Editorial Revista “ZACATRAZ”
Presidente da Direcção António José Sousa Valles e Saraiva de Reffóios (529/1963)
E
scolhemos para o Editorial desta edição da nossa Revista Zacatraz o corajoso e lúcido discurso do actual Aluno Comandante de Batalhão, Nuno Miguel Lopes Raposo (196/2006). Ao fazê-lo, queremos dar um testemunho público de concordância. Mas queremos, sobretudo, dar um sinal inequívoco de apoio e de esperança a todos os Alunos, em particular aos Alunos Graduados, sobre quem recai - entre outros, nos quais também nos incluímos - num dos períodos mais críticos da história sem igual do nosso Colégio, fruto de uma reforma irreflectida e indevidamente preparada, a missão histórica de preservar a essência e a identidade de um modelo educativo depurado ao longo de mais de dois séculos, que o desrespeito incompreensível do actual Ministro de Defesa Nacional teima em pôr à prova. A Direcção da AAACM Exmo Sr. Tenente General Comandante de Instrução e Doutrina, Meu General, Exmo. Sr. Major General Director de Educação, Meu General, Exmos. Srs. Oficiais Generais Exmo. Coronel Tirocinado, Director do Colégio Militar, Oficiais, Docentes, Sargentos, Praças e Funcionários Civis, Exmos. Convidados, Pais e Encarregados de Educação, Minhas Senhoras e Meus Senhores, Condiscípulos, Devo confidenciar-vos que a minha alma é, neste momento, invadida por um misto de sentimentos contraditórios. Por um lado, é a alegria e o orgulho que me preenchem, por aqui estar, hoje, no comando do Batalhão Colegial, a discursar para todos vós, nestes claustros centenários gastos pelo tempo … mas por outro, é a tristeza e o receio que me assombram por saber que estes claustros, que sobreviveram a invasões, a guerras civis e a golpes de estado, estão frágeis e que podem sucumbir ao mais pequeno dos terramotos. O Colégio encontra-se hoje na situação mais difícil da sua longa e áurea história de 210 anos. O Exmo MDN, Dr. José Pedro Aguiar Branco, destruiu, com a tinta azul duma caneta no seu luxuoso gabinete aquilo que, durante mais de dois séculos, milhares de portugueses construíram com o vermelho do sangue nas mais adversas condições. Alegando, inicialmente, razões económicas e mais tarde, razões de carácter ideológico, o Exmo MDN pôs fim a dois séculos de ensino de excelência, pôs
fim a dois séculos da História do nosso Portugal, pôs fim ao sonho do Homem que de simples soldado se fez Marechal e a Ministro da Guerra, cargo que ocupou não pelos jogos políticos mas pela riqueza de carácter e extraordinário carisma demonstrados no comando dos seus homens. O despacho de Abril veio pôr fim ao Colégio que todos conhecíamos e dar início a um outro, muito diferente, cheio de novos problemas, cheio de novos desafios e, acima de tudo, cheio de novas oportunidades. A responsabilidade de manter a chama viva e de construir o futuro desta casa recai sobre todos nós… Uns por cá estudarem, outros por cá terem estudado, uns por cá trabalharem, outros por terem confiado ao Colégio a educação dos seus filhos … e é por isso que só em conjunto e reforço, só em conjunto seremos capazes de ultrapassar os obstáculos que se adivinham, de forma que peço a todos e a cada um de vós que vos entregueis de corpo e alma a esta nossa Casa que tanto nos ensinou para que possa continuar a transmitir às gerações futuras os valores idealizados pelo Fundador e inscritos no nosso Código de Honra. Pais e encarregados de educação, quero aproveitar este momento solene para agradecer a confiança que depositastes no Colégio Militar ao escolherdes este projecto educativo para a educação dos vossos filhos. Quero pedir-vos que apoiem e ajudem os vossos filhos com todas as vossas forças, que falem com eles sobre os assuntos que os preocupam e incomodam e que não desistam de lutar por eles mesmo quando eles desistirem de si próprios porque a família é uma unidade fundamental na educação das crianças e dos jovens e sem o vosso apoio, a educação deles fica comprometida. Professores, da vossa parte esperamos total disponibilidade e máximo empenho porque sois um pilar fundamental na aprendizagem dos nossos alunos. Um bom professor não é aquele que se alheia das suas responsabilidades e permite aos alunos que tudo seja feito, só para cair nas boas graças destes. Um bom professor é aquele que exige o máximo dos seus alunos e não permite falhas por desleixo, mesmo que isso lhe custe uma reputação menos boa perante os discípulos. Empenho e dedicação é tudo o que vos peço porque esta casa também é vossa e cabe-nos a todos trabalhar por ela. Por último dirijo-me a vós alunos, na qualidade de Comandante de Batalhão e de irmão mais velho. O Colégio tem uma história invejável, com 5 presidentes da república, inúmeros ministros, atletas olímpicos e figuras de relevo na sociedade mas não po-
1
demos viver encostados à História nem às figuras ilustres do passado porque o Colégio, muito mais que o passado, é o presente e o futuro. Nós somos a razão de ser desta Casa e não temos estado à altura das circunstâncias. Os resultados escolares dos últimos anos não são admissíveis numa escola que se diz de excelência. É tempo de inverter a postura de ociosidade que se tem vindo a generalizar nos últimos anos e de nos aplicarmos a fundo nos estudos e nos resultados, já que eles são, para a sociedade, o espelho desta Casa e deles depende muito a entrada de novos alunos. A falta de alunos é um dos principais problemas com que o Colégio se debate, de forma que não nos podemos dar ao luxo de abandonar os mais fracos. Bem pelo contrário, temos o dever de os aceitar na diferença, de os proteger e de os integrar porque ou vencemos como um todo ou morremos como indivíduos. “Neste Colégio, ninguém fica para trás”, disse-o o presidente da AAACM no 3 de Março último e reforço-o eu aqui, porque acredito ser algo que todos temos de interiorizar. Graduados, este será certamente um ano que nenhum de nós esquecerá. A responsabilidade que recai sobre nós por termos sob nossa alçada a orientação dos mais novos, é enorme. O ano lectivo que hoje oficialmente se inicia reserva-nos certamente inúmeras adversidades, muitas delas relacionadas com o próprio processo de reforma, mas estou certo de que se conseguirmos conservar o bom senso e agirmos sempre de acordo com os princípios do Código de Honra, seremos capazes de ultrapassar todo e qualquer obstáculo que se atravesse no nosso caminho. Futuros Ratas, reservei para vós uma mensagem muito especial que espero que guardeis na memória como a primeira e uma das mais importantes. É com muita alegria que vos vejo aqui hoje formados no centro das atenções, envergando pela primeira vez a farda cor de pinhão. Inicia hoje, aqui, debaixo de todos estes olhares, o vosso longo percurso de 8 anos que fará de vós homens e mulheres prontas a servir Portugal. Prometo-vos que o caminho vai ser difícil, se fosse fácil qualquer um o faria, cheio de obstáculos e provações que só em conjunto sereis capazes de ultrapassar. Os camaradas que dormem ao vosso lado serão os vossos melhores amigos, não só aqui, durante estes 8 anos, como também depois, quando terminar o vosso percurso. São eles que vão estar presentes nos momentos de maior felicidade e vão ser eles também a dar-vos a mão nos momentos de sofrimento e de tristeza. Hoje, turistas, provavelmente não sereis capazes de entender a profundidade destas palavras mas amanhã, finalistas, compreendereis certamente a emoção nelas contida. Termino da mesma forma que, em Janeiro de 1961, John F. Kennedy terminou o seu discurso de tomada de posse, dizendo-vos não para perguntardes o que o Colégio pode fazer por vós mas o que podeis vós fazer pelo Colégio. Bem hajam”
2
Ficha Técnica
CORPOS SOCIAIS DA ASSOCIAÇÃO PARA O TRIÉNIO 2011-2013
Ficha Técnica PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL Fundada em 1965 Nº 193 Outubro/Dezembro - 2013
DIRECÇÃO Presidente Vice-Presidente Secretário Tesoureiro 1º Vogal 2º Vogal 3º Vogal 4º Vogal 5º Vogal 1º Vogal Suplente 2º Vogal Suplente 3º Vogal Suplente
FUNDADOR Carlos Vieira da Rocha (189/1929)
António José Sousa Valles e Saraiva de Reffóios - 529/1963 José António Madeira de Ataíde Banazol - 631/1968 Pedro Miguel Correia Vala Chagas - 357/1977 Vítor Manuel Galvão Rocha Novais Gonçalves - 666/1971 Carlos Francisco da Silva do Rio Carvalho - 307/1971 Manuel Pedro da Costa Pereira Roriz - 519/1959 Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva - 53/1961 Luís Baptista Esteves Virtuoso - 72/1973 Francisco Maria Sarmento Cavaleiro de Ferreira - 58/1977 José Afonso Correia Lopes - 237/1976 Gustavo Lopes da Costa Pinto Basto - 227/2000 Gustavo André dos Santos Lima – 248/1994
DIRECTOR Mário Margarido e Silva Falcão (314/1936) CHEFE DE REDACÇÃO Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949) REDACÇÃO Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950) Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957) Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva (53/1961) João Carlos Agostinho Alves (110/1996) CAPA Matar o Colégio Militar Porquê? ENTIDADE PROPRIETÁRIA E EDITOR Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar
ASSEMBLEIA GERAL Presidente Vice-Presidente 1º Secretário 2º Secretário
MORADA DO PROPRIETÁRIO e SEDE DA REDAÇÃO Quartel da Formação - Largo da Luz 1600-498 Lisboa Tel. 217 122 306/8 Fax. 217 122 307
Manuel Carlos Teixeira do Rio Carvalho - 124/1945 Duarte Manuel Silva da Costa Freitas - 199/1957 Frederico Eduardo Rosa Santos - 78/1957 João Miguel Jardim de Abreu Ferreira Pinto - 261/1980
TIRAGEM - 1350 exemplares DEPÓSITO LEGAL Nº 79856/94 DESIGN E EXECUÇÃO GRÁFICA:
CONSELHO FISCAL Presidente 1º Vogal 2º Vogal 1º Vogal Suplente 2º Vogal Suplente
José Manuel Spínola Barreto Brito - 539/1963 António Emídio da Silva Salgueiro - 461/1972 Eurico Jorge Henriques Paes - 306/1957 João Luís de Mascarenhas e Silva Schoerder Coimbra - 54/1984 João Sanches de Miranda Mourão - 552/1960
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS SÓCIOS DA AAACM NÚMERO AVULSO: 4,00 € ASSINATURA: 15,00 €
Os artigos publicados são da responsabilidade dos seus autores.
ARTIGOS À VENDA NA AAACM PUBLICAÇÕES
PREÇO: 12 €
PREÇO: 25 €
PREÇO: 12 €
PREÇO: 17 €
PREÇO: 12 €
PREÇO: 12 €
PREÇO: 12 €
Outras Publicações
NO VO
I Volume da História ao Colégio Militar
PREÇO: 30 €
PREÇO: 3 €
50 €
II Volume da História do Colégio Militar
50 €
III Volume da História do Colégio Militar
35 €
O Espírito do Colégio Militar
60 €
Os Jardins do Colégio Militar
35 €
PREÇO: 6 €
Qualquer dos produtos pode ser adquirido na Secretaria da AAACM, assim como polos, t-shirt, medalhas, etc...
Sumário
3
Dos Antigos Alunos
04 Comunicado Conjunto
de 2 de Outubro de 2013
05 Audiência com o MDN 06 Respostas a questões postas à Direcção 08 Órgãos da Associação 11 Ecos de um Despacho 30 Jantar Anual da Associação
11
Dos Antigos Alunos
Ecos de um despacho
- Novos AA - Prémios Barretina
40 Antigos Alunos em destaque 44 Aniversário da Associação 46 Curso de 1938/1945 Curso de 1973/1981 Curso de 1988/1996
50 Do Cuamato à Flandres
30
Dos Antigos Alunos
Jantar anual da AAACM
Do Colégio
53 Abertura Solene do Ano Lectivo 58 Jornada de Luto dos AA 61 Subdirector cessante 63 Novo Subdirector
35
Colaboração
Prémios Barretina
65 Zacatraz 69 Antigos Alunos pelo Mundo 71 Crise nas IT, jamais! 72 Extensões de garantia 74 Visita de Estudo a Mourão 76 Antigos Alunos nas Tropas
50
Pára-quedistas
Recordando
79 Os que nos deixaram
Dos Antigos Alunos
Dos Antigos Alunos
Do Cuamato à Flandres
4
Dos Antigos Alunos Comunicado Conjunto de 2 de Outubro de 2013
Comunicado Conjunto de 2 de Outubro de 2013 Uma reforma do Colégio Militar e Instituto de Odivelas que aumente a eficiência sem destruir as Instituições
O
Despacho nº 4785 de 8 de Abril de 2013 do Ministro da Defesa Nacional (MDN) que prevê o encerramento do Instituto de Odivelas (IO) e a descaracterização e consequente destruição, a curto prazo, do Colégio Militar (CM), sem fundamentação pedagógica e financeira credíveis, e contrariando as conclusões do Professor Marçal Grilo, coordenador da Comissão para a Restruturação dos EME, é uma decisão precipitada e assim inaceitável quando estão em causa Instituições que há séculos contribuem com reconhecido valor para o País. A forma como está a ser conduzida esta restruturação tem suscitado as maiores reservas por parte de largos sectores da sociedade, incluindo instituições e órgãos relevantes tais como a Comissão de Defesa Nacional e a Comissão de Educação, Ciência e Cultura.
NÃO EXISTEM RAZÕES FINANCEIRAS Os custos do CM e do IO diminuíram respectivamente cerca de 30% e 20% nos últimos três anos, sendo agora mais baixos do que os utilizados como referência nos estudos do MDN. Os custos destas escolas poderão baixar ainda muito mais se forem implementadas as reformas curriculares recomendadas e aplicado um conjunto de iniciativas há bastante tempo recomendadas pelas Associações de Pais e Antigos Alunos. O custo por aluno no CM e IO poderá pois, no curto prazo, ter um valor coerente com a oferta ministrada nestas escolas e o custo médio do ensino público em Portugal.
NÃO EXISTEM RAZÕES PEDAGÓGICAS A realidade mostra que o modelo de ensino diferenciado por género tem procura e produz bons resultados académicos e dos valores de cidadania. Nestes termos não há justificação para privar as famílias desta opção. Os pais e encarregados de educação jamais escolherão um modelo que mistura os dois géneros no mesmo campus. No entanto, o MDN
prevê gastar cerca de 6 milhões de euros na construção de um internato feminino nas instalações do CM para alojar 300 alunas (ou 2,9 milhões de euros numa versão para alojar 170 alunas), decisão não fundamentada na indispensável consulta prévia aos pais e encarregados de educação das alunas do Instituto de Odivelas. O facto das Forças Armadas serem mistas não é razão aceitável para justificar o internato misto. Existem diferenças óbvias entre um aluno, pré-adolescente e adolescente menor de idade e um profissional, adulto maior de idade.
EXISTEM ALTERNATIVAS O Despacho nº 4785 de 8 de Abril de 2013 do MDN altera radicalmente, em poucas semanas, modelos de ensino que demoraram séculos a depurar e que deram resultados de transcendente importância. Durante o processo que conduziu ao referido Despacho, as soluções alternativas apresentadas pelas associações de pais e antigos do CM e do IO nunca foram devidamente consideradas, menosprezando-se, desta forma, o seu enorme e incomparável conhecimento acerca do funcionamento e especificidades destas instituições. Perante estas circunstâncias as Associações de Pais e Antigos Alunos do CM e IO estão inequivocamente contra a aplicação do referido Despacho. Notar ainda que a opção internato continua a ser preferida pelas famílias e só não atinge números ainda mais expressivos porque as disposições do Despacho não o permitem, ao impedirem a opção de internato no IO no 5º ano de escolaridade, sem oferecer qualquer alternativa. As Associaçôes de Pais e Antigos Alunos do CM e IO continuam disponíveis para colaborar numa reforma que vêm reclamando há mais de uma década, pretendendo que a mesma se concentre no projecto de introdução, de forma completa e competente, do 1º Ciclo, do reforço da coordenação pedagógica do ensino, no aumento da eficiência da gestão e reforço dos factores diferenciadores que distinguem estas Instituições.
Dos Antigos Alunos Audiência com o MDN
Estas Associações apelam para que sejam suspensas as seguintes disposições do Despacho nº 4785 de 8 de Abril de 2013: • Encerramento do IO no final do ano lectivo de 2014/2015; • Impedimento da entrada de alunas internas para o 5º ano de escolaridade no IO em 2013/2014;
5
Este pedido é simples e isento de custos para Portugal. Este pedido compatibiliza todas as desejáveis melhorias operacionais com o essencial dos projectos educativos do CM e IO. Este pedido decorre do conhecimento profundo do CM e IO por parte destas Associações e visa garantir o futuro de Instituições que têm servido a Pátria com Valor, Lealdade e Mérito, pelo que consideramos que deve ser imediatamente atendido pelo Governo.
• Entrada de alunas para o CM já em 2013/2014, permitindo que as alunas entretanto matriculadas no CM possam transitar de imediato para o IO se assim o pretenderem; • Entrada de alunos para o CM em anos posteriores ao 7º ano de escolaridade, sendo que aos alunos entretanto matriculados nestas condições será dado todo o apoio para uma desejável integração.
Associação de Pais e Encarregados de Educação das Alunas do Instituto de Odivelas Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do Colégio Militar Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar
Resumo da audiência concedida pelo MDN às Associações de Antigos Alunos e de Pais e Encarregados de Educação do CM e do IO, no seguimento do pedido formulado a 6 de Setembro ao Primeiro Ministro.
1
O MDN comunicou não estar disponível para considerar qualquer flexibilização relativamente às decisões, que disse, considera “nucleares”, nomeadamente, o encerramento do IO no final do ano lectivo 2014/2015 e a instalação de um internato misto no campus do CM (que lembro, requer a construção de um edifício com um investimento importante e não consta do referido Despacho), que são as duas decisões mais contestadas por estas Associações.
2
Tendo em conta ter sido sempre utilizado o argumento do alto custo por aluno nestas escolas como a principal razão da reforma em curso e destas medidas em particular, solicitámos ao MDN que se pronunciasse sobre o que considera ser um valor aceitável para estas escolas, tendo em conta a realidade nacional e o seu modelo educativo diferenciado. Pura e simplesmente não respondeu. Mais, confrontado com o facto de não ter, como se impunha, desmentido uma mentira grotesca de que o custo por aluno nestas escolas é o quíntuplo do registado no ensino publico – tal como publicado há poucos dias num artigo de opinião no DN - disse não poder estar sempre a responder ou reagir a todas as notícias, demonstrando de forma inequívoca, a pouca relevância que de facto confere a estas instituições.
3
Interpelado sobre a decisão de construir um edifício no campus do CM para alojar um internato feminino, sem uma prévia consulta aos Pais das actuais alunas do IO, como se impunha por uma questão de mero bom senso e respeito, limitou-se a responder - pasme-se! - que caso não venham a aceitar esta opção, as actuais alunas do IO têm sempre a possibilidade de recorrer a escolas privadas com essa mesma oferta, demonstrando um total desrespeito pelos Pais que actualmente têm as suas Filhas a estudar no IO. Intolerável! Tal como numa reunião anterior, o MDN teve a preocupação de sublinhar que a existência destas escolas não é consensual. No passado, afirmou não o ser no âmbito do Governo. Desta feita, disse-o não o ser na “sociedade” em geral.
4
De forma ostensiva e imprópria de quem tem este tipo de responsabilidades num Estado democrático, o MDN não fez qualquer “esforço” no sentido de justificar o silêncio, ensurdecedor e inaceitável, que mereceram as quatro cartas e pedido de audiência que a AAACM lhe dirigiu entre Setembro de 2012 e Março de 2013, que o António Reffóios fez questão de lembrar no decurso desta audiência. Em suma:
• O MDN decide extinguir o IO e promover a destruição do CM sem apresentar fundamentação pedagógica e financeira credíveis e contra a opinião dos Pais, Antigos Alunos e também de muitas e respeitadas vozes da sociedade Portuguesa; • O MDN desvaloriza os pareceres das Comissões de Defesa Nacional e da Comissão da Educação, Ciência e Cultura sobre esta reforma; • O MDN não está disponível para aceitar qualquer alteração ou ponderação das decisões tomadas e calendários previstos, demonstrando um autoritarismo que a sua sempre invocada legitimidade democrática não justifica; • O processo de extinção do IO e de destruição do CM não serve os interesses de Portugal.
6
Dos Antigos Alunos Respostas a questões postas à Direcção
Respostas para questões postas frequentemente à Direcção da Associação POR QUE RAZÃO DIZEM QUE “ESTÃO A MATAR O COLÉGIO MILITAR”? O Ministro da Defesa, furtando-se ao diálogo com os Pais e os Antigos Alunos, está a impor de forma autoritária, abrupta e irresponsável, uma reforma profunda do modelo educativo do Colégio Militar, sem qualquer fundamentação pedagógica e uma pretensa fundamentação económica. O que é isso se não querer matar o Colégio Militar? O Colégio Militar assenta numa matriz que tem produzido excelentes resultados ao longo de 210 anos. As bases dessa matriz são o ser militar, masculino e em regime de internato. Esta reestruturação põe em causa estas bases ao confrontar o Colégio Militar com 3 realidades distintas neste ano lectivo – alunos internos em anos avançados, alunos externos e alunas externas – e uma 4ª realidade distinta no próximo ano lectivo – alunas internas. Esta mudança abrupta sem qualquer preparação (estudos, preparação dos alunos, etc.) conduzirá à “falência” do modelo educativo e ao fim do Colégio Militar. O ministro da Defesa quer mudar os pressupostos e fundamentos mais estruturais do projecto educativo do CM. O que é isso senão querer matar o Colégio Militar? Para além da “falência” do modelo educativo, o ministro da Defesa visa também o desaparecimento da identidade do Colégio Militar, uma vez que pagou com dinheiro público uma campanha onde o nome do Colégio Militar desaparece, passando a adoptar a designação conjunta “Estabelecimentos Militares de Ensino”. Tenta portanto anular o prestígio e a identidade conquistados com honra, talento, trabalho, coragem e sangue em 210 anos de serviços à Pátria. O que é isso senão querer matar o Colégio Militar? O ministro da Defesa sabe que se o Colégio Militar perder a sua diferenciação deixará irremediavelmente de ter candidatos, mas insiste num processo de transformação que levará à sua inevitável descaracterização. O que é isso senão querer matar o Colégio Militar? O ministro da Defesa aceita que os seus assessores e fornecedores, pagos por fundos públicos do Ministério que tutela, insultem pública e despudoradamente o Colégio Mili-
tar, os seus Antigos Alunos, e a sua Associação centenária. O que é isso senão querer matar o Colégio Militar?
PORQUE NÃO QUEREM RAPARIGAS NO COLÉGIO MILITAR? A AAACM nunca se opôs ao ensino misto no Colégio Militar em regime de externato, exigindo apenas que a sua instalação fosse antecedida de reflexão e preparação particulares e que, a acontecer, fosse realizada de forma progressiva, tal como foi recomendado pelo Professor Marçal Grilo, que presidiu à Comissão para a Reforma dos Estabelecimentos Militares de Ensino, mas que já manifestou publicamente o seu desacordo quanto à reforma em curso. O ensino misto em regime de externato poderá ser viável, mas a sua aplicação não pode ser feita subitamente e sem preparação. O Colégio Militar tem um projecto educativo único adaptado a rapazes e que pressupõe o internato, o qual poderá coexistir com um regime de externato desde que essa transformação seja estudada do ponto de vista pedagógico e avaliada quanto à adesão dos Pais a esses modelos. A AAACM opõe-se, porém, à coexistência de um internato misto no mesmo campus, possibilidade nunca considerada por qualquer das Comissões encarregues pelo Ministro de Defesa para a análise, estudo e recomendações quanto ao futuro dos Estabelecimentos Militares de Ensino e assim nunca discutida e ponderada . De acordo com um estudo independente contratado pela AAACM, a quase totalidade dos Pais não querem os filhos e as filhas em internatos mistos. O internato misto terá sempre uma baixa adesão, mas obriga a investimentos muito elevados em termos de construção de infra-estruturas e adaptação das existentes (edifício para alojar 300 alunas com um custo estimado em 6 milhões de euros, posteriormente redesenhado para 168 alunas com um custo de 2,9 milhões de euros, conforme informação prestada pela Secretária de Estado da Defesa), bem como ao funcionamento de mecanismos de controlo, que jamais serão rentabilizados por manifesta falta de alunas. Estes custos muito elevados serão depois utilizados como justificação de uma pretensa “insustentabilidade financeira”.
O resultado das candidaturas para 2013/2014 prova que a transformação foi mal preparada e não deu bons resultados. A existência de opções de ensino diferenciado enriquece a oferta educativa em Portugal. Não existe nenhuma obrigação legal de todo o ensino público ser misto. O projecto educativo do Colégio Militar evoluiu em 210 anos como um projecto de ensino diferenciado, aplicado e destinado a rapazes. Não se adapta um projecto educativo com estas características únicas, longevidade e provas dadas por Despacho, sem estudos prévios aprofundados e o apoio dos Pais e Antigos Alunos.
SE AS FORÇAS ARMADAS SÃO MISTAS PORQUE É O COLÉGIO MILITAR NÃO PODE SER? Em primeiro lugar, é importante reconhecer as diferenças entre profissionais, adultos, maiores de idade (situação de todos os militares) e estudantes, pré-adolescentes, menores de idade (situação dos alunos do Colégio Militar) e não comparar o que não é comparável. O Colégio Militar teve sempre como oferta complementar o Instituto de Odivelas. Cada uma das instituições proporciona uma educação adequada ao género que integra, alinhada com as melhores práticas, sem a preocupação da coexistência dos dois géneros no mesmo internato. Quando os pais colocam os seus filhos e filhas a cargo de uma instituição em modelo de internato, esperam que estes sejam mantidos em segurança em termos físicos e psicológicos, e garantir isto num internato misto é difícil e caro. O imperativo da igualdade de género não significa que todas as actividades tenham de ser realizadas em conjunto pelos dois sexos, e um bom exemplo disso são as actividades desportivas como o rugby ou as mais específicas para a educação das meninas como a puericultura.
QUANTO CUSTA UM ALUNO DO COLÉGIO MILITAR, FACE AOS OUTROS ALUNOS DO ENSINO PÚBLICO? Os custos fixos de funcionamento do Colégio Militar têm ainda uma grande margem para ser racionalizados, em particular os custos com pessoal.
Dos Antigos Alunos Respostas a questões postas à Direcção
Alguns serviços administrativos e logísticos podem e devem ser partilhados com os outros EME. As receitas do Colégio Militar podem e devem aumentar, através do aumento do número de alunos e da rentabilização do uso das instalações e equipamentos. O custo por aluno no Colégio Militar tem vindo a descer desde 2010 e no ano lectivo de 2012/2013 terá sido de cerca 10.400 €. Este valor é ainda superior ao custo médio no ensino público 5.700 € (estimado pela OCDE). De notar que a comparação do custo do Colégio Militar é feita com custo médio do ensino público. Quando colocadas por ordem de custo por aluno verifica-se que existem escolas do ensino público com custos por aluno superiores ou até muito superiores ao Colégio Militar. A AAACM há muito identificou as medidas de racionalização necessárias para que o custo por aluno no Colégio Militar seja no curto prazo semelhante ao custo médio do ensino público, bastando para tal um efectivo de 500 alunos e a concretização das medidas de racionalização atrás mencionadas. O “chumbo“ da introdução do 1º ciclo em Agosto de 2011 pelo actual Ministro de Defesa – com 144 alunos matriculados – em muito prejudicou a desejável e possível sustentabilidade económica, sempre apresentada como uma das razões para a reforma em curso.
SE A REFORMA DO MINISTRO DEU BONS RESULTADOS E AUMENTOU O NÚMERO DE ALUNOS PORQUE NÃO A ACEITAM? É preciso desmistificar os alegado bons resultados em termos de matrículas anunciados pelo Ministro da Defesa. O Ministro da Defesa confunde propositadamente eventuais candidatos que se inscreveram num site (353) com aqueles que efectivamente prestaram provas de admissão (163). Se aos 405 alunos que agora constituem o Batalhão Colegial (sem considerar os 37 alunos do 1º ciclo), retirarmos as 39 alunas matriculadas por não o poderem fazer no Instituto de Odivelas, e os 11 alunos internos e externos matriculados no 8º, 9º e 10º anos (que não era permitido no regime anterior), o efectivo totaliza agora 355 alunos, número inferior aos 360 alunos registado no final do ano lectivo de 2012/2013! Impressionante como os números não batem nada
certo com o regozijo do ministro da Defesa! Infelizmente dizemos nós, porque gostaríamos que mais alunos tivessem sido matriculados no Colégio Militar. É relevante também o reduzido número de novos alunos para o 5º ano como internos, (somente 25), o que comprova que a precipitada reforma avançada pelo ministro da Defesa afastou o “mercado” habitual do Colégio Militar. Normalmente entram o dobro. É preocupante, por outro lado, a fraca adesão ao 1º ciclo - uma das medidas mais relevantes da reforma defendida pela AAACM - que em 2011 tinha gerado uma fundada expectativa com 144 matrículas - ficou-se desta feita por 37 alunos de ambos os sexos, devido quer à desconfiança provocada pelo “chumbo“ feito em Agosto de 2011 pelo actual Ministro da Defesa, quer ao anúncio tardio da sua abertura, em Maio de 2013, altura em que a generalidade dos Pais já teria naturalmente decidido a escola para os seus filhos. Acresce ainda que ao avaliar os resultados de uma reforma desta natureza, considerando apenas a dimensão das candidaturas, o Ministro da Defesa revela uma incompreensão gritante sobre o que está verdadeiramente em causa, e uma incompreensível falta de consideração por uma instituição com a profundidade histórica e social do Colégio Militar.
PORQUE RAZÃO O COLÉGIO MILITAR NÃO GERA MAIS CANDIDATOS ÀS FORÇAS ARMADAS ? Considerando apenas as últimas duas décadas a percentagem de alunos do Colégio Militar que escolheu a “Carreira das Armas” é dezenas de vezes superior à percentagem que ocorre na população em geral. Se às candidaturas às Forças Armadas somarmos as candidaturas às Forças de Segurança, o panorama é ainda melhor. O ministro da Defesa costuma argumentar seleccionando o único ano onde, por acaso, não existiram candidaturas. A diminuição de candidaturas às Academias Militares tem causas conhecidas, nada relacionadas com o Colégio Militar: redução do efectivo dos vários Ramos e perda de atractividade da carreira militar, especialmente
7
nos últimos anos; extinção do Serviço Militar Obrigatório; crescente “civilização” das Forças Armadas; a perda de prestígio destas face à sociedade etc.
O QUE É O COLÉGIO MILITAR E POR QUE É IMPORTANTE MANTÊ-LO? O Colégio Militar é um estabelecimento de ensino, criado em 1803, de matriz militar, direccionado a crianças dos dez aos dezoito anos. No Colégio Militar procura-se aliar à excelência académica uma profunda formação humana, inspirada nos valores militares como a lealdade, a camaradagem e o amor à pátria. Em resultado, milhares são os antigos alunos que, em diferentes sectores da sociedade e da economia têm contribuído de forma muito relevante para o bem de Portugal. Preservar o Colégio Militar significa investir no futuro do nosso país através da formação de jovens. O Colégio Militar é procurado de forma intensa por alunos dos países da Lusofonia. Em Angola, Moçambique ou Timor existem hoje cidadãos formados no Colégio Militar, com elevado grau de diferenciação na sociedade e na economia. O Colégio Militar é um instrumento desde há muito utilizado nas relações de Portugal com esses países.
8
Dos Antigos Alunos Órgãos da Associação
Martiniano Gonçalves (9/1958) Presidente do Conselho de Delegados
Órgãos da Associação: O Conselho Supremo e o Conselho de Delegados de Curso Assembleia Geral da nossa Associação (AAACM) realizada em 12 de Outubro de 2012 aprovou a criação de um novo Conselho a integrar nos Estatutos em vigor: o Conselho dos Delegados de Curso. Estipulam os actuais Estatutos, nos Artigos 10º e 11º, a existência de três Órgãos Sociais eleitos em Assembleia Geral através da votação de listas a ser apresentadas por qualquer dos Órgãos Sociais ou por um grupo de, pelo menos, 50 sócios efectivos no pleno gozo dos seus direitos associativos: a Assembleia Geral, a Direcção e o Conselho Fiscal, e contemplam, ainda, a existência de um Conselho Supremo. Ao Conselho Supremo compete (Artº 31º) “dar parecer sobre assuntos de interesse para a Associação...”, “ dirigir, por sua iniciativa, recomendações aos Órgãos Sociais da Associação,...” não sendo estes pareceres e estas recomendações vinculativos. Referem, igualmente, os Estatutos (Artº 32º e 34º) que “Os membros do Conselho Supremo serão individualmente eleitos, ... na Assembleia Geral”, que “Poderão propor novos membros para o Conselho Supremo, o próprio Conselho, a Direcção ou cinquenta sócios efectivos” e que “O Conselho Supremo será constituído por quinze Conselheiros efectivos, sócios efectivos, de elevada categoria moral e intelectual, que tenham prestado serviços relevantes ao País, ao Colégio Militar ou à Associação e que contem antiguidade de sócio efectivo não inferior a dez anos”, integrando, também, o Conselho Supremo, “um número
não definido de Conselheiros vitalícios”. É, ainda, definida a duração de 5 anos para o mandato dos Conselheiros efectivos e, “com vista a assegurar a renovação do Conselho poderão ser reeleitos apenas por uma só vez cessando funções efectivas ao atingirem a idade de 80 anos, sem prejuízo de completarem o mandato para que foram eleitos”. Uma pequena nota de carácter histórico acerca do Conselho Supremo é-nos trazida no Anexo II, pág. 163, do livro publicado em 2008 da autoria de Rui (62/1936) e Gonçalo (440/1967) Figueiredo de Barros “Para Lá do Colégio Militar, Uma Associação Centenária”, podendo ler-se aí que
“Na sua versão actual, o Conselho Supremo da AAACM criado em 1946, é um orgão social simultaneamente honorífico e de aconselhamento e apoio à Direcção”, e constatando que, de entre os primeiros Conselheiros, 20 foram Antigos Alunos (AA) que entraram para o Colégio ainda no Séc. XIX. Trata-se, portanto, de um Conselho com uma raiz bastante antiga que AA, colegiais de outras épocas, já entendiam como necessária na estrutura da Associação. Voltemos, agora, ao recém-chegado Conselho de Delegados de Curso, um Conselho de características bem diferentes. Na Assembleia Geral referida a Direcção
© Fotos Leonel Tomaz
A
Dos Antigos Alunos Órgãos da Associação
da AAACM propôs a criação de um Conselho de Delegados de Curso, tendo o Presidente da Direcção na apresentação que fez definido-o como um Órgão Estratégico de acordo com as seguintes ideias-chave: • Natureza: Trata-se de um Órgão consultivo com representatividade distinta e complementar da do Conselho Supremo, mas como se verá adiante são-lhe cometidas, igualmente, algumas funções executivas por delegação de poderes da Direcção; • Objectivos: Destina-se a partilhar entre a Direcção e os Delegados de Curso informações sobre processos mais complexos por forma a que estes possam, esclarecer dúvidas e “matar” boatos, actuando como fontes importantes de informação de casos problemáticos entre AA (entenda-se AA em situações difíceis) e constituindo, mais genericamente, uma ponte entre a Comunidade dos AA e a Associação; • Composição: Os Delegados de Curso serão AA influentes em cada Curso, com bom contacto com os restantes camaradas, voluntários ou sugeridos por camaradas do mesmo curso, disponíveis para apoio e envolvimento em iniciativas da AAACM. Analisando com mais detalhe a necessidade da criação deste novo Conselho, questionemos a razão da sua criação, afinal, também ele como o Conselho Supremo, com carácter consultivo. A gestão das actividades da AAACM (relembra-se que nos termos dos Estatutos constituem objectivos principais “o apoio e o fortalecimento dos laços de Solidariedade que unem os AA e os actuais alunos do Colégio e a intransigente defesa e promoção do Colégio Militar dos seus princípios, valores e tradições”) tem vindo a tornar-se cada vez mais complexa e difícil, exigindo maior dedicação dos membros da Direcção e apoio por parte dos AA. O contexto em que a vida da Associação ocorre, decorrente, em particular, de uma sociedade em que a velocidade da mudança e a variedade das incidências na vida do dia a dia do Colégio, da AAACM e dos AA aumentaram, gerou a necessidade de um maior e, também, mais variado fluxo de informação sobre os factos correntes que afectam a comunidade dos AA ou que possam afectar, directa ou indirectamente, o Colégio e a vida dos alunos, do que resulta a necessidade de uma interacção,
9
mais assídua e variada, entre a Direcção da AAACM e os AA . Neste sentido, e tendo como termo de comparação o Conselho Supremo, decidiu a Direcção da AAACM institucionalizar um relacionamento mais próximo permitindo-lhe receber sugestões de um universo de AA mais alargado, com uma maior diversidade de profissões, cobrindo fases da vida que se iniciam logo após a saída do Colégio (os membros do Conselho Supremo têm que ter pelo menos 10 anos de sócios e um curriculum que não se obtém
AAACM a toda a comunidade dos AA, no mesmo plano e no mesmo espírito em que os Estatutos da Associação não distinguem a prática dos laços de solidariedade entre sócios e não sócios. Facto, não despiciendo e igualmente importante, é o de a proximidade de um maior número de AA com a vida da AAACM e do Colégio poder vir a facilitar o recrutamento e a colaboração com a AAACM de AA a título pessoal ou, de forma institucional, integrando os Órgãos Sociais. Foi neste quadro que em 13 de Fevereiro
ao fim de poucos anos), vivendo o seu dia a dia com problemas e preocupações diferentes das dos membros do Conselho Supremo: uns enquanto estudantes, outros na procura de emprego ou enfrentando o desemprego ou situações de crise familiar, frequentemente com a educação de filhos em idade escolar, podendo, deste modo, trazer aspirações, experiências e interpretações mais ricas à Direcção quer sobre aspectos da vida do Colégio quer, mais geralmente, um contributo mais variado resultante da própria faixa das idades agora representadas neste grupo de AA. Quis-se, por outro lado, trazer, igualmente ao conhecimento da Direcção, através dos Delegados dos respectivos Cursos, e no mesmo plano dos AA que são sócios, as ideias e os contributos dos não sócios que pertencem aos diferentes Cursos alargando, por interposto Conselho, as ligações da
de 2013 a Direcção aprovou o Regimento do Conselho de Delegados de Curso por estes aprovado sob a forma de proposta à Direcção em 11 de Dezembro de 2012, texto que evidencia as diferenças e a sua complementaridade relativamente ao Conselho Supremo. Desde logo, e não exclusivamente, no que respeita à designação da sua composição: o seu Presidente é indicado pela Direcção da Associação, enquanto os seus membros que terão que ser obrigatoriamente sócios da AAACM - um por Curso com a nomeação de um Delegado Suplente - não serão eleitos em Assembleia Geral mas por cada Curso. Relativamente aos seus deveres de colaboração com a Direcção da AAACM, destaca-se “... em particular nas acções de solidariedade, na angariação de novos sócios e na regularização das situações de quotas em atraso.”
10
Dos Antigos Alunos Órgãos da Associação
É esta uma substancial diferença relativamente ao Conselho Supremo que não tem atribuídas quaisquer acções de tipo executivo: os membros do Conselho de Delegados de Curso assumem, com a Direcção, um compromisso respeitante à execução, junto dos Cursos, de acções da sua responsabilidade. Sem prejuízo de outras acções, numa conjuntura em que o número de sócios que pagam quotas tem vindo a diminuir, a angariação de novos sócios e acções no sentido da regularização de quotas em atraso são tarefas que exigem uma per-
tir a sua representação nas reuniões do Conselho de Delegados de Curso, através de um membro da Direcção sem direito a voto, a fim de disponibilizar informações ou prestar esclarecimentos que habilitem os Delegados de Curso com elementos de situação que lhes permitam um melhor alicerce às suas opiniões ou deliberações”. Pretendeu-se, com esta frequência dos encontros e a transmissão de informações, criar - como referido - uma maior aproximação à gestão corrente da AAACM, de um maior número de AA, que por sua vez, passam a ter melhores condições de
manente colaboração dos Delegados com a Direcção. Quanto aos mandatos (Artº 11º), novas diferenças surgem: “Os mandatos do Presidente do Conselho de Delegados de Curso e da Comissão Coordenadora (cinco Delegados eleitos pelos Delegados da mesma faixa etária) cessam quando cessar o mandato da Direcção da AAACM, ou quando, por motivos pessoais, renunciarem aos respectivos cargos; O período do exercício do mandato de cada Delegado é da exclusiva deliberação de cada Curso”. Estipula, ainda, o Regimento a realização de pelo menos 4 reuniões ordinárias por ano (Fevereiro, Abril, Junho e Outubro), realizando o Presidente e a Comissão Coordenadora reuniões intercalares entre as reuniões ordinárias, atribuindo à Direcção da AAACM a responsabilidade de “garan-
conhecimento, em tempo real, de factos e iniciativas que comunicarão aos seus Cursos, condição de um maior envolvimento dos AA na vida da nossa comunidade de AA. Resta referir que 10 meses após o início da actividade do Conselho, se encontravam nomeados 94 Delegados e Delegados Suplentes com idades que variam dos 19 aos 77 anos (no Conselho Supremo são apenas 15 os Conselheiros efectivos na sua maioria com mais de 70 anos), representando 57 Cursos desde o de 1947 até ao mais recente - o de 2005 (AA saídos em 2013) – e cobrindo cerca de 5.000 AA. De entre os temas tratados nas cinco reuniões entretanto realizadas, destacam-se, entre outros, a mobilização dos Cursos no sentido de serem detectadas situações de camaradas em estado de necessidade (financeira, emprego, psicológica,...) e ini-
ciativas para as colmatar em colaboração com a Direcção da Associação, e a identificação, em curso, dos AA que se encontram a trabalhar ou viver fora de Portugal a fim de se constituírem núcleos de apoio para os já residentes e a todos os que, venham a deslocar-se para, ou a, esses países. De igual modo, e no sentido de enriquecer o património da Associação, estão em curso o registo das graduações de cada AA, a recolha, a organização e a identificação - associando-as à Base de Dados de todos os AA em actualização permanente na Associação - de alguns milhares de fotografias individuais e das turmas do período de passagem pelo Colégio, para o que é importante que quem tenha fotografias “do seu tempo” as ceda temporariamente à Associação a fim de serem digitalizadas e registadas. Em paralelo, e com vista a evitar a proliferação de boatos e informação – desordenada, superficial e, por vezes, falaciosa - veiculada por diversos meios de comunicação e por pessoas com deficiente informação ou mal intencionadas, têm sido dadas aos Delegados, pelo Presidente da Direcção, informações rigorosas sobre os trabalhos em curso com os poderes político e militar relativas à reforma do Colégio, sendo recolhidas informações e opiniões, que, de forma coordenada, têm contribuído para a estratégia e acções da Direcção nesta matéria.
Dos Antigos Alunos Ecos de um despacho
11
ECOS DE UM DESPACHO Textos inseridos de acordo com a ordem cronológica das datas das respectivas publicações. As fotografias são da autoria de Leonel Tomaz (Sócio Honorário), de Sérgio Garcia (326/1985) e de Fernando Carreto (395/1955)
Capitão-de-fragata Jorge Manuel Moreira da Silva*
Estabelecimentos Militares de Ensino não Superior: Equívocos, Mitos e Imprecisões Publicado na Revista Militar 6/7 Junho/Julho 2013 e transcrito por amável deferência do seu Autor.
INTRODUÇÃO No contexto da delicada situação económico-financeira que o País atravessa, a qual impôs a necessidade de severos cortes nos serviços do Estado e fez emergir a urgência de racionalizar a despesa pública, não causou grande estranheza o despacho 5 de Agosto de 2011 do Secretário de Estado Adjunto e da Defesa Nacional (SEADN), encarregando a Direção-Geral de Pessoal e Recrutamento Militar (DGPRM) da elaboração de um estudo sobre a sustentabilidade dos estabelecimentos militares de ensino não superior (EMEs) - mais concretamente, do Colégio Militar (CM), do Instituto de Odivelas (IO) e do Instituto dos Pupilos do Exército (IPE). Da primeira fase deste estudo - que envolveu uma série de visitas aos EMEs e a análise de vários dados relativos ao parque escolar, aos recursos humanos que lhe estão atribuídos e à respetiva situação financeira, assim como a aplicação de questionários a docentes e a encarregados de educação – resultou um relatório que a equipa técnica chefiada pelo Professor Eduardo Marçal Grilo apresentou em Maio de 2012.
Com base neste relatório, sobre cujas conclusões nos debruçaremos mais adiante, o Ministro da Defesa Nacional aprovou os pressupostos subjacentes à proposta de plano de reestruturação para os estabelecimentos militares de ensino não superior e as medidas deles resultantes (Despacho nº 11863/2012 de 29 de Agosto), das quais se destacam: • Concentrar progressivamente no CM a oferta de ensino regular, com eventual alargamento desta oferta ao 1º ciclo do ensino básico; • Manter no IPE apenas, e em exclusivo, a oferta educativa de âmbito profissional Estas medidas que, na prática, conduzem à extinção efetiva do Instituto de Odivelas e à limitação do IPE à sua componente de ensino profissional, deveriam ser postas em prática até ao início do ano letivo 2015/2016, ficando a sua implementação efetiva a cargo de uma Comissão Técnica de Acompanhamento (CTA) composta por representantes do MDN e do Exército1. Ficou também definido que a partir do final de 2012 a Direção de Educação do Exército (DE) implementaria os cargos de Coordenador Pedagógico, a quem caberia a responsabilidade de
definir, desenvolver e coordenar o projeto pedagógico harmonizado dos EMEs, e de Coordenador Administrativo-financeiro para desenvolver de forma centralizada a gestão administrativa daqueles estabelecimentos. Por fim, em Março de 2013, o Ministro da Defesa Nacional, determinou, em despacho2, a constituição das turmas para os 3 EMEs, com o IO já sem admissões no 5º ano – considerando o seu próximo encerramento –, e o início do processo de transferência para o CM do ensino regular, mantendo, no entanto, o IPE as admissões no ensino básico e secundário em regime de transição para o ensino profissionalizante. Antes, porém, de prosseguirmos, manda o princípio da Honestidade Intelectual que, à semelhança do que fizeram outros autores que abordaram esta temática, seja tornada pública uma declaração de interesses: o signatário deste texto é um antigo aluno do IPE, embora – por opção pessoal que nada tem a ver com a qualidade do ensino ali ministrado – não tenha nenhum dos seus descendentes – ou outros familiares – a frequentar aquele estabelecimento ou qualquer um dos EMEs seus congéneres.
* Sócio efectivo da Revista Militar 1 2
Despacho (interno) nº 264/MDN/2012, de 5 de Novembro MINISTÉRIO DA DEFESA NACIONAL, Despacho nº 4785/MDN/2013, de 25 de Março, Diário da República 2ª série nº 68 de 8 de Abril de 2013
12
Dos Antigos Alunos Ecos de um despacho
Poderão, assim, surgir algumas referências mais explícitas à realidade do IPE, que é aquela que o autor melhor conhece, mas sempre como exemplo ilustrativo e sem jamais deixar de se apreciar a missão e o desempenho dos EMEs no seu conjunto.
CONCLUSÕES DO RELATÓRIO TÉCNICO3 Não nos competindo comentar decisões de nível político, as quais pressupomos seguirem, por norma, a melhor opção face à informação disponível, debrucemo-nos um pouco sobre o relatório que forneceu as bases ao processo de reestruturação em curso. Este relatório, não deixando de reafirmar a mais-valia que os EMEs constituem para a Sociedade, nomeadamente na partilha e disseminação dos valores inerentes à Instituição Militar, considera que a manutenção do ensino militar não superior apenas faz sentido se este puder manter um elevado nível de qualidade. Por outro lado, considera que “o momento que o país vive” torna premente a reorganização e a gestão integrada dos três estabelecimentos, tendo em vista a otimização de recursos. No limite, poder-se-ia mesmo considerar a hipótese de fusão das três instituições numa só, sendo o Colégio Militar aquela que reuniria as melhores condições para absorver as valências – e os alunos - das outras duas. Esta escolha deve-se ao facto de o CM ter sido considerado o estabelecimento com maior capacidade em termos de instalações e melhores recursos de formação, distinguindo-se dos restantes “pela sua génese, pela sua história e pelo seu prestígio”. Naturalmente, o relatório não deixa de mencionar as previsíveis problemáticas relacionadas quer com a coexistência de internatos feminino e masculino quer com a transferência do ensino técnico-profissional do IPE para o CM, embora remeta essa preocupação para a subsequente fase de implementação. Pelo caminho tece considerações de ordem variada que permitem, supostamente, identificar as fragilidades do modelo até agora seguido, das quais se destacam: 1. A pequena proporção de alunos provenientes de famílias de militares ou militarizados (cerca de um terço); 2. O facto de os EMEs não conseguirem despertar vocações para a carreira militar; 3. O facto de os EMEs concorrerem entre si, não se articulando em termos de oferta educativa; 3
4. O preocupante decréscimo do número de aluMas abordemos, uma a uma, algumas das prinnos ao longo dos últimos 10 anos; cipais conclusões que, na nossa opinião, se ba5. O elevado peso da estrutura militar, sobretuseiam em ideias feitas que importa enquadrar no do no CM e no IPE; seu devido contexto, se não mesmo desmistificar: 6. O excessivo peso das despesas com pessoal em relação às de funcionamento corrente; 1. O número de alunos dos EMEs tem decresci7. O elevado custo por aluno (já descontando as do de modo preocupante nos últimos 10 anos propinas pagas) em relação ao sistema de ensiSe nos debruçarmos sobre as estatísticas apreno público; sentadas no Relatório Técnico atrás referido, que 8. O facto de a discriminação de género ter sido, analisam a variação do número de alunos dos já, há muito, “ultrapassada pela sociedade e pela EMEs nos últimos 6 anos (2006/2012), temos instituição militar”. alguma dificuldade em compreender como se Não contestando a validade das conclusões chegou a uma conclusão tão perentória. Analinem dos considerandos a elas associados, imsemos os dados: porta, porém, contextualizar devidamente alguns deles e, sobretudo, desmistificar algumas ideias preconcebidas que nos últimos anos se têm vindo a enraizar na SociedaQuadro 1 – variação anual do número de alunos dos EMEs (Relatório Técnico) de e que parecem ter, até um certo ponto, influenciado o parecer Na verdade, a tendência global entre os anos vertido no relatório que acabamos de abordar. letivos 2006/07 e 2010/11 é até de um ligeiro É, justamente, o que faremos nos próximos pacrescimento, apenas contrariado no último ano rágrafos. letivo considerado. E mesmo assim, o decréscimo em relação ao total do primeiro ano letivo considerado é apenas de 5%. Como podemos, EQUÍVOCOS, MITOS então, ser tão conclusivos? Só se nas médias da E IMPRECISÕES última década foi contabilizado o facto de o IPE não ter praticamente registado admissões no O relatório atrás abordado começa por enferEnsino Básico e Secundário em 2001 e 2002, o mar de um vício inicial que é o de, logo na introque se deveu exclusivamente a um despacho do dução, condicionar a análise subsequente pelo Chefe do Estado-Maior do Exército – eventual“momento que o país vive”. Quando se decide mente conduzindo à sua progressiva extinção o futuro de três instituições centenárias, com -, situação que apenas foi ultrapassada no ano um longo historial de valiosos serviços prestaseguinte, por decisão do Ministro da Defesa Nados a Portugal há que pensar sempre a longo cional. Naturalmente, esta quebra artificial (que prazo e nunca em termos do momento presenem 2013 se repete, desta vez no IO) - e toda a te, a menos que esteja em causa, no imediato, incerteza a ele associada - influenciou negativaa própria sobrevivência do País, o que, como mente as médias, o que poderá, eventualmente, adiante veremos, não é o caso. Por outro lado, levar a conclusões precipitadas se não for tido qualquer mudança radical que inclua a completa em conta o contexto em que surgem os númereformulação (se não mesmo destruição) de um ros apresentados. modelo profundamente enraizado e, de resto, E já que falamos do IPE, convém referir que longamente testado, há que ter a certeza de o relatório já não refere alguns importantes que os estudos em que se baseia são suficiendesenvolvimentos posteriores, como o facto temente sólidos e consistentes, sem esquecer a de esta escola ter registado em 2012 o maior necessidade de se garantir uma correta, aberta número de admissões no Ensino Básico e See efetiva comunicação em termos de contexto cundário (90) dos últimos 36 anos e a terceira e de conteúdo, assim como um imprescindível maior desde a sua criação. Curiosamente – ou período de discussão que não deixe quaisquer talvez nem tanto – um fenómeno semelhante dúvidas sobre a legitimidade e a transparência sucedeu, nesse ano, no IO, com um pico de 82 do processo.
EQUIPA TÉCNICA, Proposta de um Plano de Reestruturação para os Estabelecimentos Militares de Ensino Não Superior (Relatório Final), 30 de Maio de 2012 [distribuição limitada]
Dos Antigos Alunos Ecos de um despacho
Gráfico 1 – variação anual do número de alunos dos EMEs
admissões, o maior número desde 1974 e também um dos maiores de sempre. No mínimo, seria de esperar um pouco mais de estudo antes de se proporem medidas que poderão ser irreversíveis. Por outro lado, não deixa de causar alguma estranheza o facto de, tendo sido, bem ou mal, identificado um problema relacionado com o alegado decréscimo do número de alunos, não se ter procurado identificar deficiências a corrigir ou soluções tendentes a controlar – se não mesmo solucionar - essa evolução negativa antes de se tomarem opções mais drásticas. 2. Os três EMEs concorrem entre si Sem fazer uma abordagem histórica exaustiva, comecemos por rever, muito sucintamente, os objetivos de cada uma destas escolas aquando da sua criação: Quando foi criado, em 1803, no quartel da Feitoria, em Oeiras, pela mão do comandante daquela unidade, coronel Teixeira Rebelo, o então designado Colégio de Educação do Regimento de Artilharia da Corte, futuro Colégio Militar, destinava-se a prover às necessidades educativas dos filhos dos militares que ali prestavam serviço. Já no ano de 1900, o Instituto Infante D. Afonso, embrião do instituto de Odivelas, destinava-se a acolher e educar as órfãs de oficiais mortos no Ultramar. Não obstante a existência destas duas instituições, em 1911, o então Ministro da Guerra, general António Xavier Correia Barreto, concebeu a criação do Instituto Profissional dos Pupilos do Exército de Terra e Mar, na altura orientado pela missão genérica de “formar cidadãos úteis à Pátria”, como uma necessidade decorrente dos ideais educativos da Primeira República. Nos anos que se seguiram à sua fundação, tan-
to o CM como o IO vieram a alargar as respetivas populações-alvo, mantendo ambos, no entanto, o modelo educativo de internato (mais tarde alargado à modalidade de externato) militar, respetivamente, masculino e feminino, sempre pautado por elevados padrões de qualidade e de exigência. Sobre a pertinência da manutenção deste modelo falaremos mais adiante. Já o IPE, inicialmente orientado para os descendentes das categorias de sargentos e praças e, de um modo geral, para os educandos socialmente mais desfavorecidos, acabou por ser o estabelecimento que mais mudanças sofreu ao longo da sua existência. Sendo, no fundo, a Flexibilidade uma das suas imagens de marca, teve na formação profissional a sua principal vocação, primeiro nos cursos médios de Comércio e de Indústria, mais tarde nos bacharelatos de Contabilidade, Eletrotecnia, Eletrónica e Mecanotecnia, e por fim no ensino secundário de caráter técnico-profissional. Por outro lado, se, de certa forma, concorreu durante muito tempo com o CM em termos de internato masculino, abriu, entre 1977 e 2004, os seus cursos superiores a alunos “não-oriundos” (i.e. externos) de ambos os sexos, em regime de semi-internato (sem pernoita). Na altura em que estes cursos foram extintos e se passou para o ensino secundário profissionalizante, o Instituto abriu as suas portas a alunos de ambos os sexos, quer na modalidade de internato quer na de externato. Pelo atrás exposto se torna claro que, ao invés de concorrerem entre si, os três EMEs apresentam projetos educativos distintos abertos a públicos-alvo de diferentes características. 3. O modelo da segregação de géneros está ultrapassado Em pleno século XXI, falar de ensino segregado por géneros soa a anacronismo, mas talvez não seja despropositado rever de uma forma frontal e descomplexada aquilo que já se tornou um verdadeiro preconceito. Na verdade, são os próprios alunos que o praticam, a lembrar-nos as vantagens deste modelo, nomeadamente4: • O facto de a presença do sexo oposto na
13
sala de aula provocar distração, sobretudo entre adolescentes; • As diferenças de sensibilidade e de ritmos de crescimento entre rapazes e raparigas, que recomendam um tratamento pedagógico diferenciado; • O maior à-vontade, em termos de diálogo e participação nas aulas, decorrente da ausência de elementos do sexo oposto. Será, talvez, politicamente incorreto, nos dias de hoje, apresentar argumentos baseados nas diferenças de género, mas se até as campanhas publicitárias recorrem a diferentes abordagens consoante se dirijam a um público feminino ou masculino5, não será, decerto, descabido o ensino fazer uma distinção semelhante. Afinal, também a atividade educativa procura fazer passar uma mensagem para um determinado “público” no sentido de obter dele uma determinada resposta. Por fim, a frieza e a clareza dos números: segundo o relatório de 2008 da European Association Single Sex Education (EASSE), 81 das 100 melhores escolas do Reino Unido utilizavam o modelo de educação segregada. E na Nova Zelândia, tal como na África do Sul, na Coreia do Sul e no Japão o número de escolas diferenciadas no sector público é, inclusive, significativamente maior do que no sector privado6. Outros povos e outras mentalidades? Ou a postura descomplexada – e prática – que diferencia os países desenvolvidos dos restantes? A separação de géneros não será contraproducente – muito pelo contrário! – se os jovens puderem usufruir de outras ocasiões para conviver entre si. O mais importante aqui será marcar claramente a diferença entre os períodos de convívio e os de estudo, de modo a tornar o trabalho mais produtivo. Seguindo este raciocínio, concluímos que os modelos educativos segregados do CM e do IO estão longe de perder a sua validade. Não admira, assim, que contrariamente ao que poderíamos supor, tenham vindo dos antigos alunos do CM, o estabelecimento que seria o grande “beneficiado” pela fusão, as mais acesas críticas àquilo que será, no fundo, a descaracterização da sua Escola. E, como é do conhecimento geral, a perda de identidade é, muitas vezes, o primeiro passo para a extinção. Já o IPE, para além do seu projeto educativo caracteristicamente profissionalizante, consti-
4 Liliana Pascoal Borges, “Quando os Rapazes e as Raparigas não se Encontram nos Corredores da Escola”, Público, 2 de Janeiro de 2013 (http://org-www.publico.pt/sociedade/ noticia/o-futuro-do-ensino-esta-em-aulas-separadas-para-raparigas-e-rapazes-1579013) 5 Idem, ibidem. 6 Idem, ibidem.
14
Dos Antigos Alunos Ecos de um despacho
tuiria uma alternativa para quem, sem querer abdicar de um ensino de qualidade, preferisse optar pelo modelo misto, no quadro de diversidade de oferta que atrás abordámos. Este raciocínio acaba, de certa forma, por nos levar a abordar a questão do internato, que, à partida, parece não ser problemático nesta discussão. No entanto, nunca é demais afirmar que esta opção – porque é de escolha voluntária que falamos – deve permanecer aberta sem jamais ser posta em causa, pois, além de constituir uma fonte de coesão entre os alunos e de criar um ambiente mais propício à transmissão dos valores militares e à educação para a cidadania, é um garante de que a oferta educativa dos EMEs se mantém aberta aos jovens de todo o País e não apenas aos da região da Grande Lisboa. Tendo em conta as várias especificidades que acabamos de abordar, será de refletir se uma única infraestrutura terá capacidade para acomodar todas as necessidades educativas e logísticas de um projeto verdadeiramente abrangente no âmbito do ensino militar não superior. 4. Os EMEs geram poucos voluntários para ingresso nas Forças Armadas Aqui está outro equívoco bastante frequente. De facto, se analisarmos a história dos três EMEs rapidamente verificamos que a geração de voluntários para as fileiras nunca foi a sua missão (excetuando um par de referências pontuais ao “despertar da vocação militar” na legislação produzida logo após a Segunda Guerra Mundial7). De um modo geral, o objetivo que norteou a sua criação foi, sim, o de assegurar uma educação digna, norteada por princípios éticos e com qualidade, aos descendentes dos militares, tendo em conta, sobretudo, os constrangimentos decorrentes das imposições do Serviço. No entanto, uma rápida análise estatística facilmente nos levará a concluir que a percentagem de antigos alunos alistados nas Forças Armadas e de Segurança sempre foi significativamente mais elevada do que nas restantes escolas, excluindo, naturalmente, o IO, cujas alunas só muito recentemente – e, de resto, de modo bastante expressivo – têm vindo a ingressar numa profissão tradicionalmente masculina. Apresentamos o exemplo do IPE, em relação ao qual dispomos de dados mais completos, que nos mostra que aquele estabelecimento deu às forças militares e de segurança cerca de 12% do
total de alunos admitidos nos últimos 100 anos8. Se tivermos em conta que falamos de uma escola que desde sempre ofereceu aos seus alunos saídas profissionais para o mercado de trabalho, teremos de admitir que se trata de uma percentagem consideravelmente elevada. 5. O ensino militar não superior perdeu importância no âmbito da Ação Social das Forças Armadas Quando se aponta a reduzida proporção de alunos provenientes de famílias de militares ou militarizados - que, apesar de tudo, não deixa de ser significativa (cerca de um terço) – há que ter em devida conta que a redução de efetivos que nas últimas duas décadas se verificou nas Forças Armadas não podia deixar de se fazer sentir no universo de potenciais candidatos aos EMEs. Mas, independentemente da necessidade de se alargar, cada vez mais, o universo de “recrutamento”, será que o apoio à Família Militar ainda é um argumento de peso a favor destas instituições? O fim do “ciclo do Império” é, desde há muito, apontado como argumento para afirmar que a Ação Social das Forças Armadas ao nível do ensino deixou de fazer sentido. De facto, hoje em dia, os militares já não são enviados a prestar serviço – durante dois ou mais anos – em longínquas províncias ultramarinas. Contudo, as missões internacionais em que Portugal se tem envolvido nos últimos anos, continuam e continuarão, seguramente, a determinar, com uma certa frequência, o seu envio para teatros operacionais no exterior. E se estes destacamentos não ultrapassam, em regra, os seis meses, não é invulgar um militar cumprir duas ou mais comissões desta natureza, registando-se, agora, casos em que os dois membros do casal são militares (ou militarizados) e, como tal, ambos suscetíveis de participar neste tipo de missões. Por outro lado, a condição militar continua a implicar uma contínua disponibilidade para o serviço e a permanente mobilidade dentro do território nacional, do Minho ao Algarve e do continente às Ilhas (sem falar no preenchimento de cargos internacionais), sendo, muitas vezes os EMEs a melhor – se não mesmo a única – alternativa para proporcionar aos descendentes alguma estabilidade em termos educativos. Os números justificam-no? Depende do ponto de vista e, sobretudo, do grau de importância e de reconhecimento que se quer dar a quem ain-
da se sujeita à condição militar (ou militarizada) para servir o País. 6. Os EMEs custam muito dinheiro ao Estado O mais forte argumento até agora apontado para justificar a “reforma” dos EMEs tem sido o do seu elevado custo face ao sistema público de ensino. No entanto, se tomarmos como ponto de partida as despesas globais das três escolas indicadas no Relatório Preliminar e lhes descontarmos o valor total das propinas pagas pelas famílias dos alunos, verificamos que os custos não cobertos constituem apenas 0,64% do orçamento global do Ministério da Defesa Nacional para 20139 (2% da parcela do Exército) e 0,27% da verba que o Ministério da Educação destina às escolas do ensino básico e secundário. Quanto às despesas com o pessoal que, segundo o referido relatório, constituem o encargo mais pesado, não ultrapassam os 0,7% dos gastos com o pessoal do Exército, valor que desce para 0,22% se tomarmos como referência o total das Forças Armadas e 0,12% se nesta relação incluirmos as Forças de Segurança. E já que se fala no “elevado peso da estrutura militar”, sobretudo no CM e no IPE convém não esquecer que é justamente nestas duas escolas que a componente da formação militar é mais forte e constitui uma das maiores “imagens de marca”. E, curiosamente, não se referiu no relatório que no IPE, aquela que das duas teria a estrutura militar mais “pesada”, funcionam, em acumulação, os Cursos de Formação de Sargentos do Serviço de Material de Eletrónica e de Mecânica do Exército, os quais justificam, por si só, a manutenção da infraestrutura, do pessoal militar e dos serviços de apoio, cuja rentabilização só tem a ganhar com a permanência dos alunos do ensino básico e secundário. Mas não deixa de ser errado encararmos o investimento nos EMEs como gastos de Defesa/ Segurança, onde a lógica da “rentabilização” se tem resumido a cortes na despesa. Basta ver que a projetada fusão dos três estabelecimentos é facilmente enquadrável no sonante e já mítico racional da concentração “de três em um” atualmente em curso na edificação do Hospital das Forças Armadas. Não faria mais sentido abordar o assunto no âmbito do panorama educativo português? O que, no fundo, está aqui em causa é a manutenção de três estabelecimentos dentro do par-
7 A. Ribeiro da Silva, “Reflexões Sobre a Agora tão Propalada Missão do IPE no Despertar da Vocação Militar”, Boletim da Associação dos Pupilos do Exército, nº227, OUT-DEZ2012. No caso particular do IPE, estas referências surgiram apenas em 1948 e em 1959. 8 Idem, ibidem. Esta percentagem ascende a 17% se tivermos em conta apenas o universo dos alunos que frequentou o Instituto durante pelo menos 4 anos, prazo considerado razoável para despertar vocações. 9 ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA, Lei nº 66-B/2012 de 31 de Dezembro (Orçamento de Estado para 2013), Diário da República 1ª série, nº 252 de 31 de Dezembro de 2012
Dos Antigos Alunos Ecos de um despacho
15
que escolar nacional, três escolas de excelência onde se formam elites e se constituem referências para a Educação em Portugal. Hoje, mais do que nunca, o nosso País necessita de referências e de elites dirigentes. Estes benefícios não justificam largamente os custos a eles associados?
CONCLUSÃO Não é objetivo deste artigo apresentar soluções de gestão destinadas a melhorar a sustentabilidade económica dos EMEs, para as quais não faltarão, decerto, opiniões mais abalizadas e que justificarão a redação de um artigo mais extenso e exclusivamente dedicado. No entanto, não deixa de ser pertinente debruçarmo-nos sobre algumas ideias que, se forem devidamente exploradas, deitarão por terra, de uma vez por todas, o mito da insustentabilidade daqueles estabelecimentos de ensino. Naturalmente, não questionamos a necessidade de melhorar a eficiência da organização e, sobretudo, de rentabilizar o número de alunos nas três escolas, procurando, antes de mais, quebrar, de algum modo, o ciclo vicioso entre os elevados valores das propinas e o “baixo” número de admissões. Mas isso só será possível se for feita uma clara opção de continuar a apostar na excelência do ensino militar não superior na sua característica diversidade e numa perspetiva de utilidade pública. Acabar de vez com a incerteza que nos últimos anos tem, ciclicamente, pairado sobre o futuro destas instituições será o primeiro passo para fazer inverter as tendências negativas mais recentes. Depois disso, decerto não faltarão soluções. Abstemo-nos também de comentar o seu atual modelo de tutela, partindo do princípio que a ligação ao Exército tem um peso histórico muito significativo e raízes bastante profundas, embora nos pareça pertinente incentivar uma participação mais ativa por parte dos outros Ramos. Será, porém, menos descabido avaliar a eventual atribuição ao Ministério da Educação de maiores responsabilidades e maior poder de decisão nesta problemática, para que a missão educativa dos EMEs não seja cronicamente relegada para os “excessos dos gastos da Defesa”. Mas a tutela por parte do Exército tem outras vantagens, nomeadamente a de facilitar a gestão integrada dos recursos humanos, financeiros e materiais, otimizando a logística, o apoio e até a contratação e o recrutamento. Não temos dúvidas de que a solução passa por trabalhar em rede, garantindo a circulação e a partilha de meios e recursos (partilha de professores, organização conjunta de eventos e de exercícios de campo) e de uma estrutura de gestão comum que centralize políticas e procedimentos, de modo a beneficiar da economia de escala resultante. Dirão alguns que toda esta argumentação não passa de resistência à mudança e de obstrução ao progresso por parte de um pequeno grupo de pressão. Algo de semelhante poderá ser dito, nos meios internacionais, sobre um pequeno e periférico país que teima em ser independente há quase novecentos anos. FONTES E BIBLIOGRAFIA
Referências computorizadas (informação geral): • COLÉGIO MILITAR, http://www.colegiomilitar.pt • INSTITUTO DE ODIVELAS, http://www.institutodivelas.com • INSTITUTO DOS PUPILOS DO EXÉRCITO, http://www.pupilos.eu Bibliografia: • ASSOCIAÇÃO DOS PUPILOS DO EXÉRCITO, Boletim da Associação dos Pupilos do Exército, nº227, Outubro-Dezembro de 2012 • BORGES, Liliana Pascoal, “Quando os Rapazes e as Raparigas não se Encontram nos Corredores da Escola”, Público, 2 de Janeiro de 2013 (http:// org-www.publico.pt/sociedade/noticia/o-futuro-do-ensino-esta-em-aulas-separadas-para-raparigas-e-rapazes-1579013)
Fontes Impressas: • ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA, Lei nº 66-B/2012 de 31 de Dezembro (Orçamento de Estado para 2013), Diário da República 1ª série, nº 252 de 31 de Dezembro de 2012 • EQUIPA TÉCNICA, Proposta de um Plano de Reestruturação para os Estabelecimentos Militares de Ensino Não Superior (Relatório Final), 30 de Maio de 2012 [distribuição limitada] • EXÉRCITO, COMANDO DA INSTRUÇÃO E DOUTRINA, DIREÇÃO DE EDUCAÇÃO, Relatório Anual de Atividades de Educação do Exército, Lisboa, 3 de Setembro de 2012 [distribuição limitada] • MINISTÉRIO DA DEFESA NACIONAL, Despacho de 5 de Agosto de 2011 do SEADN • MINISTÉRIO DA DEFESA NACIONAL, Despacho nº 11863/MDN/2012, de 29 de Agosto, Diário da República 2ª série nº 173 de 6 de Setembro de 2012 • MINISTÉRIO DA DEFESA NACIONAL, Despacho (interno) nº 264/MDN/2012, de 5 de Novembro • MINISTÉRIO DA DEFESA NACIONAL, Despacho nº 4785/MDN/2013, de 25 de Março, Diário da República 2ª série nº 68 de 8 de Abril de 2013
AGRADECIMENTOS • Ao Sr. Almirante Gonçalves de Brito, ao Sr. Doutor Américo Ferreira, aos Srs. Comandantes Valentim Rodrigues e Pestana Malhado, e à Sra. Tenente Queirós Cardoso pelas oportunas críticas e sugestões; • À Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar, à Direção do Instituto de Odivelas, na pessoa do Sr. Coronel José Serra, à Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas e à Associação dos Pupilos do Exército pelos dados fornecidos.
16
Dos Antigos Alunos Ecos de um despacho
QUEREM ACABAR COM O COLÉGIO MILITAR? Luís Mergulhão (191/1965) - in “EXPRESSO” de 31 de Agosto de 2013
A
penas há dois meses, 35 personalidades portuguesas — tendo em comum o não serem antigos alunos daquela instituição — subscreveram uma carta dirigida ao Senhor Presidente da República solicitando o exercício da “sua magistratura de influência no sentido de que o Despacho 4785/2013 de 8 de Abril do Ministro da Defesa Nacional seja imediatamente suspenso no referente à transformação repentina e imponderada do Colégio Militar num internato/externato misto e à construção de infraestruturas de internato feminino no Colégio Militar”, decorrente do anunciado encerramento do Instituto de Odivelas já no ano letivo de 2014. Cito, entre outros, Ramalho Eanes, Marçal Grilo, Adriano Moreira, Artur Santos Silva, Bagão Félix, Campos e Cunha, Cruz Serra, João Salgueiro, João Soares, Lemos Ferreira, Loureiro dos Santos, Manuel Braga da Cruz, Medina Carreira, Melo Gomes, Roberto Carneiro, Rui Vilar, Rui Machete, Veiga Simão, Vieira Matias e D. Januário Torgal Ferreira. À última hora, este mês, uma campanha publicitária foi colocada no ar pelo Ministério da Defesa Nacional, falando de “estabelecimentos militares de ensino”. Nessa campanha, pasme-se, nunca é referido o nome dos três estabelecimentos, nem sequer mostrado o seu logótipo, mas antes, isso sim, um novo logo, pensado talvez para substituir o daquelas instituições centenárias. Sejamos frontais: algo se passa, cujos contornos não são
claros, e não podem ser apenas reflexo do facto de o Colégio Militar, de o Instituto de Odivelas e de os Pupilos do Exército, no seu quadro actual de funcionamento, darem prejuízo. A personalidade nomeada pelo Senhor Ministro da Defesa para coordenador da “comissão para
reestruturação dos estabelecimentos militares de ensino”, o professor Marçal Grilo, subscreveu também a referida carta, ao não se rever na decisão de quem o nomeou. Personalidades como o professor Adriano Moreira e o general Loureiro dos Santos levantaram na imprensa dúvidas fundadas. Não vou falar dos valores do Colégio Militar. Não preciso. Mas refiro isso sim, ser uma instituição que foi fundada poucos anos depois da Independência dos Estados Unidos da América, antes das Invasões Francesas e da Independência do Brasil. De ser a instituição nacional mais condecorada. De ter vivido, ao longo dos seus 210 anos de existência, momentos difíceis mas que conseguiu sempre adaptar-se à evolução dos tempos, sem perder a sua raiz ética e nacional. Fico apreensivo com possíveis modelos de salvação para estas instituições que as descaracterizem, e que depois as matem lentamente. E receio o aparecimento de “iniciativas privadas” que a troco da promessa de assegurar “custo zero” para o erário público, tomem, primeiro, conta da sua gestão, para de seguida poderem ficar com os seus patrimónios, mesmo que agora assegurem que não. Declaração de interesse: sou antigo aluno do Colégio Militar. Mas não estou só. Além de muitos outros, ex-alunos ou não, estão connosco o bom senso e o sentido de afirmação da nossa identidade nacional.
Carta de António Brotas (30/1940) ao Director do DN em 3 de Setembro de 2013
É
impressionante a ligeireza do artigo “Fazer História”, que a Senhora Berta Cabral, Secretária de Estado Adjunta e da Defesa Nacional, publicou ontem, como convidada, no DN. Para ela, depois de uma longa ascensão no campo de Educação, o Colégio Militar é o ultimo bastião masculino ainda não conquistado pelas mulheres. Não explica porque é que o actual Governo pretende, também, reformar profundamente o Instituto de Odivelas sem igualmente ouvir e ter em conta a opinião das antigas alunas.
Estão anunciadas obras no interior do Colégio Militar para nele instalar alunas internas. Duvido que esta seja uma reivindicação das mulheres portuguesas. Mas pergunto se não estão, também, previstas obras no Instituto de Odivelas para nele instalar uma secção de alunos internos. Não é fácil transformar colégios internos como o CM e o IO, em colégios mistos, sobretudo quando, como é o caso no CM e penso que também no IO, a segurança durante a noite, por falta de pessoal, é assegurada pelos
próprios corpos de alunos, com uma grande coesão entre si, mas em maioria menores. Trata-se de um assunto em que o Governo devia ouvir com muito cuidado as opiniões das Associações dos antigos alunos das duas escolas. O Colégio Militar já teve, e nada impede que volte a ter, alunos externos, como há actualmente nos Pupilos do Exército, escola que há alguns anos um governo quis suprimir, e nada impede que esses alunos, em todas ou nalgumas disciplinas, sejam raparigas, podendo ser
Dos Antigos Alunos Ecos de um despacho
algumas delas alunas do Instituto Odivelas. Num país em que o Ministério da Educação impõe a estudantes do ensino secundário de inúmeras localidades deslocarem-se diariamente dezenas de quilómetros para terem as aulas em agrupamentos escolares, é com certeza mais barato comprar um autocarro para os alunos das duas instituições se deslocarem de uma para outra em vez de fazer obras no seu interior para as tornar mistas. As Associações de Antigos Alunos do CM e do IO não recusam a evolução, receiam, sim, medidas intempestivas e mal pensadas que põem em causa o futuro das instituições. A impressão com que fico é que a Senhora Secretária de Estado conhece muito mal as instituições sobre as quais vai, eventualmente, tomar decisões. E, sobretudo, não se apercebeu de que a motivação central dos que hoje defendem o Colégio Militar, o Instituto de Odi-
17
velas, os Pupilos do Exército, e nem todos são seus antigos alunos, é saberem que estas escolas são importantes para o país. Este tem sido o motivo de orgulho dos seus alunos ao longo dos anos. Mas, uma vez que a Senhora Secretária de Estado deu ao seu texto o título: “Fazer história”, permito-me relembrar um facto. Durante o salazarismo, a única escola secundária estatal que nunca pertenceu à Mocidade Portuguesa foi o Colégio Militar. Nunca no seu edifício foi hasteada a bandeira da Mocidade Portuguesa. E quando o Batalhão colegial desfilava na Avenida com a sua bandeira tinha também orgulho em transmitir à população a mensagem: nós não somos da Mocidade. Por isso o CM, para além da solidariedade e dos seus alunos receberem uma formação com o objectivo central de serem úteis ao seu país, foi também uma escola de Liberdade.
Maria Margarida Pereira-Mueller (244/1967) Presidente da Direcção da AAAIO in DN de 4 de Setembro e Jornal i de 9 de Outubro e de 1 de Novembro de 2013 As alunas do IO querem ir para o CM? Não, obrigada! Às antigas alunas de gerações passadas nem tal lhes passava pela cabeça, que as actuais pudessem ir para o IPE. Fui aluna do Instituto de Odivelas, tal como todas aquelas que AAAIO representa. No Instituto de Odivelas alicerçamos os valores que nos eram transmitidos pelos nossos pais: lealdade, amor a verdade, sentido do dever e da honra, integridade moral, disciplina, responsabilidade e resiliência. Foi também no Instituto de Odivelas que aprendemos a defender os direitos da mulher. Por isso, sentimo-nos ofendidas, como mulheres do nosso tempo e como antigas alunas do Instituto de Odivelas, com o artigo de opinião da secretaria de Estado da Defesa aqui no Diário de Noticias sob o titulo “Fazer História”. 0 Colégio Militar e o Instituto de Odivelas são (ou foram até á data) escolas de ensino diferenciado por género. Por essa razão não conhecemos nenhuma mulher que quisesse frequentar
o Colégio Militar, tal como não conhecemos nenhum homem que quisesse frequentar o Instituto de Odivelas. Terá a secretaria de Estado da Defesa conhecido? Responsável pelos estabelecimentos militares de ensino, a secretária de Estado da Defesa desconhece, por completo, as culturas centenárias quer do Instituto de Odivelas, a escola que quer fechar, quer do Colégio Militar, para onde quer transferir as alunas do primeiro. 0 Instituto de Odivelas é uma escola centenária, com muitas provas dadas. É uma escola de excelência que tem formado muitas mulheres pioneiras e lideres nas suas profissões. As alunas do Instituto de Odivelas querem ter acesso a um ensino diferenciado por género para assim se desenvolverem ao seu ritmo e não ao ritmo mais lento dos rapazes, pois rapazes e raparigas crescem em ritmos diferentes. O ensino diferenciado por género é um direito de opção muito útil e bem-sucedido para os perfis adequados. É para isso que a diversidade de opções de ensino é útil e salutar. Querer castrar a
diversidade de opções é antiquado, ditatorial e antidemocrático. Também os interesses e a forma de olhar o mundo e a vida são diferentes. No Instituto de Odivelas, aprende-se que os caminhos para o êxito exigem liderança, confiança, independência, integridade e um instinto para o conseguir; as alunas aprendem a conciliar vários papeis, que irão surgir durante a sua vida – no final do seu percurso, as alunas saem tecnicamente preparadas para fazer a diferença para um mundo melhor. Reconhecidos académicos como David Chadwell e Carol Gilligan, entre outros, defendem que o ensino diferenciado por género promove a igualdade de educação para os jovens porque favorece uma maior participação feminina em profissões tradicionalmente ocupadas pelos homens. A primeira mulher que obteve um brevet militar em Portugal, Paula Costa, é uma antiga aluna do Instituto de Odivelas que a SEDN pretende fechar. A primeira mulher professora de engenharia em Portugal, precisamente no
18
Dos Antigos Alunos Ecos de um despacho
Instituto Superior Técnico, até aí um feudo tipicamente masculino, Isabel Gago, foi uma antiga aluna do Instituto de Odivelas que a SEDN quer agora fechar. A antiga directora-geral do Planeamento de São Tomé, Dr.ª Julieta Espírito Santo, foi uma antiga aluna do Instituto de Odivelas que a SEDN pretende agora fechar. A presidente da Associação de Mulheres Cientistas, Amonet, e membro do board da Plataforma Europeia Mulheres Cientistas (EPWS), Ana Maria Lobo Prabakar, foi aluna do Instituto de Odivelas que o Governo agora planeia fechar. A fundadora da CGD na Alemanha, Gisele Athayde Lampe, foi aluna do Instituto de Odivelas. A primeira catedrática de matemática do Mellon College of Science da Universidade de Carnegie Mellon em Pittsburgh, nos EUA, Irene Quintanilha Coelho da Fonseca, foi aluna do Instituto de Odivelas. A lista é grande e não cabe aqui neste espaço. O acto pretensamente libertador da mulher que o ministro da Defesa Nacional está a querer fazer ao encerrar o Instituto de Odivelas afinal é contra as mulheres. Nós éramos independentes e agora tiram-nos a independência. Bastávamo-nos a nós próprias e agora impõem-nos ficar sob jurisdição de um colégio com um modelo masculino de 200 anos. Fechar uma escola de excelência é um erro. Lembramos as palavras de Santo Agostinho quando falava sobre os três presentes. Assim,”no presente não podemos esquecer o que recebemos das gerações anteriores e devemos enriquecer o conhecimento para o transmitir as gerações futuras”. Deste modo, o”acto de educar é entender a doação, o tempo, a reflexão e as mediações várias existentes”. Fazer História? Se a secretaria de Estado conseguir que se abram as portas dos seminários às mulheres, então, aí sim, estará a fazer história e terá, certamente, algumas antigas alunas muito agradecidas.
A leviandade do Ministério da Defesa Por ter sido verificado que estas escolas não davam lucro, decidiu-se fechar o Instituto de Odivelas, que era a escola que menos prejuízo dava e que estava no lugar mais alto do ranking. Muito se tem falado e discutido sobre o Instituto de Odivelas (IO), o Colégio Militar (CM), os números, o género. Na semana passada teve lugar a inquirição de testemunhas no âmbito da providência cautelar da APEEAIO para que o MDN retroceda no seu plano de fusão do IO e CM. Ao
ouvir as testemunhas do MDN fiquei espantada com a leviandade com que o ministério tratou todo este assunto. Uma das testemunhas, directamente ligada ao gabinete da secretária de Estado e que acompanhou todo o processo, alegou que da parte do IO o MDN não recebeu nenhuma proposta. Como?! No final de 2012, a APEEAIO apresentou pessoalmente ao Ministro da Defesa Nacional, numa reunião bilateral, um plano de sustentabilidade e viabilidade do IO, que voltou a ser discutido numa reunião no início do ano corrente com o então secretário de Estado da Defesa Nacional e em meados do ano numa reunião conjunta com a Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas (AAAIO). A testemunha mencionou que só lhe foram entregues “umas quantas cópias de PowerPoint com gráficos e setas”. Que ignorância! Que leviandade! Que menosprezo pelas propostas apresentadas - mas que não impede o MDN de dizer que ouviu sempre as associações. O MDN alega que mandou elaborar estudos e mais estudos, tendo até sido criada uma comissão técnica de acompanhamento (CTA). O actual coordenador da CTA fala em “grande êxito de integração” - teremos ouvido bem? Como podem falar em grande êxito quando no CM estão 2 (duas!) alunas no 10º ano e 5 (cinco!) no 7º ano? Mais: quando foi perguntado ao coordenador da CTA quantas alunas havia no CM, ele não sabia. Como é possível o coordenador da CTA não saber quantas alunas estão no CM, como estão a decorrer os primeiros dias, se as obras foram feitas ou não?! Que acompanhamento é este? O estudo liderado pelo professor Marçal Grilo foi feito abrangendo a totalidade das três escolas, sem se ter em conta as especificidades de cada uma delas. Por ter sido verificado que estas escolas não davam lucro, decidiu-se fechar o Instituto de Odivelas, que era a escola que menos prejuízo dava e que estava no lugar mais alto do ranking. Uma pergunta: qual é a escola pública que dá lucro? No entanto, graças às medidas tomadas nos últimos dois anos, o IO está à beira de atingir o break-even. Este ano, faltam-lhe somente 14 alunas para esse ponto - que teria sido excedido caso o MDN tivesse autorizado as inscrições no 5º ano. O estado investe mas esse investimento dá frutos. Ao contrário do que acontece em muitas outras escolas públicas, em que os alunos reprovam ano após ano e nos quais o Estado gasta o triplo ou mais sem resultado, no IO as alunas aplicam-se a fundo, estudam arduamente e o resultado está à vista: este ano, 95% entraram na primeira fase de ingresso no ensino superior, 67% na primeira escolha, três alunas em Medicina.
Com tantos estudos mandados elaborar pelo MDN, não existe nenhum sobre o futuro do património. O Instituto de Odivelas funciona no Mosteiro de São Dinis, em Odivelas, do século xii (onde se encontra o túmulo do Rei Poeta), cujos custos de manutenção são inseridos nos custos da escola. A nossa pergunta é bem clara e ainda não teve resposta do MDN: o que vai acontecer ao Mosteiro de São Dinis? Há rumores que apontam interesses económicos privados. Não queremos acreditar em boatos, mas sabemos que não há fumo sem fogo. O Instituto de Odivelas tem de continuar aberto e a funcionar no Mosteiro de São Dinis em Odivelas. As alunas continuam cada vez mais alto. Que dizer de uma escola onde três alunas foram admitidas em Medicina e a grande maioria foi para os cursos da sua primeira escolha? Cada vez mais alto!
Pela continuidade do Instituto de Odivelas não baixamos os braços Ninguém fecha uma escola de referência com 113 anos por uma questão de género. Desde Outubro de 2011, a vida na AAAIO tem sido dominada por um tema que nunca pensámos que iria surgir: o encerramento da nossa escola, o Instituto de Odivelas. A ideia de fechar esta grande escola não é nova. Ao longo dos quase 40 anos de democracia, tem havido tentações de todos os quadrantes políticos. Quando se começam a afastar da realidade, muitos políticos têm querido aquele imóvel para lá instalarem diversas instituições. Mas o bom senso tem prevalecido e a escola tem seguido o seu caminho, sempre cada vez mais alto. Infelizmente, o actual Ministro da Defesa Nacional está a roçar os extremos. Nós, antigas alunas, quer a nível institucional, através da AAAIO, quer a nível individual, temos andado numa luta renhida para tentar travar as consequências mais negativas desta decisão. Não vamos parar esta luta de defesa da nossa escola e pela suspensão do Despacho nº 4785/2013, de 8 de Abril de 2013 – que fique bem claro, as meninas de Odivelas têm uma resiliência muito grande e não baixam os braços. A decisão do encerramento foi tomada, unilateralmente, pelo MDN (que nunca visitou o IO) e foi apresentada à comunidade escolar e ao município como um facto consumado. As primeiras causas apontadas para o encerramento foram económicas, mas estas foram rapidamente rebatidas por estudos de rentabilidade e sustentabilidade apresentados pela APEEAIO. O MDN passou então a realçar a segunda grande
Dos Antigos Alunos Ecos de um despacho
causa, que agora usa como espada da liberdade: a questão do ensino diferenciado por género em ensino oficial, que vai contra os princípios da Constituição (a nossa Constituição serve para umas decisões, para outras é um entrave). Muitas têm sido as acções pela continuidade do Instituto de Odivelas, cuja listagem aqui seria enfastiante. De audiências nos gabinetes do Presidente da República, do primeiro-ministro e do ministro da Defesa Nacional, com quase todos os grupos parlamentares, com autarcas e vereadores, com o chefe de Estado Maior do Exército, a conversas com diversos governantes, políticos de topo e diversas individualidades. Temo-nos desdobrado em acções e movimentos, mas até agora a amorfia de todos os dirigentes deste país tem sido quase, diria mesmo, doen-
tia. Todos estão connosco, compreendem a nossa luta, não entendem como se pode encerrar uma escola de referência, mas nada podem fazer. Chegamos mesmo a perguntar-nos quem é que pode fazer alguma coisa para travar sonhos megalómanos dos nossos dirigentes… Todas estas acções são importantes, pois são muitas as questões que ficam no ar deixando na boca um sabor acre por não terem resposta oficial: • Qual é realmente o objectivo desta fusão? • Porque dos três EME se encerra a escola com menores custos e com melhores resultados escolares a nível de rankings nacionais? • Quanto pensa o MDN poupar com esta fusão, atendendo a que, por um lado, o Mosteiro continuará a ter custos de manutenção e conservação, e por outro lado no decorrer dos últimos anos foram
feitas obras de beneficiação no IO que agora não serão rentabilizadas? • Quanto vão custar as obras de adaptação do CM e a construção de novos edifícios para o internato feminino? • Atendendo a que o IO tem características próprias, qual é o critério de comparação com outras escolas? • Como é calculado o custo médio por aluno? • Como se valoriza o retorno de cada escola? • Como se valoriza a formação de excelência ministrada no IO? • Como se valoriza uma história e tradições com 113 anos? Temos muitas perguntas a que o MDN não dá respostas. Temos muitas sugestões, a que o MDN faz orelhas moucas. Uma coisa é certa, bater-nos-emos sempre pela nossa escola, pela continuidade do Instituto de Odivelas.
José Luís da Fontoura Canelhas (302/1964) Carta da Semana Carta dirigida ao Director do Jornal Expresso, a 7 de Setembro de 2013
T
enho escrito alguns textos nas redes sociais sobre a polémica criada com a “reformulação” e consequente extinção do Colégio Militar onde estudei, e vivi, de 1964 a 1971. O que o “Colégio” significa para nós que lá andámos, os ideais que nos foram transmitidos (e não impostos), a identidade e a cultura muito próprias que constituem uma das suas mais fortes tradições, e os valores intemporais que absorvemos e que por sua vez transmitimos pela vida fora, com toda a naturalidade, na família, no trabalho, e na sociedade, levam a concluir, sem qualquer presunção ou exagero, que o Colégio Militar, uma instituição com mais de 200 anos, tem sido um factor de valorização patrimonial do país, e que acabar com ele – matá-lo – constituiria um verdadeiro crime. A lista de notáveis ex-alunos do Colégio Militar é impressionante, e em ramos de actividade que não se cingem apenas à vida militar. Alguns deles deram um contributo decisivo ao nosso país, em algumas das suas horas mais amargas e difíceis. A larguíssima maioria é um exemplo para a sociedade, pelo seu aprumo, rigor e carácter, e marcam a diferença num país (e num mundo) que vem paulatinamente aniquilando todos estes valores, em nome de uma bandalheira superiormente organizada. O meu pai, o meu avô, e os meus tios-avôs por lá andaram: percorremos os mesmos cor-
redores, aguentámos o mesmo espartano regime, passámos pelo mesmo frio, alinhámos nas mesmas tradições, estudámos quase as mesmas matérias, fomos constantemente avaliados, tivemos as mesmas saudades da família, e aprendemos a desenrascarmo-nos sozinhos perante as dificuldades. Sofremos com certeza. Mas isso moldou-nos o espírito, endureceu-nos o corpo, e tornou-nos porventura mais exigentes: connosco próprios e com os outros. E isso é bom. Sou apenas mais um de entre os muitos ex-alunos do CM, e no meu pequeno mundo – o da família e das empresas – tentei sempre passar uma mensagem e uma postura de acordo com o que aprendi (consegui umas vezes, outras nem por isso). As fasquias encontram-se neste momento muito baixas: é tudo fácil, está tudo disponível, não há esforço, não há espírito de sacrifício, os direitos são todos e as obrigações nenhumas. A juventude deste século XXI está a ser mal preparada para os desafios cada vez mais duros que vai ter de enfrentar quando pretender entrar no competitivo mundo do trabalho: que ninguém tenha ilusões, porque a vida real é exactamente ao contrário do ambiente facilitista em que vivemos. Nunca uma “marca” que representa um património ético e institucional como o Colégio Militar foi tão necessária.
19
20
Dos Antigos Alunos Ecos de um despacho
Roberto Ferreira Durão (15/1942) Machadada Final 8 de Setembro de 2013
M
achadada final ou grave ofensa a uma Instituição (até o nome lhe pretendem mudar!...) com mais de dois séculos de história! Será que por detrás disto não haverá interesses ocultos “economicistas” que optam por alterações não realistas, ferindo quase de morte (por ignorância ou intencionalmente?) desrespeitando, nas suas raízes e tradições profundas, a mística, os altos valores que orientam as mais prestigiadas Instituições. Neste caso o Colégio Militar que nunca se mostrou alheio a certas mudanças naturais que não destruam a sua Essência e Princípios. Deixem-no Ser, deixem-no viver como é, não almejando nada mais do que Servir a Pátria (quem conhece hoje o sentido real e profundo desta palavra?). Árvore de 210 anos que tem ofertado muitos dos seus melhores frutos ao País e até mesmo ao mundo!. Ninguém duvida que haverá algumas alterações e mudanças a fazer mas não como alguns
que detêm o poder querem implementar sem se dignarem ouvir-nos. A Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar (e não só) está aberta para apresentar outras soluções mais adequadas. Todos sabem ao que me refiro. Termino esta mensagem dizendo apenas isto, com tristeza (não confundam com saudosismo): Vá, estraguem, destruam aquilo que de mais valioso e puro ainda temos e guardamos com orgulho e fé! De uma coisa ficai certos: «Não vos darei o meu machado!...» Não posso acreditar que alguém, (com ou sem machados, por ocultos interesses ou não), jamais conseguirá derrubar ou fazer estranhos e absurdos «enxertos» a esta Árvore mais que bicentenária. Repito, há outras opções, temos outros projectos. Só precisam de nos ouvir. Temos connosco o poder da convicção e do diálogo, o realismo da inteligência ou, por outras palavras, «A FORÇA DA RAZÃO» e não “A razão da Força».
João Paulo Bessa (200/1957) Crendices no blog Finisterra Suave a 8 de Setembro de 2013
C
hegou-se ao espelho, viu-se heroína e proclamou: “Nesse dia passarei a ter uma coisa em comum com os alunos do Colégio Militar: nesse dia estaremos a fazer história.” 1 Como do reflexo não viesse sinal de alarme desta abusiva imposição de partilha de vontades, excedeu-se e definiu cronologicamente um Setembro de 2013 com uma desmedida justificação: “O ano em que será extinta a ultima limitação de género da república portuguesa.” 2 Ó senhora Berta Cabral, a última limitação de género na República Portuguesa?! Não o faz por menos?! Em que mundo vive, para onde olha e o que vê? A última limitação?!… Pensei que o argumento surgisse mais cedo – era imperdível, não era? Nada como justificar uma fusão apressada, cara e arruinadora de património com uma causa nobre – Igualdade de Género e Direitos da Mulher – e que serve simultaneamente de acusação: os Antigos Alunos
do Colégio Militar não passam de um bando de machistas empedernidos. Condição, afirma-se aos sete ventos, que é a única e verdadeira razão da oposição dos Antigos Alunos: “Garantir que as mulheres continuariam sem entrar no Colégio Militar.” 3 Tenho, senhora Secretária de Estado Adjunta e da Defesa Nacional, experiência suficiente de vida e bom conhecimento das questões de género – aprendo em casa: sou casado com Ana Coucello, feminista, presidente (2000/05) da Association des Femmes de l’Europe Méridionale (AFEM), vice-presidente (2002/04) do Lobby Europeu de Mulheres, presidente (2006/2008) da Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres e antiga aluna (nº68/59) do Instituto de Odivelas – para não cair na primeira aparência só porque alguém se lembra de chamar o assunto à colação para melhor servir os interesses que conduz. E, claramente, não aceito o argumento.
Porque se fosse uma questão de direito de acesso a solução seria simples: abria-se o Colégio Militar à frequência de raparigas – solução que não obrigaria a dar cabo – como pretendem dar – do secular Instituto de Odivelas. Que tem pergaminhos históricos. Patrimoniais. Inimitáveis. E não é assim. A Igualdade de Género só é aqui chamada como bengala de argumentário coxo. Porque tudo isto navega contra a sedimentação da História acobertado no disfarce da pretensiosa inovação da marca de Estabelecimentos Militares de Ensino e na insinuação, em primária caça de elogios, de que o peso da tomada de decisão está no rompimento de um inventado Clube do Bolinha onde menina não entra, mistificando e usando o que dá jeito para ignorar o que incomoda e criando contas, sem profundidade e confronto, para justificar a mais fácil das soluções: acabar com tudo e reduzir a História a zero. Assim, neste quadro que me impuseram,
Dos Antigos Alunos Ecos de um despacho
assiste-me o direito de perguntar: a quem vai interessar o Forte de Santo António da Barra sobre o mar que toca o Tejo? e a qualidade das instalações de Odivelas? e o Monumento Nacional do Mosteiro de S. Dinis? e o Claustro da Moura? e a Torre da Madre Paula? e a Sala do Tecto Bonito? A quem vão servir? quem ficará com eles, para que uso e a troco do quê? Aliás se o problema fosse uma verdadeira preocupação para encontrar soluções de acordo com os méritos da Igualdade de Género, também o Instituto de Odivelas abriria as suas portas a rapazes. Ah! Mas isso era impossível por causa dos custos, imagino-a a responder, senhora Secretária de Estado, num aqui d’el-rei de primeira linha. Mas será?! Por favor, senhora Berta Cabral, não me venha com a pomposidade da estrutura de custos: há mais de dez anos que a Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar tem vindo a fornecer aos responsáveis de mais alto nível pela instituição, soluções que, se aplicadas, já teriam feito do Colégio Militar uma unidade auto-sustentável. E sem alteração do seu carácter fundamental. As razões da fusão destruidora – destruindo num despacho aquilo que levou séculos a construir – só podem ser outras…que valerão o exagero do custo da operação. Como já o disse mais do que uma vez não é o género feminino e a sua eventual frequência do Colégio Militar que me preocupa ou me faz espécie – a adaptação ao sentido dos tempos a isso levaria. O que me faz espécie é esta avidez, esta insustentável leveza de solução pretensiosa onde tudo parece valer para impor um duvidoso interesse já decidido. A que se acrescenta a perigosa vaidade de Fazer História. E para o garantir nada como ouvidos de mercador em contraponto à demagogia de argumentos falaciosos.
21
O que continua em causa é a incapacidade de proceder às reformas que garantam que o carácter das instituições caminha sempre no sentido da excelência: escolar, desportiva e da aprendizagem de liderança baseada em valores perenes. Fazendo destas instituições de ensino uma demonstração cada vez mais qualificada da extensão do serviço público prestado pelo Exército Português. O que me incomoda, o que me indigna, senhora Secretária de Estado Adjunta e da Defesa Nacional, é o desplante da escolha cega e surda de um caminho desastroso para o carácter futuro destas instituições de ensino, nomeadamente – e para o caso que mais me diz respeito – do Colégio Militar. Melhor prova?! O facto de Marçal Grilo, conceituado especialista e convidado pelo seu actual Ministério da Defesa para estudar e propor as hipóteses de reforma, ter assinado a petição enviada ao senhor Presidente da República para pôr fim ao despacho ministerial que formaliza a fusão. Fazer História. Porque o titula, julga-se no direito a pretendê-lo. Está feita, diz a senhora Berta Cabral e o mundo curva-se. Curvar-se-á?! Deixá-la-á sonhar com a referência, na memória dos tempos, do seu nome na cronologia de sempre da luta – essa sim, quantas vezes heróica – pela Igualdade de Género? Fará História?! Ficará na História?! Só se for, senhora Secretária de Estado Adjunta e da Defesa Nacional, num rodapé a lembrar abuso consumado de uma operação infeliz e prejudicial ao património de Portugal. E que mais não é do que ofensa gratuita à memória de muitos. 1 Fazer História, Berta Cabral in Diário de Notícias de 2/9/2013 2 idem
3 ibidem
A opinião de Ricardo Rosa Sobre as consequências de alterações irreflectidas em projectos educativos centenários. 9 de Setembro de 2013
O
primeiro contacto que tive com o Colégio Militar aconteceu no longínquo ano de 1986, tinha eu 10 anos. Ocorreu no decurso de um dos jogos de Futebol de um torneio organizado pelo Colégio São João de Brito nas suas instalações no Lumiar. Era um torneio de futebol 8 no qual participavam os seguintes Colégios:
Colégio São João de Brito; Colégio Salesianos do Estoril; Colégio Militar; Colégio Salesianos de Campo de Ourique ou Oficinas de São José; Colégio Nuno Álvares Pereira da Casa Pia de Lisboa; Sport Lisboa e Benfica e Sporting Clube de Portugal. Em cada partida que o Colégio Militar disputa-
va e agora, não me recordo bem se era no início ou no fim das mesmas, tinham um ritual muito próprio. Tratava-se de um grito ou um cântico breve. Aquele ritual, já por si só os distinguia das outras Equipas participantes, tal como o Haka, distingue a Equipa da Nova Zelândia no Mundo do Rugby.
22
Dos Antigos Alunos Ecos de um despacho
Mas não foi o ritual que apresentavam que mais me impressionou. O que me impressionava era a forma aguerrida, mas leal com que disputavam cada lance; a forma gentil com que se preocupavam com alguma mazela decorrente de alguma entrada mais impetuosa sobre os adversários; o verdadeiro Espírito de Equipa que brotavam para o terreno de jogo; a forma elegante e o desportivismo com que aceitavam algum resultado menos favorável. Notava-se-lhes algo de distinto. Notava-se-lhes Disciplina. Eu também fui aluno interno num Colégio que em tempos a Disciplina era a sua principal característica. Um Colégio que nos seus bons tempos se produzia grandes Homens. Foi um Colégio que nos seus bons tempos deu grandes nomes à nossa sociedade. Foi um Colégio frequentado por Cândido de Oliveira e Ribeiro dos Reis, – os fundadores do Jornal A Bola. Foi o Colégio de alunos como: Cosme Damião, António Zeferino, Francisco Calisto e Vergílio Cunha – os fundadores do Sport Lisboa e Benfica. Foi o Colégio de alunos como: os pintores Domingos Sequeira, Vieira Portuense ou Gil Teixeira Lopes; foi o Colégio de alunos como os escultores Hélder Baptista e Martins Correia. Foi o Colégio de Francisco dos Santos, o primeiro futebolista português a jogar no estrangeiro, na Lázio que chegou a capitanear e onde
se destacou. Francisco dos Santos não só era jogador de Futebol como escultor e foi o autor da escultura mortuária “Poeta” para o túmulo de Gomes Leal, no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa, foi autor do Monumento ao Marquês de Pombal, na praça do mesmo nome em Lisboa. Francisco dos Santos foi o autor do busto feminino oficial da República portuguesa. Francisco dos Santos foi também um dos fundadores da Associação de Futebol de Lisboa. O primeiro nadador a representar Portugal nos Jogos Olímpicos foi Mário da Silva Marques. Foi um Colégio que em tempos acrescentou muito valor à Sociedade Portuguesa. Foi um Colégio que tinha um modelo educativo muito próprio que cultivava Valores e Princípios Nobres. Foi um Colégio que ensinava Valores e Princípios que fazem de um homem, um Homem. Foi um Colégio com um modelo educativo que cultivava a Disciplina, a Dignidade, a Honra. Foi um Colégio que ministrava Valores como a Lealdade, a Responsabilidade e a Virtude. Foi um Colégio que fomentava o Companheirismo a Honestidade e a Sinceridade. Até que um dia o Governo decidiu reformar um Modelo Educativo de Décadas e que deu frutos, como referidos alguns. Reformou um Modelo Educativo argumentando que era um Modelo obsoleto, em que meia centena de crianças partilhavam uma camarata, dando lugar pequenas unidades no interior dos colégios, lares, cada um com cerca de 20 crianças e sem uniformidade de sexo nem idade. Três monitores acompanham os jovens 24 horas por dia. Além de jardins infantis, pré-primário e ensino básico, a maioria dos estudantes frequenta cursos técnico-profissionais, em áreas tão variadas como a agricultura, animação social, panificação ou metalomecânica. Nos dez estabelecimentos da instituição, todos na zona da Grande Lisboa, funciona ainda o ensino especial, o apoio a surdos e cegos adultos e a formação profissional especial. Também as inscrições nos estabelecimentos desse Colégio duplicaram após a reforma. As infra-estruturas do Colégio melhoram de forma inimaginável. Poderia avançar um conjunto de indicadores que nos permitiriam afirmar que a reforma foi um sucesso. Indicadores semelhantes àqueles que o governo propagandeia dizendo que as inscrições nos colégios de regime militar mais que duplicaram como se a reforma do Modelo Educativo começa já a apresentar resultados. O que é certo é que os indicadores que devemos utilizar para avaliar a reforma de Modelos
Educativos só aparecem daqui a uma Década. E afirmo com toda a certeza que a reforma que atingiu o Colégio das personalidades que enunciei não produziu resultados positivos, bem pelo contrário. Aquele Colégio que tinha o Modelo Educativo obsoleto era a Casa Pia de Lisboa. A reforma do Modelo Educativo obsoleto da Casa Pia de Lisboa começou a processar-se aquando os seus 205 anos. Este ano a Instituição completou a 3 de Julho 233. Tenho a certeza que os indicadores que mostram verdadeiramente se a reforma do Modelo Educativo obsoleto foi um sucesso ou não é o número de Alunos que a Instituição se poderia orgulhar de ter oferecido à Sociedade como ofereceu outrora. Eu vivi em camarata, no regime obsoleto, como apelidou o Governo e antigamente era um orgulho dizer que tinha sido Aluno da Casa Pia de Lisboa, exactamente pelos Grandes Homens que saíram de lá no passado. Hoje tenho vergonha de o afirmar e creio que a responsabilidade dessa vergonha é do Governo que reformou um Modelo Educativo obsoleto, mas que produzia resultados. Antes a Casa Pia era vista como a Feliz Sementeira, hoje nós sabemos a fama que tem. Até ver, e Deus queira que eu esteja errado, o Governo vai destruir o Colégio Militar e os Pupilos do Exército da mesma forma que destruiu a Casa Pia de Lisboa, reformando um Modelo Educativo que resultou durante mais de dois Séculos. Vamos assistir a um Disparate dos Grandes, daqueles que os nossos políticos nos têm habituado. É assim que expresso a minha total Solidariedade Convosco. Zacatraz
Dos Antigos Alunos Ecos de um despacho
23
A resposta de Catarina Nicolau Campos ao texto patético de Domingos Amaral no seu blog 11 de Setembro de 2013 Caro Domingos Amaral, O meu nome é Catarina, sou uma menina de 23 anos. Vejo pelo seu post que, há semelhança de tantos jornalistas, escreve sobre o que não sabe, ou não conhece. Porque se conhecesse o Colégio Militar, por certo já teria percebido que as meninas são, nesta grande trama, a menor das questões. Deixe-me que lhe diga, desde já, que os meninos do Colégio não são retrógrados nem tontos no que toca a meninas. Aliás, esta frase prova uma vez mais o seu alheamento total da realidade. Se há homem que encante e goste de encantar, é um aluno do Colégio e nós, meninas, sabemo-lo muito bem. Mais ainda, são eles que “costumam levar à loucura e à perdição”, como refere no texto, nobres meninas. Mas sabe, no Colégio Militar os miúdos aprendem que as meninas não são meros objectos sexuais, como a Maxmen, por exemplo, da qual o Domingos já foi director, tanto se esforça por apregoar com as suas capas. Aprendem que as
meninas têm dignidade própria, inteligência e alma, para além de serem coisas boas de se ver. Quanto à educação diferenciada, o Domingos é um homem com estudo superiores, basta-lhe uma pesquisa superficial, mas intelectualmente honesta, no Google, para perceber que se trata de discriminação positiva, de respeito pelas formas diferentes de aprendizagem entre rapazes e raparigas. É científico. Os resultados são melhores, e isso é indiscutível. Mas a questão nem é essa. Basta um pequeno esforço para perceber isso. Da minha parte, digo-lhe desde já que não sou ex-aluna do Instituo de Odivelas. Mas sou neta e bisneta de ex-alunos do Colégio, e lembro-me bem de como o meu avô falava do Colégio Militar. Como se falasse da sua casa, da sua Família, dos seus irmãos. Amigos até à morte, presentes todos no seu funeral, mesmo passado 70 e muitos anos desde o primeiro dia que se conheceram. É como lhe digo, o Domingos não sabe do que está a falar.
Francisco Vilela (439/1994) Colégio Militar em risco Vida Económica de 13 de Setembro de 2013
S
ou antigo aluno do Colégio Militar e, sendo-o, pauto a minha vida por um conjunto de valores e princípios que lá me foram não só incutidos como vivenciados. Costumo escrever sobre gestão e esta abordagem poderá fugir à que tradicionalmente apresento, no entanto as transformações que se prevêem acontecer no Colégio Militar (Despacho n.º 4785, de 8 de Abril de 2013 do MDN) são um caminho para o seu fim. Este infortúnio pode ser comparado com muitas das reestruturações feitas em empresas que, por não levarem em conta aspectos fundamentais, acabam por revelar-se prejudiciais e levam as ditas empresas ao encerramento. Factores como os valores ou a missão determinam a essência de uma instituição e nunca
devem ser descurados numa reestruturação. O meio envolvente, como já escrevi anteriormente, é fundamental para qualquer instituição. Numa reestruturação todas as partes interessadas devem ser consideradas e deve ser prestada atenção ao meio envolvente que efectivamente releva para a situação. Basta que estes dois pontos sejam descurados para que deixe de existir uma reestruturação, na melhor das hipóteses haverá lugar à fundação de uma nova instituição, mas, de qualquer das formas, o resultado final será sempre o desaparecimento da instituição original. Por fim, numa reestruturação todos os estudos e alterações propostas devem preservar e garantir a viabilidade futura da instituição,
mantendo intactos (o mais possível) os pilares que a fazem suster-se. Reestruturar uma instituição para a tornar mais eficiente é corrigir e melhorar o que for necessário sem alterar o fundamental. Caso contrário, será uma dissolução com a fundação de uma instituição diferente. Mas, se assim for, o responsável deve assumir essa posição e não declarar que se trata de uma reestruturação, sob pena de se ser considerado um mau gestor ou de ter que assumir um insucesso na reestruturação. Nos moldes em que hoje é conhecido, e claro está com as devidas adaptações ao evoluir dos tempos, mas sem nunca ser alterada a sua essência, o Colégio Militar, fundado em 1803, passou pelas invasões francesas, pelo fim da
24
Dos Antigos Alunos Ecos de um despacho
Monarquia, pela 1ª e 2ª Guerras Mundiais, pela revolução do 25 de Abril, e sempre foi capaz de se manter firme nos seus valores e princípios. Por ter sido sempre considerado uma instituição de excelência sempre se manteve e se adaptou aos diferentes regimes e diferentes fases da história. Até hoje o Colégio Militar deu ao país 5 Presidentes da República, ministros, secretários de Estado, altas patentes das forças armadas, personalidades das artes, do espectáculo, do desporto, grandes nomes da investigação, da gestão. De todas áreas e em todas as áreas os antigos alunos que se distinguem são reconhecidos pelas pessoas que são e pelo valor que trazem para o seu país ou para as organizações onde estão inseridos. Talvez seja a modéstia dos antigos alunos do Colégio Militar a responsável por preservar escondida da grande opinião pública a relevância central desta casa para o nosso país ao longo dos últimos dois séculos. Uma reestruturação como a agora apresentada (Despacho n.º 4785, de 8 de Abril de 2013, do MDN) virá a reflectir-se no fim do Colégio Militar e não numa evolução do mesmo, como nos querem fazer acreditar. A necessidade de reestruturação é uma inevitabilidade, e por isso mesmo a Associação de Antigos Alunos e a Associação de Pais já apresentaram alternativas às mudanças impostas
mas cuja contribuição tem sido sistematicamente desacreditada. Em termos práticos, é notório que existem demasiadas, e demasiadamente importantes, questões que deveriam ser consideradas para esta reestruturação agora imposta. Porquê descaracterizar, levando à perda de identidade, uma instituição que tanto deu e dá a este país? Por questões de tesouraria cuja solução já foi proposta e repetida por aqueles que melhor conhecem, incluindo aqueles a quem o próprio decisor encomendou um estudo? Por questões de género, quando as meninas de Odivelas se lamentam pela extinção de uma casa de bem e os seus pais afirmam não querer uma solução de ensino indiferenciada (diferenciar é diferente de discriminar)? Por que razão tornar o Colégio Militar misto, tendo para isso que realizar-se um investimento de 3 milhões de euros sem que esteja estudado qual o impacto do mesmo, nem em termos do futuro do Colégio como hoje é conhecido, nem em termos de viabilidade económico-financeira do investimento? Porquê descaracterizar uma instituição como o Colégio Militar quando existem propostas assinadas pelas associações de antigos alunos e de pais que garantem a viabilidade do Colégio Militar sem a perda da sua identidade?
Pedro Miguel Correia Vala Chagas (357/1977) Reforma dos EME: Sexo Consentido vs Violação Blog do 357/77, desde os tempos do Colégio até à eternidade... a 18 de Setembro de 2013
E
sta semana, pela primeira vez em 210 anos, foram admitidas meninas como alunas do Colégio Militar (CM). Não há dúvidas de que se trata de um momento histórico. Então porque é que eu não estou a exultar de alegria? Sempre fui aberto à entrada de meninas no CM, sempre acreditei que isso ia acontecer mais tarde ou mais cedo, e sempre acreditei que isso iria acontecer por fusão com o Instituto de Odivelas (IO). Até o escrevi há 8 anos num documento que circulou na comunidade de Antigos Alunos. Então porque é que eu não estou a exultar de alegria? Sempre imaginei um momento em que, independentemente das questões financeiras, as partes envolvidas, num processo bem conduzido pela tutela, concordariam que era pos-
sível fundir os 3 Estabelecimentos Militares de Ensino (EME) num só, seguindo o modelo de alguns prestigiados colégios ingleses, e que o escolhido seria o CM, pela sua maior antiguidade, maior prestígio, e melhores instalações. Sempre imaginei que o modelo seleccionado permitiria preservar o que de melhor existe nos 3 EME, mantendo turmas com ensino diferenciado para quem o desejasse, mantendo Batalhões separados por género para respeitar a especificidade e desenvolver as capacidades de liderança de ambos, mantendo um número de alunos(as) externos(as) limitado para não destruir o internato, mantendo as tradições, etc. É claro que isso levaria a uma mudança no CM, mas o CM tem mudado ao longo dos anos,
tem-se adaptado à conjuntura em que se insere, e continuaria a fazê-lo, mantendo no entanto o espírito do seu Fundador. Mas porque é que eu não estou a exultar de alegria? Não estou a exultar de alegria porque existe uma diferença - toda a diferença do mundo entre sexo consentido e violação, apesar de, em termos objectivos, serem ambos sexo. A reforma actual foi montada e executada contra tudo e contra todos, devido à obstinação de um homem que usa de forma autoritária o poder que foi colocado à sua disposição. Esta reforma acontece desta forma essencialmente por dois motivos simples: porque ele quer e porque ele pode. Os Antigos Alunos do CM foram violados por-
Dos Antigos Alunos Ecos de um despacho
que andam desde o ano 2000 a fazer estudos sobre o futuro do Colégio, e a tentar convencer a tutela de que é necessário fazer mudanças, sem que ninguém quisesse pegar no tema. Neste processo de mudança foram propositada e ostensivamente ignorados, não tendo resposta às cartas escritas, aos pedidos de audiência, e aos apelos feitos. Além disso, sem que a sua opinião fosse ouvida e discutida, foram chamados pelo poder político de retrógrados, machistas, elitistas, e até de corruptos, com insinuações sobre a proveniência do dinheiro usado na campanha publicitária. As Antigas Alunas do IO foram violadas porque foram informadas de que a sua escola seria extinta sem terem qualquer possibilidade de intervir no processo, nem para o evitar, nem para o condicionar. Tal como os Antigos Alunos do CM, viram os seus apelos ignorados e tiveram direito aos mesmos “piropos” com que estes foram mimados. Não tendo entre as suas Antigas Alunas Generais, ex-Ministras, etc., foram “trituradas” com muito mais facilidade pela “máquina”. Os pais e encarregados de educação do CM e do IO foram violados porque nunca ninguém quis discutir com eles o futuro das escolas onde decidiram colocar os seus filhos. “Isto é assim, e
se não gostam ponham os vossos filhos noutra escola qualquer”, foi a mensagem que acabaram por assimilar de todo este processo. Naturalmente que também os(as) respectivos(as) filhos(as) e educandos(as) foram violados(as) neste processo, mas se a opinião dos pais e encarregados de educação é considerada irrelevante, muito mais irrelevante será a opinião de crianças e adolescentes. O Director do IO foi violado porque enviou uma mensagem de simpatia e esperança aos pais e encarregados de educação das alunas, e teve imediatamente direito a “um novo desafio”. Um conjunto de figuras de peso na sociedade, que foram signatários da carta ao Presidente da República, bem como diversos comentadores que se manifestaram a favor do diálogo e do bom senso, foram violados porque as suas opiniões foram simplesmente ignoradas. Foi como se nunca tivessem sido proferidas. A Sociedade Civil, através de milhares de pessoas que manifestaram nas redes sociais simpatia para com o CM e o IO, apelando à procura de uma solução mais adequada, foi violada. São “povo”, e a sua voz “não chega ao céu”. Tudo isto acontece enquanto o Ministro tece rasgados elogios ao ensino dos EME, apresen-
25
tando-se como o maior defensor dos mesmos. A imprensa comentou que, “apesar da polémica, as meninas foram bem recebidas...” Claro. O que é que imprensa esperava? Que as meninas e os respectivos pais e encarregados de educação, que não têm qualquer responsabilidade nesta “palhaçada”, fossem maltratados numa instituição onde o respeito é um dos principais valores transmitidos? O Director do Colégio Militar fez o seu papel: garantir a harmonia e o bem-estar dos alunos e alunas colocados à sua responsabilidade. Aquilo que podia ter sido um momento especial para toda a comunidade dos 3 EME, acaba por ser um momento em que um Ministro, com a respectiva “máquina”, se impõe com autoritarismo sobre duas instituições e os respectivos representantes, e choca mais porque nem sequer houve conversa para perceber se se chegava a um entendimento, partiu-se logo para a violação. Como acontece com todas as violações, a vida continua, mas as marcas demoram a sarar, e há algumas que ficam para sempre. Acima de tudo, fica no ar a pergunta que os Antigos Alunos fizeram na sua campanha: “porquê?”
O Manto Diáfono por Eduardo Cintra Torres Opinião in Jornal de Negócios - Quinta-Feira, 19 de Setembro de 2013 Desinformação em torno do Colégio Militar Fazer um vídeo a gozar, não solicitado (?) pelo cliente, e sugerir uma ligação dos Antigos Alunos a uma iniciativa gay são métodos rascas e desinformativos impróprios de publicitários e de agentes de “comunicação”.
O
anúncio publicitário da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar (AAACM) teve tal repercussão que os próprios responsáveis pelo anterior anúncio do governo promovendo a fusão dos estabelecimentos militares de ensino intervieram em força com outros meios. Critiquei os dois anúncios, o do Ministério e o da AAACM na semana passada: em Julho, o MDN usou a publicidade comercial na TV para promover como facto consumado a fusão do
Colégio Militar e dos Institutos de Odivelas e dos Pupilos do Exército. O reclame centrava-se nas personalidades históricas que lá passaram, evitando singularizar cada escola. Em Agosto, a AAACM ripostou com um anúncio de TV centrado na defesa da instituição como guardiã duma tradição e de valores e na interrogação, por personalidades que passaram no colégio, do porquê da intenção do Ministério de desvirtuar a escola na fusão. O anúncio foi inesperado, pois não é hábito a sociedade civil recorrer à publicidade comercial em TV para se fazer ouvir, reunir apoio e pressionar o poder. Logo se questionou a origem do dinheiro para pagar a campanha, o que não sucedeu com a utilização de dinheiro público para pagar a campanha anterior do Ministério. Essa “dúvida”, característica da desinformação, obrigou a AAACM a esclarecer que resultava duma recolha de fun-
dos junto da sua própria comunidade. A desinformação precisou de ir mais longe. Entrou em cena a agência de “comunicação” Next Power, à qual se atribui a autoria da campanha de Julho do Ministério (http://www.dinheirovivo.pt/Buzz/Artigo/CIEC0271693.html). Pedi confirmação da autoria do anúncio ao Ministério da Defesa, que não respondeu à minha pergunta, mas obtive-a de outras fontes. A Next Power interveio inopinadamente, pois não é comum os publicitários agirem em nome próprio nas causas dos clientes, sendo norma ficarem na retaguarda, dando a primazia aos clientes. A Next Power fez um vídeo gozando com o anúncio da AAACM; pô-lo no Youtube (http:// www.youtube.com/watch?v=097 ifC2Ei2g) e publicitou-o no seu site no Facebook. Nele imitam a sequência de “porquês” do anúncio da
26
Dos Antigos Alunos Ecos de um despacho
Associação, para sugerir que os antigos alunos não querem mulheres no Colégio, o que não constava do anúncio da AAACM. Rodrigo Moita de Deus, responsável da agência, foi mais longe. No seu blogue, aproveitou a estadia de um cruzeiro gay em Lisboa para escrever o seguinte: “Pensei que fosse mais [uma] acção de protesto da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar” (http://31daarmada.blogs. sapo.pt/6068275.html). Estes actos da Next Power estão tipificados nos métodos das operações concretas de desinformação, como a inversão dos factos, a mistura verdadeiro-falso e a modificação do motivo, métodos sumarizados no capítulo “Como funciona”, na Pequena História da Desinformação, de V. Volkoff (Ed. Notícias, 2000).
A Next Power é uma agência inspirada por Luís Paixão Martins, proprietário da LPM, que precisava de penetrar na direita política. Ele estava, há cerca de cinco anos, totalmente identificado com José Sócrates, de quem foi um dos inventores e principais beneficiários no universo concorrencial das agências de “comunicação”. Vendo que o governo Sócrates cairia, foi criada a Next Power, que, como o nome indica, pretendia obter negócio no “poder seguinte”, o do PSD. Para isso, usou como “front man” Moita de Deus, identificado com o PSD. Controlando a Next Power, Paixão Martins pôde assim abrir uma janela de oportunidade na alternância do bloco central do PS para o PSD. Mesmo que não se aprecie estes meandros dos negócios próximos da política, eles são
aparentemente legais. Todavia, a acção concertada de desinformação da Next Power e de Moita de Deus neste caso ultrapassam os limites da ética e da decência em comunicação. Fazer um vídeo a gozar, não solicitado(?) pelo cliente, e sugerir uma ligação dos Antigos Alunos a uma iniciativa gay são métodos rascas e desinformativos impróprios de publicitários e de agentes de “comunicação”. lnfelizmente, passam ignorados e impunes nos media que, se ontem dependiam dos anunciantes, hoje dependem também destas agências de “comunicação’’ que encharcam as redacções de contactos, convites aliciantes e “notícias” para encher os on-lines e o papel. eduardocintratorres@gmail.com
Oscar Mascarenhas, Jornalista e Provedor do leitor no Diário de Notícias Até os factos concretos têm verificação e interpretação que podem ser contraditórias in Diário de Notícias de 5 de Outubro de 2013, transcrito por amável deferência do seu Autor.
A
té que a vida tenha a misericórdia de se despedir de mim, mas decerto até final do meu desassossegado exercício de provedor do leitor, não será pelo cansaço que deixarei de me bater pelo princípio essencial do jornalismo: contar o mundo em, pelo menos, duas versões - e deixar o público escolher em liberdade.
Na edição de domingo, o DN tonitruava em manchete: “Regras de acesso aos três colégios militares são inconstitucionais.” Pensei logo: lá vou eu outra vez envolver-me na magna disputa sobre os estabelecimentos militares de ensino... Três pós-títulos eram pilares do título: “Igualdade. Regras de admissão no Colégio Militar, Instituto de Odivelas e Pupilos do Exército desrespeitam o princípio
constitucional.” “Exclusão. Deficientes não podem entrar, mensalidades são diferenciadas entre civis e militares e impedem acesso a todos.” “Híbridos. O custo por aluno para o Estado é cinco vezes o da escola pública, mas funcionam como colégios privados.” No interior, duas páginas desenvolviam o tema, salientando-se “curiosidades” como: “O Instituto de Odivelas assume ministrar “formação de cariz religioso.” Também oferece a disciplina de Puericultura.” “O IPE inclui no seu calendário de actividades a celebração pascal e a Procissão da Senhora da Saúde, assim como diversos bailes.” “O Colégio Militar tem 27 cavalos e dois picadeiros: um coberto e outro descoberto.” “O IO e o CM proporcionam férias de verão para os alunos “em turnos de 15 dias”. O IO no Forte de Santo António da Barra, o CM no respectivo “aquartelamento em Oeiras”.” A reportagem trazia grande cópia de informação, na sua maior parte argumentativa e alguns elementos factuais, como os referidos atrás nas “curiosidades”. Na verdade, a reportagem era um libelo, sustentado em comentários de dois constitucionalistas e alguns factos curiosos, mas dispersos e sobre os quais não era ouvida qualquer voz res-
ponsável que desse alguma explicação. No fundo, o DN descobria, todo contente, que aquelas instituições centenárias, e quase quarenta anos após a entrada em vigor da Constituição, estão tão desconformes com a Lei Fundamental que não se percebe como é que ninguém deu por ela... Naturalmente, não demorou que começasse a receber cartas de protesto. Notifiquei a Direção do DN: “Já começaram a chegar ao meu correio - como seria de esperar - cartas de protesto em relação à reportagem de hoje, domingo, 29, sobre os estabelecimentos militares de ensino. Trata-se de um trabalho exaustivo sobre os argumentos contra aqueles EME - mas só de um lado. “Desde a manchete, em que é o DN (e não atribui a ninguém, nem sequer nos pós-títulos) que afirma que as normas de acesso aos EME são inconstitucionais, até às duas páginas interiores, só é possível ler os argumentos que consideram inconstitucionais as normas de acesso. “Ora, é sabido que um ror de personalidades intelectualmente respeitadas na sociedade portuguesa se tem pronunciado em defesa daqueles EME. Não são anónimas. São conhecidas. E é bem provável que tenham uma opinião sobre isto.
Dos Antigos Alunos Ecos de um despacho
“O DN não as ouviu para este trabalho. Tenciona fazê-lo, cumprindo o preceito ético de ouvir as diversas partes?” [...] A Direcção respondeu-me, pela pena do subdiretor Leonídio Paulo Ferreira, responsável pela primeira página daquele dia: “O artigo de Fernanda Câncio sobre os estabelecimentos militares de ensino mereceu manchete pela solidez do trabalho e pela actualidade do tema. Na primeira página deu-se prioridade aos subtítulos explicativos da manchete. A existência de um quarto subtítulo, referindo os constitucionalistas ouvidos, teria sido o ideal.” Menos mal, o reconhecimento da não atribuição da opinião de inconstitucionalidade. Afinal, não é o DN que acha - nem deixa de achar - que as normas de acesso são inconstitucionais, mas faltou-lhe lembrança de atribuir o comentário. Quanto ao conteúdo do trabalho, a Direcção limitou--se a enviar-me uma extensa argumentação de Fernanda Câncio - pela qual tenho imenso apreço, pela sua coragem e frontalidade, mas isso não me faz dar-lhe sempre razão. Tem uma capacidade de investigação em terrenos que outros não reparam e o jornalismo é-lhe uma militância. Quero-me com jornalistas como ela, mas tenho, de camarada para camarada, a recomendar--lhe que tempere as suas certezas com gotas da amarga angostura da dúvida e da generosidade de deixar os outros pensar de maneira diferente. Acontece que Fernanda Câncio enviou uma resposta que encheria esta página. Não a posso publicar e garanto que o farei assim que ficar resolvido o problema técnico no Blogue do Provedor - situação que há meses me tem deixado malvisto por leitores que me querem dizer “das boas”... Fernanda Câncio enumera os documentos que compulsou para fazer o seu trabalho: parecer de dois constitucionalistas, regulamentos internos das escolas, seus modos de financiamentos, comparação com escolas públicas e privadas, enfim, uma série de pesquisas que a levam a concluir que deu informação concreta e não opinativa. Por outro lado, estranhou que eu tivesse recomendado ouvir personalidades que têm dado a cara e o nome em defesa dos tais estabelecimentos de ensino. No seu entender, para contrapor aos constitucionalistas que ouviu tinham de ser outros constitucionalistas que tivessem tomado posição pública sobre o assunto.
Comecemos por este último argumento, que quase me faria tirar-lhe uma estrela dos galões que lhe atribuí como jornalista de investigação. Então, têm de ser eles a tomar posição pública em defesa de uma situação que nem sabiam que é agora contestada na sua constitucionalidade? E sabem essas personalidades alguma coisa de Direito Constitucional para se pronunciarem? Bem, cá na minha, ouvi dizer que o Prof. Adriano Moreira estudou e ensinou umas coisas de Constitucional... E julgo ter lido que o antigo presidente Ramalho Eanes se doutorou em Constitucional. No mínimo, nem que fosse para os cutucar, não deixaria de lhes perguntar se, havendo exercido altas funções de Estado, é admissível que tivessem deixado passar debaixo do nariz a monstruosidade inconstitucional dos estabelecimentos militares de ensino... E seria também essa a pergunta a fazer ao Ministério da Defesa - e, ou é do meu sonotone que está sem pilhas, ou não consegui ouvir nada! A questão dos estabelecimentos militares de ensino é fracturante na elite da sociedade portuguesa. Invocar alguma certeza nos pareceres de constitucionalistas é imprudente, nos tempos que correm. Até porque o Direito Constitucional, pelo menos em Portugal, está inscrito como uma categoria da poesia. Do pouco que aprendi - com bons mestres! - de Direito Constitucional, parecem-me muito pífios os argumentos relativamente às escolas. Têm provas de acesso - por isso discriminam? Porquê? As escolas públicas têm de se resumir ao miserabilismo salazarento de ensinar a ler, escrever e contar? Não pode haver uma escola pública que coloque à disposição de todos - os que revelarem aptidão - valências curriculares que envolvam equitação, esgrima, tiro, ordem unida, ou outras que ensinem música, artes, ofícios agrícolas, formação oficinal? E têm de admitir obrigatoriamente os meninos que tiveram a sorte de residir no bairro da escola - e só esses? E têm de aceitar a inscrição de um tetraplégico, juntando-lhe à infelicidade da sua situação o ridículo de uma caturrice supostamente constitucionalista? (O curioso é que, até em matéria factual, houve imprecisão na reportagem, porque uma professora do Instituto de Odivelas me escreveu dizendo que teve uma aluna anã...) É discriminatório que os militares tenham descontos nas propinas numa escola tutelada pelo Ministério da Defesa? É discriminatório que as crianças com dificuldades
27
económicas tenham apoios sociais? É discriminatório que os funcionários da CP tenham viagens de graça? Aliás, isto da CP deve ser colocado em termos de passado, mas não foi por razões constitucionais que os trabalhadores perderam a regalia: foi apenas pelo império do actual moralismo populista sustentado no novo princípio de solidariedade social lúmpen: “Se eu não tenho, tu também não hás de ter!” (Nem de propósito: o DN anunciou ontem, pela mão da própria Fernanda Câncio, que um Tribunal Administrativo considerou perfeitamente legítima a redução de propinas para filhos de militares. Sic transit a certeza constitucionalista...) E só é constitucional se adolescentes dos dez aos 18 anos tiverem camaratas mistas ou no mesmo edifício? Há séculos que estes adolescentes não têm vigilantes nem seguranças adultos e são eles próprios que aprendem a assegurar a tranquilidade e a ordem das camaratas, em serviço de escala, onde cada um se esforça por se manter vigil e alerta. Quais são os pais que ficarão tranquilos se este sistema tiver a inovadora alteração de dormirem, paredes meias, rapazes e raparigas? E ofende assim tanto a Constituição que uma escola, cujos alunos pagam uma propina extra à do ensino obrigatório, lhes proporcione uns dias de férias num aquartelamento? (Só se for pelo ponto de vista de ser uma seca tremendamente inconstitucional para os meninos e para as meninas - e um alívio para os pais...) Aparentemente, existem coisas fora do tempo nos regulamentos daquelas instituições, nomeadamente relacionadas com a religião. Mas porque não foram interpeladas as direcções daquelas escolas acerca da manutenção daquelas normas ou, por exemplo, interrogadas sobre se sofre alguma consequência a aluna que rejeite formação religiosa ou o aluno que recuse desfilar numa procissão. Em tempo: não tenho nenhuma certeza sobre nenhum dos argumentos aqui apresentados. Mas sei que mesmo aquilo que consideramos factos tem verificação e interpretação que podem ser contraditórias. Sei que uma discussão não acaba com um parecer de constitucionalista: pois se ela nem termina após uma decisão do Tribunal Constitucional!... A discussão só está a começar. Se puder ser desapaixonada, tanto melhor.
28
Dos Antigos Alunos Ecos de um despacho
Luís Filipe Barbosa (71/1957) 7 de Outubro de 2013
D
rª Berta Cabral não iluda a questão. Não se trata de mulheres no Colégio Militar. Já lá há muitas, militares e civis. A maioria do corpo docente é constituída por mulheres. Trata-se é de meninas, de 10, 12, 14 e 16 anos, que não se devem meter num Colégio interno de rapazes. Quanto à Senhora fazer história, presunção e água benta cada um toma a que quer. História com “H” fizeram-na ao longo dos últimos dois séculos os Alunos e sobretudo os Antigos Alunos do Colégio Militar sem precisarem do auxilio de qualquer governante.
Roberto Ferreira Durão (15/1932) Pátria, História e Colégio Militar
E
sta Trilogia ninguém poderá separar ou matar. Os três termos estão indissolúvel e eternamente ligados. Na capa enlutada da nossa última revista ZACATRAZ é dito com clareza, rigor e vigor: «MATAR O COLÉGIO MILITAR É MATAR A NOSSA HISTÓRIA». Nada de mais verdadeiro. Quero porém acrescentar isto: Nunca farei luto pelo nosso Colégio (talvez antes por eles, se é que o merecem). Ele nunca morrerá ainda que alguns, na sua insanidade mental, teimosia, inveja ou qualquer estranho complexo, pareçam empenhados nisso... É uma sanha, uma espécie de febre psicopata e destrutiva que move alguns que nos governam (não vou citar nomes em especial) e se comprazem em reduzir cada vez mais as nossas Instituições ou Baluartes mais prestigiados e válidos, os seus mais sagrados Valores e que, «malgré tout», ainda nos restam. Não, não conseguirão porque ninguém, nem nenhuma força obscura abalará ou destruirá jamais os alicerces, as raízes mais fundas em que assenta a Herança pura, histórica, moral e espiritual do nosso Colégio. A Trilogia que coloquei no título deste pequeno artigo acabará por vencer, haja o que houver, sejam quais forem os “ventos que soprarem”, as “miscelâneas ou abortos” economicistas (talvez interesseiros, já nem sei) que alguns mentecaptos pretendam fazer. Acabo dizendo só mais isto: PRIMEIRO - «Enterrei o meu machado de guerra» como diziam os antigos guerreiros índios (Jerónimo, Siting Bull, etc, etc) não o irei desenterrar por causa desta vossa paranóia, podeis dormir sossegados se, acaso, não vos pesa a consciência, o que duvido; SEGUNDO - Sejamos realistas o que significa, não sejamos demasiado pessimistas ou “profetas da desgraça” nem irresponsáveis optimistas.
Há em tudo isto uma lição a tirar. Só temos que manter livre e lúcida a inteligência, o equilíbrio ou senso e a esperança... Com meninas ou sem meninas o Colégio Militar (interno ou semi-interno) nunca perderá o seu perfil, seus valores, tradições, mística, sempre inspirado pelo feitiço ou magia das paredes dos seus Claustros e envolvido por essa LUZ que nunca se apagará. Apenas dou um conselho desinteressado, prevenindo ou avisando até: «Senhor Ministro da Defesa e respectiva Secretária de Estado, Senhora Berta C., desistam, quanto antes dessa ideia peregrina de construir um edifício dentro do próprio Colégio Militar (quanto se vai gastar?...milhões! E quem beneficiará ou tirará proveito do espectacular Convento do Instituto de Odivelas? Tanto gostaria que me informassem!.... Quanto a aulas mistas, tudo bem, até poderá ser uma alegria ou um estímulo e desafio bem aliciante; TERCEIRO - Mais um simples conselho - leiam todos senhores governantes o último numero da Revista ZACATRAZ. Saliento os textos da nossa Associação que se tem portado à altura, com grande dignidade e senso e, além de outros textos mais (Parabéns Gonçalo Salema!) muito em especial o oportuno e belo discurso da tomada de posse do actual Director (Coronel Tirocinado de Artilharia José António Figueiredo Feliciano) e também as corajosas e nobilíssimas palavras dirigidas pelo antigo General Gomes da Costa (66/1873) ao então Ministro da Guerra, General Vieira da Rocha (208/1884). Outros tempos!... Aprendam, senhores, de uma vez por todas, a conhecer melhor o Colégio Militar. E mais, a Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar tem, sempre teve, outras soluções apresentadas ao sr. Ministro da DN mas este, tristemente para ele, sempre fez «orelhas moucas». Será que ainda vivemos em Democracia?
Dos Antigos Alunos Ecos de um despacho
29
Roberto Pedro Peig Dória Durão (37/1970)Curso de 1969 Carta enviada ao MDN em 3 de Novembro de 2013 Com conhecimento: A Suas Excelências: O Presidente da República (Aluno honorário CM nº 695), O 1º Ministro, O Ministro da Educação, O Chefe do Estado-Maior do Exército, Excelentíssimos: Director do Agrupamento das Escolas de Cascais, Director do Colégio Militar, Presidente da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar. Cascais, 3 de Novembro de 2013 Excelência No meu Colégio tocava à alvorada muito cedo. Fazíamos a cama, lavávamos os dentes e a cara. Fardávamo-nos e formávamos no geral da Companhia. Recebíamos os conselhos e as instruções dos alunos mais velhos: - Os Graduados O nosso dia era bastante preenchido e à noite regressávamos às camaratas. Formávamos e reflectíamos sobre o dia que passou. Sobre as coisas boas e as más. Os Graduados eram como irmãos mais velhos. Amigos e exemplo. Davam valor e, assim, obtinham valor. Também os havia menos bons ou maus, mas até isso nos fortalecia e congregava. O meu Colégio contribuiu para que gostasse mais de mim e me respeitasse e ensinou-me a gostar e a respeitar os outros. Tanto nas suas semelhanças como nas suas diferenças. E isso é enriquecedor. Fiz os meus maiores amigos no Colégio. E fiz camaradas. Dessa camaradagem que fica, em nós. Na nossa coluna vertebral. Sã e autêntica. E para toda a vida, Sr. Ministro. Andei à pancada como muitos e fui castigado várias vezes. Quase sempre com razão. Fui protegido e protegi e, desde Rata (caloiro) aprendi a nunca acusar ninguém. Mas aprendi, também, a assumir, perante todos, a responsabilidade dos meus actos. Acusando-me. E errei muitas vezes, graças a Deus. Em todos nós ficou um profundo amor ao nosso País. E foi este Colégio de rapazes que semeou no nosso coração respeito pela família e, sobretudo, admiração pelo ser sublime que é a mulher. Vi desde os meus 11 anos (pois vim de Angola para o 2º ano), alunos a darem explicações a alunos nos intervalos. Na Matemática, na Físico-Química, nas Ciências Naturais. Com grande pena minha, em 25 anos de Docência nas Escolas vi muito pouco estes valores. Até na Música, no Teatro, no Desenho e na Educação Física nós nos entreajudávamos. Sim, Sr. Ministro. A Arte é muito importante no nosso Colégio. Havia alunos melhores que eu em várias cadeiras.
Admirava-os mas nunca os invejei. Tentei, só, melhorar-me. Pois foi isso que aprendemos. Desde Rata fui sempre responsável pela minha farda. Escovei-a e passei-a a ferro. Engraxei os meus sapatos. Cosi e areei os botões. Da minha Farda de Gala. A mesma com que representei, com garbo, o nosso Colégio na Classe Especial, no Voley e no Hipismo. E não imagina Vª Excelência Sr. Ministro, o quanto as 5 quinas e a barretina me inundaram a alma quando representei a nossa Pátria em mais de 200 provas internacionais nos 5 continentes e em Jogos Olímpicos. E quando temos orgulho em nós, somos pessoas melhores. Os aplausos que recebi foram inteirinhos para os Professores e Treinadores que tive o privilégio de ter. Bons e dedicados corações. No nosso Colégio havia fâmulos (funcionários) que eram Mestres. Serviam o Colégio e ensinavam pelo exemplo. Ainda os há. De Oficiais e Directores não posso, de todos, dizer o mesmo pois eram razões de carreira militar e não pedagógicas que lá os colocavam, Sr. Ministro. Entraram as futuras Meninas da Luz e no nosso Colégio, pode ter a certeza, Sr. Ministro, elas beberão os mesmos princípios. Lerão a mesma cartilha. Porque aqui somos todos iguais. Todos temos um número. Quase todos uma alcunha. E todos contamos com todos. Como Vª Excelência teria contado connosco se tivesse tocado nas nossas almas. Como fazem os líderes. Se tivesse respeitado um ancião. Baluarte na educação. E se respeitasse muito mais as próprias alunas e os seus Pais. Tendo feito a alteração com a ponderação que a própria Comissão que Vª Ex.ª nomeou lhe referiu. Ainda o pode fazer. Como fazem os bons Ministros e Estadistas (que, ainda, acredito que seja). E, se me permite, nós não somos nem nunca quisemos ser, nomes de ruas (como publicidade recente refere). Com humildade, sabemos que do nosso Colégio saiu o que de melhor a sociedade oferece. Na Pedagogia, no Ensino, na Saúde, na Engenharia, no Direito. Filósofos, Intelectuais, Cientistas. Missionários, Militares, Estadistas, Heróis (conhecidos e desconhecidos). Empresários, Artistas, Atletas Olímpicos. E 5 Presidentes da República. Não nos ponha mais como nomes de ruas nem alunos dos EME (Estabelecimentos Militares de Ensino). Pois não é isso que somos. Somos e sempre seremos, apenas, alunos do Colégio Militar. Com os melhores cumprimentos
30
Dos Antigos Alunos Jantar Anual da Associação - Novos AA - Prémios Barretina
Gonçalo Salema Leal de Matos 371/1949
Jantar anual da
ASSOCIAÇÃO ©Fotos Leonel Tomaz
M
ais uma vez as portas do Pestana Palace Hotel de Lisboa, instalado no Palácio Vale Flor primorosamente recuperado e restaurado na sua plena magnitude, foram abertas para a realização do Jantar Anual da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar que teve lugar no passado dia 29 de Novembro de 2013, sendo servido com a qualidade ímpar que é apanágio da excelência de tudo o que respeita a esta unidade hoteleira de referência. O Pedro da Costa Pereira Roriz (519/1959) deu a nota de abertura e conduziu com a sua habitual competência o desenrolar das diferentes fases deste acontecimento. Aos novos Antigos Alunos do Curso de saída de 2013 foram dadas as boas vindas ao seio desta Comunidade, tendo-lhe sido impostas as Barretinas na lapela no acto simbólico da sua integração na nova qualidade de pertença à Família Colegial. Para além desta magnífica jornada de confraternização e coesão dos Antigos Alunos, numa fase difícil da vida do Colégio, o encontro serviu para que fossem dadas informações das múltiplas diligências efectuadas pela Direcção da AAACM e da evolução do processo em curso. O António José Saraiva de Reffóios (529/1963), Presidente da Direcção, tomou a palavra tendo dito: “Meus caros Aqui estamos hoje pelo 7º ano consecutivo para celebrar o nosso Colégio e a nossa também Centenária Associação. Ocasião para um reencontro que é sempre uma oportunidade para recordar e reforçar os laços de amizade que nos unem, e nos distinguem, e que vos dirija umas palavras em nome da Direcção da nossa Associação. Desde logo, e em nome de todos, impõem-se um agradecimento ao Tomaz Metello, (462/1958), que uma vez mais , a exemplo dos anos anteriores, nos recebe neste magnífico espaço com a qualidade e generosidade de sempre. Bem hajas Tomaz pelo teu apoio ao Colégio e à Associação.
Quero também nesta ocasião lembrar todos aqueles que nos deixaram ao longo deste ano e em sua memória, peço-vos que guardemos um minuto de silêncio. Quero também, em nome de todos os Antigos Alunos presentes, saudar de forma particular os nossos convidados desta noite. E são eles: O Professor Doutor Adriano Moreira, figura marcante da nossa história das últimas seis décadas, a quem renovo o nosso reconhecimento pelo contributo generoso que, sem qualquer hesitação, entendeu prestar à nossa causa. São eles também, os novos Antigos Alunos finalistas do ano lectivo 2012/2013. Foram igualmente convidados os actuais Alu-
Dos Antigos Alunos Jantar Anual da Associação - Novos AA - Prémios Barretina
nos, Comandante de Batalhão, Comandantes de Companhia e da Escolta a Cavalo, que infelizmente não podem estar presentes devido às cerimónias da integração dos novos Alunos que terão lugar esta noite e durante o dia de amanhã. Saúdo também: Todos os Antigos Alunos presentes, e de forma muito particular todos os Presidentes da Direcção que me antecederam, os Prémios Barretina desta noite, os Delegados de Curso e os Delegados de Curso suplentes. Lembro por último, e naturalmente, todos aqueles que, por qualquer razão, não podem acompanhar-nos esta noite. Como habitualmente, durante este nosso encontro, temos duas cerimónias carregadas de simbolismo: A cerimónia da atribuição dos Prémios Barretina, iniciativa que se concretiza pelo 7º ano consecutivo e que visa homenagear personalidades não antigos alunos que tenham contribuído para a afirmação e defesa do nosso Colégio, e Antigos Alunos que, pela natureza da sua actividade e exemplo, se tenham distinguido pelo seu contributo, quer para o Colégio, para a Comunidade de AA, para a sociedade em geral, e para o país. A cerimónia de imposição das barretinas aos novos Antigos Alunos finalistas do ano lectivo de 2012/2013, já realizada. Um gesto público de acolhimento feito com a certeza de que estes novos AA saberão valorizar o seu significado e estar à altura deste seu novo estatuto. Como habitualmente, impõem-se nesta ocasião dar conta, resumidamente, da actividade desenvolvida pela Direcção da AAACM ao longo do ano: Sem surpresa, a actividade da Direcção da Associação foi determinada pelo processo de restruturação dos EME iniciado pelo MDN em Setembro de 2011. É assim sobre este processo, sobre a posição da associação e suas principais iniciativas, que me deterei nos próximos minutos. Há um ano, nesta mesma ocasião, partilhei convosco uma decepção, diria mesmo indignação, pela forma como o MDN ignorou, ostensiva e incompreensivelmente as nossas propostas e apelos que lhe foram formal e repetidamente dirigidos, pese embora a colaboração leal e empenhada de que sempre déramos prova. Há um ano, nesta mesma ocasião, partilhei também convosco que seríamos fieis ao compromisso de tudo fazer para a promoção de um indispensável clima de colaboração com todas as entidades envolvidas no processo de restruturação em curso e da coesão da Comunidade de AA e jamais renunciaríamos á defesa do Co-
légio, no estrito cumprimento do mandato conferido na AG de 12 de Outubro de 2012. Hoje posso afirmar, sem hesitações, que este compromisso foi cumprido. Face á manifesta recusa em dialogar do MDN, decidimos recorrer aos demais Órgãos de Soberania. Demos conta das nossas preocupações e propostas aos Grupos Parlamentares que acederam ao nosso pedido de audiência. Fomos também recebidos, a nosso pedido, pela Comissão Parlamentar de Defesa Nacional. Solicitámos uma audiência ao Senhor PM, que delegou no seu Chefe de Gabinete. Como último recurso, e é sabido, apelámos ao Senhor Presidente da República que exercesse a sua influência junto do governo através de uma carta subscrita por um conjunto de 75 personalidades que incluíam não antigos alunos e Antigos Alunos e cujo teor é público. Nestas diligências, fomos acompanhados pela APEEACM, com quem sempre concertámos posições. Mantivemos um diálogo permanente e franco quer com o CEME quer com o recém nomeado Director do Colégio, Coronel tirocinado José Feliciano. Mantivemos uma comunicação regular com a comunidade dos AA através dos meios de comunicação de que dispomos e da rede de Delegados de Curso. Todas as posições assumidas e documentos apresentados reflectem a posição oficial da Associação sufragada na AG já referida. Mas porque, apesar da ampla divulgação que tem sido feita em todos os meios de comunicação da Associação, subsistem por vezes dúvidas, nomeadamente quanto ás questões relacionadas com o ensino misto e o externato, lembro o conteúdo da moção aprovada que define o posicionamento da AAACM relativamente a esta matéria. 1.Defesa de um Colégio Militar de excelência, público, veículo estratégico da lusofonia, tutelado pelo Exército, enquanto unidade militar, em regime que permita autonomia de gestão administrativa e financeira. 2.Exigência da preservação da nossa identidade através dos pilares distintivos da formação militar e liderança, da formação desportiva e do ethos do Colégio Militar. 3.Exigência de uma gestão eficiente do Colégio Militar, incluindo uma gestão pedagógica capaz de recolocar os resultados académicos do Colégio Militar ao nível da excelência. 4.Garantia de que, sejam quais forem os novos modelos de ensino que possam existir no Colégio Militar, eles coexistirão com o modelo actual durante o tempo necessário, em situa-
31
ção de gestão eficiente, para que se avaliem os méritos relativos das diversas opções. 5.Garantia de que a instalação de modelos de ensino misto deverá ser antecedida de reflexão e preparação particulares e que, a acontecer, deverá ser realizada de forma progressiva. 6.Exigência da participação formal e eficaz da AAACM da definição, condução e acompanhamento do processo de mudança. Ao longo de todo este processo, ficou patente que travamos uma luta! Os decisores políticos não escolheram, como se impunha e lhes competia, a via da colaboração. Optaram pela confrontação. Estamos assim em luta. Uma luta assimétrica, na qual as posições da AAACM têm sido despudoradamente deturpadas e por vezes grotescamente ridicularizadas por certos meios de comunicação social, agentes e empresas de comunicação, alguns deles, como é público e notório, ao serviço do Ministério da Defesa Nacional. E é uma luta assimétrica, diria mesmo desigual, por várias razões: Desde logo, porque o actual governo não reconhece ao CM (e aos demais EME ), nem a relevância do seu historial ímpar, nem o valor estratégico para o presente e futuro de Portugal. Não fora assim, jamais sancionaria a reforma de um modelo educativo desenvolvido e depurado ao longo de 210 anos de bons serviços prestados à Pátria, sem que a mesma fosse antecedida da ponderação e preparação adequadas e com a participação formal da AAACM, tal como recomendação expressa do Professor Marçal Grilo,
32
Dos Antigos Alunos Jantar Anual da Associação - Novos AA - Prémios Barretina
coordenador da comissão responsável pela proposta de restruturação dos EME, por escolha do MDN. Suprema evidência desta triste realidade é que o Professor Marçal Grilo, num gesto de inequívoco apoio às posições da AAACM, foi um dos subscritores da carta dirigida ao Senhor Presidente da República, tal como aliás o Professor Adriano Moreira que,como já referi, é nosso convidado especial nesta noite. Por outro lado, o CM (tal como os demais EME), não constitui uma prioridade para a tutela militar. Esta afirmação que não seja mal interpretada nem utilizada indevidamente. Não se trata de uma crítica ao Exército, que consideramos ser o nosso principal aliado na afirmação e na defesa do presente e do futuro do Colégio. Para a actual direcção, o Colégio deve permanecer público e tutelado pelo Exército. Rejeitamos qualquer outra solução. Trata-se apenas, e tão só, de uma realidade. E ainda, porque nos deparamos com as consequências de uma disputa por meios e em termos que não desejámos, pelos riscos que antecipávamos. A nossa opção foi sempre a da cooperação e nunca a do confronto, muito menos no espaço público. Opção ditada pelos riscos óbvios da volatilidade de uma opinião pública maioritariamente desconhecedora da realidade e, por isso mesmo, mais facilmente permeável a manobras de diversão e manipulação da informação, de que são prova cabal a forma como alguns meios de comunicação e jornalistas têm procurado denegrir a AAACM e desqualificar as suas posições. É uma luta assimétrica e desigual que abraçámos com determinação, mas cujos resultados, devo confessar, ficaram aquém do que ambicionávamos! Após o verão, fizemos chegar de novo, formal e informalmente, as nossas posições e preocupações junto do PM e VPM. Optámos por recorrer à contratação de uma agência de comunicação para nos apoiar na gestão da informação que foi necessário produzir e difundir junto dos órgãos de comunicação social e opinião pública em geral. Decidimos responder de forma categórica a uma campanha média da responsabilidade do MDN na qual, de forma deliberada e grosseira, se apagavam as marcas Colégio Militar, Instituto de Odivelas e Instituto dos Pupilos do Exército substituindo-as por uma marca branca …EME… designação administrativa dos Estabelecimentos Militares de Ensino. Desenvolvemos uma campanha média nos principais canais de TV e estações de rádio. Criámos um blog em Defesa do Colégio Militar. Cobrimos Portugal na nossa
acção de rua…do Minho a Macau! Contámos com o apoio de muitos Antigos Alunos - alguns deles aqui presentes - de personalidades de relevo da sociedade civil, de alguns líderes de opinião, de cidadãos anónimos e de entidades diversas. As nossas posições podem resumir-se do seguinte modo: Contestámos e desmontámos de forma inequívoca a pretensa fundamentação económica invocada e amplamente difundida, como a principal razão para a reforma delineada pelo MDN. O esforço notável de redução de custos realizado pela Direcção do CM nos últimos anos - sempre ignorado pela tutela política - a par do desenvolvimento da Escola Primária, a revisão curricular e um conjunto de medidas de racionalização há muito identificadas, permitiriam que o custo por aluno do CM se situasse num patamar em linha com o custo do ensino público em Portugal, conforme relatório recente da OCDE. Contestámos a existência de um internato misto dentro do mesmo campus do CM, e a construção de um edifício destinado a alojar o internato feminino, com um custo inicial mente previsto para 6 milhões de euros - posteriormente revisto para 3 milhões de euros - sem qualquer consulta prévia aos pais e encarregados de educação das potenciais alunas, como o mais elementar bom senso aconselharia. Manifestámos sempre a disponibilidade da AAACM em participar na reforma em curso do CM. Exigimos, apenas, a suspensão de duas das medidas constantes do despacho ministerial de Abril de 2012: A entrada de alunas em regime de externato para o 2º, 3º ciclo e secundário, no ano lectivo de 2013/2014, por evidente ausência da preparação que seria exigível. A suspensão da medida que prevê a entrada no CM de alunos - em regime de internato e externato - e de alunas, em regime de externato, para o 10º ano de escolaridade. Na sequência de um novo pedido de audiência solicitado ao PM, o MDN convocou as associações dos antigos alunos e de pais e encarregados de educação do CM e do IO para uma audiência conjunta, que teve lugar no passado dia 2 de Outubro. O MDN mostrou-se indisponível para rever qualquer das medidas constantes do despacho de Abril de 2012. Não justificou a ausência de resposta às diversas cartas e pedidos de audiência feitos pela AAACM. Instado a pronunciar-se sobre notícias onde se indicavam custos por aluno do CM muito superiores aos actuais, disse não ter tempo para estar a desmentir todas as notícias menos precisas que são
divulgadas. Não considerou relevante a auscultação aos pais e encarregados de educação das potenciais candidatas ao internato feminino no CM, demonstrando uma postura que me dispenso de comentar. Aqui chegados, e pese embora seja com um sentimento de alguma frustração que vos falo, temos boas e bastas razões para continuar a lutar. Em primeiro lugar, temos de continuar a lutar porque o modo como a reforma está a ser conduzida poderá condenar e matar o Colégio. A alteração ou adaptação de um modelo educativo com mais de dois séculos de existência, assente numa forte identidade militar e baseado no internato masculino, não deve ser feita de forma abrupta e impreparada, sob pena e risco de conduzir á disrupção dos equilíbrios estabelecidos e tradições que orientam a vida dos alunos, em particular quando se ignoram os alertas e o contributo dos AA e dos pais e encarregados de educação. Bastará ler o discurso notável - digo-o com indisfarçável orgulho - do actual Aluno CB na abertura solene do ano lectivo do Colégio no passado dia 18 de Outubro, para entender esta afirmação. Não vou comentá-lo. Não devo comentá-lo. O discurso está publicado no nosso site, blog e facebook. A nossa defesa do Colégio nunca poderá ser confundida com a instrumentalização dos Alunos, que rejeitamos, em particular dos alunos graduados, que têm uma missão histórica no momento que o Colégio atravessa. Temos assim o dever de continuar a lutar e a opor-nos ao que considerarmos inadequado, no quadro do mandato que temos. Em segundo lugar, temos de continuar a lutar, porque não percebemos as reais motivações do MDN. Fomos os primeiros a reclamar uma reforma que restituísse ao Colégio o brilho de outrora. Uma reforma que aumentasse a sua atractividade numa sociedade em mudança permanente e vertiginosa, que visasse uma indispensável melhoria dos resultados académicos, garantisse a sua sustentabilidade económica e constituísse um verdadeiro instrumento para a construção e afirmação do mundo lusófono. As nossas propostas concretas são do conhecimento da tutela desde do início deste processo. Demos sinais claríssimos da nossa disponibilidade e boa fé. Acreditámos que o MDN estava consciente do valor das nossas propostas e que compreendia as nossas preocupações quanto ao respeito pelo passado e preservação da identidade do Colégio. Enganámo-nos, ou melhor, fomos ludibriados. Na verdade, e como temos afirmado repetidamente, não detectamos qual-
Dos Antigos Alunos Jantar Anual da Associação - Novos AA - Prémios Barretina
quer justificação de carácter pedagógico ou económico, para a forma como a reforma está a ser conduzida. Temos assim o dever de continuar a lutar, e é isso que estamos e continuaremos a fazer. Em terceiro lugar, temos de continuar a lutar, porque existe um ataque concertado ao Colégio e à nossa Associação. São múltiplos, visíveis e audíveis os ataques feitos em alguns órgãos de comunicação social, quer ao Colégio, quer à Associação: Poucos dias após o início da nossa campanha em defesa do CM, surgiu num jornal diário um insidioso artigo sobre a origem dos fundos de uma Associação sem fins lucrativos que ocupa instalações cedidas gratuitamente pelo Estado Português. Esclarecemos o jornalista em questão sobre os custos da campanha e os apoios recebidos, bem como das circunstâncias em que a Associação se encontra, desde 1998, no Quartel da Formação. As informações relativas aos termos, condições e obrigações da AAACM relativamente à preservação daquele património foram esquecidas. A este propósito, permitam-me um parêntesis: congratulo-me com a resposta ao nosso apelo para o financiamento da campanha. 157 AA e o curso de 1953 contribuíram com o seu donativo. Estamos a poucos milhares de euros de conseguir cobrir os custos com a campanha, como era nosso objectivo. Os que ainda o não fizeram, não percam a oportunidade esta noite! O verdadeiro circo montado em redor do julgamento de oito de nós, visa denegrir os AA e a Associação, ao colar uma imagem de apoio à violência. Independentemente do julgamento de actos que praticaram quando tinham 17/18 anos, julgamento que compete ao tribunal e só ao tribunal, a sobreexposição pública a que estes nossos camaradas têm estado expostos decorre, não tenho dúvidas, não da gravidade dos actos em si, mas da instrumentalização da informação como forma de atacar o Colégio e a Associação. Tal como foi na ocasião referido pelo então Presidente da Associação, repudiamos qualquer forma de violência. Mas, qualquer que venha a ser o resultado do julgamento, poderão estes AA continuar a contar com o nosso apoio. A nossa fraternidade assim o impõe. Continuarão a estar sempre entre nós, porque aqui ninguém fica para trás. Há poucas semanas, surgiu num outro jornal diário um artigo com enorme destaque sobre os negócios privados da AAACM nas instalações cedidas pelo Exército. Mais, que esses negócios não eram do conhecimento do Exército, que estaria a avaliar uma eventual irregularidade na
utilização do património em causa. Solicitámos de imediato uma audiência ao CEME, que nessa mesma data nos fez chegar um pedido formal de esclarecimento. Pois bem, que fique claro. A AAACM considera que a utilização que tem sido feita ao abrigo do protocolo assinado em 1998 e posteriormente em 2002 com o Exército, não enferma de qualquer irregularidade. Mais, as receitas de cerca de 730 mil euros provenientes da exploração do restaurante Jardim da Luz e do teatro D. Luís Filipe desde a assinatura dos referidos protocolos foram, quase na íntegra, investidas na conservação e reparação desse património. Estamos a finalizar uma resposta ao pedido do CEME e nada mais devo acrescentar neste momento, por razões óbvias. É nosso dever defendermo-nos dos ataques que são feitos ao Colégio e à Associação. É o que estamos e vamos continuar a fazer. E agora , perguntarão, o que se segue? A Direcção da Associação está consciente de que a luta continua! Está consciente de que é sobretudo connosco que temos de contar. Está assim e sobretudo consciente de que mais do que nunca é indispensável cultivar a unidade e não fraquejar! A Direcção tem pautado a sua acção, como já referi, no estrito cumprimento do mandato claro que lhe foi conferido e é isso que continuará a fazer. Continuará, como até aqui, a ouvir e incorporar as recomendações do Conselho Supremo em todos os momentos e decisões mais importantes. Promoverá uma cada vez maior participação do Conselho de Delegados de Curso na vida da Associação. Manterá toda a vasta Comunidade de AA informada através dos meios que tem ao dispor, nomeadamente a revista ZacatraZ, o site , o facebook e o blog em defesa do Colégio Militar. A Direcção está naturalmente ciente de que no universo dos AA existe, felizmente, diversidade de opiniões e liberdade de expressão. Apelo assim, em nome da Direcção, á participação de todos. Apelo a que nos façam chegar todas as vossas opiniões e sugestões. Apelo a que esta participação se faça, preferencialmente, através da rede de Delegados de Curso. A Direcção tem a convicção de que é decisivo continuar a dar testemunho publico de compromisso e de unidade, tal como sobejamente demonstrado quer na noite de 1 de Setembro em que, do Minho a Macau agimos de forma coordenada e em conjunto, quer na admirável manifestação na Abertura Solene do Ano Lectivo em 18 de Outubro último, que a ninguém deixou indiferente, em particular os Alunos do Colégio que fizeram questão de o demonstrar
33
de forma admirável e comovente! A terminar… Sem eufemismos, quero dizer-vos que, apesar das frustrações que inevitavelmente tive de ultrapassar, tem sido muito gratificante poder fazer este combate. É um combate que me motiva, e que me honra. O apoio e compreensão que tenho tido de muitos AA, do Conselho Supremo, do Presidente da Assembleia Geral e dos membros dos demais Órgãos Sociais, tem sido um incentivo e uma recompensa que muito prezo. A este respeito, e correndo o risco de alguma incompreensão ou mesmo injustiça, quero sublinhar, de forma muito particular, o contributo de quatro verdadeiros mosqueteiros que, com a sua tremenda disponibilidade, dedicação à causa e saber, muito me têm ajudado. José Alberto da Costa Matos (96/1950), Ricardo Bayão Horta (25/1946), Martiniano Gonçalves (9/1958) e Luís Mergulhão (191/1965). Bem hajam. Quase três anos volvidos, estou muito grato a todos os Membros da Direcção que me têm acompanhado ao longo desta jornada. Um grupo onde tem sido sempre possível gerar os consensos e a coesão indispensáveis, só possíveis, porque em todos é patente o seu incondicional amor ao Colégio, jamais ameaçado por quaisquer outras vassalagens sejam elas de natureza política, religiosa ou económica. E os últimos são os primeiros. Um agradecimento reconhecido e caloroso aos Colaboradores da Associação - Alina Nogueira, Ana Maria Carvalho e Leonel Tomaz - pelo espírito de missão com que vão desempenhando o seu trabalho e o seu excelente contributo para a realização desta nossa celebração. A todos os desejos de um santo natal, e um até para o ano, com a esperança de que esta Comunidade a que nos orgulhamos de pertencer tudo fará para que continuemos a ter boas razões para celebrar o nosso Colégio e a nossa Associação. Obrigado e boa noite a todos!” O Presidente do Conselho Supremo, José Alberto da Costa Matos (96/1950) proferiu as seguintes palavras: “Senhores convidados Caros camaradas antigos alunos Consintam que vos dirija umas breves palavras naquele que é para mim o último jantar na qualidade de Presidente do Conselho Supremo, visto que o meu mandato terminará no próximo mês de Março. O número de vezes que o Conselho reuniu nos últimos anos não tem paralelo na sua existên-
34
Dos Antigos Alunos Jantar Anual da Associação - Novos AA - Prémios Barretina
cia. Mas não poderia ter sido de outro modo. Com efeito, é da suas atribuições não só manifestar a sua opinião, mas também prestar à Direcção o apoio que esta lhe solicite; e não têm sido fáceis os tempos que vivemos de há dois anos a esta parte, quando se tornou necessário defender essa grande instituição nacional que é o Colégio Militar, contra a forma insidiosa e malévola como o têm pretendido vilipendiar. Quem, como nós, antigos alunos, defende os valores da lealdade, da honra e da dignidade, depara-se com a real dificuldade de enfrentar aqueles que usam o poder pelo poder e se servem, no seu exercício, do autismo, da mentira e da falsidade, menosprezando a importância das instituições e, ao que parece, ficando espantosamente orgulhosos por a História, desde já e para sempre, os registar nos seus anais pelas piores razões. E tem sido com este cenário e com uma situação de manifesta desigualdade de meios, que se tem batido, com continuado denodo e empenho, a Direcção da Associação. Mas seja-me permitido aqui destacar a entrega total à causa do Colégio Militar com que vem agindo o seu Presidente: o António Reffóios. Só aqueles que têm acompanhado de muito perto a sua incessante actividade, a sua dedicação absoluta e o espírito de missão com que defende o nosso Colégio, fazem uma ideia aproximada do enorme esforço que lhe tem sido exigido.
E foi em reconhecimento desse seu esforço, que o Conselho Supremo aprovou por unanimidade um voto de louvor a ele dedicado, «pela determinação, coragem e denodo com que, há quase dois anos, vem lutando contra o poder instituído, no sentido de não deixar desvirtuar e posteriormente destruir o Colégio Militar, o seu modelo de educação e a sua História. Revelando em todas as circunstâncias grande sentido dos deveres que impendem a um antigo aluno, e agindo sempre com grande ponderação e bom senso, tem sabido congregar em torno da causa e da sobrevivência colegial um número significativo e diversificado de apoiantes, muitos dos quais não foram alunos do Colégio Militar. Trabalhando de modo incansável, sem limites de tempo nem fronteiras de espaço, e sacrificando até ao limite o seu bem-estar bem como o convívio familiar, o António Reffóios, tem dado um exemplo de amor e entrega ao Colégio Militar que é bem a demonstração de parte do lema “Um Por Todos” pelo que, independentemente dos resultados da sua acção, entende-se ser chegada a hora de lhe dizer “Todos Por Um”.» Ao longo desta desgastante batalha pela defesa do Colégio Militar tem sido várias vezes referido que ele foi capaz de sobreviver às Invasões Francesas, às Guerras Liberais, e às revoluções de 1910, 1926 e 1974. Mas ao longo da sua existência houve também várias e gravosas decisões do poder político que tiveram o Colégio como alvo específico. Assim, em 1835 o Real Colégio Militar foi transferido abruptamente para as instalações da Congregação Missionária de Rilhafoles. Treze anos depois foi-lhe imposta nova transferência, agora para o Convento de Mafra. Em 1858, decorridos dez anos, um ofício do Ministério da Guerra determinou uma nova transferência, desta vez do Convento de Mafra para o edifício da Luz. Tudo parecia tranquilo quando, em 1869, o ministro Sá da Bandeira, invocando razões de economia, ordenou a elaboração de uma proposta de Lei para a dissolução do Colégio Militar. A obra do marechal Teixeira Rebelo parecia agora condenada. Mas o ministro acabou por desistir dos seus intentos quando foi chamado à razão (...coisa que nos dias de hoje não acontece!). Mas, logo no ano seguinte, voltou a inquietação e a incerteza pois o marechal Saldanha ia agora mais longe e ordenava, mais uma vez, a mudança do Colégio para Mafra, anexando-lhe desta feita o Asilo dos Filhos dos Soldados. Mas isso só durou até 1873. Com a queda do
governo, o Colégio regressou, sozinho e em definitivo, ao edifício da Luz. Ao longo de quase quatro décadas as agressões foram constantes. Muitos ministros mudaram, mas o Colégio Militar permaneceu. E porquê? Em busca de uma possível resposta, convido-vos para o Teatro Nacional D. Maria, aquando dos 150 anos do Colégio, onde, numa sessão comemorativa, o Ramiro Guedes de Campos, o 42 de 1915, proferiu uma alocução que terminava do seguinte modo: «A alma do Colégio Militar é qualquer coisa de subjacente que pertence às camadas mais profundas da realidade e que a cada aluno se revela, de súbito, no simbolismo do número que lhe foi destinado, número misteriosamente impregnado da vida de todos os antecessores e contendo o futuro de todos os sucessores! Mas a Alma é qualquer coisa que passa para lá das almas, que reveste as lajes e sensibiliza as abóbadas! Qualquer coisa que faz perfilar militarmente as colunas do Claustro mas que as une umas às outras por arcos de pedra que são abraços! Uma expressão de virtudes cívicas e guerreiras, transmitidas não por oralidade mas por intuição, e temperadas sempre, como o heroísmo, códice de regras entre monásticas e de ordem da cavalaria medieval, de que o ponto mais alto - como o Zimbório da Luz do Colégio e que se avista na distância - é a camaradagem! Eis, meus senhores, porque o Colégio Militar não pode morrer: ele tem a imortalidade da sua Alma! E a Alma do Colégio Militar, tão alto a vejo que a confundo, em honra, glória, grandeza e perenidade, com a Alma da própria Pátria!» Que saibamos unir-nos em torno dessa Alma em defesa do Colégio Militar.” Seguiu-se a entrega dos Prémios Barretina 2013, sendo a atribuição antecedida da leitura das moções que os justificaram em simultâneo com a projecção das fotos dos agraciados que, em breves palavras, manifestaram o regozijo, a honra e o reconhecimento pela distinção que lhes foi conferida.
Dos Antigos Alunos Jantar Anual da Associação - Novos AA - Prémios Barretina
35
Prémios Barretina 2013 Professor Doutor Adriano José Alves Moreira
Joaquim Tobias Dai
O
N
“Prémio Barretina – Amigos do Colégio Militar”
“Prémio Amigos do Colégio Militar” vai para uma figura que marcou e continua a marcar de forma indelével a vida politica e social portuguesa, dos últimos 60 anos. Iniciou a sua vida política, aos 34 anos, como Ministro do Ultramar, em 1961, cargo ao qual renunciou por discordâncias com Salazar. Foi deputado na Assembleia Constituinte resultante do 25 de Abril, tendo desempenhado o cargo de Vice-Presidente da Assembleia da República entre 1991 e 1995. Foi Presidente do CDS, e continua a ser ouvido com atenção, porque todos lhe reconhecem um enorme saber. É um académico reconhecido internacionalmente, governante, político e cidadão exemplar. Do seu vastíssimo “curriculum” destacamos que: - é Doutor do Instituto Superior de Ciências Sociais da Universidade Técnica de Lisboa e em Direito pela Universidade Complutense de Madrid. - foi professor da Universidade Católica Portuguesa do Instituto Superior Naval de Guerra, da Universidade Católica do Rio de Janeiro, da Universidade Aberta, e Professor Emérito da Universidade Técnica de Lisboa. - é Doutor “Honoris Causa” pelas Universidades da Beira Interior, Aberta, Manaus, S. Paulo, Bahia, Brasília, Rio de Janeiro, Recife e São Vicente (Cabo Verde). - foi fundador e é Presidente Honorário da Academia Internacional da Cultura Portuguesa, foi Delegado de Portugal na ONU, de 1957 a 1959, lançou o Movimento da União das Comunidades de Cultura Portuguesa e presidiu aos dois primeiros Congressos, que tiveram lugar em Luanda (1964) e Lourenço Marques (1966) e foi Presidente da Academia das Ciências de Lisboa. Ao longo da sua longa vida recebeu inúmeras condecorações das quais destacamos as de Grande-Oficial do Infante D. Henrique e Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada e vários prémios, com destaque para o Premio Abílio Lopes do Rego (Academia das Ciências de Lisboa) e Prémio Cultura e Ciência 2009 (Fundação Luso-Brasileira). Expôs-se, publicamente, em defesa dos ideais do Colégio Militar e das posições da AAACM, razão pela qual não mais poderemos esquecer a sua generosidade e disponibilidade para estar ao nosso lado, na defesa dos valores, que defendemos. É com muita honra que a Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar atribui, este ano, o “Prémio Barretina – Amigos do Colégio Militar”, ao Professor Adriano Moreira. O Prémio foi entregue pelo António Saraiva de Reffóios (529/1963), Presidente da Direcção da AAACM.
Antigo Aluno 125/1993 “Prémio Barretina – Lusofonia”
asceu em Moçambique, onde fez a primeira parte dos seus estudos para entrar no Colégio Militar, em 1993, tendo tido o número 125. Concluído o Colégio Militar, seguiu para o ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão), onde concluiu a licenciatura em Gestão de Empresas, centrando-se no “marketing” (Gestão Comercial) e nas Finanças. Concluído o curso, regressou ao país natal como membro da Comissão Instaladora do Instituto Superior de Tecnologias e Gestão (Departamento de Economia), em Maputo. Depois, e entre outras funções, foi Membro Fundador e Vogal do Conselho Directivo da Câmara de Comércio Moçambique Portugal, Vogal do Conselho de Gestão da Associação Moçambicana de Economistas, para no ano seguinte assumir a presidência daquela instituição, Professor Visitante do Instituto Superior de Gestão e da Universidade Lusófona e Director da Revista Exame Moçambique. Tem, ainda, participado em diversas conferências centradas em questões económicas e sido presença assídua na rádio, televisão e jornais moçambicanos, com destaque para a Conferência Anual do Banco Mundial e do FMI, como membro da sociedade civil, a convite do FMI. Hoje em dia é Bastonário da Ordem dos Economistas de Moçambique e uma das referências para as questões económicas naquele país. O “Prémio Barretina – Lusofonia” é para Tobias Dai (125/1933). O Prémio foi entregue pelo Vasco Rocha Vieira (127/1950), último Governador de Macau.
36
Dos Antigos Alunos Jantar Anual da Associação - Novos AA - Prémios Barretina
Rui Miguel Risques da Costa Ferreira
José Luís de Mendonça Mergulhão
“Prémio Barretina – Dedicação”
“Prémio Barretina – Amor ao Colégio”
N
E
Antigo Aluno 516/1976
atural de Lisboa, entrou para o Colégio Militar em 1976 e aí se manteve até 1984, com o numero 516. Do Colégio Militar seguiu para a Academia Militar para a arma de cavalaria, sendo, actualmente, tenente-coronel. Passou pelas mais diversas unidades e funções, em particular nos Açores, Angola e Moçambique, e uma delas foi no Colégio Militar, onde desempenhou o cargo de Comandante do Corpo de Alunos, em 2010/2011. É neste momento Adjunto do Chefe de Ligação aos Adidos de Defesa e Militares do Estado-Maior das Forças Armadas. Foi, ainda, Military Personnel Planner no Joint Force Command Lisbon e Personnel Planner da União Africana para a Operação da Somália. Louvado por diversas vezes pelo seu desempenho nas funções que lhe tinham sido confiadas, a sua folha de serviço ostenta várias condecorações, das quais se destacam as Medalhas de Mérito Militar – 2.ª classe, de Prata de Comportamento Exemplar, duas de Campanha da NATO e de Mérito Tamandaré – Patrono da Marinha do Brasil. Por sua iniciativa fundou, em 2011 na Cidade da Praia, a Biblioteca Marechal Teixeira Rebelo, que tem visto a sua dimensão crescer graças aos livros oferecidos pelos alunos e Antigos Alunos do Colégio Militar. O “Prémio Barretina – Dedicação” é para Miguel Costa Ferreira (516/76). O Prémio foi entregue pelo José Garcia Leandro (94/1950), anterior Prémio Dedicação.
Antigo Aluno 191/1965
ntrou para o Colégio Militar em 1965 e saiu cinco anos depois, para o Liceu Pedro Nunes, antes rumar à Universidade Técnica de Lisboa onde se licenciou em Economia. Foi a opção pela Economia que o levou a deixar o Colégio Militar, mas os cinco anos ali passados levaram-no a amar o Colégio Militar com uma enorme intensidade e a estar presente sempre que foi chamado. Foi, entre outras responsabilidades, Presidente da Tobis Portuguesa, Vice Presidente do Instituto Português de Cinema e é Presidente e CEO do Omnicom Media Group Portugal, que integra o Publicis Omnicom Group, o maior grupo mundial de comunicação. Para além disso tem sido membro do júri de vários festivais de publicidade e em 2004 foi eleito “Personalidade do Ano”, pela Associação Portuguesa de Profissionais de Marketing. Mas foi, acima de tudo, o principal dinamizador da campanha média em defesa do Colégio Militar. A sua disponibilidade total e a permanente busca da melhor solução para defender o Colégio Militar, numa demonstração de amor e dedicação à entidade onde passou cinco importantes anos da sua vida, fizeram com que estivesse por trás de muito do que foi feito. Foi graças á sua intervenção que vários profissionais ligados à comunicação, nas mais variadas vertentes, se disponibilizaram, “pro bono”, para pôr em pé a campanha media “Em defesa do Colégio Militar”. O “Prémio Barretina – Amor ao Colégio” é para Luís Mergulhão (191/1965). O Prémio foi entregue pelo José da Costa Matos (96/1950), Presidente do Conselho Supremo.
Dos Antigos Alunos Jantar Anual da Associação - Novos AA - Prémios Barretina
Carlos Alberto de Brito Pina
António Jorge Afonso Abreu Matos
“Prémio Barretina – Cidadania”
“Prémio Barretina – Desporto”
Antigo Aluno 16/1964
P
reside a uma instituição, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, fundada há mais de 60 anos, por outro Antigo Aluno, Manuel Rocha (166/1923), sucedendo no cargo ao actual Bastonário da Ordem, Carlos Matias Ramos. Entrou para o Colégio Militar, em 1964 e teve o número 16. Do Colégio Militar seguiu para o Técnico para se formar em Engenharia Civil, ramo de Estruturas vindo mais tarde a ser Professor Catedrático Convidado do Departamento de Engenharia Civil, Arquitectura e Georecursos do Técnico. É, ainda, possuidor do Grau de Especialista na área científica de Barragens. Antes de ser Presidente do LNEC foi Chefe do Núcleo de Estudos Especiais e Dimensionamento Experimental do Departamento de Barragens, Director do Departamento de Barragens e Betão e Vice-Presidente daquela instituição. Para além do cargo que desempenha dedica-se a outras actividades cientificas e técnicas, sendo, nomeadamente, Secretário Geral da Associação Portuguesa de Mecânica Teórica, Aplicada e Computacional, Presidente da Comissão dos Eurocódigos Estruturais e Membro da Comissão Nacional Portuguesa das Grandes Barragens. O “Prémio Barretina – Cidadania” é para Carlos Pina. O Prémio foi entregue pelo Ricardo Bayão Horta (25/1946), “Prémio Barretina – Cidadania”, o ano passado.
37
Antigo Aluno 244/1959
E
ntrou para o Colégio Militar, em 1959, onde foi o 244, e desde logo assumiu plano de destaque no desporto, o que o levou ao INEF (Instituto Nacional de Educação Física), onde se licenciou em Educação Física, para mais tarde tirar o mestrado em Gestão do Desporto. Foi professor do Colégio Militar, entre 1982 e 1986. Mas seria como treinador de alguns dos melhores atletas nacionais, que mais de destacou, tendo no seu palmares a conquista de medalhas olímpicas, mundiais e europeias por alguns dos que foram e são treinados por si. Desse lote fazem parte nove recordistas nacionais (João Lima, Pedro Agostinho, Luís Barroso, Arnaldo Abrantes, Emília Tavares, Luís Marto, Esteves Costa, António Veiga e Naide Gomes). Foi membro da Direcção Técnica Nacional da Federação Portuguesa de Atletismo, entre 1986 e 2010, tendo desempenhado as funções de Técnico Nacional do Sector de Saltos, de Responsável pela Preparação Olímpica e de Seleccionador Nacional. É autor do livro “Atletismo de Alta Competição em Portugal”. O “Prémio Barretina – Desporto” é para Abreu Matos (244/1959). O Prémio foi entregue pelo João Paulo Bessa (200/1957), “Prémio Barretina – Desporto”, o ano passado.
38
Dos Antigos Alunos Jantar Anual da Associação - Novos AA - Prémios Barretina
Luís Filipe da Silva Rocha
Álvaro Augusto da Fonseca Sabbo
“Prémio Barretina – Notoriedade”
“Prémio Barretina – Desporto”
E
É
Antigo Aluno 493/1958
ntrou para o Colégio Militar em 1958 e teve o número mais alto do seu curso. Foi um bom aluno, bom camarada e grande desportista, e deixou o Colégio Militar no início do sexto ano, por ter optado ir para Direito, tendo-se licenciado pela Universidade de Lisboa em 1971. Contudo, o Direito ficou de lado tendo iniciado a sua actividade artística pelo teatro e descoberto o cinema como actor tendo rapidamente dedicado a sua acção à realização – a sua enorme paixão. A sua acção como realizador caracteriza-se pela relação privilegiada que estabelece com a literatura portuguesa e com o realismo atento à vida da sociedade e do país, inserindo-se no movimento vanguardista do cinema português que, nos anos 60, rompeu com a vinculação à ideologia vigente, explorando técnicas do cinema directo na linha do Cinema Nouveau – inspirado na Nova Vaga francesa e no neo-realismo italiano. De entre os filmes realizados destaque para “Cerromaior”, “Amor e Dedinhos de Pé”, “Sinais de Fogo”, “Adeus Pai”, “Camarate” e “A outra margem”. Apesar de filmar pouco, o seu talento permitiu-lhe conquistar os mais variados prémios em Festivais de Cinema. Assim, “Cerromaior” venceu o Grande Prémio do Festival da Figueira da Foz, em 1980, e o “Cólon de Oro” do Festival Ibero-Americano de Huelva, em 1981; “Sinais de Fogo” foi considerado o “Melhor Filme”, do Cinema D’Art et Essai de Arcachon, em 1995; “Adeus Pai” conquistou os prémios de Melhor Actor Jovem e Melhor Actor Adulto, em Moscovo, em 1997 e foi o “Melhor Filme”, em Antuérpia, em 1998; “A Passagem da Noite” arrebatou em Valência, em 2004, os Prémios de “Melhor Filme” (Palmeira de Prata); Melhor Director, Melhor Argumento e Melhor Actriz; “A outra margem” recebeu os Prémios de Melhor Actor Masculino, em Montreal, em 2007, e de Melhor Actriz e Prémio Especial do Júri (Melhor Filme), em Guadalajara, em 2008. Pela sua carreira e na senda de muitos outros Antigos Alunos que nos últimos dois séculos se distinguiram nas Artes, o “Prémio Barretina – Notoriedade” de 2013 é atribuído ao Luís Filipe Rocha (493/1958). O Prémio foi entregue pelo Martiniano Gonçalves (9/1958), Presidente do Conselho de Delegados de Curso, seu camarada de curso, e anterior Presidente da Direcção da AAACM.
Antigo Aluno 133/1938
um dos 25 Antigos Alunos, de quatro gerações da família, que passaram pelo Colégio Militar, onde teve o número 133, em 1938, e foi graduado em Ajudante do Comandante de Batalhão. Apesar de filho e neto de oficiais de Infantaria, optou pela Cavalaria, onde foi o primeiro do curso, e, em Mafra, onde esteve durante 10 anos, tirou os cursos de Instrutor e de Mestre de Equitação. A sua carreira militar levou-o a cumprir duas comissões em Angola, uma como Oficial de Operações, outra como Segundo Comandante de um Batalhão. Por cá, foi comandante do 1.º e 3.º Esquadrões da Guarda Nacional Republicana e seu Segundo Comandante e, durante dois anos, Comandante Interino do Regimento de Cavalaria. Mas para além de um distinto militar foi desportista de eleição. Foi no hipismo onde atingiu o degrau mais elevado ao participar, por duas vezes, nos Jogos Olímpicos no Concurso Completo de Equitação, a que juntou dois títulos de campeão nacional e outros tantos de Cavaleiro de Saltos de Obstáculos, terminando estas provas com um sonoro “Alléz, Alléz à Votre Santé”. Para além disso alcançou 892 classificações em provas hípicas, das quais 203 vitórias. No atletismo foi recordista nacional do Salto em Altura e do Lançamento do Dardo e Campeão de Portugal de Lançamento de Peso e de Lançamento de Dardo. Mas foi, também, campeão de Portugal de Sabre por equipas, Pentatlo Moderno, Natação por equipas e Tiro de Pistola por equipas. O “Prémio Barretina – Desporto” é para Álvaro Sabbo (133/1938) O Prémio foi entregue por José Spínola (539/63), Presidente do Conselho Fiscal da AAACM.
Dos Antigos Alunos Jantar Anual da Associação - Novos AA - Prémios Barretina
Eduardo Lourenço de Faria Antigo Aluno 92/1934
“Prémio Barretina – Colégio Militar no Mundo”
É
um dos mais Antigos Alunos vivos e um dos mais conceituados pensadores e ensaístas portugueses. Nasceu em S. Pedro de Rio Seco, concelho de Almeida, distrito da Guarda, cidade que o homenageou dando o seu nome à biblioteca municipal. Entrou para o Colégio Militar em 1934, sendo o 92, e após terminar o curso liceal seguiu para Coimbra onde conclui a Licenciatura em Histórico-Filosóficas, após o que assume as funções de Professor Assistente da respectiva Universidade. De seguida exerce as funções de Leitor de Língua e Cultura Portuguesa nas Universidades de Hamburgo, Heidelberg e Montpellier e rege na qualidade de Professor Convidado a disciplina de Filosofia da Universidade Federal da Baía (Brasil). Termina a sua carreira universitária em Nice, desempenhando as funções de Maître-Assistant daquela universidade. Em 1974, com o livro “Pessoa Revisitado – Leitura Estruturante do Drama em Gente”, recebe o Prémio Casa da Imprensa e a 10 de Junho de 1981 é condecorado com a Ordem de Sant’Iago d’Espada e anos mais tarde com a Ordem do Infante D. Henrique (Grande Oficial). Em 1984, com “Poesia e Metafísica”, é lhe entregue o Prémio de Ensaio Jacinto Prado Coelho, e em 1986, com “Fernando, Rei da Nossa Baviera”, conquista o Prémio Nacional da Crítica. Estes são os primeiros de uma série de prémios dos quais se destacam os Prémios António Sérgio (1992), Camões (1996), Chevalier de L’Ordre des Arts e des Lettres, entregue pelo Governo francês (2000), Encomienda de Numero de la Orden del Mérito Civil, atribuído pelo Rei de Espanha (2009) e Prémio Pessoa (2011). Apesar de viver em França, nunca deixou de estar atento ao que acontece no país e as suas intervenções, que se multiplicaram, após Abril de 1974, demonstraram que é um observador atento e respeitado na cena política, social e cultural do país. O “Prémio Barretina – Colégio Militar no Mundo” é para Eduardo Lourenço (92/1934). O Prémio foi entregue pelo Manuel Rio de Carvalho (124/1945), Presidente da Assembleia Geral da AAACM.
39
40
Dos Antigos Alunos Antigos Alunos em destaque
Antigos alunos
em Destaque
Luciano Ferreira Bastos da Costa e Silva (121/1923) Vice-Almirante
O Vice-Almirante Luciano Bastos comemorou, no passado dia 24 de Outubro de 2013, o Centenário do seu Nascimento. Terminados os estudos no Colégio, ingressou em 1931 na Escola Naval tendo sido o número 1 do seu curso, onde foi distinguido com o prémio “Fiel Stockler” que lhe foi entregue pelo Presidente da República Marechal Carmona (24/1882). Especializado em Comunicações, toma parte na Viagem Presidencial a Angola e São Tomé (1938), participa nas manobras da Esquadra Britânica (1939) e na Missão Hidrográfica de Angola a bordo do NH Carvalho de Araújo. Na II GGM frequenta o Centro de Luta Anti-Submarina na Escócia e comanda no Mar dos Açores um Navio Patrulha equipado para este tipo de missão. Em 1950 conclui com muito elevada classificação o Curso de Engenheiro Hidrógrafo na Faculdade de Ciências, IST e Observatório As-
tronómico da Ajuda, completando uma pós-graduação nos Estados Unidos no Hydrographic Office Coast and Geodetic Survey Scripps Institution of Oceanography. Em 1953 chefia a Missão Hidrográfica de Angola e São Tomé. Em 1959 apresentou uma proposta de criação do Instituto Hidrográfico, que seguiu os seus trâmites, sem nunca deixar de a acompanhar. A determinação manifestada em todo este processo, culminou com a sua comparência junto do CEMA Almirante Armando Reboredo que lhe disse: “Luciano Bastos, chamei-o aqui para o informar que amanhã será publicado, no Diário do Governo, o Decreto-Lei que cria O SEU INSTITUTO. Para Director, uma só pessoa tem direito a esse cargo: é o Bastos. Mas não faria sentido iniciar o seu funcionamento cometendo uma ilegalidade, pois o cargo de Director é destinado a um Capitão-de-Mar-e-Guerra ou a um Oficial General e o Bastos é, apenas, Capitão-de-Fragata. Assim, é o Bastos nomeado, desde hoje, Subdirector e vai convidar para Director um oficial da sua escolha”. Foi escolhido e nomeado o Capitão-de-Mar-e-Guerra Pereira Parreira. Foi Director Técnico do Instituto Hidrográfico, comandou o Grupo Nº 2 de Escolas da Armada, foi Presidente do Tribunal Militar de Marinha, comandou a Defesa Marítima da Guiné tendo sido Comandante-Chefe Interino das Forças Armadas da Guiné. Foi Subdirector do Instituto Naval de Guerra, professor nos Altos Estudos Militares do Exército e Comandante Naval do Continente. Foi agraciado com a Medalha de Prata de Socorros a Náufragos, pelo Generalíssimo Franco com a Medalha de Mérito Militar 1ª classe, com a Medalha de Mérito Naval de Espanha e com a Medalha Militar de Ouro de Serviços Distintos, com Palma. Ao Senhor Almirante Luciano Bastos e à sua Família, endereçamos as mais calorosas felicitações, com especiais saudações colegiais ao nosso Camarada 121/1923. Zacatraz!
Dos Antigos Alunos Antigos Alunos em destaque
41
Manuel Coelho Mendes da Rocha (166/1923) Engenheiro
Centenário do seu Nascimento Perfez-se no passado mês de Agosto um século sobre o nascimento de Manuel Rocha (166/2013), que foi uma das mais destacadas, senão a mais destacada, figura da Engenharia Civil portuguesa do século XX. Celebrando esta efeméride, foi promovida pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em conjunto com a Ordem dos Engenheiros e com o patrocínio do Presidente da República, no passado dia 8 de Outubro de 2013, uma jornada de homenagem a Manuel Rocha, digna da sua brilhantíssima figura. Da parte da manhã decorreu uma sessão evocativa presidida pelo Secretário de Estado das Infraestruturas Transportes e Comunicações, em que foi recordada a sua acção como cientista, professor e engenheiro, as facetas mais marcantes da sua polifacetada personalidade. A sessão evocativa consistiu em: ■ Exibição de um filme sobre a vida e obra de Manuel Rocha. ■ Testemunho pelo Bastonário da Ordem dos Engenheiros, Engenheiro Carlos Matias Ramos. ■ Outorga dos Prémios de Investigação Manuel Rocha do LNEC. ■ Intervenção pelo Presidente do LNEC, Engenheiro Carlos Pina. ■ Intervenção pelo Secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações, Doutor Sérgio Monteiro. ■ Descerramento de uma placa comemorativa. ■ Actuação do Coro da Associação dos Trabalhadores do LNEC. ■ Apresentação dos livros «Manuel Rocha e o LNEC» e «Contribuição de Manuel Rocha para a mecânica das rochas e a engenharia das fundações». ■ Apresentação das novas edições dos livros da autoria de Manuel Rocha «Mecânica das rochas» e «Estruturas subterrâneas». ■ Conferência especial pelo Prof. Richard E. Goodman «Some safety is sues for dams on rock foundations». Da parte da tarde realizou-se um Seminário subordinado ao tema «Aspectos de projecto, de construção e de exploração de barragens e obras subterrâneas». Foi uma jornada que decorreu com grande elevação e que deixou as melhores recordações naqueles que na mesma participaram. No que se segue procurarei informar aqueles que não tiveram oportunidade de conhecer Manuel Rocha, em particular os Antigos Alunos mais novos, acerca do que foi a vida deste Homem e do legado que nos deixou. Para tanto socorro-me da «Fotobiografia do Engenheiro Manuel Rocha»
da Autoria do Engenheiro Joaquim Moura Esteves, Investigador aposentado do LNEC. Na introdução da referida fotobiografia o Engenheiro Moura Esteves diz o seguinte: «As características e dimensão da sua personalidade, quer do ponto de vista cientifico e técnico quer humano e cívico, tornam Manuel Rocha uma referência de cidadão, diria não apenas português mas universal, paladino das capacidades intelectuais do ser humano, viradas para a modernidade e para o bem comum». O Professor Arantes e Oliveira considerou que se devia «classificar a rica personalidade científica de Manuel Rocha como agente que promoveu a utilização da Ciência na Engenharia». O antigo Ministro das Obras Públicas Engenheiro Viana Baptista, na homenagem prestada a Manuel Rocha no LNEC, em 1982, um ano após a sua morte, declarou «Se em Manuel Rocha temos de admirar a competência que o fez cotar internacionalmente - e só por isso ele já teria direito às homenagens que lhe são prestadas – julgo não menos importante que se aponte nele, também, um exemplo de homem que não se ficou pela critica, pelo diagnóstico ou pela congeminação teórica». A propósito da criação do LNEC, diz Moura Esteves «Manuel Rocha foi um insigne investigador, professor, cientista, grande cidadão e português, espírito clarividente e de análise rigorosa, com uma prodigiosa capacidade de organização, que veio a constituir o cimento de toda a sua acção». Manuel Rocha era um homem movido por um forte ideal, como o testemunha esta frase da sua autoria «Apesar de sabermos avaliar, como engenheiro e investigador, a distância - coberta de canseiras, de lutas, de desilusões e, por vezes, de alegrias – que vai das ideias à sua realização, reconhecemos a força dos ideais». Por isso dizia Manuel Rocha aos seus colaboradores que não havia «plafond» para a sabedoria e a imaginação.
Anúncio das Comemorações do Centenário do Nascimento e Monumento a Manuel Rocha (166/1923)
42
Dos Antigos Alunos Antigos Alunos em destaque
Para caracterizar de forma muito sucinta o que foi a vida deste ilustre Antigo Aluno, apresento de seguida os principais marcos da mesma.
- 1913 Nasce na Figueira da Foz, no dia 12 de Agosto. - 1923 Ingressa no Colégio Militar, onde recebe o número 166. Como «rata» escreve à sua mãe dizendo «Eu já vi o 319, mas ia na forma não lhe pude falar, agora só escrevo um dia sim e dois dias não». - 1930 Conclui o seu curso no Colégio, de onde sai 1º Sargento Cadete, como era uso na época. Ingressa no Instituto Superior Técnico (IST), onde vem a interromper os seus estudos durante um ano, por motivo de doença. - 1936 Como aluno de engenharia civil organiza um curso de Nomografia. A primeira lição subordinada ao tema «Escalas funcionais» é publicada no nº 79 da revista «Técnica» da Associação dos Estudantes do IST. - 1937 Ainda como aluno, é nomeado 2º assistente da cadeira de Física, considerada uma das cadeiras mais exigentes do curso. A propósito desta nomeação escrevem os seus condiscípulos na revista «Técnica» a seguinte noticia «Manuel Mendes da Rocha, actual aluno do 3º ano da especialidade de Engenharia Civil, foi muito acertadamente escolhido pelo Conselho Escolar, por proposta do Professor Engenheiro António da Silveira, para 2º assistente da cadeira de Física. Os colegas de Manuel Mendes Rocha, mais do que ninguém reconhecem a justiça que lhe foi feita e prevêem um futuro brilhante não só pelas suas qualidades pedagógicas, como pelos seus méritos pessoais». - 1938 Conclui o curso do IST como melhor aluno do curso e recebe o prémio Brito Camacho. - 1938/1939 Como bolseiro do Instituto para a Alta Cultura (IAC) realiza um estágio de quase dois anos no MIT-Massachussetts Institute of Technology, Boston EUA. - 1940 É nomeado 2º Assistente da cadeira de Resistência de Materiais no IST, sendo promovido a 1º Assistente em 1946, funções que desempenha até 1952. - 1944 É nomeado Director do Centro de Estudos de Mecânica Aplicada, cuja criação tinha sido por si proposta no final de 1941. Neste mesmo ano parte para a Suíça, onde se mantém cerca de um ano, como bolseiro do IAC, na Escola Politécnica Federal de Zurique. - 1946 Transita para o Laboratório de Engenharia Civil, antecessor do LNEC, criado neste ano e cujo primeiro director foi o Engenheiro Eduardo de Arantes e Oliveira, também ele Antigo Aluno do Colégio (externo de 1918 a 1922). - 1949 Em conjunto com Arantes e Oliveira empreende uma longa viagem exploratória a vários centros europeus de investigação. - 1950 Inicia a sua participação técnica em organismos internacionais. - 1952 É inaugurado o LNEC. Manuel Rocha promove um «Curso de Mecânica dos Solos» na Ordem dos Engenheiros, que se pode considerar como um marco do ensino desta disciplina de forma institucional em Portugal. - 1955 É nomeado Vice-Presidente da Junta de Energia Nuclear. - 1956 É agraciado com o grau de Oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada, primeira das muitas veneras que lhe seriam atribuídas. - 1959 É nomeado sócio honorário do Real Gabinete de Leitura do Rio de Janeiro, tornando-se cidadão carioca. - 1960 É agraciado com os graus de Comendador da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul (Brasil), de Comendador da Ordem da Coroa (Tailândia) e de Comendador da Ordem de Mérito (República Federal da Alemanha). - 1961 Ascende a Subdirector do LNEC. É agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar de Santiago da Espada. - 1963 Torna-se membro da Sociedade Internacional de Mecânica das Rochas. - 1966 Realiza-se no LNEC, em Lisboa, o 1º Congresso Internacional de Mecânica das Rochas, no decurso do qual é nomeado Presidente da Sociedade Internacional de Mecânica das Rochas, cargo que exerce até 1969. É agraciado com o grau de Grande Oficial da Ordem Militar de Cristo. - 1967 Ascende a Director do LNEC. Recebe o grau académico de Doutor
Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nesta cerimónia académica profere uma oração de sapiência subordinada ao tema «Educação Permanente», que lhe era tão caro, em que preconiza a instituição da educação ao longo de toda a vida, em especial como consequência do fenómeno da explosão dos conhecimentos. - 1969 É conferencista convidado na cerimónia de inauguração do Laboratório de Engenharia Civil (Raymond E. Davies Hall) da Universidade de Berkeley, na Califórnia. - 1970 Torna-se Professor Catedrático convidado de Mecânica das Rochas do IST. É agraciado com o grau académico de Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e pela Universidade Federal de Bahia (Brasil). - 1971 É agraciado com o grau académico de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Toulouse (França). - 1972 Torna-se membro da Academia de Ciências de Toulouse e da Academia Nacional de Ciências Exactas, Físicas e Naturais da Argentina. É agraciado com o grau de Grande Oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada. - 1973 É agraciado com o grau de Oficial da Legião de Honra de França. - 1974 É nomeado Presidente do Conselho Superior dos Laboratórios de Engenharia. Após o 25 de Abril é nomeado Ministro do Equipamento Social e do Ambiente do 1º Governo Provisório, sendo 1º Ministro o Prof. Palma Carlos e Presidente da República o General Spínola (33/1920), seu contemporâneo no Colégio. Este governo Provisório teve uma duração efémera. - 1975 Torna-se membro da Academia Nacional de Ciências dos EUA. Torna-se membro (fellow) da Sociedade Americana de Engenheiros Civis (ASCE). - 1976 É nomeado Professor Catedrático da Universidade Nova de Lisboa. É eleito Bastonário da Ordem dos Engenheiros. Torna-se Presidente da RILEM - Reunião Internacional dos Laboratórios de Ensaio e de Investigação sobre Materiais de Construção. - 1977 É agraciado com o grau de Grande Oficial da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul (Brasil). Recebe um honrosíssimo convite para integrar uma junta de consultores americanos encarregue da revisão sistemática dos métodos de projectos e execução de barragens para o governo dos EUA. Faz um requerimento para aceitar o convite sem qualquer dispêndio para a fazenda nacional, tendo este requerimento recebido o seguinte despacho do Ministro das Obras Públicas, bem esclarecedor da importância do convite recebido: «O Sr. Adido de Imprensa deverá apresentar-me uma notícia a divulgar pela Imprensa sobre o assunto» - 1980 É agraciado com o grau académico de Doutor Honoris Causa pela Universidade Técnica de Lisboa, por proposta do IST. - 1981 Manuel Rocha morre no dia 1 de Agosto, quando tanto havia ainda a esperar da sua extraordinária personalidade.
As manifestações de pesar e de apreço após o seu falecimento foram inúmeras, apresentando-se aqui, a título ilustrativo, algumas delas. Um americano, seu condiscípulo em 1938 no MIT ( EUA), em carta escrita à família em 1982, afirmava o seguinte: «Forty-four years ago I had the great good fortune to meet one of the finest gentlemen that I have ever known (…) My own life has been quite unremarkable and it has been one of my greatest pleasures to have had the honor of the friendship of a few very remarkable men; Manuel was the first and the greatest of them». O Engenheiro Ferry Borges, que lhe sucedeu na direcção do LNEC, afirmou: «O seu legado é constituído, não só por uma obra científica e técnica de alto valor, mas também e dominantemente por uma vida exemplar, em que toma excepcional dimensão: servir a sociedade em que se integra, desenvolver o conhecimento científico, contribuir para a acção educativa e fomentar a cooperação internacional». Armando Gibert, professor da Universidade Técnica de Lisboa e seu biógrafo, escreveu: «Para ser extraordinário e imensamente eficiente, Manuel Rocha não careceu de se tornar extravagante, nem insuportável,
Dos Antigos Alunos Antigos Alunos em destaque
nem exibicionista. Não!.....Ele foi sempre, também, um homem comum, simples, como toda a gente». Wang Sijing, professor de Engenharia Geomecânica da Universidade de Pequim, escreveu: «O Engenheiro Manuel Rocha contribuiu duma forma superior para o desenvolvimento do estudo da Mecânica das Rochas no mundo. Os seus trabalhos foram sempre lidos e deverão continuar a sê-lo por todos os engenheiros e técnicos chineses». Segundo o Engenheiro Moura Esteves, seu contemporâneo no LNEC e seu biógrafo: «Para Manuel Rocha a troca de conhecimentos é fundamental para o progresso da Humanidade e por isso incentiva a participação em congressos, visitas de estudos, reuniões etc…em particular além fronteiras. Organizando e participando nestas reuniões pôs o LNEC na boca do Mundo». «Constituíam também preocupação de Manuel Rocha as condições de vida, de trabalho, culturais e de bem estar dos seus colaboradores». Este último aspecto da personalidade de Manuel Rocha, quanto a mim pouco conhecido fora do LNEC, mas devidamente valorizado pelo pessoal do LNEC, que ainda hoje o recorda com grande apreço, mostra-nos como Manuel Rocha era um humanista e um homem avançadíssimo em relação ao seu tempo. Na realidade, só no final da década de 1990 se começa a divulgar em Portugal a questão da Responsabilidade Social das Organizações e o reconhecimento do capital humano das empresas como o seu capital mais valioso. Manuel Rocha para além de conceituadíssimo técnico e dirigente do LNEC, foi o orientador do desenvolvimento nesta instituição de equipamentos de ensaio de Mecânica das Rochas, que ainda hoje são usados a nível mundial. O LNEC obteve no seu tempo 5 patentes de equipamentos de medição da deformabilidade e do estado de tensão de maciços rochosos, um deles o equipamento de amostragem integral de maciços rochosos, que ainda hoje é conhecido na gíria dos geotécnicos brasileiros como «o amostrador do Rocha». Manuel Rocha foi autor ou co-autor de 83 trabalhos científicos e proferiu cerca de 200 conferências em 30 países. Participou em mais de 70 Congressos e Simpósios, tendo sido relator geral de 5 deles. Como se depreende daquilo que ficou escrito, uma das paixões de Manuel Rocha foi o ensino. Em 1962 teve uma participação importantíssima no congresso subordinado ao tema «Reforma do Ensino de Engenha-
43
ria», organizado pelo IST. Apresentou uma comunicação de 53 páginas de uma enorme clarividência, que teve um grande impacto. Na época, o Engenheiro Atanagilde Teixeira Pinto comentou «A comunicação do Engenheiro Manuel Rocha, só por si, dava de facto motivo para se fazer um congresso sobre o ensino da engenharia». Passados mais de 30 anos sobre o congresso, o Professor Eduardo R. Arantes e Oliveira escreveu «A comunicação do Engenheiro Manuel Rocha foi um dos documentos que maior influência tiveram no progresso do ensino superior em Portugal». Felizmente a memória de Manuel Rocha tem sido devidamente preservada. No 40º aniversário do LNEC foi-lhe erigido um monumento nesta instituição, à qual dedicou grande parte da sua vida. Na proximidade do LNEC foi dado o seu nome a uma rua. Ainda no LNEC foi atribuído o seu nome ao edifício do Centro de Documentação e Informação Técnica. Na Avenida António Augusto de Aguiar, em Lisboa, em frente ao edifício da Ordem dos Engenheiros, de que foi bastonário, encontra-se também um monumento que o recorda a todos os que por ali passam. Em1982, um ano após a sua morte, a Sociedade Portuguesa de Geotecnia instituiu as «Lições Manuel Rocha», que se realizam anualmente no auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, sempre com a presença de um elevado número de elementos da nossa comunidade geotécnica. Estas lições são sempre proferidas por técnicos, nacionais ou estrangeiros, de reconhecido mérito a nível internacional. São um marco anual para a nossa comunidade geotécnica. Tive o privilégio de ser aluno de Manuel Rocha no primeiro curso de pós-graduação em Geotecnia realizado em Portugal (1975/76). Foi um dos melhores professores que tive na minha vida académica. Parafraseando o seu condiscípulo americano anteriormente citado, foi «one of the finest gentlemen that I have ever known», ou seja, era um grande Senhor. Foi um Homem exemplar, que enche de orgulho a comunidade dos Antigos Alunos do Colégio. Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957
Vasco Paulo Lynce de Faria (21/1960)
G
alardoado pela Associação dos Comités Olímpicos Europeus com o Olympic Laurel Award, pelo seu desempenho como presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), Vasco Lynce é o segundo português a quem foi atribuído este galardão. “Ao fim de tantos anos como dirigente desportivo, é uma honra receber tão prestigiante prémio. As minhas carreiras de atleta e dirigente foram extremamente gratificantes”, comentou Vasco Lynce que, para além de atleta, treinador, seleccionador nacional e formador, foi secretário de Estado do Desporto, presidente do Conselho Superior de Desporto e do Instituto Nacional do Desporto e presidente, secretário-geral e chefe de missão do Comité Olímpico de Portugal. A cerimónia da entrega dos prémios Laurel que constituem uma distinção que consagra individualidades ou organizações que tenham prestado excepcionais serviços ao desporto nos seus países, decorreu durante a 42ª Assembleia-Geral dos Comités Olímpicos Europeus.
44
Dos Antigos Alunos Aniversário da Associação
Gonçalo Salema Leal de Matos 371/1949
Comemoração dos
110 Anos da Associação Homenagem à Velha Guarda
©Fotos Leonel Tomaz
A
23 de Outubro de 2013 comemorou-se o 110º Aniversário da Associação, data em que como vai sendo tradição se homenageia a “Velha Guarda” que integra todos os Antigos Alunos que completaram e ultrapassaram os 70 anos de idade. Este ano compareceram 75 Antigos Alunos, verificando-se uma maior afluência do que nos anos anteriores. O programa deste encontro de romagem não diferiu dos realizados em anos anteriores. A concentração iniciou-se a meio da manhã, seguindo-se, na Biblioteca, a assinatura do Livro de Honra e a apresentação de cumprimentos ao Director, Coronel Tirocinado de Artilharia José António Figueiredo Feliciano que se encontrava acompanhado pelo Subdirector Coronel de Infantaria João Paulo Noronha da Silveira Alves Caetano (609/1973). O Director dirigiu palavras de saudação, enaltecendo o significado destas visitas ao Colégio e do que elas representam para os laços de ligação a esta Instituição, laços esses que perduram para o resto da vida. Coube ao Rui Figueiredo de Barros (62/1936) agradecer o termos sido mais uma vez recebidos neste nosso Colégio que todos amamos e do qual temos recordações de uma vivência ímpar que nunca se esquece e que perdura para a vida, Colégio onde regressamos sempre com grande entusiasmo e onde revivemos e convivemos com os nossos Camaradas, ao mesmo tempo recordando aqueles que nos deixaram mas cujo espírito se mantém connosco. No Largo da Luz, junto do Monumento foi prestada homenagem ao Colégio Militar, Instituição que ao longo de mais de 210 anos tem formado para vida, nas suas múltiplas facetas, milhares de Alunos que foram educados no seu seio. No Átrio do Fundador foi homenageado o Marechal António Teixeira Rebelo, tendo sido feita a deposição de uma coroa de flores. Pelo Capelão António Borges da Silva, na Capela do Colégio, foi rezada Missa pela intenção de todos os que com ele se relacionam. Seguiu-se o encontro com os Alunos sucessores e a tradicional fo-
Dos Antigos Alunos Aniversário da Associação
tografia nas escadarias da Enferma após o que, o Batalhão Colegial desfilou em continência na Parada do Corpo de Alunos. Já no Refeitório dos Alunos e antes do almoço, pelo Roberto Ferreira Durão (15/1942) foi lida a exortação que a seguir se transcreve:
110 anos da nossa Associação Um século apenas mais jovem do que o Colégio, Ambos são Nós...os dois em UM «Um por todos e todos por UM»! Tempo de “cerrar fileiras” Sem desvios nem barreiras. Em ambos, como em todos nós Se acende e reluz a mesma chama Num Caminho de todos os caminhos Que nos impele, reanima e clama («Nunca marchareis sozinhos»), Porque ela não se extingue, vem de nossos Avós. Certas mudanças podem vir, cair Sobre todos nós Para mais nos erguer. Fazer-nos entender e Crer Que tudo poderá acontecer Sem que morra jamais a Essência De um Passado que é Futuro!...Real e Espiritual! Tudo o que nos faz viver e Querer Um sempre novo e Eterno Portugal!
O almoço com a presença do Director, dos Órgãos Directivos da AAACM, do Subdirector, de Oficiais e de Sargentos em serviço no Colégio e dos Alunos, onde não faltou o “Amarelo de carne” e o “Vinho do Porto”, decorreu animadamente tendo os Antigos Alunos feito as honras ao prato da Culinária Colegial mais apreciado por muitas gerações que tiveram o privilégio de vestir a “Farda Cor-de-Pinhão”. À tarde, na Sede da Associação, foi descerrada, num lugar mais nobre, uma velha placa de bronze onde se inscrevem os nomes de Antigos Alunos mortos em combate.
45
46
Dos Antigos Alunos Curso de 1938/1945
CURSO DE 1938/1945 Romagem dos 75 anos de Entrada 23 de Outubro de 2013
Curso 1938/1945 – 75 Anos de ENTRADA – 23 de Outubro de 2013 ©Fotos Leonel Tomaz
N
os Claustros, José Joaquim Fragoso (26/1938) proferiu as seguintes palavras: «Senhor Director do Colégio Militar Peço licença para proferir algumas palavras sobre o significado que esta cerimónia tem para nós, os sobreviventes do Curso de 1938-45. Faço-o na qualidade de mais graduado do curso; por motivo, infelizmente, do falecimento do Comandante de Batalhão, o Carlos Chaby, e também o dos Comandantes de Companhia. O nosso curso volta ao Colégio para comemorar os já longínquos 75 anos de entrada. O Curso de 1938-45 tem orgulho na sua fidelidade ao Colégio Militar. Somos 14 sobreviventes. Estamos aqui dez. Faltam quatro que, por motivo de doença ou de força maior, não podem estar aqui connosco. Recordo: o Madruga, que reside nos EUA e que o falecimento de uma filha impediu de estar entre nós, o Amaral Mendes, o João Oliveira e o Fadié. Mas todos, no nosso pensamento e no deles, são aqui dados como presentes nesta cerimónia do descerramento da placa comemorativa dos 75 anos de entrada. Recordo também os numerosos companheiros já falecidos, cuja memória terá sido invocada há pouco na missa celebrada na Capela do Colégio. O Colégio, todos o sabemos, vive neste momento tempos difíceis e de incerteza. Neste contexto, a nossa presença aqui, 75 anos volvidos, é bem elucidativa sobre a fidelidade e a gratidão dos antigos
alunos e constitui uma demonstração clara de que o Colégio Militar é uma “escola de excelência” . Uma última palavra para saudar a presença, aqui entre nós, do Comandante de Batalhão e de um “rata”, pelo significado que tem em termos de continuidade das gerações colegiais. Mas, antes de terminar, cumpre-me felicitar o Comandante de Batalhão pelo seu discurso na inauguração do ano lectivo. Foi um discurso acima das contingências actuais, com carácter construtivo e voltado para o futuro, um sinal de longa vida para o Colégio Militar. Agradeço agora que os dois participem comigo no descerramento da placa dos 75 anos de entrada.» Estiveram presentes nesta romagem de saudade os Antigos Alunos: Ricardo Fernando Ferreira Durão (17/1938), José Joaquim Fragoso (26/1938), José Jerónimo Amaral Mendes (98/1938), Luís Eduardo de Almeida Campos Soares de Oliveira (137/1939), Carlos Frederico Dias Antunes (212/1939), Emygdio Landerset Cadima (236/1938), Fernando de Sousa de Brito e Abreu (330/1938), João Carlos de Freitas Teixeira Diniz (346/1939), Leandro Moreira Pereira Soveral (367/1938), José Silvestre Prista da Conceição Caetano (377/1938), José Gomes Névoa Caseiro (398/1939).
Dos Antigos Alunos Curso de 1973/1981
CURSO DE 1973/1981 Romagem dos 40 anos de Entrada 11 de Outubro de 2013
Curso 1973/1981 – 40 Anos de ENTRADA – 11 de Outubro de 2013 ©Fotos Leonel Tomaz
Estiveram presentes nesta romagem de saudade os Antigos Alunos Pedro Manuel Ramalho Ortigão Delgado (5/1973), José Eduardo Correia Barrento Sabbo (11/1973), Alexandre Antero Vieira de Quental (21/1973), Nuno Miguel Frazão Arnaut Pombeiro (70/1973), Luís Baptista Esteves Virtuoso (72/1973), José Manuel Wandschneider Caldeira (81/1973), António Paulo Ventura Martins (113/1973), António José Garção Cabeças (117/1973), Luís Miguel Guedes de Andrade Bacharel (141/1975), José Paulo Ribeiro Mateus (170/1973), Nuno José Porteiro Cetra (194/1973), Joaquim Pedro Nobre Neves Oliveira (198/1973), António Artur Amorim da Cunha Semedo (221/1973), José Nuno Castilho Ribeiro Pereira (233/1973), Luís Mário Costa Reis Gonçalves (254/1973), João Pedro de Moura Macara (273/1973), Luís Miguel Guerreiro Félix António (302/1972), Paulo Nuno Diniz Ferreira Pinto (324/1973), João Miguel Moura Costa Taveira (325/1974), Fernando Contreiras Braz de Oliveira (377/1973), José Manuel Pedro Custódio (386/1973), Manuel Branquinho Soares de Oliveira (480/1973), Henrique José Monteiro Oliveira (499/1973), Nuno Miguel de Melo Camilo Ferreira (546/1973), António José da Ponte Sancho (552/1974), João Paulo Noronha da Silveira Alves Caetano (609/1973), Miguel Maria Martins Lopes Guerreiro (614/1973), Cláudio Nunes Joubert Fernandes (624/1972), Rui Jorge Moraes Tomaz Valadas (626/1973), José Joaquim Tabuada Barata (634/1975), António Maria Lorena Ribeiro Filipe (675/1973).
47
48
Dos Antigos Alunos Curso de 1988/1996
CURSO DE 1988/1996 Romagem dos 25 anos de Entrada 27 de Setembro de 2013
Curso 1988/1996 – 25 Anos de ENTRADA – 27 de Setembro de 2013 ©Fotos Leonel Tomaz
N
a Biblioteca, Frederico António Aniceto Ferronha (90/1988) proferiu as seguintes palavras: «Passados um quarto de século, desde que pisámos esta casa pela primeira vez como meninos da Luz, e parece que foi ontem... ilusão do tempo ou rasteira das inesquecíveis memórias, que não se apagam e que bem pelo contrário se cimentam mais à medida que os anos nos brindam. Esta é a nossa segunda visita oficial como curso aniversariante de uma data para nós especial, e é tanto mais curioso que estas foram espaçadas por escassos dois anos. Diz-se que as saudades são mais cruéis no princípio, mas nós contrariámos essa máxima, pois foram precisos demasiados anos para retornarmos a esta casa e agora insistimos repetidamente em homenageá-la e brindá-la com o nosso respeito e gratidão neste último par de anos! Mas esta visita não podia contrastar mais com a primeira. Somos o primeiro curso de antigos alunos a presenciar a transformação radical que está em marcha. O ambiente mudou! O mundo mudou! A Europa mudou! O país mudou! As políticas mudaram! O ensino mudou! O exército mudou! Mas os valores não mudaram! Os princípios não mudaram! A identidade nacional não mudou!
Ou mudaram? Assistimos com apreensão ao destino do Colégio. Do nosso colégio. Porquê mexer no que funciona bem? Esta instituição que sobreviveu às invasões francesas, à guerra civil, aos vários governos liberais, à queda da monarquia, aos vários governos republicanos, à ditadura, à revolução dos cravos, ao FMI nos anos 80, à entrada no mercado económico europeu, parece agora resvalar com o terramoto das politicas de austeridade implementadas e ser órfão de uma decisão no mínimo precipitada e com falta de fundamentação técnica, que está a fazer mais mossa que qualquer convulsão sócio-política dos últimos dois séculos. Tememos a descaracterização completa do nosso Colégio. Sabemos que tem de haver reformas, mudanças inerentes à conjuntura actual, mas não revoluções. O Colégio já mudou de nome, de local, de número de anos a frequentar, de origem dos candidatos, de horários, mas nunca pondo em causa o projecto de formação humana, inspirada nos valores militares como a lealdade, a camaradagem e o amor à pátria e em que os meninos da Luz saem homens após 8 anos de casa, preparados para se integrar nos diferentes sectores da sociedade e da economia. Prova disso é o contributo de forma muito proeminente para o bem de Portugal.
Dos Antigos Alunos Curso de 1988/1996
Preservar o Colégio Militar significa investir no futuro do nosso país através da formação de jovens com os valores e princípios que todos acreditamos que deverão ser imutáveis. Não queremos um involucro que mantém o nome, mas muda inteiramente de conteúdo. Não desejamos discutir politicas partidárias, nem opções ideológicas, nem queremos melindrar ou lacerar a actual direção do Colégio. Gostamos apenas do nosso Colégio. Sei por experiência própria, como cirurgião de um hospital central do SNS o que é trabalhar com os recursos actuais e as orientações vigentes na administração pública. E sei que todos os dias se fazem milagres nos vários ministérios. O que aprendemos, o que sentimos, o que respirámos e o que provámos nos anos que aqui vivemos, consolidaram em nós, as ligações que perduram, as atitudes que temos perante a Vida, e nos ajudaram a fazer de nós os Homens que somos. O nosso passado, presente e futuro deve-se em grande parte ao empenhamento de todos quantos com dedicação, profissionalismo e amizade contribuíram para a nossa formação, fazendo jus ao nosso lema de “Um por todos , todos por um!”» Estiveram presentes nesta romagem de saudade os Antigos Alunos:
49
António António Aniceto Ferronha (90/1988), António Pedro Ferreira Fortes (132/1989), Eduardo Augusto Pinto Basto Metzener (174/1988), Amâncio Nuno Ferreira Santos (182/1988), Hugo Emanuel Camilo Quintela (196/1988), Pedro Queiroz Antão (202/1987), Óscar António Piçarra de Castro Graça Ferreira (279/1987), Sérgio Filipe Monfreitas da Silva Barreira (323/1988), Luís Miguel Gomes Gonçalves (348/1987), José Miguel Cara Nova Camacho da Cruz (352/1988), Pedro Miguel de Brito Esteves Grilo (427/1988), Vítor Luís Oliveira Ferreira da Silva (461/1987), Ricardo José Maia Carrilho (470/1988), Mário Miguel Costa e Sousa Pires Robalo (476/1988), Tiago Alexandre Luzio Duarte (488/1988), Paulo Alexandre Cerveira da Silva Capitão (489/1988).
©Foto Tiago Fonseca 140/92 tiagofonseca.photographer@hotmail.com
Tito Eurico Miranda Fernandes (15/1988), César Eduardo Pereira Cristóvão (22/1988), Rui José Moreira Calmão (59/1988), Frederico
ANTIGO ALUNO
USA A BARRETINA
50
Dos Antigos Alunos Do Cuamato à Flandres
Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957
Do Cuamato à Flandres Henrique Augusto Perestrelo da Silva (2/1902)
N
o nº 190, de Janeiro-Março de 2013 , desta nossa Revista, no artigo intitulado «De Chaves à Flandres», recordei e homenageei o Antigo Aluno 130/1900, António Germano Guedes Ribeiro de Carvalho, herói da 1ª Guerra Mundial (1914-1918). Nesse artigo inseri uma nota final que rezava assim: «Na força portuguesa, comandada por Ribeiro de Carvalho, que tomou parte no Desfile da Vitória em Paris, o Porta Estandarte era um outro Antigo Aluno do Colégio, o tenente Hen-
rique Perestrelo da Silva (2/1902), também ele agraciado com a Ordem da Torre Espada». Sobre Henrique Perestrelo da Silva pouco mais sabia para além daquilo que constava da nota final transcrita e confesso que fiquei com curiosidade de conhecer mais acerca da sua vida. Quis o destino, que pouco após ter escrito o referido artigo tivesse acesso à síntese biográfica deste notável Antigo Aluno, que consta do livro da autoria do Costa Matos (96/1950), apresentado ao público no 3 de Março de
2013, no Colégio, com o título «O Colégio Militar-Berço de Grandes Portugueses». A consulta da referida síntese biográfica permitiu-me constatar que Perestrelo da Silva teve a particularidade de combater em dois teatros de operações distintos, em dois continentes diferentes, durante a 1ª Guerra Mundial. Começou por combater no sul de Angola, em 1915, na campanha do Cuamato, contra as tropas alemãs que penetraram no sul de Angola vindas do Sudoeste Africano (actual Namíbia), atravessando e violando a zona neutral então estabelecida ao longo da fronteira entre os dois territórios. De seguida, em Março de 1916, Perestrelo da Silva regressa à metrópole, para no ano seguinte, em Junho de 1917, partir para França, para combater na Flandres integrado no Corpo Expedicionário Português. Em ambos os teatros de operações, em ambientes de guerra que não podiam ser mais díspares, Perestrelo da Silva cobriu-se de glória pelo seu heróico comportamento em combate. Para dar a conhecer à actual comunidade de Antigos Alunos quem foi este notável combatente, apresento de seguida, com autorização do Costa Matos (96/1950), excertos da sua síntese biográfica anteriormente referida.
ANGOLA Com a 1ª Guerra Mundial a fustigar a Europa e as colónias africanas, no começo de 1915 foi nomeado para o 3º Batalhão do seu Regimento, que iria integrar uma nova expedição a Angola comandada pelo general António Júlio
Dos Antigos Alunos Do Cuamato à Flandres
51
Henrique Perestrelo, Porta-Bandeira do CEP no desfile em Paris comemorativo da Victoria na Primeira Grande Guerra
da Costa Pereira de Eça (73/1864), que levava como missão vingar o «desastre de Naulila» ocorrido a 18 de Dezembro do ano anterior frente a forças alemãs que haviam penetrado na fronteira sul de Angola, e também de pacificar a sublevação de indígenas da região, liderados por Mandume. A força expedicionária embarcou a 3 de Fevereiro de 1915 e desembarcou em Moçâmedes vinte dias depois. Em Agosto, depois de efectuadas as tarefas de planeamento, preparação das comunicações e articulação de forças, estas organizaram-se em três destacamentos que convergiriam sobre o Cuanhama partindo de Evale, do Cuamato e do Humbe.
Em 17, 18 e 19 de Agosto, o destacamento do Cuanhama que era acompanhado pelo general Pereira de Eça e tinha como objectivo final NGiva, onde se situava a embala do soba Mandume, é violentamente atacado nas cacimbas de Môngua onde procurava reabastecer-se de água. No último daqueles dias, com os esquadrões de Cavalaria impossibilitados de intervir por estarem reduzidos a apenas dez montadas, as tropas apeadas conduziram uma corajosa carga sobre o inimigo, que não mais voltou a atacar. Porém o destacamento estava agora sem víveres, nem munições, nem água e carecia de socorro urgente.
Tropas sob o comando de Henrique Perestrelo, em Angola e na 1ª Grande Guerra
O alferes Perestrelo da Silva e a sua companhia partem então do Humbe no dia 21, para se integrarem no destacamento do Cuamato que em vez de prosseguir para NGiva, optou por partir em auxilio de Môngua. A caminho das linhas de comunicações cujo restabelecimento iria permitir reabastecer as tropas em situação critica, o destacamento do Cuamato, que integrava agora Perestrelo da Silva, teve ainda de vencer várias resistências bem como o combate da Chana da Mula no dia 24, dia esse em que chegaram ao seu destino após uma notável marcha de 130 km feita em 50 horas. Reunidas e reabastecidas as tropas, o destacamento do Cuamato é dissolvido no dia 27 de
52
Dos Antigos Alunos Do Cuamato à Flandres
Agosto e, enquanto em Môngua se constrói um forte, organiza-se com as forças aí concentradas uma coluna, na qual se integram Perestrelo da Silva e a sua companhia e que avançará sobre NGiva a 2 de Setembro, chegando dois dias depois à embala de Mandumbe, que fora abandonada e incendiada quando da fuga do soba e da sua gente para território além fronteira.
FRANÇA
Fruto da sua heróica conduta na guerra Perestrelo da Silva foi agraciado com os graus de cavaleiro e comendador da Ordem da Torre e Espada e de oficial e comendador da Ordem de Aviz, e condecorado com a medalha de prata de Valor Militar com palma, três (3) Cruzes de Guerra, medalha comemorativa das Campanhas com as legendas «Sul de Angola 19151916» e «França 1917-1918» e medalha da Vitória. A estas veneras acresceu a concessão das medalhas de ouro e prata de Comportamento Exemplar e a medalha de Mérito da Cruz Vermelha. Trata-se de mais um Antigo Aluno que por obras valorosas se foi da lei da morte libertando, cujas valentia e dedicação à Pátria aqui homenageamos. As fotos que ilustram este artigo foram cedidas por José Alberto da Costa Matos (96/1950)
Nota Final Como se pode comprovar pela primeira fotografia apresentada, Perestrelo da Silva tal como Ribeiro de Carvalho tinha como Unidade de origem o Regimento de Infantaria 19, de Chaves. Que grande Unidade!
©Foto Tiago Fonseca 140/92 tiagofonseca.photographer@hotmail.com
Ainda com o posto de alferes, embarcou para França em 20 de Junho de 1917 para o 2º Depósito de Infantaria do Corpo Expedicionário Português (CEP) passando, a partir de meados de Julho, a fazer parte do Batalhão de Infantaria nº14 que, na Flandres, combateu nas trincheiras dos sectores de Fauquissart e Neuve Chapelle, conhecido como o «Sector da Morte» e onde a 9 de Abril se travou a batalha de La Lys. A actuação do já tenente Perestrelo da Silva foi relatada do seguinte modo pelo General Santos Correia: «Em cumprimento da missão recebida do capitão Vale de Andrade, comandante do BI 14, o tenente Perestrelo da Silva, comandante da 2ª Companhia, ocupou pelas 8 horas o posto de Eton, onde se manteve até perto das 12horas.
Tornada insustentável a ocupação do posto pela violência do bombardeamento alemão, o tenente Perestrelo retirou sobre Bout Deville, onde se encontrava o comandante do Batalhão, com a 3ª Companhia e um pelotão da 4ª. Bout Deville foi o centro de uma valorosa resistência. Ferido o capitão Vale de Andrade, assumiu o comando o tenente Perestrelo , que pela sua competência e pelo exemplo que dava da sua valentia, ganhou a confiança dos seus cooperadores e conseguiu manter sempre elevado o espírito combativo dos que lutavam sob as suas ordens. A massa inimiga aumentava constantemente. A fim de evitar o envolvimento, Perestrelo retirou sobre Clifton (P) sempre combatendo. Encontrou aí uma secção inglesa com duas metralhadoras. Nova e valorosa resistência foi aí efectuada e mantida, até que nova ameaça de envolvimento levou o tenente Perestrelo a retirar, com a secção inglesa, sempre combatendo, sobre Pont Riqueul, onde continuou a resistir até à chegada das forças Inglesas. Só então as forças do tenente Perestrelo, exaustas por quatro horas de luta constante e violenta, durante a qual haviam sofrido 50 mortos e mais de uma centena de feridos, cumprida que fora, com heroísmo, a missão recebida, retiraram ordenadamente em direcção de Merville».
ANTIGO ALUNO
USA A BARRETINA
Do Colégio Abertura Solene do Ano Lectivo
53
Gonçalo Salema Leal de Matos 371/1949
Abertura solene do Ano Lectivo A
18 de Outubro de 2013, num dia chuvoso com períodos de grande intensidade de precipitação, realizou-se a Abertura Solene do Ano Lectivo 2013/2014, cerimónia que foi presidida pelo Comandante de Instrução e Doutrina do Exército Tenente General Frederico José Rovisco Duarte, tendo-lhe sido prestada Guarda de Honra pela 4ª Companhia de Alunos com Banda, Fanfarra e Guião do Colégio, na Parada do Corpo de Alunos. Nos Claustros, tendo como anfitriões o Director Coronel Tirocinado de Artilharia José António Figueiredo Feliciano e o Subdirector Coronel de Infantaria João Paulo Noronha da Silveira Alves Caetano, a habitual presença de Oficiais Generais e Oficiais dos três ramos das Forças Armadas, Adidos Militares estrangeiros, representações dos Estabelecimentos de Ensino Militar, do Instituto de Odivelas e Instituto dos Pupilos do Exército, Entidades civis, Corpo Docente e Servidores do Colégio, Familiares dos Alunos e Convidados. Os Antigos Alunos, envergando gravata preta e em silêncio, estiveram na arcada superior dos Claustros enquanto durou a formatura do Batalhão Colegial, saindo para o Largo da Luz quando esta ficou concluída. No Largo da Luz decorreu uma manifestação de pesar pela actual situação criada ao Colégio pelo Governo em funções, a que se seguiu uma cerimónia na Parada do Corpo de Alunos, descritas em artigo separado nesta revista. Feita a Integração do Estandarte Nacional, foi entoado o Hino Nacional pelo Batalhão Colegial e em uníssono pelos Antigos Alunos que se encontravam no Jardim da Luz junto do Monumento ao Colégio Militar. Feita a apresentação dos novos Alunos e Alunas, pelo Comandante do Batalhão, Nuno Miguel Lopes Raposo (196/2006), foram proferidas palavras de boas-vindas numa alocução relevante e reveladora de grande maturidade e objectividade na transmissão do que se deseja para o nosso Colégio. Por tudo aquilo que representam e pelo seu grande significado, tais palavras estão integralmente reproduzidas no Editorial.
54
Do Colégio Abertura Solene do Ano Lectivo
“Exmo. Senhor Tenente-General Frederico José Rovisco Duarte, Comandante da Instrução e Doutrina do Exército, Meu General Comandante, O Colégio Militar e toda a comunidade colegial congratula-se pela presença de V.Ex.ª ao dignar-se presidir à cerimónia de abertura solene do ano lectivo 20132014, o que muito nos honra e sensibiliza, conferindo a esta cerimónia um especial brilho, dignidade e relevância. Num momento em que diferentes variáveis passaram a caracterizar o Projecto Educativo do Colégio Militar, o apoio do Meu General será decisivo e motivador para que se possa encarar o futuro com tranquilidade e confiança, cientes e seguros da prioridade que o meu General confere ao cumprimento da nobre missão que nos incumbe. Excelentíssimo Senhor Tenente-General Rocha Vieira, Chanceler das Antigas Ordens Militares, Exmos. Senhores Oficiais Generais, Excelentíssimo Senhor Director de Educação, Permitam-me que dirija uma palavra de particular apreço e consideração pelos que me antecederam no cargo de Director do Colégio Militar, na pessoa do Exmo. Tenente-General Perry da Câmara, Exmos. Senhores Directores do Instituto de Pupilos do Exército e do Instituto de Odivelas, Excelentíssimo Senhor Presidente da Junta de Freguesia de Carnide, Exmos. Senhores Presidentes da Associações de Antigos Alunos e da Associação de Pais e Encarregados de Educação, Oficiais, Docentes, Sargentos, Praças e Funcionários Civis Caros alunos, Pais, Encarregados de Educação e ex-alunos, Senhores Adidos Militares de O Comandante do Batalhão, Nuno Raposo (196/2006), recebe a espada de D. Carlos das mãos do Batalhãozinho, Diogo Martins Países Amigos, (279/2013). ©Foto Leonel Tomás Entidades instituidoras de prémios, Exmas. entidades convidadas, Minhas senhoras e meus senhores, Pelo Aluno Batalhãozinho, Diogo Trindade RoComeço por agradecer penhoradamente a todrigues Martins (279/2013), foi entregue ao dos os ilustres convidados que nos quiseram Comandante do Batalhão a réplica da espada honrar com a sua presença nesta cerimónia de D. Carlos (símbolo do Comando), seguindopública, que anualmente comemora e formaliza -se o abraço que simboliza a união e a camao início de um novo ano escolar, facto que interradagem de todos os que fazem parte desta pretamos como um sinal inequívoco do respeito multissecular Instituição. que vos merece a instituição Colégio Militar. Apesar do tradicional formato que caracteriza No Ginásio decorreu a Sessão Solene, tendo o uma sessão solene de abertura do ano lectivo, Director do Colégio, Coronel Tirocinado de Artie antes de me dirigir à realidade do que foi, e lharia José António Figueiredo Feliciano, proferiperspectivamos venha a ser o ano lectivo, que do as seguintes palavras: formalmente hoje se inicia, entendemos ade-
quado partilhar com a comunidade aqui presente algumas reflexões sobre a nobre responsabilidade de educar. Educar é um ato de elevação. É construir gerações. É desenhar o futuro. É olhar para uma criança, para um adolescente e para um jovem, e vê-lo crescer no ideal de que o futuro se constrói todos os dias. Exige responsabilidade e trabalho. Mas também exige engenho e arte. É um ato de procura e de encontro. Educar é colocar o homem e a sua dignidade no centro do processo educativo, e tudo fazer para que se consiga aproximar realisticamente o processo educativo dos seus primeiros interessados, os alunos. Educar não é somente uma questão de técnicas pedagógicas e de saberes cognitivos. É também encontrar o ético sobre o técnico, o primado da pessoa sobre as coisas, a superioridade da razão e do entendimento. Educar é uma acção permanente e consciente que permite fazer crescer um ser humano nos domínios Cognitivo, Afectivo – Emocional, Ético – Moral e Psicomotor. O processo educativo é um dever que aponta para uma escala de valores. Só haverá educação se todos formos capazes de chegar às convicções dos alunos, às suas estruturas cognitivas e emotivas, e conseguir despertar a curiosidade de Saber, de Estar e de Ser, pois somos daqueles que entendemos que há sempre mais para fazer, para ensinar, para aprender, para ser. A este complexo espectro, o Projecto Educativo do Colégio Militar designa formação integral. Trata-se de um longo período em que o conhecimento, os valores e as atitudes se transmitem num legado de gerações, em que os mais velhos e os mais novos se encontram numa missão ética de mútua responsabilidade. Educar, nos tempos que correm, não é uma tarefa fácil. A Escola, a Família e a Sociedade desenvolvem uma responsabilidade partilhada a cada espaço e cada momento, pelo que educar exige que a comunidade educativa pense e actue no plural e no colectivo. Estamos, assim, perante uma evidência que os fenómenos educativos são complexos e extremamente abrangentes. Neste quadro geral todos seremos poucos para formar os nossos alunos, pois somos dos que acreditamos que todos os membros são reciprocamente importantes e que os objectivos são atingidos por compromissos mutuamente assumidos. Revisitados alguns dos fundamentos do que entendemos ser a nossa responsabilidade de educar é tempo de olhar para o presente. O ano lectivo que formalmente hoje se inicia fica marcado pelo designado processo de re-
Do Colégio Abertura Solene do Ano Lectivo
estruturação dos Estabelecimentos Militares de Ensino, sendo de relevar como mais significativas as seguintes acções: Abertura do 1º Ciclo do Ensino Básico; Introdução do ensino misto, com a admissão de alunos do género feminino em regime de externato; Para os alunos masculinos, opção de frequência entre o regime de internato ou externato; Admissão directa de alunos para o 10º ano; Criação do cargo de Coordenador Pedagógico. Neste quadro geral refira-se que iniciámos o ano lectivo com 423 alunos,
o ano em regime de internato e 18 optaram pela frequência em regime de externato. Para o efectivo de alunos referidos o Colégio Militar iniciou o presente ano com 61 docentes, menos 6 que no ano anterior, o que se traduz num efectivo esforço de racionalização e optimização de recursos que está a ser desenvolvido em coordenação com a Direcção de Educação do Comando de Instrução e Doutrina do Exército. De acordo com os referenciais atrás referidos, o presente ano lectivo será necessariamente caracterizado por alguns procedimentos de tran-
55
doras do projecto educativo do Colégio Militar. Relativamente à documentação estruturante do Colégio Militar, foi aprovado o novo Projecto Educativo, o Regulamento Interno/Guia do Aluno, o Projecto Curricular e o Plano Anual de Actividades, cumprindo o disposto na legislação em vigor. É também de referir o esforço que foi desenvolvido na melhoria das instalações dos nossos alunos e no aspecto geral do nosso Colégio, e ainda a adaptação de algumas infraestruturas que permitiram iniciar o 1º Ciclo do Ensino Básico e acolher as alunas do Batalhão Cole-
Da esquerda para a direita: Ten-General Paiva Morão (256/1946), Maj-General Cóias Ferreira, Ten-General Rocha Vieira (127/1950), Ten-General Rovisco Duarte, Ten-General Perry da Câmara (143/1940), Coronel Miranda Soares, Dr. António Reffóios (529/1963), Afonso Lopes (237/1976), Director do Colégio na sua alocução.. Escolta comandada pelo Aluno Gonçalo Santos (13/2006). ©Foto Leonel Tomás
sendo 386 alunos do Batalhão Colegial e 37 alunos do 1º Ciclo do Ensino Básico. Neste propósito refira-se que os alunos do 1º Ciclo assumem a condição de alunos do Colégio Militar, num modelo organizacional diferenciado dos demais alunos do 2º e 3º Ciclos e do Ensino Secundário, não integrando o Batalhão Colegial. Dos 386 alunos que integram o Batalhão Colegial, 124 são novos alunos, sendo 87 masculinos e 37 femininos. Dos 37 alunos do 1º Ciclo do Ensino Básico, 26 são masculinos e 11 são femininos. No que se refere ao regime de frequência interno-externo, dos 349 alunos com opção de escolha, ou seja os alunos masculinos que integram o Batalhão Colegial, 331 iniciaram
sição de modo a implementar e a acomodar todas as transformações, designadamente na adequação de processos e entendimentos aos diferentes níveis que permitam encontrar a necessária e imprescindível estabilidade tão necessária a qualquer processo educativo. Passou a ser uma das nossas preocupações desenvolver e reforçar os conceitos decorrentes de uma verdadeira Pedagogia Inclusiva. Entendemos igualmente reforçar e formalizar, no nosso currículo do Ensino Secundário, a componente específica da Liderança e Valorização Pessoal, procurando deste modo criar novos referenciais que permitam ir incorporando e formalizando cada vez mais cedo este conjunto de competências tão essenciais e diferencia-
gial no início do presente ano lectivo. Meu General Comandante, Ilustres Convidados, Minhas Senhoras e meus Senhores, Temos consciência que existe um longo caminho a percorrer, mas nesta fase cumpre-me reconhecer a todos os que servem no Colégio Militar, e à comunidade colegial em geral, o esforço e a dedicação para se ter chegado até aqui com o sentimento do dever cumprido e, sobretudo, com a consciência de que tudo temos feito, para que o Colégio Militar continue a honrar a sua história e o seu passado, e que dentro da nossa área de responsabilidade continue a ser uma instituição de referência no sistema de ensino português.
56
Do Colégio Abertura Solene do Ano Lectivo
Temos o dever e o compromisso de continuar a entender o Colégio Militar como uma instituição escolar assente em projectos fortes e marcantes numa diferença positiva, em que todos os agentes educativos se sintam envolvidos num futuro de excelência. O Colégio Militar continuará, seguramente, a Servir Portugal sabendo encontrar nos princípios e valores o seu principal diferenciador, nomeadamente nos valores da ética, do carácter, da honra, da lealdade, da camaradagem, do espírito de servir e do amor à Pátria. Articular um projecto educativo que se encontre entre o tempo em que vivemos e o quadro de valores que caracteriza a matriz formativa do Colégio Militar será o nosso principal compromisso. A terminar, reitero que temos de estar conscientes dos desafios que vivemos e que independentemente das suas diferentes variáveis é importante para as Forças Armadas e para o País, a manutenção de um projecto militar de ensino como uma indiscutível mais-valia no quadro da oferta formativa existente em Portugal. Será no encontro entre os valores da Instituição Militar e a construção e afirmação de um projecto educativo adaptado à realidade social que deveremos encontrar o nosso caminho. É com o conhecimento do passado, a compreensão do presente e a reDirector do Colégio, Coronel Tirocinado de Artilharia José António Figueiredo Feliciano. ©Foto Leonel Tomás flexão prospectiva que se aprende a escolher, a traçar e a percorrer novos caminhos. Poderei afirmar em nome de todos os que serÉ fundamental uma visão colectiva que de vem no Colégio Militar, com convicção, que uma forma articulada, coerente e sustentapodemos e queremos continuar a ser uma insda, encontre um propósito onde as pessoas se tituição de referência da qual o Exército e o País possam rever num projecto com os melhores se orgulhem. referenciais educativos. A todos os alunos faço votos dos maiores sucesConcentremo-nos nos resultados escolares, assos escolares em harmonia com a vida colegial, sociemos atitudes e comportamentos, valores para a qual considero essencial o contributo eme princípios, liderança e cidadania, enfim na penhado dos nossos formadores e docentes, construção de personalidades sólidas e cone ainda dos alunos graduados finalistas, pela fiantes no futuro. É o tempo de cada um ser fiel importância que tem no projecto formativo do aos seus deveres e obrigações. Colégio Militar. Só assim poderemos dizer aqui e agora, no iníAos alunos que terminaram a sua formação no cio deste ano lectivo, que queremos encontrar Colégio Militar, no ano lectivo anterior, desejoas respostas para as dificuldades, e que juntos -lhes as maiores felicidades na condição de anseremos capazes de ultrapassar obstáculos e tigos alunos, designadamente na frequência do desafios com inteligência, com realismo, com ensino superior e posteriormente na respectiva determinação e com o trabalho de todos, em vida profissional. especial num momento de diferença, em que o sentido da mudança e da evolução para novos Um bom ano lectivo para todos.” desafios passou a ser uma realidade.
A oração de sapiência, subordinada ao tema «A Matemática do Planeta Terra» esteve a cargo do Professor Dr. João Manuel Candeias dos Penedos (19/1971): “O Desafio de apresentar esta lição inaugural surgiu do convite que me foi dirigido pelo Exmo. Director do Colégio Militar, Coronel Tirocinado José António de Figueiredo Feliciano, o qual aceitei de bom grado. Tendo a preocupação de dar uma visão o mais abrangente possível da importância da Matemática na nossa vida nos diferentes aspectos do nosso dia a dia, bem como ela nos ajuda a compreender o planeta que habitamos. Desde os primórdios da Humanidade, que se verifica a necessidade do Homem conhecer e acima de tudo compreender o mundo onde vive, inicialmente não seria tanto pela sua “sede” de conhecimento, mas muito provavelmente por uma questão de segurança e bem-estar. Que adivinha do fato de poder prever acontecimentos e fenómenos, os quais muitas vezes seriam cruciais para a sua sobrevivência, tais como as migrações dos animais que caçavam, as estações do ano com as consequentes alterações climáticas. Para isso teve que desenvolver um raciocínio abstracto, que lhe permitisse fazer cálculos simples e rudimentares, mas que eram essenciais para o seu êxito como espécie. Daí encontrarmos espalhados por todo o Mundo diversos tipos de monumentos e construções megalíticas, muitas das quais só recentemente começamos a entender o seu significado. Mas quase todas elas se caracterizam por terem orientações precisas com pontos cardeais, astros ou constelações, denunciando assim o conhecimento de conceitos de astronomia e de conceitos de matemática. Diversos povos como os Sumérios, os egípcios, os gregos, os chineses contribuíram com diversos conceitos e aplicações práticas para o seu dia-a-dia, que encontramos em diversos documentos (papiros) e inscrições. Na Grécia antiga diversos nomes de vulto se debruçaram sobre conceitos matemáticos, como por exemplo Platão: “Platão sempre considerou que a ciência dos números ou aritmética se encontra acima de muitas outras que eram tidas como essenciais para as artes profissionais. Platão era um entusiasta da Matemática. Os grandes matemáticos do seu tempo, ou foram seus alunos, ou seus amigos. Nesse sentido, não se poderá deixar de referir que, à entrada da Academia, segundo fontes posteriores, se lia a máxima:
Do Colégio Abertura Solene do Ano Lectivo
Que não entre quem não saiba geometria” “Para Platão a Matemática era, antes de mais, a chave da compreensão do universo. Indagado certa vez sobre a actividade do Criador (demiurgo), respondeu: Ele geometriza eternamente”. “Além disso, a Matemática é o modelo de todo o processo de compreensão. Se a missão da filosofia é descobrir a verdade para além da opinião e da aparência, das mudanças e ilusões do mundo temporal, a Matemática é um exemplo notável de conhecimento de verdades eternas e necessárias independentes da experiência dos sentidos. Como Platão defende na República, o filósofo deve saber matemática porque: • Ela tem um efeito muito grande na elevação da mente compelindo-a a raciocinar sobre entidades abstractas • Mais importante que dez mil olhos” Matemática no Renascimento Leonardo Fibonacci, também conhecido como Leonardo de Pisa, Leonardo Pisano ou ainda Leonardo Bigollo, (Pisa, c. 1170 — Pisa ?, c. 1250). É considerado por alguns como o mais talentoso matemático ocidental da Idade Média. Ficou conhecido pela descoberta da sequência de Fibonacci e pelo seu papel na introdução dos algarismos arábicos na Europa. Leonardo da Vinci tinha uma visão estética da matemática que foi buscar as suas raízes à geometria de Euclides e Platão que Leonardo estudou com afinco. Embora a invenção da primeira máquina calculadora mecânica tenha sido atribuída a Blaise Pascal (1623 1662), a verdade é que, 150 anos antes, Leonardo da Vinci já tinha trabalhado nessa área. A Matemática descreve os movimentos da Terra Através das três leis de Johannes Kepler, pela primeira vez os movimentos da Terra e dos outros astros celestes ganharam uma lógica matemática e previsibilidade:
orientar e faziam-no utilizando os seguintes instrumentos: astrolábio, astrolábio náutico português, bússola, bússola giroscópica, bússola inglesa ou bússola chinesa, balestilha, nocturlábio, quadrante, rosa-dos-ventos, cartas portulano, etc. À medida que as viagens marítimas aumentaram, maior importância adquiriram as “artes de navegar”. Matemática aplicada ao movimento dos corpos Isaac Newton foi um dos grandes impulsionadores da Física e da Matemática após o Renascimento, um dos seus trabalhos mais importante foi em mecânica celeste, que culminou com a Teoria da Gravitação Universal. A Matemática aplicada ao clima Previsões - Modelos - os modelos estatísticos, que se baseiam na identificação das relações entre as condições meteorológicas e as concentrações de poluentes medidas nas estações de monitorização de qualidade do ar através da análise do histórico de alguns anos. - os modelos numéricos, determinísticos, que simulam a dispersão e as transformações químicas dos poluentes na atmosfera, recorrendo a inventários de emissões de poluentes atmosféricos e a informação meteorológica.
Dr João Manuel Candeias dos Penedos (19/1971), Licenciado em Engenharia Física pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. ©Foto Leonel Tomás
A Matemática na Física e na Química A equação de Schrodinger desempenha o papel que lei de Newton e conservação de energia desempenha na mecânica clássica. Definindo as formas das orbitais atómicas e condicionando as
“… Todos os planetas se movem em orbitas elípticas tendo o Sol como um dos focos…” “…Uma linha unindo um planeta ao Sol varre áreas iguais em períodos de tempo iguais…” “… O quadrado do período de qualquer planeta em torno do Sol é proporcional ao cubo da distância média entre o planeta do Sol…” A Matemática aplicada à navegação Primeiros mapas náuticos que eram desenhados em pergaminho, foram muito utilizados pelos portugueses no séc. XVI. Para poderem navegar os marinheiros tinham que se
57
“O universo (...) não pode ser compreendido a menos que primeiro aprendamos a linguagem no qual ele está escrito. Ele está escrito na linguagem matemática e os seus caracteres são o triângulo, o círculo e outras figuras geométricas, sem as quais é impossível compreender uma palavra que seja dele: sem estes, ficamos às escuras, num labirinto escuro.” (1626 - Galileu Galilei)
ligações moleculares, dando-nos assim a possibilidade de percebermos como se formam as complexas moléculas orgânicas, as quais estão na base da vida que surgiu neste planeta Terra.
Seguiu-se a entrega de medalhas e prémios aos Alunos que no ano transacto se distinguiram pela sua aplicação literária e física e as cartas de Curso aos Finalistas do ano de 2012/2013, tendo a cerimónia sido encerrada com o Hino Nacional entoado por todos os presentes.
58
Do Colégio Jornada de Luto dos AA
Os Antigos Alunos na Abertura Solene Jornada de Luto Esta foi a jornada que eu gostaria de nunca ter vivido. Esta foi a jornada que eu gostaria de não ter que relatar.
©Foto Leonel Tomás
Do Colégio Jornada de Luto dos AA
©Foto Francisco Silva Alves (392/1954)
H
á dois anos atrás, na cerimónia de inauguração do ano lectivo de 2011/2012 o Ministro da Defesa decidiu ir ao Colégio e proferir um discurso, anunciando que tinha grandes planos para uma reforma do Colégio. Há anos que a nossa Associação pugnava por uma reforma do Colégio, que pusesse fim ao processo de perda da sua capacidade de atrair a si novos alunos, tendo dado contributos variados para uma possível reforma, os quais foram sendo sucessivamente ignorados. Assim sendo e admitindo que os planos do Ministro iriam no sentido de manter a especificidade e as características próprias do Colégio, os Antigos Alunos presentes na cerimónia ficaram felizes e até entusiasmados, tendo brindado o Ministro com um ZACATRAZ. Eu próprio, muito ingenuamente, como já tive há muito que reconhecer, escrevi nas páginas desta nossa revista que aquele tinha sido o discurso pelo qual nós há anos esperávamos. Passados alguns meses sobre o seu discurso, o Ministro da Defesa publicou um despacho, que me levou a escrever, em mensagem enviada a um dos nossos, o seguinte «O Colégio, tal como o conhecemos e vivemos, morreu. Vamos ver agora as cenas dos próximos capítulos». Os capítulos seguintes, como todos sabem, foram horríveis, com a nossa Associação a pugnar abnegadamente e sem desfalecimento pela defesa do Colégio, esbarrando frontalmente contra uma muralha
de incompreensão e até, porque não dizê-lo claramente, de má fé. O ano passado, na cerimónia de inauguração do ano lectivo, o Ministro, que tinha dito no ano anterior que aí estaria presente para dar conta do andamento dos trabalhos da «sua reforma», faltou à sua palavra e não deu qualquer explicação, comportamento totalmente inaceitável no seu cargo. Teve medo de comparecer, ele sabia bem porquê. Extraordinário exemplo de verticalidade dado aos Senhores Alunos! A reforma prosseguiu e os seus resultados estão à vista de todos. Foi ditada a sentença de extinção do mais que centenário Instituto de Odivelas, frequentado ao longo de toda a sua existência por mães, irmãs, primas, namoradas, mulheres e filhas de muitos de nós. Foi ferido, provavelmente de morte, o nosso Colégio, com a introdução de medidas que, a não serem prontamente revogadas, levarão à sua completa descaracterização. Foram feitos ao Ministro variados apelos para suspender o processo que pôs em marcha ao arrepio da vontade dos Antigos Alunos e Alunas do Colégio e de Odivelas, foram-lhe dadas oportunidades de parar e retroceder com honra, o que só o enobreceria, mas tudo ignorou. Com enorme teimosia e arrogância, precipitou uma nefasta reforma que bem reflecte as suas insensibilidade, falta de senso e enorme ignorância sobre a matéria em causa. Face à situação vivida, decidiu a nossa Asso-
59
ciação «tocar a reunir», convocando-nos para estarmos presentes no Colégio por ocasião da cerimónia de inauguração do ano lectivo de 2013/2014, a que mais uma vez o Ministro não teve coragem de comparecer. Ainda bem que assim foi! Não era bem-vindo! Na folha que a todos foi distribuída, no nosso local de concentração no Quartel da Formação, escreveu a nossa Associação «O Colégio vive dias negros e encontra-se sob ameaça de morte. Por isso exortamos todos os Antigos Alunos e os nossos verdadeiros Amigos a defendê-lo». Na Formação concentrámo-nos centenas de Meninos da Luz e a nós se juntaram algumas Meninas de Odivelas, que foram recebidas com toda a nossa gratidão, respeito e simpatia. Os Antigos Alunos envergavam na sua esmagadora maioria gravata preta, símbolo da tristeza que nos vai na alma. Da Formação partimos em bloco e em silêncio para o andar superior dos Claustros do Colégio, onde assistimos à entrada em formatura das 1ª,2ªe 3ª Companhias. À entrada da 4ª Companhia, saímos, de novo em bloco e em silêncio, para o Largo da Luz, onde se iria realizar a nossa manifestação de tristeza e de protesto. No Largo da Luz reunimo-nos, sempre em silêncio, em torno do Monumento ao Colégio Militar, aí erigido há já muitos anos por iniciativa e a expensas dos Antigos Alunos. Com o maior pesar foi coberto aquele monumento, que tanto nos diz, com uma capa de pano preto, sinal do nosso luto. Naquele local glorioso onde o Príncipe Real D. Luiz Filipe, Comandante de Batalhão Honorário, passou revista, a cavalo, ao Batalhão Colegial, acompanhado do seu aio heróico Mouzinho de Albuquerque. Naquele local glorioso onde a bandeira do Colégio recebeu as insígnias da Ordem Militar da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito. Naquele preciso local, estivemos nós em silêncio, com a maior tristeza na alma. Tempos funestos estes em que tal coisa pode acontecer. Durante a nossa estadia no Largo da Luz a chuva caiu copiosamente, mas ninguém arredou pé. O silêncio só foi interrompido quando ouvimos, vindos dos Claustros do Colégio, os acordes iniciais do Hino Nacional, que foi por todos nós cantado a plenos pulmões, para que os Alunos, lá dentro do Colégio nos ouvissem e soubessem que formamos um só corpo. Do Largo da Luz dirigimo-nos, ainda em si-
60
Do Colégio Jornada de Luto dos AA
lêncio, para a Parada do Corpo de Alunos, ou Parada do Colégio Novo, como os mais antigos ainda lhe chamam. Aí postados, esperámos pela chegada do Batalhão, para testemunhar aos Alunos que estamos sempre com eles, para lhes mostrarmos bem que NUNCA MARCHARÃO SÓZINHOS. O Batalhão entrou marchando na Parada com um garbo, uma galhardia e um aprumo inexcedíveis, indiferente ao lençol de água que a cobria, espalhando com as suas passadas fortes e firmes essa mesma água em todas as direcções. Eram os Alunos a dizer-nos CONTEM CONNOSCO. Com o Batalhão formado procedeu-se à cerimónia do retirar do Estandarte Nacional. Com o Batalhão a apresentar armas, em continência ao Estandarte Nacional, a mole dos Antigos Alunos, acompanhada pelas Antigas Alunas de Odivelas, cantou de novo e com redobrada emoção o Hino Nacional. De seguida o Presidente da nossa Associação liderou-nos num vibrante ZACATRAZ pelo Colégio e por Portugal, ao qual as Antigas Alunas de Odivelas responderam com o grito do seu Instituto. Que momentos tão belos, não fosse o pesar que todos trazíamos dentro de nós. E FOI ASSIM que vivemos esta jornada de luto, que só foi amenizada mais tarde, quando conhecemos o teor do discurso proferido pelo Aluno Comandante de Batalhão nos Claustros. Disse aquilo que alguns generais deveriam ter dito, mas que, tanto quanto sabemos, nunca disseram. Deu a todos uma lição. Aqui lhe expresso a minha admiração e lhe presto continência. Se ainda fosse preciso, teria sido este gesto mais uma prova de que no Colégio se formam homens de carácter e que, assim sendo, o Colégio continua a ser útil à Nação, não devendo ser desvirtuado. Oxalá o gesto deste Senhor Aluno seja de alguma utilidade para todos os nossos governantes, que têm assistido em silêncio e indiferentes aos atentados ao Património Nacional que estão a ser cometidos em Odivelas e na Luz pelo seu colega Ministro da Defesa. A obra que foi encetada em 1803 por um Gigante, está em perigo eminente de ser liquidada por esta fraca personagem, que se propõe ficar na história pela negativa. Não baixaremos os braços. A nossa luta continuará. Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957
©Fotos Leonel Tomás
Do Colégio Subdirector cessante
61
João Paulo Noronha da Silveira Alves Caetano (609/1973) Coronel de Infantaria, Subdirector do Colégio
Cessou funções no passado dia 25 de Outubro, partindo com destino a Timor onde vai exercer o cargo de Assessor Militar do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Timorenses. Desejamos-lhe os maiores êxitos nesta sua nova e prestigiante missão, onde não deixará de honrar e de engrandecer o nome dos Antigos Alunos do Colégio. Aqui registamos as palavras que proferiu no acto da despedida do Colégio e do seu Batalhão de Alunos.
Caros Alunos Camaradas Senhoras e Senhores Volvidos mais de cinco anos após a minha apresentação no Casa que, quarenta anos antes me acolheu pela primeira vez, agora para Servir, quis o acaso que, ao desfolhar uma revista do nosso Colégio, me deparasse com o discurso proferido então. Li-o e reli-o, reconhecendo a sua consistência, a sua coerência, a sua atualidade e oportunidade. Não encontrei uma única palavra susceptível de correcção, uma frase inadequada ou uma intenção defraudada. O turbilhão de sentimentos que me animava na altura parece ser o mesmo. Servir, foi o lema, palavra que traduz mais que uma obrigação e que, para os Antigos Alunos que têm o privilégio de aqui servir, estão associados sentimentos de gratidão e de retribuição. Volvidos mais de cinco anos sobre esse dia e concluir quão adequado e atual está o discurso, é razão de força maior para acreditar que em momento algum me desviei dos meus propósitos e que os objetivos então traçados terão sido atingidos. No momento da despedida como Subdiretor do Colégio Militar, parto de consciência tranquila e com a satisfação do Dever cumprido. Não sem um nó na garganta por todas as experiências aqui vivenciadas: superámos obstáculos, partilhámos preocupações, enfrentámos desafios, momentos de legítima alegria ou de dificuldades contornadas. Todos eles nos permitiram sentir vivos, recordar e rejuvenescer. E foram muitos! De uma riqueza intangível e que em muito contribuíram para fazer crescer tantos de nós nas suas dimensões éticas, morais e espirituais. Ou não fosse uma casa onde se cultivam Princípios e Valores. Recuso-me fazer o balanço da minha prestação. Sejam os Homens a julgar, com o distanciamento que o tempo permitir. A única coisa que tenho como certa é tudo ter feito, utilizando todos os recursos ao meu alcance para engrandecer, dignificar e prestigiar um Colégio de excelência, com potencial para muito mais.
62
Do Colégio Subdirector cessante
A performance académica, o brilhantismo dos resultados e os elevados padrões de exigência que constituem ainda uma referência no espectro da educação em Portugal pressupõem um trabalho aturado, envolto de sacrifícios, mas temperado com os valores da sã camaradagem, da coesão, da entreajuda, da solidariedade, do respeito mútuo e de amor ao próximo. Refletido nas boas práticas que, de forma recorrente e transversal, devem afectar os pilares essenciais da comunidade colegial. Com o respeito que o passado nos merece e o orgulho de sermos os legítimos herdeiros de um património histórico e cultural sem paralelo e de um valor inquestionável onde não existe espaço para o conceito de despesa, importa agora olhar e estar atento ao futuro. Importa continuar a investir no Colégio Militar, porque aquilo que faz, faz bem. E fá-lo há mais de 210 anos. O Colégio Militar jamais será uma despesa. Será um investimento. Pela qualidade e quantidade do retorno que a generalidade dos seus Antigos Alunos devolve à sociedade. É este produto final que tem que ser estimulado, acarinhado e, finalmente, perseguido. Por todos quantos aqui servem, sem excepção. No plano individual e também no plano coletivo. Tem de traduzir um estado de espírito, uma forma de estar e pensar. Seja o culto da Meritocracia, o culto da excelência, em que ninguém fica para trás. Sejam os que mais precisam, empurrados pelos que mais podem. Seja a primazia do colectivo, em detrimento do indivíduo. Certos de que o indivíduo que precisar terá sempre muitas mãos a que se agarrar. Sem dedicação, sem empenho, trabalho árduo, exigência e rigor e muito sacrifício haverá lugar a vulgaridade, à banalidade, à futilidade, enfim todas estas, palavras que são também sinónimo da mediocridade. É para a verdadeira dimensão deste trabalho, que a todos gostaria de exortar. Pelas mais diversas razões: seja de ordem básica, pela
necessidade de garantir um posto de trabalho como forma de garantir o sustento, sejam decorrentes das necessidades de realização profissional, da alimentação dos sentimentos de utilidade, de autoestima, da necessidade de preparação para a vida ou ainda de uma dimensão superior de ordem estética, ética e moral. Ou seja, tão-somente, pela singularidade de se acreditar no Colégio Militar e no seu Projecto Educativo conforme o conhecemos há mais de 210 anos. Sejam quais forem as razões, e porque acreditamos valer a pena, seja o fator trabalho, naquela dimensão, o móbil do sucesso que o Colégio tanto almeja e que, mais que tudo, tanto merece. Nos momentos da partida, sempre evitei as despedidas. Habituei-me a substituir as despedidas por um singelo “até já”. Porque a frequência das partidas a isso nos obriga, no âmbito da nossa condição militar. Este “até já” parece estar a custar um pouco mais que o habitual. Porque foi uma colocação à margem do habitual. Porque foi uma colocação em que revivi muitos dos passos dados na minha juventude, durante a minha adolescência, numa das fases do nosso crescimentos em que mais e melhor absorvemos. Tudo. Mas também uma colocação que me permitir rever-me em cada um de vós, dia após dia. Uma colocação gratificante, uma experiência enriquecedora, uma vivência única. Este “até já” que agora me custa pronunciar, pressupõe um acompanhamento próximo dos passos que o Colégio vai continuar a dar. O Assessor Militar do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Timorenses, que assume o cargo a partir da próxima segunda-feira, não obstante os 16000 Km que o separam do Largo da Luz, continuará disponível para, naquilo que aprouver, continuar a servir o Colégio Militar. Acreditando que aqueles que aqui permanecem encontrarão os melhores caminhos para continuar a honrar, dignificar e prestigiar o seu Colégio e cada vez
mais alto, cada vez mais alto! A todos agradeço muito: a generosidade, a amizade, a colaboração, a compreensão, que me foi emprestada nos mais diversos momentos da minha prestação. Uma saudação muito especial a toda a minha Família. Deu-me a força e a coragem para enfrentar os momentos mais difíceis, a disponibilidade e o estímulo para partilhar com a família Colegial os momentos de maior alegria e a generosidade e aceitação da minha entrega quase total e incondicional para empreender a empreitada e concretizar tantos projectos edificados. A ela devo a possibilidade de ter vivido no Colégio para o Colégio ao longo de mais de cinco anos. A ela devo a maravilhosa sensação de ter retribuído ao Colégio aquilo que o Colégio me deu. Sensação una que nem todos têm o privilégio de viver. A todos saúdo! Exortando, uma vez mais, a um trabalho abnegado. Endereço a cada um de vós, os meus mais sinceros votos das maiores venturas pessoais, sucessos profissionais e êxitos familiares. Recordando que ser “Estudante” é também uma profissão. A todos desejo sorte! Recordando que a sorte também se conquista e que dá muito trabalho. A todos brindo, com a legitimidade adquirida, com um sincero, sentido e profundo “Zacatraz”! Que Deus vos abençoe!
Restaurante Jardim da Luz premiado O Restaurante Jardim da Luz, que funciona nas instalações da AAACM e que é ponto de encontro de muitos Antigos Alunos do CM, foi premiado com “1 Garfo”, no Concurso Gastronómico “Lisboa à Prova 2010”. Foi com natural satisfação que os concessionários do restaurante receberam a distinção, tanto mais que Qualidade de Serviço, Atendimento, Refeições e Preço eram os principais aspectos valorizados. Recorde-se que no “Jardim da Luz” há um menu “Colégio Militar”, que quando usado permite à AAACM receber 1 Euro por cada menu servido.
Do Colégio Novo Subdirector
63
António José Ruivo Grilo (338/1978) Tenente-Coronel de Artilharia, Subdirector do Colégio
No passado dia 25 de Outubro realizou-se o acto de posse do Tenente-Coronel de Artilharia, António José Ruivo Grilo (338/1978), no cargo de Subdirector do Colégio. Ao novo Subdirector desejamos as maiores venturas e a concretização de todos os objectivos na árdua tarefa para que foi designado, num retorno à Casa que frequentou como Aluno, e na defesa desta secular Instituição nos momentos difíceis que ela atravessa. Na cerimónia da posse, o novo Subdirector proferiu as seguinte palavras que a seguir se registam.
Excelentíssimos Oficiais, Sargentos, Praças, Docentes e Funcionários Civis Alunos do Colégio Militar É para mim uma enorme honra assumir o cargo de Subdirector do Colégio. Faço-o perante vós e nestes seculares claustros, enquadramento que melhor se ajusta à natureza simbólica deste ato. A vossa presença traduz, a união e o espírito de coesão que sempre pautou a relação existente entre todos os que servem neste Colégio. Gostaria de começar por vos saudar e manifestar o enorme orgulho e privilégio que para mim constitui a nomeação para esta função; Estou consciente da confiança em mim depositada, da grande responsabilidade de dar continuidade ao excelente trabalho desenvolvido pelos meus e pelos nossos antecessores, da qualidade pessoal e profissional dos militares e civis que aqui prestam serviço e do referencial que este Colégio constitui. Saiba estar à altura do desafio de acordo com as capacidades, competências, experiência e comprometimento das pessoas que servem no Colégio Militar. O culto do “Servir” e da “Camaradagem”, desde que se entra no Colégio Militar, é chama que funde e perdura na vida dos que, desde 1803, envergaram a farda do “Menino da Luz”; O Colégio presta um serviço de excelência, no âmbito do ensino regido por princípios de cariz militar, centrado nos Valores e ecléctico por natureza, orientado para a criação nos alunos de elevadas bases pedagógicas e a transmissão de valores formativos sólidos e indispensáveis aos desafios sociais crescentes. Trata-se, pois, de uma Missão destinada aos Alunos, são estes a grandeza e a principal razão de existência do Colégio Militar aos quais temos a responsabilidade de garantir uma sólida formação académica e intelectual, bem como moral e social, física e militar para a forma-
64
Do Colégio Novo Subdirector
ção de cidadãos responsáveis e intervenientes em todos os vectores da sociedade portuguesa. O “Código de Honra do Aluno do Colégio Militar” constitui um legado e um futuro em que acreditamos, enquadrados pelo Lema “Um por todos e todos por um”. Vínculo que é vivido num relacionamento ético entre uns e outros, alicerçado na honestidade, na boa-fé, na rectidão de carácter e na clareza de atitudes, bases essenciais da confiança mútua e que se orienta pelos mais nobres valores militares, dos quais destaco o patriotismo e a lealdade. Sois dignos depositários dessa memória e tendes sabido reforçar, sucessivamente, o enorme prestígio, nacional e internacional, que hoje é unanimemente reconhecido ao Colégio. Por essa razão, saúdo-vos a todos, Alunos, Militares e Civis que hoje servem o Colégio. Para vós o meu reconhecimento e uma palavra de confiança e de estímulo na continuidade da nossa missão, fazendo uma ponte entre um passado glorioso construído pelos que nos antecederam, um presente que muito nos honra e um futuro que legitimamente desejamos sempre melhor. É esse caminho que me cumpre, agora, continuar a traçar convosco, no presente e no futuro. Estou bem ciente das dificuldades e é essa consciência que associada ao reconhecimento que hoje dispomos e à lucidez que nos é exigida para enfrentarmos os desafios da nossa época, que justamente devem balizar a nossa acção. É nesta linha que nos devemos centrar nos valores e princípios da instituição, nas atitudes e comportamentos, na estabilidade do aluno e do projecto educativo em busca de resultados escolares, fieis aos nossos deveres e obrigações. Sei que é uma missão difícil e exigente cuja complexidade a conjuntura actual acentua, estando ciente do trabalho exigido e confiante no desempenho e na motivação de todos quantos aqui servem e estudam. Face a novos desafios e realidades teremos sempre que encontrar um rumo que garanta uma harmonização pedagógica, assente num projecto educativo de competências e atitudes e assegurador dos princípios e valores que nortearam o Colégio Militar ao longo dos seus 210 anos. Saber respeitar o passado, conhecer o presente e perspectivar o futuro deverá ser o elemento estruturante da construção e afirmação do projecto educativo do Colégio. Trata-se de uma tarefa colectiva, que exige uma equipa coesa em que todos são indispensáveis para a levar a bom termo. Serei o vosso Subdirector e um vosso camarada, nos momentos bons e nas dificuldades, com entrega total e exigente no cumprimento da nossa missão e nos princípios éticos que nos devem orientar na continuidade da obra que é o Colégio Militar, pelo que significa, pelo que é e continuará a ser em prol do Exército e da Nação. Confiante nestes desígnios e na honra de ser vosso Subdirector, termino reafirmando-vos que podeis contar comigo e que conto com o contributo de todos para que, como tem vindo a ser feito, de forma coesa, abnegada e leais aos princípios que nos regem, dignifiquemos o Colégio Militar. Assim seja! Zacatraz a todos nós!
NOTA BIOGRÁFICA O Tenente-Coronel de Artilharia António José Ruivo Grilo nasceu em Lourenço Marques (Moçambique) em 02 de Março de 1966, tem 47 anos de idade e foi promovido ao actual posto em 10 de Abril de 2006. Ex-Aluno do Colégio Militar, concluiu a Licenciatura em Ciências Militares na Academia Militar em 1990 e frequentou, no âmbito nacional entre outros, o Curso de Promoção a Oficial Superior em 2000-2001 e o Curso de Estado-Maior no Instituto de Altos Estudos Militares 20022004. No âmbito internacional, destaca-se, entre outros, o Field Artillery Officer Advanced Course, em Fort Sill, Oklahoma (EUA) em 19971998 e os cursos de Intelligence, Force Protection e Targeting na NATO School em Oberammergau (Alemanha). A sua carreira militar, passou, até à actualidade, pela Escola Prática de Artilharia (EPA), pelo Estado-Maior do Exército (EME), pelo Instituto de Estudos Superiores Militares (IESM) e pelo Regimento de Artilharia Nº 4 (RA4). Na EPA, desempenhou como Subalterno, entre outras, as funções de Comandante de Pelotão do Curso de Formação de Oficiais e Instrutor das Especialidades de Observação Avançada e Tiro de Artilharia de Campanha, bem como a de Adjunto do Comandante da 2ª Bateria de Instrução. Como Capitão destacam-se as funções de Instrutor da Direcção de Estudos e Instrução nas Disciplinas de Tiro de Artilharia e Táctica de Artilharia aos diversos Cursos ministrados na EPA, de Chefe da Secção de Artilharia de Campanha, de Director dos Estágios de Promoção a Sargento-Ajudante e dos Cursos de Munições de Artilharia e de Comandante da 1ª Bateria de Bocas de Fogo (Encargo Operacional da EPA). Ainda como Capitão e depois como Major, a função de Oficial de Logística da EPA e de Delegado do Exército no Grupo de Trabalho NATO LG4 - NAAG. Após o Curso de Estado-Maior foi colocado no EME onde desempenhou as funções de Adjunto da Repartição de Planeamento de Forças da então Divisão de Planeamento e Programação e posteriormente a de Chefe da Repartição de Forças da Divisão de Planeamento de Forças. Como professor no Instituto de Estudos Superiores Militares, no posto de Tenente-Coronel, integrando o Gabinete das Armas (Artilharia), da Área de Ensino Específico de Exército, desde Setembro de 2007, ministrou os conteúdos relativos à Táctica da Arma, nas suas vertentes de Artilharia de Campanha, de Artilharia Antiaérea. Concomitantemente, os assuntos relativos ao Apoio de Fogos, às Informações, ao Processo de “Targeting” e ao Sistema “ISTAR”. Desempenhou ainda no âmbito da Cooperação Técnico-Militar Luso-Angolana, a função de Director Técnico do Projecto 2 – Apoio à Organização e Funcionamento da Escola Superior de Guerra (ESG), entre Fevereiro de 2009 e 2010. Foi, no IESM, o Representante do Exército no Intel, Surveillance, Target Acquisition & Reconnaissance Panel under Land Operations Working Group (ISTARP/LOWG) / NSA e no Senior Land Information Exchange Requirement Panel under Land Operations Working Group (SLIERP/ LOWG) / NSA. Em 19 Setembro de 2011 é colocado Regimento de Artilharia Nº 4, em Leiria, nomeado Comandante do Grupo de Artilharia de Campanha da Brigada de Reacção Rápida, até 16 de Outubro de 2013. Na sua folha de serviços constam vários louvores e condecorações nacionais, é casado e tem 3 filhos.
Colaboração Zacatraz
65
Zacatraz P
or certo para quem não esteja dentro desta expressão vai achar “que título mais estranho foi a autora arranjar!” Será estranho para a maioria, mas para nós que de certa forma pertencemos à “família” muito alargada dos Meninos da Luz este termo “Zacatraz” faz todo o sentido, principalmente como título de um artigo que vai fundo nas raízes do Colégio Militar. E porquê falar do Colégio Militar numa altura em que aparecem notícias, falatórios,
conversas públicas e não públicas sobre esta instituição de ensino? Todos nós sabemos por experiência, em assuntos do nosso conhecimento e versados na comunicação social, que se pode falar de uma notícia por forma a que o publico leitor goste ou não dos factos nela referenciados. Qualquer jornalista com alguma habilidade consegue trabalhar uma notícia. Basta dar destaque, tirar de contexto algumas palavras ou frases e … já está. Por isso, ser bom jornalista e res-
ponsável, é tão difícil. Requer muito mais do que escrever bem e ter licenciatura. Voltemos então ao Colégio Militar: como tem sido dito publicamente não é um colégio de elites mas sim um colégio que forma elites. E é verdade, pois ao longo da sua história de 210 anos, nomes que engrandeceram o nosso País passaram por lá. Tanto militares como civis, tanto da área de ciência como de letras, tanto de direita como de esquerda. Passo a citar alguns nomes que recordo por lá passaram e que devem muito daquilo que foram, ao “seu” Colégio: O General Serpa Pinto, o escultor Barata Feyo, os escritores Latino Coelho e Júlio Dantas, o tenor Tomás Alcaide, o historiador Pinheiro Chagas, António Sérgio, 5 Presidentes da República, etc. etc. Também em 1936 nos Jogos Olímpicos de Berlim o Coronel Sousa Coutinho trouxe para Portugal uma medalha de bronze e depois dele muitos outros o fizeram. Mencionei só alguns dos famosos que já não se encontram entre nós. Evitei falar nos muitos, que felizmente ainda cá se encontram, para não ferir susceptibilidades. Houve de tudo e também aqueles, uma minoria, muito minoria, que não gostaram de lá andar. O seu primeiro comandante a quem os antigos e os actuais alunos chamam com respeito “o Fundador”, Marechal Teixeira Rebelo era do nosso Trás-os-Montes mais propriamente da Cumieira uma aldeia do concelho de Santa Marta de Penaguião. “…nessa Cumieira distante, vivia um casal de lavradores que conheciam quantos benefícios a instrução pode trazer aos homens e breve cuidou de mandar ensinar a um seu filho aquilo que não havia podido aprender. Era esse casal, Luís Teixeira e Emerenciana Rebello, e o filho assim beneficiado, António Teixeira Rebello, nascido na freguesia em 17 de Dezembro de 1750”. (pg.35 “O Colégio Militar” de Jayme Duarte de Almeida, Edição comemorativa do 150º aniversário da sua fundação).
66
Colaboração Zacatraz
Este notável transmontano em 1764 com somente 14 anos parte da sua aldeia, onde tinha feito os primeiros estudos, e ingressa no Exército, como soldado apenas. Ansioso por aprender mais e mais, depressa se fez notado pelo seu zelo e sabedoria e ao fim de somente quatro anos tinha a sua primeira promoção. Desde sempre procurou aumentar os seus conhecimentos e quando não tinha quem o ensinasse era ele próprio que procurava por todos os meios completar a sua formação com uma força de vontade férrea. A sua carreira foi brilhante e neste pequeno artigo seria impossível relatar como se desenrolou toda a sua vida de notável determinação e perseverança. Direi apenas que em 1798, teria ele 48 anos, criou-se a Sociedade Real Marítima, Militar e Geográfica, para o levantamento de cartas. O seu nome foi indicado pelo próprio Príncipe Regente, juntamente com figuras que, pelo seu saber, eram altamente consideradas. Este facto, entre muitos outros, mostra como aquele que nasceu na distante Cumieira, numa família humilde e de recursos limitados conseguiu por mérito próprio, ultrapassando certamente inúmeras dificuldades, chegar a ser convidado e emparceirar com tão destacadas e ilustres figuras. E a história do Colégio Militar? O Colégio foi criado a 3 de Março de 1803, embora esta data careça de rigor histórico porquanto há conhecimento que em 1802 já haveria alguns alunos na escola criada por Teixeira Rebello. As suas primeiras instalações foram na Feitoria, em Oeiras perto do forte de S. Julião da Barra e somente mais tarde, a 7 de Janeiro de 1814 o Colégio da Feitoria foi oficializado com a designação de Real Colégio Militar e passou a ter as suas instalações no sitio da Luz. Por isso aqueles que frequentavam esse Colégio eram conhecidos e ainda hoje o são como “Meninos da Luz”. Foi lá no Real Colégio Militar, que faleceu o seu fundador Marechal Teixeira Rebello a 6 de Outubro de 1825 E o porquê da sua criação? “Inicialmente vocacionado para acolher filhos de militares, o Colégio Militar teve sempre abertas as suas portas aos filhos de quaisquer outro português. Nele se encontravam, logo nos primeiros tempos os filhos de comerciantes, juízes e funcioná-
rios do reino, entre outros. Foi assim por alturas da sua fundação e assim continua a ser nos dias de hoje.” (José Alberto da Costa Matos em “Meninos da Luz . Quem é Quem” da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar) Esta é, muito resumida, a história dos historiadores mas o espírito, os ensinamentos, a força, a alma do Colégio Militar é já outra história que eu não sei se estarei à altura de transmitir, pois como é óbvio, nunca lá andei. Habituei-me sim, a conviver com os relatos, a solidariedade, a lealdade e a coragem de quem lá andou. Não só de convivência posso falar porque também assisti a factos passados no nosso conturbado 25 de Abril de 1974. Nesses anos alguns ânimos mais exaltados levaram por vezes a consequências funestas e não foram poucas as vezes que ultrapassando ideologias e preferências alguns se arriscassem para benefício de outros, só por terem sido “Meninos da Luz”. Estes exemplos houve-os da direita, da esquerda e também daqueles que não eram nem uma coisa nem outra; eram sim somente antigos alunos do Colégio Militar. Mas nada melhor do que contar duas histórias, já que de história se fala, daqueles que por lá passaram. A primeira foi escrita e descrita vezes sem conta pois foi um facto marcante, presenciado por muita gente e aconteceu durante o funeral do Presidente Sidónio Pais. É do conhecimento geral que na noite de 14 de Dezembro de 1918, depois de se ouvir o hino nacional tocado pela banda da GNR o Presidente da República, que se preparava para embarcar no comboio para o Porto, foi baleado à queima-roupa por dois atiradores. Ferido de morte consegue ainda dizer “Mataram-me! Morro mas morro bem! Salvem a Pátria…” O funeral foi marcado para dia 21 de Dezembro, um sábado. O cortejo passaria pelo Terreiro do Paço, Rua Augusta, lado norte do Rossio, e seguiria depois através do Chiado a caminho do Mosteiro dos Jerónimos. O Colégio Militar estava representado por
uma companhia a 3 pelotões constituída pelos alunos mais velhos e saiu da Escola de Guerra, de música à frente e Bandeira desfraldada para tomar posição em linha de pelotões com a frente voltada para o Teatro D. Maria, no Rossio. Cerca do meio dia a Companhia estacionava no local que lhe estava reservado, ficando a aguardar a passagem do cortejo. Uma imensa multidão comprimia-se nas ruas da Baixa para assistir à sua passagem. “Por volta das 14 horas ouviu-se uma detonação entre as esquinas das ruas de S. Nicolau e de S. Julião, cuja origem teve várias versões. Pouco depois, ter-se-ão ouvido tiros procedentes da zona do Hotel Internacional e Hotel Duas Nações, ambos na rua Augusta. O pânico transmitiu-se rapidamente, o mesmo acontecendo nos agentes da ordem e nos soldados que bali-
zavam a multidão ao longo dos passeios, e até entre aqueles que integravam o cortejo. Fugiram sem saber para onde, atropelando-se, amachucando-se e contundindo-se. Aqueles que tinham armas trataram de as disparar contra um inimigo imaginário, tomando tudo e todos por desordeiros que os pretendiam chacinar. A rua ficou
Colaboração Zacatraz
deserta e algumas montras e janelas ficaram com os vidros estilhaçados.” (jornal O Século edição de 22 de Dezembro de 1918) No espaço de segundos, a Companhia de alunos do Colégio Militar enfrenta a caótica situação com rara serenidade e determinação. Faz meia volta, ficando agora de frente para a placa central do Rossio, arma baionetas e detém a descontrolada multidão em pânico. “O porta bandeira isolado da sua escolta agora fazendo parte da linha geral de baionetas, desembainhou a espada e o melhor que pôde protegeu a retaguarda dos seus companheiros. Tudo isto aconteceu em poucos momentos. A horda de fugitivos, desordenada e em pânico, foi sustida pelas pontas das baionetas firmemente seguras pelos Meninos da Luz. Ninguém passou, ninguém conseguiu romper a linha constituída por tantos jovens firmes nos seus propósitos de evitar uma confusão catastrófica.” (Depoimento testemunhal do antigo aluno 292/1913, Paes de Figueiredo na Revista da Associação dos Antigos Alunos dos Colégio Militar nº 5 de 1966) “Apenas se viam no pavimento chapéus, sapatos e malas de senhora. Tinham debandando também as formações militares (…) Nesta confusão de destroços, apenas duas formaturas se mantinham no seu
lugar, quietas e alinhadas, como alheias a tudo que ocorria à sua volta: uma formação militar inglesa, com a sua bandeira, firme e imóvel, no passeio ocidental do Rossio, e a Companhia do Colégio (…). Na imensa praça vazia de gente e cheia de destroços, aquelas duas formações, a inglesa e a companhia de Meninos da Luz, causaram o pasmo e admiração de quem ainda teve a serenidade para as observar. Os ingleses assim se mantiveram por boa educação cívica, noção do dever militar e espírito de disciplina; o Colégio, por camaradagem, sentindo que em nenhum outro lugar estariam mais seguros que junto uns dos outros” (Depoimento testemunhal do antigo aluno 191/1914 António Santa Clara Ferreira, na Revista da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar nº 9 de 1967). São muitos os relatos deste episódio que poderão ser consultados em jornais da época. Deixo aqui um pequeno apontamento do livro “Sidónio Pais - Ídolo e mártir da República” do escritor e jornalista Rocha Martins onde se pode ler: “Só os alunos do Colégio Militar calaram as baionetas, ficaram a pé firme em volta da sua bandeira, vendo fugir o povoléu, o chão juncado de sapatos, de bengalas, chapéus e guarda-chuvas, o Rossio semeado de destroços, diante dos seus candeeiros envoltos em crepes”.
67
Escolhi este episódio porque apesar de alguns antigos alunos mais velhos o conheçam alguns dos mais novos não o sabem e a grande maioria dos portugueses também não. Muito rapidamente vou contar um outro episódio entre muitos e muitos que mostram o espírito e o carácter de quem passou por aqueles claustros. Aconteceu entre alguns alunos e um empregado que há época trabalhava no Colégio Militar. Era ele o barbeiro e de seu nome José Ramalho Farias, ou por outra, o Zé Ramalho. Muitas vezes foi ele a tábua de salvação da rapaziada e estava sempre pronto a ouvir um desabafo, a ajudar quando necessário, mas principalmente era na aflição de uma revista ao cabelo ou em vésperas de saídas para férias que lhe eram solicitados milagres. Ia “desenrascando” conforme podia, aparava daqui e cortava dali e os alunos lá iam passando na revista. Tendo sido louvado pela Direcção por diversas vezes o Zé Ramalho afirmava que o seu maior louvor lhe tinha sido dado pelos alunos, quando da seguinte história: um aluno dos mais velhos (4ª companhia) recorreu aflito aos seus serviços, mas o tempo era escasso e só dos lados é que o cabelo foi aparado. A parte de cima, pensavam eles, ficaria coberta pelo barrete! Eu disse “pensavam eles” porque à entrada do refeitório, tendo obrigatoriamente de tirar o barrete, lá estava o subdirector que o obrigou a dizer quem lhe tinha feito corte de cabelo tão desastrado. No dia seguinte o barbeiro tinha “um dia
68
Colaboração Zacatraz
de multa” (um dia retirado ao seu ordenado) por não ter cortado o cabelo a um aluno da forma como estava determinada”. E aqui é que entra o louvor, que para o Zé Ramalho foi o maior que recebeu na sua vida: os alunos da 4ª companhia quotizaram-se (é bom não esquecer que bolso de estudante anda sempre muito seco) e entregaram-lhe, não um, mas nove dias de salário. Foi este o louvor de que o Zé Ramalho sempre se orgulhou. Este exemplo de relacionamento praticado não só entre alunos mas também com os que os rodeiam é baseado em compromissos, em reconhecimentos e em valores feitos de respeito e educação. Os alunos do CM embora separados por destinos bem diversos, espalhados por muitos países, de tempos e gerações diferentes continuam ligados por laços de amizade e quando se encontram, um olhar para a lapela do casaco onde poderá estar a “barretina” e imediatamente a pergunta surge: “Em que ano é que entraste?” “Qual o teu numero?” etc. E a conversa corre como se de velhos amigos se tratasse. Neste diálogo estão contidas as recordações de um e outro lado e imediatamente são partilhadas as brincadeiras, os episódios mais ou menos contáveis, os jogos da bola, as quedas do cavalo etc etc … enfim tudo aquilo a que se chama saudade. E essa saudade é consubstanciada na Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar a qual mantém uma ligação efectiva e afectiva entre todos. Este sentimento está muito bem sintetizado no livro Meninos da Luz. Quem é Quem da autoria da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar: “Ter sido aluno do Colégio Militar é guardar nos pergaminhos de estudante o mais elevado dos títulos, o mais honroso dos brasões. Não há política que os destrua, não há tempo que os desvaneça.” Vou aqui deixar um relato de Ramalho Ortigão descrito nas Farpas: “Quando o Batalhão desfila avenida abaixo, é aplaudido freneticamente pelo povo que vê, nestes pequenos soldados o mais puro espírito militar da Nação. Os alunos do Colégio Militar aprendem o que é o peso do dever, o que é a força do heroísmo. Por isso, nenhum Regimento marcha com tanta unidade, tanta certeza, com uma tão intensa expressão de força e brio marcial e
de bravura guerreira, Graves, sérios como granadeiros da velha guarda, de cabeças altas, olhar em frente, espingardas ao ombro, marcham triunfantes como se fossem conquistando passo a passo o terreno em que pousam os pés”. Ainda hoje esse desfile é uma realidade todos os anos na Av. da Liberdade, no Domingo mais próximo do dia 3 Março, para assinalar o aniversário da sua Fundação. O Batalhão Colegial desce a Av. da Liberdade sentindo um peso e um orgulho imenso em representar ali um historial de mais de dois séculos. Com eles está também uma multidão: são os pais e familiares e um grande numero de antigos alunos que naquele dia voltam a ser adolescentes. Desde aquele que ainda no ano anterior estava a desfilar até ao menino da luz de cabelos brancos, todos eles recordam o “seu” colégio à “sua” maneira. No monumento aos Mortos da Grande Guerra, onde está a tribuna de honra o batalhão passa em continência e nos Restauradores onde se concentram os antigos alunos à medida que as companhias vão passando ouve-se o grito “Zacatraz” dado em uníssono por centenas de vozes. Depois segue-se a missa na velhinha Igreja de S. Domingos ali no Rossio. Missa cantada pelo coro do colégio em que são recordados ao som do clarim os antigos alunos já falecidos. Quando a missa acaba todos, mas todos, cantam em plenos pulmões o nosso Hino Nacional. Pode-se gostar ou não, pode-se criticar ou não mas também podemos ter uma certeza: indiferente ninguém fica. Fica a faltar uma palavra para as famílias que escolheram colocar lá os seus educandos. Elas são o complemento necessário para que o internamento, se de internamento se pode falar uma vez que os Meninos da Luz hoje em dia dormem lá três dias por semana, resulte numa educação completa como todos nós desejamos para os nossos filhos. Como em qualquer outro lado a formação dada no colégio tem que ser acompanhada em casa e, muito especialmente as “mãezinhas” têm um papel muito importante e altamente merecedor de muitos elogios. Para finalizar este artigo, em que sinto ter estado muito aquém daquilo que deveria ser dito, deixo escrito o “Código de Honra
do Aluno do Colégio Militar” que seria também o sonho de qualquer outro estabelecimento de ensino:
- Amar e honrar a Pátria. - Dignificar a farda que enverga. Cultivar a disciplina. - Dedicar à sua formação todo o seu esforço e inteligência. - Ser verdadeiro e leal, assumindo sempre a responsabilidade dos seus actos. - Praticar a camaradagem, sem denúncia nem cumplicidade. - Ser modesto no êxito, digno na adversidade e confiante face às dificuldades. - Ser generoso na prática do bem. - Repudiar a violência, a delapidação e o despotismo. - Ser sempre respeitador, afável e correcto.
Ana Maria Junqueiro Sarmento Cavaleiro de Ferreira Lisboa, Setembro de 2013
Colaboração Antigos Alunos pelo Mundo
69
João Carlos Agostinho Alves (110/1996)
Antigos Alunos pelo Mundo P
ortugal é um país que tem muito marcado na sua história o dar novos mundos ao mundo. Esta história é marcada pela acção de indivíduos que se destacaram e, através do seu papel, trouxeram também glória e reconhecimento ao país e ao seu povo. Esse facto foi recentemente atestado pelo luto que caiu sobre várias ruas de Portugal e do mundo, não só porque haviam placas com nomes de antigos alunos que deram o seu nome a ruas para serem cobertas mas também porque nesses locais estavam antigos alunos para as cobrir. E isso foi verdade no Rio de Janeiro, em Macau, entre outros. A nova vaga de portugueses pelo mundo leva consigo vários antigos alunos que, diariamente, dignificam o nome de país e do Colégio além fronteiras. São algumas das histórias dessa nova diáspora que aqui reproduzimos, na primeira pessoa.
Nome: Emanuel Bragança Número: 354/1995 País: França Cidade: Lille Sou um daqueles Antigos Alunos que sempre acreditou que os Valores adquiridos numa Casa como a nossa devem ser bem reconhecidos pelas Empresas. Que o seu sucesso passa por também elas escreverem estes como os seus Valores. A Decathlon assenta nos seguintes valores humanos: • Vitalidade • Sinceridade • Generosidade e Responsabilidade Até chegar à Decathlon Portugal, conclui a minha Licenciatura em Contabilidade e Administração de Empresas – Ramo: Fiscalidade, experienciei o Programa Erasmus na Lituânia e passei por empresas como a Caixa Geral de Depósitos, Deloitte e um Grupo de Empresas
especializada em Cofragens. Após sentir que tinha adquirido boas competências profissionais, decidi voltar a uma empresa multinacional. E eis que não voltei para uma simples Empresa, mas sim para uma verdadeira Casa. Quis sempre acreditar, que tal como no Colégio, o verdadeiro segredo não está em ser um extraordinário Expert nas matérias académicas, mas sim em conseguir atingir um verdadeiro equilíbrio entre os Valores Humanos e o Conhecimento. É isto o que as Empresas
verdadeiramente procuram, e é este o Segredo do Sucesso da Escola que forma Líderes há mais de 210 anos. Exerci funções na Decathlon Portugal como Controller Financeiro, tendo sido responsável pelo Controlo Financeiro de três grandes lojas do país - como o Campus da Amadora. Tendo sido este um factor chave para um bom sucesso além-fronteiras. A Decathlon insere-se numa rede. A chamada rede Oxylane. Neste momento, a partir do
70
Colaboração Antigos Alunos pelo Mundo
Dedicar à sua Formação, todo o seu Esforço e Inteligência, sendo um exemplo da conduta do verdadeiro Menino da Luz. ZACATRAZ!
Nome: João Dantas Número: 53/1995 País: Reino Unido Cidade: Londres
França – Lille: Emanuel Bragança ( 354/95); Emmanuel Silva (408/95); João Sobreira (113/95) e Hélio Branco (315/95)
final de Junho de 2013, assumi funções na Rede Oxylane em França, na Organização Financeira Internacional como Responsável pela Margem e Quebra da Decathlon no Mundo, estudo a abertura de Países, e a aplicação e desenvolvimento de uma ferramenta financeira que gera mais autonomia às equipas mas também que lhes faz aumentar a sua produtividade. Tenho este projecto assumido até ao término do ano de 2013. No entanto, o feedback tem sido óptimo de ambas as partes. Uma autêntica aventura no poder de decisão! A partir do momento em que me apresentei à Equipa, não escondo nunca o orgulho de ter ganho a paixão pelo desporto no Colégio Militar. Não escondo que o meu sucesso sempre foi derivado por ter estado inserido numa verdadeira Escola de Valores, e se tenho vindo a ter sucesso neste meu futuro, tal facto deve-se a toda a Família Colegial – Família, Curso, Antigos Alunos, Professores e Funcionários. E para vos mostrar que estão sempre presentes, aqui está uma foto com aqueles que me vieram brindar com a sua presença! Os verdadeiros Irmãos de uma Vida! No entanto, continuo a dedicar todo o meu sucesso e empenho à minha mulher que sempre me acompanhou nas minhas aventuras desde os tempos do 7.º Ano do CM, mas também ao meu Irmão que sempre primou por
Entre Lisboa e Londres – A caminho de mais uma semana de trabalho: “Cabin crew, arm doors and cross check”. Esta é uma frase ouvida recorrentemente nos últimos meses, desde que a minha aventura em Londres começou. A história por detrás da minha saída profissional para outro país é simples: desde estudante que a leitura de livros de arquitectos de referência mundial despertava na minha mente a vontade de conhecer novas pessoas, culturas, e outras formas de viver e trabalhar, e sobretudo, fazer Arquitectura de qualidade Mundial. Não tive oportunidade de fazer Erasmus, e essa experiência ficou adiada. No final da Licenciatura em Arquitectura comecei a trabalhar em Portugal, e esse projecto ficou adiado mais uma vez. Casei com a Maria, e deixei para trás esse sonho antigo. A minha vida seria em Portugal. A Vida prega-nos destas partidas, ou então está sempre a pôr-nos alerta para não darmos nada como garantido. Em 2012, esta dita Vida encarregou-se de pôr novamente a hipótese “esquecida” em cima da mesa, aquando do agravamento da situação económica do País, e das perspectivas profissionais negativas. Com o apoio e incentivo da minha Mulher e Família mais próxima, Londres tornou-se o destino escolhido. Após um processo de candidatura bastante célere, lá me mudei de uma empresa de 7 arquitectos, em Lisboa, para uma de 250, bem no centro de Londres; dos 2 milhões de Lisboetas para os 8 milhões Londrinos, do Sol e luz da nossa cidade, para esta neblina londrina, da minha querida mota para a bicicleta, da minha casinha para um quarto alugado…
Foi um daqueles momentos em que o chão nos sai de baixo, ou como me disse aqui um colega nos primeiros dias de trabalho: “You were thrown into the water: you sink, or you swim!” (Foste atirado para dentro de água: ou te afogas, ou nadas!) Nadei! A educação Colegial foi fundamental nesta fase, pois só havia um caminho: desenrascar-me e ir à luta! É o que tenho feito, com alguma sorte e apoio dos muitos portugueses (alguns deles antigos alunos) que antes de mim se “lançaram para dentro de água e nadaram”. A aventura dura há 10 meses. É certamente cedo para tirar grandes conclusões, mas a experiência tem sido extremamente desafiante, e de um autoconhecimento profundo. Penso que só comparada quando, aos 18 anos, saí pela Portaria do Colégio pela última vez, para enfrentar o “Mundo lá de fora”, como então dizíamos. Na altura como agora, agarrei-me bem aos Valores que trago comigo, e que muitos estão no nosso Código de Honra, e “lancei-me aos bifes”! Desta vez, o “Mundo lá de fora” é bem diferente. É impressionante como, a apenas 3000km de Lisboa, o modo de vida é tão diferente; eles trabalham para viver, não vivem para trabalhar. Mudam de emprego facilmente, não têm medo de se despedir para viajar e
Colaboração Crise nas IT, jamais!
A economia mexe, as pessoas mexem, e também a fazem mexer, acredito. Porque aqui não há “um emprego para a vida”; a empresa não está acima do trabalhador. As Pessoas fazem as empresas; se estás mal e/ou queres mais e melhor, mudas-te! Como seria óptimo poder ter o melhor de dois mundos: a Família, os Amigos, o clima Na Color Run de Londres, com alguns amigos ingleses e portugueses de Lisboa, e esta energia inesgotável da Cidade (e das pessoas), e um conhecer o Mundo; todos os dias há uma boa modo de pensar e estar na vida menos lamuriodesculpa para ir ao pub, principalmente à 6ª so e muito mais proactivo! feira. Poucos têm carro próprio, vão de biciclePlanos para o futuro? Neste momento não ta para o trabalho, mesmo quando chove e faz tenho… Como tudo mudou em tão pouco temfrio. Nem todos têm casa própria, saem de casa po, como posso planear a 5/10 anos? Tenho dos pais muito cedo, e muitos não pensam em várias hipóteses, não sei qual se vai concretizar, casar. mas tudo farei para que seja um caminho rico e Aceitam as diferenças dos outros, e não codesafiante, que me permita vir a ter boas Hismentam a vida pessoal de cada um (excepto da tórias para contar. Gostaria de regressar a PorFamília Real).
71
tugal para ajudar a potenciar todo o valor que temos (e é mesmo muito), a ver vamos! Tenho bem claro agora o que é essencial; este distanciamento da antiga “estabilidade diária” tem sido bem sobretudo nisso. Lembro-me frequentemente do que diziam os graduados, acho que no 3º Ano: “nem sempre o caminho mais fácil é o mais proveitoso”. É isso que me continuará a guiar na escolha do Caminho a seguir. E aprendi a não ter medo da mudança, porque na pior das hipóteses, se não for bem sucedida, sempre aprendemos alguma coisa! Aos que neste momento pensam sair do País, ou estão indecisos: façam o que for melhor para o Vosso Futuro. Só cada um sabe o que isso é. Termino por aqui pois estamos quase a aterrar em Londres, e tenho de desligar o pc. Quando chegar a casa ainda tenho de passar uma camisa a ferro para amanhã ir trabalhar “engomadinho”. Até nisso a experiência é extremamente enriquecedora, que o diga a Maria! João José Meira Dantas (53/1995) costadantasjoao@gmail.com
José João Marques Medeiros de Almeida 497/1995 josemedeirosdealmeida@gmail.com
Crise nas IT , jamais! *
* Tecnologias da informação
É
humano e inteligente imaginar que o dia de amanhã será melhor que o de ontem. O mundo das IT não pode viver de “imaginar”, tem que passar à prática e não usar âncoras de esferovite à espera que o temporal passe. Com um passo sempre à frente do resto do mundo, as IT estão constantemente a desenvolver aquilo que o mercado vai estar disponível para pagar. Chegámos ao tempo dos LOWCOST nas IT. Foi anunciado pela APPLE o novo iphone a 99 dólares. Será uma versão
mais limitada, mais frágil, mas mais de encontro à bolsa da maioria. Os sistemas operativos gratuitos vieram para ficar e estão a fazer as delícias dos aficionados. Android’s e Linux’s começam a ser a escolha de uma boa parte das empresas que não se quer preocupar com licenças e avenças. A enchorrada de emoções continua com a apresentação dos computadores ao mais baixo custo. Algumas empresas começam a apresentar computadores a pouco mais de 20€. Esta maravilhosa máqui-
72
Colaboração Extensões de garantia
na chamada Raspberry Pi permite fazer a maior parte das operações que fazemos com um PC tradicional. Algumas empresas começam a adoptá-lo para que os seus colaboradores possam aceder à internet ou ver o email sem gastarem vinte vezes mais a adquirir um PC tradicional. Os serviços de teleconferência como o Skype e o Google Hangout passaram de uma ferramenta interessante, a uma ferramenta essencial. As reuniões à distância são o dia-a-dia de qualquer empresa de TI’s. Fazer uma reunião remotamente é possível e extremamente eficaz com a tecnologia que temos à nossa disposição. Para além da poupança económica, o Carbon Disclosure Project afirma que com a
utilização da teleconferência pudemos poupar cerca de 5,5 milhões de toneladas de emissões de CO2 o que significa 19 mil milhões de dólares até 2020. A crise global veio potenciar alguns serviços que eram impensáveis ao utilizador comum. Sem qualquer intermediário é hoje possível marcar um hotel, comprar um bilhete de avião e reservar um espectáculo. A crise nas IT é interpretada de uma forma diferente e vista como uma oportunidade crescente. Com o passar do tempo surgirão produtos mais fiáveis, mais baratos e de melhor qualidade. A tecnologia está a superar a própria tecnologia de dia para dia. É impossível imaginar como será o mundo IT amanhã de manhã.
Francisco Norton Brandão (282/1996) fnortonbrandao@gmail.com
Extensões de garantia “No meu tempo” – dizem-me os meus pais – “os electrodomésticos duravam décadas! Hoje em dia estragam-se a toda a hora!” Não duvido. O desenvolvimento de materiais e electrónica mais baratos permitiu que as máquinas e outros artigos que rodeiam as nossas vidas sejam mais baratos, eventualmente menos duradouros e com uma obsolência mais precoce. E se as garantias que os vendedores ofereciam na compra dos artigos podiam ser proporcionalmente duradouras, hoje, a maioria limita-se a um ou dois anos… ou um bocadinho mais. Antes do último Verão desloquei-me a uma loja de artigos de cozinha para comprar um grelhador. Escolhi aquele que mais parecia adaptar-se às especificações que eu queria e desloquei-me ao balcão para pagar. O preço de venda era 69,90 €, com dois anos de garantia para defeitos de fábrica (ou seja, se alguma coisa não funcionasse como devia, tinha direito a reparação ou substituição do equipamento, de forma gratuita).
Mas, à semelhança do que tem sido moda, a funcionária da loja informou-me da possibilidade de adquirir uma “extensão de garantia”. As extensões de garantia têm surgido um pouco por todo o lado, desde telemóveis a óculos escuros. No meu caso, com esta extensão de garantia, que me custaria 14,90 €, o meu grelhador passaria a estar coberto durante 3 anos (em vez de 2) e a garantia passaria a cobrir danos causados pelo utilizador (em vez de cobrir somente os defeitos de fábrica). Daqui em diante, vou ignorar a garantia inicial que o aparelho tinha, uma vez que não tenho controlo sobre ela e, na verdade, é só uma maneira de a loja se certificar que eu tenho um aparelho que funciona devidamente. A questão é: vale a pena pagar a extensão de garantia? Isto é, estou a valorizar o dinheiro que pago? Para comparar as duas opções, é preciso estimar o valor de cada uma delas. Uma vez que o artigo é mesmo, com diferentes condições de reparação e de troca, aquilo que muda entre uma opção e outra não é
Colaboração Extensões de garantia
a qualidade dos grelhados, mas a quantidade de grelhados que posso fazer; assumindo que todos os anos faço aproximadamente o mesmo número de grelhados, então o que varia nas duas opções é o número de anos durante os quais posso fazer grelhados. A decisão é fácil se assumirmos à partida que o grelhador não dura normalmente os 3 anos (com uma utilização normal, sem acidentes). Isto porque, se durar menos que isso, com a extensão garantia eu tenho direito a um artigo novo que durará provavelmente o mesmo tempo e, assim, por um valor menor que o dobro, tenho o artigo pelo dobro do tempo (porque, depois de trocado, ele irá durar novamente menos de 3 anos, em princípio) e, por isso, a extensão de garantia é um bom negócio, isto é, comprá-la uma boa decisão (assumindo que eu gostaria de ter o grelhador por tanto tempo quanto possível). Se, por outro lado, se o grelhador durar mais de 3 anos, a decisão é menos óbvia. Mas não difícil: se o tempo de vida que ganho ao comprar a extensão de garantia for, em termos relativos, superior àquilo que pago por ela, em termos relativos, então a decisão mais acertada é fazê-lo. Exemplificando, para clarificar e facilitar: no caso do meu grelhador, se comprar a extensão de garantia, pago um total de 84,80 €, quando antes pagava 69,90 €, ou seja, paguei 21% a mais pela extensão de garantia. Em relação ao tempo de vida, a subjetividade entra em jogo: como já assumi antes que o tempo de vida do aparelho é superior a três anos, para tirar benefício da garantia, tenho de lhe forçar um estrago ao fim desses três anos (que está, aliás, coberto pela garantia); após esse estrago, tenho direito a um equipamento novo e, após isso, conseguirei utilizá-lo durante o seu tempo de vida. Conclusão: utilizo o aparelho durante mais 3 anos do que o seu tempo de vida. Se supuser que o tempo de vida do aparelho tem o valor de, por exemplo (e aqui entra a subjetividade), 10 anos, posso usufruir dele 13 anos no total e, por isso, aumentei em 30% o tempo de utilização do aparelho. Finalmente, conclui-se que, por pagar mais 21%, aumentei o meu benefício em 30% e a decisão correta seria aproveitar a extensão de garantia, uma vez que os ganhos superam as perdas. Outra maneira de olhar para este problema é pensar no valor anual que pago para ter um grelhador em casa: se eu não pagar a extensão de garantia esse valor é de 6,99 €/ano; se a pagar, é de 6,52 €/ano. Fico com grelhados mais baratos. 69,90€ / 10 anos ≈ 6,99€/ano 84,80€ / 13 anos ≈ 6,54€/ano Mas o objetivo deste artigo, mais do que dar um exemplo, é dar ao leitor uma forma simples de tomar uma decisão semelhante. Assim sendo, aqui vai: Aquilo que se deseja é que o aumento relativo do preço seja inferior ao aumento relativo do tempo de vida do aparelho. Posto numa equação, isto traduz-se em: Preço original + preço extensão Preço original
<
Preço original + preço extensão Preço original
73
O que é equivalente a: tempo original <
Preço original Preço extensão
x tempo extensão
E com esta última equação, mais simples, já fica mais fácil tomar uma decisão rápida. (Nota: este problema teria precisamente a mesma solução matemática se a abordagem fosse o preço/ano de ter o grelhador ser o menor possível). Nesta equação decidi colocar o tempo original isolado, porque ele é o único dado subjetivo (e pessoal: este tempo depende também do tipo e intensidade de utilização que se dá ao aparelho); todos os outros são dados pela loja. No caso do meu grelhador, feitas as contas: tempo original <
69,90 x 3 14,90
≈ 14 anos
Ou seja, o limiar de decisão, no meu caso, são 14 anos. Se eu julgar que o equipamento que compro dura MAIS de 14 anos (isto é, está acima do limiar), não devo comprar a extensão de garantia. Se, por outro lado, julgar que dura MENOS que isso (está abaixo do limiar), beneficio em comprá-la, desde que use um primeiro aparelho durante 3 anos e depois o troque por um novo. Ou seja, se supusesse, como anteriormente, que o grelhador duraria 10 anos, tinha benefício em adquirir a extensão de garantia. Esta minha história anedótica acabou comigo a dizer à funcionária da loja que o grelhador duraria mais de 20 anos, enquanto ela me tentava convencer do contrário. Saí sem pagar a extensão de garantia, e daqui a 14 anos terei sabido se foi uma decisão com proveito real ou não. Claro que não fiz estas contas com esta exatidão no momento (apesar de o meu telemóvel ter calculadora integrada, que pode ser útil nestas situações). Simplesmente arredondei o preço original para 70 € e o da extensão para 14 €, que são 20% certos, mais fáceis de trabalhar “em direto”; não sendo um cálculo conservador (isto é, de “worst case scenario”), consegue ainda servir como indicador (com estes valores o limiar para o tempo de vida seria de 15 anos). Como nota final, devo dizer que este artigo faz parecer muito fácil aceitar uma extensão de garantia. Aliás, as próprias lojas o fazem parecer: como escrevi acima, se o aparelho durasse normalmente menos que o tempo de cobertura de garantia, seria um excelente negócio para o comprador (e péssimo para a loja) comprar a extensão de garantia, por isso é legítimo pensar que as lojas julgam que os aparelhos duram mais tempo que isso. Mas “quando a esmola é muita, o pobre desconfia”. E eu desconfio que, se as lojas oferecem este serviço, é porque ele lhes é provavelmente lucrativo. Julgo que isso acontece porque a grande maioria dos clientes não aproveita ao máximo as garantias dos seus produtos. Seja por esquecimento da sua existência, porque o aparelho não se estragou até ao prazo final de cobertura da garantia ou porque, quando se estraga, já julgamos o nosso aparelho obsoleto e queremos outro com mais funcionalidades, muitas vezes não fazemos usufruto do dinheiro que pagámos pela extensão de garantia. E acredito que essa seja a maioria dos casos; e aí sim, as lojas lucrarão com certeza com a oferta deste serviço. Cabe-nos então aproveitar essa situação em nosso favor...
74
Colaboração Visita de Estudo a Mourão
Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957
Visita de Estudo a Mourão N
o meu tempo no Colégio tínhamos todos os anos uma ou mais visitas de estudo de acordo com a nossa evolução ao longo do curso. Desde as modestas visitas ao Jardim Zoológico, para os «ratas», tendo como meio de transporte o velho eléctrico vindo de Carnide, até às gloriosas viagens dos finalistas ao Brasil e à Índia (hoje impensáveis) houve de tudo. Lembro-me bem da visita do meu 4º ano às Caldas da Rainha, Nazaré, Leiria, Alcobaça e Batalha, com uma memorável descida às grutas de Mira de Aire, que não tinham sido ainda abertas ao público. Nesta viagem ficámos aboletados nos quartéis dos Regimentos de Infantaria 5 e 7 respectivamente nas Caldas e em Leiria. No 5º ano o nosso curso internacionalizou-se, com uma visita a Badajoz onde o pessoal se equipou devidamente com navalhas sevilhanas de ponta e mola e alguns com espingardas e pistolas de pressão de ar, de muito fraca qualidade e com pressão diminuta, que chegaram a ser usadas na camarata para animadas sessões de tiro. Tanto quanto me lembro houve um que não se abrigou bem e levou com um tiro numa nádega. Os prejuízos físicos e materiais não passaram daí. No 6º ano fomos para a neve, na Serra da Estrela. Ficámos aboletados nas Penhas da Saúde, nuns abrigos de montanha de fraca qualidade, onde a chuva
penetrava pelos telhados e pelas janelas e onde suportámos um frio de rigor. Fomos visitar uma luxuosa messe da Força Aérea que na altura existia junto às instalações do radar na Torre, no ponto mais alto da serra. Lá nos emprestaram uns skis em que tentámos andar, sem grande êxito, dando tombos atrás de tombos e ficando todos encharcados, pois os nossos fatos de ski mais não eram do que uns velhos fatos de treino que levávamos do Colé-
gio, emprestados pela secção desportiva, onde estavam à guarda do inesquecível «Chico das Bolas». No final a Força Aérea forneceu-nos um bom almoço, que deu para levantar o moral. Nessa viagem fomos á guarda do Capitão Simões, nosso instrutor militar, que sendo um homem nascido e criado naquelas serranias, nos guiou numa bela marcha pela montanha, em que nos aquecemos cantando algumas peças do variado reportório colegial
Colaboração Visita de Estudo a Mourão
da época. Como não havia ouvidos humanos à escuta nas montanhas, as letras das canções entoadas não foram objecto de qualquer crítica. No nosso 7º ano, devido á greve da fome que então ocorreu e que deu origem à saída de metade do curso do Colégio, não houve obviamente viagem de curso para ninguém. Passados cinquenta anos sobre a nossa saída do Colégio e estando praticamente todos reformados, achámos que era chegada a altura de voltar a alargar os nossos conhecimentos, com novas visitas de estudo, como sempre com objectivos enriquecedores da nossa cultura e adequados à nossa idade. Sendo do nosso conhecimento que um elemento do nosso curso, o 77/1955 Luís Falcão Mena, tinha um sucessor directo que era proprietário de um reputado estabelecimento de comes e bebes lá para os confins do Alentejo, em Mourão, resolvemos escolher esse estabelecimento como objecto dos nossos estudos, a levar a cabo no decorrer de um almoço que para aí aprazámos. Dado prevermos que o repasto seria acompanhado de generosas libações e tendo em conta a elevada graduação alcoólica dos vinhos da região, achámos prudente não levar os nossos carros e arranjar um meio de transporte alternativo, com o qual ficasse melhor salvaguardada a nossa integridade física no regresso da missão de estudo planeada. O meio de transporte alternativo acordado foi um autocarro de passageiros, que foi prontamente fretado a um preço vantajoso, obtido graças aos conhecimentos de um dos «estudiosos» do grupo no mundo do transporte rodoviário de passageiros. A data aprazada para a visita foi o passado dia 29 de Maio, que foi aguardado com alvoroço por todos os participantes na mesma. O local de embarque escolhido foi, como não podia deixar de ser, o Largo da Luz, de onde partimos alegremente para o nosso longínquo objectivo. A viagem fez-se sem novidade, com o pessoal todo à conversa, recordando episódios da vida colegial do nosso tempo. Chegados a Mourão dirigimo-nos de imediato à Adega Velha, onde nos esperava, logo à porta, o Joaquim Arranhado Ba-
ção (77/1960) na sua postura habitual, de copo de tinto na mão esquerda, pequeno charuto na mão direita e um enorme sorriso de boas vindas nos lábios. Sentimos logo ali que estávamos bem entregues e que as nossas expectativas não seriam defraudadas. A partir daí estávamos por sua conta. Abancámos logo à mesa, o apetite era muito, com o Bação no meio de nós a zelar para que não nos faltasse nada. E não faltou. Para abrir marcharam uns queijinhos, chouriço e presunto, com outras entradas deliciosas que até incluíam perdiz. Tudo naturalmente regado com um bom «tintol» da sua escolha, que ajudou a pôr alegres mesmo os comensais mais sisudos. A seguir avançou uma soberba sopa de cação, que por si só já daria uma farta refeição. No entanto, nenhum de nós estava ali para brincar e por isso exigimos mais. Não apanhámos o Bação desprevenido, ele fez avançar uma enorme panela de cozido de grão que nos deixou quase de joelhos no chão, um verdadeiro manjar celeste, que levou os mais beatos às lágrimas. Estava divinal. Seguiu-se uma «leve» sobremesa de doces tipicamente alentejanos, que foram deglutidos pelos «estudiosos» já em indisfarçável esforço, para salvaguarda da nossa reputação de «comilões colegiais». Para finalizar a nossa prova de doutoramento em vinhos e petiscos da região, avançaram os cafés e os digestivos de elevado teor alcoólico, que nos puseram em ponto de rebuçado para a viagem de regresso. À saída, para espanto do pessoal de serviço da casa, berrámos a plenos pulmões um vibrante «Zacatraz» que deve ter ecoado pela vila inteira. Não contentes com isso, brindámos o Bação com um valente «Ramalho», que o deixou de gatas e de lágrimas nos olhos. À partida voltámo-nos para traz e lá estava o Bação a dizer-nos adeus, sempre de sorriso nos lábios e de copo de tinto e charuto nas mãos (esquerda e direita respectivamente). E pensarmos nós que estão agora em moda os «spa» (sanitas per aquam), quando afinal nos podemos sentir tão bem com o simples recurso aos tradicionais comes e bebes das nossas províncias. A viagem de volta decorreu com um si-
75
lêncio sepulcral no autocarro, de quando em vez interrompido pelo ressonar sonoro de um ou outro «estudioso», como que a expressar um genuíno sentimento de missão cumprida. Há malta do meu tempo que me considera algo fantasista. Para que esses não fiquem a pensar que o que acabo de descrever é apenas fruto da minha imaginação delirante, faço acompanhar este «Relatório de Missão» por uma foto em que fomos surpreendidos em plena sessão de estudo. Para que a informação fique completa, deixo também aqui os nomes dos que naquele dia glorioso prescindiram, com sacrifício, do convívio com os seus familiares, para se dedicarem ao estudo desinteressado da gastronomia alentejana. Aqui vão pois os nomes dos «estudiosos»: 39 Armando Cumbre, 71 Luís Barbosa, 77 Luís Falcão Mena, 100 António Latino Tavares, 101 José Trindade, 211 Carlos Sousa Baptista, 274 Mário Sousa Tavares, 275 Mário Carvalho Pereira, 338 José Bacelar Carrelhas, 416 José Maria Correia de Barros, 420 Joaquim Sá das Neves, 423 Manuel Menezes, 429 Fernando Schiappa de Azevedo. Daqui envio mais um abraço ao Joaquim Bação pelos agradáveis momentos que nos proporcionou na sua «Adega Velha». Contamos repetir a dose. Admitimos adesões de pessoal de outros cursos, mas não nos responsabilizamos por quaisquer danos causados a tubos digestivos menos aptos a enfrentar provas tão exigentes.
76
Colaboração Antigos Alunos nas Tropas Pára-quedistas
Nuno António Bravo Mira Vaz 277/1950
Antigos Alunos nas Tropas Pára-quedistas Carlos Alberto Grincho Cardoso Perestrelo (329/1972)
N
ão me lembro dele em miúdo, mas lembro-me bem do seu pai, um excelente piloto e um grande amigo dos pára-quedistas, que de vez em quando me levava no seu avião para saltar. O Carlos Perestrelo pertence à geração que se seguiu à minha nas Tropas Pára-quedistas, de modo que não só aí convivemos por um curto período de tempo, como, além disso, não trabalhámos directamente um com o outro. De qualquer modo, por força das minhas funções, fui regularmente informado da excelência da sua conduta como oficial, conduta que desde muito cedo o marcou como um profissional de nível elevado e camarada exemplar. Tal como o Lousada, o Moutinho, o Ribeiro outros antigos alunos da sua geração, foi um praticante exímio de paraquedismo, tendo integrado uma equipa que representou a AAACM no Campeonato Nacional de Pára-quedismo de 1990. Sendo neste momento um coronel «velhinho» e habilitado com o Curso de Promoção a Oficial General, desejamos-lhe com amizade que possa ainda dar muito do seu empenho às Tropas Pára-quedistas. Em cima Classe Especial de Ginástica e Semana de Campo/Mafra (1978), em baixo Desfile na Parada do Corpo de Alunos do Colégio Militar (1972)
Nuno António Bravo Mira Vaz 277/1950
Colaboração Antigos Alunos nas Tropas Pára-quedistas
77
Colégio Militar e as Tropas Pára-quedistas
“UM POR TODOS, TODOS POR UM”, “QUE NUNCA POR VENCIDOS SE CONHEÇAM”
E
stes são dois dos lemas que marcaram a minha vida… Tinha eu 10 anos e, como tantos jovens, vivia de sonhos… estava em Nova Lisboa (Angola) com os meus pais que representavam para mim referências inexcedíveis e, sem perceber bem a razão, decidi avançar para a minha primeira aventura longe da família. Com a minha determinação para vir a ser “Menino da Luz” realizei com extrema facilidade todas as provas
transmitiu valores e virtudes reforçou a minha vontade para servir a Pátria na Instituição Militar. De 1979 a 1984 frequentei a Academia Militar (AM) e ingressei nos Quadros Permanentes da Arma de Infantaria com a ambição de poder vir a fazer parte dos “Boinas Verdes de Portugal”. Considero que fui sempre protegido pois a “minha” Arma de Infantaria tem como seu e “meu” patrono, o admirável Santo Condestável
que faleceu em combate no dia 6 de Julho de 1968 servia de exemplo… Considerando que, nos anos 60, vivi junto de enfermeiras pára-quedistas e, nos anos 70, visitei frequentemente, no período de verão (férias escolares), o Batalhão de Caçadores Pára-quedistas nº 21, em Luanda, naturalmente que o meu destino ficou definido para ingressar na Base Escola de Tropas Pára-quedistas (BETP) no final do meu percurso académico.
1. Salto de abertura automática com Perestrelo (329/72) e Moutinho (407/71) equipados para um Salto Operacional de Grande Altitude (SOGA); 2. Campeonato Nacional de Pára-quedismo em Évora (1990): Krug (269/64), Ribeiro (43/68), Perestrelo (329/72) e Pires (646/69); 3. Entrega de um dos troféus conquistados à AAACM: Moutinho (407/71), Krug (269/64), Pires (646/69) e Perestrelo (329/72).
necessárias para ser admitido no Colégio Militar (CM). Em Setembro de 1972 lá estava eu de ”Cotim” pronto a desenvolver as minhas capacidades de acordo com o Código de Honra do aluno do CM e ali fiquei até 1979. Sublinho a camaradagem e espírito de coesão que desenvolvi ao longo dos anos através dos líderes que se constituíram como referenciais para a vida, nomeadamente aqueles que me desenvolveram a capacidade intelectual e o extraordinário professor “Dario Fernandes” que me fez voar bem alto na Classe Especial de Ginástica executando com rigor os espectaculares saltos dos “Gafanhotos”. Esta escola de excelência que me
D. Nuno Álvares Pereira, que representa em conjunto com o Arcanjo São Miguel, “Patrono dos Pára-quedistas”, duas das minhas referências de protecção celestial. As minhas motivações estavam com toda a certeza associadas ao exemplo reconhecido dos “Boinas Verdes” na conduta de operações militares nos territórios ultramarinos. No CM vivi emotivamente a actividade das tropas portuguesas em África pois, como tantos outros filhos de combatentes, alguns deles infelizmente órfãos, senti as realidades dos “Meninos da Luz”, dos “Pilões” e das “Meninas de Odivelas” daquela época… a memória do Tenente pára-quedista Pinto Assoreira (220/1951)
Algumas vicissitudes fizeram com que nunca tivesse a oportunidade de saltar em pára-quedas enquanto frequentei o Colégio (bem me recordo de um “famoso” – Tenente Gaspar, de alcunha o “Saca-Pêlos”, que estava anualmente presente a dar formação junto ao campo de futebol do CM com o objectivo de cativar voluntários para os “Boinas Verdes”) e só em 1983 tive essa alegria, recebendo aquela formação característica dos cursos militares de pára-quedismo, em Tancos. Dos meus companheiros “colegiais”, de formação na AM, fui o único a ingressar definitivamente nas Tropas Pára-quedistas, em 1985. Mais tarde, em 1993, um
78
Colaboração Antigos Alunos nas Tropas Pára-quedistas
dos meus grandes amigos, o João Marquilhas (132/1969) fez questão de me acompanhar vindo a ocupar lugares relevantes nestas forças. Recordo igualmente o amigo Pedro Santa Bárbara (512/1969 – Comandante da 3ª e meu graduado) que tendo sido oficial pára-quedista como miliciano, foi da minha geração na AM, e veio a concluir com êxito o curso de piloto aviador (onde integrou na Força Aérea Portuguesa a patrulha acrobática “Asas de Portugal”) e hoje é piloto de linha aérea na “TAP Air Portugal”. Quando entrei nas Tropas Pára-quedistas alguns antigos alunos já faziam parte deste Corpo de Tropas e dois deles ocupavam funções de chefia e comando, o Coronel Mira Vaz (277/1950) e o Coronel Franco Preto (76/1951); muitos outros, mais próximos da minha geração eram dos meus amigos intemporais… o Bragança Moutinho (407/1971), o Noronha Krug (269/1964), o Nobre Pires (646/1969) e o Frederico Almendra (604/1973) … não posso deixar de relembrar alguns grandes amigos que já não estavam nas fileiras mas estiveram sempre muito próximos; o Vitor Ribeiro (43/1968) e o Daniel Carvalho “Dani” (661/72) que, sendo do meu curso, faleceu quando estava nos “Páras”. Recordo mais alguns que comigo honraram, ao longo da sua vida militar, o lema do Batalhão de Instrução “Instrução Dura, Combate Fácil”; o José Castro Lousada (289/1968), o Filipe Castro (579/1973) e ainda alguns dos militares que foram meus subordinados quando fui graduado no CM, o Pinto Cavaleiro (445/1973), o Jorge Damásio (487/1973), o Passos Ramos (3/1974), o Lobato de Faria (258/1974), o Pesquinha da Silva (404/1974) e o Ribeiro Pedro (689/1974). Com um número considerável de antigos alunos a prestarem serviço nas Tropas Pára-quedistas houve um momento em que se constituiu uma equipa de competição (Luís Noronha Krug – 269/1964; Vitor Ribeiro – 43/1968; Luís Nobre Pires – 646/1969; José Bragança Moutinho – 407/1971; Carlos Perestrelo – 329/1972) da Associação de Antigos Alunos do Colégio Militar (AAACM) que sem qualquer apoio se organizou para participar em duas provas do Campeonato Nacional de
Pára-quedismo (precisão de aterragem e trabalho relativo) que se realizaram na Figueira da Foz de 14 a 16 de Junho de 1990 e no Vimieiro/Évora de 15 a 16 de Setembro de 1990. Com os pódios conquistados, os prémios foram mais tarde entregues à presidência da AAACM conforme artigo sobre o evento inscrito na revista nº 101/1990/AAACM. Não podia deixar de referir a demonstração de saltos em pára-quedas que eu realizei com muito orgulho, no dia 21 de Junho de 1991 para o campo de futebol do “nosso” Colégio Militar, sendo acompanhado pelo Krug (269/64) e pelo Pires (646/69), ficando na história colegial como a única a ser efectuada até hoje no interior das instalações. Após a aterragem, houve uma emocionante interacção com os alunos, professores e funcionários civis onde realço a troca de impressões com os memoráveis, “Moca” e “Marinho”, que muito contribuíram para as “nossas” melhores recordações Carlos Perestrelo (329/72) nas Tropas Pára-quedistas colegiais… 2008 e ter sido substituído pelo Frederico Termino com uma breve síntese da miAlmendra (604/1973). nha carreira militar que foi muito preEsta breve história da vida de mais alenchida com inúmeras actividades de guns colegiais justifica o porquê da exiscomando e chefia, frequentando muitos tência desta instituição centenária de excursos de formação, nomeadamente o celência e o orgulho com que os antigos curso de “Ranger” nos EUA e cumprindo alunos usam a “Barretina” na lapela… missões no estrangeiro em Teatros de O Colégio Militar nasceu para nunca morrer… Operações de particular dificuldade. Tive “ZacatráZ”, “ZacatráZ”, “ZacatráZ”. o privilégio de comandar a Escola de Tropas Pára-quedistas, em Tancos, de 2006 a
Recordando Os que nos deixaram
79
Os que nos deixaram Luís António de Magalhães Araújo Pinheiro (417/1963) Médico Pediatra Nasceu a 13 de Janeiro de 1953 - Faleceu a 14 de Junho de 2013
In Memoriam
O nosso «Baco», o 417 de 1963 Se há coisa que gosto de fazer é de escrever. Cada vez que o nosso Curso se reúne me desafiam para passar ao papel alguns episódios colegiais, que a memória ainda conserva, daqueles tempos da juventude partilhada em camaradagem. Quis o destino que ainda o não tenha feito, senão num artigo em que recordei um professor muito querido – o Dr. António Dias Miguel –, aquando do seu falecimento, a pedido da Direcção da Revista, já lá vão uns bons anos. Mais uma vez aqui estou, também numa missão equivalente, mas desta vez, para recordar um camarada. Não serei, por certo, o mais habilitado para o fazer, já que outros mantiveram com ele um convívio mais próximo, tanto no Colégio como depois cá fora, no dia-a-dia de uma outra nova vida. O «Nãnã», o elo mais forte na organização das nossas confraternizações anuais, lembrou-se de mim, respondendo ao pedido que o Presidente da Associação, o Tó Zé Reffoios, aliás, também ele do nosso Curso, lhe fizera. Não era
solicitação a que me pudesse escusar, até porque, afinal, eu e o «quatro dezassete» tínhamos pertencido à mesma turma durante cinco anos – do terceiro ao sétimo –, e havia, na verdade, algumas «estórias» para contar. São elas também o cimento daquela união que nos liga para sempre, por entre alegrias e tristezas, êxitos e vicissitudes, na perenidade desses afectos e cumplicidades em que «combatemos» juntos na nossa passagem pelo Colégio. Deste modo se consubstancia, na verdade dos momentos partilhados, essa memória percorrida a par, que se traduz como que numa fé vivenciada, e que projecta do passado no presente e no futuro o sentido da estrada comum. Infelizmente, nos dias que correm, alguns fariseus instalados no templo do seu poder precário, da sua ignorância atrevida e da sua arrogância displicente vêm a não conseguir entender o significado daquela fé que é amor, que é respeito e que é veneração por uma instituição bicentenária que soube incutir, em sucessivas gerações de jovens, valores sublimes do relacionamento entre os Homens. Mas regressemos ao nosso «Baco», que hoje recordamos na sua permanente preocupação com o penteado, prejudicado por aquele remoinho frontal, ou com o seu característico «cu de chumbo», com que o «Truta», que também acolhemos na saudade, o mimoseava com alguma impenitente insistência. Puxando pela cabeça, afinal não são assim tão poucos os tais episódios que ainda retenho. Escolhi dois, mais caricatos, muito também por estarem ligados a dois professores que tivemos ao longo do Curso. Ambos eram bons professores, muito exigentes e assaz carismáticos. O primeiro episódio passou-se numa aula prática de Química, que decorreu no antigo pavilhão, lá pelo nosso quinto ano, em que a turma se dividia ao meio, pelo que só metade testemunhou o evento. Os doze, de pé,
deparámo-nos com uma preparação já meio «cozinhada» pelo inefável Nunes, o conhecido «Fiasco», que aguardava a apresentação do Eng. Grijó, o inesquecível «Semita», e a sua voz de comando para que tudo se começasse a desenrolar, de reacção em reacção, até ao sucesso final! Mais uma vez tínhamos decidido que aquilo não iria dar certo, trocando os frascos na mesa, por artes que aqui não cabe relatar. E assim foi, perante o espanto incontido do genial mestre e o lívido desvario, estampado no rosto, do desafortunado preparador, ambos objecto continuado da nossa irreverência juvenil. Por entre a aflição instalada naqueles mágicos de uma «alquimia» falhada, o 448 (Vasconcelos) lançou um estridente «FIASCO»! A gargalhada geral tomou conta da sala e o «Semita» tentava, a custo, impor algum respeito, que a solenidade da experiência exigia, agora que se retomavam os trabalhos, depois de identificada a nossa «trapaça». Mas o bom do «Baco» não se conseguia conter e continuava a rir a bandeiras despregadas, causando a ira do professor. A resposta não tardou, num sonante: “ – Põe-te na rua”, indicando a porta com o ponteiro que nunca largava durante a aula, e só trocava de mão pelo giz, ao escrever no quadro as sucessivas fórmulas, com aquela letra irrepreensível e alinhada que lhe saía com a mesma naturalidade com que expunha, exemplarmente, a matéria. Manifestámos, de imediato, a nossa firme decisão de o acompanharmos na expulsão. “ – Meus «maninos», meus «maninos», deixem lá isso”, reconsiderou o «Semita» que retomava, com o brilho da sua entrega, a explicação da experiência que decorria agora a preceito, embora com o nervosismo latente nas mãos trémulas do «Fiasco». Volvidos dois anos, agora já no sétimo, no antigo pavilhão de Ciências Naturais, decorria uma aula em que nunca se sabia se haveria ou não as conhecidas «chamadas». Naquele dia,
80
Recordando Os que nos deixaram
No último almoço do Curso no Jardim da Luz
o «Camões», o nosso mestre micaelense, o Dr. Clementino Moniz de Sousa, até estava bem-disposto – tudo apontava para que estivéssemos libertos daqueles temidos interrogatórios. Tal não foi o caso e, no último quarto de hora, depois de um contemplativo olhar enigmático sobre a caderneta das fichas dos alunos, rodeado do usual suspense que sempre imprimia àquela «cerimónia», de que nem sempre resultava, aliás, a sinistra decisão final, o veredicto consumou-se – haveria mesmo «chamadas». Bem ou mal preparados, acometiam-nos sempre aqueles suores frios de quem espera o momento de entregar a cabeça ao carrasco. A frase sacramental era logo de seguida pronunciada: “ – É à sorte, é à sorte”, repetia com aquele sorriso, entre o cínico e o impiedoso, que lhe transparecia na tez, e a que já nos habituáramos. Por sorte, ou por vício na forma, não raro a pontaria acertava naquela página que o «Truta» e o «Banhista» partilhavam, unidos na desgraça daquela difícil provação. Acontece que naquele dia o «Banhista» tinha faltado, penso que por ter ido a uma consulta no Hospital Militar. Mais um olhar sobre a turma e novo lance: “ – É à sorte, é à sorte”, balbuciava de novo. E aí estava, era a vez do «Baco» subir ao estrado. Tenho bem presente que tudo se passou à volta duma matéria muito cara ao professor – questões sobre o ADN, ARN, ATP-ADP e as inevitáveis timina, adenina, citosina e guanina. Tivemos, na usual expressão do «Camões», a oportunidade de assistir a mais um «bailinhe», em que o «Truta» deu nas vistas pela negativa e o «Baco» se saiu menos mal. A coisa terminou, mesmo assim, com o tradicional arrazoado comentário que sucedia, naquela ordem exacta, sempre que algum de nós não correspondia às expectativas no conhecimento dos temas: “ – Olha, tu sabes o que és? Tu és «bürre, estúpide, cámêle, pândegue e pátéte alegre»”. Isto no mínimo, porque entre o «louque e siflitique» tudo
podia ainda acontecer. O «Baco» aguardava ansioso a sua sentença, que não tardou: “ – Tu, que esperas? Um «pândegue» quando sai à festa, nunca vai sozinho, leva sempre companhia. Também és «pândegue», mas lá te safaste!”. E um 8 e um 12 até nem foram mal recebidos. O «Camões» foi acrescentando. “ – E isto é porque hoje até estou bem-disposto”. Que mais posso eu acrescentar? Que o «Baco» foi um entusiasta do desporto e jogava com garra tanto futebol de cinco como vólei, pertencendo mesmo à equipa colegial desta última modalidade, orientada pelo nosso muito estimado professor Dario, também de saudosa memória. JÁ TODOS SE ENCONTRARAM LÁ NO ALÉM. Nós, por cá, vamos ficando mais pobres, mas cada vez mais firmes na nossa inquebrantável vontade de não deixarmos apagar essa chama viva nos nossos corações, esses sentimentos de afecto que ligam todos aqueles que alguma vez serviram ou frequentaram o nosso Colégio. Essa chama que perdura acesa, desde a sua fundação, exige de todos a unidade necessária para que continuemos a lutar, intérpretes dignos das virtudes que nos moldaram o carácter, não desfalecendo um só momento pela manutenção desse projecto e desse ideário do nosso Fundador. É o mínimo que a memória dos nossos camaradas nos obriga. Não gostaria de terminar sem deixar uma referência à brilhante carreira de médico pediatra, que foi a do Doutor Luís António de Magalhães Araújo Pinheiro, que deixou a sua marca de profissional competente e homem bom pelas instituições por onde passou e serviu. Uma palavra ainda para enaltecer a sua coragem, a sua alegria em viver e o seu optimismo, qualidades que nele persistiram mesmo já muito doente, nos últimos anos, tentando vencer o mal que lhe abalara a saúde, mantendo uma bonomia e uma tranquilidade de quem viveu
de bem consigo e com os demais. Estivemos com o «Baco» no nosso último almoço anual, no ano passado, e encontrámo-lo muito animado e esperançoso. Com ele, e também muito por ele, o grupo se reuniu no restaurante Jardim da Luz e tirámos uma última fotografia juntos. No passado 3 de Março, embora solicitado a comparecer, não se sentiu já com forças para sair de casa. Agora sim, a finalizar, permito-me chamar a voz de todos os seus camaradas de Curso para apresentar à sua Família, em uníssono, o testemunho da nossa solidariedade na dor e a firme garantia de que não o esqueceremos. Para ti «Baco», lá onde estiveres, deixamos-te o poema que um dia o «Ferreirinha» te mandou declamar numa aula de Português, no nosso quinto ano. Lá de trás, junto à parede, do último lugar da terceira fila a contar da janela, ouviu-se a tua voz:
“Eu tinha umas asas brancas, Asas que um anjo me deu, Que, em eu me cansando da terra, Bati-as, voava ao céu. ” João Abel Rodrigues Baptista da Fonseca 384/1964
NOTAS:
429 – Luís Fernando Bernardes dos Reis («Nãnã») 334 – Luís Filipe Brito Gonçalves Vieira («Truta») 288 – Luís Manuel Fé de Pinho («Banhista»)