REVISTA F. CULTURA DE MODA #14

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E D I TO R I A L EXPEDIENTE Juventude mode on. Fiz uma viagem, anos atrás na minha memória, para buscar uma referência geral para o tema dessa revista. Era criança quando assisti ao filme “A balada de Narayama” (1958) - que alguns leitores também devem ter assistido em algum momento das suas vidas, ou deveriam. Coincidência ou não, um amigo me recomendou tal título esse ano (não por causa desse assunto) e a lembrança caiu como uma luva para a minha pesquisa. O filme é emblemático, pois é o retrato de uma época. Pessoas idosas eram descartadas como objetos que já não funcionam mais, por não se encaixarem no esquema produção-consumo daquela sociedade. E não só na oriental. Fato que envelhecer ainda não é para todos um mar de rosas, principalmente, para as mulheres. Mas, graças ao avanço da medicina no último século, promovendo um alargamento na expectativa de vida, o mercado de bens de consumo já considera os idosos um target a ser trabalhado. E ninguém mais será deixado na montanha de Narayama. Será? Juventude é liberdade. Com esse espírito, senhorinhas cheias de estilo são alvo de fotógrafos de moda de rua e o resultado desse momento contemporâneo você confere nas páginas dessa edição, de várias formas - do projeto Advanced Style ao blog queridíssimo de Consuelo Blocker, filha da papisa de moda e estilo Costanza Pascolato. Aliás, o oráculo também vos fala, em entrevista à jornalista Dani Sartori. E tantas outras pautas importantes estão reunidas aqui. Fechamos 2014 em grande estilo com ninguém menos que Regina Guerreiro, na capa e recheio dessa edição. Em entrevista exclusiva para a Revista F. Cultura de Moda, Guerreiro fala dos sabores e dissabores da moda de ontem e de hoje, do que viveu como editora da Vogue, por nada modestos 14 anos. Nossa Vreeland? Só sei que Regina é fundamento e fundamental para entender a moda no Brasil. Não duvide. Que 2015 venha com mais cultura de moda ainda para ser promovida pela F.Works, através da Revista F. e de seus eventos Meeting, Guest Fashion, Mostra de Inverno e o projeto Moda de Autor. Prontos para mais uma rodada? Nós sempre estamos! Tim-tim, Raquel Gaudard

DIREÇÃO GERAL E EDITORIA DE MODA ALINE FIRJAM – alinefirjam@fworksprodutora.com.br CONCEPÇÃO E EDITORIA DE CONTEÚDO RAQUEL GAUDARD (MTB 17010) – jornalismo@fworksprodutora.com.br DIREÇÃO DE ARTE VINÍCIUS ROMÃO – arte@fworksprodutora.com.br PRODUÇÃO EXECUTIVA VINICIUS RODRIGUES - geral@fworksprodutora.com.br PRODUÇÃO E CENOGRAFIA ANESLEY PEREIRA – producao@fworksprodutora.com.br STYLING CLÉBER OLIVEIRA - producao@fworksprodutora.com.br ASSISTENTE DE PRODUÇÃO ANA LUIZA GRAÇA – geral@fworksprodutora.com.br COMERCIAL DELAINE LOPES – delainelopes@fworksprodutora.com.br SABRINA DUARTE – comercial@fworksprodutora.com.br OPERAÇÃO COMERCIAL CLÁUDIO ALVIM – contato@fworksprodutora.com.br REVISÃO DE TEXTO HELLEN KATHERINE CAPA Foto por Felipe Abe AGRADECIMENTOS ESPECIAIS John Noi - www.trendstop.com TIRAGEM: 8 mil IMPRESSÃO: Gráfica América DISTRIBUIÇÃO: Mix Alternativo e Linder Panfletagem

Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da revista. Fica expressamente proibida a reprodução total ou parcial sem autorização prévia do conteúdo editorial. Todos os direitos reservados. A F. Cultura de Moda não se responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios publicados na revista.

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SUMÁRIO

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8 / COLABORADORES 10 / F.WORKS ONLINE 12 / STREET STYLE MEMORY 18 / F.WORKS ENTREVISTA - REGINA GUERREIRO 24 / MODA E ARTE - CHRISTINE YOUFON 28 / ESPECIAL - ESTILO ALÉM DA IDADE 34 / GENTE - BLOG CONSUELO BLOCKER 36 / MENSWEAR - DAS ANTIGAS 40 / OPINIÃO - O FEMININO E O FEMINISMO SÃO PARA SEMPRE 44 / PUBLIEDITORIAL LOOKBOOK 50 / TENDÊNCIAS - TEMPO DE BIJOUX 2015 54 / BEAUTY - MUITOS TONS DE CINZA! 58 / INCOMING - MODA DE AUTOR 76 / ATUALIDADE - SUCESSO A UM TOQUE 78 / F.WORKS INDICA - MÚSICA, CINEMA, LIVROS 82 / PUBLIEDITORIAL GASTRONOMIA 92 / PUBLIEDITORIAL ETIQUETA 98 / ONDE ENCONTRAR

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COLABORADORES

ALICE LINHARES é jornalista e estudante do campo da moda e da arte. Tem interesse por fazer parte de um mundo dinâmico e em constante transformação.

DANIELLE MAGNO - “Eu gosto dos Beatles. E isso já diz muito sobre mim.”

DANIELLE SARTORI é jornalista, eterna apreciadora das “modas” e das artes.

KATIA DIAS é jornalista, com incursões em universos plurais, como arte, viagens e automóveis. Trabalha como assessora da Pró-Reitoria de Cultura da UFJF.

JOSÉ ALEXANDRE ABRAMO é jornalista por formação, publicitário pela estrada da vida. Me convide para uma cerveja e tenhamos um bom papo. HELLEN KATHERINE é jornalista, apaixonada por internet, comunicação, moda e beleza. Se aventurando, agora, pelo mundo da assessoria.

MÁRCIO BRIGATTO é fotógrafo, há 26 anos.

NAYANA MAMEDE é formada em Artes Visuais, fotógrafa e cantora de chuveiro.

JOTA JOTA é dj há 10 anos, dono de um estilo inovador e criativo, que se reflete em sets e trilhas de desfiles.

RAFAEL BITTENCOURT é psicólogo de formação, estrategista de branding e trendhunter de profissão e boêmio nas horas vagas.

RAQUEL SALGADO é designer e arquiteta

RAQUEL GAUDARD é jornalista e mãe do Galileo. Atualmente vive na Itália e muito feliz.

RODRIGO AMARAL é stylist, coolhunter e queria que o Jurassic Park fosse verdade.

VINÍCIUS ROMÃO trabalha como designer gráfico e ouve música o dia inteiro.

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NOSSA CONVERSA CONTINUA NA WEB! SIGA A NOSSA ARROBINHA: @ F W O R K S P R O D U T O R A W W W . F W O R K S P R O D U T O R A . C O M . B R

EM NOSSO SITE: Moda de Autor segue em frente apresentando novos nomes para o mercado. Tem um projeto bacana usando a moda como background e gostaria de divulgar? Vamos adorar recebê-lo :) NO FACE: várias postagens ao longo do dia sobre o universo da marca F. Works e da moda. NO PINTEREST: inspire-se em nossos boards variados. N O I N S TA G R A M : coberturas dos eventos com o selo F.Works Produtora, paparazzi do nosso time de colaboradores e muito mais!

E NO BLOG ACERVO PRODUÇÃO: todos os vídeos da websérie Enjoy, com Regina Guerreiro, a musa dessa edição. Curtiu? Não curtiu? Converse com a gente: jornalismo@fworksprodutora.com.br

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“COMO VOCÊ DECIDE A ROUPA QUE VOCÊ VAI SAIR?”. APESAR DE SER UMA PREMISSA TRADICIONAL DE PESQUISAS DE ESTILO, A PERGUNTA ACIMA NÃO DEIXA DE SINTETIZAR O QUE É FUNDAMENTAL À COMPREENSÃO DE TODO O PROCESSO DA “MODA DE RUA APLICADA”, A MODA NA PRÁTICA, OU AINDA, O ESTILO NO COTIDIANO E NA ROTINA.

STREET STYLE MEMORY

POR MEIO DELA E DE SEUS DESDOBRAMENTOS POSSÍVEIS – TEMPO DE ESCOLHA DO LOOK , MODO COMO O LOCAL DE DESTINO INFLUENCIA NA ESCOLHA, HUMOR COMO TERMÔMETRO DA DECISÃO ETC. -, JÁ DÁ PARA TENTAR DIAGNOSTICAR UMA OU DUAS CARACTERÍSTICAS DA PERSONALIDADE DE ALGUÉM OU, ATÉ MESMO, DE UMA POPULAÇÃO OU CLASSE ESPECÍFICA. AFINAL, A MODA DIALOGA COM A ANTROPOLOGIA, A PSICOLOGIA, A FILOSOFIA E DIVERSAS OUTRAS ÁREAS DO CONHECIMENTO, O QUE VIABILIZA UM ESTUDO PLURAL E RICO. TAMBÉM FAZ PARTE DA TRADIÇÃO PRIVILEGIAR AS FAIXAS ETÁRIAS MAIS NOVAS DA SOCIEDADE QUANDO SE FALA DE MODA, POR AGIREM COMO UM CATALISADOR DO QUE É CONTEMPORÂNEO E ATUAL - “DO QUE IMPORTA”. CONTUDO, O APEGO AO CONVENCIONAL FICA POR AQUI.

P o r C r a f t s t y l e F o t o s : N a y a n a M a m e d e Te x t o : R o d r i g o A z e v e d o

A IDEIA É PENSAR A MODA NO AVANÇAR DOS ANOS. ENTENDER QUE O ESTILO AVANÇA COM AS VIVÊNCIAS QUE ACUMULAMOS. PERCEBER O OLHAR DA EXPERIÊNCIA PARA A MODA E COMO O MECANISMO DO CONSUMO SE DÁ COM O DECORRER DO TEMPO. UM OLHAR MADURO, QUE NÃO É SINÔNIMO, EM ABSOLUTO, DE OBSOLESCÊNCIA. UMA MODA EM EVOLUÇÃO E COM FRESCOR. NADA MAIS JOVIAL, PORTANTO.

E L Z I O TO M A Z

“SEMPRE GOSTEI DE ME VESTIR BEM E DE ME DIVERTIR. VOU PARA BAILES DANÇAR TODA SEMANA. E TENHO QUE ADMITIR QUE FAÇO SUCESSO.”

CRISTINA SCAPIM

“OS DETALHES SÃO IMPORTANTES PARA DAR UM TOQUE NA PRODUÇÃO.” 12


GERALDO DE JESUS

“SEMPRE ME VESTI ASSIM.”

FRANCISCO MENDES

“DESDE NOVO, SEMPRE GOSTEI DE SABER COMO ME VESTIR APROPRIADAMENTE. DOU ATÉ CONSELHOS PARA OS MEUS AMIGOS. E SOU ATÉ CHAMADO PARA TIRAR FOTOS.”

M A R I A C L AU D I N A

“ADORO ANDAR NA RUA E GARIMPAR COISAS NOVAS. NÃO PENSO NA IDADE, MEU ESTILO É MAIS JOVEM.”

M A R I A E L I Z A B E T H D E PAU L A

“SOU PROFESSORA APOSENTADA, MAS NÃO PARO. FAÇO VÁRIOS CURSOS. SOU APAIXONADA POR MODA, MEU PAI ERA ALFAIATE... AH, E AMO TÊNIS!” 13


MARIA HELENA BOUÇAS

“GOSTO DE FAZER AS MINHAS PRÓPRIAS ROUPAS E BIJUTERIAS. NÃO GOSTO DE COMPRAR PEÇAS PRONTAS.” O LG A D A C U N H A

“ADORO ESTAMPAS. ESTES DETALHES SÃO IMPORTANTES PARA ESCOLHER A ROUPA.”

S U E L I I N T R OV I G N E R O S A

“GOSTO DE ME ARRUMAR, ESPECIALMENTE PARA IR DANÇAR.”

PAU LO C É Z A R

“CONFORTO É FUNDAMENTAL.”

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VA L D I S O N A LV E S

“SE A GENTE NÃO BOTAR NOSSO CORAÇÃO NAS COISAS, NÃO FAZEMOS NADA. ATÉ PARA SAIR DE CASA PRECISAMOS TER ANIMAÇÃO E ESCOLHER A ROUPA PENSANDO AONDE VAMOS.”

T E R E Z I N H A D O S S A N TO S

“NO MEU TEMPO LIVRE, GOSTO DE OUVIR MÚSICA CLÁSSICA E LER. GOSTO DE ME PRODUZIR PARA IR AO TEATRO E AO CINEMA.”

V E R A D UA RT E

“ESTAR SEMPRE ARRUMADA É FUNDAMENTAL, ATÉ MESMO NO DIA A DIA.”

V I LC A O L I V E I R A

“ESCOLHO A MINHA ROUPA PELA MINHA ANIMAÇÃO E PARA ME SENTIR BEM.”

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REGINA GUERREIRO

F. W O R K S E N T R E V I S TA

“Eu quero que vocês faísquem comigo!”. Foi assim, com brilho nos olhos, entre uma gargalhada e outra, que Regina Guerreiro finalizou seu discurso, antes da apresentação do primeiro episódio de ENJOY! para os convidados presentes na flagship da Cavalera, em São Paulo. O evento aconteceu em agosto e, além de reunir gente bacana da moda, marcou o retorno de Regina aos flashes e olhares atentos do mundo fashion. O lançamento da websérie de uma das editoras de moda mais importantes do país não poderia mesmo resultar em outra coisa: todos “faiscaram”. Regina dispensa grandes apresentações. Seu currículo reúne não só as principais publicações do país, como uma bagagem de incríveis imagens de moda criadas por ela – muitas revolucionárias para os períodos que atravessou, décadas de 60, 70 e 80 - e uma trajetória repleta de histórias que traduzem a própria história da moda no Brasil. Inclusive, foi justamente a partir dessa riqueza de conteúdo que surgiu a ideia da websérie em parceria com a marca – projeto que traz Regina de volta à cena, após um longo hiato de quatro anos, completando nada menos que cinco décadas de carreira neste ano. Em ENJOY!, por meio de episódios de cinco minutos, ela convida o público a entrar em sua casa para ouvir histórias sobre assuntos variados que têm em comum, claro, a moda – à qual, segundo a própria, sempre pertenceu. Dessa vez, o desafio era levar todo o seu conteúdo – que não é pouco – para o meio digital, e na velocidade que este pede. Todos os textos, claro, são escritos por ela. “Minha cabeça é uma panela de pressão”, ela diz. Sim, Regina é, de fato, uma explosão, das boas. A experiência e a irreverência bem-humorada, presentes em cada opinião, contagiam e revelam uma jornalista de moda completa, impactante, afiada e, mesmo diante de tantos adjetivos, difícil de definir em palavras. Como ela mesma confessa, é muito difícil ser Regina Guerreiro. Nessa entrevista exclusiva, a gente descobre o porquê.

P o r H e l l e n

K a t h e r i n e

“PREFIRO UM ACIDENTE-FASHION MORTAL, DO QUE CAIR NUMA MESMICE U N I V E R S A L . ” Regina Guerreiro Hellen Katherine - SÃO TANTOS ANOS DE MODA QUE NÃO CONSIGO IMAGINAR QUANTAS COISAS SEUS OLHOS VIRAM, QUANTAS PESSOAS, QUANTAS MUDANÇAS. TUDO PARECE TER SIDO MUITO INTENSO. QUANDO VOCÊ PENSA NA SUA TRAJETÓRIA, O QUE TE PASSA PELA CABEÇA? O QUE TE DÁ MAIS SAUDADE? Regina Guerreiro - Ai, ai, ai, saudade de tudo! Mas, principalmente, de mim mesma. Modéstia à parte, eu era imbatível! A palavra impossível nunca esteve no meu vocabulário e eu ia que ia, encarando todas. Não sou mais a Regina que eu fui. Fiquei mais doce, mais condescendente, menos tempestuosa, sabe como?

HK - VOCÊ É RECONHECIDA POR SEUS TEXTOS BRILHANTES, CRÍTICAS OUSADAS E POR CRIAR IMAGENS DE MODA ICÔNICAS. ENXERGA ESSE “COMBO” NO JORNALISMO DE MODA ATUAL? RG- Não mais. Sem generalizar, acho que alguns jornalistas têm mais é vocação para relações públicas… Gostam de tudo! Outro drama-now é o achismo. Todo mundo acha isso ou aquilo, aleatoriamente. Estamos vivendo numa Torre de Babel fashion. UUUI! HK - E SOBRE BLOGS? LI UMA DEFINIÇÃO SUA, UMA VEZ (FFW MAG 33): VIVEMOS UMA EPIDEMIA DE FALSAS ESTRELAS. MODA E EGO CAMINHAM JUNTOS?

RG- Ego-trip é sempre uma bad-trip. No mundo da moda,

as estrelas pululam. O deslumbramento é uma droga muito forte e o vício corre solto. Em verdade, quanto mais uma pessoa sabe, mais consciência ela tem do tanto que ela não sabe. Infelizmente, muitos modetes não vão fundo. E se embriagam fácil com uma chuva de paetês…

HK - VOCÊ ESTEVE EM UM MOMENTO MAIS AFAS-

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©Felipe Abe


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©Felipe Abe


TADA. COMO FOI ESSE TEMPO DE CALMARIA, LONGE DO DIA A DIA DA MODA, PARA QUEM SEMPRE FOI UM “ESCÂNDALO”?

RG- Foi dolorido. É difícil ficar quieta, sozinha, lembrando/pensando... Mas essa hora chega e é preciso encarar esse ajuste de contas do que já foi, do que está sendo e do que ainda pode ser. Minha vida sempre foi movimentada, tumultuada, e esse meu “retiro”, nossa, jogo duro! Li muito, chorei muito, lutei muito. Enfim, acabou. Estou bem, after all . Por isso, minha websérie é divertida, irônica, atrevida, “sabida”. Aprendi a rir da vida de novo. HK - A MODA HOJE É CHEIA DE REFERÊNCIAS. QUANDO VOCÊ COMEÇOU, POR EXEMPLO, SEM INTERNET, O ACESSO A ELAS ERA MAIS DIFÍCIL. FALTA CRIATIVIDADE OU ESTAMOS TÃO SATURADOS DE INFORMAÇÃO QUE É IMPOSSÍVEL FUGIR DO CHAMADO “INCONSCIENTE COLETIVO”? RG- Tenho horror das chamadas referências. Quando eu era diretora da Vogue, eu vivia pedindo para meus assistentes olharem menos revistas para não ficarem inconscientemente contaminados por outras influências. Dou a maior força para quem tenta/inventa. Prefiro um acidente-fashion mortal, do que cair numa mesmice universal. HK - ESTAMOS VENDO RELÓGIOS INTELIGENTES, TECIDOS TECNOLÓGICOS E IMPRESSÕES EM 3D PRESTES A INVADIREM O GUARDA-ROUPA. QUANDO VOCÊ PENSA NO QUE SE IMAGINAVA DO “FUTURO” ANOS ATRÁS, O QUE ACHA DESSA NOVA ESTÉTICA? RG- Eu curto. Não é exatamente a minha linguagem - sou

do tempo do papel -, mas tenho até inveja das crianças que já nascem digitando. O mundo mudou e mudar é bom, contanto que não percamos nossos human feelings . Quero continuar sentindo fome, sempre. Fome de merengues, fome de notícias, fome de experiências. Aliás, só digo não para os relógios inteligentes. Não quero mesmo saber quantas horas são…

HK - A MODA NO BRASIL ESTÁ ACOMPANHANDO AS MUDANÇAS, SEM PERDER A IDENTIDADE?

RG- Identidade sempre faltou, aqui entre nós. Somos um

país colonizado ainda e ainda preocupado demais com a opinião que os outros países venham a ter da nossa cara. Vai daí que vivemos preocupados com o que eles estão fazendo aqui ou ali, em vez de vestir nossos reais desejos, nossas reais necessidades. A mulher brasileira é um patchwork feito de referências internacionais. Chiquérrima? Sei lá!

HK - COMO É A SUA ROTINA HOJE E COMO A MODA ESTÁ PRESENTE NELA? E A PAIXÃO POR ESCREVER? RG- Acho mesmo que minha paixão essencial é escrever. Mas é um oficio delicado. Poucas pessoas sabem saborear as nuances das palavras. Poucas pessoas ainda praticam a arte de conversar. O mundo está cheio de ruídos estranhos e, ao mesmo tempo, de um invencível silêncio. Às vezes, acho os dias compridos demais. E os anos, ai, ai, ai, inacreditavelmente curtos!

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HK - O QUE AINDA TE FAZ SOLTAR

FAÍSCAS NA MODA? E O QUE NÃO AGUENTA MAIS?

RG- O que eu não suporto mais? Ver e rever as passarelas do mundo se alimentando mais de memória do que de imaginação. Todas as formas e as proporções parecem que já foram exploradas, percorridas, mesmo quando chegam com um make-up de modernidade. Solto mesmo faíscas: de raiva! Ainda bem que ainda acontecem lances novos em termos de matéria prima, como os tecidos tecnológicos que você citou, ou os visores de realidade que o Facebook comprou por uma fortuna, mas que ainda não foram oficialmente lançados. Além de andar nas ruas, devidamente plugados com os tais visores, vamos – por exemplo – entrar numa sala e não saber mais o que é realidade ou o que não é. Emocionante, não? HK - EM UMA DAS ENTREVISTAS DURANTE O LANÇAMENTO DE ENJOY!, OUVI VOCÊ DIZER QUE É DIFÍCIL SER REGINA GUERREIRO. POR QUÊ? RG- Não é difícil ser a tal da Regi-

na Guerreiro. É di-fi-cí-li-mo! Ela exige muito de mim. Fico exausta! Ela é obsessiva, perfeccionista, não perdoa, não se perdoa. Quer saber? Trata-se de uma mulher in-su-por-tá-vel!


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M O D A E A RT E

ALÉM DA BELEZA QUE O OUTRO ENXERGA

©divulgação

P o r

A l i c e

L i n h a r e s

Nascida em Pequim, na década de 1920, Christine Yufon é o que podemos chamar de um ícone de estilo. Ela se recusa a informar ao certo sua idade, mas sua história já demonstra quão intensamente vive até os dias de hoje. Yufon estudou em uma escola norte-americana ainda em seu país e, em 1947, casou-se com o engenheiro Georges Constant Collet. Com a tomada pelos comunistas em 1949, o casal seguiu rumo a Paris. De lá, Christine realizou o sonho de emigrar para a América do Sul, continente de promessas de uma nova vida. Foi em 1951 que Christine chegou ao Brasil e foi morar em São Paulo. Convidada pelo jovem colunista social Ricardo Amaral, começou a trabalhar como modelo, sendo manequim da antiga Casa Vogue e da Casa Canadá. Chegou a ser disputada nacionalmente por estilistas como Maria Augusta Teixeira e Denner, tamanha atenção despertava com sua beleza étnica. Lá fora, foi descoberta pelo estilista Jacques Heim, por quem abriu mão de um contrato com ninguém menos que Givenchy. Também nessa época, fundou sua escola de etiqueta, pioneira no Brasil e dedicada a propagar ensinamentos de postura visual, filosofia e valores de vida. Desde então, tornou-se uma espécie de guardiã do segredo da elegância e da essência da beleza. Com a delicadeza de seus gestos e a suavidade de sua fala, inspirados por tradições imemoriais, ela resgata e atualiza a sabedoria secular de seu país. Na década de 1980, descobriu uma nova forma de expressão e começou a produzir esculturas, que adornam espaços e, posteriormente, até pessoas. Foi justamente nessa época que conheceu o então jovem estilista Dudu Bertholini. Dudu nos conta que viu Christine pela primeira vez quando ainda era pequeno, em sua cidade natal, nas páginas de um jornal. Desde esse momento, atraído pela figura marcante, pensou: “Quero fazer algo com ela”.

“É POSSÍVEL PRATICAR O EQUILÍBRIO, A PROFUNDIDADE E SENTIR A ESSÊNCIA DA VIDA. SOU MAIS TOLERANTE, APRENDI A RENUNCIAR E ADQUIRI MAIS SABEDORIA. E SEM SABEDORIA, A VIDA NÃO SERVE PARA NADA.” Cristine Yufon

O encontro aconteceu anos depois, quando Dudu trabalhava na publicação independente 2Fanzine. Entrevistou e fez uma sessão de fotos com Christine, com quem descobriu ter uma grande sinergia criativa. “Sem dúvida, ela é uma das pessoas mais importantes que conheci na vida. Quando uma pessoa é autêntica, como Christine sempre foi, tudo que ela fizer será tomado por essa força criativa, essa luz, essa beleza”. Dudu foi um dos incentivadores para que Christine começasse a produzir, além de esculturas, as “bijoux”, que ele chama de “esculturas de vestir”. A beleza e a forte personalidade da artista se expressam através dos

MARINA, CHRISTINE, DUDU

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metais pesados e fortes com que trabalha, como o bronze, a madeira, o cimento, o vidro e outros materiais. Em 2009, Yufon ganhou uma homenagem no SPFW com um desfile exclusivamente de acessórios criados por ela. Tanto nas criações artísticas, quanto nas passarelas ou com suas alunas, Christine afirma usar, intuitivamente, o princípio do equilíbrio do taoísmo. Leveza e força coexistem. Para ela, a espiritualidade está ligada à nossa essência, às nossas boas ações e ao nosso desejo de ajudar o próximo. E é justamente isso que torna um ser humano bonito. Dudu destaca exatamente este ponto da personalidade dela. “Antes, eu acreditava que a beleza estava nos objetos que ela cria. Depois fui perceber que essa beleza apenas é o reflexo da beleza e da força interior de Yufon. Se pensarmos na estética, ficamos apenas na superfície.” Em seu livro “Toda Mulher Pode Ser Bonita”, Christine ensina truques e ressalta que a beleza é algo que o outro enxerga. Mas é preciso ter paixão e personalidade, o que é melhor do que ser simplesmente bonita. Ressalta, ainda, que é preciso, essencialmente, ter compaixão, já que a beleza começa por dentro, no exercício diário de se aprimorar para ser uma pessoa melhor. Dudu afirma que Christine é um verdadeiro ícone de estilo, de força, de beleza. “O estilo não envelhece, ele reflete o acúmulo de nossas experiências, está em constante evolução. E é isso que vejo na figura de Yufon”. Para a artista, a vida é uma longa caminhada e é na velhice que se adquire compreensão.

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©Dogwoof


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ESPECIAL

ESTILO ALÉM DA IDADE P o r

D a n i

S a r t o r i

E é sob este novo panorama antropológico, formado por um exército de senhoras fashionistas, que convocamos o leitor a despir o olhar de qualquer pré-conceito. Longe do intuito de elaborar cartilhas sobre o que é adequado vestir aos 60 ou 70 anos, trata-se de apontar a essência de uma moda contemporânea, que pode tranquilamente habitar corpos de 80 anos ou mais.

Parece curioso refletir que a juventude, enquanto fenômeno social, tenha sido algo demarcado há pouco. E isso não significa dizer que a vida começava aos 40, mas que a sociedade ocidental até então não havia vivenciado uma valorização excessiva dos jovens como a que assistimos no século XX, tendo seu ápice com a juventude celebrando a si mesma nas décadas de 1960 e 1970. E como uma coisa leva à outra, parece pertinente pensar que a ascensão desta geração tenha causado um impacto imediato sobre o guarda-roupa. Segundo Charlotte Seeling, no livro “Moda - o século dos estilistas”, isso pode ser explicado, em parte, pela perspectiva de mudança na demarcação de fronteiras entre uma moda jovem e outra mais senhoril. “A elegância era a última aspiração das jovens, pois era exatamente o que as mães lhes tinham ensinado, nos anos 50. Além disso, davam-lhes uma aparência muito mais velha. Agora, eram elas que ditavam a moda e eram as mães que seguiam as filhas até os limites da decência”. A moda - tal como a vida – experimentou os chamados anos rebeldes e isso possibilitou que cada pessoa escolhesse aquilo que lhe agradasse. Não era para todo mundo, mas o fato foi que ser jovem passou a ser um status, e a esta juventude algumas “ousadias” foram permitidas, principalmente nas roupas. E é exatamente aí que os códigos de vestimenta passaram a ser menos arbitrários, mas não totalmente livres de segmentações por idade. Vestir-se, ou portar-se de acordo com a sua faixa etária, ainda era esperado, ou seja, alguns regulamentos tornaram-se mais flexíveis, embora continuassem a funcionar como regras em sua essência. Muita coisa aconteceu neste meio tempo. O mundo se tornou globalizado e difundiu-se a informação. A moda ganhou cada vez mais status de autoexpressão. Mas não só isso. Junto com a virada do milênio, houve uma melhora significativa na qualidade de vida, responsável por desencadear um novo modo de pensar sobre como viver a melhor idade (qual delas?) e como encarar as chamadas regras de estilo “aceitáveis”. Se o culto à juventude permaneceu vivo por muito tempo nas gerações seguintes, não seria estranho supormos que esta juventude envelheceu, ou que tenha deixado seu legado sobre desconstruir as regras do jogo. A moda é viva, mutante e isso vale sob todas as óticas.

TEMPO DE CELEBRAR A EXPERIÊNCIA Alheias a muitos paradigmas, algumas senhorinhas têm mostrado que a vida é muito curta para se privar dos encantos e desejos de moda. E um dos responsáveis por dar visibilidade a este movimento legítimo é o americano Ari Seth Cohen, idealizador do blog Advanced Style, que tem como grande mérito colocar luz sobre diversas senhoras elegantes acima dos 60, que se expressam com suas roupas, ao mesmo tempo em que abraçam sua idade e individualidade. O assunto é tão rico que, não por acaso, a temática está longe de se esgotar por suas infindáveis questões filosóficas que vão muito além de qualquer peça de roupa. O projeto Advanced Style já virou documentário, livro e até caderno de ilustrações. As personagens retratadas no vídeo são essencialmente moradoras de Nova Iorque, como a artista polonesa radicada nos Estados Unidos, Ilona Royce Smithkin, de 94 anos, que ainda hoje continua a ter seu trabalho exposto em galerias e já retratou personalidades como o dramaturgo Tennessee Williams. Com seus cabelos cor de fogo, atualmente ela faz uma apresentação performática intitulada “Eyelash Cabaret”. O nome do espetáculo refere-se ao fato de Ilona usar longos cílios postiços criados a partir de seu próprio cabelo. Outra figura notável retratada por Ari Seth Cohen é a empresária, designer de interiores e ícone da moda, Iris Apfel, cuja imagem é tão marcante que, certamente, ela habita seu inconsciente de senhorinhas fantásticas com quem você desejaria tomar um café para saber um pouco mais sobre sua vida. Apfel foi, inclusive, tema da exposição “Rara Avis: Selections from the Iris Barrel Apfel Collection”, no Metropolitan Museum, e de um livro onde apresentou peças de seu guarda-roupa, “Rare Bird of Fashion: The Irreverent Iris Apfel”. Além disso, no ano de 2011, fechou

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©Dogwoof

ESPECIAL parceria com a M.A.C para lançar uma coleção de maquiagem. Aos 93 anos, esta americana segue com suas atividades e mente criativa. Nem só de personalidades, em teoria, anônimas se faz esta nova bossa das idades. Na publicidade, os criadores também captaram a importância de uma nova abordagem sobre a idade e não foram poucas as grifes que adentraram este universo. Aos 70 anos, Catherine Deneuve estrelou uma campanha da Louis Vuitton, assim como Michael Kors escalou como garota-propaganda para sua linha de beauté a atriz Jessica Lange, 65. Recentemente, a L’Oréal Paris anunciou Helen Mirren, 69, como a nova embaixadora da marca. Ao aceitar o prêmio de ícone na cerimônia Glamour Women of the Year, de 2014, a atriz declarou: “Seus 40 anos são bons. Seus 50 são ótimos. Seus 60 são fabulosos. E seus 70 são bons pra #!@*#!. Eu não estou exatamente lá ainda, mas quase.” Em plena produtividade à frente da Prada e da Miu Miu, a estilista Miuccia Prada, 65 anos, disse certa vez: “As mulheres sempre tentam se domar à medida que ficam mais velhas, mas as mais bonitas são sempre as mais selvagens.” Para aquelas que, de alguma forma, desejam se livrar de normas que por ventura habitam seu armário, é tempo de se inspirar! Será que, finalmente, celebramos a experiência?

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©Consuelo Blog

ESPECIAL

Aos 75 anos, a empresária e consultora de moda Costanza Pascolato mostra que não existe contraindicação para inquietude de experimentar a vida e a moda.

Dani Sartori - JÁ LI DECLARAÇÕES SUAS EM ENTREVISTAS DE QUE O CUIDADO COM QUE SE VESTE ESTÁ LIGADO A UM RESPEITO COM AS PESSOAS. PARA A SENHORA, O APURO EM SE VESTIR TEM MAIS A VER COM UMA FORMA DE SE APRESENTAR AO MUNDO OU, POR OUTRO LADO, SERIA UMA EXPRESSÃO PESSOAL DE COMO VOCÊ PENSA A MODA? Costanza Pascolato - A ideia da roupa e do

comportamento como demonstração de respeito e cortesia é quase um legado familiar, já que nasci, cresci e sempre frequentei ambientes nos quais aprendi a entender, a gostar e a apurar cada vez mais esse aprendizado. Ou seja, respeitar o espaço do outro para ser uma pessoa educada, inclusive na maneira de me vestir. Por isso, acredito que além de revelar o jeito como nos apresentamos ao mundo, a roupa é, sim, uma extensão exata do que você é, a mais autêntica expressão pessoal que cada um pode ter. Como a moda é o meu trabalho, observo que as escolhas que faço mostram, além de tudo isso e do que penso sobre tendências e estilo, algum bom humor para me divertir com uma nova “aventurazinha” (calculada!) a cada dia.

D.S. - SEGUNDO ARI SETH COHEN, DO BLOG

ADVANCED STYLE, O ESTILO PESSOAL AVANÇA E APURA COM A IDADE. AVALIANDO A SUA TRAJETÓRIA PESSOAL, A SENHORA ACHA QUE “DECANTOU” SEU ESTILO OU, POR OUTRO LADO, SE VÊ TOLHIDA EM UM REPERTÓRIO QUE JÁ NÃO TE PERMITE USAR CERTOS TIPOS DE ROUPA?

C.P. - A idade faz você entender que a roupa não tem

mais a função de exibir ou marcar o corpo e, sim, emoldurá-lo da melhor maneira possível para valorizar o que restou. Por mais que a gente se esforce e tenha consciência corporal, a cintura, a postura, a coluna já não são mais as mesmas. Por prazer e por ser uma profissional da moda, no fundo acho que sempre “decantei”, como você diz, o meu próprio estilo, inclusive para não me entediar com o que é banal, vulgar ou muito superficial.

D.S. - ALIÁS, VALE PERGUNTAR: EXISTEM PEÇAS PROIBIDAS PARA DETERMINADA FAIXA ETÁRIA OU É POSSÍVEL DESCONSTRUIR TODO E QUALQUER RÓTULO LIGADO À IDADE? C.P. - Sempre digo que na moda é proibido proibir. Vejo mulheres da minha idade felizes da vida usando minissaias, saltos altíssimos ou jeans justérrimos, desconstruindo, à maneira delas, o que antes parecia impossível. Como tenho uma agenda bem dinâmica, prefiro sempre roupas e acessórios ao mesmo tempo confortáveis e capazes de me dar uma “dignidade” um pouco mais discreta. Apesar de as minhas pernas estarem surpreendentemente bem para os 75 anos que tenho, por exemplo, acho que não é o caso de eu usar minissaia e correr o risco de dar um susto em quem está me vendo de costas, na hora que a pessoa me vir de frente... Mas esse é só um ponto de vista. Literalmente. Mesmo contra proibições de toda ordem, acredito que o bom senso precisa ser cultivado em todas as idades. D.S. - ALGUMA DAS PERSONAGENS RETRATADAS PELO BLOG ADVANCED STYLE TE INSPIRA? POR QUÊ? C.P. - Eu adoro a Iris Apfel, que está ótima aos 94

anos. Sinto-me uma criança perto dela. Aos 81 anos, Carmen Dell´Orefice também é muito elegante. Elas parecem estar sempre se divertindo, o que é fundamental para ter estilo. Já tive a sorte e o privilégio de encontrar Ari Seth Cohen, que idealizou o blog - hoje um sucesso global -, e ser fotografada por ele, na porta do hotel em Nova Iorque. Aliás, ele me convidou para estar no documentário que está produzindo atualmente, mas as agendas não bateram. Tenho fascínio por gente e por imagens, não importam as tribos, as idades, os círculos sociais, as diferenças culturais. Essa riqueza, variedade e diversidade são inspiradores para a moda e eu adoro. Tenho paixão por isso.

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GENTE

CONSUELO BLOG

P o r

Desde que o mundo é mundo, pessoas configuram suas redes de contatos por afinidades e, em tempos de internet, os blogs de moda e estilo - via de regra assinados e frequentados por uma turma notoriamente mais jovem-, passam agora a derivar boas urls nesse ciberespaço democrático, com foco num público mais maduro e que exige um conteúdo que vá além dos looks do dia. Criado em outubro de 2010 por Consuelo Blocker, 50, brasileira radicada na Itália há 24 anos, o Consuelo Blog (consueloblog.com) foi originalmente encomendado pela tecelagem Santaconstancia, que desejava fortalecer a presença da marca nos meios digitais. A plataforma ficava hospedada no site da empresa e, depois de decidirem que ele já não era mais necessário, Consuelo resolveu tocar o projeto sozinha. “Ser filha de pais importantes tem suas vantagens, mas às vezes se vive um pouco na sombra. Com o blog, encontrei a minha luz”, comemora a blogger, mãe de Cosimo e Allegra, herdeira da empresária e consultora de moda Costanza Pascolato. Atualmente com 80 mil visitantes únicos mensais, o sucesso do seu blog é atribuído, segundo a autora em entrevista por email, a muito trabalho e dedicação, ser filha de quem é como exemplo e exposição -, muita autenticidade, energia, busca de bons conteúdos, responder sempre aos comentários e ter uma atitude positiva perante a vida. E, de fato, a fórmula que já deu certo conta ainda com um detalhe muito importante para o seu êxito: o salotto. Na Itália, um salotto nada mais é do que uma sala de estar,

©Priscila Meireles

R a q u e l

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local onde pessoas se encontram e trocam ideias. E batizar a área dos comentários do blog de maneira tão simpática ajudou a afinar as conversas no espaço, entre pessoas que não se conheciam pessoalmente, mas que, de acordo com as trocas de opiniões e experiências, passaram a se frequentar, de forma particular ou nos dois encontros anuais promovidos pela própria Consuelo, quando vai ao Brasil. O salotto é um organismo vivo, coisa que se pode comprovar mesmo com uma breve visita. Rita Medina, 59, psicóloga, vive em São Paulo e, desde 2011, acompanha o Consuelo Blog. Segundo conta, na época passava por uma crise existencial e profissional. Perdida, queria respirar novos ares e navegava pela internet em busca de inspiração. “De clique em clique, cheguei ao CBlog e fiquei encantada com a diversidade de assuntos abordados, com inteligência e profundidade. Porém, o que me impressionou ainda mais foi a forma elegante, simples e atenciosa como Consuelo interagia com os seus leitores. Lá aportei meu navio, joguei minha âncora e não saio mais”, completa Ritinha ou Ritoka, nicknames com os quais é conhecida pelos “salottistas”. E cada um parece ter mesmo um apelido carinhoso, gentilmente cedido por algum dos colegas do salotto ou pela própria Consuelo, como foi o caso de Rita. A leitora e amiga do espaço conta ainda sobre o perfil agregador do blog e da figura de Consuelo Blocker, que cria condições para a aproximação e intercâmbio de conteúdos entre diferentes pessoas, de diferentes partes do mundo. “As trocas são feitas em diversas vias, sentidos e direções, formando-se uma rede social única e especial, cujas amarras são

©Rita Medina

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trançadas com base no respeito, consideração, aconchego e delicadezas - um verdadeiro “heartbook”, define. E algo raro nesse espaço da maioria dos blogs, onde geralmente haters tomam conta com discursos, no mínimo, deselegantes. Como ninguém está livre delas, algumas críticas negativas surgiram desde que posou pela primeira vez de lingerie, num dos publiposts do seu blog. Com o bom humor que lhe é característico, comenta: “As críticas positivas são tão fortes que lido muito bem com isto. Me acho bonita, segura, graças também ao meu companheiro (seu namorado Robert Leone é quem faz as fotos para as postagens). Não tenho nenhum problema quanto a isso... Aliás, solto o meu lado exibicionista! Nunca tive tantos followers masculinos desde que faço a campanha da Valisére”, conta, rindo da situação. Para a “salottista” Luciene Felix Lamy, 48, colunista de Filosofia e professora de Mitologia Greco-Romana, Consuelo quebrou um paradigma. “É incomum que agências de publicidade privilegiem mulheres em nossa faixa etária. Talvez por conta do inconsciente coletivo das próprias, que se autossabotam ao impor limites ao exercício da sedução e da sensualidade. Mas ela, com aquela brejeirice e segurança que somente a certeza de ser amada e a maturidade legitimam, falou – ou melhor, mostrou - por todas nós, que... YES, nós somos sensuais! Gostamos e cuidamos do nosso corpo, estamos repletas de sonhos, fantasias e, provavelmente, na fase mais intensa e rica de nossas vidas”, analisa. Consuelo afirma que o perfil do seu público é composto por pessoas que querem aprender e ver coisas bonitas, se questionando e buscando se aprimorar pessoalmente, na sua maioria, mulheres entre 35 e 65 anos. Sobre a sua rotina diária, conta que não se trata, de fato, de uma rotina, por causa de suas constantes viagens - que ocupam quase dois terços do seu ano. “Mas consigo enfiar em cada dia um post, responder a inúmeros emails e comentários, fazer ginástica (tênis três vezes por semana e spinning, duas), cozinhar o jantar (e colocar a louça na máquina de lavar), conversar com meus filhos e namorar um pouquinho...”. Com o foco no presente, seus projetos a curto prazo envolvem uma presença maior no canal que tem no Youtube e, ainda, um livro de ficção que está escrevendo. E, como os vinhos que aprecia, Consuelo Blocker não teme considerar que tem melhorado com o tempo. “Me acho bem mais bonita hoje do que jovem, mesmo com a pele um pouco menos tônica. Tem a ver com encontrar o teu estilo pessoal e uma segurança interior. Também pode-se chamar de maturidade”. Para Luciene, Consuelo é um resumo da mulher contemporânea. “Dinâmica, inteligente, bonita, autêntica, espontânea, curiosa e de uma alegria contagiante. Tudo isso é muito cativante, por isso nos sentimos tão bem ao lado dela. Seja no salotto, seja pessoalmente”, completa.

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MENSWEAR

DAS ANTIGAS To d a s a s i m a g e n s p o r trendstop.com

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B i t t e n c o u r t

Entre os maiores clichês da contemporaneidade estão a própria superficialidade e efemeridade, que acabam por se materializar em selfies e, em se tratando de moda - e toda a mudança sazonal que o próprio termo carrega -, vivemos nos últimos anos uma constante repetição ou, no mínimo, reiteradas fontes de inspiração nas décadas anteriores. Diversos criadores de moda, inclusive, apontaram dedos arrogantes e críticos do setor reclamavam desdenhosamente da falta de surpresa nos desfiles, catálogos e araras das lojas. Nas coleções das últimas estações, ficou bem claro para o público que os anos 1990 são os novos anos 1980, mas até agora repetir a década passada parece, na verdade, assinar o atestado de falta de vontade de criar moda. O próprio normcore é uma grande ilustração assumida de que é mais original apelar para o básico e confortável do que se entregar à massificação de individualidades e combos de “autoexpressão”, no fast fashion mais próximo de você. Ao mesmo tempo em que o estilo masculino também foi influenciado pela casualidade e conforto dos 90, a alfaiataria – que, no final da última década, reapareceu nos grupos de jovens modernos dos guetos artísticos do eixo NY-Londres-Berlim–Paris-Tóquio, com ares tão casuais quanto a própria calça jeans, quando já não compunha o look - continua presente neste nicho, sem olhares de inadequação de outrora. Se os termos vintage, retrô e, por que não, brechó são default no vocabulário de qualquer pessoa interessada em moda ou design, há bem pouco tempo, quando o consumo descontrolado ainda era sinônimo de status, pareceria incabível canalizá-lo para as lojas de segunda-mão, ou desejar a boina do avô. Agora, brechós já fazem parte do circuito diário de homens e mulheres, mas saindo de uma condição de “só hype”, servindo como fonte valiosa para a construção de um estilo pessoal e escolhido a dedo – quase como uma curadoria -, tão duradouro e plural quanto a própria alfaiataria. Em uma palestra de divulgação de seu novo livro “O Futuro Chegou”, no Instituto Europeo di Design no Rio de Janeiro, Domenico de Masi afirmou perceber uma sociedade desorientada, que, além de ser resultado de um mundo cada vez mais acelerado, se encontra numa encruzilhada e, portanto, deve decidir um caminho a seguir. Para o sociólogo, essa desorientação existe, pois a sociedade pós-

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-industrial é a primeira a apresentar um modelo múltiplo de referências, principalmente quando comparada com as sociedades passadas, embasadas em valores melhores definidos – e, para alguns, limitados. As múltiplas tentativas de reproduzir as memórias – mesmo que à la “Meia-Noite em Paris” - de zeitgeists anteriores por meio da moda não passaram de uma superficial diversão de velhas crianças, que botaram a toda prova, até onde vai a tal da elegância. Entres as idas e vindas dos modismos, a alfaiataria atravessou séculos e resistiu, até mesmo, a movimentos contraculturais que, através da própria moda, tentaram negá-la. Seu formato, assim como seu uso, mudou, claro. Grande prova é que, nos dias atuais, a alfaiataria, há pouco considerada inadequada para os mais novos que quarenta anos, indireta ou diretamente, já faz parte do dia a dia. Claro que toques e reinvenções são mais que bem-vindos e o jovem faz o que sabe de melhor: provocar e criar. Em entrevista ao Estadão, em meados de novembro, o vice-presidente da WGSN, Isham Sardouk, contou que “a tendência nas roupas de alfaiataria continua a homenagear a indumentária de etiqueta, mas com certa diversão e uma aparência mais ousada”. Uns se guiam pelos modismos narcísicos digitais, outros pelo vanguardismo da moda. Contudo, o mais interessante é notar que a busca pela substancialidade sempre se sobrepõe a qualquer efemeridade - assim como a alfaiataria dos tempos de nossas avós.


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DIOR

J O Ã O P I M E N TA

ERMENEGILDO ZEGNA

ERMENEGILDO ZEGNA

DIOR

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FENDI

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C A LV I N K L E I N

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ALEXANDER MCQUEEN

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O FEMINISMO E O FEMININO SÃO PARA SEMPRE

O P I N I ÃO

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Quando recebi carta branca pra escrever este artigo, claro, respeitando a temática da edição, fiquei perdida. Logo eu, que sempre li sobre o assunto e pedi para escrever sobre isso, me vi tateando sobre minhas experiências e leituras dentro do feminismo, do ativismo do dia a dia. Não discursos, mas, principalmente, o fato de tentar verbalizar algo que sim, está bem próximo, mais do que queria.

D a n i e l l e

M a g n o

plicar o que é a condição de ser mulher, que vai além do gênero biológico, do conceito de identidade. O antropólogo David Le Breton, inclusive, defende o fim da definição de gênero pelo órgão sexual, apenas. Pode parecer que isso não tem nada a ver com a gente, mas tem. Se uma definição dessa cai por terra, a ideia de sexo frágil, vulnerabilidade física e emocional, cai também. Parte da opressão feminina vem dessa ideia. Le Breton, em recente seminário em Juiz de Fora, coloca ainda na nossa luta os transgêneros, como exemplo de que a definição por gênero biológico é limitadora e culturalmente imposta.

Como ser mulher e envelhecer nestes dias em que tratam esse processo como doença a ser revertida? O envelhecimento é recebido e tratado da mesma forma para homens e mulheres? E aí percebi o que me travava. Não sou, ainda, uma mulher de mais de 60 anos e, de acordo com as definições vigentes, uma idosa. Mas estou prestes a entrar na meia idade ano que vem e essa palavra me pesa. Não por mim, me sinto absolutamente melhor agora. Mais confiante, mais bonita, segura, engajada. E até mesmo nos meus problemas e questionamentos, me sinto melhor para encará-los. Mas eu sei bem o que pegou, um conhecido inimigo - o olhar do outro.

Ele cita Beauvoir na sua mais famosa definição, que abre o livro “O Segundo Sexo”: “Ninguém nasce mulher, torna-se”. Mais gente “sendo mulher” é mais gente para quebrar paradigmas, até mesmo do corpo e do que fazemos com ele: tattoos, piercings e o próprio envelhecimento, como um processo natural da vida sim, mas também como uma forma de expressão com valores, sentidos e reconhecimento de identidade construída, não imposta. Nesse sentido, mais do que citar filósofos, sobretudo, espero ter uma conversa, claro que orientada por esse tanto de gente bacana, desbravadora e corajosa que escreveu antes de mim.

Não há um único dia em que a gente se esqueça do que é ser mulher, da luta constante para realizar atividades básicas como vestir o que lhe convém sem se preocupar com o tamanho do comprimento da barra da saia, vestido, short, sem ser assediada acintosamente e ter que achar que isso é elogio. O outro, esse coletivo que aponta, olha, julga e abaixa a cabeça em sinal de negação.

Envelhecer não é coisa simples. Envelhecer e ser mulher é pior ainda. Há muitos questionamentos sobre a função social do velho, visto como “cansado”, “peso”, “já foi útil”, “ultrapassado”. Quando penso nessas mulheres e

Não é fácil ser mulher nesse mundo, não é fácil explicar o que é ser mulher nesse mundo, não é fácil, sequer, ex-

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no papel social que representam, só me dão orgulho, ora são legítimas representantes diretas das lutas dos anos 60 e 70 pelo empoderamento feminino.

sexualidade e ainda vivem como se tivessem toda uma vida pela frente. Parece que viver a velhice, sobretudo a feminina, é ter de esperar pelo fim.

Se não estavam na linha de frente, essa geração viveu aquele contexto de mudanças. Destituídas do papel social imposto, de ser mulher “feminina”, mãe, dona de casa, profissional, avó, a mulher neste período de sua vida ainda é ativa em suas escolhas, porque a vida não acabou, ou freou. Luta, ainda, pelo direito de se vestir além do que esperam: xale, óculos no nariz, vestidos sóbrios e o indefectível tricô. Se até o que vestir e como usar o cabelo é regra a ser seguida para “pessoas desta idade”, imaginem a sexualidade, o desejo, a afetividade e as relações?

Uma visualizada em blogs de moda ou revistas femininas e já vemos a longa lista do que pode ou não pode em cada idade, regras que, aliás, parecem existir apenas para mulheres. Hannah Arendt, em “A Condição Humana”, discorre sobre como o homem é um ser social e a mulher, uma agregada. Mas a condição feminina já é outra, há algum tempo. E muitas senhoras não desejam viver sob o olhar do outro esperando a velhice confortável da sabedoria de assar bolos. A mulher, em qualquer idade, pode escolher fazer tudo, lidar com as consequências dessas escolhas e pode, inclusive, assar bolo.

A psicanalista Regina Navarro fala que neste período, anos 60 e 70, a pílula anticoncepcional deu a autonomia sexual, uma liberdade nunca vista às mulheres, se não igualando, pelo menos atenuando as diferenças e ampliando o direito à sexualidade no mesmo patamar que os homens. No entanto, ela ressalta que a mudança de mentalidade não acontece para todos e ao mesmo tempo. Mas é inegável que nada será como antes.

Nessas reflexões, é impossível não relacionar feminismo e o feminino. O feminino e o feminismo são vertentes do mesmo ativismo. O feminino é considerado, no senso comum, suave, rosa, delicado, saias, babados, voz baixa, enfim, clichês sobre o que deveria ser a mulher. O que busca o feminismo é a desconstrução desse feminino como algo determinista e unificado. Se as mulheres não são iguais, se há diferenças físicas, estéticas, culturais, sociais, como pode existir um único “feminino”?

Responsabilizo os contos de fadas e Hollywood por esta mentalidade. Os tais contos porque, desde cedo, aprendemos o quão mágico é ser jovem eternamente, feminina, com vestido esvoaçante e esperar pelo príncipe encantado, um pouco mais velho, para dar “aquela” segurança. E Hollywood porque também associa juventude, beleza e vida. Geralmente, as mulheres mais velhas são vovozinhas ou bruxas, num maniqueísmo cruel. E ai das senhoras que rompem com isso, que vivem sua

Feminismo não é machismo às avessas, mulheres não querem controlar homens, mas ter o mesmo espaço nos direitos, decisões e escolhas de suas vidas. Como Mary Shelley disse, no distante século 18, as mulheres só querem o poder sobre si mesmas. Sem pedir permissão. É direito, não é concessão.

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TENDÊNCIAS

TEMPO DE BIJOUX 2015 P o r

A mais tradicional feira de acessórios do mundo, a Eclat de Mode - Bijorhca de Paris -, teve em setembro o seu lançamento Inverno 2015. Após algumas edições acontecendo em julho, a diretoria do evento decidiu pelo retorno ao calendário original. A feira faz, historicamente, duas exibições: uma entre janeiro e fevereiro, com os lançamentos de verão, e outra em setembro, com os lançamentos de inverno do ano seguinte. Setembro em Paris é tempo de rentrée ou retorno, recomeço. Como se um novo ano estivesse começando. Após as longas férias escolares, tudo volta ao seu lugar e muitas novidades vêm neste período. A “Cidade Luz” parece ainda mais iluminada, com um milhão de eventos. Lançamentos de todos os tipos, pessoas nas ruas, reencontros, novas vitrines e modismos. A dinâmica da cultura, viva. Movimento de moda. O que pode parecer um movimento superficial, na verdade, tem grandes efeitos para o universo como um todo. Afinal, cada vez as fronteiras estão mais porosas e a moda passa a fazer parte de todas as camadas que envolvem a sociedade - seja na roupa e nos acessórios, como uma segunda pele, seja na habitação e todos seus objetos, como uma extensão de nossa identidade ou uma terceira pele, e, ainda, em todos os espaços e formas de vivência onde nos projetamos. É em setembro que ocorre, também, desde 2011, a Paris Design Week - um grande festival urbano que celebra o design e suas interseções com as mais diversas linguagens, em inúmeras galerias, museus, lojas, espaços públicos, hotéis e restaurantes. A cidade é invadida por eventos e exposições e, paralelamente, ocorrem os lançamentos das feiras Maison - Objet (decoração e design) e Bijorhca (joias, relógios e bijoux fantasie). Desde que a moda se tornou mais plural e mais democrática, os acessórios ganharam mais im-

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S a l g a d o

portância. É a partir deles que podemos formar ou transformar completamente um look. O que antes era apenas um detalhe passou a ser o foco quando entendemos o poder de composição que têm as bijoux, o lenço, a bolsa. As peças ganham o status de patente, a partir delas podemos demonstrar ou esconder o mood do dia, ser um personagem daquele momento ou apenas nós mesmos. Cada composição é única e pessoal, o acessório pode te moldar ou te libertar. É material de criação, de arte, de projeto pessoal, uma passagem para a viagem que você escolher. Conscientes dos clientes cada vez mais informados e criteriosos, os criadores da Eclat de Mode se comprometem com a qualidade, com novidades tecnológicas e artesanais, mas a tendência quem dita é a vida, é a rua, o consumidor. Diante disso, o que vemos com o fórum de tendências é um amplo espectro, ao qual a curadora Elizabeth Leriche denominou de Wonderstore. Seria como uma boutique-conceito do futuro, onde tudo é possível, inspirada na magia dos contos de fada e nas viagens lisérgicas dos anos 70 - na verdade, um pouco de tudo. Foram dispostos quatro caminhos que fazem sonhar e reforçam a sua liberdade de estilo. A palavra-chave pode ser fantasia. E no percurso destes perfis, podemos nos ver refletidos ora aqui ou ali, pinçando peças e detalhes, compondo uma nova tendência, onde não há limites ou complexos. A única ordem é: seja você!


MAGIC PRINCESS

DARK QUEEN

É como o guarda roupa de uma mulher delicada, sonhadora, romântica. Sua personalidade é poética, remete à fragilidade da louça, do cristal. Seus materiais são macios, como sedas, rendas, plumas, peles macias, acolchoados e plumas. Nas bijoux, pérolas, cristais, fitas. Motivos de flora e fauna são bem-vindos, especialmente os animais como sapos, raposas, borboletas e unicórnios, figuras que remetem aos contos de fadas - assim como elementos figurativos, como chaves, grades e gaiolas. A cartela cromática lembra uma aquarela antiga: rosês, nudes, beges, bronze e violeta convivem com leves toques de bordeaux ou café, para contrastar.

Esse é o perfil de uma mulher sofisticada e encantadora. Glamourosa, cheia de mistérios, ela se veste com drama, com contrastes de claro e escuro, veludo, brocados e devorês. Ela combina materiais luxuosos e tesouros remotos, além de algumas peças étnicas para trazer magia - espelhos, pedras, rendas e brilho. Megabrincos, maxicolares, anéis gigantescos e peças com personalidade, que remetem ao poder. Sua cartela de cores é como um vitraux - vinhos, verdes esmeralda e azul petróleo, tons intensos que compõem com preto e metálicos.

BRINCO ANAHIT

PULSEIRA H I PA N E M A

COLAR JUSTINE CLENQUET

C O L A R M AY M O M A

ANEL UNELIGNE

ANEL CANYON

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LADY ROCK

BABY DOLL

É uma figura extrovertida, criativa, liberada. Seu guarda-roupa revela peças do universo masculino, que trazem muita personalidade ao look: gravata, suspensório, jaqueta de couro, um toque college, com mais rebeldia. Os tecidos de alfaiataria são bem-vindos: tartans, madras, pied-de-poule, pied-de-coq e risca de giz, enquanto o jeans e o couro são a plataforma do tema. Seus acessórios são marcantes - correntes, cristais negros, caveiras, cruzes, grafite e veludos. A cartela de cores é bem escura: cinza, preto e uma pitada de cor para contrastar, como amarelo, vermelho e laranja.

É uma mulher livre, com personalidade moderna e urbana. Divertida, gosta de tecnologia, materiais novos e figuras geométricas. Sua silhueta é retilínea, mas cheia de charme, em combinação com muitas estampas, texturas vinílicas, cortes a laser, cetim e cashmere. Como materiais para seus acessórios, resinas, vidros, acrílicos e esmaltados ganham destaque, nas formas limpas e geométricas, em grandes proporções. Sua paleta é alegre e bem humorada, trazendo tons primários em contraste com candy colors, metálicos e preto e branco como base.

PULSEIRA VA L É R I E VA L E N T I N E

BRINCO CRÉOLES D’ALEXANDRINER

COLAR CHRISTINA BRAMPTI COLAR PHILIPPE AUDIBERT

PULSEIRA THOMAS V COLAR PITI

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B E AU T Y

MUITOS TONS DE CINZA! P o r

H e l l e n

K a t h e r i n e

Na rotina de cuidados, a recomendação é incluir tratamentos com produtos que tenham aminoácidos restauradores e filtro solar na fórmula. Como a melanina é responsável pela cor, pela elasticidade e pela maciez dos fios, é natural que os brancos sejam mais ásperos, graças à ausência do pigmento. “É necessário incorporar uma hidratação semanal com máscaras específicas para resgatar a umidade, o brilho e a flexibilidade”, diz Sônia.

A verdade é que enquanto o loiro platinado conquistava espaço cativo nos salões, a onda em busca do natural ganhava força. Na maquiagem, já vínhamos acompanhando o entre e sai de estações consagrando o look “cara lavada” como o queridinho dos beauty artists, das passarelas ao tapete vermelho. Para os fios, colecionamos dicas práticas para conseguir efeitos de textura natural pós-praia, ondas desconstruídas ou ainda coques “podrinhos” – tudo sem esforço, embalando o mood mais real das imagens de moda. O branco – e aqui entram, também, o cinza e o grisalho silver – traduz essa vontade de ser o que se é. Seja para celebrar a maturidade, ou para abusar da beleza da cor que reúne todas as cores, o chamado gray hair conquistou celebridades e fashionistas, pela beleza e pelo recado dado, em cada fio: branco também é cool – e haja personalidade para encará-lo! Resultado? Veremos lindas madeixas brancas e cinzentas desfilando por aí e acabando de vez com a conotação negativa do tom.

Quanto ao comprimento, não há muitas regras, mas os longos são naturalmente mais sensíveis aos danos. Se tesoura não faz parte dos planos, mais uma dica: pentes e escovas com materiais naturais – como madeira e pelos orgânicos – ajudam muito. “Proteínas hidrolisadas vegetais - trigo aveia, soja - ou animais - seda, queratina - serão importantes para restaurar a estrutura danificada”.

E como ousadia não tem idade, as mais jovens também podem aproveitar para experimentar a cor que será orgulhosamente exibida pelas mais velhas. Na cartela de produções mais modernas, veremos, ainda, combinações incríveis do branco com mechas coloridas, estilo tie dye, ou com fundo lilás, rosado ou loiro. Para as peles mais claras, o efeito é irresistível.

Entre brancos, cinzas e pratas, certeza é que abraçar um sinal tão claro – e, até então, sempre tão evitado – da idade pode ser a primeira vitória em direção a uma mudança nesse cenário de beleza cheio de imposições, que, muitas vezes, mais repreende do que promove a autoestima feminina. Nova e linda realidade, guiada não apenas por uma tendência fashion, mas por uma confiança legítima e um relacionamento verdadeiramente saudável com o espelho, com o tempo e com a beleza que ele traz.

Na prática, algumas dicas são valiosas para quem quiser sair da inspiração e adotar o look de vez, especialmente quem está longe de ter fios brancos naturais. Sonia Corazza, engenheira química especializada em Cosmetologia, explica que o primeiro passo, claro, é optar por produtos de qualidade. “O processo oxidativo de remover a cor natural dos fios é tremendamente agressivo e não se pode arriscar na escolha da fórmula, sob o risco de perder os cabelos”, alerta.

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©trendstop.com

Encarar as mudanças estéticas trazidas pelo tempo e pelo momento em que o aguardado “futuro” bate à porta é um desafio. A busca pela juventude eterna parece nortear as intervenções e invenções do universo de beleza em todo o mundo. Talvez por isso a entrada dos cabelos brancos na lista de tendências de beauté - já há algumas temporadas e com cada vez mais adeptas - seja sintoma de um novo movimento, mais maduro e muito feminino.


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MODA DE AUTOR

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INCOMING

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CASSIO TASSI Cassio Tassi, 27, mineiro de Além Paraíba, é fotógrafo e artista visual. Formado em Artes e Design pela UFJF, ficou bastante dividido sobre qual habilitação seguir no curso, cujo leque abrange Design, Moda, Artes e Cinema. A princípio negou a moda, como mesmo afirma em nossa conversa. “Achava que não era para mim”. Estava errado, ainda bem. Sua visão mudou quando decidiu fazer um curso de fotografia e direção de arte, em São Paulo. “Foi quando me vi completamente apaixonado pela fotografia de moda e pela produção. Desde então, estou me empenhando em me aprofundar no assunto e, cada vez mais, me vejo mais apaixonado. Estou fazendo pós-graduação em Moda na UFJF.” O editorial Back to Black, enviado para configurar a galeria do projeto Moda de Autor, foi clicado por ele numa oficina de Fotografia na Moda que ministrou, oferecida pela Semana do Audiovisual de Juiz de Fora (SEDA). “Convidamos os modelos Rafael Ramos e Eliza Moller, além da maquiadora Helena Gomes de Sá, para realizar a produção”. Criado pelas produtoras Débora Ferreira, Isabella Alba, Helena Frade e Larissa Oliveira, a mensagem do editorial Back to Black era a “dualidade”, jogar com luz e sombra, o preto e o branco, o masculino e o feminino. Nos casos particulares onde é Cassio o próprio autor da concepção, do princípio ao fim, ele afirma que seu processo envolve o mergulho na história da arte moderna. “Quando eu crio, pego todas as imagens que estão dentro da proposta e monto um quadro na minha parede. É lá onde escrevo, anoto, colo post-its, até a finalização do projeto”. Sua inspiração vem de diversas fontes, como conta, mas sua ânima artista aponta sempre para o universo minimalista. “Me inspiro em artistas como Oleg Dou, René Magritte, Caspar David Friedrich, William Turner. E fotógrafos como David la Chapelle, Mario Testino, Richard Avedon, Ansel Adams, entre muitos outros.” Sobre a moda e a arte, para Cassio, as duas andam de mãos dadas, tornando o seu trabalho ainda mais completo. “Minhas fotos artísticas bebem muito na fonte da moda e eu prefiro utilizar, sempre, referências artísticas para as criações de fotografia de moda”, completa.

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“SEMPRE NEGUEI A MODA, NUNCA QUIS ME APROFUNDAR NO SEU ESTUDO, POIS ACHAVA QUE ISSO NÃO ERA PARA MIM.”


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CASSIO TASSI

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EDITORIAL BACK TO BLACK Fotografia • Cassio Tassi // Produção • Isabella Alba, Larissa Oliveira, Débora Ferreira, Helena Frade // Maquiagem • Helena Gomes de Sá // Modelos • Rafael Ramos e Eliza Moller

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RAFAEL JOAQUIM Raras vezes você verá proposta similar, com um cool factor tão evidente. Carioca da gema, aos 25 anos, Rafael Joaquim cria moda profissionalmente há três. Aluno da Casa Geração Vidigal em 2014, foi destaque desse projeto voltado para jovens estilistas, localizado na zona sul do Rio de Janeiro. Rafael assina uma marca própria, desde 2012. “A TTrappo começou como um brechó, no subúrbio carioca. Eu tive a ideia de criar uma linha de camisas, desconstruindo peças e criando novas. Foi assim que a TTrappo se reinventou”, conta. E a proposta não é só fazer uma moda sustentável por sua matéria-prima, trabalhando com o descarte têxtil, criando dentro do que se tem disponível em tecidos doados por parceiros, amigos e confecções. O que já seria um grande mérito é acrescido de uma ideia muito mais ampla, desde a matéria-prima à gestão de pessoas, do contexto social, comportamental. A TTrappo respeita as suas características étnicas, trabalhando a representatividade visual. “Não sigo tendências, crio dentro dos meus conceitos, dos meus gostos, meu olhar. Claro, sempre respeitando o meu cliente.” Rafael se inspira em “gente”, na cidade, na cultura das ruas. Mas sua maior inspiração mesmo, segundo conta, é o programa de TV Soul Train, apresentado nos EUA na década de 70. “Na época, mostravam basicamente performances de grupos e cantores de soul e hip hop. Tento sempre trazer um pouco disso nas minhas criações.” Sua produção é baseada numa cooperativa localizada em Santa Cruz, há 1h30min de trem de onde mora. “Lá, encontrei parceiros que proporcionam produções com peças bem acabadas, com ótima modelagem e qualidade”. Para Rafael, fazer moda é alegrar o visual, a alma, com liberdade para vestir a pele que se tem, de ser o que se é. De fato, um ótimo resumo da própria TTrappo, uma maravilha.

“NÃO SIGO TENDÊNCIAS, CRIO DENTRO DOS MEUS CONCEITOS, DOS MEUS GOSTOS, MEU OLHAR.”

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EDITORIAL TTRAPPO Equipe Nimbus Mob // Fotografia • Victor Coutinho // Produção • Alessandra Teixeira e Ïago Ïule // Maquiagem • Raisa Cristina da Silva // Roupas • TTrappo // Jóias • Exímia // Stylist: Rafael Joaquim e Daniel Kalleb // Modelos • Allan Machado, Allan Rodrigues, Caio Moreira, Emanuel Bandeira, Kaduh, Keyla Bergamazi, Matheus Custódio, Yaromaia Bispo 67


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INGRYD LAMAS Ela desenha a moda das ruas e o resultado é sempre fresco, colorido – como o que enxerga. Ingryd Lamas, 26, é juiz-forana e produtora de figurinos e arte para audiovisual. E ilustradora, bem entendido. Atualmente, conta com dois projetos ligados à ilustração de moda. “Um onde transformo fotografias de street style em aquarelas (como as enviadas para a plataforma Moda de Autor, no site) e outro onde faço retratos com essa mesma técnica, numa espécie de identificação de pessoas de grupos diferentes, quase um 3X4”. Aqui, o discurso vai além da indumentária. Ingryd se preocupa em mostrar que o rosto de cada indivíduo resume o estilo da pessoa, o que veste, lê ou escuta. “A ideia é que suas decisões sobre a sua imagem ajudam a te definir. Assim, mesmo que você se decida por não se importar com a moda, isso já fala bastante sobre você”, filosofa. Dentre as técnicas utilizadas, pena e nanquim, lápis grafite e aquarela, Ingryd tem predileção por aquela que julga ser mais imprevisível. “A aquarela ganha vontade própria quando toca o papel. A forma como a cor migra pode ser controlada até certo ponto, mas o resultado final da tinta é sempre uma surpresa, é mágico.” Ingryd conta que as ilustrações são parte fundamental do seu dia-a-dia, como seu trabalho mesmo, através de figurinos, cenários ou ilustrando figuras de moda isoladas. E depois de passar uma temporada em Londres, acredita que seu olhar não é mais o mesmo. “A cidade transpira moda de rua, artes, design, história... O aumento nas referências visuais foi gigantesco, sem dúvidas”. Para quem está começando, Ingrid deixa a dica, “Não se intimidar com resultados alheios. Uma das vantagens da ilustração contemporânea é que não existe errado ou feio. Se você abraça um estilo e cria um discurso em cima dos seus traços, é o mais importante. Eu acredito em trabalho. Desenho é prática, como tudo na vida”, finaliza.

“O RESULTADO FINAL DA TINTA É SEMPRE UMA SURPRESA, É MÁGICO.”

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GOSTARIA DE PARTICIPAR DO MODA DE AUTOR? SUBMETA SEU PROJETO EM MODA PELO JORNALISMO@FWORKSPRODUTORA.COM.BR . VAMOS ADORAR CONHECER SUAS IDEIAS! W W W. F W O R K S P R O D U T O R A . C O M . B R / M O D A - D E - A U T O R

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AT UA L I D A D E

O SUCESSO A UM TOQUE Moda, maquiagem, saúde, humor, romance, política. Não importa o conteúdo, se as visualizações chegaram próximas da estratosfera é hora de seguir em frente com mais ousadia e garantir um novo patamar para o talento, inclusive financeiramente. As webséries estão roubando a cena até das produções mais elaboradas das grandes salas de cinema e das poderosas emissoras de TV, e a razão é o fácil acesso à internet graças aos smartphones e computadores, em que (Glauber Rocha que nos perdoe) uma ideia na cabeça e um celular na mão são suficientes para garantir um episódio e tanto. Do engajado e internacional “Marx ha vuelto” ao cômico e brasileiríssimo “Porta dos Fundos”, há espaço para um pouco de tudo, com promessas de futuro bem sucedido a quem chegar ao coração, ou melhor, ao toque do indicador dos internautas. Bernie Su, Kate Rorick, Camila Coelho, Gabriela Pugliesi, Fábio Porchat e Clarice Falcão são bons exemplos daqueles que conseguiram se posicionar no competitivo mercado televisivo, depois de estourarem online. Docente do curso de Comunicação Social da UFJF, mestre em Multimeios e doutorando com pesquisa em torno da utilização do Cinema Documentário na formação de professores, Cristiano Rodrigues explica esse fenômeno. “O aumento de conteúdos audiovisuais produzidos essencialmente para o universo online mostra como a internet possibilitou a tão sonhada democratização dos meios de produção, que uma geração inteira de jornalistas e comunicadores sonhou. No entanto, um olhar mais atento evidencia que esse aumento não é tão democrático como parece, pois uma câmera e um computador não são para todos”.

CRISTIANO RODRIGUES ©Lucio Oliveira

DA MARGEM PARA O CENTRO Cristiano diz que esse boom de webséries mostra também que o universo online permitiu ao espectador lançar mão de ferramentas para não só consumir, mas produzir conteúdo e informação. “E agora são as grandes corporações de

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comunicação que ficam de olho na rede para descobrirem novas ideias”, analisa. Crítico, ele dispara: “É um recado da margem para o centro. É a periferia estigmatizada e deslocada dos grandes processos produtivos dizendo para os detentores do poder o que sentem, como se emocionam e por que querem ver e ouvir isso, e não aquilo”. O professor dá dois exemplos bem diferentes de videologs que dizem muito sobre esses discursos marginalizados. “No Brasil, um grupo de gays incomodados com o preconceito e a homofobia criaram o ‘Põe na roda’, em que seus autores se misturam aos personagens e constroem uma narrativa emocionante e bem humorada. Na Argentina, os episódios de ‘Marx ha vuelto’ tentam atualizar as questões levantadas pelo alemão Karl Marx, contrariando inúmeros teóricos europeus que dizem que, no mundo de hoje, não faz mais sentido o Manifesto Comunista. São discursos à margem, sinalizando que o centro não está com essa bola toda”.

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Para a documentarista Karla Holanda, autora do premiado “Katia” - sobre a primeira travesti eleita para um cargo político no Brasil -, o grande desafio dos internautas é descartar o lixo e detectar o que realmente tem qualidade. Professora do mestrado em Artes, Cultura e Linguagem da UFJF, ela destaca que programas específicos para a internet têm estrutura própria e estimulante. “Incentivo meus alunos a filmar e difundir na rede, onde é possível conseguir visibilidade em canais como o Youtube”. Após estudar cinema por dois anos e meio em São Paulo e um ano em Hollywood, a jornalista Mariana Vieira cultiva seu futuro em Los Angeles, a terra dos sonhos. Com documentários, longas e curtas-metragens na bagagem, ela enxerga as webséries com otimismo. “Este ano, participei de um episódio como atriz. Foi uma experiência muito bacana ver como o conteúdo online chega ao espectador mais rápido, e o feedback também. O mundo muda todo dia, novas tecnologias, ideias e acontecimentos. O universo do filmmaking não vai ficar para trás, webséries terão vida longa e mais formatos bacanas vão aparecer”. Para ela, a grande questão é produzir um bom produto com o menor orçamento possível. “Um vídeo de qualidade requer equipamentos de alta tecnologia, que custam caro. As webséries têm como vantagem a facilidade de distribuição, pois basta fazer o upload no webchannel desejado, Youtube, Funny or Die e muitos outros. Com o problema da distribuição

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resolvido, sobra orçamento para investir em qualidade. Assim, o produtor de uma websérie já sai ganhando, e daí vem o real desafio: conteúdo. Afinal, desafio mesmo é escrever e filmar algo novo, interessante e lucrativo”.

A M P L A S

SEM TESOURAS O fenômeno das webséries não apenas revelou talentos, como reforçou o expertise de ícones da moda no país. Costanza Pascolato, italiana de alma brasileira, e Marilu Beer, artista plástica argentina, estrelam “Costanza & Marilu”, abordando um universo amplo, muito além do vestuário, dos acessórios e das tendências fashion . Em cerca de quatro minutos de filmagens editadas, as duas vão de A a Z, no melhor estilo Gilles Deleuze, discutindo preferências literárias, lugares favoritos e finanças pessoais.

P O S S I B I L I D A D E S

“Outra questão é a remuneração, por conta dos gastos, mesmo que mínimos, com equipe, produção. Esse é um ponto interessante e estimulante, porque o realizador tem um campo enorme a desbravar, onde é preciso mostrar qualidade e difundir para ter retorno”, ressalta Karla Holanda, que não vê limites ou fronteiras culturais na Internet. “‘The Lizzie Bennet diaries’, videolog criado nos EUA em 2012, rapidamente migrou para a TV, conquistando o Emmy em 2013. Baseado na obra da inglesa Jane Austen, já no primeiro episódio online obteve perto de dois milhões de acessos. Um trabalho criativo, barato e simples, que deu um caráter contemporâneo a uma narrativa do século XIX”.

Engana-se quem espera por totens de elegância nos episódios. Sem script, essas amigas de quatro décadas se permitem críticas afiadas, equívocos e até palavrões, diversificando as abordagens para chegar ao extraordinário, sempre sob o olhar atento dos internautas - a maioria fãs das trajetórias de ambas. Marilu é quem desmistifica, publicamente, a imagem resguardada por Costanza nas aparições pré-web. “Achavam que ela era uma esfinge. Descobriram que é gente”.

Morando em Asheville, Rita Hutchins faz vídeos sobre ioga, exercícios de memória, soluções para o envelhecimento e

B A C K S TA G E C O S TA N Z A & M A R I L U ©Isaac Niemand

Os acessos no primeiro ano (na verdade uma extensão do sucesso pessoal e profissional das protagonistas) resultaram em um impulso espetacular, com o programa sendo pescado pelo tradicional circuito de TV. Desde 14 de novembro, a nova temporada de “Costanza & Marilu” espera pelo espectador, com gotas de bom humor e dicas gerais, na Discovery Home&Health, que fez questão de manter a espontaneidade e a descontração originais. Igualmente afiada e instigante, a websérie Enjoy! , parceria da ex-editora da Vogue Brasil, Regina Guerreiro, com a marca paulistana Cavalera, vem garantindo sua longevidade ao arrebatar a new generation já no primeiro episódio, “A bolsa e a vida”, disponível no Youtube desde agosto. A sagacidade é a marca das abordagens, que, embora bastante didáticas, não poupam farpas e assuntos, dando voz a quem entende de tesouras, mas não se curva às da censura. Manifestação de um pensamento genuíno construído ao longo de meio século dedicado às revistas de moda, Enjoy! é para ser, de fato, desfrutada e digerida com prazer. Afinal, são doses de, no máximo, seis minutinhos...

EFT (Emotional Freedom Techniques), uma terapia que pode ser autoaplicada. As inscrições em seu canal online chegaram a nove mil e os acessos a 1 milhão e 300 mil, vindos de países como Brasil, Portugal, EUA, Inglaterra, Canadá, Japão, Austrália, Espanha, Alemanha e Índia. Ela recebe cerca de US$200 do Youtube, com propagandas adicionadas aos episódios, e consegue vender produtos, como um adesivo de silicone que elimina rugas do colo. “E ainda tenho grandes alegrias que chegam em comentários e agradecimentos. Fiquei mais de um ano sem fazer vídeos, mas os fãs nunca pararam de escrever e de se inscrever. Alguns sugerem livros e cursos, possibilidades que ainda não descartei”.

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MÚSICA

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dia necessária para decolar, com um dos mais prolíficos produtores da cena eletrônica atual. H E R C U L E S & L O V E A F FA I R – T H E FEAST OF THE BROKEN HEART (MOSHI MOSHI RECORDS – 2014) No terceiro trabalho da banda, o nova-iorquino Andy Butler dá sequência a um dos mais brilhantes projetos dos últimos tempos. Depois de dois discos aclamad os pela crítica e público, “The Feast Of The Broken Heart” mergulha na sonoridade dos anos 90, recriando o clima gay club house em dez faixas certeiras. Simples como as produções genuinamente noventistas, as bases ultradançantes com bpms altos tornam a audição do álbum tão dinâmica que os 44 minutos passam num piscar, deixando aquele gostinho de quero mais – e assim se faz um bom disco. Da abertura ao encerramento, se ouve um novo casting de vocalistas alinhados à proposta do álbum. Sem medo de ser feliz, o produtor aposta em novas vozes, como Rouge Mary, Krystle Warren e Gustaph, além do vozeirão grave de John Grant, – todos homossexuais –, o que demonstra, juntamente com as letras sobre amores e relacionamentos, uma nítida conexão com a cena gay daquele país. O nível da produção é muito homogêneo do começo ao fim, mas faixas como “My Offence”, “I Try To Talk To You”, “That’s Not Me” e “5:43 to Freedom” são, certamente, carros-chefes que encontram na última faixa, “The Key”, um encerramento diferenciado em um broken beat que mistura metais, TBs acid e ótimo vocal. “The Feast Of The Broken Heart” é um dos melhores lançamentos para as pistas de 2014, que encontra nas mãos Andy Butler a ousa-

S I N K A N E – M E A N L O V E ( D F A R E C O R D S – 2 0 1 4 ) Sinkane é a nova aposta da DFA Records. O cantor, que é um talento ainda pouco conhecido apesar de seus vários álbuns, é dono de uma voz afinadíssima e com um percurso que lhe acrescentou diversas influências. Nascido em Londres, viveu no Sudão e, em seguida, mudou-se para os EUA. Essa vivência lhe trouxe uma versatilidade que garantiu sua participação em outras bandas de sucesso, como Of Montreal e Caribou. Multi-instrumentista, o produtor traz esse ecletismo para o novo disco, “Mean Love”, com ritmos dançantes e outros diferentes moods que refletem a sua criatividade de mesclar estilos distintos - como afrobeats, funk, soul, rock e reggae - à música eletrônica. No quinto álbum solo, as três principais faixas - “How We Be”, “New Name” e “Hold Tight” representam apenas uma pequena amostra do caldeirão musical do artista. Com uma voz digna dos cantores de R&B, o álbum é de uma versatilidade e desapego aos padrões do mercado fonográfico. KASPER BJØRKE – AFTER FOREVER (HFN MUSIC RECORDS – 2014) Kasper Bjørke segue em sua discreta e brilhante carreira, em seu novo álbum de estúdio “After Forever”. Ao deixar para trás a sonoridade disco, o produtor mistura elementos de kraut e new wave, recriando um synth pop contemporâneo com contornos sóbrios e polidamente elegantes.

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A sonoridade espacialmente dark, hora low-fi, hora introspectivamente dançante, ganha brilho espetacular com as participações escolhidas para os vocais. A faixa de abertura “Rush”, com vocais de Tobias Buch, é uma das mais lindas canções do disco, introduzindo o ouvinte a um universo romântico de sensibilidade hipnotizante. O clima synth se reafirma nas faixas seguintes - “Sylvia”, “Marbled Blood”, “TNR” - com vocais do finlandês Jaakko Eino Kalevi, e a sequência “Grit”, com colaboração de Kurt Uenala, que também colabora com o Depeche Mode, parceiro de Kasper nas três faixas instrumentais ao longo do disco. O vocal melódico da transex nova-iorquina Nomi Ruiz - uma das estrelas em ascensão na cena eletrônica, lançada ao mundo pelo Hercules & Love Affair -, faz “Lies” ser, de longe, a faixa mais pop do disco, em uma canção de pegada synth, com ares sensuais. A dançante “Apart”, com vocais do trio islandês Sisy Ey, tem sonoridade 90’s com roupagem 80’s e demonstra o apreço do dinamarquês pelas fortes melodias. Para fechar o conceito do álbum, a foto da capa é um detalhe de uma obra do artista plástico americano John Copeland e traduz visualmente o universo de cores do disco que lança o produtor para fora de sua zona de conforto, experimentando novas sonoridades e posicionando o artista no hall seleto dos produtores que fazem arte. ©divulgação


CINEMA P o r

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tão gente como a gente - até porque levar a vida do jeito que se quer deveria ser a coisa mais natural do mundo. E talvez seja esse o grande encanto do filme, muito bem interpretado pela protagonista Pauline García.

Expoente do cinema latino, o Chile tem apresentado um bom momento na grande tela. Ganhou o Oscar de Filme Estrangeiro por “No” (sobre a campanha do NÃO, no plebiscito de Pinochet) e “Glória” merece destaque entre os títulos lançados recentemente pelo país. Nele, encontramos uma mulher madura, divorciada, com filhos já adultos, que não sucumbe ao papel que se espera dela. Sai para dançar em bailes da terceira idade, bebe, flerta por aí. E no outro dia, acorda cedo e vai trabalhar de ressaca.

O documentário “Libertem Angela Davis” narra a história da professora de filosofia e militante do Panteras Negras, Angela Davis, um dos maiores símbolos dos movimentos negro e feminista americanos. Davis sofreu um julgamento controverso e chegou a ser um dos dez “criminosos” mais procurados na América, devido ao seu ativismo. Seu julgamento chamou atenção do mundo todo e colocou em evidência a condição da mulher negra no seu país. Angela ganhou música dos Stones, Sweet Black Angel, e foi reverenciada por

John Lennon e Yoko. Apesar de ser de 2012, somente no final de 2014 o documentário chegou ao Brasil. Produzido por Will Smith, Jay Z e Jada Pinkett Smith. A produção franco-israelense, “O Julgamento de Viviane Amsalem”, chega em 2015 aos cinemas brasileiros - a luta de uma mulher em Israel que deseja divorciar-se do marido, mas não consegue. Num país onde não existe casamento civil, apenas o rabino pode conceder o casamento e terminá-lo, cabe ao marido, no entanto, essa decisão final. Viviane passa três anos num julgamento para encerrar essa parte de sua vida e poder recomeçar. O filme é a indicação de Israel ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 2015.

Glória não é particularmente amargurada, triste, frustrada, ou muito feliz, não há nada demais na sua vida. Aliás, ela não é, nem de longe, o padrão da mulher sexy, livre. E isso faz o filme ser bacana: o enredo é a vida dessa mulher tão comum,

©divulgação Imovision

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LIVROS

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M a g n o

F D E F E M I N I S M O Simone de Beauvoir é icônica na literatura feminista. Não há nada que ela tenha escrito que não tenha causado uma forte reação – para o bem ou para mal. Filósofa existencialista, era conhecida por viver como acreditava e escrever sobre suas experiências. Prestes a entrar na velhice, chegando aos 60 anos, ela escreveu “A Mulher Desiludida”. Não gosto muito dessa adaptação do título para o português, o mais próximo ao que de fato é descrito seria a versão em inglês “The Woman Destroyed”. Porque é disso mesmo que o livro trata: mulheres maduras destruídas em sua condição feminina. São três contos sobre mulheres em estágios da vida cruciais e o papel feminino que representam em suas escolhas, ou escolhas condicionadas por esse mesmo papel. O melhor conto é o último, que leva o nome do livro. Uma mulher que se dedicou à família, a cuidar do marido, agora se vê trocada por uma mais jovem. E ainda tenta manter o casamento a todo custo, porque a solidão e falhar no matrimônio, algo que a que foi destinada desde a mais tenra idade, é inadmissível. Dos três contos, o primeiro é considerado o mais autobiográfico. Em “A Idade da Descrição”, um casal de esquerda em crise pelas ideias conservadoras do filho revela o grande desencanto da autora com a idade e recepção de suas ideias, e de Sartre, no mundo. A antropóloga Mirian Goldenberg não nega a influência de Simone de Beauvoir no seu livro “A Bela Velhice”, que, aliás, remete diretamente à obra de Simone, “A Velhice”. Mirian, neste pequeno ensaio, escreve com leveza e fluidez sobre as mudanças de perspectivas que a idade avançada causa nas pessoas. Se Simone escreveu sobre a exclusão e invisibilidade da 3ª idade, Mirian busca o movimento oposto, incluir e enxergar o processo de envelhecimento como algo que depende de como se leva: criativo, amoroso e até mesmo bem livre, já que muitas vezes a chegada da velhice é uma forma de se libertar das preocupações e obrigações do cotidiano.

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A Bela Velhice Mirian Goldenberg Editora: Record 128 páginas A Mulher Desiludida Simone de Beauvoir Editora: Ediouro (Selo Nova Fronteira) 254 páginas


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P U B L I E D I TO R I A L

GASTRO NOMIA P o r D a n i S a r t o r i C o l a b o r o u c o m a s r e c e i t a s J o s é A l e x a n d r e A b r a m o

A COMIDA É CAPAZ DE DESPERTAR TODOS OS SENTIDOS. HÁ, INCLUSIVE, QUEM DEFENDA QUE UMA RECEITA PRIMOROSA DEVE TE ATRAIR PELO OLHAR, TE ENVOLVER PELO AROMA, TE DESAFIAR PELA TEXTURA E TE ENVOLVER PELA CROCÂNCIA, PARA, FINALMENTE, TE CONQUISTAR PELO SABOR. POR PARTES OU EM SUA TOTALIDADE,

E A SUA MAGIA NÃO FICA RESTRITA SÓ AO PALADAR. O

A COMIDA ESTÁ SEMPRE NOS ESTIMULANDO E NOS

PREPARO E AS TÉCNICAS TAMBÉM CONSERVAM SEUS

CONDUZINDO PARA AS ALEGRIAS DA BOA MESA.

ENCANTAMENTOS, CAPAZES DE SEDUZIR GREGOS E

TROIANOS. COMIDA É COISA SÉRIA. QUEM NUNCA OUVIU

SIM, PORQUE DE TODAS AS QUALIDADES DO ALIMENTO,

FALAR DE ALGUMA RECEITA SECRETA OU AFRODISÍACA?

TALVEZ SEJA ESTE O ATO MAIS NOTÁVEL QUE ELE

OU MESMO QUE A CONQUISTA PASSA PELO ESTÔMAGO?

CONSERVA: A HABILIDADE DE REUNIR PESSOAS E DE FAZER

VERDADE OU NÃO, NESTA ÚLTIMA AFIRMATIVA, CREIO

PARTE DE QUASE TODOS OS MOMENTOS DE CELEBRAÇÃO

QUE NÃO HÁ DIVERGÊNCIAS DE QUE O DOM DE

DA VIDA. UMA BOA FESTA, UM PEDIDO DE CASAMENTO

COZINHAR BEM SEJA UMA QUALIDADE E TANTO EM

EM UM RESTAURANTE ESPECIAL, UMA FESTIVIDADE EM

UMA PESSOA. MAS NÃO É SÓ ISSO. O OUTRO LADO

FAMÍLIA, UMA LEMBRANÇA DO ALMOÇO DA CASA DA AVÓ,

DA MESA TAMBÉM TEM SUA JUSTIFICATIVA, AFINAL, AS

UM BOTECO QUE PREPARA SEU QUITUTE FAVORITO. É SÓ

MELHORES PESSOAS SÃO AQUELAS QUE GOSTAM DE

PARAR PARA PENSAR E VOCÊ LOGO IRÁ CONCLUIR QUE,

COMER. E JÁ QUE É ASSIM, “ MANGIA CHE TE FA BENE” .

NESTA LISTA INFINITA, A COMIDA ESTÁ SEMPRE LÁ, COMO PROTAGONISTA OU COADJUVANTE DE BOAS HISTÓRIAS.

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ONDE ENCONTRAR E T I Q U E TA ALMEJAR BIJUTERIAS, Avenida Barão do Rio Branco 2365, (32)3217-7361, www.facebook/almejarbijuterias, Instagram: @almejarbijuterias; E-mail: almejarcentraljf@gmail.com AMOR EXPRESSO, Galeria Bruno Barbosa, lj 16, Centro, (32)3233-2655; www.amorexpresso.com.br BABY CHOCOLATE, Mister Shopping, Segundo Piso, lj, 22, Marcela (32)9935-0758; contato@babychocolate.com.br; www.babychocolate.com.br CARPE DIEM BOUTIQUE, Rua São Mateus, 369, São Mateus, (32)8406-1619, (32)99883712. CASA BORDÔ, Rua Braz Bernadino, 199, lj 122, Galeria Pátio Central, (32)3025-4271, (32)9951-1810; www.facebook/casabordo; sac@casabordo.com.br; comercial@casabordo.com.br CHILLI BEANS, Rua Barão de São João Nepomuceno, 325, (32)3216-9583; Independência Shopping, L1, (32)3214-2959. CORES & TENDÊNCIAS MODA ÍNTIMA, Rua São Mateus, 453, (32)8854-3854, www.facebook/coresetendencias, Instagram: @coresetendencias CRIS CRIA COISAS – Cristiane Goiatá (32) 3277-5292; (32)9128-6318; Loja Camarim, Avenida Presidente Itamar Franco, 996, (32)3082-5250; www.facebook/criscriacoisas, Instagram: @cristianegoiata DARLENE ALMEIDA ACESSÓRIOS, Praça São Mateus, Edifício Turmalina, 11, apto 103, (32)9116-0642, Agendamento de horário no ateliê. EMPÓRIO DA MODA, Rua Braz Bernadino, 105, lj 252, Braz Shopping, (32)9810-2692; www.facebook/emporiodamodajf; Instagram: @emporiodamodajf; E-mail: renatasales25@gmail.com ESPAÇO CIDIZ, Mister Shopping, Segundo Piso, lj 225, (32)3212-8759. ESSENCIALE SEMI JÓIAS, Atacado e Varejo, Escritório (32)3225-3940, Suely Farias (32)8828-5340; Leandro Aquino (32)8864-1406; www.facebook/suelyfariassousa GARAGE, Avenida Presidente Itamar Franco, 2545, São Mateus, (32)8898-7689; www.facebook/lojagarage IN HOUSE, Mister Shopping, Segundo Piso, lj 270; (32)3212-9970, (32)8884-407; E-mail: lojainhouse@gmail.com; www.facebook/lojainhouse ÍNDIAS DO BRASIL, (32)3212-7700; www.facebook/indiasdobrasil, Instagram: @indiasdobrasil INTERACT, Rua São Mateus, 262, São Mateus, (32)3232-3447; www.facebook/espacointeract ; Instagram: @espacointeract JULIANA STEVES ACESSÓRIOS, Rua Machado Sobrinho, 55, Alto Dos Passos, Valeska Boutique, (32) 8886-6928; Instagram: @julianastevesacessorios Facebook: Juliana Steves Acessórios. KETHER JÓIAS, Galeria Bruno Barbosa, lj 43, (32)3214-4713; E-mail:joiaskether@gmail.com KIKUCHI JÓIAS, Galeria Constança Valadares, 202, Centro, (32)3215-5759; Rua Marechal Deodoro, 242, Centro, (32)3216-9647. LOJA SUPER HEROES, Rua Espírito Santo, lj 924, Braz Shopping (32)3084-2948; www.superheroes.com.br; www.facebook/superheroes.com.br; Instagram: @superheroes MENINAS GERAIS, Rua Barão de São João Nepomuceno, 360, (32)3216-9600; Rua Barão de São João Nepomuceno, 207, (32)3211-8648; Rua São Mateus, 10, (32)3215-1012. MESTRE CUCA BACANA, Rua Padre João Emílio, 23, Alto dos Passos, (32)3217-7637; www.facebook/mestrecucabacana MOLEQUINHO BY ANA RIBEIRO, Santa Cruz Shopping, lj 1310, (32)3214-6708; e-mail: anaribeirocalcados@gmail.com; www.facebook/molequinhobyanaribeiro RISCO E RABISCO, (32)9915-1867, (32)3451-1392; www.riscoerabisco.com, Facebook.com/RiscoeRabisco, Instagram: @riscoerabiscooficial, E-mail: riscocriacoes@hotmail.com

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