Uma Aventura nos Andes

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Capa: Rogério Proença Editoração: Manoel Menezes Apoio/revisão: Mariana Gomes Santos Coordenação editorial: Priscila Laranjeira Impressão e acabamento: Gráfica Exklusiva

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Paiva, Salmon de Uma Aventura nos Andes / Salmon de Paiva – A.D. Santos Editora, Curitiba, 2015. 160 páginas.

ISBN – 978.85.7459-366-1 1. Romance 2. Espiritualidade 3. Desenvolvimento interior CDD: B869 1ª Edição: Agosto / 2015.

Proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios a não ser em citações breves, com indicação da fonte.

Edição e Distribuição:

Dedicatória

Aos meus netos: Beatriz, Rebeca, Bento, Ítalo e Francisco desejando que suas vidas sejam cheias de ricas aventuras com Deus.

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Agradecimento

Por ter participado dessa aventura, vivido grandes emoções ao conhecer pessoas e coisas maravilhosas e ter tido um encontro com Deus, agradeço porque Ele me chamou das trevas para sua maravilhosa luz – 1 Pedro 2.9.

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Prólogo

Um grupo de jovens sai de bicicleta, para uma aven-

tura. Atravessa os Andes, o deserto de Atacama e chega ao Oceano Pacífico. Vai a Machu Picchu, ao lago Titicaca e à Isla Del Sol. Conhece novos lugares, entra em contato com povos diferentes, observa hábitos estranhos, saboreia frutas e comidas exóticas. Enfrenta perigos, sofre acidentes, choca-se com conceitos religiosos nada semelhantes à doutrina cristã. Recebe a proteção de anjos?

Tudo contribui para a descoberta de novos valores, para a conversão e para o início de uma verdadeira transformação de vida.

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UMA AVENTURA NOS ANDES Sonhar é criar um mundo único.

Na realização de um sonho recebe-se um acréscimo no curso da existência.

Sua frustração é uma perda irreparável. É como perder um pedaço da vida, é como ter os dias abreviados.

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Sumário

PrimeiraªParte – Nasce um sonho............................. 11

Nasce um sonho........................................................... 12 O grupo......................................................................... 14 O sonho começa a materializar-se............................... 16 A reação dos pais.......................................................... 19 Os imprevistos acontecem........................................... 21 A reunião dos pais........................................................ 24 Os preparativos finais................................................... 27 Segunda Parte – A viagem.......................................... 29

A partida....................................................................... 30 Atravessando o Pantanal.............................................. 31 Corumbá....................................................................... 40 Na Bolívia..................................................................... 43 La Paz............................................................................ 50 Pedalando através do deserto ...................................... 53 O encontro com o Inca................................................ 56 A salvação..................................................................... 68 A chegada ao primeiro oásis......................................... 73 O Oceano Pacífico........................................................ 77 Viajando pelo deserto rumo a Tacna............................ 81 Pedalando rumo a Arequipa......................................... 86 Moquegua..................................................................... 89 ix

Conhecendo o povo nativo.......................................... 94 Arequipa.....................................................................101 Cuzco...........................................................................109 Machu Picchu.............................................................114 O terror na noite.........................................................122 Puno e as ilhas flutuantes...........................................125 Copacabana (Bolívia).................................................130 A Ilha do Sol...............................................................133 Novamente em La Paz................................................139 Ruínas de Tiahuanaco................................................145 Terceira Parte – O retorno........................................151

O retorno....................................................................152 A chegada...................................................................154 A transformação de vidas...........................................156

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Primeira Parte

Nasce um sonho

“O que ninguém nunca viu nem ouviu, e o que jamais alguém pensou que podia acontecer, foi isso o que Deus preparou para aqueles que o amam.” (1 Co 2.9)

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© 2015 Getty Images/Michal Wozniak

Nasce um sonho

Tudo começou naquela aula de história no início de

abril de 1.993.

A professora Nilda falava dos Aimarás e dos Incas.

Esses povos viviam na cordilheira dos Andes, na parte que hoje compreende, principalmente, o norte da Argentina, Chile, Equador, Peru, Bolívia e Colômbia.

A aula mexeu com os sentimentos da classe fazendo a moçada admirar, carinhosamente, aquela gente pacífica com uma cultura muito diferente, porém interessante.

– Os colonizadores espanhóis, na ânsia de enriquecer com o ouro e a prata existentes na região, não pensaram muito para massacrar a elite desses povos tão nobres, quase dizimando sua raça e cultura – ela discursava com a voz carregada de emoção.

Nomes como Atahualpa, Manco Kapac, Machu Picchu, Colca, Titicaca, Chacaltaya e outros começaram a ressoar nos ouvidos da garotada e ocupar os seus pensamentos. A curiosidade despertou o desejo de uma proximidade.

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Nasce Um Sonho

Como se a aula de história não bastasse, no outro dia, enquanto ainda estavam emocionados com os ensinamentos recebidos de D. Nilda, o professor Roque, em sua aula de Geografia, falou sobre a Cordilheira dos Andes. Sim, a mesma da aula de História. Explicou como é a vida no altiplano boliviano, no deserto de Atacama e falou da beleza do Lago Titicaca. Ele falava com propriedade, pois passara alguns anos em La Paz e em Cuzco trabalhando, como burocrata, nos escritórios de consulados brasileiros.

Essa foi a gota d’água! Não se pode mexer assim com o coração jovem! Afinal, ninguém é de ferro! Humanos, de carne e osso era aquela turma! Seus corações, tão apaixonados, eram feitos de tecidos vivos e sujeitos ao infarto como o de todas as pessoas. Criados por Deus, pertencentes a famílias que conheciam a Deus e o serviam. Pela primeira vez falavam de aula e de matérias escolares nos recreios, andando pelas ruas e em encontros nos barzinhos, sempre mencionando os Andes, seus povos, seus costumes, seus hábitos alimentares e sua religião.

Nasceu uma ideia.

Plínio falou: – Eu tenho coragem de atravessar os Andes e o deserto de Atacama de bicicleta. Se tiver alguém para acompanhar-me, irei ver de perto o lugar onde os Incas viviam e vou chegar até o Oceano Pacífico.

– Conte comigo.

– Eu topo.

– Eu estou nessa.

– Eu quero. – disseram uns e outros.

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Num instante o grupo de aventureiros estava formado. Eram catorze e entre eles havia duas garotas: Lígia e Mônica. Tudo parecia bastante fácil para eles. Era só aprontar as bicicletas e sair para a viagem sonhada.

Rubinho pertencia ao grupo dos decididos, mas somente aderiu porque achava que aquilo não passava de “papo furado”. Sabia que em alguns dias tudo seria esquecido e logo voltariam à rotina de sempre, criticando as sonolentas aulas e falando mal dos professores que os puniam com notas baixas. Mas, não foi isso o que aconteceu. O grupo começou, de fato, a preparar-se e já se falava em comprar bicicletas novas.

Tudo era válido. Para conseguir o dinheiro necessário iniciaram por vender as bicicletas usadas, depois os walkman, discos, fitas k7 gravadas com músicas e alguns objetos de uso pessoal. Cada centavo das mesadas era economizado. Cinema? Nem pensar! Os passeios ao shopping eram feitos a pé e, lá, nem sorvete eles tomavam.

Conseguiriam eles realizar esse sonho?

© 2015 Getty Images/Päivi Rytivaara

O grupo

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A cidade em que viviam, São José dos Campos, embora

cheia de atrativos pela beleza de suas avenidas arborizadas, pela diversidade de locais de diversão como teatros, clubes, cinemas, bares, restaurantes, casas de jogos e parques, de repente, estava ficando pequena para eles.

Como todo adolescente, cada um deles tinha seus problemas. Crístian era filho de pastor. Enquanto pai era religioso tradicional e zeloso, o filho não se interessava pela igreja e quase não frequentava os cultos. Isso causava uma indisposição em seu relacionamento com o pai que acabava magoando a ambos.

Lígia, por sua vez, gostava de dormir até tarde e detestava serviços domésticos. Não admitia ser censurada pela mãe que a forçava a aprender os serviços de casa. Dona Rita sempre lhe dizia que quem não sabe fazer, não sabe mandar.

– Minha mãe é antiquada até no nome. Rita é nome do século passado – debochava a garota.

– Imaginem, com um diploma na mão será que alguém precisará saber lavar louça e limpar banheiro?

Um dos piores casos era o do Rubinho. O rapaz achava-se marginalizado no próprio lar. Não tinha acesso irrestrito ao automóvel, vivia reclamando da mesada e recusava-se a prestar qualquer ajuda em casa. Nem sequer ia à padaria para comprar leite e pão. Vivia calado e comunicava-se com os familiares por monossílabos. Só respondia ao que lhe era perguntado. Não dava nem bom dia. Quando a mãe, no dia do aniversário do pai, pedia-lhe para cumprimentar o velho, o garoto ficava “uma fera”.

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– Um dia desses colocarei em prática meu propósito de sumir. Não deixarei nem endereço – falava quase espumando de raiva.

Plínio reclamava: – Meu pai quer que eu seja o primeiro da classe. Ele vive enchendo minha cabeça de baboseiras. Diz que este mundo é competitivo e quem não se destacar vai servir aos demais. Ora, eu não quero mandar em ninguém. Quero somente viver e ser feliz. Não quero ser como ele que afirma ter sido o melhor aluno em todos os cursos que fez e alega ser essa a causa de ter alcançado o posto de gerente geral da empresa onde trabalha. Detesto ver sua estante cheia de diplomas e troféus.

Mônica tinha problemas semelhantes aos de Lígia, porém, era um pouco menos agressiva. Os demais rapazes também viviam insatisfeitos em variados graus de intensidade.

Seriam esses problemas próprios da idade e da atividade hormonal?

O sonho começa a materializar-se

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A coisa ficou tão séria que logo formaram uma confra-

ria onde sonhavam a viagem, bebiam a viagem, comiam a viagem. Ganharam até apelido. Os que não participavam do mesmo ideal chamavam-nos de Clube Andino, fazendo chacota dos pobres sonhadores. Quanto mais faziam para ridicularizar o grupo, mais este se fortalecia e o que, no início, era apenas uma ideia foi se materializando.

Lígia tomou a iniciativa de fazer algo prático. Chamou os colegas e revelou: – Fui ao consulado da Bolívia e vejam o que consegui!

Aqui estão folhetos, mapas, roteiros e informações.

– “Legal”, é isso mesmo que precisamos fazer! Devemos acordar para a prática – afirmou Rubinho.

– Vamos examinar tudo isso agora mesmo!

Souberam, primeiramente, que era necessário possuir um passaporte para entrar e permanecer por uns dias em qualquer país estrangeiro, mesmo nestes nossos vizinhos.

Começaram a estudar os mapas e preparar roteiros.

Examinavam, nos traçados, as estradas para saber suas condições. Nos folhetos identificavam os pontos turísticos interessantes e faziam planos. Colecionavam as informações com muito carinho, pois sabiam que, por mais numerosas que fossem, poderiam ser insuficientes.

Visitaram os consulados do Chile e do Peru. Mais folhetos, roteiros, mapas e informações. Tudo era arquivado numa sequência lógica para permitir um manuseio fácil e descomplicado. Iniciaram, assim, a elaboração de um manual para a viagem.

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Havia, porém, um item que sabiam ser de suma importância: a comunicação. Em todos os países vizinhos, o idioma oficial era o Espanhol, desconhecido por todos.

A outra opção seria o Inglês, aquela “língua chata” que a professora Eunice esforçava-se para ensinar dizendo: – Somente estará um passo à frente em qualquer curso ou profissão quem dominar esse idioma.

Agora, eles que nem se preocupavam com o que ela dizia, começavam a sentir a falta do conhecimento de mais uma língua. Quanto tempo tinham perdido sem prestar atenção nas explicações da professorinha, tão bonita, mais parecida uma colega de turma do que mestra...

Bem, alguns deles pensavam que Espanhol era Português mal falado.

– Ora, para se falar Espanhol basta falar mal o Português – dizia o Érico.

– Vejam, em vez de falar crocodilo é só falar cocodrilo e está tudo certo, em vez de falar frota é só falar flota e vai por aí...

Compraram um minidicionário de Espanhol-Português e depararam-se com uma realidade diferente. Iriam enfrentar não nossa língua mal falada, mas outro idioma com palavras bem diferentes e um modo próprio de expressão.

Revezavam-se, semanalmente, nos consulados atrás de mais informações. Os funcionários desses escritórios já começavam a desconfiar de que se tratava de um grupo confirmando e reconfirmando detalhes. No início, sempre eram gentis, mas aos poucos foram se aborrecendo, pois até parecia que o grupo queria levá-los para viajar junto.

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Numa reunião, ficou resolvido que as atitudes começariam a sair do papel. Assim, procuraram saber como conseguir passaportes. Mônica foi à Polícia Federal e trouxe a lista de exigências.

– Pessoal, é preciso comprar um requerimento e preenchê-lo, carteira de identidade, título de eleitor e certificado de reservista. É necessário, também, duas fotos especiais no tamanho de 5 x 7 cm e o pagamento de uma taxa.

Esse foi um momento difícil, visto que os pais teriam de ser informados sobre as pretensões dos filhos. Não havia como fazer essas coisas em segredo porque custavam dinheiro, uma “grana” que não podiam gastar.

Alguns não tinham essa dificuldade, mas a maioria, que não gozava de uma boa mesada, teve mesmo de revelar porque necessitava de dinheiro. Além de tudo, os menores de vinte e um anos não poderiam obter o documento de viagem sem autorização de seus responsáveis.

Os pais lhes dariam autorização para viajar saindo do país?

© 2015 Getty Images/getye1

A reação dos pais

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Alguns pais começaram a usar a “suposta” aventura

como forma de fazer com que estudassem mais. Diziam que não permitiriam a viagem se o boletim escolar não contivesse boas notas. Outros chantageavam os filhos com pedidos para limpeza do quintal, lavagem do carro e favores que nenhum deles gostava de prestar.

As mães de Mônica e Lígia foram as mais aproveitadoras. Todos os dias as duas garotas contavam como fora a sua vida de “domésticas” e questionavam se a tal viagem valeria tanto “martírio”.

– Odeio cortar cebola e alho – falava Lígia levando as mãos ao nariz para cheirá-las. – Após fazer esse sacrifício, lavo umas duzentas vezes as mãos, passando cremes e perfumes até sob as unhas – pedia-lhes que as cheirassem.

– Estou ficando neurótica, pois sinto que exalo cheiro de alho e cebola por todos os meus poros.

– Minha situação é bem pior – contava Mônica. – Vocês não imaginam o que é limpar banheiro! Que cruz!

A velha empregada da família estava com o marido paralisado numa cama devido a um derrame cerebral. Só ia para o trabalho depois do almoço, ficando o serviço de rotina sob os cuidados de D. Neci e sua “querida” filha Mônica. A mãe cozinhava e fazia compras. A “filhinha” limpava, principalmente, o banheiro...

– Sabem como me sinto? Como Cinderela antes da festa – lamentava com a voz embargada na garganta.

O pai de Cristian pediu-lhe maior assiduidade nas reuniões da igreja. Sua ausência frequente deixava o homem em situação delicada, pois seu Walter, sendo pastor, tinha 20

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dificuldades em explicar o desinteresse do filho pelas atividades religiosas. Como recompensa, depositaria uma importância, mensal na conta de poupança do filho, para custear a viagem.

– Meu pai quer comprar a minha fé! – falava revoltado.

A fraqueza de Plínio era o Inglês. Ele frequentava a Comunidade Eclesial de Base de sua paróquia e ouvia os dirigentes falando da exploração estrangeira. Isso fazia com que ele tivesse aversão por tudo quanto se relacionasse com o “inimigo”. Era a desculpa usada para não estudar Inglês.

Seu Rui, o pai, fez um “negócio” com ele: apresentaria boas notas dali em diante, ou não receberia financiamento e autorização para a viagem.

Assim foi que todos se tornaram alunos aplicados, principalmente em História e Geografia, de modo particular em tudo o que se referisse aos Incas, Aimarás e os locais onde viviam: cordilheira dos Andes, altiplano andino, litoral do Pacífico e deserto de Atacama.

Até que ponto se sujeitariam? Valia a pena tanto sacrifício para uma aventura?

© 2015 Getty Images/Martin Louis

Os imprevistos acontecem

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O

primeiro imprevisto aconteceu quase dois meses depois, quando Fábio informou sua desistência. Seu Magno, o pai, ficara doente. Tivera um infarto. O velho há muito não se achava bem de saúde e agora seu coração demonstrava os sinais de fraqueza...

O rapaz viu a sua vida mudar de repente. Teria de trabalhar para ajudar no orçamento doméstico e por isso já se transferira para o curso noturno.

O patrão de seu Magno ofereceu uma vaga, na fábrica, a Fábio e este já iniciara a dura vida de operário. Não podia mais sonhar com a aventura que os demais, possivelmente, empreenderiam.

Essa primeira baixa foi sentida intensamente, pois antes dela o grupo já se considerava muito pequeno.

Dias depois, houve um acidente que lhes deu um choque muito forte. Otávio foi levar Lígia para casa e ficou conversando com ela no portão. Já era tarde quando resolveu despedir-se. De repente surgiram uns rapazes. Eles aproximaram-se fingindo pedir informações e sem que Otávio pudesse fazer algo, rapidamente seguraram a moça pelo braço e pretendiam sequestrá-la. O moço reagiu com gritos e procurou socar os rapazes que dominavam Lígia.

Um deles sacou uma arma e atirou nas costas de Otávio. A bala feriu algumas vértebras e ele caiu sem poder movimentar-se. Lígia desmaiou.

Muitas pessoas saíram à rua e os bandidos fugiram do local, mas foram pegos pela polícia logo em seguida. Estavam drogados.

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Otávio foi levado ao hospital e submetido a uma cirurgia. Não morreu, mas o médico informou-lhe, com tristeza, que demoraria muito a recuperar o controle das pernas.

Precisaria usar cadeira de rodas.

A desgraça do colega abalou a todos, principalmente à Lígia porque ela sentia-se culpada.

– Os bandidos pretendiam levar-me e fazer comigo nem imagino o quê, mas Otávio ofereceu-se para sofrer em meu lugar – dizia inconformada.

Lígia passou a considerar o rapaz como um dileto irmão.

Todos os dias ela ia visitá-lo e passava horas conversando e contando-lhe as novidades.

Enquanto ficava ali com o moço, ela fazia massagem em seus pés e movimentava-lhe as pernas. Tinha sempre uma palavra de ânimo. Elogiava a coragem dele e, ao despedir-se, orava ao seu lado pedindo para Deus apressar a cura.

Frequentemente o grupo ia visitar o amigo. Ali conversavam bastante, contavam piadas e riam. Evitavam falar da viagem.

Otávio, entretanto, era interessado. Perguntava como estavam os preparativos e dava sugestões.

– Agora tenho tempo de pesquisar e posso ajudá-los em tudo, mesmo não podendo ir desta vez. Numa outra ocasião realizarei esse sonho que não é só de vocês – ele dizia.

Ele lia jornais, revistas, consultava mapas e recortava tudo o que julgava interessante para enriquecer o roteiro dos aventureiros do “Clube Andino”.

Saíam dali com tristeza no coração. Era duro deixar um amigo para trás. Pensaram até em adiar a viagem para uma 23

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outra época, mas a cura de Otávio não tinha data. Talvez levasse anos para ele voltar a andar, talvez nunca mais deixaria a cadeira de rodas...

Alguns deles questionavam a situação: seria razoável viajar deixando o colega daquele jeito? Era um caso para ser bem analisado.

© 2015 Getty Images/Andy Stafiniak

A reunião dos pais

Era dia l2 de junho.

– Como o tempo passa rápido! Logo estaremos no final do mês e uma porção de coisas precisa ser ajeitada... – falou Rubinho com preocupação.

Realmente, para uns faltava dinheiro, para outros, a permissão dos pais e, finalmente, para poucos, notas boas.

A situação do Plínio era a pior. Seus conceitos em Inglês, Matemática e Física deixavam rubro seu boletim.

Como precisava convencer seu pai, falsificou as anotações. Érico e Mônica, a fim de conseguir dinheiro, viviam fazendo “extras” para vizinhos e parentes. Aquele oferecia seus serviços de faz-tudo, limpando quintais, lavando car24