SUMÁRIO 02 Corpos Sociais da Associação para o triénio 2008-2010 03 Artigos à venda na Associação 04 Editorial
DA ASSOCIAÇÃO 06 O Senhor Presidente da República visita a Sede da Associação FICHA TÉCNICA
07 Inauguração do Lar da Associação das Alunas do Instituto de Odivelas 08 Inauguração da “Nova Casa”
PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL N° 178 - Janeiro/Março - 2010 45° Ano Fundador Carlos Vieira da Rocha (189/1929) *** Director Mário M. e Silva Falcão (314/1936) Chefe de Redacção Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949) Relações Públicas Vasco Santos Pinheiro (254/1982) Pelouro da Juventude João Carlos Agostinho Alves (110/1996) Ricardo Neto Galvão (347/1997) Nuno José Lopes da Costa Alves Caetano (99/1998) Francisco Rodrigues dos Santos (128/1998)
10 Jornadas de reflexão “O posicionamento do Colégio Militar no Contexto educativo global” 15 O Nosso Berço 17 Torneio de Bridge 19 Jantares de Natal da Associação 21 O estado da Capela do Colégio 22 10 Anos de Saída do Curso 1991/1999 24 Protocolos 25 Acordos Comerciais
DO COLÉGIO 30 O 3 de Março - 207 anos 45 Sociedade, o Colégio e a Récita 2010
COLABORAÇÃO 52 Camilo Castelo Branco e o Colégio Militar
Capa: UM por Todos, TODOS por Um
Foto: Sérgio Garcia
55 Saber não ocupa lugar... 59 A Marinha Mercante e a Guerra Colonial
RECORDANDO 66 Recordações Colegiais 71 “O sabor do tempo. Os instantes da Luz 72 Emydio Landerset Cadima (236/1938) 73 “Ralatividade e física clássica: continuidade e ruptura” 75 Antigos Alunos do Colégio Militar em destaque 76 Os que nos Deixaram Revista da AAACM
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Entidade proprietária e Editor: Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar Morada do proprietário e sede da Redação: Quartel da Formação - Largo da Luz 1600-498 Lisboa Telefone: 21 712 23 06/8 - Fax: 21 712 23 07 E-mail: revista@aaacm.pt Tiragem: 1400 exemplares Depósito Legal n° 79856/94 Periocidade Trimestral N° de Registo no ICS – 100010 ISSN 0872-8224 Design e Execução Gráfica:
Distribuição gratuita aos Sócios da AAACM Número Avulso: 4,00 € Assinatura: 15,00 €
UM POR TODOS, TODOS POR UM
(Os artigos publicados são da Responsabilidade dos seus Autores)
CORPOS SOCIAIS DA ASSOCIAÇÃO PARA O TRIÉNIO 2008-2010 MESA DA ASSEMBLEIA GERAL Presidente: Vice-Presidente: 1.º Secretário: 2.º Secretário:
José Eduardo Martinho Garcia Leandro - 94/1950 Bernardo Manuel Diniz de Ayala - 171/1953 Luís Baptista Esteves Virtuoso - 72/1973 Ricardo Neto Galvão - 347/1997
DIRECÇÃO Presidente: Vice-Presidente: Secretário: Tesoureiro: 1º Vogal: 2º Vogal: 3º Vogal: 4º Vogal: 5º Vogal: 1º Vogal Suplente: 2º Vogal Suplente: 3º Vogal Suplente:
Martiniano Nunes Gonçalves - 9/1958 José Maria Rebocho Pais de Paula Santos - 644/1968 Pedro Miguel Correia Vala Chagas - 357/1977 João Sanches de Miranda Mourão - 552/1960 Mário Margarido e Silva Falcão - 314/1936 Frederico Eduardo Rosa Santos - 78/1957 Duarte Manuel Silva da Costa Freitas - 199/1957 Carlos Francisco da Silva do Rio Carvalho - 307/1971 Samuel Ma - 29/1995 Fernando Nuno Lamy da Fontoura - 75/1959 Manuel Pedro da Costa Pereira Roriz - 519/1959 Vitor Manuel Galvão Rocha Novais Gonçalves - 666/1971
CONSELHO FISCAL Presidente: 1º Vogal: 2º Vogal: 1º Vogal Suplente: 2º Vogal Suplente: 2
Revista da AAACM
Pedro João Reis de Matos Silva - 449/1958 João do Passo Vicente Ribeiro - 153/1958 António Cortez Freire Damião - 236/1959 João Luís de Mascarenhas e Silva Shoerder Coimbra - 54/1984 António Luís Henriques de Faria Fernandes - 454/1970
Artigos à Venda na A.A.A.C.M
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©Foto: Gianni Sallustio
©Foto: Gianni Sallustio
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©Foto: Gonçalo Leal de Matos
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©Foto: Gonçalo Leal de Matos
Publicações
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Qualquer dos produtos pode ser adquirido na Secretaria da AAACM, assim como polos, t-shirt, emblemas, etc... Revista da AAACM
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EDITORIAL
EDITORIAL O Mário Margarido e Silva Falcão (314/1936), o Mário Falcão como universalmente é conhecido, Director da Revista, Membro do Conselho Supremo e da Direcção da Associação, não pode como é seu hábito assinar o Editorial deste número, tarefa que sempre desempenhou com grande mérito para além de dirigir e orientar esta publicação a que desde longa data dedica todo o seu saber e a maior disponibilidade. Motivos de saúde determinaram este impedimento, que esperamos e ardentemente desejamos sejam passageiros para que em breve esteja de novo connosco, com o seu inestimável apoio na condução da Revista. A situação adversa que se tem feito sentir relativamente ao Colégio tem congregado esforços de Antigos Alunos por força da acção dinâmica e muito meritória da Direcção da Associação, em conjugação com a Direcção do Colégio e outras Entidades. O Colégio serve o País nas suas múltiplas vertentes há mais de dois Séculos e há-de continuar a SERVIR por força da sua génese moral e da grandeza dos princípios que norteiam a formação dos seus Alunos. As horas difíceis são as que revelam a nobreza e o carácter das pessoas e não há dúvida que quando a tempestade se avizinha é reconfortante constatar que a Família Colegial cerra fileiras e marca presença dando força ao lema que nos tem guiado desde que tivemos o privilégio de passar junto do Busto do Fundador Marechal António Teixeira Rebello, entrar nos Claustros e integrar o Corpo de Alunos do Colégio Militar: UM POR TODOS TODOS POR UM. O Chefe de Redacção da Revista Gonçalo Salema Leal de Matos 371/1949
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DA ASSOCIAÇÃO
Revista da AAACM 5 ©Foto Leonel Tomás
ASSOCIAÇÃO
ASSOCIAÇÃO O Senhor Presidente da República visita a Sede da Associação
O Senhor Presidente da República visita a Sede da Associação O Lar da AAAIO foi inaugurado no passado dia 14 de Janeiro, tendo a sessão solene decorrido no Teatro Dom Luís Filipe sob a presidência de Sua Excelência o Senhor Presidente da República. O Senhor Presidente da República, Professor Aníbal Cavaco Silva, Aluno Honorário Nº 695 do Colégio Militar, cuja comitiva de entre outras Entidades integrava a Senhora Dona Maria Cavaco Silva, o Senhor Ministro da Defesa Nacional e o Senhor Chefe do Estado-Maior do Exército, no âmbito da sua deslocação ao Quartel da
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Revista da AAACM
Formação, visitou as instalações da Sede da AAACM tendo sido recebido e acompanhado pelos Presidentes da Direcção, do Conselho Supremo, da Mesa da Assembleia Geral e por diversos membros do Conselho Supremo e da Direcção. Nesta curta visita o Senhor Presidente da Republica inteirou-se do trabalho desenvolvido pela Associação na recuperação das instalações que integram o Quartel de Formação tendo manifestado especial agrado pelo ambiente e decoração interior da nossa Sede.
ASSOCIAÇÃO Inauguração do Lar da Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas
Inauguração do Lar da Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas MENSAGEM DA DIRECÇÃO DA AAACM Dois factos de grande significado marcaram o mês de Janeiro: a inauguração oficial do Lar da Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas – a nova “Casa da AAAIO” – pelo Senhor Presidente da República e a visita que o Chefe do Estado fez, nessa altura, à Sede da nossa Associação. Destaco aqui, em particular, a inauguração do Lar, encontrando-se a notícia referente à visita do Senhor Presidente da República à Sede da AAACM tratada em separado. Saúdo, em nome da AAACM, a Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas, na pessoa da sua Presidente da Direcção - Dra. Ana Maria Pinto Soares Hoeppner - pela notável obra social levada a cabo, fruto do querer, da vontade e da imaginação para, ao longo de cerca de 10 anos, vencerem as batalhas que travaram, entre outras, contra burocracias, dificuldades financeiras e, já na fase final, durante os 18 meses da obra, com a empresa construtora. Trata-se de uma obra que consubstancia, em toda a sua dimensão, os valores
da solidariedade, valores que estatutariamente e na prática partilhamos e que ligam, em definitivo, as duas Associações. De facto, após o prolongamento da concessão do Quartel da Formação pelo Ministério da Defesa à AAACM ocorrida aquando da entrada da AAAIO naquele espaço e dando origem à partilha física daquele património, entramos, agora, numa nova fase de interligação de âmbito mais vasto entre as duas Associações, resultante da atribuição à AAACM da utilização por Antigos Alunos do Colégio de dez das quarenta e duas camas disponíveis. Não posso deixar de, nesta ocasião, referir, igualmente, o contributo para o sucesso desta obra das anteriores Direcções da AAACM presididas pelo José Eduardo Paiva Morão (256/1946), Manuel Tavares da Silva (116/1950) e José Eduardo Garcia Leandro (94/1950) e de alguns Antigos Alunos, com particular destaque para o João Ayala Botto (254/1948) pela sua dedicação e apoio técnico prestado ao longo de todo este processo.
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ASSOCIAÇÃO
Inauguração da “Nova Casa” LAR PARA A 3ª IDADE DA ASSOCIAÇÃO DAS ANTIGAS ALUNAS DO INSTITUTO DE ODIVELAS No passado dia 14 de Janeiro, com a presença do Presidente da República, Professor Doutor Anibal Cavaco Silva e da Dra. Maria Cavaco Silva, bem como de altas individualidades civis e militares, procedeu-se à inauguração oficial da NOVA CASA, LAR DE IDOSOS, de que irão beneficiar antigos alunos sócios das Associações dos três Estabelecimentos Militares de Ensino e seus familiares. Foi o culminar de um longo processo, iniciado com uma sugestão do General Paiva Morão (256/1946), então Presidente da Direcção, para que o Lar viesse a ocupar parte do “Quartel da Formação”, no Largo da Luz, onde já funcionava a nossa Associação. Construido em cerca de 18 meses, este Lar ocupa três antigos edifícios que foram totalmente remodelados e um outro feito de raiz exclusivamente destinado a quartos, totalizando no seu conjunto
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Revista da AAACM
pouco mais de 2.000 metros quadrados de área útil coberta. Tem capacidade para 42 residentes e mais 15 utentes para Centro de Dia e Apoio Domiciliário, estando equipado com todos os requisitos legalmente exigíveis para este tipo de utilizações tendo o seu custo atingido cerca de 1.100.000 Euros. Contou com diversos apoios do Ministério da Defesa Nacional, de subsídios do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social e de muita acção de Voluntariado, tanto no acompanhamento das obras como na elaboração de projectos e na decoração, nas quais se envolveram antigas Alunas do Instituto de Odivelas e antigos Alunos do Colégio. A sessão solene da inauguração decorreu no Teatro D.Luis Filipe, tendo o discurso de Boas-Vindas sido pronunciado pela Presidente da Mesa da Assembleia Geral da AAAIO, Dra. Maria Noémia de Melo Leitão e a apresentação do empreendimento esteve
ASSOCIAÇÃO Inauguração da “Nova Casa”
a cargo da Presidente da Direcção da AAAIO, Ana Maria Pinto Soares Hoepppner. Seguiu-se o descerramento da lápide comemorativa da inauguração, a visita às instalações, o contacto com algumas utentes e a assinatura do Livro de Honra.
A nossa Associação esteve representada pelos Presidentes da Assembleia Geral e da Direcção, bem como pela maioria dos elementos dos nossos Corpos Sociais. João Augusto de Oliveira Ayala Botto 254/1948
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ASSOCIAÇÃO
Jornadas de reflexão “O posicionamento do Colégio Militar no contexto educativo global” Jornadas promovidas pela Associação, realizadas no Hotel Pestana Cascais nos passados dias 30 de Janeiro e 6 de Fevereiro. No quadro das suas obrigações estatutárias a Associação tem por objectivos, entre outros, a defesa e promoção do Colégio devendo contribuir para a sua dignificação e prestígio, prestando, para o efeito, não só a colaboração que lhe for solicitada, como a que, por sua iniciativa julgar conveniente e oportuna.
Neste âmbito entendeu a Direcção da Associação assumir uma posição pró-activa de apoio à hierarquia que superintende no Colégio Militar, tendo em conta a importância para o seu futuro das transformações e alterações da sociedade com consequências profundas nos estabelecimentos de ensino.
A Conferencista Drª Rute Vasco na mesa que presidiu à abertura dos trabalhos
Surgiu assim um conjunto de iniciativas intitulado “Vamos Apoiar o Colégio” e a consequente necessidade de aprofundar o conhecimento existente sobre a realidade educativa em Portugal e as respectivas necessidades. 10
Revista da AAACM
©Foto Samuel Ma
Foi neste contexto que surgiram as Jornadas de Reflexão “O posicionamento do Colégio Militar no Contexto Educativo Global” realizadas nos passados dias 30 de Janeiro e 6 de Fevereiro no Hotel Pestana Cascais.
ASSOCIAÇÃO Jornadas de reflexão “O posicionamento do Colégio Militar no contexto educativo global”
Participaram dezenas de Antigos Alunos, nomeadamente os que se ofereceram no jantar de 19 de Novembro para colaborar com a Associação nestas temáticas e todos os que se inscreveram em resposta aos convites publicitados na última newsletter e no site. Para além de termos enriquecido a qualidade da nossa análise e a compreensão da realidade, estas jornadas, pela vivacidade dos debates e variedade de pontos de vista apresentados, ajudaram-nos a construir, de forma significativa, uma visão da Associação so-
bre os caminhos de futuro do Colégio, o que nos permitirá uma contribuição e intervenção de apoio mais sustentada e fundamentada. Para suportar e enquadrar o processo de reflexão estiveram presentes dois oradores especializados nas problemáticas dos estabelecimentos de ensino mistos/ /unisexo e externatos/internatos, respectivamente a Dra. Rute Vasco e o Dr. Américo Baptista. Os dois oradores fizeram excelentes intervenções e atrevemo-nos a tentar resumir algumas das ideias expostas.
Aspecto parcial dos participantes durante uma das sessões de trabalho na sala principal ©Foto Samuel Ma
A Dra Rute Vasco apresentou um conjunto de estudos realizados na Europa e EUA em que se compara o desempenho académico em escolas mistas e em escolas de rapazes. Tentando resumir algumas das ideias abordadas destacamos três tópicos: • Desde que se massificou o ensino misto no mundo ocidental há uma
evidência de pior desempenho dos rapazes medida em termos de acesso às Universidades, abandono do ensino obrigatório e chumbos. • Há estudos de domínio neuro-sensorial, p.e. da Geogetown State University, que mostram diferentes tipos de reacções nos rapazes e nas raparigas a estímulos visuais idênticos o que Revista da AAACM
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ASSOCIAÇÃO
pode suportar a vantagem em processos de aprendizagem distintos.
tivos de Educação, Dimensões Educativas e Desempenho Académico entre outros.
• O modelo de ensino actual tende a ser considerado “feminino” privilegiando os modelos comportamentais femininos tendencialmente mais amigáveis para os professores, dadas as características distintas dos rapazes e das raparigas na sua adolescência.
No âmbito da sua intervenção foram comparados os sistemas de ensino de Internato com os de Externato tendo sido evidenciados os aspectos mais e menos favoráveis de cada sistema. Em relação ao Internato parecem ser vantagens evidentes o maior desenvolvimento de capacidades de auto-controlo e identidade pessoal, de negociação de conflitos, de gestão de situações stressantes moderadas e de criação de espírito de equipa e de solidariedade. Também foi realçado como importante considerar em ambientes de Internato a necessidade de mitigação da maior separação do ambiente social e a menor estimulação e complexidade da envolvente. Foi ainda referido que os regimes de Internato deveriam ser voluntários e adoptados progressivamente de acordo com a idade. Referindo-se às comparações entre sistemas mistos com sistemas só com rapazes, o Doutor Américo Baptista apelou ao facto de ter de ser tido em consideração que, para além do desempenho académico, é importante considerar outras dimensões formativas de preparação para a vida adulta, sendo a convivência mista naturalmente importante. Em resumo, interpretando o que foi dito, pode-se admitir que um regime de Internato, que no caso do Colégio Militar que tende a ser de 3 noites por semana, só para rapazes, pode assegurar excelentes condições educativas e formativas desde que sejam tidas em conta os aspectos específicos referidos. Tendo como enquadramento as intervenções dos oradores convidados, os Antigos Alunos dividiram-se em Grupos de Trabalho e tiveram um conjunto de reuniões
Em conclusão e seguindo as práticas de algumas escolas de referência nomeadamente no Reino Unido é natural admitir que o ensino misto possa vir a ser ajustado no futuro. Já há experiências em que algumas disciplinas são dadas em ambiente misto e outras em ambientes separados. No que se refere à intervenção do Doutor Américo Baptista foram apresentados os aspectos principais a serem considerados na temática Educação nomeadamente no que se refere a Ambiente Escolar, Objec-
António Reffoios (529-1963) na apresentação da Drª Rute Vasco ©Foto Samuel Ma 12
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ASSOCIAÇÃO Jornadas de reflexão “O posicionamento do Colégio Militar no contexto educativo global”
em que procuraram analisar as principais características do Colégio e perspectivar as suas eventuais tendências evolutivas. No final de cada dia foram apresentadas e discutidas as conclusões de cada Grupo com todos os presentes. Foi uma iniciativa muitíssimo rica em termos de contributos, tendo-se constatado mais uma vez que os Antigos Alunos têm uma enorme capacidade para apoiar a Associação e o Colégio e que na sua diversidade há elementos conhecedores e especializados nas várias áreas do conhecimento.
A Direcção ficou com uma base de conhecimento muitíssimo reforçada o que certamente terá impactos na sua forma de “Apoiar o Colégio”. Para além do merecidíssimo agradecimento aos oradores convidados, Dra. Rute Vasco e Doutor Américo Baptista, pela sua disponibilidade e pela qualidade das suas intervenções, agradecemos ao Tomaz Metello (462/1958), por ter, mais uma vez, facilitado graciosamente a utilização dos hotéis do Grupo Pestana pela Associação para reuniões e eventos de Antigos Alunos. Vítor Manuel Galvão Rocha Novais Gonçalves 666/1971
A intervenção do Doutor Américo Baptista ©Foto Samuel Ma Revista da AAACM
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ASSOCIAÇÃO
ASSOCIAÇÃO Jornadas de reflexão “O posicionamento do C.M. no contexto educativo global”
Dra. Rute Vasco Licenciada em Relações Internacionais no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, tem uma Pós-graduação em Marketing pela Universidade Católica Português. Iniciou a sua carreira profissional na área do jornalismo onde foi Editora da Exame, Editora de Economia no Jornal Euronotícias e criou a agência de conteúdos Ideias Revistas. Nos últimos anos tem trabalhado a área educativa tendo-se dedicado particularmente a questões de educação na era digital. Escreveu dois livros sobre “Responsabilidade Social e de Educação em Portugal” e um sobre “A Sorte o Sucesso”. Prof. Doutor Américo Baptista Licenciatura pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Doutoramento em Ciências Biomédicas, especialidade de Psicologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade do Porto. Actualmente é Presidente da Associação Portuguesa de Terapia do Comportamento, membro e representante nacional da Society for Stress and Anxiety Research, STAR, e da Associação Psicológica Americana. É ainda responsável pela Clínica Psicológica e de Desenvolvimento Humano http://www.clinicapsicologica.pt/.
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ASSOCIAÇÃO O Nosso Berço
O Nosso Berço Depois de lido o título, seria insulto dizer a um ex-Aluno do que se trata! A Feitoria, indelevelmente gravada no nosso consciente colectivo, tem passado por muitos momentos maus, mas, felizmente, muito mais por aqueles que continuam a fazer dela um marco importante na história do Colégio! Em duzentos anos, muita coisa se passou! No meu tempo, lembro-me bem, ela era fundamentalmente a nossa “colónia de férias” de Verão. Quem por lá passou jamais esquecerá os dias maravilhosos que ali viveu, até porque a praia e tudo o que a ela estava ligado, tinha outras características bem mais saudáveis! Não pretendo historiar a vida do nosso berço, mas salientar que, sejam quais forem “os ventos e as tempestades”, deveremos garantir a sua solidez e o tratamento que ele merece por parte dos seus “filhos”. Por razões que seria ocioso agora enumerar, a Feitoria atravessou períodos,
que não se podendo apelidá-los de declínio, foram, pelo menos, de esquecimento. Felizmente, os tempos actuais fazem-nos crer que há mil maneiras de evitar que se repitam tais situações. E é exactamente esse o objectivo deste pequeno lembrete! As iniciativas vieram de vários sectores, embora todos eles com obrigações morais ou, no mínimo, com ligações afectivas. Por parte da Direcção do Colégio, a concentração aos fins-de-semana dos Alunos que não saiem, contribuindo assim não só para o seu melhor enquadramento, como também para manter activa aquela que é, afinal, a nossa primeira casa. E também - e gratos ficamos com tais facilidades - colocando à disposição as instalações para os almoços de que adiante falarei, e para uma série de eventos, com particular relevo para as exposições de arte; do interesse destas, saliento uma maior divulgação do Colégio
©Foto Gonçalo Leal de Matos Revista da AAACM
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ASSOCIAÇÃO
ASSOCIAÇÃO O Nosso Berço
e oportunidade para que os nossos artistas, ex-Alunos, mostrassem o que valem!
que tudo isto é feito com conhecimento e acordo, seja do CM, seja da AAACM.
Por parte da Câmara Municipal de Oeiras, e na continuação de uma colaboração a todos os títulos notável, o empenhamento do seu pelouro da cultura na utilização das nossas instalações. E ali se têm visto, quase em permanência, manifestações artísticas, todas elas interessantes, e algumas de elevada qualidade.
Mas chegamos agora ao ponto que considero fulcral: o que nos reserva o futuro? À boa maneira portuguesa, o entusiasmo inicial foi esmorecendo. Cito, como exemplo, o número médio de presenças: rondava, no início, entre quarenta a cinquenta, e, agora, desceu para vinte, ou menos! Todos sabemos os problemas que nos afligem e nos tiram a possibilidade ou a vontade de estar presente; veja-se, por exemplo, o Inverno que nos tem assolado! Mas, que diabo, é apenas uma vez por mês, durante umas escassas horas! Faço notar que a obrigação primeira é dos sócios da “linha”, isto é, de Oeiras e Cascais. Mas a Feitoria não é longe, o sítio é bonito, sobretudo a partir da Primavera, e o berço é de todos; do Minho a Timor, como se disse em tempos! É um apelo que eu lanço, pois me parece significativo, em todos os aspectos, que os ex-Alunos dêem vida àquelas paredes que tanto significam para nós!
E entramos agora no cerne da questão: o que têm feito os ex-Alunos pela casa que lhes foi o berço original? Apesar de tudo, alguma coisa, pelo menos nos tempos presentes. Em 19 de Outubro de 2005 foi formalmente criada a Delegação de Oeiras/Cascais da AAACM, tendo como objectivos: • realização de encontros de grupos de ex-Alunos, periódicos, com continuidade e que integrem fins socioculturais; • levantamento dos ex-Alunos do concelho, em articulação com a AAACM; • servir de elo de ligação com o CM, a AAACM e a CMO. As actividades da Delegação têm cumprido, na medida do possível, as obrigações estatutárias. Têm-se realizado os almoços convívio, a que, com muita frequência, se têm seguido visitas às exposições que, quase sempre, ali se encontram. Este ano, foi iniciado um novo ciclo de tertúlias sobre o tema Não Desistas. Nela procuramos envolver todos os que se sentem de algum modo ligados ao Colégio, e que se disponham a transmitir, a bem de todos, a sua experiência da vida. Apesar de parcos, com os recursos disponíveis, temos desenvolvido algumas acções de solidariedade e de apoio aos Alunos que frequentam a Feitoria. Da maior parte destas acções tem sido dado conhecimento aos ex-Alunos através de anteriores revistas. Claro 16
Revista da AAACM
Se o meu apelo for ouvido, só peço a cada um de vós mais uma gentileza: os almoços são sempre fornecidos pelo CM, e muitas vezes, trata-se do festejado “amarelo”. No entanto, logística impõe, há necessidade de realizar a inscrição que, no corrente ano lectivo, deverá ser feita, o mais tardar, no fim-de-semana que antecede a terceira quinta-feira de cada mês, dia do almoço. Há delegados para todos os cursos, junto dos quais deverão inscrever-se. Os pormenores, basta solicitá-los para um dos seguintes “e-mail”: jagteixeira@netcabo.pt; m.bcunha@sapo.pt; jfpereirarosa@gmail.com. Espero bem virmos a ter, com frequência, a ”lotação esgotada”! Jorge Alberto Gabriel Teixeira 315/1947
ASSOCIAÇÃO Torneio de Bridge
Torneio de Bridge Carlos Alberto Kruss Fanha Vicente Antigo Aluno nº 323/1947 do Colégio Militar
10 de Abril de 2010 Na continuação da actividade desenvolvida nas épocas anteriores, a AAACM leva a efeito o seu torneio anual de bridge de 2010 na modalidade de pares open, numa única sessão, com o objectivo de proporcionar um convívio entre bridgistas relacionados directa ou indirectamente com o bicentenário e sempre jovem Colégio Militar, qualquer que seja a sua força. Este torneio é dedicado à memória do antigo aluno do Colégio Militar Dr. Carlos Alberto Kruss Fanha Vicente O torneio será dirigido pelo árbitro nacional Luís Oliveira. A organização do torneio conta com a amável colaboração logística do Clube de Bridge dos Engenheiros e do Quinto Naipe REGULAMENTO 1 O torneio terá lugar no sábado, 10 de Abril de 2010, com início às 15H30, e será realizado nas instalações do Colégio Militar, ao Largo da Luz em Lisboa. 2 De acordo com as normas em vigor para provas nacionais e internacionais, este torneio é considerado “verde”, pelo que o fumo é proibido na sala da competição. 3 O torneio é aberto aos antigos alunos do Colégio Militar e das restantes escolas de índole militar, seus familiares e amigos, bem como aos oficiais
das Forças Armadas, a actuais e antigos professores, e ainda a todos os seus amigos e convidados. 4 A constituição dos pares é livre, excepto que não são autorizados pares constituídos por dois jogadores MN e/ou 1.as Categorias Espadas ou Copas, conforme o ranking da FPB em vigor. 5 O preço de inscrição é de 8, oito, euros por jogador, com excepção dos juniores, idade máxima 25 anos, para os quais é gratuita. PRÉMIOS Quatro medalhas AAACM gravadas, com estojo, para os componentes dos pares primeiros classificados nas linhas NS e EO Além destas distinções honoríficas, estão ainda previstos numerosos prémios a atribuir aos pares classificados em 1º, 2º e 3º da classificação geral, e ainda aos classificados em 1º nas categorias de pares senhoras, pares mistos, pares seniores, pares juniores e pares incluindo ex-alunos ou esposas de ex-alunos do Colégio Militar. Estes prémios são oferecidos por patrocinadores prestigiosos como é o caso da Loja das Meias, da Livraria Férin, da Editorial Caminho, da Fundação Humberto Delgado, da Labrador (roupa masculina) e da Sanguinhal Os prémios não são acumuláveis Revista da AAACM
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ASSOCIAÇÃO
ASSOCIAÇÃO Torneio de Bridge
As inscrições devem ser feitas antecipadamente para a sede da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar telefone 217 122 306 ou mail: geral@aaacm.pt A Direcção do Colégio Militar autoriza o estacionamento dos carros no interior do estabelecimento, durante a disputa do Torneio.
CARLOS ALBERTO KRUSS FANHA VICENTE (323/1947)
Como economista trabalhou vários anos como profissional liberal e, como empresário, criou e geriu 7 sociedades comerciais, todas ligadas à comercialização e distribuição de jogos de sociedade e de estratégia, tendo revolucionado o conceito do jogo em Portugal. Foi também, durante vários anos, professor-assistente dos Cursos Superiores nos Pupilos do Exército, onde leccionava Análise Financeira, Contabilidade e Matemática. (neste Instituto, seu pai tinha sido professor de esgrima).
Nasceu em Alcântara a 1 de Agosto de 1937, de mãe professora de educação musical e pai militar. Frequentou o Colégio Militar, para onde entrou em 1947 com o número 323, e passou também pelos Liceus Camões e D. João de Castro, tendo-se licenciado no ISCTE em Gestão e Organização de Empresas. Viveu em Moçambique, quando seu pai foi Presidente do Tribunal Militar nessa região. Aí casou pela primeira vez. Desse casamento teve dois filhos. Entre 1969 e 1971 esteve mobilizado na Guerra Colonial em Angola. Durante esse período contraiu uma segunda união matrimonial, da qual teve três filhos e que durou até ao final da sua vida. 18
Revista da AAACM
Como jogador amante de bridge, manteve durante muitos anos a única biblioteca de bridge portuguesa, num pequeno espaço comercial em Lisboa, a Tabak, do qual era proprietário. Iniciou-se no bridge aos 17 anos, fazendo parte de uma geração de notáveis bridgistas, como os irmãos Carlos e António Debonnaire e Carlos Teixeira entre muitos outros. Federado pela Federação Portuguesa de Bridge, o bridge era a sua grande paixão, levando-o a proporcionar cursos de bridge aos seus 5 filhos, com alguns dos quais disputou vários torneios. Enquanto teve saúde, participou e colaborou na organização de todos os torneios de bridge promovidos pela AAACM desde os anos 80. Após 6 anos de doença, faleceu a 23 de Dezembro de 2009. Maria Cristina Ferreira de Melo Fanha Vicente
ASSOCIAÇÃO Jantares de Natal da Associação
Jantares de Natal da Associação Em Lisboa, a Messe de Oficiais e Professores do Colégio, e no Porto, a Messe dos Oficiais das Forças Armadas, foram os cenários dos tradicionais jantares de Natal da AAACM, nos quais vários Antigos Alunos e respectivas famílias se reuniram para festejar a quadra. O jantar de Lisboa reuniu cerca de 50 convivas e constituiu mais um agradável serão aglutinador do espírito de camaradagem que une os antigos Meninos da Luz.
O Jantar do Porto Como de costume a “família colegial” do Porto e arredores reuniu-se em jantar natalício. Foi no dia 16 de Dezembro, na Messe de Oficiais do Porto, como vem sendo habitual, e apesar das muitas “solicitações” próprias da época juntou 36 ex “- Meninos da Luz”. Um bom grupo, portanto, em número e excelente, como sempre, em qualidade! Contámos com a presença do Presidente da Direcção da Associação Martiniano Gonçalves (9/1958) que nos elucidou sobre a sequência de notícias acerca de ocorrências no Colégio que afectam negativamente o seu prestígio e as tomadas de posição de diversos grupos de pessoas inclusivamente com exploração partidária. Revista da AAACM
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ASSOCIAÇÃO
ASSOCIAÇÃO Jantares de Natal da Associação
Para além da formulação do diagnóstico desta situação, avançou com o que sobre o assunto pensa a Direcção da Associação e quais as medidas a tomar para a inversão da tendência que parece verificar-se… Para além deste assunto, que a todos nós causa preocupação, foi uma esplêndida sessão de confraternização e de troca de votos de Boas Festas culminada com o tradicional “ZACATRÁS”. Alguns dos “sempre-presentes” não puderam comparecer. Destes, o Rui Castilho, 147/1948 em longo cruzeiro, telefonou da Martinica (!) estávamos nós em pleno jantar! Comparecemos: Martiniano Nunes Gonçalves, Presidente da Direcção da Associação - 9/1958 António Malta Leuschner - 436/1933 João Maria da Costa P.M. Faria Araújo - 79/1937 Cristiano de Sousa Moreira - 321/1941 Manuel Joaquim Brou Ramos Lopes - 181/1945 Luís Augusto Nunes de Almeida Bandeira - 236/1945 Carlos Manuel Amado de Campos - 259/1948 José António Campos Resende Santos - 23/1949 José Alberto da Costa Matos - 96/1950 José Manuel Simões Ramos de Campos - 319/1950 Raul Manuel Tamagnini Mendes de Carvalho - 87/1953 Luís Manuel Ferraz Pinto de Oliveira - 138/1954 Rui Carlos Aires Ferreira - 314/1955 Francisco Xavier de Barros Cardoso de Menezes - 6/1956 Jaime Silvério Marques - 194/1956 António Manuel Adão da Fonseca - 286/1957 João de Lancastre de Mello Sampayo - 486/1958 António Norton de Matos Carmo Pereira - 522/1959 Albino Manuel Pereira de Sousa Botelho - 342/1961 Carlos Manuel Carrilho Roma Torres - 35/1963 Manuel de Carvalho Lopes Alves - 39/1963 Manuel Maria de Castro e Lemos - 423/1963 José Augusto Morais de Oliveira - 296/1964 Herlander José Resende Marques - 260/1969 João Manuel Sanches Roma Moreira Lobo - 572/1969 Manuel de Calça e Pina Duarte Silva - 20/1970 20
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ASSOCIAÇÃO O estado da Capela do Colégio
Bruno Pinto Basto Soares Franco - 281/1970 Paulo César Alves Bacelar - 403/1970 António Jaime Tavares Coutinho Lanhoso - 176/1971 Vasco Manuel Felgueiras Ferreira - 340/1971 Jorge Gentil de Sousa Pinto Faustino -100/1974 José Eduardo da Costa Silva Pereira - 391/1974 Augusto José Ferreira de Matos - 688/1974 Amândio Emanuel Lopes Ribeiro - 368/1993 Diogo Castro Jesus Gadellho - 499/1998 José Gonçalves Gadelho Castro - 444/2001 O Delegado no Porto, José Manuel Simões Ramos de Campos 319/1950
O estado da Capela do Colégio Participei, no dia da reunião da “Velha Guarda”, na missa que se celebrou na Capela do Colégio. Reparei, o que aliás já tinha acontecido antes, que ela está a precisar de trabalhos urgentes de restauro, dos quais se podem destacar os seguintes: - Reparação da pintura policromada do tecto; - Reparação do retábulo do altar e dos dois painéis das paredes laterais, todos eles pintados sobre madeira, que estão com as juntas abertas; - Reparação do Sacrário (melhor seria a sua substituição, atendendo ao seu estado e ao facto do actual não condizer com o estilo do altar; - Reparação das superfícies douradas. Estes trabalhos terão que ser feitos por pessoal especializado e, segundo indicação do Ex.mo General Director, devem orçar em cerca de 50.000 euros. A sua execução é urgente porque o estado de degradação vai aumentando e o custo dos trabalhos também. Proponho que a Associação abra uma subscrição entre antigos e actuais Alunos (obviamente os pais destes), em ligação com a Direcção do Colégio, para obtenção da verba necessária. Pela minha parte, estou pronto a contribuir para ela com 250 euros, logo (e se) for aberta aquela subscrição. João António Ferreira Lamas 75/1931 Revista da AAACM
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ASSOCIAÇÃO
10 Anos de Saída do Curso 1991/1999 Pelas memórias esbatidas mas bem vincadas, Pela saudade sentida e vivida, As estórias e as vozes foram revisitadas, A homenagem era devida e merecida… Foi no passado dia 4 de Dezembro que o curso de 1991/1999 visitou o Colégio, revivendo espaços, cheiros, pessoas e vozes que mais do que parte de cada um de nós, fizeram também ser o que somos hoje. O tempo voa, mas as vivências e a identidade de Menino da Luz habita em cada um de nós mais do que no dia da despedida da farda cor de pinhão. A identidade não é de todo um padrão comportamental imaculado, mas sim um padrão que permite uma visão da vida moldada pelos 8 anos aí passados. Caminhos diferentes, escolhas antagónicas, sorte e azar marcaram os 10 anos que passaram. No fim, ao contrário do princí-
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pio, há algo de comum e de igual nas pessoas tão diferentes que somos. Não apenas a partilha, mas algo mais profundo e que nos impele a voltar e querer revisitar hoje, o que durante 8 anos nos trouxe até aqui, até ao que somos na essência. É bom recordar, é bom descobrir que o tempo passa, mas que a identidade cresce em cada um de nós pela cadência do tempo. Obrigado Colégio, resume o que sentimos nesse dia, o que sentimos todos os dias. Zacatrás! João Manuel Canelas Rasquilho Raposo 141/1991
ASSOCIAÇÃO 10 Anos de Saída do Curso 1991/1999
Solidariedade
Se este for o momento em que tudo te parece falhar e o desânimo te invade,
"por favor não desistas", porque nós não desistimos de ti.
Liga 91 967 17 87
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Se este for o momento em que tudo te parece falhar e o des창nimo te invade,
"por favor n찾o desistas", porque n처s n찾o desistimos de ti.
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Se este for o momento em que tudo te parece falhar e o desânimo te invade,
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Está de novo à disposição da Família Colegial o restaurante da Associação, agora com o nome de “Jardim da Luz” e concessionado a profissionais do ramo, os proprietários do conhecido restaurante “Gravatas” que tinha sido adoptado 28
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ultimamente pelos Antigos Alunos para as suas programadas reuniões de curso. O “Jardim da Luz”encontra-se aberto todos os dias com excepção da Segunda-Feira. Reservas pelo telefone 21 715 60 87.
ASSOCIAÇÃO
DO COLÉGIO
Parada do Corpo de Alunos – Carro de Assalto ©Foto Gonçalo Leal de Matos
DO COLÉGIO
O 3 de MARÇO - 207 anos Mais um Aniversário do Colégio (o 207º) foi comemorado nos moldes habituais como vem sendo caracterizada desde há alguns anos esta cerimónia. Em tempos mais recuados era no dia 3 de Março que tinha lugar o ponto mais alto das comemorações – o desfile do Batalhão Colegial na Avenida da Liberdade - independentemente do dia da semana desta data. A evolução dos tempos e a dificuldade de paralisar o trânsito nesta artéria citadina, determinou que a celebração tivesse lugar num finde semana mais próximo do dia da fundação do Colégio. Este ano as cerimónias no Colégio decorreram no Sábado 27 e o desfile e Missa na Igreja de São Domingos no Domingo 28 de Fevereiro. Às 8 horas de Sábado, com um dia cinzento mas onde a chuva apenas apareceu de forma ténue no final das cerimónias, foi
Formatura do Batalhão Colegial na Parada Nova ©Foto Gonçalo Leal de Matos 30
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hasteada a Bandeira Nacional e, pelas 9 horas, na Parada Nova com o Batalhão em formatura foi prestada continência ao Director Major-General Raul Jorge Laginha Gonçalves Passos e içado o Guião da Instituição ao som do Hino Colegial cantado por todos os Alunos, acompanhados pela Banda do Exército. O presidente da Associação dos Antigos Alunos, Martiniano Gonçalves (9/1958), proferiu as seguintes palavras:
«Senhor General Director do Colégio Militar: Uma primeira palavra para Vossa Excelência - Senhor General - na qualidade de anfitrião desta Casa e a quem, mais uma vez, manifesto o respeito e consideração da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar pelo desempenho de Vossa Excelência enquanto seu Director.
DO COLÉGIO O 3 de Março - 207 anos
Batalhão, Antigos Alunos, Meninos da Luz! Falo-vos como Presidente da Associação do Antigos Alunos do Colégio Militar. O Colégio mais uma vez está de parabéns: já são 207 Anos! 207 Anos representam muito mais do que um simples aniversário. Representam visão, representam dedicação e representam valor para sociedade portuguesa. 207 Anos que representam VISÃO. A visão do seu fundador Marechal Teixeira Rebello e de todos os que continuamente souberam ir adaptando a realidade Colegial às necessidades e modelos educativos que a sociedade foi procurando em mais de duzentos anos de mudanças, evoluções profundas….até mesmo revoluções! A esses visionários se devem estes momentos que celebramos.
Proporcionar uma escola de excelência aos filhos dos oficiais do Exército, mais tarde aberta a filhos de civis, foi a essência e a razão de ser deste Colégio, tendo sido comprovada a sua importância em muitos momentos da história do País e das Forças Armadas nos últimos séculos. 207 Anos que representam DEDICAÇÃO A dedicação de todos os que entenderam o verdadeiro significado que o Colégio tem e sempre o souberam apoiar e servir. Estou a pensar em notáveis Chefias das Forças Armadas que valorizaram a importância estratégica do Colégio para o País, estou a pensar em destacados Políticos com um entendimento profundo da realidade da família militar, estou a pensar em Professores que foram muito mais do que excelentes professores e, não menos importante, estou a pensar em empregados do Colégio que se tornaram parte da nossa história.
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DO COLÉGIO
Porque represento muitas gerações, muitos bisavôs, muitos avós, muitos pais, muitos primos, muitos filhos…é uma família com mais de 12.000 Antigos Alunos que se revêem nos valores que o Colégio lhes transmitiu e que: Sempre soube apoiar o Colégio na renovação da sua visão; Alocução do Presidente da AAACM, Martiniano Gonçalves (9/1958) ©Foto Samuel Ma
207 Anos que representam VALOR Só festejam 207 anos as instituições que sabem acrescentar valor à sociedade onde se inserem. Esse valor é representado pela qualidade da educação e pela qualidade da participação na sociedade que vem marcando os percursos dos seus Antigos Alunos. É de facto impressionante a presença destacada e a contribuição dos Antigos Alunos nos últimos 200 anos da história de Portugal: nas Forças Armadas, na política, nas ciências, nas artes, no desporto e nas empresas que geram a riqueza e o emprego deste país. Visão, Dedicação e Valor que marcaram os mais de 200 anos deste Colégio. Quero transmitir-vos algumas ideias e algumas mensagens em torno destes três elementos: Em primeiro lugar gostaria que todos sentissem algo muito importante e por vezes pouco valorizado: fazemos parte uma verdadeira Família - A Família Colegial. Essa Família é a razão pela qual eu estou aqui a falar-vos neste momento. 32
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Sempre soube mostrar a maior dedicação ao Colégio nos momentos mais importantes da sua história; e sempre soube mostrar à sociedade o valor que o Colégio cria e proporciona ao País. Solidariedade e colaboração com o Colégio são elementos dos estatutos da Associação dos Antigos Alunos que mostram, em linguagem mais formal, o verdadeiro sentido da Família que nos une. Somos de facto uma grande Família, com raízes profundas, com valores comuns, donde constituirmos uma comunidade com uma identidade fortíssima. Em segundo lugar gostaria de vos lembrar alguns desafios que marcam o nosso País e lembrar o papel importante do nosso Colégio. Enfrentamos o desafio da era da mobilidade, a chamada era da globalização. Os militares e cada vez mais os civis terão de estar preparados para deslocações profissionais frequentes, procurando servir o seu país e as exigências das suas vidas profissionais. A necessidade de apoiar as famílias nestes momentos, facilitando a qualidade da educação dos filhos tenderá a ser crescente nos tempos de mudança que se aproximam.
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A AAACM na Avenida durante o desfile ©Foto Gonçalo Leal de Matos Revista da AAACM
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Enfrentamos o desafio da aproximação inevitável e benéfica entre Portugal e os Países de Língua Oficial Portuguesa É um desafio importante para o nosso país onde o Colégio pode trazer um contributo importante. A presença deste modelo educativo noutros Países, a existir, será inquestionavelmente determinante na criação de relações fortes e estrategicamente importantes para o desenvolvimento conjunto desta grande comunidade lusófona e da afirmação da cultura portuguesa – da Portugalidade no Mundo. Enfrentamos o desafio da competitividade global Este é o desafio em que a excelência educativa é apontada com o verdadeiro factor diferenciador e impulsionador do desenvolvimento económico e social. Haverá poucos Colégios neste país com tão excelentes condições para proporcionar os mais elevados padrões de excelência educativa. Atrevo-me a pensar que o Colégio é porventura o mais bem equipado deste País. Em terceiro lugar, e a propósito de excelência educativa gostaria de referir alguns aspectos que a caracterizam quando nos referimos a uma instituição com mais de 200 anos. Educação é preparar os alunos para o futuro, para o seu desempenho na sociedade: esse é o objectivo principal de um Colégio. Numa sociedade em profundas mudanças esse desafio é enorme, complexo e requer uma constante e crescente capacidade de adaptação e inovação. 34
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Adaptação a novas realidades e, consequentemente, a novas necessidades. Inovação preservando os valores estruturantes que nos identificam e que estão bem claros no nosso “Código de Honra”, nas nossas “Tradições” e no nosso “Um por Todos, Todos por Um”. Para os que tutelam, dirigem, ensinam e trabalham no Colégio o desafio é enorme. Exige-se-vos inovação, iniciativa, dedicação, determinação e persistência na acção. Educar numa sociedade em mudança, mais exigente e mais complexa, requer competências cada vez maiores, uma compreensão profunda da sociedade e uma enorme dedicação. Convido-vos a estarem à altura da visão, da dedicação e da capacidade daqueles que vos antecederam: pelo Colégio Militar não se pode passar sem se deixar uma marca importante para a educação dos alunos. É este o desafio de quem procura a excelência, é este o desafio do Colégio e será esta capacidade de continuar a liderar na excelência do ensino em Portugal que reforçará a nossa Família Colegial. Estes são sem dúvida alguns dos temas que marcam o presente e marcarão o nosso futuro, constituindo um enorme desafio não só para todos nós - Família Colegial - , mas, também, e principalmente, para o poder político e hierarquia militar que tutelam o Colégio a quem a História deixa o repto de, pela implementação das transformações indispensáveis à manutenção deste colégio como uma escola de excelência, merecerem suceder àqueles que no passado tiveram a visão de a construir e de a conduzir na prestação de elevados serviços a Portugal.
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Pela nossa parte – Antigos Alunos – estamos disponíveis e não enjeitamos esforços – como já vem acontecendo! - para, pôr ao serviço da tutela, toda a nossa capacidade e as diversificadas valências que possuímos para que sejam operadas as transformações indispensáveis para que o Colégio ocupe, como no passado, a liderança das instituições que formam os homens que dirigirão os destinos de Portugal.
sencorajados e vos parecer que as outras pessoas vos abandonaram - nunca desistam de vocês mesmos. Nunca desistam de ser bem-sucedidos. Todos vocês são bons em alguma coisa. Não há nenhum de vocês que não tenha alguma coisa a dar. E é a vocês que cabe descobrir do que se trata. É essa oportunidade que a educação vos proporciona.” Fim de criação.
Dirijo-me agora, em particular, a vocês, Alunos do Batalhão. De vocês é esperado o esforço e dedicação necessários para merecerem ter nos vossos curriculum que passaram por um Colégio prestigiado por todos, como sendo de grande qualidade educativa e formativa.
O Colégio tem o que precisam! Acreditem! Aproveitem!
O vosso comportamento e o vosso desempenho, enquanto estiverem no Colégio, serão determinantes no reconhecimento e distinção que marcarão as vossas vidas, os vossos desafios e as vossas ambições. Não bastará usarem a Barretina na lapela para que a sociedade vos respeite: terão que fazer por vós próprios. Cito-vos aqui algumas das palavras e ideias de Barack Obama, dirigindo-se aos alunos no início do ano lectivo em que se tornou Presidente dos EUA. Disse o Presidente Obama: “A verdade é que nem os professores nem os pais mais dedicados, nem as melhores escolas do mundo são capazes do que quer que seja se vocês não assumirem as vossas responsabilidades. Prestem atenção aos professores, aos vossos pais e trabalhem dedicadamente. E mesmo quando estiverem em dificuldades, mesmo quando se sentirem de-
Aos finalistas lembro que o vosso objectivo principal é terminarem com o maior sucesso esta fase da vossa vida de estudantes. Esforcem-se e enfrentem com sucesso as difíceis admissões aos melhores estabelecimentos de ensino universitário. Aos graduados quero referir que o vosso papel é o de ajudar os mais novos e continuarem a aprender e praticar a arte da liderança. Algo que tem imensa importância formativa e que o Colégio vos proporciona e que vos irá diferenciar para sempre. Em nenhuma outra instituição esta aprendizagem é feita com a qualidade com que acontece no Colégio Militar. Refiro-me à liderança pelo exemplo, à liderança pelo sentido de responsabilidade e à liderança pela camaradagem, e não posso deixar, aqui, de vos louvar – a vocês graduados - pelo enorme esforço que, no corrente ano lectivo, têm vindo a fazer e o sucesso que estão a conseguir no desempenho das vossas funções: estamos conscienRevista da AAACM
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DO COLÉGIO
tes da vossa contribuição para a boa imagem do Colégio, e é com orgulho em vocês que vos acolheremos, já dentro de alguns meses, na nossa Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar em plano de igualdade com todos os outros Antigos Alunos. Para todo o Batalhão uma palavra final para o que vão viver amanhã no vosso desfile. Quando chegarem ao fim da Avenida da Liberdade e sentirem o enorme orgulho e satisfação de ter vivido momentos que ficarão para sempre inesquecíveis, vão sentir-se felizes e vão ter a sensação única de confiança e de pertença a uma Família: essa Família que será vossa para sempre. Para os Ratas esta será a primeira vez que sentirão essa enorme emoção.
Os Ratas de 2009 no seu primeiro 3 de MARÇO ©Foto Gonçalo Leal de Matos 36
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Serão momentos de grande intensidade, sentirão uma alegria muito especial que partilharão com os vossos irmãos e Pais que aqui saudamos pela decisão de vos terem trazido para o Colégio Militar! E os Antigos Alunos lá estarão a acompanhar-vos, numa demonstração da nossa união, da nossa pertença a uma comunidade que se entreajuda e em que a solidariedade é prática de todos os dias. Parabéns a todos por terem merecido e sido capazes de chegar a este momento tão emocionante da vossa juventude! Garanto-vos que com esse aprumo com que vão desfilar, com esforço, com vontade e com determinação, têm tudo o que necessitam para serem vencedores!
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Preparando e acendendo da Chama Colegial ©Foto Gonçalo Leal de Matos e ©Foto Samuel Ma
É isto que se aprende no Colégio Militar: vencer mas sempre respeitando os valores do Marechal - os valores do Código de Honra. Vou terminar como terminei a minha intervenção no ano passado. Sorriam para o futuro. O Colégio e Portugal precisam dessa confiança e desse sorriso. Peço agora ao Comandante do Batalhão que o primeiro Zacatraz deste “3 de Março” seja um Zacatraz por Portugal, a Pátria que o Código de Honra nos diz para amar e honrar.» Após o acender da Chama Colegial, na Parada do Corpo de Alunos, a 4ª Companhia prestou as Honras Militares ao
Vice-Chefe do Estado-Maior do Exército, Tenente-General Mário de Oliveira Cardoso, que preside às cerimónias. Nos Claustros, com a presença de Oficiais dos três Ramos das Forças Armadas, de Adidos Militares estrangeiros, representações de Forças Militares e Militarizadas, das Academias do Exército, Marinha e Força Aérea, do Instituto de Odivelas, do Instituto dos Pupilos do Exército, de muitos antigos Alunos, de Professores e Servidores do Colégio e de Familiares dos actuais Alunos, foi feita a integração do Estandarte Nacional na Formatura e cantado por todos os presentes o Hino Nacional. O Estandarte do Colégio ostenta as seguintes condecorações: Grau de Cavaleiro da Ordem Militar de Torre e Espada do Valor Lealdade e Mérito; Grã-Cruz da Ordem de Instrução Pública; Grã-Cruz da Revista da AAACM
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Ordem Militar de Cristo; Ordem de Mérito Militar dos Estados Unidos do Brasil; Ordem Militar de S. Tiago da Espada; Ordem Militar de Rio Branco, do Brasil; Medalha de Ouro de Serviços Distintos; Medalha do Pacificador da República Federativa do Brasil; Medalha Marechal Trompowski da República Federativa do Brasil; Medalha da Ordem Militar de Avis, Membro Honorário.
“Exmo Senhor Tenente-General Mário de Oliveira Cardoso, ilustre Vice-Chefe do Estado-Maior do Exército, é com natural satisfação que o Colégio Militar recebe Vossa Excelência nesta sua casa. A presença de tão alto dignitário nas cerimónias comemorativas dos 207 anos de existência desta Instituição nacional, tutelada pelo Exército, empresta ao acto acrescido significado e dimensão.
No Átrio do Fundador foram homenageados os Mortos do Colégio Militar com uma oração evocativa e os toques regulamentares.
Senhores Oficiais Generais
O Director, Major-General Raul Jorge Laginha Gonçalves Passos, proferiu a seguinte alocução:
Senhores Adidos de Defesa Senhores Presidentes e Representantes dos órgãos sociais da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar e da Associação de Pais e dos Encarregados de Educação Estimados Camaradas, Docentes e Funcionários do Colégio Militar Distintos convidados Caros Alunos e ex-Alunos do Colégio Militar
Alocução do Director do Colégio Militar ©Foto Gonçalo Leal de Matos 38
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Expresso, com sinceridade, o meu agradecimento e profunda estima por se terem associado a este evento festivo, conferindo-lhe desta forma um especial brilho e dignidade. Para a família colegial constitui um sinal de confiança pelo trabalho realizado e um estímulo para todos os que servem, nesta também vossa casa. Comemoramos os 207 anos de um projecto educativo iniciado em 1803 com o fundador, o Marechal Teixeira Rebelo, e que nos últimos anos tem procurado encontrar soluções que respondam ao actual contexto social, familiar e educativo sem, no entanto, perder a identidade, a especificidade e a singularidade da Instituição. Este projecto educativo, que só encontra paralelo nos colégios irmãos, o Instituto dos Pupilos do Exército e o Instituto de Odive-
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las, a quem endereço uma saudação muito especial e calorosa, tem por ambição ministrar em paralelo e de forma coerente e excelente dois currículos que, em todas as cerimónias, não me canso de referir por acreditar na sua validade e singularidade: o académico, que se rege pelas normas e preceitos do Ministério da Educação; e outro a dimensão humana, na vertente de uma cidadania responsável que engloba o exercício da liderança, e o culto pelos valores éticos e morais que, ao longo de mais de dois séculos, se tem constituído como verdadeira âncora à perenidade da Instituição e que persiste como motivo de orgulho. Continuamos assim a pretender formar os nossos jovens, no sentido de os tornar cidadãos livres, responsáveis e solidários, preparados para enfrentar com fé, coragem e entusiasmo os obstáculos que se lhes irão ser colocados, na vida adulta, à sua realização pessoal. Para que o capital de confiança e de credibilidade não seja abalado, necessitamos de tranquilidade e de apoio: a tranquilidade advirá, com maior facilidade, através do estrito cumprimento do Regulamento Interno por parte de toda a comunidade educativa, em que se incluem não só os alunos, mas também os encarregados de educação e todos os servidores do Colégio; o apoio, sempre imprescindível do Comando Superior do Exército, através da colocação de recursos humanos de qualidade e das associações que se revêem na singularidade do nosso projecto e que sempre têm estado disponíveis para todas as iniciativas da direcção e dos alunos. Temos constatado que existem forças poderosas abertamente empenhadas em desacreditar os tradicionais pilares morais em que se apoia a nossa sociedade, atacando em nome da liberdade, do progresso e da modernidade os valores que nos orientam há mais de dois séculos.
Muitas e variadas são as razões que os movem: interesses comerciais, fundamentalismos ideológicos ou aproveitamento mediático, agentes que desprezam a honestidade e a seriedade, para aclamarem o atrevimento e a turbulência. Santo Agostinho há mil e seiscentos anos, afirmava num sermão: “Os homens sem esperança, quanto menos preocupados estão com os seus pecados, tanto mais curiosos são sobre os pecados alheios. Não procuram corrigir, mas criticar. E, como não podem escusar-se a si mesmos, estão sempre prontos para acusar os outros.” Cremos que os valores morais continuam a ser respeitados na vida pessoal de muitos cidadãos e, em particular, nos pais e encarregados de educação que acreditam no projecto educativo do Colégio. Perante as múltiplas dificuldades, resistências, calúnias e incompreensões, e sem cair na tentação do comodismo ou do facilitismo fáceis, toda a comunidade colegial tem sabido garantir a perenidade dos alicerces institucionais do rigor, dos valores, e a qualidade do ensino praticado em que se orienta e se apoia, há mais de dois séculos, o nosso Colégio. Continuaremos, desta forma, empenhados em melhorar o aproveitamento escolar e em promover uma cultura de rigor comportamental junto dos nossos educandos. Será um trabalho persistente e metódico que envolve, em cada ano, toda a comunidade educativa na qual se incluem fundamentalmente os pais e os encarregados de educação, no papel que lhes incumbe no desenvolvimento harmonioso dos seus filhos. Contamos convosco, e exorto-vos a não se demitirem da vossa quota-parte de responsabilidade e a continuarem a participar de forma directa, entusiástica, honesta e isenta nesta maravilhosa viagem que é formar e educar os vossos entes mais queridos. Revista da AAACM
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A todos os níveis hierárquicos e nas várias funções, todos somos educadores e estamos obrigados a observar e a exercer, no dia-a-dia, a acção educativa, em que a obrigação de educar implica necessariamente o dever de corrigir. A coragem moral para o fazer, no momento e no local adequados, advém de termos a consciência tranquila e de tudo fazermos para incutir, nas mentes e nos corações dos nossos alunos, um conjunto de regras sem as quais é impossível viver em sociedade e que estão plasmadas no nosso regulamento interno. Ao comemorarmos o ducentésimo sétimo aniversário, cumpre igualmente recordar os que já partiram e que escreveram algumas das mais brilhantes páginas da nossa História. Antigos alunos deste colégio como Portugueses ilustres, civis e militares, dão actualmente nome a cerca de cinquenta e seis avenidas, ruas e praças de Lisboa, bem como a muitas outras, em mais de cinquenta diferentes cidades e localidades espalhadas pelo território nacional. Permitam-me, no entanto, que este ano em particular, recorde o ex-aluno Luís das Neves Franco que ingressou no Colégio de Educação do Real Regimento de Artilharia da Corte, comandado pelo Coronel António Teixeira Rebelo, na Feitoria, em 15 de Novembro de 1802. Após o seu percurso colegial e a partir de 01 de Abril de 1806, prestou serviço como Alferes no Regimento de Infantaria 16. A 06 de Fevereiro de 1810, foi transferido para o Batalhão de Caçadores 4 em que foi integrado, por ordem do Marechal Beresford, na Brigada dos Regimentos de Infantaria 1 e 16, comandada pelo General de Brigada Pack. Esta unidade, constituída para guarnecer a posição da linha do Buçaco, viria a ter importância decisiva na vitória contra o General Massena, aquando da terceira invasão francesa. 40
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No rescaldo da Batalha do Buçaco, travada a 27 de Setembro de 1810, consta da lista do pessoal morto, ferido, extraviado e desaparecido do Exército Português o Alferes Luís das Neves Franco, sendo desta forma considerado como o primeiro ex-aluno do Colégio morto em combate. No ano em que se comemoram os 200 anos da referida batalha, é da mais elementar justiça recordar, neste dia e neste local, o ex-aluno Neves Franco, cujo gesto seria posteriormente seguido por mais de cinquenta antigos alunos em todas as campanhas que, desde então, as Forças Armadas Portuguesas tomaram parte. Temos a obrigação de manter viva, na memória colegial, todos os antigos alunos que pautaram a sua vida pela defesa dos valores morais e patrióticos em que na sua época acreditavam, pois foi aqui no Colégio que os interiorizaram, durante a sua formação académica e comportamental. Todos nós, como Portugueses e membros da comunidade colegial, lhes estamos eternamente gratos. A terminar, e por ser dia de aniversário, permito-me saudar e dar os parabéns aos militares que, abnegadamente, e muitas vezes com grandes sacrifícios familiares, servem diariamente o Exército no Colégio Militar, bem como os nossos docentes e funcionários civis que, ano após ano, se dedicam à nobre causa do ensino e da educação e se constituem como pilares fundamentais da cultura colegial; aos pais, encarregados de educação, ex-alunos, associações e a todos os verdadeiros amigos que, conhecendo o nosso trabalho, sempre nos apoiaram nas horas mais difíceis; aos alunos, que são o nosso centro de gravidade, e a quem endereço um grande abraço solidário e votos das maiores felicidades nas inúmeras tarefas académicas, desportivas, culturais e comportamentais que ainda têm pela frente, no corrente ano lectivo.
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O Estandarte Nacional ©Foto Samuel Ma
Contamos convosco e com o vosso trabalho, para que juntos possamos elevar ainda mais alto o prestígio do vosso Colégio. Ninguém como vós sabe como é difícil ser “Menino da Luz” e poucos em Portugal envergam uma farda de forma tão altiva, orgulhosa e responsável. Como vosso director vos digo, de forma sentida, que tem sido ao longo dos últimos quatro anos, um privilégio e uma honra, poder participar na maravilhosa aventura que é ver-vos crescer como Homens e cidadãos responsáveis. Em meu nome pessoal e de toda a comunidade educativa hoje aqui presente e que vos irá certamente acompanhar amanhã ao longo da Avenida da Liberdade, dou os mais sinceros parabéns, a todo o Batalhão Colegial.” Seguiu-se a imposição de condecorações e a entrega de prémios. Foram condecorados com a Medalha D. Afonso Henriques – Mérito do Exército de 3ª Classe o Professor Efectivo Vasco Paulo Lin-
ce de Faria (21/1960), - Mérito do Exército de 4ª Classe o Sargento-ajudante de Cavalaria António Nunes Salvador, Sargentoajudante de Infantaria Armindo José Trindade, Assistente Técnico António Silvestre Borbina Catapirra e Assistente Operacional Francisco Maria Pereira Tijoleiro. Por terem passado à situação de aposentação, após uma longa permanência ao serviço do Colégio, receberam as respectivas placas alusivas o Assistente Operacional Mário da Nazaré Caixado Couzinho (o Márinho), a Assistente Operacional Maria Júlia Luzio, a Assistente Operacional Maria Adelaide Bernardo, que prestaram serviço no CM durante 37 anos e o Assistente Operacional José Manuel Barraco Rodrigues que prestou serviço no CM durante 35 anos. Os Prémios instituídos pelo Comando de Instrução e Doutrina do Exército e pelo Colégio Militar foram entregues aos Alunos 264 João Faleiro (Prémio “Educação Física”), 311 Luís Coelho (Prémio “EsRevista da AAACM
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grima”), 111 Pedro Guerreiro (Prémio “Equitação”) e 96 Duarte Folgado (Prémio “Instrução Militar”). O Batalhão Colegial desfilou em continência ao Marechal Teixeira Rebello e às Entidades presentes, marchando pela Estrada da Luz desde os Claustros até à Parada do Corpo de Alunos. No Domingo, com previsão de céu nublado e possibilidade de aguaceiros, o tempo acabou por se associar às comemorações. Antes do início do desfile a chuva parou e só voltou a aparecer quando terminou a Missa em São Domingos. O Batalhão e a Escolta a Cavalo desfilaram pela Avenida da Liberdade com a determinação que os caracteriza, em continência ao Vice-Chefe do Estado-Maior do Exército, Tenente-General Mário de Oliveira Cardoso, que era acompanhado pelo Director do Colégio Major-General Raul Jorge Laginha Gonçalves Passos e de muitos Oficiais-Generais, Oficiais e Entidades civis e militares que se encontravam junto do Monumento dos Mortos da I Grande Guerra, juntamente
A Escolta desfilando na Avenida ©Foto Samuel Ma 42
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com Professores e Servidores do Colégio e de um elevado número de antigos Alunos. Os antigos Alunos das camadas mais jovens acompanham o Batalhão ao longo de toda a Avenida, bradando sucessivos Zacatraz, animando os seus Camaradas em especial os Ratas que pela primeira vez participam neste desfile. Este ano notou-se uma maior afluência de antigos Alunos que desta forma quiseram manifestar o seu apoio ao Colégio nos momentos em que a união e a coesão da Família Colegial são tanto mais necessárias. Seguiu-se a Missa na Igreja de São Domingos concelebrada pelo Major-Capelão Padre Borges da Silva, coadjuvado pelos antigos Capelães do Colégio Padre Braula Reis, Prior de São Domingos, e Padre Valdomiro. Na Homilia, pelo Capelão Borges da Silva foi dito:
“Irmãos em Jesus Cristo, partilho convosco uma breve reflexão, radicada nos textos bíblicos que acabaram de ser procla-
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mados e que são próprios deste segundo domingo da quaresma. Deus vem ao encontro do ser humano, revela-se-lhe e deseja tornar-se seu “aliado”. Esta iniciativa de Deus permite ao ser humano uma resposta livre e responsável: livre no sentido de que o ser humano pode acreditar (ter fé) ou não acreditar; responsável no sentido de que a resposta comporta consequências. Abraão optou por acreditar, por acolher o desafio de Deus, o que implicou sair da sua terra, pôr-se a caminho, correr o risco da fé. Também o ser humano de hoje pode optar por acreditar ou não, por acolher ou não a Palavra de Deus. Se acreditar tem a promessa do humanismo, da luz, da salvação, do infinito, da eternidade, da transfiguração... Esta fé implica sair, levantar os olhos para o infinito do horizonte, saber o rumo a seguir, pôr-se a caminho, marchar pela avenida da vida - uma avenida de liberdade que requer opções coerentes e fundamentadas em conteúdos de valor - vencer os riscos e adversidades do caminho, ser maior do que as dores musculares e os ruídos exteriores... Com chuva ou com sol, com frio ou com calor, a firmeza de cada passo transporta as estrelas do céu, um povo, uma multidão de vozes... E no evoluir do percurso sente-se uma força interior, uma força que brota da convicção da fé, da certeza de que Deus, nosso aliado, é luz e Salvação. Na transfiguração de Jesus encontram-se a humanidade e a divindade: manifesta-se a glória da divindade e torna-se evidente a grandeza e a dignidade a que é chamada a humanidade. Todo o ser humano é chamado a elevar-se a tal dignidade, a que hoje gostam de chamar “excelência”. A oportunidade da excelência é-nos dada, mas o processo para a atingir implica o esforço da conquista. O percurso de Jesus para a transfiguração, para a ressurreição, passou pela coerência, pela perseverança e pela
A AAACM na Igreja de São Domingos ©Foto Gonçalo Leal de Matos
fidelidade nas maiores adversidades, inclusive no calvário e na cruz. Se queremos perseguir a excelência, atingir a estatura de filhos de Deus a que somos chamados, importa ter ciente que o caminho exige humildade, trabalho, profissionalismo, empenho, abnegação, determinação... No processo de elevação para a pátria dos Céus, como refere São Paulo, é importante saber discernir o modelo a seguir. Que modelo de humanidade se pretende? Que tipo de ser humano se quer construir? Que referências sustentam as opções formativas e as práticas educativas? Que valores se pretendem desenvolver para os dias de amanhã? Que modelos se oferecem hoje às novas gerações? Que ética e vertical idade apresentam as lideranças de hoje e os gestores dos diferentes sectores da sociedade? “Permanecei firmes no Senhor”, prossegue São Paulo, que será o mesmo que dizer, permanecei firmes nos valores que formam homens Revista da AAACM
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maiores, cultivai a ética e a transparência de costumes, praticai o código de honra para vos elevardes à pátria dos Céus e vos tornardes exemplo virtuoso para as gerações mais novas. O caminho quaresmal passa pelo sofrimento e pela dor, vence a morte e culmina na ressurreição. Ao longo deste caminho a força de Deus, nosso aliado, não nos deixa parar nem ficar caídos. Permaneçamos firmes no caminho dos valores que conduzem à transfiguração.“ Foi rendida homenagem aos que serviram o Colégio ou foram seus Alunos já não fazem parte do reino dos vivos, tendo o toque de silêncio e de alvorada sido executado pela Fanfarra do RAAA1. Finda a Missa, o Batalhão levantou as armas recolhidas no Palácio da Independência e regressou ao Colégio. Ao fim da tarde, pelas 18 horas teve lugar a Cerimónia do Arrear da Bandeira Nacional, a cargo do Corpo de Alunos. Mais uma vez a franca confraternização de várias gerações, desde os Antigos Alunos que ainda no ano passado estavam no Colégio até aos que já saíram há mais de
A Banda do Exército sempre presente no 3 de MARÇO ©Foto Gonçalo Leal de Matos 44
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setenta anos, decorreu no tradicional jantar no Refeitório e oferecido pela Direcção do CM, constituído pelos muito apreciados caldo verde, “amarelo” e arroz doce, permitiram o saudável e amistoso encontro de Camaradas recordando os saudosos tempos vividos quando tiveram o privilegio de terem sido Meninos da Luz. Às zero horas foi apagada a Chama Colegial. Gonçalo Salema Leal de Matos 371/1949
Nos mais longínquos sítios deste Mundo, onde há Antigos Alunos comemora-se o 3 de MARÇO. Enviem-nos textos em Word relatando essas Comemorações e fotografias em formato JPEG ilustrando esses encontros. Faremos a sua divulgação através da Revista.
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Sociedade, o Colégio e a Récita 2010
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Vou tentar reproduzir em palavras o meu sentimento perante o trabalho desenvolvido pelo Curso 2003/2004, no entanto, por ser mais forte que eu, vou dar uma visão pessoal do nosso Colégio em pleno século XXI.
somos bafejados pela injustiça, corrupção, mentira, inimizade, interesses ou simplesmente por um vazio de nada.
Por um Colégio de Excelência, Tradição Exemplo e Exigência! Este foi o mote para a Récita do Curso 2003/2004 que decorreu nos dias 5, 7 e 8 do passado mês de Janeiro.
A família deixou de ser o centro para dar à televisão um papel mais activo, a disciplina deixou de ser a base da educação para dar à liberdade a “liberdade” de fazer o que quiser, o amor passou a ser uma palavra que aparece muitas vezes na televisão e que devia ser a base da família.
Parabéns! Muitos Parabéns! As minhas primeiras palavras vão directamente para o 7º ano que foram capazes de criar uma Récita brilhante onde souberam reproduzir de uma forma amadurecida as suas ideias, os seus valores e o que querem do nosso tão amado Colégio Militar.
Felizmente, o Colégio Militar não deixou de ser Colégio Militar, os seus alunos não deixaram de ser Meninos da Luz, a sua história não deixou de ser brilhante, os seus propósitos não deixaram de ser nobres, os valores não deixaram de ser incutidos, o presente não deixou (…)! Como será o final da história?
Munidos de ferramentas tecnológicas altamente desenvolvidas (sim, eu ainda sou do tempo dos slides em que as passagens eram feitas trocando o slide com a mão direita enquanto a mão esquerda tapava o projector com o Barrete) e de sentido de humor satírico, o Curso 2003/2004 (os meus putos) produziu uma Récita brilhante, talvez das melhores Récitas já produzidas (depois da minha claro!).
Os alunos do 7º ano souberam antever “a Crónica de uma morte anunciada”, talvez porque os alunos deixaram de ser brilhantes, os professores deixaram de exigir o brilho e a sociedade deixou premiar o brilho, talvez por isso o Colégio Militar deixe de brilhar. Hoje, amanha, depois? Depende de nós…
O problema é claro e todos o conhecemos. O Colégio Militar (o “nosso” Colégio), atravessa um momento conturbado sem semelhança na sua longa história. A sociedade, cuja base assenta (ou pelo menos deveria) na família, está num caminho sem rumo (ou pelo menos muito desviado da linha). Vivemos alegremente estáveis num mundo em que interessa parecer (e não Ser), mostrar (e não Sentir), fugir (e não ajudar). Como se não fosse suficiente, mergulhamos num abismo sem fundo onde apenas 46
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É esta a mensagem que melhor traduz esta brilhante Récita. Durante cerca de 120 minutos, os “ratas” 2003 souberam criticar, elogiar e motivar os funcionários, os professores, os oficiais e “com muita pinta”, os alunos. O primeiro passo para a mudança é reconhecer a necessidade de mudança, vocês conseguiram isso de uma forma radiosa. Os Meninos da Luz não podem deixar de brilhar no escuro da nossa sociedade, não podem deixar de ocupar os lugares cimeiros no “ranking” das escolas com melhores médias, não podem deixar de preencher vagas nas melhores Universidades do país, não podem deixar de ocupar cargos de importância vital
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da sociedade, não podem deixar de cultivar os seus valores entre os seus amigos e família. Não podem ser apenas mais um que vive estavelmente estável. Se isto não acontecer o Colégio Militar, fundado em 1803 morre, acaba, desaparece. A EXCELÊNCIA é o vosso objectivo, um grande objectivo! Estejam seguros de que só depende de vós a conquista deste objectivo, um objectivo de família, da família Colegial, de todos os alunos, funcionários e professores. Na vossa récita, demonstraram o carácter que vos une, mas, no dia-a-dia, têm de demonstrar o EXEMPLO. Olhem para trás, tiveram sempre o melhor exemplo? Não. Sabem qual é o caminho? Sim. Mais uma vez, depende de vós. A EXIGÊNCIA, uma palavra grave que custa pronunciar mas que souberam muito bem aplicar na vossa Récita. Falta aplicá-la nas vossas vidas, sejam exigentes, não se confortem com o estavelmente estável…TRADIÇÃO, já não é o que era…está nas vossas mãos, exi-
jam o exemplo, superam a excelência e a tradição voltará a ser o que era. Foi um orgulho puder assistir a uma Récita de qualidade como a vossa, saber que afinal os alunos do CM não entraram na onda “bacana” do facilitismo. É um orgulho ter partilhado o Colégio convosco e ter transmitido valores que vejo agora bem digeridos e apresentados. PARABÉNS! Tu que lês esta Revista e que por esta altura certamente partilhas com a grande família Colegial o amor pelo Colégio, não sejas apenas mais um! Os “putos” do 7º demonstraram saber o que o Colégio precisa, será que os Meninos da Luz afinal também deixaram de brilhar? NUNCA. Lança-te no teu quotidiano, demonstra na tua família, nos teus amigos, no teu trabalho que és Menino da Luz, que fazes parte da solução e não do problema. É no dia-a-dia que demonstramos que o Colégio Militar vale a pena. USA A BARRETINA, VAI ÀS CERIMÓNIAS, GRITA O ZACATRAZ!!! Luís Carlos Mendes da Cunha 316/1996
©Foto Samuel Ma Revista da AAACM
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©Fotos Samuel Ma
“Por um Colégio de Excelência, Tradição, Exemplo e Exigência” (Curso de Entrada 2003) Realizou-se a tradicional Récita na primeira semana do presente ano de 2010, nos dias 5, 7 e 8 de Janeiro. O espectáculo tem lugar no auditório do C.M., como é hábito, pelas 21h30, estando a primeira sessão reservada à 1.ª e 2.ª companhias de alunos, a segunda à 3.ª e 4.ª companhias de alunos e aos antigos alunos e a terceira e última sessão, a “gala”, é destinada aos familiares, oficiais e professores dos alunos semi-finalistas. “A Récita é provavelmente a tradição colegial que mais define um curso em relação aos seus sentimentos e emoções colectivas” (Pedro Freitas, 15 de 1975, “Luzes, Câmaras… Confusão!”, Blogue do Quinze de 75). Ora, o balanço é extremamente positivo. Para além dos vários momentos de humor, muitos dos quais de cariz con48
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temporâneo, outros intemporais, e das dificuldades técnicas e de projecção de voz que existirão sempre, conseguiram o mais importante: a opção pela profundidade dos temas tratados e o alcance do vosso sentido crítico. E, acima de tudo, mostraram a paixão que nutrem pelo Colégio e fizeram-nos acreditar no futuro. Essa que é a responsabilidade de todos. Ganharam a coragem para “pôr o dedo na ferida”, começando pelo diagnóstico aos próprios alunos, e com isso o respeito da audiência e, espero, de toda a família colegial. Nada melhor do que transcrever na íntegra o folheto que foi distribuído no final do espectáculo pelos alunos do 7.º ano (11.º ano de escolaridade) e que pretende estimular a reflexão geral, ao mesmo tempo que fica muito clara a mensagem
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Mas no meio de tanto humor, relevam-se pormenores da maior importância e seriedade.
©Foto Samuel Ma
que quiseram transmitir e pela qual estão de parabéns. Boa sorte no que aí vem e “mãos à obra” malta!
O antagonismo que surge entre o anjo e o diabo é propositado, pois nele se revela um problema real e bastante preocupante que é a profunda transposição das altercações entre professores para o ambiente colegial. O Colégio não pode evoluir em termos de competência e profissionalismo educacional enquanto persistir esta constante deterioração das relações de quem transmite valores e molda o conhecimento, afinal, o carácter dos nossos alunos. “Lobby Lounge”
“Crónica de uma Morte anunciada” Esta Récita pretende ser uma prolepse. Nesta peça, mostramos uma notícia que anuncia o fim do Colégio Militar, precedida de algumas notícias sobre o mesmo. Tem como objectivo ser o motor que irá levar o espectador a descobrir todos os motivos pelos quais o Colégio fechou. Desta forma, já alertados dos erros cometidos no passado, podemos desde hoje mudar, rumo a um Colégio de Excelência que perdure por muitos e largos anos. “Auto da Cúpula do Inferno” No Auto, desejamos satirizar alguns defeitos, virtudes e comportamentos dos professores que estão a ser “julgados”.
©Foto Samuel Ma
Ilustrar os factores externos que atacam o Colégio (lobbies) é o propósito desta peça. Podemos constatar que por vezes mesmo opostos (activistas políticos/ empresário capitalista), estes “lobbies” dispõem-se a usar tudo o que estiver ao seu alcance para servir interesses próprios que muitas vezes colidem com esta instituição. Através da mudança de atitude do Ministro da Defesa, à medida que a trama se vai desenrolando, queremos representar a crescente fragilidade que existe por parte do poder político em relação a todas as pressões a que está sujeito, acabando também por ser uma crítica à sociedade em que nos inserimos. No entanto, podemos deparar-nos com duas personagens que tentam, a todo o custo, travar os constantes ataques a que estamos expostos: um jornalista antigo aluno quem usando a sua influência nos “media”, consegue minimizar a dimensão dos consecutivos escândalos que afectam a vida colegial; e ainda o Chefe Estado-Maior do Exército, que continua a acreditar no projecto desta casa pelo seu cariz militar, embora comece a perder a capacidade de a defender pela evidente escassez de arRevista da AAACM
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DO COLÉGIO Sociedade, o Colégio e a Récita 2010
gumentos que contrariem os factos reais, infelizmente muitas vezes deturpados pelos órgãos de comunicação social. Não é nossa intenção descredibilizar estes “lobbies”, pois são reais e fortemente activos. Todavia, a única solução para fazermos frente a este obstáculo é claramente obrigá-lo a esvair-se, por morte natural ou falta de “alimento”, ou seja, é absolutamente necessário sermos o mais prudentes possível para evitarmos percalços que continuem a denegrir a imagem e a atentar contra a sobrevivência do Colégio Militar.
©Foto Samuel Ma
“Fátima Show” Embora seja a pela mais satírica, este programa não deixa de focar aspectos sempre passíveis de serem corrigidos no funcionamento do Colégio. Desde os preços demasiadamente elevados da Cantina até aos problemas da CEGRAF, entendemos ser possível melhorar bastante a organização de várias estruturas que, de uma forma ou de outra, acabam por não servir na máxima plenitude os interesses de toda a Família Colegial. No entanto, é sem dúvida abordado um assunto de extremo relevo que, infelizmente, cada vez se manifesta em mais alunos: a postura incorrecta, a falta de educação e o escasso brio são flagelos sociais que corrompem os valores instituídos pela vivência colegial. 50
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“Mea Culpa” Esta é a pela que resulta de uma instropecção feita por nós, enquanto ALUNOS, e que visa tocar numa realidade que tentamos insistentemente fazer passar por inexistente e irrelevante, enquanto na verdade, pura e duramente, é a realidade que se vive no nosso dia-a-dia e que está no seio de todas as nossas alterações a nível de valores e na nossa conduta: é a cultura de mediocridade que tem vindo progressivamente a substituir muitos dos nossos princípios que sempre regeram a postura de um Menino da Luz; por mais que tentemos negá-lo, essa cultura de mediocridade existe efectivamente, e só assumindo-a como nossa culpa (“Mea Culpa”) e combatendo-a, se pode conduzir o Colégio à Excelência, única forma de existência que o Colégio pode admitir e, obviamente, também a única possibilidade de recuperar o bom nome do Colégio, que atravessa, actualmente, tempos muito difíceis perante a nossa sociedade. “Que Futuro?” O título traduz o grande dilema que nos é colocado. É este o momento da decisão final, da escolha entre os dois caminhos passíveis de serem trilhados. As duas portas que compõem o cenário desta peça sugerem isso mesmo. Em jeito de conclusão, pretendemos acentuar a gravidade da situação do Colégio e a necessidade emergente de agir e mudar, O Colégio necessita de uma família colegial, principalmente de alunos, com visão, espírito crítico e, sobretudo, coragem e audácia. Agora, mais do que nunca, precisamos de nos unir para reconstruir um Colégio de Excelência, tendo como pilares a Tradição, o Exemplo e a Exigência. Ricardo Neto Galvão 347/1997
DO COLÉGIO Jantar anual Associação, apoiodeao1952-59 Colégio A Celebração dos 50 anosdade saída do Curso
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Reprodução do desenho do selo de €0,55 da serie comemorativa do Bi-Centenário do Colégio Militar
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Camilo Castelo Branco e o Colégio Militar A associação do Colégio Militar ao nome de um escritor ilustre, como é o caso de Camilo Castelo Branco, provoca, além de uma enorme surpresa, uma natural expectativa na sua justificação. Outra interrogação que se coloca é a de saber em que circunstâncias e datas Camilo, homem que viveu a maior parte da sua vida no norte do país, e só esporadicamente por curtos períodos estanciou em Lisboa, teve conhecimento da Instituição de ensino Colégio Militar.
— No quartel-general de Botelho andava um ajudante – de – ordens que fora condiscípulo e amigo de Francisco Salter de Mendonça no Colégio Militar. Foi esse o encarregado de examinar os papéis. Mal tinha revolvido alguns maços de cartas … quando reparou num rolo de papéis atados todos com uma guita, sendo a capa exterior um sobrescrito que dizia — Ao Ilmo. Sr. Francisco Salter de Mendonça - Rio de Janeiro.
A justificação atrás pedida tem resposta simples no facto de em várias obras do escritor, todas romances, o Colégio Militar surgir no decurso da narrativa.
O examinador, espantado de encontrar o nome do seu amigo entre papéis do defunto Jacobino … escondeu o maço de papéis, e, ansioso de curiosidade, não tardou a examiná-los …
As respostas às restantes questões serão sempre superficiais e pouco consistentes.
Viu uma, outra, e outra até vinte e tantas cartas assinadas por Carlota Ângela.
Com a satisfação de ter descoberto as referências ao Colégio na obra de Camilo passarei de imediato à sua transcrição. Nelas utilizarei sempre a edição das Obras Completas de Camilo Castelo Branco publicadas sob a direcção de Justino Mendes de Almeida, dos editores Lello & Irmão - Porto, com 1º volume datado de 1982.
Outras tantas … assinadas por Francisco Salter. Quem era esta Carlota Ângela?...
Para simplificar a sua localização citarei o número do volume em que se insere e a respectiva página, ex: (v.25/78 ). Assim, em “Carlota Ângela” ( V.II/1015 e 1017) podemos ler:
“Quando o corregedor Joaquim António de Sampaio foi supliciado, o general Botelho mandou examinar os papéis do jacobino com a esperança de encontrar algum que justificasse a violenta morte do magistrado, no caso de lhe serem pedidas contas do estranho feito. 52
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Qual seria o valor oculto de uns papéis que tão estranhos pareciam ao funcionalismo do magistrado? O ajudante - de - ordens, logo que o exército invasor desalojou do Porto, foi ao Mosteiro de S. Bento da Avé - Maria procurar Carlota Ângela … no mosteiro tinham apenas ficado uma freira demente, e duas criadas entrevadas, que apenas souberam dizer que a noviça Carlota Ângela fugira com sua tia para um convento da província. Prosseguia em inúteis averiguações o curioso militar, quando a Junta Provisória o nomeou para ir ao Rio de Janeiro dar parte das ocorrências da infausta invasão, e da derrota fabulosa que os franceses iam sofrendo na retirada. O emissário aceitou … esperançoso de encontrar no Rio de Janeiro o seu amigo
COLABORAÇÃO Camilo Castelo Branco e o Colégio Militar
da mocidade Francisco Salter de Mendonça. Apenas desembarcou, o primeiro - oficial de marinha que lhe saiu ao encontro foi Salter. — Que há de comum entre ti, e um tal Joaquim António de Sampaio, que foi enforcado no Minho? — Enforcado! — Sim, garroteado por jacobino, traidor ao rei e à pátria e à santa religião — Conhecia-lo? — Perfeitamente. Esse homem era tio de uma mulher que me obriga a desertar amanhã, para ir procurá-la no Porto. — Se o teu fim é saber onde ela está, posso dar-te algumas informações. — Conheces Carlota Ângela?! ---interrompeu alvorotado o capitão de marinha. — Conheço pelas amarguradas cartas que te escrevia. — Cartas! Quais?! Eu não recebi cartas algumas de Carlota. — Se as não recebeste, podes lê-las agora, porque eu sou portador de duas dúzias delas, que fazem chorar as pedras. — Como te vieram essas cartas à mão? Dá-mas. — Lá vamos; mas primeiro quero que me expliques como essas cartas foram à mão do tal corregedor enforcado. — Isso é uma história longa e atroz. Dá-me as cartas… — Pois sim: aí vão as cartas da Carlotinha, mas tenho no outro bolso outras tantas escritas à tua dama. — Por quem? — Por um nosso condiscípulo do Colégio Militar, que, segundo se depreende do ardor da linguagem, deve amá-la como um louco.
— Quem é ele? — Um terrível paralta, que saiu da pátria deixando por lá nos mosteiros noviças apaixonadas. — Quem? Depressa…diz-me o nome desse homem. — Francisco Salter de Mendonça é como ele assina as lamuriantes epístolas …” Neste trecho parcialmente fragmentado, excerto de uma trama amorosa, o Colégio Militar é citado duas vezes em diálogo entre dois ex-Alunos. “Carlota Ângela” tem 1ª edição em 1858 quando Camilo perfazia trinta e três anos de idade. Em “O Carrasco de Vítor Hugo José Alves“, romance com 1ª edição de 1872 quando Camilo ia nos 47 anos de idade, podemos ler ( V. VII / 88 ):
“ … Requeri, pois, pedindo a admissão de meus netos no Colégio Militar. A absurdeza do pedido era pelos modos tamanha que o meu requerimento nem sequer mereceu a consideração de ser indeferido. Fechadas as portas da justiça, bati às da caridade. É Vossa Excelência, Senhor Conde, o bom anjo que saiu a escutar os meus rogos…e… — Muito bem… — obstou o conde, amargurado pelas lágrimas do velho. — Tenho entendido que Vossa Senhoria deseja que os seus netos sejam recebidos em algum estabelecimento de educação... O conde afagou as faces dos meninos, que lhe beijaram as mãos …Depois, ergueu-se; apertou francamente a mão do venerando veterano; Revista da AAACM
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COLABORAÇÃO Camilo Castelo Branco e o Colégio Militar
Ao entardecer do dia seguinte, Cristóvão Tavares entrou na loja da luveira impando de cansaço e exultação. Contou que o senhor conde o mandara entrar com os meninos para a sala, onde ele estava com um sujeito, a quem dissera: «Aqui estão os seus alunos.» — Era o director dum colégio de primeira ordem — ajuntou o velho. “ Neste trecho entende-se o desejo de um avô em proporcionar aos netos a garantia de uma boa educação. Por fim, em “Eusébio Macário”, um dos últimos romances de Camilo, com 1ª edição de 1879, podemos descobrir duas citações do Colégio. Na primeira ( V.VIII/526 ):
“ …Maria da Nazaré achou bonita, sublime, a gratidão do homem; mas não o queria para marido. Tinha um amor de infância a um primo, filho segundo, pobre, que estudava no Colégio Militar, e havia de esposá-la quando saísse alferes.” A segunda citação na pág. 528 do mesmo volume, refere:
“...Daí a dias, um correspondente do Eco Popular relatava o casamento do ex-aluno do Colégio Militar Alfredo Pessoa com a rica viúva do proprietário Bogas de Vinhais. Esperava-se que a Nazaré ensandecesse quando lhe chegasse à mão o Eco de que as freiras compraram três
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exemplares que percorreram os dormitórios de cela em cela.” As citações do Colégio na obra de Camilo são naturalmente consequência do conhecimento transmitido pelos inúmeros interlocutores amigos com que convive nas suas breves e dispersas deslocações a Lisboa. Se em “Carlota Ângela” não vemos motivação particular para a inclusão do Colégio, já em “O Carrasco de Vítor Hugo” o Colégio è citado como escola de preferência para educação de dois jovens. Em “Eusébio Macário” também a citação do Colégio não tem nenhuma aparente motivação. Em 1872 e em 1879, datas dos dois últimos livros citados, os filhos Jorge e Nuno tinham respectivamente nove e quinze anos. Teria passado alguma vez pelo espírito de Camilo o internamento dos filhos no Colégio Militar? Os argumentos que tornam improvável esta suposição são mais numerosos que os que os favorecem. De facto a menoridade psíquica de Jorge e a perversidade de Nuno cedo devem ter afastado tal ilusória intenção. Por fim, e acima de todas as considerações, o interessante e honroso para todos nós ex-Alunos é que o nome do Colégio nas primeiras décadas da sua existência tenha sido repetidamente exposto nas mais brilhantes páginas da nossa literatura. António Costa Gil de Sousa Prates 138/1947
COLABORAÇÃO Saber não ocupa lugar...
Saber não ocupa lugar… Nunca é tarde para enriquecer a nossa cultura geral (que eu defino como o conhecimento que no momento em que é adquirido é considerado pelo próprio como verdadeiramente inútil; só o futuro poderá confirmar ou não tal ideia). Nos últimos dias apeteceu-me (por qualquer motivo de que já me esqueci) aprender um pouco sobre a vida e a personalidade de uma das figuras históricas mais marcantes do século XX:
The Right Honourable Sir Winston Leonard Spencer Churchill Boers, de quem foi prisioneiro, protagonizou uma fuga que o tornou mundialmente conhecido, e de que relatou as peripécias no seu livro De Londres a Ladysmith. Churchill entrou para a política como Conservador, tendo sido eleito deputado em 1900, mas em 1904 rompeu com o Partido devido à política social dos Conservadores.
(em 1940)
Primeiro-ministro britânico, de 1940 a 1945 e de 1951 a 1955, foi quem dirigiu a Grã-Bretanha durante a Segunda Guerra Mundial. Nasceu no Palácio de Blenheim, em Woodstock, no Oxfordshire, em 30 de Novembro de 1874; morreu em Londres, aos 90 anos, em 24 de Janeiro de 1965. Era filho de Lord Randolph Churchill e da sua mulher americana Jennie Jerome. Após ter acabado o curso na Academia Militar de Sandhurst e ter servido como oficial subalterno, de 1895 a 1899, no regimento de Hussardos n.º 4, foi correspondente de guerra em Cuba, na Índia e na África do Sul. Durante a guerra dos
Aderiu ao Partido Liberal e em 1906, tendo sido eleito deputado, foi convidado para o Governo, ocupando primeiro o cargo de Sub-Secretário de Estado para as Colónias, mais tarde, em 1908, a pasta de Presidente da Junta de Comércio (Board of Trade).Após as eleições de 1910 foi transferido para o Ministério do Interior, e finalmente foi nomeado, em Outubro de 1911, Primeiro Lorde do Almirantado, onde impôs uma política de reforço e modernização da Marinha de Guerra britânica. Pediu a demissão em plena Primeira Guerra Mundial, devido ao falhanço da expedição britânica aos Dardanelos, na Turquia, de que tinha sido o principal promotor. Alistou-se no exército, e comandou um batalhão do regimento «Royal Scots Fusiliers» na frente ocidental. Regressou ao Parlamento em 1916, regressando a funções governamentais no último ano de guerra, como ministro das munições. Revista da AAACM
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COLABORAÇÃO
Após o fim da Primeira Guerra Mundial, Churchill foi-se tornando cada vez mais conservador, continuando a participar activamente na política, como Ministro da Guerra (1919-1921) e Ministro das Colónias (1921-1922) em governos liberais. Em 1924 regressou ao Partido Conservador, sendo nomeado Ministro das Finanças (1924-1929) no governo conservador de Stanley Baldwin. Não participou em nenhum governo, de 1929 a 1939, mas continuou a ser eleito para o Parlamento, onde advertiu incessantemente do perigo que Hitler representava para a Paz. Em 1939 foi nomeado novamente Primeiro Lorde do Almirantado, e em 1940, no dia em que a Alemanha começou a ofensiva a Ocidente, invadindo a Holanda, a Bélgica, o Luxemburgo e a França, foi nomeado Primeiro-ministro. Fez com que o seu país resistisse às derrotas dessa Primavera de 1940, e ao desaparecimento de todos os seus aliados ocidentais, da Noruega à França, e dirigiu-o durante a Batalha de Inglaterra. Finalmente, aliado à União Soviética, desde o primeiro momento da invasão alemã, em Junho de 1941, e com o apoio e depois a participação activa dos Estados Unidos na guerra, acabou por vencer Hitler. Mesmo no final da guerra, sofreu uma derrota espectacular nas eleições de 1945, sendo o seu governo substituído pelos trabalhistas de Atlee. Voltou ao poder em 1951, sendo primeiro-ministro até 1955, ano em que pediu a demissão, devido a problemas de saúde. Foi nomeado Prémio Nobel da Literatura em 1953, pelas suas obras literárias1 (…for his mastery of historical and
biographical description as well as for brilliant oratory in defending exalted human values) mas sobretudo devido aos 6 volumes da sua obra mais famosa: The Second World War. Dentre os seus discursos mais importantes transcrevo – na íntegra – o que fez no Parlamento quando tomou posse como Primeiro-ministro e ministro da Defesa em Maio de 1940 (e que mostra claramente a determinação que o havia de acompanhar durante toda a guerra). Este discurso é muitas vezes referido sob o título “Blood, Toil, Tears and Sweat”
On Friday evening last I received from His Majesty the mission to form a new administration. It was the evident will of’ Parliament and the nation that this should be conceived on the broadest possible basis and that it should include all parties. I have already completed the most important part of this task. A war cabinet has been formed of five members, representing, with the Labour Opposition, and Liberals, the unity of the nation. It was necessary that this should be done in one single day on account of the extreme urgency and rigor of events. Other key positions were filled yesterday. I am submitting a further list to the king tonight. I hope to complete the appointment of principal ministers during tomorrow. The appointment of other ministers usually takes a little longer. I trust when Parliament meets again this part of my task will be completed and that the adminis-
1 Publicou, entre outras obras: The World Crisis (4 volumes sobre a 1ª Grande Guerra publicados no período entre 1923 e 1929), The Second World War (6 volumes publicados no período entre 1948 e 1954) e History of the English-speaking Peoples (4 volumes publicados no período entre 1956 e 1958). A sua magnificência como orador está condensada em vários livros tais como The Unrelenting Struggle (1942), The Dawn of Liberation (1945) e Victory (1946). Sendo igualmente um pintor amador de grande qualidade, escreveu o livro Painting as a Pastime (1948).
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tration will be complete in all respects. I considered it in the public interest to suggest to the Speaker that the House2 should be summoned today. At the end of today’s proceedings, the adjournment of the House will be proposed until May 21 with provision for earlier meeting if need be. Business for that will be notified to MPs at the earliest opportunity. I now invite the House by a resolution to record its approval of the steps taken and declare its confidence in the new government. The resolution: “That this House welcomes the formation of a government representing the united and inflexible resolve of the nation to prosecute the war with Germany to a victorious conclusion.” To form an administration of this scale and complexity is a serious undertaking in itself. But we are in the preliminary phase of one of the greatest battles in history. We are in action at many other points-in Norway and in Holland-and we have to be prepared in the Mediterranean. The air battle is continuing, and many preparations have to be made here at home. In this crisis I think I may be pardoned if I do not address the House at any length today, and I hope that any of my friends and colleagues or former colleagues who are affected by the political reconstruction will make all allowances for any lack of ceremony with which it has been necessary to act. I say to the House as I said to ministers who have joined this government, I have nothing to offer but blood, toil, tears, and sweat. We have before us an ordeal 2 3
of the most grievous kind. We have before us many, many months of struggle and suffering. You ask, what is our policy? I say it is to wage war by land, sea, and air. War with all our might and with all the strength God has given us, and to wage war against a monstrous tyranny never surpassed in the dark and lamentable catalogue of human crime. That is our policy. You ask, what is our aim? I can answer in one word. It is victory. Victory at all costs - Victory in spite of all terrors Victory, however long and hard the road may be, for without victory there is no survival. Let that be realized. No survival for the British Empire, no survival for all that the British Empire has stood for, no survival for the urge, the impulse of the ages, that mankind shall move forward toward his goal. I take up my task in buoyancy and hope. I feel sure that our cause will not be suffered to fail among men. I feel entitled at this juncture, at this time, to claim the aid of all and to say, “Come then, let us go forward together with our united strength.” His Most Important Quotations3:
“Never Surrender” “We shall not flag or fail. We shall go on to the end. We shall fight in France, we shall fight on the seas and oceans, we shall fight with growing confidence and growing strength in the air. We shall defend our island, whatever the cost may be. We shall fight on the beaches, we shall fight on the landing-grounds, we
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shall fight in the fields and in the streets, we shall fight in the hills. We shall never surrender!”4 — House of Commons, 4 June 1940, following the evacuation of British and French armies from Dunkirkas when the German tide swept through France. “The Few” “The gratitude of every home in our island, in our Empire, and indeed throughout the world, except in the abodes of the guilty, goes out to the British airmen who, undaunted by odds, unwearied in their constant challenge and mortal danger, are turning the tide of the world war by their prowess and by their devotion. Never in the field of human conflict was so much owed by so many to so few.”5 — Tribute to the Royal Air Force, House of Commons, 20 August 1940. The Battle of Britain peaked a month later. Because of German bombing raids, Churchill said, Britain was “a whole nation fighting and suffering together.” He had worked out the phrase about “The Few” in his mind as he visited the Fighter Command airfields in Southern England. “The End of the Beginning” “The Germans have received back again that measure of fire and steel which they have so often meted out to others. Now, this is not the end. It is not even the beginning of the end. But it is, perhaps, the end of the beginning.”
— Lord Mayor’s Luncheon at Mansion House, following the victory at El Alamein in North Africa, (London, 10 November 1942). Termino com a descrição de duas situações que servem para dar um tom porventura ainda mais humano à personalidade espantosa de Winston Churchill: • Durante a 2ª guerra mundial iniciava o seu dia de trabalho despachando com a secretária que fazia o turno da manhã6 na casa de banho, a tomar banho dentro da banheira, ao mesmo tempo que tomava o pequeno almoço (ovos, ‘bacon’, costeletas de carneiro e café) e acendia o seu primeiro charuto do dia que acompanhava o seu primeiro conhaque. • Manteve-se como deputado até aos 89 anos! Quando uma tarde parecia dormitar sentado numa das filas traseiras da Câmara dos Comuns, dois deputados jovens sentados perto, comentaram que era uma pena ver naquele estado, quem fora um grande estadista e a quem a Grã-Bretanha tanto devia. Winston Churchill não abriu os olhos mas ‘rosnou’: … E ainda por cima está surdo! Intratável? Sempre! Genial? Muitas vezes! António Rafael Passarinho Franco Preto 67/1950
4 É opinião de vários historiadores que o tremendo erro estratégico que Hitler fez de não invadir imediatamente a GrãBretanha quando atingiu a costa atlântica francesa (que estava na realidade à sua mercê) substituindo essa invasão por bombardeamentos maciços da força aérea alemã, foi devida a este discurso de Churchill. 5 A enorme inferioridade numérica da Royal Air Force Inglesa face à Luftwaff Alemã foi neutralizada e progressivamente transformada a favor dos Ingleses, devido a estes possuírem uma recente descoberta tecnológica que os alemães não possuiam - o radar. Este simples facto permitia-lhes saber com tempo suficiente de antecedência donde vinham os ataques aéreos alemães e a sua rota, para enviar ao seu encontro os seus aviões (a partir dos aeroportos mais apropriados que possuíam ao longo da costa). 6 Tinha várias secretárias pois nenhuma conseguia sozinha ter capacidade para o secretariar ao longo das 24 horas do dia.
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A Marinha Mercante e a Guerra Colonial por Jaime Reyes Leça da Veiga (201/1941) Capitão da Marinha Mercante 1. A Marinha Mercante e a Guerra Colonial O transporte marítimo foi uma força auxiliar de muita importância para manter o esforço da Guerra Colonial. O mar foi a grande via de ligação às antigas colónias portuguesas. Mais de 90% da carga e 80% do pessoal da metrópole foi transportado por navio. Mesmo antes do início da guerra, os navios da marinha mercante estiveram empenhados em fornecimentos às Forças Armadas e, praticamente quase todo o pessoal que ia
exercer comissões de serviço era transportado em paquetes das carreiras regulares para África. O apogeu da Marinha Mercante deu-se em 1960. Felizmente, no início da Guerra Colonial, a Marinha Mercante tinha ao serviço um total de 167 navios. Muitos dos paquetes foram requisitados para transporte de tropas, especialmente na parte inicial da guerra, e os restantes navios da marinha mercante em carreiras regulares para África foram também essenciais.
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África aumentava. Em 1963 efectuaram-se 27 viagens em oito paquetes e em 1967, trinta e três viagens em nove paquetes. Não podemos deixar de mencionar o serviço excepcional, no que respeita a transportes, feito pela TAP, e pela TAM. Entre 1961 e 1974, em viagem redonda foram transportados cerca de 600.000 homens. 2. Sabotagem nos navios da Marinha Mercante
Foi o Niassa o primeiro paquete utilizado para transporte de militares, sendo também requisitados o Pátria, Lima, Império e Vera-Cruz. No paquete Império fiz dois transportes de tropa para Moçambique, no Vera-Cruz nove e no Uige um. A título de curiosidade, em 1961 efectuaram-se 19 travessias por nove paquetes em missão militar e o ritmo foi aumentando à medida que a força militar em
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A 26 de Outubro de 1970, quando o Cunene se encontrava atracado na Doca de Alcântara deu-se uma explosão que lhe causou um grande rombo. Não houve vítimas. A 26 de Janeiro de 1972, duas potentes cargas, uma explosiva e outra incendiária, destruíram grande parte de material de guerra que estava num armazém a cerca de trinta metros do navio Muxima. Eram cerca das sete da manhã. As chamas atingiram o navio.
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3. Factores importantes relacionados com a Marinha Mercante 3.1. Regresso dos militares da Índia (1962) Fiz parte da tripulação do Vera-Cruz que de Karachi efectou o transporte dos militares que, pela força das circunstâncias, tiveram que regressar a Portugal. Nós, tripulantes do navio, recebemo-los com a maior solidariedade.
vula de fundo. Fecharam-se as portas estanques que davam acesso à Casa das Caldeiras para evitar a infiltração da água, o que a verificar-se certamente provocaria uma explosão. Ficou-se sem comunicações. Felizmente havia um gerador a diesel sobresselente junto à cabine da T.S.F., mas para este ser posto a funcionar, havia necessidade de água. Então foi tomada a decisão de transportar esta dum tanque de água doce junto ao porão V para a piscina. Ouve grande colaboração entre a tripulação e militares, e, a balde de mão em mão a piscina ficou com água para poder refrigerar o gerador. Após o seu funcionamento, foi possível que o Capitão de Bandeira, por intermédio do operador que o acompanhava, informasse Lisboa do sucedido. Felizmente naquelas paragens há sempre reboques de várias nacionalidades prontos a darem assistência. Esta assistência foi dada por um reboque grego que apareceu no dia seguinte. Devido a não haver energia no navio, a atracação teve que ser feita a força de braços da tripulação e com colaboração dos militares. Todos aqueles que fizeram aquela viagem decerto que terão coisas para contar aos filhos e netos. Com a chegada do Niassa, os militares foram transferidos para este navio e seguiram com destino a Moçambique.
3.2. Caso Paquete Império O meu colega Campos Ferreira, na altura imediato do paquete, relatou-me que em 1970 quando este navio, que transportava militares para Moçambique, navegava ao largo de Cabo Verde, cerca do meio-dia, se deu uma paragem da máquina. Rapidamente os oficiais maquinistas desceram à casa da máquina e verificaram que o problema era numa válRevista da AAACM
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3.3. Transporte de prisioneiros da Frelimo Quando eu era imediato do navio Lobito, transportámos do Ibo para Lourenço Marques 150 prisioneiros da Frelimo que foram acompanhados por um alferes e oito soldados. 3.4. Angoche No dia 22 de Abril de 1971, o navio Angoche devido a um pedido de última hora da Base de Nacala, alterou o seu destino e atracou naquele porto pelas 1500 horas. No dia 23 de Abril pelas 1730 largou de Nacala com destino a Porto Amélia, onde deveria chegar às 05:30 do dia 24. Quando os navios saíam de Nacala para Porto Amélia ou vice-versa, os chefes de cais dos respectivos portos comunicavam em fonia entre si, informando o ETA do navio dado pelo comandante. No dia 24 de manhã (sábado) estranhou-se em Porto Amélia a não chegada do navio aquele porto. Dia 25 (Domingo) interrogaram-se sobre o seu não aparecimento. Dia 26 (2ª feira) a C.N.N. alertou as autoridades que desconheciam a localização do navio. Soube-se posteriormente, pelo inquérito que foi feito ao comandante do petroleiro Esso Port Dickson, em Durban pelas autoridades sul-africanas, que este tinha registado no seu diário de navegação que, pelas 07:30 do dia 26 de Abril na posição 15º 27 S 40º 56 E tinha encontrado o navio Angoche com fogo a bordo. Somente no dia 27 comunicou o achamento do navio. A partir desse dia, quer a C.N.N quer as autoridades, tentaram comunicação com o petroleiro, mas este não deu resposta. Também foi registado no Diário do Navio que no dia 29 se encontrava a 125 milhas da Beira. As autoridades navais, e não só, continuaram as suas buscas, mas em vão. 62
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Somente no dia 3 de Maio, o petroleiro foi abordado pelo Hermegildo Capelo e verificou-se que o Angoche ia a reboque do petroleiro e, junto destes dois navios estava o rebocador Baltic. Também vinha mencionado no diário de bordo que, no dia 27, a tripulação combateu o incêndio no Angoche e que atiraram carga ao mar devido a este estar adornado. Mais declarou o Comandante que nos dias 28, 29 e 30 não respondeu aos pedidos de chamada porque estava a negociar o achado. Dia 2 de Maio o radiotelegrafista do Esso Port Dickson entrou em comunicação com o colega do navio costeiro Covilhã informando-o do estado em que tinham encontrado o Angoche. Entretanto a corveta João Coutinho efectuava buscas procurando os tripulantes. No dia 6 de Maio, o Angoche entrou em Lourenço Marques a reboque do Baltic. Acompanhei o caso Angoche desde o dia 26. Comandava nessa altura o navio costeiro Nampula, quando navegava ao largo de António Enes fui alertado por um comunicado da minha Inspecção em Lourenço Marques, assim como o Chinde da C.N.N., que o Angoche não tinha chegado a Porto Amélia. Como naquela zona há fortes correntes que atiram para o largo alterei a navegação habitual, e afastei-me da costa até perder esta de vista, e depois alterei o rumo para Nacala que era o meu destino. Assim o Nampula foi o primeiro navio a chegar e Nacala depois do Angoche ter saído, e o primeiro a sair depois dele. Na costa de Moçambique faziam cabotagem cerca de nove navios nessa altura. Não queria deixar de falar do comandante do Angoche Adolfo Manuel Bernardino meu amigo e colega de curso da Escola Náutica, excelente profissional e muito ligado a família.
COLABORAÇÃO A Marinha Mercante e a Guerra Colonial
Na penúltima viagem que fez, encontrámo-nos em Nacala e ele manifestou o seu contentamento por regressar à Metrópole. Disse-me também que teria de fazer mais uma viagem devido à sua rendição se ter atrasado. O desaparecimento deste navio foi um grande mistério. Ainda naveguei mais um ano e meio na costa de Moçambique tendo regressado em 1972. Várias emissoras estrangeiras deram notícias sobre este desaparecimento, como Rádio Mosco-
vo, Radio Brazaville, Emissora da África do sul. O caso Angoche é mencionado no livro do coronel Amaro Bernardo “Combater em Moçambique” bem como numa edição especial do semanário Expresso de 8 de Maio de 1993. Também foi publicado o livro do jornalista Metzner Leone intitulado “O caso Angoche. Onde está a verdade? Boatos e teorias há muitas. E quando se estudará o caso do Angoche? Já vão cerca 38 anos e meio sobre o acontecimento.
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Visita do Comandante Bernardino ao Nampula na sua penúltima viagem (2º a contar da direita)
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Refeitório no início do Século XX ©Foto: Arquivo Histórico do Colégio Militar
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Recordações Colegiais Foi recentemente publicado um livro, da autoria do nosso Camarada Rui Manuel de Sá Leal (502/1959), por ocasião da romagem de saudade do seu Curso comemorando os 50 anos de entrada. Embora, como é natural, as referências estejam direccionadas para a vivência ao longo dos sete anos de permanência deste Curso no Colégio, há descrições que correspondem pelo menos ao que acontecia a todos os que ingressavam no Colégio nos anos 40 e 50 e, estamos certos, foram acontecendo, com pequeninas diferenças, ao longo dos tempos até ao momento. Quem porventura tenha no Colégio actualmente filhos, netos, sobrinhos, sabe que é assim. Exemplares deste livro oferecidos pelo Autor encontram-se à venda na nossa Sede, revertendo o respectivo produto integralmente para a Associação. Procuramos com a transcrição do primeiro capítulo daquele livro – Antes da Entrada – iniciar a publicação sob o tema “Recordações Colegiais” das vivências felizes e de boa recordação da nossa passagem pelo Colégio. Tal intenção só será possível com a colaboração da Família Colegial, fazendo chegar à Redacção da Revista episódios, histórias, brincadeiras, acontecimentos ocorridos na passagem pelo Colégio – Todos nós temos sempre alguma coisa para contar. Com o espírito de camaradagem e união que caracteriza os Meninos da Luz, estamos certos de que este projecto constituirá um registo que será sempre lido com muito agrado pelas actuais gerações e pelas gerações vindouras, como acon66
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tece actualmente quando folheamos as Revistas antigas da Associação e encontramos relatos deste género. A Redacção da Revista da Associação
ANTES DA ENTRADA No dia 27 de Agosto de 1959, pelas oito da manhã, o Largo da Luz registava um movimento invulgar: uma pequena multidão de jovens bem vestidinhos, na sua esmagadora maioria com 10 anos de idade, invadia as centenárias instalações de um peculiar estabelecimento de ensino aí existente. Muitos iam nervosos, compenetrados e de semblante sério, mantendo-se obedientemente ao lado dos Pais. Outros estavam mais descontraídos e aqui e além ouviam-se risos. Alguns, possivelmente já conhecidos, confraternizavam. Todos partilhavam, porém, um sentimento comum: a esperança de vencer mais uma etapa nas suas ainda curtas existências – as provas de admissão ao Colégio Militar. As 109 vagas disponíveis, se comparadas com as cerca de duas centenas e meia de pretendentes, não eram de molde a sossegar ninguém: 94 para o 1.º ano, 8 para o 2.º ano e 7 para o 3.º ano. Destas, cerca de dois terços destinavam-se a filhos de oficiais dos três ramos das Forças Armadas, e as restantes a filhos de civis. Para lá do 3.º ano (o actual 7.º ano), não era possível entrar para o Colégio. (Salvo, é claro, em circunstâncias muito particulares, como foi a admissão para o 5.º ano, em 1960, do cidadão Duarte Pio Nuno João Miguel Gabriel Rafael de Bra-
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gança, juvenil pretendente ao trono de Portugal. Enfim, não há regra sem uma real excepção…). Mas foquemos mais uma vez a nossa atenção nos aplicados candidatos ao 1.º ano. Para trás ficavam quatro anos de instrução primária (como então se dizia) e três barreiras importantes já vencidas: os exames da 3.ª Classe, da 4.ª Classe e de Admissão ao Liceu, os dois últimos realizados há menos de um mês. Estamos a falar, portanto, de quase veteranos nestes apertos. Mas este exame que agora iam enfrentar era especial: mais exigente, dizia-se, e seguido de testes psicotécnicos e inspecções médicas complementares. Constava pois de três etapas eliminatórias, a vencer sucessivamente. Respondendo a uma chamada sonante, e depois de ouvirem as derradeiras recomendações dos Pais – tu não te precipites, faz as coisas com calma e bem feitinhas, que sabes fazê-las como deve ser… – lá foram os jovens em causa escadarias acima, encaminhados para algumas salas de aula do edifício antigo do Colégio. Ou melhor: lá fomos nós, escadarias acima, ao encontro do nosso destino para os próximos sete anos! Na primeira etapa iríamos enfrentar as charadas dos testes psicotécnicos. Aqui de nada valeria a nossa melhor ou pior preparação académica. E quando saímos das salas, à sacramental pergunta “que tal correu?” acho que a resposta universal foi um franzir de lábios e um enigmático encolher de ombros… Nós sabíamos lá!! À tarde vieram as provas teóricas de Português e de Matemática.
Numa altura em que não existiam os “Projectos Escola” nem o “Estudo do Meio” (nem tão-pouco preocupadas reuniões de Comissões de Pais e similares), estávamos todos mais ou menos bem preparados, à vontade em redacções e ditados, em malabarismos de fracções e em problemas de pesos e medidas e, além do mais, com a linha do Corgo, os cognomes dos Reis das quatro dinastias e os afluentes da margem direita do rio Douro na ponta da língua. Se calhar com algum espaço intelectual desnecessariamente ocupado com a excessiva memorização de muita coisa, mas o essencial estava lá. Os Pais ficaram cá fora, nos claustros, possivelmente mais ansiosos que nós. O Colégio Militar era justamente considerado um estabelecimento de ensino de prestígio. Um filho aí educado era a certeza de vir a desfrutar de uma boa formação académica e de uma prática física reforçada, de aceder a aprendizagens difíceis de obter noutros locais (equitação, esgrima…) e, além do mais, de receber uma formação cívica sólida. Os militares usufruíam ainda a vantagem de pagarem os enxovais e as mensalidades a custos reduzidos e a garantia de terem os filhos bem entregues por ocasião das suas ausências forçadas em serviço. Nessa altura, a mensalidade relativa ao filho de um civil era de 750$00 – o que, não sendo barato (não estava seguramente ao alcance de todos), também não era excessivamente caro, atendendo principalmente a que compreendia, para além da educação, também o alojamento, a alimentação, a lavagem de roupa… e, naturalmente, a responsabilidade pelo jovem durante a sua permanência nas instalações do Colégio, em regime de internato. Revista da AAACM
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As mensalidades relativas aos filhos de militares dependiam da patente dos pais e, por razões evidentes, eram substancialmente inferiores àquela. Mas nem tudo, evidentemente, eram vantagens no Colégio. Os inconvenientes eram, no essencial, os inerentes a um regime de internato – minorados, contudo, se o jovem tivesse natural propensão para aceitar esta situação e um bom apoio familiar durante as saídas de fim-de-semana e as férias. Era este, aliás, o caso da generalidade dos alunos, que suportava sem problemas de maior aquele regime. Alguns houve, no entanto, que nunca se conseguiam adaptar e que, mais tarde ou mais cedo, acabavam mesmo por sair. Outros ainda, por força do afastamento da família, viam partir os camaradas aos fins-de-semana ou mesmo nas férias, quantas vezes engolindo uma lágrima teimosa e mal sufocada, antecipando dias em que saudade apertava mais forte. Estes suportavam em silêncio um sofrimento que não se adivinhava pequeno, porventura esmaecendo (ou talvez não) à medida que os anos iam passando. Mas voltemos aos claustros e ao dia 27 de Agosto de 1959. Eis que, concluídas as provas, saímos das salas de exame, uns mais alegres, outros mais carrancudos, muitos confrontando já resultados e respostas e avaliando as suas probabilidades de sucesso. - Então, correu bem? – perguntavam os Pais, eles mais confiantes numa resposta positiva, elas, as Mães, divididas talvez entre o desejo de êxito do seu rebento e o receio de o ver sair (tão novo ainda!) de casa. Passámos finalmente à fase dos exames médicos. 68
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Foi ocasião de tomarmos contacto com a “Enferma” (termo colegial que designa a Enfermaria), o seu jardim aprazível e os magníficos azulejos que a adornam. Mas nessa altura nem reparámos neles, preocupados que estávamos com o que os doutores iam achar dos nossos pequenos físicos! Foi também altura de nos confrontarmos com os enfermeiros que prestavam serviço no Colégio: o Valentim e o Valério, ambos sargentos do Exército. Não podiam ser mais diferentes. O Valentim, imponente na sua bata branca, contrastava flagrantemente com a figura pequena e retorcida do Valério, dito o “Minhoca Subtil”, presumo que por qualquer imaginária semelhança com a personagem de um índio que dava por esse nome na crónica radiofónica “Jack Taxas”, produzida então pelos Parodiantes de Lisboa no Rádio Clube Português. Mais tarde haveríamos de contactar muitas vezes com estes dois homens, algumas das quais possivelmente buscando a sua cumplicidade numa providencial doença que nos livrasse de uma prova mal preparada. Concluídas as pesagens, medições de alturas e de perímetros torácicos, testes de daltonismo (com uns cartões de bolinhas coloridas que pareciam saídos de um filme de desenhos animados…), expirações até não restar um sopro de ar nos pulmões, auscultações diversas e sei lá que mais, voltámos a casa na expectativa de uma decisão, que seria a última e irrevogável. Sim ou não? Seríamos ou não os escolhidos? Poucas semanas depois saíram os resultados. Como sempre, alegria para uns, os que iriam ser admitidos, e tristeza para os restantes, desiludidos de qualquer hipótese de sucesso. Restar-lhes-ia, se
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para tal ainda houvesse vontade, tentar a sorte no ano imediato, concorrendo para o 2.º ano. Dentro de pouco tempo iríamos ver o curso das nossas vidas profundamente alterado. Para trás iriam ficar o aconchego do lar paterno, os mimos das Mães, os pratos favoritos às refeições, os amigos mais chegados, o nosso bairro e a nossa terra. Em troca, esperava-nos uma vida mais dura e com muitos aspectos em que estaríamos entregues apenas a nós próprios, mas também com novos amigos e onde se vislumbravam novas e aliciantes expectativas. Como seria montar a cavalo? E disparar uma arma a sério? E, last but not least, como reagiriam as nossas amiguinhas ao charme de uma farda nova em folha?... Em suma: preparávamo-nos para começar a ser Homens bem mais cedo que a maioria dos jovens da nossa idade. Íamos entrar no Colégio! Dos números que nos foram atribuídos, os inferiores a 493 correspondiam a vagas entretanto verificadas pela saída de alunos no ano transacto. Daí em diante, os números que recebemos foram os primeiros a ser alguma vez atribuídos no Colégio. Isto quer dizer que o batalhão aumentou 36 alunos, no ano lectivo de 1959/60. (Ainda haveria de aumentar mais, até atingir um máximo de 694 alunos no ano lectivo de 1974/75, para depois começar a diminuir progressivamente. Em 2009, o Colégio tem apenas 378 alunos). Seguiu-se um período agitado para nós, mas ainda mais para os nossos Pais. Havia que comprar e preparar todo o enxoval, mandar fazer as fardas e, no fim, tudo marcar devidamente com o nosso número.
As peças metálicas levavam a marcação gravada. As de couro ou de fibra, inscrita a tinta. Nas peças de pano mais pequenas cosiam-se etiquetas, que se iam comprar nas capelistas. A maior parte dos casos, porém, resolvia-se com o recurso a agulha e linha de crochet vermelha, desenhando os algarismos com um bordado minucioso, de maior ou menor dimensão, consoante a peça em que se inscrevia. Camisas, calças, cuecas e peúgas, colchas e cobertores, botas e sapatilhas, tudo ficou devidamente marcado, garantindo a sua identificação na confusão da lavandaria (e noutras confusões menos previstas, mas que certamente também viriam a ocorrer…). Não foi tarefa fácil. O enxoval, desde a caixinha metálica do pequeno equipamento, onde se guardavam linhas, botões e agulhas, até à mala colegial, de fibra e cor castanha, passando pelas fardas e roupa de cama, incluía nada menos que 140 artigos! E também não era barato – qualquer coisa como 5.500$00, o que era superior ao ordenado mensal de um Capitão na altura – mas a entrada de um filho no Colégio valia bem tal sacrifício. Foi tempo também de aprendermos uma série de pequenas tarefas domésticas a que não estávamos habituados, e que nos iriam ser de crucial importância a muito curto prazo: fazer a cama, incluindo a difícil arte de bem esticar o lençol de baixo; engraxar as botas (não esquecer que se devia esperar um bocadinho entre as fases da graxa e de puxar o lustro); aprender as virtudes da solarina “Coração”, insuperável na forma como punha a brilhar botões amarelos (devidamente enfiados na tala, para não sujar o tecido subjacente – “olha que as nódoas de solarina são um problema para tirar!”); e, por Revista da AAACM
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fim, coser botões, com os imprescindíveis segredos de ensalivar uma ponta da linha para a enfiar no buraco da agulha e de dar um nozinho na outra ponta, para que ela não saísse depois alegremente por onde, com tanto esforço, a primeira acabara de entrar. (Não sei se também houve instruções sobre o uso do dedal. É de crer que sim, embora o seu uso, a bem dizer, parecesse um bocado efeminado em mãos militares. Talvez por isso, nunca vi nenhum no Colégio, salvo em posse das roupeiras, a quem se recorria para a resolução de casos mais complicados, como um tenebroso rasgão nas calças ou uma costura descosida de alto a baixo…). Houve também que mandar confeccionar as fardas. Para capotes e uniformes de saída foram-nos dadas duas hipóteses, a escolher: a Cooperativa Militar ou a Alfaiataria Loureiro & Antunes, ambas em Lisboa, a primeira no Largo da Anunciada e a segunda na Rua das Pretas. As fardas obedeciam evidentemente a padrões bem definidos, especificados por regulamentos avessos a modas civis, de sua natureza passageiras e circunstanciais. Lamentavelmente, pensávamos nós. Na realidade usavam-se na altura as calças afuniladas na perna e com boca apertada no tornozelo – bem ao contrário das calças da farda, que se adivinhava virem a ser folgadas na perna e caírem a direito
até baixo, onde (horror!!) acabariam por encobrir uma parte substancial da bota ou do sapato. Era o chamado estilo “à Pai”, clássico e largueirão, exactamente o oposto ao que víamos em Vítor Gomes e seus Gatos Negros ou nos “Conchas”, esses sim, os verdadeiros pais mas do “rock” e do “pop” nacionais, cujo estilo bem gostaríamos de imitar – ao menos nas fardas de saída! Imperturbáveis, Loureiro & Antunes e Cooperativos Militares tiraram-nos as medidas, alheios a modas e outras modernices… e venha o senhor aluno que se segue, que temos muito que dar ao dedo para ter isto pronto antes da entrada de Suas Senhorias no Colégio. Entre aprendizagens diversas, conselhos prudentes e conversas mais sérias ou mais sentidas com os Pais, rapidamente se esgotaram os restantes dias das férias grandes, que nesse ano foram bem mais curtas que o usual. Custos da transição! Até que chegou o grande dia, por todos temido e desejado em simultâneo: 6 de Outubro de 1959, uma 3.ª feira. Cabelinho cortado, malas feitas, passagem obrigatória para muitos de nós por avozinhas e tiazinhas extremosas (mais um beijinho, mais uma lágrima, mais um bom conselho – o centésimo milionésimo nos últimos quinze dias…) e lá fomos nós – finalmente! – em direcção ao Largo da Luz! in “Ratas – Memórias do Colégio de há 50 anos” Rui Manuel de Sá Leal 502/1959
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RECORDANDO O sabor do tempo . Os instantes da Luz
O sabor do tempo Os instantes da Luz Sempre me fascinou o fenómeno do passar dos instantes. Talvez por isso gravei alguns. Os da Luz, por exemplo. Prestava serviço no Colégio, nessa altura, um primo meu, Tenente, de quem herdei a alcunha: “O Catota”. Já entradote na idade, de barriga proeminente, a sua figura física e militar prestava-se à chacota da malta. Certa vez, na quinta, estando ele de serviço, a malta formou à sua volta um comboio, entoando cânticos jocosos, que o ia acompanhando para onde quer que ele se movesse; eu, claro, pus-me de fora mas, confesso que, com 12 ou 13 anos, aquilo marcou-me um pouco. A adolescência é um cadinho de ensaio da personalidade, por vezes cruel e preconceituosa, também generosa e idealista. No Colégio do meu tempo passávamos longos períodos fora das famílias – principalmente os da província que éramos muitos – e por isso, as incidências do dia-a-dia prolongavam-se no tempo em conversas no refeitório ou, à noite, nas camaratas. Recordo algumas. As diatribes do homem do banho que, manobrando o manípulo do quente – frio, punha a malta a saltar. Era uma piada incómoda mas a malta ria; as infelicidades do professor de latim, o “Calvino”, que, incapaz de ter mão na malta, sofria alguns enxovalhos dos quais se vingava com a arma que possuía: as notas. Recordo um episódio que foi um ensinamento. Certo dia fui incumbido pelos mais velhos de lhe telefonar, só, claro, com o intuito de o chatear. Do outro lado da linha recebi uma desarmante resposta: “o senhor professor não
pode vir, está a dar banho aos meninos”. Fiquei mudo e nunca mais fui capaz de olhar para aquele homem triste, frio e seco, com os mesmos olhos. Nós, os da província, por força das circunstâncias, formávamos um grupo um pouco selvagem que, aos fins-de- -semana, deambulávamos pela quinta, nessa altura apenas rodeada de azinhagas e hortas. Para além dos jogos, das ringalhadas, devorávamos revistas de histórias aos quadradinhos ou banda desenhada e planeávamos, sempre, o assalto perfeito, com uma ou outra nuance, à bolama ciosamente guardada pelo Meia-lua, o então chefe de mesa, na arrecadação do refeitório. Que me lembre só uma vez o levámos a cabo, e com meio sucesso pois, uma vez descobertos na fuga, não tivemos tempo de a saborear a preceito. De vez em quando, aos domingos à tarde, havia chá dançante na sala do refeitório; vinham quase sempre as mesmas meninas e mamãs, familiares ou amigas da malta. Dos que nunca saíam, os mais tímidos e bichos da quinta como eu, sentiam-se lá como peixe fora de água e optávamos, muitas vezes, por ir para a quinta dar uns toques na “chincha”. O Colégio não se esquece. É impossível. É toda a adolescência com os seus conflitos interiores. É um manancial de amizades, de cumplicidades, de sadia camaradagem. Não se esquece mais os instantes da Luz. Diogo Baptista Coelho 343/1947 Revista da AAACM
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RECORDANDO
RECORDANDO Jantar anual da Associação, apoio ao Colégio
Emydio Landerset Cadima (236/1938) UM CIENTISTA PORTUGUÊS Universidade de Faro, Grande Auditório, 29 de Janeiro de 2010.
Depois de ler o extenso curriculum científico e académico de Emídio Landerset Cadima e mostrar a importância dos avanços por este realizados no domínio da Genética das Populações Marítimas, o Professor Dr. Rafael Robles, Director do Centro Oceanográfico de Vigo, vindo propositadamente de Espanha, disse que aceitara a honra de apadrinhar o doutoramento Honoris Causa por cinco razões: 1 A coerência demonstrada pelo homenageado ao longo de toda a sua vida; 2 A humanidade que transparece em todas as manifestações do seu espírito; 3 A coragem que lhe permitiu inovar, aplicando a Matemática num campo de investigação biológica; 4 A capacidade de liderança das equipes de trabalho que chefiou e – last but not the least
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5 Tratar-se de um “bom homem”. Robles considera Emídio Landerset Cadima – com 38 trabalhos científicos publicados – um dos maiores cientistas mundiais no domínio da Avaliação de Recursos Bio-Marítimos. Emídio no seu agradecimento apontou o perigo do novo procedimento internacional adoptado em matéria das licenças de pesca - o leilão. Disse: aqueles que pagam para obter direitos de pesca numa determinada zona vão procurar rentabilizar o seu capital e a última coisa que lhes interessa é a conservação das espécies. Disse ainda, que a indústria nacional da pesca não deve ser avaliada em função da sua contribuição para o PIB – que é fraca – mas sim em função da importância que o peixe tem na alimentação dos portugueses. Por
RECORDANDO “Relatividade e física clássica: continuidade e ruptura”
fim, deplorou a despromoção da matemática nos currículos escolares portugueses feita a título de “é preciso melhorar os índices estatísticos de aproveitamento escolar” e com a falsa justificação de que “o computador resolve tudo”. O computador, disse, ajuda o matemático mas não substitui o matemático. Presentes: Além dos corpos docente e discente da Universidade, o engenheiro Macário Correia, presidente da CM de Faro e Sidney Holt, pesquisador sénior do Laboratório de Lowestoft, o maior centro de pesquisa oceanográfica do Reino Unido. t
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O Jantar de Homenagem reuniu 100 amigos e admiradores de Emídio Landerset Cadima. (Duas dezenas ficaram de fora por falta de lugar na sala). O ambiente foi da máxima cordialidade e alegria. Nos discursos informais foram referidas duas anedotas que ilustram o carácter do homenageado. Em 1962, Cadima trabalhava para o Instituto de Biologia Marítima, em Lisboa, quando foi avisado pelo seu chefe que a PIDE o ia prender. À maneira de célebre Dr. Johnson, Cadima constatou que avisos desta natureza são a melhor
forma de concentrar a mente. Cinco horas depois estava em Londres com 10 libras no bolso, disposto a lavar pratos em qualquer restaurante que lhe garantisse o sustento. Não foi preciso. Tendo contactado pesquisadores do seu ramo com quem já mantinha correspondência, estes imediatamente o convidaram para trabalhar em Lowestoft. Pôde assim dedicar-se à pesquisa e especializar-se, sem receio de intervenções inoportunas. Doutra feita, em 1976, os técnicos de Vigo que tinham vindo a Lisboa discutir stocks de peixe na costa ibero-atlântica ficaram impossibilitados de o fazer porque a incipiente máquina calculadora de que dispunham se avariou. O Prof. Cadima resolveu o problema. Ficou uma noite sem dormir e refez de cabeça os cálculos perdidos na memória da calculadora estropiada. No que me toca, revejo-me numa amizade que teve início no Colégio Militar e se manteve ininterrupta durante 70 anos. Lembro, a propósito, que a rapaziada do nosso curso crismou então Emídio Cadima com a alcunha de Pitágoras. Premunição. Luís Eduardo de Almeida Campos Soares de Oliveira (137/1939)
“Relatividade e física clássica: continuidade e ruptura” Com o título acima transcrito, o antigo Aluno António de Morais Sarmento dos Santos Lucas e Costa Brotas (30/1940) publicou um livro cujo anúncio de lançamento, aqui reproduzido, é um bom indicador da riqueza do seu conteúdo. Nele são tratados diversos temas relacionados com: Tempo e relógios; Espaço e referenciais; O que é uma teoria física; Os
referenciais em movimento; Os referenciais de inércia e o Princípio da Relatividade; O espaço-tempo em Física Clássica; O Electromagnetismo e a Óptica; O Ether e as experiências de Michelson; As fórmulas de transformação de Lorentz; A “contracção” das distâncias e a “dilatação” do tempo; Os “quanta de luz”; A inércia da energia; As leis de conservação; O espaço de MinkoRevista da AAACM
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RECORDANDO
RECORDANDO “Relatividade e física clássica: continuidade e ruptura”
wski; A linguagem quadridimensional; Os corpos indeformáveis em Relatividade - o problema do disco a rodar; A Elasticidade Relativista; A Relatividade Generalizada e as suas verificações experimentais; Os modelos cosmológicos; As teorias do campo unificado; A Relatividade e a Física Quântica; O electrão de Mie; Os 3 graus de liberdade no movimento dos sólidos; As transformações relativistas do calor, das pressões, da energia e da quantidade de movimento dos corpos extensos; A transmissão do calor numa barra a vibrar.
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Dele faz parte um capítulo dedicado a Ficção e Teologia, bem como modelos, métodos e programas didácticos, e a correspondência trocada e artigos enviados com e para o “American Journal of Physics”; a “Physical Review Letters” e os “Annales da Fondation Louis de Broglie”. O Livro foi apresentado pelo Investigador Doutor Emílio Ribeiro do CFIF e pela Professora Doutora Olga Pombo da Faculdade de Ciências de Lisboa, em sessão que teve lugar no Anfiteatro do Complexo Interdisciplinar do Instituto Superior Técnico.
RECORDANDO Antigos Alunos do Colégio Militar em destaque
Antigos Alunos do Colégio Militar em destaque • António Aniceto Ribeiro Monteiro (78/1917), eminente investigador Matemático, nascido em 1907 e falecido em 1980. O seu nome foi atribuído a uma rua junto da Alameda da Universidade de Lisboa, homenageando tão ilustre Homem de Ciência e enriquecendo a toponímia relacionada com o Colégio. • Tomaz Júlio Teixeira de Azevedo e Guimarães Metello (462/1958), Presidente da Euroatlantic, para assinalar os 150 anos do Tratado de Paz, Amizade e o Comércio entre Portugal e o Japão, que se comemoram este ano, vai estabelecer a partir do Verão uma ligação aérea semanal entre Lisboa e Tóquio. • Pedro Mendonça de Queiroz Pereira (140/1959), Presidente da Semapa, obteve do Governo de Moçambique autorização para explorar um terreno com 173 mil hectares para a produção de eucaliptos destinados à indústria de celulose. • Nuno Miguel Feio Ribeiro Mateus (169/1971), e José Paulo Ribeiro Mateus (170/1973), Arquitectos, distinguidos em 2009 com o Prémio Barretina, viram o seu projecto da Escola Superior de Tecnologia do Barreiro ser integrado nos dez edifícios de culto da década, segundo a escolha do “Expresso”, ao lado, de entre outros, do Estádio Municipal de Braga (Eduardo Souto Moura), da Casa da Música, no Porto (Rem Koolhaas) e da Igreja da Santíssima Trindade, em Fátima (Alexandros Tombazis).
• António José Calhabrês Fiarresga (495/1984), Médico e que foi no Colégio comandante da 3ª Companhia, recebeu em 2008 o Prémio Jovem Investigador da Sociedade Portuguesa de Cardiologia por ter introduzido em Portugal a Ablação Alcoólica do Septo que transformou uma complexa operação ao coração. • Tito Eurico Miranda Fernandes (15/ /1988), Comissário da PSP, foi distinguido em Djamena com a Medalha de Mérito das Nações Unidas pelos serviços prestados na missão do Chade durante seis meses. A cerimónia teve lugar na sede da missão da ONU (MINURCAT), na capital do Chade, com a presença do seu Chefe, o português Vítor Ângelo, e do Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Luís Amado. As medalhas foram entregues pelo comandante do contingente de polícia da MINURCAT, o guineense Mamadou Montaga Diallo, que destacou o contributo de Portugal, e dos elementos da PSP em concreto, para a manutenção da paz no Chade. • Artur das Neves Palma Dias (177/ /2003), “Rata” do bicentenário, participou na Taça do Mundo de Lisboa (Espada Masculina), competição que reúne anualmente alguns dos melhores atiradores do Mundo, entre os quais Joaquim Videira e João Luís Ignez Jorge de Ramirez Cordeiro (242/1997), actuais 15º e 48º no ranking.
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RECORDANDO
OS QUE NOS DEIXARAM Amândio Augusto Trancoso (379/1927) Oficial do Exército – Coronel (reformado) Nasceu a 4 de Maio de 1916 – Faleceu a 2 de Janeiro de 2010
Manuel António da Costa Botelho (112/1929) Nasceu a 14 de Abril de 1917 – Faleceu a 31 de Dezembro de 2009
António Guia Mendes de Sousa Vitoriano (272/1938) Nasceu a 23 de Setembro de 1926 – Faleceu a 26 de Novembro de 2009
Embora, nos últimos anos, viesse sofrendo de doença progressivamente degenerativa, nunca o “Façanha” faltou às frequentes reuniões de convívio do nosso curso do CM, o de 1937/1944. E nós, também, não podíamos lá passar sem a sua presença, indo buscá-lo onde quer que fosse necessário. Porquê Façanha? Porque um seu familiar que prestava serviço no Colégio, em lugar de muita visibilidade e que tinha esse nome como apelido, nos poupou o trabalho de lhe arranjar outra qualquer alcunha. Para nós ficou, per omnia, o Façanha. Não que ele fosse façanhudo; bem pelo contrário era um símbolo de afabilidade, sempre prazenteiro e bemhumorado, sempre, um excelente amigo e camarada. 76
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Era, ainda, fisicamente bem dotado, tendo pertencido à equipa colegial que ganhou, em 1939, o campeonato nacional interescolar de voleibol. Numa curta resenha, lembremos o seu percurso de vida profissional, que acompanhámos com interesse: - Entrou no nosso curso apenas em 1938 porque havia feito o 1º ano no Liceu D. João de Castro, em Lisboa; - Depois de completado o curso liceal, foi oficial miliciano, no Regimento de Cavalaria 7, onde a sua prestação de serviço foi muito positivamente apreciada; - Em Dezembro de 1951, ingressou nos quadros da TAP, para actuar no gabinete de estudos para Acordos e Rela-
RECORDANDO Os que nos Deixaram
cionamentos Internacionais, também, no cálculo de tarifas para passageiros e mercadorias; - Em 1956 transitou para a Swissair com a categoria de Chefe de Repartição; - Em 1962 foi promovido a Chefe de Divisão na TAP e, em 1966, aparece como gerente da Tupperware, sendo o responsável pela introdução em Portugal daquele ultra popular software caseiro; - Em 1972, gerente da firma Vitoriano, Ldª, negociando em cosméticos de renome; - Em 1975 e até se reformar prestou serviço na firma H. Vaultier.
Desta retrospectiva é fácil concluir do dinamismo, competência e qualidade cívica do Vitoriano “Façanha”. Quem teve o privilégio de melhor o conhecer pôde, também, apreciar nele um constante anseio de atingir a perfeição em tudo a que se dedicava. No que concerne ao teu relacionamento connosco, querido camarada, conseguiste a perfeição plena, porque, singelamente e sem te impores a ninguém, alcançaste a dimensão difícil dum autêntico, dum muito genuíno “Menino da Luz”. Continua reunido contigo, no doce convívio duma enorme saudade. O Curso de 1937/1944
Gonçalo Nuno de Albuquerque Sanches da Gama (385/1938) General – Engenheiro Civil Nasceu a 15 de Fevereiro de 1927 - Faleceu a 28 de Outubro de 2009 O curso de 1937/1944 lamenta a perda de mais um dos seus componentes, o 385, Sanches da Gama, o nosso insubstituível “Pança”. É tarefa que nos transcende, procurar elaborar algo que, aqui, revele, minimamente, as características de tão singular personalidade. Só ousamos fazê-lo pelo recurso à análise dos padrões que foram permanente timbre da sua forma de actuar e que julgamos constituírem a base do seu espantoso sucesso, como homem e como profissional: simplicidade, objectividade e ilimitada auto-confiança. Comecemos por apresentar o homem e a sua carreira profissional: Nasceu, em Macau, a 15 de Fevereiro de 1927; -entrou no Colégio Militar, em 1938, para frequentar o 2º ano. A sua
alcunha -“Pança”- herdou-a de seu Pai, então ali professor e que, pelas suas características físicas, nas quais imperava um rotundo abdómen, merecera dos alunos o cognome de “Sancho Pança” (dada a magreza do 385, não se justificava a sua total identidade com aquela figura de Cervantes, sendo aquele nome, ironicamente, reduzido a “Pança”). Frequentou, logo de seguida, a Escola do Exército onde se licenciou em Engenharia Civil, ingressando na Arma de Engenharia. Actividades relevantes, no sector civil: -De 1957 a 1992, colaborador no Gabinete do eminente Prof. Edgar Cardoso, onde adquiriu experiência e renome que o ligaram a inúmeros trabalhos de Engenharia de Pontes e de Estruturas Especiais em Angola, Macau, Costa Rica, Moçambique, Revista da AAACM
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RECORDANDO Jantar anual da Associação, apoio ao Colégio
Madeira e Portugal Continental; -De 1963 a 1965 e de 1967 a 1971, assessor do Gabinete de Estudos e Planeamento dos Transportes Terrestres; -De 1971 a 1973, assessor do Laboratório de Engenharia de Angola; -De 1962 a 1964, adjunto técnico do Batalhão de Sapadores Bombeiros. Algumas actividades no sector militar: -Comandante de várias unidades, entre as quais, Regimento de Transmissões, Escola Prática de Transmissões e Comando de Transmissões de Angola e Guiné; -Director do Depósito Geral de Transmissões; -Vogal do Supremo Tribunal Militar; -Director da Arma de Transmissões; -Comandante da Academia Militar; -Quartel Mestre General; -Inspector Geral do Exército. Só no que respeita à sua actividade no sector civil, poucos engenheiros civis poderão apresentar um currículo de tão invulgar qualidade: -colaborar, por mais de 30 anos, no gabinete dum dos mais prestigiados técnicos de pontes, a âmbito internacional, o venerado Prof. Edgar Cardoso; -distribuir, sempre com admirável sucesso, actividade profissional por áreas de engenharia tão díspares como bombeiros, transmissões, pontes e várias infra-estruturas de elevada complexidade técnica; assessorar nas áreas de labora-
tórios ou no planeamento de transportes terrestres; … uma actividade tão díspar revela-nos, à saciedade, um espírito empreendedor, criativo e invulgarmente dedicado à causa pública. Mas, obviamente, foi como militar que Sanches da Gama revelou as suas raras aptidões e qualidades. É muito difícil encontrar outro Oficial que tenha acumulado, em sucessão, os Comandos da quase totalidade das unidades da Arma e, como General, tenha sido, Director da Arma, Quartel Mestre, Vogal do Supremo e Comandante da Academia. É o reconhecimento pleno das suas enormes virtudes como técnico, gestor e formador, e, simultaneamente, a revelação do alto prestígio de que gozava junto das chefias decisoras. Não obstante o mérito descrito o Sanches da Gama manteve-se, sempre, o 385, o nosso “Pança”. Acreditem ou não…, nem uma sombra de jactância, vaidade ou sobranceria, no seu trato, apenas pelo mero motivo de que tudo encarou como… naturalíssimo. Esta fidelidade inviolada à sua real natureza foi a obra-prima da sua vida. Com um saudoso e eterno abraço do teu. Curso CM de 1937/1944
Jaime Reyes Leça da Veiga (201/1941) Comandante da Marinha Mercante Nasceu a 17 de Março de 1931 - Faleceu a 5 de Janeiro de 2010
Comandante Jaime Reyes Leça da Veiga O Leça da Veiga Não tinhas alcunha, creio. Eras apenas, para todos, o Leça da Veiga. Mas a palavra que melhor em ti se ajustava e, para nós, se há-de ajustar sempre era 78
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esta: Solidário. Se o D que está no meio se transformasse em T, a palavra seria Solitário, que tu felizmente, nunca foste. Como gosto das “rimas” (e tu também)
RECORDANDO Jantar anual da Associação, apoio ao Colégio
penso que o termo “Refractário”, de certo modo, rimava contigo, porém não eras tu exactamente tinhas uma personalidade algo sui generis. Refractário sim, à injustiça, ao egoísmo, à pedantice petulante e, sobretudo, à hipocrisia. Solidário no sofrimento ou fraqueza de quem de ti precisava e a quem pronta e espontaneamente, sem alardes, estendias a mão, estando sempre presente no momento certo. Não vou fazer a tua biografia, não gosto muito de biografias, nem tu ligavas a isso, mas como é habitual e justo apresentar o que foste ou fizeste (sempre desinteressadamente) a Direcção da nossa Associação e a Revista o podem fazer melhor do que eu. Para mim, para todos os que te conheceram bem, foste um Homem em toda a plenitude do SER e FAZER, desprezando louros, prémios ou elogios, sabendo-te fazer respeitar e entregando-te, com alegria e eficiência, que não dispensava uma certa ironia (e até irreverência adequada) sempre que realmente eras preciso, contando com a tua experiência e sensatez. Fiquei triste porque sendo sempre um dos primeiros, como os Falcões (O Marinho e o Mário) a avisar-nos da partida de qualquer camarada, não pudeste
avisar-me da tua própria partida (não por te esqueceres, mas por não ser possível). Ah, como gostaria que fosses tu a fazêlo… Assim não pude estar presente, acenando-te um lenço branco ou de outra cor (para ti era indiferente), no cais deserto não como final despedida mas apenas um so long ou, portuguesmente falando, um até à vista… quando seguias para a grande viagem da tua vida nessa nova “galera” que se chama Quimera, a caminho da Verdade. Disse partida e não morte porque esta não existe, só passa por nós para que haja um novo começo o qual não sei, nem posso explicar exactamente qual é, mas que É, não duvido. Tu fizeste diversas viagens, às vezes sem saberes, porventura, o destino exacto, embora como verdadeiro Homem do Mar buscasses sempre o rumo certo, numa permanente luta contra quaisquer desvios, falsidades ou prepotências. E agora, vais permitir-me que dê a palavra ao nosso Fernando Pessoa, que tu, como eu, tanto admiravas: “A morte é a curva da estrada, Morrer é só não ser visto. Se escuto, eu te ouço a passada Existir mais do que existo. Revista da AAACM
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RECORDANDO
RECORDANDO Jantar anual da Associação, apoio ao Colégio
A terra é feita de céu A mentira não tem ninho. Nunca ninguém se perdeu, Tudo é Verdade e Caminho.” Sim amigo, só nos resta Caminhar, Caminhar sempre (para onde não sei exactamente… tu talvez o saibas agora) pois, como nos diz António Machado, nome bem português mas, logo por azar, é espanhol: “Caminante, no hay Camino, Se hace camino al andar.”
lá na Solidariedade (isso só nos aproximou mais) com este simples acróstico para ti e toda a tua família. Livre lutador Entusiasta e calmo C (sem cedilha) sempre cumpridor Adulador jamais DAvas-te com todos Voluntário, até de mais
Tu caminhas-te, livre, no mar (sorte tua) por entre ondas brandas ou tumultuosas. Nós caminhamos por cá, ficando ou “tardando” (até quando?) nesta terra, nesta tão pequena e breve travessia com ondas bem piores…
Eras tu próprio, esquecias
E termino, meu bom e grande amigo, apesar das nossas saudáveis discussões
Do teu Amigo, sempre
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Intrigas e invejas Ganhaste; partilhando vivias, Abençoado sejas!
Roberto Ferreira Durão 15/1942