SUPERANDO A DOR NO LUTO | Marcos Kopeska

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Capa: APS Diagramação: Manoel Menezes Coordenação editorial: Jennyfer Calado Barcelos Impressão e acabamento: Gráfica Optagraf

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Kopeska, Marcos Superando a dor no luto / Marcos Kopeska – Curitiba: A.D. SANTOS EDITORA, 2021. 120 p.

ISBN – 978.65.8963.607-6 Cdd. 152.4 – Emoções e sentimentos, 152.46 – Medo / ansiedade / preocupação, 128.5 – Morte, 158.1 – do Comportamento Auto ajuda 3ª Edição Revista e Ampliada: Junho / 2021 Proibida a reprodução total ou parcial por quaisquer meios a não ser em citações breves, com indicação da fonte.

Edição e Distribuição:

D EDICATÓRIA

Dedico esta obra a todas as centenas de milhares

de famílias que, enquanto escrevo, choram a perda dos seus queridos em razão da inesperada pandemia da Covid-19, que assolou o mundo.

Mais do que um luto coletivo, mais do que

impacto da mídia, são corações singularmente enlutados. Trata-se de lágrimas de indivíduos únicos, com todas as suas peculiaridades.

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P REFÁCIO

Marcos Kopeska é um pastor de almas. Escreve com

sensibilidade e profundidade. Suas palavras são como bálsamo. Seus ensinos são bíblicos. Seus conselhos são terapêuticos. É uma subida honra escrever o prefácio deste livro, e isso por algumas razões: Em primeiro lugar, por conhecer o autor da obra. Marcos não é como um escritor que despeja palavras vazias, distante de seus leitores, encastelado numa torre de marfim. Ele é um homem do povo. É um conselheiro empático, um pregador consagrado, um mestre erudito, um escultor do eterno. Ele não é um teórico. Sua vida referenda sua obra. Suas experiências e cicatrizes falam mais alto que suas palavras.

O triunfo pessoal diante das lutas da vida o credenciaram a erguer-se no cenário da nossa dor para nos tomar pela mão e nos por de pé. Em segundo lugar, por conhecer a obra do autor. Este livro é um manual de consolo. É um compêndio enxuto de sabedoria. O livro é sucinto, mas profundo.

Os conceitos aqui exarados são tônicos para a alma, remédios para o coração, energia para a vida. Leia este livro com o cora5

ção aberto, com a alma sedenta. Levante os olhos aos céus e dobre seus joelhos na terra. Permita que o Bálsamo de Gileade desça como orvalho sobre sua vida. O luto é uma dor imensa, mas o consolo divino é maior do que a dor do luto. Há esperança em Cristo. A morte já foi vencida. Seu aguilhão já foi arrancado. Ela não tem mais a última palavra. Caminhamos não para um túmulo gelado, mas para uma manhã radiosa de esperança. Nossas lágrimas são enxugadas. Nossos corpos surrados pela doença e tombados pela morte são despertados e levantados da sepultura como corpos imortais, incorruptíveis, poderosos, gloriosos, como o corpo da glória de Cristo.

Nossa vida não consiste apenas na saga vivida entre o berço e a sepultura. Fomos destinados para a glória. Nossa Pátria está no céu! Em terceiro lugar, por conhecer o Deus do autor da obra. Marcos é um homem de Deus. O que o credencia para escrever esse precioso livro é o Deus a quem eles erve.

Marcos não é grande, mas seu Deus é transcendente.

Marcos não é forte, mas seu Deus é onipotente.A dor do luto não pode ser vencida por meras palavras humanas. A fonte do consolo para a dor do luto está em Deus. A esperança para prosseguirmos de força em força está em Deus. Ele é o manancial da vida. Ele é o consoladorque enxuga nossas lágrimas e nos carrega no colo. Conhecer o Marcos foi um privilégio. Conhecer o Deus a quem o Marcos conhece é a experiência mais bendita da vida. Isso, porque ele conhece, serve e ama o Deus vivo, criador, sustentador e redentor.

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A vida sem esse Deus é uma caminhada inglória, mas a vida firmada nele é uma aventura bendita, uma jornada gloriosa, mesmo passando pelo vale da sombra da morte.

Recomendo a leitura deste livro. A minha ardente expectativa é que essa preciosa obra alcance milhares de corações e seja uma fonte de consolo para os enlutados!

Hernandes Dias Lopes

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S UMÁRIO

Dedicatória................................................................................... 3 Prefácio......................................................................................... 5

Introdução.................................................................................. 11 Capítulo 1 AS PERDAS NOSSAS DE CADA DIA............................ 19 Capítulo 2 DIFERENTES CIRCUNSTÂNCIAS & REAÇÕES DIVERSAS............................................................................ 33 Capítulo 3 DO CHOQUE AO SEPULTAMENTO............................ 45 Capítulo 4 AS FASES DO LUTO.......................................................... 67 Capítulo 5 REAÇÕES DURANTE O LUTO...................................... 89 Capítulo 6 REORIENTAÇÃO DA VIDA............................................. 99 Capítulo 7 NOSSA ESPERANÇA MAIOR....................................... 107

Conclusão................................................................................ 117

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INTRODUÇÃO

Todos nós ouvimos as mesmas palavras quando nos

defrontamos com a infausta realidade da perda de nossos queridos: Para morrer basta estar vivo.

Você ainda é jovem e poderá ter outros filhos. Todos nós um dia passaremos por isso.

A morte é a única certeza que temos. Poderia ter sido muito pior.

Na verdade as intenções de consolo são sinceras e legítimas, mas é fato que há momentos nos quais precisamos ir além, mais a fundo na questão da vulnerabilidade existencial e compreender o quadro maior da perda. Conforme o Dr. Gary Collins1, tentamos amenizar o trauma vestindo o corpo, cercando de flores ou velas, e usando palavras como “ele se 1

COLLINS, Gary R, Aconselhamento Cristão – Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1ª edição – 2004 – São Paulo – SP, pág. 408

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foi” ou “partiu”, em vez de “morreu”, mas não podemos transformar a morte em algo bonito. Nós, cristãos, somos confortados pelas certezas da ressurreição e da morada eterna, mas isso não atenua o sofrimento de sermos forçados a nos separar de alguém que amamos. Quando temos um encontro com a morte, nos defrontamos com uma situação irreversível, inalterável, que não podemos mudar. John Bowlby2 afirma que a perda de uma pessoa amada é uma das experiências mais intensamente dolorosas que o ser humano pode sofrer. É penosa não só para quem experimenta, como também para quem observa, ainda que pelo simples fato de sermos tão impotentes para ajudar. Para a pessoa enlutada, apenas a pretensa volta da pessoa querida poderia proporcionar o verdadeiro conforto; se o que lhe oferecemos fica aquém disso, é recebido quase como um insulto. Rubem Olino3 escreve que na realidade ninguém está suficientemente preparado para morrer e isso se deve ao fato de que o ser humano foi criado para a vida. A morte é um acidente. É algo estranho. É uma situação de agressão.

Todas as idades e culturas consideram traumático o pensamento da morte: ele choca, intranquiliza e enerva. Por todo o mundo, as pessoas ficam embaraçadas e gaguejam ao ouvirem sobre a morte. Em toda a parte, a experiência de priva2 3

BOWLBY, Jonh. Perda – tristeza e depressão – volume 3 da trilogia “Apego e Perda”, Martins Fontes Editora, 2ª edição – São Paulo – SP, pág. 4 OLINO, Rubem. Luto, uma Dor Perdida no Tempo, VINDE, 2ª edição – 1997 – Rio de Janeiro, pág. 39

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INTRODUÇÃO

ção, ou a morte de um amigo, abala as pessoas até o âmago.

Em todos os lugares ou épocas, a expectativa da morte lança o ser humano em um desespero apático. Dezenove vezes a Bíblia refere-se a perspectiva da morte como “sombra”, e esta figura expressa muito bem o que sentimos a respeito dessa nossa inimiga4.

Parto do princípio de que quando visualizamos os contornos do escarpado caminho que estamos a palmilhar, cobrimo-nos com forças para a superação. Quando conhecemos as etapas desta trilha tão íngreme e solitária, nos sentimos mais seguros para enfrentá-la. Não há fórmulas mágicas ou equações precisas para lidarmos com a dor da perda ou com qualquer outro evento no âmbito das emoções. Billy Graham escreveu que o luto é, com certeza, algo que a maioria de nós tem que enfrentar em algum momento da vida.

Quando a morte nos separa de alguém que amamos, passamos por um período em que chegamos a pensar que nunca ninguém sofreu o que estamos sofrendo. Mas acontece que a melancolia é universal.

A maneira como enfrentamos esse período é que é particular e pessoal.5 Superando a Dor no Luto procura oferecer alívio ao sofrimento dos que, com pesar choram suas perdas, trazendo compreensão e luz sobre uma perda significativa, isto sob 4 5

SHEDD, Russel e Alan Pieratt, Imortalidade, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1ª edição, 1992 – São Paulo – SP, pág. 115

COLLINS, Gary R. Aconselhamento Cristão – Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1ª edição – 2004 – São Paulo – SP, pág. 407

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uma perspectiva pastoral e numa linguagem desprovida de elementos intrincados.

Se este singelo trabalho contribuir para o alívio dos que sofrem em meio aos vales sombrios da ausência de quem ama, terá alcançado seu propósito.

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CAPÍTULO 1

AS PERDAS NOSSAS DE CADA DIA

Desde que perdemos o Éden, contendemos conosco

mesmos de forma incansavel para administrar as perdas que inevitavelmente pontilham nossa existência. Começamos o percurso da vida ganhando e perdendo. Sim, nossa vida, imperiosamente, é assinalada por algumas perdas funestas, algumas negociáveis e outras irreparáveis.

Quando nascemos perdemos o calor e a segurança da vida intra-uterina para ganharmos o mundo. Fomos literalmente expulsos do nosso conforto para um estrepitoso mundo de sons ensurdecedores, perigos ardilosos e desamores.

Em troca, ganhamos independência para respirar, chorar, ver, 19

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sentir, mamar, sorrir... Meses depois, no desmame, perdemos o aconchego do seio materno para ganharmos o alimento sólido e o desenvolvimento da mastigação. Com o passar dos anos vamos para a escola e trincamos a redoma do ninho para ganharmos o discernimento dos primeiros conceitos de luta por significância social e que, por vezes ao longo da existência serão embates por sobrevivência num mundo de falaciosas rivalidades. Logo mais perdemos as amizades da infância, as brincadeiras de rua e as traquinices peculiares da meninice para ganharmos a adolescência e a descoberta do amor com seus encantos e desencantos. Chegando à idade adulta perdemos o vigor da juventude, não obstante ganharmos experiência. As perdas se somam ao longo do ciclo vital e se avolumam com o passar dos anos.

Nas mais diversas fases da vida, mesmo inconscientemente, processamos o luto, pelo namoro que se desfez, pela expectativa frustrada, pelo emprego perdido, pelas amizades rompidas e até pela cidade que deixamos numa mudança. Não obstante, é fato que alimentamos o ideal de nunca perder. Não gostamos de privarmo-nos do conforto, dos relacionamentos longevos, dos laços familiares seguros, e é por este prisma de relutância, que tentamos fugir da realidade da morte.

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AS PERDAS NOSSAS DE CADA DIA

MITOS E TABUS

Você já viu um corpo sem vida ser retirado com natu-

ralidade pelo fronte de um hospital? Eu, particularmente, nunca vi uma cena assim. Normalmente a viatura funerária encosta aos fundos, junto à porta mais discreta e o procedimento acontece quase às escuras, como que a dizer: Perdemos o paciente e isso não é ruim para a nossa imagem. Você já viu como somos tentados a aliviar os termos e expressões que dizem respeito à morte usando certos eufemismos? No hospital o termo morreu é substituído pela expressão foi a óbito. Na centro cirúrgico se diz: Perdemos o paciente na mesa.

No militarismo o soldado não morre, ele tomba pela Pátria.

Para as crianças dizemos que o vovô virou uma estrela ou a titia foi fazer uma longa viagem e vai demorar. A terminologia denuncia a dificuldade que a sociedade tem em lidar com a morte com o mesmo tom de realismo com que lidamos com os demais eventos do existir. Na maioria das culturas há um tabu silencioso que conduz as interpretações sobre a morte, roubando-lhe a possibilidade de ser natural. Muitos povos antigos temiam a morte e mantinham os mortos à distância, principalmente pelo temor de que eles voltassem. Assim, os cemitérios da antiga Roma e de Constantinopla, por exemplo, eram localizados fora das cidades, caracterizando a morte

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como algo repugnante a ser escondido. De acordo com Luiz Otavio S. Dornellas:6 Quando surgiu a idéia de que o homem era composto de corpo e alma, as covas começaram a ficar mais fundas para que estas almas não saíssem da sepultura. A expressão “sete palmos” surgiu neste contexto, aonde se diria que o defunto estava seguro debaixo de sete palmos, devemos ter a consciência de que os homens desse período queriam se sentir seguros com a quantidade de terra aprisionando o morto, desta forma o morto não voltaria a vida.

Segundo o historiador francês Philippe Ariés, em seu livro O homem diante da morte, este panorama mudou com o Cristianismo, especialmente na Idade Média. O culto aos mártires e a fé na ressurreição do corpo fizeram com que a morte fosse mais bem aceita, tratada com familiaridade e até indiferença. Com o tempo, os cemitérios passaram a ser construídos dentro das cidades e se tornaram pontos de intensa atividade social.7 Enquanto eu trabalhava no preparo deste texto, estive em Moçambique em razão de trabalhos missionários e aproveitei para inteirar-me de elementos culturais em torno da morte

6 Artigo A morte através dos tempos, de Luiz Otavio Soares Dornellas (Médico, Jormalista e Divulgador Científico), 2007, Rio de Janeiro / RJ, site: http://artigos. netsaber.com.br/resumo_artigo_4531/artigo_sobre_a-morte-atraves-dos-tempos

7 Artigo A morte através dos tempos, de Luiz Otavio Soares Dornellas, 2007, Rio de Janeiro / RJ, site: http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_4531/artigo_sobre_a-morte-atraves-dos-tempos

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e do pós morte. O óbito é interpretado pela perspectiva da espiritualidade e quando alguém morre, os familiares vendem a casa, tiram todos os móveis e desfazem-se dos pertences.

Buscam outra casa, um novo local e um recomeço, pois encaram a morte como uma maldição que paira sobre o ambiente.

Como a expectativa de vida naquele país é baixa e os índices de mortalidade por malária e AIDS são elevados, há corretores que trabalham especificamente na troca de imóveis e móveis em razão dos falecimento.8 Algumas culturas duelam com a realidade da finitude, até a última possibilidade de revanche, ansiando pela imortalidade. Por essa razão os faraós e príncipes incas eram mumificados. O anseio de cobrir o mortal com a imortalidade, mesmo que numa tentativa derradeira permeava o conceito de morte. As culturas européias, mais discretamente, deixaram estes insights na história religiosa. Em uma oportunidade, visitando os porões da Catedral Duomo, em Milão, observei a forma com que os arcebispos da Idade Média ao morrerem, tinham seus corpos embalsamados com muito cuidado pela igreja. As teorias religiosas sobre os corpos incorruptos – aqueles que por algum motivo não sofreram decomposição – parecem cobrir de certo grau de santidade as pessoas cujos corpos tardaram a se decompor. Na verdade são mitos que alimentam tabus em torno do anseio pela imortalidade.

8

Em Moçambique, cerca de 1,9 milhões de pessoas vivem com HIV e, média de 60 mil mortes são registradas a cada ano, por causa da doença. Site: https://www. dw.com/pt-002/sida-é-a-principal-causa-de-morte-entre-moçambicanos-em-idade-ativa/a-41618008

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Ao longo da minha formação teológica, tive um professor canadense servindo no Brasil, o Dr. Frank Peters. Poucos anos depois da minha formatura ele retornou ao Canadá e tive a triste notícia de que estava convalescencdo de câncer.

Um amigo que o acompanhou relatou que na última consulta médica, já não restando recursos da medicina, o médico da família deu-lhe um tapinha nas costas e disse: Pastor Frank, não há algo mais que eu possa fazer pelo senhor. Acho que já está na hora de o senhor ir encontrar com Deus. Ele agradeceu a visita e no dia seguinte o professor Frank foi chamado ao lar eterno. Fiquei imaginando que as palavras do médico, em nossa cultura, soariam como insolência até mesmo passivas de um processo judicial por danos morais. É factível que, quanto mais uma sociedade evolui intelectualmente, com maior naturalidade trata a morte.

QUEM NUNCA PERDEU?

Segundo

o Dr. Rev. Marcos Inhauser9, somos seres expulsos do Paraíso e impedidos de para lá voltarmos. Quando Adão e Eva foram expulsos do jardim, estavam dizendo adeus à segurança absoluta, à paz dominante, à harmonia incondicional e a outros tantos valores irrestritos. Os querubins e as espadas flamejantes guardando a entrada do Éden são os símbolos da impossibilidade de reconquista dos nossos 9

INHAUSER, Marcos – Opção pela Vida , United Press, 1999, Campinas / SP, pág.

19 a 21.

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paraísos perdidos. Ao longo da existência precisaremos dizer adeus a alguns édens emblemáticos.

Quem nunca perdeu uma estimada amizade recheada de gratas recordações? Quem nunca chorou pelo namoro desfeito sem muitas explicações? Quem nunca se prostrou com a perda do emprego em meio a uma crise econômica? É fato que somos seres marcados por lúgubres cicatrizes que desfiguram nossas histórias, mas o que nos conforta é que com estes sulcos no semblante nos tornamos mais humanos.

Perder faz parte da vida, é parte do fato de estar vivo, parte do existir e sentir humanos, e parte de amar. Todo ser humano que se atreveu a amar algo ou alguém no decorrer de sua vida sabe o que significa perder.10 Nenhuma comunidade, família ou pessoa está imune às perdas. Perdemos valores ilibados que construíram nossa vida, inúmeros referenciais que nortearam nossas escolhas, oportunidades que se esvaíram pelo vão dos dedos e um arsenal de sentimentos que eram parte de nossa personalidade. Perdas, perdas, perdas... Filipe da Macedônia foi sábio, quando encarregou um escravo de lembrá-lo todas as manhãs: Filipe, lembre-se de que você deve morrer.11 Devemos achar uma forma de constantemente sermos lembrados desta realidade universal. Durante a Idade Média alguns monges 10 Manual de Recuperação Emocional – EIRENE do Brasil, 2ª edição, 1989 – Brasília / DF, pág. 11.

11 SHEDD, Russel e Alan Pieratt, Imortalidade, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1ª edição, 1992 – São Paulo – SP, pág. 116.

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se cumprimentavam dizendo: Memento morri, uma expressão latina que significa algo como: Lembre-se que você é mortal ou Lembre-se que você vai morrer.

O Dr. Luiz Otávio Ornellas12 afirma que cerca de cinquenta milhões de pessoas morrem, a cada ano, em todo o mundo. Ricos e pobres, homens e mulheres, negros e brancos, velhos e jovens, religiosos e ateus, todos nós vamos morrer um dia, apesar do avanço da medicina na prevenção e tratamento de doenças. Por mais que relutemos em pensar nela, o fato permanece: a morte é inevitável. A despeito dessa verdade universal, a humanidade sempre se recusou a aceitar a finitude passivamente. Ao longo da história, nos mais diversos povos, floresceram mitos e lendas e buscaram-se fórmulas para manter eternamente a vida ou a juventude. A lista é grande e vai da mumificação no antigo Egito ao santo graal, passando por Peter Pan e a Fonte da Juventude de Ponce de Leon.

Conta-se que certa mulher procurou um sábio, levando o filho morto nos braços e suplicou que o fizesse reviver. O sábio disse a ela que fosse a uma casa e conseguisse alguns grãos de mostarda. Mas, para trazer de volta a vida do menino, esses grãos deveriam ser de uma casa onde nunca morreu ninguém.

A mãe foi de casa em casa, mas não encontrou nenhuma livre 12 Do Artigo Morrer com Dignidade: O Último Grande Desafio, de Luiz Otavio Soares Dornellas, site http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_4531/artigo_sobre_a-morte-atraves-dos-tempos

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da perda. A parábola – paradoxalmente – explora a lição mais óbvia, no entanto mais difícil de absorver.

A nua realidade é que, apesar de racionalmente entendermos a perda, nunca estamos preparados para lidar com a morte em pé de igualdade. Com ela a balança é desleal.

Clarice Pierre13, especializada no atendimento a doentes terminais, conclui que desde a infância nossa sociedade nos treina para ganhar e acumular, mas nunca para perder. Os pais protegem os filhos das frustrações, e perder é essencial para entender que nada é permanente. E me refiro a perder desde jogos, até objetos e pessoas.

A morte nos draga as forças, nos esvazia de energia e nos arrefece ante a sua brusca coação. É sem dúvidas, o maior dos inimigos, temido por todas as culturas, tribos, nações e em todas as épocas. A morte nos tira o tapete de sob os pés, deixando na garganta o gosto amargo da desilusão, e no peito o aperto da separação. Ela nos prega peças truculentas.

A morte nos transforma em reféns de questionamentos mil e nem ao menos espera por nossas reflexões. Ela simplesmente vem trazendo consigo seus mistérios. Costumamos enxergar a morte como objeto de derrota, repulsa, vergonha... A morte nocauteia com a rapidez e violência de um peso-pesado, fazendo-nos beijar a lona sem nos dar a menor chance de revide. Ela fez o próprio Deus encarnado chorar junto a um 13 Do artigo A Vida de Quem Fica, de Dra. Marie Clarice, psicóloga, publicado no site http://revistamarieclaire.globo.com/Marieclaire/0,,EML571015-1740,00. html

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sepulcro. Mas acontece que a própria estrutura emocional do ser humano apresenta um processo de restauração e reconstrução pós-perda que chamamos de luto.

A ADMINISTRAÇÃO DAS PERDAS

Pois bem, o luto é o mecanismo que a própria nature-

za provê para tratar o sentimento de dor causado por uma ausência importante, seja ela simbólica – o rompimento de uma relação – ou concreta, como o falecimento de uma pessoa amada. Alguns definem luto como uma onda de dor e sofrimento, mágoa e medo, ira e culpa, solidão e desespero que cobre uma pessoa quando sofre uma perda, com o objetivo final de reorganizar a vida. Ao longo desse processo, quem perde vive a tristeza da ausência e está frente ao desafio de se adaptar a uma nova realidade.

Nunca saímos de uma crise na mesma condição em que entramos nela. As crises nos transformam para o bem ou para o mal; nos habilitam ou nos tolhem; nos deixam mais bem equilibrados na vida ou nos deixam temerosos e desconfiados.

Uma intervenção adequada pode decidir o fiel da balança para um ou outro lado; para um estado de crescimento e saúde ou para o lado da estagnação e da doença.14 14 MALDONADO, Jorge E. Crises e Perdas na Família, Consolando os que Sofrem, Editora Ultimato, 2005, Viçosa/MG, págs. 23-24.

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Apesar de ser uma etapa penosa, especialistas afirmam que é importante viver o sentimento de perda, em toda a sua extensão, sem furtar-se da tristeza, crises de choro e dias de angústia, pois só então haverá eficácia na ajuda psicológica e espiritual, para reorganizar a vida.

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continua...

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