12 gnarus7 a construção da santidade e a cavalaria medieva

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Artigo

A CONSTRUÇÃO DA SANTIDADE E A CAVALARIA MEDIEVAL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Por Leilane Araujo Silva. Resumo: Em nossa pesquisa, procuramos demonstrar a existência de elementos militares e de santos como guerreiros nas hagiografias do século XIII a partir de reflexões a cerca de elementos da cavalaria medieval presentes nos quatro relatos de santos militares presentes na obra de Jacopo de Varazze conhecida como Legenda Áurea. Contudo, apresentaremos nessa comunicação nossas conclusões historiográficas sobre a pouca disponibilidade de pesquisas relacionando cavalaria e santidade com base nas nossas conclusões obtidas a partir do nosso trabalho de conclusão de curso em história.

Introdução

O

Entretanto, o intuito deste trabalho é fazer presente trabalho está baseado nas

algumas ponderações sobre santidade e cavalaria e

conclusões obtidas a partir da pesquisa

apresentar alguns trabalhos produzidos sobre essas

realizada para a nossa monografia

temáticas, em virtude de apenas o historiador

intitulada de Santidade Armada: uma análise sobre

Bruno Gonçalves Álvaro havia dedicado sua

os traços guerreiros na hagiografia do século XIII

atenção à pesquisa sobre os santos militares e da

que faz uma análise comparativa da presença da

pouca disponibilidade de historiografias a cerca da

temática militar na produção hagiográfica do

relação entre a santidade e a cavalaria.

século XIII com base nos relatos hagiográficos de São Jorge, São Sebastião, São Longino e São

A Construção da santidade

Mercúrio assinalando assim a presença de aspectos

O culto dos santos teve início na Antiguidade

militares presentes na cavalaria medieval e do

clássica com o culto aos mártires, que na

discurso legitimador do que identificamos como

perspectiva cristã por eles terem morrido como

“Santidade Armada”,1 presente nas hagiografias do

seres humanos seguindo Cristo e empenhados com

século XIII.

lealdade na sua palavra, entraram no paraíso,

descrita muito próxima da realidade militar de combate presente na Idade Media.


G N A R U S | 13 tiveram a vida eterna e passaram a servir como

mudanças

na

realidade

monástica

e

que

intermediários entre o céu e a terra.

influenciaram no aumento e na propagação do

Na Idade média a concepção de santidade era

culto aos santos, que abrange não apenas

marcada pela convicção de que o santo é marcado

anacoretas e monges, pois ele engloba sobretudo

desde o seu nascimento pela graça divina e que a

outras personalidades eclesiásticas, como bispos.

sua existência entre os homens era para atestar a

Em vista disso, o culto aos santos passou de um

sua santidade através da manifestação de suas

evento religioso e social concentrado em figuras e

virtudes e para interceder pelos homens perante

vivências que estão distantes, que eram lembradas

Deus.

através dos seus cultos e suas relíquias que eram

De acordo com o historiador André Vauchez o

vistas como capazes de prolongar por assim dizer a

culto dos mártires populariza-se através do santo

presença física no presente dos santos para que eles

patrono que baseia as suas características nas

fizessem a intervenção e auxilio aos homens, para

mesmas noções de uma relação de clientela, ou

se concentrar em modelos mais próximos e que

seja, na lealdade do protegido e no dever de

eram considerados mais aptos a terem suas vidas

proteção por parte do patrono em relação a quem

imitadas.

a ele se recomendou. Porém foi a partir do século VII e com maior

Algumas particularidades da Cavalaria Medieval

intensidade no século X que surgiu como modelo

Partilhamos da mesma opinião que Cláudio de

de santidade santos pautados na nobreza, devido o

Cicco em A Igreja Católica, as Ordens de Cavalaria

fortalecimento da união entre a nobreza e o clero,

e os Templários2 quando afirma que existem três

houve

por

documentos que nos servem de base para o

desempenharem a função de cristianizar o seu

conhecimento sobre a Cavalaria. O primeiro

povo.

documento seria as “Canções de Gesta” escritas na

nobres

que

foram

santificados

A sacralização dos nobres foi extinta no século XI

França por “Chanson de Roland” que narra histórias

a partir da reforma empreendida pela Igreja com o

dos cavaleiros, foi feito um estudo baseado nessas

intuito de purificar-se do poder laico, a partir disso

canções sobre a vida do cavaleiro por Léon Gautier

a vida sacerdotal voltou a ser modelo de santidade,

no livro La Chévalerie.

na qual predominava o voto de pobreza e

O segundo documento são as Regras das Ordens

humildade, mas para eles serem reconhecidos

da Cavalaria conforme Cicco essas regras nos

como santos eles seriam investigados de acordo

mostram o que significava o ideal que era proposto

com as leis da canonização.

para os indivíduos que entravam para as Ordens de

Acreditamos que a história da santidade e a

Cavalaria, a exemplo o livro da Ordem da Cavalaria

criação do culto dos santos estão profundamente

de Raimundo Lúlio que é considerado um tratado

ligados a relação, se não exclusiva, mas pelo menos privilegiada entre a vida monástica e a santidade, devido as modificações na sociedade que geraram

Cláudio de. A Igreja Católica, as Ordens de Cavalaria e os Templários. Em https://tradicaocatolicaes.wordpress. 2CICCO,

com/2011/09/09/as-ordens-de-cavalaria-e-os-templarios/ acessado 04 de maio de 20158 ás 20:03h.


G N A R U S | 14 sobre a ética cavaleiresca.

integrantes.

E o terceiro são os sermões

disso

da Idade Média, pois

passaram a ter uma

existem

oportunidade

de

ascensão

ao

podemos

sermões

que

vislumbrar

o

A

os

partir plebeus

social

ideal de vida e da época

pertencerem

referente à cavalaria.

cavalaria.

à

Acreditamos que numa

Na Cavalaria havia um

tentativa de restabelecer o

código que devia ser

equilíbrio perdido a partir

decorado

da queda do Império

iniciação na Ordem, ele

Romano e num momento

é um código simples e

em

que

não

praticamente

havia

Selo dos Templários

uma

antes

da

de fácil memorização, pois nessa época poucas

autoridade centralizada, mas que se desenvolvia o

pessoas sabiam ler e escrever, por isso ele contém

regime feudal de pequenos reis ou suseranos com

apenas dez mandamentos.

vastas terras apesar de não ter nenhuma

Os mandamentos eram o de que o cavaleiro

salvaguarda contra os assaltantes, a Cavalaria teve

deveria crer em Deus, ele tinha que proteger os que

início como uma autoridade de fiscalização social.

acreditavam em Deus, respeitar os mais fracos,

Com a criação da Cavalaria a entrada dos

amar o seu país, nunca recuar perante o seu

indivíduos a essa ordem era feita por uma

inimigo, fazer guerra contra os inimigos da fé, ser

cerimônia, conhecida como a entronização ou

fiel a palavra dada, ser liberal e generoso e por fim,

iniciação na Ordem da Cavalaria, que era

ser o campeão do direito e da justiça contra o mal e

compreendida como um sacramento que seria

a injustiça.

recebido e que só poderia ser dado por alguém que

A vida do cavaleiro era uma vida relativamente

já foi sacralizado, ou seja, somente um cavaleiro

comum, pois apesar de gozar de privilégios

poderia transformar em um cavaleiro quem não o

especiais sua vida cotidiana decorria normalmente

fosse.

de acordo com a sua posição social. A guerra e o

O ingresso na cavalaria tinha como pré-requisito

torneio faziam parte da atividade normal de um

a entrada não obrigatória, pois ele não poderia ser

cavaleiro, o torneio servia como treinamento para

forçado por ser visto como um sacramento, para a

uma guerra e distração já a guerra era a ocasião

própria instituição era uma indignidade alguém ser

para mostrar o valor do cavaleiro, por isso a

forçado. Além disso, alguém que tivesse sido

qualquer momento que visse uma pessoa sendo

acusado de qualquer traição jamais poderia ser

humilhada ou oprimida deveria tomar a sua defesa.

admitido à Cavalaria.

A cavalaria passou a ser valorizada e a ter

A entrada dos indivíduos na cavalaria no início era

prestigio, o que possibilitou a aristocracia fazer uso

independente da condição social e todos tinham as

de seu prestigio a partir de sua aproximação, pois

mesmas obrigações e direitos, pois o que era levado

ser cavaleiro nesse período passou a ser sinônimo

em conta era a força guerreira e o maior número de

de pureza religiosa e ser título nobiliárquico, por


G N A R U S | 15 mais simples que fosse.3 Com o reconhecimento da

fossem protegidos, elaborou-se a cultura de

cavalaria na sociedade a aristocracia passou a

incumbir na figura do cavaleiro medieval a

tomar para si própria o título de cavaleiro e isso

proteção destas categorias sociais.

culminou no século XIII numa absorção por completo da cavalaria pela

aristocracia.4

De acordo com o que pudemos perceber, acreditamos que a Igreja conseguiu inserir no seio

Segundo Jean Flori depois dessa aproximação a

da cavalaria elementos dá ética cristã através do

cavalaria passou a ser entendida em duas esferas a

que consideramos como a sacralização da cavalaria.

militar e social-religiosa, pois a Igreja também se

Pois, após o século XI a Igreja passou a sugerir a

aproximou da cavalaria na forma de recrutamento

sacralização da cavalaria por meio de cerimônias,

de cavaleiros de diversas localidades para proteção

sagrações, ritos litúrgicos, bênçãos no ato da

de seu território frente às incursões de normandos

entrega das armas e na função do cavaleiro em

no sul da Itália e ao tentar por meio de diversos

defender a fé cristã, com o intuito de que a ética

procedimentos inserir elementos da ética cristã na

cristã dentro da cavalaria auxiliasse no controle das

ideologia cavaleiresca.

ações cavalheirescas.

Acreditamos que um desses elementos está

Em suma, a sacralização do cavaleiro medieval a

presente na opinião de Cicco quando ele diz que

nosso ver se dá através da tentativa da Igreja de

acredita que a Igreja com o propósito de segurar o

regular e canalizar a violência desses cavaleiros a

ardor guerreiro dos cavaleiros, que tinha uma

seu favor, impondo a eles o respeito por um “tempo

grande influência nesse período, proibiu a guerra

sagrado” e conduzindo-os para contribuir na defesa

na quaresma por ser considerada um período de

da Igreja e seu patrimônio, assegurando a sua

oração e esse período passou a ser conhecido como

independência e o seu poder material, bem como

a “trégua de Deus”, além disso, passou a ser

afirmando o seu magistério sobre a sociedade.

proibido o ataque de clérigos, mulheres e crianças

Enfim, acreditamos que a formação do ideal

que ficou conhecido como a “paz de Deus” e foi

cavaleiresco na Idade Média esteve intimamente

decretado que a guerra deveria ser travada num

ligada à ética cristã, pois no decorrer dos séculos a

campo, chamado “campo de batalha” com o intuito

Igreja a partir de diversos modos regularizou,

de evitar ao máximo que a população seja atingida

regulamentou e controlou o meio guerreiro de

e ferisse assim gravemente o Código da Cavalaria.

certa forma.

E na opinião de Cyro de Barros Rezende Filho em

Guerra e poder na sociedade feudal5 diz que em um esforço para proteger os elementos indefesos da sociedade feudal, a Igreja mobilizou-se em decretos que proibiam os combates entre senhores em determinados dias da semana, como Domingo.

Algumas considerações acerca da simbologia presente no armamento do cavaleiro Pudemos perceber a existência de relação

simbólica entre os objetos usados pelos cavaleiros e um significado relacionado à sacralidade deles. Jean Flori sugeri que objetivo dessa relação é

Para garantir que fieis, crianças, freiras, idosos 3FLORI,

Jean. 2010, p. 185-188. In: CRUZ, Paulo Christian Martins Marques da. Algumas questões sobre a sacralização da cavalaria no Ocidente Medieval. VII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação e VII Encontro Latino Americano

de Iniciação Cientifica Júnior, Universidade do Vale do Paraíba, 2013. 4FLORI, Jean. A cavalaria: a origem dos nobres guerreiros da Idade Média. São Paulo: Madras, 2005. p. 113-123. 5REZENDE FILHO, Cyro de Barros. Guerra e poder na sociedade feudal. São Paulo: Ática, 1995.


G N A R U S | 16 inculcar

na

cavalaria

as

regras

de

um

por ela seria salvo. Ao ser cravada no infiel, o

comportamento que coloque o cavaleiro a serviço

cavaleiro traçaria o desenho de uma cruz como

da Igreja e do bem, dando às armas do cavaleiro um

forma de salvação para expiar a sua alma perdida e

significado ético e religioso da mesma ordem,

desligada da palavra de Deus.

mostrando que todo cavaleiro serve ao povo e a Deus.

A lança é uma das principais armas do cavaleiro, o seu significado é visto como a verdade, pois em um

Paula Carolina Teixeira Marroni no artigo A

combate o cavaleiro deve confiar na sua lança e ela

simbologia das armas do cavaleiro medieval

não deve torcer ou quebrar já que o seu papel é o

presente no Livro da Ordem de Cavalaria, de

de derrubar e deixar fora de combate o seu

Raimundo Lúlio: a retomada saudosista da

adversário. Acredita-se que a lança combate a

importância de enfatizar valores cristãos afirma que

falsidade e que a verdade não se dobra diante

a defesa da Igreja pelo cavaleiro está representada

desta.

na relação entre as armas e a função do cavaleiro

O escudo é considerado uma arma de defesa, de

em defender a fé de Cristo. Podemos perceber isso

acordo com Lúlio o escudo é como o próprio ofício

em O livro da Ordem da Cavalaria de Raimundo

de cavaleiro, ou seja, ele representa o próprio

Lúlio,6 pois ele nos apresenta a espada, a lança, o

cavaleiro que por sua vez seria o escudo do senhor.

chapéu de ferro, a cota de malha, as calças de ferro,

Sendo assim acredita-se que como o escudo fica

a espora, a gorjeia, a maça, o escudo e seu brasão, a

entre o inimigo e o cavaleiro, este deve postar-se

sela, o cavalo, o freio e as rédeas, a testeira do

entre o Deus e o infiel.

cavalo, assim como suas guarnições, o perponte e a

A maça segundo Raimundo Lúlio é dada ao

bandeira relacionando cada um deles com

cavaleiro e representa força e coragem, ela golpeia

elementos importantes para a fé cristã de maneira

todas as armas e feri em todas as partes do corpo,

simbólica.

portanto, é considerada uma defesa ativa do

Devido à grande quantidade de armas citadas

cavaleiro, pois enquanto ele se defende também

acima e por considerar que não caberia aqui tratar

feri. Acredita-se que enquanto o cavaleiro age com

da simbologia de todas as dezoito armas,

coragem para evitar o vicio, fortifica cada vez mais

ressaltamos aquelas que mais nos chamou atenção

suas virtudes.

e serão citadas nas vidas dos santos que analisados no próximo capítulo.

O cavalo é considerado por Lúlio uma arma, pois foi fabricado por Deus e é visto um presente do

Em suma, acredita-se que a espada é feita em

mesmo, logo é considerado a arma mais importante

semelhança à cruz e seu duplo gume confere a ela

e a que determina esta função tão nobre. Este autor

a manutenção da justiça e da cavalaria, vista como

apresenta a tese de que o cavalo coloca o cavaleiro

um símbolo cruzado de força, poder e decisão. Para

mais alto do que qualquer outro homem, indicando

Lúlio a espada simbolizava o sacrifício da morte

assim o seu papel na sociedade. E por ele ser

pela cruz, pois da mesma forma que Cristo morreu,

superior deve agir e fazer justiça em prol dos mais

o infiel morreria pela cruz formada pela espada e

fracos.

Raimom. O livro da Ordem da Cavalaria. Trad. Ricardo da costa. São Paulo: Giordano, Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência “Raimundo Lúlio” (Ramom Llull), 2000. 6LLULL,


G N A R U S | 17 A cota de malha é apontada por Lúlio como impenetrável e é vista como uma fortaleza que protege o cavaleiro por todos os lados dos vícios e faltas. Já as calças de ferro são vistas como protetoras dos caminhos do cavaleiro. Enfim,

acreditamos

que

esta

simbologia

estabelece um elo entre os elementos que fazem parte da vida do cavaleiro, como as virtudes, a verdade, a justiça, a necessidade de obediência, a honra, a luta com coragem contra os vícios, a função de se posicionar entre a igreja e os infiéis, e os elementos presentes nos valores religiosos. O que nos remete a ligação entre a Ordem da Cavalaria e a Igreja.

Breve relato sobre a Ordem dos Templários Acreditamos que a ligação entre Ordem da Cavalaria e a Igreja tornou possível à criação de uma Ordem Monástica-Militar, como a primeira experiência de monges-guerreiros, a partir da necessidade de proteção dos Estados Latinos recém-criados na Terra Santa após a Primeira Cruzada (1095-1099). A Ordem dos Hospitalários foi a primeira a surgir, eles tinham a finalidade de socorrer os peregrinos, proporcionando-lhes

escolta,

medicamentos,

sustento, abrigo e defesa em seu retorno a Europa. No entanto, percebeu-se que era necessária uma organização que além de proteger os peregrinos, ocupassem militarmente os lugares conhecidos como

“lugares

santos”

uma

vez

que

a

Constantinopla estava ameaçada pelos turcos. Diante desta necessidade surgiu no ano de 1118 a Ordem dos Templários fundada por Hugo de

Cavaleiros de Cristo, por Jan van Eyck, (1432)


G N A R U S | 18 Payens7 que era um cavaleiro francês, mas só foi

temática militar e da violência, que supomos

reconhecida pela Igreja em 1129 no Concílio de

caracterizar e aproximar-se da cavalaria medieval.

Troyes por causa do apoio do abade Bernardo de

E a partir dessa seleção fizemos a nossa pesquisa e

Claraval. Nesta instituição os cavaleiros viviam

constatamos a pouca disponibilidade de material

juntos em um mosteiro, como se fossem monges, e

especifico para consulta do nosso tema, por isso

era exigido que eles deixassem de lado os prazeres

utilizamos como base a análise da nossa fonte

mundanos e adotassem a pobreza absoluta por ser

primária e fontes secundarias, colhidas através de

obrigatório a simplicidade.

livros, revistas, artigos.

Segundo Omar Cartes em A História dos

No entanto, como o objetivo deste trabalho foi

Templários8 antes dos cavaleiros pronunciarem os

apresentar algumas ponderações sobre cavalaria e

votos para entrar na Ordem dos Templários eles

santidade bem como trabalhos sobre essas

deveriam cumprir um noviciado e somente a partir

temáticas, concluiremos o presente trabalho

do pronunciamento dos votos é que podiam ser

destacando alguns trabalhos produzidos em torno

considerados religiosos.

destas temáticas e que foram importantes para a

Cabe ressaltar que os templários pronunciavam

nossa pesquisa. Os artigos de Bruno G. Alvaro, A

os votos de castidade, pobreza e obediência e

legenda de São Jorge e a santidade cavalheiresca:

assistências aos ofícios religiosos de dia e noite

algumas reflexões que analisa a presença da

obrigatoriamente. Gostaríamos de chamar atenção

temática militar na produção hagiográfica do

ao fato de que os votos e regras dos templários são

século XIII com base na Legenda Áurea e A espada,

tipicamente religiosos.

a lança e a cruz: reflexões acerca da presença da

Em suma, acreditamos que a formação e a

militia na Legenda áurea através das vidas de São

instituição da Ordem dos Cavaleiros Templários é o

Jorge e São Mercúrio que visa apontar a presença

ponto culminante da sacralização da imagem do

de

cavaleiro da Idade Média, que teve seus feitos no

hagiografias. Esses dois artigos foram de extrema

campo de batalha e na mentalidade coletiva

importância para a nossa pesquisa pois eles

refletindo nesta instituição como artífice da

abordam de forma mais especifica a temática

Cristandade e protetor da mesma.

trabalhada por nós.

elementos

da

cavalaria

medieval

nas

Consideramos os livros, História e Historiografia

Conclusão

sobre a Hagiografia Medieval organizado por Igor

Devido às transformações ocorridas na Igreja em

Salomão Teixeira, essa obra reúne um conjunto de

especial no século XIII, às hagiografias passaram a

texto de alguns pesquisadores com abordagens

ser adotadas nas pregações e serem utilizadas como

variadas, que pesquisam sobre os relatos da vida

exemplos a ser seguido com o intuito de lutar

dos santos produzidos no período medieval.

contra os infiéis e combater as heresias. Em vista

A cavalaria: a origem dos nobres guerreiros da

disso, estabelecemos como critérios de seleção as

Idade Média deJean Flori que apresenta uma

hagiografias que apresentam elementos da

síntese de pesquisas realizadas de cunho histórico e

7CICCO,

Cláudio de., Op. cit. Omar. A História dos Templários. Disponível emhttp://www.ostemplarios.org.br/txt/bib/b2120407112954. pdf Acessado em 04 de maio de 2014 ás 20h:15min. 8Cartes,


G N A R U S | 19 literário a respeito da nobreza, das guerras e da mentalidade medieval no qual o ideal cavaleiresco foi constituído.

A sociedade Cavaleiresca de Georges Duby, neste livro Duby nos apresenta as origens da cavalaria, como a ideia de nobreza uniu-se a cavalaria. EA

cavalaria da Germânia Antiga á França do século XII de Dominique Bartthélemy que discute a definição de cavalaria, o quanto da nossa imaginação sobre a cavalaria faz parte da literatura. Gostaria de sublinhar que as discussões abordadas neste livro são importantes para quem pretende tecer comentários sobre a cavalaria. Enfim,

supomos

que

Hagiografia& História: reflexão sobre a Igreja e o fenômeno da santidade na Idade Média Central. . Rio de Janeiro: HP Comunicação

Editora, 2008. SILVA, Leila Rodrigues da. Reflexões sobre a

construção de um herói no discurso hagiográfico. O caso frutuoso de Braga na Vita Sancti Fructuosi. In: PINTO, Ana Paula; SILVA,

João Amadeu Carvalho da; LOPES, Maria José; GONÇALVES, Miguel António (orgs.). Mitos e Heróis: a expressão do imaginário. Braga: Aletheia, Publicação da Faculdade de Filosofia, UCP, 2012. TEIXEIRA, Igor Salomão. História e Historiografia sobre a Hagiografia Medieval. Igor Salomão Teixeira (org.). São Leopoldo: Oikos, 2014.

contribuímos

significativamente para trazer a tona um novo enfoque sobre a relação entre cavalaria e santidade e destaque para as pesquisas sobre essas temáticas. Leilane Araujo Silva é Graduada de História pela Universidade Federal de Sergipe e integrante do Vivarium – Laboratório de Estudos da Antiguidade e do Medievo (Núcleo Nordeste). E-mail: leila_rapunzel@hotmail.com

Referências: Fonte VARAZZE, Jacopo. Legenda Áurea: Vida de Santos. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. Bibliografia

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BARTHÉLEMY,

ff, tradução de Maria Jorge Vitar de Figueiredo. Lisboa: Editorial Presença, 1989. SILVA, Andréia Cristina Lopes Frazão da. (Org.)

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Dominique Bartthélemy, tradução de Néri de Barros Almeida e Carolina Gual da Silva. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2010. DEMURGER, Alain. Os Templários: uma cavalaria cristã na Idade Média. Alain Demurger, tradução Karina Jannini. Rio de Janeiro: DIFEL, 2007. DUBY, Georges. A sociedade Cavaleiresca. Georges Duby, tradução de Antonio de Padua Danesi. São Paulo: Martins Fontes LTDA, 1989. FLORI, Jean. A cavalaria: a origem dos nobres guerreiros da Idade Média. Jean Flori, tradução Eni Tenório dos Santos. São Paulo: Madras, 2005.

Artigos ALVARO, Bruno Gonçalves. A legenda de São Jorge

e a santidade cavaleiresca: algumas reflexões.

In: SILVA, Andréia C.L. F.; SILVA, Leila Rodrigues (orgs.). Atas da VI Semana de Estudos Medievais, Rio de Janeiro: Programa de Estudos Medievais, p. 79-85, 2006. AMATUZZI, Renato Toledo Silva. Ritos

taumatúrgicos, relíquias sagradas e santos curadores na Legenda Áurea de Jacopo de Varazze, Itália, século XIII. XII Jornada de

Estudos Antigos e Medievais e IV Jornada Internacional de Estudos Antigos e Medievais, Universidade Estadual de Maringá, 2013. Disponível em: <http://www.ppe.uem.br/jeam/anais/2013/pdf/0 4.pdf>. Acessado em 23 de abril de 2014 ás 18h:20min. CRUZ, Paulo Christian Martins Marques da.

Algumas questões sobre a sacralização da cavalaria no Ocidente Medieval. VII Encontro

Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação e VII Encontro Latino Americano de Iniciação Cientifica Júnior, Universidade do Vale do Paraíba,2013. Disponível em: <http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2013/ anais/arquivos/0079_0750_01.pdf>. Acessado em 23 de abril de 2014 ás 18h:30min. Publicações periódicas ALMEIDA, Néri de Barros. Hagiografia, propaganda

e memória, histórica: o monasticismo na Legenda Áurea de Jacopo de Varazze. Revista Territórios & Fronteiras, Curitiba, Vol. 07, nº 2, jul-dez, 2014.


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évenement sans fin: Récitet christianisme au Moyenage.Tradução de Igor Salomão. Revista

TEIXEIRA, Igor Salomão. O tempo da santidade: reflexão sobre um conceito. Revista Brasileira de História, São Paulo, Vol. 32, nº63, p. 207-223, 2012.

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que não são santos: estudos sobre a religiosidade popular brasileira. Mimesis, Bauru,

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Revista do corpo discente do Programa de PósGraduação em História da UFRGS. Disponível em <http://www.seer.ufrgs.br/index.php/aedos/art icle/view/9862/5717>. Acessado em 22 de abril de 2014 ás 18h:00min. SOUZA, Néri de Almeida. Palavra de púlpito e

erudição no século XIII: a Legenda Áurea de Jacopo de Varazze. Revista Brasileira de história, São Paulo, Vol. 22, nº 43, p. 67-84, 2002.

Cena alegórica de mulher sob a proteção da cavalaria.


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