Série as crônicas de nick 03 infame

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Vá para a escola. Tire boas notas. Fique longe de problemas. Essa é a ordem para a maioria das crianças. Mas Nick Gautier não é o adolescente comum. Ele é um garoto com um destino que nem ele mesmo entende completamente. E seu primeiro mandamento é permanecer vivo enquanto todos, até mesmo seu próprio pai, tenta matá-lo. Ele aprendeu a aniquilar zumbis e ressuscitar os mortos, aprendeu adivinhação e clarividência, então por que aprender a dirigir é tão difícil? Mas dirigir não é a principal habilidade que ele tem que dominar. É sobreviver. E, para sobreviver, sua próxima lição faz com que todas as outras pareçam pálidas em comparação. Ele está à beira de se tornar o maior herói que a humanidade já conheceu. Ou ele será aquele que acabará com o mundo. Com novos e velhos inimigos reunindo forças ele terá que recorrer a cada parte de si mesmo para lutar ou perderá todos com os quais se importa. Inclusive ele mesmo...

Revisão Inicial: Thainara Revisão Final: Kátia PROJETO REVISORAS TRADUÇÕES

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Prólogo

Não é todo dia que você descobre que é o filho de um demônio feroz e que está destinado a destruir o mundo. Ou que o cara que você pensou que era o seu tio louco na verdade era seu eu no futuro tentando evitar, não só sua morte, mas também a morte do resto da população mundial... Literalmente. Apesar de tudo, para alguém de quatorze anos, Nick estava dirigindo a sua vida muito bem. Sim, não exatamente. Atordoado, em completo silêncio, coisa que raramente acontecia, Nick não conseguia respirar enquanto a realidade crua batia na cara. Com dureza. Sem piedade. Justamente ali, onde mais lhe doía. Bem, não fisicamente. Mas mentalmente sentia como se tivessem lhe esmagado as bolas contra o chão. A cabeça dava voltas em náuseas. Tentando agarrar-se a alguma coisa, segurou-se nas pedras quebradas na entrada do edifício de seu novo apartamento na Rua Bourbon onde geralmente se sentava. Ambrose seu eu futuro - estava parado à sua esquerda, olhando-o de cima, com um olhar de desprezo impiedoso. Como era possível que ele fosse Ambrose? Ou mais precisamente, Ambrose era no que ele poderia transformar-se... Como podia ser que ele, um menino normal que passeava pelas ruas de Nova Orleans, fosse a maldade personificada? Ele não se sentia como algo maligno. Geralmente, não sentia outra coisa a não ser estresse por causa da escola ou cansaço por causa das provocações contínuas de sua mãe desde a roupa que usava até o comprimento do seu cabelo, ou quanto tempo ele ficou acordado. Alguns dias era como se procurasse uma razão para estar zangada com ele. Cara, se ela soubesse esta verdade sobre ele, nunca deixaria de castigá-lo. Provavelmente o castigaria até que tivesse três mil ou quatro mil anos de idade. Sim, parecia algo impossível, inclusive para ele, até que o viu Ambrose parado ali à sua esquerda, com sua pose de duro de matar. Ambrose é meu eu do futuro. Ele olhou ao redor da Rua Bourbon onde seu novo apartamento estava localizado. Tudo estava da mesma forma. As calçadas quebradas que formavam o French Quartier. Os carros estacionados em ambos os lados da rua. A fila de casas que levava às lojas e restaurantes... 3


Mas nada era o mesmo. Acima de tudo, ele nunca mais seria o mesmo. Sou um demônio. — Não, não, não, — Nick repetiu em voz alta enquanto tentou encontrar alguma outra explicação. Uma que tivesse mais sentido e que não o tornasse apenas uma ferramenta para as forças mais obscuras do Universo. Infelizmente, não havia outra explicação. Nenhuma outra que fizesse sentido. Todas as que lhe ocorriam eram completamente absurdas. Ele. Nicholas Ambrosius Gautier, garoto das ruas, sarcástico. Um adolescente típico. Um guru dos jogos. Um fã obcecado de anime e mangá. Antissocial com as garotas de sua idade. Pura maldade. Merda, o diretor de sua escola esteve certo o tempo todo... Realmente era uma semente do mal. Pena que os Peters haviam comido os zumbis antes de saberem a verdade sobre a linhagem de Nick. O grande filho da puta teria ficado orgulhoso de estar com a razão. Nick realmente estava destinado a uma vida de destruição total. E embora quisesse, não podia negar isso. Ambrose tinha a mesma cor de olhos azuis e cabelos castanhos que ele. O mesmo gesto gozador que fazia quando algo o incomodava, o mesmo gesto que fazia quando sua mãe o castigava cada vez que o via. Mas que isso, Ambrose tinha uma cicatriz idêntica na palma de sua mão, a mesma que Xenon fez em Nick quando cortou sua mão para coletar seu sangue. Uma cicatriz que não havia na mão de Ambrose na última vez que o vira. Estou em uma merda de episódio de Zona de Crepúsculo. Tinha que ser assim. Nada mais fazia sentido. Então onde estava o locutor, dizendo ao público sobre como havia tomado o caminho errado para terminar em uma rua do subúrbio ou alguma merda como essa? Vamos, Rod Serling. Não me decepcione. Preciso que venha e me diga que estou em um pesadelo. Fale-me sobre essa nova dimensão de visão e audição. Mas não houve nenhuma prorrogação. Não nesta realidade distorcida. Nada que o liberasse do fato de ser o filho de um demônio odiado e perseguido... 4


— Sou um ser maligno. — Ele tentou aceitar e ainda assim não conseguia. Se isso fosse verdade como poderia ir à missa todo o tempo com sua mãe? Ele não deveria explodir em chamas quando a água benta o tocasse? Sentir que algo o queimava quando recebia a comunhão? Por falar nisso ele havia sido coroinha por anos. Mas nunca havia se sentido desconforto com nenhuma dessas coisas. A pior coisa que havia passado na Igreja foi quando o padre dormiu durante sua última confissão, o que lhe indicava como era aborrecida sua vida, antes de tudo isto. Sim, tudo bem, e depois houve a vez em que tinha tropeçado a caminho do altar e havia esparramado o incenso por todo o lugar. Mas isso não foi resultado de sua herança, a menos que herdasse a estupidez e o fato de que os sapatos tinham sido muito grandes para seus pés. — Sou um demônio —, Nick repetiu mais uma vez. Ambrose mudou o peso de sua perna e franziu o cenho ainda mais em um gesto aterrorizante. "Não, Nick. Somos seres malignos. Fomos criados para sermos soldados dos poderes mais obscuros." Ele disse isso da mesma forma que estivesse dizendo: Olha, o sol brilha. O cão do vizinho se está comendo seu saco de lixo outra vez. Cara, você está usando uma camisa horrível. Ah, e a propósito, você é um demônio em forma humana. Sim... Considerando a camisa havaiana brega que Nick estava usando, eles não encaixavam. — Então por que está tentando me ajudar? — ele perguntou a Ambrose. Ambrose respondeu: — Eu me pergunto isso todos os dias e não tenho uma resposta para isso. Parte de mim quer te dizer que se entregue a seu direito de nascimento e siga esse caminho. Que deixe que a maldade o guie e o leve ao reino das trevas para que seus inimigos te usem como quiserem. Deus sabe que brigar contra isso nunca me deu nenhuma paz ou conforto. Só uma úlcera gigante. Quer que seja honesto com você? Preocupar-me com os outros fez com que minha vida inteira fora uma merda, do principio ao fim. Quando você não preocupa com nada nem ninguém, nada pode te machucar. Quando você se preocupa... Seus inimigos o tinham agarrado pelas bolas. Ele já tinha aprendido a lição. Até agora... —Você não respondeu a minha pergunta. Ambrose suspirou. — Porque não tenho uma resposta, rapaz. Ao contrário do que você pensa, todos somos ratos em um labirinto. Ninguém sabe exatamente o que fazer. Por alguma 5


razão você dobrou à esquerda, mas não sabe se está indo na direção correta até que termine eletrocutado ou conseguindo o queijo. Quando você descobrir qual é a direção correta, já é muito tarde. Ou está morto, ou alimentado. Não há uma terceira opção. — Tenho que dizer que prefiro ser alimentado antes que morto. Ambrose riu com amargura. — Eu também. Em todo caso. — Ele olhou para o céu como se procurasse orientação divina. — Realmente espero não estar a ponto de cometer outro erro. — Ele esfregou a mão contra a testa como se tivesse uma terrível dor nesse lugar, e em seguida olhou fixamente para Nick. — Tudo bem. Vou dizer a verdade. Tudo. Para o bem ou para o mau. Vamos colocar as cartas na mesa e vejamos como estragamos as coisas desta vez. Vamos lá? Nick não tinha certeza de que isso se era algo bom ou não. Mas de qualquer forma, queria saber exatamente o que estava acontecendo e o que ele estava enfrentando. Ambrose o enfrentou. — Esta não é a primeira vez, mas certamente vai ser a última. Você, Nick, é a única esperança que tenho para acertar. Tentei fazer isso três vezes antes e cada uma delas foi pior que a outra. Quando comecei a mexer com nossas vidas, tinha mais humanidade em mim. Agora, quase a perdi tudo. Minha última tentativa queimou algo dentro de mim, e vou ser sincero, isso me assustou. E eu não me assusto. Jamais. Não depois de tudo o que passei. Mas o grau no qual já não me importa nada, é algo terrível. Às vezes quero que tudo termine. Porque quando isso acontecer, minha dor vai acabar e vou ter um pouco de paz. Finalmente. Vai ser uma merda para o resto. Mas como já lhe disse, cheguei ao ponto no qual já não ligo mais. Estou-me agarrando à minha humanidade, que pende em um fio mais fino ao qual ninguém imagina, e a qualquer momento vai se romper. Que Deus nos ajude quando isso acontecer. O calafrio desceu pelas costas do Nick. Ele não queria o sombrio e solitário futuro que Ambrose descrevia. Acima de tudo, ele não queria transformar-se no Ambrose. E embora ele fosse cínico e desconfiado por natureza, ainda existia uma parte dele que honestamente acreditava que as pessoas eram boas e decentes. A maioria deles, ao menos.

Ele olhou para Ambrose com rancor, enquanto digeria suas palavras. —Então por que eu deveria escutar algo que você me diga? Pelo que eu sei você está armando para mim para que possa conseguir finalmente sua paz e o fim do mundo... E o que quer dizer com isso de que já tentou três vezes? Como? — Esqueci-me de quão volátil era minha atenção durante minha juventude. — Ambrose balançou com a cabeça. — Não admira que Kyrian fosse tão brusco comigo. — Ele respirou profundamente antes de responder a pergunta de Nick. — Já orientei três Nicks diferentes antes de você. Quatro, se contarmos minha infância original. — Originaaaaal? — Ele arrastou a palavra enquanto esse pensamento se propagava em sua mente.

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Isso quer dizer que. . . Ambrose riu amargamente. — Minha vida foi um pouco diferente da tua. Não muito. Pequenas coisas. Mas são essas pequenas coisas as que podem fazer uma grande diferencia no que acontece depois. Sim, isso era exatamente o que ele suspeitava. E para falar a verdade, isso o apavorava. Nunca subestime a capacidade que tem um homem de estragar os planos mais perfeitos — essa era uma das frases favoritas de seu amigo. — Como o quê? — perguntou Nick. — Na primeira tentativa que fiz em corrigir o passado, fiz com que Nick contasse à nossa mãe sobre o mundo dos Dark Hunters quando ele foi arrastado para isso. — Ele estremeceu como se a lembrança fosse insuportável. — Realmente pensei que era a melhor solução. De verdade, sempre disse a mim mesmo, durante todos estes anos, que se ao menos ela soubesse do mundo paranormal, ela poderia ter se cuidado e não... — Ele cortou a frase e olhou para baixo. Então ele voltou-se para olhar Nick. — Mas ela não soube lidar com isso, também não acreditou, foi um desastre total. Por causa do nosso pai, ela pensou que era um defeito mental - esquizofrenia para ser preciso. Esse primeiro Nick terminou medicado e em um asilo sem ninguém para protegê-lo de nossos inimigos. Ainda tenho cicatrizes pelo que fizeram a ele. Pior, sem nós vivendo em casa, mamãe nunca parou de trabalhar no clube e ela foi morta, baleada durante um assalto. Nick sentiu vontade de vomitar apenas ao pensar nisso. —Sério? Ambrose concordou. —Não há nada que se compare a ver as diferentes consequências que se manifestam diante seus olhos e que em seguida, ao vivo, em sua memória. Agora entendo por que Savitar fica sentado em sua Ilha, longe de tudo. —Quem? — Nick nunca havia escutado falar dessa pessoa. —Savitar? —Um ser que você conhecerá um dia. Por agora, não é importante. Apenas lembre que não você não pode falar com sua mãe sobre nada isso. Ela não quer saber e ela nunca aceitará que teve um filho com um demônio. E quem poderia culpá-la por isso? Pessoalmente, eu não podia pensar em nenhuma mulher que recebesse essa notícia com alegria. — Ei, querida, adivinha? O filho que você carregou em seu ventre por nove meses e por quem sacrificou sua vida e dignidade para criar está destinado a destruir o mundo. Você não está orgulhosa? Sim, isso certamente não iria funcionar. Bem, então ele não contou à sua mãe sobre si mesmo, sobre seu pai ou seu chefe Dark Hunter, Kyrian. Para falar a verdade ele havia tentado a deixá-la saber por que Kyrian era tão diferente, por que trabalhava tão tarde de noite e não saía durante o dia. Mas toda vez que pensava em fazer isso, suas entranhas o tinham mantido calado. 7


Ponto para suas entranhas. Pena que seu cérebro não fosse tão inteligente. Pela mesma razão que Ambrose o tinha dito, ele teve medo sobre como reagiria sua mãe. Havia momentos em que sentia que sua mãe apenas procurava razões para interná-lo em um hospício. Como se temesse que se transformar-se em alguém como seu pai e estivesse com expectativa de que algum sintoma confirmasse que ele era igualmente violento e sinistro, e então pudesse prendê-lo por isso, antes que fosse muito tarde e machucasse alguém. — O que aconteceu com suas outras tentativas? — Com a seguinte, fomos apanhados no Reino das Trevas aos dezessete anos onde... — Sua voz quebrou e ele estremeceu visivelmente como se a lembrança fosse pior que a anterior. — Faça o que quiser garoto, mas fique longe de Azmodea. Não acredite em nenhum demônio que te diga como você é bom. Porque para você, não é, e eu não posso forçar o suficiente, que é muito ruim para você. O que quer que faça, evite as criaturas Azura e Noir. Lá somente te espera a escravidão. Uma escravidão tão brutal, que você não pode nem imaginar. Isso daria pesadelos até a Quentin Tarantino. Isso era um pensamento terrível e ele levou muito a sério a advertência que Ambrose lhe fez. — Nunca escutei nada sobre esse lugar, mas vou adicionar a minha lista de não fazer sob nenhuma circunstância. — Como comer brócolis, lavar a roupa, e alimentar ao cão do Mark, que em realidade era um jacaré de quatro metros com uma atitude desagradável e um gosto por carne Cajun — E o Nick depois desse? Ele expirou lentamente. — É suficiente para eu dizer que também não se saiu bem. — Em que sentido? Ambrose o olhou com a sobrancelha levantada. —Eu sou você, Nick. Confie em mim quando disser que você não quer saber, e deixemos por isso mesmo. Há algumas lembranças que ninguém precisa ter. E daria qualquer coisa para purgá-la. — Sim, mas se me conheces, então você sabe que... — Nick! Ah, ele odiava esse tom exasperado que os adultos tinham. Bem. Seja o que for. Não ia pressioná-lo com o tema. Havia muitas outras perguntas para fazer. E temia a resposta de sua próxima pergunta, mas teria que saber. —E comigo? Como estão indo as coisas em comparação aos outros? Por favor, não me adicione à lista de pesadelos. Ele queria que sua vida fosse a melhor, não a pior.

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— É diferente desta vez também. Mas de uma forma original. Algumas coisas são iguais, e outras... — Dirá algumas dessas coisas? — disse-lhe Nick ao ver que ele não continuou. Ambrose fez uma pausa em seu andar nervoso diante da entrada da casa de Nick. — Você já sabe sobre os Dark Hunters e os escudeiros. Eu não sabia sobre eles até que me formei no ensino médio. Você conheceu Simi aos quatorze. Em meu passado original, eu a conheci antes que eu me tornasse um Dark Hunter. Nick perdeu o fôlego diante dessa notícia inesperada que o atingiu como uma bomba. —Eu me tornei um Dark Hunter como Kyrian? Ambrose concordou. Isso não era bom. Os pensamentos formavam um redemoinho em sua cabeça. Os Dark Hunters eram guerreiros imortais que protegiam a humanidade do mal sobrenatural que os cercava. Enquanto cada Dark Hunter vinha de uma cultura e tempo diferente, a única coisa que os unia era que algo horrível havia acontecido a eles. Algo tão ruim que eles venderam sua alma à Deusa Artemis por um único ato de vingança contra quem os o haviam machucado. Nick não tinha certeza de que queria saber se o que tinha acontecido a ele foi tão terrível que ele poderia fazer uma coisa dessas, especialmente se ele não poderia ver acontecendo. Ou se não ia poder detê-lo. —Você foi baleado na noite que conheceu Kyrian? Ambrose concordou. —Nada sobre este evento mudou. As consequências foram as mesmas para você, para mim e para os outros. Por alguma razão esse evento é o eixo central e nunca muda. É o que acontece depois disso que segue em diferentes direções. Nick deixou que isso chacoalhasse na sua cabeça? O que seria pior que um amigo que atirasse em você? Ou seja, sim, ele queria vingança contra Alan e Tyree por causa isso, mas não tanto a ponto de vender sua alma para conseguir essa vingança. Então, provavelmente, não foi ele quem morreu. Quem mais faria parte de sua vida nos próximos anos que ele chegaria a se importar tanto? Uma namorada? Uma esposa? Estaria casado então? Possivelmente, ele supôs. Foi a traição de sua esposa que tinha feito de Kyrian um Dark Hunter. Talon tornou-se um Dark Hunter depois que sua esposa morrera e sua irmã fora assassinada. 9


A quem vou perder? Sem querer pensar nisso agora, ele continuou fazendo perguntas a Ambrose. —Que mais será diferente? —Você também já conheceu Tabitha Deveraux — Um sorriso surgiu na curva de seus lábios, o que fez Nick perguntar-se o que o havia causado. — Eu não a conheci até que tivesse saído do colégio e já estivesse trabalhando para Kyrian. Mas a mudança que mais nos afetou foi quando meu pai morreu quando eu tinha onze anos. Nick franziu o cenho. —Meu pai, ainda está na prisão. E está vivo tão quanto me disseram. —Sim, esta é a primeira vez que isso acontece. Gostaria de saber por quê. Ele deveria estar morto a estas alturas. Porque não está, isso faz com que seus inimigos o encontrem mais cedo do que deveria. Nick definitivamente não gostou disso. — O que quer dizer? — O que quero dizer é que atualmente existem dois Malachai usando seus poderes aqui em Nova Orleans, você e nosso pai, e somente deveria existir um por geração. Uma vez que nasce um novo Malachai e atinge a puberdade, o outro morre, de forma violenta... Geralmente é assim que... — Você está me dizendo que se em algum momento eu tiver um filho, ele vai me matar quando crescer? Um sorriso cruel se formou na boca do Ambrose. — Você pode ter filhos, mas é como jogar roleta russa. Se eles não herdarem seus poderes, a parte humana não consegue lidar com seu sangue de Demônio Malachai e eles morrem na idade de dez anos. Se ele chegar aos dez anos e continuar vivo, esse é o que vai substituí-lo. Isso explica muito sobre a atitude que seu pai tinha para com ele. Não admira que ele o odiasse tanto. — Ou seja, eu vou morrer em torno do seu aniversário de dez anos? Ambrose tocou o nariz sarcasticamente para avisar que Nick estava correto. — Foi assim que sempre funcionou no passado. Uma das coisas a nosso respeito... Até usarmos nossos poderes, somos invisíveis a quase todos os outros deuses e criaturas sobrenaturais. Se tentarem ver nosso futuro, eles vêem um que parece humano. Filhos, netos, todo o pacote. Não há forma de saber quem e o que somos até que evoluímos e provamos nossos poderes. Mas a única coisa que sempre foi verdadeira é que somente pode haver um demônio Malachai com plenos poderes por geração. — Por quê?

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— Foi um trato que fizemos depois do Primus Bellum - a primeira grande guerra entre deuses. Ambos os lados se comprometeram a se desfazerem de seus soldados. Nick fez um gesto de horror diante do que certamente era um eufemismo para ele. — Pediram-lhes que os matassem? Ambrose assentiu. — Mas o comandante de cada lado foi poupado. Um Malachai. Um Sephiroth. Eles existem pelo equilíbrio e enquanto dure a trégua, não pode haver mais de um. — Então o que mudou? — Não faço ideia. Com a sorte que temos, ao voltar ao passado como um Malachai, eu estraguei tudo a ponto de não poder voltar atrás. É a única alternativa que me ocorre. Mas como você não tem poderes, entretanto, não pensei que isso seria um problema. Seja qual for a causa, alguma aqui está fora de sincronia e ninguém sabe o que é. Tudo o que sabemos com certeza é que seu poder está concentrado em Adarian. Então enquanto seu pai vive há uma recompensa cósmica por sua cabeça tão exorbitante que chega a ser desconcertante. —Por quê? — perguntou Nick. — Porque quem quer que o mate, levará seus poderes como bônus. Esta é a razão pela qual você está no pior tipo de perigo que eu posso imaginar. Ninguém, exceto você, pode matar Adarian, então ninguém tentará vir em seu socorro. O que significava que estava oficialmente aberta a temporada de caça ao Nick. — Se eu morrer, meu pai pode ter outro filho? — Você não precisa morrer para isso. Ele pode ter outro filho em qualquer momento, mas apenas um de vocês pode ter os poderes do Malachai e só um viverá até a idade adulta... essa é a teoria, de qualquer forma. Entretanto, a morte não é o pior medo que você deve ter garoto. Há muitas outras coisas que são muito piores, e essas coisas estão te perseguindo agora. Você não pode confiar em ninguém, exceto em mim. Eu sou o único que realmente o protege. — Você me disse que eu podia confiar em Kyrian. — Você pode confiar nele. É um bom homem, mas não é suficientemente forte para lutar contra o que está vindo para você. Ninguém tem poderes suficientes, exceto você. Isso inflamou a raiva de Nick, ao lembrar-se de quando Ambrose o tinha deixado sozinho para enfrentar a um demônio, quando o idiota poderia tê-lo ajudado. — E você não vai me ajudar? — Não posso.

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— Sim, claro. Corrija-me se eu estiver errado, mas você não está fodendo as leis cósmicas somente por estar aqui? — Isto não tem nada que ver com as leis cósmicas. É sobre sobrevivência. Nossa sobrevivência mútua, e salvar as pessoas que amamos mais que salvar a nós mesmos. —Então me ajude. —É o que estou fazendo. Nick ficou aterrorizado com essa resposta tão simples. Ficar no banco não era ajudar. Ele precisava de um companheiro de equipe, não a um observador. —E me ajuda fazendo nada? — Exatamente. Se eu usar meus poderes para lutar aqui, serão três Malachai usando seus poderes em um só lugar. Mesmo você sabe o que isso significa. Sim, triangulação. Com três pontos, qualquer coisa pode ser localizada. Ambrose deu-lhe um olhar estranho. — Você não quer que eu faça isso, não é? Isso era verdade, mas queria dizer que ia ter que fazer isto sozinho, e ele não estava aprendendo as coisas o suficientemente rápido. Acima de tudo, significava que ele teria um alvo gigante nas costas. — Cara isso é tão confuso. — Bem-vindo à nossa vida — disse Ambrose com amargura. —Sim, bom, sem querer ofender, você pode pegá-la e metê-la onde o sol não brilha — Nick zombou com desgosto enquanto digeria tudo o que Ambrose estava dizendo. — E como sei que você não está mentindo? Você me disse para confiar em você, mas a confiança é conquistada, não exigida, e acho que você não tem o suficiente para dá-la. Ambrose o agarrou pela frente da camisa e o subiu até a entrada de sua casa. —Escuta aqui, seu sacana — ele gritou na sua cara. — Eu te Odeio. Você entendeu? Eu te odeio com tanta força que meu ódio brilha mais que a estrela mais quente no universo. Se eu pudesse, te arrancaria a garganta e terminaria tudo neste momento. Mas tudo o que sei é que se ambos morrermos, algo muito pior que nós vai tomar nosso lugar e a pequena quantidade de pessoas às que ainda amo vão sofrer uma agonia inimaginável. E não posso deixar que isso ocorra. Mesmo que isso signifique que tenha que te aguentar um pouco mais. Nós, que nascemos para acabar o mundo, somos a única esperança que há para salvá-lo. Nick tentou se libertar, mas era impossível. — Isso não faz sentido. Ambrose deu-lhe um empurrão. — Você diz isso para mim...mas isso é o que somos. Posso guiá-lo e aconselhá-lo. Isso é tudo. Posso te dizer onde e como eu estraguei tudo e onde os outros Nicks erraram, mas você vai ter que viver esta vida e... 12


—Estou tão confuso. Como pode se lembrar de tudo? Minhas ações não afetam você? Ambrose riu. — Meus poderes são infinitos e vão muito além da sua compreensão. Alguns dias, vão inclusive além da minha. Mas esse que me deixa voltar para passado e falar com você, eu pedi emprestado. E tive que me esforçar muito para consegui-lo. O demônio me deu três oportunidades para corrigir o passado. Quando falhei, veio atrás de mim, eu o matei e bebi seu sangue. Isso é o que me deixa ajudá-lo agora. Quando já não tiver mais do seu sangue... é por isso que nem sempre posso voltar para salvá-lo, você estará por sua conta e eu não me lembro de alguma vez ter voltado a mudar o passado. O que quer que você faça, será minha última memória e o resto se irá embora para sempre. — Cara, isso é tão confuso. Você bebe sangue? Ambrose o olhou irritado. — Essa é a conclusão que tirou de tudo o que acabo de lhe dizer? — Não, mas isso é tão asqueroso. Como pode tomar o sangue de alguém? — Nick estremeceu de repulsa — Deus, não posso acreditar que vou ser tão asqueroso. — Filho, você vai fazer muito mais que isso antes que se tudo seja dito e feito. Nick fez barulhos de engasgos. Ambrose amaldiçoou. Sua expressão dizia que ele estava imaginando o pescoço de Nick em suas mãos e seus olhos saindo das cavidades enquanto o enforcava até deixá-lo sem vida. — Não acredito que meu futuro está em suas mãos. Essa frase foi inesperada e o irritou. — Sim, bem, pelo que acaba de dizer, não é como se você tivesse feito isso muito melhor. Não posso acreditar que meu futuro seja me transformar em uma coisa como você. Falando de desilusões. Sabe, eu tinha planos. Eu ia ser advogado. Fazer algo de bom no mundo. Não me transformar em... — ele fez um gesto para mostrar Ambrose — algum babaca egocêntrico. Sua expressão ficou ainda mais fria. —Se eu fosse um egocêntrico, não estaria aqui. Mas é fácil para você me julgar. Você não foi traído... ainda. — Isso não é verdade. Meus melhores amigos me atacaram. — Alan, Tyree e o resto da turma? Isso não foi uma traição, garoto. No fundo você já sabia quem eles eram. Sabia o que eram quando se juntou a eles. Sabia o que esperar. Não se pode culpar uma serpente por mordê-lo quando está na natureza da víbora fazer isso. Ambrose o encarou. — Não, Nick. Estou falando de traição real. Do tipo que você não esperava. Do tipo que o atira ao chão e te chuta os dentes, e arruína sua vida para sempre. Do 13


tipo que fica com você por décadas. Quando isso ocorrer você vai considerar que o que Alan te fez foi um favor. Você está na rua em um momento no qual foi na direção errada, e fez realidade o sonho de sua mãe. Sua mãe. Um mau pressentimento passou por Nick enquanto tudo em sua cabeça fazia clique. Outra epifania que lhe dava um chute nas bolas. Embora Ambrose parecesse cansado, ele não era tão velho. Provavelmente nem sequer tinha a idade de seu amigo Mark, e definitivamente não era tão velho como sua mãe, que tinha apenas vinte e oito anos. Em menos de dez anos, me tornarei um Dark Hunter. Havia apenas um coisa que podia pensar que o faria fazer algo tão drástico nesse período de tempo. —Mamãe morre. Não é? É por isso que você se tornou um Dark Hunter, não é? Nesse instante, os olhos de Ambrose mudaram de azul para a mesma cor negra dos de Kyrian. O vento levantou seu sobretudo e jogou seu cabelo no rosto. Um duplo arco e flecha a marca de um Dark Hunter - apareceu em sua bochecha e suas presas reluziram na escassa luz do entardecer. Os Dark Hunters morrem à luz do sol. Mas não Ambrose. Como podia estar fora, na rua quando isso era algo impossível? Como era possível que pudesse esconder suas características de Dark Hunter? O vento enviou a Nick um calafrio que desceu pelas costas e chegou até a alma. — Por você, — Ambrose zombou dessas palavras — por sua estupidez, sua mãe, Bubba, Mark e os outros próximos a você... mortes horríveis. Essa é a paisagem que estamos tentando de repintar. E se desta vez falhar, acabou-se. Para todos nós.

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CAPÍTULO 1

Se bater a cabeça contra a parede queimasse cento e cinquenta calorias como os diziam, então Nick teria desaparecido. Porque nestes últimos dias ele bateu a cabeça contra a parede tantas vezes que deveria haver uma contusão a estas alturas. — Mamãe, por favor? — Já disse que não, e é definitivo. Você é muito jovem para ter um encontro. Aos quinze anos? Muito novo? Desde quando se era muito jovem para ter um encontro aos quinze anos? Se não soubesse como eram as coisas, juraria que ela era uma antiquada. Pior, Kyrian teria a mente mais aberta e ele realmente era da idade de pedra, ou da idade de ferro, ou de alguma dessas idades aborrecidas que tratavam de lhe ensinar na escola. Esse homem realmente teria tido encontros em uma carruagem? Nick teve que parar antes de revirar seus olhos — seria como jogar gasolina em uma fogueira enquanto usava roupa empapada de querosene quando sua mamãe estava com esse humor. Sou suficientemente grande para combater até a morte com demônios e zumbis, parar um apocalipse, lutar com a Morte todos os dias, e ter dois empregos, mas não posso ir me encontrar com uma garota para ver um filme? Sim, claro, porque isso fazia muito sentido. Ele suspirou irritado. —Sou um ano mais velho do que você quando me teve. Ela estreitou seus pequenos e redondos olhos azuis e levantou seu queixo para olhá-lo nos olhos. Ele ainda não tinha se acostumado a olhar a sua mãe do alto, que apenas chegava à metade do seu peito por esses dias. O fato de que alguém tão incrivelmente pequena pudesse intimidá-lo com nada mais que um cenho franzido não fazia com que ele se sentisse bem. Mas independentemente das discussões e das diferenças de opiniões, ele amava a sua mãe e não faria nada para magoá-la, ou aos seus sentimentos. Essa era a razão pela qual ela o intimidava com um simples olhar. Sou um covarde. — Esse é exatamente o meu ponto, Nick. Você percebe em que tipo de problemas pode se meter? Está preparado para ser pai aos quinze? Não, não acredito que esteja. Nem sequer pode se lembrar de tirar o lixo se não lhe recordar isso pelo menos três vezes ao dia. Que, para sua informação, é a quantidade de vezes ao dia que um menino exige comida. 15


Não que ele precisasse que o lembrassem, mas odiava ter que fazer isso e mantinha a esperança de que ela se esquecesse. Mas melhor não mencionar isso. Isso o deixaria com muitos mais problemas. Então se concentrou em atacar seu primeiro argumento. —Tecnicamente, se engravidasse uma garota agora, teria dezesseis anos quando o bebê nascesse. Torcendo o cabelo em um rabo, ela olhou para ele com fúria. — Isso não é engraçado, Nick. Como se atreve a fazer piada com isso? Não estou me divertindo. — Bom, pessoalmente, acho que você fez um grande trabalho comigo, mãe. E isso sem nenhum tipo de ajuda. Não sei por que você está se queixando. Ela colocou as mãos em seus quadris e olhou para ele com fúria. —E você está tentando me distrair com adulações. Não vai funcionar. Não pode sair com uma garota até que dirija, e ponto final. Esse era outro tema delicado para ele. —Mas eu vivo pedindo que você me ensine. —Em meu carro novo? Jamais. É o único zero quilômetro que tive e é o único que temos. Se você o bater, não temos forma de evacuar durante a temporada de furacões. Nick resmungou baixo. Tinha dinheiro mais que suficiente na poupança para comprar um carro, mas pela idade que tinha não podia assinar para comprar um e sua mãe se recusava a fazer isso por ele. Esse dinheiro é para a universidade, não para um carro que você não precisa. Não há nenhum lugar em que tenha que ir que seus pés ou um ônibus não possam levá-lo. Ah! Sua mãe era tão frustrante e em tantos níveis. Ele lhe fez uma pose carrancuda. —Então basicamente, nunca vou aprender a dirigir, e em consequência disso nunca vou ter um encontro. Ela sorriu com orgulho antes de virar-se para procurar seus sapatos em seu quarto. — Agora você entendeu como são as coisas, menino. Ele zombou de suas palavras. Até que ela virou-se de repente para enfrentá-lo como se soubesse o que estava fazendo. Nick deu- lhe seu sorriso mais encantador. —Por favor, mamãe. Todos na minha sala têm encontros. Inclusive Madaug... — E? — ... Se todos se atirassem de um trem você também se atiraria? Perguntou Nick em um falsete antes que ela tivesse a chance de dizer. 16


E, isso fez com que ele ganhasse outro olhar hostil. — Não brinque comigo, garoto. — Perdão. Ela calçou seus sapatos. — Não, você não está pedindo perdão de verdade. Mas se voltar a fazer isso vai lamentar — Ela se endireitou — Agora vou para o trabalho. Volto por volta de meia-noite . Vai irá ao Hallowen que a escola está patrocinando? Nick disse em tom de brincadeira. — Sim, claro, mamãe. É exatamente o que tenho vontade de fazer. Molhar as calças na frente de todos os meus colegas e gritar como uma garota. Essa é mais uma tentativa sua para assegurar-se de que eu não tenha um encontro enquanto viver. Não é verdade? Ele poderia dizer, pela forma que seus lábios franziram que ela não queria rir de seu comentário. No final, ela não conseguiu ficar séria e riu. — Você é terrível. Ela lhe deu um beijo na bochecha, e bagunçou seu cabelo. — Fique bem, volto em um momento. Ela abriu a porta, e depois deu um grito. Nick preparou-se para brigar contra qualquer coisa que estivesse lá fora. Até que sua mãe recuou, rindo. — Por Deus Sr. Grim, você me fez perder dez anos de vida com esse susto. Nick não me disse que seu tutor vinha esta noite — Ela olhou para ele com censura, mas Nick também estava surpreso pela aparição de Grim tanto quanto ela. Mas como eles estavam lutando com a Morte, ele não reagiu. Como sempre, a Morte chegava quando menos se esperava. Quando ela queria vir. — Na próxima me avise se for possível que teremos companhia — sorrindo, ela passou ao lado de Grim — Que tenham boa noite. Desculpem, tenho que ir voando ou vou chegar tarde ao trabalho. Grim fechou a porta depois que ela se foi. Para Nick, ele se parecia com qualquer outro homem jovem, no final de sua adolescência, talvez em seus vinte anos, com cabelo loiro escuro, despenteado e olhos cinza, vestido com uma jaqueta de capuz preta que tinha uma caveira e ossos nas costas. Mas Grim Reaper poderia projetar para os outros o que ele queria que eles vissem. Foi por isso que a mãe de Nick o viu como uma pessoa de trinta. Alguém que era respeitável. Ela literalmente morreria se soubesse que tinha deixado entrar um Grim Reaper em sua casa.

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Rindo, Grim virou-se para encarar Nick. — Sua mãe é tão ingênua que me mata. É o que adoro dela. A maioria das pessoas, embora não podem ver minha forma verdadeira, sentem-se incomodadas em minha presença. Mas sua mãe não. Ela honestamente acredita que sou humano. Isso não tem preço. —Sim — E essa era uma das coisas com que Nick mais se preocupava. Ela precisava de qualquer tipo de habilidade para sentir o sobrenatural — Ela ainda acha que Kyrian é traficante de drogas. Nem imagina os sermões que me dá por trabalhar para ele. A morte franziu a boca. —Não fale no seu chefe. Irrita-me pessoas que enganam a morte. Odeio todo essa coisa da Artemis fazê-los voltar da morte. Realmente, não deveria haver nenhuma alternativa. Nick evitou mencionar o fato de que um dia, ele seria outro a enganar Grim. Esse dia deveria ser interessante, dada à sua relação. —E como é que Artemis pode fazer isso? Grim zombou. — Sim claro, porque sou o suficientemente burro para dizer isso a um Malachai. Tenho a palavra estúpido tatuada na minha testa? Sendo o suficientemente sábio para responder com sarcasmo à morte, — só um tolo desafiaria a Morte — Nick coçou a nuca. Grim, que era extremamente obsessivo compulsivo em relação aos germes, meteu as mãos nos bolsos e aproximou-se de Nick. —Então... Como está meu discípulo menos favorito? —Ainda não estou morto. —Sim, infelizmente — Grim suspirou pesadamente – Uma pena. Continuo esperando que algo te pegue e não te deixe ir, mas não tenho tanta sorte... Ainda. —Eu também te amo Grim. Eu adoro nossas pequenas reuniões. — Tenho certeza de que você gosta tanto quanto eu. Se, em sua lista de coisas favoritas, estava cabeça a cabeça com um tratamento de canal e a amputação. Sem fazer comentários, Nick foi procurar sua caixa de “brinquedos” para sua lição, mas Grim o parou. — Vamos deixar a adivinhação por um tempo. Acho que você já aprendeu quase tudo o que tem a ver com isso. Nick discutiria isso, já que a última vez que tentou usar seu pêndulo, o golpe quase lhe tirara o olho. A ponta de seu nariz ainda estava machucada e isso havia sido uma semana atrás. Quanto ao resto, ele ia e vinha sem tom e sem som. Mas sempre tinha vontade de aprender algo novo. —Que vamos fazer então? — Silkspeech. 18


Nick arqueou sua sobrancelha para o termo que ele não entendia. —Vou aprender a falar com tecidos. Uau. Um poder incrível, Grim. Exatamente o que sempre quis fazer. Mal posso esperar. Grim grunhiu exasperado para o sarcasmo do Nick. —Dói-me tanto saber que eu não posso matá-lo. —Sim, bom. O que quer que diga? Nem todos conseguem irrita a morte e viver para contar. Eu adoro o papel que exerço em sua vida. Grim disse algo baixo que soou como uma ameaça. —Silkspeech é o poder para influenciar e controlar. Ah, isso parecia com um poder que realmente se poderia aproveitar. Finalmente, um poder que valeria a pena ter. —Influenciar? —A habilidade de fazer com que as pessoas acreditarem no que você quer que elas acreditem. —Algo como controle da mente? —Sim e não. O controle mental não funciona com aqueles que são realmente teimosos. Você sabe...criaturas como você. Bom, só se funcionasse por algum tempo — Então de que me serve? —Bom — Grim se dirigiu para a porta — Se você não quer aprendê-lo... —Espere, espere, espere. Eu não disse isso. Quero aprender a influenciar os outros — Especialmente se isso poderia mudar um pouco a atitude de sua mãe a respeito de ter encontros, de dirigir, as tarefas da casa... Sim, havia muitas possibilidades. Com sorte, talvez nem tenha que tirar o lixo outra vez! Grim virou-se lentamente. — Um conselho, garoto: quando usar este poder você tem que tomar cuidado. Como todos os outros poderes, esse às vezes tem um terrível efeito secundário. —Como o que? —Poderia fazer alguém se suicidar. Alterar seu destino. Causar um impacto de forma que jamais suspeitaria até que seja tarde demais.

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Ah, bom. Outro poder no qual não podia confiar. Justamente o que queria. Neste ritmo não estava seguro do por que estava sendo treinando. Era como dar pão a quem não tem dentes. Nick suspirou pesadamente. —Tenho todos estes poderes e o único que funciona é a habilidade de pedir ajuda, e esse somente funciona se Caleb não está no chuveiro ou com alguma mulher. Por que um poder não pode... Somente um poder, que funcione como tem que funcionar? A expressão de Grim era fria e perversa. —Tecnicamente, funcionam. O problema é que todos os seres humanos são diferentes e reagem ao estímulo de formas singulares. É por isso que você não é confiável e é o que faz com que seus poderes parecem falhar. Antes de usá-los, tem que conhecê-los. Nick franziu o cenho. — Não entendo. —Sei que não entende. Você tem o instinto e é por isso que fica perto de determinadas pessoas e saí correndo de outras — Grim levantou uma das bonecas de porcelana que a mãe de Nick colecionava e a estudou enquanto falavam — Tomemos como exemplo a palavra — Redneck — “Caipira”. Algumas pessoas pensam nisso como um distintivo de honra. Outros tomam como o pior insulto possível — Ele devolveu a boneca para sua prateleira — Originalmente, a palavra tinha um significado completamente diferente. Naquela época, caipiras eram os trabalhadores sindicalizados das minas na Pensilvânia, Virginia do oeste e a parte leste de Kentucky, bastante longe do sul onde a maioria das pessoas pensa que vivem os rednecks. Eram de todo tipo de raças e credos, e usavam um lenço vermelho ao redor de seus pescoços, com orgulho. Era uma forma de identificar-se, e uma marca de solidariedade dos trabalhadores que se enfrentavam às grandes corporações que os exploravam. Em resumo, eram heróis, gente admirada. Nick arregalou os olhos. Quando Grim e Kyrian falavam de história, era interessante. Quando seu professor falava, ele queria dormir — Sério? Grim assentiu. — Ele levou décadas para transformar-se em um termo depreciativo. Acontece muito com a linguagem. A palavra “guerra” antes significava cautela, algo como “aviso”. “Precoce” originalmente significava estúpido. Mas estou divagando. A questão principal, magrelo, é que as pessoas pode ser manipuladas. Palavras ou imagens podem causar uma onda de emoção negativa que os percorre de cima abaixo. Se eu chamasse seu amigo Bubba de “caipira”, ele riria e estaria de acordo. Se eu chamasse “caipira” o seu amigo Mark, ofenderia, e contra a sua vontade, tentaria me bater. Quando você tentar um “Silkspeech” você tem que entender por que isso pode ter efeitos diferentes em seu objetivo. Se você acidentalmente atingir seu ponto fraco, pode terminar obtendo uma resposta violenta em vez de uma positiva. Ou o contrário. Nick concordou enquanto entendia a lição de Grim. Era algo que fazia há anos, especialmente na escola com idiotas como Stone. — Então o que você está dizendo é que tenho que aprender quais são os pontos fracos de cada um.

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—Exatamente. —Isso é psicologia básica, Grim. Como você acha que isso pode ser um poder? Seus olhos brilharam vermelhos, e depois voltaram a ficar pretos. — Você vai ser capaz de fazer isso sem dizer uma palavra. Com apenas um pensamento você vai poder sentir seus pontos fracos. Ah, isso foi legal. —Então serei como Obi Wan Kenobi com poderes mentais do Jedi — Ele levantou suas mãos e movimentou-as como se estivesse conjurando a Força — Estes não são os droids que você está procurando. Grim suspirou frustrado antes de olhar para o teto — É como tentar treinar um gato com déficit de atenção em uma fábrica de ratos. — Que é isso! Eu estou concentrado — Especialmente em relação a como se concentrava em suas aulas na escola. Grim zombou — Eu tenho apenas uns trinta por cento da sua atenção e uns vinte por cento do tempo. O resto de seu cérebro está ocupado em estratégias de jogos, mulheres seminuas, e todas as coisas que tem vontade de fazer assim que crescer e viver sozinho. Ok, a Morte havia provado seu ponto. Mas o que havia de mal nisso? Nick se sentia como se tivesse uma corda no pescoço. Física e mentalmente, havia amadurecido, mas todos continuavam tratando-o como um bebê. Um fato que estava começando a irritá-lo. Na sua idade, sua mãe estava sozinha com um bebê. Kyrian era um soldado grego veterano, lutando contra a ocupação romana. E quem sabe o que fazia Grim na sua idade. Por todas as vezes que sua mãe o tinha tratado como um deficiente mental e como se não fosse capaz de amarrar os seus próprios sapatos, ele esteve cuidando de si mesmo, durante a maior parte de sua vida. Ajudando-a no pagamento das contas. Fazendo as tarefas no lar. Protegendo-a. Ajudando Menyara com seu carro. Durante o ano passado, haviam disparado contra ele e ele tinha combatido inimigos sobrenaturais que saíram de todos os rincões. As únicas pessoas que não o tratavam como se tivesse cinco anos eram Kyrian e Acheron. E Grim. Se quiser que outros o respeitem, você tem que respeitá-los primeiro. As palavras de sua mãe voltaram para atormentá-lo. Ficando sério, ele concordou. — Está bem, você tem minha completa atenção. — Sim, e vai durar uns três segundos — disse Grim baixinho — Honestamente, se eu não o conhecesse melhor, juraria que você não é o Malachai. Assusta-me que algo tão inútil possa ter algum tipo de poder. Você nasceu um lixo e isso é tudo o que você vai ser em sua vida. — E olhou Nick de cima a baixo, como se ele lhe desse asco — Você não é nada. A fúria nublou sua vista. O sangue correu em suas veias com tanta velocidade que seu corpo inteiro aqueceu na temperatura de larva ardente. — Você vai ver o que valho, rapaz. Está a ponto de verificar tudo o que eu posso fazer. 21


Grim riu. — Isso, finalmente tenho sua atenção, e você acaba de aprender a primeira lição sobre influência. Você tem que usar seus dotes de adivinhação e sua vidência para atacar os nervos da pessoa que você está tentando manipular. Mesmo alguém de cabeça tão dura como você pode ser influenciado. Não com sua mente, mas se com suas palavras ou ações. Não posso controlá-lo, mas posso detoná-lo e manipulá-lo para que tenha a resposta física ou emocional que eu queira. Esse é um poder ao qual ninguém é imune. Nick franziu o cenho enquanto tentava entender todos os aspectos da lição que Grim havia lhe dado. — Então você não quis dizer o que disse de verdade? —Sim, eu quis disse de verdade. Mas eu costumava usar seus gatilhos para conseguir o tipo de resposta que eu queria. Entretanto, o que usei não foi sutil. É a sutileza o que tem que dominar, e é isso o que vai te converter em alguém perigoso. A melhor forma de influenciar é sempre a que passa desapercebida. A que seu influenciado toma como se fosse sua própria ideia. —Parece algo impossível. —Parece impossível, mas não é. As pessoas são muito simples e você se surpreenderia o quanto são fáceis de influenciar, não importa quem são, ou de onde vêm. Nick não gostou o quanto fácil havia sido fazê-lo perder os estribos. Kyrian, Menyara e sua mãe tinham razão. Era muito estourado para seu próprio bem. —Há alguma forma de detectar quando alguém tentar usá-lo contra mim? Grim assentiu. —Então me ensina Grande Professor. Porque não quero ser a puta de ninguém. Uma luz escura brilhou nos apavorantes olhos de Grim. —Ai, Nick, céus, aí está o problema. Cedo ou tarde, todos somos a puta de alguém. E há um poder dirigindo-se a você neste momento que vai te provar de todas as formas que possa imaginar. Um que você não vai ver vir até que o jogue contra a parede e o estripe. O que será um bom dia para mim, não?

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CAPÍTULO 2

Nick fez uma careta quando Stone Blackmore deu um encontrão com seu ombro super desenvolvido e musculoso no corredor da escola. A dor explodiu no braço de Nick, fazendo-o querer esmurrar o animal com sua mochila de cem quilos até que Stone implorasse misericórdia. —Olha por onde anda, vagabundo! — gritou Stone enquanto dava um empurrão em Nick e seguia caminhando para seu armário. O grupo de idiotas que ia com ele a todas as partes, foi atrás, rindo da situação. Sim, está bem, porque chocar-se com alguém em um corredor é uma piada engraçada. Ai, se pudesse ter o intelecto de um homem de Cro Mag e saber que algo tão inócuo como tirar pelo do umbigo poderia ser divertido... Nick voltou-se para responder esse insulto com um próprio, mas esse pensamento fugiu quando Nekoda apareceu em frente a ele na multidão. Vestida com um pulôver justo cor creme e jeans, com seu cabelo castanho recolhido em trancinhas, roubou-lhe o fôlego e instantaneamente fez desaparecer seus pensamentos sobre Stone. Esqueça seus poderes, os dela eram muito mais impressionantes. Podia derreter o cérebro de um menino com apenas um sorriso. Somente um toque dela, e ele ficava completamente vulnerável. Sua mera presença podia sugar cada parte de sua inteligência e deixá-lo como um idiota babando, atrás dela, desesperado por fazer algo que ela pedisse... até mesmo levar sua brilhante bolsa rosa. —Olá, bonitão. Onde esteve ontem à noite? Não no lugar onde ele teria gostado de estar. Com certeza. Ele teria preferido estar de mãos dadas com ela em um cinema escuro do que ouvir Grim dizer que idiota ele era. Cara, ele poderia olhar nos olhos verdes da Kody para sempre, especialmente quando ela o olhava da forma como estava fazendo agora. Como se ele fosse importante para ela. — Minha mãe não me deixou sair. Sinto muito. Ela franziu o cenho. —Por quê? Trocando sua mochila para o ombro que Stone não machucou, Nick suspirou. —Ela considera que qualquer coisa que fazemos juntos seja “namoro”, e ela pensa que sou muito jovem para isso. — Depois em um tom mais baixo, sussurrou, — Se ela soubesse. Ela franziu mais o cenho. —Não entendo. Fizemos muitas outras coisas, juntos. Por que não quer que vejamos um filme? Ele sorriu timidamente. —Ela não sabe de todas as outras coisas. Não lhe disse exatamente o que eram essas coisas com você. Ela o repreendeu — Omitir informação é mentir, Nick. 23


—Eu sei, Kody. Eu sei — Mas dizer a sua mãe que estava sendo perseguido por demônios que queriam matá-lo e que uma garota linda da escola o estava ajudando a combatê-los não era algo que ele queria fazer. Especialmente não depois do alerta que Ambrose havia dado meses atrás — Não me desafie, está bem? Não quero mais provocações por hoje. Sua expressão preocupada o fez sentir-se melhor. —Teve algum ataque esta manhã? Nekoda e Caleb eram as únicas duas pessoas na escola que sabiam quem ele era de verdade. Enquanto Caleb era seu demônio guarda-costas enviado para evitar que morresse prematuramente, Nick não estava certo de como classificar a Nekoda. Ela não se quis dizer e ele ainda tinha que adivinhar. Falando de mentiras por omissão... Mas ambos tinham derramado sangue por ele. Assim que até que fizessem algo contra ele, ele daria seu voto de confiava a eles. —A mãe de todas as bestas afundou as presas em minha pele por tudo, desde eu esquecer de tirar o lixo ontem à noite até não escovar os dentes o suficiente esta manhã — Nem se incomodou em mencionar que também o havia desafiado por voltar a deixar a tampa do vaso sanitário aberta e não tirar a cueca do chão. Não havia necessidade de horrorizar a sua namorada com um pouco tão pessoal — Eu ainda estou sofrendo com isso. Seu sorriso fez com que seu estômago se revirasse. — Entendo — Ela puxou a gola de sua camisa havaiana de um laranja horrível que tinha enormes desenhos de garrafas de molho tabasco. Outra coisa que sua mãe tinha insistido que usasse porque tinha a crença equivocada de que pareceria respeitável... e preparado... para escutar isto... — Bonito. É uma camisa nova, não? Ele grunhiu em resposta a essa pergunta. Rindo, Kody ficou nas pontas do pé para lhe dar um rápido beijo na bochecha, apesar da regra “sem demonstrações de afeto em público” que havia na St. Richards. — Considere que esta é uma zona sem regras, e a verdade é que você fica lindo com essa camisa nova, como não ficaria em mais ninguém. Acredite. Somente você pode parecer bem em uma coisa tão horrível. Mas melhor se apressar ou vai chegar tarde na aula outra vez. O sino soou um segundo depois. Nick amaldiçoou sua sorte enquanto corria pelos corredores com Kody liderando o caminho até sua sala de aula. Kody parou bem diante da porta de sua cela na matutina prisão, monótona e marrom, fazendo com que ele freasse de repente. A Srta. Richardson, o pior troll deste lado do reino das trevas, fez um som de desgosto com a língua. Com um sorriso de desprezo no rosto feio, ela bateu o olho no relógio barato 24


que tinha em seu pulso. —Vejo que ambos voltaram a chegar tarde. Esta seria o quê? Sua terceira vez senhor Gautier? Sabe o que isso significa, não é verdade? Oh, sim. Detenção depois da hora. E melhor até, mais tempo cara a cara com Richardson. Justamente o que queria adicionar à sua lista de natal, exatamente depois de um ataque de caganeira. Por que um demônio não vinha atrás dele neste momento e o estripava? Ou o absorvia em uma sombria boca do inferno... Isso seria algo realmente bem-vindo. Depois de como havia começado a manhã, não lutaria contra isso. Fechando seus olhos, ele tentou invocar seus poderes para suavizá-la com uma frase. —Mas o sino não soou ainda. Richardson congelada por um segundo. Depois pestanejou. — Vejo-o às três em ponto. Merda. Não tinha funcionado. Que surpresa. E deu-lhe mais uma prova de que Richardson não era humano. Irritado, Nick pegou a parte de papel de sua mão enquanto ela olhava com fúria para Nekoda. — E você, senhorita Kennedy. Mais uma vez e vai fazer companhia ao Sr. Gautier na detenção depois da aula. — Pronuncia-se “Go-shay” - disse Nick, corrigindo o seu “Gah-tee-aaa”. Ele odiava quando alguém pronunciava errado o seu nome. — Claro que é. — O tom dela poderia ser mais sarcástico? — Como pude esquecer de que aquele rústico cajun era uma corrupção e uma afronta ao lindo idioma francês? E ela desprezava os cajun com muita paixão. Isso era algo que todos sabiam, ou quando perguntavam por que a mulher vivia em Nova Orleans, lar dos cajun. Um dos ancestrais cajuns de Nick deveria ter atropelado o seu gato quando era criança ou algo assim novecentos anos atrás, pela sua aparência. Ao menos esse era provavelmente o período histórico no qual essa roupa a que chamava vestido esteve na moda. Apesar do fato de que sabia que pagaria por isso depois, Nick dedicou-lhe seu sorriso mais encantador. — Quoi d´autre, cher? Algo mais, querido? — Laissez les bons temps rouler! Deixe os bons tempos rolarem. O lema de Nova Orleans, era seu próprio credo pessoal. Ele piscou o olho para ela. Richardson parecia que soltava fumaça, enquanto ia para seu lugar atrás de Caleb, que revirou os olhos. Nick deixou sua pesada mochila no chão, e não pôde resistir uma última gozação. 25


Em cajun: Ain’t no Bouki here, cher. Me and my bele gonna pass a good time at lunch. It don madda to moi. I done brought me a boucanée gator po’ boy and some fraîche beignets for eats. Yum! — Aqui não há vagas, querida. Eu e minha garota vamos passar bem no almoço. Isso não importa. Traga-me uns sanduíches de presunto defumado e uns baguetes para comer. Riquíssimo! O expressão de asco em sua rosto era algo que ela devia ter copiado de uma gárgula. — Isso foi suficiente, Sr. Go-chay. Ou vou adicionar mais um dia mais de detenção. — Não faça isso. Sente-se e cale-se, disse Caleb em sua cabeça. Mas Nick não conseguiu conter-se. — Go-shay — corrigiu-lhe novamente a pronúncia. — O que foi isso? — Richardson perguntou altiva. — Ah, já sei. — ela olhou estreitando seus olhos de rato através de suas lentes de aro escuro. — É o som de outro dia de detenção que se adiciona ao de hoje. Estou tão feliz que terei alguém amanhã também para limpar meu quarto amanhã à tarde. Ah, que vontade de fazê-la engolir esse sorriso presunçoso. Apertando os dentes, ele sentou-se em seu lugar. — Eu te falei, Não foi? Ele olhou feio para Caleb. Kody deu-lhe uma palmada no ombro antes de ir para o seu lugar na parte oposta da sala. Stone virou-se em sua carteira para zoar Nick, rindo silenciosamente. Um dia destes, aberração que passa cheirando entre as pernas, eu terei o poder suficiente para lançar-lhe um relâmpago e ver como você perde o controle. Sim, isso seria engraçado. Stone jogado no corredor contorcendo-se, passando de lobo para humano repetidamente. E com sorte ele faria com que Richardson tivesse um ataque cardíaco. Isso mataria dois coelhos com uma só pedrada. Nick devolveu o olhar a Stone. Embora fisicamente parecesse ter quinze anos, Stone era um lobo, que na realidade tinha quase trinta anos. As pessoas como Stone não envelheciam da mesma forma que os humanos, eles foram mantidos em suas casas durante muito tempo antes de serem enviados à escola, onde se supunha, eram ensinados a interagir com humanos. Mas mesmo com esses anos extras de treinamento em casa, Stone não era muito mais amadurecido que um adolescente humano. Um momento. — O que ele estava dizendo? Stone funcionava como um inadaptado social de cinco anos.

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E Stone, por causa do dinheiro de seu pai e do fato de que jogava nas equipes de futebol americano, basquete e baseball, pensava que estava acima de todos e que todos fazer reverência a ele. Ele e os outros animais com os quais se juntava, tomaram Nick como o lobo ômega para ser incomodado e abusado. Em parte porque Nick, até que começou a trabalhar com Kyrian, foi um menino pobre e bolsista. Entretanto, ultimamente, a animosidade do Stone vinha do fato de que a garota com quem ele andava às vezes, Casey Woods, estava dando em cima de Nick. Mas Nick nunca se deixou intimidar por Stone, e não estava em seu código genético recuar de alguém ou de alguma coisa. Como resultado disso, suas brigas eram lendárias para o corpo estudantil e os professores. Enquanto Richardson começava a fazer a chamada, a porta abriu-se e dois estudantes desconhecidos chegaram com o diretor, o Sr. Head. Ele os levou até a mesa de Richardson, e falou em voz baixa enquanto o menino e a garota olhavam de esguelha, nervosos para a sala. —Deve ser carne fresca — Stone sussurrou para seu amigo Mason. Mason assentiu. — Ele não parece grande coisa, mas a garota é comestível. —Mason! xingou Casey enquanto dava volta em seu lugar para olhá-lo com cara feia. — Parem com isso! Vocês são tão nojentos. Os dois. Ela fez uma pausa para dar um olhar quente para Nick, que fez o possível para não reagir ao seu olhar, nem deixar que Kody o visse. Tarde demais. Ele obteve de Kody um olhar que dizia, que-porra-é-essa, antes que olhasse para a garota com cara de vou-arrancar-todos-os-seus-cabelos. Casey revirou os olhos para o olhar de Kody antes de se acomodar em seu lugar e jogar seu cabelo sobre o ombro. Oooo, algo que eu não recomendaria fazer, desde que tinha visto Nekoda lidar com uma espada. Sua garota não tinha problemas em cortar a cabeça de algo que visse como ameaça. Pena que Casey não sabia disso. Ele ainda não sabia qual era o jogo que Casey estava jogando com ele. Como líder de torcida, foi a garota que andou com Stone durante os últimos três anos. Mas no ano passado, cada vez que Nick virava, ela estava ali, paquerando-o. — Classe! — Richardson bateu palmas para conseguir atenção. — Temos dois novos alunos. Irmãos que vêm de outra escola. Joey e Jill Becker — Ela endireitou os óculos sobre seu nariz torto. — Sentem-se, meninos. — Joey se sentou no lugar em frente à mesa do Richardson, pobre rapaz. Ele descobriria em breve. Jill levou um tempo procurando ao redor da sala antes de sorrir para Nick e ocupar o lugar vago à sua esquerda. Kody virou-se para levantar-lhe a sobrancelha.

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Nick levantou suas mãos em sinal de trégua. Sou inocente, enviou para sua mente. O olhar e seu rosto diziam que não acreditou em uma palavra. Como me meto nestas coisas? O que era mais importante. Como saio desta? Certamente ele não podia evitar sentir-se atraído pelo sexo oposto. Sim, claro, isso era uma brincadeira. Não sabia o que havia na água ultimamente, mas nenhum homem que usasse essa camisa horrível, e possuísse seu corpo desajeitado de adolescente que se esticava a cada dia poderia atrair outra coisa que não fossem mosquitos. Jill estendeu-lhe a mão. —Olá. Sou Jill. Sentindo os punhais que Nekoda lhe cravava com o olhar, relutantemente Nick segurou-lhe a mão. — Nick. E soltou a mão rapidamente. —Você se importaria de me levar até minha próxima aula, Nick? Ajuda-me, oh boca do inferno, onde você está? Por que esqueceu de mim em minha hora de desespero? Abra-se, rapidamente, e eu me atirarei dentro. Caleb virou-se para olhá-la. — Eu ficarei feliz em mostrar-lhe onde fica, a propósito. Sou Caleb. —Senhor Malphas — disse Richardson irritada. — Há algo que queira compartilhar com a classe? Caleb sorriu ante o tom condescendente.— Não Srta. Richardson. Somente estava oferecendo ajuda a nossa nova estudante para que não se perca, nem chegue tarde a sua próxima aula. — Embora seja um bom gesto, você tem que estar atento enquanto faço chamada. — Sim, Senhorita. Ugg, isso teve ter irritado Caleb. Com milhares de anos, ele era mais poderoso que qualquer um que Nick tivesse conhecido, exceto Acheron. Não havia dúvida de que o demônio poderia ferir Richardson em seu assento. E pensar que em alguns momentos havia sentido ciúme do look hollywoodiano de Caleb, seu corpo perfeito, sua roupa incrível, e seu dinheiro. Até que soube a verdade sobre ele. Agora Nick sabia que não tinha dinheiro suficiente no universo para compensar as coisas pelas quais Caleb havia passado, e por ter que suportar o humor de merda de Nick todo o tempo. Embora o demônio não falasse de si mesmo nem de seu passado era impossível não ver o olhar torturado de Caleb quando pensava que ninguém o estava olhando.

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Nick havia se perguntado se suas próprias cicatrizes eram tão visíveis quando ele baixava a guarda. O sino tocou, embora não fosse o suficientemente rápido, para liberá-los os do zumbido chorão da Sra. Richardson. Graças a Deus que não a teria mais em sua aula de inglês. O ano passado tinha sido o mais longo de sua vida. Nick terminou de colocar a mochila no ombro quando Jill plantou-se firmemente em frente a ele. Ele olhou de novo nervosamente para Caleb, e depois para Kody, quem se mostrava menos satisfeita pela atenção que Nick estava recebendo de Jill. —Minha primeira aula é na sala 214. Você me ajudaria a encontrá-la? Nick deu um passo para trás, para que Caleb pudesse avançar. — Eu ficaria muito feliz em mostrar-lhe onde fica. — Disse-lhe Caleb com seu sotaque mais profundo. Jill franziu o cenho. — Eu preferiria que Nick me mostrasse onde fica, se não se incomodar. A expressão no rosto de Caleb não tinha preço. Com seu corte de cabelo caro e sua pinta, ele não tinha costume de ficar segundo plano diante ninguém em questão de garotas. Kody colocou seu braço no de Nick e passou a outra mão em seu cabelo castanho. — Estou certa de que Caleb não se incomodaria em absoluto. No entanto, eu tenho um problema com isso. Sou Kody, a namorada do Nick. Prazer em conhecê-la. — Ela praticamente o carregou para fora da sala. Devido ao forte aperto que em seu braço e porque não queria machucá-la, Nick foi cambaleando pelos corredores enquanto foram para a próxima aula. — Calma Kody, eu não estava fazendo nada de errado. Ela afrouxou seu aperto. — Eu sei que você não estava. Embora você seja bonito, mais do que você pense, é o glamour de demônio que você tem o que atrai cada garota que conhece. Mais uma prova de que Richardson não era do sexo feminino. —Quanto mais cresce e mais acesso tenha a seus poderes, mais forte se torna. Queria poder encontrar algo para desativá-lo. —Sim, mas Caleb não o tem, também? 29


—Infelizmente, não. Ele é um tipo de besta diferente. Seu tipo foi criado para brigar, não para servir. “Servir”, era um termo educado para a escravidão de demônios. Algo pelo que seu pai esteve escravizado durante milhares de anos até que convenceu ou enganou, ou ambas as coisas, o servente de seu mestre a libertá-lo. Ninguém sabia o que Adarian tinha feito para conseguir sua liberdade, já que todos os que cometiam o engano de lhe perguntar terminavam destruídos. No caso de Caleb, embora não fosse um demônio do tipo “servo”, ele estava escravizado a Nick, mas Nick não fazia ideia de como ou por que. Caleb não era de compartilhar mais do que era seu pai. Nick fez uma pausa no corredor ao lado do armário de Kody para que ela pudesse deixar seu pulôver lá. — Você ainda não me disse como é que sabe tanto sobre meus poderes. —Sim, eu sei. — Ela se agachou para abrir a porta. Pois é... após mais de um ano, ele deveria estar acostumado às suas evasivas às perguntas que fazia a respeito dela, seus poderes e sua habilidade para conhecê-lo tão bem. Nick ficou em um estado de alerta ao ver uma sombra correr ao longo da parede e desaparecer em uma rachadura sobre a porta do banheiro. — Você viu isso? Kody levantou imediatamente. — O quê? Nick virou a cabeça e usou seus próprios poderes para tentar sentir qual entidade havia estado ali. Mas não conseguiu sentir nada. — Deve ter sido minha imaginação. Girando sua chave, Kody cerrou os olhos. — A última vez que disse isso, quase fomos mortos por um Mortent. Isso era verdade, e ele ainda tinha a sensação no estômago que geralmente significava a presença de outro demônio perto. Seu olhar se dirigiu para algo rosa que se aproximava deles. Era Brynna Addams uma das primeiras amizades que tinha feito no St. Richards e uma garota doce. Sorrindo, ela tocou Kody no ombro. — Olá, querida. Estava me perguntando se poderia contar com você depois das aulas. LaShonda e a eu fomos convocadas para fazer a decoração para o baile de outono e preciso de ajuda — Ela virou seu olhar de súplica para Nick — Você também, Gautier. Não quer ajudar uma irmã? — Eu adoraria, mas tenho que trabalhar hoje. Kyrian tem algumas coisas que tenho que devolver, e um pedido para ir procurar Liza. 30


Brynna fez uma careta antes de virar-se para olhar Nekoda. — Por favor, Kody? Ela pensou, e depois concordou. —Claro. Esguichando, Brynna a abraçou. — Você é a melhor! — Depois se foi correndo, desaparecendo na multidão. Nick riu. — Graças a Deus que ela agarrou você. Não quero continuar sendo castigado. — Você ainda não saiu desta, garoto. Nick suspirou. — É a história de minha vida. Soou o primeiro sino. — Melhor você ir, — disse-lhe Kody. — Não quero ver você conseguir outra detenção. — Você? A esta altura você terá que me levar um colchão para a sala da Richardson. Diga-me outra vez por que os zumbis não a comeram? — Nick ficou calado enquanto pensava uma forma de fazer com que seu desejo se cumprisse. Não era tarde demais. — Gostaria de saber se Madaug tem mais copias desse jogo por aí. Kody ficou pálida. — Não brinque com isso. Agora vá. Fazendo um aceno, virou-se e se dirigiu para a sala onde Caleb estava esperando no laboratório de computação. Tanto Caleb quanto Kody estavam com ele em todas suas aulas - algo que ambos insistiram em fazer. Depois do que viveram no ano passado com o treinador que tinha vendido sua alma por uma vitória – literalmente - ambos ficaram paranóicos de que algo o pegasse durante o dia se um deles não estava por perto. A casa do Nick era considerada uma zona segura porque eles haviam colocado símbolos de proteção e tinham selado o apartamento. A escola, no entanto, era um prédio público com centenas de pessoas — incluindo alguns seres sobrenaturais que ele já conhecia, e que se supunha que deviam estar ali, e não eram nenhuma ameaça para ele. Não havia maneira de fazê-la completamente segura sem proibir a entrada de alunos também. Nick sentou-se ao mesmo tempo em que Caleb ficou de pé. — Algo errado? Caleb cerrou seus olhos enquanto fazia um círculo lentamente ao redor de seu assento, olhando cuidadosamente cada pedaço da sala. — Há algo aqui dentro. Pode sentir? — Pensei ter visto uma sombra no corredor faz uns minutos. Os olhos de Caleb piscaram na cor laranja. 31


Nick olhou para todos os lados, para certificar-se de que ninguém mais tivesse visto fazer isso. — Caramba, Caleb! Que onda foi essa com os seus olhos? Boa forma de mostrar-se a todos. Sente-se antes que saiam as asas e ambos terminemos em um laboratório, debaixo de um microscópio. —"Malphas" — chamou o professor — Por acaso tem dificuldades para encontrar seu assento? Caleb virou-se para responder ao Sr. Tendyk. — Não, senhor. — Sentou-se ao lado de Nick. Nesse momento, soou o sino. Depois de fechar a porta da sala de aula e apagar as luzes, Tendyk virou-se em direção ao projetor que mostrava a tela de seu computador para que todos na classe pudessem vê-la. Nick prendeu o fôlego, enquanto o resto da sala explodia em caos. Em vez dos aborrecidos ícones de tela com um fundo verde vômito, que estavam acostumados a ver, o fundo de tela de Tendyk era uma montagem de fotos da Brynna Adams, nua, fazendo coisas extremamente obscenas. Tendyk por pouco quebrou seu computador enquanto se atrapalhava em desligar o monitor. — Quem é o responsável por isto? — perguntou com fúria. Ecoava apenas um silêncio absoluto. Até que Stone riu novamente. — Pelas fotos, eu diria que Brynna Addams. Quem diria que isso estava escondido debaixo dessas camisas abotoadas até o pescoço e esses pulôveres? Rindo, Mason bateu sua mão com a dele. O pandemônio explodiu novamente enquanto todos tinham algum comentário horrível ou grosseiro para fazer. Todos exceto Nick e Caleb. Nick estava horrorizado ao imaginar a reação da Brynna quando soubesse disso. E tinha certeza de que algum filho de puta iria direito para ela para lhe dar a notícia. Não havia nada que os tarados neste colégio amassem mais que ser os portadores das más notícias, especialmente para contar à pessoa envolvida. Era como se gostassem da miséria que causavam, em primeira mão. Ele virou-se para perguntar a Caleb. —Essa não era Brynna, não é? Caleb negou com a cabeça. —Não, essa é uma brincadeira de mau gosto de algum doente. Falando de doente. Nick sentia-se mal com a situação. Seu estômago se contraiu pensando em Brynna. — Você sabe quem fez isso? 32


Ele fez um movimento com a cabeça como se estivesse escutando uma canção que só ele podia escutar. — Não tenho nem ideia. Mas foi feito por pura maldade. — Brynna vai querer morrer quando souber. — Eu sei. — Um tic nervoso começou na mandíbula de Caleb. — Você Pode sentir o ódio por trás de tudo isto? —Agora que mencionou... é essa sensação de frio que desce pelas minhas costas? Caleb acenou com a cabeça. Nick suspirou pesadamente. Bom, pelo menos sabia o que lhe estava causando esse sintoma. — É um demônio? — Não. É humano. O ódio demoníaco tem um odor característico. — Sim, bem, isto fede também. — Nick sentia repulsa pela merda de pessoa que podia fazer algo assim a alguém tão amável. Por que alguém queria machucar Brynna? Durante todo este tempo que conhecia Brynna nunca tinha dito nada ruim de ninguém. Nem sequer dele. — Basta! — gritou Tendyk. — Façam uma fila no corredor e fiquem calados. Stone quero que vá ao escritório e diga ao Sr. Head que preciso que ele venha rápido. Rindo, Stone obedeceu. Nick se inclinou para pegar sua mochila. — Deixe-a, Gautier, — o gritou Tendyk. — Ninguém toca em nada do que está aqui dentro. Nick hesitou. Seu Grimoire e seu pêndulo estavam em sua mochila, junto com sua adaga de Malachai. Se revistasse sua mochila e encontrassem essas coisas... Isso iria ficar feio, especialmente porque seu grimoire estava escrito com sangue, e apesar de que fosse seu sangue para os adultos não importavam esses detalhes quando se tratava de adolescentes sangrando sobre objetos no horário de escola. — Eu cuido disso, — escutou a Caleb em sua cabeça. Respirando aliviado, Nick dirigiu-se para fora com todos os demais. Caleb cruzou seus braços sobre no peito enquanto se alinhavam contra a parede que tinha os cadeados de cor vermelho metálico. — Sabe o que é pior que um demônio maligno? 33


— Minha mãe quando está realmente zangada comigo, especialmente se tiver um motivo para estar. Caleb zombou. — Não, Nick. A crueldade humana. Durante todos os séculos que vivi, eu nunca entendi por que em vez de aliar-se, seu tipo parece determinado a destruir uns aos outros. E por quê ?Ciúmes? Não entendo isso. E vindo de um demônio, isso dizia tudo. — Você está me dizendo que os demônios nunca são cruéis? — Alguns o são. Mas você sabe quais são, e os vê chegando. Pode sentir seu cheiro a quilômetros de distância. Os humanos, por outro lado, são insidiosos. Você não os vê chegando até que lhe cravaram uma faca nas costas direta no coração. Nick fez uma careta para a sua afirmação. — O que está dizendo Cay? — Não sei quem fez isto, mas sei por que o fizeram. A intenção era humilhar Brynna e machucá-la profundamente. E enquanto essas palavras saíam da boca de Caleb, Nick percebeu o teor das conversações ao seu redor. — Eu te disse que Brynna era uma vagabunda. Minha mãe disse que sua mãe também era. — Eu sempre soube que era uma fachada fazer-se de santinha. — Cara, eu gostaria de ter sabido que ela fazia essas coisas. Será que ela estaria ocupada neste sábado? Nick se encolheu-se com a malícia dos comentários. — Não era Brynna, — disse na defensiva. Mason gozou dele. — Você é um idiota, Gautier. — Sim, — outro estudante estava de acordo. — Acaso não viu as fotos? — Com animais, também! Por Deus! Estou tão enojado. — Você está enojado? Imagine o quanto enojado estaria esse cavalo. Todos começaram a rir. Nick quis responder, mas Caleb o segurou. — Esquece. 34


Isso era mais fácil de dizer do que de fazer. — Brynna é minha amiga. Antes que Caleb pudesse respondê-lo, o diretor passou ao lado deles para entrar na sala. Nick ficou na ponta dos pés para poder ver através da janela da sala de Tendyk, que estava mostrando ao diretor a horrível montagem de fotos. Seu bolso começou a vibrar. Nick pegou seu Nokia 9000 e o abriu para ver que tinha uma nova mensagem. Ao tratar de acessá-lo, seu telefone se encheu de textos sobre Brynna e as fotos. Aparentemente, sua sala não foi a única aonde chegou esta porcaria. Um instante depois, uma porta se abriu no corredor. Brynna saiu correndo, chorando histericamente. As risadas que vinham de sua sala ecoaram no corredor, misturando-se com a risada dos idiotas ao seu lado. E somente diminuíram quando uns idiotas começaram a lhe fazer ofertas. Com seu coração doendo, Nick quis ir atrás dela para acalmá-la. Caleb o agarrou fortemente pelo braço. — Não posso dizer-lhe como é importante que fique fora disto. — Por quê? — Use seus poderes, Nick. Veja o que está acontecendo. Nick olhou ao seu redor até encontrar uma superfície brilhante o suficientemente para usar a vidência... a prata sobre a fonte de água. Não era muito grande, mas era suficiente para concentrar seus poderes nela. E ali, naquele pequeno lugar, viu o horror que a vida da Brynna ia se transformar por um simples ato de crueldade. Nesse momento, ele discordava completamente de Caleb. — Ela precisa de um amigo. — Sim, isso é verdade. Mas neste momento, a administração do colégio está procurando a quem culpar por isso. E se você se mete muito, vai ser o bode expiatório. Acredite em mim. E com sua sorte, isso era uma certeza. Assim mesmo, Nick discutiria com ele se não fosse pelo fato de que Caleb tinha muito mais experiência de vida nestas coisas. Não se discute cores com Picasso. Nem automóveis com o Richard Petty. E definitivamente não se questionava o comportamento humano com Caleb.

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Reprimindo-se, Nick sentiu novamente aquela sensação estranha. Embora Caleb houvesse assegurado que era de origem humana, ele não estava tão seguro. Havia algo mais em tudo isto. Algo escuro. Frio. Letal. E não era Caleb.

CAPÍTULO 3

Adarian congelou quando sentiu uma sensação que não tinha experimentado em milhares de anos. Por um minuto ele ficou imóvel enquanto tentava localizá-la. Se ele não soubesse juraria que se tratava do Guardião principal de Noir. Mas ao escapar do Reino das Trevas, que pertencia ao setor escuro, assegurou-se de que a única pessoa que podiam encontrá-lo fosse castigado ao ponto de que nunca mais fosse capaz de rastreá-lo. Não, não podia ser Seth, Seth ainda estava sendo torturado. Noir nunca se arriscaria a mandar a Seth atrás dele. Isto era outra coisa. Onde você está? Ou, melhor dizendo. Quem é você? Ele sentia que a criatura recuava antes que localizasse sua posição exata. Ele o havia detectado? Essa era sempre sua maior preocupação. Embora em uma briga aberta não pudesse ser derrotado, todos eram suscetíveis a ser atacados pelas costas, especialmente quando não sabia quem o estava perseguindo. — Malachai, você tem um visitante. Seu estômago se contraiu. Foi o visitante que percebeu? Ou era alguém ou algo mais? Com seus poderes e seus sentidos em alerta máximo, ele permitiu que o guarda o algemasse para que o levasse até a sala de visitas. Como um dos prisioneiros mais ferozes e temidos em Angola, ele tinha guarda constante e nunca deixavam que se aproximassem civis sem estar completamente algemado. Algo que sempre o divertia, porque a única coisa que o mantinha neste lugar, era a sua vontade. Não havia paredes construídas pelo homem que não pudesse derrubar com um sussurro. Não havia cadeia forjada que não pudesse derreter. 36


Mas tinha escolhido viver neste lugar por várias razões, a mais importante era que toda esta maldade humana ocultava sua presença daqueles que estavam procurando por ele. A negatividade e hostilidade dos encarcerados alimentavam seus poderes, com tantas vítimas e predadores ao alcance, ele nunca perdia suas forças. Sempre havia alguém que o alimentasse. Para um demônio, isto era o paraíso. O guarda abriu a porta e se afastou para que Adarian pudesse entrar no pequeno cubículo. Enquanto se sentava, as luzes se apagaram e isso o permitiu ver o visitante do outro lado do vidro. Adarian olhou com fúria para o homem loiro que batia seus dedos distraidamente na mesa. — O que você está fazendo aqui? — Você me pediu que o mantivesse informado. — O tom de sua voz era áspero e falava a um nível que nenhum humano poderia escutá-lo. Somente um demônio. E embora quisesse a informação atualizada sobre seu filho, havia concordado que viria através de Caleb ou em sua cela durante a noite. Nunca abertamente, desta forma. A última coisa que precisava era que alguém identificasse a criatura que estava diante dele. — Então me diga rápido. O visitante arqueou sua sobrancelha. Trocando de posição em sua cadeira, fez com que uma parte de sua camisa negra com botões abrisse e revelasse uma horripilante tatuagem de uma caveira no centro de seu peito. Seus olhos negros cintilaram com fúria. — Você não me dá ordens, Adarian. Não sou um de seus escravos. Sou seu amo. — Não, — Adarian o corrigiu . — Somos sócios. — Você fez um trato comigo. — recordou-lhe. —Isso é verdade, e você aceitou. Isso nos torna iguais. Você me ajuda. Eu te ajudo. O intercâmbio de serviços nos faz sócios. Grim não parecia se importar com nada. Mas a Morte se achava superior a tudo e a todos. Um dia, ele aprenderia a verdade. Todos sucumbiam ao morrer. Inclusive a Morte. Grim fez um grunhido gutural. — Agora já sei de onde seu filho tirou suas qualidades mais irritantes. Adarian não fez nenhum comentário sobre isso. — Como vai o treinamento?

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— Lentamente. Ele não tem foco. Sem mencionar que quem quer que tenha bloqueado seus poderes, fez um excelente trabalho. Desbloqueá-los, não é tão simples como deveria ser. Embora isso se deva a que, em realidade, nunca o machucaram. Ainda. Sua mãe o mantém envolvido em uma capa de amor tão espessa, que é difícil penetrar. O menino precisa de uma tragédia em sua vida. Sem isso, é impossível fazer sair seu ódio para que aja sobre ele. Ele precisa de alguém a quem odiar com todo seu ser. Adarian franziu o lábio. Necessitava que seu filho fosse mais rápido. Quanto antes aprendesse como odiar, mais rápido aprenderia a matar, e ele poderia deixar este lugar e ter a liberdade que desejava desde o momento de seu nascimento. Ao contrário de seu filho, ele sempre havia sabido quem era. Sua mãe o tinha concebido com o propósito de destruir seu próprio pai e comprar sua liberdade dos sombrios deuses primordiais a quem ela servia. Desde o momento do seu nascimento, ele tinha absorvido o veneno e ódio amargo por tudo e todos. Assim que seus poderes se manifestaram e ele matou seu pai, sua mãe o vendeu a Noir para ser escravizado e usado pelo deus sádico que queria destruir seus inimigos e dominar o reino humano. Adarian ainda tinha pesadelos sobre essa adorável experiência. Se em algum momento teve um rastro de decência ou humanidade, o tempo que passou em Azmodea o destruiu por completo. E esses sangrentos séculos que passou nesse lugar foi a razão pela qual matou a sua mãe no instante em que escapou do domínio de Noir. E a razão pela qual nunca permitiria que voltassem a escravizá-lo. Não permitiria isso a ninguém. Nem sequer a Grim. Mas Grim queria ver o Apocalipse para o que foi criado. E como Adarian, Grim não queria cumprir papel de servo quando esse momento chegasse. Queria liderar. Adarian respeitava isso. Entretanto, não se importava com Grim. Ele não era capaz de preocupar-se com ninguém. Ao menos essa era a mentira que se dizia a si mesmo. — Você querer seu Apocalipse, e eu quero minha vingança. Treine meu filho e me entregue seus poderes. Preciso deles. Grim assentiu. — Se você me deixasse matar sua mãe... —Não! — grunhiu Adarian. — Se você machucá-la vou te fazer passar um inferno pior que qualquer coisa que imagine. Os olhos de Grim despejavam fogo puro da fúria que manteve reprimida, porque era o suficientemente preparado como para não atacar Adarian. Nem mesmo a Morte poderia sair ilesa. — Está bem. Mas é melhor lembrar o que fiz para que funcionasse este pequeno milagre para você. Quero um pedaço do Nick quando tudo terminar.

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— Você pode ter. Agora ande, não quero voltar a vê-lo por aqui. Adarian se levantou e deixou a sala. Seu plano original tinha sido usar seu filho para reconstruir seu exército original. Mas durante este último ano, enquanto os poderes do Nick aumentavam, sentia que os seus próprios poderes começavam a diminuir, algo que não podia deixar que ninguém soubesse. Não podiam existir dois Malachai em um mesmo período de tempo. Era proibido. Mas se pudesse liberar os poderes do Nick e fazer com que a morte matasse seu filho antes que ele perdesse todos seus poderes, ele poderia alimentar-se com o coração de Nick e absorver seus poderes, também. Isso lhe daria a força de dois Malachai. Então ninguém seria capaz de derrotá-lo. Não teria que temer nem Noir nem ninguém, nunca mais. Por isso ele estava vivo. Então seria capaz de encontrar quem o tinha condenado a esta existência e pôr fim a essa maldição de uma vez por todas. Mas primeiro Nick tinha que morrer.

*** Finalmente, depois de ser liberado de seu castigo, Nick sentiu vontade de caçar a pessoa que havia humilhado Brynna e pegá-lo até que clamasse por misericórdia. Nunca em sua vida ele esteve tão zangado. Com um nó no estômago ele caminhou para o ginásio para encontrar-se com Kody, Madaug, Caleb e LaShonda. Como filho de dois cientistas, Madaug era uma das pessoas mais inteligentes que Nick havia conhecido. O menino sabia um pouco de tudo. E, como Nick, se sentia invisível, a não ser quando os bastardos precisavam de alguém para chutar ou empurrar contra um armário. Com um pouco menos que um metro oitenta de altura, Madaug tinha cabelo cacheado, loiro escuro e brilhantes olhos azuis. Ele sempre usava lentes, e preferia os mergulhadores ou blusões com capuz sobre qualquer outra coisa. LaShonda era uma das garotas mais lindas do colégio. Era quase uns três centímetros menor que Madaug, tinha olhos castanhos claros que praticamente brilhavam. E seu cabelo, cor castanho escuro, sempre tinha um estilo diferente. Esta semana estava liso, na altura dos ombros. Era uma das melhores amigas da Brynna desde a segunda série e ambas quase sempre estavam juntas. — Estamos todos? — perguntou Nick, deixando cair sua mochila ao lado da de Caleb. Os olhos da LaShonda brilharam com fúria. — Todos os outros deram para trás. Não queriam estar em um comitê com uma vagabunda como Brynna. — Ela franziu os lábios. — Retiro o que disse, já que não penso repetir o que disseram alguns dos rapazes. Agh, estas pessoas me dão nojo.

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— Isso é ridículo, melhor falar. — Nick suspirou pesadamente, e depois franziu o cenho para Madaug. — Então, menino gênio. Há alguma chance de que possamos descobrir quem plantou toda essa merda contra ela? — Eu gostaria, mas apagaram tudo do computador de Tendyk imediatamente e formataram o disco antes de reescrever sobre ele. Como legalmente isso se considera como pornografia infantil, vê-se que estavam com medo de ação judicial. Head espera poder assustar a alguém para que este confesse. — Sim, porque isso funciona tão bem com criminosos, — LaShonda bufou. — Não sei o que pensam vocês meninos, mas sem Brynna, não tenho vontade de fazer isto. Dane-se o baile. Que os idiotas venham para um ginásio vazio. É o que eles merecem. Só quero ir para casa e ver se ela está bem. Tenho tentado ligar para ela, mas não ela responde. Kody cruzou os braços. — Acho que todos queremos saber que ela está bem. Nick estava de acordo. — Estive pensando mil vezes e não posso descobrir quem ou por que alguém poderia fazer algo como ela. Shon? Tem alguma ideia? — Nenhuma, não é como se ela estivesse colecionando inimigos, sabia. Estamos falando da Brynna. Houve alguma vez houve uma pessoa melhor? Nick diria que sua mãe, mas não queria que zoassem com ele por isso. LaShonda checou seu telefone. — Por que não suspendemos isso até na segunda-feira? Com sorte, Bryn vai estará de volta até lá. Nick concordou. — Parece um plano. Vai para a casa da Brynna agora? — Sim. — Ligue-me e avise-me como ela está. LaShonda deu um tapinha no seu braço. — Ok. Vejo-os mais tarde, meninos. Madaug colocou a mochila no ombro. — Gostaria de ter visto as fotos. Caleb arqueou uma sobrancelha com esse comentário. — Não por essa razão, — gritou Madaug ao perceber o que Caleb pensava. — Não quero vê-la em nenhum tipo de fotografia, mas só que essas fotos tinham que estar fotoshopadas. Se eu tivesse uma cópia, poderia provar isso. Nick fez uma careta. — Horríveis como eram essas fotos, melhor não tê-las visto. Ainda estou traumatizado.

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Madaug acomodou os óculos sobre seu nariz. — Sabia que tentei inventar um líquido para jogar nos olhos de quem apagasse as memórias mais recentes quando era garoto? Não funcionou. Mas eu ainda não desisti. Eu vou encontrar uma forma de apagar as memórias mais recentes antes que passem ao armazenamento permanente. Se outra houvesse tivesse dito isso, teria sido uma brincadeira. Mas Madaug... Era algo para se levar em conta. Madaug pegou seu blusão. — Vejo-os amanhã. Nick não falou até que ficou sozinho com Kody e Caleb. — É verdade que não há nenhuma forma de fazer alguns dos voodoo whodoo mojo que vocês fazem para saber quem está por trás de tudo isto? Caleb zombou. — Que boa rima, Dr. Seuss. E me perdoe. Não tenho nada para rastreálos. Kody compartilhou simpatia por trás das palavras de Caleb. Nick checou seu relógio. — Bem. Eu tenho que ir trabalhar com Kyrian, de qualquer forma. Caleb agarrou sua mochila. — Vou caminhando com você. Nick odiava que o acompanhassem para casa como se fosse incompetente. “Não sou sua parceira para o baile, Cay. Nem também quero ser”. — Não tenha medo. Você é muito peludo para meu gosto, Gautier. E sem ofender, mas não é o suficientemente lindo ou sexy para mudar meus gostos. Nick ficou com a boca aberta. —Isso foi hostil e doloroso. Por que você quer me machucar tão profundamente, cher? Não deixe esta calma interior enganá-lo. Eu também tenho sentimentos. Kody riu deles. — Eu juro que às vezes, parece que vocês dois são é que estão namorando e eu me sinto sobrando. — Oh, baby, — Nick disse com um sorriso. — Você me conhece melhor que isso. Você é a única garota para mim. Caleb não pode competir com você. Caleb bateu nele com sua mochila. — Ande antes que eu machuque você.

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Rindo, Nick abriu a porta que dava ao corredor de trás, e congelou quando viu um pequeno grupo de estudantes que estavam reunidos ao redor de um grafite que alguém tinha pintado sobre alguns armários. — Spencer Sexton é gay! — E como se isso não fosse suficiente, havia fotos de Spencer beijando outro garoto, coladas sobre as letras. O quê... — Alunos! — O Sr. Head gritou enquanto vinha na direção a eles. — Saiam daqui. Agora! Dispersem! Quando Nick deixava o prédio, Spencer o pegou e o levou para um lado, longe das câmeras e dos professores que pudessem vê-los. Embora tivesse apenas quinze anos, Spencer já media mais de um metro e oitenta, com músculos suficientes no corpo para que as pessoas pensassem que era muito maior. Caleb começou a segui-los, mas Nick gesticulou que estava tudo bem. Ele podia lidar com Spencer sem ajuda, e tinha uma ideia bastante aproximada do que era que Spencer queria dizer a ele. E a última coisa que Spencer queria para isto era um público. — A quem você contou? — ele grunhiu. — A ninguém. Ele olhou para Nick com fúria. — Você é o único que sabe sobre mim, Gautier. — Algo que Nick tinha descoberto pura e exclusivamente por acidente uma noite quando ele tropeçou com Spencer em um encontro com outro garoto na última fila de um cinema praticamente deserto. — E disse a você que ia levar esse segredo à minha sepultura, Spencer. E falei sério. Não disse uma só palavra a ninguém. Nunca. Nem sequer em sonhos. Tem certeza de que seu namorado não disse nada? Ele viu a dúvida nos olhos de Spencer. Mas não sabia se era por ele ou por seu namorado. — Juro por minha vida, Spence. Eu não faria algo assim. Não faria. Eu sei o que estar fodido por coisas que você não pode evitar. Eu não vou fazer isso com ninguém. Spencer, finalmente o soltou. Passou uma mão trêmula pelo cabelo. A angústia em seus olhos fez com que Nick se sentisse mal por ele. — Não sou eu nessas fotos. De onde as tiraram? — Não sei. — Nick olhou de lado para Kody e Caleb, que estavam suficientemente perto para vê-los, mas não o suficiente para escutar sua conversa.

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— Alguém está tentando foder a vida das pessoas, por alguma razão. Sabemos que o que fizeram com Brynna é uma mentira. Talvez seja isso que estão fazendo com você também. Talvez não tenham nem ideia de que realmente você é gay. Mas esses rumores sobre o Spencer circulavam desde o primário. Embora todos basicamente suspeitavam da verdade, ninguém tinha provas disso. Spencer até mesmo tinha uma namorada com quem estava “saindo” por mais de um ano. A última que queria era ser intimidado ou ser atacado por ser diferente. Nick não podia culpá-lo por isso, e definitivamente não o julgava também. Caleb e Kody se aproximaram lentamente. — Está tudo bem, Spencer? — perguntou Kody. Com os olhos lacrimejando, Spencer negou com a cabeça. —Não. Sinto-me como se tivessem me violado em público. Mas vou encontrar quem fez isto, e quando o fizer... Ele olhou para Nick com dureza em seus olhos. — Você vai ficar muito feliz em saber que não é deles. — Já estou. — Sexton! — gritou o Sr. Head da porta. — Preciso de você aqui, imediatamente. Suspirando, Spencer foi até ele. Nick pulou quando seu telefone tocou outra vez. Tirando-o de seu bolso, viu uma nova mensagem de texto de um remetente desconhecido. Querem mais segredos de seus colegas de classe? Visitem meu website: ooutroladodeStRichards.com — Peguei-o sanguessuga inútil. — Nick sorriu. Kody franziu o cenho. —A quem? Nick levantou seu telefone em sinal de triunfo. — Quem está fazendo isto, acaba de cometer o engano de me mandar uma mensagem de texto com sua estupidez. Vou até o Bubba. Vocês vêm? Kody inclinou sua cabeça. — Logo atrás de você. —Você lidera.

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Agarrando seu telefone, Nick caminhou umas quantas quadras até a Rua Royal onde estava a loja do Bubba, A triplo B. A única no mundo que combinava armas e computadores, ao menos a única que Nick conhecia. E teria que selecionar a maior das armas e computadores no estado de Louisiana. O qual dizia muito do dono. Bubba era um tipo diferente de pessoa, diferente de qualquer que Nick tivesse conhecido. Ele estava em seu mundo, e não se importava com o que os outros pensassem. Bubba também era um enigma ambulante. A maioria das pessoas o rotulava como excêntrico, mas isso seria como tentar definir o oceano apenas como algo úmido. Embora Bubba tivesse um sotaque do Tennessee bem marcado, graduou-se com honras, primeiro de sua turma no MIT (Universidade tecnológica) e tinha vários doutorados. Incluindo Doutor em Física Nuclear e Partículas. Nick sequer sabia exatamente o que era, exceto que parecia importante. O homem também sabia mais sobre filmes de terror que alguém com uma vida social deveria saber. Para falar a verdade, Bubba sempre usava uma camiseta negra sobre algum filme de terror, e geralmente colocava uma camisa de flanela vermelha. Mesmo no calor do verão. Embora para ser justo com o Bubba, os servidores que ele tinha em Triplo B teriam que estar a uma temperatura de dez graus centígrados durante todo o ano. E como ele passava grande parte de seu dia na loja, Nick podia entender que quisesse algo mais quente do que apenas uma camiseta. Essa era a razão pela que o bom Deus havia inventado os moletons. Pena que Bubba não pudesse encontrar essa seção em uma loja de roupas. Mas enquanto Nick entrou na loja, congelou ao ver Bubba atrás de um balcão de vidro com um terno caro preto, uma camisa azul, com uma gravata azul de listras. O que mais o chocou, foi que Bubba tivesse óculos e que sua espessa barba se transformou em uma elegante barbicha. Merda. O homem quase parecia normal. Apenas era um cara enorme com uma aura de vou-partir-sua-cara-se-rir-de-mim, mas... Por favor, não me diga que você finalmente explodiu Mark — Quem morreu? — Perguntou Nick. Bubba o olhou como se fosse um estranho. — Estou prestes a ir buscar a minha mãe no aeroporto, e sei que vai querer fazer uma parada em uma Igreja logo que entremos na cidade, assim poderá agradecer a Deus que o avião não caiu. Isso só confundiu Nick ainda mais. —Eu o vi muitas vezes na Igreja... mas nunca antes o vi vestido dessa forma para isso. — Isso é porque minha mãe não estava aqui comigo. Se eu aparecesse na Igreja com jeans quando ela está comigo, ela me deixaria inconsciente com uma surra. É das que apenas

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não vai à Igreja com calças. Diz que não é respeitoso para o padre ou para Deus. — Ele ergueu suas mãos. — Não pergunte. Eu vivo tentando fazê-la entrar na razão, mas ela não me escuta. Nick estava surpreso que alguém pudesse intimidar o capitalista Bubba. O homem era épico. Era grandioso. E acima de tudo... — Sim, mas você é velho. Bubba arqueou uma sobrancelha como se estivesse ofendido pelas palavras de Nick. — Não sou tão velho. Apenas passei dos trinta. Embora como minha mãe vê, não importa a idade que eu tenha. Ela ainda me corta a carne no Dia de Ação de Graças antes de me dar o prato. Tenho sorte que não me dá Neston na boca, em uma cadeira alta. Caleb e Nick riram da imagem ridícula. Kody fez um som de irritação. — Bom, eu acho que é algo doce. Bubba inclinou sua cabeça para ela em sinal de respeito. — Obrigado, Srta. Kody. Agora me digam. Que posso fazer por vocês? Nick deu um passo à frente para mostrar seu telefone a Bubba. — Há alguém que está brincando com os garotos do colégio, inventando coisas terríveis sobre eles, e quem quer que seja, me mandou este website. Pode nos ajudar a descobrir quem é? Bubba grunhiu. — Eu faria isso. Você sabe. Mas não posso me atrasar para buscar mamãe. Ela vai acabar adotando na metade do pessoal no aeroporto se a deixo sozinha. — Mark! — O gritou tão inesperadamente que fez os três saltar. Uns segundos mais tarde, Fingerman abria a cortina que separava a parte do frente da loja do quarto de trás. Em seus vinte e poucos anos, Mark tinha seu cabelo escuro desgrenhado e tinha olhos verdes brilhantes. Vestido com uma enorme camiseta marrom, que teve melhores dias, percebia-se que não se barbeou por dias. Ah, foi ali que foi parar a barba de Bubba. Mark tinha trabalhava para a Bubba por anos. Mas mais que isso, ambos eram amigos, e Mark era tão louco quanto Bubba. Pensando melhor, era muito mais louco. Bubba criou o hábito de banhar-se com urina de pato para proteger-se dos zumbis. Graças a Deus, Mark não usava hoje, porque essa coisa fedia com “A” maiúsculo. — Que caralho, Bubba. Quantas vezes tenho que te dizer que não faça isso? Assustoume com essa voz de trovão que você tem. Quebra a barreira do som. Um dia, vai fazer com eu me cague nas calças no quarto de trás e não vou limpá-lo. Se você fizer isso, você o limpará. Bubba murmurou algo que soou como Latim. 45


— Não sou um covarde, — disse Mark na defensiva. — E não sou seu cão. Não grite comigo, rapaz. Um dia você vai me morder. Nick limpou a garganta para lembrar a ambos que não estavam sozinhos. — Uh, meninos. Meu telefone? Um lunático maligno solto na escola? Sua mãe no aeroporto? Isso chamou a atenção de Bubba, que era o que Nick queria. Ele deu o telefone a Mark. — Preciso que você rastreie o IP disto e encontre quem registrou o domínio. —Sim, está bem. Posso fazer isso. —Sei que pode fazer. Foi por isso que o chamei aqui. Mark apertou a mandíbula de uma forma que mostrou a Nick que estava se esforçando a não fazer nenhum comentário. Depois de alguns segundos, ele fez um gesto para a porta. — Você não tem que ir buscar a sua mãe? É uma longa viajem de Bucksnort até Nova Orleans, e Deus queira que ela não encontre um estranho em sua vida. — Estou indo. — Bubba abriu seu casaco para confirmar se tinha a carteira no bolso. Depois deu um tapinha nas calças e franziu a testa. Mark levantou o molho de chaves que estava no balcão estendeu-as. Suspirando aliviado, Bubba as agarrou. — Obrigado. Inclinando sua cabeça, Mark não disse nada até que Bubba saiu da loja. — Eu te juro, amo a mãe dele, mas odeio cada vez que ela vem aqui. Esse cara fica tão fora de si que não pode pensar com clareza. Caleb zombou. — Não sabia que ele tinha momentos de clareza. Mark riu disso. — É verdade. Bem, venham todos para a parte de trás e eu me encarrego de rastrear isto para você. Eles foram para trás do balcão e através das cortinas. Kody sentou-se no tampo da mesa de trabalho alta que estava repleta de partes de computadores. Quando se estirou para pegar uma placa-mãe, Mark agarrou sua mão. — Certifique-se de colocar os pés na terra antes de tocar em algo. — Ele enfatizou a última palavra. Ela franziu o cenho. — Colocar os pés na terra? Eu não estou flutuando, estou? Se viesse de qualquer outra pessoa, soaria como uma brincadeira, mas como Kody podia voar... Mark colocou sua mão na carcaça metálica do computador. — A eletricidade estática é seu pior inimigo no que diz respeito aos computadores, e quando encher o tanque.

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Nick e Caleb trocaram um olhar divertido. Conhecendo Mark, a história teria que ser boa. Afinal, Mark era a única pessoa que Nick conhecia que podia incendiar um jipe apenas com seu telefone. — Ao encher o tanque? Nick perguntou. — Sim, uma vez fiz explodir a moto de meu tio por acidente e meu melhor par de jeans pegou fogo. É obvio, estaria ruim da cabeça se tivesse feito isso intencionalmente. Enfim, eu deslizei para o assento de vinil e toquei a mangueira para carregar sem colocar os pés na terra. A faísca acendeu os gases e queimou tudo o que tocou. Vocês ficariam surpresos com a quantidade de gente que tem esse tipo de acidentes durante o ano. Embora vocês não acreditem, não fui o único... não sei ainda como isso me faz sentir. Ou seja, estou feliz de não ser o único, mas ainda assim... Mark sentou-se no banco e puxou o teclado para ele. — Sabiam que houve mais de duzentos casos reportados de gente que ateou fogo a si mesmo e a seus carros porque não pisaram na terra antes de tocar a mangueira? É verdade, a maioria são mulheres que começaram a carregar o tanque, em seguida, voltaram para o carro, e quando saíram para tocar de novo a mangueira, bum, tenho que dizer que não estou orgulhoso de ser um dos poucos homens que fizeram isso. É meio constrangedor, mas se eu posso fazer com que algum de vocês evitem aprender a lição da mesma maneira que eu, então, vale a pena passar por esta humilhação. Só estou contente de que Bubba não esteja aqui para zombar de mim. Nick riu. — Isso é o que mais me diverte em você, Mark. — O quê? — Que seu único propósito na vida parece ser o de servir de exemplo sobre o que não se deve fazer. Rindo com ele, Mark começou a digitar. — É triste, mas é verdade, garoto. Triste mas real. Agora vejamos o que podemos encontrar. Eles esperaram em silêncio enquanto Mark trabalhava. O telefone de Nick começou a soar. Sem deixar de digitar, Mark entregou-o a ele. Isso era impressionante. Mas Mark era o perito em digitar rapidamente com uma só mão. Uma habilidade que tinha adquirido mantendo sua mão em uma bolsa de batatas fritas enquanto trabalhava ou navegava pela internet. Pressionando o botão para responder, Nick levou o telefone à orelha. — Alô? — Você está morto? Nick hesitou ao som da voz de Kyrian profundamente acentuada. — Não, mas parece como se minha morte fora um sucesso iminente. Por quê?

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— Você sabe que horas são? Nick olhou para seu relógio e se encolheu. Eram mais de cinco. — Desculpe, chefe. Eu me distraí. — Sim, e você também não ligou para sua mãe e ela me telefonou preocupada querendo saber onde estava. Nick franziu o cenho. — Por que não ela não me ligou? — Ela tentou te ligar, mas você não respondeu. Tentou mais de uma vez e dava na secretária eletrônica. Neste momento ela pensa que você está morto em uma vala. Genial. Castigo no colégio e castigo em casa. Exatamente o que ele queria. — Vou ligar pra ela. — E... — E eu sei que deveria ter ligado para você e ter dito que chegaria tarde ao trabalho. Lamento muito isso, Kyrian. Realmente. Aconteceu algo na escola, e estive trabalhando nisso desde que saí da detenção. A hora acabou passando. Isso não voltará a acontecer, chefe, eu prometo. —Está bem, Nick. Mas só porque isso não é habitual para você. É por isso que nos preocupamos. Você sempre mantém contato, é por isso que quando não faz, nos preocupa. Nick se encolheu com isso. Não suportava preocupar a sua mãe. — Perdoe-me. Vou para aí e... — Não se preocupe com isso. Eu não tenho nada que fazer que não possa esperar até amanhã. Vá ver sua mãe para que saiba que está bem. — Está bem. Tem certeza que não precisa de mim para nada? — Perguntou ao Kell sobre o envio da minha espada substituta? — Sim. E também fiz o rastreamento do envio. Chega amanhã de manhã. Acidentalmente a mandaram para Cleveland. Também levei a roupa suja para a lavanderia, e a vou passar para buscá-la amanhã à tarde. Durante o almoço, marquei uma hora para que fizessem a manutenção no Lamborghini na sexta-feira e combinei com o Sr. Poitiers para que o pegue e o leve até você. Também mandei um e-mail para Acheron a respeito do Halloween, e ele me disse que dissesse tanto a você como a Talon que há duas novas adições que vem para o evento. Alguém chamado Gallagher e Wulf. Eles chegam dia vinte e oito. Já mandei um e-mail a Talon a respeito e ia dizer-lhe isso quando eu chegasse. E por último, liguei para Liza e ela terá o seu presente para Rosa preparado e embrulhado. Vou pegá-lo no caminho de casa e me certificarei de que Rosa o receba amanhã junto com o cartão que você tem na primeira gaveta em cima da mesa. Há mais alguma coisa que você precise? 48


— Não. Você está em dia com tudo e eu realmente aprecio isso. Estou muito impressionado com você, Nick. É um bom menino. O rosto de Nick pegou fogo. Não estava acostumado a ser elogiado por ninguém e sempre ficava envergonhado em recebê-los. — Estou apenas tentando fazer o meu trabalho, chefe. — Mas era mais que isso. Nick tinha com Kyrian uma dívida que nunca poderia saldar. O homem salvou sua vida, depois que o atacaram no ano passado. Não apenas tinha evitado que seus amigos o matassem, mas o tinha ao hospital e pagou as despesas para que o curassem. Era uma dívida que tinha levado com que Nick trabalhasse meio período para ele, para poder pagar as contas do hospital. — Está bem, — disse Kyrian gentilmente. — Vejo-o amanhã. —OK. Se precisar de algo mais... Kyrian riu. — Tchau, Nick. Nick desligou o telefone, depois discou o número do trabalho de sua mãe. Já que ela não tinha um celular próprio, teria que ligar no telefone do restaurante. — Santuário em Ursulinas. Em que posso ajudá-lo? Ele reconheceria esse doce sotaque sulino misturado com um pouco de francês em qualquer lugar. Ele pertencia a uma mulher loira, alta e bonita que era toda pernas e curvas. — Olá Aimee. Sou Nick. Eu poderia falar com minha mãe por um segundo? — Garoto — ela ressaltou essa palavra de forma que o fez encolher-se interiormente, — sua pele está tão queimada, que sairá carbonizada. Dê-me um segundo que eu vou procurá-la. Nick sabia o que estava por vir. Certamente, ele escutaria as lágrimas na voz de sua mãe. — Nicky, baby. Você está bem? Sou um idiota. Como poderia ter esquecido de ligar para ela. Ela já se preocupava tanto com ele antes mesmo que ele fosse baleado. Desde a noite em que quase acabou morto, praticamente chegou a ponto da loucura a respeito de sua segurança. — Lamento muito, mãe. Não quis preocupá-la. — Mas você está bem? — Sim.

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Essa única palavra secou suas lágrimas. Também fez com que sua irritação disparasse um reino de fúria que fez com que instantaneamente crescesse um nó no estômago dele. — Como você se atreveu a assustar-me dessa forma? Tem ideia do quanto preocupada eu fiquei? Por que não atendeu ao telefone? Onde você estava? Por que não estava no trabalho? Eu juro que se você se juntou novamente com esses vagabundos, vou castigá-lo até que fique velho. Ouviu-me? Por que não me responde, Nick? Então? — Porque sempre grita quando eu a interrompo. — Está tirando sarro de mim? — Não senhora. — Isso seria muito idiota de sua parte, especialmente com o humor que sua mãe estava. Ela fez um som de extrema irritação. — Está de castigo por uma semana. Escutou-me? — Mas mamãe... — Não me diga “mas mamãe”. Estou cansada de sua irresponsabilidade. E ainda por cima você pensa que é suficientemente maduro para dirigir e sair com uma garota. Realmente, Nick? Você nem sequer se lembra de ligar um número de telefone ou de tirar o lixo e levá-lo à calçada esquina, ou de baixar o assento do banheiro, pegar sua roupa íntima do chão, e pensa que é capaz de dirigir um automóvel no meio do trânsito de Nova Orleans? Acho que não. Você tem muito caminho a percorrer para transformar-se no homem que pensa você que é. Você me ouviu? Realmente ele odiava essas últimas duas palavras, com todas suas forças. Essas que dizia três a quatro vezes a cada frase, cada vez que gritava com ele. Ele apertou os dentes para evitar continuar discutindo com ela. — Agora eu tenho que voltar para o trabalho. Não sei onde você está, mas tem quinze minutos para passar pela porta do Santuário. Se for mais que quinze minutos, eu castigo você por um mês. Ouviu-me? — Sim, senhora. — O relógio está correndo, baby. É melhor você correr. — Ela desligou. Suspirando, Nick olhou primeiro para Kody e depois para Caleb. — Já escutamos, — disse Mark. — Tenho certeza de que na Groenlândia também escutaram. Melhor que você vá andando. — Estou saindo. — Ele entregou seu telefone a Mark. — Já tenho tudo o que preciso. Eu ligo assim que conseguir rastrear. 50


— Tudo bem, obrigado. — Quer que a gente vá com você? — perguntou Kody. Sim, era exatamente isso que precisava. Não havia como dizer o que sua mãe faria se soubesse que havia saído com Kody quando deveria estar trabalhando. — Não, ela pensará que estou passeando em vez de estar trabalhando. Se ela me vir com vocês, meninos, vai esquentar. Vejo-os mais tarde. Nick pegou sua mochila do chão, colocou-a sobre seu ombro machucado, e correu pela rua até o Ursulinas tão rápido quanto pôde. Por sorte, a loja de Bubba não estava tão longe do Santuário. Mas não queria arriscar-se. Quanto antes chegasse lá, menos zangada estaria sua mãe. Ele não parou até que alcançou as portas do edifício de três andares, de tijolos vermelhos que abrigava um dos mais famosos bares e grelhados de Nova Orleans. Havia um homem gigante como um urso, na porta para saudar os que chegavam. A maioria não encontraria nada de estranho nisso, mas Nick sabia que quem estivesse atendendo a porta estava ali para avaliar o nível de ameaça da clientela sobrenatural que entrava no edifício. E por razões que ninguém podia explicar a quem quer que estivesse na porta, eles tinham que colocar Sweet Home Alabama na jukebox sempre que Acheron aparecia. Havia muito sobre o Santuário que Nick ainda tinha que aprender. Com cabelo loiro e braços fortes, quem atendia a porta era feroz e intimidante. Até que reconheceu Nick e deu-lhe um sorriso amplo e amigável. Nick suspirou aliviado. Ainda bem que era Dev. Um de quatro gêmeos iguais, Dev sempre era o mais aberto e o mais descontraído. Enquanto os irmãos de Dev, Cherif e Quinn, eram muito bons, Remi o assustava. Se Nick tinha que enfrentar a sua mãe com aquele humor, estava feliz de que fosse Dev quem estivesse trabalhando nesse momento. Ele era o único ser que seria capaz de deter sua mãe se ela tentasse matá-lo. — Olá, Dev. Dev estalou a língua. — Nicky, Nicky, Nicky não invejo você, mon fils. Sua mãe vai pendurá-lo no teto. Se o nó no estômago de Nick ficasse mais forte, ele soltaria diamantes no banheiro. — Sim, eu também não invejo minha situação. Quer trocar de lugar comigo? Dev riu. — Você gostaria disso, mas eu não. Acredite, não queira ver minha mãe quando está zangada. Você iria gostar disso, eu... Nem tanto, em geral. Acredite, ele se zanga tão fácil como um urso. Nick riu para o trocadilho de Dev. Dev fazia uma piada com o fato de que ele e sua família eram metamorfos que mudavam para essa forma. 51


Sacudindo sua cabeça para Dev, foi para dentro. Levou um minuto para seus olhos acostumarem-se ao interior escuro. Aimee, a irmã de Dev, estava no bar, encarregada da bebida. — Então onde você estava senhor? Ele pulou diante do tom zangado de sua mãe em sua orelha. Como o tinha surpreendido? — Droga, ela poderia trabalhar como ninja. — Na escola, eu estive na detenção. — ”Muito bem Nick, jogue mais lenha na fogueira”. — Por quê? — Ela grunhiu. — Stone me deu um empurrão... Ela fez um gesto com a mão para que se calasse. — Não comece com isso, seja responsável por suas próprias ações. Ouviu-me? Agora me diga por que chegou tarde. Ele apertou os dentes enquanto se esforçava a não demonstrar nenhum tipo de bronca contra ela. Mas estava cansado de que o tratassem como um idiota que não podia nem amarrar os cadarços dos sapatos. — Não cheguei na sala até que bateu o sino. — Aí estava a verdade. —Nicholas Ambrosius, não esgote minha paciência. Não hoje. Não estou de humor para seus jogos. “Escutou-me” ele Zombou dela em sua cabeça. Porque não era idiota para dizer isso em voz alta. Forçou-se a falar em um tom calmo. — Não sei que dizer mãe, sei que se zangou quando não liguei e eu lamento. Foi um mau dia na escola, dois de meus amigos estão sob fogo. Eu apenas estava tentando ajudá-los, e não pensei em mim mesmo. Ela franziu o cenho. — O que quer dizer com “sob fogo"? — Alguém começou a atacá-los publicamente e mostraram fotos horrorosas deles e insultos para que todos vissem. A raiva escureceu seus olhos quando ele tocava seu ponto frágil como Grim o havia mencionado. A única coisa que sua mãe não podia suportar era que espalhassem intrigas ou que fofocassem sobre uma pessoa. Ela viveu o suficiente disso quando ficou grávida dele. — Quem? — Você não conhece Spencer, mas a outra pessoa que atacaram foi Brynna. — Addams? — ela perguntou incrédula. 52


Ele concordou. Agora sua mãe parecia tão doente quanto ele. — Por que alguém iria querer atacar Brynna? — Não sei. Era isso que estava tentando averiguar. Ela saiu correndo da escola, chorando, e eu apenas queria ajudá-la, você entende? Finalmente sua mãe o abraçou. — Está bem, Boo. Está perdoado, mas ainda está de castigo. Claro que ele estava. Ela, suavemente o levou até o pequeno cubículo onde normalmente fazia sua tarefa. — Vou trazer algo para você comer. Comece sua tarefa. Nem um pouco contente com tudo isto, Nick obedeceu antes de meter-se em mais problemas. Sentou-se e começou a mexer em sua mochila. Enquanto estava tirando o livro de matemática, viu uma sombra passar rapidamente pela sala. Virou-se, tentando localizá-la. Mas ela se foi tão rápido que não tinha certeza de que podia confiar em sua visão, na sala escura. De repente, seu Grimoire aqueceu embaixo de sua mão. Com um susto, tirou a mão. Soprou sobre sua palma para ajudar com o ardor enquanto abria o livro com sua outra mão. — Tudo bem. — Que você está tentando me dizer? — Sacou seu pêndulo e cortou o dedo. Recitando o feitiço para ativá-lo, fez cair três gotas de sangue na página. Por um segundo, não houve reação. Depois o sangue recorreu pela página até que formou palavras. Horror. Terror. Pesadelos. Sonhos. Algumas coisas nunca são o que parecem. Discórdia. Brigas. Vergonha e dor. Em todas suas vidas, você verá. Mas nenhuma chegará tão profundamente Como o inimigo que não viu.

Ainda estava tentando decifrar quando seu olhar foi atraído pelo brilho. Ali, no brilhante metal, viu o futuro que estava por vir. Era Brynna, e pendurava pelo pescoço em seu quarto.

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CAPÍTULO 4

Nick levantou-se num salto e procurou seu telefone. Tinha que comunicar-se com Brynna antes que ela deixasse que suas feridas superassem seu raciocínio. A vida era dura para todos, mas a dor era passageira e eventualmente iria embora. Ele sabia melhor que a maioria, já que vivia a base de vergonha, humilhação e agonia desde seu nascimento. A morte era definitiva. Não havia um botão de desfazer. Não a menos que soubesse como convocar Artemis, e mesmo assim, não havia garantias de que ela o aceitaria. Com sua mão tremendo de pânico, discou o número de Brynna e esperou. Ela não atendeu. Enquanto ligava, sua mãe voltou com um hambúrguer e batatas fritas. Ao vê-lo franziu o cenho, preocupada. — O que está errado? — Ma-ma-mãe, tenho que ir. A fúria voltou a seus olhos enquanto mostravam fogo azul a Nick. — Ponha a bunda na cadeira, baby. Você está de castigo. — Eu sei. Mas... — Sem mais, — ela o repreendeu. — Sente-se e faça sua tarefa. Agora! Ele negou com a cabeça. — Você vai ter que voltar a me castigar. Mas tenho que ir ver Brynna. Tenho um mau pressentimento, e ela não atendeu ao telefone. Tenho que me certificar de que ela está bem. Ela deu um passo para trás e o olhou com desconfiança. — Isso é realmente o que quer fazer? —Juro-lhe, mamãe. — Ela fez uma pequena cruz em seu peito. Algo que ele só fazia quando dava sua palavra de honra. —Está bem, vá em frente, e veja como ela está, então. Não lhe vou proibir isso. Quer levar o hambúrguer? — Nick agarrou da bandeja, e depois lhe deu um beijo na bochecha. — Posso deixar meus livros aqui? Volto assim que me certifique de que ela não está fazendo nada idiota. — Ok. Dando uma dentada em seu hambúrguer, ele se dirigiu à porta. — Nick? 54


Ele fez uma pausa para dar a volta e olhar a sua mãe enquanto engolia a comida. — Sim, senhora? — Você é um bom menino. Muito melhor do que o que eu mereço. Apenas queria que soubesse que por mais que seja dura com você, vejo o quão maravilhoso você é. Estou orgulhosa de você. Realmente. Suas palavras o fizeram sentir melhor. — Obrigado mamãe, eu também te amo. Sorrindo, ele saiu correndo para pegar o ônibus, para chegar o mais rápido possível à casa de Brynna. Seria muito mais fácil se ele tivesse um automóvel... Ou se Ambrose ou Morte o ensinassem a teletransportar-se. Esse seria um poder que ele adoraria ter. É obvio que com sua sorte, se transportaria para algum lugar realmente ruim, como o ártico, e de cuecas. Ou completamente nu no ginásio de sua escola durante alguma reunião. Sim, isso seria muito pior do que congelar suas regiões inferiores em um iceberg. Preferiria ter pinguins que ririam dele do que as garotas de sua classe. Ele chegou à esquina no mercado francês como uma alma que se leva o diabo. Pela primeira vez em sua vida, a sorte estava de seu lado. O coletivo chegou justamente quando chegou à plataforma. E fez tempo recorde para chegar à casa da Brynna. Uma enorme mansão cinza escura, que fazia com que seu complexo de apartamentos parecesse uma casa de bonecas. E embora ele ficasse desconfortável por estar em um lugar tão lindo e elegante, sempre havia gostado de estar ali. Cada vez que a mãe de Brynna estava na cidade, sempre tinha biscoitinhos frescos ou madalenas em um pedestal de cristal na ilha da cozinha. E seu pai nunca o olhou como se ele fosse lixo, ou fez algum comentário sobre o fato de que Nick não tinha nada que fazer ao redor de sua filha. Todos os membros da família Adams eram muito bons com ele. Algo que realmente apreciava. Nick abriu o portão de ferro e correu pelo jardim até os degraus da porta. Tocou a campainha. Uns segundos depois, o irmão menor de Brynna, Jack, abriu a porta e o olhou — Sim? — Brynna está em casa? Jack encolheu os ombros. — Não sei, nem me interessa. Estou tão feliz de ser filho único... Nick suspirou e perguntou outra vez. — Seu pai está?

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— Está fazendo alguns mandados. Volte mais tarde. — Posso entrar e ver se Brynna está em seu quarto? Jack o olhou com olhos semicerrados. — Nenhum menino que não tenha um laço de sangue com Brynna pode entrar em seu quarto. Nunca. — Não vou entrar. Pode vir comigo e certificar-se de que ficarei no corredor. Por favor? Não vou ficar muito tempo. Somente quero saber se ela está bem. — Sim, está bem. Eu a escutei chorando antes. Imaginei que seria algo idiota. Ela chora o tempo todo. Quando está contente. Quando está zangada. Quando está triste. Quando quebra uma unha ou tem que tomar um remédio. As garotas são tão estranhas. Tento não dar muita atenção. — Jack deu um passo para trás para que Nick pudesse entrar na casa. Nick se dirigiu para as escadas. — Onde fica seu quarto? — É o primeiro à esquerda. — Mas Jack não foi atrás dele. Em vez disso, passou ao lado das escadas em direção à cozinha. Subindo os degraus de dois em dois, Nick não parou até que chegou à sua porta. Por favor, que esteja bem. Por favor... Aterrorizado do que poderia encontrar, tocou a porta. — Olá Bryn, sou eu, Nick. Você está aí? — Vá embora. — Não havia forma de não escutar as lágrimas em sua voz. — Não posso, não até que eu saiba que você está bem. — Nick apoiou sua cabeça contra a madeira branca da porta e desejou poder arrumar as coisas para ela. Ele odiava que ela estivesse tão destroçada. E por quê? Maldade? Ciúmes? Realmente por que alguém com alma faria isto a alguém? Realmente poderiam sentir satisfação ou felicidade de cravar uma faca nas costas de alguém tão ferozmente? — Eu sei que você está sofrendo, Bryn. Acredite em mim. Sei como se sente que lhe chutem os dentes emocionalmente, e a façam engolir isso, de forma tal que façam você engasgar com o último resquício de dignidade. Eu sei. Quando você pensa que pode levantar a sua cabeça e que tudo vai estar bem, aparece sua mãe com uma camisa cor laranja brilhante que te faz usar na escola para que todos possam zombar de você e te xingar. Esse nó no estômago que te diz, que não pode suportar mais isso. Que a vida é uma droga e que as coisas nunca vão melhorar. Que você está caminhando na corda bamba, tentando se agarrar com os dedos dos pés, porque não tem uma rede de contenção, e está a um espirro de ser uma mancha no piso. Mas não está sozinha, Brynna. Não está. Tem um montão de gente que se preocupa com você. Gente que te ama e que estaria devastada se algo te acontecesse.

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Ela abriu a porta. Seu cabelo escuro estava despenteado e seus olhos vermelhos e inchados. Com o rímel manchado sobre seus olhos e bochechas, parecia tão miserável que lhe fez doer o coração. — Não sou tão forte como você, Nick. — Não, você é mais forte do que eu. Negando com a cabeça, ela soluçou. Nick secou as lágrimas em seu rosto. — Você sabe. Alguns anos, eu estava tendo um verdadeiro dia de merda. As coisas estavam tão mal, que honestamente pensei em me atirar da ponte do Pontchartrain. Estava tão cansado de ser expulso ou ridicularizado por coisas que não podia mudar. Diziam-me sobre o inútil nojento eu era. Um estúpido e um lixo. E enquanto me sentava em uma mesa da cafeteria completamente sozinho, porque ninguém queria juntar-se a mim e eu não tinha dinheiro para comprar nada para almoçar, esta garota linda se aproximou e sentou-se ao meu lado. Compartilhou comigo um sanduíche de peito de peru defumado e biscoitinhos caseiros, e me comprou um pacote de batata fritas e leite. Você lembra o que ela me disse? As lágrimas caiam pelo rosto da Brynna. — Não. — Ninguém pode fazer você se sentir inferior sem a sua permissão. — Eleanor Roosevelt. Nick assentiu. — Disse-me, “não deixe que eles te machuquem, Nick. Alguém como você vale muito mais que dez deles. E um dia, vamos ser adultos e tudo vai ser diferente. Então, o que quer que eles façam terá ainda menos importância do que a que tem agora. Então nem sequer perca um único pensamento sobre eles ou em sua crueldade. Além disso, eles não estariam atacando-o se não pensassem que você é uma ameaça para eles. A gente só persegue aqueles aos quais temos ciúmes ou medo”. — Naquele dia eu lhe perguntei por que alguém teria ciúmes de alguém como eu. Brynna limpou o nariz. — Porque dentro de você há uma luz que brilha tão forte que eclipsa. Você é uma pessoa gentil e engraçado, e é o menino mais inteligente que eu conheço. Mais que tudo, você é capaz de ver potencial e uma oportunidade quando os demais vêem obstáculos. — Sim, — disse Nick, com a garganta apertada enquanto recordava de todos os momento nos quais a única coisa que precisava era um sorriso de alguém. De qualquer um. E Brynna sempre havia sido essa pessoa no momento em que havia sentido que já não podia continuar suportando mais. — Essas palavras ficaram em minha alma, e penso nelas quando Stone e os demais se metem comigo. Enquanto que a única coisa que eles sabiam fazer era me chutar, você nunca o fez. Você é um anjo, Brynna. Não deixe que eles ganhem. Ele s não teriam te atacado se não se sentissem inferiores a você. Então que mantenha sua cabeça levantada e desafie-os a que se metam com você. E eu sei que quando você fizer isso, não irá

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enfrentá-los sozinha. Você tem a mim, LaShonda, Kody e a muitas mais pessoas que enfrentariam o mesmo diabo por você. Ela lançou-se em seus braços e chorou contra seu pescoço. — Eu amo você, Nick. Sempre foi um bom amigo para mim. Dando-lhe palmadinhas nas costas, ele sabia que ela queria dizer que o via da mesma maneira que ele a via. Como amigo. — Eu também te amo. Agora se queremos ser realmente malignos, vamos com Tad neles. Ela riu ao som do nome de seu irmão mais velho, que se formou antes e estava na Universidade no Baton Rouge. — Isso os deixaria inconscientes, não é? — Totalmente, e, além disso, ele é a única pessoa, além de Bubba e Mark, que poderia rastreá-los e machucá-lo. — Brynna? Você está aí? Secando as lágrimas de suas bochechas, ela fez uma respiração irregular. — Eu estou aqui em cima, pai. Nick colocou um pouco de distância entre eles enquanto seu pai subia as escadas. Quando ele chegou no último degrau e viu Nick fora do quarto de Brynna, parou subitamente. Nick sabia que o Sr. Addams era um homem grandão, e por grandão queria dizer alto e musculoso. Mas neste momento. Com esse olhar furioso em seu rosto, Nick pôde jurar que tinha ele havia crescido uns vinte centímetros e seus músculos se expandiram no tamanho dos de Rambo. E tinha bastante certeza de que essa loucura em seus olhos vinha de uma fantasia de esfaquear o Nick ali mesmo onde estava. Levantando suas mãos em sinal de trégua, Nick deu outro passo longe dela. — Não colocou um único pé no seu quarto, senhor. Juro pela vida de minha mãe. Estivemos aqui no corredor todo o tempo. Brynna secou o nariz. — Tive um dia muito ruim na escola, pai, e Nick veio para tentar me levantar o ânimo. Relaxando, seu pai reduziu a distância entre eles. — Recebi uma chamada do Sr. Head. É por isso que vim para casa. Nick se dirigiu para a escada. — E agora que sei que não está sozinha, Bryn, vou para casa. Se precisar de alguma coisa, ou alguém para falar, me chame, não importa se for dia ou noite. Brynna franziu o cenho. — Sério que você veio até aqui para se certificar de que eu estivesse bem? Nick encolheu os ombros, envergonhado. — Não conheço ninguém mais que viva por esta área. 58


O sorriso de Brynna, o aqueceu. — Muito obrigado, Nick. — Sem problemas. — Ele inclinou a cabeça antes de dirigir-se para a escada. O Sr. Addams o seguiu até o térreo, para acompanhá-lo até a porta. Nick fez uma pausa no hall e olhou para cima para assegurar-se de que Brynna não estivesse no patamar antes de falar com seu pai. — Sr. Addams, não sei o que lhe disse o diretor, mas realmente estou preocupado com a Brynna. Eu estava na turma que viu essas mentiras sobre ela e foi bastante terrível o que lhe fizeram. E sei quão cruéis podem ser alguns dos meninos na escola. Talvez você queira deixá-la em casa alguns dias para vigiá-la. Por favor, certifique-se de que ela não fique sozinha. Sei que neste momento sua mamãe está em Seattle e as garotas preferem falar com outras garotas. Se ela necessitar de alguém, posso oferecer minha mamãe. Ela passou por uma situação ruim na escola, também. E sobreviveu. Sei que ela tem a melhor opinião de Brynna e vai ficar contente em ajudá-la da melhor maneira que possa. Esta noite ela vai trabalhar no Santuário, mas amanhã estará em casa por todo o dia. O pai de Bryanna sorriu. — Obrigado Nick, eu realmente aprecio isto. Assentindo, Nick virou-se para ir embora. Mas não precisou ir muito longe. Parou na fonte que havia no meio do jardim e olhou fixamente a água. Levou alguns minutos para que fizessem funcionar seus poderes. Quando finalmente conseguiu, viu que Brynna ainda chorava em seu quarto enquanto abraçava um de seus bichinhos de pelúcia que tinha sobre sua cama. Ele a viu triste e zangada. Entretanto, a imagem do suicídio havia desaparecido. Suspirando aliviado, ele se dirigiu ao ônibus, enquanto seus pensamentos repassavam tudo o que ocorreu. Caleb havia assegurado que algo malicioso e perverso como isto, vinha de um humano. Mas ele não podia afastar o pressentimento de que havia algo mais por trás de tudo isto. Não parecia humano. Sim, as pessoas eram cruéis. Eram sinistras. Ele viu o pior da humanidade. Tinha olhado seu amigo nos olhos enquanto seu amigo agia com a intenção de matá-lo e depois disparou contra ele na rua, sem piedade. Por mais vezes que podia contar, Nick havia zombado dos hipócritas ao seu redor e banhando-se em sua condenação. Mas ainda assim... Ele escutou algo que sussurrava ao seu ouvido em um idioma que não conhecia. Nick congelou enquanto tentava entendê-lo. Era essa a voz dos espíritos que Caleb escutava? Os que tinham informação e sabedoria? Ambrose disse a ele que um dia seria capaz de acessar o universo, ver todas as coisas ocultas. Saber o que ninguém sabia. Parecia improvável, mas uma coisa que havia aprendido

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nestes últimos meses era que “absurdo” era a ordem natural das coisas. Tentar encontrar sentido no mundo era como tentar abrir a chave do universo usando um brinquedo. De alguma forma, estranhava viver na ignorância. Esses dias de supremo conforto quando o mundo fazia sentido, e qualquer problema que tivesse podia ser solucionado sentando-se no colo de sua mãe para que ela o consolasse. Nesse momento, ele sonhava que era um adolescente. Ele disse a si mesmo que assim que tivesse um trabalho, seria um homem. Mas ele não se sentia como um homem. Bem, alguns dias, sim. Às vezes se sentia tão velho como Acheron, que tinha mais de onze mil anos. Outras vezes, queria correr onde estava sua mãe para que ela o fizesse sentirse melhor. Era uma época tão estranha em sua vida. Preso entre a infância e a vida adulta. Sua mãe tinha apoiado tanto ele que às vezes se sentia como se ele fosse o pai. Como se eles tivessem criado um ao outro. E ao mesmo tempo, não podia imaginar-se tendo um filho a quem cuidar, na sua idade. Era incrível que sua mãe não ficou louca. Sem mencionar que havia sido um menino muito doente. Nos seus primeiros dois anos de vida ele havia entrado e saído de hospitais por todo tipo de coisas estranhas. Porque era o filho de um demônio. Agora ele sabia. Sua parte humana esteve brigando contra o DNA de seu pai. E sua parte demônio esteve tentando matar a sua parte humana. Como sua mãe e seu pai haviam se conhecido? Era algo do que sua mãe se recusava a falar. Também não falava mal dele. Para bem ou para mau, ele é seu pai, Nick. A família é a família, sem importar o que acontecer. E sua mãe estava louca por pensar assim. Só viu seu pai um par de vezes durante sua vida, enquanto o visitava na prisão. A única lembrança real que tinha do homem era de quando tinha dez anos e seu pai viveu com eles por três meses inteiros, porque alguém havia sido o suficientemente idiota para dar-lhe liberdade condicional. Como um mau clichê de Hollywood, seu pai ficava estirado em algum lugar por bebedeira, e batia neles. Até que um de seu ex-companheiros de prisão o convenceu a roubar um banco. Durante o roubo, seu pai havia assassinado brutalmente quatro pessoas, dizendo que eram demônios tentando matá-lo. Naquele momento parecia algo estúpido. Agora, nem tanto. Provavelmente havia sido demônios que o estavam perseguindo.

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Em vez de declarar-se incapaz por insanidade, ou de lutar contra a condenação, seu pai se declarou culpado e havia sido enviado de volta para Angola. Aproximadamente um ano depois, um pouco antes que Nick completasse onze anos, houve uma enorme rebelião onde seu pai ficou ferido. Também havia conseguido matar um guarda. Algo que garantiu que nunca mais sairia em liberdade condicional. Vivas para a família. Mas Nick não acreditava que os laços de sangue criavam famílias, ou que o DNA de seu psicótico pai iria definir o tipo de pessoa que ele iria se transformar. Em seu mundo, a família era algo que você podia escolher ter. As pessoas que você amava e que por sua vez amavam você— aqueles a quem você poderia chamar no meio da noite e que se apressavam em atendê-lo. Esses eram os que contavam como família. Em sua opinião, sua família estava composta por sua mãe, Menyara, Kyrian, Rosa, Liza, Bubba e Mark. E Acheron era esse tio estranho do que ninguém sabia muito. Caleb era o primo chato que gostava, mas não sabia por quê. E Kody tinha um lugar em seu coração que era somente para ela. Talvez se sentia dessa forma porque, além de sua mãe, nunca havia conhecido seus parentes de sangue. Nunca havia conhecido seus avós. O mais perto que esteve de conhecêlos foi de passagem num shopping, anos atrás, durante o natal. Sua mãe havia se escondido numa loja e Menyara havia dito quem era e por que sua mãe estava tão chateada e não queria que a vissem. Agora, já nem sequer podia lembrar que aspecto tinham. Não os reconheceria nem que lhe passassem por cima. — Nick? — Ele fez uma pausa em seu caminho de volta ao ônibus ao escutar seu nome, embora não reconhecesse a voz. Virando-se, ele não viu ninguém perto dele. Que por favor não sejam mas demônios Mortent que saem para me atacar quando estou sozinho. Caleb o mataria por ser tão estúpido. — Nick! — Um automóvel se moveu e então ele viu Jill, que corria para ele, acenando. O que havia em Jill que o deixava tão desconfortável? E não era o mesmo tipo de nervosismo que tinha quando Kody estava perto. Ele ficava inquieto com Kody porque quando ela estava por perto, apenas podia pensar em como seus lábios eram bons. E seu corpo fervia da sobrecarga hormonal até que não podia pensar em outra coisa. Ele não era atraído pela Jill em nada. Então o que ela tinha que lhe causava tanta aversão? Dê-lhe uma chance, Nick. Ela ficou nervosa no seu primeiro dia assim como você esteve. Isso era verdade. Sem mencionar, que havia tido uma maior quantidade de dias ruins desde então. Ele não deveria ser rancoroso porque ela teve um dia ruim.

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— Olá Jill, — disse-lhe quando ela ficou na frente dele. Sorrindo amplamente ela disse. — Não sabia que morava por aqui. —Não moro por aqui. Vim ver Brynna. Seu rosto empalideceu. —A garota de quem tiraram todas aquelas fotos horríveis com animais? —Não. — ele gritou. — Alguém disse mentiras sobre ela. Aquelas fotos eram manipuladas. Ela o enfrentou. —Não foi que escutei sobre ela. Vamos, continue falando, querida, e realmente vai conseguir que eu não volte a dirigirlhe a palavra. Além de fazê-lo irritar-se. — Sim bem, agora você está escutando como são as coisas. Eu estive lá e posso dizer que eram forjadas. Era óbvio. Brynna nunca fez algo assim, e não o faria? Ela sorriu. — Se você diz. Não a conheço o suficiente para comentar.

— E também não a conhece o suficiente para espalhar um rumor que é completamente falso. Jill ficou calada por uns segundos. — Esse é um ponto muito bom. Eu nunca pensei nisso dessa forma. — Sim, bem. Eu não gosto de fofocas. — Já havia tido suficiente com as que corriam respeito dele e de sua mãe. — Como minha mãe sempre diz, as grandes mentes discutem ideias. As mentes médias falam sobre eventos. As mentes pequenas falam sobre pessoas. E a vida é muito curta para preocupar-se sobre o que os outros fazem e deixam de fazer. Melhor ocupar-se dos próprios assuntos, porque nós temos que poder viver com nós mesmo. — Uau, Isso é profundo. Você é um dos meninos bolsistas? Ele odiava essa pergunta. Em teoria, tirar o notas altas para conseguir uma bolsa devia ser sinal de honra. Mas, de alguma forma, seus companheiros haviam desvirtuado de forma que qualquer um que tivesse uma bolsa era porque não podia pagar uma escola como St. Richards e, por consequência, não havia nada que fazer ali, porque não era o que mereciam. — Sim, sou um dos bolsistas. — Isso é tão legal. Meu irmão e eu entramos o ano passado, mas não pudemos conseguir uma das bolsas de estudo. Embora tentássemos duas vezes. Agora ele se sentia horrível. — Lamento muito, Jill.

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Ela sorriu. — Tudo bem. A igreja é muito boa conosco. Fizeram uma coleta para ajudar meus pais com a matrícula, quando este velho casal se ofereceu para nos ajudar. Estão pagando tudo, até as lapiseiras e as mochilas. Até mesmo nos levaram para comprar roupa nova para a escola. — Isso é muito decente da parte deles. Devem ser boas pessoas. — Sua mãe nunca teria deixado que alguém pagasse a escola de Nick, muito menos sua roupa. Ela era muito firme em sua crença de não aceitar nada de ninguém. Ou ganhava as coisas, ou ficava sem elas até que pudesse pagar por elas.

Ninguém te deve a vida, Nick e também, eles, definitivamente não te respeitam . Só porque ele têm em excesso, não quer dizer que nós tenhamos o direito de pegar. A vida não é sobre o que você possa tirar de alguém. É sobre o que pode ganhar por você mesmo. Como diria Kyrian, aquele que morre com a maior quantidade de brinquedos, ganha e os lucros vão para o vencedor. Tão grande vitória. Mas sua mãe sempre foi primeira a doar para caridade toda vez que as irmãs pediam brinquedos ou comida para os mais necessitados. Ele nunca conseguiu entender isso, principalmente porque a maioria dos “carentes” estavam em melhor situação que eles. No entanto, ele tinha um bom instinto de preservação para lhe perguntar sobre a dicotomia em seu raciocínio. Ela ficaria histérica se pensava que alguém dizia que ela era uma hipócrita.

— Eles são demais, — continuo Jill. — O Sr. Gautier é banqueiro e a Sra. Gautier é advogada com um escritório na cidade. Você não os conhece, não é? Estava pensando nisso porque vocês têm o mesmo sobrenome. — Não os conheço. Mas bem, Gautier e todas suas variantes são um sobrenome muito conhecido em Luisiana e Mississippi. Há outros quatro meninos no St. Richards com o mesmo sobrenome. Acho que se formos longe na árvore genealógica, estou certo de estamos todos relacionados, mas não tenho parentes vivos que eu conheça. — Sério? — Sim, meus pais foram ambos filhos únicos. — Algo que havia aprendido com Ambrose, depois que confessou que não era realmente o tio de Nick.

Ambrose não queria que aparecesse ninguém dizendo ser um parente longínquo de Adarian. A última coisa que ele precisava era que Nick confiasse na pessoa errada. — Isso é tão triste. Eu tenho quase uma dúzia de primos e uma irmã mais nova, além de meu irmão Joey. E seus avós? Com certeza eles não eram filhos únicos. 63


—Não sei nada sobre meus avós. Os pais de meu pai morreram faz muito tempo, antes que eu nascesse, e minha mamãe nunca fala dos seus. — Lamento muito, Nick. Ele deu de ombros com indiferença. — Não se preocupe por isso. A vida é assim. Não se perde o que não se conhece. Ela sorriu novamente. — Eu gosto de falar com você. É muito inteligente e tem uma ótima maneira de ver as coisas. É o único que me faz pensar. Cada sinal de alarme que tinha no corpo soou. Os elogios e os insultos, causavam a mesma reação nele. O que é que você quer? Em sua experiência, as pessoas que o elogiavam na sua cara eram os primeiros a cravar uma faca pelas costas. Ele odiava isso. Talvez ele estivesse julgando antecipado, mas já havia se queimado o suficiente para ser precavido em relação às intenções das pessoas. Ele escutou o som de um ônibus que se aproximava na rua. — Meu ônibus está chegando. Preciso voltar para French Quartier. — Ah, ok. Gosto de falar com você. Vejo-o amanhã na escola. —Sim, nos veremos. — Nick correu até a parada, agradecido por ter uma desculpa para afastar-se de Jill. Não tinha ideia de por que ela o incomodava tanto, mas... Ele não confiava nela e não acreditava em perder tempo ao redor de pessoas em que não se confiava. Embora fosse possível que fosse uma pessoa confiável, não valia a pena arriscar-se. Preferia estar fazendo sua tarefa, e isso era tudo. Não levou muito tempo para chegar novamente ao Santuário. Sua mãe estava ocupada com clientes assim que se dirigiu direito para sua cabine no canto e retirou seus livros. Uns minutos depois, estava arrancando os cabelos tentando entender a tarefa de química quando algo branco apareceu ao seu lado. Levantando uma sobrancelha, olhou para ver um sundae com dobro cobertura de chocolate. Seu queixo caiu ao ver, além das três cerejas, a sua mamãe sorrindo. — Eu deveria ter medo? Recebo um hambúrguer e agora um sundae e nem é meu aniversário. Quem é você, estranha mulher, e o que fez com minha mãe? Rindo ela revirou os olhos, algo que lhe daria um castigo por uma semana. — O Sr. Addams me ligou e me disse o que você fez por Brynna. Não tenho nenhum biscoitinho com a palavra “herói”, então você ganhou um sundae. — Ela acrescentou chantilly no topo e depois deixou a garrafa ao lado dele. — Eu amo você, Nick. 64


— Eu também te amo. — ele pegou a colher e comeu antes que ela se arrependesse ou que ele fizesse algo que o traria problemas e fizesse com que ela o tirasse. Com um aceno de cabeça, sua mãe virou-se para ir embora, depois parou e franziu o cenho. Nick levantou a vista, e ficou congelado ao ver Kody a uns passos de distância. Sua mãe não parecia tão feliz de vê-la como ele estava. — Olá Sra. Gautier — disse Kody com um sorriso genuíno. — Uh, isto não é um encontro, e eu sei que Nick está de castigo. Nick não tinha ideia que eu viria, mas eu sabia que ele estava aqui e queria perguntar-lhe algo sobre a tarefa de álgebra que temos. Isso se você estiver de acordo. Sua mamãe relaxou. — Me desculpe querida, você não tem que me dar explicações. Não estava franzindo a testa para você. É só que... Alguma vez já sentiu como um déjà vu? Quando te vi na luz... foi um pouco estranho. Como se eu já tivesse visto antes, mas não era você. Não importa, estou sendo boba, e não tenho nada contra você. Quer que lhe traga alguma coisa? Kody olhou através de sua mãe, para o sundae. — Há alguma chance de compartilhar isso? — Só com você. Ela olhou para a sua mãe. — Você poderia me dar outra colher? Sua mamãe tirou uma colher do bolso de seu avental. — Vou trazer-lhe um pouco de leite e água para tomar, também. — Muito obrigado, Sra. Gautier. Kody sentou-se ao seu lado enquanto sua mãe caminhava para o bar. Ela beijou-lhe na bochecha antes de pegar um pouco de seu sundae. Ah... A mulher maquiavélica. Ela sabia que esse beijo seria uma distração para ele e lhe garantia que estivesse incapaz de falar pelos próximos minutos. — Mark não conseguiu encontrar nada sobre a pessoa que registrou o domínio. Quem quer que seja, fez isso através de uma empresa e tudo o que aparece é a informação dessa empresa. E pior, a sede central está no Canadá. O que significava que, com a sorte do Mark, se ele a tivesse hackeado, causaria uma guerra internacional. — Que droga. — Foi isso o que Madaug disse. Até assim, Mark disse que poderia e que eventualmente ele acabaria hackeando-a, mas pode levar alguns dias. Depois que você foi embora, entramos no site e... — ela cerrou os olhos e estremeceu. 65


— O que foi? — É terrível, Nick. O site é principalmente listas. As mais pobres. As mais pesados. As que possivelmente terminem atropelando a alguma idosa. As mais feias, etc. — Ela tomou outra porção antes de continuar. – Eles também têm postado informação pessoal sobre quem é gay. Quem foi pego mostrando o bunda em público ou mostrando seus atributos em Mardi Gras. Quem é virgem. Quem transou com mais pessoas. Quem foi tratado por distúrbios alimentares ou vícios, e doenças sexualmente transmissíveis. Alunos que se cortam ou que são alcoólatras. — Ela hesitou antes de adicionar, — Os que foram presos. Nick congelou. — Eu apareço nessa lista? Ela hesitou antes de falar. — Você realmente roubou em uma loja? Pura indignação e raiva o queimaram por dentro. — Não! Eu tinha um doce no bolso quando entrei na loja e o dono não acreditou. Ele chamou a policia dizendo que o havia roubado de sua loja. Mas eu não fiz isso. Juro. Minha professora havia me dado por tirar o primeiro lugar em um teste na sala. Ela colocou sua mão em seu braço, tentando confortá-lo. — Eu acredito em você, Nick. Sério. Eles também têm uma lista sobre o que os pais dos alunos fazem para viver. Quais são alcoólatras e viciados. — E aí chegou para o Sundae. Já não tinha nem fome. Ele podia sentir o que implicava seu tom. Os pais cujos estudantes haviam ido à prisão, ou em seu caso. Os que tinham feito da prisão sua residência permanente. — Ele diz a todos que meu pai é um criminoso, não é? Ela concordou. — E sua mãe ainda aparece na lista como uma estripper. — Nesse momento, entendi completamente a necessidade de seu pai de matar pessoas, porque se ele estivesse trancado numa sala com a pessoa que estava por trás de tudo isto por cinco minutos, ele arrancaria sua cabeça, e riria como um louco enquanto fazia isso. — Alguma coisa mais sobre mim? — Eles afirmam que você adulterou seu exame de ingresso, e que a única razão pela que não lhe expulsara é porque sua mamãe fez um favor sexual ao administrador para que ele não o denunciasse. A fúria rasgou através dele. — Eu juro, eu vou... Kody colocou um dedo em seus lábios para impedi-lo. — Madaug está hackeando o site enquanto falamos para apagar tudo. De todos. Isso ajudava, mas havia algo que não ia mudar. — Sim, mas quantas pessoas visto até então? — Você se importa? 66


Ele queria mentir e dizer que não, mas ela não merecia. —Sim, Kody, eu me importo. Há algumas coisas que simplesmente, você não quer que saibam sobre você. Coisas que não precisam saber. Acho que se alguém pode entender isso, é você. A questão é que mesmo após um ano, não sei quem ou que você é realmente. Sua idade real. Algo. Quem são seus pais? O site diz algo sobre você? Ela zombou. — Estou na lista dos mais pesados, os piores vestidos e a lista do elamelhorou-seus-atributos. Sobre meus pais é apenas o que eu listei no histórico escolar. Diz que meu pai é um juiz e minha mãe uma contadora. — E isso é verdade? — Depende da definição que você use. Nick zombou. — Você nunca vai me dizer algo sobre você, não é? A tristeza invadiu seu rosto. — Espero que eu nunca tenha que dizer. — Disse isso como algo que temesse que acontecesse. Quem era ela? Outro anjo da morte, como Grim? Ou algo muito pior? Havia algo pior que Grim? Ele esperava que não houvesse. — Você pelo menos me dirá se é um demônio? Ela engoliu sua porção do sundae. — Definitivamente eu não sou um demônio. Você seria capaz de ver minha verdadeira forma se fosse. Isso era uma novidade para ele. — Sério? — Sim. A perspicácia que você desenvolveu funciona o suficiente para que você sempre possa ver um demônio, sem importar a forma que ele tome. Talvez seja só um flash, mas eles não podem se esconder de você. A menos que...eles tenham possuído alguém. A possessão nunca era algo bom. — Não entendo. — Os demônios têm dois poderes terríveis para esconder-se. Os demônios de médio e nível superior são os que podem assumir qualquer disfarce que quiserem. Como Caleb, que todos os vêem como um adolescente mas, na verdade, tem milhares de anos. Sim, Nick havia visto sua forma verdadeira e era... H-o-r-r-í-v-e-l. Mas assustava o suficiente para expulsar Freddy Krueger do reino dos sonhos. Kody continuou com sua explicação. —Os demônios inferiores e os que ainda não dominam seus poderes, podem possuir alguém. Não precisa muito talento nem energia. 67


— Sério? Pensei que era muito mais difícil. —Algumas pessoas têm personalidades muito fracas e são alvo muito fáceis para estas criaturas. Qual é a melhor proteção? Conhecer-se a si mesmo ter seus próprios pensamentos . Não deixar que alguém mais pense por você, ou você vai se transformar em uma ovelha em um matadouro. Nick forçou-se a sorrir e agir naturalmente enquanto sua mãe voltava com o leite e a água da Nekoda. Ele esperou que ela se fosse para a outra mesa para continuar com sua conversa. — Como em O Exorcista? — Sim. O humano tem que fazer algo que abra um canal para o demônio. Normalmente, o demônio usa um poder que se chama Silkspeech ou “influência” para fazer com que seu alvo faça algo que não deveria. No momento em que esse canal se abre, o demônio se mete e assume o controle do corpo. O humano não tem nem ideia de que foi possuído. Ele conhecia este cenário muito melhor do que queria. — Transformam-se nos Zumbis de Madaug. — Basicamente, mas eles não têm um bokor ou mestre controlado-os. Os demônios só podem ser controlados quando tomam posse de seu corpo. Essa é a razão pela qual não se podem detectar. — Nunca? — Depende. O Malachai tem habilidades excepcionais. Então eu nunca diria nunca. No seu caso... Quem sabe? Seu pai poderia ter essa habilidade, e você tem potencial para ser mais poderoso que seu pai. — Como? — Honestamente, nós não temos certeza. É uma dessas coisas que podemos ver no futuro, mas você tem caminhos tão diversos e diferentes para seguir até que escolha, que não sabemos qual é o que vai acontecer com você, ou o que vai fazer. Nick franziu o cenho para o que ela o dizia. — Nós? Quem está nesse grupo? — Estou falando no sentido amplo da palavra. Sim, claro. Nick não tinha certeza de que ela estivesse sendo honesta a respeito. Morria por saber quem eram “eles”, mas havia estado com Kody o suficiente para saber que ela não ia divulgar nenhuma informação.

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— Mas podemos alterar meu futuro, não? — Esse é o plano, — disse com nostalgia. — Se você se deixar levar por seu lado demônio, vai destruir todos os que rodeiam. Não vai ser capaz de amar ou de ter compaixão. — Suas palavras causaram um calafrio que percorreu sua espinha, ao lembrar a forma com que Ambrose o havia atacado. Ela tinha razão. A última coisa que precisava era transformar-se nessa versão de seu futuro. — Que tipo de rato sarnento e repugnante se enfiou em sua cabeça, e por que o mantêm aí? Nick franziu o cenho para o tom zangado que vinha de duas cabines após a sua. Olhou acima para ver a Wren, um dos garçons, tentando limpar uma mesa que estava desocupada que estava cheia de pratos, enquanto um homem em um pequeno grupo no Box ao lado o incomodava. Alto e magro, com dreadlocks loiros que caíam sobre seu rosto, ocultando seus traços, e seus olhos de cor turquesa, Wren não parecia ser muito mais velho que Nick. Extremamente antissocial - Wren levava o termo antissocial ao extremo - rara vezes falava com alguém. Praticamente funcionava como um fantasma, movendo-se como um ninja pelo restaurante e fazendo seu trabalho sem fazer comentários e sem queixar-se. O que o idiota que o estava incomodando não sabia era que Wren era um tigard. Metade tigre metade leopardo das neves. E como um super ninja, podia atacar rápido e duro, com uma pantera letal. Nick prendeu o fôlego ao iminente banho de sangue. — Ei, maluco! Estou falando com você, — disse o cliente no Box atrás de Wren. O homem parecia ter vinte anos e tinha músculos suficientes para guardar suas palavras. Se Wren fosse humano. — Além de tolo e idiota, é surdo? Seus amigos que também estavam no box riram com ele enquanto Wren o ignorava. Sem sequer fazer um gesto, colocou os copos em sua bacia de plástico e empilhou os pratos. — Ted, — se queixou a mulher, cheia de silicone, que estava do seu lado, em um tom nasal e tão estridente, que Nick desejava que ela seguisse o exemplo de Wren e fechasse a boca. — Tenha piedade do pobre retardado. É só um garçom, afinal de contas. Na verdade é legal que eles tenham contratado alguém que obviamente é retardado mental. Todos deveriam contratar pessoas com deficiência. Nick olhou de um lado para o outro, em busca de sua mãe, que certamente tiraria a cabeça da mulher por dizer algo assim. Já haviam batido o suficiente na parte de trás de sua cabeça para ser muito mais educado que isso. Esses golpezinhos que foram à velocidade da luz e pareciam de um nada também explicavam muito sobre o dano mental que ele tinha. —Sim, — Ted grunhiu em resposta, — mas esse cabelo está poluindo o lugar e estou tentando comer. — Ele jogou a uma batata frita encharcada de ketchup em Wren. A batata

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aterrissou na manga branca de sua uniforme e escorreu deixando uma longa mancha vermelha. Wren ficou completamente quieto. Nesse momento, Nick viu o Tigard em Wren. A forma em que se manteve, agachado e rígido o lembrou um gato na selva observando a sua presa antes de atacar. O tigre se mantém escondido perto do chão, não por medo, mas sim por precisão no alvo... Wren pestanejou, e depois pareceu acalmar-se. Secou a mesa, levantou sua bacia, e seguiu em frente. Pelo menos ele tentou. Enquanto passava ao lado da cabine, o homem o empurrou. Wren tropeçou e quase deixou cair seus pratos. Mas no último momento, devido a sua condição de tigard, recobrou o equilíbrio e evitou que os pratos caíssem da bandeja. — Isso aí, garoto. — zombou Ted. — Corre pra casa, para sua mamãe. Wren encontrou com o olhar de Nick, e a dor que lhe causaram essas palavras o enfureceu. Ele não podia suportar ver alguém sendo zombado. Não o importava saber que Wren podia cuidar de si mesmo. Não ia tolerar e ficar sem fazer nada. Passando por Nekoda, foi ver como estava seu amigo. Mas assim que se levantou o idiota voltou a empurrar Wren. Ah, amigo. Você Buscou por isso. Nick empurrou o homem de volta para sua cabine. — Sente-se, cale-se e deixe-o em paz. O homem o olhou de cima abaixo, desafiante. — Você tem muito ego, inútil. — Riu sobre seu ombro, olhando para seus amigos. — Parece um chihuahua que se acha um doberman. — Enfrentando Nick, ficou sério e cerrou os olhos com intenção de matá-lo. — Agora é você que deveria sentar-se antes que eu feche sua boca à força. — Nick, deixa-o ir, — disse Kody atrás dele. O homem olhou além de Nick, onde ela estava sentada no outro box. — Cara, que pedaço de... — É melhor que você nem olhe para a minha garota e que tenha cuidado com o que diz diante dela. O homem riu. — Garoto, você está morto. Sou karatê e faixa preta em terceiro grau. — Deu um soco em Nick. Então Nick fez o que fazia melhor...

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CAPÍTULO 5

Nick se lançou para o homem e se agarrou a ele com tudo o que tinha. Gruindo, o homem tentou tirá-lo das costas, então o bateu contra a parede, amassando-o entre seu corpo aprimorada por esteróides e a parede de tijolos. Ted usou seu corpo para bater em Nick repetidamente. Ele se agarrou ao pescoço de Ted com mais força, tentando encontrar a artéria para cortar o fluxo de sangue como Bubba o havia ensinado. Você não tem que ser forte, Nick. Um pouco de pressão no lugar indicado e pode incapacitar qualquer um. Ainda assim, o homem fez tudo o que pôde para tirar o Nick das costas. — Está certo, Uh-huh. Uh-huh — disse Nick com arrogância. — Talvez você saiba karatê, fraco, mas eu sei brigar como um gorila, e sou campeão nível quarenta. Vamos todos animem o Diddy Kong! Uh, uh, uh, uh, uh! - ele grunhiu como um gorila, enquanto se sustentava, temendo por sua vida. Com seus olhos cheios de uma mistura de humor e horror, Nekoda manteve sua mão sobre sua boca enquanto que Wren começou a rir com tanta vontade que teve que apoiar a bandeja para não deixá-la cair. — Oh, meu Deus! Nick! Nick! O que você está fazendo? Nem sequer conhece esse homem. — Sua mãe veio correndo para eles. — Desça das costas desse homem. Agora! Nick hesitou. — Não tenho certeza de que seja uma boa ideia, mãe. Ele poderia me matar se eu desço. — E tem toda a razão, idiota! Vou chutar seu... — Aqui não vai chutar nada aqui, rapaz. O homem finalmente deixou de tentar tirá-lo das costas enquanto Dev ou Remi, ou algum dos quadrigêmeos agarrou Ted pela camisa e o manteve quieto com uma mão enorme e carnuda. — Deslize para baixo, Nick. Eu me encarrego disto. Os pés de Nick não estiveram de volta no chão até que viu a tatuagem de arco e flecha nos bíceps de Dev e soube qual dos quatro o havia salvado. — Obrigado, Dev. — Não há problema. Agora, deixe-me tirar o lixo e volto para limpar a bagunça que ele fez. Nick engasgou ao encontrar-se com o furioso olhar de sua mãe. Cara, não me deixe sozinho. Cherise Gautier podia ser uma mulher baixa mais o fazia borrar-se. Especialmente quando o olhava como se pudesse transpassá-lo, da mesma forma que estava fazendo neste momento. 71


Sua bunda já estava mergulhada no gás. Ela estava prestes a jogá-lo na fogueira e assar mashmallows sobre sua carcaça. — Mamãe, posso explicar. — Não, não acho que possa. Sei que não pode. — Ela fez um som de exasperação suprema. — Nunca brigue Nick. Por nenhuma razão. Sabe que não tem que fazer isso. Quantas vezes eu tenho que dizer para que me escute? Hein? Eu o criei melhor que isso. Você não é um animal que pode agarrar alguém e começar a bater-lhe sem nenhum motivo. No que estava pensando? Eu te vou dizer no que estava pensando. Em nada. Absolutamente nada. E eu espero muito mais de você. Está em uma idade em que podem mandar você para a cadeia por brigar. Você me entende garoto? Cadeia. Prisão. Exatamente como seu papai. Ela se inclinou, para sussurrar asperamente. Exceto sua ideia de que sussurrar era em alto e bom som, mesmo com a música tocando a todo volume. — E ainda por cima no meu trabalho. Está tentando que voltem a me demitir? Sim. Isso é o que está fazendo. Não é? Não vai parar até que estejamos vivendo nas ruas, comendo do lixo e eu tenha que me prostituir para nos alimentar. Está de castigo até se formar. Entendeu? Nunca vai ter um automóvel, ou uma licença para dirigir. Nunca. Você muito impetuoso para ter uma. Não tem nada que dirigir um carro quando nem sequer pode sentar-se e fazer sua tarefa sem enlouquecer e atacar um inocente! O que vai fazer? Se um carro te fecha de repente ou tocam a buzina. Vai tirar o motorista do automóvel e agarrá-lo aos socos na rua por isso? Isso é o que vai fazer? Você é igual ao seu pai. Violento até a alma. Não sabe como se frear. Você leva as coisas muito longe e age sem pensar, sem tomar um minuto para considerar as consequências. Vai conseguir que o matem um dia desses porque não pode ver além do seu nariz. Com cada palavra ela cuspia nele, e ela continuou seguindo, e seguindo... E seguindo, ele se sentisse como se o pegassem e o pisoteassem. Como se fosse a maior escória que já tivesse existido. Dev soltou um assobio atrás dela. Saltando alarmada, ela se virou para olhar para ele. — Cherise, acalme-se. Você está dando no garoto um abalo por agressão verbal. Está tudo bem. Ela olhou duramente ao Nick. — Não, Dev, não está tudo bem. Ele sabe como tem que agir. E... — Cherise, — disse-lhe Dev outra vez, cortando o que ela estava dizendo. lhe Eu estava vindo para cá, para fazer algo muito mais extremo que o que Nick fez a esse idiota. Ela franziu o cenho. — O que quer dizer?

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— Nick me estava protegendo, — disse Wren num tom tão suave que era quase inaudível. Dev concordou. — Esse caralho estava insultado Wren e Kody, e estava pronto a atacar Wren pelas costas quando Nick o parou. Além disso, Nick não estava batendo nele, Cherise. — Dev começou a rir forte. O qual realmente não ajudava nem um milímetro o ego desinflado de Nick. — Seu filho estava agarrado a ele como se sua vida dependesse disso. Como um gatinho em cima de um touro selvagem. Vamos, Dev. Arranque-me a masculinidade e atire-a no chão. Obrigado. Dev seguiu rindo. — Droga, quem dera houvéssemos gravado. Poderíamos ter ganhado muitíssimo dinheiro. Foi engraçadíssimo... Brigar como gorila? Não tem preço, Nick. Não tem preço. — Dev riu até que teve um ataque de tosse. Nick queria meter-se embaixo de uma pedra. A única coisa que evitava que se sentisse pior era que Kody o havia visto brigar realmente e sabia que normalmente ele era muito melhor que isto. Saltar nas costas de alguém era algo que somente usava quando seu oponente pesava algo como trezentos quilos a mais que ele. E apenas no braço do homem. — Obrigado, Nick, — disse-lhe Wren, inclinando sua cabeça para ele. A mascote de Wren, Marvin, tirou sua cabeça do bolso do avental de Wren, onde certamente havia estado dormindo e fez sons como de aprovação. Dev deu-lhe um tapa tão forte nas costas que o fez perder o equilíbrio. — Você tem colhões, menino. Quando crescer um pouco mais e ganhar um pouco de músculo, vamos contratá-lo como ajudante — Dev continuou rindo. — Gorila, — ele murmurou novamente, enquanto seguia para a porta. — Tenho que contar a Aimee. Agora que estavam sozinhos, exceto por Kody, que deslizou de volta para a cabine, na intenção de se fazer invisível, sua mãe engasgou. — Sinto muito, meu bem. Mas Nick estava muito ferido para escutá-la. Ela havia batido nele verbalmente, outra vez, na frente de todos, e ele estava cansado de ser humilhado em público por fazer uma boa ação. — Não, Mãe. Não está arrependida. Você faz isso todo o tempo. Você imagina o que pode ter acontecido antes de se incomodar em averiguar os fatos. Sempre assume que estou fazendo a coisa errada, sem importar o que for. Quando me acusaram de roubar, você nem sequer me escutou quando eu quis te contar o que aconteceu. E quando a forcei a me escutar, você me disse que eu era um mentiroso na frente da polícia e do dono do lugar. Negou-se a me defender. Naquele momento você me olhou da mesma forma que está me olhando agora - como se eu fosse a pior decepção em sua vida e você se arrependesse de me haver tido. Como se eu não fosse nada. Eu era somente um bebê, mamãe, e você deixou que eles me levassem para a delegacia de policia em uma viatura. Disse-me que seria bom para mim, ver o 73


que acontecia com os criminosos e que talvez eu pensaria duas vezes antes de roubar mais alguma coisa. Eu era um garotinho assustado, mãe. E o pior de tudo é que eu era inocente. Não quero ser rude ou desrespeitoso, mas sou um muito bom menino. — Tudo o que penso de manhã, de tarde e de noite, é em cuidar de você. Em não te decepcionar como todos fizeram. Faço exatamente o que você me diz que eu faça. Mantenho minhas notas altas e trabalho trinta horas semanais antes e depois da escola. Não importa o quanto esteja cansado ou que hora seja, eu a levo para casa toda vez que você tem que trabalhar à noite. E acho que ao menos, ganhei o benefício da dúvida de vez em quando. Mas não importa o quanto eu faça, aos seus olhos, nas coisas mais importantes, sempre estou errado. As lágrimas o engasgaram, mas não estava disposto a mostrá-las. Ele era mais forte do que isso. — Você lembra-se de todas aquelas brigas que tive no colégio, mamãe? As brigas pelas quais me passava o sermão? Não eram por coisas que diziam de mim. Nunca tive uma briga porque alguém tivesse me insultado. Eu sou forte. Eu posso aguentar. Deus, estou tão acostumado que escorrega como água. O que eu estava defendendo nessas brigas era sua reputação, quando a insultavam. Ele podia lidar com a crueldade de seus colegas. Com a brutalidade dos demônios que mandavam para matá-lo. Podia aguentar que seus professores e o diretor pensassem que ele era o pior tipo de lixo. O que não podia suportar era o quanto rápido sua mãe o prejulgava quando a única que fazia era o impossível e mais para agradá-la. Ele trancou a mandíbula, tentando evitar que as lágrimas lhe caíssem. Isso era tudo o que ele precisava. Chorar na frente de sua garota como se fosse um bebê que não podia conter suas emoções. Nick negou com a cabeça. — Não sei o que mais fazer para provar que não sou Adarian Malachai. Para fazer você ver quem sou em realidade, e não esta noção equivocada de ser uma alma encarnada, enviada para te fazer passar vergonha e te humilhar. Não sei o que é pior. O fato de que não tenha confiança em sua habilidade para criar uma pessoa decente ou o fato de que espera que eu me transforme em um psicopata sem razão aparente. Não é minha culpa que Adarian seja meu pai. Eu não o escolhi, e lamento que nunca possa ser mais que a sua decepção pessoal. — Com o coração batendo, ele virou-se e se dirigiu à porta.

— Aonde vai Nick? — disse-lhe sua mãe. — Segundo você e todos os outros, mamãe, — ele grunhiu, — eu vou direito ao inferno, e não há nada que eu possa fazer para evitar. Nick se parou ao chegar à mesa que Wren estava limpando. Tirou um pequeno punhado de notas pequenas e as colocou com as outras que o haviam deixado no cesto vazio. Wren franziu o cenho. — O que é isso?

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Nick fez um gesto com sua mão mostrando a cabine onde o homem havia estado sentado. — Você trabalha muito duro e não ganha o suficiente. Como minhas ações lhe custaram a gorjeta, é justo que lhe compense por isso. — E com essas palavras, ele se foi. Colocando as mãos nos bolsos, Nick desceu à Royal, para a loja de Bubba. Iria para sua casa em alguns minutos. Mas neste momento, queria estar com alguém que não o acusasse quando não merecia. Por mais defeitos que Bubba tivesse ele sempre havia acreditado nele e o tratava como um homem e não como uma criança geneticamente defeituosa. — Nick? Ele parou ao escutar a voz de Kody. Parte dele queria ignorá-la, mas não era sua culpa que sua mãe o tivesse desafiado na frente dela. Assim, ficou ali parado, com a cabeça baixa, desejando estar em qualquer lugar no mundo, exceto ali. Agora. Sim, um dia ele teria o poder infinito capaz de destruir o universo inteiro. Mas hoje ele era outro idiota e perdedor, envergonhado até a alma. Kody ficou de frente para ele. Dobrando os joelhos, ela se estirou para capturar seus lábios com os dela. Nick cerrou seus olhos e inalou o perfume mais doce que havia conhecido em sua vida. Ela tomou seu rosto em suas mãos enquanto o beijava, e ele se livrava de sua fúria e de sua dor. Depois de uns segundos, ela pôs os braços ao seu redor e o abraçou, enquanto enterrava sua cabeça em seu pescoço. Algo que enviou uma corrente de calafrios por todo seu corpo e fez com que seu sangue se acelerasse. Ele a segurou-a contra ele e pressionou sua bochecha contra o topo de sua cabeça. — Obrigado, Kody. — Não fiz nada. Sim ela fez. Ela se preocupava. E isso significava mais que qualquer outra coisa. Limpando a garganta, ele passou seu braço ao redor de seus ombros e continuou seu caminho até Bubba. — Sua mãe o ama, Nick. — Eu sei. Mas ela não confia em mim. — Ela se preocupa com você. — Eu também me preocupo comigo. Mas não vou por aí me acusando por coisas que não sei que tenho que fazer. Não entendo por que ela não pode ver quem eu sou. — ele apertou os dentes. — Não entendo. Simplesmente não entendo. Sabe, ela me perguntou, quando eu jogava futebol americano, por que não eu era amigo do Stone Blackmore. “É um bom menino, Nicky.” - disse em um falsete. – “Pode-se ver pela boa educação. É um 75


cavalheiro. Poderia aprender muito com alguém como ele e seus amigos”. — ele franziu os lábios. —Stone, Kody, Stone. O rapaz que carrega seus dois neurônios em sua cinta protetora de testículos, e que não é feliz a menos que esteja mexendo com alguém ou zombando deles. O menino chamou Kody de prostituta cada vez que a via com Nick. — Sua mamãe sempre vê o lado bom das pessoas. Mas não em mim. E isso era o que mais o machucava. Stone, o valentão idiota, era perfeito. Ele, o filho obediente, era defeituoso. A injustiça disso o machucava tanto que deixava uma ferida sangrando em sua alma. O que teria que fazer para que sua mãe percebesse que não era...? O quê? Um demônio? Algo que nasceu para destruir tudo? Uma ferramenta do mal? Capaz de assassinar? Seu estômago revolveu-se ainda mais ao perceber que ele era exatamente tudo isso. Ele estava destinado a destruir todas as pessoas que amava. Talvez sua mãe visse mais coisas do que ele pensava que ela via. — Ela tem razão, Kody? — perguntou, precisando saber a verdade sobre si mesmo. — Vou ficar louco e me transformar em meu pai um dia destes? Agarrando-o, ela o fez parar. — Todos nós temos escolhas, Nick. Mesmo que não seja nada mais que escolher entre o menor dos males. Ninguém pode tirar seu livre arbítrio. Nem sequer os Deuses. É o único presente que nunca pode ser devolvido, roubado ou revogado. Podemos culpar os outros por nossas decisões ruins. Podemos dizer que não tínhamos outra saída. Mas isso sempre é uma mentira. Ninguém, mais do que você, põe a mão na arma. Somente você pode decidir se levanta a arma ou a deixa onde estava. — E o Silkspeech? — Esse é o poder da influência, Nick. Não é controle mental. Se a pessoa tiver convicções arraigadas, ela não pode ser controlada. Não pode coagir um pacifista a assassinar a alguém.

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Ele não estava muito certo de que acreditava nisso. — Não acha que com a motivação correta, pode-se manipular uma pessoa para que faça algo? —O que acho é que se alguém apontasse uma arma na cabeça e ameaçasse matá-lo, sua mãe faria alguma coisa para mantê-lo a salvo. Mas esse é seu livre arbítrio, uma decisão que ela tomou sozinha. Percebe o que te digo? Ela poderia escolher deixá-lo morrer. Nós sabemos que ela não faria isso, é obvio que não faria, mas isso é por causa das decisões que ela toma todos os dias para colocar sua vida acima da dela. Pode motivar alguém para a ação ataque, mas no final, são eles que tomam a decisão final de fazê-lo ou não. Sua pequena Yoda tinha razão. Ela se estendeu a mão para tocar sua bochecha. — Não sei se você vai ativar o mau. Somente você pode decidir de que lado da luta vai estar. Mas eu acredito em você. De outra forma, eu não estaria aqui. E definitivamente não estaria protegendo-o. Todos nós temos a escuridão dentro de nós, e às vezes ela nos possui e seduz de forma que não acreditamos ser possível. Faz-nos promessas de que se nos entregarmos a ela, vai fazer com que as coisas melhorem. Não sempre eu fiz as coisas certas, pelas razões corretas. E me envergonho de algumas coisas que fiz. Todos fazemos isso. Os erros não precisam nos definir. Ao cometer erros nós crescemos e aprendemos com eles. Eles nos mostram a pessoa que não queremos ser. É por isso que só são erros. E você, meu amor, é tão, mas tão cabeça dura, que somente posso imaginar que tão obstinado será como adulto. Honestamente não posso imaginar você fazendo algo que não queira fazer. Então, não. Eu não acredito nem por um segundo que você simplesmente vai enlouquecer e se transformar no mal. E não posso imaginar que alguma vez você se converta em alguém como seu pai. Não importa o quê. Ele pegou sua mão na dele e lhe beijou os nódulos. — Não sei o que faria sem você, Kody. — Lembre-se da próxima vez que Jill ou Casey falarem com você. Ele sorriu. — Sempre lembro. Ela deu-lhe um abraço, depois o soltou para que eles pudessem falar com Mark. Nick abriu a porta de Triplo B e abriu espaço para que Kody entrasse primeiro na loja. No momento em que entrou na loja, ele fez uma pausa para escutar a Bubba e Mark discutindo do outro lado da cortina. — Tire suas mãos de... — Não te disse que... — Eu não tinha ideia de... — Sei que sim, você é...

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— Pare. Apenas pare. Você... — Quer que eu pare? Se você for... Havia uma mulher atraente do outro lado do balcão, apoiada sobre ele, com uma mão apoiada em sua bochecha, e parecia como se estivesse aborrecida e entretida ao mesmo tempo. Algo que realmente impressionava. Com cabelo castanho escuro e um corte moderno, e um blazer azul elegante, ela se endireitou e sorriu ao vê-los. — Olá, meninos, — disse com um sotaque do Tennessee que era idêntico a de Bubba e Mark. — Como estão? Ao contrário da desinformação e das pobres tentativas de Hollywood – algumas pessoas deveriam saber isto – nem todos os sotaques sulinos eram iguais. Podia-se identificar facilmente de onde vinha cada pessoa pelo som de seu sotaque e as palavras que usavam. E em nenhum outro lugar longe da cidade de Nova Iorque, que não fosse Nova Orleans, era mais evidente de que parte do distrito você se originou, que nível de educação tem seus pais e quanto dinheiro tinham. Até mesmo nome da própria cidade era pronunciado de formas completamente diferentes dependendo da rua em que havia sido criado. Literalmente. O sotaque cajun de Nick não era tão forte como o de sua mãe, a menos que ele quisesse soar assim. E a versão cajun do francês era local. Embora podia entender o idioma francês, e quem falava francês geralmente os entendia também, a forma cajun de pronunciar determinadas coisas e de alterar a gramática do francês dava ataques nos puristas. O sotaque de Menyara era tão grosso quanto o frasco de roux que sua mãe tinha na geladeira, e ele adorava a forma com que soava. Embora não estivesse muito feliz com o seu próprio. Não importa o quão duro ele trabalhou para esconder seu sotaque, ele sempre saía em certas palavras como “praline”, “lagostim”, “pecan”, e cada vez que perdia a paciência. Era fácil determinar seu nível de irritação seguindo a densidade de seu sotaque. E se ele começava a vomitar todas as palavras cajun na mesma oração, pimba. Nick sorriu enquanto aproximava dela. — Você deve ser a mãe de Bubba, a Dra. Burdette. É uma honra conhecê-la, senhora. Eu sou Nick Gautier, e esta é Kody Kennedy. Ao escutar seu nome, seu comportamento mudou completamente. Ela ficou gelada, e franziu o cenho, irritada. — Nicholas Gautier, o mesmo que vive e respira. Esse é um nome que conheço muito bem. Explique-me, rapaz, por que você atirou na minha cabeça, quando nem sequer me conhecia. Que foi o que te fiz?

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Nick ficou mudo enquanto tentava pensar em uma explicação de como havia atirado na foto que Bubba tinha pendurada em sua parede. — Não. Não quis fazer isso. Foi um acidente. Juro-lhe. Ela começou a rir, e depois deu um tapinha suave em seu ombro. — É só uma piada, Nick. Acalme-se, filho. Não quero ter que colocar jornais no chão, porque você molha o piso em pânico, como meu velho cão de casa solta o fazer cada vez que Michael explodia algo na casa. Ele aterrorizado esse pobre bichinho até o dia em que o Senhor o levou. Absolutamente não estou ofendida...muito, por você ter atirado na minha cabeça. Mas não há problema, fui criada no meio de quatro irmãos, e com o Michael como filho, estou acostumada a ter que me esquivar balas. Literalmente, quase todos os dias. Sem parar ou suar a camisa ela seguiu com outra história. — Alguma vez lhe contei sobre a vez em que ele devia estar dormindo, mas em vez disso, subiu ao armário onde seu pai guardava suas armas, tentando chegar ao duto de ventilação, o que fosse que planejasse fazer lá em cima não quero nem saber, nunca perguntarei. Enfim, o pobre menino se esticou, pegou na fechadura, e de alguma forma a destravou. O que fez depois foi que a 41.0 do seu pai, de todas as armas que havia ali dentro, caiu, e disparou. Eu estava no jardim com uma amiga, alheia à estupidez do meu filho, até que uma bala passou entre nós e bateu na minha casa de passarinhos. Quando cheguei na sala, Michael estava tentando esconder a arma atrás do sofá. Como se não fosse perceber que a porta do armário estava aberta e a arma não estava com o restante. Sem mencionar que era maior que o sofá. A questão é que você não lhe se preocupar, Nick. Não estou ofendida, — ela voltou a dizer. Quem quer que houvesse dito que os sulinos falavam devagar, nunca tinha sido criado em uma família grande. Sempre havia pensado que Bubba falava rápido, mas era uma tartaruga ao lado de sua mãe. — Ei, Michael! — ela gritou, interrompendo finalmente a briga entre o Mark e Bubba. — Tem gente aqui que veio te ver. Para de brigar com sua namorada, e vem para cá. — Rindo, ela piscou o olho para Nick. — A forma com que agem. Continuo esperando que chegue um convite para o casamento a qualquer momento. Nunca vi algo como isso em minha vida, e especialmente nunca entre homens heterossexuais. Ao menos, não sem terminar em briga após alguns minutos. — Michael é o Bubba? — Ele se sentiu estúpido em perguntar, mas... Sua mãe fez uma careta. — Oh, odeio esse apelido que usa. Eu pareço uma pessoa que chamaria seu filho de Bubba? — A forma com que sua mãe disse isso soava como se fosse o pior insulto possível. — Que olharia para o meu precioso bebê que alimentei por meses em meu ventre e dado toda a minha devoção e diria, “Querido Deus, obrigado por este maravilhoso presente. Deixe-me chamá-lo de Bubba, para que ele possa crescer e ser ridicularizado, mesmo antes que diga sua primeira palavra”. Já te disse como ele conseguiu esse maldito apelido? — Não, senhora. Eu nem sequer sabia que era um apelido. Pensei que seu apelido fosse Cheese (queijo). 79


— Ah, Não me faça pensar desse assunto. “Cheese”. Realmente, Michael, foi para isso que eu o mandei para a melhor escola privada da cidade. — Ela balançou a cabeça para como se quisesse limpá-la. — Não, colocaram-lhe o apelido de Bubba quando ele tinha quatorze anos e foi ao estado de Ohio para um acampamento do verão de futebol americano. Esses moleques esnobes começaram a chamar meu bebê de Bubba por causa de seu sotaque, e constantemente o gozavam. E em vez de lhes pisar a cabeça, como deveria ter feito, ele começou a usar o apelido como uma piada. — Mamãe, — disse Bubba enquanto saia da parte de trás. — Não posso espancar todo mundo por serem estúpidos. Você viu quantos deles estão lá fora? Eu trabalho no varejo. Confie em mim. O mundo está cheio deles. Além disso. Não foi você que disse que “a estupidez é incurável, filho, então nem se incomode”. Além disso, tenho melhores coisas que fazer com meu tempo do que brigar com cada idiota com o que tenho contato. Ela zombou. — Por favor. Você terminaria a briga em dois segundos. Por acaso já se viu num espelho, filho? Nick ficou com a boquiaberto com suas palavras. Não podia acreditar que ela o incentivasse Bubba a brigar quando toda vez que Nick pensava em brigar sua mãe o perseguia. O universo tinha um senso de humor doentio. A Dra. Burdette balançou a cabeça, e depois olhou para Nick. — Eu não sei como cresceu tanto. Do meu lado da família somos todos muito baixos. Eu sou a mais alta que dois de meus irmãos. É o mal concentrado, por isso eles são piores que a peste. E seu pai tem uma estatura normal. Genes não fazem sentido para mim. Bubba zombou. — Sabe, mãe, escutá-la dizer isso não é reconfortante, dado que você é uma das cirurgiãs pediátricas mais reconhecidas do país, que escreveu muitos ensaios que definiram diferentes campos em doenças associadas a condições genéticas. — ele olhou de lado para Nick e Kody. — É como quando da vez que ela cozinhou cookies, quando era criança, e ela veio ao meu quarto para oferecer-me enquanto eu estava vestindo para o Halloween. — Oh, Senhor. De novo, não - disse baixo sua mãe. Nick estava confuso. — O que tinha de errado com os cookies? — Sua mãe tentava cozinhá-los, mas não era seu forte. Sempre estavam queimados por fora e crus por dentro. Bubba zombou. — Nick, eu estou avisando para o seu próprio bem. Se uma mulher, inclusive sua mãe, vem e oferece-lhe cookies vestida com um avental preto com caveiras, diga que não. Só um conselho. Sua mãe riu. — Foi durante o Halloween. Santo Deus. Quem pensaria que eu marcaria sua vida ao oferecer-lhe um cookie com molho tártaro. Já posso escutar a conversa com seu psicólogo. “Oh, Doutor, foi tão terrível. Eu estava ali estava sentado como um menino pequeno e inocente, jogando com meu vídeo game, quando, de repente, minha terrível mãe, 80


chegava de um turno de trinta e seis horas no hospital, que havia dirigindo duas horas e meia para chegar em casa, para poder terminar de costurar minha fantasia de Gene Simmons (Os Ramones) para procurar caramelos, depois que meu pai costurou a manga acidentalmente, cozinhou para mim umas salsichas em forma de múmia e uns biscoitinhos com molho tártaro e me ofereceu. — Ela fez um gesto dramático com a mão na cabeça. — Ai, que tragédia, Doutor. As coisas que vi. Você não conhece minha dor. Você. Não. Conhece”. — Ela olhou divertido para Nick e Kody. — Eu aposto que se hoje em dia tentassem dar-lhe um desses cookies, ele gritaria como um bebê, e correria a esconder-se. — Ela fez uma pausa e estreitou os olhos. Depois um enorme sorriso se formou em seu rosto. — Já sei o que vou fazer para o jantar. — sorriu para Bubba. — Tem um pouco de canela em sua cozinha, filhinho? Ou somente uma caixa de cereais pela metade e barras de chocolate como sempre? — Eu também tenho um pedaço de pão e um pouco de manteiga de amendoim. Ela revirou seus olhos. — Oh, perdoe-me coração, não quis insultá-lo. — Sua voz tremeu com risada e sarcasmo. Nick riu. — Eu gostei de sua mãe, Bubba. Ela é muito engraçada. — Isso é porque não está gozando você a cada dois segundos. Como diria meu pai, ela é como um golpe na cabeça. É divertido apenas quando acontece com outra pessoa. Nick não discutia isso. Ninguém estava imune da língua escaldante da crítica materna. Mas Nick queria voltar a tocar no tema que a mãe da Bubba havia mencionado anteriormente e que não conhecia sobre Bubba. Algo que não fazia sentido. — Você realmente jogou futebol americano? Bubba deu de ombros sem dar muita importância. — Por pouco tempo. — Sim claro, pouco tempo. — Sua mãe se dirigiu a Nick e a Kody. — Deixe-me dizer sobre meu filho, Nick. Ele era titular da segunda linha de defesa. Um dos melhores que eu já vi. Quando não estava fazendo explodindo algo em casa por causa de seus loucos experimentos, — ela olhou de lado para Bubba, — como quando tentou de enviar a televisão ao espaço para que os alienígenas a vissem... — Mamãe, eu tinha quatro anos de idade, droga. Diabos, faça algo estúpido perto de sua mãe, apenas uma vez, quando tiver quatro anos de idade e ela nunca deixará passar. Ela ignorou sua interrupção... — Ele tinha uma bola de futebol em suas mãos e deixava todos com a boca aberta. Ninguém podia agarrá-lo. As pessoas inteligentes, que não zombavam dele, o chamavam Battleground Bulldozer (topadora de guerra) Burdette, ou Triplo B. Ele tinha uma bolsa completa de esportes no MIT, onde foi um dos jogadores mais importantes durante os quatro anos que esteve lá. Teve ofertas para jogar profissionalmente e não de uma ou duas equipes. Ele era um dos mais cobiçados e prometiam tudo o que se pode imaginar, se ele assinasse. Ele poderia ter jogado para uma equipe da NFL em qualquer lugar.

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Nick estava completamente surpreso. Não fazia ideia. Bubba nunca falava de seu passado, e o fato de que fosse uma estrela do futebol americano... Isso envergonhou completamente as suas partidas ganhas na liga infantil das quais tinha tão orgulhoso. — Por que você não jogou profissionalmente? Uma terrível tristeza franziu a testa de Bubba. — Tive um monte de razões que faziam sentido para mim naquela época. — ele engoliu seco. — Isso não importa agora. Eu provavelmente teria terminado com alguma lesão grave no campo que haveria tolhido a minha carreira. Como dizem, tudo de bom tem que terminar. Agora, mudando de tema, porque não há razão para continuar falando do mesmo, vamos falar do louco cibernético solto em sua escola. Vocês têm um problema enorme. — Sim, já sabemos. — Não, Nick. Vocês não sabem. — ele fez um gesto com seu dedo para que eles o seguissem para parte de trás da loja. Nick se dirigiu para lá e assim que viu o monitor onde Mark estava trabalhando, congelou. Havia todo tipo de fotos na página, sobre seus companheiros. Algumas muito gráficas. Algumas grotescas. E algumas, simplesmente não faziam sentido. — Que merda... Mark suspirou cansado. — Se isso não fosse algo cruel, estaria impressionado com o nível de detalhe. Alguém passou muito tempo fazendo isto, e é um enorme trabalho de investigador particular a respeito de muita gente. — Mas o que mais me preocupa é este link. — Bubba pegou o mouse da mão do Mark e fez clique na palavra “Fontes”. — Nomearam a todas as pessoas que deram informação de alguém. Nick cerrou os dentes enquanto lia a lista e via que seu próprio nome estava como informante. — Eles estão mentindo. Eu nunca disse nada a ninguém sobre Spencer. Nada. Nem sequer para minha mãe. — Nesse momento ele queria encontrar o dono da página e passar por cima dele com suas poucas habilidades para dirigir. — O que há onde se diz Cyblog? Mark fez um clique. — As palavras desvairadas de um lunático ciumento — tendo em mente que a pessoa que está fazendo esta acusação dorme banhado em urina de pato, em vez de ir a um bar em busca de uma mulher para sair, e que passa suas noites em um pântano cheio de lagartos procurando zumbis com Bubba. Acredite, eu reconheço um lunático quando o vejo. Balançando a cabeça, Nick não fez nenhum comentário enquanto lia o que haviam escrito contra seus companheiros de classe. Mark moveu sua mão para que Nick pudesse pegar o mouse. 82


Havia uma foto de algumas animadoras, incluindo o Casey, feitas na casa malassombrada que sua escola estava patrocinando. Abaixo da foto dizia “Estas são algumas das traças nauseantes que tenho que aguentar na sala. Por acaso não lhes dá vontade de vomitar? Olhe para elas, a única coisa menor que seu QI são suas saias. VO-MI-TO. Nick assoviou surpreso. — Não tenho certeza de querer saber o que há no link de “companheiros de classe”. Mark cruzou seus braços. — Não, provavelmente não você não quer. Basicamente são páginas que armaram com fotos adulteradas de seus companheiros de classe em atos sexuais explícitos ou nus. Nick decidiu acreditar na sua palavra. Até que Madaug aperfeiçoasse sua fórmula para esquecer de eventos recentes, ele não queria ver algo que daria tanto nojo. — E você não conseguiu encontrar nada sobre a pessoa que fez isto? —Nada, amigo. Zero. Nada. Isso era muito ruim. Bubba colocou o braço no ombro tentando reconfortá-lo. — Não se preocupe, vamos continuar trabalhando nisto. Vamos encontrar o responsável. — Obrigado, Bubba. — Enojado pelo tipo de monstro que podia fazer algo assim com alguém que nunca havia feito nada, Nick olhou para Kody. — Estou indo para casa antes que me meta em mais encrenca, e vou esperar minha mãe sair do trabalho. — OK. Chame se precisar de alguma coisa. A maioria das pessoas que escutasse isso pensaria que ela queria dizer que a chamasse por telefone. Mas ele tinha várias maneiras de contatá-la que não exigiam mais que seus pensamentos. Ele deu-lhe um beijo na bochecha antes de sair pela porta de trás da loja. Se seus poderes alguma vez funcionassem corretamente, agora seria o momento apropriado. Infelizmente, a única que conseguia ver sobre o futuro era seu castigo, que pesaria sobre sua cabeça até sua formatura. Pelo menos não demorou muito tempo para chegar em sua casa. Ele entrou e fechou a porta com chave, e em seguida amaldiçoou que lembrou que deixou sua mochila no Santuário. Não poderia terminar sua tarefa até bem tarde da noite. Você poderia ir buscá-la. 83


Sim, e arriscar-se a outro ataque verbal da rainha-mãe? Não, obrigado. Resmungando de sua própria estupidez, ele foi para o seu quarto. Tirou os sapatos e em seguida jogou-se em sua cama e se estirou para pegar o rádio. Ele precisava de alguma música alta, do tipo de música que faria que seus vizinhos o odiassem, para melhorar seu panorama. Mas quando chegou aos controles, um calafrio percorreu sua espinha. Sem saber o que significava, ele examinou seu quarto, e... Cada símbolo de proteção que tinha nas paredes - símbolos que não eram visíveis a olho nu, a menos que algo não-humano estivesse tentando chegar ali - estava acesso como uma árvore de natal. Suas paredes estavam literalmente brilhava vermelho-sangue... Merda! Ele estava sob ataque.

CAPÍTULO 6

Nick pulou pra fora da cama e pegou seu taco de beisebol no criado mudo. Bem, era uma arma estúpida para enfrentar o sobrenatural, mas era melhor que nada. Apesar de todos os símbolos e as garantias de Caleb de que nada podia penetrar a santidade de seu quarto, uma névoa apareceu no canto próximo à janela. Nick agarrou a madeira com mais força. Quando estava a ponto de iniciar sua chamada cósmica por ajuda, e bater em seu intruso como se fosse um boxeador profissional, a criatura se materializou. Alta, curvilínea e maligna até a medula, ela se plantou ao outro lado de sua cama com uma saia com babados, um top negro de couro e meias púrpura. Seu cabelo negro e vermelho estava recolhido em tranças que tinham presilhas combinando com seu colar. — Por Deus, Simi, matou-me do susto. — Nick suspirou aliviado enquanto deixava cair o taco de beisebol no chão. — O que você está fazendo aqui? Ela suspirou, fazendo que sua franja voar, e fez uma beicinho de irritação. Ainda estava batendo seus Doc Martens Borgonha no chão. — Akri se foi com essa tola deusa novilha outra vez e Simi parou de aborrecer dormindo o tempo todo, e começou a retorcer-se, e deixou Akri nervoso, o que faz que essa vaca velha fique de mau humor. O quê, pessoalmente, Simi acha genial. Alguma coisa que Simi possa fazer para incomodar à vaca, é bom. Um dia, Simi vai comer essa vaca. Sem se importar com o que Akri diga. Mmm Mmm. Ou talvez, provavelmente ela seja mais uma dor de barriga que algo delicioso. Mas bom, como a Simi 84


estava dançando a dança do St. Vitus, porque a impaciência estava deixando ela louca e, portanto, Akri também estava dançando, Akri disse a Simi que podia ir visitar os ursos para conseguir algo bom para comer. Então Simi decidiu ver seu demônio-jovem favorito de olhos azuis, e como sempre está castigado por ser estúpido, Simi disse, Huummm vamos procurar em seu quarto, porque ali é onde normalmente fica quando esta de castigo. E aqui está você, e então agora eu também estou aqui. Olá, akri Nick. Nick passou a mão pelo rosto, tentando entender o que ela acabava de dizer. Mas essa era a característica principal de Simi. Nunca havia sentido o que dizia. — Lamento que seu pai abandonou-a para estar com sua namorada outra vez. Ele parecia fazer isso com ela a cada poucos meses. Simi deu de ombros. — Está tudo bem. Akri fica pior que Simi. E diz que vai vir a me buscar logo que puder. Mas até lá... Ela tirou um babador branco de sua bolsa com forma de caixão e o colocou ao redor do pescoço. – Quer comer também? É o único que Simi conhece que pode comer tanto quanto ela. — Eu adoraria, Simi, mas... — Akri-Nick está de castigo. Ele concordou. — Me desculpe. Ela suspirou pesadamente. — Não se desculpe. Simi vai comer por você também. Agora anime-se. Vai ficar tudo bem. — Eu espero que sim, Simi. — Ele realmente desejava. — Confia na Simi. Ela nunca erra. — Atirou para ele um beijo com ruído antes de desaparecer. Não foi até esse momento que ele lembrou-se de algo. Simi nunca soava os alarmes em sua casa. — Caleb? — Ele o chamou em seu pensamento. — O que foi? — Caleb soava irritado. —Tenho um problema em casa. Minhas paredes estão brilhando e não sei por que. Antes que terminasse seu pensamento Caleb apareceu frente a ele. Sem dizer uma palavra Caleb fez um círculo lentamente, enquanto revisava seu quarto do piso ao teto. Nick franziu o cenho enquanto olhava para ele. — O que é?

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— Não tenho certeza. — Os olhos de Caleb brilharam e em seguida ficaram vidrados. Ele falou em uma língua demoníaca com uma voz grossa que usava para fazer assustar as pessoas. — Eles estão vindo para você, Nick. — Quem? — Noir. Um de seus demônios, de alguma forma encontrou Adarian. Tenho que ir avisar seu pai. Nick franziu o cenho. — Não entendo. — E eu não tenho tempo de explicar — ele grunhiu. — Nekoda! Venha cuidar de Nick até que eu volte. Ela apareceu no quarto ao lado de Nick. —Vou ficar com ele. — Eu já volto. — Caleb desapareceu. Nick não tinha certeza de que gostava desta situação. — O que está acontecendo? — perguntou, desejando que ela fosse mais honesta que Caleb. — Não tenho certeza. Há algo tentando acessar o perímetro. Ótimo. Exatamente o que precisava. Mais demônios que o queriam morto. — A propósito, quem é Noir? Por uma vez, ele respondeu sua pergunta. — Um dos seis deuses primários. E ele é o único que possui o Malachai. Agora ele entendia a sensação de calafrios que lhe chegava até os ossos. Seu mestre estava tentando chamá-lo para casa. — Por que não me disseram isso antes? — Esperávamos não ter que fazer isso. Esperávamos poder mantê-lo afastado dele. — Por quê? — Porque você e seu pai são o que lhe dá poder. Ele consegue a maioria de seu poder do Malachai. Toda vez que você pensar nele ou dizer seu nome, recarrega seus poderes. Entende isso? Sim, ele entendia e odiava isso. — Mesmo se estou dormindo e sonho com ele posso recarregá-lo? — Inclusive se estiver dormindo. Por isso não lhe dissemos nada. E por que assustar-se com algo quando na verdade não pode fazer nada a respeito? 86


Por um minuto ele hiperventilou com o pensamento de ser arrastado para um reino infernal e mantido ali como animal de estimação. — Onde está esse deus primário? — No momento, preso em um lugar chamado Reino das Trevas, ou mais corretamente, Azmodea. Era o lugar onde Ambrose disse para ele não ir. — Como foi que ficou preso ali? — Seu pai escapou de lá. E através de seus demônios, Noir o esteve perseguindo desde que se libertou. Embora tenha milhares de defeitos, Adarian é muito vivo e se escondeu para evitar a captura. Definitivamente não é algo fácil de fazer. — Então, é a guerra entre os Malachai e os Sephiroth? — Sehirii. Sephiroth é o singular. Malachai também é plural. — Então meu nome correto é Malachoth? Ela riu. — Não. Você sempre é o Malachai, porque, diferente do Sephiroth, é um amálgama do mal. A soma de todos os males. É por isso que seu nome sempre é plural. Ótimo. Ele era o filho de todos os males. Exatamente o que um menino queria escutar. — Ei, garoto. Você tem espinhas, cabelos em lugares desconfortáveis. Um estranho aroma corporal que nunca antes teve. Um corpo que cresce tão rápido que deixa você completamente descoordenado. Um socialmente inábil e como se não fosse suficientemente divertido para você, vai se transformar no power ranger maligno e destruir o mundo. Genial... — Menina, você realmente sabe como levantar o ânimo de um garoto. Obrigado. Sempre quis que me dissessem que eu era a soma de todos os males. Deixa-me tão feliz por ter saído da cama esta manhã. Kody se encolheu os ombros. — Me perdoe. — Então, conte-me mais sobre aquele que não pode ser mencionado por mim. Ela sentou-se no beira de sua cama e ele fez o melhor possível para não deixar que essa ação o levasse a pensar coisas que o poderia metê-lo em problemas que fossem normais para um menino, pelo menos uma vez em sua vida. Nenhuma outra mulher além de sua mãe esteve tão perto de sua cama como agora. Acalme-se, garoto. Este não é o momento pensar nisso. 87


Sim, mas você tem uma garota muito linda em seu colchão... E isso não era algo que lhe acontecia todos os dias. Ataques de demônios, sim. Humilhação constante? Claro que sim. Uma garota linda em sua cama? Jamais. Desconhecendo a agitação que havia causado, ela brincou com a franja de seu lençol. — É muito complexo, Nick. — Ela mordeu o lábio, o que não aliviou em nada o calor no seu sangue. — Em um dado momento, haviam seis deuses que tinham domínio sobre os elementos da terra. Três encarnavam aos elementos positivos e três, os elementos negativos. Do lado positivo Verlyn, que estava a cargo da vegetação e da fertilidade. Ele era um deus da terra e alimentava a todos. Cam era a deusa de branco e dourado. A deusa do sol. Seu dom era o amor e a luz. Em seguida houve também Rezar. Tão lindo que ninguém podia sequer olhá-lo sem encher-se de tanta luxúria que lhes causava uma combustão espontânea. Ele era o deus do fogo e da paixão. Esses três eram os guardiões divinos da humanidade e os que criaram os Chthonians, seres tirados de todas as formas de vida capazes de sentir na terra. Eles se encarregavam de que nenhum dos deuses abusasse de seus poderes. — Algo assim como a policia divina? Kody assentiu. — E em todas as coisas, há um equilíbrio perfeito. Os deuses negativos eram Braith, que é essencialmente uma deusa da guerra. E embora sua cor seja o cinza, ela não é ambivalente a respeito de seu lugar na ordem da escuridão. Ela permanece firme com Noir e Azura, contra os deuses da luz. Ela é a deusa dos metais e foi quem ensinou a humanidade como forjar armas com as matérias primas extraídas da terra para que brigassem uns contra outros. Azura é a deusa da água. E embora pareça inofensiva, ela te atrai e depois te afoga horrivelmente. E finalmente... — Ele cujo nome não posso dizer ou pensar. Ela concordou. — Noir é a soma de todas as coisas sombrias e letais. E segundo conta a história, os deuses da luz, depois que Braith ensinara a humanidade como brigar e depois de ver o que o futuro proporcionava ao homem e ao resto das criaturas viventes, juntaram-se e criaram os Sephirii. Eles seriam os protetores do homem e os consortes dos deuses primários. Essa era uma palavra interessante. Será que ela quis dizer o que ele pensava que ela quis dizer? — Consortes? — Amantes. Sim. Era isso. Nick balbuciou indignado. — Ah, agora isso não está certo. Por que eu não podia ser um deles? — Ele preferiria mil vezes ser um consorte divino a um instrumento do mal. Definitivamente parecia algo mais divertido. Kody tocou sua mão. — Bem, querido, se você fosse, agora estaria morto. 88


— Não, você disse que havia um. Um Malachai e um Sephiroth. Seu rosto empalideceu. — Acredite em mim, Nick, você não quer ser como Jared. Sua existência não é mais que dor e pura miséria. — Ah bem, não importa. — Ele tinha mais que suficiente em sua vida. Se Jared era pior, ele aceitava seu estado de “instrumento do mal”. — Por favor, continue. — Nick sentou-se em sua cama, mas se assegurou de colocar uma boa distância entre eles. — Você parou nos consortes. — Noir, Braith e Azura se enfureceram quando os deuses da luz se atreveram a criar um exército para ser usado contra eles, então forjaram ao seu próprio exército para manter o equilíbrio. E foi aí quando todo desandou. De esquerda à direita e de cima abaixo. — E eventualmente, enfrentaram-se. — Sim, — ela suspirou. — Esse é o problema quando a gente coleciona armas. Cedo ou tarde, alguém puxa o gatilho. Amontoando seus travesseiros contra a cabeceira, ele apoiou suas costas e não mencionou que cada vez que ela falava sobre os deuses primários uma luz estranha a rodeava. — Você está relacionada com um dos deuses primários. Não é? Ela desviou o olhar. — O que quer que eu te diga? — Eu gostaria que apenas uma vez, você me dissesse a verdade. Mesmo assim, ela não o olhava. — Nick, não te posso dizer nada sobre mim. Não quando estou preocupada. — E isso realmente me incomoda, Kody. O que aconteceria se eu fizesse isso com você? — Também me incomodaria. Mas tentaria confiar em você e entender por que tem que guardar segredos de mim. Ele zombou. — Você diz isso porque você é a que tem as cartas na mão e eu sou o que se pergunta se você está aqui para me proteger ou... — ele fez uma pausa antes de dizer o que mais lhe preocupava. As pessoas eram traiçoeiras. Alan o havia ensinado isso quando se virou sobre ele e atirou a sangue frio por ele negar-se a cometer um crime. A esposa de Kyrian, a mulher pela que havia desistido de um reino inteiro e sua herança para casar-se, o havia entregado sem piedade a seu inimigo para ser torturado e executado. E ele se transformaria em um Dark Hunter num futuro não muito longínquo porque alguém causaria a morte de sua mãe. Seria Kody a culpada? 89


— Você está aqui para me prejudicar, em última análise — ele terminou sua frase, colocando todas as cartas sobre a mesa para que ela confirmasse ou negasse. De uma forma ou de outra ela poderia estar mentindo e ele não teria nenhuma maneira de saber com segurança. Somos todos ratos em um labirinto. A verdadeira natureza do ser não se revela até que lhes arranquem a comida. Ou até que esteja morto. Desta vez, ela o olhou nos olhos. — Eu fiz algo para que você desconfie de mim? Não tecnicamente. Nick pôs as mãos atrás de sua cabeça, e a olhou. — Não foi você que me disse que a omissão também é uma mentira? Ela negou com a cabeça. — Agora sei por que quer estudar Direito. Você daria um ótimo advogado. Sim, mas a ele não gostava das discussões nem de confrontações. Embora não ficasse atrás em uma briga. Não estava nele. Mas ainda assim, preferia evitar o conflito que buscá-lo. Se apenas as demais pessoas fossem o suficientemente bondosa para deixá-lo em paz. Alguns dias parecia que o mundo inteiro estava em uma missão para derrubá-lo com tanta força quanto possível, e não deixá-lo sair intacto. — Kody, quero estudar direito porque eu não gosto que se aproveitem de mim. As pessoas que usam uma roupa de advogado usam como a pior ameaça contra outros. Eu quero estar na posição de olhá-los e dizer “venham pra mim” cada vez que tentarem vir! Ela lhe sorriu. — Você é um guerreiro de alma.

E sabendo que ele era o Malachai, fazia sentido. Esse era o propósito para o qual seu povo havia sido criado. Mas então por que então ele preferia a paz à guerra? — Por que acha que minha mãe escolheu meu pai? Kody franziu o cenho. — O que quer dizer? Nick deixou que seus pensamentos fossem à pergunta que sua mãe sempre se havia negado a responder. — Sempre me perguntei por que minha mãe, sendo tão jovem como era, fez o que fez com um perdedor como meu pai. Por que dormiu com ele? Simplesmente não entendo. Tão linda como é, poderia ter tido qualquer um. Ou melhor, a ninguém, até que terminasse a escola. Ou ainda melhor, a ninguém, até que se casasse. — Era sua mãe, afinal. É o que se supunha que as mães fizessem, ter relações apenas quando queriam filhos. 90


E a respeito a si mesmo, embora seu corpo morresse de vontade — especialmente cada vez que uma mulher atraente estivesse perto dele — não tinha intenção de arriscar-se enquanto ainda era um garoto. Ele sabia exatamente como era duro para um adolescente criar um bebê, e ele carregava muitas responsabilidades sobre seus ombros. A única coisa que sua mãe havia enfatizado era: — Se você traz um bebê inocente ao mundo, terá que fazer tudo para cuidar bem dele e lhe dar tudo o que precisar. Por essa razão, não ia dormir com ninguém até que estivesse mentalmente, e mais que tudo, financeiramente preparado para a possibilidade de ter uma mulher e um filho a quem encarregar-se. — Tem certeza que quer saber a verdade? – perguntou Kody. — Mais que uma mentira, tenho certeza. — Então olha no seu interior, Nick, e enfrenta a fera que você não quer que exista. Conhece sua mãe. Melhor que ninguém. O que você acha que aconteceu? Nick ficou calado enquanto seus pensamentos o levavam a um lugar onde raramente se permitiu ir. Era tão escuro e doloroso ir ali, que sempre havia dito a si mesmo que não era possível. Que certamente estaria equivocado em ao menos suspeitar dele. Mas as palavras estavam ali e não eram suas. Era como se viessem de alguma espécie de profecia ancestral ou transmitida através dos tempos. — Fui concebido na violência para gerar violência. Não é? — O Malachai sempre é. Nick praguejou baixo. Bem, ao menos agora sabia o que não fazer para conceber seu futuro herdeiro e assassino. Mas se isso era verdade... — Então como ela pode suportar estar perto dele? — Ele é seu pai. Para ela, o sangue significa mais que qualquer outra coisa. O sangue faz a família. E estou certa de que se você perguntasse, ela diria que ele lhe deu o melhor presente de sua vida: você. Sim, que presente maldito que era. Com o estômago revirado por esta verdade, ele queria vomitar. Sua mãe merecia muito mais que ter que conformar-se com algo como ele. Do início ao fim, ele havia arruinado sua vida. — Eu não deveria ter gritado com ela.

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— Você estava magoado, Nick. E ela não estava? Se ela estivesse com seus sentimentos feridos seria insignificante se comparado com o que ele a havia feito passar. E o que a faria passar no futuro. Ela vai morrer, por mim... Ele cerrou os olhos contra a dor concentrada no centro do seu peito. — Isso não é desculpa. — ele encolheu-se para a horrível realidade de como foi concebido. — Como ela aguenta olhar para mim? — Você é seu filho, Nick. Sua carne e seu sangue. Eu disse isso, em seus olhos. Isso é tudo. — Kody levantou suas mãos e formou uma caixa sombria entre elas. Por causa de seus poderes de vidência, ele soube que ela estava abrindo uma janela para lhe mostrar eventos. Mas embora ele usasse os seus para o futuro, ela estava mostrando o passado. Ele viu sua mãe gritando no meio do parto. Parindo um bebê sozinha, ela estava na sala do apartamento de Menyara, onde eles haviam vivido até os cinco anos de Nick e o dono do apartamento ao lado havia despejado o inquilino por falta de pagamento. — Faça parar! — Gritou para Menyara. — Empurre Cherise. Empurre. Você pode fazer isso, menina. Ele já quase está aqui. Ela gritou tão forte, que fez um eco no quarto, e fez com que Nick se encolhesse ao pensar na dor que havia causado. Menyara sorriu enquanto sua mãe paralisava no sofá-cama. O bebê fez um estranho som gutural e depois chorou indignado para o atrevimento de ter sido trazido para um mundo hostil... Depois de limpá-lo, Menyara o envolveu em uma manta e o entregou para sua mãe. — É lindo, criança... assim como a mãe. E tão perfeito. As lágrimas caíram nas bochechas de sua mãe enquanto ela o olhava. — Olá, bebê. Então é você que me fez comer brócolis e queijo com molho de chocolate. — Ela o pressionou contra seu peito e o segurou como se fosse a coisa mais preciosa no mundo. Menyara afastou uma mecha de cabelo da bochecha de sua mãe. — Quer que chame a senhora da agência de adoções, Cher? Ela disse que tudo o que você tinha que fazer era assinar uns papéis e que ficaria feliz em encontrar um bom lar para ele. Há muitos pais que queriam tê-lo. Nick aspirou entre os dentes. Sua mãe nunca havia dito que havia considerado dá-lo para adoção.

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— Soa como se ele fosse um animal de estimação quando se fala sobre adotá-lo. Não é? — Sua mãe olhou para Menyara. — Mas seria o melhor para ele, não é? Com seus olhos cheios de amor e lealdade, Menyara deu de ombros. — Talvez sim. Talvez não. Para você, definitivamente seria o melhor, ma petite. Seus pais disseram que você podia voltar para casa se entregasse o bebê assim que nascesse. Sua mãe olhou ao redor do quarto que estava decorado com artefatos egípcios enquanto lágrimas se formavam em seus olhos que eram idênticos na forma e na cor aos de Nick. — Sou muito jovem para ser mãe. Nem sequer posso dirigir. Legalmente não posso trabalhar, nem fazer nada exceto ser uma carga para você, e você já foi muito boa comigo. Muito. E não sei o que faria se não você tivesse me ajudado Mennie. Muitíssimo obrigada por ser tão boa e decente. E sua mãe odiava ser uma carga para alguém. — Ficaria feliz em ter você aqui, Cherise. — ela sorriu com bondade enquanto acariciava a bochecha de sua mãe. — E não quero dizer por que você lavava a roupa e limpava a casa. Você tem uma alma linda, e vou apoiá-la em qualquer decisão que tome para você e para seu filho. — Ela passou a mão na cabeça de Nick que estava coberta com cabelo escuro. — A senhora da agência de adoções disse que sempre precisavam de bebês. Há uma longa lista de pais esperando para tê-lo e amá-lo como próprio filho. — Mas ele nunca me conheceria — disse sua mãe entre lágrimas. — Eu poderia estar em um restaurante um dia e poderia estar sentado ao lado dele e poderia saberia que ele esteve ali? Toda vez que visse um bebê de sua idade, me perguntaria... Esse é o meu? Menyara se sentou ao lado dela. — Não chore Cherise. Os nascimentos sempre são momentos de felicidade. Você trouxe uma vida a este mundo. Olhe para ele, garota. Ele é perfeito. Lindo. Ela assentiu contra o ombro da Menyara. — Ele merece apenas o melhor na vida. — Todos nós merecemos, menina. Lambendo seus lábios secos, sua mãe passou sua mão pelo cabelo do bebê. — Como acha que lhe vão chamá-lo? — Não tenho ideia, coração. Mas estou certa de que vai ser um bom nome — Menyara estirou a mão para pegá-lo. — Deixe-me... — Não! — gritou sua mãe. Ela enterrou o rosto contra seu peito enquanto ele se movia zangado protestando. — Não posso fazer isso, Mennie. Não posso. Ele é meu bebê. Minha carne e meu sangue. Não pertence a ninguém mais. Fui eu com quem ele esteve falando durante todo este tempo e quem ele esteve chutando. Como posso deixar que alguém mais o tenha?

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Menyara franziu o cenho. — Está certa disto, Cherise? A vida é difícil para todos. Mas se você estiver com seu bebê, irão passar por cima de uma forma que você não pode imaginar. Ela levantou sua cabeça com coragem. — Vão me pisotear de qualquer forma. E quero estar ali para quando a vida o machucar. Quero ser a pessoa que o sustentará e que diga que tudo vai estar bem. Não vou poder dar- lhe muito. Mas posso lhe dar uma mãe que o ama com todo seu coração. Uma que não o abandonou no momento de seu nascimento para que sua vida fosse melhor. Ele merece mais que isso. Menyara mordeu o lábio antes de voltar a falar. — Você está condenando a ambos a uma vida de pobreza. — Talvez, mas isso poderá acontecer também se eu o der em adoção. Meus pais me jogaram na rua por algo que eu não pude evitar. O que os impediria de fazer novamente? Não posso confiar neles. Agora sei disso. Quando mais precisei deles, deram-me as costas. — Ela franziu os lábios de raiva. — Você buscou isso. — A forma com que ela disse essas palavras, disse ao Nick que ela estava repetindo o que seus pais haviam dito. — Mas eu não busquei isto. — Ela se encolheu como se a lembrança fosse mais do que podia suportar. — Tem certeza, Cherise? Esse bebê sempre vai ser um terrível aviso dos horrores que você passou. Não vai pensar nisso toda vez que olhar para ele? Ela negou com a cabeça. — Ele é um aviso do quanto forte eu sou. De que posso sobreviver a tudo que o mundo me atire. Não vou voltar a ser uma vítima e não vão me vencer. — Ela engoliu suas lágrimas. — Olha para ele, Mennie. Essa cabecinha de bebê. Esses olhinhos de bebê. Como não amar algo tão adorável? Menyara voltou a tirar o cabelo do seu rosto. — Ele é precioso. Como vai chamá-lo? A rosto de sua mãe foi até o medalhão de um santo que ela usava em seu pescoço. Era o mesmo que ela o havia dado em sua crisma. — Nicholas, pelo patrono dos pequenos. Meu Nicky será minha vitória sobre minha dor. Meu pequeno campeão. E cada vez que o vir, vou ver refletida minha força. Não por mim, mas por ele. — E que outro nome vai lhe dar? Ela sorriu com orgulho. — Ambrosius. Mennie franziu seu lindo rosto. —Ambrosius? Menina. Por que o daria um nome como esse? — Ela questionou. Mas ninguém ia mudar a opinião de sua mãe. — Era uma das histórias favoritas de meu avô, e ele me contava cada vez que eu passava minhas férias de verão com eles. E esses foram alguns dos melhores dias de minha vida. Quero compartilhar isso com meu bebê. Ambrosius Aurelianus era um antigo guerreiro saxão que meu avô disse que chamavam “rei dos reis”. Supostamente era um feiticeiro de grande poder que protegia a seu povo e unia uma Grã Bretanha rasgada pela guerra. Um homem real, coberto de mistério - assim era como meu avô 94


o descrevia. Alguns dizem que era o irmão mais velho do Rei Artur, ou o próprio Artur ou, ainda, Merlin. E esse nome significa “imortal”. Dois fortes e orgulhosos nomes para meu filho perfeito. Não posso pensar em nada melhor do que chamá-lo Nicholas Ambrosius Gautier. Menyara silvou baixinho. — Menina, ele vai odiá-la quando tiver que aprender a escrever isso na escola. — Sim, mas já tem o nome de um santo, que cuide dele para sua crisma. Então terá mais de um propósito. Acho que vai gostar. Sorriu ao bebê. — Você vai gostar, Senhor Bebê. Insisto. Nekoda fechou a janela e trouxe Nick de volta ao presente. — É incrível as coisas que alguma vez sabemos das pessoas gente com quem compartilhamos nossas vidas, não é? Sim, era. — Não fazia ideia que ela havia planejado me dar em adoção. Não a teria culpado se tivesse feito isso. Kody tragou. — A vida é feita de tomada de decisões, Nick. Pequenas e grandes. A cada segundo de cada dia. E tudo estava relacionado com a família. Seus pais, seus filhos e aqueles que fazem parte de seu coração. Foi assim que Simi o havia definido. Era irônico, quando pensava nisso. A melhor definição de família que havia escutado, e a única com a qual estava de acordo, havia saído da boca de um demônio. E embora os poderes de Kody lhe houvessem mostrado coisas sobre sua mãe sobre as quais nunca havia suspeitado e confirmaram seu pior medo sobre si mesmo, sentia um respeito diferente por sua mãe. Apesar de tudo o que havia vivido ela nunca havia perdido sua coragem nem sua chama interior. Também não havia perdido sua dignidade nem sua habilidade para ver o bem em cada um. Menyara tinha razão, sua mãe tinha uma alma bonita. E se ela, uma simples humana, sendo uma menina, conseguiu aguentar e lutar por ele, então ele tinha a possibilidade de transformar-se em algo mais que seu pai. Como Kody havia dito, a vida era tomada de decisões. E sua decisão era não transformar-se em um instrumento de maldade. Ele não se converteria em Ambrose. Eu sou Nicholas Ambrosius Gautier. E fui concebido por violência para lutar contra a violência. Ambrose havia lutado contra isso, mas ele, Nick lutaria com mais força. E ele salvaria a sua mãe, embora tivesse que morrer para fazer isso.

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Sob a forma de corvo, Caleb aterrissou na soleira da cela de Adarian. Infelizmente, ou talvez felizmente, Adarian não estava ali. Isso não lhe chamava a atenção. Nesta hora do dia... A besta podia estar em qualquer parte. Caleb lançou-se ao céu e fez círculos sobre o pátio, buscando-o. Apenas na segunda volta finalmente o divisou, sentado em uma mesa, com sua fera solidão. Na verdade, assustava o tanto que Nick se parecia com seu pai. Em um par de anos, não se poderiam distinguir-se um do outro. Exceto por suas personalidades. Nick era distraído a maior parte do tempo e, por mais que Caleb odiasse admitir isso, adorável, inclusive divertido às vezes. Sem importar quão ruim fosse a situação, Nick sempre podia encontrá-lo um pouco alegre. Por outro lado, Caleb nunca viu Adarian sorrindo, exceto se fosse um sorriso cruel. E a única coisa que o Malachai Sênior encontrava graça era em torturar outros. Sim, não podiam ser mais diferentes. Caleb foi para a mesa branca de piquenique onde Adarian estava. Devido à natureza assassina e as tendências cruéis de Adarian, eles o mantinham isolado dos outros detentos. Quatro guardas com suas escopetas soltas ficavam no entorno de onde Adarian estava, separado do resto dos detentos por meio de uma grade com arame farpado. Por sorte, ele podia voar sobre a mesma sem cortar-se. Caleb aterrissou na mesa atrás de Adarian e grasnou para fazê-lo saber que havia chegado. Adarian suspirou irritado. — O que está fazendo aqui, Malphas? — perguntou-lhe baixo, enquanto tampava a boca com a mão para que os guardas não pudessem escutá-lo ou vê-lo falando com uma ave. Encontraram-no. —Quem? Não faço ideia. Seja quem for, tentaram acessar o quarto de Nick. Não entraram. Mas se o encontrarem... Adarian xingou. Acho que seria melhor que você fosse embora daqui. — Não vou a lugar nenhum. Não vão encontrar Nick. E até se o encontrarem, não vão confundir a esse moleque de rua comigo. Caleb zombou. — Está disposto a arriscar a vida de seu filho? 96


— Não, mas estou disposto a arriscar a tua. É obvio que estava. Por que não? Se Caleb morresse, Adarian sempre podia encontrar mais alguém. Eu o manterei a salvo. — Ah, não tenho a menor duvida disso. Já viu o que acontece com as criaturas que me traem? Também viu o que acontecia com quem o ajudava. De qualquer forma, Adarian o sacaneou. — Agora, vá protegê-lo. Sim, meu amo e torturador. Adarian virou-se para ver Malphas indo embora. Então, algo o havia localizado. Não era a primeira vez. Cinco anos antes, ele esteve perto de ser capturado por um de seus inimigos. Morrer nunca havia sido uma opção. Não até que Nick chegasse à puberdade. Agora esse moleque podia tomar seu lugar como o Malachai. Kirast Kiroza Kirent. Concebido na violência para repartir violência e morrer violentamente. Essa era a promessa escrita na primeira língua, no símbolo do Malachai. Assim que esse pensamento cruzou sua mente sentiu que sua marca do Malachai esquentava. Era uma advertência de que um pouco da Azmodea estava neste lugar. Uma faísca de eletricidade desceu por sua coluna. Quem é ou o que fosse, estava olhando para ele. Não que se importasse. Mas seu fim chegaria logo. Sem importar com quanta força lutasse, ele sabia a verdade. Podia senti-la nos ossos. Se não matasse logo Nick e absorvia seus poderes, ele teria que morrer. E não tinha intenção de fazer isso. Não agora. Sempre poderia ter outro filho. Um mais maleável que Nick. Um que poderia controlar e depois assassinar. A amargura se instalou em sua garganta ao considerar ao filho que havia visto só um par de vezes. Quem podia adivinhar que a mosca morta de sua mãe possuiria uma força semelhante? Cherise sempre foi cheia de surpresas. Mas ele também era. Um de seus guardas desviou seu olhar de Adarian de uma forma que era tão reconhecível quanto ridícula.

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Algum espírito o havia possuído. Isso lhe disse tudo o que precisava saber a respeito da criatura patética que o vigiava. — As formas mais baixas de vida não me assustam, — disse Adarian ao demônio. — E as mais altas, tampouco. Volte para sua casa e me deixe só antes que eu arranque suas asas e o meta em um tubo de ensaio. O guarda possuído o olhou com fúria. — Você é o que vai terminar em um tubo de ensaio. E depois vamos destruir seu filho. Bem na sua frente. Adarian riu do idiota. — Lutemos. O demônio atacou. Adarian o agarrou contra seu peito e o manteve firme. Agarrou seu pescoço enquanto falava em sua língua nativa. — Como soube que eu tenho um filho? — Todos sabem. Sabemos há séculos. Adarian franziu o cenho. Séculos? Nick só tinha uma década. Do que esse imbecil estava falando? — Malachai! Solte-o ou vamos atirar. Adarian olhou de lado para o idiota que os estava interrompendo. — Como soube sobre ele? —perguntou para o demônio em seus braços. — Não foi fácil. Zeus tirou suas emoções. Sua falta de ódio o manteve escondido de nós por um longo tempo. Mas essa magia está se enfraquecendo e agora sabemos que ele existe e onde encontrá-lo. Isso foi sorrateiro de sua parte, Malachai. Engravidar uma deusa. Mas não vai funcionar. Você vai morrer. Se não por minha mão, então por um de meus irmãos. Os guardas abriram fogo. Adarian se cobriu com o demônio que segurava. A parte humana do corpo do guarda gritou quando as balas impactavam contra seu corpo. Assim que o guarda morreu, o demônio saiu e desapareceu. Aborrecido, Adarian ajustou-se à sensação das balas penetrando sua carne. Não o matariam. Nenhuma arma mortal poderia matar um Malachai. Só doíam. Um dos guardas o agarrou e o atirou contra o piso. — Você vai pagar por isso. Sim, claro. Eles não tinham ideia. Nem sequer sabiam como machucá-lo. Mas enquanto o algemavam no piso, seus pensamentos voltaram para algo que jamais havia suspeitado. Havia outro filho por aí. Um que já estava crescido, que tinha o sangue de dois deuses fluindo em seu corpo. 98


E embora esse filho pudesse não ter os poderes do Malachai, ele era um deus, e se Nick morresse... Adarian podia dar ao seu outro filho, sangue suficiente do Nick para combinar os três. Oh, sim. Isto era melhor do que o que havia sonhado. A vida do Nick era cada vez mais breve. E era hora de dar ao seu filho, a visita que devia.

CAPÍTULO 7

Sozinho em seu quarto, já que Kody e Caleb haviam decidido que ele estava relativamente a salvo, no momento, Nick rolou e olhou seu relógio. Precisava ir até a loja de Liza antes que fechasse e procurar o presente de Rosa, depois de parar na Timeless Treasures para pegar o presente que havia reservado para ela. Se fosse agora, voltaria a tempo para buscar sua mãe e acompanhá-la até em casa. Ele pegou o telefone de seu bolso e discou. — Santuário em Ursulines. Aqui fala Jasyn. O que posso fazer por você? — Olá, Jasyn, é Nick. Minha mãe está por aí? — Ah, olá. Espere que vou buscá-la para você. Nick esperou até que sua mãe atendeu ao telefone. — O que você quer Nick? — Definitivamente seu tom não era o melhor, e ele se sentia mal por havê-la deixado assim. — Olá, mãe. Eu... hum.. preciso ir procurar algo para Kyrian na Senhora Liza. Não vou demorar muito e depois volto para acompanhá-la até em casa. — Você não tem que fazer isso. — Sim, ela ainda estava zangada e realmente se notava. — Eu sei mãe. Mas eu gosto de acompanhá-la para casa e... realmente, eu estou arrependido. Está bem? — ele conteve a respiração, esperando que ela respondesse da mesma forma. Ela não respondeu.

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Em vez disso, ela continuou com o mesmo tom zangado. — Vejo você daqui a pouco. — E desligou. Agora sinto-me um lixo. Ela, provavelmente, estaria pensando que deveria ter assinado os papéis de adoção e dá-lo ao primeiro casal que aparecesse. Tentando não pensar nisso, ele trancou a porta com chave e saiu. Começava a escurecer. E isso o deixou de bom humor. Ele adorava este momento do dia, antes que os turistas começassem a beber, e quando os donos das lojas na Rua Royal começavam a fechar seus negócios. Sempre estavam de muito bom humor ao fechar suas lojas e fazer os depósitos do dia. Também eram os últimos momentos do dia antes que os predadores reais saíssem para caçar; os que não podiam ser parados pelas balas. — Olá Sra. Clancy, — disse ele para a dona da Masquerade enquanto ela fechava para sair. — Boa noite, Nick. Está indo para o lado errado se vai buscar sua mamãe. Vai para o Bubba? Dizem que esse menino já não dá aulas de como sobreviver aos zumbis. Nick riu. —Imagino que esta noite ele estará se comportando bem, já que sua mãe está aqui com ele. — Ah, que bom. O que mais temo é que cause um incêndio em sua loja e queime tudo em seu caminho até a minha. — Isso sempre é uma possibilidade com Bubba. — Disse sorrindo — Boa noite, Sra. Clancy. — Boa noite, Nick. Colocando as mãos nos bolsos, Nick caminhou em direção à Catedral. Não estava longe de Jackson Square quando escutou a alguém que o chamava por seu nome. Como geralmente andava pela área e conhecia a maioria das pessoas que trabalhava e vivia ali, ele fez uma pausa. Nick estava a ponto de ignorar, quando finalmente viu um menino de sua idade exatamente em frente a ele, um pouco mais adiante. Era Bristol, da escola. —Sim? — ele perguntou. —Eu estava realmente indo para a sua casa para vê-lo. Pode vir aqui por um segundo? — ele perguntou, fazendo sinal para um caminho que dava a uma boutique que já estava fechada. — Quero te perguntar algo sobre a escola.

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O estômago se revirou e lhe disse que isso não era uma boa ideia. Mas era Bristol. Ele o conhecia havia anos. O que havia de errado em falar com um velho amigo durante uns minutos? Nick andou para esse lugar. — O que está acontecendo? No momento em que ele entrou ao salão, Bristol colocou um pedaço de papel em seu rosto. — Que merda é essa? — ele levou um segundo focar seus olhos no papel que o listava como fonte, dizendo que Bristol era gay. Também dizia que sabia com certeza que ele era gay, porque foi à festas com ele algumas vezes. Nick franziu o lábio. — Eu não disse nada disso, que merda. — Sim, certo. Você disse a mesma mentira de Spence. — Eu não disse nada de ninguém. Não faço esse tipo de coisa. — E você acha que eu tenho que acreditar em um lixo cajun que tem uma mãe stripper e a um pai na prisão por múltiplos assassinatos? Realmente? O temperamento de Nick explodiu enquanto morria por esmagá-lo. — Eu não disse isso — voltou a repetir, pontuando cada palavra com a malícia que sentia. — Você é um mentiroso. — Bristol o empurrou. Não lhe revirar. Sua mãe não podia suportar duas brigas em um dia. Ele nunca escutaria o final desse sermão. Pense em Wren, rindo da briga, mais cedo no Santuário. Wren definitivamente possuía o poder de arrancar a cabeça de qualquer que um incomodasse. Você também pode ir embora. Não havia melhor momento para aprender do que o presente. Suspirando, virou-se para sair. No momento em que lhe deu as costas, Bristol deulhe um soco tão forte, que o deixou sem ar. — Não me dê às costas, nojento. Você é o lixo, não eu. Sim, claro. Mas Nick não ia brigar com ele. Não agora. Não depois da discussão que teve com sua mãe. — Olha Bristol... Ele socou outra vez, desta vez na mandíbula. Nick se controlou. Tinha que sair antes de lhe devolver o golpe. Virou-se, deu dois passos e depois a dor explodiu em sua cabeça...

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— Kody? É você? Nekoda franziu o cenho ao escutar o pânico na voz de Cherise Gautier em seu telefone. — Sim, senhora. Posso ajudá-la? — Nick está com você? — Não, senhora. Por quê? Cherise hesitou antes ao falar. — Achei que ele iria me acompanhar para casa depois de passar a procurar algo para Kyrian na loja da Liza. Meu horário acabou há trinta minutos e ele ainda não apareceu. Quando liguei para Liza, ela disse que não o viu também. Sei que quanto ele estava chateado estava antes... Você não acha ele que fez alguma coisa estúpida, não é? Não. O mais provável era que alguma coisa o tivesse agarrado, e o tivesse comido. — Não acredito Sra. Gautier. Ele estava se sentindo muito melhor quando saí. Deixe-me fazer algumas ligações e ver se alguém o viu. — Já liguei para Bubba e Mark. Eles disseram que ele foi embora com você. —Eu o deixei em sua casa. — Ela não disse mais nada porque sua mãe não gostava que houvesse gente em seu apartamento quando ela não estava. — Vou ficar aqui caso ele esteja apenas atrasado. Por favor, avise-me se encontrar qualquer coisa. —Sim, não se preocupe. — Kody desligou e imediatamente chamou Caleb. —Nick está com você? —Não. Por quê? —Ele está desaparecido. Caleb amaldiçoou. — Vou começar a procurá-lo. — Eu também. Vejo você mais tarde. — Ela desligou e fechou seus olhos. Usando seus poderes tentou de sentir o paradeiro de Nick. Pela primeira vez, não funcionou. Ela não tinha ideia de onde ele estava. Bom, esta era a razão pela qual havia lhe dado esse anel. Ele pensava que era normal, mas ela sempre podia usá-lo para localizá-lo. É obvio, ela encontraria seu rastro imediatamente. Suspirando aliviada, ela deixou que ele a puxasse para o seu lado.

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Ela se materializou em um quarto escuro que parecia estar em nenhum lugar próximo a French Quartier. Ela olhou ao redor, mas não viu nada. Por que o anel a teria trazido para este lugar se Nick não estava ali? Esteve prestes a ir quando escutou um gemido suave nas sombras. —Nick? Parecia com seu nome, mas não era claro. Talvez. Ela não podia ter certeza. Com seu coração pulsando forte do medo, ela correu para onde escutava o som. No início só viu lixo na rua. Mas depois procurar um pouco, encontrou um corpo no chão, parcialmente coberto. Por favor, que não seja Nick... O pânico se apoderou dela enquanto tirava coisas que estavam sobre o homem ferido. Uma pequena mancha de sangue se havia formado ao redor de sua cabeça e seu ombro... —Nick? — ela disse em voz baixa, ajoelhando-se a seu lado para poder virá-lo e confirmar sua identidade. Sim, era ele. Deveria tê-lo reconhecido por sua camisa. Mas seu rosto estava tão agredido e ensanguentado que ela não reconheceria a não ser pela roupa que usava. Ele está bem. Como faço para conseguir ajuda? Se o teletransportava para um hospital, saberiam imediatamente que ela não era humana e informariam as autoridades para virem prendê-la. Pensa Nekoda, pensa. Como fazem os humanos para receber ajuda? Ambulância. Isso. Ela pegou seu telefone e ligou 911. Passaram uns minutos antes que uma mulher respondesse. A mão de Kody tremia enquanto desejava ter os poderes necessários para sarar ao Nick para que não tivesse que sofrer. Se pudesse... — Olá. Encontrei a meu amigo em um beco, onde foi atacado, e está sangrando muito. — Ele está consciente? — perguntou a operadora. — Não, senhora. — Preciso de sua localização. Kody apertou os dentes enquanto usava seus poderes para localizar-se. Ela deu a informação à mulher e ficou na linha enquanto esperava que viesse a ajuda.

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Ela rasgou um tecido para limpar um pouco o sangue do rosto. — Força, Nick. A ambulância já está vindo. Vão chegar em alguns minutos. Só que a espera parecia ser eterna. Assim que escutou as sirenes se aproximando, Kody correu para a rua para fazer sinal para ambulância para que não passassem em frente. Eles estacionaram na esquina, e pegaram uma caixa de primeiros socorros antes de segui-la até onde Nick estava no chão. — O que aconteceu? — perguntou um paramédico. — Não sei. Eu o encontrei assim há alguns minutos. Na teoria ele tinha que estar com sua mãe no trabalho, e como ele não chegou, ela me ligou para que a ajudasse para encontrálo, e aqui está. Eu os chamei assim que o tirei do lixo. — E você é? — Sua namorada, Kody. Eles se ajoelharam no chão e começaram a analisá-lo para ver sua situação. — Qual é o nome dele? — perguntou a mulher. — Nick. — Nick? — disse a paramédica. — Pode me escutar, querido? — Eu não contei — ele balbuciou. Os paramédicos se olharam confusos. —Nick? — a mulher voltou a perguntar. — Meu nome é Patrice. Pode me escutar? —Patrice — disse vagamente. —Bom menino. O homem correu para buscar a maca enquanto Patrice ficava atrás para colocar um soro no braço. — Você pode me dizer quantos anos Nick tem? —Ele tem quinze — Kody respondeu. — Obrigado. — Ele colocou um colar ortopédico enquanto falava com Kody. — Tem o número de telefone da mãe?

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—Sim. —Por que não liga para ela enquanto me encarrego dele? Diga-lhe que vamos levá-lo ao hospital Charity e que vamos precisar que ela esteja lá para assinar uns papéis por ele. Kody fez a chamada enquanto o estabilizavam, para depois colocá-lo na maca. Ela desligou assim que o levantaram para levá-lo a ambulância. Ele estendeu a mão e agarrou a sua. — Você vai ficar bem, querido — ela assegurou a ele. — Você quer vir conosco? — perguntou o homem. —Sim, se for possível. Colocaram Nick na ambulância, e depois a mulher foi até a parte dianteira para dirigir enquanto que o homem ficou atrás com eles. Kody sentou-se perto da porta enquanto o paramédico continuava atendendo-o e controlando seus sinais vitais. — Você sabe o que aconteceu? — ele perguntou. — Não faço ideia. Ele teria que fazer algumas tarefas mas não apareceu. Sua mãe me chamou e saí para encontrá-lo. Encontrei-o por milagre. — Ele tem sorte de que o tenha encontrado, isso é certo. Nick estava tentando falar, mas com a máscara de oxigênio, ela não se entendia o que dizia. O paramédico retirou-a do rosto. — O que disse Nick? — perguntou. — Diga a ela... — ele tossiu e logo gemeu. — Diga que eu não lutei. — Sim, eu direi. — O paramédico voltou a colocar-lhe a máscara. — Escutou isso? — Sim, mas não sou eu a pessoa a que ele se refere. É a sua mãe. Eles tiveram uma discussão antes, e ele prometeu que nunca mais iria brigar. — Ela se encolheu quando olhava o dano que haviam feito nele. Era brutal. O paramédico se inclinou sobre o Nick para tirar um tubo de uma vasilha. — Sem querer ofender, garoto, mas você deveria ter se defendido. Não acho que eles poderia ter lhe machucado mais se fosse tivesse lutado. Pelo menos, poderia ter tirado um pouco de satisfação pessoal. Kody não podia estar mais de acordo. E ela não entendia por que ele havia deixado que o machucassem tanto. Nem mesmo por sua mãe. Nick, eu quero te matar por isso. Mas isso era o que ela amava nele. Quando ele dava sua palavra, fazia isso a sério. 105


Colocando sua mão na perna de Nick, ela fechou seus olhos e usou seus poderes para descobrir o que havia acontecido. Ela viu Bristol bater em Nick na parte de trás da cabeça com uma madeira que pegou no chão do beco. Ele o pegou completamente de surpresa e o cegou temporariamente pela surpresa do primeiro golpe. Depois Nick caiu no chão. Com os olhos brilhando em fúria assassina, Bristol não lheu deu alívio. Ele continuou atacando Nick golpe após golpe com a madeira, nunca deixando que ele se recuperasse. Tudo o que Nick conseguiu fazer foi fazer encolher-se como uma bolinha no chão e tentar proteger-se. Enjoado e desorientado pela rápida sucessão de golpes, Nick não teve chance de pedir ajuda antes de desmaiar no beco. Encolhendo-se de horror, finalmente viu que Bristol recuperava a sanidade. Nesse momento entrou em pânico ao perceber como havia deixado Nick. Aterrorizado de que Nick estivesse morto, ou morrendo, pegou a carteira de Nick e jogou lixo por cima para esconder o corpo. Depois saiu correndo, deixando Nick para esvair-se na calçada fria. Ela nunca quis machucar tanto a alguém como neste momento queria machucar Bristol. Como pôde ser tão frio? Conhecia Nick há anos. Havia compartilhado muitas aulas com ele e foi seu companheiro de estudos em várias matérias. Mas Bristol se sentiu justificado em bater em Nick e essa era a emoção humana mais perigosa que se podia imaginar. Sempre que alguém, sem importar quanto distorcido fosse o raciocínio, pensava que tinha uma razão para agir contra alguém, eram capazes de uma crueldade inimaginável. Bristol pensou que Nick havia mentido sobre ele, e em vez de acreditar que Nick estava dizendo a verdade, decidiu bater até deixá-lo inconsciente apenas porque pensava que ele merecia. Enojada, ela soltou a perna do Nick e tentou focar em sua recuperação. Até que chegaram ao hospital, e o pessoal da recepção começou a lhe fazer perguntas sobre Nick, enquanto ele era levavam a um quarto onde ela não podia entrar, ela lembrou de chamar todos os demais e contar-lhes o que havia acontecido. Caleb apareceu junto dela em um canto escuro da sala de espera antes que ela pudesse dizer mais que duas ou três frases. — Ele está bem? — Sua sincera preocupação a surpreendeu. Pela forma com que Caleb agia e falava de Nick, ela achou que ele apenas o tolerava. Mas era mais que apenas tolerância ou cumprimento de seu trabalho o seu tom e a sua linguagem corporal. Caleb estava genuinamente preocupado. Uau? Kody deslizou seu celular em sua bolsa. — Nós sabemos que ele não pode morrer por um simples ataque, mas o humano que o atacou o deixou muito mal. Ele não está bem. Caleb cerrou seus olhos marrons com desconfiança. Porque ela sabia o que ele era na realidade, foi fácil ver além de sua beleza humana, mas nesse momento, quando ele deixou 106


sua fachada de protetor e ela viu o coração vulnerável debaixo da aura de demônio, era quase tão belo quanto Nick. — Tem certeza de que o que o atacou era humano? — perguntou Caleb. — Positivo. Acho que essa é a razão pela qual ele estava tentando de fugir da briga. Se fosse um de nós, estou certa de que Nick o faria em pedaços. Caleb fez um som de suprema irritação. — Ele mataria sua mãe por causar este último ataque de estupidez, mas... — Sim, eu sei. Neste momento eu também estou feliz com ela. E falando em sua mãe, Cherise finalmente chegou. Ela fez uma pausa na entrada para procurar um rosto familiar. Assim que os viu em um canto, ela correu para eles. Loira, magra e pequena, ela era absolutamente linda, mesmo com lágrimas caindo por suas bochechas. — Onde encontrou meu bebê, Kody? — Em um beco perto do Royal. Não muito longe da loja de Liza. Menyara chegou bem a tempo para escutar sua resposta. Não muito mais alta que Cherise, e tão magra quanto ela, ela tinha tranças amarradas em um laço vermelho, com uma blusa vermelha e jeans. — Ai, meu pobre Nicky — ela suspirou. Havia algo na profundidade na cadência de sua voz que para Kody sempre recordava Ertha Kitt. Chorando mais forte, Cherise virou-se para Menyara, — Quem faria algo assim a meu bebê? Por que, Mennie, por quê? Não tem sentido. Meu bebê é tão bom, e eu fui tão dura com ele quando me ligou para me dizer que ia trabalhar e depois viria para acompanhar-me para casa. Juro, nunca mais vou gritar com ele. Apenas me diga que ele vai ficar bem. — Espero que sim, Cher. Espero. Kody pensou em explicar-lhe o que havia acontecido durante a briga, mas depois pensou melhor. Como não esteve lá durante a surra, não podia dizer a nenhum humano como sabia tantos detalhes, já que havia chegado uma hora depois. Então pensou na explicação mais óbvia para acalmar a sua mãe. — Parecia um assalto. As pernas de Cherise cederam. Caleb moveu-se como um raio para segurá-la e evitar que caísse no chão. Ele a levantou em seus braços e depois a levou para uma cadeira vazia para que se sentasse e Menyara se ocupasse dela. Menyara sentou-se ao seu lado e pegou sua mão. — Vai ficar tudo bem, ma petite. Ele é um menino forte. É preciso mais que uma surra para que o levem para longe de nós. Eu prometo.

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— Espero que tenha razão, Mennie — ela chorou — Nick é tudo o que tenho no mundo. Se alguma vez o perdesse, teriam que cavar duas tumbas. Não posso viver sem meu bebê. Não posso. — Ela chorou com tanta tristeza que a Kody ficou com lágrimas nos olhos. Tentando tranquilizar-se antes de assumir seus próprios medos a respeito de Nick, Kody olhou para cima e viu uma sombra de dor feroz nos olhos de Caleb. Algo na reação de Cherise havia afetado o demônio. Mas o quê? Se Caleb teve uma mãe alguma vez, foi algo que não havia mencionado antes. Seria possível que tivesse casado no passado? Que houvesse tido uma família? Os demônios também acasalavam, e algumas espécies eram ainda mais monogâmicas que os humanos. A espécie de Caleb era uma das mais notórias por sua lealdade aos laços familiares. Realmente não sei nada dele, da mesma forma que ele não sabe nada sobre mim. Pela primeira vez, caiu o tapa-olhos ao perceber de que embora os três passassem tanto tempo juntos e interagiam em um com o outro, Nick, Caleb e ela eram estranhos íntimos... É triste que tenhamos ficado relegados a isto... Mas quantas pessoas viviam assim? Quantas pessoas eram ou se sentiam com estranhos em sua própria casa? Ou que ninguém em sua família os conhecia ou os entendia? Em muitos aspectos, só somos satélites em nossa própria órbita que de vez em quando colidimos um com o outro quando cruzam nossos caminhos. As pessoas formavam laços para não sentirem-se tão isoladas. Mas no fim do dia, a única constante em qualquer vida era a sua própria alma. E ainda isso era algo transitivo. As almas podiam ser, e geralmente eram, compradas e vendidas como sapatos usados em uma feira americana. E até assim quando duas dessas almas se chocavam com suficiente força, podiam formar uma unidade tão forte que nada nem ninguém poderia destruí-las. Essas uniões eram únicas e ela viveu o suficiente para saber que era fato. Mas ela também viu esse tipo de laços. Como o que Cherise tinha com seu filho. Não havia força no mundo que pudesse quebrar seu amor e afastá-los um do outro. Era um laço de amor que Nekoda somente sentiu com seus irmãos e com outra única pessoa. Não vá por ali.

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A dor da perda ainda era muito grande para poder suportá-la. E seus nervos já estavam destroçados pelo que o havia acontecido com Nick. Embora seu amor ainda não fosse tão forte, podia sentir que crescia dia a dia com cada coisa nova que descobria sobre Nick. Ele valia muito mais do que pensava. Pela primeira vez em séculos, sentiu esperança. E ela devia isso a uma criatura que ela deveria odiar com cada fibra de seu ser. A vida era tão estranha. Raras vezes fazia sentido. Como diria seu irmão. “a vida não é um quebra-cabeças que temos que resolver. É uma aventura para desfrutar. Deixe que cada desafio seja uma nova montanha para escalar, não é um obstáculo em seu caminho para impedi-lo. Sim, vai ser difícil, mas assim que chegue ao topo, vai poder ver o mundo pelo que é. E uma vez que alguém chegue ao topo, não vai lhe parecer tão difícil o caminho como no início da viagem. Acima de tudo, você vai perceber que superou a montanha, e que a dominou. Não deixe que a montanha te domine.” Sinto sua falta, irmão. Mesmo depois de todos estes anos. A vida não tem garantias, mas uma coisa era segura. Você nunca vai triunfar até que tente ao menos mais uma vez. Mesmo que seu povo não acreditasse que Nick pudesse ser salvado, ela acreditava. Esta noite provou isso. Por favor, Nicky. Quero que fique bem. Durante a hora que esperaram para que lhes dessem notícias sobre a condição de Nick, o lugar começou a encher-se de gente ansiosa para vê-lo. Wren. Aimee. Dev e seus irmãos. Jasyn. Mamãe e Papai Peltier. Talon. Acheron. Kyrian. Rosa e seu filho Miguel. Brynna e seu pai. Mas o que surpreendeu a todos foi quando Bubba e Mark chegaram com a mãe de Bubba. Sem titubear, a Dra. Burdette fez caminho direito ao balcão para falar com o plantão que estava trabalhando. — Olá, querida. — Disse para a enfermeira de guarda que estava ali — Sou a Dra. Bobbi Jean Burdette do condado do Perry, Tennessee. E sou cirurgiã pediátrica no Vanderbilt e São Judas. Um amigo de meu filho foi internado faz uma hora e queria ver se havia algo que poderia fazer por ele. — Seu nome? — Nicholas Gautier. A enfermeira voltou sua atenção ao monitor do computador enquanto procurava informação sobre o Nick. Um dos médicos da emergência se aproximou lentamente da mãe de Bubba, como se não pudesse acreditar no que estava vendo. — Desculpe senhora. Será que ouvi você dizer

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que era a Dra. Bobbi Jean Burdette? A Doutora que realiza cirurgias tanto no Vandy quanto no São Judas e que era membro da Junta Executiva da Organização Mundial da Saúde? Ela dedicou-lhe um sorriso mais quente que Kody jamais viu anteriormente. — Por que será querido, que quando você diz dessa forma quase soa como algo impressionante? Sim, sou eu. Acredite, ninguém no seu juízo perfeito iria assumir mais trabalho que se precisa. Mas dito isso, querido, é um dos trabalhos mais satisfatórios que se possa imaginar. Não há nada mais lindo que o sorriso no rosto de uma mãe quando você entrega seu bebê e diz que tudo vai ficar bem quando ela pensava que ia ter que escolher roupa para o funeral. Sim, sim, dou graças a Deus por ter me escolhido para que tivesse algumas habilidades que me permitissem ajudar quem precisa. Realmente estou agradecida por suas bençãos, e por ser capaz de poder ajudar tanta gente quanto posso, da melhor forma possível. Ele lhe deu a mão. — É uma honra muito grande conhecê-la, Doutora. Você é uma lenda viva. As coisas que fez... Uau. — Ele se virou-se para dirigir-se à enfermeira, que agora estava prestando toda sua atenção à mãe de Bubba. — Stacey? Esta mulher que você vê aqui esteve nas zonas mais devastadas por guerras e desastres naturais do mundo para fazer trabalho voluntário e salvar as vistas das crianças. Foi uma das primeiras em montar clínicas onde você nem possa imaginar, incluindo em nossa área. — ele sorriu para a Dra. Burdette. — Ainda não posso acreditar que você está aqui. Na minha frente. Em Nova Orleans. — Ai, querido. Obrigado por suas doces palavras. Mas não ofusque tanto isso nem me idealize. Você pode cegar-me e eu preciso ver com clareza. No final, não sou nem mais nem menos que qualquer um nesta terra. Se quer conhecer meus defeitos, e acredite, que tenho muitos, sente-se com minhas companheiras de bridge e elas vão passar horas contando para você. — Ela estendeu sua mão, e depois tomou a dele entre as suas. — E é um prazer conhecê-lo, também... — ela olhou seu crachá. — Dr. Ferguson. E eu adoraria ficar falando com você, realmente, mas estou tentando receber informações sobre um paciente que foi admitido neste lugar há pouco tempo. Enquanto ele procurava a informação com a enfermeira de triagem sobre o Nick, Cherise se aproximou dela muito devagar. Kody percebia que Cherise a conhecia, mas era um pouco tímida para aproximar-se dela. — Dra. Burdette? — disse-lhe finalmente, tocando-a suavemente no braço. Bobbi Jean se deu volta com a sobrancelha levantada. Até que o reconhecimento iluminou seu rosto. — Cherise! Oh Por Deus, menina, faz tanto que não te vejo. Dez doze anos? — Quatorze. Bobby Jean ficou boquiaberta. — Realmente passou tanto tempo? Por Deus, como passou o tempo. — Ela levantou suas mãos para Cherise e sorriu como uma mãe orgulhosa. — Olhe para você, querida, crescida e tão bonita como sempre, se não mais. Agora me diz: como está esse lindo bebê seu?

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As lágrimas encheram seus os olhos. — Nick Gautier é meu bebê. Empalidecendo, Bobbi Jean cobriu a boca com a mão. — Sinto muito, querida. Deveria ter reconhecido o nome. Nick Gautier não é exatamente um incomum, e eu pensei que seu filho seria mais menino. Nenhuma vez me ocorreu que talvez fossem a mesma pessoa. Que mundo pequeno. Menyara foi até Cherise e deixou que ela chorasse em seu ombro. Bobbi Jean pegou um lenço na caixinha do balcão e entregou a Cherise. — Não se preocupe, bebê. Já estou aqui e me vou encarregar de que seu pequeno Nicky receba a melhor atenção possível. Está bem? Secando suas lágrimas, Cherise assentiu. — Muito obrigado. Você sempre foi tão boa conosco. Bobby Jean apertou-lhe o braço e ofereceu um sorriso amável. — Tudo bem, querida. Se conseguimos puxar seu bebê de toda essa miséria, não vamos perdê-lo agora. Prometo-lhe isso. Mesmo que eu tenha que negociar com o próprio Lúcifer, vamos mantê-lo vivo e perfeitamente são. — Bobbi Jean virou-se e dirigiu-se ao doutor. se Poderia ver Nick, por favor? — É obvio. Kody franziu o cenho até mais ao encontrar-se com o olhar gelado de Caleb. Havia algo em tudo isto que o incomodava. — Certamente não era uma coincidência que a mãe de Bubba salvasse a vida de Nick quando era um bebê. O que você acha? Caleb deu de ombros. — O universo é aleatório. Poucas vezes faz sentido. Ou seja, explique-me a anomalia estatística de que de vinte pessoas em um quarto, duas delas tenham nascido exatamente o mesmo dia. E mesmo assim, algumas vezes, essas coisas acontecem. — Sim, mas eu não acredito nas coincidências. Sempre há uma razão para tudo. — Caleb zombou. — Isso é porque você é muito otimista, ao contrário, eu vejo as coisas como são. Sim, claro. Mas sua intuição dizia outra coisa. — Você diz isso com muita convicção, mas não acredito em você. — Por que não? — Eu vi você em ação, Caleb. Tudo o que você faz, nega suas palavras. Você diz que não sente nada e nem se preocupa com ninguém. Que não acredita em nada e nem em ninguém. E mesmo assim, arriscou sua vida por Nick sem nenhum motivo, mais vezes do que eu posso contar.

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Ele zombou. — Eu tenho uma razão e é uma muito boa também. Se Nick morre estando aos meus cuidados, eu também morro, e sem querer ofender, Caleb não tem vontade de morrer. Especialmente por alguém como Nick Gautier. — Você não tem medo da morte, Malphas. Todos nós sabemos disso. Kody saltou com o som repentino da voz profunda de Acheron atrás dela. Ela nem sequer percebeu conta de que ele havia aproximado. Além de ser muito sexy, o homem se movia silenciosamente. Com mais de dois metros de altura e uma compleição magra e musculosa, ele não deveria ser capaz de pegar ninguém de surpresa, e mesmo assim, era completamente silencioso quando caminhava. Mais que isso, ele se movia lânguida e sensualmente. E até assim, quando brigava podia atacar mais rápido e letal que um ninho de cobras. E embora tivesse mais de onze mil anos, parecia estar saindo da adolescência. Na verdade havia sido morto aos vinte anos, e se transformou em um Dark Hunter. Ninguém sabia por que. Mas foi o primeiro que Artemis criou e agora era o líder não oficial de todos eles. Sempre vestido com um estilo gótico, vestia um par de calças jeans ajustados, com uma camisa de manga larga arregaçada até os cotovelos, e uma regata gasta dos Sex Pistols sobre ela. Suas botas de motoqueiro vermelhas tinham uma caveira negra e ossos cruzados na ponta de metal, e um morcego vampiro negro no calcanhar. Seu cabelo violeta caía até a metade de suas costas, e suas enormes mãos, estavam cobertas com um par de luvas sem dedos. Mesmo dentro de casa ele usava óculos escuros, então era impossível saber exatamente como eles eram. Ainda assim, seus traços eram tão perfeitos que era óbvio que sem as lentes, seria até mais devastador do que era. Mais que seus traços, sua beleza estava em sua aura de poder letal e intensidade pura. Era tão feroz que lhe enviava um calafrio pelas costas de qualquer um que estivesse perto dele. Não havia duvida que era um homem habilidoso em batalha e em outras artes que estavam reservadas a praticar na privacidade. Caleb olhou desinteressado para onde estava o corpo de Ash. — E o que é o que você sabe sobre mim, Acheron? — ele pronunciou seu nome com um sotaque completamente grego, de forma que se escutou “Ackuhr-ron” em vez de Asheron, pronunciado, que usava o restante das pessoas que não eram gregas, para referir-se a ele. Acheron acomodou sua mochila negra sobre o ombro, uma que tinha um símbolo branco de anarquismo branco. — Somos irmãos, você e eu. Ambos condenados por nossas próprias ações. Ambos... Únicos. Conheço você melhor do que pensa. Caleb revirou os olhos. — Não se faça de sábio comigo, Atlante. Sou mais velho que você.

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— Eu sei. Mas isso não evita que eu veja quem você é. Embora ainda não entenda por que está cuidando do Nick. Por que se importa o que acontece com ele? — E por que você está cuidando dele, Atlante? — Caleb perguntou na defensiva. — Que interesse tem nele? A resposta de Ash foi simples e honesta. — Somos amigos. E Caleb pegou sua palavra e voltou-a contra ele. — Eu também, sou seu amigo. Um sorriso malvado surgiu no rosto de Ash. — Seu tipo não tem amigos. — O seu tampouco. Acheron inclinou sua cabeça em sinal de respeito. — Touché. Então Kody caiu sobre seu intenso escrutínio. — E o mesmo vai para você, não tenho nem ideia de por que o está protegendo. Kody sorriu. — Você não é o que sempre diz que algumas coisas têm dar errado, para que possam estar bem? — Também sempre digo que não porque possa, significa que deva. Essas palavra a assombraram. Acheron sabia quais eram suas ordens, a respeito de Nick? Um tremor percorreu-lhe as costas ao pensar nisso. Ninguém, homem ou animal, podia saber por que ela estava ali. Nick não iria gostar. E também não gostariam os seus superiores. Aliás, nem ela. Eles cortaram a conversa quando Dev Peltier se aproximou do seu grupo. Ele abriu uma bolsa que tinha, que continha bebidas e água mineral. — Pensei que todos poderiam necessitariam de algo para tomar. Aimee tem algumas coisas para comer em sua bolsa. — Obrigado, — disseram os três. Acheron foi falar com Kyrian. Kody abriu sua água e continuou sua conversa com Caleb. Era estranho para ela que ele fosse tecnicamente mais bonito que Nick. Embora Nick houvesse chegado a essa estranha etapa onde passava de menino a homem e seu corpo ainda não estavam proporcional, ao contrário Caleb era perfeito, sem dúvida, reforçado por seus poderes demoníacos. Seu cabelo negro e ondulado tinha um corte moderno, e um corpo perfeitamente formado. Neste momento, ele estava inclinado para frente com seus cotovelos em seus joelhos. Seu capuz

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havia caído para frente e roçavam sua lata de coca-cola. A parte branca do capuz fazia contraste com sua tez escura. Sim, parecia do material que atraía as garotas, às suas mães, e que fazia que gritassem e se aranhassem para chamar sua atenção. Ela também sentiria mariposas no estômago por ele se não soubesse o que ele era na realidade. Em vez disso, era Nick, com seu encanto juvenil e os traços do homem no qual iria se converter, quem a atraía mesmo quando sabia que deveria manter-se afastada dele. O que a trouxe de volta sobre a viagem de Caleb, algo que ele ainda tinha que falar. — Você nunca não me contou o que disse Adarian. Caleb zombou enquanto deixava a lata no chão e a olhava por sobre sua franja. Algo sobre sua postura lembrava uma pantera na selva, olhando a presa que queria devorar. — Ele virá atrás de Nick. A notícia a sacudiu. — O quê? Por quê? Caleb se endireitou, e depois se apoiou contra sua cadeira para poder estirar suas pernas. — Não tenho certeza. E ele não admitiu. Mas senti, não há margem de engano. — Então ele está por trás deste ataque? Caleb negou com sua cabeça. — Isto foi algo humano. Sinto o cheiro de um ataque de demônio a dez quilômetros, e isto não tem esse aroma. Talvez, mas para enganar-se sempre havia uma primeira vez. — Nunca se confundiu? Ele lhe deu um olhar divertido antes de cruzar seus braços sobre sua cabeça, contra a parede. — Não, não sou um demônio de nível baixo. E embora tecnicamente, seja um demônio de nível médio, fui um dos generais mais fortes da Primus Bellum. Com mais mortes que qualquer um, exceto um Jared. E não estou dizendo que ele tivesse mais talento do que eu. Nós nunca lutamos um contra o outro, mas faria isso a qualquer momento. Em qualquer lugar. Essas notícias a deixaram em silêncio. Embora soubesse que Caleb era velho, não fazia ideia de que fosse tão velho. Caramba... — Você fala sério? Ele reagiu fisicamente para a sua pergunta. Entretanto, seus olhos tinham uma expressão divertida. — Antes que me julgue, porque posso sentir seu ódio contra mim, deixeme explicar meus fins políticos nessa guerra. Pessoalmente lutava para o Verlyn e fui o único que dirigiu seus exércitos contra a Tríade Obsidiana. Essas notícias eram ainda mais impactantes.

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— Então você não é maligno. — Era uma afirmação. Ele zombou de seu comentário. — Você é tão ruim quanto os humanos. Vamos lá, Kody, você deveria saber que nós não servimos aos poderes das trevas. — Sim, mas agora serve... Uma expressão de dor passou por seu olhar tão rapidamente que ela não tinha certeza de tê-la imaginado. — Todos cometemos erros, Kody. Algumas vezes acho que a única razão para nossa miserável existência é simplesmente aprender como viver com as consequências de nossas más decisões. Pela forma como que disse, suas consequências pareciam ser severas. — Me perdoe Caleb. — Por quê? — Por dizer algo que trouxe esse flash de dor em seu olhar. As piores feridas, as mais letais, não são as que a gente pode ver no exterior. São as que nos fazem sangrar interiormente. Caleb não respondeu. Mas enquanto ele tirava o relógio de seu bolso para olhar a hora, uma sensação estranha a atravessou. Ela o viu, em um antigo campo de batalha com sua armadura completa de demônio. Tentou focar-se na imagem, mas ela se dissolveu tão rápido quanto apareceu. Até assim, a deixou com um fato inegável, e explicava muito sobre suas idiossincrasias. — Você não é só um demônio, é um semideus. Caleb ficou completamente quieto. E depois relaxou. — Não sei do que está falando. — Sei que você sabe, — disse, com o tom de voz elevando-se com divertimento amargo. — Foi isso que Acheron quis dizer quando te disse que ele e vocês eram criaturas semelhantes. Caleb zombou. — Não me pareço em nada com ele. Definitivamente o fizeram com outro molde. Talvez, mas isso a trouxe de volta ao que estavam discutindo anteriormente. — O que você me disse de Adarian não faz sentido. Eu pensei que ele queria proteger o Nick. — Foi isso que ele me disse no início. — Então por que duvida dele agora?

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Caleb deu de ombros. — Não há razão para que eu duvide. E ainda...ele virá para buscá-lo. Não posso te dizer o minuto exato. Nem sequer o dia, mas posso sentir que o sentimento cresce, e em qualquer momento vai explodir. Embora não desse boas-vindas a essa noticia, isso não a incomodava. — Nós vamos detê-lo quando isso acontecer. — Eles tinham que conseguir. — Não Kody, — disse-lhe em um tom seco. — Não vamos detê-lo. Não temos a habilidade para derrotá-lo. E isso é um fato. A primeira e única vez que me derrotaram facilmente em toda minha carreira militar, foi com o primeiro dos Malachai. Um que não possuía nem um terço do poder que tem o Malachai atual. Quando Adarian vir, Nick morre. Não há nada que possamos fazer para detê-lo. Ela não acreditou nisso nem por um minuto. — Nick não pode morrer. Não podemos permitir que isso aconteça sob nenhuma circunstância. Sei que você vê do mesmo jeito eu vejo. O próximo Malachai... — Liberaria o Noir de seu buraco, e massacraria todos nós. Mas há algo pior que esse resultado. Nesse instante, ela pôde jurar que ele tinha uma úlcera, embora fosse algo impossível para sua espécie. Não quero escutar isto. Mas não tinha escolha. Se ali fora havia algo pior do que seu próximo inimigo, ela tinha que saber. Estar prevenida ajudaria a estar preparada. — O quê? — Adarian não tem que matar o Nick. Ele pode absorvê-lo. Sua garganta secou de horror para aquele pensamento. Quando uma criatura como ele absorvia os poderes de outra, não só tomava todos os poderes e as habilidades, mas também as combinava com as que já possuíam. Se isso acontecesse... O Malachai não os mataria. Claro que não. Isso seria muito gentil. Todos eles se transformariam na válvula de escape de sua crueldade. E a única pessoa que podia lutar contra Adarian e possivelmente derrotá-lo, neste momento estava em um coma induzido... Eu poderia muito bem fazer uma tatuagem na minha testa que dissesse. “Abandonem toda esperança, todos vocês, porque estamos a ponto de nos ferrar”.

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CAPÍTULO 8

Nick não conseguia ver nada. Sentia-se como se tivesse sido engolido pela escuridão. Era tão densa e sufocante que era difícil respirar. Onde estou? A última que lembrava era Kody segurando-lhe a perna na ambulância enquanto falava com o paramédico que fazia seu atendimento. O resto era um borrão total. Estou morto? Onde um Malachai católico passaria a eternidade, afinal? Esse pensamento o assustou e o preocupava. E era uma pergunta para a qual não queria ter resposta. Está bem, se não estou morto, o próximo idiota que me pegue com um pedaço de madeira eu vou colocar enfiá-la em um lugar incômodo. Para falar a verdade, humano ou demônio, seu atacante seria transformado em um picolé de sorvete. Sim, isso ele os ensinaria. Percebendo um aroma rançoso no ar denso, ele fez um gesto de asco enquanto levava a mão ao nariz para tentar bloqueá-lo. Droga, de onde isso vinha? Era pior que um ovo podre, e isso porque ele pensava que não havia nada pior do que um ovo podre. Bom, nada, exceto quando uma vez cometeu o erro de entrar no banheiro de homens enquanto Stone saía de lá. Ui, sim, aquilo definitivamente havia sido pior que isto. Ele não sabia o que os homens lobos comiam regularmente, mas seja o que for, apodreceu dentro deles. Não admira que Stone sempre estava de mau humor. — Olá! Ele saltou para a voz inesperada que vinha de algo que estava a uma curta distância. — Perdão? — Eu disse, “olá”. Sabe o que significa essa palavra? Você não fala inglês? Inseguro sobre que pensar da voz estranha, Nick calou-se. — Não tenho certeza de como responder a isso. Mas falo inglês. A maioria das vezes, e posso entender a palavra “olá”, também. — Ah, — disse a voz, como se estivesse aliviada, e depois continuou, — eu estou falando inglês, não é? Nick franziu o cenho. — Hum sim... parece.

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— Bom. Às vezes é difícil perceber. Os idiomas vão e vêm. Às vezes eu os conheço, às vezes... — Quem é você? — perguntou Nick, interrompendo — Onde estamos? — O que quer? — perguntou num estranho e exasperado tom. — Quem ou onde? Se quiser também colocar um “que”, para cobrir todas as opções. Ah, esqueci do “como e quando”. Essas são todas. Ao menos eu acho. A voz fez uma pausa e depois voltou a contá-los. — Quem, que, onde, como e quando. Sim, esses são todos, — disse orgulhosamente, e em seguida seu tom mudou para um de ansiedade e irritação. — Embora a resposta a algumas dessas perguntas, eu não sei. Como por exemplo, como chegou aqui, quando não sabe onde está. Isso é algo difícil. Não te parece? Ou seja, se você for a algum lugar, não deveria saber como chegou, e por consequencia, onde está esse lugar e porque de alguma forma chegou. Não é? Nick se sentiu como se tivesse tropeçando num episódio do Who’s On First (comédia americana - 1930). Quem quer que fosse este cara, faltava-lhe um par de parafusos. Realmente estava perturbado. — Também não sei por que você está aqui. — continuou sem sequer fazer uma pausa para respirar. — Isso também me confunde se você não sabe onde está. Por que você iria a um lugar, se não sabe onde fica? E as pessoas me dizem de tudo. Ao menos sei onde estou e com quem estou falando, e nunca vou a nenhum lugar sem saber de antemão aonde fui. Ou ao menos onde estava tentando ir. Exceto uma vez que... Bom, melhor não vamos por aí. Não porque não tenha sabor de onde me leva. Eu sei. Leva-me a uma má lembrança que não tenho vontade de reviver. Algo assim como parentes que cheiram mal ou chefes horríveis. Também não quero lembrar desses, exceto se for para dar pesadelos. Nesse caso, vamos em frente. Nick ficou boquiaberto para todo aquele discurso. Sim... Esta era a pessoa mais estranha que havia conhecido, e quando você leva em conta que o capitão de sua equipe de futebol americano era um metamorfo, seu chefe, um caça vampiros imortal que tinha uma perita em armas brancas, tipo ninja de governanta, seu tutor era a Morte, seu melhor amigo um demônio e sua namorada totalmente diferente, e ainda havia Simi... Sim, rapaz. Nick conhecia cada variação de estranho mesmo que não cruzasse com ele na rua. A maioria dos dias ele se afogava nele. Mas este cara? Levava o estranho a um nível completamente diferente. Quando finalmente ele fez uma pausa para respirar, Nick rapidamente falou. — E se começarmos com a primeira pergunta e depois seguimos com o resto? — Por que não me disse isso antes? Eu declaro: algumas pessoas são tão estranhas. Meu nome é Asmodeus, e você está em casa. Será que não sabia disso? 118


Nick zombou.— Ei, esta não é minha casa. Para começar, minha casa não é tão escura, mesmo que minha mãe economize e se recuse a ligar a luz. A Rua Bourbon nunca é tão escura. Asmodeus fez um som de desgosto. — Você não consegue ver na escuridão? Esse cara era louco? Ninguém conseguiria ver em um lugar tão escuro. — Diabos Jim, não sou um morcego. Sou apenas um garoto. — Ok...? — Ele esticou a palavra. Meu nome não é Jim. Já falei, é Asmodeus. E por que você não pode ver no escuro? Obviamente ele não era um fã do Star Trek. Mas por que ele pensaria que Nick podia ver em um lugar tão escuro?— Na verdade, não. —Huum. Que estranho. Bom. — Ele pegou a mão de Nick. Nick a tirou de repente. — Cara, não me toque. —Por que não? Por que não? Realmente? Ele tinha que explicar a este louco o que era o espaço pessoal? De onde era esse cara que não entendia que pegar as partes do corpo de outro garoto sem um convite, era um bilhete de primeira para que lhe chutassem a bunda? — Olhe, eu não te conheço, e não estamos saindo. Então não me toque. — Outra vez ele fez um som de irritação. — Então como posso guiá-lo se não posso tocá-lo quando você não vê nada? — E se eu não quiser que me guie para algum lugar? — Nick começava a gostar da escuridão. Diferentemente de Asmodeus ele estava calmo e bastante pacífico. E definitivamente não lhe deu dor de cabeça. — Mas você me disse que não pode ver nada. Nick estava pasmo para a forma com que a mente deste cara funcionava. — Isso não quer dizer que possa me tocar. — Estou confuso. Sim, já eram dois os confusos. Obviamente este lugar tinha um código de conduta completamente diferente ao que estava acostumado. De repente alguém agarrou Nick pelas costas e o fez recuar. — O que você está fazendo aqui? — o homem o grunhiu na sua orelha. 119


A raiva lhe fez ferver o sangue, e bombeá-lo através de suas veias como larva ardente. Sua mãe era a única que usava um tom tão zangado com ele. E Kyrian, de vez em quando. Menyara e Rosa, muito raramente. E também deveria adicionar Talon à sua lista, embora o celta tivesse muita paciência. Seus professores e seu diretor, certamente. Definitivamente não podia deixá-los para fora da lista. Sim, bom. Tinha muita gente. Mas... — Cara, eu não te conheço. E eu não tenho por que te dar explicações. — Cara — disse a voz em um tom zombador, dizendo letra por letra separadamente como uma imitação ruim de uma menina de Valley— Eu sou aquele que vai chutar teu traseiro chato. Nick ficou tenso e adotou uma postura de briga que dizia que dizia que ele estava preparado para a briga. — Quero ver provar. O homem deslizou na escuridão tão rápido que Nick não o sentiu nem o escutou mover-se até que o agarrou pelo pescoço. — Um conselho, garoto. Não provoque ninguém, até que saiba com quem ou com que você está lidando, e o que são capazes de fazer com você. Você vai viver muito mais tempo e conservar todas as partes de seu corpo. Confie em mim. — Confiar em você? — disse Nick engasgando devido ao forte aperto em sua garganta. — Nem sequer sei de que espécie você é. — Esse é meu ponto, precisamente. — Ele soltou Nick e deu um passo para trás. Um segundo atrás ele estava na escuridão, e no seguinte estavam dentro de uma sala que se parecia como algo saído da idade Média. Havia uma fogueira tão grande que Nick poderia facilmente entrar caminhando com mais três pessoas. Duas cadeiras com asas gigantes, que pareciam confortáveis, estavam localizadas em frente à fogueira, sobre um tapete com o que parecia ser de pele de leão, e que ele tinha certeza de que haviam manchas de sangue e marcas de mordidas nela. No canto mais afastado havia uma mesa negra esculpida, com esqueletos. E o homem... Não era nada que Nick havia imaginado. Parecia-se com um banqueiro ou um corretor da bolsa ou alguma coisa assim... Normal. Vestido com um risca de giz, azul marinho elegante, 120


com uma linda camisa branca e uma gravata vermelho sangue que brilhava com algo que pareciam crânios vivos dentro do tecido. Seu cabelo loiro escuro estava penteado para trás descobrindo seu rosto bonito. Mas seus olhos eram aterrorizantes. Frios. Sem piedade. Malignos. Era como olhar a Morte, e como a morte estava lhe dando aulas, ele sabia bem como era. Seus olhos verdes eram tão claros que pareciam brilhar. Asmodeus era um típico demônio. Com cabelo branco espetado e um rosto malicioso. Seus olhos cinza mostravam as travessuras de que era capaz. E olhou ao redor da sala como se fosse a primeira vez que a via. — Quem é você? - perguntou Nick ao homem do traje. Um sorriso torto curvou seus lábios. — As pessoas me chamam de muitas formas. Mas aqueles que querem continuar vivendo, geralmente se referem a mim como Thorn. E fazem isso com reverência. Seu nome não era algo que o acalmasse, de maneira nenhuma. Na lista, competia com Venom Dark Hunter, e Venom era alguém com quem definitivamente não queria mexer, tampouco. — O que você é? Thorn arqueou um sorriso inusitado. — Isso é fácil e ainda assim é tão complicado que não tenho vontade de me aventurar nesse assunto. É suficiente que te diga que sou uma forma de vida a base de carbono. E sou uma das coisas mais letais que chama casas de sombras. E você, Malachai, está em um lugar onde não deveria estar. — E que lugar é esse? —Azmodea. Nick se sentiu enojado ao reconhecer o nome. Como merda havia chegado a este lugar? Como Asmodeus havia dito: como era possível que alguém fosse a um lugar sem ter ideia de como havia chegado lá? Asmodeus sorriu. — Infelizmente, não o chamaram assim por causa do meu nome. Pelo contrário, chamaram-me assim em honra a este lugar. Essa parte é uma merda. Fez que todos zombassem de mim quando eu era um pequeno demônio. Embora também não ajudasse muito na vida adulta. Tampouco com as mulheres. Realmente gostaria de encontrar meu pai e fazê-lo pagar pelo nome horrível com o que enfiou-me. Thorn levantou sua mão em um gesto de impaciência. — Demônio, cala-se ou vá para sua casa. Se continuar me irritando, vais transformar-se numa mancha no chão. Entendeu? Asmodeus assentiu. Nick ainda estava tentando encontrar sentido a tudo. — Não entendo. Como cheguei aqui? Thorn pôs uma mão no ombro de Nick, novamente. Um segundo depois, seus olhos se ficaram prateados, depois vermelhos e depois cor de mel. — Nick, seu corpo está inconsciente 121


na cama de um hospital. Não posso dizer o quanto é importante, mas nunca deixe que lhe façam isso. Jamais. Sob nenhuma circunstância. — O que quer dizer? Não posso dormir? — isso seria um horror. Já tinha visões de Pesadelo na Rua Elm dançando em sua cabeça. Onde havia um doce quando precisava de um? Soltando-o, Thorn riu. — Isso poderia ser divertido. Um Malachai com alucinações causadas pela falta de sono. Mas não. Dormir é algo diferente. Você continua no mundo dos homens quando dorme. Metade consciente, metade inconsciente. Qualquer coisa o despertaria, e o traria novamente ao reino dos humanos. Entretanto quando está em um coma induzido, você está além do reino humano e completamente no Reino das Trevas. Sem estar ancorado ao reino humano, seu centro, ou essência, automaticamente o traz aqui para servir ao seu amo. Essa também é a razão pela qual nunca pode tomar drogas, nem álcool, meu amigo. No minuto que você perder o controle de si mesmo e alterar seu estado mental, você se abre para que outro possam manipulá-lo ou machucá-lo. — Você pode até mesmo ser possuído, — disse Asmodeus com uma nota de esperança na sua voz. Thorn o olhou com tanta ira que literalmente o fez retroceder dois passos. — Bom... poderiam, — murmurou Asmodeus. Nick zombou de Thorn. — Não tenho medo em relação ao alcoolismo e as drogas, acordar banhado em minha própria urina e vômito, ou histérico devido a um surto psicótico não me atrai nem um pouco. Não tenho plano de fazer um ou outro, e ainda não sei quem você é. Os traços do Thorn se endureceram. — Esqueça Ambrose, EU sou a pessoa que você não quer se tornar. Se quiser um conselho, e sei que todos o querem — disse sarcasticamente, — deixe de preocupar-se com todos, só faça isso por você mesmo. Enquanto se preocupar mais alguém mais que de você próprio, está ferrado. Você nunca será capaz de valer por você mesmo e sempre teria uma fraqueza para deixá-lo paralisado e fazê-lo cair de joelhos. — ele se inclinou para frente até quase lhe tocar o nariz. — Sempre se coloque em primeiro lugar menino. De todas os meus arrependimentos, e acredite que tenho muitos, esse é meu maior. Os erros mais tolos na vida vêm das decisões que você faz tentando proteger os que ama. — Uau. Obrigado Miss Sunshine, — disse Nick fingindo entusiasmo. Esse conselho era completamente o oposto do que sua mãe havia dado, que acreditava que não poderia viver feliz até que tivesse alguém a quem amar. Para ela, era isso pelo que valia a pena estar vivo. Fazer conexões. Colocar alguém acima das próprias prioridades. Sem isso, Nicky, só somos sacos de carne esperando que nos liberem da miséria de nossas vidas. Você nunca vai conhecer a verdadeira felicidade até que encontre esse punhado de pessoas que morreria para proteger.

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Nick deu uma palmada nas costas de Thorn. — Estou tão contente que você tenha saído com sua contagiosa felicidade e pensamentos positivos para me animar, porque eu não me sentia o suficientemente mal hoje. Muito obrigado, Sr. Sun Meister, Meister Sun. Thorn revirou os olhos. — Não me escute. Tudo Bem. Tanto faz. Eu também não escutei, e você vê a linda e luxuosa casa que tenho. — ele fez um gesto em direção ao buraco sinistro onde estavam. — Falar sobre luz de sol não há, não temos, nem um pouquinho. E nunca deixa de me surpreender como você pode explicar tudo a alguém, até o último e menor detalhe, mostrar-lhe exatamente o que não fazer, para que ele seja feliz ou bem-sucedido e ainda assim, não fazem. Não escutam. Inventam mais desculpa que um criminoso na cadeia. Fascinante... Asqueroso, mas fascinante. Pode levar um demônio à água, mas não pode obrigá-lo a bebê-la. Suspirando, Thorn olhou ao redor da sala, e depois para Nick. — E neste momento, temos que tirá-lo daqui antes que mais alguém, que não seja amigo meu ou seu, perceba que você está aqui. — ele olhou fixo para Asmodeus. — E ninguém vai dizer nada a ninguém do outro lado desta parede mágica que você esteve aqui. Não a menos que queiram ver o lado feio do meu temperamento. Asmodeus engoliu ruidosamente. Nick estava a ponto de falar quando algo quando bateram contra a porta. Com força. E pelo som que causou, era algo grande. E provavelmente feio. — E olhem, que sorte que temos, eles estão aqui. — Thorn disse algo mais em um grunhido gutural que provavelmente era um palavrão, mas a linguagem que usou era tão estranha que Nick não estava muito certo. Em um nano segundo, Thorn cobriu-se com uma armadura escamada que tinha pontas saindo de seus ombros e cotovelos. Ele olhou para Nick. — Você não tem muitos poderes, não é? — Ao contrário, mon frère. Sou capaz de irritar todos os adultos com dez sílabas ou menos. Às vezes, nem mesmo tenho que falar. Apensa entro na sala e acontece. — Posso ver, — disse Thorn, seco.

Nick ficou tenso quando uma armadura aparecia também em seu corpo. — O que é isto? — Para o caso de passarem por mim e Asmodeus, quem vai brigar comigo ou vai se encontrar estripado a meus pés, esperemos que isso os detenha antes que te arrastem para um lugar aonde não vai querer ir. 123


Antes que Nick pudesse pedir-lhe que elaborasse, a porta se abriu com força. Thorn fez voar uma esfera de fogo para o peito de uma coisa amorfa alta e negra. Asmodeus se moveu para ficar na frente de Nick e atrás de Thorn. Asmodeus dirigiu um sorriso a Nick sobre seu ombro. — Vamos torcer para que não passem através de Thorn, não é? — Onde está Adarian? — a coisa amorfa assoviou. Com fogo em ambas as mãos, literalmente, Thorn estava preparado, mas não lançou o fogo para a besta. — Já se foi. — Posso cheirá-lo. Ele está aqui. As mãos do Thorn brilharam com mais força. — Você o vê em algum lugar? Agora vá embora antes que eu decida responder a este ataque com uma das mãos. — Posso cheirá-lo, — a coisa insistiu. Farejou o ar como um cão de caça. Depois congelou e voltou seus olhos negros para Nick. — É você! — Assim que teve a intenção de correr para frente, ele explodiu em chamas. Gritando, bateu no chão e se transformou em uma mancha escura aos pés de Thorn. Pelo olhar no rosto de Thorn e a maneiro com que imediatamente ele adotou a postura de guerreiro que briga até a morte, com ambas as mãos pulsando línguas de fogo, era óbvio que não foi ele que havia causado a combustão espontânea do demônio. Dos restos acesos do demônio se elevou uma sombra translúcida e brilhante. Cresceu e ficou cada vez mais densa até mostrar a forma de um homem. Musculoso e feroz, ele tinha cabelos cor castanho escuro. Eram mais curtos do que os do Wren e muito mais atraentes, provavelmente, porque diferente de Wren, não era completamente antissocial. Na verdade ele cuidava muito do cabelo. E seu cavanhaque era perfeito. Tinha traços angulares, a maioria dos quais estavam cobertos de um par de óculos de sol negros. Vestido completamente de negro, era mais aterrorizante que o demônio que ele havia liquidado. Mas o mais estranho de sua aparição foi a imagem que passou na cabeça de Nick quando ele viu o recém-chegado. Ele o viu em um cavalo negro, em uma armadura verdeprateada que brilhava como uma criatura viva. O homem segurava um estandarte coberto de sangue enquanto alegremente estendia seu braço e espalhava miséria a todos, nos lugares onde cavalgava. Que caralho...? — Bane, — disse Thorn em forma de saudação, relaxando um grau.

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Enquanto fazia isso, o fogo em suas mãos diminuiu até formar uma pequena chama. — A que devo a honra? Bane limpou suas botas de motoqueiro nos restos do demônio que havia matado. — Percebi um Guarda Fringe do outro lado e me perguntei o que ele estava fazendo neste lugar, porque não era seu domínio. — ele girou em direção a Nick e formou um sorriso sinistro. — Agora entendo completamente. Então este é o bebê Malachai que Grim está ensinando. Interessante... Nick olhou em direção ao Thorn para ver se este era um amigo ou um inimigo. Pela reação de Thorn... Não tinha ideia. Até que o fogo de suas mãos, finalmente se apagou. Ele fez um gesto de Bane para Nick. — Nick, conheça Bane. Nome interessante. — Bane? — perguntou Nick. — O que foi? Seus pais não gostam de você? Bane riu de forma sinistra. — Não realmente. Mas tudo bem. Não tive que me preocupar de fazer luto por eles depois de assassiná-los. Tecnicamente não havia nada ameaçador nessa frase, mas... Bane não era alguém que queria conhecer tarde da noite. Especialmente se estava sozinho. E desarmado. Melhor dizendo, Nick não queria conhecê-lo embora estivesse coberto com um traje de Kevlar, envolto em C-4 com um lança-chamas sobre o ombro. Mesmo com toda essa proteção em seu corpo, Bane seria apavorante. Asmodeus desapareceu do lugar onde estava apenas para reaparecer ao lado de Nick para poder lhe sussurrar no ouvido. — Bane é um bom amigo do Grim. Nick hesitou para a visão que teve de Bane e este último detalhe encarou e forçou um entendimento nele que não queria ter. Não. Não era possível. Ou era? Nick clareou a garganta. — Na verdade, você não é... Um lento e zombador sorriso curvou o lado direito da boca de Bane. — Um dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse? Sim, Nick. Sou.

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Atordoado até o âmago do seu ser, Nick mal podia aceitar isso. Estranho, não é? Ele podia aceitar que seu chefe fosse um antigo general grego, que Acheron tivesse onze mil anos e fosse qualquer coisa, e o resto das coisas paranormais nas que haviam acontecido. Mas isto... Parecia realmente impossível. Depois de tudo o que aconteceu. Sério? Você está duvidando disto? Sim, parecia um capítulo do Arquivo X, algumas vezes, e embora ele quisesse negar as palavras de Bane pelo resto do dia, durante todo o dia e até o próximo milênio, ele não podia.

E embora fosse aterrorizante, fazia sentido. Nick olhou curiosamente para Bane, de cima a baixo. Da ponta de suas botas de motoqueiro até a ponta de seus cabelos. Mais além de ser uma cópia do estilo do Faith No More... — Você parece tão normal. Cara, meu sacerdote estaria desiludido. — O Padre Jeffrey imaginava os Cavaleiros em túnicas flutuantes como haviam sido retratados em algumas cartas de tarô que Nick viu os médiuns usando fora da Catedral, na praça Jackson. Ao Bane não estava se divertindo. — Agora entendo a necessidade que Grim tem de lhe arrancar o coração. E eu que pensava que o problema era Grim. Não. Você realmente é tão irritante. Nick arqueou a sobrancelha. — E isto explica o que Grim quis dizer quando me contou que cada vez que juntava se com seus amigos, as coisas não foram muito bem para a humanidade. Vocês são...ruim para as culturas. Bane devolveu o golpe. — O mesmo poderia se dizer de você e de seus amigos. Talvez. Bom, em realidade, toda vez que Mark e Bubba se juntavam, havia consequências nucleares. E embora odiasse admitir, Peste tinha razão. Thorn voltou a seu traje azul marinho. — Então, Bane por que está aqui? — Pela mesma razão com que todos vão se dirigir logo para este lugar, e não é precisamente por sua hospitalidade sangrenta. O Malachai voltou a Azmodea. As pessoas tendem a perceber. Thorn estava tão encantado com isso quanto Nick. — Temos que protegê-lo. Bane zombou. — Boa sorte com isso.

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Thorn cruzou os braços sobre seu peito. — Não, não é sorte, Bane. Nós temos que protegê-lo. Bane negou com a cabeça. — Esses não são meus planos. — É hoje sim, amigo, — disse Thorn com um sorriso maligno, — a menos que você tenha cansado de respirar. Eu sei de algumas pessoas que estariam dispostas a substituí-lo na cadeia alimentícia cósmica. Bane suspirou pesadamente. — Não te entendo. Por que está brigando pelos vermes? Thorn deu de ombros. — Porque alguns de nós acreditamos em fazer o correto mesmo quando não deveríamos. E você vai fazer o correto no que diz respeito ao Nick porque senão vou romper sua cabeça. Os olhos do Bane, brilharam de uma cor verde fluorescente. — Eu te odeio, Thorn. — O sentimento é mútuo, Bane. Agora, controle o perímetro e proteja o Malachai. Grunhindo, Bane foi para os restos do demônio que ainda estavam queimando. — Você me deve uma, Leucious. — Peste, Peste, Peste já saldei minha dívida. Você está saindo pela minha porta. E em uma única peça, nada menos. Tem limites minha misericórdia? Mostrando-lhe o dedo, Bane os deixou. Thorn ficou sério no minuto depois que ele se foi, e virou-se para enfrentar Nick. — Quer saber o que sou Nick? Sou uma criatura como você. Concebida apenas para um propósito — ser uma ferramenta do mal. Sim, bem, para ele não era precisamente uma novidade. Thorn, precisamente, não escondia esse fato. Ao contrário, entregava-se completamente. — Não é isso o que você é? Thorn riu. — Posso ver por que acha isso. Mas não. Eu não sou a cadela de ninguém. Ninguém me diz quem sou nem como proceder. Quem matar e quando. Ou como. Eu defino a mim mesmo. Não é meu direito de nascença e nem meu destino. Nem mesmo o doador de esperma que me fez nascer. Eu, sozinho, controlo a mim mesmo. E embora fosse estranho Nick sentiu conforto com essas palavras. — Então, não tenho que me transformar no Malachai? — Não. Não é isso o que estou dizendo. Você é o Malachai. Da mesma forma que você é parte humano. Nada vai mudar isso. Mas, você não tem que deixar que esse legado te consuma ou te defina. É difícil lutar contra a natureza. É como uma vício, só que este é genético e está programado no seu DNA. Esse impulso violento te dirige como um cavaleiro com esporas. Come-o vivo. Mas você não pode deixar que ele ganhe. Você tem que lembrar 127


que a parte maligna serve a você tanto quanto a parte boa. Há um tempo para a paz e um tempo para a guerra, e às vezes você tem que abraçar ambas. Mais que tudo, você tem que poder controlá-las. — Você pode me ensinar? Thorn negou com a cabeça. — Só você pode caminhar em seus sapatos, querido amigo. E, certamente eu não sou a voz que você quer escutar em sua cabeça. Literalmente, eu destruí tudo o que já amei, de propósito e por acidente. Acredite em mim quando eu digo que as segundas chances são ainda mais difíceis de encontrar do que o verdadeiro amor. Se você já teve uma, não a desperdice, garoto. Essas palavras o deixaram pensando. — Você sabe sobre Ambrose? Os olhos do Thorn brilharam quase da mesma cor verde dos olhos de Bane. — Você já ouviu o termo “metaverso”? — Sim, ao contrário da crença mais arraigada que tem a minha mãe, eu realmente faço outras coisas além de jogar videogame e mandar mensagens de texto aos meus amigos. Eu sei sobre os universos paralelos. Thorn inclinou sua cabeça para ele. Havia uma nota de respeito em seus olhos. — Então você sabe que simultaneamente, todos os resultados na vida de cada um está constantemente em movimento. Uma em cada universo. Infinitas Nick. E, no entanto, aqui estamos nesta vida. Sim, mas havia uma coisa que ele não havia capaz de descobrir... — Como sabemos qual é a existência correta? Como sei que um dos outros universos não é aquele que na verdade eu deveria estar vivendo? Thorn deu uma risada baixa. — Como saber? Essa é a questão. Quem decide se esta é a vida correta ou não? E enquanto eu tiver uma resposta, você não precisa dela, a não ser para dizer que esta é a única versão de Ambrose que você conhece. Para poder salvá-lo, Ambrose alterou o tecido do universo que nenhum de nós está autorizado a tocar. Colocou em perigo sua existência e está tentando acessar o resultado que se chegou em um universo alternativo por outro Nick, e fazer que acontecer aqui. O problema com isso é que... — Não pode haver um mesmo resultado em dois universos diferentes. — Exato. Cada um deve ser diferente. Em mecânica quântica, isso se chama princípio da incerteza, o qual se diz que quanto mais se saiba a posição de um objeto, menos pode controlar determinar ou saber sobre a dinâmica do outro. Quando Ambrose voltou e começou a interferir na linha do tempo deste Universo, criou uma ponte entre os planos de existência. Há coisas neste universo que antes não estavam. Coisas que ele não pode controlar, nem ver os problemas potenciais que possam criar num futuro. Entende o que estou dizendo? — Sim, ao querer me ajudar, Ambrose nos ferrou por um longo tempo.

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Thorn fez uma saudação sarcástica. — Isso é um pouco duro, mas é a verdade. Agora ninguém pode prever o que vai acontecer com você. Como será o desenlace dessa nova reviravolta. Mas há algo que você pode apostar. Você é o grande prêmio em um concurso sangrento. Que puder te levar para Noir vai dominar o mundo e ser recompensado generosamente. Nick, para as criaturas sobrenaturais deste universo, você é infame, e há uma recompensa por sua cabeça tão grande que chamaria a atenção de qualquer um. Diabos, você tem sorte que não seja eu que vá entregá-lo. Pela forma em que Thorn disse isso, fez com que Nick se perguntasse se algum dia Thorn não mudaria de opinião e o entregaria. ***

Kody ficou em pé ao ver a Dra. Burdette com o médico que cuidava de Nick, para falar com sua mãe. Com os olhos marejados, Cherise foi até eles. Kody os seguiu com Caleb até que estavam atrás dela e de Menyara. Os outros ficaram atrás, dando espaço a Cherise. — Ele vai viver? — A voz de Cherise falhou. A Dra. Burdette a abraçou com força. — Coração? Não te disse que não íamos deixar que seu bebê morresse? Já o estabilizamos e está descansando. Os olhos azuis de Cherise se arregalaram. — Isso soa como se houvesse um “mas” no meio. O médico foi quem respondeu a essa pergunta. — E há. Ele está em coma e não estamos seguros sobre a razão. Com o cenho franzido, Cherise se agarrou a Menyara para estabilizar-se antes de voltar novamente sua atenção ao médico. — Não entendo. O que você quer dizer? O doutor suspirou. — Não há razões para que ele esteja em coma. Suas ferimentos não eram tão extremos. Não me interpretem mal, são ruins, mas não ameaçavam sua vida. Isso sem mencionar que há muitíssima atividade cerebral que também não podemos explicar. É como se realmente não estivesse em um coma, como se estivesse em algum nível estivesse alerta, mas não há nada que possamos fazer para reanimá-lo... Eu nunca vi algo parecido com isto. Kody trocou um olhar nervoso com Caleb. — Você está pensando no que eu estou pensando? — ela sussurrou. — Sim. Nick está em um lugar onde não tem que estar. — Se ele está onde acho que está, eu não posso ir.

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Caleb grunhiu baixo. — Sim, isso arruinaria meu dia muito mais do que estou a ponto de ir fazer o que tenho que fazer. Ele piscou para ela antes de sair pela porta.

A Dra. Burdette abraçou Cherise com força. — Tenho certeza de que ele vai sair desta em um ou dois dias, querida. Ele vai estar bem, Cherise. Você vai ver. Cherise suspirou nervosamente. — Disse-lhe tantas vezes que não brigasse. Por que, apenas por uma vez, ele não me escutou e fez o que pedi? Por que não lhes deu sua carteira e... — Ele não brigou contra seu atacante, — disse Kody, querendo proteger Nick de qualquer forma possível. Mesmo de sua mãe. Cherise franziu o cenho. — O quê? — Essa era a única que ele repetia até que desmaiou. Queria ter certeza de que você entendesse que ele havia feito o que você havia pedido e não brigou quando o atacaram. — Ela tem razão, — confirmou o doutor. — Todas suas feridas foram defensivas, nenhum arranhão nele diz que reagiu de alguma forma. Pela aparência de seus ferimentos, diria que a maior parte do tempo, ele esteve no chão, em posição fetal, cobrindo sua cabeça com seus braços. Cherise chorou ainda mais forte. — Então fui eu que causou que o machucassem assim? — As lágrimas caíam por seu rosto. — Deus. O que eu fiz? Kody colocou sua mão nas costas. — Ele somente quer agradá-la Sra. Gautier. Ele comeria vidro quebrado no café da manhã se você o pedisse. Mas o ódio de si mesma e a tortura em seus olhos azuis disseram que ela não o iria perdoar-se. — Eu posso vê-lo? — perguntou ao doutor. — Claro. — A Dra. Burdette a levou para o quarto enquanto Kody fechava seus olhos e tentou sentir onde estava Caleb. Ele já não estava neste plano de existência. Se havia descido ao Reino das Trevas para procurar Nick, não seria divertido para ele. Ao contrário dela, ele conhecia os horrores desse lugar em primeira mão. O pouco que conhecia desse lugar era através de outros. Você está muito perto do Malachai, Nekoda. Está perdendo sua objetividade.

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Ela conhecia a essa voz profunda e masculina em sua cabeça. Vinha da Sraosha. Ele era seu Guardião, mas para falar a verdade, era mais um guarda que reportava todos seus movimentos a seus superiores. Não perdi nada. Ele grunhiu, mas não voltou a falar. Ela sabia o que ele e os outros pensavam dela. Que ela deveria matar Nick e passar para o próximo Malachai. Mas seu irmão havia prometido a ela que dentro do equilíbrio que havia permitido a um Sephirii voltar-se contra os seus e causar sua queda, o Malachai também poderia fazer o mesmo. Um Malachai nasceria com ambas as partes em equilíbrio dentro dele da mesma forma que Jared havia nascido, e que essa única besta especial poderia servir ao seu lado da batalha e ser usado contra Noir e suas irmãs. Nick havia sido o único, em todos estes séculos, que havia nascido com esse critério exclusivo. E nunca haveria outro. Ele era sua única esperança. Se ela e Caleb pudessem transformá-lo, eles poderiam deter Noir. Sem seu Malachai, eles poderiam controlá-lo. Para sempre. Entretanto, Sraosha e os demais tinham razão. Se eles não matavam Nick antes que ele adquirisse todos seus poderes, por essa mesma mistura sanguínea, ele seria o único Malachai capaz de destruir a todos. Seria verdadeiramente invencível. E todos eles morreriam ou seriam capturados. Não somos assassinos, lembrou Sraosha em sua cabeça. Especialmente não matamos crianças. Ele não é uma criança, Belam. Você sabe disso. É a criatura mais letal que já nasceu. Por enquanto ele está fraco, mas a cada dia adquire mais força. É mais mortífero. Enquanto isso, você é cada vez mais vulnerável, no que lhe diz respeito. Não sou fraca. Ela nunca havia sido fraca. Não confunda piedade com fraqueza. Garanto-lhe que assim que eu souber que ele já não está do nosso lado, vou cortar-lhe a garganta e te entregarei seu coração. Porque se não fizesse isso, ele destruiria a todos os que ela amava. O único problema era que ele rapidamente estava convertendo em uma das pessoas que ela mais amava. Cumpra com seu dever. Sraosha se retirou de sua mente. Sim, ela cumpriria com seu dever, e manteria a promessa que havia feito a seu irmão. Embora perdesse sua vida.

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E especialmente se isso queria dizer que teria que matar Nick.

CAPÍTULO 9

Em sua forma de corvo, Caleb ficou gelado ao encontrar Nick no último lugar que esperava. Sob a proteção de Thorn, no centro do inferno. Ou mais precisamente, no escritório do Thorn, aprendendo como lutar com espada... O sol deve estar brilhando no canto mais escuro do Tártaro. Isso, sem ter havido neve em agosto em Nova Orleans seria mais provável do que a vista abaixo dele enquanto usava seus poderes para ver dentro da enorme mansão negra. Thorn os odiava. Não, odiar não. Essa palavra era muito gentil para o terrível desprezo e desdém que ele tinha por cada criatura viva e não viva nesta existência. Seu ódio era tão intenso que praticamente escorria de suas moléculas.

Séculos atrás, ambos tiveram uma amizade. Pelo menos tão amáveis com podiam ser com alguém como Thorn cuja única coisa que confiava era em que outros o sacaneassem. Ironicamente foi o que os havia aproximado, seu desdém mútuo e falta de confiança por todos os demais em existência. Um verdadeiro niilista, Thorn não acreditava em nada. E ninguém acreditava nele. Bem, isso não era inteiramente verdade. Caleb acreditava na disposição de Thorn para matar tudo ao seu redor, especialmente se achava algo irritante. Isto não pode ser bom. Thorn estendendo sua amizade a alguém tinha que ser algo assim como tentar ser amigo de um urso faminto. Cedo ou tarde, olharia de cima a baixo e pensaria: jantar. E, no entanto, lá estava ele, protegendo e ensinando Nick. Falando em fenômenos da natureza. Isso ia contra todas as leis da física que Caleb conhecesse. A próxima coisa seria encontrar cobras que dormissem com lagostas. Ou ver fanáticos do LSU e do Alabama juntos comendo um churrasco, e que alguém ajudasse o outro pegasse fogo acidentalmente. Sim, e ver Ares, o temível Deus da Guerra, ir recolher rosas com meninas escoteiras. Tudo isso seria muito mais provável do que Thorn ajudando Nick.

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E Caleb se recusava a acreditar que havia algum motivo altruísta que o motivasse. Também teria que haver algum tipo de recompensa para Thorn, ou de outra forma, ele não o faria. Mas o que... Recolhendo as asas, Caleb deu um gripo para mergulhar através da uma janela aberta. Por favor, não deixe que Thorn seja o suficientemente sádico para ter colocado um vidro ali...

*** Pela primeira vez em sua vida, Nick conseguiu finalmente escutar as vozes que lhe falavam do espaço etéreo. Algumas haviam sido deixadas para trás por antigos espíritos, que haviam seguido seu caminho, enquanto ecos de suas forças vitais permaneciam presos. A maioria era dos vivos...os pensamentos que liberavam no universo, sem nunca perceber que os seres sensíveis eram capazes das escutar e conhecer seus segredos mais íntimos. O resto eram avisos dos seres vivos a pessoas que eles não sabiam que podiam comunicar-se. Tudo o que ele tinha que fazer era ouvir. Era como escutar a estática em um rádio. No início era apenas um ruído e depois, sob frequência, uma clareza total. Quanto mais focado, mais claro ficava. E uma vez que você tinha a frequência correta, escutava-se cada nuance. Thorn segurou a cabeça de Nick com sua enorme mão. — O que você está escutando agora é a fonte da vida. Sinta seu lugar no universo e olha o quão vasto ele é. Quantos seres fazem dele sua casa. Ele tinha razão, era muito amplo. Mas... Há tantas pessoas sofrendo. Era assustador. Embora soubesse que as pessoas sofriam... poder escutá-los... Seu sofrimento combinando abriu seus olhos. Embora ele se sentisse só em seu sofrimento, percebeu que era somente uma das trilhões de pessoas que sentiam exatamente o mesmo tipo de impotência e frustração que ele sentia que estavam sozinhos e que ninguém os entendia, ou a sua situação. Que não tinham controle sobre as coisas que machucavam suas almas, uma após outra, até que foram se recuperando do choque. Thorn cerrou seus terríveis olhos verdes e o olhou. — Todos sofrem Nick. Alguns sabem esconder melhor que outros. Como William Goldman disse de forma tão eloquente, “a vida é dor, sua Alteza. Qualquer que diga o contrário está tentando vender-lhe alguma coisa”.

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Nick concordou, quando finalmente entendeu. — O objetivo da vida é aprender a viver com as consequências das decisões ruins que tomamos. Thorn franziu o cenho como se tentasse ler sua mente. — De onde veio isso? — É algo que Caleb diz o tempo todo. Ele franziu o cenho ainda mais como se tivesse tido uma revelação. — Você refere-se ao demônio, Malphas? Como se o tivessem chamado em pensamentos, um corvo fez um grasnido, depois voou entre eles, fazendo com que colocassem distância entre eles. Dando a volta para enfrentar o corvo, Thorn sacou sua espada de batalha. Com um flash brilhante, o corvo se transformou na forma demoníaca de Caleb, a armadura que usava parecia sangrar em cada fenda. Jatos de sangue percorriam pelo metal e caíam silenciosamente no chão. Com cabelo longo laranja e olhos amarelos como os de uma serpente. Como se isso não fosse suficientemente chamativo, sua pele era tão vermelha como sua armadura. Suas asas negras, parecidas com couro, expandiram-se e se moveram como se estivessem desafiando Thorn para uma batalha. — Cara, — disse Nick em um tom seco. — Temos procurar um cirurgião plástico para que corrija esse infeliz defeito de nascimento. E o cabelo laranja... Sério? Temos que falar sobre a L’Oréal. Negro é mais neutro. Sabe? Não chocaria tanto com o tom de sua pele. Mostrando-lhe as presas a Nick, com irritação, Caleb deu um passo para trás para deixar o caminho livre para ele, e levantou o braço como seu estivesse mostrando Nick. — Se quiser matá-lo, Thorn, não vou protestar. Thorn riu. — Quantos tolos caíram com essa tática? — Não o suficientes, infelizmente. Ele ainda vive. E aqui estou eu... — Caleb torceu sua cabeça para estudar intensamente Thorn. Seu olhar focou em sua espada, a qual Thorn ainda não havia baixado. — Vamos lutar? — Eu não sei. Você está planejando me atacar? — Somente se você atacar o menino. — Bom, então... — Thorn guardou a espada e negou com sua cabeça. — Não posso acreditar que Adarian perder o talento de um bom daeva como babá. Daeva era a classificação demoníaca de Caleb. Embora por regra fossem demônios de nível médio, os poderes de Caleb estavam potencializados com algo que o permitia funcionar como um demônio de categoria mais alta. Ele também tinha outros poderes que a maioria dos

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daeva não tinha. Tinha que haver uma razão para isso, mas Caleb não ia revelar. Nem que Nick implorasse. Caleb olhou com suspeita para Nick. — Temos que tirá-lo daqui. Imediatamente. — Bom, — Nick concordou, porque Totó quer voltar para casa, Dorothy. — ele bateu seus calcanhares. — Não há lugar como o lar, não há lugar como o lar. Fazendo uma careta, Caleb olhou para o céu. — Se alguém atirar uma casa em cima de mim vou ficar muito chateado com vocês dois. Thorn bufou. — Isso requereria a uma bruxa boa. Bon chance se encontrar uma aqui, mon ami. — Bom ponto. Estamos nas entranhas de tudo o que é maligno, afinal de contas, e sim, Thorn, eu o incluo nessa categoria. Passei muito tempo em torno de você para conhecer suas tendências mais perversas. Thorn riu. — Se você fosse uma mulher, Malphas, então te daria muita sorte. Caleb acoplou suas asas sobre seu corpo de forma que parecesse outra capa de armadura. — Nem sequer vou responder a isso. Agora, enquanto seu cérebro continua funcionando tem alguma ideia de como tirar o meleca-gênio daqui? Nick ficou boquiaberto com insulto desnecessário de Caleb. — Perdão? — Realmente gostaria de perdoá-lo, Nick, — disse Caleb baixo. Thorn considerou a resposta antes de falar. — Não fazendo com que ele desperte do coma... Não. Caleb manifestou um bastão, e depois deu um passo para Nick, que retrocedeu rapidamente. Thorn tirou o bastão de sua mão. — Eu disse consciente, Malphas. Não morto. —Ah, vamos lá, filho de demônio. Uma pequena contusão... Por favor. Mereço. Se não por outra razão, porque me fez vir buscá-lo neste lugar. — Nick ficaria ofendido se não soubesse que Caleb estava brincando. Pelo menos, esperava que Caleb estivesse brincando. — Isso foi uma piada não foi? Caleb lhe deu uma palmada na bochecha. — É obvio que sim, amor. Por que eu iria querer matá-lo? Sim, isso enviou um calafrio por suas costas enquanto os motivos se amontoavam em sua mente.

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Mas isso foi leve comparado com o pânico que sentiu um segundo depois quando Bane apareceu no escritório de Thorn. — Temos um problema. — ele passou um olhar severo de Thorn para Caleb. — O que está acontecendo? — perguntou Thorn. — Noir farejou seu amiguinho e está a ponto de declarar guerra para recuperá-lo. Acha que você o encontrou e está planejando usar o Malachai contra ele. — É obvio que ele pensa isso. Idiota paranóico. — Thorn levantou o braço e iluminou o outro lado da sala. Imagens brilharam até focarem-se em uma das paredes que rodeavam sua fortaleza. Havia todo tipo de entidades que vinham em sua direção. Nick somente conseguia identificar um punhado de demônios, mas o resto... — São aqueles insetos? Três cabeças viraram em sua direção, um olhar que questionava sua inteligência. — Sim, — disse Bane, sua voz cheia de sarcasmo. — O tipo mais fodido do universo está nos atacando com insetos gigantes. Ajude-me, por favor, estou sendo derrotado por uma pulga. Rápido Malphas, pegue o Raid. Nick revirou os olhos. — Então o que são? Caleb suspirou. — Você sabe que os gregos têm um cão de três cabeças para proteger as portas do submundo? — Sim. — Esses são os que Noir usa para proteger seu reino. Basicamente, são como cães sangrentos com esqueletos para que determinados tipos de demônios não possam machucálos nem escapar deles — ele mostrou um sorriso macabro ao Nick. — Para que conste, você está nessa lista. Ah. E ainda por cima eles podiam subir pelas paredes, já que assim demonstraram ao chegar ao território do Thorn e, sem hesitar caminharam direito para ele. Caleb olhou para Thorn. — Quanto fogo pode conjurar? — Não o suficiente para nos liberar de todos. Me drenariam muito rápido e me deixaria a mercê de Noir. O coração de Nick batia veloz. — Estamos mortos, não é?

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—Não, Nick, — disse Caleb em uma voz aparentemente calma. — Estamos pior que mortos. Nick arregalou os olhos. — O que é pior que a morte? Sorrindo, Bane deu-lhe um tapinha no ombro. — Você tem sorte, está prestes a descobrir.

*** Kody! Nekoda literalmente saltou de onde estava, parada no quarto do hospital onde estava Nick, enquanto Caleb gritava em sua cabeça. O que foi? Ela perguntou, projetando seus pensamentos para ele, para que o resto das pessoas no quarto não pensasse que ela havia perdido a cabeça. Embora, provavelmente já fosse tarde, mas ela não queria ser confinada em um dos andares para doentes mentais. Acorda o Nick. Ela olhou para Menyara e Cherise, que estavam falando em um tom baixinho com a Dra. Burdette do outro lado da cama do Nick. Não posso Caleb. Não estou exatamente sozinha aqui. Sim, bom, se você não o despertar, Noir vai escravizá-lo agora. O terror a consumiu. Isso era tudo o que eles precisavam. Está falando sério? Pareço que estou brincando? Não, parecia cheio de pânico. O que fazia com que o coração batesse mais rápido. Caleb nunca entrava em pânico. Era uma regra. Sempre estava calmo não importasse a ameaça. Sim, ele estava agitado, isso era realmente ruim. Mas como poderia conseguir que Cherise, Menyara e a mãe de Bubba, saíssem do quarto? Se ele pegasse fogo... 137


Isso seria ruim. E provavelmente eles a proibiriam de voltar a entrar em hospital. Vamos Kody, pensa... A voz de Caleb era cada vez mais insistente. Nick está a ponto de morrer, Kody. Não podemos contê-los... Essa frase terminou com um som de angústia. Olhando em volta, ela tentou encontrar alguma coisa para distrair as mulheres e poder despertar Nick. Mas o quarto do hospital estava tão nu como poderia estar. Merda! Se ela fosse para onde ele estava, e começasse a sacudi-lo enquanto estivesse conectado a todos esses equipamentos, elas pensariam que ela havia perdido a razão. Com sua sorte, até chamariam a segurança. Tenho que fazer alguma coisa. Rápido. Sem outra opção, ela focou em Cherise, e influenciou seus pensamentos. Sua mãe moveu a cabeça, e depois franziu o cenho. — Sabem, — ela disse a Menyara e Bobbi Jean, — acredito que estou com fome, assim de repente. Por que não vamos comer algo rápido lá embaixo na cafeteria enquanto ele continua dormindo? Ambas as mulheres a olharam como se ela tivesse perdido a cabeça. Especialmente porque ela havia insistido durante todo este tempo em ficar perto de Nick. — Tem certeza? — Menyara perguntou. Cherise concordou. — Não vamos muito longe. Podemos vir correndo se algo mudar. Menyara e a Dra. Burdette se olharam com o cenho franzido, já que esse havia sido seu argumento por oras e Cherise havia se recusado a sair se por acaso Nick precisasse dela. Kody as tranquilizou. — Eu fico com o Nick e aviso se ele acordar. Cherise sorriu. — Obrigado, Kody. Kody esperou que elas se fossem para correr para a cama. — Nick? — Ela o sacudiu com cuidado, — Vamos, bebê. Acorde. Mas ele não estava respondendo. Ela o sacudiu com mais força. E mesmo assim ele não se movia. Caleb? Ela tentou projetar-se.

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Ele também não respondeu. O pânico a consumiu. O que estava acontecendo? Seria muito tarde? Noir já os havia capturado? Não, não podia acontecer. Não podia suportar pensar nisso. Com seu coração pulsando a mil, ela continuou tentando. Ela era a única esperança que eles tinham. Meninos, não vou abandoná-los, prometo.

***

Nick estava aprendendo rapidamente que na cadeia alimentar paranormal, ele era o alimento mais saboroso. E todos os demais que estavam acima dele na pirâmide, queriam um bocado. Dito isto, Bane, Caleb e Thorn se encarregavam do mais pesado na batalha para poder evitar que fosse arrastado por um dos outros. Se ao menos eu tivesse trazido minha espada comigo. Ele não deveria tê-la deixado fora da vista. Era uma das poucas coisas que o haviam dado que nunca abandonava. A espada sempre havia funcionado da forma que se supunha. A extremidade pontiaguda entrava em inimigos até fazê-los sangrar. A simplicidade do objeto e a confiabilidade era algo bonito. Ah, mas espere um segundo... Ocorreu-lhe um pensamento estranho enquanto ele batia em um dos demônios na cabeça com o livro que tinha nas mãos. Ele poderia invocar sua espada para este reino? Ela era parte do seu DNA. Supostamente estava sincronizada com ele, e ele esteve trabalhando por meses na habilidade de invocar sua espada quando a necessitasse. Supostamente ela viria a ele quando ele ordenasse. Nada mais funcionava da forma em que se supunha que devia funcionar. Então, por que sua espada o obedeceria? Especialmente estando em outra dimensão. Mesmo assim valia a pena tentar. Um esforço não custaria nada. Não tentar, o garantiria um fracasso.

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Fechando seus olhos, Nick fez o melhor que pôde para imaginar sua espada em suas mãos, sua armadura em sua mão. Assim que começou a senti-la em sua mão, foi atingido no peito. Nick cabaleou para trás ao mesmo tempo em que algo mais o atingia e a dor explodia em seu corpo inteiro. Abrindo os olhos, ele viu os demônios mortents exatamente sobre ele. Ah, isso foi falta de educação. E ele já estava cansado de lutar contra mortents. Cheiravam como merda e eram detestáveis. Outros demônios tinham Thorn no chão. Caleb sangrava terrivelmente, e Bane estava preso em um canto. Homem ou rato... Tempo para ser julgado, e era melhor que seu coração pesasse mais que uma pluma. Nick abriu-se para o etéreo e deixou que lhe sussurrassem ao mesmo tempo em que chamou a sua espada. A luz explodiu ao redor deles. A metade dos demônios assoviou, ajoelhando-se. Sustentando sua mão no alto, Nick continuou sussurrando mesmo quando se viu forçado a desviar seus olhos da luz para evitar ficar cego. A outra metade dos demônios recomeçou sua luta para tentar alcançá-lo. E à medida que tentavam se aproximar tanto que ele podia sentir seus hálitos fétidos na pele um trovão ressoou em sua cabeça. Em um segundo, eles estavam beliscando os calcanhares e no seguinte, ele os levou de volta com uma explosão tão forte que os atirou no chão. Nick começou a rir, até que percebeu que o que quer que fosse, ele não podia desligálo. Pior, continuava fortalecendo-se, e ia cada vez mais e mais rápido, tentando controlá-lo. Ele gritou quando a dor percorreu suas veias. Sentia-se como se estivesse queimando por dentro. Caleb gritou algo, mas não conseguiu escutá-lo. Estou morrendo. E não havia nada nem ninguém pudesse fazer algo para deter isso.

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CAPÍTULO 10

Nick sentiu que sua força vital era drenada. Então, exatamente antes que a escuridão o absorvesse completamente, ele caiu para um nada. Desesperado, tentou de agarrar-se em algo para evitar descer tão rápido. Alguma coisa. Mesmo assim continuava caindo. Até que caiu sobre um objeto afiado que o esfaqueou tão profundamente que ele se surpreendeu de que não tivesse atravessado seu peito. Ele esperava por... Não sabia. Desorientado e doente, apenas queria despertar em sua casa e que tudo voltasse para a normalidade. Mas era mais fácil dizer que fazer. Tenho que enfrentá-lo, seja o que for. Abrindo seus olhos, ele paralisou, sem poder acreditar no que estava vendo. Pela primeira vez, não era algo saído de um filme de terror. Estava olhando para um anjo caído do céu, que sorria para ele. — Kody? Ela pegou sua mão com força. — Pensei que havia perdido você. — Eu também. — ele tentou mover-se, e em seguida gemeu quando a dor o atravessava. — Você me bateu? — Eu não, mais alguém fez isso. Bristol. Como podia ter esquecido? O verme o havia surpreendido em seu caminho à loja de Liza. De repente, Caleb apareceu em forma humana do outro lado da cama. Graças a Deus, ele estava vivo, mas a luz de fúria em seus olhos dizia que queria terminar o que Bristol havia começado. E depois ele olhou a Kody com fúria. — Poderia ter demorado mais? Ela fez um gesto para Nick. — Diga ao seu amigo, aqui presente. Ele não queria despertar. — Sim, — suspirou Caleb, dirigindo seu olhar furioso a Nick. — O que foi que você fez?

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Ele franziu o cenho. — O que quer dizer? — Você lembra do Reino Nether? Cara, isso não era exatamente algo que um ele iria esquecer, sem passar por terapia de eletrochoque. — Claro que sim, e nunca mais em minha vida quero voltar para esse lugar. — Somos dois. Kody olhou de um para o outro. — O que aconteceu? Caleb sinalizou para Nick com a cabeça. — Seu namorado se transformou no tocha humana, e aniquilou uma boa quantidade de demônios antes que você o tirasse daquele lugar. Ela pareceu impressionada por suas palavras. — Uma tocha? Sério? Caleb assentiu. — O que aconteceu Gautier? O que fez? Ele deu de ombros, tentando lembrar-se. — O que sempre me acontece quando me atacam. Estava tentando invocar a minha espada quando algo interior apoderou-se de mim. A próxima coisa que eu sei é que você estava gritando que eu não tinha que usar esses poderes. Eu mato um monte de coisas, e depois você grita novamente por não escutá-lo. Caleb não achou graça, ao contrário de Kody que pareceu divertida com sua explicação. — Você precisa de alguém para gritar com você. Nick zombou. — Tenho muitos voluntários para esse posto. Não necessito de mais. Caleb fez um som de irritação suprema. — Ele está acordado? Kody recuou para que sua mãe pudesse correr para a cama e atirar-se sobre ele. Nick grunhiu enquanto sua mãe bateu em uma de suas costelas machucadas. — Mãe, está me matando. Ela levantou a cabeça para olhá-lo com raiva. — Deus, eu quero te matar. Juro-lhe isso, Nick, você vai ser minha morte. Uma pontada de dor atravessou o coração com suas palavras. Era uma lembrança dolorosa da razão pela qual Ambrose estava fazendo isto. Para manter a sua mãe viva do que fosse que houvesse causado a morte.

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A culpa inundou-o. Não pelo que havia feito no passado para machucá-la, mas sim por qualquer estupidez futura que fosse cometer. Já a havia feito ela passar por muitas coisas. Não queria fazer nada mais que a fizesse chorar. — Me perdoe mamãe. — Não, bebê. Perdoe-me você a mim. Quando disse que você não brigasse, não quis dizer que não se protegesse. Nunca, nunca quis dizer isso. Suas palavras o confundiram ainda mais. — Mas, mamãe, todas as brigas que tive foram por me defender. Nunca sou o que as inicia. Ela fez um gesto de dor. — Por que nenhuma vez você me disse isso? A raiva indignada que sentia implorava que a atacasse por esse comentário. Mas ele segurou. — Eu tentei, muitas vezes, e tudo o que você fez foi dizer-me “não me diga ‘mas mamãe’, Nick,” e depois se recusava a escutar tudo o que digo. Contendo as lágrimas, ela engoliu em seco audivelmente. — Me perdoe por isso. Bem. Vou tratar melhorar. Prometo-lhe isso. E você pode brigar sempre que queira. Está bem? Apenas não deixe que lhe machuquem assim outra vez. Prefiro pagar sua fiança do que ter que enterrá-lo. — Melhor ser julgado por doze que levado por seis, — disse a Dra. Burdette atrás dela. — Esse sempre foi meu lema. E dessa forma eu criei Michael. Disse-lhe que nunca o castigaria por defender-se, mas que se descobrisse que se deixasse que o medo ganhasse ia esquentar a sua bunda. — Michael? — perguntou sua mãe. — Bubba. — Disse Nick tentando esconder sua risada. A Dra. Burdette gemeu como se lhe doesse. — Por favor, não o chamem assim. Dói cada vez que escuto. Sua mãe franziu o cenho. — Por que odeia tanto? Eu conheci muitas boas pessoas chamadas Bubba. A Dra. Burdette fez um som de irritação. — Que sorte, Cherise. Minha bronca se recua ao meu primeiro dia de escola. Bubba Clark, ele pode assar suas bolas na poço mais quente da casa do diabo. Ali estava eu, toda perfeita em meu vestido branco feito a mão, para o qual minha mãe havia trabalhado muito. Sentia-me como uma princesa de conto de fadas. Havia um chapéu amarelo pálido, e uma bolsa de couro combinando. Eu pensei que era o máximo, e me sentia linda e feminina. De repente, empurram-me pra trás, e eu caí, arrastando a bolsa, os sapatos, e sujando de terra o vestido. Pior ainda, esse rato recusou-se a desculpar-se por isso. Sendo a criança que eu era, bati-lhe com tudo o que tinha. E mesmo sendo uma garota em um vestidinho branco, eu tinha três irmãos mais velhos que me ensinaram como fazer um homem chorar e juro que esse dia eu fiz. Deixei-o no chão, chorando como uma mulherzinha.

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Aí começou uma rivalidade que dura até estes dias. Bubba Clark me fez infeliz cada vez que pode inclusive até mesmo fazendo-se passar por policial quando eu saía com o pai do Michael. Cada vez que dávamos um beijo, ele nos iluminava com sua lanterna, até o dia no qual o Bruce partiu-lhe a cara. Então eu tremo internamente cada vez que escuto esse nome, e pelo fato de que Michael o usa, vou começar a chamá-lo de Mickey outra vez, somente para vê-lo fazer cara de espanto. Isso vai ensiná-lo. Nick riu, e depois gemeu quando uma dor aguda atravessou-lhe o estômago. — Você está bem, coração? — Perguntou-lhe a Dra. Burdette antes de lhe pôr uma mão sobre o abdômen. — Sim. Eu fui chutado algumas quantas vezes. — Sim, eu sei. Você sabe quem te fez isto? Em vez de responder essa pergunta, Nick ficou de repente fascinado com o teto. — Bebê, — disse-lhe sua mãe, tirando-lhe o cabelo do rosto. — responda à Dra. Burdette, para a gente poder preencher o relatório policial. Embora não estivesse feliz com o que Bristol fez, também não queria que ele fosse para a cadeia por isso. Coisas ruins sempre aconteciam aos meninos de sua escola que acabavam presos. Além disso, ele podia lidar com isso por conta própria. Se não estivesse tão afetado pela discussão com sua mãe, isto não haveria acontecido. Ele e Bristol teriam discutido, talvez tivessem trocados alguns golpes. E ao final, ambos teriam ido a casas caminhando. Então não, ele não queria ver Bristol na cadeia por isso. — Não lembro. — Cara, ele odiava mentir, especialmente para sua mãe. — Nick... Ele se encolheu ao seu tom, isso dizia que ela sabia que ele não estava sendo honesto. — Não posso mãe. Ela cerrou os olhos antes de suspirar. — Bom, eu não posso forçá-lo, mas acho que você está cometendo um erro, se deixar que alguém saia impune de algo como isto, essa pessoa vai continuar machucando as pessoas até que alguém o detenha. E normalmente, essa pessoa seria ele. Apertando sua mão, sua mãe deu um passo para trás. — A propósito, soube que você é o paciente mais popular no andar. — Em que sentido?

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— Há uma multidão de pessoas lá fora, esperando para vê-lo. E todos eles estão preocupados com você. As enfermeiras disseram que recebem chamados dia e noite perguntando por você, e se você acha que isto... — Ela sinalizou a floricultura em que se havia se transformado seu quarto... — são muitas flores, você não viu nada. Tiveram que guardar muitas mais nas salas do pessoal. Caramba. Era um monte de flores. — Tem certeza de que não acham que estou morto, e que estão mandando para a funerária? Ela riu. — Você é tão mau. Sim, bem, ele odiava que todas essas flores fossem para o lixo. Apenas o que estava contra uma parede já podia encher seu apartamento inteiro. — Falando a sério. Poderia assegurar-se de que as enfermeiras levem as que gostem. — Sabia que diria isso. Juntei os cartões para que possamos mandar mensagens de agradecimento a todos. Essa era uma das coisas que sua mãe tinha. Embora tivesse vivido nas ruas por um tempo ela sempre era uma pessoa amável. E sempre se comportava como uma dama. Ele percebeu que ela não havia exagerado sobre a quantidade de pessoas preocupadas com ele, já que começaram a entrar os visitantes. Era incrível. Jamais havia imaginado a quantidade de pessoas para as quais ele era importante. Que louco. A maior parte do tempo ele se sentia como um intruso, mesmo em sua própria casa. Mas, principalmente na escola e ao redor de outras pessoas. Mas ao ver a quantidade de pessoas que havia, talvez não estivesse tão sozinho como pensava. Mesmo Kyl Poitiers e seu pai vieram a visitá-lo, assim como Casey Woods e Amber Cassidy, uma das melhores amigas da Brynna, do jardim de infância. E a metade da equipe de futebol, os que não estavam fascinados com Stone. Realmente o surpreendeu. Especialmente porque não o visitaram no hospital depois que o balearam. Mas ele havia interagido mais com eles durante neste último ano. Era estranho quanto podiam mudar as coisas em apenas meses. Depois de que todos eles foram embora, Aimee, Dev, Alex Kara e Mamãe e Papai Peltier vieram juntos e trouxeram uma cesta de biscoitinhos de chocolate. Sim,não queria ser um mal educado, mas eles podiam ficar com as flores. Biscoitinhos de chocolate... Isto é vida. Comeria até explodir. E que depois me enterrem atrás da fábrica da Chips Ahoy. Dev riu. — Da próxima vez que quiser jogar ping pong, recomendo-lhe que use uma bola, e não sua cabeça. Parece terrível. — Obrigado, Dev. É exatamente isso que eu procurava. Esta manhã eu levantei, me olhei no espelho e disse a mim mesmo: Nick, você é muito lindo. Tem que encontrar alguém que para acabar com você e te encha de hematomas. Isso vai fazer com que sinta se melhor. 145


Aimee riu, e depois bateu em Dev no estômago com sua mão. — Caramba, acho que encontramos a única pessoa que existe capaz de ser mais sarcástica que você. Bem, nós vamos embora, Nick. Não sabia por que, mas havia algo sobre Aimee que lhe chamava a atenção, e não era apenas porque a garçonete loira fosse esquisitamente linda. Na verdade ele não pensava nela dessa forma. Ela era mais como uma irmã mais velha. Uma que podia ser divertida com as pessoas. Ele viu como ela se defendeu contra qualquer que fora um mal educado com ela ou com qualquer outro garçom no Santuário. Mas quando ela não estava zangada, estava bem em sua presença. — Tenho más notícias para você, — Disse Papai ouso em um tom sério. A ansiedade o consumiu. Com dois metros dez e pesando aproximadamente cem quilos de puro músculo, papai urso Peltier não era alguém a quem queria deixar zangado. —Sir? — Disse Nick, assustado pelo que ele poderia lhe dizer. Papai urso fez um gesto de lamento. — Quinn desligou a máquina do Gálaga. Seus 900 pontos se apagaram. Nick franziu o cenho. — Ah, não Por Deus! Eu nunca mais vou poder conseguir essa pontuação — Gemeu em miserável agonia. —Papa, — Dev zombou. — Diga-lhe a verdade. — ele sorriu para Nick. — Ele fez com que Quinn a desligasse porque ele não podia conseguir uma pontuação maior que a tua. Papai urso riu com malícia. — Está bem, eu vou confessar isso. Mas é para que você aprenda que você não tem que se machucar e deixar seus amigos abandonados. OK? Nick negou com a cabeça, agradecido de que isso era o que o havia incomodado o urso. Entre todos riram mais um pouco, e depois se foram. Depois que todos se foram Wren entrou sozinho. Ele hesitou na porta. Uma atitude que provavelmente correspondia a sua parte animal. Era como se ele respeitasse o território de outras criaturas e não queria entrar a menos que planejasse matar. Até onde Nick sabia, nunca matou ninguém, mas o dia ainda não havia terminado. — Como se sente? — perguntou Wren. — Estou vivo. — Bom. — Wren tirou as notas de dinheiro que Nick havia dado de seu bolso, e o entregou para que ele pegasse.

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Nick franziu o cenho. — O que está fazendo? — Agradeço o seu gesto, Gautier, mas não preciso desse dinheiro. — Cara, — ele repreendeu. — Você é um garçom. — Sim... — disse-lhe como se não entendesse o que Nick estava dizendo. Nick não queria que se sentisse mal sobre o que ele fazia para ganhar seu salário, mas Wren provavelmente não era muito mais velho que ele e não parecia ter ambições para ganhar mais dinheiro. Ele supunha que Wren precisava de cada centavo que ganhava para o que fosse que fizesse quando não estava trabalhando, o qual não era muitas vezes, mas mesmo assim... — Sei que os Peltier pagam bem, mas... A expressão de Wren torceu-se em uma expressão de dor antes de sorrir. — Nick, trabalho no Santuário, mas não porque preciso de dinheiro. Não tenho que trabalhar. —O que? Você é um milionário secreto? — Nick riu. — Ou ganhou na loteria? Com sua cabeça curvada, Wren passou timidamente o polegar pela bochecha. — Hum, Nick, meu sobrenome é Tigarian. Como em Indústrias Tigarian, Tigarian Electronics, e uma dúzia mais de corporações que estão com esse nome. Sou o único herdeiro de tudo. Nick ficou de boca aberta. Se isso era verdade, Wren estava louco. — Por que trabalha como garçom se tem todo esse dinheiro? — O dinheiro não compra tudo. — Então não está comprando nos lugares corretos. Perdoe-me, mas tendo sido pobre durante toda minha vida, lamento dizer. Talvez porque está nadando em dinheiro, ele pode não funcionar para você. Mas para mim, oláááá... Versace, Armani, e todos esses nomes importantes que tenho que consultar num dicionário para poder pronunciar corretamente... Wren bufou. — Eu nunca fui pobre, então não posso argumentar. — Me perdoe. Estou um pouco confuso. Não posso me imaginar trabalhando se tivesse acesso à sua herança. Eu simplesmente não o entendo. Wren deu de ombros com indiferença. — Você me entenderia se andasse com meus pés. Como meu pai costumava dizer. Todo mundo quer um homem que começa por baixo. Mas desprezam ferozmente mimado filho rico... mesmo que esse filho nunca tenha sido mimado. Quando se tem muito dinheiro, você não tem muitos amigos. Apenas pessoas que querem empréstimos, ou que procuram de alguma forma tirar esse dinheiro de você, em vez de trabalhar para ganhá-lo eles mesmos. Especialmente se você o herdou. Sendo assim, eles sentem-se justificados em tramar para tirar isso de você. Afinal, se você não ganhou, você deve a eles.

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Ele nunca havia pensado dessa forma. Mas Wren tinha razão. Ele conhecia uma grande quantidade de pessoas que pensava dessa forma. Os meninos no colégio diziam aos outros estudantes que lhes pagassem o almoço porque seus pais tinham dinheiro. Você é rico, garoto. Pode pagar isso. Sua mãe nunca havia sido assim. Ela havia martelado suas crenças nele. Você nunca poderá manter sua cabeça erguida dignidade se estirar sua mão para receber caridade. Wren estendeu o dinheiro novamente. — Então, por favor, aceite isto de volta. Embora aprecie o gesto profundamente, não posso aceitar quando sei que você precisa mais do que eu. Nick o pegou e inclinou a cabeça respeitosamente ao bilionário ríspido. O que a vida fez a Wren para que ele preferisse viver em um quarto da casa Peltier, limpando mesas, levando um macaco em seu avental, do que viajar pelo mundo e usufruir de seu dinheiro? Realmente não se pode julgar a um livro por sua capa. Não se pode saber de onde eles vêm ou que fantasmas rondam suas almas. E então lembrou o que Thorn havia dito. Todos vivem com dor. Não importa de onde venham ou o que você pense deles. A tristeza aflige a todos, e as cicatrizes não perdoam ninguém. Ele também pensou na lição que Grim o havia dado. As pessoas se escondem atrás de um muro para proteger-se da dor, mas uma simples palavra pode penetrar essas defesas e deixá-los sangrando no chão. Nick sabia em primeira mão que as palavras doíam mais que qualquer arma. O corpo curava e as cicatrizes desapareciam, mas o dano interior era eterno. Havia eco cada vez que alguém deixava cair as defesas. Mesmo com dinheiro que tinha acesso agora, ele ainda se sentia como um vagabundo, pedindo esmolas. Toda vez que ia à casa de Brynna ou de Kyrian, ainda esperava que chamasse a polícia para que atirassem o lixo à rua, onde ele pertencia. Não tinha como saber se esse sentimento alguma vez iria deixá-lo. Mas estava aprendendo a ficar para baixo, como costumava fazer. A cada dia, as coisas melhoravam. Se há um ano alguém lhe dissesse que esta seria sua vida alguns meses depois... que sua mãe teria um trabalho com pessoas, ou melhor, dizendo, com metamorfos, que a tratavam como a uma dama, que ele estaria saindo com uma das garotas mais lindas do colégio, e que ele teria um apartamento na Rua Bourbon, ele teria rido em sua cara. E mesmo assim, esta era sua vida. Wren hesitou na porta. — Sabe Nick, você é um homem decente, e não há muitos assim neste mundo. Então, nos faça um favor e não deixe que o matem. Há muitos idiotas dos 148


quais precisamos nos desfazer. Não podemos perder alguém que na verdade tem boas maneiras. — Você fala como Caleb. — Talvez ambos tenhamos demônios interiores. — E com essa frase, ele se foi. Depois da segunda ronda de amigos, a que incluiu Brynna, que mentalmente parecia estar melhor que na última vez que viu, Nick estava pronto para dormir. Até que chegaram Bubba e Mark. Mark suspirou enquanto olhava o lugar de cima a baixo. — Ah, que merda, Bubba. Olha para este lugar. Alguma vez viu algo assim? — Não, ele está completamente desprotegido. — ele entregou uma sacola ao Mark. — Vamos começar. Nick franziu o cenho. — O que estão planejando agora? — Não se preocupe em nos pagar. — Bubba empurrou um banquinho até a parede para que pudessem subir nele e começar a pintar alguns símbolos com água benta na parede. — Lembrou-se de conseguir mais sal? — Perguntou Mark. — Claro que sim. Que tipo de Kit contra demônios e zumbis seria se não tivesse sal? — Bem, só perguntei. Com a visita de sua mãe e sendo esta época do ano e tudo, você não está tão afinado como de costume. — Você diz isso a mim? Eu não sou completamente um idiota. Ainda tenho um pouco de inteligência. Quer pegar os cardos (plantas com espinhos) e te ocupar da porta? Bubba tinha sua inteligência, mas sua sanidade ainda era discutível. Mas bem, depois do que haviam passado no ano anterior, Nick não se arriscaria. Se o selo que estavam fazendo podia mantê-lo afastado de algum tipo de coisa das que havia conhecido no reino Nether, ele deixaria que o envolvessem em papel alumínio, raspassem sua cabeça e lhe chamassem Sue. Mark abriu uma garrafa de algo que cheirava pior que sua colônia de urina de pato. Mesmo Bubba se queixou. — Mark. Toma banho, garoto. Está impregnando o lugar. — Ha, ha, ha, — zombou Mark. — É o enxofre que está fedendo.

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— Sim, claro. — Bubba o roubou dele e cheirou. Sacudindo sua cabeça e fazendo uma careta, ele rapidamente recolocou a tampa. —Cara, — reclamou — Cachorro, isto cheira como você depois de três dias na Comic-Con. Está tentando nos expulsar? Sim, porque estar parado em um banco pintando as paredes com água benta os deixaria tão felizes. Até faria com que eles lhes oferecessem um emprego. Depois que saísse da liberdade condicional. Nick se retorceu enquanto continuava rindo de suas excentricidades e isso fazia que seus machucados doessem. Isso não tinha preço. Ele não sabia que era mais engraçado. O que diziam ou o que faziam. Infelizmente, a enfermeira chegou quando Mark lhe estava ateando fogo aos cardos. Ela soltou um grito que prometia guerra antes de sair correndo para chamar os seguranças. Bubba e Mark começaram a guardar tudo. Dado a altura e o corpo musculoso de Bubba, surpreendeu a rapidez com a qual podia locomover-se. Mark, por outro lado, tinha forma, mas era mais magro e rijo. Dele se esperaria velocidade. — Está coberto, irmão, — disse Bubba. — Isto deveria manter afastado quase tudo. Agora vamos antes que a segurança nos arraste. Minha mãe é o suficientemente geniosa para me fazer passar a noite na cadeia se me pegarem. Nick riu para a ideia de um homem do tamanho de Bubba estar tão assustado com alguém tão pequena como a Dra. Burdette. Até que recordou o fato de que ele mesmo era mais alto e mais forte que sua mãe, também. E ela o fazia tremer. Sim, bem, ele não podia irritá-lo com mamafobia. Quem disse que a mão que balança o berço domina o mundo deve ter tido mãe nascida e criada no sul. Ficando sério, ele inclinou a cabeça para eles. — Obrigado, pessoal, vejo-os mais tarde. Eles escaparam pela porta como dois espiões evitando as câmeras de segurança. Nick ainda estava rindo quando a enfermeira voltou. — Aonde foram? Quando não tiver certeza de como responder... A melhor tática? Fazer-se de idiota. — Quem?

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Ela respondeu. — Os homens que estavam queimando coisas aqui dentro. Você sabe. Onde estão? — Não vi ninguém queimar nada. Ela o olhou com fúria, e ele poderia jurar que viu a promessa de uma injeção dolorosa em seu futuro. — Nós vamos encontrá-los. Com ou sem sua ajuda. Ele desejou sorte. Uma coisa era certa sobre esses dois, eles eram mais escorregadios que um crocodilo azeitado sendo açoitado no banho. Embora a pior coisa que eles poderiam fazer seria apanhá-los. Seria como tentar manter uma cobra em uma caixa de sapatos. Definitivamente uma má ideia. Sorrindo, Nick relaxou e fechou os olhos. E mudou a direção de seus pensamentos para algo melhor que dois lunáticos escapando das autoridades. Nekoda. Em vez de mandá-la com Caleb para procurar algo para comer, deveria ter pedido que ela ficasse. Não sabia por que, mas apenas vê-la o acalmava. Não importava o que lhe acontecesse, ela sempre o fazia sentir-se melhor. Algumas vezes pensava que estava apaixonado por ela. Mas outras... Como podia ter certeza? Havia sinos ou assobios ou... O que? A vida realmente deveria vir com globos de diálogo sobre as pessoas para explicar o que havia em suas cabeças. A pior parte era que não conhecia ninguém para quem perguntar. Sua mãe nunca havia se apaixonado. Além dele e seu pai, ela recusava-se a ter a qualquer outro homem ao seu redor. Jamais vou trazer um homem para casa enquanto tiver um bebê. Qualquer um que pegar meu Boo eu estripo. Durante muito tempo, ele havia se sentido culpado por isso. Mas depois do que Kody o disse, ele soube a verdadeira razão pela qual ela não saia ou a via com homens. E isso partia seu coração. Menyara só lhe disse o habitual, Há coisas no Universo que não têm explicação. Mas acredite, quando ele chegar, você vai perceber. Kyrian não queria falar de sua esposa. Jamais. Acheron lhe disse que pensava que o amor era a estupidez maior. Sabe que é o amor, Nick? É a forma que tem uma mulher de 151


controlar a relação, e de controlar você. Nas mãos erradas, é o pior e mais dolorosa arma que se possa imaginar. Então quando der seu coração a alguém, assegure-se de que seja uma troca mútua. Porque uma vez que deixe entrar alguém em seu coração, tirar essa pessoa é como se o estripassem com uma colher para crianças. Ele não queria saber o que havia acontecido a Acheron para que estivesse tão cansado, especialmente pelo fato de que Ash havia sido morto aos vinte e um anos. Para ter esse tipo de ódio onze mil anos depois... Alguém realmente havia machucado Ash. Os companheiros dos Were Hunters metamorfos, eram escolhidos pelo Destino (Fates), então eles não saiam com outros da mesma forma que os seres humanos, e eles definitivamente não tinham forma de escolher ou de decidir quem seriam suas almas gêmeas. As únicas pessoas que ele conhecia que ainda estavam casadas, ele não se sentia tão confortável para lhes perguntar. Ou estavam divorciados, o que não lhe agradaria porque obviamente cometeram um engano ao escolher alguém. Mas Kody... ela o fazia sentir coisas que ninguém mais o havia feito sentir. Ele podia estar tendo o pior dia e com um sorriso, ela o fazia esquecer tudo. —Você aproveitou seu tempo em Azmodea? Nick franziu a boca para a voz familiar. Por que Ambrose viria incomodá-lo justo agora? Não podia ter cinco segundos para relaxar antes que sua louca versão adulta viesse a incomodá-lo? Bocejando Nick respondeu sem olhá-lo. — Certamente não foi uma viagem a Disney World...a menos que Mickey tivesse vendido sua alma ao Diabo. Não que eu já tivesse estado na Disney World. Merda, nem sequer estive em Six Flags, e fica ao outro lado da ponte. O poder que emanava de Ambrose arrepiou-lhe a pele em seus braços. A aura de Ambrose vibrava com suas capacidades letais. — Não posso acreditar que você saiu de lá inteiro. Eu tive que trair o mais próximo que tive como amigo para escapar. Um mau pressentimento percorreu o corpo de Nick. Enquanto que a voz era definitivamente a de Ambrose, a história não era. Não... Era impossível. Abrindo seus olhos, ele viu um homem que uma semelhança assustadora com Ambrose. Exceto isso ele tinha um cabelo curto, corte militar, e uns seis centímetros mais alto. Ainda mais revelador, ele estava coberto por tatuagens da prisão. 152


Definitivamente não era Ambrose. Este era seu pai. Soc au lait!

CAPÍTULO 11

Nick tentou pedir ajuda, mas estava completamente paralisado. Nem sequer conseguia piscar. Se ele tentava pensar em Kody ou Caleb, uma terrível dor lhe perfurava a cabeça. Ele estava sendo apunhalando com picador de gelo? Seu pai deu-lhe um sorriso torto. — Oh, os poderes que lhe esperam... as coisas para as quais você nasceu... pena que não vai viver o suficiente para experimentar nenhuma delas. Lutando com tudo o que tinha, Nick fez o melhor que pôde para libertar-se. Não conseguiu. Ele nunca havia experimentado nada como isto. Era terror puro. Não se comparava a ser enforcado por Darth Vader usando A Força, era muito mais terrível e o debilitava. Quando eu me libertar, velho, vou te fazer sangrar. Sim, bem, talvez não pudesse brigar muito, mas ia tentar aguentar tanto quanto pudesse. Literalmente não havia nada que ele pudesse fazer. O olhar de Adarian era gélido enquanto se movia até ficar ao seu lado. Ele pressionou seu polegar contra o canto interno do olho esquerdo do Nick. Em sua cabeça, Nick gritou de agonia. Mas o som ficou preso em sua garganta. Ele era o único que o escutava. Seu pai o tinha completamente paralisado. —Isso, —sussurrou Adarian antes de inspirar de prazer. — Alimente-me com sua dor. Deixe-me banhar-me nela. — O que está fazendo? Tchu! 153


Os olhos do Nick se arregalaram para o insulto cajun que ele nunca antes havia escutado sua mãe utilizar. Para falar a verdade, ela proferiu uma cadeia de insultos que o deixaram gelado e algumas que ele nem sequer sabia que ela conhecesse. Sua voz aguda ressoou nas paredes, enquanto ela corria para eles. Ela o empurrou longe da cama com toda a força de seu corpo. Dado o fato de que ela media quarenta e cinco centímetros a menos e provavelmente pesava menos que uma das pernas musculosas de Adarian, era impressionante que tivesse podido removê-lo. —Afaste-se dele! Ouviu-me? —Ela rosnou com os dentes apertados. — Eu apenas vê-lo, apesar de tudo, é meu filho. Ela o encurralou contra a parede como um Chihuahua a um Doberman. — Você não deveria estar aqui e sabe disso. Como é possível? Eu sei que não lhe deram liberdade condicional. Ninguém é o suficientemente idiota para deixá-lo sair outra vez. O olhar de Adarian suavizou-se quando enfrentou sua fúria sem vacilar. — Eu havia me esquecido como você é linda. — ele estirou a mão para acariciar sua bochecha. Sua mãe bateu sua mão para longe. — Você não vai me tocar novamente. Nunca mais! Nick continuava tentando mover-se ou falar, mas o que fosse que Adarian tivesse feito, ele permanecia paralisado. Desviando seu olhar com um brilho nos olhos que informou a Nick que ele estava escutando as vozes do etéreo, Adarian ficou paralisado. Quando voltou a olhar para sua mãe, seu rosto cara era uma máscara de incredulidade. — Foi você a que me entregou à polícia depois de ter roubado esse banco, não foi? — Sim, fui eu, — ela disse com orgulho, com os dentes apertados, erguendo a sua estatura total, que mal chegava à metade do peito de Adarian. — Não me importa o que você me fez. Realmente. Mas se você pegar a meu bebê... Ah não. Você declarou a guerra. Ninguém toca no meu filho. Nem você. Nem ninguém. Ele é tudo o que tenho no mundo e eu te juro que vou estripar como a um peru para Natal, se voltar a olhá-lo embora seja de lado. Você me ouviu? Adarian ficou gelado com seu ataque, assim como Nick. — Você me delatou. — A incredulidade assombrava sua voz. — Eu fiz, — ela repetiu. A dor em seus olhos era tangível. E era revelador. Adarian a amava. As-que-ro-so...

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Não, pior que isso. O amor de seu pai era uma perversão porque ele é o Malachai. Não havia nascido para conhecer essa emoção. Ele havia nascido para odiar e assassinar. Foi isso que Thorn disse. A única razão pela qual Nick tinha qualquer conceito do que era o amor era pelo sangue de sua mãe, e pelo fato de que ela o havia criado como seu bebê. Nick era o único Malachai que tivesse nascido, que havia mostrado o que era o amor e o que ele entendeu. Seu pai não sabia como lidar com isso. Por essa razão, Adarian provavelmente havia preferido nunca senti-lo por mais ninguém. — Como você pôde? — O tom de Adarian era como o de um menino quando seu pai o colocava de castigo. Sua mãe abanou sua cabeça diante da confusão. — Você é... — fechando seus olhos, ela moveu suas mãos ao redor de seu rosto como se estivesse apagando uma placa. — É claro que você é louco. Eu sei. Todos sabem. Mordendo os lábios, Adarian mostrou uma luz em seu frio olhar que dizia que ele estava a um passo de lhe bater. Nick lutou contra seu domínio com mais força. Ele tinha que proteger a sua pequena mãe do urso que era o seu pai. — Algum problema Cherise? Desde que a única parte de seu corpo que ele podia controlar era seus olhos, Nick os moveu para a porta, onde Kyrian estava parado em uma postura de poder que dizia a todos que ele estava mais que disposto a um final sangrento se fosse preciso. Vestido de negro da cabeça aos pés tinha quase a mesma altura que seu pai. E era tão musculoso como ele. Os óculos negros de Kyrian cobriam seus olhos e ele tinha os braços cruzados. Adarian se empoleirou como um macho alfa, fechando a distância entre eles. — Isto não lhe diz respeito. Kyrian ficou onde estava com a mesma postura de durão. — A mão que você tem sobre a lady, torna isso da minha conta. Adarian riu. — Você não sabe com quem nem com quê você está lidando. — E você também não sabe. — O tom de Kyrian era grave e sem emoção como se estivessem falando do clima. Sempre deixava Nick surpreso que Kyrian pudesse falar tão facilmente sem mostrar o menor indício de ter presas. — Então se você quer dançar comigo, vamos lá fora, onde há mais espaço.

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Invadindo o espaço pessoal de Kyrian, Adarian estava tão perto que sentia sua respiração no rosto. Mesmo assim, Kyrian não recuou nem se moveu, e essa atitude em si mesma era um desafio para o seu pai. Adarian o olhou de cima a baixo com um sorriso de escárnio. — Você acha que pode comigo? Kyrian sorriu divertido. — Você não é a coisa mais terrível que já vi. E definitivamente não é o mais poderoso. Adarian riu. — Nisso você está equivocado. Exatamente quando Nick tinha certeza de que Adarian ia atacá-lo, Acheron se moveu para ficar diretamente atrás de Kyrian. Os olhos de Adarian arregalaram ao digerir os dois metros e treze de Acheron, dos quais dez centímetros vinham das botas góticas de motoqueiro que tinha chama nos lados. Mais do que isso, Acheron não apenas emanava uma autoridade letal, qualquer um que tivesse uma gota de sangue sobrenatural sabia que ele não era o que parecia. Seus poderes surgiam de uma forma diferente aos demais. Na terra de Bad Ass (o reino dos fodidos), ele reinava supremo. Adarian deu um passo para trás, como se houvesse repensado sua situação. Depois de alguns segundos, virou sua cabeça para falar sobre seu ombro. — Você não pode manter meu filho afastado de mim, Cherise. Ele tem meu sangue. Ela negou com a cabeça. — Não, ele não é. Ele é meu filho. — ela colocou ênfase ao “meu”. — E eu não o compartilho com ninguém mais. E isso inclui você. Sei que você pensa que não sou nada. Mas não sou mais a criança que eu costumava sonha ser e já não tenho medo de você. — Ela sinalizou para Nick. — Ele é a única família que tenho. E eu o amo com toda minha alma. Se voltar a tocar um de nós vai terminar morto. Prometo-lhe isso. Dê-se por avisado. A veia batia no pescoço de Adarian. E a promessa em seus olhos foi clara e forte. Ele voltaria. Fazendo um assobio ameaçador, Adarian bateu com o ombro bruscamente em Kyrian e em Acheron enquanto passava. Logo que ele se foi, as pernas de sua mãe cederam e ela pareceu cair. Movendo-se com velocidade sobrenatural e poder, Kyrian a agarrou contra ele. Foi nesse momento que Nick conseguiu voltar a mover-se.

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— Respire devagar, Cherise, — disse Kyrian, tomando-a em seus braços para poder levá-la até a cadeira perto da janela. Com suavidade, sentou-a e deu dois passos para trás. Ela se abanou com sua mão tremendo. — Não sei que deu em mim. Ele poderia ter me haver matado. Estou surpresa que ele não fez isso. — Você é uma mãe que ama seu filho — e que o estava protegendo. — Acheron deu um sorriso torto. — Isso faz de você uma das criaturas mais perigosas do planeta. Eu enfrentaria uma equipe de assassinos treinados qualquer dia da semana ao invés de uma mãe zangada, de qualquer tipo, protegendo a sua prole. Acredite. — Pondo as mãos em seu casaco de motociclista com pontas de metal, Acheron foi para junto de Nick. – O que ele queria? Nick suspirou cansado. — Eu não sei. Realmente não sei. Sua mamãe se lançou da cadeira até sua cama para poder examiná-lo. — Você se machucou, bebê? Por que não me chamou? — Não pude. Ele me agarrou com muita força. Não podia locomover-me e nem fazer nada. Sua mãe tirou-lhe o cabelo do rosto. — Bem, agora ele já se foi, e terminamos com ele. Não quero voltar a vê-lo. Kyrian assentiu. — Vamos assegurar-nos de que ele se mantenha afastado de ambos. Ela virou-se e ofereceu um sorriso em agradecimento. — Não posso lhe agradecer o suficiente, Sr. Hunter. Sei que não tem que fazer isto. Bendito seja por sua amabilidade. Foi tão bom conosco. Seu elogio o fez sentir-se desconfortável. Nick sabia que Kyrian, apesar de ter sido um príncipe durante sua vida humana na antiga a Grécia, ele não gostava que o elogiassem. — Acho que é importante ajudar as pessoas sempre que posso. Sei que você e Nick não têm ninguém que os cuide, e embora ambos sejam duas pessoas capazes, todos necessitamos de uma cavalaria de vez em quando. Sua mãe assentiu. — Odeio admitir isso. Mas você tem razão. Não está em mim pedir ajuda para nada. — Ela passou seu olhar de Kyrian até Acheron. — E com vocês dois e Menyara, nunca tenho que fazer isso. — As lágrimas se juntaram em seus olhos. — Mamãe? Pestanejando para limpar suas lágrimas, ela pegou a mão de Nick. — Eu estou bem, bebê. Foi um dia muito emocional. Passamos por muitas coisas, e esta montanha russa está me enjoando. Mas não se preocupe comigo, amor. Estou bem. Sim, sua mãe tinha um temperamento de aço como o de ninguém que tivesse conhecido. 157


Acheron colocou sua mochila ao lado da cama. — Por que não vai trabalhar Kyrian. Eu tomo o primeiro turno do cuidado de Nick. Ele inclinou sua cabeça para Acheron, depois virou-se para falar com a mãe do Nick. — Se precisar de algo é só me ligar. — Eu ligarei. Obrigado. — Quando quiser. — Kyrian bateu os punhos com o Nick. — Cuide-se cajun, e se não se acostume ficando hospitalizado ou vou ter que começar a descontar no pagamento. — Sim, e eu vou ter que arranhar a pintura dos seus carros. Kyrian riu. — Sabe que dou mais importância a meus carros do que a sua vida, não é? — Não acredito, nem por um segundo, — Nick lhe disse enquanto ele saía. Mas Kyrian não o respondeu. Sua mãe deu-lhe um tapinha na mão. — Você sabe que isto me deixa pensando, Boo. Você tem que aprender a dirigir. Se estivesse em um automóvel, indo para Liza, nada disto haveria acontecido... A alegria correu por ele. — Você vai me ensinar? Ela se encolheu, visivelmente. — Sim, — ela disse com um tom patético. Acheron riu. — Gostaria que eu o ensinasse? Ela se encolheu até mais. — Não se preocupe Sra. Gautier. Não me importo se ele bate no meu carro, e eu tenho muita, muita paciência ensinando as pessoas. Especialmente os impulsivos. Faz anos que treino pessoas. Cara, isso foi um eufemismo. Foi tudo o que Nick pensou para não cair em gargalhadas. Se sua mãe soubesse a verdade. — Por favor, mamãe — Nick implorou. — Sem ofender, mas acho que prefiro que Ash me ensine. Ele não vai gritar e nem me castigar se eu errar. Ela abriu e fechou a boca como se quisesse argumentar, mas ela sabia a verdade, assim como ele. — Tudo bem, mas se eu tivesse um Porsche, não havia nenhuma maneira que o deixasse subir em um conversível. Muito menos dirigi-lo.

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Acheron riu. — Mas ele não vai aprender no meu Porsche. É um padrão. Acredito que é melhor ensiná-lo em um automático. Melhor deixar ele se acostumar a estar perto de um veículo e do trânsito antes de complicá-lo com as mudanças. A última coisa que precisa o Rei do Déficit de Atenção são mais distrações. —Ei! - Nick protestou. — Eu não sou... ? Ei, viram isso? — sinalizou para a parede como uma brincadeira. —Ha, ha, — disse Ash. — No carro de quem vai ensiná-lo? — perguntou sua mãe. — Um dos outros que tenho. Sua mãe levantou arqueou uma sobrancelha. — Outros? Quanto carros você tem? —Huum... — Ash passou seus dedos pelo lado de seu rosto. — Muitos. — Não se lembra? — Ela perguntou, horrorizada. — Não realmente. A maioria está guardada e peço que me tragam quando quero dirigilos. Ela lançou um olhar suspeito dizia que pensava que ele era um traficante de drogas ou um ladrão de automóveis. — Diga-me outra vez em que trabalha? — Dirijo pessoas. Seus olhos ficaram arregalados. — Em prostituição? — NÃO! — Ash praticamente rugiu essa palavra. Nick inspirou com força. Essa era uma das palavras gatilho que Grim havia mencionado. Uau. Isso sim que foi uma reação violenta. Ele nunca viu Ash explodir dessa forma para nada. Tentando regular a respiração, com os dentes apertados, ele pareceu acalmar-se. — Perdão. Esse é um assunto que levo muito a sério. As crianças deveriam ser protegidas, não... — suas narinas inflaram. — De todas as formas, treino pessoas e sou consultor de pessoal de segurança privada. Nick estava impressionado com a forma com que Ash havia explicado o trabalho dos Dark Hunters. Pessoal de segurança privada. Para o mundo inteiro. — Por que disse que dirige com pessoas, então? 159


Ash deu de ombros. — Minha gente se muda de um lugar para outro. A logística se complica às vezes. Tenho vindo vários chegarão à cidade para o Halloween, para falar a verdade. E essa é a razão pela que nem sempre estou aqui. Viajo muito para diferentes cidades e países onde tenho meu pessoal. A mandíbula de sua mãe caiu. — Isso é impressionante. Especialmente para a sua idade. Quantos anos você tem exatamente? Nick arqueou uma sobrancelha, esperando a resposta de Ash. — Sou mais velho do que pareço, Sra. Gautier. Muito mais velho do que pareço. — Sim, tudo bem, parecia como se ele tivesse recém saído da adolescência. Ninguém acreditaria que era um Deus Atlante antigo que tinha mais de onze mil anos. Ela sorriu. — Eu entendo. Não gosto de dar minha idade também. Perdoe-me pelas perguntas tão pessoais. Mas me sinto muito melhor de que você esteja aqui, agora que sei o que faz de sua vida. Alguma vez você teve que lutar com alguém tão... especial como o pai de Nick? Acheron soltou uma gargalhada. Forte. — Hum, sim. Todo o tempo. Meu pessoal especializou-se verdadeiramente indisciplinados. — Bem. — Ela deu um passo longe da cama. — Se me desculparem, vou lá fora chamar Menyara. Volto em alguns minutos. — Não tenha pressa, Sra. Gautier. — Me chame Cherise, — disse com um sorriso. — Acho que todos sabem que nunca me casei. Mas mesmo assim, apreciou o gesto. Obrigada. — Como queira, Cherise. Depois de que se foi Acheron sentou-se no sofá. — Então o que foi o que aconteceu? — Com meu pai? — Não, com seu ataque. Nick suspirou. — Não sei. Estão acontecendo coisas estranhas em torno da minha escola. — Por favor, diz que não são zumbis outra vez.

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Nick riu. — Não, Madaug está proibido fazer jogos. Se seu irmão Eric voltar a encontrar outro jogo, ele tem um imã gigante que vai colocar no adorado computador de seu irmão. — Ouch. — Exato. Não é como se Madaug tivesse precisado da ameaça. Ele aprendeu muito bem sua lição. Acheron assentiu. — Imagino. De toda forma, voltando para tema da escola. Que é o que está acontecendo? — Alguém criou um website e está postando lixo sobre meus colegas de sala. A maioria das coisas é inventada, mas há suficientes verdades para fazê-lo parecer autêntico. Agora os estudantes estão saltando na jugular uns aos outros por isso. —Echrichta. — Saúde. Acheron riu desta vez mostrando brevemente as presas ao Nick. — Na língua atlante, os Echrichta eram os filhos de Pali, o deus da luta e Diafonia, a deusa da discórdia. Seu avô era Misos, o deus atlante da guerra e a morte. Antes das guerras, os deuses atlantes soltavam aos Echrichta para desencadear as pessoas para que estivessem prontas para atacar-se entre si. Esse tinha que ser o melhor sotaque do mundo. Não havia nada que se comparasse, mas apesar do fato de que Acheron fosse um homem, a Nick gostava de ouvi-lo falar em sua língua nativa. — Como pronuncia Ecka-encha-encharada... apimentada? — Você tem que mover, travar e mover a campainha na parte de trás de sua garganta no R. É gec-RAJ-ta. — Sim, eu vou parar antes que eu me envergonhe. Então eles pareciam seres humanos na aparência? Horríveis monstros de muco nasal? Ou o que? — Eram extremamente bonitos. Ao menos no exterior. No interior... Echrichta literalmente significa. “A que revolve o excremento.” Nick riu a gargalhadas. — O que? Sério? Acheron assentiu. — Eu juro. Na minha época, em Atlântida, os homens eram respeitados. As mulheres eram temidas... E havia uma boa razão para isso. Não há fúria no inferno como a de uma mulher despeitada. Nick estava totalmente de acordo. As mulheres e as garotas eram rancorosas como ninguém. Sue Tilling ainda estava zangada com ele por esbarrar com ela no pátio de jogos do jardim de infância. — Tenho que dizer que você me assusta como a merda a maioria dos dias. Kody me deixa mudo apenas com um levantar uma sobrancelha. 161


— Exato. Os homens podem bater-se aos murros e mesmo assim ficar amigos. Com uma mulher, uma vez que se fez um inimigo, sempre vai ser seu inimigo. As mulheres podem ficar esperando por anos, como víboras, esperando a chance para atacar. Nunca esquecem e raras vezes perdoam. Nick se encolheu. — Você está me assustando, Ash. — Perdão. Mas lembre-se disto. Nenhuma mulher assassinou um homem enquanto este lavava os pratos. Nick franziu o cenho. — O que? — É outro dito atlante. Se você mantém feliz uma mulher, ela não vai ter tanto desejo de cortar-lhe a garganta. — Ah, não, todos vocês estavam loucos. Então, o que faziam estas deusas de merda, criadoras de problemas? — O tipo de coisas que você comentou que está acontecendo em sua escola. Iam e contavam os segredos de alguém e diziam que haviam escutado de outra pessoa, geralmente de algum amigo. Ou diretamente inventavam coisas para quebrar amizades e lares. Para isso é que viviam. Iam aos humanos e lhes sussurravam aos ouvidos, brincando com seus medos. Às vezes era abertamente e outras era tão sutil como dizer. “Nick, esta tarde eu vi a Kody no shopping. Cara ela estava muito feliz ultimamente. E seu amigo Tom...uau”. Caramba. pode-se dizer que tem muito dinheiro. Roupas caras. Um Rolex. Era um tipo inteligente e impressionante. — E isso como isso me faria sentir mal? — Digamos que Kody disse a você que ela não podia sair com você essa mesma tarde porque tinha que estudar. — Sim, tudo bem. Isso não me deixaria muito feliz. Acheron assentiu. — E provavelmente você teria uma discussão com ela por essa mesma razão, especialmente se ela não tivesse feito isso. Pensaria que ela estava mentindo a respeito, e ela pensaria que você não tinha confiança nela. Nick silvou baixo. Percebia quão feia ficaria essa situação rapidamente. — É como um maligno silkspeech. Ash congelou por um segundo. — Como você sabe o que é Silkspeech? Nick deixou sair seu sotaque cajun em toda sua glória. — Estive me juntando com uns góticos.

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Isso pareceu aplacá-lo. — Silkspeech não é somente a ferramenta de deuses e demônios. Embora seja potente em suas mãos, é letal nas mãos de um humano que é incapaz de sentir a felicidade. Ou pior, um que fica feliz machucando a outros. As pessoas ciumentas que comercializam intrigas e que sentem a necessidade de derrubar o resto das pessoas para sentirem-se superiores. — Ah, conheço gente assim. — Infelizmente, Nick. Todos conhecemos gente assim. Sim, e era algo triste. A enfermeira voltou para cravar Nick com o olhar. — Esses homens escaparam. Mas vou descobrir quem eram. O que estavam fazendo no quarto, afinal? — Protegendo-me. — Do quê? —perguntou, gesticulando com os braços. Acheron levantou uma sobrancelha, curioso. Nick não queria dizer nem a ela e nem a Ash sobre a parte dos demônios, então... — Um criminoso escapou da cadeia e está tentando me matar. – Aí vamos, a verdade com alguns detalhes vagos. Talvez os Echrichta fossem excelentes mentirosos, mas Nick era excelente dizendo verdades criativas. Algo que era um talento em si mesmo. — Vou avisar a segurança sobre isto. — Ela examinou sua bolsa de soro, e depois colocou uma seringa. Acheron inclinou a cabeça. — O que está lhe dando? — Um pequeno sedativo. Um que já o estava afetando. Deus, esse era realmente forte. O quarto ficou fora de foco. Ele escutou Acheron lhe dizendo algo, mas não conseguia decifrá-lo. Que estranho. Inclusive isso lhe causava alucinações. Em vez de ver a enfermeira, podia ver seu pai. Não, esperem... Esses eram seus poderes que apareceram. A enfermeira era seu pai. Nick tentou falar, mas já não podia. Tudo o que pôde escutar foi o som dos aparelhos enquanto desmaiava.

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CAPÍTULO 12

— Vem pra casa, menino, e será recompensado. Nick escutou uma doce voz. Era feminina, mas não era a de sua mãe. Um calor o rodeou enquanto tentava encontrar a mulher que não viu através da escuridão que o rodeava. Lute contra ela, Nick. — Essa era Kody. — Pense em mim, amor, e vem onde está minha voz. Nick hesitou. Não estava nele seguir a ninguém cegamente. — Como sei quem é você? — Você me conhece, Nick. Sim. Mas ele não era estúpido. Também não era crédulo. — Se realmente for Kody, me diz onde nos conhecemos. — Na escola. Isso era impreciso e ao mesmo tempo provável. — Em que parte da escola? —Na sala, tolo. Ele imitou um ruído de um timbre. — E pela pergunta de um milhão de dólares... Está absolutamente errada. Não ganhou o Nick, cretina! Agora ele escutava uma voz grosa de um homem. Em algum canto de sua cabeça ele se perguntava se esse seria Noir, mas não havia maneira de saber com segurança. E ele não perguntaria por que a última coisa que queria era que o deus sombrio obtivesse algum tipo de recarga em seus poderes. — Nick? Ele saltou ao som da voz “de Kody” bem atrás dele. Uma suave luz verde brilhava para que pudesse vê-la. Só que... Sua mente se concentrou na forma em que estava vestida. Seu cabelo castanho havia sido puxado para trás de seu rosto, e estava erguido em uma trança intrincada, enquanto o restante de seu cabelo caía por suas costas. Vestia um top de couro com franjas que caíam na frente e nas costas. Sua saia curta de couro também tinha franjas e tiras que prendiam bainhas presas a seus braços e pernas. Junto com outra espada e tiras que cruzavam suas costas em diagonal.

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Emoldurados com um delineador negro, seus olhos verdes eram da cor das esmeraldas. Ela sorriu antes de dar-lhe um beijo suave no queixo. — Fecha a boca, amor, você está babando. Provavelmente ele estava. Qualquer heterossexual normal de quinze anos faria isso. — Minha namorada é lin-da! — Mas depois lembrou do truque de máscaras. — É a minha namorada, não é? Ela entregou-lhe sua espada e seu grimoire. — Sim, eu sou. Somente a verdadeira Kody teria conseguido trazê-los, e só ela sabia onde estavam guardados. Agradecido de que ela o conhecesse tão bem, ele pegou suas armas, e depois escutou o som de algo que batia as asas com força no céu sobre eles. — Aonde estamos? —No Reino Fringe (Extremo). Ela disse isso como se soubesse exatamente do que estava falando. Mas ele não tinha ideia. — Não entendo. Onde fica este Reino? O que é este lugar? — Imagine uma membrana protetora que mantém os mundos dentro de suas respectivas fronteiras. Nick cobriu a orelha com a mão, enquanto o som tornava-se mais alto. — E o que está causando esse ruído? Antes que ela pudesse responder, eles foram atacados. Eram como uma mistura de macacos voadores com dragões. Seus corpos eram de humanóides, mas seus rostos tinham forma de dragão e a pele pálida parecia feita de escamas. Suas longas presas se arqueavam saindo de suas bocas. Kody girou sobre suas costas e atacou o primeiro ao chegar onde eles estavam com um golpe de espada. Os outros desceram sobre eles rapidamente. Puxando o punho de sua espada, ele segurou-a na palma da mão e imaginou-se do tamanho de um claymore escocês. Rapidamente ela se expandiu a esse tamanho para que ele pudesse lutar. Com seu coração pulsando, ele uniu-se às costas de Kody enquanto lutavam contra as bestas. — Não deixe que eles nos separem, — advertiu-lhe Kody. — Não vou deixar que façam nada. — Definitivamente eles tinham a vantagem de ser a equipe local, e estavam usando isso.

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Hoje eu não vou ser o aperitivo. Ao menos essa era a intenção. Mas ter a intenção de fazer algo, e ser capaz de fazer... Era mais fácil dizer que fazer. Nick se agachou tanto como pôde enquanto um dos dramonks vinha para ele. Ele se levantou de repente e enterrou a espada no meio do peito. Aos gritos, a criatura virou-se e estirou sua garra para ele. Um segundo, pensou que ali tinha terminado tudo para ele, no próximo, Kody o empurrou para trás e ficou entre eles. Em vez de agarrá-lo, ele dirigiu-se a ela. Ela gritou em agonia e raiva quando ele a levantava do chão e lançava-se para o céu escuro, levando-a em suas garras.

Nesse momento, uma fúria como a que nenhuma vez havia sentido antes o inundou. Sua visão nublou-se enquanto as palavras se formaram em sua mente. Quando as disse em voz alta, saíram em um grunhido gutural, em uma linguagem que sabia que ninguém o havia ensinado. Ela é minha. Nada e nem ninguém mais que Ambrosius Malachai vai tocá-la. As palavras soaram como uma explosão supersônica que sacudiram o ar ao seu redor e a terra sob seus pés. Deixou que as palavras continuassem enchendo o etéreo até que Nick se fundiu com ele. O etéreo é teu para governar. Respira Ambrosius, respira. Deixa que o poder te encha. É seu sangue. Sua linhagem. Seu direito. Nick o sentiu filtrar-se dentro dele, denso, embriagando-o. Algo entrou em sua boca. Tinha o gosto de sangue, mas em vez de causar repulsa, ele o desejava. Atirando sua cabeça para trás, ele bebeu até estar satisfeito. E com cada sorvo, ficava mais e mais forte... A morte é minha amiga. Caminha a minha direita. A guerra caminha a minha esquerda. Sou teu comandante e o único a que servem. E Kody era sua escolhida. Ninguém ia tirar-lhe nada. Não sem pagar com suas vidas. Abaixando sua cabeça, ele estendeu seus braços, e abrindo suas asas negras, lançou-se para ela. Uma dos animais de Noir foi pra ele. Ele atirou-lhe uma bola de fogo. Com um esguicho, ele explodiu em pedaços. Nick ignorou tudo enquanto fechava a distância entre ele e Kody. 166


Kody viu uma sombra que escurecia a forma da criatura que a sustentava. Ela olhou para cima, esperando outro inimigo. Mas o que encontrou foi muito pior. Nick havia se transformado no Malachai. Sua pele era negra e vermelha, combinada em um lindo desenho que se fundia em suas asas ébano. Seus olhos eram de uma vibrante cor avermelhada amarelada. E ainda assim, era incrivelmente bonito. Nesse instante, ela viu a verdadeira razão pela qual ele tinha que ser salvo. Ele era único. A combinação do sangue de sua mãe e seu pai. Ele era uma criatura em si mesma. Uma criatura nascida do ódio, criada pelo amor. Uma que lutaria contra os seus para salvá-la. Nenhum outro Malachai jamais faria algo parecido. Voando a uma velocidade incrível, ele agarrou a criatura pela cabeça e partiu seu pescoço. A criatura a soltou. Kody caia através do céu escuro. Até que uma mão pegou a sua. Com seu coração martelando, ela olhou o rosto da morte. Nos brilhantes olhos de uma criatura conhecida por sua crueldade sem piedade. O Malachai não tem coração. Não pode sentir nada mais que ódio. Vive nele. Destinase a senti-lo mesmo que não devesse. É seu leite materno. Seu único prazer provém de consumir o sangue de seus inimigos. Pela primeira vez, ela sentiu medo dele. Nick a levou até uma saliência sobre a caverna em que haviam estado. E quando ele se ergueu, uma armadura completamente negra o cobriu. Pontas de bronze saiam de seus ombros. Suas mãos agora eram terríveis garras. De seu ombro esquerdo, caiam três pêndulos sobre seu torso. Um simbolizava o passado, outro o presente e outro o futuro. As dragonas desciam até a junta de seus bíceps, onde formavam uma ponta afiada. E no meio, uma pedra cor de sangue. Uma pedra que havia sido nomeada “o olho do dragão”. Ela o recarregava e mantinha a sua armadura invisível. Ele até mesmo conjurou sua armadura... Nick era muito jovem para saber como se fazia isso. Normalmente levava anos para que um Malachai dominasse esta quantidade de poder. E quando os outros vieram atacá-lo, Nick os fez explodir com bolas de fogo.

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Assim que a última criatura fosse desintegrada, Nick a enfrentaria. Na penumbra, ela viu que seus olhos cintilavam na cor vermelha. Com seus traços perfeitamente formados, não parecia ter quinze anos. Ela viu o homem no qual ele logo se converteria. Não, ela viu o Malachai. Olhos que foram do vermelho ao amarelo e depois azul e outra vez vermelho. Até que finalmente ficaram em sua cor azul original. Ironicamente, era mais terrível desta forma do que quando tinha os olhos amarelos ou vermelhos. O fazia parecer humano. Vulnerável. Coisas que o Malachai nunca poderia ser. Ele caminhou para ela com uma fúria que brilhava nesses olhos que a deixavam tremendo. Ela se preparou para lutar, mas exatamente no momento em que ela deveria ter levantado sua espada, ela saiu voando de suas mãos - arrancada por uma força invisível. — Nick? Ele girou a cabeça como se não a entendesse. Mostrando-lhe as presas, ele a agarrou pela garganta e a empurrou contra a parede de rocha. Kody o agarrou pelo pulso, tentando forçá-lo a soltá-la. Gritando, ela usou cada granito de força que possuía. Não era suficiente. Ajuda... Nick cheirou o sangue da mulher que segurava. Era mais forte que o sangue humano. Ele o embriagava. Era doce. Ele queria afundar suas presas nela e prová-la. Escutá-la pedir misericórdia. Nós não machucamos as pessoas. Essa voz... Era vagamente familiar. Como a mulher que ele sustentava. Mate-a! Ele a apertou com mais força. — Nick, — ela disse esforçando-se. — Nick... por favor. Nick olhou para a sua mão. A pele era um desenho formando redemoinhos de vermelho e negro. Não. Não era a sua mão. Era a mão de um estranho... Confuso, ele franziu o cenho para a mulher que ele parecia conhecer. As lembranças começaram a surgir. Ou eram sonhos? Não tinha certeza. 168


Até que ela levantou a mão e a apoiou, suave, em sua bochecha. Esse único e suave toque, leve como uma pluma fez desmoronar o ódio e a raiva que ele sentia. Suas pálpebras, de repente, pareceram pesadas. Mas enquanto ele as fechava, recordou seu toque. Seu sabor. — Kody. — Disse seu nome como uma prece, embora sua voz de demônio retumbasse como um trovão sobre o rio. Ele deixou que ela pegasse sua mão e a afastasse de sua garganta. Preparando-se para seu ataque, sentiu que seu ódio ressurgia. Até que ela beijou a mão que ele havia posto anteriormente ao redor de sua garganta. Kody percebeu que tinha que mover-se devagar. Nesta forma, Nick era algo assim como um bebê furioso no corpo da criatura mais letal que jamais havia nascido. Neste ponto, o Malachai o controlava e não o contrário. Ele hesitou enquanto tocava a bochecha de Kody com suas garras. — Você acordou por mim? – ela perguntou-lhe. Assentindo, ele aproximou sua cabeça à dela. Mesmo em sua forma de demônio, Kody aceitou seu beijo. Ela deveria odiá-lo, e até assim, ainda que nesta forma, ela via seu verdadeiro eu, e não era um monstro. Seu Nick podia amar, e mais que tudo, ele possuía seu coração. Ela era uma criatura de luz e suavidade. Estava em seu sangue destruir os que eram como ela. Só que ele não queria fazer isso. Especialmente quando ela o abraçava pelos ombros e o segurava perto dela. E em seguida, ela começou a cantar baixinho, sua respiração fazendo cócegas na orelha. Uma suave canção de ninar como as que sua mãe lhe cantava quando era criança. Ele deixou que o som de sua voz e a suavidade de sua mão em seu cabelo o banhasse. Isso impregnou como algo inclusive mais quente que o seu ódio. Ele estava satisfeito em estar ali. Até que uma dor aguda atravessou seu peito. Kody se afastou com um suspiro. Assim que ela se afastou, ele viu a lança que havia sido cravada em suas costas tão profundamente que saia através do seu peito. Nick cambaleou. A agonia era diferente de toda dor que jamais conheceu. Colocou-o de joelhos. — Baby? — O horror em seus olhos verdes avisou que ela não fez parte deste ataque. Por alguma razão, isso deu-lhe forças. Virando-se, ele viu quem o havia atacado. Seu pai.

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Grunhindo, baixou sua cabeça para poder focar seu olhar de demônio em quem o havia ferido. Adarian colocou seu polegar no centro da testa de Nick da mesma forma que havia feito antes. Só que desta vez, Nick não sentia dor. — Perdoe-me filho. Mas preciso... Seu pai não conseguiu terminar essa frase. Nick havia quebrado a espada que saia de seu peito e a havia usado para cravá-la em Adarian. — Nunca subestime um cajun em uma luta, velho. — Ele empurrou Adarian. Boquiaberto aberta, Adarian recuperou-se. Olhou para a ferida que Nick havia deixado em seu abdômen, e em seguida para ele novamente. Seu próprio sangue cobria suas mãos. Nick lambeu os lábios quando o aroma do sangue lhe chegou. Toda vez que um Malachai consumia outro, tomava seus poderes, suas forças, mas nenhuma de suas fraquezas. Se misturasse o sangue de Adarian com o seu próprio... Ele riu. Ninguém seria capaz de dominá-lo. Não teria medo de Noir nem de ninguém mais. Com esse pensamento, acima de outros em sua mente, ele deu um passo para frente. Adarian virou-se e desapareceu. Nick quis segui-lo. Mas quando abria suas asas para voar, sentiu essa apreciada mão em seu braço. — Deixe-o ir. Mesmo assim, ele não quis escutar. Não até que sentiu lábios dela nos seus próprios. Isso dissolveu sua sede de sangue e provocou um tipo diferente de fogo nele. Kody sorriu, e depois franziu o cenho como se algo lhe causasse dor. Foi nesse momento que ele percebeu que a lança de seu pai o havia atravessado, para chegar em Kody. Não... Ela não. — Nekoda? Suas pernas cederam. Nick a levantou em seus braços. Seu sangue se espalhou por sua armadura e sua linda pele. Seus traços empalideceram.

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Ela levantou uma mão para tocar seus lábios. — Seu sangue é veneno para meu povo. Isso contraiu seu estômago. — Vou conseguir ajuda. — Você não pode. Não posso ir a um médico humano. — Ela fechou seus olhos. — Fica comigo! — ele grunhiu com força. Uma pequena lágrima rolou por sua bochecha. Uma que o destroçou. Ela sempre era tão forte e eterna que ele havia esquecido quão pequena ela era. Ele apenas sentia seu peso em seus braços. — Você é uma criatura da morte, Nick. Não vai conseguir que me mantenha com vida. Esse poder não te pertence. Uma dor inimaginável o atravessou enquanto pensava como seria viver sem ela. O oco que deixaria dentro dele. Era frio e doloroso... Ele não podia respirar. E foi ali que ele soube a verdade. Ele a amava. Ela era sua força, quem o ajudava a sobreviver os dias mais duros. O som de sua voz... O toque de sua mão. Isso era o que mais queria dela. Não seu sangue. Sua vida. Eu a amo. Agora entendia o que todos haviam tentado dizer-lhe. Era assim como se sentia amar. Mas não era agradável. Isso perfurava com mais ferocidade do que o que seu pai havia feito. Cara! Isso o sugou ao perceber que isso significava mais para você que a própria vida. Por isso Acheron odiava tanto isso. O atlante tinha razão. As pessoas davam ao outro uma parte de si mesmo. Uma parte que não podia reivindicar. E vai embora antes que alguém saiba. Ele não fazia ideia de onde ou como ele havia dado seu coração a ela. Mas não podia negar a desolação interior só ao pensar em perdê-la para sempre. Tenho que procurar ajuda. Traga-a mim, Malachai, e eu a salvarei para você. Desta vez ele reconheceu a voz que o provocava. — Noir? Sim, vem a mim Ambrosius, e cuidarei de ambos.

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Nick quis obedecer, mas depois parou. Vivo e forte, ele não iria deixar-se enganar por ninguém. “Eu cuido de ambos” soava como uma ameaça para ele. Kody, gemeu, atraindo sua atenção para ela e os segundos de sua vida, que se acabava. O que ele deveria fazer? Ela morreria a qualquer momento. Sua vida ou uma eternidade de escravidão para ele? As palavras de Kody agora o atormentavam. Às vezes nossas decisões são sobre o mal menor. Mas apenas nós podemos tomá-las. Era destino ou livre arbítrio? Ele não sabia. E honestamente, neste momento, também não importava. Ele devia tomar uma decisão, para bem ou para mau. Vida ou morte? Escravidão ou liberdade?

CAPÍTULO 13

Kody despertou na cama mais suave jamais esteve. O pânico a destruiu quando recordava o que havia acontecido. Ela foi atrás de Nick para protegê-lo e seu pai a apunhalou. A última coisa que recordava era Nick em sua forma de demônio. A forma que não deixava que sentisse nada por ninguém. E mesmo assim, o feroz Ambrosius Malachai havia chorado enquanto a segurava e lhe implorava que não morresse. Noir... Ele havia feito um trato pela vida de Kody. — Oh, Nick, — ela sussurrou. Diga-me que você não fez isso. Olhando ao redor do quarto, ela franziu o cenho. Estava em uma antiga cama de dossel. Os postes estavam esculpidos à mão e se elevavam até um teto vistoso que fazia uma cúpula sobre ela. A parte mais baixa era grafite de cor de céu com nuvens. Na parte mais alta da cúpula, alguém havia pintado para que parecesse um templo antigo. O cortinado da cama era de uma cor azul marinho com fios dourados e de cor Borgonha...

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Ela sentou-se, e imediatamente desejou não ter feito isso, quando uma quebra de onda de náuseas e dor a afetaram. Foi nesse momento que viu que estava usando uma camisola de flanela branca de algodão. Era quente e acolhedora, mas... Isso estava começando a assustá-la. Quem havia tirado sua roupa? Quem havia passado? Onde estava? Ela sabia que não estava morta. De alguma forma ela havia voltado para reino humano. Mas como? Olhando dentro de sua camisa ela viu uma cicatriz no lugar onde havia sido apunhalada. Bem, a luta no Reino Fringe não foi um sonho... E agora estava começando a ficar zangada. Quem havia se atreveu a tocá-la enquanto estava inconsciente? O que aconteceu a Nick? E o mais importante. Onde estava Nick agora? — Então voltou dos mortos? Ela levantou a cabeça para encontrar Caleb parado na porta. Seu cabelo escuro estava penteado para trás, o que somente confirmava como era bonito. Se ele não tivesse esse probleminha de possessão demoníaca... — Eu estou em sua casa? — perguntou-lhe. — Não diga isso de forma tão ofendida. Tenho gente que limpa, sabia? — Perdão, — ela suspirou. — Você não faz ideia de como é confuso despertar em um lugar estranho sem uma ideia de como chegou a esse lugar. Caleb riu. — Claro que sei. Acontece seguidamente comigo. Ela revirou os olhos para o estilo de vida que ele descrevia, dava-lhe medo. — Sim, mas eu acordei sozinha nesta cama. Ele inspirou de repente. — Esse foi um golpe baixo, Kody. Talvez, mas... — Você vai me dizer como cheguei aqui e quem me despiu? Ele levantou as mãos em sinal de trégua. — Isso foi seu menino, não eu. Se quiser esbofetear alguém, vou buscar o Nick. Foi ele que te trouxe aqui. Isso a preocupou ainda mais. — Ele lhe disse algo sobre o que aconteceu? — Apenas que os atacaram, e que você ficou com a pior parte. Ele precisava de um lugar seguro para deixá-la até que ele se curasse. Ambos decidimos que levá-la para a casa dele seria um terrível engano. Sua mãe o poria de castigo até sua velhice sem mencionar que ela iria querer saber como foi que a feriram e por que você não foram a um hospital. Isso era verdade. De todo modo.

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E nada disto estava acalmando seus medos. Ela deveria estar morta. Como ele a salvou? Nenhuma das possibilidades a atraía. Todas tinham o mesmo final, Nick dando a si mesmo. — Onde ele está agora? Caleb olhou seu relógio. — Havia uma hora, estava no Santuário. Ele e sua mãe deveriam ir à escola em alguns minutos. Há uma reunião de pais e alunos. — Ele baixou seu braço, e estreitou seu olhar nela. — Está me deixando nervoso com esse interrogatório. O que é o que você sabe que eu não sei? — Noir ofereceu-lhe um trato. Temos que descobrir se ele o aceitou... Caleb ficou branco como uma folha antes de começar a praguejar baixo. — Ele me pareceu normal quando o vi. Mas agora também estou preocupado. Esse menino encontra mais problemas do que... Ela não podia estar mais de acordo. Assim como Bubba e Mark, eles não podiam deixar Nick sozinho por cinco minutos que ele já se estava metendo em algo que não devia. Ou esse algo estava tentando consertá-lo. De qualquer forma, cuidar de suas costas era um trabalho de tempo integral. Ela suspirou pesadamente. — Quanto tempo estive inconsciente? — Quase quatro dias. Ela se encolheu. — Quatro dias? Sério? Está brincando comigo? — Por que eu brincaria com algo assim? —Não sei. Você é um daeva. Alguns de vocês podem chegar a ser retorcidos. — Vou lembrar-me disso da próxima vez que você precisar que alguém salve sua bunda. Ela ignorou a ameaça. Ele veio quando ela o chamou. Sim, ela poderia depender dele nesse sentido. — O que foi o que eu perdi? — O mais importante. Hoje não houve aula, e não, — acrescentou rapidamente, — eu não causei um incêndio para conseguir isso. É esse maldito website que ainda estamos tentando localizar. O dono tem a todos transando uns com outros como animais. Houve oito brigas ontem, antes de entrar na aula. Então o diretor Head programou reuniões com os professores, estudantes e pais em um esforço para acalmar aos pais e encontrar os responsáveis... E me deixa muito feliz não ser emo nem gótico.

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Esso era uma opinião que ela não compartilharia com ele — Por quê? Ele fez um som de desgosto. — A quem você pensa que eles têm como suspeitos? Head está convencido que tem que ser um desses garotos estranhos e deprimidos, porque, já sabe, todos tendem a faltar às aulas e a excluir-se dos outros. É obvio. — Ele não tem ideia de quem pode ser, realmente? — Não, e embora ele tivesse uma ideia, duvido se entenderia. Mas dada sua atitude, ficaria feliz em apresentá-lo a Acheron e ver como ele explodia a sua cabeça. Ela riu. Sim, Ash definitivamente faria com que seu estereótipo preconceituoso saísse voando pela janela. — Me dê uns minutos para eu me vestir. Temos que ir procurar o Nick.

***

Nick suspirou frustrado enquanto estavam sentados fora do escritório do diretor, esperando que a secretária fizesse uma cópia de seu dossiê para sua mãe. Ele pensava que a mulher devia ter feito um longo caminho até a fotocopiadora, incluindo a rota pitoresca pela Europa. Ele tinha muitas coisas para fazer para estar parado neste lugar... Mas ao menos Kyrian viria buscá-lo. Depois de ter sido atacado, nem Kyrian nem sua mãe o deixavam ficar perto da porta de saída quando anoitecia. Impaciente para ir embora, ficou em pé e começou a caminhar de um lado para o outro pela área central da sala de espera. Queria fazer um discurso indicando que a secretária tinha genes de caracol, mas sabia que sua mãe não ia tolerar. Todos merecem seu respeito, Nick. Especialmente aqueles que estão trabalhando por algo que você precisa e tornando sua vida mais fácil. Deus os abençoe por isso. Sim, ela não tinha senso de humor com as pessoas que se impacientavam com um trabalhador. — Ei, é Nick! Nick! Ele virou-se para ver a Jill no corredor com seu irmão e duas pessoas mais velhas que lhe pareceram familiares. Mas como eram muito mais velhos para serem os pais de Jill e Joey, ele supôs que seriam seus patrocinadores.

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Jill veio correndo e o abraçou. Embaraçoso. Por que algumas garotas faziam essas coisas? Ele não gostava que o tocassem. Exceto se fosse Kody. Isto... Isto era uma falta de respeito à sua privacidade. Ajude-me. Ela deu-lhe um aperto no braço enquanto o fazia caminhar até a porta. — Nick, você tem que conhecer nossos patrocinadores. — Ela sorriu. — Este é o Nick sobre quem te falava e que tem o mesmo sobrenome que vocês. — Ah. — O homem estendeu a mão para Nick. Ele parecia bastante decente. Seu cabelo cinza tinha indícios de ter sido castanho em sua juventude. Vestido com um lindo pulôver marrom e calças cor cáqui, tinha um aura do Garden District ou Kenner, aparentava ser uma pessoa com dinheiro. E o mesmo mostrava sua fala e sotaque. — É um prazer conhecer outro Gautier. Sei que Jill tem uma boa opinião sobre você. É sempre: Nick isto, Nick aquilo, o tempo todo. Rindo, Jill ficou tão vermelha quanto sua blusa. — A maioria das pessoas pensa o melhor do meu Nicky... Papai. Ele é um bom menino. Um estudante com as melhores qualificações. Está neste lugar com uma bolsa completa. Foi um dos melhores jogadores de futebol americano até que o mandaram para o banco por uma lesão. E já está trabalhando, economizando para a universidade. Sem mencionar que faz trabalho voluntário. Toda manhã levanta-se cedo e vai à loja de bonecas da Sra. Liza para lhe lavar as calçadas e a balcão antes que ela chegue ao trabalho, e depois vai à escola, e nem sequer lhe cobra por isso. Nick não tinha certeza do que mais o deixava surpreso. De que sua mãe estivesse orgulhosa dele, ou do fato de que estava parado frente aos seus avós. Não admirava que eles lhe parecessem familiares. Alguma parte dele devia ter lembrado deles, depois daquela vez que os havia visto passar pelo shopping. E agora que ele sabia, definitivamente percebeu como sua mãe se parecia com a sua avó. Colocando-se em pé, sua mãe moveu-se para estar ao seu lado. — Nick, estes são seus avós. Você sempre teve curiosidade sobre eles. Bom, aqui estão. A mandíbula da Jill caiu no chão enquanto os olhos de Joey saltavam. — Pensei que havia dito que não tinha filhos, Sr. Gautier. — Seus avós ficaram como tomates. Era óbvio que não estavam contentes com o fato de que Jill se lembrasse disso.

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O Sr. Gautier o olhou com desdém. — Ouvi dizer que trapaceou para entrar nesta escola. Sua mãe o olhou com descaso. — Isso é inveja. Mas ele fez o exame duas vezes, porque estavam surpresos com seu desempenho superior. E ele teve a mesma nota em ambos os exames. Cem por cento. Respondeu corretamente todas as perguntas, incluindo as não obrigatórias. Aparentemente nos cento e trinta anos que a escola funcionou assim, meu Nicky foi o único que tirou uma pontuação perfeita. Ele tem sido cortejado por algumas das melhores universidades da Ivy League no país desde então. Caramba, sua mãe nunca se gabava de nada. Não dava importância a essas coisas. Sempre humilde em seus pensamentos e nas coisas que fazia. Acima de tudo, era humilde no que dizia. Ela falava com tanta insistência “honrar a sua mãe” e a regra de ouro, etc. Foi a vez da Sra. Gautier de ser desagradável. — Você ainda está trabalhando nesse galinheiro, vendendo-se por dinheiro? Sua mãe franziu os lábios. — Eu nunca fiz isso. — Não foi o que me disseram. — Então mentiram. E não, não trabalho ali. Sou gerente diurna de um restaurante. Faz mais de um ano que tenho esse trabalho. — E está esperando que eu acredite? — Seu pai olhou para Nick de cima a baixo. — Da mesma forma que eu acredito nas coisas que disse dele. Por Deus. Olhe para ele. Em quantas brigas esteve? Sua mãe abriu a boca para responder, mas antes que pudesse fazer isso, Kyrian entrou no escritório para levá-lo ao trabalho. Vestido com um traje Armani com uma camisa preta e uma gravata branca e preta, parecia como um rico homem de negócios e o príncipe que foi alguma vez. Seu cabelo loiro estava perfeitamente penteado, e se Nick não se equivocava, esses eram um par de sapatos de dois mil dólares em seus pés. E pela primeira vez, ele o viu sem usar seus óculos de sol. Ele parou galantemente na frente a eles. — Cherise, ma petite, cheguei cedo? Ela sorriu para ele. — Não... Kyrian — Sem dúvida ela teve que esforçar-se para dizer seu nome já que sempre havia insistido em chamar-lhe de Sr. Hunter. — Perfeitamente pontual. 177


Ele devolveu o sorriso. — Nick, tive que levar o Bentley e o Ashton Martin à oficina para uma mudança de óleo. Temo que estou apenas com os automóveis com dois assentos para dirigir esta noite, então eu estou com o Lamborghini. Mas como não quero que caminhe até sua casa depois desse terrível assalto, Ash vai chegar em alguns minutos para buscá-lo com seu Jaguar. Tudo bem? Nick estava ainda mais surpreso. Kyrian nunca falava de seus automóveis dessa forma. Nesse momento poderia dar um beijo no seu chefe por sua habilidade para ler a mente. — Certo. — Nick sorriu. — Ele já me prometeu que eu iria dirigi-lo. — Ah, olá, Kyrian, Cherise... Nick, como se sente filho? — disse o pai do Madaug, o Dr. St. James chegou ao escritório e colocou uma mão no ombro ao Nick. — Madaug me contou o que aconteceu. Coitado. E no seu caminho para ajudar a Sra. Liza a fechar sua loja. Ela está tão aflita. — Sim, senhor. E eu me sinto muito mal por isso. Continuo dizendo-lhe que não foi sua culpa, mas ela não me escuta. — Sim, Liza é assim. — O Dr. St. James pulou e depois colocou sua mão em seu bolso. — O trabalho, como sempre. É melhor responder a esta chamada. Cuide-se. Vejo-os depois. — Boa noite, — disse-lhe Nick. Seu avô franziu o cenho. — Como conheceu o filho do Dr. St. James? — Nick deu de ombros. — Ficamos amigos quando eu lhe dava aulas particulares. — Isso era uma meia verdade. Mas se lhes dissesse que haviam ficado amigos devido a um jogo para controlar a mente que convertia seus jogadores nos zumbis que Madaug havia desencadeado na escola, não ficaria muito bem. — Aulas particulares? Ao Madaug? — seu avô perguntou sem conseguir acreditar que Nick fosse capaz de ler, muito menos de ajudar a mais alguém. — Mas Madaug é um gênio. — Em computação e ciências. Mas sofre no Inglês e em Estudos Sociais. Sei. Ele não queria ter nada a ver com ele e nem com sua mãe. Era óbvio pela repulsão em seus rostos, e o desdém em seus olhares. — Vamos Jill, Joey. Temos que ir. Sua mãe não disse uma só palavra até que se foram, depois virou-se e deu um abraço em Kyrian. — Muitíssimo obrigado por isso, Sr. Hunter. Você é o melhor. Kyrian se afastou. — Não há problema. Vivo para agradar. 178


— E esta noite, definitivamente fez isto. Muito obrigado. — Ela despenteou o cabelo de Nick. — E você tenha cuidado. Vejo-o depois. — Sim, senhora. Logo que a secretária entregou os papéis, todos saíram juntos, para onde Kyrian tinha estacionado seu carro na rua frente à escola. Nick diminuiu o passo ao ver um carro de polícia estacionado e os oficiais caminhando com uma foto que estavam mostrando a seus companheiros de sala. Policia na sua escola nunca era nada bom. Quando chegaram a Stone, ele apontou para onde estava Nick. — É esse que está ali! Nick congelou. Que merda estava acontecendo agora? A polícia foi direito para ele. O maior dos dois estreitou seus olhos. — Você é Nicholas Gautier? — Sim. — Então venha conosco. Nick riu nervosamente. — Acho que não. — Sim, bem. Mas nós sim. — Não, — disse sua mãe, em um tom cortante. — Meu filho não vai a nenhum lugar. — Sim senhora, ele vem conosco. Temos uma ordem de prisão. —Por que motivo? — ele e sua mãe perguntaram em uníssono. — Por estupro e furto.

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CAPÍTULO 14

O olhar no rosto de sua mãe iria assombrá-lo por toda a eternidade, enquanto a polícia o agarrava e o empurrava contra o capô da patrulha, bem em frente à escola, para que todos vissem. Nick fez um gesto de angústia enquanto os policias o apalparam bruscamente, e depois algemaram suas mãos atrás de suas costas. Depois de algemado, o oficial maior o agarrou pelos cabelos e o levantou do capô. — Mamãe, eu não fiz isso! Não fiz. Juro-lhe isso. Por Deus! — Isso é o que todos dizem. — O policial olhou para o seu companheiro. — Não seria lindo se, apenas uma vez, confessassem e fizessem nosso trabalho mais fácil? Os olhos de sua mãe brilharam em lágrimas. Ele podia ver que ela queria acreditar, mas a dúvida neles... Como ela podia pensar que ele faria uma coisa assim? Nem por um nanosegundo. Ela esteve ao seu lado por quinze anos. Como era possível que não o conhecesse melhor? Ele fez seu melhor esforço para não olhar para nenhum de seus companheiros de sala e nem seus professores, os quais sorriam porque não tinham nenhuma dúvida de que ele era culpado. Esse pensamento o enojava. O único que não o julgava culpado era Kyrian. — Não se preocupe Nick. Vou tirá-lo logo que o processem. Processado. Essa palavra o pegou tão forte, que por um minuto pensou que iria vomitar. — Boa sorte com isso, — disse-lhe o oficial mais baixinho. — Com toda a evidência que temos contra ele, não vai a lugar nenhum até o julgamento. Que evidência poderiam ter contra ele? Ele não havia feito nada. Merda, apenas ontem havia saído do hospital. Enquanto o colocavam no assento de trás, Caleb chegou correndo até onde estava sua mãe. Ele franziu o cenho enquanto ela dizia o que estava acontecendo. Caleb se encolheu, e depois chutou o para choques do carro de polícia. — Ei! — disse-lhe o policial mais baixo. — O que você pensa que está fazendo?

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— O quê? — enfrentou-o Caleb. — Não posso tocar seu automóvel? — Voltou a chutálo. — Quer ir para a cadeia, garoto? — perguntou o oficial mais alto. — Por quê? — Caleb acertou o para choque com mais força. — Esse é um país livre. — Não é quando se está destruindo propriedade do Estado. Caleb levantou a sobrancelha em um gesto desafiante. — Propriedade do Estado? Então meus impostos compraram este carro. Isso não faz com que seja de minha propriedade? — Oh, é isso, seu imbecil? — O policial foi até Caleb. Caleb zombou. — O quê, vamos? Quais crimes? — Vandalismo. Caleb revirou os olhos, e depois gritou aos seus colegas. —Venham, vejam a violência inerente no sistema! Ajudem! Estou sendo reprimido! — Entre no carro! — grunhiu o policial, seu sotaque sulino em todo seu esplendor. Colocaram Caleb do outro lado. Nick o olhou com boquiaberto. — O que está fazendo? Caleb olhou de relance para os policias que avisavam sobre sua detenção. — Aonde você vai, eu vou Gautier. E não há maneira de ir para a cadeia sem reforços. Está a ponto de descobrir por que Adarian vive em uma prisão. Nick não sabia que pensar sobre isso, exceto que seu pai estava ali porque era um assassino. — O que quer dizer? Os policiais abriram a porta novamente e entraram em carro. Há algumas coisas que não têm explicação - tipo como... Bom, você sabe. Sem mencionar a loucura que você quando fez, o que seja quer que tenha feito para salvar Kody, ou por que a cor da pluma que tira da secadora é exatamente a mesma cor que tem sua meia que lhe falta. Ele projetou sua resposta na mente do Nick. Um Malachai na cadeia era definitivamente uma dessas coisas que não tinham explicação. Caleb voltou sua atenção a policia. — Então por que idiotice está me levando para a cadeia? 181


Eles não lhe responderam. Em vez disso o policial mais alto suspirou irritado. —O que mais odeio são os garotos bocudos. Caleb se inclinou para frente no assento. — Quem é a pessoa mais malvada que já prenderam? — O que você está fazendo? — disse Nick surpreso. Caleb deu-lhe um sorriso malévolo. — Há coisas que não se podem evitar. Esta é um imperativo moral para mim. Tenho que irritar os valentões. A única coisa que você vai conseguir é que lhe dêem um corretivo. Um corretivo? Um sopapo, que corrige seu comportamento. Caleb revirou os olhos. Nick não disse nada mais enquanto esteve sentado lá, tentando descobrir por que pensariam que havia estuprado alguém quando era o crime mais repugnante que podia ocorrer. Quem o acusou? E por quê? Quando chegaram à cadeia, foram bastante bruscos tirando-os do carros e levando-os ao prédio. Assim que puseram um pé dentro, Nick viu um rosto familiar, mas não tinha certeza. Virgil Ward, advogado defensor. E no caso do Virgil, a frase advogado sanguessuga tinha todo um significado diferente, já que também era um vampiro. Seu cabelo escuro era curto, e um pouco enrolado. Quando o penteava para trás, não parecia ser muito maior que Nick ou Caleb... Ao menos para Nick. Mas Virgil projetava uma imagem mais adulta para todos os demais. Todos ao seu redor o viam como alguém de trinta e poucos. Vestido com um caro terno listrado preto, feito sob medida, e um par de sapatos Ferragamo, vestia uma camisa violeta escura e uma gravata, negra, cinza escura e violeta que tinha pequenas caveiras de coelho e ossos cruzados. — Cavalheiros, — disse, inclinando sua cabeça para os oficiais que os levavam. — Estes são meus clientes. Espero que os tratem muito bem. O oficial mais alto grunhiu com frustração. — Eu devia saber... Suponho que quer que os ponha em uma cela particular. — Isso seria prudente.

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O outro oficial também grunhiu. — Eles não vão começar a comerem-se entre si ou a algum de nós, não é? Virgil riu. — Eles não são zumbis. Mas um deles tem uma dieta especial a se quiserem saber. O oficial mais alto resmungou. Virgil olhou para Nick, e depois projetou seus pensamentos. — Não se preocupe, garoto. Sei que é sua primeira vez aqui dentro. Mas estamos preparados para lutar com os detentos com necessidades especiais. — Necessidades especiais? Cara, eu ando bem da cabeça. — Alegro-me por você. Porque às vezes, eu não ando. Isso não era reconfortante quando vinha da boca de seu advogado. Enquanto passavam perto de um grupo de bandidos que gangues, um dos membros maiores investiu contra Nick com um grunhido como se fosse atacá-lo. No momento que fez isso uma corrente elétrica percorreu o corpo de Nick. Uma que colocou todos os seus sentidos em alerta e seu coração pulsasse a mil com a expectativa. De repente, Nick viu e escutou tudo com uma incrível clareza. E em vez de agachar-se, ele lançou-se contra o bandido, querendo seu sangue. Os olhos do homem arregalaram, então ele recuou. Sem consciência de seus atos, Nick tentou de liberar do controle do policial para voltar aonde estava o bandido. Caleb ficou em seu caminho. — Olhe para mim, Nick. Por alguns segundos, ele não conseguiu entender o que Caleb dizia. — Nick! – ele gritou. Isso finalmente o tirou do seu transe. — O q-q-que? — Você lembra o que eu disse sobre seu pai? Sim, Nick também sentiu isso. Estar perto desta quantidade de gente, corrompida pelo ódio, a ira e a violência, era como ser um brinquedo a corda, que alguém de repente tivesse colocado pilhas. Seus poderes estavam completamente recarregados e ele se sentia mais vivo que nunca. Era embriagante.

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Ele olhou a Caleb. — Acontece também com você...? — Não tinha muita certeza de como chamar. — Recarga? Não como a você. Essa pequena diversão é somente para a sua espécie. — E ele tinha razão. Agora entendia por que seu pai ficava na prisão. Era como respirar ar puro e caminhar ao sol. Na verdade era uma analogia ruim porque apenas um idiota sentiria como puro um ar cheio de transpiração fétida, urina e vômito que impregnava o prédio, mas era o exemplo mais próximo que conseguiu pensar. Os policiais o levaram a uma sala especial que era reservado para os clientes de Virgil. Foram registrados rudemente, tomaram suas impressões digitais, e depois lhes tiraram as fotografias correspondentes. Honestamente, Nick queria chorar, porque isso o recordava a primeira e única prisão que teve quando era uma criança. E mesmo que o tenha sido levado a uma delegacia em um carro de polícia, não o processaram. Era tão humilhante. Ele olhou para Caleb, enquanto a culpa o esfaqueava. Ele era a única razão pela qual Caleb estava neste lugar. Que Deus abençoe Caleb por sua lealdade. Nick se encolheu ao ver a macacão laranja que o forçaram a usar. Que merda, o haviam confiscado até os cordões. — Me perdoe Caleb. Não quis te colocar nisto. Ele deu de ombros. — Acredite, isso não é o pior e nem a coisa mais humilhante que aconteceu na minha vida. E enquanto estivermos aqui, você deveria rezar para que isto seja a pior coisa que te aconteça. Ele tinha razão. Ainda assim, doía. Embora não houvesse sido uma pessoa melhor e houvesse feito algumas coisas questionáveis, nenhuma vez pensou realmente que seria preso, com acusações reais que levariam a uma sentença na cadeia se considerado culpado. Era o tipo de coisa que acontecia com pessoas como seu pai e com os lixos com os quais se juntava. E agora havia acontecido a ele. Levaram-nos a uma sala que tinha apenas uma cela de contenção. Felizmente estava vazia. Os policiais os colocaram dentro, e depois os fizeram segurar os braços estirados através das grades para tirar suas algemas. Assim que os policiais se foram, Virgil entrou para falar com eles. — Estupro e furto, não é? — Eu não fiz isso.

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Virgil não respondeu a essa afirmação. — Eles dizem que têm um vídeo. Nick negou com a cabeça. — É mentira. Eu não fiz isso. Caleb se apoiou nas barras. — Quando ocorreram os supostos crimes? Virgil tirou sua agenda eletrônica e abriu um arquivo. — O roubo foi ontem à noite, tarde, pouco antes da meia-noite a uma joalheria, de onde levou dinheiro e um único colar. E o estupro ocorreu por volta das três horas da manhã. Onde você esteve nesse horário? — Em casa. Na cama. Virgil tomou nota. — Tem alguma testemunha? — Não, estava sozinho, na cama. — Pobre de você, em mais de um sentido. Sem houvesse alguém que confirmasse seu paradeiro... E como eles têm evidência fotográfica... — Virgil franziu o cenho. — Olhe nos meus olhos, garoto. Nick olhou. Depois de um minuto, Virgil pestanejou, depois fez outra observação. — Bem, você está dizendo a verdade. A propósito, Nick, você tem a vida mais ferrada que eu conheço. Ou é mais aborrecida do que chupar um prego, ou está a ponto de morrer. Não há meio termo com você. Talvez queira trabalhar isso. Só pode estar brincando! — O que você acha que e eles vão fazer com ele? — perguntou Caleb. — Quem dera eu tivesse uma melhor resposta para você, mas... tudo depende de quem seja o juiz. Podemos colocar sua mãe confirmando que ele estava em sua casa. No entanto, o Ministério Público pode dizer que todos os meninos escapam de suas casas a todo momento sem que seus pais saibam. Nick tem um histórico de violência na escola. — Defendendo-me! — Eles não vão dizer as razões, — disse Virgil friamente, — apenas o fato de que você se meteu em problemas, muitas vezes, por brigar na escola. E que recentemente foi hospitalizado por brigar. — Não estava brigando! Virgil levantou a sobrancelha. — Por seu histórico, pense que qualquer juiz ou jurado vai acreditar que ficou no chão enquanto alguém te batia e que não se defendeu?

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Nick fez uma careta. Ele também tinha razão. Mas... era a verdade. — Você deveria ter reportado assalto — disse Virgil em voz baixa. Nick grunhiu. — Eu não quis colocar o garoto em problemas. — Nenhuma boa ação fica impune. E por essa razão, é possível que você passe o resto de sua vida na cadeia. É tudo. Nick negou-se a acreditar. As coisas não podiam ser assim. Não era possível. — Pensei que a lei era sobre chegar à verdade. Virgil riu. — Deixa de assistir “Lei e Ordem”, garoto. Tribunais não importam com a verdade. A única coisa que importa é o que você pode provar. Não é “inocente até que se prove o contrário” é “Tenho uma pilha enorme de casos abertos, mais grossos que Nova Orleans e preciso fechar alguns deles. Então que até que você possa provar que pegamos a pessoa errada, você vai para a prisão, garoto, e vou fechar pelo menos um caso nesta semana”. Nick sentiu náuseas. Não foi isso que o ensinaram desde menino. Mas se alguém sabia como funcionava o sistema, esse alguém era Virgil. — Apenas quero ir a casa. Virgil sorriu com compaixão. — Eu sei Nick. — ele olhou seu relógio. — Deixe-me ver se posso apressar as coisas e tirá-lo sob fiança esta noite. No caso de não poder, ou se necessitar de algo durante o dia, deixe-me dar o cartão do meu sócio. Seu nome é William Laurens e é um dos melhores advogados que há, depois de mim, é obvio. — Depois de tirar o cartão, ele o deu a Nick. Nick franziu o cenho ao ler o cartão. — Aqui diz Bill Laurens, assistente jurídico. — Ah, que droga, cartão errado. Perdão. Não faço ideia do por que isso continua no meu bolso. Bill é o filho mais velho do meu sócio e ficou um tempo conosco como assistente jurídico enquanto estudava na universidade. Agora é um advogado. — ele deu a Nick o cartão correto. — Você poderia chamar o Bill, mas eu prefiro que você se dirija diretamente a mim ou o William. — Está bem, —Nick guardou o cartão no bolso. — A propósito, quem o chamou? — Kyrian Hunter chamou o William e William me chamou. Deveria estar agradecido. Se não tivessem me chamado, você seria processado muito mais lentamente, e o teriam posto em uma cela com algumas pessoas extremamente divertidas. — Acredite, sou grato. Embora estando aqui dentro com esse indesejável. — Nick olhou de soslaio para Caleb.

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Caleb fez um som de dor. — Na próxima Gautier, você vai sozinho. Virgil voltou a olhar seu relógio. — Bem vocês dois mantenham-se sentados por algumas poucas horas e deixe-me ir ver se posso tirar fazer algumas mágicas por vocês. — Seu olhar foi para Caleb. — Chutou o carro da polícia? Realmente? Caleb deu de ombros. — O automóvel me estava ofendendo. Estava ali estacionado no lugar onde eu queria estar. O que você teria feito? — Me certificaria de que não houvesse câmeras de segurança, e depois chuparia o sangue aos policiais até deixá-los secos, e teria feito voar o carro. Caleb riu. — Hostil. Adoro. Poderíamos ser amigos. — olhou para Nick. — Quanto a isto eu tinha que fazer algo para que me prendessem com este meleca de nariz e não quis que fosse algo muito sério, já que gostaria de sair, o quanto antes melhor. Tenho bastante coisas me caçando. Não necessito de mais nada. — Eu entendo, irmão. — Virgil guardou seu PDA em seu bolso. — Vejo-os daqui a pouco. — ele virou-se ir embora e depois voltou. — Eu te conheço, não é? — perguntou ao Nick. — Um ano atrás, aproximadamente, você nos ajudou. Estávamos com Bubba e Mark nessa época. Seus olhos brilharam ao lembrar, e logo se ampliaram com interesse. Ele apontou Nick com seu dedo, mas olhou para Caleb. — Ele é o seu Nick. Caleb o cumprimentou. — Você está um pouco lento esta noite, Virg. Falta-lhe um pouco de sangue? — Estou recém-alimentado e... Realmente temos que tira-los daqui. — Ele praticamente fugiu para fora da sala. Nick olhou para Caleb. — O que é o que você não me está dizendo? — Quanto mais tempo você ficar em um lugar com maldade concentrada, e vamos enfrentá-lo, isto aqui é uma fossa de maldade, mais você vai se impregnar com ela. Pense nisso como se fosse um afluente que se converte em um riu. Quanto mais tempo passar ao seu redor, mais alimenta o seu lado demônio. E há mais possibilidades de que você se transforme no verdadeiro Malachai. Ele seria como o monstro que quase agrediu Kody. — Foi essa a razão pela qual meu pai atacou a minha mãe? — O que quer dizer com isso? Nick não respondeu. Em vez disso, ficou em silêncio enquanto as lembranças o atravessaram e ele tentava dar sentido a tudo. — Acredito que meu pai ama a minha mãe. 187


Caleb zombou. — Isso é enganar a você mesmo. Os Malachai são incapazes de amar. Nick franziu o cenho. — Eu não sou. — Você ainda não se converteu totalmente. Ainda é um embrião. Ele não era tão menino como Caleb pensava. Mas Nick não o ia discutir neste momento. Ou deixar que ninguém soubesse sobre o trato que havia feito. — Eu discordo. Você não viu a cara dele quando ela estava gritando com ele. Ele ficou ferido. E não teria doído assim se ele não se importasse com ela. — Essa foi a primeira coisa que ele aprendeu na escola. Quando alguém o insultava e gritava e você não tinha sentimentos por essa pessoa, você ficava com raiva. Você queria machucá-la. Mas quando você amava alguém e essa pessoa o atacava você se feria mais do que se zangava. Caleb ficou calado enquanto considerava isso. — Sabe, isso na verdade explicaria muito de você. E muito sobre Adarian. — O que quer dizer com isso? Caleb moveu-se para sentar-se na cama de armar embaixo da janela que estava coberta com barras. — Normalmente um Malachai nasce de pais que o odeiam. Ambos, pai e mãe. O pai porque sabe que se o filho sobreviver, ele morrerá. A maioria dos Malachai, incluindo Adarian, matou seus filhos logo que souberam de sua existência. — Quer dizer que tive irmãos? — Sim, e ele matou cada um deles. Exceto você... O que nunca fez muito sentido para mim. Você, ele queria protegido. E as mães odiavam os filhos pela forma com que os bebês foram concebidos. Mas sua mãe é diferente, ela o amou. Então se o que diz é verdade, você é um Malachai concebido e criado no amor. Isso, amigo, nunca havia acontecido. — O que significa que sou capaz de amar, não é? O olhar de Caleb perdeu o foco enquanto pensava. — Isso tem um significado. Não tenho certeza qual é. Mas... Isso deu esperanças a Nick. Talvez pudesse mudar seu futuro e encontrar uma forma de salvar a todos.

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Desejando ter uma resposta, Nick foi para a outra cama de armar, que estava mais próxima à porta. — A propósito, como você salvou Kody? Nick se encolheu com a pergunta, e depois ensaiou sua resposta. — Eu a levei para que a curassem. — E essa pessoa seria? — Alguém que a ajudou. Caleb grunhiu. — Não quero jogar este jogo com você. Mas não era um jogo. Era algo sério. Nick havia feito um pacto que não deveria ter feito. Um pelo qual Ambrose teria um acesso de raiva quando ele soube disso. — O que você fez? —Ambrose grunhiu na sua cara. — O que tinha que fazer. Ambrose levantou as mãos como se quisesse enforcá-lo. — Um cão não pode servir a dois senhores. — Eu não sou um cão. Ambrose franziu a boca. — Você é tão estúpido. Sabia que deveria tê-lo matado. Nick zombou. — Caramba, isso me machuca no meu lugar mais profundo. É um prazer ouvi-lo dizer que desejaria que eu estivesse morto. Eu também quero vê-lo morto. Ambrose abanou a cabeça. — Você não entendeu. Eu cometi esse mesmo erro mais tarde na vida, mas fiz exatamente o mesmo. Atei-me ao meu inimigo, e não funcionou bem. — Mas estamos mudando o futuro. Não é? Por tudo o que você já sabe talvez eu tenha arrumado as coisas. Ambrose fez uma pausa no círculo no qual estava andando no quarto de Nick. — É aí que as coisas se complicam. Há coisas que irão acontecer, independente das ações que tomemos. — Como o quê? — Conhecer Kyrian e trabalhar para ele. Não importa o que eu tentei fazer, sempre acontece. Não posso impedir. Apenas posso alterar os eventos que levam a isso e o momento de nossas vidas no qual acontece. Esse evento, de encontrar-se com ele, está escrito. Mas...

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Ambrose cerrou os olhos enquanto assimilava as coisas. Quando falou novamente, foi num tom mais baixo. — Você pode ter encontrado uma resposta para nós. — O que quer dizer? — Por que salvou Kody? Nick apertou os lábios enquanto se debatia dizer para verdade. Mas no final, não importava. De uma forma ou de outra, Ambrose saberia a verdade. — Eu a amo. Ambrose zombou. — Amor? Você nem sequer sabe o significado dessa palavra. —Sim eu o sei. Não se atreva a dizer o contrário. Ambrose negou com a cabeça. — Você é muito jovem para entender. —Não, não sou. Sei o que sinto e sei que é real. Eu morreria por ela. — Então você é mais idiota que... — Ambrose fez uma pausa quando seus olhos foram para todos os lados. Ele fechou a distância entre eles e sorriu de uma forma que fez que com que o sangue de Nick congelasse. — Estamos destinados a nos transformar em um Dark Hunter. Isso também eu não fui capaz de evitar. Até agora, a causa sempre havia sido a morte de nossa mãe. Mas... Nick não tinha certeza de que gostava de como soava essa palavra. — Mas o que? — Se você ama outra mulher, uma mulher que nunca sabia que existia então talvez seja ela que morra no lugar da mamãe. A agonia explodiu dentro dele. — Não! Você está errado. — Pense nisso. — Ambrose o agarrou e o abraçou. — Você tem razão, garoto. Talvez você encontrou a resposta que estive procurando por todos estes anos. Tem que ser assim. Você ama Kody o suficiente para morrer por ela. É lógico que ela seja seria a única a perder para transformá-lo em um Dark Hunter. Não era isso o que ele queria escutar. Embora Ambrose apreciava esse pensamento, isso adoecia Nick. — Não vou deixar que ela morra. Não penso em fazer isso. A fúria fez que os olhos do Ambrose se tornassem vermelho escura. — Escute-me, Idiota. A quem você preferiria enterrar? Sua mãe, ou sua namorada? Porque, estou lhe adiantando agora. Uma delas vai morrer de uma forma terrível. — Não vou deixar que isso aconteça.

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— Você não tem escolha, — Ambrose cuspiu essas palavras, friamente. Agora, Nick sentia a verdade da previsão do Ambrose. Por tentar manter Kody viva, ele tinha estragado tudo. Terrivelmente. Enquanto olhava fixamente o vidro da janela, ele viu aparecer algumas imagens. Em uma, ele viu sua mãe em uma cadeira, dentro de uma casa que nunca viu antes. Seus olhos sem vida estavam abertos enquanto ele gritava que ela despertasse. Na outra, ele viu uma versão mais adulta de Kody. Com um vestido de noiva, ela jazia em seus braços, coberta de sangue, seu próprio sangue. É a sua imaginação. Tinha que ser isso. Mesmo assim, no íntimo, ele sabia a verdade. Esses eram dois possíveis futuros para ele. Assim como Ambrose havia dito. Uma delas devia morrer. Talvez nem sequer tivesse realmente salvado Kody – apenas havia atrasado sua morte. Ambrose falou sobre mudar a ordem das coisas. Ele podia mudar o momento no qual as coisas aconteceriam, mas não as coisas que estavam destinadas a acontecer. Em vez de salvar a Kody, apenas havia conseguido comprar mais tempo. Isso é melhor que nada. Era isso? Se ele a tivesse deixado morrer, sua vida não seria tão complicada. Nunca teria feito o trato que poderia causar sua morte. Quando mais ele pensava nisso, mais odiava os Fates (destino) ou Ambrose ou qualquer que estivesse causando o que fosse seu futuro. Não era justo ver o que ia acontecer e não ter forma de mudá-lo. Era o mais cruel dos golpes. E quanto mais aumentava sua fúria, mais se elevava a temperatura de seu corpo. — Nick? — havia pânico na voz de Caleb. — O que está acontecendo na sua cabeça? Sentado na cama de armar de sua cela, Nick perdia a habilidade de entender o que Caleb dizia. Em vez disso, tudo o que podia ver, escutar ou sentir, era sua própria angústia. Ela o envolvia até sufocá-lo. Não importava o que fizesse, só piorava as coisas. Ele matava as pessoas que ele amava. A escuridão o engoliu novamente, mas desta vez ele estava dentro, e não fora de seu corpo. E o machucava tão profundamente em sua essência que ele se sentia como se sua própria alma estivesse sendo açoitada e esfolada. Estava parado em um penhasco, olhando uma paisagem que o aterrorizava.

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Esta era sua vida, e ele já a havia arruinado. Quinze anos e tudo havia terminado. O estrago estava feito, e era tão profundo que não poderia curar-se. — Nick! Ele ignorou completamente Caleb enquanto sua dor triplicava. E nesse momento, quando mais doía, teve clareza completa. Havia apenas uma forma de parar a dor. Era extremo, mas... se funcionasse, pararia toda a cadeia de eventos. Não faça isso. Você destruiria sua mãe. Ela vai morrer de toda maneira. Ou Kody. E escutou a preciosa voz de Kody em sua cabeça. Todos nós tomamos nossas próprias decisões. Era hora de que ele tomasse a sua. Se a escuridão o queria, ela o tomaria. Mas com uma condição. A resposta havia estado ali todo o tempo. Esta... Esta merda terminaria esta noite. Ele teria certeza disso. — Nick! — Caleb o sacudiu, tentando de fazê-lo entender o que ele dizia. Mas o que quer que estivesse acontecendo a Nick, ele não podia penetrá-lo. Pior, Caleb viu a manifestação física dos poderes do Malachai. O tom da pele do Nick mudava de sua cor humana, a uma sombra de sua pele de demônio. Seus olhos mudaram de azul para laranja e vermelho... Se Caleb não o parasse, se não encontrasse uma forma de chegar até Nick antes que o demônio o possuísse, todos eles morreriam.

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CAPÍTULO 15

— Você realmente quer morrer? Essa pergunta pairava na cabeça de Nick, zombando dele. Em seu sonho, ele estava olhando para um campo e ali ele viu seu futuro. Durante os próximos dois anos ele seria o motivo de chacota no colégio. Todo mundo viu quando o prenderam. Todos. Inclusive seus avós. O horror na expressão de sua mãe... A dúvida em seus olhos. E que se esperava dele? Mais perdas. Ou sua mãe, ou Kody. E outros que Ambrose havia se recusado a nomear. Por que ele deveria continuar vivendo quando o custo seria as vidas dos demais? Se ele estivesse morto, não haveria razão para que eles morressem. Isso iria parar completamente. Seria...eles seriam livres. Seu pai não o perseguiria mais para matá-lo. A dor que tinha vivido dentro dele desde seu nascimento, terminaria. Estou tão cansado de tudo. E realmente ele estava. Aos quinze anos, ele se sentia como um ancião abatido. A vida era tão dura. Às vezes parecia que o único propósito de tudo era ver o quão tão forte poderiam chutá-lo. Quanto o poderiam afundá-lo. Bateram-lhe necessariamente a maior parte das vezes. E com que propósito? Por que tinha que ser assim? Por quê? As pessoas tinham que ser tão cruéis sem qualquer razão? Por que elas têm que atacar? Por que têm que atirar alguém para baixo? Acabe com isso. Essa parte de sua vida ele podia controlar. De repente, Grim estava ao seu lado. Estava usando com uma túnica negra que flutuava, seu rosto apenas visível dentro de seu capuz. Em sua mão havia uma adaga negra que parecia um kabar militar. Em silêncio, ele a deu para Nick. Apenas um corte. Um último momento de dor. Tudo terminaria. Já não sentiria mais dor. 193


Enquanto Nick estirou sua mão para alcançar a faca, sentiu outra presença ao seu lado. — Não faça isso, Nick. Este não é você. — Kody. O som de sua voz, doce e suave, o alcançou e o tocou em lugares que ele ainda não entendia bem. Ela cobriu sua mão com a sua própria e entrelaçou os dedos com os deles. Era tão suave o contato com sua pele. — Feche seus olhos, — ela sussurrou em seu ouvido. Sem questionar, ele obedeceu. Sua cabeça inundou-se com imagens borradas que atravessaram sua mente numa rápida sucessão. Ele não sabia o que estava procurando. Não até que Kody o beijou. Ela deu um passo para trás e colocou sua mão em sua bochecha quente. Depois falou em uma língua que nunca havia escutado antes. Mesmo assim, ele entendeu suas palavras completamente. — Há um inimigo dentro de todos nós, Nick, um que quer nos machucar. Ele nos odeia com paixão, e nos desgasta com insultos dos quais não podemos escapar. Não importa o que tentarmos, nem o que façamos. É como uma canção interminável que nos atormenta quando estamos sozinhos. E especialmente à noite, quando estamos tentando dormir, e não há ninguém ao nosso lado. O amor em seus olhos o queimou enquanto ela o acariciava a bochecha com seu polegar. — Mas de alguma forma, nossa sanidade retorna, e faz com que a loucura vá embora. E nós não somos o que a voz diz que somos. Somos mais fortes que isso, e nosso escuro e terrível intruso sabe disso. Acho que essa é a razão pela qual nos odeia tanto. Porque ele sabe que nós podemos derrotá-lo. Podemos enviá-lo de retorno à parte mais escura de nossa natureza, onde ele pertence. Enterrá-lo tão profundamente que afogaremos essas vozes que nos machucam e nos torturam. Eles não têm que nos controlar, e nós não temos que escutálos. Ela sorriu para ele. — Ninguém é imune ao escuro intruso. Todos nós sentimos que essas feridas não cicatrizam. Que são muito profundas, e que sangram tanto que afogam nossas almas em pura agonia. Que estamos tão quebrados que não se pode consertar. Mas não é verdade. O que temos Nick é uma vida. E cada dia dela é uma benção. Os momentos ruins nos ensinam lições sobre nós mesmos e os outros. Mas acima de tudo, demonstram-nos o quão fortes somos. Porque sobrevivemos ao que poderia destruir a um ser mais frágil, e cada dia que vivemos é uma vitória contra nosso intruso. Você e eu somos criaturas. Não somos ovelhas que vão para o matadouro. Somos lutadores, e no meio de nossas mais sombrias batalhas, não nos atiramos no chão e deixamos que nos passem por cima. Sacudimos nossos punhos ao céu e gritamos: “Traga-me o pior que você tiver. Porque vou dar o melhor de mim e vou ganhar, não importa o que me custe. Pode me derrubar, isso não 194


posso impedir. Mas eu me levantarei e quando eu fizer isso, seu sangue é que será derramado”. Ele queria acreditar nisso. Ele acreditava. — Estou tão cansado, Kody, — suspirou. — Eles continuam vindo sem trégua. Tudo o que faço é errado. Tudo o que toco vira merda, e estou farto de ser culpado por coisas que não fiz. — Esse é o intruso falando, não você. Conheço meu Nick. Meu Nick é forte. Ele lambeu seus lábios enquanto a dor se intensificava. — Se continuar vivo, ou você ou minha mãe vão morrer. Qual é o ponto? — Qual é o ponto? — ela perguntou incrédula. — O ponto é valorizar cada momento e cada respiração. Eles são preciosos porque são limitados. Nada que tenhamos em abundância é sempre querido. Descarta-se sem voltar a pensar nisso duas vezes. Mas a felicidade, a vitória e a vida são sagradas, porque são limitadas e finitas. — E a dor é interminável. — Falando de coisas em abundância. O batia tão rápido que se enterrava nele. — Isso não é verdade, e você sabe. A dor é ainda mais fugaz que qualquer outra emoção. Sim, às vezes permanece por algum tempo, mas sempre vai embora, eventualmente. Sempre. Você lembra o que disse a Brynna quando evitou que ela se matasse? — Que eu usava camisas feias? Sorrindo ela negou com a cabeça. — O resto? — Vagamente. — Você disse-lhe: eu sei que você está sofrendo. Acredite-me, eu sei como se sente quando emocionalmente lhe dão um soco nos dentes e empurrem isso pela garganta até o ponto de afogá-la com seu último vestígio de dignidade. Essa sensação de mal estar no estômago que lhe diz que não você pode aguentar mais. Que a vida é uma merda e nunca vai melhorar. Que você está caminhando na corda bamba, tentando se agarrar com seus pés porque não há uma rede de contenção, e que você está a um espirro de se tornar uma mancha no chão. Mas você não está sozinha. Não está. Tem muita gente que se preocupa com você. Gente que te ama e que ficaria devastada se algo te acontecesse. — Gente que morreria se eu continuar com vida, — Nick a lembrou. — E acha que não estaríamos igualmente devastados se o perdermos? Não, ele não havia pensado nisso. — Há sempre o outro lado para cada história, Nick. Duas perspectivas sobre todas as coisas. Não há duas lembranças de um mesmo evento que sejam iguais. Todos passam por nossos canais emocionais, que são profundos e colorem cada nova entrada em nossos 195


cérebros. Quanta vez você discutiu com alguém sobre um evento do passado onde ele diz que aconteceu uma coisa, mas você não o lembra dessa mesma forma? Todo o tempo. — Mas... Ela colocou sua mão sobre seus lábios para que ele não falasse. — Quer saber o que é o suicídio? — Sim, a morte. Ela negou com a cabeça. — É o último ato de egoísmo. Sim, a morte é dolorosa para aqueles que ficam. Perder alguém queima tão profundamente que é uma dor que nunca cessa. O tempo não cura isso, somente alivia um pouco. Acredite, eu sei. Diferente de você eu perdi aqueles que eu amava. E cada dia de minha vida, eu lamento não poder estar com eles. Não posso escutar suas vozes, nem ver seus rostos. Daria tudo o que tenho, minha alma, minha vida, se só pudesse abraçá-los mais uma vez mais e dizer que os amo. E quanto eu sinto falta deles. Mas novamente, é porque nosso tempo juntos é tão efêmero e limitado que nos ensina a saborear cada sorriso que nos dão. E tendo passado por suas mortes, posso te dizer isto. Eu os amo muito para fazê-los sofrer da mesma forma em que eu sofri quando os perdi. Eu prefiro dizer adeus primeiro do tê-los vivos durante muitos anos, doídos por me haver perdido, da forma em que me dói havê-los perdido. O que você acha que sua mãe faria se algo acontecer com você? — Ela me seguiria à sepultura. — Quantas vezes ela havia dito isso? Se algo te acontecesse, teriam que cavar dois túmulos. Eu não poderia viver se te perdesse. — Eu tive que enterrar todos aos que amei, Nick. Por favor, não seja tão cruel a ponto de fazer que eu tenha que enterrá-lo também. — As lágrimas brilharam em seus olhos. — Não posso fazer isso outra vez, Nick. Não posso. E preferiria dar minha vida por você, do que esperar que você dê sua vida por mim. Ele cobriu sua mão com a sua e saboreou o calor do seu toque e as palavras que marcaram a fogo o seu coração. Nekoda o agarrou com mais força. —Se você duvida de algo que eu estou dizendo, pergunte à Dra. Burdette por que ela está em Nova Orleans. Por que vem aqui todos os anos, nesta época. Ele franziu o cenho. — Por quê? — Depois de amanhã é o aniversário da morte da mulher e o filho do Bubba. E ontem foi o aniversário da morte do melhor amigo do Bubba. A Dra. Burdette está aqui porque ela tem medo que Bubba, mesmo depois de todos estes anos, se suicide para fugir da dor da perda dos três. — Quando morreram? — Sua mulher e seu filho há doze anos, quando seu filho tinha apenas dois anos. 196


O coração de Nick doeu ao perceber que o filho de Bubba poderia ter sido um colega de escola dele. Eram quase da mesma idade. Kody concordou ao ler seus pensamentos. — É por isso que Bubba o adotou quando se conheceram. Seu filho tinha cabelo escuro e olhos azuis. Assim como ele. — E é a razão pela qual Mark e ele são tão bons amigos. Nick franziu o cenho. — Eu não entendo. — O irmão maior de Mark era o melhor amigo de Bubba. Na Universidade, eles saíram assim como saem milhões de garotos de sua idade. Haviam vencido o Jogo que lhes deu o Campeonato e queriam celebrar. Bubba havia bebido muito, então o irmão de Mark dirigiu a picape de Bubba nessa noite. Em seu caminho de volta ao dormitório, por razões que ninguém sabe, sua picape saiu do caminho e capotou. Bubba foi jogado do lado do passageiro, mas o irmão de Mark ficou debaixo da caminhonete. Se Bubba não tivesse bêbado e desacordado, poderia ter pedido ajuda antes que seu amigo morresse. Em vez disso, o irmão de Mark sangrou até a morte antes que outro carro os visse e notificasse às autoridades. Bubba nunca conseguiu perdoar-se. Isso explicava muito sobre as idiossincrasias da Bubba. Pobre homem. E mesmo assim, Nick conhecia Bubba durante todo este tempo, e nunca soube nada disto. —É essa a razão pela qual ele não jogou profissionalmente? — Em parte. Também não queria criar seu filho nesse estilo de vida. Porque já havia perdido a seu melhor amigo, ele não quis perder nem um segundo de sua vida longe de sua mulher e seu filho. Ele queria um trabalho no qual pudesse voltar para sua casa todas as noites. E mesmo assim, ele os perdeu. Era tão injusto. — Vê como nossas tragédias nos conectam e nos moldam? Bubba não teria passado todo o tempo com sua mulher e seu filho antes que morressem se ele não tivesse perdido seu melhor amigo. Nick percebeu isso, embora não gostasse. — E ele não teria começado ensinar curso de defesa pessoal se sua mulher não tivesse morrido. Kody assentiu. — As pessoas não são apenas formigas correndo por um miolo de pão. Cada vida, não importa quanto isolada seja, toca centenas de outras vidas. Cabe a nós decidirmos se essas pequenas conexões são positivas ou negativas. Mas o que decidirmos, tem um impacto nas pessoas com as que lidamos. Uma palavra pode dar a uma pessoa a força que necessita no momento adequado, ou pode destruí-la e convertê-la em nada. Um simples

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sorriso pode transformar um mau momento em um bom. E uma discussão errada pode ser o passo que essa pessoa necessita para destruir a si mesma. Ela definitivamente tinha razão nisso. Um toque de sua mão podia acalmá-lo de uma forma que nada mais podia. Ainda assim, as vozes em sua cabeça eram fortes e claras, dizendo o quão inútil ele era. Como feio ele era. Como todos estariam melhores sem ele. — Você também escuta essas vozes que se repetem em sua cabeça fazendo com que odeie a si mesma? — ele perguntou. — Nick, juro-lhe isso, todos nós a escutamos. Você sabe seu amigo Acheron? — Sim. — Você alguma vez já o viu sem seus óculos de sol? Agora que ela mencionava isso... — Não, não o vi. — Ash é tão envergonhado de seus olhos que não os mostra. Absolutamente. Nem sequer às pessoas mais próximas a ele. Se alguma vez eles os vissem, ele manteria o olhar no chão. E você já viu o tamanho de minha bunda? Se continuar crescendo, vão lhe atribuir seu próprio código postal. E não me faça falar do fino e liso que é meu cabelo. Ou o fato de que não posso soletrar palavras. Às vezes me sinto tão idiota, e mesmo assim aqui estou, e sou capaz de invocar poderes da maioria das dimensões. Embora nada disso importa para a minha besta interior que me insulta todos os dias de minha vida. Ele estreitou o olhar desconfiado. — Acho que está inventando tudo isto. Porque, garota, eu não vejo nenhuma falha em qualquer lugar do seu corpo. Claro que não vi sua bunda, exceto quando a tem coberta com roupa. Talvez se me mostrar do que está falando em carne e osso... Ela enrugou o nariz. — Você é terrível. Ele era, mas no pior momento de sua vida ela o fez sorrir. Pelo menos até que seus pensamentos se afastaram dela e voltaram para o que os mantinha nesta dimensão. Os que o teriam possuído em sua cela. — Como se aprende a evitar estas vozes? Elas estão sempre em minha cabeça em um ciclo contínuo. — Afogue-as com música ou com lógica. Sim, talvez não seja algo tão inteligente. Ou bonito. Mas isso não é tudo o que existe para mim. Sou importante para as pessoas. Não para todos, mas para os que importam para mim, e esses são os únicos no mundo que contam. Que o resto podem ir para a cova mais escura. Ele se inclinou e pressionou sua testa contra a dela para poder olhá-la aos olhos. —Eu te amo, Kody. E eu escutei tudo o que você me disse. Mas acho não forte o suficientemente para viver sem você.

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— E o que é o que acha que sinto por você? Se isso era verdade, ela tinha razão. Como ele poderia deixar que ela sentisse tamanha agonia se ele se suicidasse? Ela inclinou sua cabeça, capturou seus lábios e o beijou até que seus sentidos se nublaram. Seu toque o acalmou e o tranquilizou até que ele voltou a sentir-se ele mesmo outra vez. Mas com essa sensação sentiu que ela ia embora. — Kody! — ele a chamou, estirando-se para alcançá-la. Mas ela já tinha ido embora. De repente, ele voltou a seu corpo. Abrindo seus olhos, ele se encontrou na cela com Caleb a seu lado. Caleb suspirou aliviado. — Graças ao universo que ela conseguiu alcançá-lo. Nick franziu o cenho. — Do que você está falando? Caleb riu amargamente. — Você acaba de experimentar o que eu te disse que não podia explicar. Toda vez que um Malachai chega a um ambiente como este, seu instinto é tornar-se violento. No passado, quando isso acontecia, fazia que um Malachai atacasse os outros. Mas você, meu amigo, derrubou-o para dentro em vez de para fora. — O que você quer dizer? — Você tornou-se autodestrutivo. Nick não entendeu o medo nos olhos de Caleb. — Não é melhor? — Depende. Nick estava frustrando com as respostas evasivas de Caleb. — Do quê? — De que prefira que a humanidade seja escravizada por seu pai ou por você. Ótimo. Isso era exatamente o que ele queria escutar. — Sabe. Estou começando a pensar que a única opção que temos na vida é entre um resultado ruim ou um pior. — Tem razão. Esse parece ser o caso, na maioria das vezes. Nick ficou calado quando entraram os três policiais. —Vamos levar a ambos para a sua audiência para estabelecer a fiança. Caleb parecia satisfeito. — Aí, Virgil! 199


Nick também se sentia bastante bem por isso, até que notou algo estranho a respeito dos policiais. Foi apenas um instante, mas ele reconheceu seus poderes avisando-o. — Caleb, volta para trás. — Por quê? Usando o truque que Thorn o havia ensinado, Nick criou uma bola de fogo. Sua mão brilhou quando uma bola do tamanho de uma bola de tênis se manifestou em sua palma. — São Lollers (impostores). Enquanto Caleb retrocedia, um deles jogou uma corrente vermelho-sangue que pegou Caleb pela garganta e o segurou em seu lugar. Nick deixou que sua bola de fogo voasse até o peito do demônio. Ela explodiu enquanto os outros dois foram correram o Nick. Caleb agarrou um antes que pudesse chegar até o Nick, e rompeu seu pescoço. O que atacou ao Nick lançou um pontapé. Nick se agachou, e deu-lhe um soco na mandíbula. O golpe quebrou seu escudo, fazendo com que ele se desintegrasse. Algo que escorreu sobre eles tinha um cheiro tão fétido que fez com que Nick engasgasse. — De que tipos são? — perguntou Nick. — Do tipo que não deveria estar aqui. — Como assim? Caleb o olhou fixamente. — São demônios de sangue. Ele disse isso como se Nick soubesse o que significava. Sim. Ele não tinha ideia, como sempre. — Não é isso que é Virgil? — Porra, Nick. Deixa de bibliofobia. Nick franziu o cenho. — Quando deixamos de falar o mesmo idioma? — Significa que você tem medo dos livros. Nunca vi ninguém enfrentar um daeva e não ter um pingo de medo dele, e ainda assim, se te der um livro, exceto que seja um mangá, age como se fosse te morder. — Não é a mordida que me assusta, é o aborrecimento. Além disso, eu gosto dos livros com desenhos. Os mangás podem ser bastante atrevidos em Shonen e minha mãe não os confisca nem me castiga por lê-lo. Ao contrário de outros materiais de leitura masculinos que

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ela me faz um discurso por três semanas sobre como as mulheres não se parecem com isso e que é uma falta de respeito a ela ter essas coisas em casa. Caleb grunhiu. —Você é tão maduro às vezes que me faz esquecer do fato de que é um embrião. — ele grunhiu com fúria antes de continuar. — Os vampiros em algum momento foram humanos. Embora os humanos os chamem demônios, os demônios são entidades diferentes. Nunca fui humano, graças à Fonte por isso, e não tenho demônios de sangue. Os que conseguem esse nome é porque são criados do sangue de um demônio superior para servi-lo. Isso lhe causava mais curiosidade que medo. Definitivamente poderia vir a calhar algum dia. — Eu vou ter esse poder? — Se não o mato antes amadureça, sim. Nick pretendia ficar fora do cardápio de Caleb. — Incrível. Mas e daí? São clones? — Não. Não mesmo. Eles são enviados para tirar algo do objetivo e voltar para seu mestre para que possa ganhar controle sobre esse indivíduo. Nick ficou gelado. — Você acha que meu pai os enviou? — Não. Adarian tem seu sangue. Além disso, não é seu estilo. Ele nunca é sutil. Alguém mais os mandou. —Mas quem? Quem sabe sobre mim, ou sobre você, então? —Não sei Nick. Mas temos que te tirar daqui antes que você volte a desmoronar. Sem mencionar que ambos somos alvos perfeitos neste lugar. Caleb congelou ao ocorrer-lhe outra coisa. — Sei que você não me vai dizer isso porque sabe que estava errado e que eu deveria matá-lo por isso, mas acho que a pessoa ou coisa com a que você fez o trato poderia tê-los mandado para buscá-lo? Nick o considerou por alguns minutos. — Não. — Há alguma chance de que você me diga por que acha que não? — Eles já têm algo meu. Não necessitaria enviar demônios para procurar algo meu. Caleb apertou os dentes até que sua mandíbula ficou mais visível. Era mais que óbvio que ele não estava contente com o trato do Nick. E Caleb nem sequer sabia o que era... Ainda. — Que você lhes deu?

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— Não foi minha alma, — Disse Nick, sabendo que essa seria a preocupação maior de Caleb. — Não se preocupe. — Preciso saber. Se nos atacarem... — Não nos vão atacar. Caleb praguejou. — Em que você nos colocou? Antes que pudesse lhe responder, Virgil voltou com apenas um oficial. — Ambos me devem um favor enorme por isso. Acabo de fazer o impossível para conseguir uma audiência assim rápido. — Não vamos esquecer, — Caleb o assegurou. Mas depois que eles mudaram de roupa e foram levados ao pior homem que Nick já viu, não tinha certeza de querer estar em dívida. Virgil devia ter dado algo muito grande para fazer com que o homem cooperasse. Não sabia o que, e não queria saber. O Ministério Público feminino gesticulou com fúria para onde estava Nick. — Foi um estupro violento, Meritíssimo, e o réu tem um histórico de violência. Olhe os hematomas em seu rosto. Obviamente esteve em outra briga recentemente com mais alguém. Sem mencionar que seu pai... — Objeção, Meritíssimo. — Virgil parou o que quer que fosse dizer. — Relevância. Olhando-o com fúria, ela subiu seus óculos mais acima sobre seu nariz. — Uma família com um histórico violento é relevante. —Seu pai não é o réu nesta corte, — Virgil refutou. —A menos que você possa trazer para um perito em genética para demonstrar que um tem influência sobre o outro, é irrelevante. Ela se enfureceu. — Os psicólogos dizem... — Tem um psicólogo que possa atestar? — perguntou Virgil. — Ainda não. — Então repito o que disse. Objeção. O juiz finalmente falou. — A defesa tem razão, advogada. O pai do réu não é o acusado. Prossiga. Ela suspirou pesadamente. — Bem. Acredito que ele é um risco de fuga substancial, e penso que deveria ficar em prisão preventiva até o julgamento. O juiz olhou para Virgil. — O que tem a dizer a defesa? 202


— É uma criança, Senhor Juiz. Olhe-o. Prolixo, estudante modelo. — Ted Bundy também era. — Adicionou a promotoria. O juiz a olhou com fúria. — É suficiente, advogada! — Voltou sua atenção ao Virgil. — Prossiga. — Ele tem dois trabalhos e gente que depende dele. Não há risco de fuga. E posso citar sete membros honrados da comunidade que estão neste lugar para dar testemunho de seu caráter. — E eu tenho um vídeo dele. O juiz bateu martelo. — Advogada, é suficiente. — Voltou a olhar para Virgil. — Onde estão suas testemunhas? Eles ficaram em pé. Nick virou-se para ver a Liza, Mama O Peltier, Kyrian, o Sr. Poitiers e o Sr. Addams, a Dra. Burdette, e o pai do Madaug, o Dr. St. James. Sua mãe, Acheron, Rosa, Kody e Menyara também estavam com Kyrian. Bubba e Mark estavam sentados ao lado da Dra. Burdette. Nick sentiu encolher o estômago ao vê-los. Embora estivesse agradecido de que estivessem dispostos a lutar por ele, ele se sentia humilhado que todos soubessem disto. Mas bem. Quem não sabia? Não era como se o tivessem prendido em particular. Ele se encolheu com o pensamento de enfrentar a seus colegas de sala e seus professores depois disto. Não importava o que, sempre seria rotulado de criminoso. Então foi isto é o que Brynna sentiu... Virgil clareou a garganta. — E, Meritíssimo, eles foram os primeiros sete que chamei. Se me der uma hora, posso conseguir uma dúzia mais. Todos eles estão dispostos a testemunhar sobre o caráter irrepreensível do Sr. Gautier e seu código moral. O juiz considerou isso. — A fiança é fixada em um milhão de dólares e eu o quero sob prisão domiciliar até o julgamento. Pode ir à escola e ao trabalho, mas a nenhum outro lugar. E não é para ser deixado sozinho. — Ah, Meritíssimo, — disse Virgil antes de clarear a garganta, — seu trabalho para o Sr. Hunter requer que leve recados por toda a cidade. — Então ele será monitorado eletronicamente todo o tempo e será obrigado a telefonar de hora em hora, fora do horário escolar. — Sim, Meritíssimo. Muito obrigado.

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A audiência de Caleb era muito mais fácil. O juiz o deixou ir com uma promessa de que não voltar a tocar em um carro policial. Com o estômago feito um nó, Nick se dirigiu para sua mãe. Ela não podia nem olhá-lo na cara. Kyrian deu-lhe uma palmada nas costas. — Eu já dei o dinheiro da fiança ao Virgil para que pudesse depositá-lo. Nick assentiu agradecido a Kyrian. — Muito obrigado. Por tudo. — Não tem problema. Acheron colocou uma mão reconfortante no ombro. — Não se preocupe Nick. Vamos descobrir a verdade. Mas isso não mudaria a dor nos olhos de sua mãe. Para falar a verdade, ela se recusou a falar com ele durante todo o caminho para sua casa. Ele buscou em sua mente algo para lhe dizer, mas não lhe ocorreu nada. Ele estendeu a mão para tocar a dela. Ela afastou-se antes que ele pudesse fazer contato. A raiva e a mágoa o atravessaram até chegar ao seu coração. Como ela podia duvidar dele? Assim que chegaram em sua casa, ele foi para o seu quarto. — Nick? Quero que deixe a porta aberta. Ele quis lhe dizer “mas mamãe...”, mas sabia como terminaria essa discussão. Ela não o escutaria, como sempre acontecia. Então deixou sua porta meio aberta e foi sentar se em sua cama. Foi nesse momento que percebeu que sua mãe havia tirado coisas de seu quarto. — Mamãe? Onde está meu...? — Você está de castigo. — Havia uma nota de histeria em sua voz. — Fique aí sentado e medite sobre ...as coisas. Isso era uma má ideia já que a única coisa que havia em sua cabeça agora era ódio contra ela por fazer isso com ele quando era inocente. E enquanto estava sentado ali, pensando, sua fúria cresceu cada vez mais até que não conseguiu aguentar mais. Ficou em pé e foi até a sala onde sua mãe estava olhando a televisão. — O que você quer? — Ela ainda não podia olhá-lo. Enfurecido, ele passou a mão por seu lábio superior. — Eu sou virgem, mãe. Nunca fiz outra coisa além de beijar uma garota, e Nekoda é a única garota com quem fiz isso. Sei que 204


não acredita, mas pode perguntar a ela. Ela não é uma mentirosa. — E nem eu. Mas ela nunca havia acreditado em nada. As lágrimas correram por suas bochechas. — Me perdoe Nick. Sei que é inocente. Mas foi tão duro para eu estar nessa corte com todos julgando a mim e a você. — Ela começou a chorar. Nick foi para ela e a atraiu para seus braços enquanto ela chorava contra seu ombro. — Você não sabe como é ser a garota mais popular na escola e de repente... foram tão maus comigo. Uma vez que as pessoas souberam que eu estava grávida, recorri a minha melhor amiga — havíamos sido amigas desde o segundo grau, e sua mãe nem sequer me deixou entrar em sua casa. Ela me disse que Ashley não tinha permissão para associar-se a um lixo. — A culpa o atravessou. Nunca quis machucá-la. — Me desculpe, mamãe. — Não faça isso, bebê. Você valeu a pena. E vale. Eu jamais, jamais, me arrependi de tê-lo comigo. Mas foi tão duro. Eu estou sempre me questionando se estou fazendo a coisa certa por você. Quando você era bebê, eu costumava abraçá-lo e chorar, pedindo-lhe que me perdoasse por tê-lo trazido a um mundo tão cruel e horrível. Por te ter na pobreza e não ser capaz de te dar uma vida melhor. — Não chore mamãe. Por favor. Não me importa se passarmos Natais onde os únicos presentes que recebia eram meias limpas e chiclete. Não me interessa. A única coisa que me interessa é que não você não se envergonhe de mim. Por favor, não me olhe como se eu fosse lixo. Ela se ajeitou para tomar seu rosto em suas mãos. — Eu nunca faria isso. — Mas fez. Muitas vezes. Eu vi. Ela negou com a cabeça. — Não Nick, não foi isso o que viu. — Então por que não conseguia me olhar na corte? Por que afastou sua mão no carro? — Porque sinto que falhei e me culpava pela prisão. Se não tivesse te criado da forma com que o fiz, as pessoas não seriam tão rápidas em julgá-lo como o fizeram. Sei que é minha culpa. Ofereci-me a dar testemunho de seu caráter, e seu advogado me disse que não seria uma boa ideia. Sabe como me fez sentir? Bem, ele poderia ter feito eu usar uma camisa que tivesse a palavra “Lixo” escrita. — Mamãe, não. Virgil não é assim. Estava apenas tentando evitar que o Ministério Público a maltratasse. — Bem, mas eu me senti assim.

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Nick secou suas próprias lágrimas. — Se não me odeia. Por que estou de castigo e não me deixa fechar a porta? — Você teve um B em química, você lembra? Disse-lhe na escola que te castigaria por isso. Ah, certo. Ele havia esquecido completamente. — E a porta? — Faz muito calor nesta casa quando e fecha a porta e gosto muito da televisão. O que pensou? — Pensei que você achava que eu era um pervertido. Ela o olhou com dureza. — Diabos, Nick. Sei que não é um pervertido. Vi como se comporta em torno de Kody e de outras garotas, também. Você é tão tímido que dá cãibra, e toda vez que Kody pega sua mão, você fica vermelho como um tomate. A maior parte do tempo até tem medo de tocá-la. É como se tivesse medo dela. Ele se encolheu. — É tão óbvio? — Sim. Será que nunca deixaria de sentir-se humilhado? Ela secou as lágrimas. — Não posso acreditar que você me interpretou mal assim. — O mesmo digo eu, — disse-lhe Nick. — Alguma vez eu disse ou fiz algo que a fizesse pensar que tenho algo contra você? — Não, não realmente. Mas eu me odeio por isso. Ele a olhou duramente. — Então livre-se disso. Não deixe que o rancor nos polua. Ela colocou uma mão em sua bochecha. — Eu te amo, filho. E sinto que você tenha que passar por isso. Não tanto como ele o lamentava. Então, para sua surpresa, ela entregou-lhe o controle remoto. — Acho que você foi punido o suficiente por um dia. Sente-se e veja a televisão comigo. Agradecido por estar errado a respeito a sua mãe, Nick fez zapping até que ela tiroulhe o controle remoto. — Você me enlouquece quando vê a televisão assim. Escolhe algo e fica com isso. — Tenho a falta de concentração de um adolescente alimentada pela testosterona masculina. 206


Ela rosnou para ele e depois voltou ao que estava olhando, um programa para garotas. Nick tentou não fazer uma careta. Mas terminou alguns minutos depois quando entrou uma ligação. Como estavam olhando a televisão sua mãe não se levantou para atender. Deixou que caísse na secretária eletrônica. — Aqui é o Diretor Head da escola St. Richards. Estou ligando para avisar que Nicholas está sendo expulso desta instituição imediatamente. Se puderem enviar os livros didáticos que ele tenha em seu poder, apreciaríamos. Do mesmo modo, vamos colocar seus itens pessoais em uma caixa e os enviaremos ao endereço que temos em nossos arquivos. Muito obrigado. O rosto de sua mãe ficou vermelho intenso. — Como ele se atreve! Nick não respondeu. Estava muito ocupado sentindo-se como se lhe tivessem dado um chute nos ovos. Mas então. O que ele esperava? Head pensava que ele era um ladrão e um estuprador. Estava protegendo os estudantes de um monstro... Bem, pelo menos não tenho que voltar a me encontrar com Head nem com ninguém da escola. — Posso ligar para Kody e Caleb para avisá-los? Ela hesitou antes de concordar. — Mas isto ainda não acabou. Vou falar com seu advogado amanhã e ver se há algo que possamos fazer. — Uh, na realidade ele não é uma pessoa diurna. Ele trabalha no tribunal durante a noite por uma razão, então se você que quer falar com ele, ligue para ele antes que amanheça. Ela hesitou, e depois concordou. — Isso é interessante. Vou fazer isso agora mesmo. Não se preocupe, bebê. Nós vamos conseguir que você volte para a escola. Não me faça favores. Só pensar em voltar para a escola agora não o agradava. Minha vida se está caindo aos pedaços. Sentia-se como a merda, até que viu sua mãe falar ao telefone, tentando imaginar o horror pelo qual ela havia passado quando tinha sua idade. Sim, ser jogado fora da escola foi péssimo. Ser jogado de casa era muito pior. Mesmo atualmente, seus pais a insultavam. — Mamãe? Ela voltou depois de deixar uma mensagem a Virgil, para sentar-se junto dele. — O que foi Boo?

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— Estou tão orgulhoso de você. Obrigado por não me dar em adoção. Ela franziu o cenho. — Oh querido, por que você cismou tanto com isso? É como se parte de você ainda espera que eu o jogue de casa. Porque parte dele estava esperando que isso acontecesse. Era seu pior medo. — Sei o que te custa me manter. Eu sei. E à medida que passa o tempo, fica mais claro. Quando você tinha a minha idade, eu já andava. Ela sorriu. — Oh, eu lembro como você era bonito. Você não tinha cabelo. Foi uma coisinha peladinha. Pensei que ia ter que economizar para uma peruca. — Ela o despenteou de brincadeira. Ele riu. Ela se apoiou nele. — Não se preocupe amor. Tudo vai sair bem. É sempre assim. De alguma forma, embora seja no último segundo, Deus sempre nos ajuda. E sua fé nunca falhava. Ao contrário, sua própria fé era um pouco mais bipolar. Mas sua mãe tinha uma fé constante e inquebrável. E ele a invejava. Era incrível, dado tudo o que o havia aconteça. Fechando seus olhos, Nick ouviu a televisão, enquanto tentava relaxar. E enquanto se isolava do mundo físico, começou a escutar as vozes no etéreo. Tenha cuidado. Tenha cuidado. Tenha cuidado. Tenha cuidado. Parecia como a voz de um réptil que ecoava em torno dele. Cuidado com o quê? O amigo do meu inimigo é meu inimigo. Sim, está bem. Mas o que isso significava? Mas não havia resposta para a sua pergunta. Estranho. Típico, mas estranho. E enquanto deixava que a sonolência o levasse à deriva, ele teve uma sensação inconfundível. Algo o estava procurando, aranhando, deslizando, e estava aqui.

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CAPÍTULO 16

Nick não conseguia livrar-se a sensação de estar sendo espreitado. Mas além de seu intestino ninguém confirmava isso. Nem Kody nem Caleb podiam sentir, o que significava que estava fora de seus radares. Não era a primeira vez que alguém o acusava de estar louco. Ainda assim... — Pode concentrar-se Nick? Ele pestanejou ao som da voz de Acheron. — Sinto muito. Só tenho uma sensação estranha, assustadora. — Acredite ou não, poderiam ser ondas eletromagnéticas vindas de sua tornozeleira. Ótimo, isso era tudo o que precisava. Provavelmente, isso também causaria câncer ao seu pé ou à sua perna. Apenas para castigar. — Nick? De repente, o carro freou de repente. — Ei! — Ele gritou para Ash. — Eu iria frear. Sabia? — Quando? Depois de passar o sinal vermelho? — Talvez. Ash balançou a cabeça. Quando a luz mudou para verde, Nick arrancou, e dobrou à direita para tomar o caminho que o levaria até a casa de Kyrian. Durante as últimas duas semanas, enquanto sua mãe brigava com o diretor e esperava o julgamento, Ash, em um esforço por animá-lo, deixava-o dirigir até o trabalho e de volta para a sua casa. Especialmente porque era o único momento no qual o Nick podia sair da casa. Neste ponto, Nick sentia que estava ficando louco. Ele não podia se imaginar ficar preso na cadeia dado o quanto miserável era a sua vida e que como era até agora, confinado ao seu apartamento. Ele estacionou na garagem de Kyrian e esperou a que as portas abrissem. A única coisa boa de tudo isto era que sua mãe, ao saber que ele era virgem, estava relaxando as suas rígidas regras para namorar. Ela, inclusive deixava que Kody viesse e lhe fizesse companhia enquanto ela estava trabalhando. — Ash? — ele perguntou enquanto estacionava frente à casa de Kyrian. — Você viu o vídeo que os policiais têm de mim?

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— Sim. Virgil se o mostrou havia dois dias. — Parece igual a mim. — Eu sei. Nick desligou a ignição. — Não sei se é montagem ou não. Mas você não pode imaginar como é terrível pensar que há alguém lá fora que parece exatamente com você. Que se ele faz algo, vão culpar a você por isso. — Sim, não tenho ideia. — Sua voz jorrava sarcasmo. — O que foi? — Nick perguntou enquanto saía do automóvel. Ash não o respondeu até que Nick deu a volta ao automóvel para entregar-lhe as chaves. — Você pode guardar um segredo? — Levo isso à tumba. Selamos bem e dali não sairá. Por quê? Ash colocou suas mãos nos bolsos do seu blusão de motociclista que tinha uma caveira e ossos cruzados pintados de vermelho nas costas. — Quanto eu era humano, tinha um irmão gêmeo. Nick ficou de queixo caído. — Não pode ser. Sério? Ash concordou levemente. — Isso devia ter sido uma visão incrível. Os dois juntos, com sua altura? Caramba. — Não era algo tão bom como imagina. Apenas digo-lhe isso para que saiba que sei exatamente como se sente. E eu odiava. — Sim. Mas você amava seu irmão. Não é? Ash não respondeu enquanto caminhava pelas escadas que davam à porta principal. O que dizia tudo. Quem quer que tivesse sido seu irmão, não tinham se dado bem. Era triste, para falar a verdade. Sempre havia se perguntado como seria ter irmãos. Sua mãe era o mais próximo que tinha de um laço familiar. Nick subiu de dois em dois degraus. Quando chegou à varanda, Rosa abriu a porta para eles. Embora estivesse em seus quarenta anos era incrivelmente bonita. Seu cabelo escuro caia sobre seus ombros e estava vestida com uma camisa rosa e jeans. — Hola Rosa. Disse-lhe Nick, oferecendo um sorriso. O sorriso que ela devolveu era tão caloroso como o de sua mãe. — Hola m’hijo. ¿Como estás? 210


— Bien, gracias. ¿Y tu? — Muy bien. — Ela fechou a porta atrás dele. — Nick, seu espanhol está progredindo muito. Logo não teremos que falar inglês entre nós. Seu sorriso ficou mais amplo ao dirigir-se a Acheron. — E você como está, Acheron?

— Bien. Kyrian está em seu escritório? —Sim. Ash se dirigiu à escada esculpida em curva. —Nick. ¿Quieres tú comer? Ele hesitou. — Espere. Essa palavra é nova. — Então lembrou-se. — Comida. Não, comer! Sim quero comer. Absolutamente. Que temos hoje para comer? Ela riu. — Espero que você se case com uma mulher que cozinhe bem. De outra forma. M’hijo. Acredito que terá um casamento curto. — Isso é o que minha mamãe diz. — Enquanto se aproximavam da cozinha, ele sentiu o que ela estava cozinhado. — Não pode ser! Isso é...? — Si. Pollo cacciatore, seu favorito. — Somente quando você cozinha. — Já estava com água à boca para prová-lo. Ninguém cozinhava melhor que Rosa. — Vou servir-lo um prato enquanto você tira o lixo. — Sim, senhora. — Mas ele fez uma pausa perto da panela para inalar o aroma. Deus poderia comer isso todos os dias... Forçando-se a afastar-se da panela, ele tirou o lixo e se dirigiu à porta traseira onde ficavam as latas. Enquanto colocava a tampa na lata, escutou um clique. No início não prestou atenção. Não até que um calafrio percorreu suas costas, e em sua mente, viu-se sendo atacado. Sacudindo sua cabeça, havia terminado de convencer a si mesmo que estava sendo paranóico quando alguém o acertou e o jogou no chão. —Seu pequeno merda! — O homem o bateu com um taco de beisebol de baseball no braço.

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Nick xingou ao sentir que seu osso quebrava com o golpe. Moveu-se para rolar e escapar. Mas o homem voltou a pegá-lo com mais fúria, e depois começou a chutá-lo. Nick tentou engatinhar em direção a casa, mas ele alternava golpe atrás golpe e chute após chute. Vou morrer... Ele sabia. E ele nem sequer podia defender-se. De repente, alguém agarrou o homem e o tirou de Nick. Kyrian se ajoelhou a seu lado. — Nick? Pode me escutar? — Esse filho da puta estuprou a minha filha! Espero que esteja morto! — Rosa, chame rápido uma ambulância! — Kyrian tirou seu blusão e cobriu com ele o corpo do Nick. — Fica conosco Nick. Por favor, não faça que eu tenha que dizer a sua mãe que você está morto. Ela vai me matar. Nick não conseguia responder. Sentia tanto frio que seus dentes batiam. Atrás dele podia escutar Acheron falar ao telefone, reportando o ataque à polícia. Chorando e rezando, Rosa se ajoelhou junto a Kyrian e pressionou seu rosário na mão de Nick. — Como vocês podem proteger esse lixo? Que merda vocês têm na cabeça? — Ele não fez isso, — Acheron grunhiu na cara do homem. — Você acaba de agredir um garoto inocente. — E você pensa que não conheço este merda? Eu o vi-o ao redor da escola. Dividiu aulas com minha filha por anos. E espero que o prendam pelo resto de sua vida. Nick finalmente conseguiu mover sua cabeça o suficiente para ver quem era. O Sr. Quattlebaum. O pai de Dina. Sua cabeça deu voltas pela dor, mas ele tentou se concentrar. Precisava pensar para além da dor. Dina era uma das amigas mais próximas de Brynna. Ele mal a conhecia. Quieta e tímida, ela raramente falava com alguém. Ele não podia lembrar quando a viu pela última vez. O som das sirenes estava cada vez mais perto. Não desmaie... Nick manteve esse pensamento firme em sua cabeça. Não queria voltar para Reino Nether. Não agora. Kyrian se ajeitou para abrir a porta para polícia e a ambulância.

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Nick tentou devolver o rosário de Rosa. Foi seu presente de primeira comunhão dado por parte de seu pai, que havia morrido de um ataque ao coração não muito depois de dá-lo. Ela contou que o tinha como uma de suas posses mais preciosas. —Não m’hijo. Mantenha-o por enquanto para que Deus o proteja. Depois pode devolver-me. Enquanto os paramédicos trabalhavam nele, Nick escutou o som de uma risada. Grave, vinha do etéreo. No início pensou que estava louco. Até que o policia colocou as algemas no pai da Dina. No momento em que o arrastavam até a frente da casa, Nick viu um demônio shimmer sair do corpo do Sr. Quattlebaum. Era um demônio que ele conhecia. Onde o havia visto? Tinha que lembrar-se, mas a dor tornava isso impossível. Enquanto lutava para manter-se consciente, as vozes do etéreo eram cada vez mais fortes. Ele viu seus colegas de classe, enquanto liam as mentiras, e as terríveis verdades que haviam sido postadas no site. Por semanas, Brynna e as outras garotas haviam sido assediadas e acusadas de todo tipo de coisas. As brigas eram constantes, inclusive depois das reuniões na escola. Trexian... Esse era o demônio que ele viu. O paramédico colocou-lhe uma máscara de oxigênio. Nick tentou chamar Caleb ou Kody com seus pensamentos para avisá-los o que suspeitava e o que havia acontecido. Mas antes de poder fazê-lo, o paramédico o nocauteou.

***

Grim suspirou enquanto observava Nick sendo colocado dentro da ambulância. Aborrecido, deixou sua bola de cristal de lado para encontrar o olhar sombrio de Bane. — Ele voltou a escapar de suas garras, hein? — Bane perguntou em um tom seco. — É obvio que sim. Nunca vi algo como isso. Ele é pior que um gato. Bane olhou para a bola de cristal. — Ele ainda não está fora de perigo. Poderia pegar uma infecção letal no hospital. Talvez algum tipo de vírus que lhe coma a pele. — Não zombe de mim, Bane. Quem dera fosse assim.

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Ele não podia matar ao Nick. Maldito trato. Tudo o que ele podia fazer era continuar apegando-se à autoestima de Nick e cansá-lo até que se matasse. Mas Nick era mais forte do que parecia. Essa era a razão pela qual não podiam deixá-lo amadurecer. Adarian já era o suficientemente difícil de lutar. Ambrosius... Seria o Malachai mais perigoso já nascido. E Bane tinha razão. Cedo ou tarde, Grim encontraria a pessoa certa para influenciá-lo. E então Nick não seria nada mais que uma lembrança ruim. Um lento sorriso espalhou-se em seu rosto enquanto um novo plano era formado. E ele já conhecia a entidade que acabaria com Nick. — Conheço esse olhar. O que vai fazer? — perguntou Bane. — Vou conseguir um coração de Malachai.

CAPÍTULO 17

Nick abriu os olhos, na expectativa de encontrar no Reino Nether outra vez. Em vez disso, ele estava dentro de um templo com um teto dourado que continha cenas de um bosque de cervos e outros animais. A luz do sol se derramava através das colunas brancas. Estou morto? — Não, você não está morto. — A voz tinha um forte sotaque que conhecia perfeitamente. Grego. Nick virou sua cabeça para uma visão em um vestido branco e longo que deixava descoberto o seu ombro direito. Seu intenso cabelo vermelho caia por suas costas em grossos cachos. Sua pele era tão perfeita como deveria ser a pele de uma deusa. — Artemis? O que estou fazendo aqui? — Fizemos um trato, não é?

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— Sim, fizemos. — Bem. Então não podemos permitir que Thorn e Noir o disputem, não é verdade? Ele supunha que não. — Por que me sinto tão lento? — São as drogas que estão administrando em você. Afetam-lhe inclusive neste reino. Quem diria? Nick tentou sentar-se, mas foi inútil. — Relaxe. Descanse até que desperte no reino humano. Nick concordou e fechou seus olhos. Viu a si mesmo, convocando Artemis para que salvasse Kody. Nesse momento, não tinha certeza de que iria funcionar. Mas apesar de ser uma deusa da caça, Artemis também podia curar, e era a protetora das crianças e das mulheres. Ao menos foi isso o que Kyrian havia dito. Como precaução para se por acaso um dos Daimons ou algo mais tentasse comê-lo e Kyrian não pudesse ajudar, ele deu a Nick um anel que tinha o símbolo da Artemis. E depois Kyrian o disse que usasse o anel para convocar a deusa. No início de seu relacionamento, Nick pensou Kyrian estava louco. Mas durante este último ano ele aprendeu que a definição de louco não era o que costumava ser. E ao invés de vender o anel de Kyrian, ficou com ele, por via das dúvidas. Nick estava disposto a dar a Artemis sua alma. Mas em vez disso, ela apenas tomou um pouco de seu sangue. Mas o havia feito jurar que não dissesse a ninguém. Não podia dizer a ninguém nem sequer que a tinha visto. — Por que concordou em ajudar Kody? — ele perguntou. Artemis deu de ombros. — Ela é uma guerreira. Uma caçadora. Tenho afinidade por esse tipo de mulher. Nick quis corrigi-la, mas se conteve. Não era sábio corrigir a uma deusa. — Ainda não entendo. — Não é para que entenda. Agora, descanse. Logo você terá uma batalha e vai necessitar de toda sua força. Ele quis perguntar que batalha, mas estava tão debilitado que não conseguiu. Contra sua vontade, ele voltou a dormir.

***

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Quando Nick finalmente despertou, encontrava-se novamente no Pronto Socorro. Neste ponto, eles deveriam ter uma sala reservada apenas para ele. Ou um cartão de paciente frequente, ou algo assim. Que diabos? Eles poderiam colocar seu nome na sala, já que conhecia mais da metade do corpo de empregados. Kyrian e sua mãe estavam lá, além de Acheron e Kody. Sua mãe o olhou com dureza. — Está tentando me matar, não é? — Não realmente. — Você tem muita sorte, Nick. — Disse-lhe Kyrian. — Você tem um braço quebrado, mas o restante das lesões é superficial. — Graças aos deuses você tem a cabeça dura. — Adicionou Acheron. — Honestamente não pensei que viveria depois do que vi. Esse homem definitivamente queria matá-lo. Ainda assim, Nick se sentia mal por ele. Embora não estivesse feliz com a surra, ele entendia perfeitamente a motivação. — O que aconteceu com o Sr. Quattlebaum? Kyrian suspirou. — Ele foi detido por agressão. — Tem sorte de que não o encontrei na rua. — Grunhiu sua mãe. — Sim, — Kyrian estava de acordo. — Descobrimos que ele esteve te seguindo durante os últimos dias, esperando que pudesse encontrá-lo sozinho para atacá-lo. Então Nick não estava imaginando. Alguém o estava espiando. E Nick esteve procurando algo sobrenatural quando havia era humano... Nick congelou com a lembrança que chegou à sua mente sobre o que havia acontecido antes de desmaiar. Quattlebaum não estava sozinho. Ele virou-se para olhar nos olhos de Kody. Há um Trexian solto, projetou seus pensamentos. Ela arregalou os olhos. Tem certeza? Ele concordou. Acho que ele pode estar por trás de tudo isto. Os Trexians eram muito semelhantes às Deusas Atlantes que Ash havia descrito. Prosperavam causando caos. Tudo fazia sentido. E a única pessoa que podia encontrar um Trexian era uma de suas vítimas. Se for uma das primeiras vítimas, era mais fácil encontrá-lo. E Nick tinha uma ideia bastante boa de quem havia sido a primeira vítima. Hah! Caleb! Eu entendo. E ele lembrava de tudo isso pela última vez que havia consultado seu grimoire. 216


Ele voltou sua atenção para Kody. Preciso que você encontre Brynna por mim. Uma das sobrancelhas de Kody se arqueou enquanto o pequeno monstro verde brilhava em seus olhos. — Desculpe? Todos viraram para olhá-la com expectativa. O rosto de Kody ficou vermelho como um tomate. — Perdão, não quis dizer isso em voz alta. Assim que todos deram volta, ela o olhou com fúria. — Brynna? — Eu apostaria o que fosse que ela foi a primeira vítima, e embora eu fosse uma de seus alvos, o fato de que não sou completamente humano, não me dá certeza de que enfrentar ao demônio funcione. — Está bem. Isso faz sentido. Você está fora da casinha do cachorro. Por enquanto. Bom, porque não gostava da visão deste lugar. Era um lugar frio, como o ártico. E embora pudesse meter-se em problemas com Kody com a velocidade de um ninja, sair desses problemas não era tão fácil. Palmas para as experiências de quase- morte. Assim que Kody foi embora, ele passou a hora seguinte, discutindo com sua mãe sobre por que ele tinha que ficar em observação durante a noite. Foi Acheron quem finalmente a convenceu. — Nós vamos ficar de olho nele, Cherise, tenho certeza de que estará muito mais confortável em sua casa. Assim que ela concordou com Ash, pareceu levar uma eternidade para sair do hospital e voltar para sua casa. Sua mãe vociferou durante todo o caminho. Uau, que pena que chatear não era um esporte olímpico. Sua mãe facilmente teria ganhado o ouro. — Não posso acreditar que você foi atacado novamente. Você deveria estar feliz de que a policia o pegou. Se alguma vez eu colocar o olho nele... — Mamãe, respire. Ele só fez o que você ameaçou. Ele pensa que eu estuprei a sua filha. Ambos temos sorte que não tivesse seu temperamento nenhuma pistola, porque de outra forma, estaria morto. Ela estendeu a mão e apertou seu braço quebrado. Nick gritou . — Agora ? Agora você quer segurar minha mão? Eu juro, mamãe , você está ruim.

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Ela revirou os olhos, e depois estacionou num lugar em frente a seu apartamento. Nick saiu e a esperou fora. — Vai voltar ao trabalho? — Por favor, volte ao trabalho... — Não planejei isso. Claro que não. Isso faria com que sua vida fosse muito fácil. Vamos, por favor, volte ao trabalho. Tudo vai estar bem. — Mas sabe o que, Nick? Você me parece bem. Acho que vou trabalhar. Seriam seus poderes? Podia ser que finalmente estavam funcionando? Entregou-lhe suas chaves. — Pode abrir a porta, não é? — Sim. Você vai caminhando até lá? — Geralmente faço isso. Ele então decidiu testar seus poderes para ver se era ele o uma espécie de sorte estranha. Leve o carro. Pode ser que precise dele. Sua mãe fez uma pausa no meio do caminho, e depois virou-se. — Mas sabe, eu talvez precise dele, e depois do que lhe aconteceu... Sim, é melhor que leve o automóvel ao trabalho. Nick ficou boquiaberto para o fato de que finalmente tinha um poder que funcionava. E era um bom! — Deixe-me abrir. Ele esperou até que ela abrisse a porta e convocou Kody e Caleb. Felizmente, depois que Kody falou com Brynna sobre o plano de Nick, Kody explicou tudo a Caleb. — E tem certeza que você viu um Trexian? — perguntou Caleb. — Você estava em meio a outra experiência quase-morte. Os remédios em seu cérebro podem fazê-lo ver qualquer tipo de coisa, passando por esse tipo de estresse.

— Tenho certeza, Caleb. Como estava em prisão domiciliar, decidi seguir seu conselho e superar minha bibliofobia. Estive investigando muito. Caleb pareceu surpreso, em seguida impressionado. — Sério? — Sim. Sabe, há todo tipo de informação online.

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Caleb fez um gesto irritado para Kody. — Ele pode encontrar mais formas de navegar em algo que não quer fazer isso do que qualquer pessoa que eu tenha conhecido até agora. Impressionante, irritante, mas impressionante. — Então, qual é o plano? — perguntou Kody. —Vou procurar Brynna e depois vamos visitar o Trexian. Ou Nick ia para a cadeia por um longo, longo tempo.

***

Brynna ainda estava protestando, enquanto estava na porta da casa de Dina Quattlebaum. — Nick, eu a conheço há muito tempo. Está errado em relação a ela. Ela não fez isso. Ele recusou-se a acreditar nela. — Então podemos nos desculpar. Mas não acho que estou errado. Sei que tenho razão. Pense em algumas das coisas que estavam escritas no site. O sentir-se invisível. Brynna zombou. — Todos nos sentimos invisíveis às vezes. Dina não é diferente do restante. Acredite, ela não faria mal a uma mosca. Muito menos a mim ou a qualquer outra pessoa. — Bryn, se eu estiver equivocado pedimos desculpas e vamos pra casa. Mas se eu tiver razão... Colocaria um fim a tudo isto. — Bom. Vamos então. Passe vergonha você sozinho. Eu fico atrás de você. Kody os parou. — Isso pode não ser uma boa ideia, já que não sabemos se ela mentiu a respeito do seu estupro ou não. E se ela realmente foi atacada, e não mentiu a respeito disso, vir o Nick poderia afetá-la. Até onde sabemos seu atacante realmente parece com você. Ela tinha um bom argumento. Um muito bom. — Nick, você fica nos arbustos, eu vou cuidar disso. — Brynna subiu os degraus. Esperando o melhor, Nick entrou pelo lateral do quintal de Dina. Mal se escondeu nas sebes que rodeavam a varanda de entrada, quando Brynna bateu na porta. Ninguém respondeu. 219


Brynna olhou para ele. — Talvez não esteja em sua casa. Mas Nick sabia. Podia sentir que havia gente dentro de casa. Acima de tudo, ele podia sentir a profunda tristeza e o ódio que alimentavam a sua parte de demônio. — Tente outra vez. Ela tentou. Uns segundos depois, a porta se abriu lentamente. Dina estava ali parada com um par de calças esportivas gastas, e uma camisa cinza muito grande. Tinha o cabelo em duas tranças, e era muito óbvio que havia chorado. Seus olhos estavam inchados e seu nariz vermelho. Fungando, ela franziu o cenho para Brynna. — O que está fazendo aqui? — Poderia haver mais ódio nessas palavras? — Há dias que você não vai à escola e não me devolveu nenhuma de minhas ligações. Estava preocupada com você. — Eu estou bem. Agora me deixe em paz, está bem? — Ela começou a fechar a porta. Brynna a parou. — Por que estava chorando? — Eu não estive chorando. Sim, claro. — Então é um caso muito grave de alergia que você tem. Você foi ao médico ver isso? Se os olhares pudessem desintegrar as pessoas, Brynna teria se transformado em pó. — Por que você não volta para a sua vida perfeita e me deixa sozinha? Não sou sua mascote, sabia? Brynna franziu o cenho. — Do que está falando? Dina zombou dela. — Você é uma vadia, Brynna. Vá embora. Brynna negou-se. — Não vou a nenhum lugar. Somos amigas. E não entendo de onde vem toda esta animosidade. O que aconteceu? — Você quer saber? Realmente quer saber isso? Brynna estava horrorizada. — É obvio. Dina fungou. — A quem você pediu que estivesse em seu estúpido comitê? Hein?

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Brynna parecia perplexa ao tentar lembrar. — Você é tão patética, — grunhiu Dina. — Bom, deixe-me ajudá-la. A quem você NÃO pediu quando deveria haver pedido? Brynna franziu mais o cenho. — Bom... Casey tinha prática de líder de torcida, então não a pedi. Franzindo o rosto, Dina fez uma careta , depois tentou fechar na sua porta na cara. Brynna evitou novamente. Neste instante seus olhos se iluminara quando finalmente percebeu o que Dina estava falando. — Você? Está zangada porque não pedi a você? — Claro que estou zangada com você. Deu-me uma bofetada na cara, na frente a todos. — Como? —Imagina-se que somos amigas, você lembra? Todos sabem, exceto você. Eu esperei e esperei que me perguntasse isso, mas você não perguntou, não é? Não, claro, não sou o suficientemente boa para ser do grupinho de amigas da Brynna Addams. Nem sequer você se incomodou em anotar a placa do ônibus que me empurrou para que me atropelasse. Não é? Não, porque não isso não importa. Tudo o que importa é: você, todo o tempo. É só você, o tempo todo. Brynna fechou a boca e olhou direto, através de Dina. — Você perdeu a cabeça, não foi? No que estava pensando? Não pedi porque você odeia os bailes de todo o coração. Sempre está reclamando deles e o quanto patético pensa que são. Que preferiria ser incendiada do vê-se como uma idiota em público. Não, espera, espera, espera... suas palavras exatas foram “é uma desculpa para os garotos com tesão para manusear publicamente as garotas e fugir com elas”. Ou “a última coisa que quero é sentir um desses...” — ela fez um gesto de aspas com as mãos...coisas asquerosas esfregar-se contra mim, enquanto estou bem vestida. Nem também quero esbarrar com outra garota nem pisála. Se eu quisesse que me vissem assim, escreveria um poema a Safo”. Não é isso o que repete constantemente? Agora era a vez de Dina gaguejar. Mas Brynna não lhe deu trégua. Não quando estava tão zangada. — Foi por isso que não a convidei. Achei que você não iria gostar, e pelos seus sentimentos negativos em relação aos bailes, pensei que você ficaria louca se eu lhe pedisse. Imaginei que você pensaria que era um insulto. Desculpe-me por salvar seus sentimentos. Mas não. Não sou eu o problema, não é? Você estava procurando uma razão para ficar com raiva de mim, porque eu garanto, se você eu tivesse perguntado isso, você teria se ofendido e me acusaria de não emprestar atenção ou de não me preocupar o suficiente para realmente 221


escutá-la. De não ser uma verdadeira amiga porque uma amiga de verdade não teria pedido isso, sabendo como você se sente sobre bailes. Enquanto Dina ficava mais nervosa sua pele começou a manchar. Seus olhos se ficaram vidrados. Isto não era bom. Aterrorizado pelo que poderia acontecer com Brynna, Nick saltou para a varanda. Assim que chegou até onde estava Dina quis atirar-se sobre ela, mas chocou-se com seu braço quebrado. A dor o deixou cambaleando. Ele apertou seu pulso contra o gesso, mas não ajudou. Durante uns dez segundos, teve medo desmaiar de dor. Mas depois disso, aconteceu algo estranho. Sentiu que seus poderes se recarregavam de uma forma semelhante ao que havia sentido quando estava na prisão. Foi como se tivesse recuperado toda sua força de repente. Os dentes de Dina se alongaram. Seus olhos ficaram de cor branca, e ela grunhiu e rosnou, tentando matá-los. De algum lugar dentro dele, Nick buscou suas memórias herdadas de seu pai e de todos os Malachai antes dele. Ele pegou Dina com seu braço sadio e afastou-a de Brynna. Quando falou, era na voz do Malachai e em sua língua nativa. — Não tem direito de possuir a esta garota. Deixa-a ir. O demônio protestou contra sua ordem. — Ela me convidou. Ela me queria. — E você a usou contra mim. Tem alguma ideia do que faço aos demônios que me enfrentam? O demônio recuou pateticamente. — Perdoe-me, Mestre. Mas lembre-se, eu o tenho ajudado a ficar mais forte. Você aprendeu comigo. Nick o agarrou com mais força. — E há maneiras melhores de ensinar. Com seus poderes e as palavras que Xenon o ensinou ao ser seu treinador, Nick forçou a besta a sair do corpo de Dina. Assim que ela se libertou do demônio, desmaiou em seus braços. Nick a deitou na varanda aos pés de Brynna. — Cuide dela. Com os olhos arregalados, Brynna assentiu. 222


Nick foi atrás do Trexian, tentando evitar que se metesse no corpo de mais alguém. Mas em vez de fugir, ele entrou em modo de ataque. Com um grito que ressoou por todos os lados, virou-se para enfrentá-lo. Kody congelou ao ver o Trexian atacando ao Nick. Ela deu um passo adiante para ajudá-lo, mas Caleb a conteve. — O que está fazendo? Ele tem que aprender a proteger-se. Não podemos continuar nos metendo a ajudá-lo. Kody não queria saber nada com isso. — Mas... — Sem “mas”, Kody. Se você quiser que ele continue vivo e se desenvolva, tem que deixar que ele faça isso sozinho. Era mais fácil dizer que fazer. — Ele está machucado. — E isso o fez mais forte. Olhe. Ela olhou e ele tinha razão. Desde que o Malachai havia nascido da escuridão, eram essas emoções negativas que o faziam mais forte. Ainda assim, ela se encolhia toda vez que o demônio lhe dava um golpe. O demônio se agachou e arrastou os pés de Nick para baixo. Mas em vez de cair na varanda, Nick deu uma volta, e mesmo com seu braço no gesso, caiu sobre seus pés. O Trexian tentou mordê-lo. Ele o agarrou com uma mão e o empurrou. Nick sentiu que sua força estava enfraquecendo. E embora tivesse o demônio sob controle, estava perdendo-o rapidamente e não tinha certeza do por que. — Você não é o Malachai, — disse-lhe, zombando. — Você não tem todos seus poderes. Não é nada. É uma cuspida na rua. Lixo. Essa última palavra, em vez de chutá-lo no intestino e fazê-lo sentir menos que um ser humano, como havia feito no passado, o fortaleceu e o irritou. Pela primeira vez na sua vida, percebeu que não era verdade. Nick não era um lixo. E ele entendeu completamente o aviso de Grim sobre como o silkspeech e a influência podiam sair pela culatra. Ele sorriu para o Trexian. — Baby, eu não sou lixo. O lixo é algo que se atira. Meu povo me mantém. E com isso, ele sentiu que seus poderes emergiam e se recarregavam. O Trexian gritou quando Nick finalmente o enviou de volta à escuridão que o havia parido. Infelizmente, quando ele foi embora também se foi sua irritação. E se foi tão rápido que levou cada pedaço de sua força. Em um momento estava em pé. No seguinte...

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Ele golpeou com a cara nas placas da varanda. Oh sim, definitivamente ele tinha que trabalhar nisto. Não era digno de chutar a bunda a alguém e em seguida cair por terra como um balão furado. Kody veio correndo para o seu lado. — Nick? Nick? — Eu estou bem... bem, dizer que estou bem talvez é um pouco exagerado. Deveria dizer que ainda respiro. Quase. — Porque respirar doía neste momento. — E realmente desejaria ter tomado algo para a dor. — Mas infelizmente, não poderia voltar a fazer isso. Coisas ruins aconteciam toda vez que ele perdia o controle de si mesmo. E a última coisa que ele queria era que um comprimido para a dor o nocauteasse. Gentilmente, Kody segurou-o no seu colo. — Meu pobre bebê, mas você esteve genial. E ela estava totalmente linda. Quando Caleb verificou se o demônio foi embora e chegou à varanda, Dina grunhiu de onde estava, aos pés da Brynna. Pressionando sua mão contra sua cabeça, ela abriu os olhos. — Brynna? — perguntou incrédula. — O que está fazendo aqui? Brynna franziu o cenho. — Não se lembra? Dina fez um gesto estranho. Depois inspirou com força. — O medalhão! — Ela o tirou de um puxão do pescoço e o atirou nos arbustos. Todos a olharam como se ela estivesse possuída outra vez. — O que era isso? — perguntou Brynna. — Este maldito! Eu o comprei numa loja em St. Anne porque estava me sentindo muito mal. O homem me disse que me faria sentir-me melhor sobre mim mesma. Caleb estalou a língua. — Quando você o comprou? Dina pestanejou. — Ontem, depois da escola, Bryn e Shon estavam falando sobre o que iriam fazer para o baile e a quem queriam para o comitê. —Ela sentou-se e olhou para Brynna, zangada. — Fiquei esperando que alguma de vocês me convidasse e não o fizeram. Em vez disso, convidaram esse nerd e esse lixo e... — sua voz se apagou quando percebeu que o lixo também estava em sua varanda. — O q-q-que é que vocês estão fazendo aqui? — Disse surpresa. Nick quis ficar em pé e assumir sua pose de homem forte. Infelizmente para o seu ego, seu corpo não o obedecia. — Salvando sua bunda, mas agora estou pensando que eu deveria ter deixado ele te tragar. — Dina, — disse Brynna, sua voz grave. — Isso não foi ontem, isso foi há semanas. 224


— Não, foi ontem. Brynna negou com a cabeça. O telefone de Nick tocou. E é obvio, estava no bolso sob seu braço quebrado. Tentou alcançá-lo, mas não conseguiu. — Uh... Alguém me ajude? Caleb deu um passo para trás. — Ah não. Eu não vou colocar minha mão no bolso da calça de outro homem. Nunca. Esse é um trabalho para sua namorada. Rindo, Kody o pegou. Por um minuto, Nick não sentiu nenhum tipo de dor. Tudo o que sentiu foi a mão dela deslizando por sua coxa. Sim, ele gostava disso. Definitivamente valia a pena que tivessem batido nele com um taco de beisebol. — É Madaug. — Ele alcançou o telefone. — Ei, o que está acontecendo? — perguntou. — Mark e eu finalmente quebramos o site. Foi estranho. No princípio o código fonte era como uma entidade viva. Tudo o que tentávamos fazer, ele desviava. Nunca vi nada como isso. Logo, há alguns minutos, bam. Ele se abriu. Vai entender. Porque fazia alguns minutos, Nick acabou com o demônio. — Deixe-me adivinhar, o site pertence a Dina Quattlebaum? — Bastante perto. — Madaug parecia impressionado. — Seu pai. Como soube? Nick olhou para ela. — Foi só um golpe de sorte. Diga ao Mark que eu disse muito obrigado. E Madaug...? — Sim? — Excelente trabalho, amigo. Você é o melhor. — Não há problema. Falamos mais tarde. Nick desligou e tristemente deslizou seu telefone em um bolso que podia alcançar. — Era Madaug. Caleb cruzou seus braços sobre seu peito. — Nós ouvimos. Nick sentou-se lentamente para encontrar o olhar de Brynna. — Descobrimos quem postou essas fotos suas, e quem esteve a cargo do site sobre nossos colegas. O rosto de Dina ficou branco. — Como sabem sobre meu site?

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— Foi você! — Brynna gritou. — Você fez fotos de mim... De mim... O pânico no rosto de Dina informou que essa parte de sua crueldade havia sido concebida puramente por seu ciúme e seu ódio, não pelo demônio. — Por que você faria uma coisa dessas? — gritou Brynna. — Era uma brincadeira. Brynna franziu os lábios. — Ninguém riu. — Ai, por favor...Você e seus amiguinhos ricos com suas vidas perfeitas...todos vocês merecem que sejam derrubados de seus pedestais. Brynna franziu a cara. — Minha vida não é perfeita, Dina. Por Deus, meus pais estão divorciados, e eu e meus irmãos formos divididos como se fossemos prataria. A única pessoa no mundo que amo, ama outra pessoa. Fui mal em matemática. Falhei no meu exame de direção quatro vezes. Tenho um irmão que é um monstro e meus pais não lhe colocam limites. E sou a única Addams em nove gerações que não consegue cozinhar. Acredite, não há nada perfeito na minha vida. E você não me vê atacar maliciosamente as pessoas por isso. Li as porcarias que você publicou. Você é a única que acredita ser superior a nós. E no fim do dia, o que te deixa com raiva não é o dinheiro nem a roupa ou a popularidade. É porque está ciumenta do fato de que embora nossas vidas não sejam perfeitas, embora a vida faça o melhor possível para nos derrubar, também, ainda conseguimos ser felizes. Apesar de tudo, não atacamos os outros e rimos de coisas que são realmente engraçadas. E, querida, ninguém que tenha valor, ri da crueldade. Isso é o que acontece com quem tem inveja. E isso é o que nos faz melhores que você. Somos seres humanos compassivos, não somos harpias amarguradas, egoístas e traiçoeiras repartindo miséria por onde vamos. — Você é uma idiota. Não sabe de nada. Brynna tentou dar-lhe uma bofetada, mas Kody agarrou sua mão. — Ela não vale a pena. — Oh, acredite-me, ela vale. Nick negou com a cabeça. — Deixe-a, Bryn. Qual é a melhor vingança no mundo? Deixe que ela enfrente as pessoas que atacou na escola. Pessoas como ela pensam que estão seguros em sua casa, atacando às escondidas na tela de um computador as pessoas que nunca os prejudicaram. E embora o anonimato pareça mantê-los a salvo, a internet é o único lugar onde podem ser completamente identificados. Cada IP é exclusivo ao usuário e os registros ficam guardados. Podem ser encontrados. E embora a pessoa a que ataque não retaliar, não importa. O carma existe, e é um terrível inimigo quando o irritam. Ninguém escapa a sua ira. — Ele olhou para Dina. — Lamento muito pelo que você trouxe para você. Neste momento, estou muito feliz de não ser você.

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Brynna levantou sua cabeça com dignidade enquanto a olhava Dina de cima. — Não posso acreditar que quase deixei que alguém tão mesquinho como você me levasse ao suicídio. Em que eu estava pensando? Mas sabe o que? Agora sei quem são meus verdadeiros amigos. — Seu olhar foi para Nick, Kody e Caleb. — E também aprendi quem não é. Como minha mamãe sempre dizia, às vezes você tem que tirar as serpentes do seu jardim. Tenha uma boa vida, Dina. Mas o mais triste é que sei que não vai tê-la, ao menos até que aprenda que quando alguém tem algo que você não tem, não vai lhe tirar isso. Jamais. — E com essas palavras, deixou a varanda. Nick fez um gesto de Yoda para Dina. — Que a Força esteja com você. Deixaram Dina em sua casa, e voltaram para a calçada. Nick passou seu braço sobre Kody. — Como você vai fazer com que ela se desculpe com todos? — perguntou Kody. Nick ergueu um sorriso torto. — Confie em mim. Agora, por favor, — ele se queixou, — me leve a casa antes que eu caia. Estou dolorido. Muito, muito dolorido. Imensa dor do tamanho de um Malachai. Kody mordeu o lábio enquanto o olhava. — Vamos levá-lo até sua casa. E quando chegarmos. Vou beijar-lhe os ferimentos. — Sim, ela definitivamente era mais poderosa do que ele. Porque essas últimas quatro palavras apagaram toda a dor em seu corpo.

EPÍLOGO

— Mais uma vez, quero me desculpar com todos pelo que fiz, armando do site na Web, e contando mentiras sobre meus colegas. Eu sinto muitíssimo. Errei e fui covarde, e não vou voltar a fazer isso. Nick olhou para Kody quando Dina terminava seu pedido de desculpas público pelo altofalante. Infelizmente, Dina iria para a cadeia assim que terminasse suas desculpas deixasse o local. E ele não estava feliz por isso. Era muito triste para qualquer tipo de celebração. O que havia começado como uma brincadeira macabra para vingar-se de alguém que nunca quisera ferir de nenhuma forma havia feito com que cometesse um crime. Sim, ela podia culpar o Trexian por isso. Ou Brynna e Dina. Mas no final, foi ela quem liberou o demônio do colar e o havia deixado possuí-la. Nick estava apenas agradecido de que ela havia admitido a mentira sobre seu estupro e quando a policia insistiu que fosse examinada, descobriram que ela era tão virgem como o ele era.

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Ainda assim, não havia ganhadores nisto. Como sua mãe sempre dizia, em uma briga, ninguém sai ileso. Todos os participantes sujam as mãos. E até depois de todo este drama, as pessoas na escola continuavam sendo maus com os outros. Ainda zombavam de Nick por sua prisão, e as outras mentiras que Dina disse. Algumas coisas nunca mudavam. Embora fosse o Malachai, Nick ainda tinha a esperança de que as pessoas aprendessem e mudassem. O sino soou. Caleb correu para sua sala à frente deles, enquanto Kody o pegava pela mão e caminhava com ele para a sala. Vestida com um pulôver creme apertado, ela estava deliciosa. E o melhor de tudo era que ela usava o colar com um coração rosado que Nick lhe deu quando todas as acusações foram retiradas. Era um presente de celebração, e já que ela havia reclamado o seu coração, era um aviso de que sua vida era muito mais importante para ele que a sua própria. E embora fora contra as regras, Nick deu-lhe um beijo rápido antes de ir para a sala e ficar congelado onde estava. Literalmente. Grim era seu professor de química substituto. Isto era uma péssima ideia. — Está planejando explodir a escola? — Nick perguntou. Grim zombou. — Não tenho tanta sorte. Acredite ou não, isto eu faço por diversão. Sim, era impossível que acreditasse, a menos que o laboratório terminasse explodindo e com carnificina por todos os lados. Nick clareou a garganta. — Bom, então vou sentar-me. Vou sair vivo desta classe. Não é? — Não tenha medo, Gautier. Não sou uma ameaça para você. Um mau pressentimento o percorreu. — O que quer dizer? —O. Inglês. Não. É. Sua. Língua. Nativa? — Grim disse cada palavra separadamente, e acentuando cada sílaba. Nick odiava quando ele fazia isso. — Oh, que tolo eu sou, — Grim continuou. — Esqueci quão Estúpida é sua língua nativa. Bom. Vou-lhe soletrar isso. Não sou eu quem tem ordens de matá-lo. Ele se congelou com a notícia. — Mais alguém neste lugar a tem? Grim inclinou sua cabeça.

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O olhar do Nick, instintivamente foi para Caleb. Grim zombou. — Não, na realidade ele tem lealdade para com você. — Então quem? — Vai saber imediatamente. Não pode não perceber. Ela está usando um coração rosa ao redor de seu pescoço.

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