O Lugar do Samba na Cidade: escolas de samba na Vila Leopoldina

O Lugar do Samba na Cidade: escolas de samba na Vila Leopoldina

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

O Lugar do Samba na Cidade: escolas de samba na Vila Leopoldina

Mírian Hing Jee Chiang São Paulo 2020

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O Lugar do Samba na Cidade: escolas de samba na Vila Leopoldina Mírian Hing Jee Chiang

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial para a obtenção de grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora: Profa. Dra. Érika Ciconelli de Figueiredo São Paulo, XX de Agosto de 2020

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Érika Ciconelli de Figueiredo

Prof. Dr. Adhemar Carlos Pala

Profa. Ms. Mariana Feres dos Santos

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DEDICATÓRIA À Profa. Dra. Érika Ciconelli de Figueiredo pela confiança, dedicação, apoio e inspiração durante todo o processo.

Ao Prof. Ms. Daniel Corsi da Silva, pela compreensão, incentivo e orientação; a evolução do projeto foi essencial.

Aos professores Dr. Milton Granado pelo aprendizado, Dra. Vólia Regina Costa Kato pelas reflexões e Dra. Sasquia Hiruzu Obata por todos os conselhos.

Ao Prof. Dr. Adhemar Carlos Pala pelos ensinamentos e indicação da orientação; à Profa. Dra. Eunice Helena Sguizzardi Abascal pelo apoio na primeira experiência em pesquisa acadêmica.

Aos professores que contribuíram para a minha formação ao longo desses 5 anos, fundamentais para o meu crescimento e amadurecimento. À minha primeira coordenadora de estágio, pelo companheirismo e aprendizado; aos chefes do Estúdio de Arquitetura Paralelo 23, pela oportunidade, ensinamentos e apoio; aos colegas de trabalho pelas trocas de experiência.

Às escolas de samba Prova de Fogo e Pérola Negra pela disponibilidade e informações. À escola de samba Império Lapeano pelo acolhimento; e à presidente Luiza Fonseca pelas conversas e apoio. À Bateria Identidade de Bamba pela amizade, ensinamentos e experiência. À Bateria Arquitetura Mackenzie, essencial por nutrir a minha paixão pelo samba desde o início da faculdade; a todos os ritmistas e à diretoria pelos compartilhamentos, dedicação e amizade.

Aos amigos do colégio para toda vida pelo amor e companheirismo. Às amigas que conheci na faculdade pelo aprendizado, companhia e principalmente pelo exemplo de força de cada uma; nossa amizade não se encerra nesse processo. Em especial, à Nathalie Naomi, minha maior companheira nessa conclusão de curso e um exemplo de amiga e mãe. À minha família, às minhas irmãs pelo amor e companheirismo em todos os momentos, aos meus pais e principalmente à minha mãe, Eleina, por tudo, por ser a melhor do meu universo.

Enfim, a todos que cruzaram meu caminho e que torcem pela minha felicidade.

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RESUMO Este trabalho final de graduação visa analisar o baixio do Viaduto Miguel Mofarrej, localizado no bairro Vila Leopoldina, onde localizam-se três escolas de samba; buscando soluções projetuais as quais comportem as atividades existentes e, também, proporcionem um espaço público a ser apropriado por qualquer cidadão

que passa pela região. O bairro em estudo passou por recentes transformações que resultaram em um contraste entre quadras industriais, comerciais e residenciais que explicitam uma secção da região isolando cada atividade entre muros e em uma falta de áreas de lazer comuns, impedindo a interação e as trocas de experiências.

Para isso, por meio de análises teóricas, estudos de caso, além de entrevistas e pesquisas de campo, procurou-se compreender antecedentes e questões atuais que influenciam no território. Com base na análise dos materiais obtidos, foi possível afirmar a relevância das escolas de samba presentes e a necessidade de um espaço público democrático. Dessa forma, chegou-se a um resultado que propõe a solução dos conflitos gerados no bairro de forma a valorizar sua história e oferecer oportunidades para os diversos perfis que o ocupam, exaltando a cultura do samba e sua resistência.

Palavras-chave: samba, cultura, Vila Leopoldina, espaço público, transformação e história.

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SUMÁRIO

1. Introdução 9 1.1. Objetivo Geral 1.2. Método

2. O Samba e a Cidade 15 3. Estudos de Caso 25 3.1. Praça das Artes 3.2. Centro Cultural São Paulo 3.3. Studio Bell

4. Vila Leopoldina 45 4.1 Histórico do bairro 4.2. PIU Vila Leopoldina – Villa Lobos

5. Proposta Projetual – Complexo do Samba Paulista 57 5.1. Escola de samba e o bairro Vila Leopoldina 5.2. O entre e a espontaneidade do lugar 5.3. A implantação 5.4. O programa 5.5. Estratégias 5.6. Situações

6. Considerações Finais 117 7. Referências Bibliográficas 121 7

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INTRODUÇÃO “Quem nunca viu o samba amanhecer Vai no Bixiga pra ver Vai no Bixiga pra ver O samba não levanta mais poeira Asfalto hoje cobriu o nosso chão Lembranças eu tenho da Saracura Saudades tenho do nosso cordão Bixiga hoje é só arranha-céu E não se vê mais a luz da Lua Mas o Vai-Vai Está firme no pedaço É tradição e o samba continua” Geraldo Filme

O samba é reconhecido mundialmente como uma das culturas tradicionais brasileiras. As celebrações ao longo do feriado do Carnaval se estendem a todo país com diferentes formas de celebrações. Em São Paulo, além dos inúmeros blocos de rua, ocorrem os desfiles das escolas de samba. As sedes dessas escolas localizam-se majoritariamente em bairros afastados do centro, junto às indústrias. Diante do crescimento exponencial da cidade, alguns desses bairros passaram recentemente ou estão passando por uma transformação a qual resulta em um aumento notável de empreendimentos imobiliários. O bairro Vila Leopoldina, na zona oeste, é um desses casos. Na região, há um claro contraste entre uma zona industrial remanescente e uma zona residencial e comercial em ascensão.

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Em meio a essas zonas, três escolas de samba ocupam o baixio do Viaduto Miguel Mofarrej, o qual se sobrepõe à linha férrea presente na área e conecta os dois trechos da Avenida Doutor Gastão Vidigal. Essa situação não apenas forma uma barreira física, mas também gera um conflito entre as escolas de samba e os novos residentes do bairro. Isso ocorre por conta do ruído sonoro produzido durante as atividades das escolas.

Esse trecho urbano, como muitos outros, pode ser considerado um indelével

rastro, pois não se pode simplesmente remover tais infraestruturas urbanas a fim de resolver o conflito gerado. A metrópole possui uma série de conflitos, rupturas e indefinições que exigem uma investigação e experiências projetuais para propor soluções que beneficiem todos os cidadãos envolvidos. Para acomodar os múltiplos

perfis que convivem na região, é preciso criar um espaço de fato público, o qual oferece a possibilidade de transformações infinitas. O rastro possui em si uma condição frágil que se torna necessário o surgimento da alteridade, da ação para além-do-ser: (...) um ser que se constrói, constitui-se e fortalece-se a partir de costuras, de alinhavamentos e articulações com além de si próprio, um processo de colocar-se em público como um ser presente, mas não autossuficiente, reduzido em seu sentido e frágil o suficiente para se por com, compor-se não como um ente ideal ou idealizado, atemporal e acima do público, mas a ser fortalecido, em sua razão de ser, pelo público, ou seja, a cidade e seus habitantes (GUATELLI, 2010, p. 147).

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Para buscar soluções compatíveis a todos os aspectos que estão englobados na região, é preciso avaliar tanto dados técnicos quanto práticos, sendo o último apenas alcançado através da vivência no local: “O urbano só pode ser confiado a uma estratégia que ponha em primeiro plano a problemática do urbano, a intensificação da vida urbana, a realização efetiva da realidade urbana (isto é, de sua base morfológica, prático e sensível)” (LEFEVBRE, 2008, p. 88). Com isso, propõe-se um espaço capaz de ser algo para além do ser-para-si-mesmo, já que há um potencial para que os espaços das escolas de samba não se limitem apenas às suas atividades costumeiras, podendo fortalecer o rastro e possibilitar traços futuros; ou seja, mais do que projetar espaços adequados para o que se pode prever, é permitir somatórias

e

justaposições

de

situações

proporcionando

relações

de

proximidade/troca e irradiação urbana: (...) um território que deixa de constituir-se como um conjunto físico inerte composto por uma estrutura estacionária de edifícios, ruas, usos, infraestruturas para constituir-se em um suporte em permanente interação com as pessoas, um “microecossistema” em que interatuam fluxos de energia e de materiais; perturbações e interferências territoriais que potencializam o surgimento de configurações especiais efêmeras (espaçamento), paisagens móveis e ritmos temporais – o tempo dado pela ciclovia e pelo metrô, o tempo do morar, o tempo do lazer diurno e do noturno (GUATELLI, 2010, p. 151).

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1.1. Objetivo Geral O objetivo do trabalho é analisar a atual situação das escolas de samba

localizadas na Vila Leopoldina – Império Lapeano, Pérola Negra e Prova de Fogo – no contexto em que se inserem, promovendo assim uma análise da influência de tais instituições na cidade de São Paulo. Dessa forma, propõe-se um projeto arquitetônico que resgate suas memórias e a sua história, ampliando as oportunidades de cultura e lazer e estabelecendo uma nova identidade para a região.

1.2. Método 1.

Levantamento do referencial teórico

2.

Estudos de caso: análise das referências projetuais para a aplicação de projeto

3.

Pesquisa de campo (visita no entorno, entrevista com os frequentadores e avaliação das quadras)

4.

Discussão dos resultados

5.

Proposta final

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O SAMBA E A CIDADE

O samba conserva uma cultura que transmite heranças sociais e determina

uma associação de características pertencentes a um certo grupo de indivíduos. A cultura é difundida pelos processos migratórios, pela imitação e pela irradiação, através de uma técnica, um ritmo de dança, uma cerimônia, um estilo arquitetônico que pode ser transmitido de país a país, mesmo que não se saiba sua origem certa. A civilização se desenvolve ao longo do tempo sujeita a aculturações, podendo dizer que o homem é um complexo étnico, resultado da miscigenação. Esse processo é efetivamente realizado através da arte (CASCUDO, 2004). A cultura e a civilização se relacionam em um movimento cíclico de criação: “Para fins primários de impressão poder-se-ia dizer que a cultura é o conjunto de técnicas de produção, doutrinas e atos, transmissível pela convivência e ensino, de geração em geração” (CASCUDO, 2004, p.9).

Os instrumentos musicais surgiram a partir do momento em que o homem começou a caçar. Um dos mais utilizados para tal atividade era o pio ou assobio, feito de ossos para plagiar sons familiares ao animal alvo e, consequentemente,

atraí-lo. Antes do surgimento dessa espécie de flauta, o canto já reunira um grupo de pessoas, criando assim o ritmo, e fazendo com que fossem atraídas pela tônica;

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porém, a música vocal só é materializada através do instrumento musical. A percussão, por sua vez, é quase que instintiva ao homem, uma vez que a vontade de bater em superfícies determinando uma pulsação é conferida na batida de palmas, coxas, tórax e ventre. Ritmar danças com caixotes de madeira é comum na cidade de Havana, em Cuba, onde são denominados cajon, e no Nordeste brasileiro, como os cocos-de-roda. O tambor, objeto imprescindível para a formação do samba, nasce do tronco oco, e o modelo mais comum encontrado é o tambor com uma pele em cada extremidade. Uma das primeiras experiências foi feita pelos australianos que batiam nas peles esticadas entre as coxas entreabertas, porém não se pode determinar ao certo a sua origem. A mística africana utiliza o tambor agregando a ele os valores imateriais de uma pessoa nas festas e cultos. Em outras regiões, variações dos tambores aparecem com os pandeiros, adufes, tamborins e pandereitas. Independente das derivações do instrumento e da forma e significado de utilizá-lo, o som produzido envolve um determinado povo de uma forma mágica (CASCUDO, 2004, p. 591 a 596).

Os diversos estilos de música, dança, pintura, escultura e demais produções artísticas, permitem a união de um certo grupo de pessoas, a identificação e o sentimento de pertencer. O samba não é diferente, ele possibilita encontros, trocas e criações coletivas; através de ritmos, cantos e movimentos; as escolas de samba emocionam e contagiam nos desfiles de Carnaval.

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A origem do samba é o “batuque”, uma mistura de várias danças trazidas pelos negros escravos no Brasil. Em cada região do país, o estilo assumiu características próprias. Em São Paulo, o principal instrumento foi o “tambu”, grande tambor feito com tronco de árvore, o qual dá o ritmo para a dança de “tambu”, uma dança de fileiras, caracterizada pela umbigada (Figura 1) que é praticada por todos

os

pares

(MORAES,

1978).

As

celebrações da cidade de São Paulo derivam das festas e procissões do interior do Estado.

Figura 1 - Umbigada no batuque paulista, Sorocaba - SP, 1973. Fonte: MORAES, 1978, p.10.

O chamado Samba de Pirapora, cujo instrumento diferencial era o bumbo, tinha em sua composição violas, cavaquinhos, chocalhos e percussão corporal. As músicas se davam por improvisações de versos durantes os desafios, os quais se espalharam por todo o país com nomes como “duelo de viola”, “partido-alto”, “embolada”, entre

outros. Após a abolição da escravidão, muitos ex-escravos foram para a capital e disseminaram os duelos em ritmo do samba feitos no interior, porém essa cultura era constantemente censurada pela sociedade branca dominante, não podendo ser exposta nos locais públicos da cidade.

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O único momento em que os negros tinham permissão para exaltar suas raízes era durante as celebrações católicas, através da religiosidade. No dia 12 de março de 1914 nasceu o primeiro cordão de São Paulo, o “Grupo Carnavalesco Barra Funda” (Figura 2) foi fundado por Dionísio Barbosa. No primeiro desfile, doze pessoas saíram nas ruas com camisas verdes, calças brancas e chapéus de palha, sendo apelidados de “Camisa Verde”. A partir de então começaram a ganhar

notoriedade sendo compostos por cada vez mais pessoas e incentivando a criação de outros grupos (BARONETTI; CARDOSO, 2013).

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Figura 2 - Grupo carnavalesco Barra Funda ou "Camisa Verde e Branco", São Paulo – SP, 1922. Fonte: MORAES, 1978, p.23.

Diante do seu sucesso começaram a surgir outros cordões a partir da década de 1930. Um dos destaques foi o Cordão Vai Vai, concebido como um clube de futebol rival do “Cai Cai”, nesse cordão foram introduzidos instrumentos como o clarim, bumbo, caixa e a caixa carioca, sendo a última, produzida sem os bordões, e

dessa forma fazendo o papel do repinique ou malacacheta. Na época, os enredos não eram desenvolvidos como são hoje em dia; inicialmente, era escolhido um tema a partir do qual as vestimentas eram definidas, os quais não tinham um roteiro fixo.

Porém era de preferência passar pelas avenidas Angélica, Paulista, Brigadeiro Luís

Antônio e São João; além das ruas São Bento, 15 de Novembro, Líbero Badaró; pelas praças da Sé e do Patriarca; e pelo Viaduto do Chá. No Rio de Janeiro, a partir da década de 1920, surgem os blocos desfilando ao ritmo do samba, e em São Paulo, apenas em 1933 se iniciaram as apresentações de blocos, sendo um deles o “Baianas

Teimosas”, onde a responsabilidade da dança cabia quase exclusivamente às mulheres. O sucesso do bloco deu origem à primeira escola de samba da capital, a E.S. Lavapés e também à E.S. Nenê de Vila Matilde, que começou como uma reunião de amigos nos espaços públicos, já com o acréscimo de instrumentos como

o tarol, tamborim, cuíca e frigideira. Nessa época as escolas passaram a trocar o estandarte utilizado nos Cordões pelos pavilhões, espécie de bandeira da escola (MORAES, 1978).

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De acordo com o autor Wilson Rodrigues de Moraes (1978), até 1967 os desfiles das escolas de samba e os cordões tinham patrocínio dos jornais, emissoras

de rádios e de TV, clube de lojistas do bairro etc. Entretanto, no Rio de Janeiro, os desfiles estavam dominando o noticiário em todo o país. Para os dirigentes paulistas tal sucesso se deu por conta do apoio do poder público e, portanto, buscaram apoio da prefeitura que estava ao comando de Brigadeiro Faria Lima (Figura 3), que

ofereceu cobertura da Secretaria de Turismo e fomento da Prefeitura de São Paulo.

Para efetivar tal oferta, as escolas precisaram se organizar para estabelecer normas e regulamentos fixos, através da União das Escolas de Samba Paulistanas (UESP), passaram a adotar a mesma estrutura: comissão de frente, mestre-sala e porta-

bandeira, enredo, samba-enredo, bateria, alegoria e ala das baianas. A partir desse momento, não eram apenas apresentações para festejar; se iniciou uma disputa entre as escolas para ganhar uma taça.

Figura 3 - Prefeito Faria Lima assistindo o desfile das escolas de samba, São Paulo - SP, 196.

Fonte: MORAES, 1978, p. 93.

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Em sua maioria, as escolas de sambas são constituídas por negros e mulatos, provenientes das camadas mais humildes. Antigamente não havia essa distinção entre classes, pois todos encontravam-se na rua para apreciar os cordões. A partir da década de 1940, as camadas mais altas começaram a isolar-se em salões, restando apenas o povo nas ruas e nos terrenos baldios. Na década de 1950, a rápida transformação da cidade fez com que os terrenos disponíveis fossem

desaparecendo, restando às escolas ocuparem os espaços dos bairros periféricos: Desde o final da década de 1940 e início dos anos 1950, as escolas e cordões começaram a ganhar os bairros mais afastados do centro devido, sobretudo, ao encarecimento das moradias populares localizadas no centro da cidade. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, houve um grande aumento no preço dos materiais de construção, dos aluguéis e terrenos. Além disso, houve grande especulação imobiliária nesse período, obrigando os moradores pobres, negros, em sua maioria, a migrar para bairros da periferia onde os aluguéis eram mais baratos (BARONETTI; CARDOSO, 2013, p. 49).

Algumas escolas conseguiram fixar-se em terrenos alugados ou cedidos pela Prefeitura de São Paulo. Para sustentar essas quadras, local-sede das escolas, realizam-se diversas atividades para arrecadação de fundos para a agremiação, como cobrar entrada nos eventos, serviços de bar e venda de produtos: “vale ressaltar que os terrenos foram cedidos a título precário, o que impede as escolas de planejar e realizar obras necessárias ao conforto dos associados e visitantes” (MORAES, 1978, p.96).

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Apesar das dificuldades enfrentadas, trazer a sociedade à quadra é importante a partir do momento em que se torna um local de integração racial e social. É na quadra que se localiza a sede administrativa e os ensaios semanais; e é

no barracão que as fantasias e alegorias são produzidas. A partir de novembro as atividades se intensificam até o fim do carnaval. As escolas são associações privadas com forte inserção nos bairros e nas cidades, os sambas-enredo e hinos expressam identidades e sentimento de pertença. Além de celebrar o carnaval, um dos ícones

nacionais, assim como o futebol. Entretanto, o prestígio parece ser sazonal para o público em geral. Os frequentadores ativos são vistos de fora quase como uma tribo urbana, o que pode ser entendida como um agrupamento da cidade contemporânea relacionado a uma determinada estética corporal, vestuário ou

preferência musical: “esses aspectos desempenham um papel fundamental na construção do sentimento de pertença, reforçando a importância que atribuem à proximidade, ao “estar juntos” e às relações pessoais e afetivas” (BLASS, 2004, p.

217).

Essa união não ocorre apenas durante os desfiles oficiais, permanece durante todo o tempo, apresentando uma polissemia social, ou seja, proporcionam um processo de socialização inclusiva presente na realidade do dia a dia. O desfile possibilita a inversão de papéis sociais e a utopia de juntar e agregar faixas etárias,

sexo, extratos sociais, dentre outros que, de outra forma se encontram segregados

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no cotidiano. A diversidade retrata a heterogeneidade dos moradores pertencentes em um bairro, região ou país. As tribos urbanas: “designam agrupamento de iguais possibilitando-lhes intensas vivências comuns, o estabelecimento de laços pessoais e lealdades, a criação de códigos de comunicação e de comportamento particulares” (MAGNANI, 1992 apud BLASS, 2004, p.227).

Em decorrência da distribuição precária dos espaços públicos de convivência das áreas periféricas, mais carentes desses equipamentos, acabam reunindo-se em botecos de esquina, casas religiosas, campos de futebol muitas vezes improvisados, dentre outros. Esses espaços podem ser chamados de “pedaços” e são de extrema importância para camadas de renda mais baixa, pois diferentemente dos setores em que os vínculos são estabelecidos a partir de relações profissionais, a população da periferia está sujeita às oscilações do mercado de trabalho e das condições precárias de existência. Isso quer dizer que é nessas regiões que se tornam mais dependentes das atividades de lazer, da troca de informações e da prática da devoção. A partir desse processo, as pessoas diferenciam-se ou assemelham-se umas das outras, acabando por atribuir-lhes uma identidade distinta da definida pela sociedade mais ampla e pelas instituições (MAGNANI, 1998, p. 117).

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No caso das escolas de samba, as pessoas passam a criar laços e um ambiente no qual questões religiosas, políticas, culturais, educacionais e sociais são discutidas. Participar de uma agremiação como essa é pertencer a um grupo assim como se filia a um clube; algumas escolas se originaram a partir do futebol e da religião, majoritariamente umbandista.

Dessa forma, pouco importa a condição financeira, a raça, o sexo, a faixa etária; o espaço “pedaço”, como as quadras das escolas de samba, conferem uma multiplicidade e pluralidade, resultadas das inter-relações heterogêneas coconstrutivas. Essas relações são compreendidas como práticas encaixadas, o espaço possui uma política que enfatiza a construtividade relacional. Em meio dessa prática, surgem posicionamentos sobre determinados assuntos, explicitando o caráter de unicidade. Isso não significa que seja necessariamente uma diferença entre classes, é uma posição de acordo com a realidade aplicada a um espaço determinado: “é aquele caráter vivido, a complexidade e a abertura da própria configuração, a multiplicidade positiva, que é importante para a apreciação do espacial” (MASSEY, 2009, p. 34).

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ESTUDOS DE CASO

3.1. Praça das Artes

Figura 4 - Praça das Artes vista da Rua Conselheiro Crispiniano, São Paulo - SP, 2019 . Fonte: Acervo Pessoal, 2019

A Praça das Artes (figura 4), projetada pelo escritório Brasil Arquitetura e concluída em 2012, possui 28.500m² que abriga um complexo educacional. As atividades estão divididas em: Módulo Corpos Artísticos (Orquestra Sinfônica Municipal, Orquestra Experimental de Repertório, Coral Lírico, Coral Paulistano, Balé da Cidade, Quarteto de Cordas) e Módulo Escolas (Escola de Música, Escola de Bailado, restaurante, área de convivência e Conservatório, o qual possui espaço para exposições artísticas, eventos e apresentações musicais). No projeto foi conservada a fachada do Cine Cairo (Figura 5) e agregada a preexistência do Conservatório Dramático e Musical (Figura 6), que passou a ser parte da Praça das Artes, com o intuito de preservar suas memórias.

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Figura 5 - Cine Cairo, São Paulo – 2012.

Fonte: GUERRA, 2012.

Figura 6 Conservatório Dramático e Musical, São Paulo - SP, 2013.

Fonte: Archdaily, 2013.

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Um dos destaques desse projeto é a solução acústica, tanto para reduzir o som externo das vias urbanas - Avenida São João, da Rua Conselheiro Crispiniano e do Vale do Anhangabaú - quanto para evitar grandes interferências entre suas salas.

Para isso, foram adotadas duas estratégias principais, o piso flutuante e a placa acústica (Figura 7). A primeira funciona como um amortecimento dos ruídos com o uso de molas entre a laje e o piso, já a segunda absorve o ruído. O modelo é o “nexacustic 32” da marca Owa Sonex que possui o Coeficiente de Redução de Ruído (NRC) de 0,8. Considerando todas as variantes possíveis, pode-se dizer que as estratégias trazem bom conforto acústico para o ambiente, uma vez que, ao considerar que uma orquestra sinfônica ou uma música com volume alto, cuja medição gira em torno de 80 a 90 dB, foi realizada uma medição na recepção do complexo, mostrando uma redução significativa de 56 a 61 dB, equivalente ao ruído de pessoas em uma conversa.

O programa do edifício é bastante específico e majoritariamente restrito para o público em geral; e mesmo assim, é um potente ponto de encontro, lazer e de passagem. Isso se deve ao fato do térreo (Figura 8) ser composto por café, banheiros públicos, espaço para pequenas exposições e uma

Figura 7 - Placa acústica em uma sala de dança, São Paulo - SP, 2013.

Fonte: Archdaily, 2013.

área livre a qual cumpre o papel de uma rampa suave que permite e facilita a fruição pública.

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Apesar da presença escassa de vegetação, a praça continua sendo agradável por conta da sombra formada pelo grande vão da torre que abriga as escolas. A combinação de espessas paredes estruturais de concreto e uma laje nervurada com um espaçamento de aproximadamente 6 metros a cada nervura, resulta em uma cobertura de 30 por 18 metros (Figura 9).

Figura 8 – Diagrama de elementos do pavimento térreo. Fonte: a partir de Brasil Arquitetura, 2006.

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Figura 9 – Diagrama de elementos do pavimento térreo. Fonte: a partir de Brasil Arquitetura, 2006.

Ao longo da fachada pode-se observar alguns rasgos no concreto e cada ambiente possui uma combinação de aberturas diferente. Para observar a iluminação natural fornecida por essas aberturas, foi selecionada uma das salas do segundo pavimento com sua fachada noroeste voltada para a Rua Conselheiro Crispiniano (Figura 10). De acordo com a análise da carta solar para essa fachada, os períodos de insolação acontecem na parte da tarde, portanto a partir do modelo da sala de ensaio foi analisada a iluminação natural às 15h em três momentos do ano, janeiro, julho e setembro, em um horário que está compreendido nos equinócios e nos solstícios. É possível observar que mesmo no período do ano mais ensolarado a abertura da janela não é suficiente para comportar as atividades, necessitando uma iluminação artificial (Figura 11); dois dos possíveis motivos para essa escolha são a acústica e a privacidade.

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Figura 10 – Análise do período de insolação a partir de uma sala de ensaio do segundo pavimento. Fonte: a partir de Brasil Arquitetura, 2006.

Figura 11 – Análise da iluminação natural a partir de uma sala de ensaio do segundo pavimento. Fonte: Archdaily, 2013 e acervo pessoal.

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3.2. Centro Cultural São Paulo

Figura 12- Centro Cultural São Paulo visto da Avenida 23 de Maio, São Paulo-SP, 2002.

Fonte: TELLES, 2002, p. 70.

O Centro Cultural São Paulo (Figura 12), de autoria de Eurico Prado Lopes e Luiz Benedito de Castro Telles, foi concluído em 1982. O projeto surgiu como resposta ao concurso público lançado pela prefeitura, após a finalização da estação de metrô Vergueiro. O concurso possuía o intuito de revitalizar e adensar a área delimitada pela Avenida 23 de Maio, Rua Vergueiro e viadutos João Julião e Paraíso, ele previa torres para escritório, hotel e estacionamento. Gerando uma grande polêmica, até que o prefeito da nova gestão, Olavo Fontoura, doou o terreno ao Departamento de Bibliotecas Públicas do Município de São Paulo afim de se construir a Nova Biblioteca Central-Vergueiro. Além de uma biblioteca o edifício comporta, em seus aproximados cinquenta mil metros quadrados, auditórios multifuncionais, espaços para exposições e espaços de convivência.

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Um dos aspectos de destaque

desse projeto é a preocupação com a iluminação que: “foi também motivo de reflexão. A equipe, apoiada por projetistas específicos, fixou o nível de iluminância básica em 300 lux, com nível de 500 lux em áreas pontuais,

através

de

luminárias

acopladas às mesas de leitura e às

Figura 13 - Entrada do Centro Cultural São Paulo pela estação de metrô, São Paulo - SP, 2019. Fonte: Acervo Pessoal, 2019.

estantes” (TELLES; PERRONE, 2002, p.219).

O

aproveitamento

da

iluminação natural está presente desde a entrada próxima à estação de metrô Vergueiro (Figura 13), até o interior, nas amplas áreas expositivas (Figura 14).

Figura 14 - Espaço de convivência do Centro Cultural São Paulo, São Paulo - SP, 2019. Fonte: Acervo pessoal, 2019.

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Em visita ao centro cultural, foram realizadas medições com um luxímetro nesses espaços e concluiu-se que durante as horas de iluminação o ambiente atinge aproximadamente os 300 lux previstos (Figura 15). Além disso, cria espaços aconchegantes para os usuários: A luz natural promove variações em muitos pontos do edifício.

Aberturas de iluminação zenital voltadas para a face sul, possibilitam “ver o céu” e destacam momentos do eixo longitudinal da cobertura (815,80). A luz do sol incidindo no canteiro central da rua interna, destaca e movimenta o paisagismo. A alvenaria aparente do talude da Vergueiro tem sua cor reavivada (TELLES; PERRONE, 2002, p.299).

Figura 15 – Medição da iluminância na área expositiva. Fonte: a partir de Archdaily, 2017.

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A cobertura é estruturada com vigas metálicas curvas, a escolha se deu pela precariedade das formas para concreto armado na época. Entretanto, o concreto aparece frequentemente compondo o sistema estrutural do edifício, contribuindo para o desempenho acústico. A adoção de apenas um foyer para todas as salas de apresentações estimula

justamente o encontro

de

diferentes

públicos,

possibilitando uma troca de diferentes visões. Diante disso, a Sala Adoniran Barbosa com sua parte superior revestida de vidro não cumpre um papel acústico a ponto de isolar completamente; mas pelo contrário, permite que as pessoas que estão passando pelo equipamento ouçam, aproximem-se e visualizem o que está acontecendo dentro da sala. As inúmeras possibilidades de entradas, percursos e níveis permitem a fruição do espaço (Figura 16). Com total liberdade, o visitante se guia pela curiosidade do inesperado, do espontâneo.

Diferentemente da Praça das Artes, o Centro Cultural São Paulo possui uma vegetação considerável (Figura 17). As árvores que atravessam o edifício são originais do terreno e ajudaram no ponto de partida para o projeto. A cobertura verde (Figura 18) foi pensada para cumprir importante papel como uma praça para os visitantes e como uma vista para os futuros moradores da região que estava começando a se adensar, para que consequentemente os incentivassem a visitar o Centro.

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Figura 16 – Análise gráfica dos espaços públicos. Fonte: CASTRO, 2018, p. 103.

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Figura 17 – Análise gráfica da vegetação. Fonte: CASTRO, 2018, p. 102.

36

Figura 18 – Jardim sobre laje. Fonte: TELLES, 2002, p. 280

Essa construção é de extrema importância para a cidade, não só pelo seu porte e por abrigar um rico acervo em sua biblioteca; mas por ser um espaço de fato público, democrático e aberto para infinitas apropriações dos diferentes espaços, como os corredores preenchidos com dançarinos, as mesas reservadas para o xadrez e para o estudo, os taludes como poltronas de leitura, as coberturas como abrigo para os andarilhos, entre muitos outros. Portanto, apesar de haver uma prévia determinação da função do edifício, os visitantes são responsáveis pela sua ressignificação, mantendo-o vivo.

37

3.3. Studio Bell – Centro da Música Nacional do Canadá

Figura 19 - Studio Bell, Calgary - AB, Canadá, 2016. Fonte: Allied Works Architecture, 2016.

O projeto do escritório Allied Works Architecture finalizado em 2016, possui programas voltados para a produção de música canadense com uma área de

16.850m² como museu, salões de performances, centro educacional da música, estúdio de música e centro de transmissão. O edifício conecta os dois lados da rua 4th St SE (Figura 19) e os espaços de música estão separados por percursos silenciosos iluminados naturalmente através de aberturas que refletem nos azulejos

metálicos do revestimento e permitem ver a cidade (Figura 20 e 21).

38

Figura 20 - Studio Bell, Calgary - AB, Canadรก, 2016.

Fonte: Allied Works Architecture, 2016.

Figura 21 - Studio Bell, Calgary - AB, Canadรก, 2016.

Fonte: Aliied Works, 2016.

39

Destaca-se a adaptabilidade do salão de música central (Figura 22) para acomodar inúmeras performances e eventos variados. Para criar ambientes acústicos diferentes, adotaram estratégias como configurações de assentos flexíveis (Figura 23) e uma parede acústica móvel (Figura 24), que pode fechar para performances íntimas, ou abrir totalmente para a área do lobby, permitindo que a música do salão percorra todo o edifício.

40

Figura 22 - Salão de música central do Studio Bell, Calgary - AB, Canadá, 2016.

Fonte: Allied Works Architecture, 2016.

Figura 23 - Salão de música central do Studio Bell, Calgary - AB, Canadá, 2016.

Fonte: Aliied Works Architecture, 2016.

Figura 24 - Salão de música central do Studio Bell, Calgary - AB, Canadá, 2016. Fonte: Archdaily, 2017.

41

O Centro possui variedade de percursos, visuais e sensações através de pé direito alto, rasgos de iluminação natural que possibilitam a vista para a cidade e os

enquadramentos diferentes em cada parte do edifício. Para além da sua monumentalidade, valoriza os artistas canadenses renomados na indústria da música, com uma exposição permanente (Figura 25) faz com que os visitantes relembrem ou conheçam as personalidades do país. Além disso aproxima o público

do “fazer música” (Figura 26), instigando-o e estimulando-o a se aproximar mais da cultura.

Figura 25 – Exposição do Hall da Fama do Studio Bell, Calgary - AB, Canadá, 2016. Fonte: Studio Bell, 2016.

42

Figura 26 – Oficina de percussão no Studio Bell, Calgary - AB, Canadá, 2016. Fonte: Studio Bell, 2016.

43

44

4

VILA LEOPOLDINA

Figura 27 – Mapas de localização do bairro Vila Leopoldina . Fonte: a partir de Geosampa, 2020)

45

4.1. Histórico do Bairro O bairro Vila Leopoldina originalmente fazia parte do sítio Emboaçava, área conhecida como Várzea dos Correias. Em 1894, foi dividido entre chácaras para abrigar os jesuítas alemães. O nome do bairro se deu em homenagem à Leopoldina Kleeberg, sócia da empresa responsável pelos loteamentos, houve uma campanha

de marketing para a venda dos terrenos, porém não foi bem-sucedida, uma vez que a terra era pantanosa e difícil para se construir, possibilitando a ocupação da área apenas a partir de 1924 (Figura 28). O bairro, que até então era ocupado por pequenas olarias, se tornou alvo das grandes indústrias na década de 1950, sendo denominado de Centro Industrial Miguel Mofarrej (PONCIANO, 2004).

46

Figura 28 – Ocupações Urbanas em São Paulo . Fonte: RODRIGUES; MEYER, 2013, p. 97.

De acordo com o mapeamento de 1930 (Figura 29) e de 1954 (Figura 30), observa-se três pontos relevantes para a formação do bairro: os rios Pinheiros e Tietê e a estrada de ferro Sorocabana. A mudança em destaque representa a retificação dos rios e a implantação das vias que conectam a cidade de São Paulo a

outras cidades do estado. A partir disso é possível entender o processo de ocupação da região (Figura 31), distinguindo-se no traçado das ruas. O vetor industrial resultou em grandes lotes e vias retilíneas, enquanto o vetor residencial de alto padrão seguiu a concepção de cidade-jardim proposta pela companhia inglesa responsável

pelos loteamentos na década de 1920, a Cia City; resultando em um traçado orgânico que acompanhava as curvas de nível com pequenos lotes rodeando praças arborizadas (RODRIGUES; MEYER, 2013).

Figura 29 – Mapeamento Sara Brasil, 1930 . Fonte: Geosampa, 2020.

47

Figura 30 – Mapeamento Vasp Cruzeiro, 1954. Fonte: Geosampa. 2020.

48

Figura 31 – Ocupações na Vila Leopoldina.

Fonte: RODRIGUES; MEYER, 2013, p. 122.

A Vila Leopoldina localiza-se em um ponto estratégico por estar próxima ao cruzamento entre a Marginal Pinheiros e a Tietê e cinco rodovias: Presidente Castello Branco, Anhanguera, Raposo Tavares, Régis Bittencourt e Bandeirantes; esse fator foi importante para a escolha da transição do CEASA, Centro Estadual de

Abastecimento

Companhia

de

S.A.;

atual

Entrepostos

e

Armazéns Gerais de São Paulo – CEAGESP na década de 1960 (Figura

Figura 32 - Localização do CEAGESP e dos acessos estratégicos da Vila Leopoldina. Fonte: PEREIRA; PISANI, 2017, p. 115.

32) (PEREIRA; PISANI, 2017).

49

A

atração

do

trabalho

informal consequente do CEAGESP somada aos terrenos públicos não utilizados

tornou

oportuna

a

ocupação irregular pela população sem moradia, resultando na criação de favelas lineares, sendo elas atualmente denominadas Favela do

Nove, Favela da Linha e Cingapura Madeirit (Figura 33). A princípio, os loteamentos comercializados eram focados

na

área

industrial

e

residencial, ocupadas por vilas operárias associadas às indústrias.

Figura 33 – Ocupações irregulares após a implantação do CEAGESP. Fonte: RODRIGUES; MEYER, 2013, p.

143.

Próximos a linha do trem, os terrenos com acesso à Avenida Avenida Imperatriz Leopoldina e à Rua Carlos Weber foram parcelados em grandes lotes criando extensos quarteirões. Na década de 2000, esses lotes passaram a ser ocupados por empreendimentos de grande porte, de acordo com a tendência do mercado e o

50

consequente processo de verticalização (RODRIGUES; MEYER, 2013).

Em 2003, a equipe técnica da Secretaria Municipal de Planejamento (Sempla) realizou estudos urbanísticos e ambientais, e considerou a Operação Urbana Consorciada um instrumento capaz de organizar o crescimento da região, a qual

tem como objetivo: (...) articular transformações urbanísticas, melhorias sociais e valorização ambiental. Consiste em estratégia de desenvolvimento integrado do território interurbano, abrangendo habitação, mobilidade, produção, centralidades e política ambiental, instando à predominância na espacialidade resultante do sentido público e social. As áreas-alvo de Operações Urbanas Consorciadas são perímetros no interior dos quais as transformações de uso e ocupação do solo se orientam por um plano consubstanciado em um projeto urbano integrador e mediador desses múltiplos campos e agentes, conduzindo consensos com os diversos atores envolvidos, inclusive agentes imobiliários, a fim de resultar em um ambiente construído em que prime a qualidade ambiental total (ABASCAL; KATO; CYMROT, 2013, p. 79).

Em um processo de aproximadamente dez anos, o projeto não foi executado por conta de grande influência da ação do mercado imobiliário. Sendo assim, a transformação da Vila Leopoldina se deu por forte domínio do privado frente ao público, em virtude da discrepância entre a velocidade da aplicação das políticas urbanas e da dinâmica imobiliária, resultando no surgimento de edifícios residenciais de médio e alto padrão isolados, enclausurados em grandes muros que ignoram a calçada e munidos de sistemas diversos de segurança e limitação de acesso que negam qualquer interação com o espaço público e seus pedestres (ABASCAL; KATO; CYMROT, 2013).

51

Essas torres que se instalam em meio às indústrias e casas remanescentes acabam por diminuir a interação dos moradores do bairro com espaços públicos e, consequentemente, entre si, favorecendo a instalação de equipamentos de lazer internos e privativos. Dessa forma, as possíveis trocas entre as distintas camadas da sociedade não se concretizam e a população de baixa renda é a que mais carece de espaços de lazer e de convivência.

4.2. PIU Vila Leopoldina – Villa Lobos O Projeto de Intervenção Urbana Vila Leopoldina – Villa Lobos tem como

localização a várzea da margem direita do Rio Pinheiros, no Distrito da Vila Leopoldina, junto à CEAGESP, à Ponte do Jaguaré e próximo dos Parques Cândido Portinari e Villa Lobos. Por conta da modernização do bairro ocorreu grande aumento de densidade pela acelerada verticalização, com isso começaram a surgir

problemas como a falta de estacionamento para o comércio e o aumento de linhas de ônibus em ruas estreitas.

52

O acréscimo de unidades habitacionais de classe média alta destacou a segregação de classes a qual pode se agravar com a retirada do CEAGESP, equipamento considerado obsoleto e sem perspectivas de melhorias. Próximo a ele há três comunidades (Figura 34) que atualmente o tem como oportunidade de renda: a Favela da Linha, Favela do Nove e o Conjunto Habitacional Cingapura Madeirit (PEREIRA; PISANI, 2017). Apesar de não executada, a Operação Urbana Vila Leopoldina – Jaguaré já previa a transferência desse equipamento e já demonstrava preocupação sobre a abertura para mudanças dos usos do solo, revelando a necessidade de cuidados especiais: Não havendo respaldo legal da OUC, o terreno remanescente, mesmo com as novas exigências do Plano Diretor Estratégico, Lei n° 16.050 de 2014, e com as novas articulações do PIU, poderá sofrer ocupações indevidas, sob a mesma lógica especulativa que sofreu o bairro nos últimos 15 anos, o que propiciará uma substituição de problemas (PEREIRA; PISANI, 2017, p. 134).

53

Figura 34 – Perímetros PIU Vila Leopoldina Villa Lobos. Fonte: Prefeitura de São Paulo, 2018.

54

Durante as discussões do PIU, as empresas Votorantim, Jaguatirica, BV Empreendimentos e Participações S/A, que possuem áreas dentro do possível perímetro de intervenção, junto ao Instituto de Urbanismo e Estudos pela Metrópole, URBEM, apresentaram uma Manifestação de Interesse Privado, MIP. De acordo com o documento, os proponentes pretendem empreender um programa de desenvolvimento urbano e imobiliário dessas áreas, em virtude da “disponibilização de tão significativa metragem na região merece um projeto urbano não convencional, com novas formas de pensar, que não apenas capture o potencial de valorização imobiliária existente, mas atue como polo de revitalização

da cidade” (PMSP, 2016, p. 3).

De acordo com o MIP, o problema das moradias irregulares pode ser solucionado com a realocação das famílias para diversas ZEIS – Zona Especial de Interesse Social - no entorno do perímetro (Figura 35) de intervenção, com uma combinação de projetos que visa ao “desenvolvimento de um tecido urbano compacto, de uso misto e convívio plural, onde sejam estimuladas cadeias produtivas inovadoras e redes sociais justas” (PMSP, 2016, p. 4).

55

LEGENDA Perímetro do PIU ZEIS ZEIS dentro do perímetro de intervenção projetual

Figura 35 – ZEIS no entorno do PIU proposto .

Fonte: Prefeitura de São Paulo, 2016, p. 5.

A área demarcada na imagem acima foi escolhida para a intervenção projetual partindo das análises realizadas anteriormente, que revelam a grande

importância da implantação de um espaço público democrático, o qual possa ser usufruído pelas diferentes camadas sociais que residem no bairro.

56

5

PROPOSTA PROJETUAL

57

5.1. Escola de Samba e o Bairro Vila Leopoldina

O mapa ao lado (figura 36) indica a localização das quadras das

escolas

de

samba

do

município de São Paulo, além dos locais onde são realizados os desfiles

oficiais

das

duas

entidades - Liga SP e Uesp responsáveis por organizar os eventos. A primeira é responsável por organizar o desfile do grupo

LEGENDA

especial e do acesso, das escolas

Escolas de Samba

melhor classificadas ao longo dos

Sambódromo do Anhembi

anos,

Av. Eliseu de Almeida – Butantã

onde

ocorre

Sambódromo do Anhembi.

58

no

Av. Alvinópolis – Vila Esperança

Figura 36 – Mapa das escolas de samba e locais de desfile .

Fonte: a partir de GEOSAMPA, 2020.

Com o aumento do número de escolas, a segunda ficou responsável por organizar os desfiles dos grupos especiais e de acesso de bairro, os quais são realizados na Avenida Eliseu de Almeida no Butantã e na Avenida Alvinópolis na Vila Esperança.

Como pode-se observar no mapa, muitas escolas estão situadas próximas à linha férrea. As escolas selecionadas (figura 37) para a proposta projetual situam-se no bairro Vila Leopoldina, na Zona Oeste da cidade - Grêmio Recreativo Social e Cultural Escola de Samba Império Lapeano, Pérola Negra e Prova de Fogo-, separadas pela linha 11 férrea da CPTM, Diamante, sendo a estação mais próxima a Imperatriz Leopoldina.

Figura 37 – Recorte do mapa das escolas de samba e locais de desfile.

Fonte: a partir de GEOSAMPA, 2020.

59

Como já mencionado no capítulo anterior, o bairro da Vila Leopoldina passou por grandes transformações recentes. Observando os usos predominantes de cada quadra (figura 38) , pode-se dizer que o bairro caracteriza-se por ser uma região

residencial e industrial, com a exceção da presença do Ceagesp e do Parque Villa Lobos. Ao longo da Av. Dr. Gastão Vidigal nota-se a predominância de empreendimentos comerciais como concessionárias e entre as casas e os edifícios residenciais de médio e alto padrão estão implantados edifícios corporativos e

pequenos comércios. Próxima à área de intervenção percebe-se uma clara divisão entre uma área residencial e uma industrial.

Em relação à mobilidade (figura 39), destaca-se duas linhas da CPTM Diamante e Esmeralda-, as quais possuem estações próximas às escolas, Imperatriz

Leopoldina e Ceasa. Por conta da proximidade com o Parque Villa - Lobos, observase uma grande extensão da ciclovia e observando a região, muitas pessoas utilizam a bicicleta como forma de locomoção. Por fim, as linhas e estações de ônibus estão distribuídas de forma a abranger toda o recorte.

60

Ao observar o mapa de equipamentos (figura 40), nota-se uma predominância no setor educacional, sendo a maioria escolas. Porém os demais temas aparecem em menor quantidade. Dois dos equipamentos de maior influência são o Sesi Vila Leopoldina e o Centro Educacional Esportivo Edson Arantes do

Nascimento, apelidado “Pelezinho". Os equipamentos concentram-se próximos da estação de trem, da Av. Imperatriz Leopoldina e da Rua Carlos Webber. Ao aproximar-se das escolas de samba percebesse a falta de equipamentos e a presença de apenas um equipamento, o Museu do Relógio Prof. Dimas de Melo Pimenta.

De forma geral, o recorte possui uma boa proporção de áreas verdes (figura 41). As quadras com traçados curvilíneos são majoritariamente residenciais de casas e possuem algumas pequenas praças, porém nas quadras retificadas onde se

instalam os edifícios, comércios e serviços, apesar de ruas também arborizadas, não há muitos espaços públicos de permanência. Dentre as grandes áreas verdes, destaca-se o Parque Villa - Lobos na parte inferior e o Parque Leopoldina na parte superior.

61

LEGENDA Ferrovia Estações de Trem Residencial Comercial

Uso Misto

Domingos de Morais

Industrial Institucional Imperatriz Leopoldina

Presidente Altino

Ceasa

Villa Lobos - Jaguaré

Figura 38 – Mapa dos usos predominantes. Fonte: a partir de GEOSAMPA, 2020.

62

LEGENDA Ferrovia Estações de Trem Ciclovia Linhas de Ônibus Pontos de Ônibus

Domingos de Morais

Imperatriz Leopoldina

Presidente Altino

Ceasa

Villa Lobos - Jaguaré

Figura 39– Mapa do transporte. Fonte: a partir de GEOSAMPA, 2020.

63

LEGENDA Ferrovia Estações de Trem Escola Ensino Técnico Universidade / Faculdade

Domingos de Morais

Senai, Sesi, Senac Centro Esportivo Imperatriz Leopoldina

Museu Teatro / Auditório Biblioteca Centro Cultural Presidente Altino

Ceasa

Villa Lobos - Jaguaré

64

Figura 40 – Mapa dos equipamentos. Fonte: a partir de GEOSAMPA, 2020.

LEGENDA Ferrovia Estações de Trem Vegetação

Domingos de Morais

Imperatriz Leopoldina

Presidente Altino

Ceasa

Villa Lobos - Jaguaré

Figura 41 – Mapa da vegetação. Fonte: a partir de GEOSAMPA, 2020.

65

Atualmente as escolas presentes na região não são reconhecidas como uma oportunidade de lazer pelos moradores do bairro, houve um acordo para que não se extrapole o horário de ensaio, mas mesmo assim reclamações do ruído sonoro são recorrentes. Como foi mencionado no capítulo 2, o prestígio das escolas de samba parece ser sazonal, pois na época do carnaval parte dos moradores apreciam os ensaios realizados na rua e ao longo do ano não ocorre a mesma atenção.

As três escolas, assim como outras possuem o desejo de poder compartilhar seu espaço com outras pessoas para que, não só conheçam mais a fundo essa cultura, mas que possam também compartilhar os próprios costumes, como um meio colaborativo. Durante o ano passado iniciaram um diálogo com a

Subprefeitura da Lapa para realizarem projetos em conjunto. Além disso a presença das mesmas antecedem a valorização imobiliária, fazendo parte da história da região. A escola de samba Prova de Fogo possui sua quadra ao norte da Marginal Tietê, porém ocupam o espaço embaixo do viaduto Miguel Mofarrej há mais de 20

anos e, desde então, utilizam a área para confecção de fantasias e alegorias. A escola de samba Pérola Negra ocupou o espaço também há mais de 20 anos, e o local desempenhava o mesmo papel. A partir de 2015 deixaram de ocupar a quadra na Vila Madalena que era usado para ensaios e passaram esta função para a Vila Leopoldina, já que atualmente possui um espaço na zona norte para fabricar as alegorias.

66

A escola de samba Império Lapeano, que se originou do Bloco Carnavalesco Voz do Morro na região da Lapa, ocupou o espaço na Vila Leopoldina em 1978. Na época, o local funcionava como um estacionamento de alegorias de diversas escolas de samba, mas aos poucos cada uma começou a ocupar seu próprio espaço e o

terreno foi cedido pela prefeitura à escola. As escolas costumam localizar-se próximas às comunidades que as compõem, porém não é o caso dessas utilizadas como objeto de estudo. Com isso, realizou-se uma pesquisa para conhecer as origens das pessoas que frequentam a escola Império Lapeano e obteve-se como

resultado uma grande variedade (figura 42), sendo algumas das pessoas residentes de outros estados do país.

Figura 42 – Resultado da pesquisa de origem da comunidade da escola de samba Império Lapeano Fonte: a partir de GEOSAMPA, 2020.

67

Apesar da maioria dos componentes não residirem no mesmo bairro, a pesquisa demonstrou que a quadra é de fácil acesso, sendo que utiliza-se majoritariamente os

modais públicos de transporte (figura 43).

Diante

desses

dados,

pode-se

concluir que as escolas de samba são equipamentos apreciados por parte dos cidadãos, sendo eles pertencentes à região ou não. Para além disso,

possuem um

espaço com grande potencial de influência em seu entorno e, se forem realizados os projetos desejados que integrem os moradores do bairro, podem se tornar um ponto de encontro e de trocas de diferentes

vivências.

Sendo

assim,

permitirá tanto o devido reconhecimento Figura 43 – Resultado da pesquisa de locomoção da comunidade da escola de samba Império Lapeano.

Fonte: a partir de GEOSAMPA, 2020.

68

da cultura do samba presente, quanto a realização de outras atividades contando com a participação de qualquer cidadão.

5.2. O Entre e a Espontaneidade do Lugar A proposta projetual – Complexo do Samba Paulista – engloba terrenos atualmente inativos e espaços embaixo do Viaduto Miguel Mofarrej ocupados pelas três escolas de samba, objetos do estudo. Analisando a situação as diretrizes do projeto são as seguintes: Conectar os dois lados da Av. Dr. Gastão Vidigal quebrando a barreira da linha férrea que separa as escolas de samba; Reformular as quadras das escolas de samba, criando espaços adequados para receber os programas necessários (como ensaios, eventos e confecção de fantasias e alegorias) e os desejados (como exposições, cursos, e espaços de convivência em geral; Adequar as quadras adotando estratégias para reduzir o ruído sonoro mesmo permitindo a ventilação e iluminação natural e para evitar situações de alagamento; Incentivar o usufruto do espaço público dos frequentadores das escolas, dos moradores do entorno, dos trabalhadores da região e demais cidadãos e permitir o encontro, o reconhecimento, a troca de experiências e o inesperado.

Figura 44 – Perspectiva da área de intervenção e do entorno.

Fonte: a partir de GOOGLE EARTH, 2020.

69

Figura 45 - Muro da Linha do Trem vista da Escola Império Lapeano

Figura 46 - Muro da Linha do Trem vista da Escola Prova de Fogo

Figura 48 - Indústria na Av. Cardeal Santiago Luís Copello

Fonte: GOOGLE EARTH, 2019

Figura 47 - Residencial na Av. Mofarrej

70

Figura 49 - Praça na Av. Cardeal Santiago Luís Copello

Figura 50 - Fachada da Escola Prova de Fogo

Figura 52 Fachada da Escola ImpĂŠrio Lapeano

Fonte: Acervo Pessoal, 2019

Figura 51 - Fachada da Escola PĂŠrola Negra

71

O baixio de um viaduto é, em alguns casos, classificado como um espaço residual em um grau considerável de abandono, além de abrigar ocupações pautadas da informalidade. Entretanto em outros casos, pode-se observar um aproveitamento positivo do espaço: É uma condição que se tem verificado em baixios de viadutos, nos quais através de suas características construtivas – ampla cobertura – usos não promovidos apenas pela população em situação de rua estão se realizando conforme evidenciam as áreas de lazer, sedes de escolas de samba, academias de boxe, cooperativas de reciclagem, sacolões e entre outros. São locais que assumiram a característica de um espaço público quando acabaram reunindo pessoas (AGUIAR, 2016, p. 2).

Esses exemplos de ocupação do entre comprovam que é possível transformar uma cicatriz da cidade, reestabelecendo um diálogo com sua circunvizinhança e se tornando um potencial local de permanência. O desafio do viaduto presente no recorte projetual não é torna-lo utilizável, mas fazer a grande cobertura ser aproveitável para diversos tipos de usuários, que lhe atribuem diferentes significados. O objetivo da intervenção é permitir o uso do espaço público dos frequentadores das escolas de samba, os moradores tanto das residências e casas de médio e alto padrão quanto das favelas próximas ao Ceagesp, os funcionários das indústrias e dos escritórios, os estudantes e qualquer outro potencial público. Além do uso, pretende-se dar a liberdade para cada cidadão contribuir com o destino do espaço de forma a enriquecê-lo, já que “a ação de construir a coletividade com a participação local vem sendo definida relevante no projeto urbano” (AGUIAR, 2016, p. 6).

Um entre-lugar não refere-se apenas ao espaço físico do baixio do viaduto, refere-se também a um espaço intermediário entre os programas previamente projetados, como um intervalo das definições. É nesses espaços indefinidos que se permitem apropriações imprevistas, criadas ao acaso, pela pura espontaneidade do lugar e de seus usuários. O complexo projetado prevê a permanente latência, ou 72seja,

seja, o constante movimento e questionamento daqueles que o utilizam, pensando sobre e propondo diferentes situações. Isso quer dizer que além das atividades essenciais e invariáveis das escolas de samba, o complexo tem a capacidade de acolher inúmeras e variadas situações que não têm seu lugar determinado mas que se encaixa na adaptabilidade e versatilidade desses espaços intermediários (GUATELLI, 2012).

A proposição projetual, portanto, possui como objetivos principais a valorização do samba historicamente presente na região e o estabelecimento de um espaço público democrático em um permanente estado por vir: Abordado de diferentes maneiras nos projetos, com desenhos distintos e de apropriação completamente livre, além de representar uma desestabilização ou dissociação da relação entre imagem e percepção, 0 entre em arquitetura configura-se como um “lugar” onde qualquer tentativa de controle, orientação, sugestão de ocupação pelo usuário por parte do arquiteto torna-se inviável; sua finalidade seria, justamente não ter um fim (GUATELLI, 2012, p. 125).

73

5.3. A Implantação

Figura 53 - Implantação e Elevação. Fonte: Autoral.

Praça 3

Praça 4 Praça 1

Praça 2

QUADRO DE ÁREAS GERAL DO COMPLEXO E.S. Império Praça 1 Praça 2 Praça 3 Praça 4 Lapeano Á. Total (m²) 2.609,56 8.677,33 4.616,50 3.489,02 Á. Térreo (m²) 1.997,67 Á. Verde (m²) 371,45 2.547,42 813,98 1.209,70 Á. Pav. Sup.(m²) 686,90 2.684,57 Á. Total (m²)

74

E.S. Prova E.S. Pérola de Fogo Negra 1.354,17 377,76 1.731,93 2.018,35

Figura 54 Perspectiva aĂŠrea do Complexo do Samba Paulista com o viaduto

Figura 55 Perspectiva aĂŠrea do Complexo sem o viaduto

75

Figura 56 - Corte A. Fonte: Autoral.

Pode-se observar na implantação (figura 53) que o complexo divide-se em quatro praças com configurações variadas. Além disso, cilindros e passarelas

cumprem o papel de transposição entre cada uma e principalmente entre os dois lados da linha do trem e a elevação mostra a relação dos níveis entre cada elemento. As figuras 54 e 55 são perspectivas aéreas de um mesmo ângulo, porém a segunda revela a ocupação entre o viaduto e as praças que complementam o

complexo. O corte A (figura 56) que secciona a divisão da linha férrea destaca a passarela ora apoiada por pilares metálicos com base de concreto e ora sustentada por tirantes metálicos fixados nas vigas do viaduto.

76

Os cilindros metálicos são marcos visuais do projeto. Apesar de possuir dois tipos, a composição deles (figura 57) é parecida, sendo a diferença de um ter apenas a rampa contínua de acesso à passarela e outro ser dividido em pavimentos com circulação por rampa, escada e elevador, além de um reservatório de águas pluviais.

Ambos possuem pérgolas de madeira que deram origem ao desenho do piso das praças. A intenção de deixa-los sem um uso fixo é de possibilitar apropriações inesperadas e variadas.

Figura 57:Perspectiva dos dois tipos de cilindros metálicos de transposição. Fonte Autoral.

77

5.4. O Programa

78

Figura 58 - Ampliação das Praças 3 e 4. Fonte: Autoral.

As praças 3 e 4 estão localizadas na Avenida Cardeal Luís Santiago Copello a qual situam-se as industrias, portanto o desenho da praça é mais livre; porém há mesas de xadrez fazendo referência à praça criada pelos trabalhadores (figura 49) e um piso interativo para que as crianças possam cruzar a linha férrea e aproveitar o espaço. O piso das praças se estendem às avenidas para que aos fins de semana, quando as indústrias não estão em funcionamento, as escolas possam realizar o ensaio na rua e também para que outros eventos possam ser realizados aproveitando ao máximo o espaço público.

Figura 59 - Perspectiva da ampliação das praças 3 e 4. Fonte: Autoral.

79

Figura 60 – Legendas. Fonte: Autoral.

As praças 1 e 2 estão localizadas na Avenida Mofarrej a qual situam-se algumas industrias, mas também residenciais de médio e alto padrão, portanto a praça 1 é direcionada ao público infantil com um piso emborrachado e equipamentos para estimular o encontro entre as crianças de diferentes residenciais que atualmente isolam-se nas áreas de lazer do seu próprio condomínio. A praça 2 possui uma parte livre para o tráfego de carros alegóricos, mas na outra parte há uma arquibancada que pode ser utilizada de diferentes maneiras.

80

Figura 61 - Ampliação das Praças 1 e 2. Fonte: Autoral.

Figura 62 - Perspectiva da ampliação das praças 1 e 2. Fonte: Autoral.

81

Figura 63 - Corte A. Fonte: Autoral.

Figura 64 - Corte B. Fonte: Autoral.

Figura 65 - Corte C. Fonte: Autoral.

Os cortes destacam os dois tipos de cilindros e principalmente a relação das copas e alturas das árvores com o projeto e com o entorno. Pode-se notar a

diferença de gabaritos entre as indústrias e as torres comerciais e residenciais.

82

A escola de samba Prova de

Fogo utiliza esse espaço como o barracão,

destinada

aos

carros

alegóricos, pois sua quadra está ao norte da Marginal Tietê.

Figura 66 - Planta do Térreo e do Pavimento Superior do Barracão da E.S. Prova de Fogo. Fonte: Autoral.

Figura 67 - Corte A. Fonte: Autoral.

83

A escola de samba Pérola Negra

possui um espaço de produção de carros alegóricos na Zona Norte, portanto nesse recorte instala-se a quadra, onde acontecem os ensaios e eventos.

Figura 68 - Planta do Térreo e da Quadra da Escola de Samba Pérola Negra. Fonte: Autoral.

Figura 69 - Corte A. Fonte: Autoral.

84

Figura 72 – Cortes A e B. Fonte: Autoral.

Figura 70 - Perspectiva Externa do Barracão da Escola Prova de Fogo. Fonte: Autoral.

Figura 71 - Perspectiva Interna da Quadra da Escola Pérola Negra. Fonte: Autoral.

85

Figura 73 - Esquema Estrutural.

Fonte: Autoral.

Figura 74 - Planta do Térreo da E.S. Império Lapeano. Fonte: Autoral

Figura 75 - Esquema dos Fluxos. Fonte: Autoral.

Os acessos à quadra permitem a fruição entre ambas as praças ao redor nos momentos em que não há necessidade de fechar o espaço de ensaio, o

conjunto torna-se um espaço público único.

Figura 76 - Opções de Layout. Fonte: Autoral.

Além das atividades realizadas pela escola de samba, os espaços de evento e multiuso foram criados para abrigar qualquer atividade de interesse cultural,

86

esportivo e de lazer.

Figura 77 - Perspectiva interna do espaรงo de eventos. Fonte: Autoral.

Figura 78 - Perspectiva interna do espaรงo multiuso. Fonte: Autoral.

87

Figura 79 - Planta do Pavimento Superior da Escola de Samba Império Lapeano. Fonte: Autoral.

Figura 80 - Ampliação do Pavimento Superior.

Fonte: Autoral.

O espaço multiuso do pavimento superior pode cumprir o papel de um camarote e um palco em situações de ensaios e apresentações, mas também pode servir como um espaço de estudos, reuniões e encontros em geral, pois assim como o Centro Cultural São Paulo, na região há diversas escolas, faculdades e centros técnicos. A intenção de projetar dois apartamentos se dá pelo fato de duas famílias residirem atualmente na quadra. A presidente da escola de samba e sua sobrinha

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cuidam do espaço e impedem possíveis invasões.

Os cortes longitudinais passam pela estrutura de

concreto e pode-se observar a variação de pé direito ao longo do viaduto. Os cortes transversais passam pela estrutura metálica e destacam as estratégias utilizadas na fachada.

Figura 81 - Corte A. Fonte: Autoral.

Figura 82 - Corte B. Fonte: Autoral.

Figura 83 - Corte C. Fonte: Autoral.

Figura 84 - Corte D. Fonte: Autoral

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Figura 85 - Perspectiva Interna da Fachada. Fonte: Autoral.

Figura 86 - VisĂŁo Interna da Fachada. Fonte: Acervo Pessoal, 2019.

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Figura 87 - Perspectiva Interna do Pavimento Térreo. Fonte: Autoral.

Figura 88 - Visão Interna do Pavimento Térreo. Fonte: Acervo Pessoal, 2019.

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Figura 89 - Perspectiva Interna do Pavimento Superior. Fonte: Autoral.

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Figura 90 - VisĂŁo Interna do Palco. Fonte: Acervo Pessoal, 2019.

5.5. Estratégias Figura 91 - Ampliação do corte transversal.

Fonte: Autoral.

A fachada em destaque nos cortes transversais é

composta por um conjunto de estratégias que visam abordar a

acústica, a iluminação, a ventilação e a drenagem da quadra.

ACÚSTICA A cobertura composta por painel wall e telha de aço juntamente com os canteiros funcionam como defletores que mudam a direção e reduzem a intensidade das ondas sonoras ILUMINAÇÃO As chapas alveolares de policarbonato translúcidas permitem uma iluminação natural difusa VENTILAÇÃO As aberturas na parte superior e inferior permitem a constante ventilação cruzada

DRENAGEM Além dos pisos das praças permitirem a percolação da água, o conjunto de canteiros e comportas metálicas retardam uma possível inundação, situação recorrente de áreas alagáveis.

As canaletas adjacentes à fachada direcionam a água pluvial para o reservatório presente no cilindro

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O projeto de uma escola de samba requer equilíbrio entre as eficiências acústica, de iluminação e ventilação. Visto que o maior desafio é minimizar o ruído

sonoro produzido durante as atividades, o fechamento do pavimento térreo foi o foco para a solução deste. Entretanto, fora decidido que haveriam aberturas para melhor integração com as praças adjacentes, portanto adotou-se portões compostos por moldura metálica e uma dupla camada de painéis wall de 1,20 por

2,50 metros, totalizando 6,15 metros de comprimento cada um.

No pavimento superior a intenção foi aproveitar a iluminação natural da melhor forma a não prejudicar demasiadamente a eficiência acústica. Para isso, o fechamento escolhido foi uma composição de chapas alveolares de policarbonato

estruturadas por molduras metálicas. A decisão se deu pelo fato de ser um material translúcido cuja disposição cria espaços vazios preenchidos por ar os quais dificultam a passagem das ondas sonoras, mas permitindo a iluminação natural difusa. Essas chamas possuem um encaixe "macho-fêmea" e tem a dimensão de 1,0

por 2,9 metros, encaixando-se na modulação de 6 metros da estrutura.

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Figura 92 - Ampliação da Planta do Pavimento Térreo. Fonte: Autoral.

Figura 93 - Ampliação da Planta do Pavimento Superior. Fonte: Autoral.

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Figura 94 – Perspectiva isométrica da ampliação.

Fonte: Autoral.

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Figura 95 - Perspectiva isométrica explodida da ampliação.

Fonte: Autoral.

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A fim de analisar a eficiência acústica da cobertura, realizou-se um experimento com um modelo físico de uma parte da fachada com as barreiras e as aberturas. A maquete (figura 96), feita com embalagem tetra pack e fita adesiva, foi inserida em uma caixa de plástico transparente e adicionou-se água (figura 97).

Figura 96 – Modelo físico da fachada. Fonte: Autoral.

A simulação da acústica na quadra de samba foi feita através da agitação da água na parte interna. Dessa forma,

ondas

se

formaram

e

direcionaram-se para a parte externa.

98

Figura 97 – Experimento.

Fonte: Autoral.

Ao realizar o experimento foi percebida a efetividade do isolamento (figura 98) entre a área interna e externa do modelo físico, já que ao agitar a água na parte interna, a água na parte externa permanece intacta. A segunda observação foi o desvio das ondas a partir das barreiras impostas (figura 99). Pode-se concluir que as

barreiras físicas colaboram para a atenuação acústica. As ondas da água comparadas às ondas sonoras em uma situação de ensaio na quadra da escola de samba comprovam que há uma redução de intensidade. Durante o experimento, as ondas atravessaram as aberturas, desviaram das barreiras defletoras e se

direcionaram para a parte externa de forma menos intensa. visto isso e considerando que a cobertura também é composta por material fono-absorvente, apesar de não impedir a passagem das ondas sonoras por completo; é possível concluir que a estratégia adotada contribui para reduzir a intensidade acústica.

Figura 98 – Isolamento efetivo.

Fonte: Autoral.

Figura 99 – Desvio das barreiras.

Fonte: Autoral.

99

Figura 100 – Eficiência da cobertura.

Fonte: Autoral.

100

Figura 101 – Redução da intensidade das ondas.

Fonte: Autoral.

5.6. Situações As quadras e barracões das escolas de samba junto com as praças, os cilindros e as passarelas de transposição podem abrigar diversos tipos de ocupações. Sendo essas não apenas durante o dia, mas também no período noturno

para que as ruas se mantenham sempre ativas e preenchidas de vidas, encontros e trocas de experiências.

Figura 102 - Perspectiva externa da praça 2. Fonte: Autoral.

101

Figura 103 - Perspectiva externa da praรงa 2. Fonte: Autoral.

Figura 104 - Perspectiva externa da praรงa 2. Fonte: Autoral.

102

Figura 105 - Perspectiva externa da praรงa 2. Fonte: Autoral.

Figura 106 - Perspectiva interna do cilindro. Fonte: Autoral.

103

Figura 107 - Perspectiva a partir do viaduto . Fonte: Autoral.

Figura 108 - Perspectiva aÊrea da praça 1 . Fonte: Autoral.

104

Figura 109 - Perspectiva a partir da passarela. Fonte: Autoral.

Figura 110 Perspectiva a partir da passarela.

Fonte: Autoral.

105

Figura 111 - Perspectiva a partir da arquibancada. Fonte: Autoral.

Figura 112 - Perspectiva a partir da arquibancada. Fonte: Autoral.

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Figura 113 - Perspectiva externa da praรงa 2. Fonte: Autoral.

Figura 114 - Perspectiva externa da praรงa 2.

Fonte: Autoral.

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Figura 115 - Perspectiva interna do cilindro. Fonte: Autoral.

Figura 116 - Perspectiva interna do cilindro. Fonte: Autoral.

108

Figura 117 - Perspectiva a partir da passarela. Fonte: Autoral.

Figura 118 - Perspectiva a partir da passarela. Fonte: Autoral.

109

Figura 119 - Perspectiva interna do cilindro. Fonte: Autoral.

Figura 120 - Perspectiva interna do cilindro. Fonte: Autoral.

110

Figura 121 - Perspectiva externa da praรงa 3.

Fonte: Autoral.

Figura 122 - Perspectiva externa da praรงa 3. Fonte: Autoral.

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Figura 123 - Perspectiva externa da praรงa 3. Fonte: Autoral.

Figura 124 - Perspectiva externa da praรงa 4. Fonte: Autoral.

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Figura 125 - Perspectiva interna do cilindro. Fonte: Autoral.

Figura 126 - Perspectiva interna do cilindro. Fonte: Autoral.

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Figura 127 - Perspectiva externa da praça 4. Fonte: Autoral.

Figura 128 - Perspectiva interna da quadra da Escola PĂŠrola Negra. Fonte: Autoral.

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Figura 129 - Perspectiva interna da quadra da Escola ImpĂŠrio Lapeano.

Fonte: Autoral.

Figura 130 - Perspectiva interna da quadra da Escola ImpĂŠrio Lapeano. Fonte: Autoral.

115

116

6

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escolha do recorte se justifica pela multiplicidade presente, a Vila

Leopoldina se caracteriza pela justaposição de elementos de um bairro periférico

com as indústrias, escolas de samba e barreiras físicas; e de um bairro em transformação, com os edifícios coorporativos e residenciais, as faculdades e os comércios. A fim de realizar um projeto que pudesse ser aproveitado por cada pessoa criou-se o Complexo do Samba Paulista, com elementos que podem ser

ocupados de diversas maneiras de modo a permitir o encontro entre as pessoas, a troca de experiências e a exaltação de diferentes culturas. Investigou-se estratégias que melhor se adaptariam às necessidades das quadras das escolas de samba, encontrando soluções para evitar o alagamento, para permitir a iluminação e

ventilação natural e para principalmente reduzir a intensidade sonora produzida durante os ensaios, mas sem que o som se anulasse por completo.

A importância de permitir a saída de uma parte do som produzido nas escolas se dá pela intenção de valorizar a cultura do samba na região, a qual é exaltada

durante as comemorações do feriado de Carnaval, mas pouco reconhecida por uma parcela da sociedade ao longo dos outros períodos do ano.

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Décadas após a abolição dos escravos, ainda se presencia inúmeras situações de descriminação, preconceito e intolerância social e racial. Do início dos desfiles até os dos dias de hoje esse tema se faz necessário estar presente: Se a vida deixou cicatrizes Ideais são raízes do meu jeito de viver Faço da minha negritude Um legado de atitude, inspiração pra vencer Lutar, é preciso lutar por igualdade

Liberdade, fazer da resistência uma nova verdade(...)

(E.S. TOM MAIOR, 2020)

Em suma, a quadra das escolas de samba é um espaço em que se discute política e cultura, de forma a visar ao respeito entre as divergências religiosas e

políticas; as diferentes identidades de gêneros e opções sexuais; e os variados tons de pele. Com graça e alegria o samba discute a dor, enquanto existir os diferentes preconceitos haverá resistência: A luta me fez majestade Na pele, o tom da coragem Pro que está por vir Sorrir é resistir (E.S. ACADÊMICOS DO SALGUEIRO, 2020)

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Rhawane Izidoro, rainha da bateria e Rainha do Carnaval UESP 2020

Comissão de frente

Vitor Divinal, intérprete da ala musical

Drag Tiffany, rainha da ala da diversidade

Ala das baianas

Figura 131 – Componentes da Escola de Samba Império Lapeano. Fonte: Autoral.

Bateria Identidade de Bamba

Porta bandeira e pavilhão

Luiza Fonseca, presidente

Isabelle Fonseca, idealizadora do enredo 2020 e carro alegórico

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120

7

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Universidade Presbiteriana Mackenzie Faculdade De Arquitetura E Urbanismo SĂŁo Paulo 2020