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Racismo Ambiental

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Equipe

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Por Ítalo Stephan

O Instituto Pólis é uma organização da sociedade civil de atuação nacional, fundada em 1987. Essa organização noticiou, recentemente, sobre as mortes ocorridas em São Paulo, em função das últimas chuvas. Inspiro-me na notícia para comentar o fato, estendendo-o para tragédias parecidas (Bahia, Minas Gerais, Tocantins, Recife), que a cada ano, acometem outros lugares em todo o país, em situações semelhantes. Como informa o Pólis, “Essas mortes se repetem todos os anos em tragédias anunciadas que poderiam ser previstas e evitadas, mas que são esquecidas antes mesmo de soluções eficazes serem adotadas. ” Na notícia, consta que o presidente da república culpou as pessoas por morarem em lugares perigosos, marginalizados, sem infraestrutura, a realidade é que famílias inteiras têm sido arruinadas por não terem possibilidade de morar em locais seguros. Podemos perguntar o que os governantes têm feito para impedir tais ocupações. Essa pergunta pode ser estendida aos governantes anteriores, assim como aos prefeitos de agora ou de mandatos encerrados.

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A ausência do Estado e de políticas públicas de planejamento urbano e de habitação social adequadas nas nossas cidades obriga as pessoas de menor renda a viverem expostas ao risco em encostas íngremes ou nas margens de cursos d’água que não poderiam ser ocupados devido à sua instabilidade e ao impacto ambiental que causam. Segundo o Pólis, aquilo que chamam de fatalidade, na realidade, pode ser chamado de “racismo ambiental”. Diz a notícia: “Isso significa que pessoas marcadas racialmente são, também,as que mais morrem em consequência da crise climática. A chuva não é a responsável por situações como as que presenciamos”. Essa e as próximas gerações terão de conviver cada vez mais com eventos climáticos extremos, como o excesso de chuvas Vivemos em contínuo agravamento

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da situação devido à “toada exploratória dos recursos”, que ocorre com a conivência de todas as esferas do poder público, e “que atinge desproporcionalmente os que menos contribuem para isso e os que menos têm recursos financeiros ou tecnológicos para se adaptar às mudanças climáticas e às catástrofes ambientais”.

Portanto, a crise climática não é democrática, ela afeta desigualmente as classes sociais, os grupos sociais mais afetados (população pobre, negra, moradora de áreas precárias). Ainda segundo o Pólis, “essa convergência de desigualdades pode ser denominada como racismo ambiental. ” O Pólis identifica alguns termos que fazem parte desse conceito, como o “racismo climático” (interseção entre injustiça racial e injustiça ambiental), partindo do princípio de que as comunidades mais impactadas pelos efeitos da crise climática são, também, as que menos as provocam. Há o grupo de refugiados climáticos, formados pelas “pessoas que serão obrigadas a deixar o país em que vivem para fugir da miséria proporcionada por terras que serão devastadas pela crise climática”. Outro termo é o “apartheid climático”, em que, no “futuro, os territórios menos impactados pela crise climática serão os mais cobiçados”. Por fim, identifica a “gentrificação climática”, que é o acirramento de “uma realidade repleta de escassez, conflitos e catástrofes ambientais, pessoas ricas terão acesso privilegiado aos melhores territórios, resultando na expulsão dos moradores antigos”.

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