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A presente edição de IHU On-Line aborda as eleições do próximo dia 6 de outubro, com análises de diversos pesquisadores da Universidade e de membros da comunidade universitária, com abordagem e enfoques diversos. Podem-se analisar as eleições nesta matéria considerando a mídia como novo cenário da política, suas transformações históricas ao longo das campanhas ou uma visão sob os prismas das Ciências Sociais e da Economia.

O IHU Idéias nesta quinta-feira, dia 3 de outubro, também terá como tema "O Brasil que vai às eleições. As primeiras eleições presidenciais após a década neoliberal", com o Prof. Dr. Inácio Neutzling

ELEIÇÕES NA MÍDIA

O prof. Dr. Antônio Fausto Neto é Jornalista; Pós-Doutor pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ; Doutor em Ciências da Comunicação e Informação, pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, EHESS, França; Mestre em Comunicação pela Universidade de Brasília, UNB. Atualmente é professor no PPG em Comunicação.

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IHU On-Line- Em relação às últimas eleições, quais as mudanças que o Sr. assinalaria com a campanha atual na mídia?

Antônio Fausto- As eleições brasileiras começam a ser permeadas pela cultura midiática, a partir da primeira eleição pós-ciclo autoritário, que é a eleição construída largamente com os insumos das mídias. A eleição na qual Collor é eleito. Essa eleição é fortemente marcada pela presença de resoluções de postulados, lógicas e personagens do mundo midiático. Não é em vão que os eleitores e pesquisadores estão sempre se reportando ao episódio muito marcante nessa campanha, que foi o processo de eleição, no famoso debate Lula-Collor. Esse foi um debate tirado do seu contexto original e trasladado para o contexto de um telejornal. A ele se imputa uma possível derrota do Lula por parte de Collor. Isso é um marco importantíssimo, porque as seguintes eleições serão fortemente marcadas por um recurso da cultura política, a cultura das mídias. No caso do Fernando Henrique, o que marca sua eleição é um processo de investimento em alguns imaginários culturais trabalhados e até modernizados pelas mídias. Particularmente o que as mídias fazem na eleição em que FHC derrota Lula é trabalhar sistematicamente uma oposição entre eles. Enquanto de um lado, ela qualifica a candidatura e o perfil de FHC, por outro lado, desqualifica a candidatura de Lula, indiretamente falando, que ele não teria um perfil para ser Presidente da República. José Serra está fazendo isso agora, por exemplo, quando considera a necessidade de possuir um diploma universitário para exercer a presidência.

IHU On-Line- De certa forma, mudou o cenário onde se faz a política eleitoral?

Antônio Fausto- Nos grandes países democráticos, o ritual eleitoral não se faz mais sem a cultura midiática. As mídias e, especialmente, a televisão passa a representar um fenômeno social de grande relevância e a ter uma importância estratégica na oferta eleitoral. A política eleitoral é celebrada em rituais parecidos com os rituais publicitários, mercadológicos. Ela deixa de se fazer nos moldes clássicos que até então marcaram sua realização e passa a ser permeada pela cultura midiática. Daí a importância que têm hoje os marqueteiros cujos atributos e ação passam a ser mais importantes, muitas vezes, que a própria plataforma e o próprio perfil dos candidatos aos cargos eletivos.

IHU On-Line - Qual a relação entre as novas formulações eleitorais e a decisão de voto do eleitorado?

Antônio Fausto- Nesse sentido, as pesquisas não têm muita clareza. Essa decisão linear da mídia sobre o eleitorado não é confirmada pelas pesquisas, e isso faz com que nós tenhamos que relativizar um pouco esse poder conspiratório da mídia no processo eleitoral. O que as mídias fazem é organizar uma agenda do processo político-eleitoral. O que o eleitorado faz com isso é outro problema.

IHU On-Line- Quais as características do perfil de candidato que hoje as mídias mais integram em seu discurso?

Antônio Fausto- Para entender isso é necessário compreender um cenário maior, onde decisões e negociações se entrecruzam. A campanha

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midiática da política é, antes de mais nada, uma campanha que se realiza fora da mídia com negociações e transações em segmentos não necessariamente midiáticos, e sim nas esferas dos partidos, dos agentes financeiros e outros segmentos dos agentes dos campos sociais. Uma vez que as mídias passam a ser um agente muito importante no processo de organização da sociabilidade e das experiências modernas, significa dizer que a estruturação do modo de se viver em grupo, a sociabilidade, cada vez é mais ocasionada pela lógica das mídias, e a lógica das mídias trabalha sempre a curto prazo. Os marquetólogos e publicitários organizam o curto prazo, eles vendem política como se vende sabonete. As expectativas que as mídias têm dos candidatos são expressas no modo como a mídia aborda o candidato. Não são perguntas de longo prazo as que estão na mesa, são aspectos comportamentais do candidato, aspectos de temperamento, aspectos de indiossincrasia, e não questões que remetem à sua plataforma política. O processo eleitoral, que deve se decidir na esfera de uma velocidade de curto prazo, e a qualidade do discurso também se vêem permeados por essas características.

IHU On-Line- Em torno de que aspectos os candidatos são mais avaliados pela mídia nestas eleições?

Antônio Fausto- Diria que ela explora, desta vez, o dito dos candidatos. É como se todo o horizonte de possibilidades de um candidato repousasse fundamentalmente na coerência ou incoerência de ditos anteriores com ditos de agora, nos quais se tenta comparar coincidências e disjunções. É como se a linguagem viesse a ter uma importância fundamental no processo político. Estratégia para desqualificar uma candidatura.

IHU On-Line- Há um certo apelo à vida privada dos candidatos, suas histórias, sua família mais presente nesta campanha eleitoral?

Antônio Fausto- Esse fenômeno da biografia, do testemunho de vida, é um aspecto importante da política, talvez na campanha de Lula, que é menos centrada numa retórica argumentativa do discurso político. É possível fazer um discurso político de protesto, de crítica social, de mudança da estrutura por meio de uma economia discursiva permeada pela biografia, pela recorrência a vários imaginários, pela testemunhalidade. Isso faz parte desse processo do discurso político hoje subordinado à televisão. Modelos que passam pela criação de uma cumplicidade, um contato figurativo entre o candidato e o eleitor que o discurso político clássico, fundado na retórica argumentativa, não ofereceria. A biografia, a testemunhalidade colocam o eleitor em uma ambiência muito mais de cumplicidade. A retórica clássica, por natureza, é excludente, competitiva, tensional. O discurso político hoje passa pela economia do contato e não do simbólico, que é da natureza da abstração.

Como vivemos na cultura do tato, do curto prazo, neste momento o discurso político e televisual se dão as mãos.

IHU On-Line- E quais os aspectos mais explorados nas campanhas dos outros candidatos?

Antônio Fausto- O que me parece singular nesta eleição é a consolidação da legitimidade do marqueteiro, a extração da enunciação do outro como condição da sua desqualificação. A desqualificação de um adversário, a

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partir de ditos feitos por ele próprio, é um fato novo, ou seja, a instância da linguagem como instância onde vai se construir esse espaço da heteregibilidade e da veracidade na política. Sobre os outros candidatos.

José Serra tem uma posição mais professoral. Em alguns momentos, ele tentou trabalhar a desconstrução dos outros candidatos, apoiado nessa questão da enunciação a que eu me reportava em que essa desconstrução passava pelo anonimato. Ciro Gomes fez mais um discurso de longo prazo.

Uma fala para depois de amanhã e não para o aqui e agora. Uma fala lingüisticamente acadêmica. Garotinho teve um apelo mais populista. Mais tensionado na promessa e na oferta. Ele também apelou muito para o recurso do imaginário político do País, de nossa história para as figuras de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitscheck IHU On-Line- Qual o desafio que esta forma de política eleitoral contemporânea apresenta para a sociedade como um todo?

Antônio Fausto- São fenômenos cruciais e que merecem ser trabalhados mais a fundo pelas instâncias como as universidades, os laboratórios de pesquisas, etc. No sentido de esses laboratórios poderem recolocar esses problemas em outra dinâmica do espaço público, ao lado de outros fatores, como a democracia que vai, talvez, colocar a lógica midiática a serviço do controle social. Não estou falando de censura, estou falando de democracia formal. É preciso que os dispositivos que são encarregados do implemento de políticas sociais, políticas públicas e simbólicas estejam sob o controle da sociedade. Para isso é preciso que a sociedade estude, se capacite, compreenda esses mecanismos de produção e se eduque nesses formatos. É preciso que a sociedade se desloque da posição de receptora automatizada na qual ela é colocada pelas mídias e se torne um agente eleitor, analisador, formulador de políticas de comunicação.

ELEIÇÕES E SUAS MUDANÇAS HISTÓRICAS

O pof. Dr. Flávio Heinz é doutor em História Contemporânea pela Universidade Paris X; Mestre em Sociologia Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS. Atualmente é professor do PPG em História, do Centro de Ciências Humanas. Com ele conversamos sobre as mudanças políticas eleitorais dos últimos anos no País.

IHU On-Line- O Sr. concorda com uma visão compartilhada por muitos em relação a que hoje há um desinteresse do brasileiro pela política?

Flávio Heinz- Eu acho que não. Na realidade, o espaço político era um espaço restrito, de elite. Não havia desinteresse, havia uma certa autoproteção dos setores populares em relação ao que se podia fazer, qual o grau de intervenção nesse espaço, porque, se as pessoas não dominam os códigos do espaço político, a possibilidade de se darem mal, aventurando-se a fazer uma crítica pública, é muito grande. Então há uma certa racionalidade nesse não envolvimento. Não é simplesmente falta de consciência. Nós somos muito rigorosos com a nossa população. A sociedade brasileira jogou o jogo que era possível, o jogo de autoproteção, num espaço de domínio claro das elites.

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IHU On-Line- No contexto atual, o Sr. considera que a política continua restrita a uma elite?

Flávio Heinz- Acho que se está abrindo. Mas, de qualquer forma, isso tem um tempo de amadurecimento da experiência política da população. E esse amadurecimento se faz muito no jogo de tentativa e erro. A população vai reconhecendo onde determinadas demandas são incorporadas, onde elas não são. Que tipos de propostas dão conta de demandas que são oriundas dos meios populares. Há um amadurecimento. Só que é lento, e a nossa capacidade de julgamento, sobretudo política, é rápida. Nós queremos superar o estado de uma certa infância política, de uma certa ingenuidade, partimos para o ato consciente, queremos eliminar a corrupção, o jogo de elites. Só que isso vai ser ao longo de décadas.

IHU On-Line- Haveria, na visão do político de maneira geral, uma idealização da militância das décadas de 60-70, usada como referencial para medir o grau de politização das seguintes décadas?

Flávio Heinz- Nossa tradição de militância política tem uma clara matriz no pensamento marxista. E não estou me referindo à militância política da esquerda, mas à idéia de que o voto é um produto do alcance de um certo patamar de consciência dos problemas que foi construída a partir de uma matriz marxista. A idéia de que as pessoas adquirem essa consciência, e ela abre o campo para a intervenção. Havia um outro tipo de elite. Uma elite intelectualizada. A participação de grupos subalternos, populares, está permeada por uma série de variáveis que não têm muito pouco a ver com a consciência.

IHU On-Line- Se a participação das massas não está relacionada à consciência, quais as novas variáveis que impulsionam essa participação?

Flávio Heinz- O campo político tradicional, das eleições, a escolha dos candidatos, esse espaço pode e está sendo investido por grupos novos. Eu acho que isso é um fato importante. Qual é o problema histórico do Brasil?

Por que a política ficou para a elite? Entre outras coisas, porque há um descompasso naquilo que nós chamamos de cidadania. Aqueles que são cidadãos de primeira, segunda, terceira classe... Isso não está escrito em lugar nenhum, mas é sabido e compartilhado como experiência por todos.

Então, na medida em que há processos de inclusão social, que, do ponto de vista dos direitos sociais, as pessoas começam a participar ativamente, vivendo no espaço público, na medida em que têm mecanismos para reivindicar seus direitos, tanto com a ajuda dos partidos, quanto com a de organizações da sociedade civil, na medida em que tendem a investir nesse campo fechado, cheio de armadilhas para os não iniciados, elas passam a entender que o eleitor é também um cidadão. A história eleitoral brasileira é muito antiga, só que a prática era restrita a um número muito pequeno de pessoas. Durante o império, 10 a 15% da população votava. O voto era restrito a homens brancos. Isso foi declinando mais ainda. Existe uma lei eleitoral, de 1872, que diminui o número de eleitores, cria constrangimentos, exige alfabetização, por exemplo. A história eleitoral é antiga, mas a participação é muito pequena. O que estamos observando é uma maior participação eleitoral. Isso é um fato interessante. Há uma história de conquista de espaços que parte de uma realidade formal e que vai se transformando em uma concreta, partilhada. É um fato que vai na

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direção de a sociedade como um todo se ver representada no espaço político e ter com ele uma relação muito mais positiva e orgânica.

IHU On-Line- A política está saindo da esfera institucional para ocupar outros espaços e formas, então?

Flávio Heinz- Os movimentos sociais no Brasil, por exemplo, são movimentos altamente politizados, porque eles têm uma avaliação da sociedade brasileira, imaginam estratégias de participação na vida social, pública do País. A sociedade encontrou formas de se manifestar. Talvez o nosso drama seja trazer um pouco parte dessa energia que permeia essas formas de participação para o espaço da representação também.

IHU On-Line- A proximidade da ALCA poderia estar fazendo com que as eleições deste ano cobrem uma importância fundamental?

Flávio Heinz- Há uma agenda política internacional pressionando o poder público e o próximo presidente. Mas, por exemplo, nas eleições de Collor e de FHC também havia pressão só que mais difusa, pela adoção de determinados tipos de políticas. Agora a pressão está formatada numa agenda de pressão política, numa proposta específica que é a ALCA. Historicamente, têm existido muitas pressões diante de novos governos.

Pode ser que essa seja nossa vantagem, nós temos como reconhecê-la como proposta, porque ela está formatada e podemos nos posicionar diante dela. Em outros momentos, a pressão era mais difusa. Eu tenho um certo otimismo em relação a isso.

IHU On-Line- As atitudes freqüentes de candidatos que trocam de partido indicaria um desinteresse em relação a tradições políticas por parte do brasileiro?

Flávio Heinz- Há uma tendência atual a tomar isso como uma prática ilegítima. A política é uma história consolidada. Essa prática, na verdade, foi aceitável durante muito tempo. A população tende a ter um certo grau de tolerância com isso. Há muito tempo que se sinaliza uma crítica aberta a esse tipo de procedimento, e a tendência é a que a própria população crie mecanismos censores, na verdade, em relação a esse tipo de procedimento. O próprio Congresso já criou mecanismos recentemente para a contenção desse procedimento. Embora essa atitude faça parte da cultura política da elite brasileira, eu vejo de forma otimista que há uma rejeição. Os partidos que, de alguma maneira, expressam mais essa fidelidade partidária, tendem a receber uma aprovação maior.

IHU On-Line- De maneira geral, parece haver um certo pessimismo em relação aos próximos anos, independente de quem ganhar?

Flávio Heinz- Uma coisa moderna, atual é a diminuição do papel do Estado. A percepção de que o Estado não tem controle sobre as diferentes esferas que influenciam a vida social, faz com que fiquemos um pouco assustados. Talvez a angústia atual resulte numa avaliação, que é correta, em que os mecanismo na intervenção na sociedade, na vida pública, foram retirados ou diminuídos por força da configuração do espaço econômico e social. Então de que adianta ter o melhor governante, o mais comprometido, se as regras são estabelecidas fora, não estão nas mãos do Estado?. Nossa educação política toda passa pela idéia de que o Estado é

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nosso instrumento de intervenção capaz de regular. E o que nos tem sido dito nos últimos tempos é que isso não é possível. Uma parte se deve ao fato de eles quererem tirar do Estado a capacidade de intervir; outra parte se verifica porque há ocasiões de crise nas quais o Estado não pode fazer nada. E esta talvez seja a angústia: Como pensar a execução dos projetos, uma mudança, se de alguma forma estamos amarrados a uma realidade cujo controle nos escapa, inclusive escapa da via política?

IHU On-Line- O Sr. também tem essa perspectiva pessimista?

Flávio Heinz- Não, eu não compartilho desse pessimismo. Se olharmos a história do País, o momento é interessante hoje. Havia outros problemas em outros momentos em que o Estado era mais forte, o período Vargas, por exemplo, mas havia outros problemas. O paradoxo do Brasil é que boa parte dos direitos sociais conquistados o foram em tempo de ditadura. Isso significa que o exercício político para muita gente não está associado à conquista dos direitos sociais. Por isso vemos tantos nostálgicos do sistema militar, quando se realizaram certos avanços que estão recuados agora em pleno exercício democrático. Isso criou, na história do Brasil, uma confusão muito grande; uma dificuldade de tentar associar a conquista dos direitos políticos com a questão social. A segunda metade do século XX, no Brasil, é muito confusa entre avanços e recuos. Acho que estamos em um momento de conseguir fazer uma pauta política mais social para o Brasil com o avanço de uma participação política. Talvez isso fosse uma novidade na história do Brasil.

IHU On-Line- Essa inclusão de uma pauta política no Brasil seria independente de quem ganhe?

Flávio Heinz- Estava pensando mais no caso de o PT ganhar. Mas, o fato de o PT não ganhar não significa que as populações não tenham se mobilizado e não vão continuar se mobilizando. É um processo de participação. Isso mostra um declínio do modelo hegemônico. O que é paradoxal nesta eleição é que os candidatos, todos eles, têm um discurso desenvolvimentista, o que, no Brasil, não acontecia desde os inícios dos anos 60.

IHU On-Line- Quais as diferenças fundamentais que constata entre as principais propostas presidenciáveis?

Flávio Heinz- A primeira constatação é que todos os candidatos se apresentam como de esquerda. Isso é um fato curioso, mas interessante.

Seria mais ou menos uma posição que leva em conta as questões sociais.

Há dez anos se tinha mais uma posição ligada ao mercado, às necessidades da modernização; levar em conta menos o discurso social e mais o discurso econômico. Para falar em cada um é difícil não rotular. A candidatura de Lula representa a emergência desses grupos novos na política e os interesses de uma classe média cuja pauta é meio difusa, mas que quer modernização, tem uma posição relativamente crítica com as práticas políticas tradicionais. É um partido de classe média. Seria efetivamente o nosso partido social democrata. Antes era mais uma perspectiva operária, classista, com claras limitações para conseguir se transformar num grande partido nacional, capaz de governar. Essa é um pouco a história da esquerda mundial, não é própria só do PT. A

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candidatura do Serra, o PSDB, embora a esquerda não goste disso, não representa setores muito tradicionais do Brasil. Uma coisa é avaliar que o governo FHC privilegiou determinado padrão de exclusão, não discuto isso.

Mas, em termos de perfil social desses grupos, o PSDB recupera uma certa pauta que é a própria encarnação do Serra dentro do PSDB, uma pauta desenvolvimentista. O PSDB tem um projeto social para o País. A questão da participação dos setores populares é diferente obviamente. Ele ocupa os espaços políticos de uma forma mais tradicional, recrutando responsáveis políticos, sem mobilização da massa. A candidatura de Ciro é, como dizem os franceses, ‘de ônibus”, isto é, em que todo o mundo entra. Ela não define exatamente sua base de apoio, seu grupo político, ela é capaz de todas as inclusões. É imprevisível. O Ciro é a maior aventura, não pessoalmente, porque, talvez, seja um sujeito com uma formação que o qualifique para ter algumas preocupações importantes. Mas, não interessa o personagem Ciro, o fato é que uma ausência de clareza sobre seu grupo de apoio faz com que seja uma candidatura imprevisível. O Garotinho é o grande candidato populista nesta eleição no sentido de uma certa idéia antiga de populismo, uma idéia de demagogia reconhecida e compartilhada. Ele lembra não só esse populismo de esquerda, mas também um populismo de direita que é uma tradição brasileira, Ademar de Barros, que vai chegar no Maluf em São Paulo, mas Garotinho não é o Maluf, ele é o sujeito sozinho, que conquista, cativa, promete.

Acho que as duas candidaturas políticas consistentes, que têm projetos claros, são a da Frente Popular e a do PSDB.

OS PRESIDENCIÁVEIS E SUAS PROPOSTAS A profª. Drª Arlete Arruda é Doutora em Ciências Sociais Aplicadas pela Unisinos. Especialista em Administração para o Desenvolvimento pela.

Universidade Nacional Autônoma de México e em Antropologia Política e Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS. Arlete Arruda faz uma abordagem das quatro candidaturas principais à presidência, numa análise do que, segundo sua opinião, seriam os aspectos mais fortes e mais fracos em cada candidato.

IHU On-Line- Como a Sra. vê as propostas dos candidatos em relação à questão ambiental?

Arlete Arruda- Eu vejo no programa de Lula, por exemplo, um projeto de governo bem desenvolvido em relação a essa questão. Percebe-se que foi feito por especialistas que conhecem os documentos, não só a agenda 21, os acordos e as cartas. Ele dá uma atenção especial à questão da Amazônia, da biodiversidade, do serrado, do pampa, da caatinga. De cada um deles, há um estudo do que poderia ser feito, tentando mostrar que a questão ambiental pode ser um fator de desenvolvimento sustentável e, ao mesmo tempo, de pesquisa científica. No programa de Ciro Gomes, a questão ambiental foi o último aspecto a ser integrado. A frente trabalhista está mais preocupada, em termos gerais, com a natureza, mas não está aprofundando a questão ambiental. Isso me chama a atenção tendo em conta que este foi o Ano da Rio +10. José Serra desenvolve itens principais. Fala do aproveitamento sustentável de todos os recursos

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naturais. Também pretende desenvolver o governo dentro dos princípios da sustentabilidade. Em relação ao Garotinho, assim como ao PT, se percebe que houve um grupo de especialistas bastante envolvido com conhecimento dos documentos internacionais. Ele trabalha com conceitos sua visão ambiental. Ele sempre está pregando uma pressão um pouco audaz sobre os Estados Unidos, para que eles assinem o protocolo de Kyoto. Ele diz que, se temos a maior biodiversidade, devemos usar isso como mecanismo de pressão mundial. Entre os quatro, os que acho mais interessantes são o do Lula e o do Garotinho por sua profundidade conceitual IHU On-Line- Como avalia a proposta, em termos gerais, do candidato Garotinho?

Arlete Arruda- Eu diria que seus pontos fortes são a grande aprovação (80%) que ele tem no Rio de Janeiro. Isso é reforçado com o fato também de que sua esposa é a candidata mais bem colocada nas pesquisas eleitorais no Rio. Como ponto alto desse Governo, na minha opinião, ele melhorou a segurança pública. Ele está construindo um nome forte para as próximas eleições presidenciais. Como pontos fracos dele, eu vejo que sua candidatura se restringe ao Sudeste. Ele é personalista, não tem apoio de partidos significativos nem da classe média.

IHU On-Line- Como avalia a proposta, em termos gerais, do candidato José Serra?

Arlete Arruda- Eu vejo que ele tem acesso a informações privilegiadas de seus opositores e as soube utilizar para subir nas pesquisas.Ele fez isso principalmente com a candidatura de Roseana Sarney. Ele também tem toda uma estrutura a seu favor, como o apoio da mídia, o dobro do tempo no horário eleitoral gratuito, a contratação de artistas conhecidos para shows e propaganda eleitoral, etc. Um outro perfil dele, também bem explorado é o fato de ele ser ex-exilado político e ter estado à frente de Ministérios de grande repercussão político-social. Mas ele não tem carisma político. A imagem dele é difícil de trabalhar e ele usa uma linguagem muito técnica diante da população.

IHU On-Line- Como avalia a proposta, em termos gerais, do candidato Lula?

Arlete Arruda- A tradição do PT é de o partido administrar por meio do Orçamento Participativo, diminuindo, assim, a liderança pessoal dos representantes eleitos. Outro ponto a favor dele é que o partido administra algumas das maiores e mais industrializadas capitais brasileiras. Isso tudo favorece o candidato. Mas ele tem alguns pontos fracos, como o alto índice de rejeição, o fato de não ter tido nenhuma experiência de administração, sua escolaridade não universitária, a possível reação a seu governo do Mercado Internacional, etc.

IHU On-Line- Como avalia a proposta, em termos gerais, do candidato Ciro Gomes?

Arlete Arruda- Bom, o Ciro tem o respeito dos empresários e banqueiros e experiência de governo, tanto estadual quanto nacional: no Governo do Ceará e no Ministério da Fazenda. No entanto, não estão claras, inclusive

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para os investidores externos, suas possíveis decisões quanto ao mercado financeiro. Eu tenho muita dúvida em relação às suas atitudes na hora de escolher seus ministros. Os dois nomes cotados para o Ministério da Fazenda são o ultraliberal brasileiro, que leciona nos EUA, José Alexandre Scheinlmann e o cientista político Mangabeira Unger, americano-brasileiro, que defende o nacionalismo de um estado mais protecionista. Eu o acho semelhante ao ex-presidente Collor de Melo.

UMA ECONOMIA PARA OS PRÓXIMOS

ANOS O prof. Márcio Schweig é Mestre em Economia pela Universidade Federal de Paraná, UFP e professor do Curso de Economia na Unisinos. Ele conversou com IHU On-Line sobre a proposta econômica de cada candidato.

IHU On-Line- Qual seria a medida econômica mais urgente que o próximo presidente deveria realizar?

Márcio Schweig- As taxas de juros são o principal instrumento para estimular o crescimento da economia. Se elas baixam, aumenta a capacidade de compra das pessoas, as empresas ampliam seus investimentos. Nos últimos 4 anos, o Brasil é campeão em taxas de juros.

Todos os candidatos dizem que baixarão as taxas de juros, mas é óbvio que isso vai levar seu tempo. A dívida do setor público cresceu de 30 a 60 % desde o início do plano real. Desde abril, houve um significativo crescimento nessa dívida pela instabilidade financeira. Temos um sistema dependente que precisa fazer qualquer coisa para atrair dólares. Então essa vulnerabilidade e a dependência do mercado externo devem ser diminuídas. Para isso deve-se organizar bem a atividade produtiva.

IHU On-Line- Quais as diferentes alternativas dadas pelos candidatos para diminuir essa vulnerabilidades do sistema financeiro?

Márcio Schweig- Todos dizem que ampliarão as exportações, e isso é absolutamente necessário. É uma forma de diminuir a vulnerabilidade.

Nesse sentido, Ciro Gomes se contradiz. Ele disse que vai substituir a importação, produzindo aqui aqueles produtos que são importados, mas isso depende de uma forte política de intervenção do Estado na economia.

Por outro lado, o assessor econômico de Ciro é dos mais liberais e defende a não participação do Estado. Como se conciliam essas duas atitudes?

Serra diz que ampliará as exportações e as importações ao mesmo tempo.

Ele segue uma corrente econômica, com a qual eu não compartilho, a exportação e importação diminuem o grau de vulnerabilidade financeira.

Essa postura é defendida pelos liberais com a perspectiva de uma integração do mercado mundial. Eu acho que daria mais estabilidade fortalecer a exportação e limitar a aceleração da importação.

IHU On-Line- Como aumentar a produção com as altas cargas tributárias existentes?

Márcio Schweig- É necessária a reforma tributária. Em relação a isso, ou seja, a cobrar o imposto no consumo, FHC disse que faria e não fez, porque teria que contrariar certos interesses. Por exemplo, se os produtos da cesta básica não pagassem tributos, talvez a população toda tivesse acesso à alimentação, e o imposto seria cobrado de produtos mais

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supérfluos. É uma decisão política. Nesse sentido, o Ciro se contradiz. Eu acho que não vai fazer. Garotinho nem sabe muito bem o que é a reforma tributária. Serra pode fazer, sim, uma pequena reforma. Pode ser o Lula quem vai levá-la mais adiante, porque o fato de cobrar impostos diferenciados, conforme o produto, é do interesse privado ao mesmo tempo que dos trabalhadores. As altas cargas tributárias que incidem na produção devem ser passadas, então, para o consumo. Os países modernos têm o Imposto ao Valor Agregado (IVA), que é um imposto no consumo. Com isso acabaria a guerra fiscal. FHC não fez isso, porque os governadores do Nordeste queriam levar as empresas para lá e, se o imposto não é cobrado na produção, não serviria para eles. Ciro Gomes, como Governador do Ceará, usou a guerra fiscal e levou várias empresas para lá. O PT sempre bateu muito contra a guerra fiscal. Se Lula continuar coerente com o que hoje está dizendo, ele fará urgentemente uma reforma tributária.

IHU On-Line- Como avalia as propostas econômicas do candidato Garotinho?

Márcio Schweig- O candidato Garotinho chega a ser inconseqüente na sua fala. Aumentar o salário mínimo eu acho ótimo, mas ninguém pode fazer isso, se não for dentro de um processo. Como financiaria a previdência, se aumentasse o salário agora? É uma irresponsabilidade.

Brinca um pouco com os sentimentos das pessoas. É bem um discurso para atingir as massas populares.

IHU On-Line- Por que o Sr. insiste na imprevisibilidade do candidato Ciro Gomes?

Márcio Schweig- Em um momento, Ciro disse que mandaria as contas para fora do País, e o mercado veio para cima dele. No dia seguinte, mudou. Se ele daria calote na dívida ou se bloquearia a poupança, não se sabe.

IHU On-Line- Todos os candidatos dizem que buscarão um crescimento econômico. Como o Sr. analisa as estratégias com que cada um fará crescer a economia?

Márcio Schweig- Na década de 90, o Brasil assumiu o chamado Stop and go. Trata-se de um crescimento oscilatório segundo o crescimento ou não da economia mundial. Isso é o que faz tão vulnerável a nossa economia. A China cresce 10% cada ano, nos últimos 30 anos, por isso a Ásia é o paraíso dos investidores. E a nossa instabilidade espanta o capital produtivo. Lula disse que diminuirá a instabilidade, acabando com o Stop and go, entre outras coisas fortalecendo as instituições, por isso está conversando com todos os segmentos da sociedade. Serra vai manter a opção pelo sistema financeiro, já que ele disse, por exemplo, que vai manter Armínio Fraga no Banco Central, portanto uma taxa de juros elevada e uma vulnerabilidade elevada. Claro, se a economia mundial melhorar, a nossa vai crescer, mas como saber. Garotinho tem pouca responsabilidade nesse sentido, e Benedita assumiu “uma bomba” ao assumir o governo do Rio.

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IHU On-Line- O Sr. acha que as conseqüências das decisões econômicas do próximo governo levarão muito tempo para serem percebidas, dadas as circunstâncias em que o novo presidente vai encontrar o País?

Márcio Schweig- Para mim a diferença está na concepção política, que é a marca da implementação econômica. Do ponto de vista da política econômica, há uma coisa que devemos ter clara: a economia é um processo histórico e como tal está sujeito a algumas condições. Com isso quero dizer que nenhum dos candidatos poderá fazer uma mudança a curto prazo. Mas, no curto prazo, se tomarão as decisões que vão marcar o médio e o longo prazo.

O VOTO NO CAMPUS: EM QUEM? POR QUÊ? Às vésperas das eleições, a comunidade acadêmica demonstra que, em sua maioria, já optou por seu candidato à presidência nacional. IHU OnLine percorreu o Campus para saber em quem alunos, professores e funcionários irão votar para presidente e por quê. Confira: "Vou votar no José Serra. Gosto da administração atual. Pelo menos está melhor do que já foi em outros tempos. O que acontece no Brasil, é tendência mundial. Não se justifica colocar a culpa no governo. Também tenho medo das mudanças propostas pelo PT, pela história do partido, diferente do que eles estão tentando passar".

Daniele Damim, aluna do curso de Administração

"Meu voto é para o Lula. Vou sempre de PT. É o único partido que apresenta propostas que contemplam a grande maioria da população".

Castorina Jaíra da Silva, professora do Centro de Ciências Econômicas

"É o Ciro o meu candidato. No Lula e no Garotinho, eu jamais votaria.

Assistindo ao programa eleitoral, Ciro é o candidato que me chamou a atenção. Não pelas propostas, mas pela pessoa que ele é. Não gosto nada do PT".

Cláudia Casotti, aluna de Direito

"O Ciro é o candidato mais preparado. É mais jovem, tem melhores propostas e está do nosso lado, os jovens que estão começando no mercado de trabalho."

Vinícius Palma, aluno do Curso de Direito

"Votarei no Serra, porque sou a favor do continuismo. No PT, eu não voto de jeito nenhum!"

Rodrigo Netto, aluno do Curso de Direito

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"Voto no Serra. É o candidato que, pelas propostas, apresenta melhores condições para a minha classe social. Meu interesse é econômico".

André Fischer, aluno do Curso de Direito

"É o Lula quem ganha meu voto. Penso que está na hora de mudar. Os pobres não têm direito a nada. Pode ser que a situação até piore, mas vamos arriscar essa mudança".

Janice Machado, aluna do Curso de Letras

"Ainda não decidi. Ou voto no Serra, ou no Ciro. Na verdade, quero votar contra o PT. Vou esperar para ver quem fica em segundo lugar, quando chegar um dia antes das eleições, e é nesse que vou votar. Conheço pessoas que estão de malas prontas. Se o Lula vencer, vão embora do Brasil".

Janete Buchmann, aluna do Curso de Letras

"Voto no Serra porque ele é o candidato mais preparado em termos de instrução. Ele tem mestrado, doutorado. Além da experiência na política".

Raquel Becker, aluna do Curso de Letras

"Vou votar no Lula. Com os anos, percebemos que os outros governantes trabalharam a concentração de renda e nossa classe ficou em desvantagem. Por que não dar uma chance ao Lula, que é alguém que veio dessa classe? A reforma agrária é algo que já devia ter acontecido em 1974. A situação tem que mudar. Quem acha bom é da classe alta. Nós sentimos na pele que não está nada bom".

Maurício Christ, aluno do Curso de Engenharia Civil

"Ainda não decidi, mas acho que vou de José Serra. Pela experiência ativa, por já ter ocupado cargos públicos e porque desejo a continuidade da estabilidade do plano real. As propostas do Lula até que são interessantes, mas o PT tem uma ala radical que foi sufocada nesta época de campanha. Tenho medo de que, se o Lula for eleito, essa ala reapareça e comprometa a estabilidade".

Nestor Pilz, chefe do setor de Contabilidade e Custos

"No primeiro turno, vou votar no Garotinho, apesar de ser simpatizante do Lula, em quem vou votar no segundo turno, se houver. O Garotinho ganha meu voto pelo trabalho que desenvolveu no Rio de Janeiro, por ser cristão e uma pessoa de bom caráter".

Juliandro José Noronha, Auxiliar Administrativo do Posto de Atendimento do Centro de Ciências Humanas

"Eu voto no Luís Inácio Lula da Silva. Acredito que precisamos de uma nova política, de outros rumos. Sobre os demais candidatos, nem se comenta. O Serra quer manter a situação atual, e isso é um absurdo! O Garotinho é incapaz".

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Miriam Rossini, professora do Centro de Ciências da Comunicação

UM NOVO MODELO LUIZ CARLOS BRESSER PEREIRA Folha de S. Paulo, 20-9-02 “Celso Furtado está há muito em busca de um novo modelo de desenvolvimento, embora saiba que a definição de um projeto nacional não é tarefa de uma pessoa, mas de uma nação. Em seu novo livro, Em Busca de Novo Modelo (Paz e Terra, 2002), se o nosso economista maior não encontrou esse modelo, ele pensa com grandeza e nos oferece pistas preciosas para reflexão.

Ele volta às raízes do desenvolvimento econômico: a revolução capitalista e a revolução científica. A interação entre esses dois processos deve ser buscada, de um lado, na intuição de Galileu de que a natureza seria racional e poderia ser reduzida a esquemas geometrizáveis e, de outro, no processo de acumulação capitalista que torna a racionalidade instrumental dominante.

Neste processo, porém, a industrialização tardia de países como o Brasil é muito diferente da dos países hoje desenvolvidos, porque, enquanto nestes a inovação e a difusão combinam-se para responder às próprias necessidades das sociedades, naqueles a difusão é marcada pela tentativa de imitação por parte das elites - as classes altas e médias - dos padrões de consumo do centro.

Essa reprodução dos padrões de consumo vai continuar a determinar hoje as duas tendências centrais das economias periféricas: as propensões ao endividamento externo e à concentração social da renda. Ambos os processos têm como matriz a alta propensão a consumir das elites brasileiras, em sua ansiedade em reproduzir o consumo central. Comparando o Brasil com a Índia, ele nos apresenta dados poderosos em favor do seu argumento. Embora a Índia tenha uma renda por habitante que é um quinto da brasileira, sua taxa de poupança é consideravelmente maior do que a do Brasil. Como se explica isso? Pelo fato de a renda ser muito mais concentrada no Brasil nas classes altas e médias do que na Índia. A busca da reprodução dos padrões de consumo norte-americanos está na raiz seja da concentração de renda, seja da baixa taxa de poupança. Desta, dada a própria natureza da tentativa; daquela, na medida em que a demanda para os bens de consumo de luxo produzidos depende dessa concentração.

A primeira relação parece-me indiscutível. Já a segunda, eu creio que perdeu grande parte da sua validade. Nos anos 60 e 70, quando muitos dos bens de consumo de massa estavam restritos à classe média e à classe alta, a concentração de renda já existente era reforçada pelo tipo de bem produzido.

Hoje, no entanto, creio que o agravamento da concentração de renda deve ser buscado antes no enfraquecimento relativo dos pobres para defender seus interesses e no tipo de desenvolvimento tecnológico, que aumentou a demanda de trabalho qualificado. Mais importante na análise de Furtado, porém, é o fato de que as classes beneficiadas com essa concentração não se revelam à altura de seu papel de elite. Ao copiarem os padrões de consumo norte-americanos, não poupam para investir e endividam o país no exterior. A acusação de prática de populismo econômico, que essas classes usam para atacar os políticos populares, é indevida,

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porque é o consumo delas, e não o dos pobres, que leva ao déficit público e, principalmente, ao "populismo cambial" - a valorização artificial do câmbio, em nome do combate à inflação, para facilitar o consumo de bens e serviços com considerável componente importado. Não são os pobres que adquirem bens importados.

Celso Furtado concentra, assim, sua análise no consumo das elites. Estou de acordo, mas seria ainda mais severo. É patético o fracasso político dessas elites. Enquanto as elites cafeeiras do Oeste paulista e, mais tarde, as elites industrias e tecnocráticas, que surgiram entre os anos 30 e 50, foram notáveis em promover o desenvolvimento nacional, as elites de hoje, alienadas em um grau impensável, fracassam na sua missão de dirigir o país. Ao reproduzirem os padrões de consumo do centro, reproduzem também, de forma acrítica, a ideologia externa. Em vez de definirem qual o interesse nacional e o defenderem, dedicam-se ao confidence building. O que lhes interessa é saber o que os estrangeiros pensam do Brasil, não o que o Brasil pensa sobre seu futuro.

Celso Furtado percebe este fato quando afirma que "o ponto de partida do processo de reconstrução que temos de enfrentar deverá ser uma participação maior do povo no processo de decisão" (pág. 36), mas em seguida, contraditoriamente, ele manifesta sua esperança de que os intelectuais ajam como uma vanguarda para evitar que a mancha de irracionalidade se alastre. Não creio que os intelectuais tenham essa capacidade ou mesmo essa virtualidade. Só vejo esperança para o Brasil na medida em que a democracia se aprofunde, que círculos cada vez mais amplos da população se envolvam no debate público, estabelecendo limites para a alienação das classes médias e altas. Furtado tem toda a razão quando diz que a questão central é saber se temos ou não possibilidade de preservar nossa identidade cultural e nacional. De forma talvez igualmente contraditória, estou seguro de que a temos, não obstante toda a força da ideologia "globalista", que insiste na tese da crescente debilitação dos Estados nacionais.

Na globalização, os Estados nacionais são mais interdependentes, mas precisam ser cada vez mais fortes. Globalização é competição entre empresas nacionais (convencionalmente chamadas de multinacionais) em nível mundial. O que os governos dos países ricos fazem é defender o capital e o trabalho nacionais, ou seja, suas empresas nacionais. O Brasil não tem outra alternativa, a não ser fazer o mesmo.

No mês de junho deste ano, foi firmado o acordo entre a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e a Unisinos para a implantação de uma Cátedra na Universidade. A Cátedra da Unesco na Unisinos desenvolve o tema Trabalho e Sociedade Solidária. Deve-se essa escolha ao fato de a Universidade já desenvolver projetos com a temática e porque não há, ainda, nenhuma cátedra com este tema. Ela consiste em um programa de atividades com

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eventos, pesquisa e ensino. Na Unisinos, a Cátedra possui a função de integração entre os PPGs por meio de temas específicos e de proposição de parcerias internacionais.

Para a realização das atividades, foi formada uma comissão interna, que já se reuniu três vezes. Ela é constituída por representantes de seis Programas de PósGraduação, com linhas de pesquisa que englobam a temática da Cátedra na Universidade. Os PPGs representados são os quatro do Centro de Ciências Humanas - em Ciências Sociais Aplicadas, em Filosofia, em Educação e em História - o PPG em Ciências da Saúde e o PPG em Direito. O coordenador do Projeto é o Prof. Dr. Domingos Armando Donida, do PPG em Ciências Sociais Aplicadas. Também é neste PPG que a sede física da Cátedra está instalada.

Segundo o Prof. Donida, está em fase de transição a inclusão do Instituto Humanitas Unisinos por meio do Grupo Temático Trabalho e da Unitrabalho na Comissão da Cátedra, uma vez que estes se inserem no contexto e nas exigências da proposta apresentada à Unesco. "A Cátedra Unesco tem duas dimensões.

Internamente, ela tem característica interdisciplinar, de preferência na área da pósgraduação, e, externamente, de parcerias internacionais. Estamos negociando parcerias e intercâmbios com Universidades do Mercosul e do mundo inteiro", anuncia o Prof. Donida. A parceria com duas universidades latino-americanas estão em fase de efetivação. São elas a Universidad General Sarmiento, de Buenos Aires e a Universidad Alberto Hurtado, do Chile.

Atualmente, a Unesco tem cerca de 70 cátedras no mundo e cerca de 20 no Brasil.

Ela dá preferência a países em desenvolvimento. Está em negociação, também, a data de um evento que reúne a parceria entre a Unisinos, José Luiz Coraggio, da Universidad de Buenos Aires, e a UERGS.

No último sábado, dia 28, o professor Vergílio Perius, do Setor Trabalho, Solidariedade e Sustentabilidade, ministrou palestra no Encontro do Fórum das Cooperativas da Região de Ijuí. O assunto da explanação foi a Nova Lei Cooperativista, com abordagem do tema paralelo "trabalho formal e informal na lei".

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No último dia 13 de setembro, os professores do Setor Trabalho Solidariedade e Sustentabilidade do Instituto Humanitas Unisinos, Vergílio Perius, Derli Schmidt e Otto Konzen, participaram do Seminário de Avaliação do Curso de Especialização: Gestão e Controle de Cooperativismo/UNICRED: CEGECRED em Taquari. Os temas abordados foram: Captação cooperativa de crédito, Sobras e despesas em cooperativismo de crédito, e Experiência da CERTAJA (Cooperativa Regional de Desenvolvimento Rural de Taquari) com o processo de incorporação de outras cooperativas da região.

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Acontece hoje o III Encontro do Programa A União Faz a Vida - Sicredi na Unijuí.

O Instituto Humanitas Unisinos esteve presente com o Prof. Vergílio Perius, do Setor Trabalho, Solidariedade e Sustentabilidade. O tema do encontro é Questões filosóficas e metodológicas sobre o Programa A União Faz a Vida.

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, Na última quinta-feira, aconteceu, na Universidade, a I Jornada de Bioética, promovida pelo Centro de Ciências da Saúde e coordenada pelos professores doutores José Roque Junges e Lucilda Selli. IHU On-Line conversou com os dois palestrantes do evento, Volnei Garrafa e José Roberto Goldim.

DESAFIOS DA BIOÉTICA Volnei Garrafa é Doutor em Ciências pela UNESP; Pós-Doutor em Bioética pela Universidade de Roma; membro titular da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde; presidente da Sociedade Brasileira de Bioética; e presidente do Sexto Congresso Mundial de Bioética, que acontece de 30 de outubro a 3 de novembro em Brasília. O tema do encontro deste ano é Bioética, Poder e Injustiça, dando ênfase ao problema da exclusão social.

A temática, desenvolvida por Volnei na Jornada de quinta-feira, foi Desafios Atuais da Bioética. O palestrante conversou com IHU On-Line a respeito das questões levantadas e sobre o Congresso Mundial.

IHU On-Line - Quais seriam hoje os principais desafios da Bioética?

Volnei Garrafa - Eu classifico a Bioética em dois grandes campos: a Bioética das situações persistentes e a das situações emergentes. Situações persistentes são aquelas que persistem teimosamente desde a antiguidade, dos temas cotidianos, como a exclusão social, racismo, discriminação da mulher, abandono de idosos e crianças, o tema do aborto e da eutanásia, a questão da priorização na alocação de recursos em saúde, etc. No campo das situações emergentes, entrariam os temas da fecundação assistida, clonagem, engenharia genética, transplante e doação de órgãos, novas técnicas de pesquisa com seres humanos, etc. Eu diria que, na pauta do século XXI, nós temos um tópico fundamentado em cada uma das duas áreas.

No lado das situações de limites, de fronteiras ou emergentes, sem dúvida nenhuma, o tema da engenharia genética e da clonagem estão na pauta do dia. E no lado das situações persistentes, o tema da exclusão social. Tanto que o tema do Congresso Mundial de Bioética deste ano é justamente Bioética, Poder e Injustiça.

IHU On-Line - Na condição de presidente do Sexto Congresso Mundial de Bioética, o Sr. pode explicar a escolha do tema? O que faz o mundo inteiro se reunir para falar de Poder e Injustiça relacinado à Bioética?

Volnei Garrafa - O desenvolvimento científico e tecnológico da última metade do século XX, ao invés de tornar-se democrático ou acessível para a maioria das pessoas do mundo, nos trouxe descobertas extraordinárias, mas caras e inacessíveis.

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Três quartas partes dos habitantes do planeta, ou seja, quatro bilhões e meio de pessoas, não têm acesso aos frutos das descobertas. Então nós queremos discutir nesse Congresso, sob o prisma da Bioética, exatamente formas de incluir mais pessoas nesse processo. Como a Bioética é ética prática, ética aplicada, nós temos que buscar respostas concretas. O Brasil tem uma resposta concreta nesse sentido, na quebra de patentes para medicamentos anti-retro-virais, contra o vírus do HIV, coquetéis anti-aids, que são caríssimos, porque as patentes são caras. Partindo da premissa de que a vida é o bem maior, que medicamento é direito humano, a Organização Mundial de Saúde já acatou isso, é já levou para a Organização Mundial do Comércio. O Brasil defende que, quando existe risco de vida em certos setores para a saúde pública, a patente do medicamento pode ser quebrada, o remédio pode ser fabricado sem pagamento de royalt. Então essa é uma forma prática de podermos discutir Bioética em Poder e Injustiça, aplicada realmente.

IHU On-Line - O Sr. afirma na apresentação do folder do Congresso que a Aids e a malária matam aproximadamente o mesmo número de pessoas por ano. Porém os investimentos na primeira são 50 vezes maiores do que os investimentos na segunda. Considerando-se que os problemas da pobreza não comovem o mundo financeiro, de que forma a Bioética pretende atuar, na prática, nesse sentido?

Volnei Garrafa - Hoje infelizmente a priorização da pesquisa não se dá pela demanda, pelas necessidades, e sim pelo mercado, pelo que vende. Então esse exemplo da malária e da Aids acho que é muito prático. Em 1999, morreram, no mundo, dois milhões de pessoas de malária e dois milhões de de Aids. Só que a inversão econômica nas pesquisas anti-aids foram 50 vezes maiores do que as inversões nas pesquisas antimalária. Razão: Aids mata rico e pobre, malária só mata pobre. Malária é uma doença que não dá lucro. É impressionante como os países desenvolvidos abandonaram realmente a pesquisa com essas chamadas doenças tropicais. Nós queremos chamar a atenção para o aspecto de que a vida é o bem maior. E o que deve definir a priorização nas pesquisas deve ser a epidemiologia, a demanda, a necessidade. E não aquilo que é mercadologicamente mais viável sob o ponto de vista financeiro.

IHU On-Line - O Sr. considera como grandes desafios atuais a clonagem e a eutanásia. De que forma a Bioética interpreta e lida com estas duas questões tão polêmicas, discutidas com ênfase, nas disciplinas de Ética das Universidades?

Volnei Garrafa - Sobre clonagem, a primeira coisa é desmistificar a palavra clonagem. É uma palavra que assusta, assim como eutanásia e aborto. A clonagem é uma técnica e tem que ser vista dessa forma. Temos que separar clonagem reprodutiva de clonagem terapêutica. A reprodução pura e simples de um clone não tem defesa ética, eu sou contrário. Acho que, para o futuro, nós podemos até discutir. Mas no momento, há uma insegurança técnica para a clonagem reprodutiva. Não temos nenhuma evidência de que isso seja seguro. Há uma absoluta ausência de um debate moral sobre o tema. Ela é afastada nesse momento histórico. A clonagem terapêutica tem grandes benefícios. Ela tem um campo imenso para o futuro. Vai se transformar numa das grandes formas de terapia.

Entra, então, a discussão da utilização de células-tronco humanas adultas, célulastronco de cordão umbilical ou de embriões humanos, criando-se um conflito moral que a Bioética tem como tema de discussão. Sobre a eutanásia, acho que o Brasil tem que tratar urgentemente do tema da despenalização da eutanásia passiva. Os médicos, por caridade, muitas vezes, decidem não investir mais num paciente canceroso terminal, que, por exemplo, tenha uma pneumonia. Ele não vai dar

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antibiótico para prolongar mais uma semana, mais uns dias, a vida desse paciente; porém ele pode ser penalizado por isso. A palavra eutanásia parece uma palavra feia, a partir do que os nazistas fizeram com os judeus, com crianças, com mulheres, com negros. Na verdade, eles não faziam eutanásia, faziam assassinatos.

A eutanásia ativa é aquela praticada, por exemplo, na Holanda, por lei, que a Bélgica esta semana também assumiu. A eutanásia passiva é aquela do "deixar morrer". Há um tema dentro da eutanásia que se chama distanásia, o prolongamento artificial da vida. Os espanhóis chamam de "encarniçamento terapêutico" e os americanos chamam de futility, futilidade. Isso também não é possível. As pessoas devem ter o direito de morrer na hora certa e com dignidade. Nós usamos muita tecnologia para nascer e para viver, temos que usá-la também para morrer. No entanto, precisamos de boas leis e que estejam de acordo com a moralidade da sociedade. A não-punição, a descriminalização da eutanásia passiva, do "deixar morrer com dignidade", na hora certa, tem que ser incluída no código penal. ÉTICA EM PESQUISA COM SERES HUMANOS Na parte da tarde, durante a Jornada de Bioética, o professor José Roberto Goldim esteve desenvolvendo o tema Ética em pesquisa com seres humanos.

Goldim é doutor em Medicina (Bioética) pela UFRGS; mestre em Educação pela UFRGS; licenciado em Ciências Fisiológicas pela UFRGS; e biólogo do Grupo de Pesquisa e Pós-Graduação do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

A seguir, em entrevista concedida ao IHU On-Line, o Prof. Goldim esclarece as questões éticas sobre a pesquisa envolvendo seres humanos.

IHU On-Line - Como é regulamentada a questão da ética na pesquisa com seres humanos?

José Goldim - A resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde tem uma importância muito grande, porque ela trouxe, para a Bioética mundial, uma inovação fundamental, que foi uma enorme participação popular na elaboração.

Quando o professor William Saad Hossne coordenou o grupo de trabalho que elaborou a resolução, ele chegou a consultar, na época, mais de 30 mil pessoas. Isso foi inovação, porque a maioria dos documentos sempre foram elaborados por grupos pequenos, tidos como experts em determinados assuntos. Dentro do movimento social que se tem no Brasil na área da saúde, de controle social, isso pôde se expressar de uma forma bem contundente na área da pesquisa. É um documento que tem algumas falhas, mas, na sua maior parte, é bom, uma das melhores regulamentações de pesquisa que se tem no mundo e que trouxe para o Brasil uma possibilidade de se ter um documento com uma equiparação legal, apesar de não ser uma lei, que possibilita, efetivamente, proteger as pessoas que estão fazendo parte de um projeto de pesquisa. O que dá pena é que, de 1996 para cá, ainda não conseguimos fazer isso com os animais, que é uma questão extremamente urgente.

IHU On-Line - Quais seriam as questões éticas de maior repercussão quando o assunto é pesquisa envolvendo seres humanos?

José Goldim - O objetivo de toda e qualquer pesquisa deve ser a realização do ser humano. Esse é o grande pano de fundo da pesquisa. O segundo ponto é ter clareza de que o fundamental é manter o princípio do respeito à pessoa. Aí entra uma série de características: a autonomia de dizer a verdade, de preservar a privacidade das pessoas envolvidas, de garantir a voluntariedade das pessoas, de ter um cuidado especial com populações vulneráveis. Um bom instrumento para fazer isso é o

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consentimento informado. É um processo que visa a preservar essa relação de respeito à pessoa. Outra coisa que precisamos discutir, cada vez mais, atualmente, em Bioética, é trabalhar com a noção de confiança. É buscar o que está por trás da relação entre um pesquisador e um participante de pesquisa, que não é uma relação instrumental, abusiva do pesquisador sobre as pessoas. E temos aquele pensamento equivocado de chamar participante de pesquisa de "cobaia humana". É uma relação entre duas pessoas, a do pesquisador com a do participante, na qual o vínculo que se estabelece é de confiança recíproca. Um de que não está sendo convidado para uma situação abusiva, e o outro de que, efetivamente, vai respeitar aquele participante, porque ele vai fornecer informações que são fundamentais para o avanço da ciência.

IHU On-Line - De que forma são desenvolvidos os projetos de pesquisa no Hospital de Clínicas de Porto Alegre ?

José Goldim - Nós tivemos, no Hospital, o primeiro Comitê de Ética em Pesquisa que funcionou no Brasil, criado em 1974. Na época, era só uma comissão científica, mas que já avaliava aspectos éticos desde o início. Em 1989, o Clínicas passou a ter o Comitê de Ética em Pesquisa e, com a nova regulamentação em 1997, foi o primeiro comitê a ser credenciado pelo Brasil na Resolução 196. Atualmente nós temos mais de 3.500 projetos avaliados pelo Comitê. Todos os projetos realizados no Clínicas, desde 1985, estão arquivados com os pareceres. Então conseguimos monitorar como a avaliação é feita. Nosso comitê hoje tem 19 membros. As reuniões são mensais, e a média de projetos novos por reunião é de 40. O hospital conta hoje com cerca de 600 alunos de pós-graduação trabalhando, 1.500 alunos de graduação, cerca de 600 professores e outros profissionais de saúde contratados, em uma média de 1000, 1100 projetos em execução simultânea. Tivemos que desenvolver uma estrutura de controle, que eqüivaleria, numa universidade, a uma pró-reitoria de pesquisa. Isso para monitorar os projetos e acompanhar reações adversas. Paralelamente à parte de pesquisa, implantamos, em 1993, um comitê de bioética no hospital para ajudar na parte de assistência. Já estamos com a casuística de 500 casos acompanhados, documentados. Foram mais de 500 situações, em que um profissional de saúde, um familiar, um paciente, ou a administração da instituição chamou o grupo para fazer uma reflexão em conjunto. Só entramos, quando existe uma situação de conflito entre um profissional e um paciente, uma situação de desconforto do profissional em tomar uma determinada decisão, quando o paciente ou familiar quer verificar se tem direito a fazer uma reivindicação. São questões delicadas, que envolvem a privacidade dos pacientes, situações de início e fim de vida. Atuamos muito de perto com o programa de reprodução assistida do hospital, que envolve a questão da produção de embriões e de doação de sêmen.

IHU On-Line - Como o Sr. encara a questão da eutanásia passiva sob o ponto de vista da Bioética?

José Goldim - Trabalhamos com o pessoal das Unidades de Terapia Intensiva, no acompanhamento de pacientes terminais, no sentido de evitar tratamentos desnecessários, visando a que os pacientes tenham um final de vida adequado.

Mesmo quando não se tem mais nenhuma opção terapêutica para oferecer, que continue se oferecendo para eles um cuidado adequado, de controle de dor, de hidratação. As pessoas, às vezes, confundem um tratamento adequado de fim de vida com a eutanásia passiva. Nem sempre a retirada de equipamentos e procedimentos caracteriza uma eutanásia passiva. O que importa é a intenção que está por trás da ação. Se a intenção é matar a pessoa, obviamente é uma eutanásia passiva, mas se a intenção é adequar aquele final de vida a um processo no qual a

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pessoa ainda possa resgatar alguns momentos de felicidade, consiga ainda preservar o mínimo de qualidade de vida, eu discordo que isso seja eutanásia passiva. É muito sutil a diferença entre um enfoque e outro. Só que é mais fácil falar em eutanásia passiva, porque há um desconforto em discutir esse assunto. A Bioética entra de uma forma decisiva para tentar justificar determinadas ações, para tentar, de alguma forma, trazer essa discussão não para um plano meramente emocional ou de opinião, mas com uma noção de complexidade, em que se abarcam diferentes visões simultaneamente.

IHU On-Line - Quais são os tipos de pesquisa mais trabalhados com seres humanos no Hospital de Clínicas de Porto Alegre?

José Goldim - Na área da saúde, hoje, temos um avanço enorme no número de projetos na área da farmacologia experimental. Testes de novos medicamentos e de novas vacinas, principalmente. De quatro anos para cá, multiplicou cinco, seis vezes o número desses projetos. No Hospital de Clínicas, nós temos umas áreas chaves hoje em dia: a de farmacologia experimental, a de pesquisa em genética, a parte de endocrinologia e de cardiologia. Há uma parte interessante no Hospital de reabilitação na área de psiquiatria. Há, atualmente, mais de noventa especialidades de pesquisa.

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A temática das relações de gênero na Unisinos terá novidades nos próximos dias. O - NUIEG (Grupo de Estudos Interdisciplinares sobre Relações de Gênero e História das Mulheres na América Latina) esteve reunido na última semana para definir metas de ação para este semestre ainda e para o ano que vem. O Grupo é novo e pretende estimular a produção de trabalhos na área e realizar intercâmbios culturais com outras instituições voltadas para o estudo e conhecimento na área.

Com data prevista, a princípio, para 22 de novembro, foi agendada a primeira Jornada promovida pelo NUIEG. Será um dia de apresentação de trabalhos sobre o tema, realizados por alunos, professores e membros da comunidade acadêmica que se interessarem pela proposta. Está prevista, também, uma integração com almoço ou coquetel. "Nosso objetivo com esta jornada é apresentar o Núcleo para a Universidade, o que ele é, e o que faz. Queremos saber e esclarecer o que se faz na Unisinos sobre a questão do gênero", comenta a Profa. Cleci Favaro, integrante do NUIEG. Como o tema interessa a todos, a equipe deixa claro que os homens não devem se sentir excluídos, pois há diferenças entre a temática de gênero e o papel da mulher na sociedade.

Para o ano que vem, o grupo pensa em realizar uma atividade especial no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, com o objetivo de discutir e entrelaçar a programação do Núcleo com a academia e com a comunidade externa. Uma parceria com o Centro Ecumênico de Evangelização, Capacitação e Assessoria CECA, aqui de São Leopoldo, para trazer à Universidade as pessoas que atuam nas comunidades, está acertada. Haverá também outras novidades, sendo uma delas uma celebração ecumênica para unir mulheres de diferentes credos.

A Profa. Cleci Favaro comunicou às pessoas presentes o andamento do processo de parceria com a Universidade de Turim (Itália), com a Universidade do Porto (Portugal), com a Universidade de Rosário (Argentina) e com a Faculdade de Teologia, do Morro do Espelho (São Leopoldo).

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Passado o plebiscito que mobilizou o país com a questão da adesão ou não do Brasil à Área de Livre Comércio das Américas, IHU On-Line publica uma mensagem da CNBB sobre a questão.

Irmãos e irmãs Alegres na esperança, saudamos a todos que fizeram parte deste grande esforço nacional pela cidadania soberana, que foi o Plebiscito sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), ocorrido de 1º a 7 de setembro de 2002, coordenado pela Campanha Jubileu Sul/Brasil, com a participação de várias Pastorais e Organismos da CNBB. Alegramo-nos também com o empenho de igrejas, entidades, movimentos sociais e organizações que participaram da iniciativa, bem como de todas as pessoas que trabalharam ativamente na realização da consulta. Ao mesmo tempo, louvamos a participação ampla de milhões de cidadãos e cidadãs que deixaram suas casas para manifestar um patriotismo vivo e ativo na construção de novos caminhos. Com isso, difunde-se a consciência de que o plebiscito é um instrumento legal e democrático, reconhecido pela Constituição Brasileira, artigo 14, inciso I, através do qual os mais diversos setores da sociedade podem contribuir com propostas alternativas para o destino do país. O pleito, realizado em conjunto com o Grito dos Excluídos, somou números impressionantes. Cerca de 42 mil urnas recolheram os votos em 3.894 municípios dos 27 estados da Federação. Foram 10.149.542 votantes, dos quais mais de 98% disseram não à participação do Brasil na Alca e à entrega da Base de Alcântara para o controle militar dos Estados Unidos.

Em toda sua trajetória, a consulta envolveu mais de 50 entidades em nível nacional e centenas de outras em âmbito regional e local. Acima de 150 mil voluntários trabalharam no processo de organização e realização da consulta. O sucesso do plebiscito, entretanto, não está apenas nos números. O grande êxito da consulta refletiu-se nos milhares de debates e seminários que se espalharam por escolas, universidades, sindicatos, igrejas, associações, movimentos populares e por tantos outros espaços públicos. O pleito, livre e popular, deslocou o tema dos gabinetes e o levou às ruas, às casas e até a grande parte da mídia. Aqui está sua maior lição: a população tem o dever e o direito de debater os temas que afetam a vida do povo brasileiro. Neste sentido, a iniciativa representou um exercício pedagógico e democrático de cidadania. Outra lição foi a parceria entre dezenas de entidades diferentes, mas unidas na meta comum de estender a todo país o processo de reflexão, organização e votação. Mas o plebiscito foi uma etapa do processo. A Alca ainda permanece como uma ameaça aos povos latino-americanos. Em documento recente, dizíamos que “a potência hoje hegemônica no mundo vem pressionando nosso país a aderir ao projeto da Alca que ameaça aumentar a submissão do Brasil e de toda a América Latina aos interesses da economia dos Estados Unidos” (Cfr. Documento 67 da CNBB, Eleições 2002 – Propostas para Reflexão, nº 16). Diante disso, os mais de dez milhões de votantes da consulta popular nos incentivam a continuar na campanha. O principal passo que temos pela

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frente é o lançamento nacional de um abaixo-assinado pela realização do Plebiscito Oficial. Apelamos a todos os nossos parceiros no sentido de permanecermos unidos nessa meta comum, fortalecendo os comitês locais e coordenações estaduais. Lê-se no Evangelho que as multidões corriam ao encontro de Jesus porque “Ele falava como quem tinha autoridade” (Mc 1,22). Era uma autoridade moral que nascia de um coração compassivo e sintonizado, ao mesmo tempo, com o Pai e com o sofrimento dos mais excluídos. Seguindo os passos do Mestre, a Igreja realiza sua missão na observância do chamado divino e no apelo ao clamor dos pobres. Daí a importância de acompanhar de perto as alegrias e as esperanças do povo na construção de uma nação livre e solidária, fraterna e soberana.

Brasília/DF, 25 de setembro de 2002 Além dos números citados na mensagem acima, constam a seguir os estados brasileiros com maior número de votantes, inclusive o Rio Grande do Sul, que obteve a sexta posição.

O Rio Grande do Sul ficou em sexto lugar entre os estados brasileiros no número de votantes a participar do plebiscito da Alca, com um total de 548.512 votantes, dos quais 3.804 foram obtidos na Unisinos. Em primeiro lugar ficou o Estado de São Paulo, com 2.337.063 votos; em segundo lugar ficou o Estado de Minas Gerais, com uma soma de 1.297.750 votantes; em terceiro lugar está a Bahia, com um total de 770.067 votos; em quarto lugar está o Estado do Rio de Janeiro e em quinto ficou o Paraná com 742.254 e 706.009 votos respectivamente.

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Traduzimos e reproduzimos na íntegra a entrevista de Jean Delumeau, historiador francês, com o título Usa-se o medo porque se tem medo. É autor, entre outros, dos livros A história do medo no Ocidente – 1300-1800 e A confissão e o perdão. As dificuldades da confissão nos séculos XIII XVIII, ambos publicados pela Companhia das Letras, respectivamente em 1989 e 1991. A entrevista versa especialmente sobre o primeiro deles. El País, 17-08-02. O subtítulo é nosso. A tradução foi feita pelos colegas do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT com sede em Curitiba.

El País: Houve tempo em que se tinha medo da peste, dos turcos, dos hereges, das bruxas, dos pobres... Hoje temos medo da Aids, do Islã, dos imigrantes, dos pobres... Existe uma continuidade nos medos?

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Jean Delumeau: Certas comparações são aceitáveis. O medo do mendigo, sua utilização como bode expiatório pode equiparar-se ao modo como os ultraliberais pintam hoje o pobre, visto como vagabundo que vive às custas da sociedade, quando não é apresentado como um potencial assassino. Mas a opinião pública européia recusa esta visão assim como recusa a linguagem religiosa de Bush, que excita a paranóia e propicia o choque de civilizações. Os Estados Unidos deveriam fazer um exame de consciência. O terrorismo é injustificável, mas é difícil acreditar que possa desaparecer enquanto o problema palestino esteja aí, como tumor, enquanto o país mais poderoso do planeta se nega a reconhecer certos acordos internacionais, quer sejam os de Kyoto relativos ao meio ambiente, quer sejam os de um tribunal capaz de julgar determinados crimes, ou enquanto não se aceita como irremediável a miséria do Terceiro Mundo. As comparações não devem nos fazer esquecer que nós vivemos uma época em que o medo não é uma presença diária, como o foi durante séculos. Na época em que estudei, um francês sabia que a cada oito anos, numa cidade ou região de seu país, haveria uma epidemia de peste, que ao longo de sua vida poderia ser assaltado, que cada noite passada fora da cidade era um risco, que quando o sol se punha não era mais conveniente sair às ruas. E isso sim é diferente: hoje as cidades são mais perigosas do que os povoados.

O MEDO COMO FATOR ESTRUTURANTE OU DESESTRUTURANTE DA SOCIEDADE El País: A noção de ‘cristandade’ em perigo, ameaçada em sua unidade, tem sua versão laica no Estado ou na nação frente ao inimigo.

Delumeau: Hitler fez isso, brandiu o espectro da pátria em perigo diante do complô judeu-massônico e bolchevique para assegurar a unidade do povo em torno de sua pessoa. Mas ele era o primeiro em acreditar neste complô. Em outros de meus livros, analiso fatores que intervêm na maior ou menor importância que o medo tem como elemento estruturante ou desestruturante de uma sociedade. Em Le péché et la peur (O pecado e o medo) mostro como o discurso cristão, na metade do século XIV, aumenta a noção de pecado e dá cada vez mais importância ao inferno, ao castigo. No Islã, o pecado é menos importante, mas, por sua vez, o tabu tem mais importância. Nós somos mais individualistas, viemos do exame de consciência, o mesmo que deu lugar à moderna literatura introspectiva ou psicanalítica. Em outros livros, me ocupei dos recursos com os quais dotamos os seres humanos para combater o medo. Em Rassurer et proteger (Consolidar e proteger), falo de certa iconografia religiosa, da virgem que nos protege sob seu manto, da proliferação de bênçãos, da multiplicação de orações especializadas, de como se exorcizavam as plantações, enfim, de como se lutava contra o medo na terra ou no além. E me interessei pelo paraíso, pela maneira como foi descrito e pintado. O tema dos anjos músicos, por exemplo, deu pé a maravilhosas representações do céu, como a de um extraordinário quadro flamenco que vocês têm no museu de arte de Bilbao.

Não só me interessei pelo medo, sabe. Minha especialidade é o Renascimento; tenho paixão pela pintura de Leonardo e de Miguelangelo, os aspectos positivos de nossa cultura cristã. Sou crente e vivi minha época, a ameaça nuclear, os excessos técnicos de nosso mundo que coloca o Planeta em perigo, a inquietude diante da manipulação genética e, sobretudo, a explosão do desemprego, que conduz à desestabilização do indivíduo, à expansão de um medo coletivo. É o temor deste século XXI que está começando.

TEMORES QUE VOLTAM Traduzimos e publicamos na íntegra o artigo de Juan A. González Iglesias sobre o livro de Jean Delumeau, A história do medo no Ocidente – 1300-1800. São Paulo:

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Companhia das Letras, 1989. Lançado originalmente em 1978, o livro é lido sob nova perspectiva depois dos atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos. El País, 17-08-02. Os subtítulos são nossos.

Dizer que um intelectual é francês é uma redundância. Jean Delumeau responde perfeitamente a certo arquétipo: universitário de prestígio, professor do Colégio da França durante 20 anos, distinguido com a Legião de Honra... Mais particularmente foi definido como um católico de visão aberta. O volume de homenagens que recebeu em 1997 levou o significativo título de Homo religiosus. A partir de sua especialidade (história das mentalidades no Ocidente moderno), pesquisou determinadas noções como o paraíso, o perdão, a confissão, a esperança e o medo.

Estas histórias setoriais são complementares da história geral, nas quais se baseiam.

Percorrem sob uma determinada luz o passado que acreditávamos conhecer. Até 1978, quando foi lançado o livro, só existiam aproximações parciais à história do medo, apesar de a literatura, a iconografia artística, o cinema ou a psiquiatria terem levado à primeira linha dos seus interesses, por considerá-lo um dos sinais da humanidade. O medo, propõe Delumeau, esteve ausente da história por hipocrisia, na medida em que a história do Ocidente, aparentada com a épica, quando não sua herdeira, queria só heróis. Por isso não quis saber desse sentimento associado aos covardes. Diante deles, nomes tão significativos como os de João sem Medo ou Carlos, o Temerário. Dom Quixote repreende o medo de Sancho, e Don Juan o do seu servente sevilhano. Evidentemente que já Virgílio havia considerado o medo como prova de nascimento humilde.

CLASSIFICAÇÃO DOS MEDOS Delumeau entra na delicada tarefa de classificar os tipos de medo: natural ou cultural, individual ou coletivo. Ele estuda os medos coletivos e culturais. Não em vão entende que sua tarefa como historiador é ‘a transposição do singular ao plural e do atual ao passado’. Cronologicamente se centra no período compreendido entre os séculos XIV e XVIII. Logicamente, as bruxas, o demônio, a morte, a magia, o inferno, o juízo final, a religião cristã e as outras religiões se erigem em protagonistas. Alguns capítulos beiram a magnitude de monografias. Os capítulos que tratam do medo do homem em relação à mulher elaboram um horrível tratado do que foi a misoginia ocidental (com valiosas informações sobre o sacerdócio feminino na Igreja Católica). Outros medos (do judeu, do muçulmano, das festas pagãs, da blasfêmia, dos mendigos) me parecem variações do mesmo tema: é o medo multiforme daquilo que o autor denomina ‘a política cristã’ na Europa das reformas protestante e católica. Falta no livro um tratamento mais atencioso ao que poderíamos chamar de medos simétricos. O que acontece com o medo da mulher em relação ao homem? E com o que tantas pessoas tiveram em relação à Inquisição?

EPICURO: NOME ESQUECIDO O período que Delumeau escolheu (parte da Idade Média e parte da Modernidade) é o mais representativo do Ocidente só pela quantidade de medos. De acordo com seus pressupostos, entre os temas deste livro estão os fantasmas, mas não a filosofia. Da Antiguidade, se mencionam deuses arcaicos que, às vezes, eram apenas nomes (Deimos, Phobos, Pavor e Pan, que dará pânico), mas não se analisa o filósofo definitivo como referência histórica prévia. Muito antes desse retrocesso para o medo que o Ocidente cristão conhece, Epicuro já se propôs a libertar o homem dos medos que o torturavam, incluídos os das religiões ou das superstições (dá no mesmo se logo chamem isso de Inquisição ou bruxas). Apenas um filósofo

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pode partir em duas a história, já o dizia Nietzsche. Epicuro partiu em duas a história do medo no Ocidente, e sua referência deveria ser inevitável em qualquer análise de épocas posteriores. Às vezes, custa aos nossos historiadores escrever a história como retrocesso.

Luiz Carlos Bresser Pereira, 68, é professor de economia da FGV-SP e professor visitante de teoria política na USP. Foi Ministro da Ciência e Tecnologia e da Administração Federal e Reforma do Estado (governo FHC), além de Ministro da Fazenda (governo Sarney).

ESTA ELEIÇÃO SERÁ HISTÓRICA PARA O BRASIL LESLIE BETHELL ' Leslie Bethell, diretor do Centro de Estudos Brasileiros de Oxford, afirma que até 13 anos atrás o país não era democrático. Ele concedeu uma entrevista ao Jornal do Brasil, 28-9-02, que reproduzimos na íntegra.

Organizador da maior História da América Latina já publicada, com 12 volumes previstos (cinco deles já lançados no Brasil pela Edusp e 11 na Inglaterra), o historiador Leslie Bethell é antes de tudo um brazilianista de carteirinha.

Apaixonado pelo país que conheceu na década de 60, chega ao ponto de achar que o Brasil não ganha muita coisa, hoje, em ser considerado parte da América Latina, lembrando que o conceito foi criado artificialmente no século 19 pelo império francês para criar uma fronteira fictícia entre os países americanos de língua latina e religião católica e os anglo-saxões protestantes.

A predileção pelo país também se verifica na fundação, pelo historiador inglês, do Centro Universitário de Estudos Brasileiros de Oxford, que comemora seu quinto aniversário. Para se ter uma idéia, entre as dez mais importantes universidades do mundo, apenas Oxford tem um centro de estudos avançados dedicado exclusivamente ao Brasil, enquanto não faltam centros de estudos sobre a América Latina.

- Em todos eles, é justo falar, o Brasil têm sido relativamente negligenciado - afirma o historiador, que orgulha-se de ter transformado o núcleo de estudos de Oxford no principal centro acadêmico de estudos sobre o Brasil fora do país. Seu objetivo é promover um maior entendimento do Brasil - sua história, sociedade, cultura, política, economia, ecologia e relações internacionais - no Reino Unido e na União Européia, através de pesquisa, ensino de pós-graduação, conferências, seminários e publicações. E também encorajar o estudo do Brasil num contexto comparativo internacional. O centro busca ainda criar condições para que acadêmicos e intelectuais brasileiros possam aprofundar-se em seu próprio entendimento sobre o país e seus problemas.

Vão a Oxford, por ano, cerca de 40 a 50 brasileiros, alguns apenas por poucos dias, outros por períodos de três a nove meses. O centro é constituído por uma parceria sem precedentes da universidade, governo, o setor público, o setor privado da Inglaterra e o do Brasil e terceiro setore.

Ao longo de todo o mês, Leslie Bethell esteve no Brasil para divulgar as atividades do centro e firmar convênios com universidades brasileiras. Aproveitou para lançar

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a versão em português de Brasil: fardo do passado, promessa do futuro (Record, 348 páginas, R$ 39), livro organizado por ele, com artigos de gente como o historiador José Murilo de Carvalho o cientista político Paulo Sérgio Pinheiro e o sociólogo Luciano Martins, entre outros.

- O senhor disse, quando marcamos a entrevista, que não gostaria de comentar sobre o cenário eleitoral. Mas o seu próprio ensaio no livro Brasil: fardo do passado, promessa de futuro é sobre a política brasileira. Na sua opinião qual a importância das eleições deste ano?

- Sua importância política está no fato de ser a terceira vez, nos 70 anos desde a Revolução de 30 - que trouxe Getúlio Vargas para o poder e começou uma transformação econômica, social, política e cultural no Brasil moderno -, que um presidente eleito passou tanto poder para um sucessor eleito diretamente. Desde que Jânio Quadros substituiu Juscelino Kubitscheck, há 40 anos, isso não acontecia.

Falando mais diretamente, será a primeira vez na história do Brasil que um presidente eleito democraticamente terá transferido seu poder para um sucessor eleito democraticamente. Nas eleições de 1955 e 1960, metade da população brasileira adulta não pôde votar, por analfabetismo, e o maior partido da esquerda, na época, o Partido Comunista Brasileiro, não pôde contestar nada. É claro que, se Lula ganhar as eleições presidenciais de 2002, elas serão um marco mais histórico ainda, dada a origem de Lula, sua história pessoal e a história - e o programa - do PT. - O senhor afirma em seu artigo que foi apenas há 10 anos que o Brasil tornouse um Estado democrático. Por que tão tarde? E os governos democráticos anteriores?

- É geralmente esquecido que na metade do século 19 o Brasil comparava-se razoavelmente bem com outros países da Europa ou da América Espanhola, tanto em termos de freqüência das eleições quanto em termos de nível de participação. O ponto de mudança veio na década de 1880, quando a escravidão finalmente chegou ao fim, e a lei mudou para restringir os votos dos analfabetos, num país onde de 80 a 85% da população era analfabeta e onde a educação pública foi seriamente negligenciada. Isso colocou um severo limite na participação popular na política durante 100 anos - mesmo sob o chamado sistema político ' ' democrático' ' , depois da Segunda Guerra Mundial. O Brasil também sofreu duas prolongadas interrupções em seu processo de democratização depois da Revolução de 30 - o Estado Novo, entre 1937 e 1945, e a ditadura militar, entre 1964 e 1985. Ocorreram surpreendentemente poucas mobilizações populares em favor dos direitos políticos na história brasileira. Sufrágio universal e liberdade de associação política e de competição foram concedidos apenas em 1985. A primeira eleição presidencial completamente democrática, na história da República foi, portanto, a de 1989.

- E qual é o problema da democracia brasileira hoje?

- O Brasil é agora, inquestionavelmente, uma democracia política, sob qualquer definição. Deve sobreviver a uma vitória de Lula - o que poderia não acontecer em 1989 ou mesmo em 1994. Um dos maiores legados da Era Cardoso, no meu ponto de vista, é exatamente a consolidação das instituições políticas democráticas. Mas todas as democracias têm seus defeitos. Todas poderiam beneficiar-se de reformas políticas - até mesmo - talvez mais do que todas - a democracia britânica! No caso do Brasil, o sistema eleitoral, o sistema de partidos, a regulamentação das finanças para campanhas, e acima de tudo, a distribuição de lugares no Congresso por Estados e regiões, poderiam, sem dúvida ser melhorados. Mas, em 2002, as eleições

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demonstrarão que a democracia no Brasil funciona bem. O maior problema (e perigo) está em outros pontos, como sabemos: na desigualdade e na exclusão social, na existência de uma segunda classe (e mesmo terceira classe) de cidadãos na pobreza, no baixo nível educacional da maioria dos eleitores brasileiros, na fragilidade ao se fazer cumprir a lei, na violência urbana - isto é, na falha do Estado democrático, até agora, em oferecer a seus cidadãos não apenas a justiça social, mas também níveis adequados de segurança social.

-Qual o siginificado do título Brasil: fardo do passado, promessa do futuro? O Brasil estaria condenado por seu passado? Ou será sempre a terra do futuro?

- Os 10 ensaios do livro seriam originalmente publicados em inglês, numa edição da Daedalus, a revista trimestral da Academia Americana de Ciências e Artes, uma das revistas mais lidas e influentes dos Estados Unidos. Foram direcionados a um público de língua inglesa que, infelizmente, é extremamente ignorante sobre o Brasil. No 500º aniversário do ' ' descobrimento' 'do Brasil, o objetivo era explicar o país contemporâneo através de seu passado, tanto positivo quanto negativo, e perguntar a que ponto o país é ainda prisioneiro desses aspectos negativos e como poderia superá-los. A maioria dos autores são intelectuais brasileiros de primeira linha e é interessante ver como eles se organizam para explicar o Brasil a estrangeiros. Os ensaios foram escritos em 1998 e 1999. O espírito é relativamente otimista. Escrevi sobre a democracia brasileira e me mantenho otimista. Não estou certo de que meus colegas, escrevendo sobre aspectos sociais e econômicos do Brasil contemporâneo, sintam-se da mesma forma.

- O que o levou a se interessar pelo Brasil?

- Minha primeira experiência na América Latina foi uma visita de três meses ao Brasil em 1960, como jovem estudante de pós-graduação (meu primeiro livro baseado na minha tese de doutorado - A abolição do comércio brasileiro de escravos - foi republicado este ano numa nova tradução da Editora Senado Federal.)

Desde então, voltei ao Brasil de tempos em tempos, depois todo ano. Pessoalmente, sempre achei o Brasil o mais interessante e simpático país da América Latina.

Agora, com o Centro em Oxford, tenho vindo ao Brasil algumas vezes por ano.

- Na sua opinião, o que faz o Brasil diferente de outros países da América Latina? Podemos realmente falar em América Latina?

- Depois de 25 anos como professor de História da América Latina (em várias universidades), diretor de um Instituto de Estudos da América Latina (na Universidade de Londres) e editor de uma História da América Latina (publicada originalmente pela Cambridge University Press e aqui pela Edusp), cheguei à conclusão de que o Brasil é tão diferente da América espanhola, separado dela pela história, língua, cultura, composição de sua população, etnia, tamanho e estrutura da economia, etc., que não é particularmente útil tentar entendê-lo como parte da ' ' América Latina' ' , o que foi, como bem se sabe, uma construção francesa do século 19. Ao mesmo tempo em que o Brasil deveria, é claro, manter relações boas e próximas com seus vizinhos de língua espanhola, não traz nenhum benefício ao país ser visto pelos estrangeiros, muito menos pela comunidade financeira internacional, como pertencendo a algo chamado ' ' América Latina' ' .

- O volume e a profundidade de sua História da América Latina são impressionantes. Quanto tempo levou para organizá-la?

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- Comecei a trabalhar nela no final dos anos 70, você acredita? Os primeiros 5 volumes foram publicados entre 1984 e 1986. Então o trabalho ficou mais lento devido a outros compromissos, principalmente meus esforços em pôr de pé o Centro em Oxford. Mas seis outros volumes foram completados. O único que falta sobre o Brasil e as relações da América Latina com o resto do mundo, especialmente com os Estados Unidos, a partir de 1930 - está sendo preparado.

Espero completá-lo até o ano que vem. Mas também houve muitas brochuras e edições para estudantes. Essa História está sendo publicada em espanhol, chinês e português (pela Edusp, cinco volumes foram publicados até agora). Tornou-se uma indústria!

- Qual é, na sua opinião, a diferença entre esta e outras histórias da América Latina?

- Bom, a minha é certamente a maior! Doze volumes, cada um com de 600 a mil páginas. É o primeiro multivolume, multiautoral, sobre a América Latina. Não é uma enciclopédia (eu não gosto quando chamam-na assim). Cada volume tem mais ou menos uma dúzia de capítulos, cada um de 50 a 100 páginas, que tenta sintetizar, no estilo bem conhecido de História de Cambridge, o conhecimento que existe e o debate num período, tema ou país particulares da história da América Latina. Os autores são alguns dos historiadores mais proeminentes do continente - um terço deles é da América Latina, um terço é de norte-americanos e um terço de europeus.

- Por que o senhor decidiu dedicar-se tão profundamente à América Latina? A região já teve uma importância geopolítica que parece ter se perdido hoje em dia, mesmo nas universidades. Isso é reversível?

- Gente da minha geração que estuda a América Latina diz que nós devemos nossa carreira a Fidel Castro. Foi a Guerra Fria, e particularmente, a Revolução Cubana, que gerou a criação de centros de estudo da América Latina nas universidades britânicas e americanas, nos anos 60. Desde então, a América Latina entrou e saiu da agenda mundial e especialmente da agenda dos EUA. Nunca esteve seguramente no mapa, exceto durante a Guerra Fria e, recentemente, por causa da crise financeira internacional. Depois do 11 de setembro, saiu do mapa - ao menos do mapa visto de Washington. Mas essas coisas mudam. E vale aqui fazer uma pergunta: o que a América Latina ou o Brasil ganham por serem ' ' geopoliticamente importantes' ' ?

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O IMPÉRIO “A estratégia nacional emergente não somente celebra a força americana, mas também glorifica a idéia de dominação... Se o que encarna os Estados Unidos ante o resto do mundo, é a liderança dentro de uma associação de iguais, nossos amigos serão legião. Se o que encarnamos ante o mundo, é um império, nossos inimigos serão legião”- Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA – El País, 25-9-02.

“Se triunfamos rapidamente numa guerra contra um exército debilitado, exausto e de quarta categoria como o iraquiano, e abandonamos rapidamente esta nação como o presidente Bush abandonou quase todo o Afeganistão depois de derrotar um exército de quinta categoria, o caos resultante da vitória pode significar para os

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EUA riscos muito mais graves do que os representados por Sadam Hussein” – Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA – El País, 25-9-02.

O DOSSIÊ BLAIR: VERGONHOSO! “O dossiê de Tony Blair sobre o Iraque é impactante. Basta lê-lo para que qualquer ser humano decente se encha de vergonha e nojo. Suas páginas são a última prova de que um massivo crime contra a humanidade se cometeu contra o Iraque. Ou seja, meio milhão de crianças morreram por nossa causa, para nada” – Robert Fisk, jornalista do jornal inglês The Independent, no artigo A desonestidade do suposto dossiê, publicado no jornal mexicano La Jornada 27-9-02.

MEIO MILHÃO DE CRIANÇAS MORRERAM! VALEU A PENA! “Voltemos para o dia 12 de maio de 1996. Madeleine Albright, a secretária de Estado dos EUA, nos disse, então, que as sanções impostas ao Iraque funcionaram e evitaram que Saddam voltasse a construir armas de destruição massiva. Tony Blair caminhou decididamente por este caminho. Mas no dia 12 de maio, a senhora Albright apareceu na CBS. Leslie Stahl, a entrevistou e perguntou: “Ouvimos que meio milhão de crianças morreram. Isto é mais do que as que morreram em Hiroshima. Vale a pena pagar semelhante preço?” Para surpresa do mundo, a senhora Albright respondeu: “Creio que é uma decisão muito dura, mas esse preço vale a pena”. Agora sabemos, se o dossiê de Blair diz a verdade, que não valeu a pena. O preço que se pagou foi a vida de milhares de crianças, mas isso não valeu nem um centavo. O dossiê de Blair nos diz que, apesar das sanções, Saddam foi capaz de seguir construindo armas de destruição massiva” - Robert Fisk, jornalista do jornal inglês The Independent, no artigo A desonestidade do suposto dossiê, publicado no jornal mexicano La Jornada 27-9-02.

3 No IHU Idéias da última quinta-feira, o prof. Ms. Fabrício Carpinejar apresentou aos presentes o livro de sua autoria Biografia de uma árvore. Este é o quarto livro de poesias do autor. Além de argumentar aspectos singulares da obra e das demais publicações, Fabrício falou sobre a atualidade da Literatura e da poesia brasileiras.

“Gosto de Literatura e acredito que todos nós temos muito a aprender.

Não conheço muito sobre poesia, mas gosto de metáforas e o autor trabalha muito bem com elas. Quando vi o tema da palestra no cartaz não tive dúvidas em comparecer”.

Larisse Techeira, graduada em Administração de Empresas, com pósgraduação em Marketing, aluna do curso de Biologia e funcionária da Unisinos no Escritório de Gestão e Tecnologia.

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“Vim por causa do autor, somos amigos. Fiquei encantado com a exposição.

Fabrício tem o poder de analisar a poesia fora dos cânones tradicionais. Essa concepção de reserva da divindade dá um rumo diferente à teoria poética”.

Prof. Sérgio Farina, professor do Centro de Ciências da Comunicação, do Curso de Letras

PROGRAMAÇÃO IHU IDÉIAS DE OUTUBRO O IHU Idéias ocorre todas às quintas-feiras, na sala 1C103, das 17h30min às 19h.

Confira a programação do IHU Idéias para o mês de outubro: 03/10/02 – Apresentação do tema: “O Brasil que vai às eleições. As primeiras eleições presidenciais após a década neoliberal”. Prof. Dr. Inácio Neutzling.

10/10/02 – Apresentação do tema: “Onze de Setembro: repercussões”. Prof. Dr. Danilo Streck.

17/10/02 - Apresentação da tema: “Redescobrindo ' Os Sertões'100 anos depois”.

Profa. Dra. Márcia Lopes Duarte.

24/10/02 – Apresentação do tema: “As plantas medicinais na vida da pessoa humana”. Ms. Virginia Koch.

31/10/02 – Apresentação do tema: “Os sentidos identitários na TV”. Profa. Dra. Suzana Kilpp.

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Nossa entrevistada relâmpago nesta edição é...

( Lucilda Selli é professora do Centro de Ciências da Saúde. Além de colaboradora do Instituto Humanitas Unisinos no subgrupo temático Bioética, inserido no Setor Ética, Cultura e Cidadania e integrante do Núcleo de Humanismo Social Cristão. Irmã da Congregação Ministras dos Enfermos de São Camilo, ela faz de sua vocação uma forma de melhor atuar em sua profissão, na área da Saúde.

Começos - Nasci em São Valentim do Sul, cidadezinha de 2.500 habitantes, próxima de Guaporé. Saí de casa para estudar em Guaporé e passei a morar em Dois Lajeados. Vim para São Leopoldo e estudei no Colégio Pedrinho (Escola Pedro Schneider). Ingressei na Unisinos e cursei Enfermagem e Licenciatura em Enfermagem. Depois disso, em 1990, fui convidada para ser professora de Clínica

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Médica e Clínica Cirúrgica (hoje denominadas Saúde Coletiva I e II) na Universidade.

Formação- Ingressei no Mestrado em Assistência de Enfermagem, na Universidade Federal de Santa Catarina. Um ano depois da conclusão do Mestrado, iniciei o Doutorado em Ciências da Saúde, na UnB, em Brasília, de onde voltei em março deste ano. Quero deixar registrado que a Unisinos sempre me deu todo o apoio no aspecto profissional, principalmente a professora Cornélia Volkart, que abriu-me caminhos para a construção do conhecimento.

Família - Sou a quinta filha entre os nove que meus pais tiveram. Meu pai era vinicultor e agricultor. E minha mãe era a poliédrica da casa, o braço direito e o esquerdo do meu pai e de todos nós, os filhos. Tenho uma paixão muito grande pela minha mãe, a dona Maria Amabil.

Vida Religiosa - Foi em Guaporé que conheci as irmãs da Congregação à qual pertenço - Ministras dos Enfermos de São Camilo. Entre elas, encontrei uma pessoa tão poliédrica quanto minha mãe: Irmã Maria Auxiliadora. Em 1972, iniciei minha vida religiosa, apesar da contestação de meu pai. Ele era contrário, mas sempre respeitou minha escolha. Já minha mãe sempre teve o maior orgulho. E ele também, mais tarde, acabou reconhecendo a minha vocação.

Autor: Jostein Gaarder, autor de O Mundo de Sofia. Ele tem um jeito de construir uma reflexão sobre a filosofia de forma romanceada, provocando o encantamento dos leitores.

Livro: O século dos cirurgiões, de Jurgen Thorwald. Ele passa uma compreensão da história da medicina moderna.

Filme: Ghost, do Outro Lado da Vida, direção de Jerry Zucker.

Nas horas livres: Ouvir música, ficar à vontade, ler, sem preocupação com o tempo e o acúmulo de conhecimento, aquele tipo de leitura light, que fazemos para a gente.

Um presente- As pessoas que se fazem presentes com um presente são o melhor tipo de presente que posso receber. Alguém que está longe, mas se aproxima com um cartão, um e-mail, flores ou livros é alguém muito especial para mim. Gosto de surpresas.

Momentos felizes: Minhas conquistas profissionais e pessoais. Gosto de lembrar das formaturas, das festas de Natal, de Páscoa, do aniversário de alguém que amo e dos encontros de família.

Unisinos: Locus singular para a construção de si mesma e construção do outro.

IHU: Espaço de referência para todos que integram a comunidade universitária. É a alma da Unisinos.

Um grande sonho: Poder viajar, conhecer lugares do mundo que ainda não conheço. Adoro viajar.

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4ª Semana Social Brasileira A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB – por meio do Setor Pastoral Social está estudando a possibilidade da realização da 4ª Semana Social Brasileira.

Para iniciar este processo convocou uma primeira reunião nos dias 23 e 24 de setembro de 2002, em Brasília. Inácio Neutzling, coordenador do IHU, participou desta reunião.

A ética na sociedade pós-moderna No dia 26 de setembro, realizou-se em Santa Cruz do Sul, RS, o 4o Espaço de Interventores Sociais. Cento e vinte e quatro lideranças comunitárias estiveram reunidas no Centro de Eventos do Hotel Charrua, para debater o tema A ética na sociedade pós-moderna. A assessoria do evento coube a Inácio Neutzling, coordenador do IHU.

Nascimento

Parabenizamos nossa colega Mari Luci de Oliveira, secretária do IHU e seu esposo Paulo César Ferreira da Rosa pelo nascimento de FILIPE OLIVEIRA DA ROSA Filipe nasceu com 3.550 Kg e com 50 cm às 00h05min do último dia 24 no Hospital São Rafael, em Novo Hamburgo.Parabéns Mari pelo bebê tão lindo e que trará muitas alegrias!

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30/9 - José Renato Soethe

Setor Ética Cultura e Cidadnia do IHU

Soethe@bage.unisinos.br

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Caros colegas: Fiquei gratificada com a leitura do texto "Uma concepção de voluntariado para a UNISINOS". Sua qualidade demonstra que apesar dos limites da participação presencial de cada um de nós, há um campo importante de confluência.

Não tenho idéia de quais serão os desdobramentos deste Grupo de Trabalho. Mas gostaria muito de contar com a participação de vocês no processo de discussão da pesquisa que realizamos no PPG. E que prevê a participação de representantes da extensão e do IHU, além dos coordenadores dos cursos envolvidos. No limite, vocês são imprescindíveis para tornar a pesquisa um processo de construção coletiva de uma ação solidária, crítica na universidade.

Neste momento já temos entrevistas com os coordenadores de curso, transcritas e pré-analisadas; mapeamento dos estudantes a serem entrevistados; e um tópico especial sobre ação coletiva com um seminário sobre Hannah Arendt e Agnes Heller, marcado para meados de outubro. Gostaria de contar com vocês.

Parabéns, JacquelineOliveira Silva. Doutora em Educação pela PUCRS e Mestre em Educação pela UFRGS

"O meu assunto preferido é livro, então, eis uma sugestão, dentre muitas. As Lágrimas de Heráclito, de Antônio Vieira. Texto original italiano com tradução portuguesa de época. Fixação dos textos, introdução e notas de Sonia N. Salomão. São Paulo. Ed. 34, ano 2001. O livro tem 200 páginas, mas o texto do Pe. Antônio Vieira tem apenas 42 páginas considerando sua condição bilingüe.

Trata-se de um pequeno texto do Pe. Antônio Vieira no período que passou em Roma tentando rever seu processo inquisitorial. O texto desconhecido foi fixado há pouco tempo e trata da defesa do pranto de Heráclito (famoso filósofo que chora) contra o riso de Demócrito (famoso filósofo que ri). Mas as conclusões sobre rir e chorar são surpreendentes. O mundo é, em Vieira, sofrimento e dor e o nosso padrefilósofo tirará partido da complexidade espelhada do pranto com o riso".

Profa. Dra. Márcia Tiburi, Doutora em Filosofia, do PPG em Filosofia, do Centro de Ciências Humanas

"Estou lendo atualmente A arte de amar a Ciência, de Pascal Nouvel (tradução do nosso professor Fernando Althoff), 194 páginas, editado pela Editora Unisinos, em 2001. A obra é uma análise sobre as motivações e caminhos que conduzem os cientistas às suas descobertas, percurso ambivalente, entre a lógica do método científico e as razões subjetivas, psicológicas e pessoais, que levam tais pessoas a se dedicar à ciência". Prof. Dr. Ubiratan Ferrucio Faccini, Coordenador Adjunto do Curso de Graduação em Geologia, Doutor e Mestre em Geociências, graduado em Geologia e professor do Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas no PPG em Geologia

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"Leio atualmente o livro Mulheres Curando a Terra, tendo como organizadora da obra a teóloga Rosemary Radford Ruether. Editora Paulinas, 293 páginas. É um livro de ensaios escritos por mulheres da América Latina, Ásia e África. Aborda aspectos da religião, ecologia e feminismo demonstrando um esforço na comunicação intercultural e na solidariedade entre mulheres do Primeiro Mundo e mulheres dos países que estão lutando contra os efeitos da colonização ocidental".

Profa. Rosa Maria Serra Bavaresco, coordenadora do Setor Teologia Pública, do Instituto Humanitas Unisinos, graduada em História Licenciatura e em Direito e mestranda de Ciências Sociais Aplicadas.

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