Revista ZacatraZ nº 191

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Editorial Revista “ZACATRAZ”

Presidente da Direcção António José Sousa Valles e Saraiva de Reffóios (529/1963)

Editorial

A Direcção da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar denuncia junto da Comissão Parlamentar de Defesa Nacional a reforma autoritária e irresponsável levada a cabo pelo Ministro da Defesa Nacional.

...tendo alertado os Deputados para os riscos da descaracterização do Colégio Militar, da sua irreversível perda de identidade e existência a curto prazo, a concretizar-se a aplicação do despacho 4785/2013, de 8 de Abril, do Ministro da Defesa Nacional (MDN). A Direcção da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar (AAACM) foi recebida, a seu pedido, na Assembleia da República, pela Comissão Parlamentar de Defesa Nacional (CPDN), no passado mês de Maio, tendo alertado os Deputados para os riscos da descaracterização do Colégio Militar, da sua irreversível perda de identidade e existência a curto prazo, a concretizar-se a aplicação do despacho 4785/2013, de 8 de Abril, do Ministro da Defesa Nacional (MDN). Prevê o Despacho o encerramento do Instituto de Odivelas

e a introdução abrupta – e irreflectida – no Colégio Militar, já no ano lectivo de 2013/2014, do regime misto a partir do 2º ciclo do ensino básico, a admissão de alunos externos directamente para o 8º e 9º ano e para o ensino secundário, e o internato feminino no ano lectivo de 2014/2015, sem a mínima preparação e ponderação, tal como recentemente denunciou publicamente, de forma categórica, o Professor Eduardo Marçal Grilo, encarregue pelo MDN de elaborar a proposta de reforma dos Estabelecimentos Militares de Ensino (EME).

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...a AAACM contestou a pretensa racionalidade económica invocada pelo MDN e divulgada através de alguns meios de comunicação social nos últimos meses... No decurso da referida audiência, a AAACM contestou a pretensa racionalidade económica invocada pelo MDN e divulgada através de alguns meios de comunicação social nos últimos meses, tendo apresentado e entregue à CPDN um conjunto de propostas e medidas sem investimentos e com capacidade de gestão adequada permitirão que, no espaço de um ano, o custo por aluno no Colégio Militar seja idêntico ao do ensino público. Na ocasião, e ainda a este propósito, enfatizou a sua perplexidade quanto à anunciada construção de um novo edifício no Colégio Militar com um custo estimado em cerca de 6,5 milhões de euros, destinado a alojar 300 alunas em regime de internato, opção de utilidade pouco ou nada credível, uma vez que não foi realizada qualquer avaliação prévia junto do público alvo a que se destina, e tendo a tutela conhecimento da firme oposição dos pais e encarregados de educação das actuais alunas do Instituto de Odivelas…!


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Editorial Revista “ZACATRAZ”

Um procedimento desta natureza é revelador de um autoritarismo impróprio de um regime democrático e de uma irresponsabilidade inaceitável quando está em causa o futuro de uma Instituição bicentenária como é o Colégio Militar... Quando no início do seu mandato o MDN anunciou a sua vontade de levar a cabo uma reforma dos EME, acreditou-se que iria finalmente surgir um trabalho sério e profissional de valorização das Instituições em causa, que tantos e relevantes serviços têm prestado ao País. Quando o MDN presidiu, no dia 28 de Outubro de 2011 à abertura do ano lectivo de 2011/2012 no Colégio Militar foi esse o compromisso que assumiu, mas que de forma intencional, infelizmente não cumpriu. Na verdade, e apesar da disponibilidade e contributo leal sempre demonstrados ao longo do processo iniciado em Setembro de 2011, ao ignorar de forma ostensiva e obstinada os alertas, pedidos de audiência e apelos à participação feitos quer pela

...nunca desistiremos de continuar a lutar pelo Nosso Colégio, por dever, por convicção e também por amor.

AAACM, quer, também pela Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do Colégio Militar (APEEACM) desde Setembro de 2012 - data em que foi nomeada a Comissão Técnica de Acompanhamento (CTA) que viria a ser coordenada pelo Professor Joaquim Azevedo – o MDN persistiu em levar por diante uma reforma sem fundamentação pedagógica e económica credíveis, como se impunha, sem ter em conta os contributos e preocupações das Associações de Pais e dos Antigos Alunos, e sem consultar os Professores e Oficiais que prestam serviço no Colégio Militar. Um procedimento desta natureza é revelador de um autoritarismo impróprio de um regime democrático e de uma irresponsabilidade inaceitável quando está em causa o futuro de uma Instituição bicentenária como é o Colégio Militar, cujo estandarte ostenta as mais altas condecorações do País. Não entendemos as razões porque o MDN não nos ouve. Assim, não aceitamos o dictat do MDN,

cujas reais motivações desconhecemos, e nunca desistiremos de continuar a lutar pelo Nosso Colégio, por dever, por convicção e também por amor. Ao contrário do MDN, temos propostas e argumentos credíveis e tecnicamente fundamentados, há muito expostos com clareza. Não somos movidos por outros interesses que não sejam os de valorizar um património tangível e intangível singular, do qual Portugal se orgulha, e que nada - nem ninguém - tem o direito de desbaratar! Neste momento, ocorre-nos o quão danoso seria para Portugal se o Padre António Vieira tivesse uma vez mais razão, quando afirmou: “ Serviste a Pátria ela foi-te ingrata tu [Colégio Militar] cumpriste o teu dever a Pátria fez o que costuma fazer “ Não nos conformamos com a ideia de que a Pátria faça o que costuma fazer… e deste modo, continuaremos a lutar, por todos os meios ao nosso alcance, e com o apoio de toda a Comunidade de Antigos Alunos, pela suspensão do despacho do MDN!


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Ficha Técnica

CORPOS SOCIAIS DA ASSOCIAÇÃO PARA O TRIÉNIO 2011-2013

Ficha Técnica PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL Fundada em 1965 Nº 191 - Abril/Junho - 2013

DIRECÇÃO Presidente Vice-Presidente Secretário Tesoureiro 1º Vogal 2º Vogal 3º Vogal 4º Vogal 5º Vogal 1º Vogal Suplente 2º Vogal Suplente 3º Vogal Suplente

FUNDADOR Carlos Vieira da Rocha (189/1929)

António José Sousa Valles e Saraiva de Reffóios - 529/1963 José António Madeira de Ataíde Banazol - 631/1968 Pedro Miguel Correia Vala Chagas - 357/1977 Vítor Manuel Galvão Rocha Novais Gonçalves - 666/1971 Carlos Francisco da Silva do Rio Carvalho - 307/1971 Manuel Pedro da Costa Pereira Roriz - 519/1959 Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva - 53/1961 Luís Baptista Esteves Virtuoso - 72/1973 Francisco Maria Sarmento Cavaleiro de Ferreira - 58/1977 José Afonso Correia Lopes - 237/1976 Gustavo Lopes da Costa Pinto Basto - 227/2000 Gustavo André dos Santos Lima – 248/1994

DIRECTOR Mário Margarido e Silva Falcão (314/1936) CHEFE DE REDACÇÃO Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949) REDACÇÃO Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950) Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957) Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva (53/1961) João Carlos Agostinho Alves (110/1996) CAPA Ângelo Felgueiras (498/1976) no Polo Norte com a sua Barretina ENTIDADE PROPRIETÁRIA E EDITOR Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar

ASSEMBLEIA GERAL Presidente Vice-Presidente 1º Secretário 2º Secretário

Manuel Carlos Teixeira do Rio Carvalho - 124/1945 Duarte Manuel Silva da Costa Freitas - 199/1957 Frederico Eduardo Rosa Santos - 78/1957 João Miguel Jardim de Abreu Ferreira Pinto - 261/1980

MORADA DO PROPRIETÁRIO e SEDE DA REDAÇÃO Quartel da Formação - Largo da Luz 1600-498 Lisboa Tel. 217 122 306/8 Fax. 217 122 307 TIRAGEM - 1350 exemplares DEPÓSITO LEGAL Nº 79856/94

CONSELHO FISCAL Presidente 1º Vogal 2º Vogal 1º Vogal Suplente 2º Vogal Suplente

DESIGN E EXECUÇÃO GRÁFICA:

José Manuel Spínola Barreto Brito - 539/1963 António Emídio da Silva Salgueiro - 461/1972 Eurico Jorge Henriques Paes - 306/1957 João Luís de Mascarenhas e Silva Schoerder Coimbra - 54/1984 João Sanches de Miranda Mourão - 552/1960

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS SÓCIOS DA AAACM NÚMERO AVULSO: 4,00 € ASSINATURA: 15,00 €

Os artigos publicados são da responsabilidade dos seus autores.

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Sumário

Dos Antigos Alunos

08 O Colégio Militar

- A ilusão de uma reforma

09 Os números que querem acabar com a história e com o futuro

11 Antigos Alunos em destaque 13 Ecos da FEITORIA 16 3 de Março 19 Cursos de 1942/1949 | 1952/1959

05

Dos Antigos Alunos Comunicado da AAACM

Do Colégio

07

25 Um olhar de fora e uma

Carta ao MDN

| 1971/1978 | 1995/2003

visão do exterior

Dos Antigos Alunos

27 Mensagem do Director

à Comunidade Colegial

28 Novo Director do Colégio 29 Agradecimento do Comandante do Batalhão

30 Festival dos 3 Estabelecimentos Militares de Ensino

Colaboração

39 O Colégio Militar e a

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Do Colégio

A importância dos Colégios Militares

Ordem da Torre Espada

43 A Equitação Militar 45 Conceito Estratégico Nacional 51 O que é isso do eCommerce? 52 Antigos Alunos nas Tropas Pára-quedistas

Recordando

57 Ana Maria de Ataíde

Pinto Soares Hoeppner

63 Os que nos deixaram

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Colaboração

Sensibilidade e bom senso


Dos Antigos Alunos Comunicado da AAACM

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COMUNICADO 11 de Abril de 2013 Ministro da Defesa anuncia o fim do Instituto de Odivelas e cria condições para o encerramento a curto prazo do Colégio Militar

O

actual Ministro da Defesa pretende realizar mudanças profundas, sem o mínimo de preparação, num período muito curto, com necessidade de investimentos elevados e com resultados que serão obviamente desastrosos. Os Antigos Alunos, que apelam a acções concretas e sustentadas há mais de 10 anos, consideram inaceitável que uma infra-estrutura escolar excelente do nosso País seja subaproveitada em termos de frequência de alunos e de valorização de activos com prejuízos inaceitáveis e desnecessários, e acreditam que o modo irreflectido da mudança só irá agravar e nunca resolver este problema. É ainda lamentável e inaceitável que o Ministro da Defesa trate de forma ligeira o futuro de uma instituição bicentenária, que tanto contribuiu e continua a contribuir para o nosso País, formando jovens nas suas dimensões estruturantes da cidadania e da liderança, através de um modelo educativo único, assente nos pilares Académico, Desportivo e Militar: • Por alguma razão é a instituição mais condecorada em Portugal. • Por alguma razão os nomes de artistas, cientistas, estadistas, militares e outros que se formaram no Colégio Militar estão em mais de duas mil ruas e avenidas em Portugal. • Por alguma razão 1 em cada 73 alunos, desde sempre formados pelo Colégio Militar, foram condecorados com a Ordem da Torre e Espada, tendo também o Colégio formado cinco dos dezasseis presidentes da República Portuguesa (teriam sido seis não fora o destino do General Humberto Delgado). • Por alguma razão foi a escola por onde passaram mais atletas olímpicos portugueses. • Por alguma razão, num estudo quantitativo recente dirigido a pais e encarregados de educação, surge como a instituição de ensino secundário com maior notoriedade. • Por alguma razão a comunidade de Antigos Alunos é tão unida e activa, nas vertentes de apoio e solidariedade, ao longo da vida, com os mais idosos e com os que passam por períodos de maiores dificuldades. Quando no início do mandato o Ministro da Defesa anunciou reformas, acreditou-se que iria finalmente surgir um trabalho profissional de valorização da instituição. Quando o Ministro da Defesa visitou o Colégio Militar em 28 de Outubro de 2011 foi isso que prometeu mas infelizmente não cumpriu. Após duas comissões para definir e programar as mudanças a concretizar, uma delas presidida pelo Prof. Marçal Grilo, surgiu em Setembro de 2012 um Despacho confuso, criando uma terceira comissão, com um mandato incompreensível, para definir e acompanhar mudanças pouco claras, num prazo completamente irrealista. Lamentavelmente não foram envolvidas entidades que conhecem profundamente o Colégio Militar e as suas necessidades, como as Associações de Pais e Antigos Alunos.

Em 8 de Abril deste ano um Despacho do Ministro da Defesa comunica um programa de reformas, a concretizar em 2 anos, que prevê o encerramento do Instituto de Odivelas e a construção de um edifício novo nas instalações do Colégio Militar para instalar um internato feminino, garantindo-se que a fusão dos dois estabelecimentos evitaria a perda de postos de trabalho. Em suma, uma trapalhada que o Ministro da Defesa poderia e deveria ter evitado! A Associação de Antigos Alunos disse sempre que alguns aspectos da reforma deveriam ser objecto de uma reflexão mais aprofundada, tal como referido no relatório da comissão presidida por Marçal Grilo, e que a sua implementação deveria decorrer num período de 5 a 8 anos. O Ministro da Defesa pretende realizar uma reforma em 2 anos, sem qualquer aprofundamento ou preparação adequada. Estamos em Abril, em plena fase de inscrições para o próximo ano lectivo e os Encarregados de Educação não sabem o que vai ser o próximo ano lectivo, não sabendo se devem ou não manter os filhos neste desnorte. É assim que se pretende aumentar o número de Alunos e aumentar a sustentabilidade? Quais são as verdadeiras intenções do Ministro da Defesa? Chegou a hora de agir com bom senso e competência! Sem investimentos e com capacidade de gestão adequada o Colégio Militar pode rapidamente gerar proveitos em vez de prejuízos, aproveitando a sua infra-estrutura ímpar e continuando a contribuir para um País que precisa cada vez mais de jovens formados com valores de cidadania e liderança. As mudanças anunciadas pelo Ministro da Defesa poderão na sua maioria ser equacionadas e até talvez possam vir a ser implementadas. No entanto, a sua preparação e calendarização tem de ser feita de forma realista, profissional e participada. Temos que lutar pela suspensão imediata do Despacho n.º 4785/2013 de 8 de Abril e evidenciar que o Colégio Militar, com algumas medidas concretas e de rápida implantação, tem condições para, a muito curto prazo, ser auto-sustentável. Em paralelo, sem pôr em causa a sustentabilidade referida e a identidade do Colégio Militar, deverão ser seriamente equacionadas as reformas mais profundas, de forma empenhada, participada, realista e profissional. Todos sabemos que liderança sem conhecimento e mudanças sem preparação são a garantia de fracasso. Por respeito institucional ao Colégio e por amor ao nosso País não podemos aceitar este destino para o Colégio Militar. Direcção da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar Lisboa, 11 de Abril de 2013


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Dos Antigos Alunos Comunicado da AAACM

Para quem eventualmente dele não tenha conhecimento, faz-se a Transcrição do Despacho n.º 4785/2013, publicado no Diário da República, 2.ª série – N.º 68 – 8 de Abril de 2013 Os Estabelecimentos Militares de Ensino não superior são um instrumento de elevada importância na relação que as Forças Armadas, e o Exército em particular, estabelecem com a sociedade civil partilhando com esta os princípios basilares da sua cultura e identidade. A manutenção de um projecto militar de ensino constitui, tanto para as Forças Armadas como para o país, uma mais-valia. No entanto, os condicionalismos de excepção inerentes ao momento que Portugal atravessa, conjugados com os problemas estruturais que os estabelecimentos militares de ensino têm vindo a evidenciar, exigem a implementação, para estes, de uma estratégia de gestão que permita a optimização de projectos e de recursos e promova a excelência dos resultados. Para alcançar este desiderato, é determinante valorizar a história dos estabelecimentos militares de ensino para identificar e potenciar os seus pontos distintivos. Mas é, também, incontornável a necessidade de se introduzir ajustamentos na estrutura de organização e na configuração da oferta educativa que proporcionam, para que consigam ser mais eficientes, captar mais alunos e aumentar o seu nível de integração com as próprias Forças Armadas. Neste sentido: Considerando que o estudo sobre os estabelecimentos militares de ensino (EMES) realizado pela equipa técnica nomeada através do meu despacho nº 5588/2012, de 11 de Abril cujas medidas propostas foram aprovadas pelo meu despacho nº 11863/2012, de 29 de Agosto permite, de forma inequívoca, concluir pela existência de carências de base na estratégia e acção dos EMES, revelando, nomeadamente, excesso de recursos humanos, défice de alunos, inexistência de uma estratégia de comunicação e ausência de uma acção integrada em termos de gestão dos mesmos; Considerando os elementos constantes no relatório de actividades apresentado pela Comissão Técnica de Acompanhamento (CTA) da reestruturação destes estabelecimentos, nomeada pelo meu despacho nº 264/2012 de 5 de Novembro; Considerando a importância estratégica de potenciar o Colégio Militar como um estabelecimento militar de ensino regular de excelência, capaz de conciliar a integração de género com a sua matriz identitária já secular, na qual o internato, sem deixar de se constituir como elemento diferenciador, deve estar sujeito à escolha por parte das famílias; Considerando a necessidade de reconfigurar o projecto educativo do Instituto dos Pupilos do Exército, fazendo com que a matriz militar em que assenta possibilite uma capacidade distintiva no panorama do ensino profissional; Considerando ainda a necessidade de dar sequência e sustentação ao processo de reestruturação que está em curso, no qual o próximo ano lectivo tem de ser gerido como um ano de transição, procurando garantir condições de frequência equilibradas, nas suas diferentes vertentes; Determino o seguinte: 1. A estrutura de funcionamento do próximo ano lectivo (2013/2014), em cada um dos estabelecimentos de ensino, assentará nos seguintes pressupostos: 1.1. Colégio Militar: a) Deverá assegurar a abertura de novas matrículas nos seguintes anos: i) 1º ciclo: duas turmas de 1º ano e duas turmas de 2º ano, em regime misto e exclusivamente em externato; ii) 2º ciclo: três turmas de 5º ano e três turmas de 6º ano, com opção entre regime de internato e de externato para alunos do sexo masculino e em regime de externato para alunas do sexo feminino; iii) 3º ciclo: três turmas de 7º ano nos moldes previstos para o 2º ciclo, referidos no ponto ii) da presente alínea; iv) Secundário: quatro turmas de 10º ano, nas condições referidas no ponto ii) da presente alínea; b) Relativamente aos anos em que não há novas admissões, funcionarão as turmas que forem necessárias ao público existente, bem como às alunas que queiram transitar do Instituto de Odivelas, devendo ainda ser possibilitada aos alunos do sexo masculino a opção entre o regime de internato e de externato; 1.2. Instituto de Odivelas: Este estabelecimento de ensino feminino, cujo encerramento se encontra estabelecido para o início do ano lectivo 2015/2016, deverá funcionar nos seguintes termos: a) 2º ciclo: i) Não terá nenhuma turma de 5º ano; ii) Poderá ter duas turmas de 6º ano, com opção de regime de internato e de externato, mas esclarecendo os encarregados de educação que no ano lectivo 2014/2015 a prossecução dos estudos se fará no Colégio Militar; b) 3º ciclo: i) Poderá ter turmas de 7º ano, mas apenas em regime de internato e clarificando os encarregados de educação que no ano lectivo 2014/2015 a prossecução dos estudos se fará no Colégio Militar; ii) O 8º e o 9º ano são garantidos às alunas que já se encontram a frequentar este estabelecimento, tanto em regime de internato como em externato, podendo ainda haver novas admissões nestes anos, mas dentro do plano de reestruturação em curso; c) Ensino secundário: i) Poderá ter três turmas de 10º ano, nas condições previstas para o 7º ano; ii) O 11º e o 12º ano podem funcionar em condições iguais às previstas para o 8º e 9º ano; 1.3. Devem também ser considerados os seguintes aspectos relativamente ao processo de transição das alunas do Instituto de Odivelas para o Colégio Militar no ano lectivo 2013/2014: a) As alunas que frequentam o Instituto de Odivelas em regime de externato e em anos que não os de início de ciclo de estudos, podem, caso manifestem essa intenção, transitar para o Colégio Militar; b) As alunas do regime de internato e de qualquer nível de ensino, podem, caso manifestem essa intenção, ter a componente lectiva no Colégio Militar e a componente de internato no Instituto de Odivelas, devendo ser assegurado um sistema de transportes e a compatibilização de horários; 1.4. Instituto dos Pupilos do Exército: Este instituto deverá assumir-se como escola vocacionada para o ensino profissional, mas en-

quanto não se consolida a este nível, e por critérios de captação de novos alunos, poderá abrir candidaturas nos seguintes termos: a) 2º ciclo: duas turmas de 5º ano e duas de 6º ano, em regime misto e com opção de internato para alunos do sexo masculino; b) 3º ciclo: pode aceitar candidaturas em qualquer um dos anos que compõem este ciclo, nas condições referidas na alínea anterior; c) No 10º ano de ensino profissional poderá abrir os cursos de: Técnico de Gestão; Técnico de Gestão de Equipamentos Informáticos; Técnico de Manutenção Industrial (nas variantes de Electromecânica, Mecatrónica e Mecatrónica Automóvel); Técnico de Electrónica, Automação e Comando; d) Tendo em consideração o nível de reestruturação da oferta educativa que se pretende implementar neste instituto, deverão ser realizadas acções de monitorização, desencadeadas pela direcção de educação em coordenação com a CTA, com periodicidade semestral, para identificar a necessidade de implementar medidas adicionais de apoio ou de correcção de estratégia de desenvolvimento; 1.5. Para a constituição/abertura de turmas em cada um dos ciclos de ensino deverão ser respeitados os seguintes limites mínimos: a) 1º ciclo: 18 alunos; b) 2º e 3º ciclo: 20 alunos; c) Ensino secundário (10º ano): 18 alunos em cada curso, devendo estes ser definidos no âmbito da revisão do projecto educativo; d) Ensino secundário profissional (10º ano): 16 alunos em cada curso; e) No caso do Instituto de Odivelas, porque está em curso o processo de transição de alunas para o Colégio Militar, estes limites mínimos não se aplicam; 1.6. Relativamente às mensalidades associadas à frequência destes estabelecimentos, mantém-se a tabela que vigora no ano lectivo em curso; 1.7. As actividades de natureza extracurricular devem ser organizadas da seguinte forma: a) Um bloco base que poderá ser associado a uma lógica de complemento curricular; b) Um bloco adicional que deverá funcionar com propósitos de enriquecimento curricular; c) A composição dos blocos de actividades referidos nas alíneas anteriores deverá ter em consideração a matriz militar do projecto pedagógico, bem como critérios de racionalidade financeira, estando sujeita a apreciação prévia da CTA, ficando o respectivo coordenador incumbido de obter validação pela tutela; 2. Em simultâneo, o Exército deverá diligenciar o seguinte: a) Acomodar na sua orgânica a proposta de configuração da Direcção de Educação aprovada pela CTA (em termos de estrutura e de competências); b) Proceder à requisição/nomeação do supervisor pedagógico que integrará a Direcção de Educação, tendo por base a proposta da CTA; c) Desencadear, de imediato, o processo conducente à construção da infraestrutura de internato feminino no Colégio Militar apresentando um plano calendarizado e quantificado do processo, tendo em vista o pleno funcionamento desta infraestrutura previamente ao início do ano lectivo 2014/1015; d) Apresentar, até 22 de Abril, um plano calendarizado e orçamentado para que a adaptação das instalações (pedagógicas e de apoio) do Colégio Militar para o ensino misto esteja concluída antes do início do ano lectivo 2013/2014, tendo por base o memorando nº 1534/GENIE, de 6 de Dezembro elaborado pela direcção de infra-estruturas do ramo; e) Apresentar, até 30 de Abril, as propostas de alteração de legislação necessárias para acomodar a abertura do 1º ciclo, já no ano lectivo 2013/2014; f) Adequar os formulários de candidatura ao Instituto de Odivelas, para que contemplem informação aos encarregados de educação sobre as condições em que o mesmo funcionará nos próximos dois anos lectivos; g) Iniciar o processo de concepção de currículo próprio para o 3º ciclo do Instituto dos Pupilos do Exército, tendo em consideração que deverá ser apresentado ao Ministério da Educação e Ciência em Setembro do presente ano para ser apreciado e entrar em funcionamento no ano lectivo 2014/2015; h) Desenvolver, em coordenação com a CTA e até 30 de Novembro, os seguintes estudos relacionados com as mensalidades associadas à frequência dos EMES: i) Um estudo acerca da estrutura de mensalidades que deve vigorar a partir do início do ano lectivo 2014/2015, procurando que a mesma cumpra requisitos de atractividade, mas também se ajuste à configuração e aos custos da oferta educativa que é proporcionada às famílias. ii) Um estudo relativo às actividades extracurriculares actualmente existentes no Colégio Militar, que incida sobre a sua relação com a matriz militar do projecto pedagógico e sobre a caracterização dos custos associados a cada uma. As conclusões devem permitir definir as condições em que estas actividades funcionarão no ano lectivo 2014/2015; 3. Ficam dependentes de despacho do Secretário de Estado Adjunto e da Defesa Nacional, após pronúncia da CTA: a) A realização de obras, de qualquer natureza, em cada um dos estabelecimentos militares de ensino objecto do presente processo de reestruturação; b) A aquisição de novos dispositivos/equipamentos de índole pedagógica; c) As necessidades referidas nas alíneas anteriores devem ser comunicadas pelo Chefe do Estado-Maior do Exército ao Secretário de Estado Adjunto e da Defesa Nacional com a antecedência exigida para o efeito; 4. No âmbito dos processos de comunicação com as famílias (de alunos e de potenciais alunos) e de divulgação da nova oferta educativa, devem ser desencadeadas as seguintes acções: a) A CTA deverá propor, até dia 5 de Abril um modelo de carta a enviar aos encarregados de educação dos actuais alunos(as) dos três estabelecimentos, dando conta das transformações que irão ocorrer no próximo ano lectivo, inseridas num esforço de (re)valorização da oferta de ensino militar não superior; b) A carta referida na alínea anterior deverá ser enviada aos pais até ao dia 10 de Abril, data em que deverão ser abertas as candidaturas para o ano lectivo 2013/2014; c) A Secretaria-Geral, por intermédio da sua estrutura de relações públicas, deverá apoiar o Exército na definição e implementação de uma estratégia de comunicação para atrair novos públicos; d) A Direcção-Geral de Politica e Defesa Nacional, em articulação com a CTA e com o Exército, deve preparar e apresentar um processo de divulgação dos estabelecimentos militares de ensino junto dos países de língua oficial portuguesa, devendo este ser implementado até ao dia 30 de Abril.

25 de Março de 2013. — O Ministro da Defesa Nacional, José Pedro Correia de Aguiar-Branco.


Dos Antigos Alunos Uma Carta do Ricardo Bayão Horta

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UMA CARTA do Ricardo Bayão Horta O texto que se segue reproduz uma carta dirigida em 16 de Abril a S. Ex.ª o Ministro da Defesa Nacional após a publicação no Diário da República do Despacho n.º 4785/2013 e foi escrita e enviada àquele membro do Governo pelo antigo aluno Ricardo Bayão Horta (25/1946), que desempenhou aquele cargo em 1982, fazendo parte do VII Governo. A Sua Excelência O Ministro da Defesa Nacional Dr. José Pedro Aguiar Branco Av. Ilha da Madeira 1400-204 Lisboa Lisboa, 16 de Abril de 2013 Sr. Ministro Ouvi no Colégio Militar e li posteriormente com atenção o seu discurso de 28 de Outubro de 2011 na abertura do ano lectivo 2011/2012. Sei bem a esperança que a sua intervenção gerou nos Antigos Alunos do Colégio Militar com a perspectiva de finalmente se poderem introduzir no Colégio Militar alterações que há mais de uma década a nossa Associação vem sugerindo e, mesmo, reclamando. Isto mesmo fiz questão de então lhe expressar por escrito. Segui com interesse o trabalho da Comissão presidida pelo Prof. Marçal Grilo e, o Sr. Ministro concedeu-me algum do seu tempo para conversarmos sobre as alterações que pretendia introduzir nos Estabelecimentos Militares de Ensino. Quando pensou nomear uma terceira comissão, teve a amabilidade de me solicitar sugestões de pessoas para a sua coordenação o que fiz com a rapidez que me pediu. Li com cuidado o seu despacho de 25 de Março publicado no DR em 8 de Abril. Com a mesma abertura e transparência dos nossos contactos anteriores quero expressar-lhe o meu desacordo com o rumo e o ritmo que o Sr. Ministro pretende dar a uma matéria de tanta importância e significado, tratando-se de uma Instituição Educativa bicentenária de referência no nosso País. O seu despacho revela uma enorme ligeireza ao pretender implementar superficial e precipitadamente mudanças que requerem profundidade de pensamento e ponderação. Sinceramente acredito que o Sr. Ministro começou com boas intenções mas tem dificuldade em as concretizar com a prudência, o equilíbrio e a sabedoria necessários. Como seu antecessor no Ministério da Defesa Nacional e ex-aluno do Colégio Militar lamento sinceramente a situação que o Sr. Ministro criou e peço-lhe que pondere a sua correcção. Várias medidas que pretende implementar podem ser adequadas mas, executadas da forma precipitada prevista no seu despacho, podem revelar-se contrárias aos objectivos expressos no Preâmbulo do mesmo. Tenho muito orgulho em ser um ex-aluno que há mais de uma década participa activamente em todas as reflexões e elaboração de documentos sobre a desejável evolução do Colégio Militar face ao enquadramento da sociedade moderna em geral e às condicionantes do nosso Pais em particular. Acredite portanto que esta minha posição crítica do seu despacho é fundamentada em muita reflexão e está isenta de qualquer componente saudosista conducente a um prejudicial imobilismo que ninguém de bom senso defende. Um verdadeiro líder é aquele que sabe recuar sem perder a liderança. Será o Sr. Ministro capaz de o fazer? Sinceramente espero que sim. Aceite os meus cumprimentos.

Ricardo Bayão Horta

RICARDO MANUEL SIMÕES BAYÃO HORTA Foi admitido em 1946 no Colégio Militar, tendo-lhe sido atribuído o n.º 25. Ao longo do curso colegial foi sempre um aluno brilhante, tendo recebido variados prémios e medalhas, sendo no último ano, o ano do 150.º aniversário do Colégio, graduado em Comandante do Batalhão. Licenciou-se em Engenharia Química Industrial no Instituto Superior Técnico (1959), de que veio a ser Professor Catedrático (1979-2006), e posterior e sucessivamente, Master of Science, pela Universidade de Birmingham/Inglaterra (1966), Philosophy Doctor, pela Universidade de Birmingham/ Inglaterra (1968) e Doutor em Engenharia, pelo Instituto Superior Técnico (1973). Exerceu a sua actividade nas seguintes empresas: - Siderurgia Nacional - Conselho Geral e de Supervisão do Banco Comercial Português - Promindústria – Sociedade Portuguesa de Capital de Risco, S.A. - Companhia Industrial de Resinas Sintéticas – CIRES, S.A. - Atlansider SGPS, S.A. - CIMPOR – Cimentos de Portugal, SGPS, S.A. Paralelamente, é: - Membro Conselheiro da Ordem dos Engenheiros - Membro da Academia de Engenharia - Membro da American Association for the Advancement of Science Foi: - Secretário de Estado da Energia e Minas do I Governo Constitucional (1977 a 1978) - Secretário de Estado da Indústria Transformadora do VI Governo (1980) - Ministro da Indústria e Energia do VII Governo (1981) - Ministro da Indústria, Energia e Exportação do VIII Governo (1982) - Ministro da Defesa Nacional no mesmo Governo e no mesmo ano. É agraciado com a Grã Cruz da Ordem Militar de Cristo.


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Dos Antigos Alunos O Colégio Militar - A ilusão de uma reforma

Pedro Gonçalo Coelho Nunes de Melo 51/1982

O Colégio Militar:

a ilusão de uma reforma Artigo publicado no jornal Diário de Notícias, em 28 de Março de 2013, reproduzido na ZacatraZ por amável deferência do seu autor.

A

ntes de mais, impõe-se o meu registo de interesses: sou, com muito orgulho, ex-aluno do Colégio Militar (CM). Depois, cumpre sumariar alguns dados para contextualizar quem pouco conhece o CM: é a segunda escola mais antiga do país (com 210 anos), a seguir à Universidade de Coimbra; o estandarte do CM é o mais galardoado de todos os das Forças Armadas e o CM foi a escola que mais Chefes de Estado deu à Nação. Enumero apenas factos, para não me fugir a pena para valores que o CM incute a quem por lá estuda e que podem ser vistos como passadistas. Nada disto, claro, impressionou o Ministro da Defesa Nacional que decidiu levar a cabo uma reforma que constitui o primeiro passo para o desmantelamento do CM. Por outras palavras: faltando-lhe coragem, não extingue, para já, o CM, mas descaracteriza-o a tal ponto que, quando já nada sobrar do que era, alguém decidirá, então sim, com razão, dar-lhe o golpe de misericórdia e fechar-lhe as portas. Ora, tudo indica, num momento em que os “números” comandam cruamente os destinos do país, que a reforma em causa foi encetada porque o CM é alegadamente caro. Só pode ser isso, porque, não sendo isso, haveria aqui algum móbil ideológico (antimilitar?) paradoxalmente protagonizado pelo Ministro da Defesa…

Todavia, a motivação pitagórica do Ministro da Defesa improcede, porquanto, se desconsiderarmos as despesas com salários dos professores (as mais avultadas mas que sempre teriam de ser pagas se estivessem a leccionar noutro local), o CM despende cerca de 1.8M com gastos correntes (v.g., água, luz, alimentação, limpeza) e aproximadamente 1.3M com encargos de militares afectos ao CM, ou seja, a despesa anual do CM cifra-se, em números redondos, na quantia de 3.1M por ano. Sucede que o CM tem de receita (paga pelos alunos que o frequentam) cerca de 2M anuais. Isto significa, bem vistas as coisas, que esta instituição custa aos cofres do Estado 1.1M por ano. Será este valor uma excentricidade Sr. Ministro? Aliás, se o Sr. Ministro e a douta Comissão que nomeou para estudar o putativo problema que considerou existir, conseguissem vislumbrar o que está aqui em causa, teriam certamente compreendido que sendo a receita anual do CM de cerca de 2M, com um batalhão Colegial de 360 alunos, numa Casa que alberga, sem qualquer problema de espaço, 600 alunos (não sendo preciso gastar mais um tostão em obras), o curial seria promover a ocupação plena do CM. Repare que, com 600 alunos, o CM poderia ser auto-suficiente e, no limite, gerar lucro.

Mas mais: se a Comissão que designou se tivesse dado ao trabalho de dialogar com quem efectivamente conhece o CM, isto é, a Direcção do CM, a Associação de Antigos Alunos e a Associação de Pais, rapidamente concluiria que o tal valor de 1.1M por ano poderia ser drasticamente reduzido se fosse feita uma adequada rentabilização das excelentes infra-estruturas de que dispõe o CM. Bastaria abri-las à sociedade civil, cobrando pelo aluguer de espaços e utilização dos seus equipamentos. E, já agora, também teria percebido o mal que está a infligir ao CM pelo desnorte criado junto dos pais, alunos e potenciais alunos. Note, por favor, que estou praticamente a reduzir o seu enorme problema a “números”, como agora está tão em voga. Estou certo, porém, que, no seu íntimo, consegue perceber que reduzir esta questão a “números” é um erro, palmar. E também conseguirá, de mente aberta, compreender que há outras soluções. É isso que lhe peço: reflicta, novamente. Na verdade, ficar na história como o promotor do início do fim do CM é algo que só o pode envergonhar. Ou não será assim?


Dos Antigos Alunos Os números que querem acabar com a história e com o futuro

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Pedro Manuel Loureiro da Nazaré Cortés Fernandez 15/1985

Os números que querem acabar com a história e com o futuro Artigo publicado em Macau no jornal Ponto Final, em 11 de Abril de 2013, reproduzido na ZacatraZ por amável deferência do seu autor.

O

estimado Leitor reparará que debaixo da fotografia - hoje diferente da habitual - que acompanha estas palavras aparece um número. Com panache, fui o 125 de 1985 do Colégio Militar, onde comandei a Escolta a Cavalo, cumprem-se este ano duas décadas. É um dos dois mais antigos estabelecimentos de ensino de Portugal - foi fundado em 1803, no sítio da Feitoria, junto do Forte de S. Julião da Barra, Oeiras, pelo Marechal Teixeira Rebelo para formar os filhos dos oficiais do exército que, por essa altura, andavam em campanha. Em 210 anos passou mais ou menos incólume pelas invasões francesas, guerras liberais, república, estado novo e revolução dos cravos. Mas, a confiar nas últimas notícias e num despacho do Senhor Ministro da Defesa recentemente publicado, não conseguirá sobreviver, pelo menos no seu formato tradicional, à troika e aos governantes que só vêem números e não pessoas. Que preferem acabar com o que de excelente ainda se faz em Portugal. Que não vêem e não preparam o futuro. Orgulho-me de ter andado na mesma escola que muitos dos Governadores de Macau. No período a seguir ao 25 de Abril de 1974: Garcia Leandro, Almeida e Costa e Rocha Vieira. Antes dessa data, também muitos dos que viveram debaixo dos mesmos tectos que eu serviram e administraram o território ultramarino que é agora a RAEM. E muitos outros lutaram pela Pátria. Um Príncipe, D. Luiz Filipe. Presidentes da República foram “só” cinco. Até por lá andou um tal de Humberto Delgado. E um Pinheiro Chagas, um Serpa Pinto ou um Mouzinho de Albuquerque. Foi também a escola de Júlio Dantas, Raul Ferrão, Carlos Selvagem e Tomáz Alcaide. Tito de Morais (fundador do PS) e o pensador Eduardo Lourenço vestiram a mesma farda cor-de-pinhão que os músicos Rao Kyao e Pedro Aires Magalhães, dos Madredeus. Muitos atletas olímpicos, alguns deles medalhados, foram também formados nas salas de aula dos Claustros. Saberão os distraídos e monocórdicos governantes de Portugal que o Estandarte do Colégio Militar é o mais condecorado de todas as instituições militares?

Tenho dúvidas. Tudo agora numa Europa em profunda decadência se rege por números. Frios, como as camaratas onde dormíamos, mas sem a mística da alvorada, a disciplina da formatura, o encanto secular das tradições ou do sagrado claustro do edifício de Nossa Senhora dos Prazeres, no Largo da Luz. Sem respeito pelo passado e sem visão de futuro. São números sem valores arremessados por quem não entende que a excelência da educação deve ser a prioridade dos governantes e que as gerações futuras devem ser preparadas para os tempos difíceis que vivemos e para os piores que se avizinham. É verdade que estamos numa época de crise. É também verdade que os valores de ontem não são os de hoje e, porventura, não serão os de amanhã. Esses tempos difíceis deveriam dar força aos nossos governantes para que não se guiassem apenas por números, mas, antes, e acima de tudo, por valores. E deveriam dar-lhes criatividade suficiente para a criação de condições que prevenissem um crime (mais um) de lesa-pátria. Eu não percebo nada de política. Não obstante, permitam-me os senhores políticos da República Portuguesa um conselho: sigam, com as devidas adaptações, o Código de Honra do meu Colégio, que reza 1º Amar e honrar a pátria 2º Dignificar a farda que enverga 3º Cultivar a disciplina 4º Dedicar à sua formação todo o seu esforço e inteligência 5º Ser verdadeiro e leal assumindo sempre a responsabilidade dos seus actos 6º Praticar a camaradagem sem denúncia nem cumplicidade 7º Ser modesto no êxito, digno na adversidade e confiante face às dificuldades


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Dos Antigos Alunos Os números que querem acabar com a história e com o futuro

8º Ser generoso na prática do bem

Sejam modestos no êxito, dignos na adversidade e confiantes face às dificuldades: para este não precisam de ajuda.

9º Repudiar a violência, a delapidação e o despotismo

Sejam generosos na prática do bem: pensem nas pessoas antes de pensarem nos números.

10º Ser sempre respeitador, afável e correcto Posso, modestamente, ajudar nesse exercício. Amem a pátria acima de tudo: deixem-se de trokices e defendam-na dos ataques do capitalismo desenfreado. Dignifiquem o cargo para que foram nomeados: não façam uso dele para proveito próprio nem para o dos vossos amigos. Cultivem a disciplina: a vossa e a dos vossos subordinados.

Repudiem a violência, a delapidação e o despotismo: não violentem mais os portugueses para quem governam, não delapidem o erário público e não tomem medidas despóticas. Sejam respeitadores, afáveis e correctos: respeitem afável e correctamente o passado e assegurem o futuro, reflectindo naquilo que pretendem fazer.

Dediquem à formação todo o vosso esforço e inteligência: estudem os dossiês e usem a cabeça para o bem comum e nunca se esqueçam que governam para o povo. Sejam verdadeiros e leais e assumam sempre a responsabilidade dos vossos actos: não mintam aos portugueses, não errem sempre nas previsões e não culpem factores externos. Sejam camaradas: não se apunhalem nos corredores.

Antigo Aluno usa a BARRETINA Solidariedade

Se este for o momento em que tudo te parece falhar e o desânimo te invade,

“por favor não desistas” porque nós não desistimos de ti.


Dos Antigos Alunos Antigos Alunos em destaque

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Antigos alunos

em Destaque

A Barretina no Polo Norte Ângelo Eduardo Manso Felgueiras e Sousa (498/1976) Comandante de Linha Aérea - Explorador

A

divisa Mais Alto e Mais Longe de Ângelo Felgueiras, depois da escalada dos Seven Summits com oito cumes (escalando também o Monte Kosciuszko na Austrália), concluiu mais uma etapa da sua brilhante carreira de explorador – o Polo Norte. Em consonância com o principal patrocinador da sua expedição ao Polo Norte, a Portugal Telecom, foi dado um desígnio nacional a este projecto divulgando o que de melhor se faz em Portugal. Para enfrentar as adversidades e as condições extremas a que ficam sujeitos os exploradores que demandam o Polo Norte, Ângelo Felgueiras transportou consigo Vinho do Porto da Graham’s, conservas e azeite José Groumet, utilizou uma camisola VitalJacket da Biodevice, calças e casaco da Petratex, tenda e bivaque de emergência da Ortik, software de navegação da N’Drive, isolante de cortiça da ACC, Amorim Cork Composites, tendo sido seguro pela Groupama, seu parceiro desde a primeira hora e que lhe deu a visibilidade que permitiu a concretização sucessiva das suas expedições.


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A Noruega foi alcançada a bordo da TAP Portugal. Sempre que pode, em Lisboa ou em viagem na sua actividade profissional, Ângelo Felgueiras não descura a sua preparação física e treino sistemático. No dia 4 do passado mês de Abril partiu para Oslo e no dia seguinte seguiu para Spitsbergen, local de encontro dos vários elementos da expedição constituída por 2 Ingleses, 2 Norte-americanos, 1 Australiano e 1 Mongol. Numa expedição deste tipo nada pode ser deixado ao acaso e tudo tem de ser treinado e revisto para que não haja surpresas. Durante três dias, em briefing e em treino intensivo de montagem e desmontagem do acampamento, foram sistematizados todos os procedimentos. O êxito da expedição depende fundamentalmente de muito trabalho, método e treino e, sem dúvida alguma, da boa forma física e mental dos participantes.

Concluída esta fase, o Árctico é alcançado em avião fretado e, a partir daí, será o percurso de cerca de 120 km onde é necessário puxar um trenó com uma carga da ordem dos 50 kg até se chegar à Latitude 90°Norte. O Polo Norte foi atingido depois de longas caminhadas com frio intenso que nunca desaparece e que entra por todos os lados, com temperaturas de 30°negativos agravados pela humidade que ronda os 70%. O frio, como é natural, revela-se o pior inimigo que muito custa a vencer. Ângelo Felgueiras conquistou o Polo Norte às 13H47 do dia 20 de Abril de 2013, em que os 90°Norte foram confirmados por GPS, a vestir, a comer, a beber, monitorado, orientado e a dormir em tendas feitas e isoladas, tudo Made in Portugal. Aí esteve durante uns dez segundos por força da deriva das placas de gelo que faz com que elas se desloquem mesmo sem querer. Para a história desta expedição fica a queda

Ângelo Felgueiras de regresso do Polo Norte, à chegada a Lisboa onde era aguardado pela sua Família

à água de um dos elementos da equipa, sem consequências de maior por força do treino e da preparação prévia que permitiu decisão e resposta rápidas, e os pequenos almoços de cereais com colheres de manteiga e açúcar para se conseguirem calorias suficientes. Ângelo Felgueiras chegou a Lisboa a 24 de Abril de 2013 onde era aguardado pela sua Mulher Isabel e pelos seus três Filhos Teresa, Manuel (498/2006) e Francisco (395/2010), Meninos da Luz como o Pai. A próxima expedição está projectada para o Polo Sul e será o corolário de um explorador de mérito e de vontade já consagrados. Gonçalo Salema Leal de Matos 371/1949


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ECOS DA FEITORIA, reviver o passado Entre terra, mar e céu, aqui o Colégio nasceu

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e bem se lembram, como teria dito o saudoso Vitorino Nemésio, no número 187 da nossa revista ZACATRAZ – Abril/ Junho de 2012 – foi publicado um artigo subordinado a este tema. No final do dito artigo, em parágrafo específico, avançava-se uma proposta encimada pelo título: Mais uma ideia. E a ideia era, resumidamente: há que pensar numa cerimónia, por muito singela que seja, a realizar na Feitoria, no dia do aniversário do CM, ou nas suas proximidades, com vista a relembrar a todos que foi ali, naquele canto um pouco esquecido, que o CM nasceu, pela mão do seu fundador, o então Coronel Teixeira Rebello, Comandante do Regimento de Artilharia da Corte, aquartelado no Forte de São Julião da Barra. Há um dito popular que, infelizmente, entre nós não é hábito seguir. Diz ele:

se bem pensou, melhor o fez. Não será bem o caso, na medida em que, não só as ideias como, sobretudo, a sua realização, foi obra de muitos. E saliento o facto, que nos enche de orgulho, a nós antigos alunos, de que nele estiveram envolvidos pessoas cuja ligação ao Colégio é apenas sentimental! Mas um sentimento ditado apenas pela vivência que ali, no nosso Colégio, é ditada pelo dever, sim, mas sobretudo, pela integração numa equipa que trabalha guiada por valores, respeito, camaradagem e ética! A nossa ideia foi lançada - claro que com a concordância da AAACM, a cuja Direcção ela foi exposta - aproveitando a presença do Director do Colégio num dos almoços mensais que se realizam na Feitoria. É evidente que nada se poderia fazer sem a sua concordância. Mais uma vez, rele-

©Fotos Leonel Tomaz

vo a imediata anuência daquele oficial, anuência que me atrevo até a classificar de entusiástica. A partir daí, nada pareceria difícil. E não foi. Primeira questão: que cerimónia e onde fazê-la? A resposta à primeira parte também não foi difícil de encontrar. Se a tradição colegial, também usada por muitas instituições, associa o seu nascimento e a sua perenidade a uma chama, porque não acendê-la no seu próprio berço? Já não foi tão fácil imaginar o local. Pelas suas características, as instalações da Feitoria são bem singelas, pequenas, condicionadas ao longo dos tempos de acordo com o seu objectivo de há muitos anos: proporcionar aos que trabalham no Colégio, alunos e pessoal docente e administrativo, um recanto onde possam passar uns dias de Verão em ambiente agradável e tranquilo. Mas, como sempre, a imaginação e a competência técnica nunca deixam de resolver os mais complicados problemas. E, vamos lá, este também não era assim tão complicado! Mais uma vez, um não antigo aluno, mas tão ou mais antigo aluno que muitos


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antigos alunos, posto perante o desafio, aceitou fazer o esquisso para submissão a quem de direito – de novo, o Coronel Vaz Serra, sócio honorário da AAACM e antigo professor do Colégio durante catorze anos. Aprovado que foi - e haverá certamente imagem para vos dar conta do que foi feito - restavam os outros problemas. Segunda questão: quem vai fazer a obra e donde vai sair o dinheiro? É evidente que teríamos que bater, de novo, à porta do Colégio. E, se bem que a aceitação da ideia nos poderia dar alguma força moral para pedinchar a execução da dita obra, sabíamos bem que a sua prioridade, sobretudo neste tempo de vacas magras, poderia não ser elevada. Mas assim não foi. E foi tão rápida a resposta que, como adiante veremos, já foi possível, este ano, iniciar, pela primeira vez em 210 anos, as comemorações do aniversário do Colégio na Feitoria, no seu berço! Aqui, entra um antigo aluno: o actual Subdirector do Colégio, Coronel João Caetano (609/1973). Não que ele pudesse dispor, a seu belo prazer, da verba necessária; mas, certamente, lá conseguiu levar a carta a Garcia. Enfim, com um excelente empreiteiro, orientado, ainda outra vez, pelo incansável Vaz Serra, o homem sonhou e a obra nasceu! A cerimónia Desde o início, desde a apresentação da proposta à Direcção do Colégio, tínhamos entendido que, por todas as razões, não deveríamos pressionar os responsáveis pela sua concretização; nem pela estrutura da cerimónia, nem pela data em que deveria ter lugar pela primeira vez. Manifestámos apenas a alegria que seria para todos se as comemorações do 210º aniversário tivessem início na Feitoria, símbolo incontornável do nascimento do Colégio Militar pela mão do então Coronel Teixeira Rebello. Por razões que a nossa educação e princípios bem conhecem, e apesar de vermos avançar a obra a bom ritmo, recusámos qualquer tipo de pergunta que pudesse ser interpretada como uma pressão. Havia no ar uma certa angústia, ou, pelo menos, uma ânsia de saber o que se passaria, dado que o 3 de Março avançava, inexorável, no calendário! E foi com grande alegria que, na 2ªfeira que o antecedeu, nos foi co-

municado pela Direcção do Colégio, mais propriamente pelo seu Director, que as cerimónias do 3 de Março iriam começar na Feitoria. Era a concretização de um sonho, era, mais uma vez, a demonstração de que o amor ao Colégio pode arrasar montanhas! Não será bem o caso, mas muito se fez, e em bem pouco tempo! O tradicional desfile na Avenida da Liberdade seria, como terá acontecido muito poucas vezes, no Domingo, 3 de Março! Cumprindo a tradição, na véspera do desfile - ponto alto das comemorações - teriam lugar as cerimónias internas - de que se releva o acendimento da chama no monumento alusivo aos 175 anos do Colégio. A cerimónia da Feitoria foi, por isso mesmo, integrada nesse conjunto, onde teria as honras do começo: seria lá, no seu berço, que a chama seria acesa, e, só posteriormente, transportada para a sua actual casa. Oito horas da manhã de um dia muito frio e ventoso: sábado, 2 de Março de 2013. Forma a guarda de honra constituída por um pelotão da Escolta a Cavalo; iça-se a Bandeira nacional, com todas as honras, armas apresentadas, toque de continência! No meio de tamanho frio, começa-se a sentir o calor na alma! Guarda de honra, com a mesma constituição, junto ao pequeno e singelo monumento que agora ali se encontra – o painel de azulejos, homenagem ao fundador, e o quarto de círculo de pedra e calçada enquadrando a chama - aguarda e presta continência ao Major General Cóias Ferreira, Director do Colégio Militar. Este, depois de corresponder às honras de que foi alvo, proferiu uma alocução alusiva à cerimónia. Antes da sua transcrição, é dever de justiça salientar alguns aspectos da dita alocução, como homenagem a quem, não sendo antigo aluno, tão bem sente e interpreta os valores que nos são caros! Simples, curta, focando com precisão o que ali nos levou, exaltando o mérito do Fundador que ali homenageávamos e o resultado secular da sua obra na pessoa de todos os seus antigos alunos e de tudo o que fizeram pelo país, constituiu a chave de ouro com que se iniciaram as comemorações deste ano. «Excelentíssimo Senhor Presidente da Associação de Antigos Alunos do Colégio Militar, Meu Coronel Subdirector,

Caros Alunos e Antigos Alunos, Reunimo-nos aqui hoje para lembrar um Homem e a sua Obra que aqui nasceu e muito deu ao seu País. Falamos de um Homem de origem humilde que não sendo aristocrata na segunda metade do século XVIII, soube distinguir-se na carreira das armas pela sua inteligência e pelo seu esforço, subindo a pulso na estrutura social e militar da sua época, afirmando-se no conhecimento e no campo de batalha. Durante a sua insigne carreira, em 1802, num País envolto numa profunda crise, assume neste local o comando do Regimento de Artilharia da Corte com as imensas dificuldades que caracterizavam as forças militares portuguesas na época. O então Coronel de Artilharia António Teixeira Rebello, com a nobreza de espírito e a vontade férrea que sempre possuiu, não se deixou esmorecer perante o mundo à sua volta e, atento a esta realidade que perpassava nas muitas crianças que pululavam neste local sem perspectiva de futuro, órfãos e filhos de militares pobres, não ficou indiferente. Com os parcos recursos humanos de que dispunha propôs-se a dar-lhes algo de muito promissor para o seu futuro – formação nas primeiras letras e números, quando o ensino neste País era muito exíguo e com poucas oportunidades. Esta sua vontade filantrópica num ambiente castrense e no seio de um Exército carente de quadros, rapidamente se transformou na Obra que conhecemos e cuja origem hoje aqui celebramos – o Colégio Militar. Não posso deixar de relevar que foi a vontade de antigos alunos que reiteradamente aqui se reúnem neste espaço, bem como o amor que os liga ao Colégio Militar, que impulsionou em boa hora este local de culto que todo o significado faz no tempo que vivemos. Bem hajam o Colégio Militar, o seu Fundador e todos os que decisivamente contribuíram para a perpetuação desta Obra. Parabéns ao Colégio Militar que hoje cumpre 210 Anos de vida.» De seguida, o Director convidou o antigo aluno mais antigo presente para, em conjunto com o Comandante do Batalhão, acenderem a chama colegial, após o que se ouviu um bem executado toque de al-


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vorada, símbolo sonoro e vibrante de que algo acabara de nascer! Lindo, tocante! De novo, o sentimento, a ternura e o simbolismo permitiram mais uma sequência de grande significado: o Batalhãozinho, imagem da juventude, tomou a si o encargo de garantir que a nova casa da Luz do recém-nascido Colégio, receberia e manteria bem viva a chama que ali fora acesa, transportando-a em lanterna antiga, não direi tanto como o nosso Colégio, mas, mesmo assim, muito antiga! Cerimónia tão simples quanto bela e significativa, foi profundamente sentida por todos quantos souberam dela e puderam arrostar com o frio gélido daquela manhã inesquecível! Creio mesmo que, marcando ela um momento muito significativo da vida colegial, os que tiveram a ventura de a ela assistirem, nunca mais a esquecerão! Antes de tecer alguns comentários sobre coisas curiosas daquela manhã, gostaria de deixar, esperançoso, esta pergunta: vai mesmo nascer uma nova tradição? Curiosidades

Não sendo bem uma curiosidade, cabe neste epílogo. Por razões bem perceptíveis, a garantia de que a cerimónia teria lugar, chegou muito tarde ao nosso conhecimento! Foi, tão depressa quanto possível, informada a AAACM; esta, até porque já tinha difundido toda a informação sobre as outras cerimónias, teve alguma dificuldade em fazer chegar, em tempo, esta da última hora! Pelo nosso lado, recorremos ao meio mais rápido à nossa disposição: o correio electrónico; e, este, com pedido para que os receptores fizessem, tanto quanto possível, cadeia. Embora a difusão não tenha sido um sucesso, as presenças foram suficientes para dar à cerimónia o acompanhamento e o brilho indispensáveis. O local é, como todos sabem, muito modesto nas suas dimensões, mas ainda lá cabe muita gente. Para o ano - e esperamos do fundo do coração que assim seja – vamos aparecer em força! Disse-vos atrás que o dia estava muito ventoso. Para um cerimonial que inclui o acendimento de duas chamas, é uma au-

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têntica tragédia! Claro que não foi o caso; nunca nenhum aluno ou antigo aluno se enrascou com tais pormenores! As chamas lá se acenderam, perduraram … mas deram luta, como é hábito dizer-se! E, vejam bem, de todo esse imbróglio houve alguém que dele soube tirar partido, com uma excelente dose de humor! Disse, no fim, o Director que tais dificuldades à volta dos acendimentos eram bem a demonstração de que o Colégio tinha nascido com dificuldades, mas que sempre soubera ultrapassá-las, tal como hoje o fizera! Quis o acaso que, quando se tentava descobrir o antigo aluno mais antigo presente para acompanhar o Comandante de Batalhão no acendimento da chama, se verificou tratar-se do Roberto Durão! Acaso feliz, na medida em que foi ele o autor da frase poética que acompanha o painel de azulejos em memória do fundador: Entre terra, mar e céu, aqui o Colégio nasceu. Quase uma homenagem também ao poeta. Jorge Alberto Gabriel Teixeira 315/1947

Prémios Barretina 2012 N

o número 190 da ZacatraZ foram reproduzidas as palavras proferidas pelos agraciados com os Prémios Barretina 2012, quando da cerimónia da sua entrega. Por lamentável lapso, a “gralha” poisou por duas vezes nestas transcrições. O texto do nosso Camarada Fernando Edgard Collet-Meygret de Mendonça Perry da Câmara (143/1940), Prémio Barretina 2012/Dedicação, foi involuntariamente truncado pelo que a seguir se reproduz integralmente:

«O 143/1940, Perry da Câmara, tomou a palavra para agradecer ao Presidente da Direcção da AAACM a atribuição do prémio com que fora distinguido, bem como a todos os membros dos Órgãos da AAACM que por ele foram consultados sobre a sua proposta e a apoiaram por unanimidade. Permitiu-se, contudo, a expressar a sua opinião sobre a justiça da decisão tomada, pela dificuldade que apresenta a valorização do mérito em apreço. Era sua convicção que todos os presentes ou que nos acompanhavam naquele momento em espírito, tinham pelo CM o mesmo apreço e a mesma dedicação que lhe fora atribuída. Apenas a oportunidade de revelarem tais sentimentos, numa grandeza ponderável, é que podia não ter ainda surgido. Mas a sua presença ali hoje revelava bem o potencial do reconhecimento e de dedicação que todos tinham pelo Colégio, cientes que a razão de tal é baseada na experiência pessoal de cada um e pela qualidade e quantidade de testemunhos dado por Antigos Alunos ao longo de mais de dois séculos de História da nossa Pátria. Não sendo fáceis, hoje, os tempos decorrentes para o CM também não o foram por diversas vezes ao longo do seu percurso desde 1803. O CM sobreviveu por mérito próprio às grandes crises que a Nação atravessou. Uma vez mais, argumentos políticos, educativos, militares, sociais, económicos surgiram periodicamente como ameaças à existência do CM e ao seu perfil educativo que se mantém fiel ao que o fundador, o Marechal António Teixeira Rebelo implementou há 210 anos..

A alocução hoje proferida pelo Presidente da Associação a todos nos deixou tristes e preocupados sobre a pretendida reforma do CM e a situação que parece ser encarada pelo Governo dentro de um conceito geral de globalização dos três Estabelecimentos Militares de Ensino – o CM, o IO e o IMPE. Cada um destes tem uma personalidade própria, de valor comprovado, cada um com mais de um século de existência. Tudo o que lhes respeite exige um conhecimento profundo dos seus viveres. A natureza dos argumentos invocados resulta de causas pouco esclarecidas e mal analisadas. O sucesso do CM baseia-se desde sempre na educação e na instrução dos seus alunos numa base de inspiração militar, com um perfil humanista, integral, competente, de consciente cidadania e com capacidade de liderança. Ele só pode ser obtido num determinado regime e de garantida qualidade. Todas as soluções que interfiram com tal perfil sem a tais condições satisfazerem anulam o carácter tradicional do CM e enfraquecem ou anulam a qualidade do seu produto final. O CM não pode modificar o seu estatuto. Fazê-lo, será acabar com ele e com reflexos negativos nas próximas gerações. Desaconselha-o a História, civil ou militar, do nosso País. Di-lo a nossa ânsia de querermos um Portugal maior e melhor. Gritam-no o coração dos Antigos Alunos, muitos representando quatro ou mais de gerações familiares. Testemunha-o a Bandeira Nacional, à sua guarda, que ostenta as mais altas condecorações nacionais por serviços prestados à Pátria e é a mais condecorada do Exército Português.» No nome do nosso Camarada João Paulo de Castro e Silva Bessa (200/1957), Prémio Barretina 2012/Desporto, em vez de Bessa, apareceu Beja. Lamentamos o sucedido e por tais factos apresentamos as nossas desculpas.


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Dos Antigos Alunos 3 de Março

3 de Março nos Açores O

3 de Março 2013 (210 Anos do Colégio) foi comemorado no formato Almoço, na Ilha de S. Miguel em Ponta Delgada, no Hotel Marina Atlântico do Grupo Bensaúde. O almoço teve como grande objectivo fomentar o convívio entre as várias gerações de Antigos Alunos a viver na Região Autónoma dos Açores, relembrando o Colégio e os bons tempos nele passados. Infelizmente alguns faltaram à chamada (andam a dormir na forma) mas, em contrapartida outros estiveram em plena Avenida da Liberdade a entoar alto e bom som o “Zacatraz”. Houve quem partisse um copo, a que se seguiu a resposta uníssona de um forte “PJ”, sem que, infelizmente, tivesse aparecido o “Zé Pereira” com a nota de quebra, onde iria escrever 1/8 de um copo!!! A foto anexa testemunha a comemoração dos 210 Anos e a saudade do nosso querido Colégio Militar. O “amarelo de carne”, apesar do seu aspecto Gourmet, estava delicioso mas faltou aquele condimento especial, mais conhecido por “Sulfato de Peúga”, para ficar igual ao Original...!!!! Na foto os Antigos Alunos participantes, da esquerda para a direita: Tiago Manuel Fernandes Garcia (84/1996), Mário Alexandre

Pousão da Costa Gata (287/1966), Victor Manuel Santos Guerreiro Evaristo (337/1947), Victor Manuel Patrício Correia Mendes (524/1963), Carlos Miguel Ribeiro Ferreira Barbosa (16/1961), Marco António Nunes Guerreiro Inácio (403/1984), António Filipe Alegria Silva (298/1994), Hugo Ricardo Martins Farinha (278/1992).

3 de Março em Londres C

ontrariando a afamada pontualidade britânica, foi apenas passadas 2 semanas da data formal que realizámos o Jantar do 3 Março 2013 em Londres. Nem por isso o entusiasmo foi menor e a adesão inclusivamente beneficiada, contando com a participação dos privilegiados que conseguiram deslocar-se a Lisboa para assistir in loco às cerimónias oficiais deste ano. Assim, no histórico dia de 16 de Março, todos os caminhos britânicos foram dar a... Clapham Road, mais precisamente a um reduto de tradição e tipicidade Portuguesa onde foi possível recordar o que de melhor a culinária nacional tem para oferecer... quando o “Amarelo” não consta da ementa. Para a história ficam registadas 12 presenças, com camaradas vindos de variadíssimos destinos, desde Canterbury, Reading ou Nottingham, mas com o prémio de maior distância percorrida unanimemente atribuído ao benjamim do grupo – o Pedro Cardoso (33/2005) – que se deslocou desde Glasgow (a mais de 600km). O convívio decorreu num ambiente de enorme cordialidade e fraternidade, natural e invariável apanágio dos encontros da malta Colegial, e culminou num tradicional “Ramalho”, para regozijo dos traseuntes que testemunharam o momento.

Estiveram presentes: Nuno Miguel Berrones Gomes Cristina da Silva (64/1983), João Gonçalo Leal Bravo da Costa (329/1985), Pedro Miguel Martins da Ponte (338(1986), Nuno Gabriel Barbosa Amado Lopes da Silva (376/1986), Tiago Simões Baleizão

(200/1987), José Maria Duarte Silva Ferreira Lima (119/1994), Tiago Alexandre Fernandes Vaz (44/1994), João Pedro Pascoal Marvanejo Barreto (428/1994), João José Meira Dantas (53/1995), Hugo Filipe Carvalho Faure da Rosa (445/1995), António Botelho Morais Sardinha (513/2003), Pedro Botelho de Viveiros Cardoso (33/2005). Em modo de conclusão, temos o maior prazer em anunciar a data provável do próximo jantar – Sábado, 25 de Maio – estendendo o convite a todos que possam vir a coincidir por estes lados nesse dia, com vontade de recordar os “velhos” tempos e actualizar-se sobre o presente do nosso Colégio. Novamente, é só dar sinal e... aparecer! Notícia enviada por Tiago Simões Baleizão (200/1987)


Dos Antigos Alunos 3 de Março

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3 de Março em Macau C

om a presença das mais recentes aquisições colegiais da RAEM, compareceram no Clube Militar de Macau os Antigos Alunos actualmente a viver na Região Administrativa Especial de Macau para comemorar mais um aniversário do nosso Colégio.

Marcaram presença o Vicente Manuel da Liz Bravo Ferreira (161/1957), o Vasco Barroso Silvério Marques, (404/1959), o Luís Filipe Andrade e Sá Machado (384/1961), o Aníbal Carlos Castro Ferreira de Mesquita Borges (612/1964), o Luís Augusto Pimenta de Castro Machado (209/1965), o Pedro Manuel Loureiro da Nazaré Cortés Fernandez (125/1985), o Mário José Lobato de Lima Duque (12/1989) e o Samuel Ma (29/1995). A habitual boa disposição e camaradagem foram os pratos principais, já que não havia amarelo de carne. Ouviu-se Zacatraz na porta do Clube Militar. Ramalho ao Colégio Militar pelos seus 210 anos! e um Zacatraz a toda a Família Colegial.”

3 de Março no Mar de Java N

o Mar de Java, a bordo do catamaran Calcamar em expedição e visita a Timor, foi comemorado o 3 de Março pelo António José Frias Vasques Osório (257/1953) e pelo Eduardo Henrique Vidigal Solano de Almeida (5/1954). O Patrão do Calcamar, José Inácio da Costa Lopes Jr., embora não sendo antigo aluno mas amigo dos nossos Camaradas a bordo, associou-se à manifestação festiva que acontece desde que esteja presente um “Menino da Luz”.

As coordenadas do momento do almoço que consistiu na árdua tarefa de desbaratar a magnífica caldeirada que cuidadamente o Patrão da embarcação havia preparado com a apanha do dia, fica registada no extracto da foto do ploter de bordo. Patrão e tripulantes associaram-se à efeméride e saudaram, em águas longínquas, mais um 3 de Março. Para todos a ZacatraZ e a sua Redacção deseja “Bons ventos e águas safas”.


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Dos Antigos Alunos 3 de Março

3 de Março em Miami D

ecorreu ontem no restaurante Jardim de Portugal, em Miami, o tradicional jantar do 3 de Março que este ano já conseguiu reunir 4 Antigos Alunos! Na foto que regista o acontecimento podem ver-se, da esquerda para a direita, António Manuel da Silva Inácio Quelhas (677/1972), Manuel de Lucena (405/1953), Mário Maria Duarte Afonso Camões (401/2000) e Pedro Manuel Castanheira da Silva (459/1985). O jantar foi muito animado em amena cavaqueira colegial.

3 de Março no Porto F

oi no dia 28 de Fevereiro e na Messe de Oficiais do Porto que os antigos Meninos da Luz residentes na cidade e arredores se reuniram em jantar de confraternização para comemorar os 210 anos do Colégio Militar. Novamente tivemos entre nós o Presidente da Direção da Associação, António Reffóios (529/1963) e o Martiniano Gonçalves (9/1958) que desta vez se fizeram acompanhar do Vice-presidente, o José Banazol (631/1968). Depois de um interregno de quase 2 anos, motivado por sérias contrariedades e problemas de saúde, tivemos a alegria de contar de novo com a companhia do Paz Olímpio (327/1937) vindo de Coimbra, onde reside. No final do jantar o António Reffóios transmitiu-nos a ausência de notícias positivas quanto à reforma dos Estabelecimentos Militares de Ensino, e em especial no tocante ao Colégio Militar. Receia-se que as alterações a introduzir afectem muito negativamente as características únicas e mais importantes do nosso Colégio. O Costa Matos (96/1950), que no dia 3 de Março fez a apresentação do seu último livro, “Colégio Militar – Berço de Grandes Portugueses”, disponibilizou o mesmo para os antigos alunos presentes, fazendo a sua “pré-apresentação”. Presentes nesta confraternização estiveram: • 529/1963 António Saraiva de Reffóios, Presidente da Direcção da Associação • 9/1958 Martiniano Nunes Gonçalves • 631/1968 José António Banazol • 436/1933 António Malta Leuschner Fernandes • 79/1937 José Maria da Costa Faria Araújo • 327/1937 José Paz Olímpio • 147/1948 António Rui Prazeres de Castilho • 259/1948 Carlos Manuel Amado de Campos • 23/1949 José António Campos Resende Santos • 84/1950 João Manuel Mendes de Araújo

• 96/1950 José Alberto da Costa Matos • 319/1950 José Manuel Simões Ramos de Campos • 153/1951 Jorge Silva Duarte • 138/1954 Luís Manuel Ferraz Pinto de Oliveira • 314/1955 Rui Carlos Aires Ferreira • 31/1958 Afonso Henriques Mendes de Araújo • 522/1959 António Norton de Matos Carmo Pereira • 342/1961 Albino Manuel Pereira de Sousa Botelho • 27/1963 José Fernando da Cruz Cordeiro • 35/1963 Carlos Manuel Carrilho Roma Torres • 423/1963 Manuel Maria de Castro e Lemos • 283/1964 Rogério de Mesquita Pinto Ribeiro • 329/1965 António José Mesquita da Cruz • 100/1967 José Manuel da Silva Pinto dos Reis • 572/1969 João Manuel Sanches Roma Moreira Lobo • 281/1970 Bruno Pinto Basto Soares Franco • 403/1970 Paulo César Alves Bacelar • 176/1971 António Jaime Tavares Coutinho Lanhoso • 340/1971 Vasco Manuel Felgueiras Ferreira • 488/1971 Guilherme E. Lickfold de Novais e Silva • 100/1974 Jorge Gentil de Sousa Pinto Faustino • 199/1974 Agenor Guerreiro Ranhada Rolo • 641/1974 Jorge Manuel Noronha da Silveira Alves Caetano • 688/1974 Augusto José Ferreira de Matos • 146/1976 João Canuto • 504/1977 Luciano Jorge de Sousa Pinto Faustino • 59/2001 Filipe Manuel Liberato Jesus Fonseca

O Delegado no Porto, José Manuel Simões Ramos de Campos 319/1950


Dos Antigos Alunos Cursos de 1942/1949 e 1952/1959

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CURSO DE 1942/1949 Romagem dos 70 anos de Entrada 7 de Dezembro de 2012 Na última revista ZacatraZ (Nº 190) foi publicada a notícia da Romagem dos 70 Anos de Entrada dos “ratas” de 1942. Na relação das presenças nesta vinda ao Colégio, por lapso alheio à Redacção mas para o qual apresentamos desculpas, não foi mencio-

nado o Antigo Aluno Rafael Guerreiro Ferreira (95/1942) que participou neste encontro de camaradagem e saudade. Reposta a realidade da presença do 95 de 1942, a ZacatraZ espera saudar a Romagem dos 75 Anos com a presença de todos os que aqui estiveram.

CURSO DE 1952/1959 Romagem dos 60 anos de Entrada 19 de Abril de 2013

Curso 1952/1959 - 60 Anos de Entrada - 19 Abril 2013 ©Fotos Leonel Tomaz

Estiveram presentes

nesta romagem de saudade os Antigos Alunos José Pedro Mendes Arnaut Monroy (27/1951), José Luís Passarinho Franco Preto (33/1952), Joaquim Manuel Dinis Quintas (72/1953), António Bento Formosinho Correia Leal (74/1952), Eduardo Maria Passarinho Franco Preto (76/1951), António Martins Soares Casquilho (81/1954), José Castelo Glória Alves (90/1952), Francisco José Gomes de Sousa Lobo (95/1952), Carlos José de Amorim Algeos Aires (102/1953), Luís Maria Teixeira da Mota (106/1952), João José da Silva Vei-

ga (130/1952), José Carlos Borges de Brito Subtil (133/1953), José Augusto Sarmento Falco Pereira (142/1952), Luís Miguel da Costa Alcide de Oliveira (163/1952), Francisco Alberto Calhau de Carvalho Rosado (167/1952), Rui Jorge Chagas Junqueira dos Reis (179/1951), José Carlos da Costa Pablo (180/1952), José Carlos Santos Corrêa Monteiro (184/1952), Mário José Rosas Leitão (193/1952), José Francisco Latino Tavares (197/1952), Manuel Nuno da Costa Estorninho (207/1952), Luís Alberto Santos Pereira (214/1952), Mário Eduardo de Abrantes de

Mendonça Frazão (215/1952), José Manuel Castanho Paes (228/1952), Carlos Alberto Cardoso Machado Costa (230/1952), Cesário Júlio Marques Coelho (236/1952), José Mário Fidalgo dos Santos (252/1951), João Francisco Guerreiro Santos (263/1951), Carlos Manuel Querido Baptista (303/1951), José Manuel de Carvalho Marques Adegas (326/1953), Luís Filipe de Oliveira Baptista (336/1954), José Baptista Máximo Mocica (343/1954), António José de Azeredo Lopes (350/1954), Gonçalo de Lucena (357/1951), José Manuel Marques Pacífico dos Reis (363/1952), Orlando Edmundo Jansen Alves Rodrigues (374/1952), Francisco Eduardo Moreira da Silva Alves (392/1954), Manuel Maria de Barros Cardoso de Menezes (393/1951), Carlos Henrique Cameirão Leite da Cunha (394/1951), Agostinho Alberty Martins (398/1952).


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Dos Antigos Alunos Curso de 1971/1978

CURSO DE 1971/1978 Romagem dos 35 anos de Saída 12 de Abril de 2013

Curso 1971/1978 - 35 Anos de Saída - 12 Abril 2013 ©Fotos Leonel Tomaz

Estiveram presentes nesta romagem de saudade os Convidados Tenente-General Fernando Edgard Collet-Meygret de Mendonça Perry da Câmara (143/1940), Coronel Francisco José Martins Ferreira, Padre Valdomiro Lusitano Leal, Professor Mário Garcia do Carmo, Professor Silvestre Sampaio Durões Pequito, Professor Narciso Ferreira Mota, Funcionário Mário da Nazaré Caixado Couzinho (Márinho) e os Antigos Alunos João Manuel Candeia dos Penedos (19/1971), Francisco Miguel Teixeira de Sousa Ferreira (23/1972), Luís Aurélio Gomes Moreno de Matos Trindade (61/1971), Diogo Jorge Ventura Oliveira e Carmo (69/1971), Edmundo José Henriques Melo do Cruzeiro (95/1971), Pedro João Brás da Costa Álvares (96/1971), Rogério Pedro Rebelo Candoso (128/1971), Diogo Campos Barradas de Lacerda Machado (136/1971), Paulo Daniel Beckert Rodrigues (157/1971), António Miguel Dias Costa Brochado de Miranda (191/1970), Paulo Manuel Santos Lestro Henriques (200/1973), Miguel João Alves Rita (240/1972), Nuno Miguel Ferreira Esquivel Carrilho Ribeiro (246/1971), Nuno José de Melo e Sousa Braga Gonçalves (257/1971), João Paulo de Almeida Rainha Perry da Câmara (270/1971), An-

tónio Manuel de Carvalho Simas e Couceiro Braga (278/1971), Bruno Pinto Basto Soares Franco (281/1970), Carlos Francisco da Silva do Rio Carvalho (307/1971), Carlos Manuel Fernandes Ferreira (320/1971), Carlos Alberto Grincho Cardoso Perestrelo (329/1972), Francisco da Rocha Xavier Rebelo Gonçalves (338/1971), Vasco Manuel Felgueiras Ferreira (340/1971), António Leopoldo Dinis Monteiro Junqueira Coelho (360/1971), Rui Alexandre da Costa Soares (398/1970), José Alberto de Magalhães Valdez Bragança Moutinho (407/1971), Manuel José Nunes dos Reis Braga (466/1971), Guilherme Eduardo Lickfold de Novais e Silva (488/1971), Nuno de Albuquerque Epifânio da Franca (525/1971), Paulo Renato Faro Geada (574/1970), José Eusébio Pereira Barata Cordeiro de Araújo (591/1973), Carlos Manuel Cardoso dos Santos Belfo (592/1971), José Maria Gouveia de Azevedo e Bourbon (598/1971), Carlos Francisco Varela Costa Romano Colaço (599/1970), António Afonso de Abreu Ferreira (601/1971), João Vasco de Rebelo Morais Correia (607/1970), Paulo Manual Macedo da Silva Bonifácio (612/1970), Vítor Manuel Galvão Rocha Novais Gonçalves (666/1971)


Dos Antigos Alunos Curso de 1995/2003

CURSO DE 1995/2003 Romagem dos 10 anos de Saída 8 de Março de 2013

Curso 1971/1978 - 10 Anos de Saída - 8 Maeço 2013 ©Fotos Leonel Tomaz

Estiveram presentes nesta romagem de saudade os Convidados Professor José Manuel Sena Godinho Neves, Professora Maria Isabel Barros Oliveira, Professora Maria da Graça Roberto Santos Paulo, Professor José João Balança Lopes, Leonel Tomaz, Mário da Nazaré Caixado Couzinho (Márinho) e os Antigos Alunos Ricardo Domingos Santos Nogueira (8/1995), Helder Manuel Alves Salgueiro (10/1995), Bruno Miguel Fernandes Pires (27/1995), Luís Manuel Cavaco Bismarck (51/1995), Alexandre Miguel da Silva Guedes (71/1995), Pedro Nuno Grade Mendes de Carvalho (91/1995), Simão Pedro Pereira Freire (132/1996), André Miguel Martins Rodrigues (162/1995), Rodrigo José Fonseca Serra e Silva (164/1995), Gonçalo Nascimento Pinto Teixeira (185/1995), João Pedro Belchior de Paiva Ribeiro (206/1995), Fernando Jorge Pereira Tavares (225/1995), João Miguel Martins Sarmento Barreiros (238/1995), Nuno Filipe do Espírito Santo Silva Ribeiro (246/1995), Diogo Manuel das Neves Camarate Ribeiro (271/1994), Artur Ribeiro Serafim (275/1995), João Pedro Dias Barbosa (311/1995), Filipe Miguel de Carvalho (324/1995), Miguel Ângelo Paulo Pousa (371/1994), João Manuel da Silva Santos Botelho (374/1994), Emanuel Osvaldo Francisco da Silva (408/1995), Ian Michael Couto (433/1994), Pedro Filipe Fonseca Freire (480/1995).

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Do Colégio A importancia dos Colégios Militares - passado, presente e futuro

João José Brandão Ferreira TCor/Pilav (ref)

A importância dos Colégios Militares passado, presente e futuro

Pela sua actualidade, republicamos o artigo do Tenente-Coronel Piloto Aviador João José Brandão Ferreira , escrito em 7 de Outubro de 2010, com uma pequena nota introdutória do autor. “Como se pode constatar pela data, foi escrito Há 3 anos. Como muitos outros apenas antecipou eventos que vieram a ocorrer mais tarde. Já se sabe que em política não se pode ter razão antes de tempo, mas em Estratégia pode e deve-se. E o adágio popular - que não é (são) mais do que o bom senso vertido na corrida da vida, mandava “pôr as barbas de molho”.... Observem o que o Governo se está a preparar para fazer!” “Se você acha que a educação é cara, experimente a ignorância” Lema do Ministério da Educação de Singapura

E

xistem em Portugal três estabelecimentos de ensino secundário que são tutelados pelas FAs, isto é, pelo Exército, e se distinguem profundamente, no seu funcionamento, de todos os outros existentes no país e dependentes do Ministério da Educação ou outras entidades civis e religiosas. São eles o Colégio Militar (CM), o mais antigo a ser criado, no ano de 1803, pelo Marechal Teixeira Rebelo e um dos mais antigos do mundo; o Instituto de Odivelas (IO), fundado em 1900 pelo Infante D. Afonso, irmão do Rei, e destinado a alunos do sexo feminino; e o Instituto Militar dos Pupilos do Exército (IMPE), criado pelo novel regime republicano logo em 1911, destinado a filhos de sargentos e praças (e também oficiais), colmatando assim uma lacuna e uma injustiça já que o CM apenas admitia filhos de oficiais. Foi seu fundador o general António Xavier Correia Barreto, ao tempo ministro da guerra. Não vou falar-lhes da história dos três colégios, mas vou tentar salientar a importância

da sua existência no passado e no presente, fazendo a ponte para a sua necessidade no futuro. Nas conclusões procurarei aduzir algumas das ameaças que se perfilam à sua continuidade. A razão primeira que justificou a existência de colégios com características militares foi o apoio social aos filhos dos militares (tendo começado pelos oficiais), cujos pais estiveram afastados das suas famílias por motivos de serviço. Este apoio era consubstanciado na existência de um estabelecimento de ensino que lhes ministrasse o ensino primário e, sobretudo, o secundário. Não menos importante, permitia que os órfãos de militares que tivessem falecido em serviço, não ficassem desvalidos. Com o decorrer dos tempos a vivência em ambiente militar permitiria, mais facilmente, despertar vocações para a carreira das armas. É por demais evidente, que esta vivência em ambiente militar, obriga a uma tutela militar e é por isso que desde o início da sua criação os colégios foram integrados no Exército.

Não vou falar-lhes da história dos três colégios, mas vou tentar salientar a importância da sua existência no passado e no presente, fazendo a ponte para a sua necessidade no futuro. Outra das grandes virtudes dos colégios militares – permitam que assim englobe e trate, os três – tem a ver com o facto de procurarem uma instrução e educação completa e abrangente, dos seus alunos. Isto é, não se limitam a ministrar conhecimentos técnicos e culturais, estão também preocupados com o desenvolvimento físico (mente sã em corpo são), na sua formação moral, sem esquecer o religioso, e na sua educação


Do Colégio A importancia dos Colégios Militares - passado, presente e futuro

Outra das grandes virtudes dos colégios militares – permitam que assim englobe e trate, os três – tem a ver com o facto de procurarem uma instrução e educação completa e abrangente, dos seus alunos. Isto é, não se limitam a ministrar conhecimentos técnicos e culturais, estão também preocupados com o desenvolvimento físico (mente sã em corpo são), na sua formação moral, sem esquecer o religioso, e na sua educação cívica. Outro aspecto importante: ensinase e pratica-se a liderança. E pasmem leitores, ainda hoje continuam a instilar nos alunos o amor pela sua Pátria!... cívica. Outro aspecto importante: ensina-se e pratica-se a liderança. E pasmem leitores, ainda hoje continuam a instilar nos alunos o amor pela sua Pátria!... De realçar, ainda, que o seu ambiente intra – muros permite uma convivência mais íntima o que junto com as praxes académicas e uma prática alargada de experiências comuns, permite soldar laços de amizade e camaradagem para toda a vida. Esta vivência em comum, também conhecida como “internato” permite, por outro lado, a oferta de um leque alargado de actividades – impossíveis de realizar em estabelecimentos de ensino “normais”. Finalmente, toda esta vivência, ainda por cima em ambiente militar, obriga ao estabelecimento de regras e disciplina próprias, que harmonizam a liberdade e individualidade de cada um com o bem-estar de todos. Tudo isto gera uma “ordem”. Esta ordem liberta mais do que oprime. Onde estão, então, as vulnerabilidades ou os defeitos de toda esta realidade? Nisto: no afastamento das famílias e no eventual deficiente enquadramento dos alunos. O afastamento familiar tem que ser tentado colmatar através do melhor acompanhamento possível por parte da família, durante os tempos livres e férias. Hoje em dia este problema tem-se agravado pelo facto de muitos dos alunos serem filhos de pais divorciados e, em muitos casos, os colégios funcionarem como uma espécie de “depósito” das crianças. O eventual deficiente enquadramento, tem a ver com a escolha e supervisão do corpo docente, militares destacados e auxiliares civis contratados. E, claro, com os meios financeiros disponíveis. Se a chefia e o enquadramento forem deficientes, obviamente que a qualidade da

formação baixa e dá-se azo à ocorrência de actos impróprios. Em conclusão, as razões e a importância dos colégios militares não desapareceram e mantêm-se nos dias de hoje; constituem-se alforges de futuras elites de que o país é muito carente; mantêm uma qualidade de ensino e formação, muito acima da média do país, garantindo quase a 100% o acesso ao ensino superior e ao emprego, aos seus finalistas. Arrisco-me mesmo a dizer mais: a importância é hoje em dia acrescida, já que a consciência cívica, anda pelas ruas da amargura; a dissolução da família tradicional é patente e a qualidade do ensino é marcada pela primazia das estatísticas, a ignorância encartada e o facilitismo militante. Caros compatriotas, hoje em dia tudo vai funcionando mas, no fundo, nada funciona… Ora não parecendo terem cessado as razões que levaram à criação e manutenção dos colégios militares, poderíamos concluir que eles estão de pedra e cal e o seu futuro não corre perigo. Nada mais enganador. São várias as razões para isto, que vou tentar sintetizar. Em primeiro lugar razões internas da própria Instituição Militar. Como é público as FAs têm sofrido, nos últimos 25 anos uma enorme erosão nos seus orçamentos, nos seus meios, dispositivo e sistema de forças, que as estão a reduzir à ínfima espécie. Deste modo o Exército luta com as maiores dificuldades para conseguir sustentar os colégios militares tendo havido, até, uma tentativa de fechar o IMPE e concentrar meios no IO e CM. Deste modo, queixam-se que os outros ramos sendo beneficiados com o pro-

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duto final dos colégios em nada concorrem para isso. Acontece que o Exército, tendo razão neste aspecto, não quer abrir mão dos colégios, nomeadamente em comandamento e lugares – o que representa vagas. Ora isto cria uma incompatibilidade prática. Colocar os colégios sob a alçada do EMGFA também não parece ser a melhor solução já que aquele órgão está vocacionado para o comando e controle das operações militares e não para gerir colégios; colocar estes sob a alçada do MDN é uma experiência que pedimos a São Nuno Álvares Pereira, nos dispense de suportar, por razões que nos eximimos a referir; fazer dos colégios órgãos semelhantes à Escola dos Serviços de Saúde Militar, vai levantar problemas semelhantes ao cenário número um, além do que iria alienar o cabedal da experiência centenário que o Exército já leva de dirigir estes estabelecimentos. Ou seja, a solução melhorzinha ainda é deixar tudo como está, partindo do princípio que a hierarquia do Exército fará os possíveis e impossíveis para conseguir os meios para o seu correcto funcionamento. Por outras palavras, tem que convencer a tutela da mais-valia dos colégios e conseguir os meios financeiros e em pessoal necessários. Neste âmbito é mister ultrapassar as dificuldades de nomeação de oficiais e sargentos para os respectivos corpos de alunos, já que nem todos servem ou têm apetência para os desafios pedagógicos e humanos que tais funções requerem. Além disso compreende-

Em conclusão, as razões e a importância dos colégios militares não desapareceram e mantêm-se nos dias de hoje; constituem-se alforges de futuras elites de que o país é muito carente; mantêm uma qualidade de ensino e formação, muito acima da média do país, garantindo quase a 100% o acesso ao ensino superior e ao emprego, aos seus finalistas.


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Do Colégio A importancia dos Colégios Militares - passado, presente e futuro

-se que haja militares cuja formação está focalizada na missão primária do Exército – que é combater ameaças externas – e não se sinta motivado para exercer funções colegiais. Noutro sentido já não se pode admitir que possa haver algum prejuízo em termos de carreira para quem exerça aquelas funções que são tão dignas como quaisquer outras. Finalmente, é urgente aumentar o número de candidatos a alunos dos colégios sob pena destes se finarem por falta de alimentação. Em segundo lugar os colégios militares estão em perigo pois são um “mau exemplo” para o país. Eles destoam da generalidade do ensino. Vou dar alguns exemplos para entenderem melhor o que quero significar: - os CMs não se limitam a transmitir os conhecimentos técnicos inerentes aos programas aprovados pelo Ministério da Educação: ministram formação militar adequada à idade dos alunos (e ao contrário do que pensam algumas luminárias da nossa praça, isso não lhes faz mal algum...), e pretendem formar o indivíduo no seu todo, físico, moral e intelectual. Já me esquecia, é também uma escola de chefes e de patriotismo…; - os CMs apresentam uma taxa de sucesso de candidaturas à Universidade, que ronda os 100%; - nos CMs não se aceitam fraquezas de carácter, mentirosos, ladrões, drogados, homossexuais e outras minorias de aleijados morais. Deus seja louvado! E para que as fraquezas não se transformem em vício, corta-se logo o mal pela raiz. Que nunca lhes doam as mãos!; - os CMs acarinham as tradições, têm lemas, códigos de conduta, brasões e mantém estreitos os elos com os ex-alunos. Ex-alunos não costumam constar nas listas de desertores; - os CMs foram agraciados com múltiplas condecorações; - nos CMs os alunos marcham com “cagança” e de queixo levantado, sinal de quem anda de co-

luna direita e olha o mundo de cima; e do mais pequeno ao mais velho passam imperturbáveis pela multidão que os ladeia; - os CMs atravessaram todas as conturbações políticas e sociais dos últimos 200 anos (e foram muitas), mas preservando a sua personalidade, passaram incólumes por todas elas; - nos CMs não há greves, trabalha-se; os alunos não “batem” nos professores nem pintam grafitis, há disciplina; professores e alunos vão às aulas, existe ordem; aos alunos é-lhes oferecido ampla escolha de actividades, existe liberdade; o acompanhamento é constante, há pois controle e ninguém é inimputável, por irresponsável; avaliam-se os resultados, afere-se o conhecimento e não se dá guarida a madraços; enfim, são Escolas a sério, em qualquer parte do mundo; - nos CMs todos – militares, professores, funcionários civis, alunos e ex-alunos – fazem parte da família colegial e mantêm-se irmanados pelo mesmo ideal; - nos CMs sabe-se quem manda, melhor dizendo, quem comanda, ao contrário da maioria das outras escolas onde a autoridade se esvai em múltiplos “conselhos”. Numa palavra os alunos não se limitam a Estar, ao contrário, São, e se é verdade que o objectivo numero um do ensino visa a mudança de comportamentos, os CMs representam o expoente máximo deste conceito. Em terceiro lugar existem problemas de ordem doutrinária e ideológica. A nível social e político cruza a sociedade um conjunto de forças que pensam que a existência de CMs, no século XXI é um anacronismo sem qualquer razão de ser. O espectro político-partidário conotado normalmente com a “esquerda” odeia, em termos ideológicos, a ideia da existência de colégios militares – causa-lhes até, erupções de pele, e outros fenómenos do foro psicossomático. Num destes partidos, no manifesto eleitoral da sua fundação estava inscrito

“Há verdadeiramente duas coisas diferentes: saber e crer que se sabe. A ciência consiste em saber; a ignorância consiste em crer que se sabe”.

Numa palavra os alunos não se limitam a Estar, ao contrário, São, e se é verdade que o objectivo numero um do ensino visa a mudança de comportamentos, os CMs representam o expoente máximo deste conceito. a extinção dos colégios militares… Convém não ter a memória curta. Um outro, porém, nunca hostilizou publicamente os CMs – certamente porque é o único que sabe o que anda a fazer – e nem sequer vê qualquer inconveniente na sua existência, desde que, é claro, lá se ensinasse o materialismo dialéctico, o socialismo científico e o internacionalismo proletário! No espectro político conotado com o centro e a direita, por norma, a ideologia está ausente e não se faz combate doutrinário: sente-se com a carteira e pensa-se com as tripas. Estamos conversados, portanto. Finalmente, existe um último perigo, os negócios! Nomeadamente os negócios de especulação imobiliária. Os colégios ocupam espaços de terreno privilegiados, onde sobressai o Colégio Militar. São muitos hectares em zonas de grande valor. Ora isto representa milhões e milhões de euros, oportunidades de negócio para amigos, eventual atenuação de dívidas camarárias, chorudos financiamentos, etc. Perante isto, o que valem três colégios, cuja mais valia é lançarem no mercado de trabalho ou nos cursos superiores, umas dezenas de cidadãos com uma formação acima da média, e que tanta falta fazem ao nosso desfigurado país? Acertaram, são perfeitamente dispensáveis! Já imaginaram os leitores uma conjugação das razões apontadas? De facto, os colégios militares não devem acabar mas podem tentar que isso aconteça. Julgo ter sido suficientemente explícito. Deixo-vos com Hipócrates (460-374 A.C.): “Há verdadeiramente duas coisas diferentes: saber e crer que se sabe. A ciência consiste em saber; a ignorância consiste em crer que se sabe”. Aos sete dias do mês de Outubro do ano dois mil e dez


Do Colégio Um olhar de fora e uma visão do exterior

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UM OLHAR DE FORA e uma visão do exterior No blogue “Dançando à Chuva II”, no dia 7 de Março de 2013 foi inserido um texto que retrata uma visão externa de alguém que não frequentou o Colégio e, por conseguinte, não o viveu dentro das suas paredes. Trata-se de um texto muito bem redigido e de prosa muito interessante, onde se integra um conjunto de valiosos conceitos que vêm acrescidos de uma grande mais-valia - terem sido subscritos por alguém que não é antigo aluno. A autora, Tatiana Pascoal, tendo sido contactada, de imediato nos facultou o texto e autorizou a sua transcrição nas páginas da ZacatraZ. Aqui registamos a maneira muito agradável como acedeu à nossa solicitação, renovando o agradecimento pelas facilidades que nos concedeu para que fosse possível a sua publicação.

Zacatraz! O grito da tribo.

Orgulho e preconceito

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omingo, 3 de Março, a família madrugou, saltando da cama às 6.30h da matina para se preparar para um passeio especial a Lisboa. Um dos membros da família ia participar num evento de grande importância pessoal, e quando assim é, o resto da família adere, numa lógica de Um por Todos e Todos por Um! Este é também o lema do Colégio Militar, do qual o meu marido é antigo aluno. Em quase duas décadas de vida partilhada, apenas fui, há vários anos, assistir a uma cerimónia no Largo da Luz, no início de uma abertura solene do ano lectivo. Confesso que não me deixou, então, grande registo na memória, mas a “aura” do Colégio sempre me intrigou, porque anos a fio senti a sua força e o seu apelo, dentro e fora de casa. Não sou filha de militares mas sempre vivi perto deles: sou bisneta de um Coronel de Cavalaria, sobrinha de um oficial ex-Comando, nora de um Almirante, e esta proximidade marca, mesmo para quem nunca partilhou de “teses” militaristas, pelo contrário. Desta vez, porém, decidi aderir ao chamamento, mais para satisfazer a curiosidade e para tentar compreender, ao vivo, o que é isso de pertencer a uma “tribo”. Que melhor pretexto do que o aniversário de uma Instituição que comemora os seus 210 anos de existência, agora ameaçada por cortes orçamentais de vulto,

que também chegaram às Forças Armadas! Senti, pela primeira vez a força do apelo, despoletado por carta, mail, sms, telefonemas e que teve como objectivo, apelar à participação massiva no evento, para mostrar a importância que esta instituição tem numa parte da sociedade Portuguesa. O encontro, no Marquês de Pombal, começou morno. Era cedo, 8h30m da manhã, e apenas se viam alguns grupinhos de 3, 4 pessoas espalhados no semicírculo das traseiras da estátua, que madrugadoras esperavam por algo de maior impacto. Pensei para comigo, “frouxa iniciativa, o pessoal comodista prefere dormir, num Domingo frio e cinzento, do que solidarizar-se por outros valores mais altos.” Uma hora depois, pelas 9h30m, o cenário mudara consideravelmente. A meia lua enchera-se com os alunos, com idades entre os 10 e os 17 anos, que marcavam presença com os seus uniformes impecáveis; viam-se ex-alunos de todas as idades, de octogenários a recém-saídos do Colégio, identificados com os pins da barretina na lapela; os familiares, tal como eu, a minha sogra e a minha filha, lá estávamos em profusão, e ouvia-se o brúáaaa da pequena multidão, que saíra de casa à última hora, mas muito a tempo de participar no início da cerimónia. Nessa altura já me sentia empolgada: “a malta finalmente aparecera”, e a festa prometia. A chegada da Escolta a Cavalo acentuou essa mudança de humor, cerca de uma vintena dos melhores alunos de equitação dos 3 últimos anos, rapazes entre os 15 e os 17, mostravam-se garbosos, muito direitos nas garupas das suas montadas, flâmulas, lanças e espadas em punho, conscientes do impacto que causavam em todos os presentes. Às 10h em ponto começou a cerimónia com a homenagem do Colégio aos antigos alunos. Depois, uma voz de comando incitou ao GRITO DA TRIBO: “ZACATRÁZ, ZACATRÁZ, ZACATRÁZ!”, que ecoou pelas fachadas dos prédios em volta, provocando-me uma estranha sensação, e me deixou absolutamente silenciosa, quase temerosa, pelo impacto das vozes em uníssono! Seguiu-se, de imediato, o hino do Colégio, cuja letra desconhecia por


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Do Colégio Um olhar de fora e uma visão do exterior

completo, mas surpreendeu-me, de novo, a adesão massiva. Por fim, cantou-se o hino nacional, e eu, que não o cantava em público, alto e bom som, há longos anos, confesso que me senti bastante comovida. Depois, abriram-se alas e começou o desfile a contornar a Estátua do Marquês de Pombal e a descer a Avenida da Liberdade. Surpreendente foi ainda o cordão que se formou, as pessoas a avançarem e a acompanharem a marcha da 1ª companhia, a dos miúdos de 10 anos, depois a da 2ª, da 3ª e da 4ª companhia, a dos mais velhos, formada pelos alunos que frequentam o 11º ano, sempre ao som de gritos repetidos, constantes de ZACATRÁZ, ZACATRÁZ. Por fim, a Escolta a Cavalo fechava o desfile, imponente, poderosa, orgulhosa, bela representante desta Instituição que comemorou 2 séculos e 10 anos! Tudo terminou no Rossio, com a chegada da banda do Exército, no Largo da igreja de S. Domingos, onde se juntou a multidão, VERDADEIRA MULTIDÃO, que veio a pé, numa festa e alegria esfusiantes, pelos seus filhos, pelos seus netos, por si próprios e pela juventude já distante. A festa para os antigos alunos prolongou-se dia fora, terminando em jantar no Colégio, num menu simples: caldo-verde, o célebre “amarelo” - roupa velha feita com carne estufada, batata frita às rodelas e ovos batidos a envolver, considerada verdadeira iguaria, difícil de reproduzir em casa, por mais que se tente - e arroz doce, tão compacto que dá para atirar à parede. MAS ELES ADORAM! Não pretendo fazer aqui a apologia do Colégio Militar, mas o facto é que esta Instituição faz parte integrante da nossa sociedade há 200 anos, tal como West Point nos Estados Unidos, o Sistema de Colégios Militares no Brasil, a École Militaire em França e ainda a Royal Military Academy em Sandhurst, Reino Unido. Este é um colégio privado, como tantos outros, com a diferença de educar os seus alunos em ambiente militar. Tento vencer o meu preconceito, o da maioria de nós, que no pós 25 de Abril e até hoje adquiriu anticorpos a este ambiente, com a pouca ou frágil acção do próprio colégio, que não soube adaptar a sua comunicação ao longo dos últimos anos, ao ponto de se limitar a assistir a situações polémicas, negativas e mediáticas, sem dar qualquer resposta convincente às mesmas, INCAPAZ DE VEÍCULAR A MENSAGEM SIMPLES DO QUE FAZ PELOS JOVENS QUE O FREQUENTAM, E QUE DELE SE ORGULHAM para o resto das suas vidas! O Colégio tem hoje um regime de internato para aqueles que assim o decidem, e um regime de semi-internato para quem tem a “sorte” de ter os pais a viverem perto, e isto faz toda a diferença, por comparação com o modelo seguido durante décadas, em que só havia a possibilidade de internato, com saída ao final da manhã de sábado, depois das aulas e do almoço, com retorno ao domingo ao final da tarde. Sendo um colégio privado, não é demasiado caro, ao contrário do que a maioria pensa, nem exclusivo para uma elite, a dos que podem pagar! As propinas incluem alimentação, 5 refeições ao dia, e não menos importante, uma série de actividades como: Equitação, Esgrima, Atletismo, Natação e Ginástica. É famosa a classe especial de ginástica desportiva do Colégio, conhecida pela alcunha de “Os Gafanhotos”. Para além disso, e tratando-se de um colégio militar, é dada Instrução Militar, com aprendizagem do manuseio de armas (aqui as

Mães ficam com os cabelos em pé), mapas cartográficos, orientação e técnicas básicas de sobrevivência. Na voz de um deles, o testemunho é o de que “o Colégio é uma elite, sim, mas à saída, não à chegada! Qualquer um que tenha boa capacidade física e mental (há exames para entrar), e cujos pais possam pagar as referidas propinas (as quais são inferiores a muitos outros colégios privados), pode frequentar o Colégio”. Conheço pessoalmente alguns dos jovens alunos, são da geração da minha filha, e estão em vias de terminar o seu curso de escolaridade obrigatória. Como em qualquer escola, há excelentes alunos, bons alunos e alunos médios, mas NÃO HÁ MAUS ALUNOS, porque o nível de exigência desta Instituição tal não permite, havendo desde sempre um sistema de méritos e deméritos, que se traduzem na atribuição de medalhas de Aptidão Literária e de Aptidão Física. Há quem as tenha todas - bastava ver o orgulho com que vários dos alunos, no domingo passado, exibiam essa colecção de medalhas ao peito - outros apenas têm algumas e muitos outros, nenhuma, caso daqueles que não atingem os parâmetros mínimos para se qualificarem para esse prémio de MELHORES ENTRE IGUAIS! Ao longo de décadas, o Colégio tem provado a excelente qualidade dos seus conteúdos escolares e programáticos, ao preparar jovens para as mais diversas profissões, que ambicionam por muito mais, e que raramente querem seguir uma carreira militar, antes valorizam a experiência do Colégio, a ideia do “Um por Todos e Todos por Um”, numa aprendizagem de partilhas, de camaradagem, de cumplicidades e protecção entre pares, que perdura pela vida fora. A TRIBO NO SEU MELHOR! Então, porque olhamos, quase sempre, para o Colégio Militar como uma Instituição a abater, como sendo “uma aberração”, como não havendo espaço para este tipo de ensino, quando na realidade a maioria dos rapazes que o frequentam já não são filhos de militares, mas filhos de civis, de várias proveniências dentro do País e muitos, cada vez mais, dos PALOP. Nenhuma instituição está isenta de fragilidades e de defeitos, mas o facto é que “...claramente as virtudes inculcadas pelo Colégio os suplantam, e em larguíssima escala! E com benefício de toda a sociedade, pois a maioria dos alunos escolhe a vida civil.” A Democracia é um sistema político que permite o convívio e a proliferação de várias realidades, algumas nos antípodas da maioria consensual, e aceita-as como válidas e contributivas para a harmonia do todo social. Porquê então deitar fora 210 anos de experiência feita, e de um valor que se renova a cada geração que passa pelo Colégio Militar? Olhemos para os que orgulhosamente gritam bem alto a origem e proveniência da sua formação, e entendamos que não se tratam de “freaks, aliens”, cultores de um estilo de vida “fascista e fascizante com saudosismo do passado”. Este pensamento é “demodé”, está “out”, e só perdura porque o PRECONCEITO vive e alimenta-se da IGNORÂNCIA e da incapacidade de aceitar a diferença! “Depois de lá se ter estado 7 anos (agora 8), sim, concordo, do Colégio sai uma ELITE! Mas uma Elite não de dinheiro...mas de Valores.” (sic) Paola Tatiana Monteiro Melo Geraldes Pascoal


Do Colégio Mensagem do Director à Comunidade Colegial

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Mensagem do Director

à Comunidade Colegial Assumi o cargo de Director do Colégio Militar em 9 de Agosto de 2010. Ao longo deste tempo foi uma enorme honra estar à frente dos destinos desta Casa, o que muito me orgulhou porque nada é mais nobre do que a missão de ensinar e formar as gerações mais novas. E este Colégio tem cumprido a sua missão com inquestionável interesse para o País e com um legado que nos marca de uma forma indelével para o futuro. Esta Instituição com 210 anos constitui um património que merece o respeito dos portugueses, embora muitas vezes assim não aconteça devido a incompreensões que sempre aconteceram ao longo da sua história até aos tempos de hoje, designadamente em tempos de crise onde as instituições são sempre motivo de maior escrutínio. As instituições não mudam para satisfazer modelos que derivam de percepções instantâneas dos fazedores de opinião ou gurus que estão na moda da vida socioeconómica em cada momento, mas sim para responderem a evoluções consolidadas no tempo. A mudança nas instituições carece do comprometimento e da empatia de todos os que estão directamente nelas envolvidos, como garantia de ser efectuado um trabalho identitário, consistente e prometedor do seu futuro. E uma escola é algo onde este comprometimento e empatia são ainda mais significativos porque, salvo melhor entendimento, não se deve conceber ou alterar um projecto educativo sem que a respectiva comunidade educativa se identifique com o resultado desejado ou pretendido, sob pena de obtermos algo que comprometerá definitivamente a identidade dessa escola. Ao longo do meu tempo como director procurei este desígnio através da procura de um maior envolvimento das Famílias e dos Antigos Alunos na vida do Colégio, ao ponto de termos procedido a alterações significativas no Regulamento Interno, com vista à representação e participação formal das respectivas Associações nos Conselhos Escolar e Pedagógico, bem como dos representantes dos Encarregados de Educação nos Conselhos de Turma, ao contrário do que acontecia anteriormente. Também procedemos à revisão e consolidação dos direitos e deveres dos Pais e Encarregados de Educação, bem como dos procedimentos de comunicação, com vista a obtermos uma maior abertura e transparência da escola ao exterior. Estas preocupações foram determinantes no sentido de concretizarmos alterações que se impunham no funcionamento do Colégio Militar para fazer face a custos desajustados, necessidade de melhorar processos, procedimentos e comportamentos internos e prepararmo-nos para um tempo de maior exigência em termos de avaliação interna e externa, no caminho que é imposto pela gestão da qualidade nas organizações. Com a participação de todos quantos tive a honra de comandar ao longo deste tempo – Militares, Professores, Alunos e Funcionários Civis, conseguimos resultados que não podem ser ignorados e que a todos se devem, onde incluo a colaboração e participação das Associações de Pais e Encarregados de Educação e de Antigos Alunos que sempre estiveram presentes quando solicitados para trabalharem connosco.

Ainda assim, quis o destino que a mudança agora em curso adquirisse contornos que extrapolaram em muito o nosso desejo e visão e que irão provocar, quiçá, a maior alteração no projecto educativo do Colégio Militar desde a sua fundação – falo do ensino misto, do fim do internato obrigatório, da adopção do internato feminino nas instalações da Luz e das admissões directas ao 10.º Ano do Secundário. Excepciono o 1.º Ciclo que já era um nosso objectivo não autorizado a concretizar no ano lectivo 2011/2012, mas que, em boa hora, agora vai avançar. Com excepção do internato feminino, tudo confluirá no próximo ano lectivo de 2013/2014, o que junta um desafio ciclópico perante o tempo disponível e face ao trabalho que importa desenvolver em termos de planeamento e organização, incluindo adaptação de infra-estruturas, e que representará algo só possível com a compreensão e contribuição de todos. Em suma, estamos a falar de uma alteração significativa ao actual projecto educativo, onde teremos de encontrar forma de remanescer os principais aspectos identitários do Colégio Militar que não passem apenas por manter a sua designação e o uniforme dos seus Alunos, mas salvaguardar os princípios e valores que subsistiram até aos dias de hoje, o que muitos acreditam não ser possível. Porém, institucionalmente não existe outro caminho a percorrer, independentemente das vontades de cariz sentimental de cada um dos que hoje se encontram ligados organicamente a esta Instituição e que a servem ou que aqui estudam. Por outro lado, e tendo por base o que referi anteriormente, só com a compreensão e colaboração de toda a Comunidade Colegial, independentemente das vontades e sentimentos que têm vindo a ser exteriorizados e manifestados, será possível vencer os principais obstáculos ligados ao percurso deste caminho a nível interno, sob pena do nosso insucesso afectar decisivamente o Colégio Militar com o qual todos nós nos identificamos e queremos continuar a admirar pela sua missão e pelas qualidades dos Meninos da Luz que continuará a educar e formar. Termino a minhas funções de Director do Colégio Militar no dia 28 de Abril de 2013, para assumir em exclusividade o cargo de Director de Educação com a responsabilidade pela coordenação do funcionamento dos três Estabelecimentos Militares de Ensino (Colégio Militar, Instituto de Odivelas e Instituto dos Pupilos do Exército) durante o processo de transição. Continuarei assim ligado a esta nobre Instituição e irei apoiar a sua futura Direcção para percorremos, com a colaboração de todos vós, o caminho institucional que seja determinado em cada momento, procurando soluções que se adaptem o mais possível ao Colégio Militar que todos conhecemos e que atenuem os antagonismos gerados pela visão que cada um gostaria de concretizar para o futuro. Não é assim uma despedida porque continuaremos a trabalhar em conjunto, mas não posso deixar de referir aqui o meu apreço a todos os que na Comunidade Colegial me ajudaram nesta nobre tarefa, desejando que o nosso caminho futuro seja iluminado e que a tenacidade e a inteligência facilitem a nossa missão. Agradecido, continuarei a contar com Todos! Luz, 24 de Abril de 2013

O DIRECTOR DO COLÉGIO MILITAR

Fernando Joaquim Alves Cóias Ferreira Major-General


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Do Colégio Novo Director do Colégio

Novo Director do Colégio Coronel Tirocinado de Artilharia

José António Figueiredo Feliciano - Chefe da Repartição de Avaliação de Ensino na Academia Militar. - Assessor e docente do Projecto “Academia Militar de Moçambique” em Maputo. - 2º Comandante da Escola de Sargentos do Exército e Diretor de Ensino da Escola de Sargentos do Exército. - Diretor de Projeto 10, não residente “Escola de Sargentos de Angola”, no Lubango. - Assessor do General Comandante da Academia Militar para reestruturação dos Cursos decorrente da implementação do processo de Bolonha no Ensino Superior Militar. - Adjunto do Director de Ensino na Academia Militar. - Chefe do Departamento de Estudos Pós-Graduados da Academia Militar, funções que exerceu ate à presente data. Está habilitado com os cursos curriculares de carreira. Possui ainda, vários cursos de qualificação militares e de especialização dos quais se destaca o Curso de Promoção a Oficial General em 2011/2012, Auditor de Defesa Nacional em 2008, sendo atualmente doutorando em História, Defesa e Relações Internacionais. Da sua folha de serviços constam onze louvores, dos quais quatro foram concedidos pelo Chefe de Estado-Maior do Exército, seis por outros Oficiais Generais e um por outras Entidades Militares. Possui, ainda, várias condecorações de que se salientam, duas medalhas de Serviços Distintos Prata, Mérito Militar de 1.ª, 2ª e 3.ª classe e Comportamento Exemplar Prata e Ouro. É casado e tem três filhas.

O

Coronel Tirocinado de Artilharia José António Figueiredo Feliciano nasceu em 22 de Agosto de 1961, tem 51 anos de idade e 33 anos de serviço. Foi promovido ao actual posto em 16 de Junho de 2006. Ao longo da sua carreira serviu em diversas Unidades / Estabelecimentos / Órgãos do Exército. Desempenhou diversas funções das quais se destacam: - Comandante de Bateria de Bocas de Fogo, Oficial de Topografia e Adjunto do Oficial de Operações no Grupo de Artilharia de Campanha / 1ª BMI. - Comandante de Companhia de Alunos na Academia Militar. - Oficial de Logística, Oficial de Operações e Director de Instrução no Regimento de Artilharia nº 4, em Leiria. - Professor Regente de Tiro de Artilharia e Director dos Cursos de Artilharia na Academia Militar. - Comandante do Grupo de Artilharia de Campanha da Brigada Mecanizada.

Ao Senhor Coronel Tirocinado de Artilharia José António Figueiredo Feliciano, novo Director do Colégio Militar, a Redacção da revista ZacatraZ deseja os maiores êxitos não só na árdua missão que tem a seu cargo como também na defesa desta Instituição secular que, ao longo de mais de duzentos anos e em todas as épocas, sempre formou Alunos que serviram a Nação nas mais variadas vertentes da cidadania, como militares e como civis nas ciências, nas letras, nas artes e na política.


Do Colégio 210.º Aniversário do Colégio Militar

210.º Aniversário

do Colégio Militar Palavras de agradecimento do Comandante do Batalhão Colegial “Batalhão de Alunos do Colégio Militar, briosos ‘Meninos da Luz’. O 03 de Março de 2013 passou e agora só nos resta elogiar a postura, o orgulho e a garra de todos vocês que representam o futuro do Colégio. A honra e a vontade com que desceram a Avenida da Liberdade é exemplo e resultado do esforço de todos nós na preparação do dia mais esperado por toda a Comunidade Colegial. Cada passo naquela Avenida e cada segundo de cabeça levantada são um prazer inimaginável que não voltaremos a sentir. Posso dizer que o sentido de realização e dever cumprido chegou a todos nós finalistas, que nunca mais teremos a oportunidade de calçar as luvas, limpar a nossa canana e engraxar as nossas botas com a única finalidade de mostrar a nossa imagem ao marchar com o máximo esforço e impecabilidade. As bolamadas de companhia, os discursos, o suor dos treinos, as brincadeiras e todos estes momentos característicos do 03 de Março ficarão gravados na nossa memória e apenas tiveram um único objectivo: fazer-vos sentir o espírito presente na época mais festiva do ano. Foi assim que nos ensinaram e é assim que esperamos que ensinem os vindouros a fim de que as comemorações do Colégio mais especial do mundo estejam à altura da grandeza dele. É por esta razão que o amor ao Colégio perdura nos nossos corações até ao último suspiro, é por esta razão que o 03 de Março é vivido por todos os Antigos Alunos até ao último suspiro, é por esta razão que a chama Colegial está sempre acesa na nossa Alma! Espero que vivam todos o 03 de Março da melhor maneira possível tal como nós vivemos, dignifiquem a nossa farda de gala em todos os vossos desfile e aproveitem as cerimónias porque, num abrir e fechar de olhos, chegará a vossa última vez. Obrigado a todo o Batalhão, Obrigado Colégio! Um forte Zacatraz”

Luís Maria Mendes de Almeida Cavaleiro de Ferreira, Aluno 285 Comandante do Batalhão Colegial

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Do Colégio V Festival dos 3 Estabelecimentos Militares de Ensino

Gonçalo Salema Leal de Matos 371/1949

V FESTIVAL DOS 3 ESTABELECIMENTOS MILITARES DE ENSINO D

ecorreu no passado dia 15 de Março o V Festival dos 3 Estabelecimentos Militares de Ensino, realizado no Pavilhão Multiúsos do Município de Odivelas, evento que tem lugar anualmente e cuja organização está rotativamente a cargo do Colégio, do Instituto de Odivelas e do Instituto dos Pupilos do Exército. Este ano a realização foi assegurada pelo Instituto de Odivelas que, com eficácia, coordenou as acções para o êxito do acontecimento.

Presidido pelo Comandante de Instrução e Doutrina do Exército Tenente-General Francisco António Correia, com a presença da Presidente da Câmara de Odivelas Dr.ª Susana de Fátima Carvalho Amador, do Chanceler das Ordens Militares Tenente-General Vasco Joaquim Rocha Vieira (127/1950), do Director e Subdirector do Colégio Major-General Joaquim Alves Cóias Ferreira e Coronel

de Infantaria João Paulo de Noronha da Silveira Alves Caetano (609(1973), do Director e Subdirectora do Instituto de Odivelas Coronel de Infantaria José Paulo Bernardino Serra e Dr.ª Margarida Rosa Carvalho Sá Dantas e do Director e Subdirector do Instituto dos Pupilos

do Exército Coronel João Augusto de Miranda Soares e Coronel Rui Alves Tavares Ferreira. Para além dos convidados oficiais, uma numerosa assistência teve oportunidade de apreciar as excelentes exibições culturais e de ginástica em diversas


Do Colégio V Festival dos 3 Estabelecimentos Militares de Ensino

disciplinas, executadas pelos alunos e alunas do Colégio, de Odivelas e dos Pupilos. Também com excelentes exibições de elevado mérito, participaram por ordem de entrada no espectáculo, a Orquestra Ligeira do Exército (com a grande qualidade com que nos habituou nas suas apresentações anteriores), o Clube de Ginástica de Almada, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Amadora, o Ginásio Clube Por-

tuguês, o Clube Desportivo da Escola Secundária Miguel Torga, o Sporting Clube de Portugal e o Clube Atlético de Alvalade. As exibições dos diferentes grupos de actuação nas mais diversas disciplinas revelaram a boa qualidade de treino e de ensino que são ministrados nas Instituições participantes deste Festival. Estes acontecimentos permitem dar a conhecer a um horizonte mais vasto a excelência das actividades culturais e

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gimnodesportivas praticadas nos Estabelecimentos Militares de Ensino e, ao mesmo tempo, divulgar o bom trabalho realizado em variadas Instituições que tanto têm feito pelo ensinamento e prática da ginástica e do desporto. Com o Hino Nacional entoado por todos os presentes foi encerrado o Festival de 2013.


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Colaboração Sensibilidade e bom senso

José Alberto da Costa Matos (96/1950)

SENSIBILIDADE E BOM SENSO “Sense and Sensibility” foi o primeiro romance da escritora inglesa Jane Austen, publicado em 1811 e vertido para o cinema em 1995, no qual a escritora nos conta a história de duas irmãs: uma prudente e dotada de bom senso e outra instintiva e imoderada.

O título deste livro surgiu-me após ter lido o despacho 4785/2013 do actual ministro da Defesa, datado de 25 de Março deste ano, no qual divulga aos portugueses o modo como vai “reestruturar” os Estabelecimentos Militares de Ensino (EMEs). E lembrei-me daquele romance, não porque o dito despacho fosse um modelo de sensibilidade e bom senso... mas mais exactamente pelo contrário! Voltei a lê-lo, e fui anotando num papel os vários prazos para a sua execução, tendo mesmo elaborado uma grelha-resumo

das novas, múltiplas e diversificadas modalidades de acesso e de frequência dos Estabelecimentos em causa. Desta vez a imagem que me ocorreu foi a do interior de uma grande loja de porcelanas e cristais de grande qualidade se nela entrasse estouvadamente um jovem, alegre e irrequieto elefante. Mas façamos aqui uma breve pausa para dar conta aos leitores de um facto histórico ocorrido com o Colégio Militar há cerca de um século e meio, permitindo-me solicitar a sua atenção para as circunstâncias que o motivaram, mas também para aqueles que o protagonizaram. Como já diversas vezes escrevi, o Colégio Militar foi criado por necessidades de defesa que ressaltaram à evidência após a desastrosa campanha de 1801, que ficaria conhecida como a “Guerra das Laranjas”, contra um exército espanhol que avançara através das fronteiras do Alentejo. Dessa campanha resultou que tivemos que aceitar uma paz humilhante, perdemos Olivença, e acabámos por constatar que aqueles que exerciam o comando das tropas não possuíam “qualidade, educação, conhecimentos, honra, probidade, desinteresse e amor de glória”. Numa subsequente reunião do Conselho Militar sob a presidência do ministro da Guerra, um general francês propôs que, para “aquisição dos conhecimentos preparatórios exigidos, fosse estabelecido um Colégio Militar, sustentado à custa do Estado, comum a todos os que pretendessem servir no Exército, no qual se entraria com a idade de 10 anos”. E assim nasceu, em 1802, sob a orientação de Teixeira Rebelo, comandante do Regimento de Artilharia da Corte, o então chamado «Colégio Militar da Feitoria».

Trinta e cinco anos depois, terminado mais um conflito (a Guerra Liberal), o general Bernardo de Sá Nogueira - que nela havia combatido, chegando mesmo a perder o braço direito no Alto da Bandeira, durante o Cerco do Porto – e que ficou historicamente mais conhecido por Marquês de Sá da Bandeira, fundou nos começos de 1837 a «Escola do Exército», um estabelecimento de ensino destinado exclusivamente à formação de oficiais para aquele ramo militar.

Visconde de Sá Bandeira


Colaboração Sensibilidade e bom senso

Ambos revelaram inteligência mas, além disso, o ministro manifestou possuir bom senso e demonstrou que não é desprestigiante retroceder quando se toma uma má decisão. Por sua vez, Cláudio Chaby dá-nos testemunho de grande sensibilidade e nobreza de carácter quando arrisca o seu futuro recusando colaborar naquilo com que não concordava Sá da Bandeira tornou-se posteriormente, durante vários anos, político e governante e, nessa qualidade, viria a ser um dos interpretes do episódio que nos relata Couceiro da Costa (antigo aluno e professor no Colégio Militar), numa carta que em 1903 escreve ao general Morais Sarmento, então director do Colégio, e da qual se transcreve esta passagem: «O Marquês de Sá, briosamente cuidadoso do seu ilustre renome, era sobremaneira meticuloso em matéria de “despesas”. Ninguém seria capaz de o despersuadir de que o Colégio Militar onerava demasiadamente o Estado. Entendia que a sua Escola do Exercito era bastante para educar oficiais de patente, e que a lacuna a preencher consistia numa Escola Normal de oficiais inferiores1. Havia muitos oficiais da mesma opinião, ou por tecnicismo convicto, ou aliás porque julgavam mais vantajoso receber uma pensão. Sendo ministro em 1869, ordenou ao seu Chefe do Gabinete, peremptoriamente, e com aquela ênfase que lhe era própria, que redigisse de pronto uma Proposta de Lei, para a dissolução do Colégio Militar, sob o ponto de vista de serem concedidas pensões de estudo aos filhos dos oficiais, segundo uma escala de admissões semelhante á que regulava a entrada no Colégio. O muito ilustre General de Divisão reformado, Cláudio de Chaby (era ele o Chefe do Gabinete), verdadeiramente consternado e hesitante, e não podendo furtar-se à obediência, pensava em exonerar-se, pois sabia perfeitamente que, nas circunstâncias do tempo, a proposta seria aprovada por aclamação, logo que fosse apresentada. O próprio Director do Colégio2, então deputado, era franco em dizer que não tinha força para suspender o impulso da opinião. Nesse angustioso transe, em vez da proposta, fez em 24 horas um plano de reorganização do Colégio, e apresentou-o ao Ministro encarecendo-lhe a redução da despesa, acrescentando que aquele projecto não representava uma desobediência, 1 - Sargentos 2 - General Augusto Xavier Palmeirim

mas sim um acto de profundíssimo respeito pela gloria dele Ministro, poupando-a ao desaire de ferir o Exército no coração, destruindo-lhe uma instituição já longamente prestante, e que merecia a estima de ser um dos mais queridos interesses da oficialidade, atendendo á exiguidade dos soldos, e á distância a que os liceus se achavam da maioria das guarnições. O Marquês, rápido e imperioso nas resoluções, reflectiu um momento, e então, agitando o glorioso coto, e naquele tom nasal muito seu particular, respondeu ao respeitoso Chefe do Gabinete: “Pois bem! Lavre imediatamente o decreto da reorganização segundo esse plano”. E na seguinte Ordem foi promulgado o decreto de 24 de Abril de 1869, destinado a ser um simples travão á roda tremenda de uma iminente desgraça. E o ministro não tornou a pensar na desastrada proposta às Câmaras.» Ambos revelaram inteligência mas, além disso, o ministro manifestou possuir bom senso e demonstrou que não é desprestigiante retroceder quando se toma uma má decisão. Por sua vez, Cláudio Chaby dá-nos testemunho de grande sensibilidade e nobreza de carácter quando arrisca o seu futuro recusando colaborar naquilo com que não concordava. E quem era este general de divisão que assim procedeu? Cláudio Bernardo Pereira de Chaby nasceu em Lisboa a 11 de Janeiro de 1818, filho do coronel do estado-maior Manuel Bernardo Pereira de Chaby, e de Margarida Pereira de Chaby. Assentou praça a 27 de Julho de 1833, tendo depois frequentado a Academia Real de Marinha e as Escolas Politécnica e do Exército. Concluído o curso de oficial de Infantaria, foi promovido a alferes nos fins de Julho de 1837 e depois, sucessivamente, a tenente em 1845, a capitão em 1851, a major em 1867, quatro anos depois a tenente-coronel e em 1874 a coronel. Veio ainda a ascender a oficial general, primei-

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ro a general de brigada em 1883, e depois a general de divisão em 1890. Passou à situação de reforma a 17 de Janeiro de 1895. Tomou parte nas últimas acções da Guerra Liberal que antecederam a Convenção de Évora Monte. Anos mais tarde, voltou a combater, mas agora na Guerra da Patuleia (1846/47). Após a Convenção do Gramido, que, encerrou mais esta guerra civil, encetou uma nova fase de actividade, designadamente no domínio literário. Desempenhou então muitas e variadas comissões, especialmente no âmbito do Ministério da Guerra, tendo parte activa nas sucessivas reorganizações por que este ministério passou desde 1859. Serviu sob as ordens dos diversos ministros tendo ocupado os cargos de subchefe e de chefe da Repartição do Gabinete e, após a extinção desta, de chefe da Repartição dos assuntos relativos aos estabelecimentos de instrução militar e depósito geral de guerra, entre outros. Foi exonerado com louvor por um decreto de 4 de Setembro de 1869, a fim de prosseguir a direcção dos trabalhos referentes à história militar do país desde os últimos anos do século XVIII, e de coligir e seleccionar os documentos que do Arquivo Geral do Ministério da Guerra deveriam passar para a Torre do Tombo, de que veio a publicar-se “Synopse dos decretos remettidos ao extincto conselho de guerra, desde 1640 até 1656”, e também “Excerptos históricos”, referente ao período da Guerra Peninsular.

General Cláudio Chaby


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Colaboração Sensibilidade e bom senso

Fez parte de diversas comissões, merecendo entre elas referência especial a que lhe foi cometida no final de 1860 pelo ministro da Guerra Belchior José Garcez e que só veio a concretizar-se na vigência do Marquês de Sá da Bandeira, que tinha por fim procurar e recolher nos arquivos militares de Espanha, e pesquisar noutras fontes todos os documentos e notícias relativos a factos ocorridos na Guerra Peninsular, especialmente os referentes ao exército português. Mais tarde foi também nomeado para estudar e descrever os estabelecimentos militares de Espanha destinados à instrução prática das tropas de todas as armas, bem como dos sistemas ali seguidos quanto à organização e administração militar, táctica, disciplina, etc., missão esta que executou em apenas seis meses. O modo digno como se houve, e a consideração e atenções que granjeou em Madrid, e noutras localidades onde trabalhou, foram muitas vezes assunto na imprensa espanhola, designadamente nos jornais “Correspondencia de España”, “Iberia, diario liberal”, “Novedades” e “Diario de Valladolid”. Percorreu também boa parte da Itália, procedendo a estudos militares e recolhendo notas e subsídios que lhe serviram para enriquecer algumas das suas obras. Quando terminou a guerra franco-prussiana (1870/71) realizou à sua custa uma viagem de observação e estudo junto dos departamentos da França ainda ocupados pelos alemães, tendo ainda estado nalgumas cidades da Alemanha, na Bélgica e na Holanda. Cláudio de Chaby era sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa, membro Real Academia de História de Madrid e da Associação Promotora das Belas Artes, bem como de outras corporações científicas e literárias nacionais e estrangeiras. Era autor de “Mágoas e flôres” (Lisboa, 1855), “Do Porto a Lisboa, fragmento d’uma viagem de Hespanha a Portugal” (Lisboa, 1856); “Só Deus!” (Lisboa, 1856), “Almanach militar, ou livro dos quarteis” (para os anos de 1858 e de 1859), “Excerptos historicos e collecção de documentos relativos á guerra denominada da Peninsula, e ás anteriores de 1801, e do Roussillon e Catalunha, resultado da commissão de investigações historicas commettidas ao capitão de primeira classe Claudio de

E o tempo continuou a ir passando sem que fossem concretizadas as medidas propostas ou quaisquer outras, a não ser, nos princípios de 2011, a abertura do “ensino primário” no ano lectivo de 2011/12 por decisão do CEME... mas nem esta iria acontecer! Com efeito, em meados de 2011 aconteceram eleições e, a 21 de Junho tomou posse um novo Governo - o actual. No seu Programa de Governo, no capítulo “Defesa Nacional”, constava a seguinte medida: “Realizar o processo de reforma do ensino militar”. E foi assim que, para começo da “reforma”, em 5 de Agosto o Ministério da Defesa ordenou a suspensão do 1.º ciclo do Ensino Básico que, por essa altura, tinha já dezenas de candidatos! Chaby (em 4 partes, Lisboa, 1863), “Triste consuelo” (Lisboa, 1860), “Apontamentos biographicos de Sua Majestade Imperial o Sr. D. Pedro IV, duque de Bragança” (Lisboa, 1864), “Apontamentos para a historia da Legião portugueza ao serviço de Napoleão I, mandada sair de Portugal em 1808” (Lisboa, 1863), “Synopse dos decretos remettidos ao extincto Conselho de Guerra (Lisboa, 1869), “Relatorio do Ministério da Guerra apresentado às cortes em 1864”. Traduziu “Uma tarde em Magadalum, lenda christã” (Lisboa, 1854), bem como diversos dramas e comédias representadas nos teatros da capital. Era padrinho de baptismo de Fernando Pessoa. Passou à situação de reforma a 17 de Janeiro de 1895 e veio a falecer em Lisboa a 7 de Julho de 1905. Era agraciado com os graus de cavaleiro da Ordem da Torre e Espada, cavaleiro, comendador e grã-cruz da Ordem de S. Bento de Avis, comendador das Ordens de Cristo e de Santiago, sendo também condecorado com as medalhas de cobre com o algarismo 2 das Campanhas da Liberdade, de ouro de Bons Serviços e de ouro de Comportamento Exemplar, e ainda com a grã-cruz da Ordem Pontifícia de Pio IX, comendador da Ordem da Coroa (Itália), comendador da Ordem de Isabel a Católica (Espanha), oficial da Ordem da Rosa (Brasil), oficial da Ordem de Leopoldo (Bélgica), cavaleiro da Ordem de Carlos II (Espanha) e cavaleiro da Ordem da Coroa de Wandes (Mecklemburgo-¬Schwerin). Regressemos então aos dias de hoje e ao tal ”4785/2013”. Para os menos informados convirá recordar que a necessidade de reformular vários

aspectos do funcionamento do Colégio começou a ser estudada pela Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar (AAACM) em 2001, quando constatou certa tendência para uma diminuição no número de candidaturas de novos alunos e também alguma erosão no nível geral das classificações obtidas. Teve então ocasião de reunir com o Secretário de Estado da Defesa Nacional (SEDN) a quem manifestou as suas preocupações e deu a conhecer os seus estudos, reunião esta que se repetiu em 2003.

Estandarte AAACM

Seguiram-se uma série de iniciativas tendentes a cativar potenciais candidatos e, em 2006, a AAACM produziu o documento “O Colégio Militar como instrumento estratégico nacional – uma proposta para o futuro” que mereceu apreciação favorável de várias personalidades de nível nacional e que foi apresentado à entidade tutelar: o Exército. E o tempo foi passando. No começo de 2010 realizaram-se duas grandes reuniões de reflexão com a partici-


Colaboração Sensibilidade e bom senso

A 19 de Outubro, com surpresa geral, o ministro da Defesa resolve estar presente na Abertura Solene do Ano Lectivo 2011/12. Chegou ao Colégio, foi recebido por uma guarda de honra de alunos, presidiu à primeira parte das cerimónias, que decorreu como habitualmente no claustro, aí proferiu um discurso, o que também não era habitual e, logo de seguida, foi-se embora. Esta breve “experiência” presencial seria tudo quanto S.Ex.ª ficou a conhecer do Colégio Militar até 25 de Março de 2013, data do seu despacho 4785/2013 em que decidiu sem glória o futuro colegial, bem como o do Instituto de Odivelas (IO). pação de cerca de uma centena e meia de antigos alunos e também de especialistas em educação e adolescência, de que resultou o documento “Vamos apoiar o Colégio”, que continha a visão da AAACM quanto ao futuro e incluía propostas concretas, uma das quais respeitava à inclusão do “ensino primário” (1.º ciclo do Ensino Básico) no Colégio. Este documento foi apresentado em Abril de 2010 ao general Chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) numa reunião em que estiveram presentes vários outros oficiais generais. E o tempo continuou a ir passando sem que fossem concretizadas as medidas propostas ou quaisquer outras, a não ser, nos princípios de 2011, a abertura do “ensino primário” no ano lectivo de 2011/12 por decisão do CEME... mas nem esta iria acontecer! Com efeito, em meados de 2011 aconteceram eleições e, a 21 de Junho tomou posse um novo Governo - o actual. No seu Programa de Governo, no capítulo “Defesa Nacional”, constava a seguinte medida: “Realizar o processo de reforma do ensino militar”. E foi assim que, para começo da “reforma”, em 5 de Agosto o Ministério da Defesa ordenou a suspensão do 1.º ciclo do Ensino Básico que, por essa altura, tinha já dezenas de candidatos! Era o poder político a entrar na liça do que fica-

ria conhecido por “reestruturação dos EMEs”. E entrava logo da pior maneira: com um “balde de água fria”! No começo de Setembro o SEDN nomeou internamente uma comissão com 10 elementos para elaborar um “estudo sobre os Estabelecimentos Militares de Ensino” com a finalidade de “analisar a sua situação actual” e de “apresentar uma recomendação com vista à sua reformulação numa lógica de sustentabilidade futura”, estabelecendo 31 de Dezembro como data limite de conclusão dos trabalhos. Ainda em Setembro o MDN informou o Exército que “importa reanalisar toda a actividade educativa dos estabelecimentos (militares de ensino) de forma a melhorar a eficácia financeira aliada à qualidade do ensino desenvolvido, num quadro de contenção orçamental”, justificando assim a necessidade de informações que lhe seriam solicitadas pela comissão. Entretanto, surpreendida com a súbita suspensão do 1.º ciclo do Ensino Básico, a AAACM cuidou de obter uma audiência com o titular da pasta da Defesa, o que veio a ocorrer em 28 de Setembro.

Ministério da Defesa Naciomal

Nessa audiência, que na maior parte das suas três horas de duração decorreu com o SEDN, foram explicados os inconvenientes e as lamentáveis consequências da decisão suspensiva e também apresentada a visão da AAACM acerca da reforma do Colégio Militar, sendo-lhe mesmo entregues exemplares dos estudos realizados e feita uma explanação sobre o longo e prestimoso passado do Colégio Militar, as suas especificidades próprias e únicas, a sua utilidade para o país e quais as suas necessidades imediatas, tendo a Associação manifestado, final e insistentemente, a sua total disponibilidade para fazer parte da solução da reforma... o que nunca veio a acontecer!

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A 19 de Outubro, com surpresa geral, o ministro da Defesa resolve estar presente na Abertura Solene do Ano Lectivo 2011/12. Chegou ao Colégio, foi recebido por uma guarda de honra de alunos, presidiu à primeira parte das cerimónias, que decorreu como habitualmente no claustro, aí proferiu um discurso, o que também não era habitual e, logo de seguida, foi-se embora. Esta breve “experiência” presencial seria tudo quanto S.Ex.ª ficou a conhecer do Colégio Militar até 25 de Março de 2013, data do seu despacho 4785/2013 em que decidiu sem glória o futuro colegial, bem como o do Instituto de Odivelas (IO). Cumprindo o prazo que lhe fora marcado a comissão atrás referida, após ter visitado os três EMEs, entrevistado directores, professores e associações de pais e de antigos alunos, apresentou um documento com 95 páginas onde reúne diversos e numerosos dados, mas em que a “recomendação com vista à reformulação” dos EMEs ocupa duas páginas com o “esclarecedor” título de «Medidas de aumento da receita». Como já se havia percebido, o dinheiro era a objectiva motivação reformadora do MDN. E o tempo continuou a ir passando até que, decorridos três meses e meio, o Diário da República publicou o despacho 5588/2012 do Sr. Ministro da Defesa, que nomeava uma «Equipa Técnica» (ET) com o “objectivo de apresentar um Plano de Acção para os EMEs”, designadamente quanto ao “aumento do número de alunos/receita” (outra vez o dinheiro à cabeça), “diminuição da despesa” (de novo o dinheiro) e “revisão do modelo de financiamento” (novamente o dinheiro).

Professor Marçal Grilo


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Colaboração Sensibilidade e bom senso

A equipa era coordenada pelo Prof. Dr. Marçal Grilo (ex-ministro da Educação) e incluía mais três elementos (um dos quais indicado pelo Exército) devendo concluir um Plano de Acção de curto prazo até 31 de Maio e outro de médio e longo prazos até 31 de Julho. A ET, depois de visitar rapidamente os três estabelecimentos, apresentou em Maio um plano de curto prazo (desconhecendo-se se terá chegado a elaborar o de médio e longo prazos) que se explanava por 32 páginas. Nesse documento eram sugeridas medidas interessantes como: - A criação de um estatuto especial que permitisse a selecção e contratação de professores e uma certa liberdade na definição de currículos e métodos de ensino; - Preservação da matriz educativa de natureza militar, com alta qualidade e diferenciação em relação ao restante ensino; - Abertura do 1.º ciclo do Ensino Básico (que fora suspenso nove meses antes pelo MDN), dotando-o de equipamentos e materiais pedagógicos ao nível do melhor que haja no país, e com professores seleccionados, com formação adequada e experiência comprovada; - Criação do cargo de Director Pedagógico, com permanência prolongada, devidamente habilitado e com provas dadas na gestão pedagógica e com um estatuto atraente; - 20 alunos por turma, no máximo 26; - Fecho dos cursos de Línguas e Humanidades e de Artes Visuais, os quais têm frequência mínima insuficiente; - Incremento da formação de alunos provenientes da CPLP. Mas o documento incluía também uma polémica e perturbante sugestão: a introdução do regime de externato misto no Colégio Militar, o qual passaria a integrar as alunas do IO, mantendo contudo o internato masculino a partir do 3.º ciclo (10.º ano) e prevendo o internato feminino numa fase ulterior após “o CM vivenciar a nova fase de abertura ao externato em todos ciclos”. O ensino misto era uma sugestão com que os antigos alunos não contavam e que gerou enorme preocupação. Chegou então a ouvir-se o argumento de que as Forças Armadas também eram mistas... esquecendo que, nesse caso, não se estava lidando com adolescentes! E o tempo voltou a ir passando tendo en-

tretanto continuado a ser desprezada a colaboração da AAACM, até que, cinco meses depois, o Diário da República publicou um novo despacho do Sr. Ministro da Defesa: o 264/MDN/2012 de 5 de Novembro.

Professor Joaquim Azevedo

Através desse despacho era nomeada mais uma comissão, desta vez designada por «Comissão Técnica de Acompanhamento», que era coordenada pelo Prof. Dr. Joaquim Azevedo (ex-Director Geral do Ministério da Educação, ex-Secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário e professor catedrático da Universidade Católica, no Porto) e integrava também outros seis elementos, dois dos quais eram militares indicados pelo Exército. Em termos gerais, esta comissão deveria promover os “seguintes objectivos fundamentais” até ao ano lectivo de 2015/16: - Manutenção de um projecto educativo de ensino militar não superior; - Implementação de um regime misto com internato opcional; - Integração de todo o ensino regular no CM e ensino profissional no Instituto dos Pupilos do Exército (IPE); - Requalificação do modelo financeiro; - Implementação de uma gestão integrada dos recursos humanos, materiais e financeiros; - Elevação dos patamares de emergência. Acrescentava o despacho que a CTA seria responsável pelo acompanhamento, estudo e controlo do impacto das medidas aprovadas e pela realização de um estudo da oferta educativa a ser ministrada no CM a partir de 2013/14 e, até fim de Fevereiro de 2013,

Trata-se de um despacho pouco claro, muito incompleto quanto a aspectos fundamentais mas muito detalhado em pormenores que não parecem situar-se no âmbito ministerial, espartilhador da tutela e afigurando-se denunciar uma preocupação do Sr. Ministro em demonstrar que detém poder e que tem força para o impor, olvidando, contudo, que o pretende exercer sobre instituições que são um bocadinho mais velhas e experientes que ele próprio. de um plano de divulgação e comunicação do modelo educativo dos EMEs. Determinava ainda o despacho que, no ano lectivo 2013/14 eram “suspensas todas as novas matrículas para o ensino regular no IO e no IPE”. Tal como já acontecera com a ET, a recém nomeada CTA lá teve também que visitar rapidamente os três estabelecimentos de ensino, pois eram desconhecidos para a quase totalidade dos seus membros. E a 28 desse mesmo mês de Novembro, a Direcção da AAACM consegue reunir-se no Porto com o Prof. Joaquim Azevedo, a quem expôs mais uma vez a sua visão e conceito para a reforma do Colégio, incluindo as medidas de curto prazo que o seu conhecimento recomendava, com vista a aumentar a frequência e a racionalizar os recursos humanos, materiais e financeiros. Foi-lhe também afirmado que a AAACM estaria sempre totalmente disponível para colaborar na desejável solução... todavia, nunca o Coordenador da CTA lhe solicitou o que quer que fosse.

Emblema actual da AAACM


Colaboração Sensibilidade e bom senso

E, uma vez mais, o tempo tornou a ir passando. Decorridos cinco meses sobre a nomeação da CTA e vinte e dois (!) sobre a nomeação da primeira das comissões, o Diário da Republica de 8 de Abril de 2013 publicava o despacho 4785/2013 do Sr. Ministro da Defesa, datado de cerca de duas semanas atrás (25 de Março), parecendo com ele querer pôr um ponto final e definitivo no assunto,... o que não implica que seja adequado ou exequível! Trata-se de um despacho pouco claro, muito incompleto quanto a aspectos fundamentais mas muito detalhado em pormenores que não parecem situar-se no âmbito ministerial, espartilhador da tutela e afigurando-se denunciar uma preocupação do Sr. Ministro em demonstrar que detém poder e que tem força para o impor, olvidando, contudo, que o pretende exercer sobre instituições que são um bocadinho mais velhas e experientes que ele próprio.

Ministro Aguiar Branco

Resumidamente, o Sr. Ministro manda: - que o Colégio Militar passe a ser misto e a ter um regime de externato para ambos os sexos já em 2013/14 (recorde-se que foi o relatório da ET que avançou com a ideia do ensino misto, mas talvez nem valesse a pena ter esperado 22 meses e criado uma comissão para o efeito porque, no discurso por si proferido no Colégio, o Sr. Ministro foi dizendo, na passada, que iria encarar o “sistema de ensino militar...sem olhar a dogmas, géneros, antiguidades ou preconceitos de outros séculos”)3; - que as alunas do IO transitem para o CM e que aquele Instituto seja encerrado no começo do ano lectivo de 2015/16. - que seja aberto em 2013/14 o 1.º ciclo no Colégio Militar (recorde-se que a sua

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Só que, durante os 22 meses em que nada de concreto se realizou, teria sido mais proveitoso ter posto em prática um conjunto de medidas então propostas pela AAACM, e que talvez tivessem solucionado as preocupações ministeriais, sem que o seu titular tivesse necessidade de comprometer o futuro de instituições seculares. abertura fora suspensa pelo MDN em 2011, pelo que poderia estar já a funcionar há dois anos e, por tal motivo, o Colégio teria em Outubro deste ano mais 120 alunos, correspondentes aos três primeiros anos daquele ciclo!)

Nunca falou também com os professores, sobretudo com aqueles que têm décadas de bons serviços docentes prestados em qualquer dos estabelecimentos de ensino, nem abordou o destino que tenciona dar aos que vão ficar excedentários e quem serão eles.

Rigor e disciplina

Professores

E todas estas “coisas simples” são dadas a conhecer de rajada a uns breves 5 meses do começo do ano lectivo. Mas entretanto esfumaram-se 22 meses em trabalhos de três sucessivas comissões... quando até já havia estudos elaborados e quantificados por quem melhor e mais pormenorizadamente conhecia o Colégio Militar! Mas, provavelmente, foram considerados como pouco fiáveis... Mas mais; antecedendo esta repentina e inesperada decisão, nunca se terá afigurado ao Sr. Ministro dialogar em conjunto com os pais das duas instituições para ajuizar o que pensava cada um deles e de qual seria (e vai ser) a sua atitude em função do despacho que tinha em mente produzir.

Esqueceu-se de igual modo dos funcionários, muitos deles com longos anos de experiência e proximidade com os alunos e alunas, e agora perplexos quanto ao seu destino. Nunca falou com os antigos Directores dos estabelecimentos para se inteirar do seu saber, da sua experiência, do seu avisado conselho e das sugestões que poderiam fornecer-lhe.

Antigos Alunos

Pais

Nunca se preocupou em escutar ou interrogar os antigos alunos e alunas, através das suas associações, apesar das seis cartas sem resposta que lhe foram endereçadas pela AAACM. Esqueceu-se de verificar se, em 5 meses, é exequível a enormidade de tarefas que é necessário levar a cabo até Setembro, bem como, por quem e com que meios irão ser realizadas.

3 - É curioso que se avance neste sentido, quando um número crescente de especialistas internacionais tem constatado que, com o ensino misto, ocorre um certo atraso na evolução da aprendizagem por parte dos rapazes em relação às raparigas, pelo que desaconselham tal tipo de ensino.


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Colaboração Sensibilidade e bom senso

Deste conjunto de medidas apenas o “supervisor pedagógico” e o 1.º ciclo foram contemplados no despacho... mas com 22 meses de atraso.

Alunos

E os alunos e alunas? Saberá por acaso o que pensam e como irão reagir? Terá uma noção concreta das consequências do que acaba de decidir? Diz o Sr. Ministro logo no início do seu despacho que é necessária uma gestão “que permita a optimização de projectos e de recursos que promova a excelência dos resultados”. Não podíamos estar mais de acordo. Só que, durante os 22 meses em que nada de concreto se realizou, teria sido mais proveitoso ter posto em prática um conjunto de medidas então propostas pela AAACM, e que talvez tivessem solucionado as preocupações ministeriais, sem que o seu titular tivesse necessidade de comprometer o futuro de instituições seculares. Indicam-se, como exemplo: - Definição de um “Estatuto de Ensino” para o CM; - Estabelecimento de “Autonomia Pedagógica” em conformidade com as suas especificidades estatutárias; - Criação do cargo de “Director Pedagógico”; - Criação do 1.º Ciclo do Ensino Básico; - Fecho dos Cursos de Línguas e Humanidades e Artes Visuais; - Redimensionamento eficaz das turmas do 2.º e 3.º ciclos do Ensino Básico; - Estabelecimento de contratos de associação por turma com o Ministério da Educação; - Instituição curricular da “Formação para a Liderança”; - Reestruturação curricular da Formação

Militar, Educação Física e Desportos - Equilíbrio na constituição do corpo docente (masculino, feminino e militar); - Contratação de pessoal docente e abandono do recurso à requisição; - Criação de um “Regulamento do pessoal docente” (autónomo em relação aos das outras escolas); - Equilíbrio das actividades extracurriculares e dos tempos de estudo; - Novo “Regulamento Disciplinar” dos alunos (autónomo em relação aos das outras escolas); - Revisão das responsabilidades e atribuições que estão cometidas aos alunos graduados; - Manutenção de uma agressiva e permanente actividade de Comunicação e Marketing; - Estabelecimento de uma reserva de vagas para acesso dos finalistas às Academias Militares; - Alteração do estatuto de prestação de serviço de militares no CM, tornando-o idêntico à Academia Militar; - Estabelecimento de uma permanência mínima de 3 anos para o Director e Subdirector; - Captação de alunos provenientes dos países da CPLP;

portivos nos períodos disponíveis tendo em vista a obtenção de receitas extraordinárias. Deste conjunto de medidas apenas o “supervisor pedagógico” e o 1.º ciclo foram contemplados no despacho... mas com 22 meses de atraso. A dilatação temporal assim ocorrida faz-nos recordar o americano Noam Chomsky que, ao abordar o fenómeno da manipulação mediática, dizia que, para ser aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la de forma gradativa, dilatada no tempo. E já que se fala de tempo, voltemos por momentos a 1869, ao ministro Sá da Bandeira, ao seu assessor e ao episódio que a História acabou por registar. De facto, em função do modo como vive a sua existência, o Homem pode ficar na História por boas ou por más razões. São exemplos, no primeiro caso, o Marquês de Pombal e Winston Churchill e, no segundo, Salazar e Hitler. Esperemos que o Sr. Ministro, bem como aqueles que o assessoraram na concretização do seu despacho 4785/2013, venham a ficar na História pelas melhores razões, ou seja, pelo êxito alcançado com as suas decisões.

História

Mas, na dúvida, manda a prudência que o exemplo de Sá da Bandeira seja recordado. Alunos CPLP

- Contratação de pessoal civil de apoio, de modo a reduzir os contratos com serviços exteriores; - Criação de um permanente Serviço Vigilância - Estabelecimento de mensalidades apoiadas para alunos provenientes de outros organismos da Função Pública - Aluguer de instalações e de recintos des-

Afinal, tudo não passa de uma questão de Sensibilidade e Bom Senso!


Colaboração O Colégio Militar e a Ordem da Torre Espada

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Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957

O Colégio e a Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito L

i com bastante prazer, nos números 188 e 189 da nossa Revista, o artigo de autoria do Pedro Garrido da Silva (53/1961) intitulado «Os Antigos Alunos e a Politica. Colégio Militar: Escola de Valores Cívicos». Trata-se de um artigo de grande fôlego e pelo qual já tive oportunidade de felicitar o seu autor. É de facto necessário ter um grande amor à camisola, para se abalançar a produzir um trabalho desta magnitude, sabendo nós que o Pedro mantém uma intensa actividade profissional.

Entre as várias coisas que me impressionaram no artigo referido, uma delas foi a grande quantidade de notáveis Antigos Alunos que foram agraciados, uma ou mais vezes, com a Ordem da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito, que, como é sabido, é a condecoração máxima a que um português pode aspirar. Face a esta situação, resolvi procurar informação acerca desta Ordem Honorifica, informação que passo a transmitir aqueles que, como eu, se interessarem por estas matérias.

A informação que passo a apresentar foi extraída da publicação «Cadernos Militares 18-Ordens Honorificas e Condecorações Militares Portuguesas», editada pelo Estado Maior do Exército, em data que não consegui apurar. As antigas Ordens Honorificas Militares eram as seguintes: - Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito; - Ordem de Avis; - Ordem de Cristo; - Ordem de Santiago da Espada. A Ordem da Torre e Espada tem precedência sobre todas as outras. Segundo uma versão generalizada, mas baseada em textos não oficiais, D. Afonso V (o Africano) teria pensado em instituir uma Ordem, inspirado na lenda segundo a qual o domínio árabe em África terminaria logo que um príncipe cristão retirasse do seu lugar uma espada que se encontrava na torre de menagem de Fez. A sua intenção era incentivar a nossa expansão no Norte de África, rumo a Alcácer-Seguer e Arzila. Esta Ordem aparece, em diversos documentos, referida com designações várias, como «Ordem da Espada e Torre», «Ordem Militar de Santiago», etc….. Só em 1808 porém, o Príncipe Regente (depois D. João VI) retomou a ideia, para assinalar a feliz chegada da família real ao Brasil e premiar os serviços prestados ao Rei. E, por decreto real publicado no Rio de Janeiro, foi criada a Ordem da Torre e Espada, cuja medalha tinha a legenda «Valor e Lealdade». D. Pedro, regente em nome da Rainha D. Maria II, remodelou em 1832 a Ordem, cujos membros passavam a ter a precedência, em igual grau, em relação aos de todas as anteriores Ordens Militares. Isto é: a Torre e Espada passava a ser a maior condecoração portuguesa, como ainda hoje se verifica. O primeiro governo da República extinguiu todas as Ordens excepto a Torre e Espada, a qual, no entanto passava a ser reservada apenas para galardoar actos de valor militar em defesa da Pátria. Em 1917 a Ordem foi remodelada, com vista a abranger não só feitos no campo de batalha como também actos de abnegação e coragem cívica, e bem assim altos e assinalados serviços prestados à Humanidade, à Pátria ou à Republica. Em 1919 a Ordem foi extensiva a serviços prestados no comando de


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Foram nada menos do que 163 os Antigos Alunos agraciados. Ler os nomes dos agraciados é de certa maneira rever a história de Portugal dos dois últimos séculos.

tropas em campanha. A Ordem da Torre e Espada destina-se hoje (à data da edição da publicação em que se baseia este artigo) a galardoar: • Méritos excepcionalmente relevantes na chefia do Governo da Nação, nos governos ultramarinos, ou no comando de tropas em campanha;

• Feitos de heroísmo militar e cívico; • Actos excepcionais de abnegação e sacrifício pela Pátria e pela Humanidade. Compreende os seguintes graus, pertencendo a cada grau a graduação ao lado indicada, se os condecorados não tiverem outras superiores: • Grande Colar - Oficial General; • Grã - Cruz – Oficial General; • Grande Oficial – Coronel; • Comendador - Tenente Coronel; • Oficial – Major; • Cavaleiro - Alferes. Isto é: um civil ou um soldado que, em cerimónia oficial, façam uso das insígnias de Oficial da Torre e Espada, por exemplo, terão direito às honras militares correspondentes a Major. O soldado português mais famoso condecorado com a Ordem Militar da Torre e Espada terá sido Aníbal Augusto Milhais, mais conhecido por Soldado Milhões, símbolo do combatente português na batalha de La Lys, na 1ª Guerra Mundial, cuja unidade de origem era o Regimento de Infantaria 19, de Chaves. Distinguiu-se no combate de «Huit Maisons», ao proteger com o fogo cerrado da sua metralhadora a retirada de numerosos soldados portugueses e escoceses. O Soldado Milhões teria assim sempre direito às honras militares devidas a um oficial. A concessão da Torre e Espada pode ser feita, de forma colectiva, a uma Unidade Militar, por feitos ou serviços relevantes em combate. Este tipo de concessão ocorreu na Guerra do Ultramar. Quando comecei a escrever este artigo dei comigo a conjecturar acerca do número de Antigos Alunos que teriam sido agraciados, ao longo do tempo, com a Ordem da Torre e Espada. Sabia que deviam ser muitos, mas não tinha ideia do seu número exacto. Lembrei-me então de ir a «fontes seguras» procurar essa informação. Falei com o Gonçalo Leal de Matos (371/1949), que falou com o Costa Matos (96/1950), que é a memória viva do Colégio, e a resposta surgiu de um dia para o outro. A informação recebida foi muito para além daquilo que eu poderia esperar. Recebi uma lista com o ano de entrada no Colégio, número de entrada no Colégio, nome completo, grau da condecoração e posto à data da condecoração, dos Antigos Alunos agraciados. O número dos agraciados ultrapassou também tudo aquilo que eu poderia esperar. Foram nada menos do que 163 os Antigos Alunos agraciados. Ler os nomes dos agraciados é de certa maneira rever a história de Portugal dos dois últimos séculos. A começar pelo Fernando da Fonseca Mesquitela e Solla, entrado no Colégio, sem número, em 1806, e a acabar no 4/1952, meu contemporâneo no Colégio, de seu nome António Joaquim Alves Ribeiro da Fonseca, encontra-se um pouco de tudo, desde grandes estadistas a heróicos combatentes, passando pelo Alexandre Alberto da Rocha Serpa Pinto (159/1858), o grande explorador, que calcorreou os sertões de África de Angola até à costa do Índico e que foi o primeiro Aluno graduado em Comandante do Batalhão Colegial. Encontram-se Antigos Alunos agraciados logo no posto de Alferes, o que é verdadeiramente notável. São os casos do António da Silva (27/1876) e do Augusto Emílio Favilla Me-


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O próprio Colégio foi agraciado com a Ordem da Torre e Espada, cujas insígnias estão patentes no seu Estandarte Nacional... A escolta de honra ao Estandarte Nacional era constituída por uma numerosa formatura de Antigos Alunos, sob o comando de duas notáveis figuras de militares, os Generais Alberto da Silveira (121/1870) e Gomes da Costa (66/1873). Após a imposição das insígnias o Batalhão Colegial, encabeçado pelos Alunos Comandante de Batalhão e seu Ajudante, ambos a cavalo, desfilou em continência à Bandeira (como na altura se dizia). Desfilou, igualmente em continência à Bandeira Colegial o Corpo de Alunos da então Escola do Exército. Bons tempos em que se reconhecia o valor do serviço prestado pelo Colégio à Pátria e em que todos entendiam o significado de simples palavras como Honra e Dever. Aqueles que tiveram o privilégio de viver essa memorável cerimónia militar de exaltação do valor do Colégio, de certeza que a guardaram nas suas memórias até ao final dos seus dias. Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957

lquíades (104/1834). Encontram-se quatro marechais que foram Presidentes da Republica, só o Marechal António Óscar Fragoso Carmona (24/1882) não recebeu esta venera, o que pode ser comprovado na capa do nº 188 (Julho/Setembro) desta nossa Revista, em que aparecem ostentando o colar da Torre e Espada o Marechal Manuel de Oliveira Gomes da Costa (66/1873), o Marechal Francisco Higino Craveiro Lopes (27/1904), o Marechal António Sebastião Ribeiro de Spínola (33/1920) e o marechal Francisco da Costa Gomes (254/1924). No tempo da Guerra do Ultramar temos agraciados o Coronel Pára-quedista Alcino Pereira da Fonseca Ribeiro (43/1930), o Coronel de Cavalaria João Herculano de Moura (87/1931), o General João de Almeida Bruno (230/1945) e o Tenente Coronel Comando António Joaquim Alves Ribeiro da Fonseca (4/1952), este último que começou a guerra em Moçambique como furriel e que foi promovido por distinção a oficial. Não posso terminar este artigo relativo à Ordem da Torre e Espada, sem relembrar aquilo que todos os Antigos Alunos bem sabem. O próprio Colégio foi agraciado com a Ordem da Torre e Espada, cujas insígnias estão patentes no seu Estandarte Nacional, insígnias essas que não deixamos de admirar aquando dos desfiles e outras cerimónias militares em que o Colégio participa. O Colégio Militar foi agraciado por Decreto de 18 de Dezembro de 1920, com o grau de Cavaleiro da Ordem da Torre e Espada do Valor Lealdade e Mérito. A solene imposição das insígnias teve lugar no Largo da Luz, no dia 3 de Março de 1921, tendo sido a mesma imposição feita pelo Ministro da Guerra, Major Doutor Álvaro de Castro (206/1890). O Batalhão Colegial era comandado nessa data pelo Aluno 356/1914, Paulo Emílio de Brito Aranha.

As fotografias da Torre e Espada do Valor Lealdade e Mérito, inseridas neste texto, bem como a relação de AA agraciados com esta condecoração foram fornecidas pelo José Alberto da Costa Matos (96/1950)


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Antigos Alunos do Colégio Militar agraciados com a Ordem da Torre e Espada sn/1806 21/1813 28/1813 30/1813 41/1813 96/1815 94/1815 99/1815 133/1817 135/1817 44/1820 58/1821 73/1822 46/1823 81/1823 30/1824 43/1824 6/1825 97/1825 111/1825 112/1825 116/1825 57/1826 80/1826 3/1827 6/1827 31/1827 34/1828 18/1829 25/1829 8/1833 29/1834 75/1834 93/1834 99/1834 100/1834 101/1834 103/1834 104/1834 140/1835 9/1836 28/1836 63/1836 ext/1836 2/1837 30/1838 59/1838 73/1838 81/1838 16/1839 34/1840 37/1840 100/1840 95/1841

Fernando da Fonseca Mesquita e Solla José Miguel Pratt Joaquim António Velez Barreiros Jerónimo da Silva Maldonado d’ Eça Carlos Benevenuto Cazimiro Tomaz de Sousa Rosa José Maria de Almada Nuno José Severo de Mendonça Rolim de Moura Barreto Joaquim Dias da Silva Talaya António Carlos Fialho Mendonça Silvério Henriques Bessa Joaquim José de Machado e Couto Francisco Monteiro de Carvalho José Monteiro Pinto de Mesquita Luiz Malheiro Peixoto de Lemos e Vasconcellos Cláudio Caldeira Pedroso João Tavares de Almeida Francisco Xavier Lopes José Teixeira Rebelo Ivo Celestino Gomes de Oliveira Luiz Augusto Roziers José Bento Travassos Valdez António Valente do Couto Cristóvão Amaro Frederico Leopoldo Xavier de Miranda João Leandro Valladas João Pinto Carneiro Faustino José de Mena Aparício Francisco Joaquim da Palma Silva Reis Luiz Augusto de Almeida Macedo José Pedro de Mello João José Nogueira de Brito Manuel Cipriano da Costa Ribeiro José Maria de Abreu Castello Branco João Lobo Teixeira de Barros Luiz Paulino de Oliveira Pinto da França Salvador de Oliveira Pinto da França António José da Cunha Salgado Augusto Emílio Favilla Melquíades António Schwalbach Joaquim José da Graça José Maria Pereira de Almeida João Carlos Gomes Pereira Mariano Ghira Álvaro Macedo da Cunha António Xavier de Mello Lacerda Brederode Agostinho Coelho Caetano Alberto Sori José de Bettencourt Lapa José Maria couceiro da Costa António Ribeiro de Almeida António Luiz da Cunha José Ricardo da Costa da Silva Antunes Carlos Augusto Bom de Sousa

154/1841 35/1842 39/1842 137/1842 82/1843 152/1844 114/1845 113/1847 7/1848 63/1848 44/1854 155/1854 156/1854 55/1856 94/1857 159/1858 136/1859 ext/1863 73/1864 52/1865 89/1865 150/1867 116/1868 118/1868 116/1870 100/1871 129/1871 66/1873 7/1874 172/1874 185/1874 143/1874 183/1874 143/1875 182/1875 187/1875 27/1876 226/1876 5/1878 245/1878 254/1878 82/1879 113/1879 15/1881 45/1881 123/1881 141/1881 217/1881 220/1881 154/1882 155/1882 183/1882 88/1883 164/1883

Augusto César Bom de Sousa António Sampaio e Pina Teixeira Brederode Francisco Maria da Cunha José Raymundo da Palma Velho Pedro Augusto de Sousa António Maria de Mello João Eduardo Sotto Mayor Lencastre e Menezes João Maria Esteves José António Bentes Augusto Maria Camacho José Estêvão de Morais Sarmento Eduardo Diniz Lopes de Sousa António Cândido Rosado Jara Carlos Maria Pereira Viana Eduardo Augusto Rodrigues Galhardo Alexandre Alberto da Rocha de Serpa Pinto António Maria da Costa Manuel Pedro dos Santos António Júlio da Costa Pereira d’Eça João Augusto Fontes Pereira de Mello Cristiano José de Sena Barcelos Eugénio de Oliveira Soares de Andrea João Jorge Moreira de Sá Augusto César de Bettencourt António Maria da Silva Evaristo Simpliciano de Almeida Aníbal César Valdez de Passos e Sousa Manuel de Oliveira Gomes da Costa Hermenegildo Augusto dos Santos Pestana Francisco Carlos Pinto da Mota Álvaro Herculano de Cunha Aníbal Augusto Sanches de Sousa Miranda João Baptista Ferreira Eduardo Augusto Ferreira da Costa Luís Caetano Pereira Tomaz António Garcia Rosado António da Silva Joaquim Pedro Vieira Júdice Bicker Guilherme Ivens Ferraz Augusto José Fragoso Pereira Victor Leite de Sepúlveda Augusto Henrique Metzener Manuel José da Costa e Couto Filipe Trajano Vieira da Rocha Bernardo de Mello e Castro Moreira Raul Carlos Ferreira da Costa Filipe Carlos Dias de Carvalho Eugénio Augusto de Almada Castro Bilstein Menezes João de Azevedo Lobo João Carlos Craveiro Lopes António Martins de Andrade Vellez António Ladislau Parreira Carlos Ribeiro Nogueira Ferrão Luís António de Magalhães Correia

5/1883 260/1884 208/1884 159/1885 178/1885 159/1885 152/1886 91/1888 144/1888 11/1889 26/1890 218/1890 206/1890 116/1891 14/1892 132/1892 63/1893 188/1894 24/1894 103/1894 189/1894 83/1895 190/1895 192/1896 165/1896 23/1897 206/1897 162/1899 150/1899 130/1900 6/1900 59/1901 2/1902 36/1903 49/1904 54/1904 27/1904 146/1905 68/1906 281/1907 94/1908 187/1909 345/1910 394/1916 81/1917 246/1917 ext/1918 442/1918 403/1920 33/1920 254/1924 43/1930 87/1931 230/1945 4/1952

Artur Ivens Ferraz Henrique Ribeiro de Almeida Ernesto Maria Vieira da Rocha António Emídio Taborda de Azevedo e Costa Luís Augusto Ferreira Martins António Emídio Taborda de Azevedo e Costa Artur Ernesto da Silva Pimenta de Miranda José Eduardo de Carvalho Crato João Teixeira Pinto José Ricardo Pereira Cabral Jayme Theodorico da Silva Nunes Fernando Augusto Branco Álvaro Xavier de Castro José Esteves da Conceição Mascarenhas Francisco Martins Lusignan de Azevedo João Augusto de Fontes Pereira de Mello Abílio Augusto Valdez de Passos e Sousa Júlio da Conceição Pereira Lourenço Jorge Marrecas Ferreira Pimentel Manuel Luiz de Brito Vasques Benjamim Luazes Monteiro Leite e Santos Francisco Alexandre Lobo Pimentel Júlio da Costa Pinto Carlos de Barros Soares Branco Vasco Artur da Costa Cabral Luís Augusto de Carvalho Viegas João Braz de Oliveira José Mac-Bride Fernandes João Barata Salgueiro Valente António Germano Guedes Ribeiro de Carvalho José Filipe de Barros Rodrigues Joaquim Duarte Silva Henrique Augusto Perestrelo da Silva José Manuel Sarmento de Beires Ulisses Augusto Alves Francisco Maria da Costa Andrade Francisco Higino Craveiro Lopes Jorge Frederico Torres Velez Caroço Celestino Pais Ramos Fernando Júlio Borges Augusto Dantas Pimenta Serrão de Faria Pereira Aníbal Frederico da Silveira Machado Jorge Botelho Moniz Carlos Mário Sanches de Castro Costa Macedo Almor Branco Baptista Carlos Miguel Lopes da Silva Freire Venâncio Augusto Deslandes Carlos Alberto de Serpa Soares José Mendes Cabeçadas António Sebastião Ribeiro de Spínola Francisco da Costa Gomes Alcino Pereira da Fonseca Ribeiro João Herculano de Moura João de Almeida Bruno António Joaquim Alves Ribeiro da Fonseca


Colaboração A Equitação Militar

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Rui Ernesto Freire Lobo da Costa 160/1943

A Equitação Militar passado recente S

ão duas as ordens de razão, às quais estou intimamente ligado, que ficuldades, dada a carência de instalações apropriadas, campos, e até me levaram a rascunhar este breve apontamento. de cavalos específicos para os respectivos cursos - Mestres, Instrutores Uma prende-se com o facto de ter sido proveniente de Reformas que ao e Monitores - mas, apesar de todas as vicissitudes, aqueles cursos começaram a funcionar, em regime normal, no ano lectivo 1941/1942. abrangerem todo o Exército, também incidiram sobre a Equitação, seu Conforme se impunha, era fundamental definir qual a doutrina do enensino e remonta. A outra, por ter sido a minha geração a atingida e largamente beneficiada, pelas reestruturações provenientes da primeira. sino a seguir, pois não havia até então nenhuma doutrina oficializada. As Reformas de 1937, que reorganizaram o Exército de uma forma Por exemplo, o medalhado olímpico de 1936, Capitão José Beltrão era profunda (ainda hoje existem resquícios dela), foram, como é sabido, especializado pela Escola Italiana de Pinerolo. Refiro aqui o prazer e a de autoria do então Subsecretário do Estado da Guerra, meu Pai, que honra de dele ter recebido algumas lições, ainda como aluno do Colégio Militar, no então Picadeiro dos Príncipes do Palácio das Necessidacomo oficial do Estado Maior e oriundo de Infantaria sempre teve uma des. Meu Pai, entusiasta da equitação, remodelou e embelezou aquele enorme paixão e carinho pelo cavalo, seu ensino e utilização. Na época picadeiro, onde assiduamente montava a cavalo, não tendo o mesmo os reconhecimentos efectuados durante aquele curso e seus estágios, sido entregue ao Ministério dos Negócios Estrangeiros aquando da eram maioritariamente feitos a cavalo e a disciplina de Equitação, tinha influência na nota final do curso. saída do Quartel General do Governo Militar de Lisboa daquele Palácio para o actual local, em S. Sebastião da Pedreira. Refiro ainda, com Assim, de entre as várias decisões emanadas daquelas leis, saliento: enorme tristeza, que tal picadeiro, verdadeira obra de arte, foi mais • O Exército deixa de ser produtor e criador de cavalos, passando apenas a remontá-los; tarde demolido, para naquele local ser construído um «mamarracho», • São extintos os Serviços de Fomento Hípico do Ministério da Guerra; o actual Instituto de Defesa Nacional, pelo que, em minha opinião, se • Os padreadores do Depósito de Garanhões de Mafra são entregues à cometeu um crime de lesa património. Estação Zootécnica Nacional; Indagado sobre a posição a tomar, isto é, sobre a doutrina a vigorar, foi • O Fomento Hípico (registo das éguas e distribuição dos reprodutores), pasdecidido pelo Ministro, adoptar a doutrina seguida nas Escolas Militasa para a Direcção Geral dos Serviços Pecuários do Ministério da Agricultura. res francesas, designada por doutrina «Danloux». Ainda proveniente daquelas leis, foi devolvida ao Ministério da Agricultura a Coudelaria Militar de Alter do Chão, que havia sido integrada no Ministério da Guerra, aquando da implantação da República, e, aqui deixo um pormenor importante; o Subsecretário de Estado, antes da entrega, repôs no «ferro» a Coroa Real e a designação Alter Real, que a 1ª República tinha suprimido e designado apenas pelas letras AR, a que dera a leitura de Alter Raça. Ao recém-criado Depósito de Remonta de Mafra, foi cometida a missão do ensino, especialização de equitação e competentes cursos, anteriormente ministrados no Esquadrão de Equitação da Escola Prática de Cavalaria. A sua transferência não foi pacífica, por amputar à Escola Mãe o ensino do cavalo e de cavaleiros, apesar de continuar na dependência da Direcção da Arma de Cavalaria. A dita transferência foi precedida de algumas di- CSIO Madrid 1963 – Lobo da Costa e o cavalo Labrador


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Colaboração A Equitação Militar

Nesse sentido, foram enviados para Fontainebleau e Saumur, os Capitães Fernando Paes e Reymão Nogueira, que frequentaram naquelas escolas estágios de formação e aperfeiçoamento. Veio ainda para Portugal o Capitão J. Saint André, que havia sido ecuyer do Cadre Noir de Saumur, que na altura se encontrava fora do serviço activo, por razões que para o presente artigo não interessam focar. A sua vinda tem-se revestido das mais diversas versões, mas, por conhecimento pessoal, aqui conto a oficial e correcta. Vivia então em Paris, o Coronel J. Mouzinho de Albuquerque, que trabalhava na Missão Militar junto da Embaixada de Portugal. Este cavaleiro, medalhado olímpico de 1924, ao ter conhecimento da adopção da doutrina francesa pela nossa Equitação Militar, escreveu ao Ministro da Guerra, informando-o estar na altura disponível o Capitão Saint André, caso o convidassem para instrutor de Mafra, dados os seus reconhecidos méritos. Pena foi que este oficial tenha leccionado tão pouco tempo, pois foi reintegrado no Exército Francês, onde atingiu o posto de Coronel e Ecuyer-en-Chef da Escola de Saumur. Para valorizar a prestação de serviço do Capitão Saint Andre, o Ministro da Guerra ofereceu ao Exército Francês, para montada daquele oficial, o cavalo anglo-árabe «Furioso». Em 1952, nos Jogos Olímpicos de Helsínquia, o Capitão Saint André participou com este cavalo, então chamado «Vol au Vent» no Grande Prémio de Ensino. A título de curiosidade, acrescento, que um oficial do Exército Francês, Coronel Abudarhain, enteado do Coronel Mouzinho, residente em Portugal durante largos anos, ao regressar a França, outorgou-me, a titulo oficial, o enorme espólio de troféus hípicos do seu padrasto, que posteriormente entreguei ao Centro Militar de Mafra, onde se encontra exposto. Para consolidação da doutrina «Danloux» referida, passaram pelo Depósito de Remonta oficiais com os cursos de Mestre frequentados já em Mafra e que constituíram as bases de uma verdadeira escola nacional de equitação militar, conforme expresso no diploma que, em Setembro de 1950, transformou o Depósito de Remonta em Escola Militar de Equitação. Em 1957, a visão estratégica em termos organizativos do Ministro determinou a integração das diversas áreas da Educação Física no actual centro, não tendo a equitação qualquer quebra nas suas prerrogativas, nem sofrido desgaste assinalável o seu ensino de remonta, tendo sido até benéfica a junção, durante o conturbado período da Guerra do Ultramar. Como é óbvio, o elemento animal, preponderante no binómio cavalo/ cavaleiro, teve papel fundamental e para se poder fazer uma pequena ideia dos quantitativos de remonta, aqui deixo alguns números dos cavalos que passaram pelo Depósito de Remonta: • 1300 cavalos argentinos, que para além de constituírem a base das unidades a cavalo e de instrução nos estabelecimentos de ensino militar (Escola do Exército e Escola Prática de Cavalaria) deram esplêndidas montadas de desporto, sendo algumas até olímpicas. Em alguns desembarques estes cavalos argentinos protagonizaram histórias picarescas, com fugas durante as deslocações a pé para Mafra; • 200 cavalos anglo-árabe, o protótipo do saltador, que «montou», por assim dizer, toda a oficialidade; • 50 cavalos alemães; • Um número reduzido de cavalos irlandeses; • 100 cavalos nacionais por ano, distribuídos como praças, fileiras, instrução e montadas de desporto. Relembro alguns nomes de cavalos ilustres e a sua proveniência. Aos cavalos nacionais, como é hábito, é a primeira letra do nome correspondente ao ano de nascença. Nacionais: Estemido –Jacaré. Aos cavalos importados era normalmente dada a primeira letra e por vezes até a primeira sílaba do nome do chefe da Remonta respectiva.

Argentinos: Camões – Caramulo Anglo-Árabe: Ivens - Impecável – Ferraz - Febos Alemães: Martins – Martingil – Granate – Grandioso – Paleta - Palpite Apesar da introdução da motorização e mecanização da Cavalaria, a utilização do cavalo não foi esquecida, tendo, dentro das possibilidades económicas existentes, continuado, sendo até criado, por Portaria, nos quadros orgânicos das unidades de Cavalaria um pelotão a cavalo, para fazer face às necessidades da instrução e até mesmo a uma possível mobilização de pequenas unidades hipo. A esta fileira, verdadeiro alfobre de óptimos animais, íamos remontar para as mais diversas actividades hípicas. No que a mim pessoalmente diz respeito, comecei a aprendizagem no Colégio Militar, sob a égide do insigne Mestre Capitão Reymão Nogueira, regressado na altura de França e introdutor de significativas alterações no ensino, com coerentes e inovadores ensinamentos, que ainda hoje perduram, transformando a disciplina de equitação na mais requerida e conceituada daquele estabelecimento de ensino. Realcem-se, por inéditos, os jogos de horseball, hoje atribuídos a terceiros, esquecendo-se do seu verdadeiro introdutor em Portugal. Da devolução ao Ministério da Agricultura da Coudelaria de Alter, como atrás frisei, foram oferecidos ao Colégio Militar alguns cavalos daquele ferro, mas de raça Anglo-Árabe – ainda não tinha sido refeito o Puro Sangue Lusitano – o que deu possibilidade a nós alunos de montarmos excelente cavalos no desporto de competição, tendo mesmo uma dessas montadas, o Napeiro, sido olímpica. Os ensinamentos recebidos não contemplam a permanência na Escola do Exército, por no meu tempo a admissão à Arma ser com base no picadeiro e seu desembaraço exagerado, que quase considero violento, com os célebres «despeneiranços», onde o ensino era praticamente nulo. Este período foi, por assim dizer, um interregno na aprendizagem da equitação, apesar da consideração e até amizade pessoal que mantive com alguns Instrutores. A passagem pela Escola Prática de Cavalaria foi o principio do desenvolvimento do tacto equestre, sob a direcção do Mestre e seus Adjuntos de então, de quem guardo excelentes recordações, quer no desembaraço, quer no apuro técnico, que para isso tínhamos vários cavalos distribuídos, entre eles um poldro. Contudo, o supra-sumo da aprendizagem da equitação, foram, sem dúvida, os dois anos dos respectivos cursos, que efectuei em Mafra, sendo justíssimo realçar o meu Mestre de então, o Capitão Jorge Mathias, que considero o maior pedagogo na Arte e que conseguiu deixar bem vincado nos seus alunos, e foram tantos, os ensinamentos que recebeu daquela Escola e dos seus Mestres. Também pude assim transmitir aos meus alunos, do Colégio e da Academia Militares, a doutrina apreendida na prestigiosa Escola de Mafra, preconizada pelo francês Danloux e que deste recebeu o nome. Tive ainda o privilégio de, anos mais tarde, ter comandado o Centro Militar de Educação Física Equitação e Desportos, onde constatei e confirmei estar o ensino da equitação na plenitude das suas tradições, mau grado as condições económicas do tempo que se vivia não permitir as remontas de qualidade, que de facto o nobre animal merecia. Nota da Redacção Este artigo, escrito há já alguns anos, era destinado à Revista de Cavalaria, onde, por razões desconhecidas, acabou por não ser publicado. Para que este valioso testemunho não se perca, aqui o publicamos, com a devida licença do seu Autor, a quem muito agradecemos.


Colaboração Conceito Estratégico Nacional

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José Eduardo Martinho Garcia Leandro 94/1950

REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO ESTRATÉGICO NACIONAL1 13 de Fevereiro de 2013

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ncontra-se novamente em revisão, em fase de trabalho e de debate, o Conceito Estratégico de Defesa Nacional (CEDN) que se pode vir a chamar de Conceito Estratégico de Segurança e Defesa Nacional (CESDN) e que deveria ser um Conceito Estratégico Nacional (CEN), até pelo modo como o projecto existente está estruturado. Nenhuma desta designações ocorrem ao acaso e merecem ser explicadas. Uma reflexão sobre este tema é uma estudo sobre Portugal e o seu futuro, em moldes que este possa ser seguro e se conheçam os passos a dar. Se for sério e correcto pode ser o caminho de saída para a crise em que nos encontramos. Por outro lado, atendendo à situação de vergonha e de dificuldades colossais a que chegámos o verbo e discurso têm de ser claros e frontais, fugindo definitivamente à ambiguidade do politicamente correcto.

Antecedentes

(enquadramento cronológico)

Desde 1976, com a Constituição de III República, que esta é a quarta revisão que acontece; depois da Constituição que deu o grande enquadramento legal e estratégico para o novo Portugal, foram aprovados os CEDN de 1985 (muito marcado pelo contexto da Guerra Fria), o de 1994 (pós queda do Muro de Berlim e implosão da URSS, reforço das Missões de Paz da ONU, Tratado de Maastrich e o acordar de União Europeia para questões de Segurança e Defesa, novo Conselho Estratégico (CE)

da NATO de 1991 e depois da I Guerra do Golfo), o de 2003 (marcado pela globalização, pelos atentados de 11 de Setembro de 2001, pelo terrorismo transnacional, pelo CE da NATO de 1999 e pela invasão do Iraque), tendo-se iniciado em 2012 nova revisão que deve ser aprovada em 2013. Curiosamente, verifica-se que a vida real aponta para uma periodicidade de 9 anos; trata-se de pura coincidência, mas é um período que, por razões nacionais e internacionais, se tem vindo a repetir.

Mudança de conceito

(enquadramento conceptual)

Há agora uma (aparente) grande alteração qualitativa que mereceria todos os aplausos se pudesse ser levada avante. Enquanto que no passado o ênfase era dado à Defesa Nacional (alargada) dentro do quadro internacional existente, embora chamando a atenção para as componentes não militares da Defesa (a que era dada muito pouca importância pelo responsáveis políticos sectoriais), agora parece que se quer olhar para o Conceito Estratégico como Nacional (depois da insistência de muitos especialistas) tendo ocorrido dois factos (aparentemente) contraditórios. O Governo nomeou um grupo muito alargado de personalidades seniores de todas as áreas de actividade (27), a chamada Comissão Fontoura (do nome do seu Presidente), que preparou um dos melhores documentos feitos sobre estas matérias desde 1976 a que chamou de Conceito Estratégico de Segurança e Defesa Nacional

(com mais de 100 páginas) que sendo já de conhecimento público nunca foi assumido oficialmente e distribuído Além do seu rigor conceptual, honestidade, coragem para pôr o dedo nas várias feridas existentes, encarando de frente os grandes problemas nacionais, o documento, dando o salto de (pela primeira vez) considerar o planeamento da Segurança e Defesa de modo integrado é muito mais do que um CESDN para se aproximar de um verdadeiro Conceito Estratégico Nacional (CEN) já que todas as áreas da vida nacional são abordadas com detalhe. Depois do lançamento da Comissão com grande publicidade, o Governo parece que se assustou com o texto, seus considerandos, conclusões e propostas, tendo o titular do MDN declarado que se tratava apenas de mais um documento de trabalho. Em consequência, e no processo institucional de aprovação pelo Conselho Superior de Defesa Nacional (CSDN), teve o Governo de apresentar à AR as Grandes Opções do Conceito Estratégico de Defesa Nacional (GOCEDN), segundo a designação tradicional; na AR, as GOCEDN não são votadas, apenas recebendo o parecer de cada um dos Grupos Parlamentares, após o que voltam ao Governo que introduzindo as alterações que considere adequadas finaliza o projecto de CEDN e o apresenta para aprovação ao CSDN, presidido pelo Chefe de Estado. Até agora, entre as intenções anunciadas pelo Governo e a realidade existe uma aparente contradição. Aquilo que no Pro-

1 - Este trabalho foi produzido durante o processo de debate do novo CEDN e alguns dos seus conceitos são concordantes com o texto final do CEDN publicado em DR de 5 de Abril de 2013. Publicado na Revista Segurança e Defesa de Fevereiro/Abril de 2013 e a publicar na Revista de Direito e Segurança da Faculdade de Direito/UNL de Janeiro/Junho de 2013.


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Colaboração Conceito Estratégico Nacional

jecto Fontoura era o CESDN (significando um necessário e realista passo em frente) e sendo verdadeiramente uma primeira experiência de CEN, passou nas GOCEDN à designação tradicional, significando um recuo e alterando também algumas das opções do projecto do CESDN. As GOCEDN (tal como foram para a AR) dão para tudo, devendo ser o envelope que cobre o CEDN ou CESDN ou CEN. Parece que o Governo teve medo; de quê não se percebe, até porque estava no caminho certo.

Enquadramento histórico

Feito este enquadramento cronológico e conceptual será preciso um pouco de História para se perceber o passado que nos trouxe até aqui. Verdadeiramente só houve três Grandes Períodos do CEN na nossa História: - 1139/1415 - Independência, Afirmação e Consolidação; - 1415/1975 - Expansão e Ultramar (passando pelo Norte de África, Costa Africana, Oriente, Brasil e África); - 1976 - Regresso à Europa. De toda esta História Nacional, existem elementos e preocupações permanentes a reter, tais como: - Protecção do Inimigo Continental, qualquer que ele fosse; - Expansão e Ultramar, obrigando à protecção do Ultramar e das linhas de comunicação marítimas, o que significava ser uma Potência Naval ou ter uma Aliança privilegiada com a Potência Naval dominante; - Afastamento intencional das questões europeias, que se alterou a partir de 1640 com a Restauração, levando depois a um envolvimento permanente e inevitável em todos os grandes conflitos europeus; - Tendência permanente para uma importância crescente e excessiva de Lisboa; - Devido aos Objectivos Políticos e ao CEN existiu um grande peso da Componente Militar até 1982 que, naturalmente, tem vindo a decair; - Grandes deficiência estruturais no Portugal europeu, vivendo-se muito à custa das receitas do Ultramar e das remessas dos emigrantes; - Em virtude da sua expansão mundial, actualmente o Português é a sexta língua

mais falada no mundo e a terceira europeia, o que reforça o nosso potencial estratégico. A grande e mais importante conclusão de quase nove séculos de História é que: Portugal foi obrigado à expansão por não dispor de recursos próprios no seu território europeu e a leste estar bloqueado por Castela/Espanha; assim teve de sair para o mar para todas as zonas geográficas que a História regista, fazendo a sua colonização por necessitar de recursos inexistentes na Europa. Lembro-me de ter ouvido o Prof. Marcelo Caetano, então PM, nas sua “Conversas em Família” afirmar que não via alternativas para a continuação da guerra em África. Inicialmente não o percebi; o que se passava é que, não havendo então os Fundos da CEE, aquele PM considerava indispensável as chamadas Províncias Ultramarinas como fonte de recursos e não tinha, na altura, outras opções. E não via capacidades próprias em Portugal. O regresso à Europa em 1976/1986 não alterou esta necessidade de recursos externos, quer os Fundos Europeus ( quantas vezes mal aplicados), quer os empréstimos realizados sempre em crescendo, quer ainda as remessas dos emigrantes e o investimento estrangeiro; ora parece que alguns responsáveis políticos a partir de 1976 não perceberam a situação ou não tiveram engenho, arte e poder para implementar as medidas indispensáveis. Apesar desta afirmação, os anos até 1982, e mesmo até 1986, devem merecer uma compreensão especial. Houve também uma mudança dos paradigmas políticos e económicos, nacionais e internacionais, dos quais não se retiraram todas as conclusões (ou que não foram compreendidos). Portugal após 560 anos de potência ultramarina passou (1974/76) a deter apenas o seu território europeu, integrando a CEE desde 1986; foram duas grandes alterações sem que as mentalidades tivessem mudado. A isto acresce que a situação mundial, em que nos integramos, vive desde 1989/91 (queda do muro de Berlim e implosão da URSS) em convulsão permanente, agravada pelas consequências da globalização na economia, finanças, crime organizado e terrorismo.

No período de 2001/03 ocorreram o ataque do 11 de Setembro, o lançamento do Euro como nova moeda internacional e a invasão do Iraque, para mais recentemente (desde 2008) ter rebentado a grande crise financeira mundial (capitalismo financeiro desregulado, segundo o Papa Bento XVI) , os problemas agravados com o Irão, as várias Primaveras Árabes de final problemático, além da ascensão mundial, económica e militar da China para os primeiros lugares do Poder.

Fragilidades

Com este pano de fundo, devia ter havido um comportamento nacional que lhe desse a devida resposta, o que não teve lugar. Se nos dedicarmos agora ao período pós 1986, verificamos que aconteceram em Portugal, em simultâneo, quatro fragilidades: - Erros Estratégicos; - Falhas de Liderança, agravadas a partir de 1995; - Incompetência Executiva; - Comportamentos Criticáveis. Assim, o que agora nos está acontecer era previsível e evitável, tendo ocorrido dezenas de avisos (reforçados desde 1995) aos quais não foi dada qualquer importância. Vamos tratar de cada um dos casos: 1-Erros Estratégicos (o que não deveria ter sido feito e o que devia ter sido realizado) : • Não havendo mais espaço geográfico para nos deslocarmos ou para conquistar, haveria obrigatoriamente de nos concentrarmos no espaço sobrante e na qualidade do ensino e da produção doméstica; • Devia ter sido feito o aproveitamento completo do nosso espaço marítimo; em vez de desenvolvermos e modernizarmos as pescas ajudou-se à sua destruição (no mesmo período, desde 1986, a Espanha triplicou a sua frota pesqueira); simultaneamente deveria ter sido feito todo um esforço na investigação e no aproveitamento dos recursos marítimos (só há poucos anos é que acordámos e devido à pressão de entidades sem responsabilidades governativas, mas ainda sem resultados concretos). Eu próprio, escrevi há anos que o Mar poderia ser o novo ouro do Brasil; • Não ter deixado que a nossa Agricultura tivesse sido destruída, bem como apostar na modernização de algumas indústrias tradicionais;


Colaboração Conceito Estratégico Nacional

• Apostar na Prospectiva Estratégica, tentando perceber que novos caminhos se iriam abrir para o Mundo, aproveitando novas oportunidades e concretizando novas Alianças (também, enquanto Director do IDN insisti neste assunto, tendo apenas sido apoiado pelo Prof. Freitas do Amaral, que na altura escrevia semanalmente na última página da VISÃO); • Criar condições legais e burocráticas que facilitassem e atraíssem o investimento estrangeiro; • Apostar fortemente na investigação e nas novas tecnologias, criando empresas tecnologicamente muito avançadas; • Ter uma linha firme de orientação na Educação (recuperando o ensino técnico-profissional), em vez de serem feitas experiências ad-hoc cada vez que o Governo mudava, e evitando o descontrolo na abertura de cursos universitários, alguns com poucas possibilidades de emprego; • Necessidade de, nas grandes questões nacionais, existirem (independentemente do Partido governante e da sua percentagem de votos) programas de actuação a 8/10 anos, devidamente consensualizados com os outros Partidos do Arco Governamental; quem pensa actualmente que pode resolver grandes questões nacionais em períodos de 4 anos (mesmo com maioria parlamentar) é completamente irresponsável. Sobre esta questão tem sido feita grande insistência pelo antigo Presidente Jorge Sampaio. 2-Falhas de Liderança: • Os responsáveis governamentais (independentemente do Partido Político de origem) têm ficado muitas vezes reféns dos interesses e dos jogos políticos locais, dos interesses corporativos e sindicais e da visão limitada das suas juventudes partidárias; em consequência, a qualidade dos dirigentes governamentais, bem como as suas práticas têm-se ressentido e progressivamente tem aumentado a sua fraca qualidade; • Frequentemente os responsáveis nacionais têm demonstrado estar reféns destes interesses sectoriais ( basta citar, entre muitos, o exemplo desastroso dos 10 estádios de futebol construídos ou modernizados para o EURO 2004, quando a UEFA só preconizava a necessidade de 6). O cha-

mado poder central não se afirmou e ficou refém do triângulo futebol, autarquia e cimento, com mais empréstimos sem rentabilidade, esquecendo o interesse nacional, mas na perspectiva de ganhar popularidade localmente, ou de não ter capacidade para aguentar a pressão regional; • A visão de curto prazo dos Partidos nacionais faz com que sejam feitas todas as cedências para a conquista de votos, ficando posteriormente muito limitados na sua acção (a questão da revisão do Estatuto da Região Autónoma dos Açores é uma paradigma do oportunismo e irresponsabilidade dos Partidos representados na AR). 3-Incompetência Executiva • Já se verificou que do modo como os dirigentes governamentais são escolhidos, em muitos casos, não podem ter qualidade; • Até muito recentemente a acção do Banco de Portugal foi meramente simbólica; com outro tipo de actuação e vigilância poderiam terem sido detectados atempadamente os casos do BPN e do BPP, além de outras questões menos graves, que todos estamos a pagar; • O modo como a questão dos empréstimos públicos tem sido tratada demonstra à saciedade enorme incompetência; períodos houve que o próprio Governo não só se auto-endividava como influenciava os cidadãos para esse objectivo. Se o actual caso da dívida pública e do deficit nacional foram agravados pela crise mundial surgida em 2008, o mal já cá estava, porque o trabalho de casa não tinha sido feito. Não é preciso ser um economista reputado para perceber que não se pode aumentar indefinidamente a dívida; os seus limites estão na capacidade programada de pagamento. Acresce que a dívida nacional é o somatório de todas as dívidas, incluindo empresas, institutos e fundações públicas, autarquias, etc. Como foi possível? Não existia uma entidade estatal que soubesse fazer contas de somar e a tal estivesse obrigada? O PM não precisa de as saber fazer, mas o MF e as Universidades estão cheios de especialistas; acresce que os técnicos e os cientistas têm de ser rigorosos nas suas opiniões, não se sujeitando à pressão dos detentores do poder político; não podem ser politicamente correctos,

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mas sim profissionalmente competentes e honestos nas suas posições. No final de 2001, depois de eleições autárquicas que o PS perdeu, o PM António Guterres demitiu-se, declarando que o país tinha entrado num pântano; Em 2002, depois de ter ganho as eleições, o PM Durão Barroso afirmou que o País estava de tanga; a sua Ministra das Finanças, M. Ferreira Leite, instaurou um período de grandes restrições orçamentais e teve de utilizar receitas extraordinárias para reduzir o deficit; Em 2003, no IDN, eu escrevi que “os países também se abatem sem necessidade de inimigos externos, apenas pela acção dos seus cidadãos”, texto que foi guardado pelo então Presidente, Jorge Sampaio, que presidia à sessão, e publicado pela Revista Nova Cidadania do UEP/UCP; Em 2004, o PM Durão Barroso foi para Presidente da Comissão Europeia e o governo do PM Santana Lopes, depois de ter prometido reduzir o deficit rapidamente, foi de muito curta duração; Em 2005, o novo PM José Sócrates, mesmo com estes avisos promete criar mais 150.000 empregos numa legislatura......; tudo isto são factos que não mereceram uma mínima reflexão. Como foi olhada a questão estrutural da economia e das finanças nacionais durante tão longo período e com tantos avisos? Incapacidade dos Tribunais, que tem muito a ver com a legislação produzida a jorros pela AR e pelo Governo (muitas vezes contraditória e mal feita), fracas condições de trabalho, conflitos entre os vários componentes da Justiça, mas também desinteresse, espírito doentiamente corporativo da parte de alguns Juízes e do Ministério Público, organização e métodos desadequados da realidade; O deslumbramento que muitas vezes encadeia aqueles que são nomeados para cargos públicos e que pouco conhecem da máquina do Estado, levando-os a tudo ter de aprender, a atrasos incompreensíveis ou a erros e ideias impensáveis; 4-Comportamentos Criticáveis Nos princípios dos anos 90, em debate parlamentar, ouvi o PM Cavaco Silva, responder na AR, irritado, que “Portugal não era um país de corruptos”.


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Fiquei muito admirado e perguntei-me: “Mas será que o nosso PM conhece o país em que vive?” O futuro, claramente, tem vindo a demonstrar que Portugal é um país com muitos deslumbrados e de muitos corruptos; os casos são às centenas e já há alguns anos o DR publica os contratos e aquisições sem concurso para que não restem dúvidas; a AR tem o cuidado de legislar sempre a favor dos seus membros; os casos das reformas e das viagens dos Deputados tudo deixa claro. Por outro lado, os dois maiores partidos do centro embora aparentemente se confrontem não deixam que os lugares mais apetecidos (nas empresas, fundações e institutos públicos) caiam noutras mãos ou que as suas remunerações e senhas de presença sejam limitadas, mesmo quando o País atravessa uma crise sem precedentes. Bem pode o grande esforço feito pelo Tribunal de Contas para regular, ensinar e fiscalizar ser realizado com muito denodo que os resultados ficarão sempre aquém do necessário, pois o grande polvo e os polvos menores estão devidamente instalados. Acresce que este Bloco Central de Interesses deixou (e ajudou) que se colasse à maquina do Estado (incluindo Autarquias, Fundações e Institutos Públicos, etc.) um conjunto de milhares de lapas bem agarradas que sendo o seu apoio, pouco produzem e será difícil retirar. Quem será capaz de retirar estas lapas que são o apoio dos dois grandes Partidos Nacionais? Não se tem conhecimento de políticos que sejam responsabilizados pelas suas más práticas, pelos prejuízos que trouxeram ao erário público ou por decisões que prejudicaram o todo nacional (mesmo quando existem decisões dos quatro níveis hierárquicos dos nossos Tribunais). Penso que não vale a pena continuar, pois os avisos têm sido muitos (Ernâni Lopes, Medina Carreira, João Cravinho, Vítor Bento, Marques Mendes, M. Ferreira Leite, João Duque, Peres Metello, Camilo Lourenço, José Gomes Ferreira, etc., etc.) e todos os portugueses terão conhecimento de muitos casos que ignoro. E não será preciso falar nos sucessivos apelos dos antigos Presidentes da República!

O que se pode concluir de tudo isto?

Não é a arquitectura constitucional que está mal; é o modo como alguma legislação está feita e os sucessivos responsáveis dos maiores Partidos Políticos se têm comportado, sem nunca serem responsabilizados. Acresce que o povo português tem demonstrado um apego à Democracia e uma capacidade de resiliência que merecem registo e são de elogiar; no meio de grandes crises não aconteceu qualquer procedimento violento ou descontrolado como ocorreram noutros países. É mais um sinal de que merecemos ser bem governados e que os governantes devem sempre apresentar as situações de modo claro e com verdade, pois a população está em condições de compreender e de apoiar as soluções, ainda que difíceis. Nunca se deve esquecer o exemplo de Churchill que, em plena II Guerra Mundial e quando Londres estava a ser bombardeada pela aviação alemã, declarou ao seu povo: “Nada mais tenho para vos dar, a não ser sangue, suor e lágrimas”; é, evidentemente, um exemplo limite, mas que demonstra a estatura de um governante e um comportamento a seguir. Verdade seja dita que o nosso actual PM tem tido preocupação semelhante, mas fá-lo muitas vezes de modo totalmente desajeitado. Os milhões de euros que têm vindo da CEE/ UE nalgum lugar hão-de estar, havendo certamente mais dinheiro distribuído democraticamente pelos membros dos grandes Partidos e pelas redes de influência criadas sob a sua capa do que se possa imaginar. O grande drama nacional da Corrupção está essencialmente ligada ao comportamento dos Partidos Políticos ( toda a gente o sabe, não vale a pena disfarçar); por isso nunca haverá leis anticorrupção feitas em condições, nem processos anticorrupção que cheguem ao fim (com muito raras excepções). Enquanto não se alterar o comportamento dos Partidos Políticos e dos seus responsáveis, o País não tem solução, pelas diferentes razões que aqui aduzi. Sabe-se o que há a fazer, mas é preciso que alguém o faça; doutro modo podemos vir a desaparecer. Para ser credível o esforço deste Governo também tem de se concentrar na luta anticorrupção (acredito que o queira fazer; será capaz?).

É da História, muitos países, mesmo com longo historial têm desaparecido por “suicídio colectivo”. Com este comportamento, tal também nos pode vir a acontecer...... E nós? Alguém acredita nas promessas que os Partidos Políticos fizeram para as eleições legislativas de 5 de Junho de 2011? A nossa resposta será a prova do Estado do Regime! ....e a resposta já existe! Por vezes, tem havido honestos cidadãos, de grande fé democrática, que crêem que seria necessário refundar o Regime, criando a IV República e aprovando uma nova Constituição. Também já acreditei nessa hipótese; hoje duvido que resulte, já que os Partidos aparentemente se transformariam, mas os procedimentos continuariam a ser os mesmos, assim como os seus membros. O problema está na falta de valores, de formação cívica individual e de falta de sentido de Estado, de rigor e de responsabilidade nacional daqueles que dominam algumas empresas, bancos e as máquinas político-partidárias. ....e que não irão mudar. Por outro lado, a Ordem Mundial está em grande mudança e a própria UE atravessa grandes dificuldades. No desenhar das acções que devem orientar o nosso esforço colectivo estes dois factores, que não desenvolverei agora, devem ser tratados com especial prioridade e saber. Apenas quero sublinhar que a mudança mundial que está em curso terá consequências tão profundas como a Revolução Francesa e a Revolução Industrial e os finais das I e II Guerras Mundiais. É uma ideia que espero fique registada nos espíritos de quem me lê! E que se pense e se aja do melhor modo. É no quadro destas grandes alterações que temos de encontrar o melhor caminho para Portugal.

Isto foi o passado que nos trouxe até aqui. São conhecidas as soluções e as grandes dificuldades do actual Governo PSD/CDS, bem como o sério esforço que tem vindo a fazer com perseverança e permanência tudo fazendo para cumprir o acordo com a “troika” que não assinou, mas que quer honrar. Este Governo tem um modelo de solução que não tem provado; tem tido como


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grande objectivo o rigor orçamental e das contas públicas, envolvendo a redução do deficit e da dívida pública, o que nos atirou para uma situação de austeridade sempre crescente (já que as projecções e previsões feitas têm sido periodicamente desmentidas pela realidade), com graves problemas económicos e sociais (as falências, a falta de investimento, o desemprego, a crescente emigração de quadros qualificados), sem que se consigam encontrar sinais de esperança no retorno ao crescimento económico e ao investimento. Mesmo nos sacrifícios pedidos não tem havido equidade, pois são sempre abertas excepções.

As propostas do Projecto de CESDN

Interessa agora saber o que de útil se pode retirar e ganhar com o Documento Fontoura (Projecto do CESDN). Este documento faz uma análise muito detalhada da situação nacional, bem como da evolução internacional e apresenta propostas que podem ser aproveitadas, desde que encontre uma nova metodologia de trabalho. Para agora, interessa salientar o seguinte: • São ali considerados como Pilares da Estratégia de Segurança e Defesa Nacional o Crescimento Económico e Social, a Diplomacia e as Forças Armadas (estes três elementos são o grande enquadramento nacional). • No seu Conceito de Acção Estratégica são considerados 20 Vectores de Acção Estratégica distribuídos por três grupos: I - Combater os principais constrangimentos e vulnerabilidades nacionais 1. Resolver a crise de endividamento externo para recuperar a liberdade de acção; 2. Retomar o crescimento económico e reposicionar-se na globalização; 3. Desenvolver o potencial de recursos humanos; 4. Gerir o envelhecimento da população de forma solidária e integradora; 5. Garantir a segurança do abastecimento energético e alimentar; 6. Ordenamento do Território e protecção das populações dos riscos naturais; 7. Conectividade internacional e controlo do espaço marítimo e aéreo; 8. Melhorar a eficácia do Sistema de Justiça.

II- Exercer Soberania, Prevenir e Combater Riscos e Ameaças à Segurança Nacional 1. Uma diplomacia (bem) integrada; 2. As Informações – conhecer para prevenir e combater; 3. Adequar a política de segurança e defesa nacional ao novo quadro estratégico; 4. Afirmar e aprofundar as relações externas da Defesa; 5. Valorizar as outras missões de interesse público das Forças Armadas; 6. Adaptar e racionalizar estruturas; 7. Rentabilizar meios e capacidades; 8. O âmbito da Segurança Interna. III- Valorização de Recursos Distintivos (casos específicos de Portugal) 1. Apostar no conhecimento, na tecnologia e na inovação; 2. A exploração dos recursos na Plataforma Continental alargada; 3. A fachada atlântica do país ao serviço do crescimento e emprego; 4. Valorizar a língua e a cultura portuguesas. É ainda dedicado um curto capítulo ao modo como deve ser feita a operacionalização e o controlo do CESDN, o que é indispensável. Dito isto, definidos que foram estes 20 Vectores de Acção Estratégica , como fazer para lhes dar corpo e execução? Para a sua implementação correcta e coerente há cinco questões que têm de ser compreendidas e aceites pelo todo nacional: 1. Trata-se de um projecto de longo prazo (10 anos); 2. Para a sua implementação terá de ser encontrado um consenso entre os Partidos Políticos do arco governamental, único modo de lhe dar continuidade; 3. Os Partidos Políticos têm de alterar a sua conduta, procedendo de modo a evitar as fragilidades e os defeitos existentes até hoje e de todos conhecidos; precisam de reconquistar a confiança dos eleitores e de ser capazes de se entenderem para resolverem os problemas nacionais, única razão pela qual existem; 4. Tem de existir suporte financeiro, o que significa que têm de ser definidas fases, já que nunca há meios financeiros para tudo abarcar simultaneamente (a definição de

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prioridades é das mais importantes decisões estratégicas que se apresentarão aos sucessivos Governos); 5. Há que definir as prioridades para a primeira fase que, a meu ver, devem ser: a) Resolver o problema do deficit e da dívida pública, b) Conseguir aumentar o investimento e o emprego; c) Melhorar a eficácia da Justiça; d) Garantir a apoio à saúde e segurança social da população; e) Garantir a Grande Segurança (vulgo, Defesa e Segurança Interna) a que, aparentemente, o MDN não está a dar importância. Esta metodologia permitirá sairmos da crise em que nos encontramos, o que passa pela aceitação das condições postas e por uma gestão muto rigorosa dos meios humanos, materiais e financeiros. Poder-se-á dizer que este é o caminho que está a ser seguido pelo Governo; talvez e apenas nalgumas questões ligadas ao controlo orçamental, mas não nos conceitos, na necessidade crucial dos prazos, consensos e continuidade. O Governo parece que navega à vista e (muitas vezes) isolado; com aquilo que se propõe passaria a ter um Programa de Médio e Longo Prazo. O actual Governo ainda olha apenas para a primeira fase e com resultados aquém do esperado por si próprio, o que é consequência de conhecer mal o País e a máquina do Estado. Mas a rara importância da questão e desta crise nacional sem precedentes, obriga a que a solução envolva todos os Partidos Políticos e a Sociedade Civil (tão mencionada, mas quase sempre esquecida e maltratada). Mas há uma questão de Conceitos onde creio haver uma visão errada. Num mundo a caminho da globalização completa, nomeadamente na economia, finanças, crime organizado e terrorismo, os Estados Médios e Pequenos não podem cair na armadilha simplista e na leitura directa “de menos Estado, mas melhor Estado”. O Estado pode ser mais pequeno em muitas áreas, mas tem de ser forte (não quer dizer grande) nos Ministérios da Soberania (Estrangeiros, Defesa, Administração Interna, Justiça e Finanças); doutro modo será dominado sem qualquer dificuldade por multinacionais de diferentes activida-


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des e origens e pelos representantes dos países mais fortes (muitos querem a globalização no exterior, mas não em sua casa). Por alguma razão, continuam a existir economistas que defendem que os países devem manter grandes reservas de ouro em vez de confiarem exclusivamente no jogo volátil das reservas de divisas. E se este caminho que preconizo não for seguido?

Bem! Se assim não for, com este modelo ou outro semelhante, mas que tenha as mesmas preocupações, não sei o que acontecerá; poderá ser o pior. Este modelo ou algo de muito parecido permitirá dispor de um pensamento estratégico coerente, consensualizado, de longa duração, que evitará improvisos ou voluntarismos indesejáveis, garantindo resistência a pressões sectoriais e que será

um carril a seguir por sucessivos Governos. Se tal metodologia e comportamentos não forem aceites os documentos aprovados (GOCEDN, CEDN ou CESDN ou CEN) não servirão para nada, pois nunca serão executados. Trata-se de um caminho novo, difícil e trabalhoso, mas na grave situação em que nos encontramos não imagino grandes alternativas para sobreviver como Nação e Estado independente e respeitado.

Nota da Redacção sobre o 94/1950, Garcia Leandro Presidente da Direcção da AAACM no período 2005/2008 e Presidente da sua Assembleia Geral no mandato 2008/2011, Tenente-General, nasceu em Luanda, Angola no ano de 1940. Frequentou o Colégio nos anos de 1950 a 1957 e o Curso de Artilharia da Academia Militar de 1957 a 1961. Cumpriu cinco comissões de serviço no ex-Ultramar, sendo duas em Angola (1962/64 e 1970/72) e uma na Guiné (1965/67), em situações de guerra, uma em Timor como Chefe de Gabinete do Governador de Timor (1968/70), tendo sido Governador de Macau entre 1974 e 1979. No âmbito do ensino foi Professor do Instituto de Altos Estudos Militares e Professor convidado do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas entre 1999 e 2005, para o Mestrado de Estratégia, bem como, da Universidade Nova de Lisboa e da Universidade Autónoma de Lisboa, sendo desde 2003/04 professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, para o Mestrado de Segurança e Defesa, e, desde 2009 do Instituto Superior de Ciências de Informação e Administração de Aveiro (ISCIA). Entre as funções que desempenhou salientam-se as de Conselheiro Militar da Delegação de Portugal junto da OTAN (PODELNATO) Bruxelas, Comandante Operacional do Exército, Comandante da Componente Militar da Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental (MINURSO), Director do IAEM, Vice - CEME, Director do Instituto da Defesa Nacional, Presidente do Conselho Coordenador do Ensino Superior Militar e Presidente do OSCOT (Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo), sendo também um dos membros fundadores da PASC (Plataforma Activa da Sociedade Civil) em Janeiro de 2010. Representou Portugal em muitas reuniões internacionais, tem publicado vários trabalhos e artigos e proferido diversas conferências em Portugal e no Estrangeiro no âmbito do Ensino Superior Militar, da Estratégia, das Relações Internacionais, da Gestão de Crises, dos Sistemas Colectivos de Segurança e das Missões de Apoio à Paz. Actualmente é Presidente da Assembleia Geral do Observatório de Segurança Marítima (ISCIA) e do OSCOT, Curador e Administrador da Fundação Jorge Álvares, Curador da Fundação Casa de Macau e do Instituto da Democracia Portuguesa, Presidente em exercício do Conselho Geral da Universidade Aberta, Membro do Conselho Técnico-Científico do ISCIA e Académico Correspondente da Academia Internacional da Cultura Portuguesa. É autor do livro “Macau nos anos da Revolução Portuguesa - 1974/1979” publicado pela GRADIVA em 2011. Ao longo da sua carreira foi agraciado com as seguintes condecorações: - Cruz de Guerra de 2ª Classe; - Comendador e Cavaleiro da Ordem Militar de Aviz; - 1 Medalha de Ouro de Serviços Distintos; - 4 Medalhas de Prata de Serviços Distintos; - Grã-Cruz de Mérito Militar; - Medalhas de Mérito Militar de 2ª e 1ª classe; - Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique; - Medalha de D. Afonso Henriques (Patrono do Exército) de 2ª classe; - Medalha da Defesa Nacional de 1ª classe; - Medalhas de Prata e Ouro de Comportamento Exemplar; - Medalhas Comemorativas das Campanhas no Ultramar: Angola (63/64 e 71/72) e da Guiné (65/67); - Medalha Comemorativa de Expedições ao Ultramar: Macau (74/79); - Medalha Comemorativa da ONU-MINURSO 1996; - Comendador da Ordem Nacional de Mérito de França - 2002; - Medalha do Pacificador (Duque de Caxias) do Brasil -2007. Recebeu o Prémio Barretina 2011 / Dedicação, da AAACM.


Colaboração O que é isso do eCommerce?

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José João Marques Medeiros de Almeida 497/1995 josemedeirosdealmeida@gmail.com

O que é isso do eCommerce?

O

eCommerce ou comércio electrónico, de uma forma muito simplificada, é o acto de comprar e vender pela Internet. A ideia romântica de comprar e vender sem sair de casa, tornou o eCommerce na grande moda do final do século XX. Para os vendedores era a grande possibilidade de terem pouco mais que os custos de armazenamento, para o comprador era a grande comodidade de ter em sua casa, sem esforço e à distância de um clique, todo o tipo de produtos. Este conceito, herdado das televendas e das vendas por catálogo, fez florescer um conjunto de tecnologias embrionárias. Para comprar e vender era necessário um modo de pagamento seguro. Nasceram várias tecnologias como o Paypal (modo de pagamento criado em 1998 e o mais utilizado no mundo) que serviam de intervenientes entre o comprador e o vendedor, de forma a tornar a transacção segura. Teoricamente o eCommerce traz um conjunto de vantagens que não podem ser rebatidas por nenhum sistema. Uma empresa que adira ao eCommerce terá acesso a uma plataforma de venda disponível 24h´s por dia e 365 dias por ano. Não necessita de espaço físico, reduzindo custos com o arrendamento, facilidade em entrar em novos mercados, não necessita de stocks (pode adquirir os produtos ao mesmo ritmo que os vende, aquilo que chamam drop shipping) e permite a criação do perfil de cada cliente, conhecendo os seus hábitos e publicitando os produtos que mais se adaptam à sua forma de comprar.

Há poucos anos pensou-se que todo o comércio poderia passar a funcionar exclusivamente online, facilitando a vida a todos e dispensando a ida aos supermercados. Cedo se concluiu que existem alguns produtos que muito dificilmente seriam vendidos online. Todos os produtos frescos e rapidamente perecíveis não são vendidos online com facilidade. No grande retalho, os produtos de eleição são os produtos de fácil armazenamento, como o arroz, massas e farinhas, já no mercado tecnológico, poucos são os produtos que não são vendidos online. A compra online de produtos tecnológicos permite com bastante facilidade a fuga ao pagamento de impostos, fazendo com que o preço do produto baixe consideravelmente. O comprador online é normalmente um comprador que consegue resistir à compra por impulso, fazendo uma pesquisa mais apurada e resistindo à meteorologia das emoções que uma loja física oferece. Contrariamente ao que acontece noutros países, Portugal não tem uma cultura de compra e venda online, o comprador online português, pertence a um pequeno nicho de utilizadores que já acredita nas vantagens de poder comprar pelo mundo sem sair de casa. Apesar de todas as vantagens que o comércio online oferece, muitas vezes o comprador sente-se como um trapezista sem rede, quando algum tipo de dificuldade surge durante a transacção. Comércio online, sim! Mas não para todos. É um meio que tem que amadurecer, ainda é uma criança que não chega com os pés ao chão.


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Colaboração Antigos Alunos nas Tropas Pára-quedistas

Nuno António Bravo Mira Vaz 277/1950

Antigos Alunos nas TROPAS PÁRA-QUEDISTAS António Victor Reynaud da Fonseca Ribeiro (43/1968) Conheci o Tarzan nos anos sessenta, em Luanda. O pai dele, o saudoso Alcínio Ribeiro, então tenente-coronel, era o comandante do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas n.º 21, onde estive colocado entre 1963 e 1965. Quando hoje estou com o Vitor Ribeiro, não o acho muito diferente do miúdo que fazia acrobacias na praia da Ilha, nem do jovem subalterno que, na transição dos anos setenta para oitenta, revelou na BETP um grande sentido do dever e uma dedicação enorme à missão, enquanto, por outro lado, conquistava superiores e subordinados com provas inexcedíveis de camaradagem. E lembro-me das suas excepcionais aptidões para a prática da queda livre e da sua modéstia, sempre procupado em não dar nas vistas. Se o Tarzan se orgulha de ter pertencido ao Colégio Militar e às Tropas Pára-quedistas, estou certo de que tanto o Colégio Militar como as Tropas Pára-quedistas se sentem orgulhosos por ele ter passado pelas suas fileiras.

A minha passagem pelos “Páras” (1977-1981) Estamos no ano de 1977 e eu acabara de sair do Colégio, onde tive o nº 43/1968 (finalista em 1975-1976), filho do 43/1930

(por curiosidade, o meu filho Salvador também foi o 43/1999) – três gerações de 43. Quem se lembra do País nesta altura, recorda-se que a situação não era nada boa, era, aliás, muito parecida com a que es-

Nuno António Bravo Mira Vaz 277/1950 O Coronel Alcínio Ribeiro (43/1930) impõe o brevet e a Boina Verde ao seu filho Victor Ribeiro (43/1968)


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tamos a atravessar, nomeadamente, com uma taxa de desemprego muito elevada, poucas perspectivas de vida, o ensino num caos (era a época dos serviços cívicos e dos anos propedêuticos) a admissão às faculdades fechada, entre muitas outras coisas. Importa fazer também o enquadramento das Tropas Pára-quedistas à época, (depois do 25 de Novembro de 1975), que era o seguinte: as praças que estavam em Tancos no RCP (Regimento da Caçadores Pára-quedistas) foram todas passadas à disponibilidade, um grande número de Sargentos do Quadro Permanente foram mandados regressar ao Exército, os Sargentos Milicianos passaram à disponibilidade e um grupo muito reduzido de Oficiais regressou também ao Exército. Durante o ano de 1976 houve poucas incorporações, estando as tropas pára-quedistas reduzidas praticamente a um Batalhão pronto (que tinha chegado, em finais de 1975 de Angola, após a Independência deste País), algumas praças RDs (readmitidas) e um grupo reduzido de Sargentos e Oficiais. Assim, estavam os Pára-quedistas em 1977, numa fase de reestruturação, de incorporações muito selectivas e de instrução ainda mais rigorosa. Depois desta breve introdução e de recordar o “estado da Nação”, passo a contar a minha história no período 1977-1981. No início de 77, desafiei o meu camarada de curso Pedro Santa Bárbara (512/1969) para nos alistarmos ambos como voluntários nos Pára-quedistas. O Pedro falou com os Pais (na altura os filhos falavam, aconselhavam-se e ouviam os Pais…) e, estes concordaram em que se alistasse comigo nos “Páras”. O Pai do Pedro foi Capitão de Mar-e-Guerra, um distinto Médi-

co e Director do Hospital da Marinha. Em relação a mim, como o meu Pai (coronel Alcínio Ribeiro, 43/1930) tinha sido um dos fundadores dos Pára-quedistas, e como a minha Mãe por inerência também “usava Boina Verde”, com a situação de um País sem rumo, concordaram plenamente com a ideia, para que eu não ficasse na “vadiagem” e sem nada para fazer. Ao mesmo tempo, sabendo da pretensão de longa data do António Pires (646/1969) em ser voluntário para os Comandos, o Pedro Santa Bárbara e eu desafiámo-lo a juntar-se a nós e os três concorremos aos “Páras”, como voluntários. Assim foi. Em Setembro de 1977, após termos passado um ano “à boa vida”, sem aulas nem trabalho, lá fomos fazer provas ao antigo DGAFA – HFA (Hospital da Força Aérea) no Lumiar, um dos centros de selecção para as Tropas Pára-quedistas. Ficámos os três aptos, tendo assentado praça logo em 24 de Novembro de 1977, na Base Escola de Tropas Pára-quedistas (BETP). Como o Pedro Santa Bárbara e eu já tínhamos o antigo 7º ano concluído, fomos incorporados num pelotão de 35 “Catatuas” (nome dado aos instruendos quando entram para os “Páras” e ainda não ganharam a “Boina Verde”) destinados ao COM (Curso de Oficias Milicianos). O Tó Pires foi parar a um dos pelotões dos 150 “Catatuas” que iam fazer o CSM (Curso de Sargentos Milicianos) por não ter o 7º ano concluído, pertencendo todos à 2ª Companhia de Alunos. No primeiro dia, quando estávamos nos procedimentos habituais, à época, como sejam cortar o cabelo à maquina 1, receber armamento, equipamento, etc., encontrámos o Tovim (566/1969) também nosso camarada de curso de entrada, na mesma

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incorporação e para o CSM. Assim, estávamos na mesma incorporação 4 elementos do mesmo curso do Colégio Militar. Gostaria de salientar que, à data, o 2º Comandante da BETP era o Tenente-Coronel Pára-quedista Nuno Mira Vaz (277/1950). A frequentar o Curso de Pára-quedismo encontrámos o Tenente Luís Krug (269/1964, que teve 2 filhos no CM – o Luís 299/1992 e o Pedro 252/1994) vindo da Academia Militar. O Zé Lousada (289/1968), do meu curso de entrada no Colégio, já tinha acabado o Curso de Pára-quedismo, estando na altura no Curso de Combate e no 2º Ciclo do COM, em virtude de ter entrado cerca de 3 meses antes de nós. Como atrás mencionei, o meu Pai, Alcínio Ribeiro, foi um dos pioneiros dos Pára-quedistas Militares em Portugal, tendo sido uma referência como Pára-quedista, como Comandante e como Combatente. Era, porém, conhecido por Coronel Alcínio, ou seja, pelo primeiro nome e não pelo apelido Ribeiro. Este facto deu-me alguma vantagem (pouca) pois eu era o “Catatua” Ribeiro, não sendo assim associado a ele… Contudo esta vantagem durou muito pouco, visto que o meu Comandante de Pelotão do COM, Ten. PQ. Francisco (Xico) Santos, actualmente Superintendente-Chefe (Pai do Nuno Santos 102/1992), topou-me ao fim de uma semana e passou palavra ao resto dos Oficiais e Sargentos Instrutores do Curso. É claro que a partir desse dia, passei a ser ainda mais “marcado”, “mimado”, “praxado” e apertado. Lá passámos Dezembro, Janeiro e metade de Fevereiro na Recruta, com inúmeros percursos topográficos, preparação física todos os dias, marchas, desarmar e armar a G-3 vezes sem conta, aprender todos os


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cânticos do “Páras”, pois uma boa parte da Instrução era feita a cantar, fazendo jus ao lema do BI ( Batalhão de Instrução) – “Instrução Dura, Combate Fácil” – e em meados de Fevereiro de 78, lá fomos cerca de 200 Catatuas para o Curso de Pára-quedismo Militar. Este curso foi duríssimo (dizemos sempre que o nosso curso é que foi o mais duro…), mas este foi-o particularmente. À exigente e tradicional dureza do Curso de Pára-quedismo, juntaram-se condições atmos-

andarem permanentemente molhados e com o muito frio característico desta zona e época do ano, querendo desistir. Durante a minha frequência no Curso de Pára-quedismo, e para “alegrar” ainda mais a situação, chegou ao Comandante da BETP, Coronel Pára-quedista Ramos Gonçalves (também Pai de antigo aluno), um pedido do Presidente da AAACM, o Dr. Rui Figueiredo de Barros (62/1936), para me dispensarem durante uma noite, a seguir ao final de mais um duro dia do Curso

Coronel Alcínio Ribeiro (43/1930) e Mulher, Coronel Almendra, Victor Ribeiro (43/1968) e Pedro Santa Bárbara (512/1969)

féricas excepcionalmente adversas, tendo chovido muitíssimo, de tal maneira que andávamos com água pelos tornozelos. Como a fase mais sensível de um salto em pára-quedas é a chegada ao solo, durante o Curso o que se treina mais é (ainda hoje em dia o é) a chegada ao chão, com os chamados rolamentos e, fazê-los na parada do BI equivalia a andarmos mais molhados e cheios de lama por termos que nos atirar para o chão. A cada formatura de início e de fim de instrução havia camaradas nossos que colocavam o capacete junto ao pé direito, sinal de que não aguentavam mais, por

de Pára-quedismo, afim de eu participar na Classe de Antigos Alunos nas comemorações dos 175 anos do Colégio Militar. A criação desta Classe de Antigos Alunos tinha sido ideia do Rui Figueiredo de Barros que me lançou o desafio de a convocar, em virtude de ter os contactos dos seus elementos. Lá se fez a Classe de Ginástica para as Comemorações dos 175 anos do Colégio. É claro que à sua frente só poderia ficar o nosso grande Amigo e Querido Dario que aceitou de imediato a incumbência e, com a sua simpatia habitual, disse logo que era “uma vez mais uma honra estar à frente da Clas-

se de Ginástica da AAACM” (esta classe há vários anos que não estava em actividade). Treinámos duas sextas-feiras consecutivas no Pavilhão dos Desportos ao fim da tarde em virtude de eu chegar a essa hora a Santa Apolónia, no comboio do Entroncamento. Como estávamos todos em grande forma física e sob o comando do eterno Dario, lá demos “show” nos 175 anos e com o velhinho Pavilhão dos Desportos a abarrotar. Como o nosso Comandante, Cor. PQ. Ramos Gonçalves, ia ao sarau, por ter um filho no CM (o 449/1975 António Ramos Gonçalves), deu-nos “boleia”, a mim e ao Tó Pires, de ida e volta. É claro que esta “boleia” foi pedida por antigos alunos muito influentes nesta matéria. Não estão a ver, sem mais nem menos, o Comandante a dar “boleia” a dois “Catatuas”, ainda por cima no Curso de Pára-quedismo … A exibição da Classe na altura, tinha esquema, com exercícios individuais e a dois, exercícios no solo e, claro, os “Gafanhotos”. A seguir a mais um dia fisicamente muito intenso e exigente do Curso de Pára-quedismo Militar, depois de cada salto dos “Gafanhotos”, quando chegava ao solo, só me apetecia deitar nos colchões e ficar ali a dormir… No final do Sarau, o “Cozinheiro” (alcunha do Tó Pires por ser filho do Ten. Pires que era o Gerente da Messe do CM) e eu lá regressámos a Tancos, com o Comandante Ramos Gonçalves. Chegámos às 4,30 da manhã, ou seja, a cerca de duas horas da alvorada e depois de ambos termos feitos um esforço enorme para não adormecermos ao lado do nosso Comandante, o que seria uma vergonha. Essa semana foi duríssima (a terceira do Curso) uma vez que os Instrutores diziam que eu andava “folgado” no Curso de Pára-quedismo e até tinha tempo para ir a Lisboa a um sarau de ginástica e à “boleia” do Comandante (da BETP)…. Ainda por cima, era a semana com as sessões de encerramento (a última que os “Páras” chamam de “enterro” dos “toros” etc.) e, por isso, a mais puxada de todas. Logo no dia a seguir ao sarau foi o enterro dos “toros” (ginástica característica dos “Páras”, em que equipas de 6 instruendos têm de manusear um tronco de arvore em exercícios diversos – que exige aos executantes, para além de força e boa preparação física,


Colaboração Antigos Alunos nas Tropas Pára-quedistas

um grande trabalho de equipa e de coordenação dos movimentos). Escusado será de dizer que passei a semana ainda a “encher” mais, cheio de “mimos” dados pelos Instrutores e Monitores, mas lá se passou a ultima semana de instrução em terra. Na semana seguinte tínhamos os tão esperados saltos em pára-quedas. Era a parte mais fácil do Curso de Pára-quedismo Militar, principalmente para o Pedro Santa Bárbara e para mim, que já saltávamos civilmente, ambos com saltos em queda-livre, quando tirámos o Curso de Pára-quedismo no Colégio, em 1976. Lá ganhámos a nossa Boina Verde e o “Brevet”. Por nesse ano ter chovido muito em Fevereiro/ Março, todos os saltos do nosso Curso foram realizados em S. Facundo (zona de lançamento alternativa), pois a zona de lançamento habitual, o Arrepiado, estava literalmente de baixo de água, logo impraticável. No dia em que ganhámos a nossa Boina Verde e o “Brevet”, presenciei uma das cenas mais arrepiantes de sempre do pára-quedismo. Antes desta cerimónia da imposição das Boinas e dos Brevets, cerimónia muito simples, embora com muito significado no local do salto, saltam em pára-quedas os nossos Instrutores e Monitores, o Comandante da BETP e vários convidados. Um dos saltadores, o Capitão PQ Ribeiro Pedro, ao tempo Comandante da Dobragem (pai do 689/1974 Rui Ribeiro Pedro, que também foi oficial Pára-quedista), saltou em abertura automática e teve um incidente de abertura muito grave, a que nós, Pára-quedistas, chamamos “vela romana” (incidente de abertura do pára-quedas, geralmente fatal), só abrindo o pára-quedas a cerca de 50m do solo. A festa ia ficando estragada mas, talvez por milagre, tudo não passou de um grande susto. Neste dia de grande significado para todos nós, para mim ainda o foi mais. Tive a honra e a grande alegria de ter sido um Grande Pioneiro do Pára-quedismo Militar em Portugal e uma grande referência como Militar e como Comandante, combatente e condutor de homens quem me fez a imposição da Boina Verde e o “Brevet”: o Coronel Pára-quedista Alcínio Ribeiro – o meu Pai (43/1930) e meu an-

tecessor no Colégio Militar. Após esta fase lá seguimos para o Curso de Combate, com marchas sem fim, heli-assaltos, emboscadas, golpes de mão, saltos diurnos, saltos nocturnos, sempre equipados para combate, tiros, explosões etc. Nesta fase, aprendemos a ser Combatentes Pára-quedistas, a ser Oficias, os que estavam no COM e a ser Sargentos, os que estavam no CSM. No final, a taxa de eliminação e/ou de desistências foi superior a 50% (por exemplo do pelotão do COM iniciámos 35 e terminámos 15). Nos alojamentos de Oficiais, após a conclusão do Curso do COM, os quartos eram para 2 pessoas. É claro que o Pedro Santa Bárbara e eu ficámos juntos. Quando, no ano seguinte, o Pedro foi para a AFA (Academia da Força Aérea), o lugar dele foi ocupado pelo Nuno Castro (Pinóquio de alcunha, 648/1970) que, entretanto, tinha sido promovido a Aspirante - excelente Oficial Pára-quedista Miliciano e que posteriormente foi colocado na Base Operacional de Tropas Pára-quedistas nº 1 (BOTP nº 1), em Monsanto. Já como Aspirante, fui nomeado para ajudar o Ten. Eurico Santos (que me tinha dado o COM) a realizar os exercícios finais (mais de 15 dias em exercícios onde se

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punham em prática cerca de 7 meses de instrução de combate, de pára-quedismo e de endurecimento), ao Curso Geral de Milicianos (CGM que substituiu o COM e CSM), a seguir ao meu. Desse curso fazia parte o Nuno Ferreira (496/1967) que teve que “levar” comigo, mas que se portou de uma maneira brilhante, tendo sido Oficial Pára-quedista. Seguidamente, o Pedro Santa Bárbara e eu, como Aspirantes, fomos ministrar uma recruta, embora em Companhias de Alunos diferentes. O Tó Pires era Furriel e, evidentemente, escolhi-o para comandar uma secção do meu Pelotão. O Tovim foi parar a outro pelotão. Na segunda recruta que dei, aconteceu um episódio curioso: As incorporações para os “Páras”, nesta altura (já estávamos em 1979), eram de cerca de 600 voluntários para o contingente geral. Estava eu a dar uma volta para ver como ia o andamento da “recepção e boas vindas” aos novos “Catatuas” que já descrevi acima (cortar o cabelo, receber armamento, fazer a cama, etc.), encontro o Vítor Leitão, 261/1968, de alcunha o “Porky”), do meu curso do Colégio. Quando, timidamente, me veio falar, perguntei-lhe o que é que fazia ali, ao que me respondeu: sou voluntário para os “Páras”!!! Pensei… entre tantos “Catatuas” ele não vai parar, de certeza, ao meu Pelotão: as probabilidades jogavam a meu favor. Azar dos azares…. Quando formei o pelotão, lá estava o Porky. Tinha lá sido colocado na formação aleatória dos pelotões. Devo dizer que o “Porky” se portou excelentemente, de uma maneira combativa, sempre com o moral em cima e com bastante alegria. Ambos estávamos numa situação difícil pela nossa ligação pessoal. Acresce que as recrutas nos “Páras” eram muito exigentes porque serviam de preparação ao Curso de Pára-quedismo. Nunca o ouvi pedir o que quer que fosse, comportando-se sempre com muita “garra” e empenho. Após a segunda Recruta que dei, estávamos já a meio do ano de 1979, fui colocado no GOAT (Grupo Operacional Aero-Terrestre) na Equipa de Competição e Demonstração do CTP (Corpo de Tropas Pára-quedistas), tendo sido comandado


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neste período pelo Tenente-Coronel PQ Franco Preto (76/1951). Pessoa muito descontraída e com grande sentido de humor, com quem realizei inúmeros saltos, demonstrações e marchas, pois implementou no GOAT, e bem, uma marcha de 30 km 2 vezes por mês, em que tínhamos que ir armados e equipados para combate. Ao mesmo tempo o Pedro Santa Barbara, por ser um excelente condutor de homens e um comandante de Pelotão de eleição (aliás já o tinha demonstrado no Colégio como excelente Comandante da 3ª Companhia), declinou um convite para ser comandante de pelotão da Companhia Operacional 311. Estes comandantes de pelotão eram nomeados por escolha de entre os melhores. O Pedro declinou este honroso convite e foi colocado nas Técnicas de Instrução, tendo assim um horário menos exigente, podendo estudar para concorrer ao Curso de Pilotagem da Academia da Força Aérea (AFA) que tinha uns exames culturais, psicotécnicos e médicos muito exigentes. As provas físicas estavam garantidas. Entrou como Oficial Pára-quedista, sendo na Instrução de Combate na AFA o “menino querido” do Comandante de Corpo de Alunos, na altura, o Tenente-Coronel Pára-quedista Adelino Martins, de alcunha “Mata Cavalos”. Andava sempre à procura do Santa Bárbara, para este exemplificar aos outros alunos da AFA como se faziam as quedas na máscara ou os mais variados exercícios de aplicação militar. O Pedro, mais tarde e durante mais de 5 anos, foi escolhido como Piloto Aviador da famosa Esquadrilha “Asas de Portugal”, sendo actualmente Comandante de Longo Curso da TAP. O Tó Pires seguiu a vida militar como Sargento Pára-quedista do Quadro Perma-

nente (QP) durante cerca de 25 anos, estando nesta altura na reserva. É instrutor de pára-quedismo no Brasil. O Tovim, posteriormente, foi para os Comandos por não ter sido escolhido para o Curso de Sargentos do QP Pára-quedista e fez a carreira como Sargento do QP, quer no Regimento de Comandos, quer em Bruxelas na NATO. Está, presentemente, também na reserva. A minha última missão constituiu um grande desafio. Pouco tempo antes de passar à disponibilidade, fui nomeado para dar o Curso de Pára-quedismo Civil aos alunos do 2º Ano da Academia Militar (AM), curso de frequência obrigatória, pelo menos na fase de instrução em terra. Estes Cadetes quando chegaram a Tancos, não estavam nada contentes, pois esta actividade fazia com que tivessem as férias grandes reduzidas. Na primeira formatura que fiz com este Curso com cerca de 80 alunos, perguntei quem é que no fim do mês gostaria de saltar em pára-quedas? Só houve cinco braços no ar e todos estes braços eu sabia de quem eram. Eram de cinco elementos antigos alunos do Colégio e de quem eu tinha sido graduado uns anos antes (é o Curso do Frederico Almendra). No final deste curso todos os Cadetes, sem excepção, acabaram por saltar brilhantemente, provando-se que os “ares” e métodos utilizados na BETP faziam milagres. Nos Pára-quedistas, neste período, sempre houve uma grande representação de antigos alunos. Para alem dos atrás mencionados, estiveram comigo o Nuno Guerra (“Cabeças” de alcunha, 171/1969), o Daniel Carvalho (“Danny” de alcunha, 661/1972), o Bragança Moutinho (407/1971), o António Serra (521/1968) e o Filipe Castro (579/1973) todos meus

contemporâneos, tendo sido graduado da maior parte deles. Estamos nos anos 80 e 81 (ano em que saí), e havia o hábito de passarmos a noite na BETP. No final do dia e pela noite fora (que saudades…), bebíamos um copo juntos no Clube de Oficiais, comentávamos o dia, trocávamos opiniões. Por afinidade Colegial, dava-me especialmente com o Krug (269/1964) que recordo com muita saudade e com o Lousada (289/1968). Em conclusão e fazendo uma retrospectiva à minha vida, os 7 anos que passei no Colégio mais os 4 que passei nos Pára-quedistas foram dos melhores anos da minha vida, cheios de alegria, com grande camaradagem, rodeado de excelentes pessoas, que me ensinaram e muito a crescer, com pessoas com quem aprendi muito e a quem estou eternamente agradecido. Todas estas pessoas fizeram de mim o que sou hoje. Muito obrigado a estas duas grandes Instituições - Colégio Militar e Corpo de Tropas Pára-quedistas.

Restaurante Jardim da Luz premiado O Restaurante Jardim da Luz, que funciona nas instalações da AAACM e que é ponto de encontro de muitos Antigos Alunos do CM, foi premiado com “1 Garfo”, no Concurso Gastronómico “Lisboa à Prova 2010”. Foi com natural satisfação que os concessionários do restaurante receberam a distinção, tanto mais que Qualidade de Serviço, Atendimento, Refeições e Preço eram os principais aspectos valorizados. Recorde-se que no “Jardim da Luz” há um menu “Colégio Militar”, que quando usado permite à AAACM receber 1 Euro por cada menu servido.


Recordando Ana Maria de Ataíde Pinto Soares Hoeppner

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Ana Maria de Ataíde Pinto Soares Hoeppner (318/1952) Presidente da Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas Nasceu a 30 de Junho de 1941 - Faleceu a 26 de Março de 2013

A

na Maria de Ataíde Pinto Soares Hoeppner, Antiga Aluna do Instituto de Odivelas e também Presidente da sua Associação, à data do seu falecimento encontrava-se à frente dos destinos do Lar Nova Casa da AAAIO. A existência deste Lar, destinado às antigas alunas do IO e também a antigos alunos do CM, dispondo de óptimas instalações e de excelentes condições de acompanhamento e tratamento dos seus utentes, muito deve ao espírito empreendedor, ao dinamismo e à vontade de Ana Maria de Ataíde Pinto Soares Hoeppner.

mais próxima da AAACM e dos seus colaboradores, proximidade que se acentua e se fortifica com o desenrolar da sua execução e posteriormente com a entrada em funcionamento desta Obra de envergadura e de grande préstimo para quem chega à fase em que mais necessita de atenção e cuidados. Ana Maria era uma presença regular diária no Quartel da Formação. A sua memória será sempre respeitada e recordada com saudade. Ao seu Pai, Coronel José Augusto Henrique Monteiro Torres Pinto Soares (Ext/1930), ao seu Irmão Coronel Duarte Nuno Ataíde Saraiva Marque Pinto Soares (44/1953), a Todos os seus Familiares e às Antigas Alunas de Odivelas apresentamos as nossas mais sentidas condolências. Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949) Chefe de Redacção da ZacatraZ

Pelo sonho é que vamos

Homenagem a Ana Maria Pinto Soares Hoeppner Pelo sonho é que vamos, comovidos e mudos. Chegamos? Não chegamos? Haja ou não haja frutos, pelo sonho é que vamos. Basta a fé no que temos, basta a esperança naquilo que talvez não teremos. Basta que a alma demos, com a mesma alegria ao que desconhecemos e ao que é do dia-a-dia. Chegamos? Não chegamos? ─ Partimos. Vamos. Somos. Sebastião da Gama

O Lar encontra-se sediado no Quartel da Formação por força do forte e bom relacionamento entre as Associações dos Antigos Alunos de Odivelas e do Colégio, situação para a qual muito contribuíram as respectivas Direcções no empenhamento que tiveram para que tal se tornasse realidade. É no período preparatório de todo o projecto que Ana Maria fica

Lindo e significativo é o dia 9 de Março – Dia da Antiga Aluna. É um dia de sol sobrepondo-se às brumas da saudade, a saudade que ficou, qualquer que seja a vivência global dos anos vividos no Instituto de Odivelas. Cada aluna tem a sua história, sente mais ou menos profundamente a sua relação com a Escola onde, insensivelmente, foi modificando a sua forma de estar na vida. Da criança que era, quando entrou, ficaram-lhe as marcas da disciplina imposta e, lentamente, foi-se dando conta de que a camaradagem, as brincadeiras em comum, a responsabilidade na aprendizagem e o respeito entre todos, eram traços dignificantes da formação da personalidade conducentes à tranquilidade emocional e afectiva.


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Recordando Ana Maria de Ataíde Pinto Soares Hoeppner

Ana Maria juntamente com os Membros da AAACM que colaboraram no projecto do Lar Nova Casa, João Ayala Boto (254/1948) e Bernardo Diniz de Ayala (171/1953)

É o dia de recordar as Antigas Alunas que frequentaram o Instituto de Odivelas, em décadas diferentes, especialmente as que, por graça de Deus, sendo alunas dos anos vinde ainda estão entre nós, seguindo-se todas as outras arrastadas pelo tempo até aos nossos dias. Todas vivenciam, por certo, o Claustro Grande, austero, recamado de pedras que nos lembram passos das monjas desfiando contas do seu rosário de fé ou de amargura, em cada aluna ficou a lembrança do Claustro da Moura, refúgio de pensamentos românticos alimentados pela fragrância das glicínias em flor ou da olaia coberta de flores mimosas. Mas este dia é igualmente o dia da Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas, fundada há 94 anos e, por isso nos sentimos em festa, congregadas, como estamos por sinais de afecto que confluem na contemplação de uma obra que é de todas, onde todas cabem e são bem-vindas. Por motivos já conhecidos e que não vamos invocar, a Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas esteve em letargia durante algumas décadas. Porém, renascida das cinzas nos anos setenta e em plena laboração nos anos oitenta, sem recuos nem desfalecimentos, a Associação foi cumprindo, meticulosamente, o desiderato que a inspirou – “Ser Amiga é ser Irmã”. Mas, tal como acontece com os seres humanos, estas instituições precisam de tempo para crescer, exigem terapias e cuidados cuja eficácia é tanto mais profícua quanto maior é o esforço desenvolvido por quem vigia e está atento. É o que felizmente, desde a primeira hora, não tem faltado à nossa Associação. Há que louvar, sem hesitação, quantas Antigas Alunas têm contribuído para o progresso da nossa instituição.

Reconhecendo, aliás, que esta obra é de todas e tem crescido com a sua colaboração, a verdade é que desde há alguns anos, se tem posto em relevo, neste dia 9 de Março, quem se afirmou no conjunto de actividades levadas a cabo em prol da nossa Associação. É distinguida uma Antiga Aluna que tem primado pela sua dedicação a uma causa de valores insuperáveis e tem primado pela simplicidade, como convém a tudo o que é sincero e verdadeiro. Um grupo de Antigas Alunas propôs que a escolha deste ano recaísse sobre a Ana Maria Pinto Soares Hoeppner, reconhecendo que era chegado o momento de lhe mostrar quanto a admiramos. Ana Maria Pinto Soares Hoeppner faz parte dos corpos sociais desde 1996 como suplente da Direcção e, em 2001, é eleita como presidente. Por imposição estatutária não pode ser candidata ao mesmo cargo nas eleições a realizar em Novembro próximo, pelo que as Antigas Alunas entendem que seria hoje, por estar ainda em plenas funções que deveria receber a homenagem que lhe é devida. Não é fácil expor num espaço de tempo limitado, e envolto em emoção, quanto a Ana Maria se tem dedicado à Obra da Associação. O seu curriculum, rico em vivências culturais e sociais, elucida-nos como a homenageada tem vivido estes anos na plenitude de interesse e empenhamento no progresso da Associação. Dotada de uma inteligência pragmática, decidida nos caminhos a trilhar, animada por uma enorme capacidade de trabalho, determinada em alcançar metas pré-formuladas, resistente às contrariedades, assertiva na solução e também detentora de qualidades sensíveis. Amiga incondicional, atenta às necessidades e carências de quem sofre, a todos anima com a sua força interior. É uma resiliente – exemplo de quem vê a vida em toda a sua amplitude e lhe mostra uma vontade férrea de vencer.


Recordando Ana Maria de Ataíde Pinto Soares Hoeppner

Muitas foram as oportunidades que o seu mandato lhe proporcionou para mostrar as qualidades referidas. A Ana Maria é senhora de uma forte personalidade caldeada na escola da vida a que não vira a cara. Nasceu no meio duma família tradicional e, tanto do lado da sua Mãe como de seu Pai, encontram-se militares ilustres, observadores intransigentes dos valores que juraram servir. Seu Pai – o Coronel José Augusto Monteiro Torres Pinto Soares – e seu Irmão – também Coronel Nuno Pinto Soares – serviram o Exército Português com honra e dignidade. Igualmente da parte da sua Mãe e de seu Pai recebeu influências artísticas do domínio da música, do canto lírico e da dança clássica. O primeiro choro de recém-nascida ouviu-se em Vila Pery (Chimoio) em 1941, onde seu Pai cumpria uma comissão de serviço. Aos 5 anos, a família deslocou-se para a Beira. Aqui fez a instrução primária (hoje 1º Básico), frequentando o Colégio de Nossa Senhora dos Anjos.

A África proporcionou-lhe uma infância feliz, aberta, livre de roupas apertadas, sol brilhante alternando com as chuvas torrenciais e as trovoadas tropicais. Estes fenómenos meteorológicos retemperam a alma e fazem lembrar África no seu mistério esfíngico – mistério que se prende às saudades que ficaram. Em 1952, regressa a Lisboa com os Pais, o Irmão e a Irmã, deixando para trás onze anos da sua vida. Quando chegou, estranhou as pessoas e o ambiente, sentiu a falta das cores quentes do vestuário leve e despreocupado que usara. Ingressou então no Instituto de Odivelas de onde saiu após concluir o 7º ano do Liceu (hoje Ensino Secundário).

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Frequentou a Universidade (Filologia Germânica) e enriqueceu, com cursos variados e alguns pragmáticos, os seus conhecimentos académicos, aperfeiçoando a língua francesa, inglesa e alemã, obtendo bolsas que, posteriormente lhe deram acesso às universidades de Munique, Estrasburgo, Hanôver e Wilhemshaven, cidade onde viveu 20 anos. Atingida esta performance preocupou-se em obter diplomas que lhe deram acesso a uma diversidade de actividades que foram desde a organizações turísticas até a assessoria de figuras públicas (Professor Marcello Caetano e Dr. Mário Soares) e embaixadores do Canadá e da Austrália. Casou-se em segundas núpcias com o Comandante da Marinha de Guerra Alemã Joerg Hoeppner, grande Amigo da Associação, continuando a tomar parte em congressos, colóquios, preocupando-se em organizar cursos de valorização da língua e história de Portugal, quer para cidadãos alemães quer para emigrantes portugueses. Foi ainda empresária de uma agência de viagens de estudo culturais e turísticas, abrangendo a Europa, a América, Brasil, Macau e China. Muitas outras actividades poderiam ser mencionadas, mas não se pretende que este currículo seja exaustivo, referindo apenas que o seu regresso a Portugal, vinda da Alemanha, se deveu à circunstância de acompanhar uma sócia alemã que se estabeleceu perto de Évora, explorando uma empresa de Turismo de Habitação. Por motivos que lhe foram alheios, a sociedade não prosperou, pelo que se fixou em Lisboa. Logo que a Associação teve conhecimento de que iria regressar a Portugal e, porque se estava em altura de eleições, o seu nome foi lembrado, a Ana Maria aceitou, em 1996, ser candidata a Suplente da Direcção e, em 2001, é eleita Presidente da Direcção, cargo que exercerá até às próximas eleições em Dezembro. A partir do momento em que assumiu a ligação à AAAIO, dedicou-se-lhe inteiramente. Havia, naquela altura, problemas difíceis de resolver, de entre eles a instalação da Associação e Lar anexo, numa outra casa. Desde a reorganização da Associação, na década de setenta, a AAAIO encontrava-se instalada numa antigo pavilhão de caça, do princípio do século XIX, de belo traço arquitectónico, interiores decorados de pinturas delicadas, servido por um magnífico espaço aberto ao exterior, com quatro magníficos e seculares plátanos. Mas esta casa tinha deixado de oferecer as condições necessárias para ali continuarem a viver as senhoras que recebiam assistência. Além dos inconvenientes apontados, havia que pôr termo a uma acção judicial com o senhorio. Daqui em diante trava-se uma luta muito dura para encontrar uma casa com as condições impostas ou procurar um terreno onde se pudesse erguer a casa pretendida. Percorreram-se quilómetros, marcaram-se audiências com as altas chefias do Exército e até do Ministério; ouviam-se promessas sem solução à vista. Finalmente, em 26/6/2007, é assinado o Protocolo com o Exército Português para a utilização dos terrenos do Quartel de Formação ente a AAACM e a AAAIO, pelo prazo de trinta e seis anos. Todos os esforços suportados pela Direcção da responsabilidade da Ana Maria revelaram a sua capacidade de resistência a anos


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de interrogações, sem nunca depor os braços. Encontrado o terreno havia que pensar na edificação da casa, no plano conjugado com as exigências dos serviços da Segurança Social. Projecto grandioso, em comparação com as magras economias da nossa Associação. Mas não se podia vacilar, impunha-se tomar o caminho certo, ir em frente. A Antiga Aluna Teresa Arnão Metelo ofereceu-se para elaborar o projecto voluntariamente e, com todo o entusiasmo, meteu mãos à obra. Porém, a morte impediu-a de concluir o seu trabalho, mas a filha, igualmente arquitecta, terminou carinhosamente o projecto que a sua Mãe havia iniciado. O entusiasmo da Ana Maria foi aumentando à medida que a obra foi crescendo, não obstante as enormes preocupações e contrariedades com a pontualidade da chegada das tranches vindas da Segurança Social que era imperioso entregar aos executantes do projecto. Havia que respeitar compromissos e defender o bom nome da Associação. Ao desenvolvimento de todo este processo – complicado e exigente – a Ana Maria deu sobejas provas de estar à altura de um empreendimento de tão grande responsabilidade. Foi esta Nova Casa – a menina dos olhas da Associação – que no dia 14 de Janeiro de 2010, foi inaugurada pelo Senhor Presidente da República. Viveu-se então um momento de grande emoção. Tinha-se levado a bom porto uma nau que nem sempre tinha navegado num mar calmo. Não se pense contudo que a mudança de Odivelas para as novas instalações se efectuou directamente. A saída de Odivelas tornava-se cada vez mais premente e mostrava-se imperioso arranjar uma casa que albergasse as vinte e cinco senhoras do Lar. Embora se procurasse uma instalação provisória, as dificuldades apresentavam-se como se de uma situação definitiva se tratasse. E nestas buscas a Ana Maria multiplicou-se em esforços. De entrevista em entrevista, o Ministro da Defesa Nacional e Assuntos do Mar possibilitou umas instalações afectas ao IASFA. Estava encontrado o facho da esperança, no Forte de São João das Maias, Junto a Santo Amaro de Oeiras, dali se avistando o mar imenso, ouvindo o marulhar das águas, em tempo calmo, batendo encontro à muralha. Foi uma instalação magnífica com poentes maravilhosos, de céu rubro com o sol em fogo mergulhando nas águas profundas. Mas que trabalhos até que ficasse funcional o pavilhão que em anos passados tinha servido de acolhimento a filhos de pescadores que aqui vinham passar as férias. Tudo limpo, pintado, despejado de móveis desnecessários, fez-se a mudança de Odivelas para estas novas instalações. Trabalho que não admitia delongas e deveria ser executado com eficiência. Assim se fez. Quando as senhoras residentes se foram instalando, demonstravam o agrado pela luminosidade invadindo espaços, numa residência de um só piso e tudo primorosamente decorado. E o que se afigurava como uma instalação por curto tempo, transformou-se num período de seis anos, de alegre convívio. E ao fim desse tempo, há que voltar a desmanchar uma casa, para ingressar – agora sim, definitivamente, no Quartel da For-

mação e ocupar um edifício novo, bonito, situado num local tranquilo de Lisboa, com ar aristocrático. A nossa Associação é uma pequena empresa, que lida com seres humanos, frágeis, que pedem cuidados constantes, pensamento activo de quem dirige, solicitações de toda a ordem. Há que surpreender-lhes as tristezas, as mágoas que a velhice traz, acompanhá-los nos passos hesitantes, adivinhar-lhes o sofrimento. A Ana Maria, sempre atenta, compreendeu que deveria continuar e ampliar o que, desde a primeira hora a Associação tinha posto em prática: o voluntariado. Emprestou-lhe todo o dinamismo, contando hoje com mais de trinta voluntárias efectivas que acompanham os residentes em passeios, actividades culturais e lúdicas, idas a consultas médicas e hospitalares. Estas voluntárias tornaram-se um elemento mais do que imprescindível, são um elemento precioso na vida do lar. Em 2006, a AAAIO, por indicação do Ministério da Segurança Social, responsabilizou-se por um programa intitulado “Ser Cidadão em Odivelas”. Esta valência visava sociabilizar crianças de um bairro problemático de Odivelas, acompanhá-las também em trabalhos do ATL. Foi como todo o entusiasmo que a Ana Maria recebeu esta missão, contando com colaboradores e colaboradoras que bem compreenderam a finalidade deste trabalho. Este empreendimento de grande alcance social terminou quando os ATL deixaram de funcionar mas foi substituído, por assim dizer, por outro de não menor importância social. Atendendo às carências económicas de famílias do bairro da Arroja, O Banco Alimentar contra a Fome distribui mensalmente, por intermédio da Associação, bens alimentares a 420 famílias, num total e 1300 pessoas. Todas estas acções estão relacionadas com um movimento de voluntariado que a Ana Maria tem desenvolvido, com grande entusiasmo. Acções desta natureza projectam a nossa Associação na cidade onde Antigas Alunas passaram alguns anos da sua vida, educando-se, conhecendo valores de solidariedade tão necessários neste nosso tempo. A projecção da nossa Associação tem-se operado de formas diversas, sendo de destacar a actividade cultural que se manifesta em palestras, conferências em parceria com a Sociedade Histórica para a Independência de Portugal, recitais de poesia, actuação de grupos corais e musicais, entre outros. O pianista Artur Pizarro fez-se ouvir num concerto que ofereceu à AAAIO quando se angariavam fundos que ajudassem à construção da Nova Casa. A revista LAÇOS que apareceu nos anos oitenta com a finalidade de ser, para além de expressão cultural das suas colaboradoras, um elemento integrador de gerações e fomento de uma camaradagem que se deseja renovada, tem vindo a melhorar o seu aspecto gráfico e a enriquecer-se com uma colaboração cada vez mais alargada e diversificada. Chegado o mês de Agosto, os/as residentes menos débeis vivem a expectativa de passarem uns dias no Forte de Santo António, no Estoril, a que por amabilidade da Direcção do Instituto de Odivelas, a Associação tem acesso. São dias diferentes, vividos na contemplação do mar e, embora a


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instalação lembre guerras passadas, a sua decoração, com gosto e harmonia, suaviza a dureza da estrutura. A envolvência convida ao sonho do tempo que cada um pode gerir – tempo kairótico – e aplica-lo a seu belo prazer. Estas férias são, além de retemperadoras, uma actividade lúdica, a que se juntam outras como a Festa dos Santos, o Magusto, o Chá da Primavera e a Celebração do Natal que é a expressão máxima da presença da família na evocação do nascimento do Deus-Menino. Todas as respectivas decorações são feitas no preceito do bom gosto e na preocupação de que resultem num momento de alegria e encantamento para os olhos da grande família que somos todas nós. A nossa Associação teve sempre as melhores relações com a Direcção do Instituto de Odivelas. A Ana Maria – que teve de contactar com mais do que uma Direcção – sempre encontrou da parte das Senhoras Directoras a melhor boa vontade que soube interpretar com gratidão e respeito. O mesmo se verifica hoje, tendo o Senhor Director demonstrado toda a compreensão para com a Associação que por outro lado tem manifestado pela defesa intransigente da continuidade do Instituto como escola independente. Embora as relações com a AAACM e a APE tenham sido mantidas desde sempre, a construção da Nova Casa, no Quartel da Formação, tem permitido que essas relações sejam mais próximas. Igualmente salutares são as relações com as direcções do Colégio Militar e dos Pupilos do Exército. Uma palavra para o Senhor Capelão do IO pela sua dedicação à Associação, levando às/aos residentes momentos de grande conforto espiritual que as/os recompensa do isolamento a que possam sentir-se votados. Em 2004, a revista LAÇOS chegou às mãos da família Rebelo de Sousa que logo desejou instituir um prémio com o nome de sua Mãe, Maria das Neves Rebelo de Sousa a ser atribuído às alunas do Instituto de

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Odivelas, segundo determinados princípios. A Associação das Antigas Alunas é a intermediária da entrega dos respectivos prémios. É um prémio que dignifica quem o recebe não só porque revela os seus conhecimentos e a aplicação mas porque tem o nome de uma Antiga Aluna que se revelou na vida que a esperava lá fora como a Mulher certa no lugar certo, companheira prestigiada de seu Marido que desempenhou altos cargos do Estado, Mãe atenta e educadora dos seus filhos, homens de Bem que hoje se distinguem com toda a dignidade no quadro cultural, profissional e académico. Em tudo o que fica dito não coube quanto havia a dizer da actividade da nossa Associação e do dinamismo que a Ana Maria lhe imprimiu. Não só é possuidora de uma notável facilidade em comunicar como gera empatias. É metódica, dialogante, culta, firme nas decisões, corajosa face a situações difíceis. Mostrou nestes anos em que tem sido Presidente da Direcção um elevado sentido de responsabilidade, uma calma construtiva e uma integridade de carácter. Por todas as razões expostas, a Associação das Antigas Alunas sente-se reconfortada com a escolha da Antiga Aluna Ana Maria Pinto Soares Hoeppner para receber a homenagem que lhe é devida, envolvendo-a na admiração que inspira como defensora estrénua do valor da nossa Associação. E a Casa Nova, pedra angular da resistência e força de vontade, ali está para acolher quem a procura, aliando às suas recordações a esperança duma vida diferente, mas baseada nos valores insuperáveis do Bem, do Belo e da Liberdade. Maria Noémia de Melo Leitão AA 245/1931

Um feixe de energia

Ao falar com Ana Maria Pinto Soares Hoeppner, AA 318/1952, e “presidenta” da nossa associação, veio-me de imediato à cabeça o poema que aprendi no IO, “Reminiscência” de Fernanda de Castro: uma enumeração de cidades e depois o tom grave do inspector “Continua, hás-de ser gente”. É que a quantidade de “coisas” que a Ana Maria já fez nestas suas seis décadas de vida é comparável à longa enumeração que Fernanda de Castro faz no seu poema. Como ela própria reconhece, “se fosse agora, teria sido catalogada como uma criança hiperactiva: na escola, além das aulas normais, fazia patinagem, muito desporto, jogava hóquei em patins”. Esta característica de fazer muita coisa ao mesmo tempo manteve-se ao longo da vida, até agora – só assim é que consegue dar resposta às diversas solicitações na direcção da associação e na sua vida familiar. Línguas, línguas, línguas Desde sempre, as línguas foram o seu hobby número um. No seu 7º ano, a Embaixada da Alemanha começou a dar um prémio à melhor aluna de Alemão – que, claro, foi direitinho para a Ana. O seu caminho de sonho era tirar um curso de intérprete simultânea na Suíça, “mas financeiramente o curso era incomportável para a bolsa dum oficial do Exército com três filhos a estudar”. Ana Maria teve então de se coser com as linhas da casa: um cur-


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so de secretariado e o curso do SNI para guias intérpretes. “Aí ganhei o bicho do turismo e das viagens” – bastante útil quando, muitos anos mais tarde, abriu a sua própria agência de viagens em Wilhelmshafen, na Alemanha. Começou a trabalhar na dependência do SNI nos Restauradores, onde fez aquilo com que sempre sonhou: contactar com muita gente e falar muitas línguas estrangeiras. Foi uma época muito interessante, pois “acompanhei muitas personalidades importantes que visitavam o nosso país”. De Lisboa para o Alvor... Depois do SNI, Ana Maria instalou-se na maior agência de viagens da época, a Star-American Express, “onde completei a minha aprendizagem de técnicas de viagens”, e onde, mais uma vez, a sorte lhe bateu à porta. Durante cinco meses, esteve na organização do Curso Internacional de Direito Comparado, onde assessorou o Prof. Marcelo Caetano. O trabalho foi tão bem feito que Ana Maria foi convidada a participar nos cursos seguintes em Estrasburgo, onde participou nalgumas sessões das “Organisations Européenes”, o começo da nossa União Europeia, e em Madrid. Seguiram-se oito interessantíssimos anos a trabalhar no meio diplomático, nas Embaixadas do Canadá e na Austrália. Por força das circunstâncias, Ana Maria teve de largar tudo, porque o marido da altura foi transferido para o Algarve para dirigir o Hotel D. João III, da Torralta, no Alvor. Passado algum tempo, a família regressa a Lisboa e Ana Maria é nomeada pela administração da Torralta para a zona de Tróia “onde começava a nascer o empreendimento megalómano para a época – mais um desafio para a minha vida profissional”. ... para o governo pós 25 de Abril... Vem o 25 de Abril, Ana Maria é saneada da Torralta, mas imediatamente “pescada” para assessorar Mário Soares, então Ministro dos Negócios Estrangeiros, e a sua equipa. Foi uma época excitante, tendo “acompanhado o Dr. Mário Soares nas entrevistas e nas personalidades europeias interessadas no desenvolvimento da nossa revolução”. ... e para a Alemanha Mas com a revolução do país, veio também a revolução pessoal. Ana Maria separa-se do marido e vai começar nova vida na Alemanha. Começa por trabalhar em Frankfurt, mas muda-se depois para Wilhelmshafen – por amor Os 20 anos que passa por terras teutónicas são tão cheios como os que já tinha passado em Portugal. Dá aulas de Português na Universidade Popular e a filhos de emigrantes portugueses, mobiliza a comunidade portuguesa da cidade, organizando festas portuguesas como a do 10 de Junho, festas de Natal e da Páscoa com o objectivo de manter viva a cultura lusa entre os emigrantes, e funda a sua própria agência de viagens, a amh-Bildungsreisen, através da qual recebeu um verdadeiro sentimento europeu e lhe alargou a visão do mundo e das pessoas. Voluntariado É em Wilhelmshafen que começa a sua vida do voluntariado, dando apoio em hospitais. E nunca mais a abandona. De regresso à terra-mãe, liga-se à A.A.A.I.O. a quem tem dado muito do seu tempo.

Ao aceitar o desafio da nossa associação, Ana Maria quis dar-lhe uma nova dinâmica que permitisse um diálogo mais profícuo entre as AA, onde todas colaborássemos vivamente. “Tem sido porém difícil. A disponibilidade é pouca, os hábitos portugueses libertam ainda pouco as mulheres e o espírito de ajuda desinteressada ainda está pouco arreigado na mentalidade portuguesa”. Ana Maria porém não desiste. Tal como não se deixou abater – tal como aprendeu da sua avó - quando sofreu, no 6º ano, o que considera um chumbo político, que a marcou por muitos e muitos anos, tendo tido frequentemente pesadelos sobre o assunto. Apesar deste contratempo, Ana Maria considera que o seu tempo de colégio foi bom pela camaradagem entre todas as alunas. E onde lhe permitiu começar a aplicar o lema da sua avó, que viria a ser o seu lema de vida: “na vida temos sempre que tirar o maior partido do que é bom e não se deixar abater pelas contrariedades”. Maria Margarida Pereira-Müller AA 244/1967


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Os que nos deixaram Carlos Miguel Rodrigues (85/1934) Nasceu a 21 de Novembro de 1924 - Faleceu a 7 de Janeiro de 2013

O Carlos Miguel era um grande amigo Trabalhou na “Casa Jácome Corrêa Hintze Ribeiro” perto de quarenta anos, desde que me lembro sempre aí o conheci. Nesse tempo havia a laborar a fábrica de chá, a exploração agro-pecuária e florestal, a secagem de madeira em plena actividade, etc., etc. No total deviam existir cento e tal trabalhadores. Sendo funcionário do escritório era ele o encarregado de tratar de toda a papelada relativa a cada um e fazia o contacto directo com os mesmos, alem de todo o apoio individual e familiar que lhes prestava sempre pronto e disponível, quando solicitado pelos próprios.

Era conhecido pelo “Senhor Rodrigo”, uma espécie de conselheiro que sabia de leis e em quem todos depositavam a maior confiança. Foi o braço direito do meu Pai, Ernesto Hintze Ribeiro, desde o tempo em que trabalhavam juntos na Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada. Como grande desportista que era, palmilhava com a mochila às costas São Miguel de lés a lés, acampando por aqui e por ali. Conhecia tudo e todos. Dada a sua pele clara, olho azul e grande corpulência alguns chamavam-lhe “o alemão”. Contava-me que uma vez pensaram que era um espião que tinha desembarcado na Ponta do Cintrão e chegou a ter que ir prestar declarações à polícia. Era um contador de histórias verídicas passadas com ele, extraordinárias, desde o seu tempo do Colégio Militar. Da sua infância falava menos, a morte do Pai afectou-o muitíssimo. Dizia-lhe muitas vezes, “Carlos Miguel tem que escrever as suas memorias”, ria-se e continuava a conversar. Era uma pessoa frontal, recto, verdadeiro, afável e amigo do seu amigo. Tive o privilégio de ele me considerar uma amiga, tratava-me por Anita com o carinho de um Avô. Recordá-lo-ei sempre com muita saudade

Grandes” que passava sempre em São Miguel, fui tendo a oportunidade de o rever em almoços de confraternidade no “Alcides” onde o famoso bife era a desculpa para revisitar a solidariedade desses mesmos valores que ele havia aprendido e guardado e eu almejava reter. Era sempre com uma desejada expectativa que eu aguardava esses almoços, não só pelo prazer da companhia que o Pedro sempre completava mas também pela troca de impressões sobre o momento que passava, este ou aquele desvario visto à luz das tradições do Colégio e dos seus ensinamentos Pátrios.

Ana Jácome Correia Hintze Ribeiro Cymbron

Conheci o Carlos Miguel por volta de 1956 quando, como empregado da casa Jácome Corrêa, foi nomeado para acompanhar o Pedro Jácome num acampamento nas Sete Cidades onde eu e outros parentes e amigos também estávamos. Foi a descoberta de um amigo que, Menino da Luz, tal como eu, tinha bem vivos os valores daquele Colégio Militar onde a minha aprendizagem se completava no exemplo vivo do Carlos Miguel. Todas as “Férias

Apesar da diferença de idades, nunca me apercebi que esta estivesse presente: o Carlos Miguel tinha o dom de aproximar a conversa à idade dos interlocutores e nunca parecer paternalista!... Grande amante da Natureza, foi ele a primeira pessoa que me abriu os olhos para a necessidade de proteger o ambiente. Infelizmente, não o acompanhei nos últimos anos da sua vida dado que me encontrava no estrangeiro e era pelo Pedro que dele ti-


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nha noticias e mandava as minhas saudades. Foi com muita tristeza que soube da sua morte. Guardarei dele sempre a lembrança dum verdadeiro “Menino da Luz”: nobre, honrado, fiel até á medula e simples no seu estremo amor à Pátria que nos viu nascer. O Colégio Militar deve Honrar-se de ter produzido este filho seu! José Bernardo do Canto e Castro 397/1952

Em memoria de um Antigo Aluno do Colégio Militar Carlos Miguel Rodrigues faleceu no Hospital do Divino Espírito Santo em Ponta Delgada na Ilha de São Miguel nos Açores, no dia sete de Janeiro do corrente ano 2013. Com a bonita idade de oitenta e oito anos continuava a entusiasmar todos aqueles que apreciavam o valor da sua amizade e o profundo conhecimento que sempre manifestava sobre várias áreas do saber.

Filho de António Evangelista Rodrigues e de Sara Borges da Câmara Leme Maciel Rodrigues, sofre aos doze anos de idade a perda de seu Pai, Tenente do Exército Português, morto no posto de “Oficial de dia” em defesa da ordem no quartel em Bragança. O pequeno Carlos Miguel recebe do Governo Português a medalha de valor da República Portuguesa, 1910, num acto oficial a distinguir a lealdade do seu querido Pai, Tenente António Evangelista. Existe uma fotografia de jornal a regis-

tar este acontecimento e a salientar o acto de lealdade daquele valoroso oficial. Não foi fácil para aquela criança o choque que a morte do pai, naquelas circunstâncias, provocou a quem ainda despontava para a vida. O ingresso no Colégio Militar possibilitou-lhe o desenvolvimento das suas capacidades físicas e intelectuais. Foi a sua grande escola, no que concerne aos alicerces para a vida, pois os princípios e a disciplina militares, sempre nortearam a sua forma de estar, principalmente nos valores, da amizade, da lealdade, para além do gosto pelo estudo. Após o Colégio Militar foi aluno do liceu Nacional de Ponta Delgada, em S. Miguel nos Açores, tendo-se distinguido na disciplina de história, o que lhe granjeou a admiração de colegas e professores, em especial de um conhecido e ilustre estudioso da obra de Antero de Quental, seu mestre naquela disciplina. A investigação sobre a história militar de grandes batalhas e toda a filosofia histórica que envolvia os vários cenários, eram o objecto das suas leituras que graças à sua extraordinária capacidade intelectual proporcionava aos amigos momentos inesquecíveis de conversas inolvidáveis. Foi alistado como voluntario em Infantaria no BI18, em São Miguel. A sua passagem pelo Exército mereceu-lhe um louvor do Chefe do Estado Maior do Governo Militar dos Açores, por proposta do Chefe do Centro de Mobilização de Infantaria nº 18. As provas das melhores qualidades de carácter, disciplina, dedicação pelo serviço, estando sempre pronto a executar os trabalhos mais árduos com inexcedível competência e boa vontade, tornaram-no merecedor da consideração dos seus superiores que com estas palavras registaram na sua caderneta militar o louvor com que o agraciaram. O seu percurso na vida civil pautou-se por dois cargos principais. No Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada foi o responsável perante o Provedor, da fiscalização dos actos de gestão e administrativos, dos diferentes intervenientes, garantindo as boas práticas e a salvaguarda dos superiores interesses daquela benemérita instituição. O segundo cargo que o ocupou até à reforma foi na administração da “Casa Jácome Correia Hintze Ribeiro”, a convite do seu administrador Senhor Ernesto Hintze Ribeiro que, enquanto Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada, reconheceu no Carlos

Miguel qualidades excepcionais de trabalho, competência, lealdade e humanas. Durante o seu percurso profissional obteve um diploma em Direito de Trabalho através de um curso promovido pelo Sindicato de Empregados de Escritório. Nesta área, também se tornou um especialista, tendo a sua opinião merecido a atenção de advogados amigos que sabiam a capacidade do seu estudo, sempre muito detalhado e atento aos pormenores técnicos que qualquer legislação encerra. Excelente caçador e profundo conhecedor de toda a legislação correspondente a esta área, era sempre ouvido pelos seus pares. Foi com o seu Pai que aprendeu as primeiras lições práticas de caça. O xadrez foi também o seu grande entusiasmo, tendo-se distinguido junto de outros jogadores, pois o conhecimento de muitas jogadas clássicas e outras de sua autoria, permitiram-lhe muitas vitórias. Foi este excelente jogo a sua companhia nos dias da reforma. Chegou a testar um programa informático com este jogo, em que o conhecido campeão Kasparov (segundo o vendedor) tinha participado junto do programador. Era um tabuleiro electrónico que interagia através do movimento das peças. Não só ganhava no nível mais elevado, como também explicava as falhas que encontrava no programa e tudo isto, já sexagenário. Amigo Carlos Miguel, serás recordado por aqueles que te acompanharam na amizade e na lealdade característica dos Verdadeiros Seres Humanos. Antigos Alunos dos Açores


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Henrique Adriano Mire Dores (32/1936) Coronel de Cavalaria com o Curso de Estado Maior Tenente da 1ª Companhia do Colégio em 1941/1942 Nasceu a 1 de Novembro de 1924 – Faleceu a 18 de Março de 2013

O nosso irmão Henrique consolidou no Colégio a formação de carácter e integridade moral que lhe foi transmitida pelos nossos pais. Foi de uma grande dedicação à familia, estando sempre pronto a ajudar quem dele precisasse. Era de uma grande modéstia e fazia o possível para não se notar a sua benéfica influência. Enunciamos, de seguida, um pequeno resumo do seu curriculum vitae: - curso de Cavalaria na Escola do Exército (1944-46); - instrutor da Táctica de Cavalaria na Escola do Exército (1951-53); - curso de Estado Maior (1953-55); - curso da Escola Superior de Guerra em Paris (1967-69); curso que no exército francês é indispensável para acesso aos altos postos militares, constituindo condição de promoção a oficial general. Tal como o Roberto Durão (15/1942) afirma no texto abaixo – o qual agradecemos vivamente – o nosso irmão incarnou bem o espírito de oficial de Cavalaria. Além disso, tivemos ocasião de percepcionar a sua aptidão para interiorizar e aplicar a visão de um verdadeiro oficial de Estado Maior.

Henrique Os nossos professores nunca se esquecem. Ficam sempre, de um ou de outro modo, na nossa Memória. Como Aristóteles dizia: “o Professor ensina mas o Mestre aprende.” Tu soubeste ser, simultaneamente, Professor e mestre pelo exemplo que nos transmitiste, pela verticalidade e coerência de verdadeiro Cavaleiro que, sempre com natural simplicidade, te revelaste. Repousa em Paz. Bem Hajas! Aleluia!

- Estado Maior General das Forças Armadas (agosto de 1976 a maio de 1981); - Director Geral de Viação do Ministério dos Transportes e Comunicações de 9 de abril de 1975 a 8 de outubro de 1975). O nosso irmão Henrique realizou missões de trabalho a diversos países e tem várias condecorações e louvores a nível militar. Da análise destes documentos pode concluir-se que ele exerceu a sua condição de militar de forma a honrar o nosso Colégio!

Destacamos algumas funções desempenhadas pelo Henrique: - Regimento de Lanceiros 2 (1947-51); - Instituto de Altos Estudos Militares: professor dos cursos de Estado Maior (pertencendo ao quadro de professores desde 1964); director dos cursos de Estado Maior (de maio de 1973 a julho de 1974); - Comissões de serviço em funções de Estado Maior, Guiné (1961-63): sub-chefe de EM; chefe da 3ª Repartição-Operações; Moçambique (1971-73): sub-chefe de EM do Comando-Chefe para as Operações; Chefe de Estado Maior da zona de operações de Tete; Chefe de Estado maior do Comando-Chefe;

José Maria Myre Dôres (47/1942) Armando Eduardo Myre Dôres (118/1946)


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Recordando Os que nos deixaram

Fernando Henrique Voss Whanon (73/1936) Empresário Nasceu a 20 de Dezembro de 1924 – Faleceu a 14 de Março de 2013

“Não, Fernando abóprópi abo, bu homi” O Fernando Henrique Voss Wahnon, mais conhecido por apenas Fernando Wahnon, e também tratado por Fernando Lima, foi um caso de certo modo inovador na frequência do Colégio Militar. Nascido em Farim, na Guiné Portuguesa, em autêntico berço de ouro, filho de um bem sucedido emigrante cabo-verdiano, Mário Lima Wahnon, criador de uma poderosa rede comercial naquela nossa antiga colónia, concorreu à admissão ao Colégio Militar em 1936, numa época em que ainda havia portugueses de primeira e portugueses de segunda. 1936 foi também o ano do início da Guerra Civil de Espanha, o que é sinónimo de muitos sentimentos pró e contra os regimes “de força” como então se dizia. Mas o Fernando foi admitido sem quaisquer dificuldades e fez o seu curso liceal no Colégio com toda a normalidade, sem dar azo a quaisquer problemas de natureza racial, um caso exemplar de total integração com os seus camaradas europeus. Foi sempre respeitado, admirado e “popular” entre os seus camaradas. A sua alcunha de “Négus” era “mundialmente” conhecida! Excelente atleta, tornou-se figura notória em diversos ramos, muito em particular no futebol, em que se afirmou um esteio da equipa colegial a que pertenceu desde os seus 15 anos, e no atletismo, tendo detido o recorde nacional interescolar do salto em altura com uns então maravilhosos 1,75 m (o recorde absoluto de Portugal pertencia nesse início dos anos 40 ao atleta Guilherme Espírito Santo com uns sensacionais 1,88 m!). Fernando foi um camarada excepcional e só teve amigos entre os colegas. Terminado o curso colegial em 1943, manifestou o desejo de seguir a carreira da Marinha de Guerra e concorreu à Escola Naval. Infelizmente esse seu sonho não pôde ser concretizado por razões relacionadas com a sua origem africana. De notar que nunca nenhum dos seus camaradas lhe ouviu alguma vez qualquer ressentimento sobre esta decisão. 1 - Milú e Fernando

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Regressou então à Guiné para colaborar profissionalmente na actividade paterna, tendo em determinada altura, final dos anos 40, ido fazer cursos escolares e práticos em Inglaterra e em França, países onde passou alguns anos. Registamos a propósito os diplomas existentes no seu espólio do curso de Civilização Francesa da Sorbonne, da Universidade de Paris, nos anos de 1948 a 1950. Regressado de novo à Guiné foi tomando conta dos grandes negócios de seu Pai que era membro prestigioso do Conselho do Governo, órgão consultivo do Governador da Província. Nessa actividade de “gerente comercial”, muito centrada na famosa “Casa Gouveia”, empório relacionado com a então CUF, o nosso 73 estabeleceu excelentes contactos tanto profissionais como sociais com alguns antigos alunos do nosso Colégio residindo na Guiné, em particular com o Artur Martins de Meireles (204/1926), o Francisco Teixeira Frederique (114/1929), o Luís Maria Metelo (7/1933), o Rodrigo Faria de Carvalho (206/1933), o Romeu Alves Martins (234/1935), o Horácio Carvalho (33/1936), o Eduardo Matos Guerra (89/1941) e o Ruy d’Oliveira Soares (332/1947).

No final dos anos 50, início dos 60, teve muito contacto com o então Comandante Militar, Luís Alberto Filipe Rodrigues (199/1918), contactos esses que se voltaram a manifestar de forma mais acentuada a partir de 1968 com o Comandante Chefe Governador da Guiné, António Spínola (33/1920). A vida corria-lhe muito bem. A sua casa em Bissau estava totalmente aberta aos antigos Meninos da Luz que viviam naquela parcela do nosso Ultramar. Essa casa era conhecida como a “Associação”! Em Julho de 1973, dois meses antes da declaração unilateral da independência pelo PAIGC, Fernando foi eleito Vice-Presidente da Assembleia Legislativa da Guiné, cargo altamente prestigiado naquela então província ultramarina. A aceitação desse posto foi porém uma decisão muito arriscada do ponto de vista político. Com efeito Portugal acabou por reconhecer a independência desse território em Setembro de 1974, cinco meses após a Revolução dos Cravos. Fernando foi preso pelo PAIGC em Março de 1975 e encarcerado na terrível prisão política de “Cumeré”. Resistiu e sobreviveu, sofrendo embora um tratamento de-


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sumano sem paralelo, como por exemplo ser suspenso pelos pés amiudadas vezes, tal como São Pedro quando foi crucificado em Roma, ser espancado frequentemente pelos algozes até à perda dos sentidos, dormir num chão infestado de formigas, comer só arroz “ferventivo”, expressão crioula que significava “arroz feito à pressa, sem nada”, e volta e meia algum peixe. Os seus carcereiros pretendiam obter uma confissão deste nosso camarada por delitos políticos contra o PAIGC, delitos que ele não cometera e para os quais não

havia nenhumas provas. Foi por isso que ele nunca subscreveu tal confissão. Sua irmã, Maria Isilda Wahnon Flamengo, desenvolveu uma actividade extraordinária no sentido de procurar que se lhe fizesse justiça. Segundo documentação que está arquivada na sede da AAACM, Maria Isilda, entre outras iniciativas, enviou uma mensagem ao Presidente da República da Guiné-Bissau, Luís Cabral, irmão de Amílcar Cabral, mensagem essa que ficou sem resposta, e contactou também o Presidente da República portuguesa, então

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Francisco da Costa Gomes (254/1924), por carta em Dezembro de 1975. Nessa exposição escreveu o seguinte: “Também não queria deixar de lembrar que o meu irmão, tendo sido educado no Colégio Militar onde só deixou amigos, nele recebeu também aqueles princípios de integridade que fortalecem o homem pela vida fora e com os quais o indivíduo se sente incapaz de atraiçoar o seu carácter”. Não podemos deixar de referir sobre este assunto que a AAACM, nomeadamente os seus então Presidentes da Direcção Carlos Vieira da Rocha (189/1929) e Armando Marques Girão (426/1917), respectivamente de 1973 a 1975 e de 1975 a 1979, desenvolveu uma actividade notável, particularmente a nível diplomático, para colaborar na sua libertação das masmorras guineenses. Finalmente, por falta de provas, Fernando acabou por ser posto em liberdade sem julgamento em Abril de 1977 e regressou a Portugal no ano seguinte. Um detalhe: quando foi libertado pesava menos 30 kg do que quando foi preso dois anos antes! Dizia o Fernando com o seu sempre bem humorado espírito que este emagrecimento tinha sido a única coisa boa que lhe acontecera nesses dois anos! Toda a riqueza angariada por seu Pai se orientou para outros destinos, deixando o Fernando sem recursos, o que o obrigou a viver a segunda parte da sua existência duma forma extremamente difícil tanto do ponto de vista psicológico como do ponto de vista material, ele que tanto procurara ajudar as pessoas em dificuldades. Mas, justiça lhe seja feita, nunca ninguém lhe ouviu um queixume nem uma acusação. Detestava falar em tristezas. Habitou desde então em Algés com sua Mulher, Senhora D. Maria de Lourdes Oliveira Barbosa, uma companheira duma coragem excepcional. Teve dois filhos duma primeira união, Mário José e Luís Manuel. O Mário teve por seu lado três filhas e um filho, netas e neto do Fernando. Este neto, de sua graça Guilherme Henrique Voss Wahnon, é aluno do Colégio Militar, onde tem o número 37. E uma das netas, a Beatriz Turpin Voss Wahnon, mais conhecida por Bia, foi Menina de Odivelas onde se destacou e onde é recordada pelo seu exemplar comporta-

2 - Reunião da Velha Guarda nos Claustros do Colégio em 2.000. Da esquerda para a direita: Luís Manuel Quintino Rogado (196/1936), Francisco Coelho de Moura (263/1935); Fernando Henrique Voss Wahnon (73/1936); José da Paz Olímpio (327/1937); José Manuel Soares de Oliveira (112/1936); José Luís Almiro Canelhas (320/1936) 3 - Fernando Wahnon ganha o salto em altura dos Interescolares de Atletismo em 1942, com a marca record de 1,75 m


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mento e aproveitamento escolar. Obrigado Fernando pelo Menino da Luz que foste. Pelo Menino da Luz que continuas a ser. Sabe bem evocar aqui a máxima crioula que a Milú nos ensinou:

“Não, Fernando abóprópi abo, bu homi” (“Fernando, és realmente um verdadeiro homem”)

O Curso de 1936/1943

“Wahnon, o Cabaceira da Guiné”

- Está lá? É o fidalgo da Casa Santa Fé? - É sim senhor. E desse lado é o Cabaceira da Guiné?

Invariavelmente a conversa entre nós começava assim. Em todas as nossas conversas, quaisquer que elas fossem, um dos assuntos era a Guiné, e via-se que o Fernando tinha saudade da sua terra natal e que o seu coração estava repartido entre a Guiné e Portugal. Referindo-se em conversas aos balanços das casas comerciais do interior da sua terra, dizia-me do sacrifício que era, para ele, contar botões, alfinetes, carros de linhas, panos, medir panos, pesar no pequeno armazém da casa a mancarra (amendoim), o arroz, o cajú, o peixe seco, para o que dedicava horas intermináveis tantas eram as casas que tinha. E eu bem sabia avaliar porque presenciei por acaso alguns desses balanços em terras de Angola. Dizem-me que morreu do coração… Eu não acredito, pois o seu coração era Portugal, a Guiné e a sua família, e esse Amor, esse Coração não morre nunca. Companheiros que fomos no atletismo e futebol defendendo as cores do nosso Colégio, sempre formámos uma equipa ao longo dos anos que nem a distância quilo-

métrica fez esmorecer, e nem o seu desaparecimento acaba com esta equipa, pois há coisas que são eternas como a nossa Amizade. O Fernando Wahnon era um exemplo vivo dos valores do Colégio Militar, em que a Honra, Dignidade, Camaradagem e Amizade eram suas qualidades. O Embondeiro em Angola, ou Cabaceira na Guiné, é uma árvore grossa e imponente da maior parte do continente africano e de grande parte da Índia tropical. O seu porte é tão imponente que não há ninguém que ao pisar o solo africano pela primeira vez o não identifique. É nosso conhecido e a despeito do seu ar ventrudo e do seu porte, era, e é nosso amigo. Os naturais da terra encontram nele um sem número de utilidades. Os frutos que produz chamam-se mákua ou múkua, (rato), pela configuração. Tem uma polpa refrigerante que os naturais bebem, servindo até de “febrífugo”. A estes frutos chamam os Ingleses “monkey bread”, os alemães “affrenbod” e os franceses “pan de singe”. Antigamente a polpa era seca e remetida para a Europa sob o nome de “terra de lemnos”, empregando-se na medicina como remédio contra disenterias, hemoptises e febres malignas. As pequenas sementes servem de alimento, e a casca dos frutos seca serve para fazer malgas e recipientes para líquidos, utilizando-se até para retirar a água das canoas e pirogas. Quanto às folhas até estas se utilizam: as mais tenras, cozidas e temperadas com óleo de palma ou de amendoim, em forma de esparregado, dizem que é um bom e agradável alimento. A casca também é aproveitada para combater as febres e do

seu tronco ou líber extraem-se fibras que servem para atar sacos de transporte de algodão e outros artigos, serapilheiras, etc. Estas fibras são conhecidas por cá como “licunte”. A Cabaceira nunca morre, floresce e continua a sua saga vezes sem fim… Assim é contigo Fernando, a tua saga continua…. António Ferreira Alves (Bóbó) 86/1934

Eras rico, muito rico. Mas mais no ser do que no ter. Percorreste este mundo. Muita gente conheceste deixando em todos uma imagem, um sopro de beleza e de bondade. Toda a tua riqueza material perdeste e, injustamente, muito sofreste mas isso não te abateu como um rijo pinheiro que suporta todas as tempestades. Ficaram e ficarão em nós esses 2 «bês» de elegância moral que tão bem sabias transmitir a todos os que te conheceram e foram bem mais valiosos do que tudo o que possuíste. De ti guardaremos sempre a dignidade, nobreza de carácter e humildade que sempre te acompanharam nos bons e nos maus momentos. Deus te abrirá, estou certo, as portas do céu, de par em par, como bem mereces. Fernando Wahnon, o «negus» a quem eu tanto gostava de chamar o «Prestes João», repousa em paz! Nunca te esqueceremos como exemplo de um autêntico Menino e Homem da Luz. Roberto Ferreira Durão 15/1942

José Manuel de Oliveira Marinho Falcão (75/1937) Oficial do Exército – Tenente-Coronel Reformado Nasceu a 29 de Novembro de 1926 - Faleceu a 27 de Fevereiro de 2013

Não me lembro, em toda a minha longa vida, de outra qualquer situação em que o Destino, ou o Acaso tenham nela agido tão inesperada e decisivamente como, estranhamente, ao longo dos tempos, foi sucedendo na contínua criação de condições

para a nossa proximidade física e, assim, para um tão raro relacionamento, num muito íntimo convívio e inerente amizade fraterna, sempre crescente, como sempre foi ocorrendo, entre mim e este muito querido CAMARADA. Nesta muito rápida e

sucinta descrição das mais relevantes destas situações de aproximação, creio poder, aqui, ilustrar a raridade mencionada: - Em 1944, o Zé Manel passou para o curso 1938/1945 que vivia, então, com a mais devotada entrega, num apoio criati-


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vo e total, á saga fantástica do venerado Director General Mesquitela que iria conduzir à reposição, na Instituição Colégio Militar, dos seus genuínos e reais valores de Excelência, a integração do nosso Zé Manel foi total e nunca mais deixou de ser assumido, por todos nós, senão como mais um do nosso curso; - Desde 1948, juntos, prestámos serviço em Cavalaria 7, o Zé em brilhante destaque no hipismo, uma das suas maiores paixões, mas reunidos, na mais constante e pura amizade, com o Chico Hipólito, o Palma Vaz, o Teixeira Diniz e um sem número de oficiais, na maioria antigos alunos. Mas sempre, com o Zé em contínua e eficaz acção integradora, eliminando diferenças comportamentais e construindo harmonia na convivência; - Em1951, sem qualquer combinação prévia, embarcámos ambos para Goa, para servirmos na mesma unidade de Cavalaria, o Grupo de Esquadrões Motorizados Mouzinho de Albuquerque, em Torçanzori, Margão. Apesar de confrontados com a necessidade duma radical alteração dos hábitos de vida, imposta pela adequada adopção de cuidados cívicos conducentes ao respeito por hábitos culturais algo diferentes, pelo rigor do clima e por carências de toda a natureza que tivemos de suportar, fomos, porém, bafejados com a qualidade rara de todos os companheiros que constituíam o grupo que, a partir

de então, iria partilhar o mais íntimo do nosso dia a dia. Melo Gomes, Palma Vaz, Adão Baptista, Ferreira Estudante... parecia terem sido escolhidos no melhor escol possível. Não havia qualquer hipótese de se ter arranjado melhor. Que grupo maravilhoso! Todos unidos, sempre, como verdadeiros irmãos, até à morte; - Em 1953 o Zé foi servir na PSP e colocado no Distrito de Damão. Pela 1ª vez um afastamento? Sim e, ironicamente, então, também eu fui transferido para o Esquadrão de Reconhecimento 2, em Mapuçá. Mas, foi apenas um afastamento físico, dado que, infortunadamente, pouco depois, lá para Julho de 1954, ocorrências graves e torpemente noticiadas de que o Zé foi vítima provocaram-me enorme pânico e desespero, mas consegui colmatar o ónus da distância com o meu permanente contacto com o Melo Gomes que, então, comandava toda a PSP de Damão e que me ia sossegando, pondo-me ao corrente da realidade dos factos; - Em 1957, regressei a Lisboa, para o meu ingresso no 1º curso para o QTSM; - Em 1961 o Zé ingressou, também, no 2º curso do mesmo quadro. Ficámos assim, novamente, na proximidade de contactos pessoais, por passarmos a servir no mesmo Quadro. Porém, o mais espantoso estava ainda para acontecer! Em 1964, quando, com a Carmen, vim, pela 1ª vez, visitar a casa onde habito e

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que me havia sido atribuída pelo SSFA, encontrei o Zé no parque de viaturas dessa casa e, perguntando-lhe: “O que fazes aqui?” a sua resposta, calma e prazenteira, como de costume foi: “Isso pergunto eu! Eu moro aqui por cima, no 1º andar!” Pode-se imaginar a alegria da Carmen e a minha! Ela, dando-se excelentemente com a Ivone, nem queria acreditar! Vertiginosamente, houve quase uma fusão das nossas vidas: nos fins-de-semana, invariavelmente, as 2 famílias, completas, iam almoçar em Bucelas, Ericeira ou piquenicar num pinhal das redondezas, as festas de família eram sempre passadas em conjunto, os filhos davam-se excelentemente, e as duas Senhoras relacionavam-se melhor do que 2 irmãs. Há 20 anos, desde o falecimento da Carmen, ficando eu a viver completamente só, não me é possível descrever o maravilhoso apoio que me tem sido dispensado por toda a família Marinho Falcão. Todos os dias nos visitávamos; os jogos de futebol eram vistos na sua casa ou na minha, tendo, ambos, lugares cativos, frente à TV. Participei em todas as festas familiares, sentindo-me apenas descriminado face ao zelo, carinho e desvelo, como que “postos à compita”, entre os que tão fraternamente me recebiam! Na sua carreira militar, o José Manuel Marinho Falcão exerceu, ainda, funções na FMBP e na DSM e, como oficial supe-


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rior, na Chefia dos Serviços de Material da GNR. O vasto número e, em especial, o teor dos louvores que mereceu dos seus Comandos expressam bem o mérito do seu valor profissional e as excelsas qualidades do seu carácter. Da forma como eu senti o Zé Manei “ir vivendo” as várias fases dessa carreira, posso resumi-la em duas palavras: “permanente Paixão!”. Dava-me um especial prazer ouvi-lo dissertar, sem cansaço e quase em êxtase, sobre Damão, onde tudo era superlativado: o portuguesismo e a terna

simpatia dos damanenses, a paisagem, o clima, a culinária...enfim, em Damão... e sempre lá... havia o melhor de algo desfrutável ou precioso da nossa tão querida Índia. Nada, mas absolutamente nada mudava quando o tema era a GNR, como as encomiásticas referências ao porte cívico e inultrapassável valor profissional das suas gentes, o esplendor do seu fardamento e o garbo único da sua banda a cavalo!!! Por voluntariado, teve, ainda, participação de total entrega e de assinalável mérito, no apoio a várias Direcções da Liga dos Com-

batentes e, inevitavelmente, também, pela Liga, nasceu paixão idêntica. Zé Manei, desta vez o Destino falhou, rotundamente! E, por isso, sinto, MUITO, MUITO a tua ausência! Sempre presente, no pensamento... mas... FAZES-ME FALTA, IRMÃO ZÉ! Até breve! Será que ele ou o Acaso ainda terão na manga algum Purgatório de eleição, para onde nos trarão próximos, de novo?! Eu acho ÓPTIMA A IDEIA! Carlos Frederico Dias Antunes 212/1939

José Pedro Jorge Chaves Vieira da Fonseca (44/1938) Médico Nasceu a 16 de Abril de 1927 - Faleceu a 27 de Março de 2013

Benfica, símbolos que cobriam o teu caixão quando partiste, logo na Páscoa (outro belo sinal). Partiste apenas, não morreste, porque connosco ficaste deixando algo de ti em nós pois muito de nós também em ti levaste. Aleluia, Pedro! Teu amigo Roberto Ferreira Durão 15/1942

Amigo Pedro. Com que saudade te recordo. Tu eras o 44 do sétimo ano. Tive pena por não teres sido meu graduado. Eu era o 15 de 14 anos. No Colégio é assim: os «putos» olham os mais velhos quase como «deuses ou ídolos» terrenos. Eu via em ti aquilo que desejava ser: o paradigma de um autêntico menino da luz, ecléctico em tudo e, nomeadamente, um atleta e desportista como nunca vi outro durante o tempo em que lá andei tacteando a Luz e explorando a quinta, a «enferma» e os telhados daquela casa que, «tinha feitiço», como dizia o nosso inesquecível Director «o Mesquitela» que por sinal veio a ser teu sogro. Eras e sempre te mantiveste um exemplo de um Homem excepcional. Tinhas duas grandes paixões: o nosso Colégio e o teu

Por altura do falecimento de José Pedro Vieira da Fonseca (44/1938) foi publicado no Semanário SOL um texto, da autoria do Jornalista Pedro d’Anunciação, que retrata aspectos da personalidade e da vida deste nosso Camarada. A ZacatraZ contactou o autor do texto que autorizou a sua transcrição na nossa revista. Registamos e agradecemos a pronta amabilidade com que nos atendeu e a disponibilidade manifestada para com a ZacatraZ.

José Pedro Vieira da Fonseca 1927-2013 O médico do Benfica com

lugar no campo

Médico do Benfica nos anos 70 e 80 com uma visibilidade no campo excepcional, ex-dirigente e atleta do clube, seu sócio de mérito. Morreu 4ª-feira da semana passada, 85 anos, doença. Vieira da Fonseca foi um caso excepcional como médico de um clube desportivo – concretamente, o Benfica – pelo papel e visibilidade que tinha em campo, e que não voltaria a repetir-se. Morreu 4ª-feira da semana passa-

da, reformado há anos, a menos de um mês de completar 86, de doença. Acompanhou a mítica equipa benfiquista que integrava Eusébio, Coluna, Humberto Coelho, Simões, e alguns já desaparecidos como o guarda-redes Costa Pereira ou o avançado Torres. Os jogadores reconheciam-lhe o papel excepcional, e explicavam-no não só pelo encanto que emanava, mas também por lhes dar segurança em campo. Só ocorre outro médico desportivo em Portugal que tivesse um papel público tão marcante no futebol, João Silva Rocha (que pertenceu ao Belenenses, à Selecção Nacional – incluindo a célebre equipa do Campeonato Mundial de 1966 – e à FIFA), mas que morreria muito cedo, pouco depois do 25 de Abril, precisamente quando Vieira da Fonseca se tornava mais visível. Alguns dos jogadores, a começar pelo Eusébio, estiveram no enterro. José Pedro Jorge Chaves Vieira da Fonseca nasceu no Norte de Moçambique, em Mocímboa da Praia, uma localidade onde o pai se instalara como médico. Veio depois com a mãe para Lisboa (o pai morreria cedo, com cinquenta e poucos anos, em Moçambique), fazer os seus estudos: primeiro no Manuel Bernardes, depois no Colégio Militar, e finalmente em Medicina. O Colégio Militar ser-lhe-ia uma grande referência de toda vida. E lá usou até ao fim, na lapela, o seu emblema, junto com o do Benfica. Apreciou não só a disciplina e o espírito de grupo desta instituição, como também as práticas desportivas. Aí se distinguiria primeiro a jogar futebol e, por exemplo, a saltar à vara. De resto, acabaria por se casar com uma filha do então director do Colégio, o general Luís Mesquitela.


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Cedo começou a fazer desporto no seu clube de eleição, o Benfica, vindo a figurar como suplente na candidatura do ex-presidente Maurício Vieira de Brito, em 1959. Sócio do clube desde 1944, jogaria futebol nos escalões jovens. Como defesa de juniores e de reservas, chegou a ser treinado por um famoso húngaro Janos Biri. Em 1984, foi feito sócio de mérito do clube.

Mas seria como médico que se viria a tornar figura pública e popular do Benfica. Uma filha recorda-se de que já ali exercia essas funções, quando o seu conterrâneo Eusébio (embora do Sul de Moçambique, de Lourenço Marques, hoje Maputo) se estreou na Luz, em 23 de Maio de 1961. Era um daqueles velhos médicos da escola dos Hospitais Civis de Lisboa (passou pelo São José, Desterro e Capuchos), que esteve ainda nas Caixas de Previdência e na Medicina Desportiva, para além do seu consultório particular, na Praça de Londres. Especializou-se em cirurgia. Morava na outra ponta da cidade, na parte alta da Av. Infante Santo, junto à Estrela. Num prédio em que se instalaram outras pessoa da família. Uma das suas paixões, a ópera, tornou-se conhecida de toda a vizinhança: discos a tocarem alto, e ele próprio a cantar árias de ópera. Foi de resto cantor amador, e nessa qualidade chegou a entrar em récitas, desde os tempos de colégio. Ia aos espectáculos que havia por aí de Ópera, no São Carlos ou no Coliseu, repetindo-os, não apenas em versões diferentes, mas na que estivesse então em cena. Chegou a ganhar um concurso da RDP sobre o tema – que teve depois como Prémio uma ida a Nova Iorque, para assistir a uma ópera no Metropolitan.

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Outra das características por que ficou conhecido eram as suas agendas, com letra mínima, e onde apontava todos os detalhes do dia-a-dia. Nos jogos do Benfica, os próprios jogadores reparavam que ele ia tomando notas, enquanto jogavam. «Nós marcávamos os golos, e o Dr. escrevia-os», diriam. Esses cadernos, numerosos e repletos, fazem parte da herança que deixa à família – e que provavelmente dariam para fazer uma detalhada história do seu clube, na época em que o acompanhou. De aspecto clássico, figura desempoeirada, tom suave, apesar de admirador da disciplina do Colégio Militar, nunca a transferiu para a vida dos que o rodeavam, a começar pela família. Uma filha diz não se recordar de o ver exaltado. Olho azul, o sorriso aberto será a imagem do feitio afável. Viajou muito, sobretudo com o clube – mas o local privilegiado de férias, para além da praia feita na linha do Estoril, era uma quinta da família da mulher, Mesquitela, em Abrantes. Não cultivava tertúlias. Empenhava-se apenas em participar nos encontros e festejos associados ao Colégio Militar ou ao Benfica. E nalgum jantar do seu curso de Medicina. Com dois filhos e quatro netos, morreu no dia em que lhe nasceu o sétimo bisneto. Uma saga toda de benfiquistas, quase sempre ferrenhos.

Álvaro Augusto Correia Barrento Sabbo (133/1968) Empresário Nasceu a 12 de Novembro de 1958 - Faleceu a 2 de Fevereiro de 2013

Em memória de um amigo

Conheci o Álvaro Sabbo (Vi) em 1968, quando entrámos no Colégio Militar e, dada a proximidade dos nossos números de aluno (ele 133 e eu 141), havendo de permeio somente o 135 – Virtuoso e o 139 – Casqueiro de Sampaio, estabelecemos logo um contacto de vizinhança, para mais estando ambos na mesma turma, a A. Havia mais afinidades entre nós pois ambos éramos dos Olivais (ele Sul e eu Norte) e os nossos irmãos mais velhos (ambos António) eram do mesmo ano de entrada (1966) e também da mesma turma (o António Sabbo – 11 e o António Nunes -141, tendo este saído em 1968). Andámos juntos até ao 5º ano (1973/74) tendo consolidado uma amizade assente em princípios muito simples e sãos: frontalidade e verdadeiro espírito de camaradagem, cimen-

tados por um aspecto muito importante que foi sempre o “ex-líbris” desta relação: o sentido de humor. Não me lembro de alguma vez ter estado junto ao Vi sem ser em amena cavaqueira e sempre com um sorriso rasgado nos lábios. Havia uma cumplicidade muito grande nas tropelias e partidas que estávamos sempre a “magicar”, ora para passar o tempo, ora porque nos “estava na massa do sangue”. E o ponto alto foi sem dúvida no segundo 5º ano (ambos repetentes), calhando-nos uma turma em que havia alguns alunos também “danados para a brincadeira” e sendo este o ano do 25 de Abril de 1974… Contudo, assumíamos sempre a responsabilidade dos actos que praticávamos, pois essa era a base da nossa educação, cimentada pelos princípios que norteiam os ditames colegiais. Nutríamos uma paixão comum pelo des-

porto e pelo Benfica, mas por modalidades diversas, tendo ideia que as eleitas por ele como praticante seriam a arte equestre e o basquetebol. O Vi pertencia à “Escolta a cavalo do Colégio Militar”. Era um atleta com particular aptidão para o meio fundo/corta-mato, pois tinha grande resistência, sendo por isso frequentemente seleccionado para representar o Colégio em certames desportivos com outras instituições de ensino. O Vi saiu do Colégio no final do ano lectivo 73/74, tendo ingressado no Liceu Nacional D. Dinis. Passei também por este Liceu, sendo que o Vi tinha aulas de manhã enquanto as minhas eram de tarde, motivo pelo qual as notícias que íamos tendo um do outro eram por intermédio de amigos comuns. Só o voltei a rever, episodicamente, no


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Estádio da Luz, pois tínhamos lugares cativos no mesmo sector. O último contacto físico que tivemos foi no desfile do 3 de Março onde passeámos longamente pela Baixa lisboeta, falando dos problemas da vida, mas sempre, sempre com um genuíno sorriso nos lábios, e nos olhos, reveladores duma visão optimista e esperançosa dum futuro que estaria para vir mas que, infelizmente não surgiu. Retenho do Vi o sentimento de lealdade e duma amizade equânime, o sorriso sincero e permanente e o abanar da perna direita sempre que estava em pé. Ontem, 3 de Fevereiro de 2013, na cerimónia fúnebre do nosso amigo Álvaro Sabbo, havia claramente dois grupos que, embora distintos, tinham em comum um elemento agregador de peso: a amizade ao Vi. Vi nos olhos dos presentes, antigos alunos ou não, uma expressão comum de sentido pesar pela partida dum amigo, mas com a satisfação de ter podido partilhar e guardar em memória momentos e histórias de vida de gratificante e honrosa amizade. Delfim da Fonseca Osório Nunes 141/1968

“Conheci o Vi Sabbo aos 10 anos no CM. Não sei explicar exactamente porquê mas sempre tive uma excelente relação com ele (acho que era fácil isso acontecer com o Vi, era o tipo de pessoa de quem não era possível não gostar). Logo depois de sairmos a vida cruzou-nos várias vezes a que se seguiu um longo interregno. A última oportunidade de estamos juntos foi há uns 4 anos numa reunião de curso no CM. Estivemos um bom tempo à conversa nos claustros. Cerca de 40 anos passados, o Vi mantinha no olhar o sorriso de menino traquinas que consta desta foto de mini-basquetebolistas colegiais. No seu misto de ingenuidade e de malandrice, tinha um carisma muito próprio que fazia com que, para além do que dissesse ou fizesse, gostássemos genuinamente dele. E, passado tanto tempo, as vicissitudes da vida não tinham alterado isso. Não conheci muitas pessoas até hoje com essa aura. O Vi partiu, mas fica uma recordação inesquecível e um sentimento de afecto profundo.” Pedro Luís de Pezarat Correia 420/1968

Sabão/133, camarada muito próximo por 7 felizes anos. Escolta, turma, pelotão, camarata, Mafra, muita coisa compartilhada. Somando com a sua simpática família e a afinidade com a área equestre, foi um colega que marcou. Um daqueles, felizmente tantos, que quando parte leva um pouco de nós, deixa o nosso mundo menor. Saudades Vi. Miguel Duarte Silva Lupi 14/1968




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