ARTES CÊNICAS
PRIMEIRO SEMESTRE
2012
21
EXPERIÊNCIA 3: TROCANDO EXPERIÊNCIAS COM GRUPOS DE OUTROS ESTADOS DO BRASIL
maioria, a necessidade de uma dramaturgia criada
Uma das características do Palco Giratório RS vem
de cada grupo. Inserido nessa característica, posso
sendo a priorização ao que chamamos de “teatro
citar um trabalho que, com certeza, foi o que mais
de grupo”, ou seja, ao trabalho de grupos de teatro
comoveu os gaúchos nessa edição do Palco Girató-
com pesquisa continuada. Vimos nesses sete anos
rio: Luis Antonio-Gabriela, da Cia. Mungunzá (SP),
de Festival desde coletivos artísticos absolutamen-
com direção de Nelson Baskerville. Por meio de vá-
te consolidados, como o Teatro da Vertigem (SP), o
rios posts e comentários de colegas no Facebook,
XIX de Teatro (SP) ou o já citado Odin Teatret, por
por exemplo, pude constatar os modos diversos – e
exemplo, até grupos menos conhecidos, mas nem
positivos! – com que este “documentário cênico”
por isso menos competentes. Agora, em 2012, pu-
tocou, sobretudo, os artistas locais. Particularmen-
demos conferir trabalhos extremamente poéticos
te, já havia tido a oportunidade de assisti-lo em
e impactantes de grupos que nunca ou pouquís-
São Paulo e, desde lá, a obra tinha “devastado meu
simas vezes tiveram a chance de se apresentar na
coração”, como costumo comentar com amigos.
capital gaúcha. E, assim, o público de Porto Alegre
Partindo de um pressuposto absolutamente im-
pôde conhecer o que outros artistas brasileiros
pactante – e corajoso! –, Baskerville consegue, não
vêm pensando – e produzindo – sobre o teatro
somente (re)contar sua trajetória familiar de modo
contemporâneo. E, mais do que isso: os porto-ale-
sensível e tocantemente sincero, como também o
grenses puderam compreender que processos e
faz de maneira incrivelmente criativa. Cenas ines-
resultados mais “alternativos” ou “artesanais” não
quecíveis vão surgindo em minha memória: a briga
são características apenas das produções locais...
dos pais na Rural (minha preferida!), os “balões-
especificamente para o espetáculo, na busca de um discurso original que condiga com os ideais
Neste quase um mês de programação inin-
-com-palavras” de Nelsinho, a dublagem grotesca
terrupta, consegui desfrutar de 13 espetáculos
de Gabriela, o discurso Mickey/Minnie de Bolinho,
convidados, além de alguns gaúchos que já havia
o espancamento de Luis Antonio pelo pai (“Nelsi-
visto anteriormente. Noto nestes trabalhos, em sua
nho, meu filho, coloca uma música para o pai...”), dentre tantas outras. As cenas em sua maioria são surpreendentes, emocionais, performáticas, singelas. Invejavelmente maravilhosas! A dramaturgia do espetáculo tem a árdua tarefa de construir uma obra-relato de modo interessante e o faz extremamente bem, recheada de frases e discursos que nos fizeram refletir e nos emocionaram. Se há um comentário desfavorável a ser feito ao espetáculo é a disparidade do elenco: de um lado temos a entrega absoluta de Marcos Felipe e a sinceridade da performance de Verônica Gentilin, enquanto de outro temos atores que por várias vezes parecem teatrais demais, declamados demais, nos distanciando da proposta cênico-performática estabelecida por Baskerville. Mas é um detalhe insignificante diante da potência política que Luis Antonio-Gabriela re-
Petróleo, de Alexandre dal Farra, e Breves Entrevistas com Homens Hediondos, do Teatro Sarcáustico (RS)
presenta para o teatro brasileiro contemporâneo. Outra peça que gerou vários comentários, mas desta vez um tanto quanto polêmicos, foi o