de 2013

E

ntrou para o Colégio em 1939 tendo concluído o curso em 1946, frequentando posteriormente a Faculdade de Ciências e a Escola Naval. Como Oficial da Armada Portuguesa cumpriu diversas comissões tendo servido em Angola, Moçambique, Índia, Macau e Timor. Ao longo da sua vida desempenhou também funções de Director de Serviços na Companhia de Seguros Tranquilidade, de Director-Geral do Comercio e de Secretario de Estado da Descolonização e da Integração Administrativa. Foi administrador da Empresa Pública dos jornais Notícias e Capital e Director Adjunto da revista Negócios.

Com o pseudónimo “Solilóquio” notabilizou-se como escritor, cronista e critico tauromáquico nos jornais Diário de Lisboa e Diário de Notícias e na revista Novo Burladero. Grande aficionado desde tenra idade, ao longo de muitas décadas dedicou-se à crónica tauromáquica que publicava nas colunas dos jornais. Anualmente reunia em livro todas as crónicas da temporada de que resultou terem sido publicados mais de três dezenas de livros, verdadeiras preciosidades com imaginosos títulos tais como “No País das Touradas”, “Farpas e Barretes”, “Touros e Portarias”, “Memórias de um Bilhete de Sol”, “Broncas e Olés”, “Tércio de Quites”, “Toca a Música”, “Até ao Rabo é Touro”. Publicou também, com grande sensibilidade, um livro dedicado à vida e morte do matador de toiros José Falcão. Em 1995 foi agraciado pelo Governo com a Medalha de Mérito Cultural. A qualidade literária, a ironia e a acutilância dos seus textos, a par do afastamento da “intriga” taurina e das suas perniciosas conivências, deixou na Festa uma marca ímpar de dignidade e mestria sendo, provavelmente, o maior cronista taurino de sempre. Aqui fica um breve apontamento do refinado humor como Cristóvão Moreira descreveu a clássica e por vezes frequente dificuldade da recolha dos toiros em Portugal: “O pior é quando o touro decide não recolher. Evidentemente que, as ordens do Inteligen-

te importam pouco aos toureiros, ao touro é que não importam mesmo nada. Então temos o bom e o bonito, os campinos a quererem encabrestá-lo, e uns peões a separá-lo com o capote, e uns fulanos a abrirem-lhe portas que ele condescende em ir cheirar, e pela trincheira gestos pedindo uma corda para armar o laço. Entretanto, para manter sempre animada a função, o touro vai dando umas corridas atrás dos campinos, que largam os pampilhos e aí vão em mergulho, de cabeça, para dentro da trincheira, entre as gargalhadas da assistência; depois mal se refazem do susto e se levantam, ainda agitando o barrete e à procura da vara, vão zangar-se com os bandarilheiros, porque se estão a meter no seu trabalho. E o Inteligente? Lá está ele de pé no varandim, a dar ordens que ninguém ouve nem atende. Foi assim nesta corrida. O que valeu foi ser o último. Quando cansado de esperar, resolvi ir-me embora, ao passar atrás do Inteligente gritava ele aos campinos: Deixem entrar os cabrestos! Mas os campinos não deixaram, os cabrestos não entravam, o touro ainda menos: e o Inteligente, voltando desalentado a sentar-se, encolhendo os ombros, tudo o que pôde fazer foi desabafar: São burros!” Aos Familiares do nosso Camarada Cristóvão Moreira, apresentamos as nossas sentidas condolências. Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949) Redacção da ZacatraZ


Recordando Os que nos deixaram

Carlos Manuel Serra Carvalho Dias (95/1939) Engenheiro Mecânico Nasceu a 18 de Junho de 1926 - Faleceu em Agosto de 2013

F

aleceu no passado mês de Agosto o Carlos Carvalho Dias, que frequentou o Colégio de 1939 a 1942. Foi engenheiro mecânico de profissão, tendo tido uma carreira profissional muito relevante. Trabalhou durante muitos anos na SOREFAME, onde dirigiu o seu gabinete de estudos, passando posteriormente a vogal do respectivo Conselho de Administração. Foi até há poucos anos consultor da sua especialidade da empresa COBA -Consultores de Engenharia e Ambiente, onde terminou a sua vida profissional. Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957

Luís Filipe de Albuquerque de Campos Ferreira (406/1939) Coronel de Artilharia (R) Nasceu a 1 de Setembro de 1929 - Faleceu a 28 de Janeiro de 2014 pre igual a si próprio e levando tudo com “uma perna às costas" (ou não fosse ele o “Costa”). Fiz-lhe uma quadra chocarreira que correu, na altura, entre a malta: Alma alegre e bem-disposta Sorriso franco e feliz. Usou franjinha, era o “Costa” Pois parecia a Beatriz.

M

al entrou no Colégio Militar, ficou baptizado com a alcunha de “O Costa”. Porquê tal alcunha? Facto curioso, usava quando “rata” uma franjinha tal como a Beatriz Costa. E era como ela, dotado de uma natural ironia e irreverência. Não era muito aplicado nos estudos (algo sorna), mas conseguia apreender o mais importante com o seu grande sentido de observação e intuição. Tornou-se, entre a malta, bastante popular pelas suas piadas sempre espontâneas e oportunas. Seguiu a carreira das Armas, na então Escola do Exército, como ilustre artilheiro, sem-

Serviu no Ultramar, como digno artilheiro, onde foi um bom profissional com grande senso e equilíbrio. Foi ajudante de campo do então ministro do Exército (General Luz Cunha) de 1963 a 1968. Sempre o acompanhou um sentido de humor, adaptação, compreensão e tolerância que soube manter até ao fim da sua vida. Foi sempre um Senhor, bom amigo e camarada, inteligente e arguto, e embora sem deixar descendentes, soube ser um marido exemplar dando grande importância a todos os seus familiares. Vivia em Mangualde, onde faleceu. Quantos episódios bem castiços eu poderia contar da sua vida! Soube vivê-la com serenidade e sem nunca perder a alegria e prudência. Que a sua Alma descanse em Paz, como merece. A seu irmão, o “Tati” (103 de 1942), Afonso Campos Ferreira, e a todos os seus familiares, os meus votos de pesar e um grande Zacatraz que é somente um Até à Vista! Roberto Ferreira Durão 15/1942

61


62

Recordando Os que nos deixaram

Humberto Jorge Mota Nogueira (292/1949) Reformado da Função Pública (Alfandega) Nasceu a 31 de Julho de 1937 - Faleceu em Novembro de 2013

F

aleceu o Humberto Nogueira, mais conhecido no meio colegial como o “chofer”, assim mesmo à portuguesa, alcunha que desconhecemos a origem da sua razão. O Humberto Nogueira tinha uma grande paixão pelo Colégio e viveu intensamente tudo o que com ele se relacionava. A sua mudança para Salir do Porto conjugada com problemas de saúde da sua Mulher, determinaram aparecimentos cada vez menos frequentes e nos últimos tempos a total ausência. Foi membro da Direcção da Associação para os triénios 1996/1998 e 1999/2001 e nelas colaborou activamente. Na Alfandega era respeitado pelo seu trabalho e muito estimado pelos seus colegas, congregando-os em iniciativas de convívio e boa camaradagem. Aos seus Familiares apresentamos as mais sentidas condolências. Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949) Redacção da ZacatraZ

Joaquim Lopes Picão Fernandes (247/1950) Médico Nasceu a 19 de Junho de 1940 - Faleceu em 25 de Novembro de 2013

F

oi com grande mágoa que vivemos a perda recente do Quim Picão. Aluno entre os melhores, distinguiu-se especialmente na aptidão militar e física (5 medalhas) já que era um excelente cavaleiro de crosse e de obstáculos. Representou o Colégio Militar em dezenas de concursos hípicos tendo culminado a carreira ao tornar-se campeão nacional de saltos na categoria de juniores, em 1956. Num curso excepcionalmente numeroso, em que a esmagadora maioria optou por seguir Ciências Militares ou Engenharia, apenas 3 escolhemos Medicina. Ainda recém formados, o

destino voltou a juntar-nos em 1966 a bordo do velho "Niassa" rumo a Angola para uma comissão de serviço como alferes milicianos médicos. Nas longas viagens de ida e volta, a troca de ideias dúvidas e incertezas quanto ao futuro, contribuíram fortemente para cimentar entre nós uma duradoura amizade. Já então jovem Pai de família, reconhecia-lhe bem mais consciência e maturidade. Recebeu durante essa estadia um louvor em serviço por proposta do seu comandante de batalhão. No regresso separou-nos a escolha de especialidades e hospitais diferentes, mas

pude sempre acompanhar a sua brilhante carreira profissional. Quer na vertente clínica, como especialista de gastrenterologia do Hospital de Santa Maria, membro de vários júris e autor de numerosas comunicações e publicações. Quer na vertente académica, como assistente livre da cadeira de Patologia Médica e membro do conselho directivo da Faculdade de Medicina de Lisboa. Sempre elegante distinto discreto e afável, foi um praticante entusiasta de "Bridge" completando-se assim uma figura de verdadeiro gentleman. Perdurará ainda entre muitos de nós a lembrança do seu agradável convívio nos célebres "Amarelos" da casa do Bom Sucesso, partilhada com o Torres Paulo (165) camarada do mesmo curso. A superior organização dessas jornadas memoráveis competia às manas Alice e Zezinha com quem desde muito jovens estavam casados. Se como foi dito a casa da saudade reside na nossa memória, o Quim perdurará para sempre no espírito de todos aqueles que tiveram o privilégio de com ele conviver. António Bernardo Carvalhais Figueiredo 229/1951


Recordando Os que nos deixaram

63

Pedro Manuel de Oliveira Marinho Falcão (20/1952) Técnico de Turismo Nasceu a 7 de Abril de 1942 - Faleceu em Setembro de 2013

É

com muito pesar que temos de registar o falecimento de mais um membro da família Marinho Falcão. No número 191, de Abril /Junho de 2013, desta nossa revista noticiámos o falecimento do 75/1937, o José Manuel Marinho Falcão, agora foi a vez do Pedro Manuel. Após ter terminado o seu curso no Colégio, o Pedro ingressou na Academia Militar, onde fui seu camarada de curso, tendo aí granjeado muitas amizades. Acabou por não seguir a carreira militar e foi para Inglaterra, indo trabalhar na Casa de Portugal em Londres, onde durante muitos anos a sua casa teve sempre a porta aberta para os Antigos Alunos que aí o procuravam. Todos lhe ficaram reconhecidos pela sua disponibilidade. Costumava vir a Portugal para passar as suas férias com a família em Lagos. Por sua vontade expressa as suas cinzas foram lançadas ao mar ao largo de Lagos, ficando aí a pairar o seu espírito. Que descanse em paz. Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957

Frederico Eduardo Rosa Santos (78/1957) Engenheiro Electrotécnico Nasceu a 25 de Janeiro de 1947 - Faleceu a 24 de Fevereiro de 2014

F

rederico. Foste mais um dos nossos camaradas do curso de 1957/64 que partiu sem avisar. No inverno rigoroso de 2014 e quando te entregavas a uma actividade que gostavas na propriedade que tinhas em Estremoz, um inesperado e trágico acidente com o tractor que manobravas, tirou-te a vida. A menos de duas semanas da Assembleia Geral da nossa AAACM para eleição da lista concorrente aos corpos sociais de 2014/16 e que tu, mais uma vez te prontificaste a integrar, como o teu espírito de missão te incutia. Quis o destino que

fosse assim … mas a lei da vida, inexorável, é mesmo assim. Dura e crua. Entrámos para o nosso querido Colégio no mês de Outubro de 1957 e saímos em Julho de 1964, sete anos volvidos. Fizemos parte do último curso que ainda viveu no internato velho. Nos tempos da 1ª comandada pelo 266 - Luís Sousa Lobo, estávamos em turmas diferentes: tu eras do 1ºA enquanto eu estava no 1ºB, cujos chefes de turma eram respectivamente o 34 -Teixeira da Silva (Gatinho) e o 13 - Aguincha, ambos repetentes. Desde os

primeiros anos que te destacaste, com várias passagens pelo Quadro de Honra do Batalhão Escolar. Eras um dos melhores alunos do curso (medalha de prata de aplicação literária no 2º ano) … e mais não me lembro. No 7º ano quando fomos finalistas, foste duas estrelas da 2ª (alferes). Na altura eu próprio era para ter integrado o grupo de graduados da 2ª (julgo que também me estaria destinada a mesma graduação) mas a minha falta de comparência ao curso de graduados fez com que fosse castigado com a transferência para a 3ª companhia,


64

Recordando Os que nos deixaram

com apenas uma estrela (sorja). A questão é simples de explicar: nessas férias grandes (verão de 1963), fui pela 2ª vez durante a minha estadia no Colégio, passar férias com os meus Pais e irmão, que viviam na Beira (Moçambique), minha terra natal. E as férias estavam a correr bem … No nosso 7º ano (1963/64) integrámos a equipa de basquetebol do CM que foi vice campeã escolar de Lisboa, em Vanguardistas B, com o Martins Romão (488), Silva Marques (220), Santos Leite (450), Santos Zoio (243), Balula Cid (152), entre outros. Perdemos a final com a Escola Ferreira Borges, mas jogámos desfalcados do Pereira de Sousa (321), vítima de um esgotamento umas semanas antes, já no 3º período, que o fez perder o ano e ir para casa. Há alguns anos atrás (já estávamos ambos reformados) ainda me mandaste por e-mail a transcrição do louvor que o saudoso Professor Mário Lemos propôs para todos os componentes dessa equipa e que foi publicado em Ordem de Serviço do Batalhão Colegial, salientando a nossa postura e desportivismo perante a adversidade. Recordações do capitão de equipa … Em Outubro de 1964 entrámos para o Técnico, juntamente com outros camaradas de curso. Tu para Electrotecnia, eu para Química. Era um grupo grande (16 se não me falha a memória), dispersos pelos vários ramos existentes na altura: Civil, Electrotecnia, Mecânica e Química. Só em Minas é que não havia nenhum Menino da Luz. Depois foi o curso de Engenharia que tu concluíste em 1971 com uma perna às costas. Casaste cedo, aos 22 anos, em 1969. Com a Graça, o teu amor da adolescência, já que se conheceram muito novos, aos 14 anos. Construíste a tua família, devidamente estruturada. Com amor, respeito, tu e a Graça sabendo in-

cutir os valores que tinham aprendido. Da tua união com a Graça nasceram a Bárbara, a Marta e o Frederico. Profissionalmente estiveste sempre ligado às Telecomunicações. Era o que tu gostavas de fazer. Primeiro no Rádio Clube Português e depois na antiga Emissora Nacional (atual RDP - Radiodifusão Portuguesa). No serviço militar estiveste na Escola Prática de Transmissões antes do 25 de Abril, onde se bem me lembro de teres referido, apanhaste o 163 - Luís Alcides de Oliveira que tinha sido nosso graduado (comandante da 2ª companhia) em 58/59. Ao fim de mais de 30 anos de carreira profissional deixaste a vida activa, tendo entrado na reforma em 2005. Foste avô de 5 netos: Francisco, Domingos, Gonçalo, Marta e Frederico. Tenho a certeza que o Avô Frederico será para eles uma referência que os irá acompanhar nos seus percursos de vida. O Frederico foi um grande defensor de tudo o que se relacionava com o Colégio. Integrou os corpos sociais da nossa AAACM mais que uma vez: Direcção (2008/2010), membro da Mesa da Assembleia Geral (2011/2013) e à data do seu falecimento fazia parte da lista candidata às eleições para o triénio 2014/2016, integrando novamente a Mesa da Assembleia Geral. Foi um verdadeiro exemplo de solidariedade e fraternidade, pautando-se sempre pela nossa divisa “Um por todos, todos por um”. Era o nosso delegado de curso. Desempenhava essa função com grande empenhamento e espírito de missão. Incansável nos contactos, com o seu permanente dinamismo, insistindo para que nos reuníssemos na 1ª quinta-feira de cada mês, ao jantar, em Carnide. Ultimamente no Portas Verdes, onde temos sido sempre bem recebidos e melhor servidos. O último onde ambos estivemos - eramos onze … contando com o reforço do Martiniano Gonçalves

(9/1958) - tinha sido a 6 de Fevereiro. Hoje, domingo 2 de Março, ao continuar a escrever estas notas, que pretendem dar a conhecer pequenos detalhes desse HOMEM que foi MENINO DA LUZ, nosso Grande Amigo, folheei o Livro de Finalistas - 1964 e apercebi-me do seguinte: o autor das quadras sobre o Frederico foi o Manuel Luís Góis (297), sorja da 2ª, que desapareceu do nosso convívio em Fevereiro de 2002. Dos que já partiram do nosso curso, o Frederico foi o terceiro que acompanhei à última morada. E todos no Alto de S. João. Antes em Dezembro de 2012 tínhamos estado juntos no último adeus ao Vasco Massapina (209). O Frederico fora o porta-guião do estandarte da AAACM que acompanhou o Massapina na missa de corpo presente no Mosteiro dos Jerónimos. Na missa de corpo presente celebrada em homenagem ao Frederico, a 26 de Fevereiro passado, na Basílica da Estrela, uma cerimónia muito comovente (ainda dizem que os homens não choram …), lembrei-me do meu casamento naquela mesma nave central em 1972. Tinham passado 42 anos. Uma vida. Coisas que não se conseguem explicar por muito que se queira. Até sempre Frederico. Vamos todos ter muitas saudades dos teus e-mails a convocar-nos para os jantares mensais, as reuniões de curso e outros eventos colegiais. Amigo com letra maiúscula que nunca iremos esquecer. Um dia destes, nesse Além onde todos nos iremos encontrar, voltaremos às nossas conversas. Fica prometido. O nosso curso ficou mais pobre. O Colégio e a AAACM também. Na despedida mais um ZACATRAZ em tua honra e memória. Allez allez à votre santé. Descansa em paz! José Luís Nogueira Tolentino

João Alberto de Figueiredo Ferreira dos Santos (461/1958) Empresário Comercial Nasceu a 18 de Junho de 1948 - Faleceu a 3 de Janeiro de 2014

O

João Alberto de Figueiredo Ferreira dos Santos (461/1958), cedo foi obrigado a tomar conta dos negócios de seu Pai, prematuramente falecido. Não tendo concluído o curso no Colégio, ainda frequentou o 3º ciclo no Liceu de Torres Vedras. Um problema grave de saúde pulmonar, determinou o fim dos seus dias. Que descanse em paz.

247/1957




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.