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exposição individual
ANA DE ANDRADE



VOLUME 35 - ANO 4 -2025 | BRASIL- PORTUGAL
exposição individual
VOLUME 35 - ANO 4 -2025 | BRASIL- PORTUGAL
Sempre vi meu pai chegar em casa com uma or na mão e colocar num vaso que cava em cima da pia da cozinha.
Era para minha mãe. Flores do campo onde ele trabalhava.
Aquele vaso orido foi meu primeiro desenho.
Com seu jeito quieto e econômico no falar, ele me mostrou a Arte da delicadeza com aquele gesto.
Depois que conheci a literatura de Manoel de Barros entendi meu pai que era do avesso com alma apurada.
A Arte de ser gente livre me e fez entender que sem Arte a realidade nos engole.
Desenho sem parar até hoje, de vez em quando vasos com ores.
Atitudes moldam de um jeito que hoje acho que desenho é remédio.
O vaso cou na linha do tempo de lá, recuperei a história e z um vaso pra mim, gigante eu sei, porque gigante era o amor do meu pai pela minha mãe.
“Adiltice” gera “birutice”, onde colocar o vaso que z?
Sempre penso em Frida Kalo
Sofrida moça florida, rodava os dias com sua saia ampla, coloria os sonhos apertada em sapatos toscos, sem poder dançar como uma bailarina.
Foi jardim de flores delicadas em meio a rosas com espinhos.
Não fugia do beijo, do abraço e fazia amor como se fosse a última vez.
Não foi feliz o suficiente, não correu atrás da vida, viveu o que deu, do seu jeito, com pouco tempo.
Uma homenagem pra Frida eu construí , a vesti para uma festa para que flutuasse feliz.
Encantamento na tempestade, foste; inesquecível, pra sempre, és.
Ao pesquisar sobre as ilhas de plásticos sobre os Oceanos, nasceu esse projeto.
Trabalhei durante meses com papéis dobrados, amarrados sobre a lona, presos num suporte de tule.
Humanos são des-humanos.
Usam, abusam descartam.
Emaranhados de plásticos, roupas, “coisas”, viajam até os Oceanos , transformam-os numa doença sem cura.
Fica nessa obra os destroços da minha indignação que é sem fim.
Mulheres trazem flores no olhar.
Flores fervidas em mel, esculpidas pelo tempo, no vai e vem do vento.
Mulheres brotam, rompem solos, sementes são.
Mulheres são águas que escorrem no chão da pele, regam profundos raizes, florescem.
Mulheres abastecem celeiros, viram pó de flores, alimentam cotidianos.
Escrevinhei isso só pra dizer: Eu vejo flores em você!
F l or sen t e fome?
P assarinho beij a fl or?
F l or t om a banho d e chuva?
F l or chor a?
F l or d a gargalhad as?
F l or e amor perfei t o?
F l or t em nome d e gen t e?
O cr avo brigou com a rosa?
Q uem pin t ou as fl ores?
A belha con t a segred o par a fl or?
F l or e amiga d e ou t r a fl or?
F l or br anc a esqueceu d e faz er a m aqui agem?
F l or gost a d e di as nublad os?
F l or gost a d e fi c ar no vaso?
F l or gost a d e ouvir musi c a?
F l or d anc a com o ven t o?
F l or t em med o d e t rovao?
F l or passa perfume?
F l or sen t e fri o?
F l or fofoc a no j ardim?
F l or t em olhos?
F l or sabe l er a al m a d os passarinhos?
F l or abr ac a borbol et as?
F l or t e faz fel iz?
R ina supersônica e criatividade à postos me levaram a encontrar os desenhos na tela do celular.
Me joguei em aplicativos infantis, onde um lápis faz minha alma feliz.
Gosto mesmo é de desenhar rostos , sao as milhares de “eu mesma” numa outra linha do tempo, mas isso é sem impo ância .
Não trancar a criatividade é escorregar nas possibilidades, isso sim é fundamental .
Essa série digital que apresento é preto e branco, mas rostos coloridos também se exibem por aqui.
Impo ante é deixar o lápis ser eu mesma nesse mundão “ voante”.
Gosto de observar pessoas em lugares movimentados.
Quem são?
Pra onde vão?
De onde vem?
Termino sempre com a mesma reflexão: quem sou eu nesse mar de gente?
Continuo na dúvida.
O que tenho de certo é que pessoas sempre irão passar, eu sempre a observar.
Só isso
“Também quero ir”
Tem situações e momentos que são inexplicáveis.
De repente, uma frase grudou na minha mente: também quero ir, também quero ir…
Pensei em quem?, garotas digitais coloridas.
Assanhadas demais, barulhentas demais.
Respirei fundo e mergulhei, deixei acontecer.
Recortei, colei, pensei e até perguntei: tá bom aí?
Finalmente, obra pronta. Elas vão participar da festa !
Quem não quer ser esquecido, faz acontecer, não é meninas? Bem isso.
Um dia ouvi que os meus desenhos eram “eus”.
Essa frase cutucou.
Desenhar é como respirar, areja cotidianos.
Algumas vezes me pergunto: trago “eus” pra respirar comigo?
Se sim, se não, me faz bem, liberta.
Desenhar me tira a “gastura” de fomes internas.
Se não quero ter febre, desenho.
Porque garotas? Porque “eus” precisa de eu. É isso.
“ Antônia Dalv a, eu te pe g o!”,
Amiga de infância faz um “puxadinho” na alma da gente. Tenho uma assim.
Quando volto pra meninice ela está lá, ainda cutuca meu sorriso, grita meu nome, me desafia na corda, queimada, mãe da rua.
“Antônia Dalva, eu te pego!”, ela não gostava, saiamos a correr como folhas ao vento.
Pingo era o apelido, esse sim a deixava feliz.
Hoje ela é seria, executiva, irritada, deixou a alegria por lá.
Nem nos vemos mais, quando bate a saudade visito o tal do puxadinho, Pingo ainda está por lá, risonha, com rodinhas no pé.
Mata borrão conclui as obras da minha exposição.
Pigmentos, água e um pedaço de tecido para enxugar pincéis foram companheiros constantes.
Durante o processo lembrei-me do sobretudo de Gustav Klimt.
Fui então em busca uma túnica para me proteger das tintas, além de ser esponja para as muitas aguadas que fiz.
Tintou-se.
Mata Bordão será destaque, vai mostrar “tatuagens” das cores que processei. Tenho dito porque fiz e agradeço.