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Artigo

DRUMMOND: UM POETA POLÍTICO EM UMA MILITÂNCIA APARTIDÁRIA. Por Cindye Esquivel Vieira.

Esse país não é meu nem vosso ainda, poetas. Mas ele será um dia o país de todo homem (DRUMMOND, 1945)

O seu

presente trabalho pretende trazer

O Brasil que guardava Drummond em um de seus

contrastes entre Carlos Drummond de

gabinetes era um Brasil em efervescência.

Andrade, com sua posição política, e o

Tínhamos um Governo turbulento com vários

constante

envolvimento

em

ambientes

integrantes nesse imenso jogo de xadrez com peças

partidários que não o representavam. Para tal,

tendendo para todos lados, tentando jogar o jogo

usamos, principalmente, trechos de seu diário,

do “rei”, que não era tão esguio quanto ao do

possibilitando estar em contato com o poeta em

xadrez, ou tomar-lhe a coroa.

sintonia consigo mesmo. Como o intuito e situar o contexto vivido pelo autor em 1945, voltaremos em 1937 para clarear os motivos da escrita com toques de incredulidade que tanto caracterizaram-no naquele momento.

Ao longo dos anos 30 as organizações partidárias retomam o fôlego inspirados pelo clima de Revolução. O PCB, existente desde 1922, continua a reviver antigos fantasmas; a AIB, surgida em 1932, tinha uma faceta útil ao Governo e por isso teve a sua existência bem aceita até o Estado Novo; a ANL,

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Drummond com Capanema em 1932

criada em 1935, caminhava à esquerda e conquanto

paternalista, elitista, autoritária e eivada do

Rodrigo Patto ressalte que “configurou-se no

voluntarismo golpista”3.

jargão comunista como uma ‘frente’ política”1, a Aliança não foi obra erguida em alicerces comunistas, muito embora não os desprezasse. É interessante frisar que no que tange “postura autoritária”,

e

ANL

possuem

que o ex-tenente iria se dirigir ao poeta anos mais tarde. É comum associar o nome de Luis Carlos Prestes à Coluna e chama-lo, quase de imediato, de

alguma

“comunista”, contudo, ele nem sempre vestiu o

familiaridade, mesmo que o cerne fosse para “lados

vermelho, na verdade, só veio a ter permissão da

opostos”. Enquanto que para a direita, a AIB, “o eixo

Internacional Comunista para filiar-se em 1934. O

da proposta era a formação de um Estado integral,

Partido Comunista vivia, em 1930/31, “a plena

uma organização estatal forte, centralizada e

euforia da proletarização”4 e Prestes representava

autoritária que se responsabilizaria pela renovação

o modelo burguês a ser combatido. O curioso é que

nacional e pelos combates às tendências negativas

para

da modernidade”2; na esquerda, a ANL, “os

militares o nome de Prestes integra mais o lado do

tenentes aliancistas mantiveram sua antiga visão

“Cavaleiro da Esperança” a que o de “comuna”.

MOTTA, Rodrigo Patto de Sá. Introdução à história dos partidos políticos brasileiros. P. 71. 2 Idem, p. 73

3

1

AIB

O PC e Prestes merecem, aqui, uma atenção já

seus

devotos

seguidores/admiradores

VIANNA, Marly de Almeida Gomes. Revolucionários de

1935. P. 128. 4

Idem, p. 70.

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G N A R U S | 57 Em 1937 temos o golpe de Estado que poria

Brigadeiro é sabido, mas esse intelectual engajado

Vargas na cadeira presidencial até 29 de Outubro

não acompanhava a favor da militância, como será

de 1945. De imediato as camadas autoritárias são

visto a seguir.

expostas, é decretada a lei 37 de 2 de Dezembro de 1937, que dissolvia (e punia transgressores) os partidos políticos. O cenário que se seguiria de 1937 a 1945 no campo político seria praticamente imóvel até os ventos de instabilidade voltarem a soprar depois da entrada do Brasil na 2ª Guerra Mundial. O

O poeta em 1945. “Eu mesmo não estarei dividido, no fundo? Deixei meu trabalho no Gabinete de Capanema para ter o gosto de militar contra Getúlio e seu continuísmo, e eis que sou empurrado para o lado que não quer combate-lo, a fim de colher dividendos políticos antigetulianos... Entenda-se. “9

autoritarismo de Vargas é posto em xeque. A escolha do lado “aliado” suscita o questionamento: como aliar-se ao lado democrata se o regime interno era fechado, autoritário, fascista e com requintes do nazismo? Em 43, já esgotada a possibilidade de sustentar o Governo, Getúlio alivia as rédeas: veio a anistia e logo viria a eleição. A nova brisa com sutis toques democráticos traz de volta as atividades políticas e com isso, os partidos retomam suas organizações. Os próximos passos foram as eleições depois de um longo jejum. E a partir deste momento, desejamos dar ensejo a próxima parte deste trabalho, mas antes, o seguinte trecho de Benevides se faz necessário: “Em linhas gerais, portanto, é possível afirmar que, excluindo-se os setores populares, todos os grupos representativos da sociedade civil, dos liberais-conservadores aos socialistas, passando pelos intelectuais “engajados”, apoiavam ou mesmo militavam na campanha do Brigadeiro.”5

Faz-se necessário traçar também uma breve trajetória de Carlos Drummond de Andrade, afinal, o intuito destas linhas é mostrar onde nossos agentes

se

esbarram

e

o

desdobramento

acarretado a partir de então. É importante salientar que a interação de Drummond com a política é morna desde o início, suas poesias se tornam mais afiadas mediante sua jornada, contudo, temos desde seus primeiros escritos um homem com um ceticismo sem estandartes. Drummond chega ao Rio de janeiro no início da década de 30. Trouxe na bagagem sua experiência nos jornais “Diário de Minas”, “Minas Gerais”,

“Estado de Minas”, “A Tribuna” e “Diário da Tarde”. Tendo atuado também em revistas10 e iniciado sua vida pública como auxiliar de gabinete do Secretário de Interior Cristiano Machado. Posto esse que se elevou quando Gustavo Capanema assumiu, passando para oficial do dito gabinete.

Dentre os “engajados” a autora cita6 os

Outrossim sua vida poética já havia começado; No

intelectuais da ABDE7 e da UTI8, ambos

meio do caminho já tinha-se achado uma pedra, do

frequentados por Carlos Drummond de Andrade.

mesmo modo que “Alguma Poesia”11 e “Brejo das

Que o voto à presidência dado pelo poeta foi no BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. A UDN e o Udenismo. P. 34. 6 Na página anterior. 7 Associação Brasileira de Escritores. 8 União dos trabalhadores intelectuais. 5

9 ANDRADE, Carlos Drummond de. O Observador no escritório.

P. 43. 10 Na Revista de Antropofagia e na Revista do Ensino da Secretaria de Educação, ambas em 1928. 11 Seu primeiro livro, lançado em 1930.

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Almas”12 já estavam publicados. Em 1934 chega ao

desenrola nos bastidores e com pouca luz. Que peut um homme?”17

Rio de Janeiro para chefiar o gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação e Saúde Pública, posto que só abdicaria em 14 de Março de 1945. Já

Ceticismo. Descrença. Receio. Para Drummond “a

no Rio de Janeiro, colabora na “Revista Acadêmica”

dificuldade de articular a esquerda com o

(1937), “Euclides” (1941), “A Manhã” (1941 e sua

movimento antigetulista dos políticos liberais e

produção poética se estende.13

descontentes”18 era latente e após a entrevista

Antes de conduzir-nos a 1945, onde gostaríamos de delegar uma maior atenção, deixamos um escrito de 1944 que possibilita desenevoar uma possível posição dúbia do poeta que era

coletiva de Getúlio à imprensa, estava convencido de que ele seria candidato à sucessão dele mesmo, faltava então a indicação de seu nome pelo partido de base governista que viria a ser criada. Como consequência do retorno das atividades

funcionário do governo autoritário de Getúlio: “Agosto, 23 – O Governo promoveu um comício para comemorar o segundo aniversário de entrada do Brasil na guerra [...] Na grande faixa de pano erguida junto ao Teatro Municipal, a inscrição “Ordem e Disciplina”, indicando que o Governo pensa menos em ganhar a guerra do que em salvar-se [...] Assim se comemora duplamente o aniversário de uma guerra sui generis, do fascismo interno contra o fascismo externo.”14

políticas no país, Carlos Drummond de Andrade de despede de seu posto no gabinete de Capanema em Março de 45. No fim deste mesmo mês o interesse de visitar Luís Carlos Prestes aumenta já que a censura foi suprimida e as visitas a presos políticos foram liberadas mediante os passos democráticos que o país tomava.19 O Brasil gritava

Estamos em 1945, logo no início de Janeiro

“ANISTIA” e o poeta também: Mal foi amanhecendo no subúrbio as paredes gritaram: anistia. Rápidos trens chamando os operários em suas portas cruéis também gritavam: anistia, anistia. [...] Anistia nos becos, nos quartéis, nas mesas burocráticas, nos fornos, na luz, na solidão: só anistia. [...] Esta é a voz dos mortos sob o mármore, é a voz dos vivos no batente. Ouço mil bocas em silêncio murmurando: anistia. [...] Vem pois, ó liberdade, com teu fogo, tua rosa rebelde nos cabelos, vem trazer os irmãos para o sol puro e incendiar de amor os brasileiros.20

intelectuais da ABDE15 recorrem a um telegrama ao presidente para suspender a censura. O ano mal começara e já trazia suplícios. Em Fevereiro, José Américo de Almeida dá o pontapé eleitoral que respingaria nas ações do Governo, a Constituição fascista de 37 é reformulada, a lei eleitoral logo sairia, “já começa a ferver o ambiente político, despertando da letargia de quase oito anos”16, contudo, os olhos melindrados do poeta não se convencem já que “[...] por maior que seja minha boa vontade em assumir comportamento político, espectador que sou e sempre fui de um espetáculo em que a ação verdadeira nunca é apresentada no palco, pois se 12

17

13

18

Lançado pela cooperativa Os Amigos do Livro em 1934. “Sentimento do Mundo” em 1940, “Poesias” em 1942 e “Confissões de Minas” em 1944. 14 ANDRADE, Carlos Drummond de. O Observador no escritório. P. 13. 15 Associação Brasileira dos Escritores. 16 ANDRADE, Carlos Drummond de. O Observador no escritório. P. 20.

Idem, p. 21. Ibdem, p.23. 19 Tal encontro viria a acontecer no mês seguinte, totalizando três encontros registrados pelo poeta em seu diário, posteriormente publicado. 20 ANDRADE, Carlos Drummond de. Poema de março de 45, Correio da Manhã.

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G N A R U S | 59 guiar-se por si mesmo e estabelecer ressalvas à orientação partidária. Nunca pertencerei a um partido, isto eu já decidi. Resta o problema da ação política em bases individualistas, como pretende a minha natureza.”21

O clima político estava amenizando e Drummond recebe convites de atuação. “O Correio da Manhã” e o “Diretrizes” ostentavam-no no corpo editorial, jornais com tomadas políticas diferentes; Enquanto este pende para a esquerda, aquele caminha em tom

mais

conservador

e

Inevitavelmente, o homem com relutância precisa se posicionar no cenário político em que se aloja. Um homem com ideais mas apartidarismo, não seria esse o estandarte daqueles que caem na descrença política? “Sou um animal político ou apenas gostaria de ser? Esses anos todos alimentando o que julgava ideias políticas socialistas e eis que se abre o ensejo para defende-las. Estou preparado? Posso entrar na militância sem me engajar num partido? Minha suspeita é que o partido, como forma obrigatória de engajamento, anula a liberdade de movimentos, a faculdade que tem o espírito de

Andrade, Carlos Drummond de. O Observador no escritório. P. 33. 21

O tão esperado encontro com Prestes ocorre. Lá

antigetulista.

foram Drummond, Cecília Neves e Oswaldo Alves, “três intelectuais sem militância política mas desejosos de viver politicamente os novos tempos”22. O registro da conversa, pelo poeta, nos mostra que houve a preocupação por parte de Prestes de desenvolver a percepção do panorama político. “Em 1922 e 1924, eu e meus colgas, simples cadetes da Escola Militar, tomamos atitude política apenas por sentimento de coleguismo e brio militar, diante da carta falsa atribuída a Artur Bernardes e fabricada por esse mesmo Correio da

22

Idem, p. 35.

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G N A R U S | 60 Manhã. Naquela época não conhecia nada de política. Mas em 1926 comecei a analisar melhor o movimento político. Finalmente, o contato com os nossos políticos, no exílio em Buenos Aires, me convenceu de que nenhum deles tinha realmente preocupações patrióticas. Todos aspiravam, antes de mais nada, à sua própria proteção. Eles não evoluíram, conservam a mesma mentalidade. Fizeram uma revolução completamente errada, a de 1930, e agora querem perturbar de novo a vida do país. Foram esses mesmos homens que deram ao Governo, através de um Congresso capitulacionista, todas as leis de segurança e opressão solicitadas por ele.”23

registradas neste dia viriam a ser publicadas em Abril de 1980 no Jornal do Brasil divididas em três partes27. Tal publicação gerou resposta de Prestes e a consequente de Drummond, ambas registradas nas páginas do Jornal do Brasil no dia 19 de Abril de 1980. Um segundo encontro entre o poeta e o líder acontece. Em pauta, desta vez, estava a necessidade de um jornal democrático, na direção d’O Popular28 já estavam Pedro Mota Lima, Alvaro

A ANL também é assunto: “A Aliança Nacional Libertadora, esta sim, organização legitimamente democrata, sofreu ataque desses elementos que, em face do “espantalho comunista” criado pelo Governo, fizeram causa comum com este, ajudando a exterminá-la em 1935. O malogro aliancista não resultou de erro propriamente dito da sua direção. Faltou a esta a força necessária para anular as manobras fascistas dos que agora, no decorrer da Segunda Guerra Mundial, foram rotulados de quinta-colunas.”24

Moreyra, Delcídio Jurandir e Aydano de Couto Ferraz, a conversa foi um pedido para Carlos Drummond de Andrade viesse a ser o quinto membro. E foi. O terceiro encontro, este feito por Arruda Câmara falando em nome de Prestes, informa ao poeta que seu nome foi cotado para compor a chapa de candidatos a deputado pelo PC de Minas. “Respondo que me sinto muito honrado, etc., mas que não tenho a mínima vocação para parlamentar. Além do mais, não pertenço ao PC e não estou sujeito à sua disciplina, o que faria de mim um representante muito individualista.”29

O Brigadeiro, nome tão lembrado nos dados tempos, também apareceu na conversa: “É homem honesto, de boas intenções, mas ingênuo. Está cercado de políticos, com os quais não aprendeu a

A clara despretensão política de Drummond fica

lidar, pois fez carreira puramente profissional, em sua especialidade.”25 A conversa permeia ainda sobre o entreguismo da imprensa, motivos de abertura de visitar a presos políticos, atitudes do Governo Vargas, futuro posicionamento do PC, a não interferência Soviética na política, a culminância das esquerdas quando o PC se reorganizasse, o acalanto que a poesia traz em algumas horas ao “chefe legendário da Coluna”. A “metralhadora verbal de Prestes fala sempre, sem pausa, sem cansaço”26. As palavras

cada vez mais latente. Sua participação no Tribuna Popular esfria concomitantemente à sensação de impossibilidade de abordar temas políticos. O desconforto com o jornal atinge o ápice após a deposição de Getúlio e o manifesto publicado no dia 4 de Novembro de 1945 sob chamada de “O PARTIDO COMUNISTA DIRIGE-SE À NAÇÃO” na primeira página. Em tal carta à nação, Drummond entende que a posição tomada pelo jornal foi contrária ao afastamento de Vargas. Para ele, o que

23

26

24

27

Ibdem, p. 35. Ibdem, p.36. Há uma resposta de Drummond a essa fala: “Prestes não admite erro de direção propriamente dito, mas a superestimação da força não será um erro grave de direção?” 25 Ibdem, p. 39.

Ibidem, p. 38. Publicadas seguidamente nos dias 1, 3 e 5 de Abril de 1980. 28 Que viria a se tornar a Tribuna Popular. 29 Ibidem, p. 51.

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G N A R U S | 61 houve foi golpe contra golpe, não é algo a ser

o partidarismo, não se pode inferir que o poeta não

aclamado mas não é novidade já que o próprio

era político, tampouco que fosse apático, a sua

Vargas

da

atuação evidencia justamente a desconfiança de

maquinação do Plano Cohen. Drummond por não

um intelectual frente ao partidarismo. Os adventos

“chorar a queda de Getúlio nem aprovar a linha

políticos fizeram-no cair na descrença partidária e

política do jornal”30, desligou-se do Tribuna

a consequente segmentação política que a tal

Popular. No dia 7 de Novembro de 1945 seu nome

formação traz.

chegou

à

presidência

através

já não constava mais no cabeçalho do jornal, sua colaboração estava finda.

É importante lembrar que Drummond foi um homem de Vargas, foi a favor da criação da UTI33 a

No mês seguinte o jejum de votar para presidente

fim de aliviar o caráter militante da ABDE, abdicou

chegava ao fim depois de quinze anos. Suas

de falar de política para tratar de Literatura quando

escolhas: Brigadeiro Eduardo Gomes (presidente),

achou que suas palavras não mais serviam aquele

Prestes e Abel Chermont (senadores) e chapa de

propósito e etc. Trouxemos isto para ressaltar que a

Prestes (deputados). Acerca de suas considerações

preocupação política existia para o autor mesmo

referentes à eleição,

que seu individualismo partidário fosse assaz

“Seja o que for, entre Dutra, candidato do PSD conservador, e ledo Fiúza, candidato de última hora do PC, com sua biografia ruidosamente exposta no jornal de Carlos Lacerda, como escolher? Um voto a mais no Brigadeiro representa um a menos em qualquer dos outros dois – e isso me basta.”31

evidente. Sabemos a imensa adesão intelectual ao meio partidário, contudo, chamou-nos atenção para um destoante dessa tomada de posição; Aguçou também a curiosidade por ser um homem cético cercado de membros de partidos, muitos dos quais foram amigos pessoais, e mesmo assim não

O resultado e desdobramentos das eleições

houve interesse por parte do autor de se filiar

vemos aos montes nos livros. Dois anos mais tarde,

nenhum. Da mesma forma que ações de filiados

em carta a Milton Campos ressalta que a “curta

cativam, é interessante pensar no porquê de

passagem pelos arraiais políticos, naquele começo

alguém que é membro governista se põe em

alvoroçado

oposição e se comporta desprovido de interesses

de

1945,

operou

em

minha

sensibilidade um choque tão violento que me fez

dessa conjuntura.

perder o interesse pela vida pública”32.

A saída de Drummond da base do Governo e a sua aproximação com o Partido Comunista nos indica

Considerações Finais. Carlos Drummond de Andrade foi participante da

uma tendência democrática de esquerda, visão corroborada

pela

posicionamento

nos

sua

obra

poética

e

jornais. Entretanto,

ter

conjuntura política à qual estava inserido. Podemos

“tendência” não foi suficiente para fazê-lo filiado a

tirar dos trechos, fatos e documentos expostos que

esta ou aquela organização partidária. O que

houve alguma resistência intelectual no que tange

reforça o individualismo político que o pertencia.

30

32

Trecho extraído da carta enviada pelo poeta à Tribuna Popular. A carta na íntegra está registrada em seu diário. 31 ANDRADE, Carlos Drummond de. O Observador no escritório. P. 58.

33

Idem, p. 76. União dos Trabalhadores Intelectuais.

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G N A R U S | 62 “A tortuosidade, o emaranhado das linhas políticas que parecem negar-se a si mesmas e o entanto obedecem a uma lógica fria! Tudo isso é muito complicado e tira a minha naturalidade, a minha verdade pessoal, o meu compromisso comigo mesmo. Mas anda lá, quarentão inexperiente de política!”

Cindye Esquivel Vieira é licenciada em História e graduanda em Letras e Literatura pelas Faculdades Integradas Simonsen, mestranda em História pela UNIVERSO.

Fontes Bibliográficas: ANDRADE, Carlos Drummond de. O Observador no escritório. Rio de Janeiro: Record, 1985. BENEVIDES, Maria Vitória. A UDN e o udenismo. Ambiguidades do liberalismo brasileiro. 1945-1965. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. MOTTA, Rodrigo Patto de Sá. Introdução à história dos partidos políticos brasileiros. Belo Horizonte: UFMG, 1999. VIANNA, Marly de Almeida Gomes. Revolucionários de 1935: sonho e realidade. São Paulo: Expressão Popular, 2011.

Bibliografia Fontes primárias: ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. Rio de Janeiro, 1940. COMO foi recebido o aparecimento de “Tribuna Popular”. Tribuna Popular. Rio de Janeiro, 25 mai. 1945, p.4. (http://memoria.bn.br/DocReader/154547/20) ENQUANTO a anistia não vem. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 3 abr. 1980, p.7. (http://memoria.bn.br/DocReader/030015_10/460 3) FINAL de conversa. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 5 abr. 1980, p.7. (http://memoria.bn.br/DocReader/030015_10/467 2) O prisioneiro tem licença de falar. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 1 abr. 1980, p.5 (http://memoria.bn.br/DocReader/030015_10/451 4) PRESTES contesta Drummond. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 19 abr. 1945, p.1 (http://memoria.bn.br/DocReader/030015_10/539 6) TRIBUNA popular. Tribuna popular. Rio de Janeiro, 7 nov. 1945, p. 1. (http://memoria.bn.br/DocReader/154547/1216)

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