Descrição do terreno em redor de Lamego duas léguas

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Descrição do terreno em redor de Lamego duas léguas (1531-1532)

[Sorvas e nesperas] Item há muitas sorvas, e nespras, que vem dispois das vendimas, estas nunca amadurecem nas arvores, senom nos madureiros. [Pessegos] Item há muitos, e mui fermozos pessegos silicet dorazeos, romãos, e pesegos durazeos romãos189, e mollares, e molares calvos, e pesegos duraseos calvos romaos, que em Lisboa chamão malecotões, ha outros pesegos, que chamão albocorques, que em outras partes chamão alperches, e outros muitos generos de pesegos, que aqui nom ponho. Uvas [Amaral] Item ha muitas, e mui fermozas uvas, e muito boas castas, e que se tem dependuradas huas as outras digo dependuradas de hum anno a outro, e assi ha outras que chamão amaral em alguas partes, que he da qualidade do vinho de Entre Douro, e Minho, e são muito mas uvas, e o vinho destas valle menos preço [fl. 7v] do vinho bom a metade, e há pe de vide que da hũa pipa o qual vinho seu natural hé em ramadas altas, ou em arvores, dado que he proveitozo para lavradores, e para beberagens de mar vai muito, e nesta terra não se fas dele muita qualidade, e a casta das uvas deste vinho chamão amaral. [Uvas de casta] Item a casta do outro maravilhozo vinho de pé são de muita soma silicet bastardo, trincadente, agudelho, que he outro de geito de trincadente, ha outro, que chamão Alvaro de Souza, que em outra parte chamão malvazia, catelão190, lourello, verdelho preto, verdelho branco, donzelinho, terrantes, abelhal, e buoval191, samarrinho [tinto], mourisco, ferral de muitas castas, ceitão, felgosão192; e valem em tempo que ha rasoadamente uvas a real o arratel das uvas que são boas. [Melões] Item ha muitos, e mui fermozos meloes, e muito temporaos, e são tantos meloes, e em tanta quantidade, que nenhum por grande que seja não passa de dous reis, e isto no principio, e depois de farta a cidade vão daqui muitos temporãos para a Guarda, e Vizeu, e Trancozo, e Pinhel, Riba de Coa, e assi todas as outras frutas; e há alguns cogombros, ainda que são poucos, e há muitas aboboras.

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Emendada esta palavra. Assim nas duas versões. Poderá tratar-se da casta “castelão”, uma das poucas conhecidas, desde a Idade Média, na viticultura de Portugal. 191 Na edição da Academia, p. 560, lê-se: “burral”. 192 Remeto o leitor para a edição da Academia, p. 560, pois, apesar de aí se encontrarem todas estas castas, a ordem de apresentação é ligeiramente diferente. 190

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