Farmacologia integrada 4ª ed. especial - Roberto DeLucia

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Capítulo 44 Antiarrítmicos Cardíacos

Walkyria Sigler

INTRODUÇÃO

O funcionamento do coração é determinado pela sequência ordenada de potenciais de ação pelos tecidos cardíacos, desde o nodo sinoatrial até o músculo ventricular. As anormalidades na geração ou propagação do impulso cardíaco, bem como na duração ou configuração de cada potencial de ação, são a base das arritmias. Arritmias cardíacas. As anormalidades do ritmo e condução do coração podem ser letais, levando à morte súbita; sintomáticas, levando à síncope, tontura ou palpitação ou ainda serem assintomáticas. As arritmias cardíacas são anormalidades na frequência, regularidade ou no local de origem do impulso cardíaco ou, ainda, anomalias da condução do impulso, que provoca alteração na sequência normal de ativação dos átrios e ventrículos. Os mecanismos das arritmias podem ser classificados como a seguir: A) Distúrbios da geração do impulso cardíaco, devido a: 1. automaticidade normal aumentada; 2. automaticidade anormal; 3. atividade deflagrada: − Pós-potencial precoce. − Pós-potencial tardio B) Distúrbios da condução do impulso cardíaco, por: 1. bloqueio da condução 2. reentrada

FÁRMACOS CARDÍACOS

ANTIARRÍTMICOS

Os antiarrítmicos cardíacos são classificados por Vaughan-Williams em: Classe I – Bloqueadores de canais de Na+:

Ia – Quinidina, procainamida, disopiramida e moricizina. Ib – Lidocaína, mexiletina e fenitoína. Ic – Propafenona, flecainida, encainida. Classe II – Antagonistas dos receptores βadrenérgicos: propranolol, metoprolol, nadolol, esmolol, sotalol e timolol. Classe III – Fármacos que prolongam a duração do.

potencial de ação: amiodarona, sotalol, bretílio, ibutilida e dofetilida. Classe IV – Bloqueadores dos canais de Ca2+: verapamil, diltiazem e bepridil. PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS DOS ANTIARRÍTMICOS Classe I – bloqueadores dos canais de Na+. Os antiarrítmicos de Classe I são subdidividos em a, b e c. Os fármacos Ib apresentam a taxa mais veloz de desbloqueio do canal de Na+, seguidos pelos fármacos da subclasse Ia, cuja taxa de desbloqueio é intermediária e, finalmente, os fármacos Ic, cuja taxa de desbloqueio é a mais lenta. O bloqueio dos canais de Na+ aumenta o limiar de excitabilidade das células cardíacas, deprimindo a automaticidade dos tecidos. Dessa forma, os bloqueadores dos canais de Na+ podem ser utilizados em arritmias em virtude da automaticidade deflagrada por pós-potencias precoces ou tardios. Esses fármacos também atuam nas arritmias de reentrada por aumentarem a refratariedade do músculo cardíaco, bem como por deprimirem a velocidade de condução nos circuitos de reentrada, a tal ponto que cessa a frente de onda do impulso anormal. Alguns bloqueadores de canais de Na+ também bloqueiam canais de K+ e devem a essa ação parte do seu efeito antiarrítmico. O bloqueio exercido pelo fármaco no canal de Na+ é dependente da conformação do canal. Quando a proteína do canal de Na+ muda de conformação (estado) no processo de abertura e fechamento do poro para a condução da corrente iônica, muda também a afinidade da macromolécula pela ligação aos agentes antiarrítmicos. A maioria dos fármacos antiarrítmicos bloqueia preferencialmente o canal de Na+ no estado aberto (condutor) ou inativado (estado no qual o canal não conduz e é refratário à abertura); menos frequentemente, os antiarrítmicos bloqueiam o canal no estado de repouso (no qual o canal não conduz, mas é ativável e pode ser aberto). A quinidina é um exemplo de bloqueador do canal de Na+ no estado aberto, enquanto a lidocaína bloqueia preferencialmente o canal de Na+ no estado inativado. A cada potencial de ação, o antiarrítmico liga-se ao canal, bloqueando-o, e, durante o intervalo diastólico, desliga-se do canal, desbloqueando-o. Quando a frequência cardíaca aumenta, o tempo disponível para o desbloqueio diminui e, assim, o bloqueio se intensifica. De forma análoga, quando as células estão despolarizadas, o desbloqueio diminui e as células permanecem bloqueadas. Por essa razão, muitos bloqueadores de canais de Na+ são mais efetivos em tecidos isquêmicos (pois são mais despolarizados) do que em tecidos

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