10 lições básicas

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1ª Edição Fevereiro de 2010


10 Lições Básicas: Como se dar mal profissionalmente! Uma crítica profissional por Marcelo Augusto Prado Sant’Anna


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Como hoje eu me vejo anos atrás!!!

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Marcelo Sant’Anna

arcelo Augusto Prado Sant’Anna é engenheiro em telecomunicações formado pelo Inatel em 1990. É especialista em Administração de Marketing pelo IPEP – Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa, Mestre em Administração de Negócios pelo BSP – Business School São Paulo e especialista em Marketing na Globalização pelo Instituto Rotman School of Management da Universidade de Toronto, Canadá. É professor da FGV Management, professor de cursos de extensão acadêmica do Inatel, consultor de empresas e escritor. É sócio-fundador e presidente da 4B e foi fundador da eVolcomm, empresa criada para o desenvolvimento de projetos de comunicação inovadores. A 4B – Brain Builders for Business foi criada para auxiliar no desenvolvimento profissional e pessoal de executivos, empreendedores e empresários. Foi presidente da Loral Skynet do Brasil, Presidente da Terayon do Brasil. Antes, foi Diretor de Marketing e Vendas da Alcatel Telecomunicações, Gerente de Vendas e Exportação da Andrew, Gerente de Exportações da kmP, Especialista Comercial da NEC do Brasil e Gerente de Projetos Satélite da NEC Implantação. Estranhamente, nenhuma dessas empresas, onde foi executivo, têm mais esses nomes, foram vendidas ou juntadas. A Loral agora é Telesat. A Terayon agora é Motorola, a Alcatel é Alcatel-Lucent, Andrew virou CommScope e kmP virou RFS. Os nomes mudaram muito, mas as empresas continuam as mesmas...

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Conteúdo

Dedicatórias ...................................................................... 6 Introdução......................................................................... 7 Lição nº 1: Seja Inovador! ............................................. 8 Lição nº 2: Seja criativo!................................................ 9 Lição nº 3: Seja preparado! ......................................... 10 Lição nº 4: Seja rápido! ............................................... 11 Lição nº 5: Seja calmo! ................................................ 12 Lição nº 6: Seja competitivo! ...................................... 13 Lição nº 7: Seja leal! .................................................... 14 Lição nº 8: Seja participativo! ..................................... 15 Lição nº 9: Seja sincero! .............................................. 16 Lição nº 10: Seja proativo! .......................................... 17 Capítulo 1: Por que não ser inovador? ........................... 18 Capítulo 2: Por que não ser criativo? .............................. 24 Capítulo 3: Por que não ser preparado? ......................... 29 Capítulo 4: Por que não ser rápido? ............................... 34 Capítulo 5: Por que não ser calmo? ................................ 38 Capítulo 6: Por que não ser competitivo? ...................... 42 Capítulo 7: Por que não ser leal? .................................... 47

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Marcelo Sant’Anna Capítulo 8: Por que não ser participativo? ..................... 52 Capítulo 9: Por que não ser sincero?.............................. 56 Capítulo 10: Por que não ser proativo? .......................... 59 Conclusões ...................................................................... 63

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Dedicatórias Sem dedicatórias...

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Introdução Sem introdução também... Aliás, a única coisa que tenho introduzido em minha vida nos últimos anos são problemas por não seguir essas lições. E alguns números negativos em minha conta bancária também.

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Lição nº 1: Seja Inovador!

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ssa foi uma das maiores bobagens que já fiz em minha vida! Sempre fui considerado inovador, algumas vezes até ingerenciável de tantas idéias novas. E pior que gostava do adjetivo, o que prova o quão estúpido eu sou. Ninguém gosta de pessoas inovadoras. Têm medo delas. Defendem seus mundos presentes como se não existisse outro, logo ao lado. Empresas então, nem me fale. Quem manda nas empresas é o financeiro, que nada tem de inovador, lembrem disso. Se você satisfizer apenas ao financeiro, terá seu emprego garantido para o resto de sua vida. E a isso se resume a inovação! Mas veremos mais coisas no capítulo reservado à lição nº 1.

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Lição nº 2: Seja criativo!

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egunda das maiores bobagens que já fiz em minha vida. Uma vez que inovar é muito mais barato que criar, o que explicarei mais adiante, como seria possível eu criar, se inovar não conseguia? Criar é coisa do divino, dirão os financeiros. O negócio aqui é gerir o fluxo de caixa, sem criar nada de novo. Pessoas criativas são sempre ditas: malucas! Ninguém gosta de pessoas criativas, puro marketing pessoal quem diz preferir trabalhar com pessoas criativas para verem o outro lado da moeda. O ser humano é egoísta e egocêntrico1, e ser criativo no meio deles é pedir para levar chumbo. Não existe ser humano que goste de dar créditos aos criadores das coisas, isso é pura ficção científica. Aliás, nem em ciência isso acontece! Veremos mais coisas sobre criatividade mais adiante.

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Apesar de serem sinônimos, aqui eles têm conotações diferentes, a saber: egoísta, nesse texto, é a pessoa que se acha a mais importante do mundo. Egocêntrica é a pessoa que quer que todos os outros a achem a pessoa mais importante do mundo.

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Lição nº 3: Seja preparado!

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ais preparado que eu conheço pouquíssimas pessoas. Formado no segundo grau com méritos, Técnico em Mecânica, Engenheiro Eletricista, com ênfases em Telecomunicações e Eletrônica, pós-graduado em Marketing, MBA com especialização no Canadá. Palestrante de vários seminários nacionais e internacionais. Ex-presidente, ex-Diretor, exGerente, ex-tudo que você possa imaginar. Sabe do que serve isso. Nada! Muito pelo contrário. Com certeza, se tiveres um currículo preparado como o meu, vai ficar desempregado para o resto da vida. Nada se encaixa para você depois que você chega a certo patamar. Pessoas preparadas são caras demais para os diretores financeiros das empresas. Para eles, é muito melhor pegar um cara em preparação, com todo o gás do mundo, cheio de velocidade, etc. Depois, ele se prepara, a empresa o manda para fora e contrata outro, simples assim. Ficar quieto e não usar sua preparação para crescer na empresa onde trabalha é a melhor coisa que você pode fazer para manter o seu emprego.

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Lição nº 4: Seja rápido!

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forte não é mais quem vence o fraco. O rápido é quem vence o lerdo!” Nem sei como fui acreditar nisso algum dia. Isso contraria as leis da natureza e eu nem percebi. Basta assistir aos canais sobre o mundo animal em algum desses canais a cabo para ver que isso é pura bobagem. Os rápidos dentro das empresas sempre trabalham muito mais que os outros. E sempre ficam sem tempo de ter uma vida normal fora do trabalho. Somente os chefes adoram pessoas rápidas, pois podem colocar mais coisas que não conseguem andar, para pelo menos saírem do lugar; mesmo que seja lateralmente. Se você fizer seu trabalho muito mais rápido que os outros, terá a inveja de todos. Será um alienígena! E podes crer, vais trabalhar bem mais que os outros todos juntos.

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Lição nº 5: Seja calmo!

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á fiz de tudo que vocês podem imaginar para me manter calmo. Realmente, manter-se calmo ajuda em sua saúde. Mas profissionalmente é um fiasco. Os calminhos são sempre enxotados pelos outros de forma humilhante. O ser humano é, lembrem-se, egocêntrico e egoísta. Ver alguém que não responde de forma rude aos outros torna essa pessoa um alvo iminente de provocações e sacanagens.

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Lição nº 6: Seja competitivo!

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aiba que ninguém gosta de pessoas competitivas. Àquelas que nunca gostam de perder, que querem sempre tomar frente das coisas, etc. Só quem gosta de pessoas competitivas são diretores de vendas e diretores financeiros, principalmente por que elas geram conflitos. Em conflitos normalmente um perde e fica muito bravo por isso. Logo conflitos eliminam custos adicionais desnecessários com demissões e coisas do tipo.

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Lição nº 7: Seja leal!

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ealdade à empresa é a mesma coisa que lealdade ao seu inimigo declarado. A empresa não tem pena de você. Trata você apenas como um número no balanço final e seu salário como despesa operacional. Esqueça. Os leais são os demitidos totalmente deprimidos do futuro. Com poucas chances de recuperação do trauma da demissão. Ouça sempre todas as propostas que fizerem a você. Mas lembre-se, que mesmo que mude de empresa ou departamento, nada mudará. Entendeu? Todas essas lições permanecem as mesmas para as outras empresas.

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Lição nº 8: Seja participativo!

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inguém gosta de pessoas participativas demais. Que querem estar em tudo e se manifestam a ajudar qualquer um, participar em grupos de trabalho e coisas do tipo. Aliás, grupo de trabalho é: “um bando de incompetentes, colocados juntos por um desinteressado, para solucionar problemas sem a menor relevância...” Soa falso ser participativo demais, principalmente se está começando em um novo local de trabalho. Todos vão pensar que você é um bajulador, e você criará inimigos com certeza.

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Lição nº 9: Seja sincero!

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aibam que a arte de dar e receber realimentação exige muito treinamento. Não saia dando sua opinião por aí. Não critique as pessoas sem que essas solicitem, e mesmo que o façam cuidado com as críticas. Pessoas não gostam de críticas, lembrem, são egoístas e egocêntricas. Pior, imediatamente a uma crítica, elas respondem com outra forte contra você. Sinceridade é coisa para gente muito, mas muito rica mesmo.

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Lição nº 10: Seja proativo!

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roatividade é muito perigosa. A probabilidade de você tomar uma decisão, sem que alguém o tenha mandado fazer, e essa decisão ser a errada é enorme. Não ponha seu pescoço na corda somente porque outros falam. Respeite as ordens de seus superiores, e se eles não derem ordens, não é problema seu!

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Capítulo 1: Por que não ser inovador?

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xemplos eu tenho aos milhares, mas vamos comentar apenas alguns deles nesse capítulo. Sempre fui considerado uma pessoa muito inovadora, e inovação nesse caso quer dizer: pegar alguma coisa que já existe e melhorar! O problema, é que ninguém que criou aquela coisa anterior gosta que outro a melhore e fique com os méritos. Parece mentira, mas, é verdade. Inovar é sempre mais barato que criar, e como usar de formas diferentes uma coisa inventada por alguém pode salvar bilhões de dólares para uma companhia e fazer o inovador ganhar muita grana, isso gera ciúmes. Em minha última empresa quis inovar através de um processo novo de vendas. Havia quase dois anos que me contrataram e quase nada vendido de um equipamento muito caro que tínhamos recém lançado. O mercado estava ruim e o planejamento do produto não tinha sido dos melhores. Pior ainda, quando lançado, saiu com falhas. Decidi inovar devido à situação! Esse novo processo girava em torno de uma idéia de, trabalhar em parceria com o nosso cliente (Isso parece até absurdo não?), e baseado em seus ganhos, fazer a cobrança de nosso

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produto. Tudo feito com estudos prévios de quanto isso poderia gerar e, acredite, o valor era quase duas vezes superior ao que ganharíamos do modo tradicional. Não foi aceito, criei uma tremenda ciumeira em todos os que tinham cargo igual aos meus e, quando meus chefes foram substituídos, perdi o emprego. Sempre ocorre dessa forma. Como eu pensava ser um inovador de primeira, sempre arrumando novas utilidades para coisas criadas anteriormente, não me dei conta que as pessoas são: EGOÍSTAS E EGOCÊNTRICAS. Somente lembrando, no contexto desse livrinho, pessoas egoístas são aquelas que se acham a pessoa mais importante do mundo e, pessoas egocêntricas são as querem que os outros a achem a pessoa mais importante do mundo. O que deveria ter feito? Deveria ter compartilhado minha idéia com muitas pessoas, de forma que ela se tornasse coletiva, ou melhor, como era uma idéia de vendas, deveria ter apresentado para o Diretor de Vendas da empresa e ele que assumisse como dele a idéia. Que importava não ser minha? Praticamente nada... Mas não, fui apresentar para meus chefes diretos que na época eram chefes desse diretor também. Inimigo na certa. E com muitos mais anos de casa e experiência no negócio que eu. Passou-se por sua cabeça suponho: “O que esse moleque, lá dos confins do mundo

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chamado Brasil pode saber sobre nosso produto para propor um negócio desses? Petulante!” O resultado já conhecido somente me levou a ter vários problemas na empresa, principalmente quando esse diretor se tornou meu chefe! Viram como fui estúpido? Não sejam inovadores sem antes saber o comportamento e as crenças de todos dentro da empresa que trabalham. No meu caso específico, na empresa citada anteriormente, ela se tratava de uma empresa estatal, muito antiga, privatizada anos antes, assumida por um grupo de empreendedores das bolsas de valores do mundo. Uma cultura certamente conservadora, e não inovadora, de uma indústria que não muda seu comportamento faz mais de 35 anos. Eu deveria avaliar tudo antes de propor diretamente a meus chefes uma idéia que pensava inovadora. Que na verdade é! Mas as conseqüências para mim foram catastróficas. Outro exemplo de inovação que não deu certo comigo foi em outra empresa, onde propus a entrega dos equipamentos, pelo meu cliente direto, sem custos para sua base de clientes diretos, nesse caso, seus assinantes. A idéia, apesar de baseada em estudos que fiz e apresentei, foi rechaçada imediatamente. Imagine não cobrar nada de seu

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cliente? Isso é válido para algumas situações de lançamentos de produtos novíssimos, quando algum concorrente também está lançando serviço similar ao mesmo tempo e você tem a oportunidade de, no médio/longo prazos, reaver esse investimento através das mensalidades que eles pagam. Isso hoje é usado largamente através do subsídio que temos em muitos serviços de assinatura mensal que adquirimos. Como diriam antigamente: “o radinho de pilhas ficou tão barato, que agora, se você comprar as baterias, o leva de presente...” Grande verdade só que época errada. Essa inovação na forma de conquistar clientes não era usada naqueles tempos, aliás, muito pelo contrário, os que optavam por ter coisas muito novas tecnologicamente pagavam uma fortuna por elas. Como os tempos mudam! Mas qual foi meu erro? Por que não usaram minha inovação? Simplesmente porque eu não fui capaz, pela minha própria inexperiência, de mostrar os benefícios que isso traria em longo prazo, além de não ter deixado claro que nada queria pela idéia. E também não ter colocado de uma forma que parecesse idéia de meu cliente, e não minha. Isso talvez justificasse a implantação da produção local de equipamentos no Brasil, mas sem isso, a produção não decolou e acabamos fechando o escritório no país. Perdi o emprego de novo pela má colocação de coisas

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inovadoras. Dureza mesmo é fazer alguém acreditar em jovens e inexperientes. Mas isso é outra história. Portanto pensem bem. Pessoas inovadoras assustam aos seus pares e chefes. Alguém nunca gosta de não ter sido o cara da idéia e isso, se você não é o mais poderoso, gerará um montão de problemas. Outro detalhe extremamente importante sobre a inovação é que as empresas são conservadoras por natureza. Isso se deve ao fato de hoje, tudo o que manda ser o fator financeiro. Finanças são conservadoras desde seus primórdios. O mercado é avesso a inovações e mudanças drásticas e rápidas de direção. Isso muito se deveu ao estouro da bolha de Internet alguns anos atrás, mas também pelo aumento do poderio dos grupos investidores, que são puramente analisadores de fluxos de caixa. O lucro passou a ser somente contabilizado em termos da diferença entre Receita e Despesa, e não contam com os benefícios gerados à sociedade e coisas mais altruístas. Como diz o presidente de um banco, meu amigo e conselheiro: “Lucro é o que importa!” Minha vida inteira briguei contra esses princípios totalmente financeiros, mas perdi a guerra. É assim que é! Não tem o que fazer. Ser inovador como funcionário de uma empresa é praticamente impossível, principalmente se você

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quiser ver sua inovação aplicada e levar seus louros por ela. Quando você tiver sua própria empresa, inove o quanto quiser. Como funcionário, evite problemas, ou faça sem dizer nada. Mas cuidado! Isso tem que gerar lucro! Acredite, muito lucro para a empresa, senão você vai cair na lição nº 10 desse livro: Ser Proativo!

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Capítulo 2: Por que não ser criativo?

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e inovar, que é muito mais barato que criar, já é praticamente impossível como funcionário, imaginem o segundo. Criativos são sempre os loucos das empresas, pois se acham Deus. A criação já foi um trabalhão para os sete dias do ser supremo! Para simples mortais, trabalhão multiplicado por muitos bilhões de anos... Segundo o princípio de conservação da energia, que é uma das bases fundamentais da física moderna: “Nada se cria, nada se perde. Tudo se transforma!”, dito por um tal de Lavoisier. Um antigo apresentador2 de televisão tem alguma coisa parecida para programação de audiovisuais: “Em TV nada se cria, tudo se copia!”. O “transforma” é a Inovação da qual já falamos na lição nº 1. Criação é coisa de outro mundo. De forma realista, criar é coisa de agência de propaganda e planos de negócios. Tudo fica possível no papel e nos programas de computadores. E não se enganem quando as propostas vierem de empresas ditas “visionárias”, ou seja, que têm alguma visão. Essas normalmente são as mais controladas pelos 2

Abelardo Barbosa, o Chacrinha foi o autor da frase segundo alguns jornalistas.

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financistas deste planeta. “Essa empresa só tem malucos...” diriam. Portanto, controlem esse hospício através de suas finanças. Infelizmente nossos saltos quânticos de tecnologia3 dependem, em muito, de coisas criadas durante momentos de dificuldades, como guerras e catástrofes, mas isso acontecerá dentro de sua empresa se tentar criar alguma coisa realmente nova: uma guerra ou uma catástrofe! Pessoas criativas em ambientes de trabalho com muitas regras são odiadas pelos seus pares. Dentro de um ambiente extremamente criativo, se tornam a lição nº 6 desse livro: Seja Competitivo! Deixe para criar idéias quando estiver em reuniões de chuva de palpites (“brainstorm” em inglês ou “toró de parpite” em mineirês), mas cuidado para não se tornar o cara da lição nº 8: Seja participativo! Tudo que tentares em termos de criatividade te levará, em algum momento, para alguma outra lição enquanto falarmos aqui de empresas administradas por seres humanos, egoístas e egocêntricos, não se esqueçam. As pessoas do topo do comando da empresa gostam de ser as pessoas criativas. Elas detestam que alguma coisa não venha delas. Me recordo claramente de meu primeiro contato com as 3

Tecnologia aqui tem contexto de tudo que é feito de novo e de forma diferente

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ordens do comando de uma empresa, quando tentei algo criativo, de novo, de uma forma totalmente estúpida. Trabalhava em uma multinacional Japonesa (nessa época nem empresa Globalizada existia!) e, como era o mais novo e tido como o mais criativo, fui mandado para ser um dos multiplicadores da Política da Qualidade da empresa. Como também eu era muito lição nº 4 desse livro: Seja rápido! Apesar do pouco tempo de casa, e em meu primeiro treinamento como multiplicador, já comecei a criar um monte de coisas para inovar o processo. Comentário do facilitador: “Marcelo, aqui nós nada criamos, vamos seguir o que foi mandado e pronto!” Entenderam a lição? Eu não tinha que criar absolutamente nada, tudo já fora criado. Eu era apenas um dos responsáveis para transmitir o que criaram antes de minha inteligência entrar naquela empresa. Fiquei com fama de “ingerenciável4” desde essa época, e isso muito me prejudicou em alguns projetos de crescimento profissional posteriores. Na empresa seguinte onde trabalhei, foi ainda pior! Tentei criar uma rede de computadores para a empresa, que tinha até um CPD5 já antigo... Outra catástrofe com meu chefe, apesar do presidente da 4 5

Palavra criada não sei por quem. Aliás, nem sei se existe! CPD - Centro de Processamento de Dados. Isso em 1994!

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empresa naqueles dias ainda gostar muito de mim. Era uma empresa alemã, imaginem, e eu tentando criar alguma coisa. Petulância demais não? O resultado foi uma discussão com meu chefe direto e minha posterior demissão voluntária (coisa também idiota que fiz, pois não queria que minha carteira ficasse manchada por uma demissão pela empresa. Tinha apenas quatro anos de formado. Na verdade mesmo, fui enganado pelo meu ex-chefe que conseguiu que eu, o lição nº 1, 2, 4 e 7, fosse demitido sem gastar nada de adicional com isso... Como fui estúpido!) De qualquer forma, não tente criar coisas sem antes perguntar se isso faz parte de suas atribuições ou da cultura da empresa. Normalmente, existem empresas que nada criam, ou criam somente em suas matrizes. Trabalhei certa vez em uma empresa que realmente criava coisas, mas somente em seus laboratórios na Califórnia, mas era totalmente aberta para receber novas idéias. Certa vez até mandei uma criação minha, que era usar o falido projeto de celulares via satélite para um sistema de rádio digital, mas não foi aceito! Outra coisa interessante sobre criar coisas novas, é que o melhor, se realmente for uma grande idéia, é tentar fazer só o projeto. Mas antes, deve-se ter certeza de que tudo funcionará, fazer um bom

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planejamento estratégico, pesquisas de mercado, planos de negócios entre outros, e ter muito, mas muito dinheiro sobrando. No mínimo uma grana para se sustentar por dois ou três anos sem salário. Isso sem contar a grana do investimento a ser feito no negócio. Caso não tenha isso. Não crie nada! Mas se quiser insistir, faça culinária, pintura ou jardinagem.

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Capítulo 3: Por que não ser preparado?

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eixe-me dizer uma coisa, a preparação pode levar você a ser o cara das lições nº 1 e 2 anteriores. E isso já seria complicado. Mas de qualquer forma, o motivo pode ser outro: preparar-se pode fazer com que você detenha mais conhecimento que seu chefe. Isso não é bom! Conheço pouquíssimas pessoas que aceitariam ter em seus funcionários pessoas mais sábias que si próprias. Pior ainda quando a empresa tem a política de pagar-te um treinamento, um curso de pósgraduação e exige que você permaneça por no mínimo, vamos dizer: dois anos. Isso gera dois problemas seguidos. Primeiro: o financeiro vai ficar muito, mas muito puto mesmo. Segundo: você vai ser visto pelos outros, que nunca conseguiram como o “queridinho do chefinho”. No mundo moderno nunca esqueçam que quem manda na empresa é o financeiro. E ele sabe muito bem que preparar você pode ser um problema futuro. Outras empresas vão querer seus serviços e todo investimento feito será perdido. Além do mais, e se você fizer um MBA de Finanças? Aí é que o financeiro vai enlouquecer.

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Saber coisas demais e interessar-se por coisas alheias a seu trabalho trazem um conhecimento, e conseqüente discernimento, excessivos para serem suportados pelos outros na empresa. Pior ainda se for pago por ela e você se tornar o lição nº 7: Seja leal! Outro detalhe, se você sair da empresa no futuro, terá mais dificuldades para arrumar a mesma posição em outra. Custarás muito mais caro pelo seu currículo. Currículos demasiadamente recheados é um sério problema. Se quiseres realmente adquirir conhecimento, faça-o por conta própria. Custar-te-á muito menos num futuro, que talvez seja próximo. Use sim seus conhecimentos adquiridos, mas não espalhe para ninguém. Meu pai sempre dizia que “passarinho que muito pia vira comida de gato...” Pura verdade e sabedoria dos mais antigos. Meu pai foi militar, então imagine: apesar de sua capacidade e inteligência únicas, usava nenhuma dessas lições aqui colocadas. Conseqüência de que nunca seria General de Quatro Estrelas. Mas permaneceu trinta e cinco anos no Exército brasileiro, com muito orgulho. E chegou ao posto máximo sem ter o que chamavam Estado Maior6.

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Dyno Américo de Sant’Anna chegou a capitão e foi para reserva como major, maior patente a ser conseguida por quem, no exército, não fez a academia.

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Não espalhe o que sabe! Use isso para seu benefício e para preparação de um futuro mais brilhante. Durante toda minha vida eu quis ser presidente de empresa. Aliás, fato curioso: logo que entrei em uma multinacional japonesa, fui fazer meu primeiro treinamento e perguntaram o que eu gostaria de ser e a resposta foi imediata: Presidente! E era isso mesmo que eu gostaria de ser dentro de uma empresa, desde que me formei engenheiro. Por acaso, sou péssimo engenheiro, pois meu sonho era Astrofísica. Cheguei um dia a ser presidente de empresa e, quando lá cheguei, percebi que ainda tinha que responder para um montão de pessoas que usavam essas lições aqui. E eu! Logo eu que tinha me preparado tanto, descobri que, mesmo como comandante de qualquer coisa, ainda assim, alguém vai mandar em você e pensará como a empresa em geral: da forma que apresento para vocês. A única diferença é que, nesse caso, quem manda em você é realmente o dono da empresa, que pensa, sem nenhuma sombra de dúvidas, como o Diretor Financeiro. Volta-se ao início. Ser presidente, segundo um grande amigo, é ser “peão de luxo”, na verdade, “peão de muito, mas muito luxo”. Mas ainda peão! Dessa forma, para manter seu emprego, se prepare o necessário. Cresça em conhecimento o máximo que puder para curtir ensinar os outros depois, ou escrever um livro, quem

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sabe ser consultor. Ou para um dia poder, de novo, ser chamado à presidência de uma empresa onde realmente mandes alguma coisa. E possa ajudar aqueles que se esforçam em adquirir conhecimento, desde que tenham suas capacidades, a assumirem cargos mais altos. Resumindo, vir você a ser o melhor “network7” de alguém. Isso sim é conquista. Outro caso que lembro sobre conhecimento vem de uma historia, dessas desses treinamentos de autoajuda, ou autoconhecimento, não me lembro muito bem. Fala o seguinte: - Certa vez, um banco de uma cidade do interior, teve pelo seu gerente a chave do cofre perdida. O único chaveiro da cidade foi chamado e, em cinco minutos, abriu o cofre inexpugnável! Quando solicitaram o valor do serviço, o chaveiro disse: “Dez mil reais senhor!” O gerente do banco, indignado disse: “Mas isso é um absurdo! Por apenas cinco minutos de trabalho?” Sem nada comentar, o humilde homem fechou o cofre e foi-se embora. Após dois dias de tentativas frustradas de todos os outros chaveiros da região, o gerente decidiu chamar o local e falou: “Tudo bem! Eu pago os dez mil reais!” Quando o

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Rede de contatos pessoal.

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chaveiro local imediatamente retrucou: “Agora custa trinta mil reais!”. E recebeu! Moral da história? Fique quieto sobre seus conhecimentos e os use em prol de si. Sempre dará maior retorno. Mas se quiseres espalhar para todos, seu conhecimento de qualquer forma, use-os para filantropia, ou em serviços voluntários, onde os retornos, sem dúvidas, serão muito - mas muito maiores mesmo, em um futuro próximo.

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Capítulo 4: Por que não ser rápido?

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ureza dizer a um garoto para não ser rápido, quando todos os novos gurus garantem: “Hoje, o mais forte não come o mais fraco. É o rápido quem come o lerdo!” E eu já acreditei nisso. Ser rápido significa que você fará muito mais coisas no mesmo tempo. A única conseqüência direta disso é que as empresas usaram sua rapidez para que faças o trabalho de três ou quatro. O financeiro adora, mas seu salário certamente será o mesmo. Percebeu? Sempre fui o primeiro a apresentar meus relatórios, sempre cheguei primeiro em minhas aulas dentro da empresa. Em reuniões então – onde eu me achava importante, chegava até antes da faxineira. Puríssima bobagem. Teria eu dormido muito mais se tivesse hoje meus anos de experiência. Se fores mais rápido que os outros, use o mesmo tempo para fazer as coisas que te pedem. Use o que sobra, dentro do cronograma, para o “Ócio Criativo”. Adoro isso! Nem sei onde vi que, “negócio” significa negar o ócio. Que vem do inglês “business”! “Busy” para quem não sabe é ocupado na língua mundial dos negócios (trocadilho ridículo). E “business” é totalmente ocupado. O que se ganha em uma

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empresa sempre deve ser divido pelo número de horas que se trabalha efetivamente. Sempre me vangloriei de minha rapidez! Adorava terminar os exercícios antes dos outros. E sempre fiz mais que eles. Idiota! Ganhava nada a mais... Mas isso não era importante, pois ser mais veloz era a regra. Em uma empresa, a única coisa que é rápida é a demissão de funcionários para cumprir os resultados financeiros esperados. Não se esqueçam. É a realidade! A exigência por eficiência será cada dia mais complicado. Os financistas vão demitir pessoas e exigirão que você trabalhe por elas, com certeza. Faça isso com orgulho e se tornará o nº 7 e nº 10 imediatamente. E com certeza, pela escassez de tempo, ficarás muito mais tempo no escritório, perderás suas noites e seus descansos. E pensar que achei isso lindo! Recordo-me, nas mesmas multinacionais, japonesa e alemã, onde trabalhei. Passava noites, e algumas vezes finais de semana inteiros, preparando propostas. E falava orgulhosos para todos: “Estou quebrado hoje, passei a noite trabalhando...” Tire isso de sua vida. A Terra continua girando em torno de si em próximas 24 horas. Não acelera nem retarda. Quantos capítulos de novela perdi. Quantas cervejas não bebi com os amigos. Sem comentários.

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Outro detalhe importante quanto à velocidade, é que as pessoas se esquecem que tudo está em cadeia no Universo. Não somente nas empresas, em tudo na natureza. Nada está isolado de nada. Quem quiser mais detalhes sobre esses “caminhos críticos”, leia livros que falam disso. Em resumo, posso dizer que, ou você acaba empurrando todos para o abismo, ou arrebenta a corda. Um dito muito sábio diz que não se deve sempre andar para frente, principalmente à frente de um precipício. A velocidade de tudo deve ser controlada pelas necessidades do processo, nunca pela necessidade do departamento financeiro. Aliás, os financistas nem sabem o que acontece no processo. Eles apenas fazem contas de receitas menos despesas. Resultado negativo: precisamos eficiência. Resultado positivo: temos que crescer mais. Nunca para! Sou instrutor de administração de tempo, coisa que aprendi com minha irmã psicóloga. Ensino as pessoas a usarem melhor seu tempo, mas não para fazerem mais coisas para suas empresas. E sim, para fazerem mais coisas para si mesmas. Como estudar, por exemplo. Adquirir conhecimento, mas sem nunca tornar-se o lição nº 3 OK? Conhecimento para disseminar, ensinar, instruir, aconselhar. E tempo para divertir-se, conhecer pessoas, rever amigos,

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ligar para entes queridos. Faz alguns bilhões de anos que o ritmo é mais ou menos o mesmo. Por que acelerar agora? Também instruo pessoas a usar a tecnologia da informação para fazerem as coisas mais rápidas, e o que acontece? Mais trabalho elas têm. O mundo está de cabeça para baixo mesmo. CFO8s pelo mundo mandando em tudo e CEO9 só colocando mais pressão nos primeiros para poderem ganhar seus muitos milhões de dólares. E acredite. Você é um número que, independente do que faça mais rápido, e por quantas pessoas forem, o CFO o demitirá assim que os números não estiverem muito bons. Realidade dura não? Mas é a realidade. Ser o mais rápido não fará de você melhor, nem mais querido. Muito menos intocável! Só o fará mais cansado.

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CFO – Chief Financial Officer. Financista ou, Financeiro, ou Diretor de Finanças, etc. 9 CEO – Chief Executive Officer. Adoro a comparação de um amigo: “O cara é o CEO? Quem é o INFERNOO?”. Deve ser o CFO.

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Capítulo 5: Por que não ser calmo?

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ão quero dizer para não serem em suas vidas fora da empresa. Mas dentro dela, ser calmo é sinônimo de: “Trouxa!” Sempre fazer as bobagens que mandam é uma asneira sem tamanho, principalmente se se mantiver calmo com os resultados. Não me esqueço de uma música do Oswaldo Montenegro: “Ah! Todo chato é bonzinho. Nunca te fez nenhum mal. Ah! Todo chato é calminho. Como se faltasse sal...” Se você for calminho, será o primeiro a ser executado pelo financeiro. E isso é regra! Todos confundem calma com passividade. Mas nunca deves não ser calmo a ponto de atingires o lição n º 4. Não aceite coisas estúpidas dos outros. Esse negócio de dar a outra face para quem bateu em você, dentro de empresa, não existe. Se der a outra, o cara vai te socar de novo! Conheci certa vez, o símbolo de serenidade em uma empresa alemã que trabalhei. Só levava bordoada de todos os lados. Mahatma Ghandi e JC ensinaram coisas para sua vida particular, não para sua vida profissional.

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Conheço ainda um amigo, formado no Inatel, que quando alguém o ofende, ele pede desculpas. Isso serve para os amigos e para a família, sem dúvidas. Mas para um colega de trabalho, tem que ter motivo claro e bem colocado, senão, vai levar de volta! O maior problema dos calmos, é que sempre pedem calma aos outros, quando nervosos. Eu como instrutor de mudanças de comportamento, digo: “Nunca! Mas nunca mesmo, peça calma a uma pessoa nervosa. Isso somente vai irritá-la mais.” Regra de mudança de comportamento, para tratamento de clientes zangados. E isso eu falo exaustivamente durante meus treinamentos. As pessoas da lição nº 4 têm a mania de, pela própria pressa, cortar o que os outros falam, ou terminar suas frases. Se você for o interrompido, e for calmo, com certeza não terá outra oportunidade de colocar seus pontos de vista. Mesmo que eles sejam equivocados, seus pontos devem ser considerados, até para que você possa avaliá-los e alterá-los, quando necessário. A confusão entre calma e passividade é outro problema. Pessoas consideradas passivas são sempre usadas pelos superiores para fazer coisas que os outros não querem. Ligar para clientes bravos, atravessar noites corrigindo bobagens dos outros e muito mais coisas realmente chatas de fazer.

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Faz anos que decidi ficar calmo, “zen” como todos dizem e só me dei mal. Apesar de ter angariado bons amigos, os meus pares dentro das empresas onde passei só me ferraram pelas costas. E algumas vezes de frente mesmo. Há seres humanos que se irritam quando alguém calmo assume alguma confiança dos outros. Pensam: “Como é possível alguém tão passivo assumir essa responsabilidade?” E boicotam essa pessoa sem dó. Aconteceu comigo na ultima empresa onde trabalhei. Lembram-se? Aquele que meu ex-parceiro virou meu chefe. Se eu tivesse perdido a calma e falado o que deveriam escutar, com certeza ainda teria meu emprego. Confesso que o emprego nunca foi o mais importante, mas não ter falado o que eu sabia ser correto, ou pelo menos acreditava ser, é o que mata hoje. Tive um funcionário na área de engenharia da empresa. Ele parecia o símbolo de serenidade também. Até gostei do cara no princípio, mas ele realmente era um sacana de primeira categoria. Estava lá até hoje, somente porque usa as lições que agora eu apresento. Fica quietinho, ganha uma bela grana pelo nada que faz, ninguém cogita sua demissão (somente eu fiz isso várias vezes, mas da forma equivocada confesso!) e acham que ele é bom para cassete (sorte para ele que somente dentro da

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empresa, pois caso precise arrumar outro emprego, eu não indico). No jargão popular, é uma droga! Mas se mantém empregado há séculos. Viram como somos idiotas quando somos calminhos? Repito, a Paz e a Calma são para ser compartilhadas com as pessoas que amamos e que nos amam. Nós sempre invertemos isso, e somos calmos com os que nos ferram, aí descarregamos tudo nos que nos amam. Incrível nossa estupidez! Agora, se você quer continuar calmo! Faça de novo trabalho voluntário, ou filantrópico, com crianças deficientes. Aí você aprenderá o que é ter calma. Caso contrário: bordoada em quem te bater. Agora, se for mais esperto ainda: bata primeiro10.

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Regra criada por um grande amigo dentista, pela sua estatura: “Se eu não bater primeiro, tô morto!”

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Capítulo 6: Por que não ser competitivo? do Lat. competitione s. f., ato ou efeito de competir; concorrência; luta; rivalidade; antagonismo; emulação.

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onforme acima, vemos que competição significa também lutar, rivalizar, invejar e coisas do tipo. Tudo negativo. Ninguém vence uma luta, diria alguém muito mais inteligente que eu com certeza. Pessoas competitivas só conseguem inimigos pelo resto da vida. Aqueles inimigos de morte mesmo sabem? E também são sempre consideradas pessoas sem escrúpulos. CFOs e CEOs adoram esses caras. Eles poupam um tremendo trabalho na hora de reduzir o quadro de funcionários para cumprimento das metas. Basta que eles dêem força para um cara competitivo, que ninguém gosta, e muitos se demitirão sem a menor cerimônia. Nesse caso, estou contrariando o dito nas outras lições, uma vez que, ser competitivo agrada ao

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financeiro, e nesse caso, seu emprego estaria garantido. Vou explicar! O único problema é, que se você realmente for competitivo, vai acabar incomodando aos dois citados anteriormente, pois eles com certeza perceberão que você quer o lugar deles, mesmo que você negue até a morte! E podes crer que morrerás. Quando fui gerente de contas chaves em uma multinacional francesa, nosso chefe direto era um cara extremamente competitivo e dizia: “A competição entre os funcionários vai apurar a raça.” Isso me parece bem familiar ao nazismo, mas de qualquer forma, funcionava. Todos trabalhavam como loucos, e quando queriam sacar alguém do time, promoviam outro muito competitivo em seu lugar. Na hora o cara ia embora. Eu fui um deles! Que foi embora, não que foi promovido. Depois de alguns anos, o chefe desses gerentes de contas chaves, pela sua competitividade, era cogitado para ser presidente. Advinha o que fizeram com ele? Mandaram um cara para outro lugar qualquer, colocaram outro como presidente e quando ele voltou, foi mandado para um lugar que o deixou tão deprimido que ele saiu da empresa. Isso mesmo! Saiu... Entenderam a lição?

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Pessoas competitivas demais tendem a se tornar prepotentes, ambiciosas ao extremo além de sempre serem, como todo ser humano, egoístas e egocêntricas. O problema nesses casos dessas pessoas, que tudo nelas é exacerbado, exagerado. Sentem-se Deuses de verdade e pisam em tudo e em todos. Enquanto estão no topo, são os melhores. Aparecem em todas as revistas e entrevistas. São os porta-vozes da empresa. Encarnam o lição nº 7 que veremos a seguir. O único problema é quando caem. Uma vez no chão, todos chutam sua boca. A que ter muito cuidado com a competição. Ela é muito saudável no esporte, no truco com os amigos. Mas na empresa, ela vai te ferrar um dia. Podes ter certeza. Alguém vai se sentir ameaçado e você terá que buscar outro lugar. E quando forem dar referências suas, a primeira coisa que dirão será: “Ele é super competitivo!” Já avisando à nova empresa que você vai querer o lugar de alguém assim que entrar. Resumindo. Estarás em um mato sem cachorro. Tenho um amigo, mas esse amigo mesmo, que também é muito, mas muito competitivo mesmo. Para ser presidente de uma empresa, fez de tudo para subir e hoje está cercado de inimigos por todos os lados. Tem que fazer um esforço desgraçado para se manter no topo, prejudicando amigos e família, pois

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sabe que, se cair, todo muito vai dar uma cuspida. Triste vida! Mas a mais pura realidade. Tenho muitos exemplos desse tipo de pessoa que se deu muito mal pela sua competitividade. O pior, é que isso é uma exigência das empresas na hora de contratar um funcionário novo: ser competitivo. As novas teorias de administração criaram um tipo organizacional extremamente complicado de ser gerenciado, que incita uma competição extremamente forte entre os funcionários e departamentos. Chama-se organização matricial11, onde você sempre tem, no mínimo, dois chefes. E cada um com um objetivo diferente. Dizem que é para que os melhores permaneçam na organização. Eu digo, porque presenciei, que algumas das empresas que trabalhei, tomaram um tremendo tombo quando o sistema de telecomunicações brasileiro foi privatizado. E somente agora, após oito anos, estão conseguindo se manter, mediante vultosos investimentos e uma redução drástica do quadro de funcionários. Tudo em nome da competição interna para apuração da raça. Coisa de nazista mesmo. Ou como diz um estupendo jornalista e analista brasileiro: “Para acabar com os carrapatos, vamos matar a vaca.” Outro baque duro 11

Quem quiser saber mais, procure um livro de administração moderna.

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para as pessoas dessa lição, é que os cargos de confiança são todos de pessoas não-competitivas. Por que ninguém confia em pessoas extremamente competitivas. Irônico isso, eles a querem, mas não confiam nelas.

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Capítulo 7: Por que não ser leal?

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m primeiro lugar, porque a lealdade deve ser recíproca. E nenhuma empresa, vejam bem – nenhuma, será leal com qualquer um de seus empregados e colaboradores. Ela não pode, pois o objetivo principal da empresa é sempre obter lucro financeiro, e isso exige que ela não seja leal, a não ser que isso seja benéfico para as contas do CFO. Você pode sempre escutar propostas e fazer entrevistas de empregos em outras empresas. Aliás, deve! Quem tem medo da mudança está determinado a ficar sempre no mesmo lugar. Não falo aqui que evolução dentro de uma mesma empresa não seja boa. É sim! E muito bom. Quase tão bom quanto evoluir profissionalmente trocando de companhias. A única diferença é que, permanecendo leal a uma única empresa, você não terá oportunidade de viver com culturas empresariais diferentes, e isso é não bom12. Eu já trabalhei em seis empresas diferentes em dezesseis anos como executivo de empresas de telecomunicações. Onde eu mais fiquei foram três anos e meio. E cheguei a ser o principal executivo de 12

Não bom é usado como ruim. Apenas para que a palavra tão negativa “ruim” fique fora do texto.

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duas delas. Na média, foram dois anos e meio por empregador. E isso não me prejudicou de forma alguma em termos de empregabilidade. Comecei minha carreira profissional em uma empresa onde as pessoas entravam e morriam nela. Isso hoje em dia é raridade. Uma das maiores empresas de telecomunicações do país tem, inclusive, regras para evitar que altos executivos permaneçam mais de quatro anos entre seus funcionários. Tenho amigos que ainda trabalham na mesma empresa onde começaram suas carreiras, dezesseis ou dezessete anos atrás. Hoje são vice-presidentes, diretores, gerentes entre outros cargos. Ganham altíssimos salários e aparentam estar bem profissionalmente. Mas não os vejo tão felizes pessoalmente. A falta de convívio com outras culturas empresariais os tornou praticamente escravos de seus altos salários e prestígios. Não sei quanto aos que lêem, mas escravidão para mim é sempre um aspecto negativo, mesmo sendo bem remunerada. Pior ainda! Quando eles forem demitidos ou se aposentarem, com certeza ficarão deprimidos. Ou serão consultores dessas mesmas empresas, aumentando ainda mais seus ganhos e seu desânimo. Trocar de ares é sempre benéfico. Mudar é bom, acreditem! Alguém muito mais inteligente que eu disse: “A única coisa certa que acontecerá é a mudança...” Ou como diz o

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mestre Jedi Yoda13: “Em constante mudança está o futuro.” Assim, lealdade é uma coisa que devemos ter com nossos amigos, famílias e clientes. Nada mais que isso. Nem com nossas próprias empresas devemos ter lealdade total. Ela pode desaparecer um dia. Extremamente normal em um país onde 90% (noventa por cento) das empresas criadas não duram mais de um ano operando. Eu tenho exemplo pessoal de lealdade a um projeto antigo meu, que não largo desde que pensei nele pela primeira vez. Acho um excelente negócio, mas ninguém mais acha. E isso me levou muito tempo, dinheiro e humor, podem ter certeza. Ainda hoje ele está guardado para um futuro, mas não façam como eu. Se tentarem ser leal a alguma coisa por duas vezes, e não der certo, mude! Outro detalhe importante sobre lealdade, é que você se torna uma pessoa robotizada. Sempre usando os jargões de sua empresa, suas siglas, seus cargos e outros detalhes. Saibam que cada empresa tem sua linguagem específica, e o que serve muito bem para uma, pode ser totalmente absurdo para outra. E você sempre vai falar dos defeitos de sua empresa para 13

Jedi lê-se jedai. Mestre Yoda é o Jedi mais poderoso da saga “Guerra nas Estrelas” de George Lucas.

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alguém. Por mais leal que seja, uma vez ou outra a empresa vai pisar na bola e você vai gritar. E o comentário de quem ouvir será: “Uai sô, se está desse jeito, por que não muda?” E nessa hora você verá o quanto está amarrado se for totalmente leal. Ouvir propostas, olhar o mercado, fazer contatos com as pessoas de outras áreas não tem nada de errado, muito pelo contrário. Não fazê-lo sim é estupidez. Existe um livro muito bom que trata de lealdade, que se resume ao medo da mudança, chama-se: Quem mexeu do meu queijo, de Spencer Johnson, mesmo autor do Gerente Minuto. Leiam, pois é muito interessante. Lealdade e medo andam juntos. Muitas vezes somos leais por medo de experimentar coisas novas, e isso se deve muito pela noção criação, em 99,999% das vezes, religiosa. A religião nos ensina a sermos tementes a alguma coisa, que chamam Deus. E isso nos leva a uma lealdade demasiada a todos os preceitos e preconceitos de certa doutrina. Saibam que até cães podem ser doutrinados. Doutrina é a mesma coisa que adestramento, e os adestrados não conseguem enxergar nenhum mundo fora de sua curta visão, ou seja, não são visionários. Quando nos tornamos extremamente leais a alguma coisa, caímos em um abismo de nossas vidas

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chamado rotina. E isso destrói toda nossa capacidade de busca por coisas melhores. Agora, se quiser realmente ser leal, seja a seus filhos, dedicando horas de seu dia para escutá-los e ensiná-los. Ou a seu jogo de voleibol às quartas-feiras, para realmente não pensar em nada. Só não crie muitas lealdades, pois elas se tornam rotinas. Permita-se a coisas diferentes.

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Capítulo 8: Por que não ser participativo?

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essoas demasiadamente participativas se dedicam tanto a estar com os outros, em diversos projetos, que não fazem o que devem para o departamento financeiro da empresa: gerar dinheiro. Isso mesmo! Não há tempo de participar de tudo que é importante para seu desenvolvimento profissional e pessoal, pois isso consome tempo demasiado e esvaindo sua capacidade de pensar. Planejar é a melhor solução. Deve-se sempre ter um tempo para pensar em coisas diferentes. Clarear a mente como gosto de dizer. Ou mesmo meditar, pensando em absolutamente nada. Toda vez que se sentir sem vontade de fazer algo, não faça. Parece extremamente simplista, mais é um dos maiores ensinamentos que já adquiri ao longo de minha vida profissional e pessoal. Todas as vezes que fazemos coisas sem vontade, a única coisa que ganhamos é menos tempo para fazer o que realmente queremos ou precisamos. Além do mais, participativos são considerados patos! Isso mesmo, patos. Não fui eu quem fez a analogia, mas ela é perfeita. O pato faz de tudo: anda, corre, nada e voa. Mas não faz nada

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bem! E isso é uma grande verdade. Outro codinome para quem é muito participativo é “puxa saco”. Outro? “Espião”. Quem participa de muita coisa deve estar espionando para algum chefe desconfiado. Pensei durante anos que, participando do máximo de atividades possíveis dentro as empresas, eu seria reconhecido. Sabem o que aconteceu? Como eu tinha muitos compromissos, todas as coisas novas e boas que apareciam iam para os outros que tinham mais tempo. Parece incrível, mas eu, o maior colaborador, era o que menos viajava para o exterior, participava de treinamentos de uma semana, participava de feiras e seminários em hotéis cinco estrelas, entre outras. Não dá para fazer tudo ao mesmo tempo. Lembro-me do primeiro treinamento de Marketing que ministrei em minha antiga faculdade, cinco ou seis anos atrás, onde o coordenador do treinamento, meu antigo professor, perguntou espantado: “Como você consegue tempo para fazer tudo isso? Para participar de tantas coisas ao mesmo tempo?” E a resposta: “Na verdade não tenho, pois ainda não priorizei...” Priorize! Priorize! Tenha tempo para fazer o “Ócio

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Produtivo”14, que é aquele momento de pensar em nada, que alguma coisa aparece. Eu já fui: Diretor Geral de uma empresa, sócio de três outras, vice-presidente de uma associação, presidente de outra, conselheiro de outra, fazia MBA, estudava Inglês e Espanhol. Resultado? Fui demitido. E ainda consegui um divórcio. A participação em grupos de trabalho é demandadora de tempo, geralmente indisponível. Reuniões com hora de início e sem hora de término têm com resultado: marcar a próxima reunião. Reuniões com mais de uma hora não têm nenhuma eficácia. Assim, reduza reuniões e aja mais. Dedique parte de seu dia para planejar suas ações. Não perca tempo com reuniões improdutivas e conversas longas ao telefone. Não tente fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo, de forma a ter espaço na agenda para participar de alguma coisa. Faça cada coisa de uma vez. E se possível, corretamente da primeira vez. Esqueça esse negócio de que participativo é positivo. Só se for para participar de um jantar na casa do Diretor Financeiro da empresa. Se não conseguir fugir de uma reunião, exija que a agenda seja apresentada, detalhando assuntos e o que é esperado de sua 14

Sinônimo de “O Ócio Criativo” de Domenico de Mais,

sociólogo italiano. Ótima leitura!

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participação. Não conclua, pergunte. Não se ache importante por participar de reuniões, outro erro que cometi diversas vezes em minha vida. Reuniões são, em sua maioria, perdas de tempo. Ah! Leia meu livro sobre administração de tempo: “Salve-me do Tempo!” disponível no site da 4B: www.evolcomm.com

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Capítulo 9: Por que não ser sincero?

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o contrário do que a maioria pensa, ninguém gosta de pessoas sinceras. Sempre são chamadas de mal educadas e grosseiras. Pior ainda se você tentar ser sincero com seu chefe. A sinceridade é coisa para donos de empresas e gente rica, mas muito rica mesmo. Toda vez que tentamos ser sinceros, sem preparação, acabamos ofendendo a outrem. E ofender pessoas erradas pode custar muito caro. Lembro-me certa vez, em que fui perguntado o que achava de certo projeto e a resposta? “Uma porcaria!” Fui sincero e demitido. O projeto realmente foi um fracasso e a empresa acabou fechando, mas a minha opinião foi um desastre profissional para mim. Procure sempre contornar suas críticas. Elas podem ser construtivas ou destrutivas, então, procure sempre transformar uma crítica em construtiva, de forma positiva. Use perguntas abertas para saber a real opinião do perguntador. A arte de dar e receber “feedback”15 é extremamente difícil de ser aprendida. Psicólogos sabem como fazer. Engenheiros não. Precisa se 15

“Feedback” do inglês. Significa “retro-alimentação”, críticas, retornos, canais de retorno, etc.

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preparar se não quiser causar constrangimentos a si e aos outros. Com mulheres isso é ainda mais complicado. Quando perguntam algo sobre sua roupa, ou seu cabelo, elas não querem saber sua opinião. Elas querem que concorde com elas. Só isso! Não estou sendo machista, apenas relatando um fato. Por sinal, sou feminista ao extremo. Acho mulheres muito melhores que homens em vários aspectos16. Quando estiver no comando então, tome mais cuidado ainda. Nossa prepotência natural de chefes de qualquer coisa nos gera um falso poder de criticar tudo e todos. Essa propensão a “dar”, e não a “receber” feedback é um dos piores vícios de quem quer crescer em sua carreira profissional. E nós, cegos, sempre acreditamos que isso se chama sinceridade. Todos nós somos egoístas e egocêntricos, assim, sempre acreditaremos que nossas opiniões sinceras ajudarão os outros no instante em que as colocamos. Grave erro! Grave erro!

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Não detalharei os aspectos para não ofender aos machistas.

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Lembro-me muito bem quando trabalha com ISO 900017, e alguns procedimentos estapafúrdios eram escritos por quem nem sabia do que se tratava. Sinceramente, sempre dei minhas opiniões e ofendi muitos gênios e consultores, o que me causou um tremendo desgaste em certas empresas por onde passei. Não estava claro para essas pessoas, que, a ISO simplesmente diz: “Você não precisa colocar no papel tudo o que faz, mas tudo que colocar, tem que ser feito.” E colocar no papel coisas que achamos, sinceramente, importantes, mas que ninguém faz, é burrice. Mas a forma de se colocar a opinião é tão importante quanto à própria opinião. E essa forma, com certeza, não vem através da sinceridade. Não estou aqui dizendo para serem falso ao invés de sinceros. Estou apenas dizendo para tomarem cuidado com as críticas e a colocação das opiniões. Saber colocar os pontos de vista é importante, mas algumas vezes, não fundamental. Escolha coisas de real valor para as pessoas para tecer seus comentários, sempre de forma construtiva e positiva. Agora, se quiser manter-se sincero, faça-o consigo mesmo diante do espelho, na hora de acordar, pois descobrirás coisas sobre si mesmo, que você nem sabia que não sabia. 17

Processo de Garantia da Qualidade

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Capítulo 10: Por que não ser proativo?

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perigo da proatividade é exatamente fazer o que não deve ser feito. A ação correta, ou é planejada antecipadamente, ou deve ser consultada antes de ser tomada. O proativo por natureza trabalha sozinho, resolve todos os problemas de acordo com seus conceitos e, em muitos casos, perde dinheiro. E como todos já sabem perder dinheiro, para o CFO, é morte, na certa. E morte de quem agiu, não do financeiro obviamente. Quem manda nas empresas é o financeiro! Apesar de muitas empresas, e muitos cursos de executivos, incentivam a proatividade, ela é um dos maiores fatores de conflito entre chefes e subordinados. Eu sempre tomava decisões, quando problemas apareciam e eu não tinha tempo para consultas. E fui chamado de ingerenciável por muitos de meus chefes. Pior, quando as decisões tomadas antecipadamente davam certas, eu ainda me tornava "O LIÇÃO" nº 1, 2 e 4, quase ao mesmo tempo. Por isso, o planejamento, ainda hoje em dia incrivelmente mal feito, deve ser usado sempre. Problemas devem ser antecipados para evitar o uso excessivo da capacidade proativa de pessoas capacitadas.

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Antecipar-se a problemas é bom. Resolver problemas sem uma prévia análise é horroroso. Desastroso na verdade. E sempre a corda vai arrebentar pelo lado mais fraco: o seu! Recordo-me, na primeira empresa em que trabalhei que deveríamos fazer a instalação de uma antena de satélites sobre o topo de um edifício de mais de vinte andares. O levantamento da mesma até o topo por cabos eram inviável. Subir pelas escadarias também, devido ao tamanho das portas do edifício. A única solução era levá-la com a ajuda de um helicóptero. Até aí tudo bem, apesar de não ter sido feito anteriormente. O problema é que, para evitar danos à estrutura da antena, dei uma solução para levar toda a embalagem com algumas proteções adicionais. Como a responsabilidade de levar a antena era do cliente, informei-o por fax dessas proteções. Foi um total desastre. Meu chefe a época ficou uma fera. Eu? Super constrangido. Minha proatividade tinha saído pela culatra. Fui retirado do projeto e acabei ficando subordinado a outro supervisor. Isso demonstra que, antes de tomar uma atitude, mesmo correta, antecipadamente, procure pessoas mais experientes, além de outras mais técnicas. Elas podem ajudar a enxergar problemas que só não conseguirá.

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Pro Ativo significa, ação antecipada. O ideal é planejamento antecipado. Não ações! Pior ainda se essas ações forem tomadas em momentos de desespero. A chance de erros é enorme. Não coloque seu pescoço na forca antes de planejar bem o que vai fazer. Saibam que, apesar de empresas pedirem pessoas proativas, elas sempre serão as mais monitoradas da empresa. Ou seja, apesar de ser antecipada, a quantidade de checagens será tão grande, que acaba acontecendo no mesmo período de tempo de um bom planejamento. Se tomares ações antecipadas e elas forem erradas, você perderá dinheiro. Perdendo dinheiro, vai deixar a pessoa mais importante da organização insatisfeita: o financeiro. Mas e se der certo? Ante a improvável hipótese de sua ação antecipa ser bem sucedida, use a regra número 1: PLANEJE! E depois de planejar? Verifique e certifique-se de que o planejamento está correto e em acordo com a filosofia e metas da empresa, principalmente as metas financeiras. E depois de verificar e certificar? Peça a benção de seus superiores, divida as responsabilidades. Os proativos têm a mania de bater no peito e dizer: “Se não der certo, eu assumo a responsabilidade!” Outro enorme equívoco. Para se ter uma idéia, no meu caso particular com a antena e o helicóptero, meu salário

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de um ano inteiro não pagaria nem o aluguel do helicóptero por um único dia. Imbecil mesmo. O que deveria ter feito? Informado o problema para meu chefe e deixado que o cliente resolvesse isso. Até mesmo os fabricantes da antena se mantiveram fora do problema. O posicionamento deles foi: “Vocês que inventaram levar a antena de helicóptero...” Pior que depois fui trabalhar nessa empresa, anos mais tarde. Mas isso é outra história, para ser contada em outro contato com vocês.

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Conclusões As principais conclusões desse livro são: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.

Seja humilde, Não seja exibido, Não seja falso, Não seja sacana, Não seja trouxa, Não perca seu tempo, Faça dinheiro para a empresa em que trabalha, 8. Economize dinheiro só se for solicitado, 9. Obedeça as ordens de seu chefe, por escrito. Ou saia da empresa, 10. Nunca vá contra o diretor financeiro de sua empresa, 11. Nunca pense que a sua idéia é exclusiva, 12. Nem imagine em criticar pessoas, 13. Só responda se perguntado, e de forma bem pensada, 14. Sempre existirá alguém melhor que você (o que não o impede de sempre agir melhor que antes), 15. Você sempre terá um chefe,

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16. Você sempre terá um cliente, 17. Problemas sempre acontecem, 18. Nunca existem cem por cento (100%) de certezas de nada, 19. Nuca existe probabilidade zero de dar errado, 20. “O passado nem Deus muda”18, 21. Pela lei da Entropia, a tendência de tudo é piorar. Se proteja! Planeje! 22. Um planejamento mal feito é pior que não ter planejamento. Consulte a experiência de outros! 23. Faça o que gosta, sem deixar de fazer o que é necessário. 24. Todo ser humano é EGOÍSTA. 25. Todo ser humano é EGOCÊNTRICO. 26. Leia meus outros livros. São de graça por enquanto...

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Frase dita por um amigo mais inteligente que eu: Walter Tassi. Não sei se a frase é dele.

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F

ique em paz e muito obrigado pela sua paciência em ler essas páginas. Realmente me enche de orgulho saber que você chegou ao

final.

Se quiser contribuir voluntariamente para que eu continue a escrever, faça-o através do link: www.evolcomm.com/Livros

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4B - "Construtores de Cérebros para Negócios"

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