Revista Arte Sesc - nº 11 - Primeiro semestre/ 2012

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ARTES CÊNICAS

PRIMEIRO SEMESTRE

2012

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EXPERIÊNCIA 3: TROCANDO EXPERIÊNCIAS COM GRUPOS DE OUTROS ESTADOS DO BRASIL

maioria, a necessidade de uma dramaturgia criada

Uma das características do Palco Giratório RS vem

de cada grupo. Inserido nessa característica, posso

sendo a priorização ao que chamamos de “teatro

citar um trabalho que, com certeza, foi o que mais

de grupo”, ou seja, ao trabalho de grupos de teatro

comoveu os gaúchos nessa edição do Palco Girató-

com pesquisa continuada. Vimos nesses sete anos

rio: Luis Antonio-Gabriela, da Cia. Mungunzá (SP),

de Festival desde coletivos artísticos absolutamen-

com direção de Nelson Baskerville. Por meio de vá-

te consolidados, como o Teatro da Vertigem (SP), o

rios posts e comentários de colegas no Facebook,

XIX de Teatro (SP) ou o já citado Odin Teatret, por

por exemplo, pude constatar os modos diversos – e

exemplo, até grupos menos conhecidos, mas nem

positivos! – com que este “documentário cênico”

por isso menos competentes. Agora, em 2012, pu-

tocou, sobretudo, os artistas locais. Particularmen-

demos conferir trabalhos extremamente poéticos

te, já havia tido a oportunidade de assisti-lo em

e impactantes de grupos que nunca ou pouquís-

São Paulo e, desde lá, a obra tinha “devastado meu

simas vezes tiveram a chance de se apresentar na

coração”, como costumo comentar com amigos.

capital gaúcha. E, assim, o público de Porto Alegre

Partindo de um pressuposto absolutamente im-

pôde conhecer o que outros artistas brasileiros

pactante – e corajoso! –, Baskerville consegue, não

vêm pensando – e produzindo – sobre o teatro

somente (re)contar sua trajetória familiar de modo

contemporâneo. E, mais do que isso: os porto-ale-

sensível e tocantemente sincero, como também o

grenses puderam compreender que processos e

faz de maneira incrivelmente criativa. Cenas ines-

resultados mais “alternativos” ou “artesanais” não

quecíveis vão surgindo em minha memória: a briga

são características apenas das produções locais...

dos pais na Rural (minha preferida!), os “balões-

especificamente para o espetáculo, na busca de um discurso original que condiga com os ideais

Neste quase um mês de programação inin-

-com-palavras” de Nelsinho, a dublagem grotesca

terrupta, consegui desfrutar de 13 espetáculos

de Gabriela, o discurso Mickey/Minnie de Bolinho,

convidados, além de alguns gaúchos que já havia

o espancamento de Luis Antonio pelo pai (“Nelsi-

visto anteriormente. Noto nestes trabalhos, em sua

nho, meu filho, coloca uma música para o pai...”), dentre tantas outras. As cenas em sua maioria são surpreendentes, emocionais, performáticas, singelas. Invejavelmente maravilhosas! A dramaturgia do espetáculo tem a árdua tarefa de construir uma obra-relato de modo interessante e o faz extremamente bem, recheada de frases e discursos que nos fizeram refletir e nos emocionaram. Se há um comentário desfavorável a ser feito ao espetáculo é a disparidade do elenco: de um lado temos a entrega absoluta de Marcos Felipe e a sinceridade da performance de Verônica Gentilin, enquanto de outro temos atores que por várias vezes parecem teatrais demais, declamados demais, nos distanciando da proposta cênico-performática estabelecida por Baskerville. Mas é um detalhe insignificante diante da potência política que Luis Antonio-Gabriela re-

Petróleo, de Alexandre dal Farra, e Breves Entrevistas com Homens Hediondos, do Teatro Sarcáustico (RS)

presenta para o teatro brasileiro contemporâneo. Outra peça que gerou vários comentários, mas desta vez um tanto quanto polêmicos, foi o


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